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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR – CES VII CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRATICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA O DANO MORAL NA APRESENTAÇÃO DE CHEQUE PÓS-DATADO ANTES DA DATA PACTUADA Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito na Universidade do Vale do Itajaí ACADÊMICO: CARLOS HENRIQUE COELHO CAPELLA São José (SC), outubro de 2004.

O DANO MORAL NA APRESENTAÇÃO DE CHEQUE PÓS …siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Capella.pdf · apresenta cheque pós-datado antes da data pactuada. ... Universidade do Vale do Itajaí

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR – CES VII CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRATICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA

O DANO MORAL NA APRESENTAÇÃO DE CHEQUE PÓS-DATADO

ANTES DA DATA PACTUADA

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito na Universidade do Vale do Itajaí

ACADÊMICO: CARLOS HENRIQUE COELHO CAPELLA

São José (SC), outubro de 2004.

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR – CES VII CURSO DE DIREITO NUCLEO DE PRATICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA

O DANO MORAL NA APRESENTAÇÃO DE CHEQUE PÓS-DATADO

ANTES DA DATA PACTUADA

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito na Universidade do Vale do Itajaí, sob a orientação de conteúdo do Prof Msc Esp Júlio Guilherme Muller.

ACADÊMICO: CARLOS HENRIQUE COELHO

CAPELLA

São José (SC), outubro de 2004.

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR – CES VII CURSO DE DIREITO NUCLEO DE PRATICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA

O DANO MORAL NA APRESENTAÇÃO DE CHEQUE PÓS-DATADO

ANTES DA DATA PACTUADA

CARLOS HENRIQUE COELHO CAPELLA

A presente monografia foi aprovada como requisito para obtenção do grau de bacharel em Direito no curso de Direito na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

São José, 08/11/2004.

Banca examinadora: __________________________________________________ Prof. Esp. Msc. Julio Guilherme Muller - Orientador __________________________________________________ Prof. Esp. Msc. Flaviano Vetter Tauscheck - Membro __________________________________________________ Prof. Esp. Carlos Alberto Luz Gonçalves - Membro

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, por terem me apoiado e acreditado no meu potencial e,

sobretudo, pelo investimento por eles depreendido para me propiciar uma formação.

Aos meus irmãos, pelas palavras de incentivo.

A minha namorada, Priscila, pelo apoio incondicional e pelas horas de

convivência perdidas.

Ao Prof. Msc. Esp. Julio Guilherme Muller, meu orientador, pelo auxílio na

realização desta pesquisa.

A todos que direta ou indiretamente colaboraram com a realização desta

pesquisa.

A cada nova existência, o homem tem mais inteligência e pode

melhor distinguir o bem e o mal.

Alan Kardec

RESUMO

Mesmo não estando positivado na legislação pátria, o cheque pós-datado é amplamente utilizado nas relações interpessoais e nas relações de consumo, tendo se tornado prática corrente na sociedade contemporânea. Devido a sua larga utilização, o cheque pós-datado acaba por gerar implicações no mundo jurídico, que por sua vez não possui uma posição firmada a respeito do assunto, justamente pelo fato deste não se encontrar regulamentado na legislação. Uma destas implicações é o dano moral na apresentação antecipada de cheque pós-datado, tema deste trabalho de pesquisa, por se tratar de assunto controverso. A pesquisa destaca que existem, basicamente, duas correntes doutrinárias: a primeira dispõe que não deve ser indenizado o emitente de cheque pós-datado pelo fato de a lei específica relativa ao cheque dispor que este é título de crédito pagável a vista, não devendo ser considerada qualquer menção em contrário; já a segunda corrente, que é a majoritária, afirma que deve ser indenizado o emitente de cheque pós-datado, pois o acordo feito entre as partes é valido e deve ser levado em consideração, não desvinculando a natureza de título de crédito do cheque, mas imputando responsabilidade àquele que causar dano ao emitente pela apresentação antecipada. Cumpre salientar que esta corrente é a que encontra ressonância nos julgados do Superior Tribunal de Justiça, e que conseguiu adaptar a antiga legislação pertinente ao cheque às necessidades do cotidiano, sem que fosse revogado o artigo que dispõe que o cheque é pagável a vista, mas apenas responsabilizando, por via da indenização por danos morais, quem apresenta cheque pós-datado antes da data pactuada.

SUMÁRIO

RESUMO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7

1 DANO MORAL

1.1 DEFINIÇÃO DE DANO....................................................................................... 9

1.2 DEFINIÇÃO DE DANO MORAL ....................................................................... 11

1.3 PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA DO ATO ILÍCITO.................................... 14

1.4 O DANO MORAL NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA .......................................... 17

1.5 CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO DO QUANTUM DA INDENIZAÇÃO POR DANOS

MORAIS ................................................................................................................. 19

2 CHEQUE

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ................................................................................. 24

2.2 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE O CHEQUE........................................ 25

2.3 CONCEITO....................................................................................................... 26

2.4 NATUREZA JURÍDICA..................................................................................... 30

2.5 APRESENTAÇÃO ............................................................................................ 33

2.6 CHEQUE PÓS-DATADO.................................................................................. 36

3 O DANO MORAL NA APRESENTAÇÃO ANTECIPADA DE CHEQUE PÓS-

DATADO ANTES DA DATA PACTUADA

3.1 NÃO CARACTERIZAÇÃO DE DANO MORAL NA APRESENTAÇÃO

ANTECIPADA DO CHEQUE PÓS-DATADO ......................................................... 39

3.2 CARACTERIZAÇÃO DE DANO MORAL NA APRESENTAÇÃO ANTECIPADA DE

CHEQUE PÓS-DATADO........................................................................................ 40

3.3 ANALISE JURISPRUDENCIAL ........................................................................ 47

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 51

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 53

ANEXOS ................................................................................................................ 55

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objeto a verificação da incidência de dano moral

no caso de o emitente de cheque pós-datado ter tido seu título apresentado antes da

data pactuada ao banco sacador pelo credor.

Foi utilizado na confecção deste trabalho o método indutivo, pela técnica de

documentação indireta, com base em pesquisas documental e bibliográfica,

interpretando o tema com leis, artigos doutrinários e jurisprudência, além de outros

meios de informação como sites da internet e outros.

Tem como objetivos, institucional, geral e específico, produzir uma monografia

como requisito parcial para a obtenção de grau de bacharel em Direito, pela

Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI – Campus VII – São José, verificar, baseado

na legislação, doutrina e jurisprudência pátrias, a incidência de dano moral no fato de

o emitente ter seu título apresentado antes da data pactuada e, apontar o principal

entendimento da doutrina e jurisprudência atual sobre o assunto, indicando qual é a

orientação que prevalece no momento, respectivamente.

A pesquisa foi desenvolvida a partir das seguintes hipóteses: a) o emitente de

cheque pós-datado não tem direito à indenização por danos morais, uma vez que a lei

do cheque dispõe que este é pagável na data da apresentação; b) o emitente tem

direito à indenização por danos morais, haja vista o acordo firmado entre as partes ser

válido, e o cheque pós-datado não perder a suas características de título de crédito,

podendo ser apresentado ao banco à qualquer momento, mas tendo o sacado que

responder pelos danos causados àquele.

A delimitação do tema desta pesquisa considerou apenas as hipóteses acima

mencionadas, tendo sido opção do pesquisador trabalhar apenas estas duas

hipóteses.

O presente trabalho foi dividido em três capítulos, sendo que o primeiro foi

dedicado ao dano moral, sua definição, a caracterização de ato ilícito, o dano moral na

legislação brasileira e a forma de fixação do quantum indenizatório. O segundo

capítulo foi dedicado ao cheque, sua evolução histórica, a legislação brasileira sobre o

cheque, o seu conceito, as formas de apresentação e o cheque pós-datado. O terceiro

capítulo foi dedicado ao dano moral na apresentação do cheque pós-datado antes da

data pactuada, demonstrando o entendimento das correntes doutrinárias que

entendem não ser cabível a indenização e que entendem ser cabível a indenização,

assim como uma análise jurisprudencial.

Nas considerações finais, se apresenta um breve resumo da tendência da

doutrina, legislação e jurisprudência a respeito do assunto pesquisado.

1. DANO MORAL

1.1 DEFINIÇÃO DE DANO

Para que o dano moral possa ser caracterizado, é necessário definir um de seus

principais requisitos, o dano. Isto porque a caracterização daquele depende

diretamente da caracterização deste.

De acordo com Diniz (2003, p.58): “o dano é um dos pressupostos da

responsabilidade civil, contratual ou extracontratual, visto que não poderá haver ação

de indenização sem a existência de um prejuízo.”

A reparação civil só existirá se houver dano a reparar, pois a responsabilidade

resulta da obrigação de ressarcir. Portanto, não poderá haver reparação de danos onde

não houver nada a se reparar, pois a reparação depende do dano, como bem salienta

Diniz, (2003, p. 58).

Sampaio (2002, p.90), concorda que o dano é indispensável para caracterizar a

responsabilidade civil, e explica: “De modo até intuitivo, é fácil constatar que o dano é

pressuposto indispensável à responsabilidade civil, quer de ordem subjetiva ou

clássica, quer objetiva.”

Segundo Venosa (2003, p.28):

Somente haverá possibilidade de indenização se o ato ilícito ocasionar dano. Cuida-se portanto, do dano injusto. Em concepção mais moderna, pode-se entender que a expressão dano injusto traduz a mesma noção de lesão a um interesse, expressão que se torna mais própria modernamente.

Lisboa (2002, p. 207), assim define o dano “... é o prejuízo causado a outrem ou

ao seu patrimônio. Não há responsabilidade civil onde não existe prejuízo, razão pela

qual o dano é elemento essencial para constituição da obrigação sucessiva.”

Resta claro, e a maioria dos doutrinadores assim entendem, que deve haver a

existência de um dano para que seja configurada a responsabilidade civil.

Por isso, é necessário que se explore o conceito de dano, que é o objeto desta

pesquisa.

Bittar (1999, p. 18) define o dano como sendo: “ ...qualquer lesão injusta a

componentes do complexo de valores protegidos pelo direito, incluído, pois, o de

caráter moral...”

Venosa(2003,p.28) caracteriza o dano da seguinte forma: “Trata-se, em última

análise, de interesses que são atingidos injustamente.”

Analisando as citações supra, conclui-se que o dano pode se dar em sede

patrimonial ou extrapatrimonial, atingindo também os interesses de que possam ser

atingidos.

Neste sentido, Alvim (apud SAMPAIO, 2002, p.89), define o dano como sendo:

...lesão a qualquer bem jurídico. Importante esta definição porque, além de simples, inclui o dano moral, posto que entre os bens jurídicos encontram-se aqueles de ordem personalísima, como a intimidade, a vida, a honra, a saúde, etc.

A origem do dano está densamente conectada à redução de patrimônio,

suportada pela vítima do evento danoso, pelo exercício de um ato ilícito (contratual ou

extracontratual), como bem salienta Sampaio (2002, p.90).

Bittar (apud DINIZ, 2003, p.60) conceitua dano nos seguintes termos:

... o dano é prejuízo ressarcível experimentado pelo lesado, traduzindo-se, se patrimonial, pela diminuição patrimonial sofrida por alguém em razão de ação deflagrada pelo agente, mas pode atingir elementos de cunho pecuniário e moral. O dano pode referir-se a pessoa ou aos bens de terceiro(inclusive direitos), nos dois sentidos enunciados, patrimonial e moral – e em ambos- mas, especialmente nessa última hipótese, deve ser determinado consoante critério objetivo, como pondera Barassi, e provado em concreto.

Portanto, o dano esta intimamente ligado ao prejuízo causado a vitima, podendo

este prejuízo ser de ordem patrimonial ou extrapatrimonial, incluído neste o dano moral.

Diniz (2003, p.61) assim explica: “O dano pode ser definido como a lesão

(diminuição ou destruição) que, devido a um certo evento, sofre uma pessoa, contra

sua vontade, em qualquer bem ou interesse jurídico, patrimonial ou moral.”

Segundo Venosa (2003, p.28):

O dano ou interesse deve ser atual e certo, não sendo indenizáveis, a princípio, danos hipotéticos. Sem dano ou sem interesse violado, patrimonial ou moral, não se corporifica a indenização. A materialização do dano ocorre com a definição do efetivo prejuízo suportado pela vítima.

Sendo assim, de modo geral o dano pode ser definido como o prejuízo que a

vítima efetivamente teve, podendo este se dar na esfera patrimonial ou

extrapatrimonial, sendo que nesta última se enquadra o dano moral. Porém, nem

sempre se faz necessário haver prejuízo para se caracterizar o dano moral, como

acontece quando o dano moral tem caráter exclusivamente punitivo, servindo de

apenas como um desestímulo para que o causador do dano não o repita.

1.2. DEFINIÇÃO DE DANO MORAL

Importante salientar que o dano moral atualmente se encontra consolidado tanto

na doutrina quanto no ordenamento jurídico pátrio, não restando qualquer dúvida a

respeito da existência deste instituto.

Miranda (apud SAMPAIO, 2002, p. 92) ensina: “dano patrimonial é o dano que

atinge o patrimônio do ofendido; dano não patrimonial é o que, só atingindo o devedor

como ser humano, não lhe atinge o patrimônio.”

Diniz (2003, p. 84) explica que: “O dano moral vem a ser a lesão de interesses

não patrimoniais de pessoa física ou jurídica, provocada pelo fato lesivo”

Ainda Diniz (2003, p.84) afirma:

Qualquer lesão que alguém sofra no objeto de seu direito repercutirá, necessariamente, em seu interesse; por isso, quando se distingue o dano patrimonial do moral, o critério da distinção não poderá ater-se a natureza ou índole do direito subjetivo atingido, mas ao interesse, que é

pressuposto desse direito, ou ao efeito da lesão jurídica, isto é, ao caráter de sua repercussão sobre o lesado, pois somente desse modo se poderia falar em dano moral, oriundo de uma ofensa a um bem material, ou dano patrimonial indireto, que decorre de evento que lesa direito extrapatrimonial, como, por exemplo, direito a vida, a saúde, provocando também um prejuízo patrimonial, como incapacidade para o trabalho, despesas com tratamento.

Segundo Bittar (1999, p.45):

Qualificam-se como morais os danos em razão da esfera da subjetividade, ou do plano valorativo da pessoa na sociedade, em que repercute o fato violador, havendo-se, portanto, como tais aqueles que atingem os aspectos mais íntimos da personalidade humana (o da intimidade e da consideração pessoal), ou da própria valoração da pessoa no meio em que vive e atua ( o da reputação e da consideração social).

Dano moral é o prejuízo que atinge a esfera extrapatrimonial da vítima, como a

sua moral e seu intelecto. Nesta área, o prejuízo é subjetivo, aumentando a dificuldade

de se instituir uma justa indenização pelo dano causado (Venosa, 2003, p. 33).

Ainda Venosa (2003, p. 34), afirma:

O dano moral abrange também os direitos da personalidade, direito a imagem, ao nome, a privacidade, ao próprio corpo, etc. Por essas premissas, não há que se identificar o dano moral exclusivamente com a dor física ou psíquica. Será moral o dano que ocasiona um distúrbio anormal na vida do indivíduo; uma inconveniência de comportamento ou, como definimos, um desconforto comportamental a ser examinado em cada caso.

Sampaio (2002, p. 93) entende que: “...configura-se o dano moral indenizável

quando alguém, em razão de pratica de um ato ilícito, suporta uma dor ou

constrangimento, ainda que sem repercussão em seu patrimônio.”

Observando as citações supra, conclui-se que o dano moral não atinge o

patrimônio material da pessoa, mas causa uma dor ou um constrangimento na vítima,

ainda que sem repercussão alguma na esfera material.

Por este motivo, grande parte dos doutrinadores entendem que o dano moral

pode existir sem que necessariamente fique configurado o dano patrimonial.

Sampaio(2002, p. 93) explica:

Em suma, configura-se o dano moral indenizável quando alguém, em razão da prática de um ato ilícito, suporta uma dor ou um constrangimento, ainda que sem repercussão em seu patrimônio. Isto é, objetivamente, do ato ilícito não se vislumbra diminuição do patrimônio da vítima. Nem poderia ser diferente, já que, ferido doreito

personalíssimo (honra, imagem, etc.), fica impossibilitada a restauração da situação anterior. Diante disso, assume a indenização, de ordem pecuniária, a finalidade de compensar ou atenuar a dor ou o constrangimento suportado.

Neste sentido, Lisboa (2002, p. 211) afirma que pode haver dano moral sem que

haja necessariamente um dano material:

É plenamente admissível a reparação moral sem existência de dano material, pela ofensa aos direitos personalíssimos: vida, integridade física ou psíquica, liberdade, corpo, cadáver, identidade, honra, criação intelectual, segredo, voz, imegem, e assim por diante.

A respeito desta matéria, Venosa (2003, p.203), afirma: “De qualquer modo,

deve ser levada em conta a essência da questão: dano, ainda que moral, implica

alguma parcela de perda e, por isso, deve ser indenizado.”

Ainda Venosa (2003, p.206) continua: “Há, pois, danos morais que se

apresentam totalmente desvinculados de um dano patrimonial, como a injúria, e os que

decorrem e sobrevivem paralelamente ao dano patrimonial, como a morte de pessoa

ou parente próximo.”

Portanto, na maioria dos casos se define o dano moral como sendo aquele que

não atinge a esfera patrimonial da vítima, mas sim ofende seus direitos

personalíssimos, como a vida, integridade, liberdade, saúde, sendo que este fato

repercute na sociedade lhe causando dor ou constrangimento.

Pode também o dano atingir a esfera patrimonial da vítima e a partir daí causar-

lhe um dano moral. Neste caso deverão ser reparados o dano material e o dano

patrimonial.

Neste sentido, a Súmula 37 do Superior Tribunal de Justiça, dispõe:

Súmula 37. São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.

Assim, conclui-se que pode existir dano moral independentemente de existir ou

não o dano material, sendo que será indenizável o dano moral “puro”, pois este causa

prejuízos à vitima em sua esfera de direitos personalíssimos, causando-lhe dor e

constrangimento passíveis de reparação por indenização.

1.3 PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA DO ATO ILÍCITO

Para que se caracterize o dano moral, necessário se faz que se verifique certos

pressupostos.

Estes pressupostos são aqueles enunciados pelo artigo 186 do Código Civil,

senão vejamos:

Art 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Da analise do artigo supra citado, temos que deve estar presente para

caracterizar o dano moral a conduta do agente (ação ou omissão), o dano (patrimonial

ou moral), o nexo causal (que estabelece a relação entre o dano e a ação que o

provocou) e a culpa.

Diniz (2003, p.40) afirma:

No nosso ordenamento jurídico vigora a regra geral de que o dever ressarcitório pela prática de atos ilícitos decorre da culpa, ou seja, da reprovabilidade da conduta do agente. O comportamento do agente será reprovado ou censurado quando, ante circunstâncias concretas do caso, se entende que ele poderia ou deveria ter agido de modo diferente.

Portanto, o ato ilícito se qualifica pela culpa do agente, sendo que se não houver

culpa ou dolo, não haverá, em regra, responsabilidade de indenizar.

Cumpre salientar que os pressupostos acima descritos se aplicam a

responsabilidade civil subjetiva, pois a objetiva não será objeto de estudo desta

monografia.

Ainda descrevendo os pressupostos, Diniz (2003, p. 41) continua:

O ato ilícito é praticado culposamente em desacordo com a norma jurídica, destinada a proteger interesses alheios; é o que viola direito subjetivo individual, causando prejuízo a outrem, criando o dever de reparar tal lesão.

O dano de que trata o diploma civil pode ser o patrimonial ou o moral, sendo que

este diploma afirma que o dano pode ser exclusivamente moral, confirmando a posição

dos doutrinadores que entendem que o dano moral “puro” pode ser indenizado.

A definição de dano e de dano moral já foram consolidadas nos itens anteriores,

sendo necessário a analise do próximo pressuposto, o nexo causal.

O nexo causal é pressuposto indispensável para que possa existir a

responsabilidade de indenizar, sendo que este deriva da assertiva de que ninguém

pode ser responsabilizado por dano a que não tenha dado causa.

Venosa (2003, p. 39) assim define nexo causal: “É o liame que une a conduta do

agente ao dano. É por meio do exame da relação causal que concluímos quem foi o

causador do dano.”

Se a vítima que sofreu dano não caracterizar o nexo causal que liga o evento

danoso ao responsável, não há como haver reparação por este dano, como bem

salienta Venosa ,2003, p.39.

Diniz (2003, p.100) define o nexo causal como sendo: “O vínculo entre o prejuízo

e a ação (...), de modo que o fato lesivo deverá ser oriundo da ação, diretamente ou

como sua conseqüência previsível.”

Ainda Diniz (2003, p.100) conclui: “Tal nexo representa, portanto, uma relação

necessária entre o evento danoso e a ação que o produziu.”

Utilizando a expressão vínculo causal, Lisboa (2002, p. 218), define: “Vínculo

causal é a relação jurídica constituída entre o agente e a vítima, em face de conduta

danosa praticada por aquele em desfavor desta.”

Ainda Lisboa (2002, p.218) complementa: “O nexo de causalidade é, portanto, o

elemento referencial entre a conduta do agente e o resultado.”

Existem, porém, alguns casos em que o nexo causal é interrompido, como, por

exemplo, quando o dano for causado por caso fortuito ou força maior.

Também não haverá nexo causal quando a culpa for exclusiva da vítima, não

gerando, nesta hipótese, dever de indenizar.

Sobre estes a quebra do nexo causal, Venosa (2003, p.39), ensina: “Na

verdade, no caso fortuito e na força maior inexiste relação de causa e efeito entre a

conduta do agente e o resultado danoso.”

Portanto, existem alguns casos em que a responsabilidade pelo dano causado

não será imputada ao agente, visto que este não contribuiu para a existência do dano.

Outro pressuposto que deve ser analisado é a culpa, sendo esta de difícil

definição por parte dos doutrinadores, porém de fácil compreensão nas relações

sociais e em determinado caso concreto.

Venosa (2003, p. 23) assim define culpa: “Em sentido amplo, culpa é a

inobservância de um dever que o agente devia conhecer e observar.”

Dias (apud VENOSA, 2003, p. 23) explica:

A culpa é falta de diligência na observância da norma de conduta, isto é, o desprezo, por parte do agente, do esforço necessário para observá-la, com resultado não objetivado, mas previsível, desde que o agente se detivesse na consideração das conseqüências eventuais de sua atitude.

Importante ressaltar que a culpabilidade no campo civil abrange o dolo e a culpa,

pois em sede de indenização as conseqüências são idênticas.

Neste sentido, Venosa (2003, p.24) ensina:

A culpa civil em sentido amplo abrange não somente o ato ou conduta intencional, o dolo (delito, na origem semântica e história romana), mas também os atos ou condutas eivados de negligência, imprudência ou imperícia, qual seja, a culpa em sentido estrito (quase-delicto).

Lisboa (2002, p.228) define a culpa com sendo “...o desvio de modelo ideal de

conduta, descrito no tipo legal ou negocial, de forma explícita ou implícita (como é o

caso da boa fé).”

Diniz (2003, p.100) explica:

No nosso ordenamento jurídico vigora a regra geral de que o dever ressarcitório pela pratica de atos ilícitos decorre da culpa, ou seja, da reprovabilidade ou da censurabilidade da conduta do agente. O comportamento do agente será reprovado ou censurado quando, ante circuntâncias concretas do caso, se entende que ele poderia ou deveria ter agido de modo diferente. Portanto, o ato ilícito se qualifica pela culpa.

Filho (apud SAMPAIO 2002, p.70) define a culpa como “toda a espécie de

comportamento contrário ao direito, seja intencional, como no caso de dolo, ou não,

como na culpa.”

Pereira (apud SAMPAIO, 2002, p. 70) diz que a culpa consiste em “erro de

conduta, cometido pelo agente que, procedendo contra o direito, causa dano a outrem,

sem a intenção de prejudicar, e sem a consciência de que seu comportamento poderia

causá-lo.”

Portanto, temos que o artigo 187 do Código Civil quis colocar a culpa como

pressuposto para a existência do ato ilícito, que é necessário para gerar a obrigação de

indenizar.

Neste sentido, Diniz (2003, p. 41) afirma: “O ato ilícito é o praticado

culposamente em desacordo com a norma jurídica, destinada a proteger interesses

alheios; é o que viola direito subjetivo individual, causando prejuízo a outrem, criando o

dever de reparar tal lesão.”

Ainda Diniz (2003, p.41) complementa: “Para que se configure o ilícito será

imprescindível um dano oriundo de atividade culposa.”

1.4 O DANO MORAL NA LEGISLAÇÂO BRASILEIRA

Atualmente já não pairam dúvidas a respeito do reconhecimento do dano moral

no ordenamento jurídico pátrio.

Sobre este assunto, Sampaio (2002, p. 92) comenta: “Se é certo que o Código

Civil, à época, não se estruturou nesse sentido, é também certo que o tema, hoje, dada

a sua importância, foi objeto inclusive de preceito constitucional.”

O Artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal dispõe sobre o dano moral nos

seguintes termos:

Artigo 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção e qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pais a inviolabilidade do direito a vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, e à propriedade, nos termos seguintes: (...) X- São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente da sua violação.

Portanto, observa-se que o direito à indenização decorrente de dano moral está

consagrado na Constituição Federal.

O Art 6º do Código de Defesa do Consumidor, regulado pela Lei 8.078 de 11 de

setembro de 1990, também dispôs sobre o dano moral, como segue:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

(...) VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;

Sampaio (2002, p. 93) Comenta que no Código de Defesa do Consumidor, “ A

expressa referência ao dano de ordem moral, bem como a possibilidade de sua

indenização, serviu para suprir, de certa forma, a omissão de nosso Código Civil.”

No atual Código Civil o dano moral encontra-se irrefutavelmente consolidado,

como se observa no texto do artigo 186:

Art 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Entretanto, é no texto do artigo 927 que ficou estabelecido que quem comete

dano, ainda que exclusivamente moral, fica obrigado a repará-lo.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts 186 e 187), causar dano a a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Portanto, resta claro que o dano moral está amplamente sedimentado no

ordenamento jurídico Brasileiro, sendo citado nos principais diplomas legais, como o

Código Civil, o Código de Defesa do Consumidor e na nossa Carta Magna.

Porém, antes de todos esta legislação começar a vigorar, já existia uma

referência para o instituto dos danos morais, a lei nº 4.117 de 27 de agosto de 1962,

que instituiu o Código Brasileiro de Telecomunicações.

Esta lei regulou, em seu artigo 81, os casos em que os cidadãos poderiam

pleitear indenização por danos morais nos seguintes termos:

Art 81. Independentemente da ação penal, o ofendido pela calúnia, difamação ou injúria cometida por meio de radiodifusão, poderá demandar, no Juízo Cível, a reparação do dano moral, respondendo por

êste solidáriamente, o ofensor, a concessionária ou permissionária, quando culpada por ação ou omissão, e quem quer que, favorecido pelo crime, haja de qualquer modo contribuído para êle.

A lei de imprensa (lei nº 5.250 de 09 de fevereiro de 1967) também dispôs

sobre a possibilidade de haver reparação pelos danos morais.

Em seu artigo 56 a lei de imprensa dipõe:

Art 56. A ação para haver indenização por dano moral poderá ser exercida separadamente da ação para haver reparação do dano material, e sob pena de decadência deverá ser proposta dentro de 3 meses da data da publicação ou transmissão que lhe der causa.

Observa-se portanto que estas leis surgiram muito antes da Constituição

Federal, que foi promulgada apenas no ano de 1988, dispor algo sobre o assunto.

Conclui-se então que a Constituição Federal apenas veio para fortalecer o que

já estava previsto na legislação, e já estava sendo largamente utilizado.

1.5 CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO DO QUANTUM DA INDENIZAÇÃO POR DANOS

MORAIS

O ordenamento jurídico Brasileiro, apesar de dispor sobre o dano moral, ainda

não fixou um critério para fixar o montante da indenização a ser paga.

Sampaio (2002, p. 93) explica: “...não há norma legal que estabeleça

parâmetros para a configuração do dano moral. Cabe, portanto, ao magistrado,

examinando cada caso, concluir pela presença ou não desta espécie de prejuízo.”

Diniz (2003, p. 93) comenta: “ A omissão legislativa relativamente ao do justo

montante indenizatório faz com que se busque todo elemento possível para encontrar

em caso sub judice o valor que lhe for mais adequado”.

A Lei nº 5.250/67 (Lei de imprensa), em seu artigo 51, estabeleceu um teto

máximo de 20 salários mínimos para a indenização de reparação por danos morais,

como segue:

Art 51. A responsabilidade civil do jornalista profissional que concorre para o dano por negligência, imperícia ou imprudência, é limitada, em cada escrito, transmissão ou notícia:

(...)

IV- a 20 (vinte) salários mínimos da região, nos casos de falsa imputação de crime a alguém, ou de imputação de crime verdadeiro, nos casos em que a lei não admite a exceção da verdade (art49, § 1º).

Em seu artigo 52, a lei de imprensa buscou responsabilizar também a empresa

que explora o meio de informação ou comunicação:

Art 52. A responsabilidade civil da empresa que explora o meio de informação ou divulgação é limitada a 10 (dez) vezes as importâncias referidas no artigo anterior, se resulta de ato culposo de algumas das pessoas referidas no artigo 50.

Diniz (2003, p.94) explica:

Mesmo que a lei e imprensa tarife a indenização, fixando pisos máximos para pagamento de certas infrações, não traz segurança e certeza da reparação do dano moral, pois, por ser norma especial não se aplica ao direito comum, nem tem o poder de afastar a incidência do princípio geral do Código Civil, aberto à ampla reparação do dano moral.

Ainda Diniz (2003, p.95), ensina: “Fácil é perceber que esta lei poderá servir de

parâmetro, balizando o raciocínio judicial, mas não deverá ser utilizada em todos os

casos, deixando a vítima sem o adequado ressarcimento.”

Portanto, temos que esta lei serve de referência para a eventual fixação da

indenização em outro caso que não seja o descrito na lei, ou, no mínimo, serve de

argumentação para apelação de sentença que fixar valor desproporcionalmente alto a

um dano mínimo.

O artigo 53 da lei de imprensa estabelece outros critérios para a fixação do

valor da reparação:

Art 53. No arbitramento da indenização em reparação do dano moral, o juiz terá em conta, notadamente:

I- a intensidade do sofrimento do ofendido, a gravidade, a natureza e repercussão da ofensa e a posição social e política do ofendido;

II- a intensidade do dolo ou o grau de culpa do responsável, sua situação econômica e sua condenação anterior em ação criminal ou cível fundada em abuso no exercício da liberdade de manifestação do pensamento e informação;

III- a retratação espontânea e cabal, antes da propositura da ação penal ou cível, a publicação ou transmissão da resposta ou pedido de retificação, nos prazos previstos na lei e independentemente de intervenção judicial, e a extensão da reparação por este meio obtida pelo ofendido.

Portanto, a lei de imprensa já estabelecia que o juiz pode observar certos

critérios para estabelecer a indenização de reparação dos danos morais.

Sobre estes critérios, Diniz (2003, p.95), comenta:

Na liquidação judicial, o magistrado tem, ante a fluidez e a subjetividade do sofrimento, o dever de apurar, com seu prudente arbítrio, os critérios a serem seguidos e o quantum debeatur, tendo por standart o homem médio na sociedade ao examinar a gravidade do fato e a dimensão do dano moral ocorrido e ao ponderar os elementos probatórios.

Venosa (2003, p. 207) ensina:

No tocante a fixação de um valor pelo dano moral, os tribunais utilizaram-se no passado, por analogia, do código brasileiro de telecomunicações e da lei de imprensa, únicos diplomas que apontaram parâmetros para a indenização por danos morais, no passado.

O artigo 944, parágrafo único, do Código Civil segue o que a lei de imprensa já

havia colocado na legislação a mais de 30 anos, dispondo:

Art 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.

Diniz (2003, p. 97) comenta: Na quantificação do dano moral, o arbitramento deverá, portanto, ser feito com bom senso e moderação (CC, art. 944), proporcionalmente ao grau de culpa, à gravidade da ofensa, ao nível socioeconômico do lesante, à realidade da vida e às particularidades do caso sub exmine.

Sampaio (2002, p. 94) ensina: “...os juízes têm fixado o exato valor

indenizatório, levando-se em consideração a repercussão do ato ilícito praticado e,

conseqüentemente, a intensidade do constrangimento imposto à vítima.”

Ainda Sampaio (2002, p. 94): “ E, de outro lado, evita-se também fixação de

valor que provoque o enriquecimento indevido do lesado ou venha a conduzir o

ofensor a ruína.”

É evidente que nunca se alcançará a perfeição para se estabelecer a

indenização cabível para determinada lesão, por mais justa dedicada que seja o

julgamento do magistrado, não tendo este que levar em consideração se existe ou

não legislação determinando parâmetros para a fixação da indenização (Venosa,2003,

p. 206).

Ainda Venosa (2003, p. 209) “Devem ser sempre sopesadas as situações do

caso concreto. O juiz avaliará a magnitude da lesão sofrida pela vítima, utilizando-se

da prova, da realidade que o cerca e das máximas da experiência.”

Certamente que a indenização pelos danos morais sofridos não deve ser tão

grande que enriqueça o lesado e cause a ruína do lesante, porém, a indenização deve

ter o cunho de proporcionar uma sensação agradável ao lesado e, ao mesmo tempo,

caracterizar um desestímulo para o lesante cometer novamente aquele ato.

Venosa (2003, p. 207), comenta: “É inafastável, também, como enfatizado, que

a indenização pelo dano moral possui cunho compensatório somado a relevante

aspecto punitivo que não pode ser marginalizado”.

Novamente Venosa (2003, p. 207), afirma: ”Há um duplo sentido na

indenização por dano moral: ressarcimento e prevenção. Acrescenta-se ainda o cunho

educativo que essas indenizações representam para a sociedade”.

Portanto, ainda não se conseguiu uma fórmula para determinar o valor da

indenização em cada caso concreto, porém, os magistrados tem se utilizado de todos

os meios possíveis para a correta valoração da indenização, seja por equidade, pelas

provas do caso concreto, pelos princípios do Código Civil, pela analogia ou pela

orientação jurisprudencial.

Necessário se faz salientar que a fixação do quantum indenizatório em sede de

danos morais é tema bastante polêmico e controverso, que não foi mais aprofundado

por não ser objeto de estudo do presente trabalho.

2 CHEQUE

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

A origem do cheque é bastante controvertida, porém, de acordo com Requião

(1995, p.386): “...o cheque se configurou como instituto moderno na idade média,

quando começou a delinear-se a sua estrutura jurídica.”

Ainda Requião (1995, p.386), acrescenta:

Sabemos que os bancos tiveram grande desenvolvimento na lombardia e outras regiões da Itália, contando-se apenas em Florença, no século XV, cerca de oitenta casas bancarias. Em Londres, para onde muitos lombardos afluíram, instalaram-se com tanto aparato, em determinada rua, que até hoje na City é ela denominada Lombard Street.

Sendo a função dos bancos guardar em depósito o dinheiro dos seus clientes,

seria normal que fossem a qualquer momento mobilizados por ordem de pagamento

dos depositantes. De acordo com Requião (1995, p. 386): “Esses bancos expediam

certificados que conferiam ao cliente o direito de dispor, para si ou para outrem, do

dinheiro depositado”.

Foi com base nestes certificados que o cheque começou a surgir na sua forma

mais simples.

Requião (1995, p.386), comenta:

Foi na Inglaterra, contudo, a partir do século XVII, que o cheque tomou impulso, a ponto de vulgarmente imaginar-se tenha sido criado pelo gênio mercantil dos ingleses, nos tempos modernos. A partir daquela época passou a acentuar-se o seu uso, como cheque-mandato, equiparando o confundido mesmo com a letra de cambio sacada contra banqueiro, substituindo a circulação da moeda.

Pode-se concluir então que o cheque teve seu surgimento na idade média, mas

que foi difundido a partir do século XVII, pelos ingleses.

Porém, já em 1865, na franca, o cheque tomou configuração própria com o

advento da lei de 14 de junho de 1865, que, de acordo com Requião(1995, p.386):

“...definiu e regulamentou o cheque, livrando-o das mesmas imposições fiscais que

gravavam as letras de câmbio, deu-lhe a feição e os conceitos modernos.”

Esta lei definia o cheque como “o escrito que, sob a forma de um mandato de

pagamento, serve ao sacador para efetuar a retirada, em seu proveito, ou em proveito

de um terceiro, de todos ou parte dos fundos disponíveis, levados a crédito de sua

conta pelo sacador.”

O sistema Francês passou então a influenciar vários países. Alguns países

seguiram o sistema inglês, que, segundo Requião(1995, p.386) define o cheque como “

uma letra de câmbio à vista sacado sobre um banqueiro.”

Bulgarelli (2001, p.306) acrescenta que:

A etimologia da palavra cheque também é controvertida; entendendo alguns provir do verbo inglês to check (examinar, conferir) ou da palavra francesa echecs ou echequer (retirar, dar baixa no jogo de xadrez, também tabuleiro de contagem de dinheiro usado pelos cambistas e tesoureiros régios), entendendo Souza Pinto que a origem é a inglesa, pois a emissão e o pagamento do cheque implicam a verificação prévia.

2.2 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE O CHEQUE

Segundo Requião(1995, p.387): “...a palavra cheque surgiu, pela primeira vez na

legislação brasileira, na lei n° 149-B, de 1890.”

Esta lei obrigava o cheque a ser de quantia superior a cinquenta mil-réis, e estes

deveriam ser passados nos termos do decreto n° 3.323 de 22 de outubro de 1864, que

enumerava suas formalidades.

Ainda Requião(1995, p.387), afirma: “Finalmente, tendo-se divulgado e

expandido o cheque, foi ele objeto da lei especial n° 2.591, de 7 de agosto de 1912,

que regulava a sua emissão e circulação.

Nas décadas seguintes foram impostas reformas a esta lei em virtude da

ineficácia das leis penais que deveriam coibir a emissão de cheques sem fundos.

Porém, as várias tentativas de reforma não obtiveram êxito.

Entretanto, salienta Requião(1995, p.387):

A reforma da legislação surgiu, enfim, de certa forma, do decreto n° 57.595 de 7 de janeiro de 1966, que promulgou as convenções para a adoção de uma lei uniforme em matéria de cheques, adotadas em Genebra em março de 1931. O decreto baixado pelo Presidente da República determinou que as Convenções de Genebra, sobre cheques, “sejam executadas e cumpridas tão inteiramente como nelas se contém, observadas as regras feitas”.

A introdução destas normas causou confusão na Legislação Brasileira sobre

cheque, por isso foram constituídos por juristas em 1977 alguns grupos de trabalho,

que objetivavam a preparação de um anteprojeto de lei uniformizando a matéria.

Requião(1995, p. 388) acrescenta: “ E assim foi feito, tendo o então senador

José Pinto Freire, de posse do anteprojeto, o apresentado ao senado federal, na

sessão de 12 de junho de 1977, sob o n° 118, de 1977, uniformizando a legislação

referente ao cheque.”

Este anteprojeto não prosperou e, logo após, outros anteprojetos também não

surtiram efeito, até que surgiu, em 1980, o anteprojeto que colocaria a atual lei 7.357

em vigor, como afirma Requião(1995, p.388):

Afinal surgiu o projeto publicado no avulso do senado federal, pelo senador Luis Viana Filho, sob n° 3.226 de 1980. Esse projeto, na realidade, decorreu do anteprojeto elaborado pelo jurista Egberto Lacerda Teixeira, que, discutido e aprovado, foi promulgado pela lei n° 7.357, de 2 de setembro de 1985, respeitando, em suas normas, a Lei Uniforme de Genebra sobre cheques.

2.3 CONCEITO

É de extrema importância que se apresente os conceitos de cheque, pois estes

conceitos servirão de suporte e esclarecimento para o estudo realizado.

Foram pesquisados os mais importantes doutrinadores no campo do Direito

Comercial Brasileiro, sendo que estes autores não apresentaram divergências quanto à

conceituação do cheque.

Almeida (1998, p. 95) diz que: “o cheque é o título revestido de determinadas

formalidades legais contendo uma ordem de pagamento à vista, passada em favor

próprio ou de terceiro.”

Requião (1995, p. 384) define: “O cheque é também, como a letra de câmbio,

uma ordem de pagamento, mas à vista.”

Segundo Martins (1998, p. 03): “Entende-se por cheque uma ordem de

pagamento à vista, dada a um banco ou instituição assemelhada, por alguém que tem

fundos disponíveis no mesmo, em favor próprio ou de terceiro.”

Morandière (apud REQUIÃO, 1995, p. 384) entende que: “O cheque, enfim se

apresenta hoje como uma ordem dirigida a um banco para pagar a vista uma soma

determinada em proveito do portador.”

Porém, para melhor compreensão do conceito de cheque, seguimos os

ensinamentos de Coelho (2003, p. 433), que assim conceitua o cheque: “Cheque é

ordem de pagamento à vista, emitida contra um banco, em razão de provisão que o

emitente possui junto ao sacado, proveniente essa de contrato de depósito bancário ou

abertura de crédito.”

Mendonça (apud REQUIÃO, 1995, p. 384) diz que:

O cheque é provido de rigor cambiário na sua forma, no seu conteúdo, e na execução judicial. Com efeito, o cheque contém requisitos essenciais que o individualizam: as obrigações dele decorrentes devem ser expressamente formuladas, subsistindo por si, independentemente da sua originária. O emissor, os endossantes e avalistas, que por ventura nele figurem, assumem para com o portador ou possuidor obrigação cambial.

Analisando os conceitos podemos observar que a maioria dos autores

pesquisados mencionam o fato de o cheque ser uma ordem de pagamento à vista,

vinculado a uma instituição financeira, em benefício de terceiro.

O cheque é um título de crédito de modelo vinculado, só podendo ser emitido no

papel fornecido pelo banco sacado, sendo este em forma de talão ou avulso. Por se

revestir destas formalidades, o cheque não costuma gerar incertezas quanto a sua

validade, como gera a nota promissória por exemplo, que pode ser lançada em

qualquer papel, apresentados os mais variados padrões.

A Legislação Brasileira que trata do cheque, apesar de ampla e detalhada,

dispensou a sua conceituação, apenas relacionando seus requisitos essenciais e

outras formalidades. Estes requisitos estão enumerados no artigo 1° da referida lei,

como veremos a seguir:

Art 1º O cheque contêm: I - a denominação ‘’cheque’’ inscrita no contexto do título é expressa na língua em que este é redigido; II - a ordem incondicional de pagar quantia determinada; III - o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado); IV - a indicação do lugar de pagamento; V - a indicação da data e do lugar de emissão; VI - a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais. Parágrafo único - A assinatura do emitente ou a de seu mandatário com poderes especiais pode ser constituída, na forma de legislação específica, por chancela mecânica ou processo equivalente.

Quanto ao primeiro requisito, ensina Martins(1998, p.27) que “A inserção da

palavra cheque no texto do título tem por finalidade caracterizar o documento para que

ele possa gozar vantagens especiais da lei; serve, igualmente, para distinguir o

cheque de uma simples delegação de pagamento.”

Requião(1995, p. 392), comentando o segundo requisito, acrescenta: “ O

cheque é uma ordem - no sentido comum – incondicional, isto é, sem quaisquer

condições, não importando discussões. É indiscutível, repita-se, não gerando

quaisquer dúvidas.”

Ainda tratando do segundo requisito, Martins(1998, p.28), afirma: “A importância

a ser paga deve se referir ao pagamento em dinheiro, donde não ser considerado

cheque uma ordem para pagamento em títulos.”

Seguindo este raciocínio, nunca poderia o cheque expressar moeda corrente

diferente do adotado pelo país de sua origem.

Comentando o terceiro requisito, Martins(1998, p. 31) diz: “Ordem de pagamento

à vista, o cheque menciona o nome de quem deve pagar, ou seja, do sacado. Este

deve ser um banco ou uma instituição equiparada a um banco, que possuir provisão

disponível do sacador.”

Segundo Requião(1995, p.393): “São instituições financeiras, que integram o

Sistema Financeiro Nacional, o Conselho Monetário Nacional, Banco Central do Brasil,

Banco do Brasil S.A., Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social e

demais instituições financeiras públicas e privadas.”

A Lei do cheque assim estabelece : Art 3º O cheque é emitido contra banco, ou instituição financeira que lhe seja equiparada, sob pena de não valer como cheque.

A indicação do local do pagamento é indispensável para a validade do cheque.

Acerca deste requisito, Martins(1998, p.33) esclarece:

A indicação do local do pagamento tem por finalidade fixar o local onde o portador deve apresentar o cheque para receber a importância do mesmo. Esse lugar deve, em princípio, constar do texto do título, mas se este não contiver a designação especial, entende-se que é o lugar constante junto ao nome do sacado.

A Lei do Cheque é expressa ao tratar deste requisito, ficando estabelecido em

seu artigo 2°, inciso I:

Art 2º O título, a que falte qualquer dos requisitos enumerados no artigo precedente não vale como cheque, salvo nos casos determinados a seguir: I - na falta de indicação especial, é considerado lugar de pagamento o lugar designado junto ao nome do sacado; se designados vários lugares, o cheque é pagável no primeiro deles; não existindo qualquer indicação, o cheque é pagável no lugar de sua emissão;

Portanto, caso não esteja explicitado qualquer indicação de local do pagamento

do cheque, este cheque será pagável no lugar de sua emissão.

O quinto requisito trata da indicação da data e do lugar de emissão do cheque.

No tocante a este assunto, Requião(1995, p. 393) diz que: “A indicação da data de

emissão é importante porque permite determinar se na ocasião o sacador tinha

capacidade de se obrigar. E, além disso, é essencial para se calcular o prazo de

apresentação e prescrição.”

O cheque deve conter também o lugar da emissão, sendo que se o cheque não

trouxer esta indicação, entende-se que foi emitido no lugar designado junto ao nome do

emitente. Porém, se não constar no cheque o lugar de emissão e também não constar

o lugar junto ao nome do emissor, este documento não possuirá efeito de cheque.

A legislação contempla esta hipótese em seu artigo 2°, inciso II:

Art 2º O título, a que falte qualquer dos requisitos enumerados no artigo precedente não vale como cheque, salvo nos casos determinados a seguir: (...) II - não indicado o lugar de emissão, considera-se emitido o cheque no lugar indicado junto ao nome do emitente.

No que diz respeito ao último requisito, Requião(1995, p.394) esclarece:

“Qualquer tipo de assinatura, extensa ou abreviada, a simples rubrica, uma chancela,

servem para autenticar a declaração de vontade, vinculando o autor ao papel.”

Ainda Requião(1995, p.394) afirma: “A representação, por mandato, pode ser

usada no cheque, seja no caso de emissão, de endosso ou de aval.”

Logicamente, um cheque sem assinatura não é valido, pois a assinatura é um

requisito essencial para a validade do cheque. Pode a assinatura do emitente ser

suprida pela assinatura de um mandatário, se for constituída procuração valida.

2.4 NATUREZA JURÍDICA

A natureza jurídica do cheque é bastante controvertida. Esta controvérsia

ensejou o aparecimento de várias teorias que têm como objetivo identificar a natureza

jurídica do cheque.

Dentro destas teorias, pode ser citada a teoria contratualista, que vê no cheque

a realização de um contrato, como um contrato de compra e venda. Pode ser citada

também a teoria de cessão, para a qual haveria uma cessão no ato do depósito

bancário. Há ainda a teoria do mandato, baseada no fato de o emitente dar a ordem

ao sacado de pagar o benefício.

Existem ainda outras teorias como a da estipulação em favor de terceiros, a da

autorização e a da delegação.

A teoria adotada para esta pesquisa foi a de que o cheque se enquadra como

um título de crédito, sendo esta a teoria mais recente, e a que os doutrinadores mais

citam em seus livros.

Para investigar a natureza jurídica do cheque, indispensável seria definirmos o

conceito de título de crédito.

Segundo Bulgarelli (2001, p.64): “Título de crédito é o documento necessário

para o exercício do direito literal e autônomo nele mencionado.”

O Código Civil Brasileiro também conceitua os títulos de crédito, em seu

artigo 887:

Art 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.

No caso do cheque, os requisitos legais estão relacionados no artigo 1° da lei

7.357/85.

Visto o conceito de títulos de crédito, vejamos como os doutrinadores

conceituam a natureza jurídica do cheque.

Bulgarelli (2001, p. 311), explica:

Perante a atual disciplina legal, vê-se que o cheque embora possa seguir sendo considerado título de crédito, tomou novas roupagens, afastando-se do formalismo rígido das cambiais, podendo sob tal aspecto ser qualificado como título específico, (como a duplicata, por exemplo) com regime jurídico próprio, autônomo.

Segundo Borges (apud BUGARELLI, 2001, p.310) :

Como a letra de cambio, o cheque é formalmente uma ordem de pagamento contendo os requisitos contidos pela lei. Mas, como aquela, o cheque é substancialmente uma promessa de pagamento feita pelo emitente; promessa indireta, promessa de fato de terceiro, promessa de que o sacado cumprirá a ordem constante do cheque cujo emitente – do mesmo modo que o sacador da letra de cambio – se responsabiliza pessoalmente pelo pagamento que o sacado deixar de efetuar.

E continua :

É assim de extrema simplicidade o mecanismo do cheque, que, na prática bancária, na doutrina e nas legislações, adquiriu feição própria, que o torna inconfundível com outros contratos – mandato, cessão de

crédito, delegação, estipulação em favor de terceiro etc. – nos quais os velhos autores costumavam vislumbrar a natureza jurídica do cheque.

A tendência da doutrina Brasileira é, apartar-se das doutrinas mais antigas, que

já não conseguem explicar totalmente, do ponto de vista jurídico, as características do

cheque. Estas doutrinas tendem a considerar o cheque como um título específico,

autônomo, com base nas regras do direito cambiário, justamente por não conseguir

definir as características do cheque, salienta Bulgarelli (2001, p. 310).

Segundo Ferreira, (apud REQUIÃO, 1995, p.389):

...sobre ser simples instrumento de pagamento, poderá o cheque se revestir da natureza de título de crédito, quando, endossado, penetre no mercado de valores. Tem o endosso virtude de engajar nele a responsabilidade do próprio sacador, quando saca em benefício de terceiro; ou quando este, por via de endosso, em branco ou preto, o transfere a terceiro. Entretanto, por tal forma, na circulação econômica, o instrumento de retirada de dinheiro depositado em conta corrente bancária se convola em título de crédito, de natureza mercantil inconfundível.

Observando os conceitos dos doutrinadores acima indicados pode-se concluir

que, como foi dito anteriormente, há motivos para que o cheque seja classificado como

um título de crédito. Porém, este não adota o formalismo dos outros títulos de crédito,

seria então um título de crédito com um regime jurídico próprio, separado dos outros.

Com muita propriedade, Borges (apud ALMEIDA, 1998, p. 96) acrescenta:

Se, porém, o conteúdo do cheque é uma ordem cujo beneficiário a aceita à título de pagamento, em lugar de dinheiro que lhe deve o emitente; se o cheque substitui – embora por prazo brevíssimo, mesmo de horas ou minutos – o dinheiro devido, a qualquer título, pelo emitente; se se verificam pois, em relação ao cheque, os dois elementos que caracterizam uma operação de crédito – a confiança e o prazo que intervêm entre a promessa do devedor e a sua realização futura – é claro que o cheque apesar de não passar normalmente de mero instrumento de retirada de fundos, ou de movimentação de conta bancária, é também título de crédito.

A maioria dos autores pesquisados inclinam-se para esta posição, pois é mais

atual e a que melhor explica a natureza jurídica do cheque.

2.5 APRESENTAÇÃO

Existem duas possibilidades de apresentação do cheque. A primeira

possibilidade se resume na apresentação do cheque antes do dia indicado como data

de emissão. A segunda possibilidade consiste na apresentação do cheque após o dia

indicado como data de emissão.

A Lei do cheque regulamenta em seu artigo 32, parágrafo único, a possibilidade

de o cheque ser apresentado antes do dia indicado como data de emissão:

Art 32 - O cheque é pagável à vista. Considera-se não-estrita qualquer menção em contrário; (...) Parágrafo único - O cheque apresentado para pagamento antes do dia indicado como data de emissão é pagável no dia da apresentação.

Portanto, a legislação deixa claro que o cheque que for emitido com data

posterior à data em que for apresentado, deve este ser pago, anulando a possibilidade

de existência legal de cheque pós datado.

Entretanto, é público e notório que o cheque pós datado se tornou pratica

corrente no mercado Brasileiro. Esta prática, assim como suas características, serão

estudados mais profundamente nos tópicos seguintes.

A doutrina apenas confirma o que a Lei prescreve.

De açodo com Requião (1995, p.416), “O parágrafo único do art. 32, provindo

da Lei Uniforme, estabelece a norma de que o cheque apresentado para pagamento

antes do dia indicado como data de emissão é pagável no dia da apresentação. Seria

um pagamento adiantado, ao gosto do portador.”

Seguindo esta linha, Martins (1998, p.78) ensina:

A lei, admitindo o pagamento do cheque em data anterior á existente no título, reafirma o princípio de que o cheque só deve ser emitido tendo o sacador fundos disponíveis em poder do sacado, sob pena de não ser o cheque pago e sofrer o emitente as conseqüências do ato de emitir cheques sem efetiva provisão de fundos.

Quanto ao prazo para apresentação do cheque após o dia indicado como data

de emissão, a Lei 7.357/85, em seu artigo 33, prevê:

Art 33 - O cheque deve ser apresentado para pagamento, a contar do dia da emissão, no prazo de 30 (trinta) dias, quando emitido no lugar onde houver de ser pago; e de 60 (sessenta) dias, quando emitido em outro lugar do País ou no exterior.

A referida Lei é específica ao delimitar o prazo de apresentação do cheque

após a data de emissão, não havendo margem para interpretações divergentes.

Segundo Coelho (2003, p.440):

...a definição de uma ou outra categoria de cheque é feita pela comparação entre o município que consta como local de emissão e o da agência pagadora. Se conincidentes, o cheque é considerado da mesma praça; caso contrário, de praças diferentes.

Ao comentar o artigo 33 da referida Lei, Bugarelli (2001, p.321) explica:

“Portanto, o cheque é sempre pagável a vista; mas o portador tem o prazo de

30(trinta) dias – se na mesma praça – para apresentá-lo e de 60 (sessenta) dias – se

em outra praça.”

Ainda Bulgarelli (2001, p.321/322), acrescenta:

A apresentação tardia (portanto, fora dos prazos admitidos acima) acarreta a perda da ação regressiva do portador contra os endossantes e avalistas; perderá também a ação contra o emitente, se este tiver ao tempo suficiente provisão de fundos e esta deixar de existir, sem fato que lhe seja imputável.

Tratando sobre o prazo para a apresentação do cheque , Requião(1995, p.416) comenta:

Assim, deve, por conseqüência, ser apresentado ao sacado em breve tempo, para ser pago. Esse prazo é de um mês quando emitido na praça onde tiver de ser pago e de sessenta dias quando em outra do país ou do exterior.

Coelho (2003, p.440), ao comentar a importância do prazo de apresentação do

cheque, diz que: “A inobservância do prazo de apresentação acarreta a perda do

direito de executar os endossantes do cheque, e seus avalistas, se o título é devolvido

por insuficiência de fundos.”

A Lei 7.357, estabelece em seu artigo 47, § 3°, a sanção cabível ao portador

que não apresentar o cheque em tempo hábil:

Art 47 Pode o portador promover a execução do cheque: (...)

§ 3º O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil, ou não comprovar a recusa de pagamento pela forma indicada neste artigo, perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que não lhe seja imputável.

Portanto, a Lei 7357 estabeleceu que o portador perde o direito à execução do

cheque se não apresenta-lo em tempo hábil, se o emitente comprovar que possuía

provisão de fundos na época que o cheque deveria ter sido apresentado e deixou de

ter em razão de fato que não seja sua culpa

Acontece que a jurisprudência conserva o direito de executar o emitente do

cheque mesmo se este não for apresentado pelo portador no prazo devido. Trata-se

da possibilidade reconhecida pela Súmula 600 do Supremo Tribunal Federal, que diz:

Súmula 600. Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que não apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária.

Portanto, a simples perda do prazo de apresentação não enseja a perda do

direito do portador de executar o cheque. O portador somente perderá o seu direito à

execução no caso de o emitente comprovar que possuía fundos na época em que o

cheque deveria ter sido apresentado, mas, por fato alheio a sua vontade, deixou de

ter.

Coelho (2003, p.440/441) traz um exemplo prático desta situação:

Imagine-se, por exemplo, que o cheque foi emitido por um dos titrulares de conta bancária conjunta, e o tomador negligenciou na apresentação tempestiva do cheque ao sacado. Posteriormente, o outro titular da conta retirou todo o dinheiro nela depositado. Nesse caso, a inobservância do prazo da lei importa a impossibilidade de executar o emitente do cheque.

Ressalta ainda Coelho(2003, p.441)

... o cheque, mesmo após o transcurso dos 30 ou 60 dias da lei, ainda poderá ser apresentado ao banco sacado, para fins de liquidação. Apenas depois de prescrita a execução – quer dizer, ultrapassados 6 meses do término do prazo de apresentação – o sacado não poderá mais receber e processar o cheque.

Enfim, a doutrina pesquisada apresentou a mesma linha de raciocínio no

tocante aos prazos para apresentação do cheque. Os autores explicam que se o

cheque não for apresentado dentro do prazo estabelecido em lei o portador perde a

razão de interpor uma eventual à ação contra o emitente, caso este prove que ao

tempo em que o cheque deveria ter sido apresentado, havia provisão de fundos.

Porém, se este não fizer a prova acima referida, o portador ainda tem o prazo de seis

meses para promover a execução, baseado na Súmula 600 do Superior Tribunal

Federal.

2.6 CHEQUE PÓS-DATADO

Quanto ao cheque pós-datado, Almeida (1998, p.112) afirma: “O cheque pós-

datado, vulgarmente chamado de ‘cheque pré-datado’, é aquele com data posterior à

data em que efetivamente foi emitido.”

E continua : “A sua crescente adoção pelo sistema de crediário em lojas e

congêneres ampliou sensivelmente a sua circulação, antes restrita a agiotagem.”

Coelho (2003, p.441) também comenta o crescente uso do cheque pós-datado

no mercado Brasileiro:

O cheque tem se revelado, no mercado consumidor brasileiro, o instrumento mais ágil e apropriado à documentação do crédito concedido pelos empresários, fornecedores de mercadorias e serviços. Ao se parcelar o preço do fornecimento em duas ou mais vezes, tem-se preferido geralmente, para comodidade de ambas as partes, a entrega pelo consumidor de tantos cheques quantas forem as parcelas, emitidos com data futura (o cheque pós datado que, além dos círculos dos cultores do direito cambiário, todos conhecem por cheque pré-datado).

Covello (1999, p. 32) assim define o cheque: “ é o cheque emitido com cláusula

de cobrança em determinada data, em geral a indicada como data de emissão, ou a

consignada no canto direito do talão”

O cheque tem a sua natureza jurídica definida baseada no fato de ser este uma

ordem de pagamento à vista. Se o cheque for emitido e datado para pagamento futuro,

a sua natureza jurídica pode ser alterada.

Quanto à mudança na natureza jurídica do cheque, Almeida(1998, p.113)

afirma:

...os cheques assim emitidos têm alterado sensivelmente a sua função, a rigor perdendo a sua natureza de cheque, transformando-se em mera promessa de pagamento, conquanto mantenham a sua eficácia executiva extrajudicial.

Coelho (2003, p.441) também comenta a mudança da natureza jurídica do

cheque: “O crescente uso desse tipo de cheque representa, sem dúvida, um certo

desvio da natureza do título, criado para instrumentalizar pagamentos à vista.”

Adotando posicionamento contrário ao dos doutrinadores, o Superior Tribunal

de Justiça não reconhece a alteração da natureza jurídica no caso do cheque pós-

datado, como se observa na jurisprudência ora transcrita:

O cheque pós-datado emitido em garantia de dívida não se desnatura como título cambiariforme, tampouco como título executivo extrajudicial. A circunstância de haver sido aposta no cheque data futura, embora possua relevância na esfera penal, no âmbito dos direitos civil e comercial trás como única conseqüência prática a ampliação real do prazo de apresentação. (STJ, RE n° 16.855 – SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, 4° T., Ementário da Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, n° 8, ementa n° 287).

Pode-se observar dos conceitos acima que existem duas correntes. Alguns

doutrinadores dizem que há uma sensível mudança na natureza jurídica do cheque

quando ele é pós-datado. Já o Superior Tribunal de Justiça defende a posição de que

o cheque pós-datado não tem a sua natureza jurídica alterada.

Esta divergência é relevante, visto que no momento em que o cheque pós-

datado perde sua característica de ordem de pagamento à vista e passa a ser

considerado uma promessa de pagamento (como alegam alguns doutrinadores), este

não pode ser depositado em data anterior à data caracterizada como data para o

pagamento, pois ensejaria quebra de uma promessa, conseqüentemente podendo

causar dano ao emitente.

Entretanto, se o cheque pós-datado mantiver as mesmas características do

cheque (como entende o STJ) este poderá ser sacado em data anterior à data

prometida pelo sacado.

A Lei 7.357 estabelece em seu artigo 32, parágrafo único:

Art 32 O cheque é pagável à vista. Considera-se não-estrita qualquer menção em contrário.

Parágrafo único - O cheque apresentado para pagamento antes do dia indicado como data de emissão é pagável no dia da apresentação.

Portanto, a legislação reprime a utilização do cheque pós-datado, não deixando

dúvidas de que este deve ser pago na data da apresentação.

Por este motivo, o emitente que entrega cheque pós-datado assume o risco de

ver seus cheques apresentados ao sacado antes da data estabelecida de comum

acordo. Não poderá, neste caso, a instituição financeira negar-se a liquidar o cheque

se houver fundos na conta do sacado.

A instituição financeira não pode negar-se a liquidar o cheque com data

posterior a emissão, pois se baseia na lei, que é clara ao dizer que deve ser

considerada não escrita qualquer menção em contrário ao pagamento a vista do

cheque.

Porém, resta a possibilidade de o emitente, no caso de apresentação do

cheque antes da data acordada, pleitear a reparação dos danos (materiais e morais)

sofridos em decorrência da apresentação antecipada do cheque.

Entretanto, esta possibilidade será explicada com mais profundidade no

capítulo que segue.

3. O DANO MORAL NA APRESENTAÇÃO DE CHEQUE PÓS DATADO ANTES DA DATA PACTUADA

3.1 NÃO OCORRENCIA DE DANO MORAL NA APRESENTAÇÃO ANTECIPADA DE CHEQUE PÓS-DATADO

Alguns autores, como Luiz Emygdio Franco da Rosa Junior e outros

pesquisados em artigos da internet, entende que não deve ser indenizado o emitente

de cheque pós-datado que teve seu título apresentado antes da data pactuada pelo

credor.

Estes autores têm como principal argumento o fato de o artigo 32 da Lei do

Cheque estabelecer que deve ser considerado como não escrita qualquer menção em

contrário ao fato de que o cheque deve ser pago à vista.

Porém, esta visão não ganhou força, pelo fato de o cheque pós-datado ter se

tornado prática corrente no cotidiano brasileiro, o que obrigou o legislador a adaptar a

legislação vigente aos casos concretos que surgiram.

Além disso, os seguidores desta corrente simplesmente ignoram o contrato

verbal firmado entre as partes, aplicando literalmente a Lei do cheque, que não previa a

larga utilização do cheque pós-datado, deixando de o regular.

Neste sentido, Rosa Júnior (1982, p. 85) afirma:

... o cheque apresentado a pagamento antes da data indicada como data de emissão é pagável no dia da apresentação. Assim sendo, a Lei Uniforme não anula o cheque pré-datado, dispondo, entretanto, de tal maneira que praticamente acaba com o seu uso.

Como se pode observar, o autor supra mencionado reconhece que a Lei

Unifome não anula a prática do cheque pós-datado, porém, afirma que a Lei

desfavorece esta prática.

Isto é procedente do ponto de vista que a Lei não discrimina explicitamente a

utilização de cheque pós-datado, entretanto, é improcedente a afirmação de que a

mesma praticamente acaba com o uso desta modalidade de cheque, haja vista a

doutrina atual considerar válido o contrato firmado entre as partes, estipulando a

apresentação em data futura.

Pelos argumentos acima expostos, esta corrente não ganhou força no mundo

jurídico, tendo a doutrina e a jurisprudência entendido que cabe indenização por dano

moral no caso de o emitente do cheque ter tido seu título apresentado antes da data

pactuada.

3.2 OCORRÊNCIA DE DANO MORAL NA APRESENTAÇÃO ANTECIPADA DE CHEQUE PÓS-DATADO

A maioria dos autores pesquisados, como Fabio Ulhôa Coelho, Amador Paes de

Almeida, Vanessa Regina Andreatta, Sergio Carlos Covello, Frederico de Andrade

Gabrich, dentre outros, entende que deve ser indenizado, tanto por danos materiais

quanto por danos morais, o emitente que teve seu cheque pós-datado apresentado

antes da data pactuada pelo sacador.

Estes autores têm como principal argumento o fato de o emitente ter firmado um

acordo com o sacador. Portanto, é a quebra deste acordo que ensejaria a reparação

por danos morais ou materiais, sendo que o cheque preservaria todas as suas

características de título de crédito.

Preservando o cheque pós-datado todas as suas características de título de

crédito, este pode ser apresentado antes da data pactuada, sendo que o banco sacado

terá a obrigação de pagá-lo, desde que este preencha todos os requisitos próprios do

cheque (regularidade da assinatura, existência de fundos, ...)

Neste sentido, Coelho (2003, p. 441), comenta:

O cheque pós-datado é importante instrumento de concessão de crédito ao consumidor. Embora a pós-datação não produza efeitos perante o banco sacado, na hipótese de apresentação para liquidação, ela representa um acordo entre tomador e emitente. A apresentação precipitada do cheque significa o descumprimento do acordo.

Corroborando com o autor supra citado, Almeida (2002, p. 137), explica:

“conquanto o cheque emitido como garantia de pagamento (pós-datado) possa ser

apresentado ao banco antes da data convencionada, tal fato consubstancia, por parte

do credor, violação a um ajuste entre as partes.”

Sobre este assunto, Boiteux (2002, p. 159) afirma:

Como visto, o cheque é ordem de pagamento à vista (Lei nº 7357/85, art. 32), portanto, pode ser apresentado ao banco a qualquer tempo. Todavia, as partes podem, por convenção particular, determinar a sua apresentação em data futura que, evidentemente, em nada afeta a relação com o banco sacado, para o qual essa convenção é estranha e de nenhum efeito.

Portanto, se apresentado antes da data pactuada, o cheque pós-datado deverá

ser pago pelo banco sacado, desde que observados os outros requisitos para

pagamento do cheque. Isto porque a Lei do cheque, em seu artigo 32, fulmina com

ineficácia absoluta a inserção de qualquer menção contrária à pagamento à vista no

título.

Neto (2000, p. 205) afirma:

“ ...pelo lado do emitente do cheque com data futura, é de convir que sua boa-fé em entregar este título, sabidamente pagável ex lege no ato de apresentação, mesmo antes da data lançada, exprime um autêntico negócio fiduciário tácito com o portador, com todos os percalços inerentes a esta classe de atos jurídicos consensuais (lícitos) se houver posterior quebra da confiança por parte do beneficiário”.

Complementando o exposto acima, Coelho (2003, p. 442) dispõe:

O consumidor que emite e entrega cheques pós-datados, correspondentes as prestações em que se dividiu o preço do fornecimento, corre o risco de os ver apresentados ao sacado, antes da data estabelecida de comum acordo com o devedor. Não poderá, com efeito, o banco, nessa hipótese, negar-se a liquidar os cheques se houver, em conta, fundos bastantes ou recursos disponíveis provenientes de contrato de abertura de crédito (conhecido como cheque especial). O consumidor, terá, contudo, direito de demandar contra o fornecedor os prejuízos que sofrer em decorrência da quebra do contrato entre eles.

Analisando as explanações supra, conclui-se que o cheque pós-datado deverá

ser pago pelo banco sacado se cumprir os requisitos próprios do cheque, como a

existência de fundos, porém, o emitente poderá demandar contra o sacador os

prejuízos que efetivamente tenha obtido pela apresentação antecipada.

Fazendo um grande resumo de tudo que foi exposto acima, Covello (1999, p.

33) explica:

Em virtude, há no pagamento com cheque pré-datado duas relações jurídicas: uma cambiária, decorrente do título chéquico regida pela lei específica; outra contratual decorrente de pacto extracambiário não proibido por lei. No âmbito cambiário, o portador de cheque pré-datado não se obriga a respeitar a cláusula de pagamento a prazo. Tampouco o banco sacado deve observar qualquer cláusula que obste o pagamento do cheque no ato da apresentação. Na esfera contratual, todavia, a cláusula é valida e produz efeitos, de modo que o credor que a desrespeita, apresentando o cheque antes do dia convencionado, age de má fé e pode ser responsabilizado pelos danos que o emitente venha a sofrer.

Os prejuízos experimentados pelo emitente podem ser tanto de ordem material

quanto e ordem moral. Na maioria dos casos, primeiro acontece o dano material, sendo

este o gerador do dano moral. Porém, nem sempre existirá um dano material a ser

reparado, como, por exemplo, no caso de o emitente possuir saldo para cobrir o

cheque.

Os danos materiais experimentados pelo emitente que teve seu cheque pós-

datado apresentado antes da data pactuada são de simples averiguação, pois se

resumem na perda do consumidor em virtude do saque do montante de sua conta, nas

taxas cobradas pelo banco caso o cheque tenha sido devolvido, etc...

Sobre este assunto, Coelho (2003, p. 442) afirma:

A indenização corresponderá à perda do consumidor em virtude da antecipação do desembolso, e será medida pelos padrões gerais de remuneração de capital no período, ou pelos juros e encargos derivados da utilização do crédito aberto pelo sacado (isto é, pelo uso limite do cheque especial), ou, ainda, pela não remuneração de recursos do correntista alocados em aplicações financeiras (fundos de investimento geridos pelo banco sacado), com ou sem clausula de resgate automático.

Confirmando o entendimento de coelho, Andreatta (2004, p. 73) comenta:

O dano será somente material caso haja perda monetária pela antecipação do saque, no valor das taxas de remuneração do capital resgatado ou dos juros cobrados pelo crédito utilizado, situação geralmente ocorrida quando o cheque pós-datado é apresentado antes da data pactuada e existirem fundos disponíveis na conta corrente do emitente.

Não havendo dano material a ser reparado, isto não significa que não existirá

reparação por dano moral, já que a doutrina admite a existência do dano moral puro.

Porém, este não é o entendimento do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, pois

este Tribunal tem entendido que somente é cabível indenização por danos morais se

houver devolução do cheque pelo banco sacado, caracterizando a devolução como o

dano sofrido pelo sacado, como será analisado no próximo tópico.

Corroborando com o entendimento do Egrégio Superior Tribunal de Justiça,

Coelho (2003, p. 443):

Além da responsabilidade pelos danos materiais experimentados pelo consumidor, cabe a condenação do credor do cheque pós-datado de apresentação precipitada, pelos danos morais que o emitente sofre na hipótese de devolução por insuficiência de fundos.

Portanto, o Superior Tribunal de Justiça entende que deve haver indenização

por danos morais se houver um efetivo prejuízo ao emitente, como a devolução do

título pela falta de saldo na conta, o que realmente caracterizaria o dano sofrido pelo

emitente.

Além da devolução por falta de fundos, poderá o emitente ter seu nome inscrito

em órgãos de restrição ao crédito como SERASA e o SPC, o que certamente agravaria

o dano sofrido, ensejando, sem dúvida alguma, reparação por danos morais.

Neste sentido, Andreatta (2004, p.73) afirma:

Já quanto ao dano moral, caso o cheque com antedata seja apresentado antecipadamente e devolvido por falta de fundos, o emitente estará sujeito a ter sua conta encerrada no banco sacado e conseqüentemente ter seu nome inscrito no cadastro nacional dos emitentes de cheques sem fundos, situação que provocará extremo constrangimento e possível abalo de crédito.

Seguindo o entendimento da autora acima, Almeida (2002, p. 139) afirma:

Resultando de verdadeiro acordo, não pode o beneficiário romper unilateralmente o avençado, apresentando o cheque ao banco antes da data designada. Se o faz, age, senão dolosamente, com certeza com culpa, ensejando, por via de conseqüência, indenização por danos morais. Com efeito, a apresentação antecipada pode, e normalmente ocasiona, graves prejuízos ao emitente, tais como encerramento da conta bancária, inscrição de seu nome no cadastro de emitentes de

cheque sem fundos, corte no fornecimento de cartões de crédito e vendas a prazo, ocasionando, não raras vezes, a insolvência com suas terríveis seqüelas.

É certo que tal inscrição causa prejuízo ao emitente, mormente se este é pessoa

que nunca teve seu nome inscrito nestes órgãos de restrição ao crédito.

Sobre este assunto, Coelho (2003, p. 443) afirma:

A comunicação aos bancos de dados mantidos pelo empresariado, para a proteção do crédito (SERASA, Telecheque, etc) ou a inscrição no Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF) envolve, normalmente, o consumidor em situações de extremo constrangimento. Pessoas honestas que nunca passaram cheques sem fundos, vêem dificultado ou mesmo bloqueado o acesso ao crédito, em diversos estabelecimentos empresariais, em decorrência na verdade do descumprimento, pelo fornecedor, da obrigação que havia assumido de não apresentar o cheque à liquidação, antes de certa data. Tais constrangimentos justificam a condenação do tomador do cheque pós-datado, no pagamento de indenização moral.

Portanto, resta claro que o emitente que teve seu cheque pós-datado

apresentado antes da data pactuada, no caso de ter seu título devolvido por falta de

fundos e ter seu nome inscrito em órgão de restrição ao crédito sofre dano material e

moral, o que gera o direito deste pleitear uma indenização a fim de ter seus prejuízos

reparados.

Concluindo o assunto, Coelho (2003, p.443) assim explicita:

Em suma, quem concorda em documentar o crédito concedido por cheque pós-datado deve zelar pela estrita observância do acordo oral feito com o emitente, quando à oportunidade da apresentação à liquidação do título. Afinal, foi no interesse de ambas as partes que se adotou essa alternativa de documentação do crédito, (...)

Sendo assim, temos que o que dá ensejo a ação de reparação por danos morais

no caso explicitado é o acordo oral feito entre o emitente e o sacador, sendo que este

acordo deve ser cumprido por ser de interesse de ambas as partes.

Sendo o sacador um comerciante, e tendo este permitido que o pagamento pela

venda de seus produtos fosse feita por meio de cheques pós-datados, não pode este

apresenta-los antes da data pactuada, pois estaria infringindo dispositivo assentado no

Código de Defesa do Consumidor Brasileiro (Lei 8078/90).

Sobre este assunto, Covello (1999, p. 32) comenta:

Grandes estabelecimentos comerciais, postos de gasolina e até empresas prestadoras de serviços fazem propaganda ostensiva de que seus produtos podem ser pagos com cheques para serem apresentados em 30, 45 ou 60 dias, atraindo com isso consumidores em busca da facilidade de pagamento postergado. É essa uma forma prática, cômoda e descomplicada de conceder crédito ao comprador de bens ou serviços, quer retardando a apresentação do cheque, quer parcelando o preço.

No caso acima citado, o emitente que teve seu cheque pós-datado apresentado

pelo comerciante antes da data pactuada pode pleitear eventual indenização por danos

morais, fundamentando a ação no artigo 30 do citado codex, que assim dispõe:

Art 30 Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular o dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.

Isto acontece pelo fato de ter se tornado prática usual de estabelecimentos

comerciais no Brasil a propaganda de que seus produtos podem ser adquiridos

mediante o uso do cheque pós datado.

Neste sentido, Covello (1999, p. 33) afirma:

... a transação efetuada entre o vendedor e o comprador, firmando a forma de pagamento através do cheque pré-datado, passou a ter regulação expressa em lei, mediante a figura da oferta fixada no CDC. Como a oferta é parte integrante do contrato por força expressa de lei, isto é pelo estabelecido no artigo 30 do CDC e, como tanto o preço como a forma de pagamento são partes da oferta do devedor, eles integram o negócio realizado. Daí conclui-se que, se o vendedor oferece ao comprador, como forma de pagamento a entrega de cheque que ele (vendedor) só vai levar ao banco em determinado dia futuro, isso é verdadeira cláusula contratual que não pode ser por ele (vendedor) quebrada, sem que seja responsabilizado pelo rompimento.

Portanto, a regra estabelecida pelo Código de Defesa do Consumidor é

“prometeu tem que cumprir”, sendo que se o fornecedor se recusar a adimplir a oferta e

apresentar o cheque pós-datado antes da data pactuada, o emitente poderá exigir a

rescisão do contrato e restituição do que foi pago combinado com perdas e danos,

conforme o artigo 35 do Código citado, que assim dispõe:

Art 35 Se o fornecedor de produtos ou de serviços recusar cumprimento a oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá alternativamente e a sua livre escolha: (...) III- rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e perdas e danos.

Sendo assim, em se tratando de relação de consumo, o fundamento que o

emitente de cheque pós-datado pode utilizar em eventual ação de indenização por

danos morais e materiais encontra-se disposto no Código de Defesa do Consumidor,

mormente no que diz respeito ao princípio da vinculação da oferta.

Confirmando este entendimento, Cardoso ( 2000, p. 3) afirma:

Desta forma, concluindo, se o comerciante informa ao consumidor que seus produtos e serviços podem ser adquiridos mediante a entrega de cheques pós-datados fica, após a concretização da compra, imediatamente obrigado a apresentar o documento ao banco sacado na data combinada, sob pena de ser responsabilizado civilmente pela quebra contratual.

No entanto, pode ser questionada a sobreposição do art 30 do Código de

Defesa do Consumidor (que trata do princípio da vinculação da oferta) sobre o artigo 32

da Lei do Cheque (que diz que qualquer menção em contrário ao pagamento a vista do

cheque deve ser considerado como não escrita).

Neste Sentido, Gabrich (1999, p.37) afirma:

...apesar da lei nº 8078/90 não ser uma lei específica sobre o cheque, o que nos levaria a conclusão da prevalência do disposto no artigo 32 da lei do cheque, é importante observar a prática comum no meio comercial de se divulgar amplamente a venda de produtos e serviços mediante a utilização de cheques pré-datados (pós datados), para 30, 60 e 90 dias. Nesses casos, inclusive, não é raro quando o consumidor, sob orientação do fornecedor, escreve na face do cheque a expresão “bom para” ou equivalente.

Ainda Gabrich (1999, p. 37) continua:

Nesse caso, em nome do princípio da boa fé, da fidúcia e da proteção ao crédito, mas a despeito da natureza jurídica do cheque e do disposto na legislação específica, somos do entendimento de que o cheque pós- datado deve ser admitido como promessa de pagamento (...) responsabilizando-se pessoalmente quem apresenta o título para

pagamento antes da data combinada e expressa no cheque pelos prejuízos materiais e morais causados ao sacador.

Sendo assim, o disposto no artigo 30 do Código de Defesa do Consumidor não

revogou o art 32 da Lei do Cheque, mesmo porque, como foi dito anteriormente, o

banco é obrigado a efetuar o pagamento do cheque pós-datado se este cumprir os

requisitos estipulados na Lei do Cheque, como a provisão de fundos, preenchimento

correto, etc....

Porém, o artigo 30 do Código de Defesa do Consumidor imputou

responsabilidade pelos danos causados ao emitente caso o comerciante (sacador)

apresente o título antes da data pactuada, adaptando a legislação vigente à reiterada

prática de uso de cheques pós-datados pertinentes ao cotidiano brasileiro.

3.3 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL

O Superior Tribunal de Justiça já teve algumas oportunidades de se manifestar

sobre a possibilidade de haver indenização por dano moral no caso de apresentação

de cheque pós datado antes da data pactuada.

Aquele Tribunal entende cabível a indenização do emitente de cheque pós-

datado que teve seu título apresentado pelo sacador antes da data pactuada.

Porém, entende também ser necessário restar caracterizado o dano sofrido pelo

emitente, pois sem a caracterização deste dano, não haveria motivos para se condenar

o sacador à indenizar o emitente.

Com a intenção de pacificar as divergências acerca deste assunto, o Superior

Tribunal de Justiça tem entendimento assentado em sua jurisprudência comparada,

instituto que analisa exaustivamente temas do âmbito daquele tribunal e serve de

orientação para outros julgados, que assim dispõe, verbis:

É cabível indenização por dano moral, quando o cheque pós-datado, popularmente conhecido como pré-datado, apresentado antes da data ajustada entre as partes, é devolvido por insuficiência de fundos.

Os cheques pré-datados, emitidos como garantia de dívida, não perdem sua qualidade cambiariforme e executiva, ocorrendo, no âmbito do direito privado, apenas a ampliação do prazo de apresentação. ( ÓRGÃO JULGADOR - 3º TURMA)

O acórdão que julgou o Recurso Especial nº 16.855, de São Paulo, cujo relator

foi o Ministro Salvio Figueiredo Teixeira, resultou a ementa a seguir:

Processo Civil. Direito comercial. Cheque pós-datado. Executividade. lei 7.357/85, art. 32. Prescrição. Interrupção. CPC, art. 219, parag. 3. entendimento do tribunal. Precedentes. Recurso desacolhido. I - Não sendo imputável ao autor culpa pela demora na prolação do despacho ordinatório da citação, considera-se interrompida a prescrição na data em que protocolada a inicial. II - A prorrogação prevista no parag. 3. do art. 219, CPC, somente se mostra exigível se, transcorrido o prazo estipulado no parag. 2. do mesmo artigo, ainda subsistirem providencias a cargo do autor necessárias a efetivação do ato citatório. III - O cheque pós-datado emitido em garantia de divida não se desnatura como titulo cambiariforme, tampouco como titulo executivo extrajudicial. IV - A circunstancia de haver sido aposta no cheque data futura, embora possua relevância na esfera penal, no âmbito dos direitos civil e comercial traz como única conseqüência pratica a ampliação real do prazo de apresentação.

Da ementa supra pode-se subtrair que o Superior Tribunal de Justiça firmou o

entendimento de que o cheque pós-datado traz como conseqüência a ampliação do

prazo de apresentação, em virtude de ter sido aposta data futura, reconhecendo esta

prática, que se tornou comum no cotidiano brasileiro.

Neste sentido, Júnior (2000, p. 136) comenta:

Tratando-se de ordem de pagamento à vista, é irrelevante que se emita pré-datado, em garantia ou como promessa de pagamento, porque não perde a cambiaridade, nem a conseqüente executividade, o cheque emitido em garantia de dívida, ou o cheque a que falte a data de emissão ou pós-datado

Note-se, ainda, que a jurisprudência comparada do referido órgão especifica que

cabe indenização por dano moral quando o cheque pós datado é apresentado antes da

data pactuada e devolvido por insuficiência de fundos.

Portanto, conforme já havia sido explicitado nos primeiros parágrafos deste

tópico, a tendência do Superior Tribunal de Justiça é indenizar o emitente que

efetivamente tenha sofrido algum dano, como a inscrição em órgãos restritivos de

crédito (SERASA, SPC), perda de algum negócio, etc...

O posicionamento do Superior Tribunal de Justiça que sedimenta que deve ser

indenizado o emitente de cheque pós-datado que teve seu título apresentado antes da

data pactuada também está disposto no acórdão que julgou o Recurso Especial nº

213.940, do Rio de Janeiro, onde foi relator o Ministro Eduardo Ribeiro, do qual

resultou a seguinte ementa:

A devolução do cheque pós datado, por insuficiência, apresentado antes da data ajustada entre as partes, constitui fato capaz de gerar prejuízos de ordem moral.

Note-se que este acórdão deixa claro que a devolução de cheque pós-datado

constitui fato capaz de gerar prejuízos de ordem moral, o que não significa que sempre

deverá ser indenizado o emitente que teve seu cheque pós-datado apresentado antes

da data pactuada, pois devem ser observadas as peculiaridades de cada caso.

Os dois julgados antes citado servem de precedente para diversos outros

julgados, sendo estes citados em quase todos os julgados deste assunto, pois

resumem o entendimento deste órgão acerca do assunto discutido.

Outro julgado que demonstra claramente o entendimento do Superior Tribunal

de Justiça é o Recurso Especial nº 557.505, de Minas Gerais, onde foi relator o

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, cuja a ementa assim dispõe:

Cheque pré-datado. Apresentação antes do prazo. Indenização por danos morais. Precedentes da corte. 1. A apresentação de cheque pré-datado antes do prazo avençado gera o dever de indenizar, presente, como no caso, a conseqüência da devolução do mesmo por ausência de provisão de fundos. 2. Recurso especial conhecido e provido.

Este julgado salienta que deve estar presente no caso concreto a conseqüência

da devolução do cheque pós-datado por ausência de fundos para gerar o dever de

indenizar, como já havia sido comentado anteriormente.

No mesmo sentido o Recurso Especial nº 505.999, de Santa Catarina, que teve

como relator também o Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, possui a seguinte

ementa:

Cheque pré-datado. Apresentação antecipada. Dano moral. Dissídio. Precedentes da corte. 1. Sem dúvida, a apresentação do cheque pré-datado antes da data nele aposta constitui razão capaz de causar abalo moral. Todavia, o precedente apresentado não guarda similitude fática com o presente caso, por que naquele há conseqüências efetivas, assim a devolução do cheque por insuficiência de fundos e a inscrição do nome do cliente em cadastro negativo, o que não ocorre neste feito. 2. Recurso especial não conhecido.

Portanto, pelas simples observação das ementas acima citadas, conclui-se que

o Superior Tribunal de Justiça entende que deve haver conseqüências efetivas ao

emitente que teve seu cheque pós-datado apresentado antes da data pactuada para

este seja indenizado por danos morais ou materiais.

Caso contrário, ou seja, caso não esteja devidamente caracterizado o prejuízo

sofrido pelo emitente, a tendência é que o Superior Tribunal de Justiça entenda que

não cabe indenização por danos materiais e morais, como explicitado no acórdão supra

citado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo demonstrar a tendência da doutrina e

jurisprudência atual sobre o dano moral na apresentação antecipada do cheque pós-

datado, assunto que cada vez mais vem ganhando força no mundo jurídico, por estar

tão intimamente ligado ao cotidiano do brasileiro.

Este tema tão polêmico e atual gera muitas incertezas, mormente pelo fato de

não haver regulamentação alguma do cheque pós-datado na legislação brasileira, o

que pode gerar várias divergências na discussão o assunto.

Para facilitar o desenvolvimento da pesquisa, esta foi divida em três capítulos,

sendo que o primeiro capítulo explicou somente o dano moral e o segundo somente o

cheque, para que o terceiro capítulo explicasse, com fundamento nos capítulos

anteriores, a incidência do dano moral na apresentação antecipada do cheque.

No terceiro capítulo foram explicitadas duas correntes divergentes, sendo que

uma não admite a indenização por danos morais no caso de apresentação antecipada

de cheque pós-datado e a outra admite a indenização, encontrando respaldo nos

julgados do Superior Tribunal de Justiça.

A corrente que não admite que o emitente de cheque pós-datado seja

indenizado por ter tido seu título apresentado antes da data pactuada tem como

principal fundamento a lei do cheque, que dispõe que este é pagável a vista,

considerando como não escrita qualquer menção em contrário. Esta corrente não

ganhou força jurídica, pois simplesmente ignorou a larga utilização do cheque pós-

datado no mundo contemporâneo, aplicando literalmente uma legislação que não

acompanhou o desenvolvimento da sociedade.

Por outro lado, a corrente que admite que o emitente de cheque pós-datado seja

indenizado por ter tido seu título apresentado antes da data pactuada fundamenta o

seu entendimento na validade do acordo firmado entre as partes, que não pode ser

simplesmente desconsiderado, pois gera dever de indenizar, caso seja descumprido.

Além disso esta corrente também tem como fundamento o Código de Defesa do

consumidor, que ao tratar do princípio da vinculação da oferta, obrigou o comerciante

que ofertar a venda da sua mercadoria utilizando como forma de pagamento cheque

pós-datado a cumprir o avençado com o consumidor.

A corrente supra mencionada encontra-se pacificada no Superior Tribunal de

Justiça, porém, este órgão entende que deve haver dano para que o emitente seja

indenizado, não bastando o simples descumprimento do acordo para configurar o dano

moral.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 1998. ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 21 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. ANDREATTA, Vanessa Regina. O cheque pós datado em vista das exigências da lei do cheque. 1 ed. São Paulo: Editora de Direito, 2004. BITTAR, Carlos Alberto de. Reparação civil por danos morais. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. BOITEUX, Fernando Neto. Títulos de Crédito em conformidade com o novo Código Civil. São Paulo: Dialética, 2001. 1 v. BULGARELLI, Waldirio. Títulos de crédito. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2001. BRASIL, Novo Código Civil Brasileiro/ Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002: estudo comparativo com o código civil de 1916, constituição federal, legislação codificada e extravagante/ obra coletiva da autoria da editora revista dos tribunais, 2002, 697p. ISBN 85-203-2249-2. BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Acórdão RESP 16855. A circunstância de ter sido aposta no cheque data futura, embora possua relevância na esfera penal, no âmbito dos direitos civil e comercial traz como única conseqüência prática a ampliação real do prazo de apresentação. Ministro Salvio Figueiredo Teixeira. DJ data: 07/06/1993. pg 11261 LEXSTJ VOL 00050 pg 00178. Disponível em http://www.stj.gov.br/SCON/pesquisar.jsp Acesso em 13 out. 2004. BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Acórdão RESP 213940. A devolução do cheque pós datado, por insuficiência, apresentado antes da data ajustada entre as partes, constitui fato capaz de gerar prejuízos de ordem moral. Ministro Eduardo Ribeiro. DJ data 17/11/2003 pg 00324 RNDJ VOL 00051 pg 00110. Disponível em < http://www.stj.gov.br/SCON/index.jsp> Acesso em 13 out. 2004. BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Acórdão RESP 557505. Cheque pré-datado. Apresentação antes do prazo. Indenização por danos morais. Precedentes da corte. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito. DJ data: 21/06/2004 pg 00219. Disponível em < http://www.stj.gov.br/SCON/pesquisar.jsp> Acesso em 13 out. 2004. BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Acórdão RESP 505999. Cheque pré-datado. Apresentação antecipada. Dano moral. Dissídio. Precedentes da corte. Ministro Carlos

Alberto Menezes Direito. DJ data 17/11/2003 pg 00324 RNDJ VOL 00051 pg 00110. Disponível em < http://www.stj.gov.br/SCON/pesquisar.jsp>. Acesso em 13 out. 2004. CARDOSO, Paulo Leonardo Vilela. Cheque pós-datado: natureza contratual. Disponível em <http://www1.jus.com.Br/doutrina/texto.asp?id=746> COELHO, Fabio Ulhôa. Curso de direito Comercial. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 1 v. COVELLO, Sergio Carlos. Prática do cheque. 3° ed.São Paulo: Edipro, 1999. DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 7 v. GABRICH, Frederico de Andrade. Algumas questões relevantes sobre o cheque. Revista do Curso de Direito da FUMEC, vol 1, 1999. JUNIOR, Waldo Fazzio. Fundamentos de direito comercial: empresário, sociedades comerciais, títulos de crédito. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2000. JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da Rosa. Cheque: comentários à lei uniforme. 4 ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1982. LISBOA, Roberto Senise. Manual elementar de direito civil. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. 2 v. MARTINS, Fran. Títulos de crédito. 1 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. NETO, Paulo Restiffe e Restiffe, Paulo Sérgio. Lei do Cheque. 4 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 21 ed. São Paulo: Saraiva, 1995. 1 v. SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: responsabilidade civil. 1 ed. São Paulo: Atlas, 2000. VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003. 4 v. WALD, Arnold. Curso de Direito Civil Brasileiro. 10 ed.São Paulo: Revista dos Tribunais, 1992)

ANEXOS

LEI Nº 7.357, DE 2 DE SETEMBRO DE 1985.

Dispõe sobre o cheque e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I Da Emissão e da Forma do Cheque

Art 1º O cheque contêm:

I - a denominação ‘’cheque’’ inscrita no contexto do título e expressa na língua em que este é redigido;

II - a ordem incondicional de pagar quantia determinada;

III - o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado);

IV - a indicação do lugar de pagamento;

V - a indicação da data e do lugar de emissão;

VI - a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais.

Parágrafo único - A assinatura do emitente ou a de seu mandatário com poderes especiais pode ser constituída, na forma de legislação específica, por chancela mecânica ou processo equivalente.

Art 2º O título, a que falte qualquer dos requisitos enumerados no artigo precedente não vale como cheque, salvo nos casos determinados a seguir:

I - na falta de indicação especial, é considerado lugar de pagamento o lugar designado junto ao nome do sacado; se designados vários lugares, o cheque é pagável no primeiro deles; não existindo qualquer indicação, o cheque é pagável no lugar de sua emissão;

II - não indicado o lugar de emissão, considera-se emitido o cheque no lugar indicado junto ao nome do emitente.

Art 3º O cheque é emitido contra banco, ou instituição financeira que lhe seja equiparada, sob pena de não valer como cheque.

Art 4º O emitente deve ter fundos disponíveis em poder do sacado e estar autorizado a sobre eles emitir cheque, em virtude de contrato expresso ou tácito. A infração desses preceitos não prejudica a validade do título como cheque.

§ 1º - A existência de fundos disponíveis é verificada no momento da apresentação do cheque para pagamento.

§ 2º - Consideram-se fundos disponíveis:

a) os créditos constantes de conta-corrente bancária não subordinados a termo;

b) o saldo exigível de conta-corrente contratual;

c) a soma proveniente de abertura de crédito.

Art 5º (VETADO).

Art 6º O cheque não admite aceite considerando-se não escrita qualquer declaração com esse sentido.

Art 7º Pode o sacado, a pedido do emitente ou do portador legitimado, lançar e assinar, no verso do cheque não ao portador e ainda não endossado, visto, certificação ou outra declaração equivalente, datada e por quantia igual à indicada no título.

§ 1º A aposição de visto, certificação ou outra declaração equivalente obriga o sacado a debitar à conta do emitente a quantia indicada no cheque e a reservá-la em benefício do portador legitimado, durante o prazo de apresentação, sem que fiquem exonerados o emitente, endossantes e demais coobrigados.

§ 2º - O sacado creditará à conta do emitente a quantia reservada, uma vez vencido o prazo de apresentação; e, antes disso, se o cheque lhe for entregue para inutilização.

Art 8º Pode-se estipular no cheque que seu pagamento seja feito:

I - a pessoa nomeada, com ou sem cláusula expressa ‘’à ordem’’;

II - a pessoa nomeada, com a cláusula ‘’não à ordem’’, ou outra equivalente;

III - ao portador.

Parágrafo único - Vale como cheque ao portador o que não contém indicação do beneficiário e o emitido em favor de pessoa nomeada com a cláusula ‘’ou ao portador’’, ou expressão equivalente.

Art 9º O cheque pode ser emitido:

I - à ordem do próprio sacador;

II - por conta de terceiro;

Ill - contra o próprio banco sacador, desde que não ao portador.

Art 10. Considera-se não escrita a estipulação de juros inserida no cheque.

Art 11. O cheque pode ser pagável no domicílio de terceiro, quer na localidade em que o sacado tenha domicílio, quer em outra, desde que o terceiro seja banco.

Art 12. Feita a indicação da quantia em algarismos e por extenso, prevalece esta no caso de divergência. lndicada a quantia mais de uma vez, quer por extenso, quer por algarismos, prevalece, no caso de divergência, a indicação da menor quantia.

Art 13. As obrigações contraídas no cheque são autônomas e independentes.

Parágrafo único - A assinatura de pessoa capaz cria obrigações para o signatário, mesmo que o cheque contenha assinatura de pessoas incapazes de se obrigar por cheque, ou assinaturas falsas, ou assinaturas de pessoas fictícias, ou assinaturas que, por qualquer outra razão, não poderiam obrigar as pessoas que assinaram o cheque, ou em nome das quais ele foi assinado.

Art 14. Obriga-se pessoalmente quem assina cheque como mandatário ou representante, sem ter poderes para tal, ou excedendo os que lhe foram conferidos. Pagando o cheque, tem os mesmos direitos daquele em cujo nome assinou.

Art 15. O emitente garante o pagamento, considerando-se não escrita a declaração pela qual se exima dessa garantia.

Art 16. Se o cheque, incompleto no ato da emissão, for completado com inobservância do convencionado com a emitente, tal fato não pode ser oposto ao portador, a não ser que este tenha adquirido a cheque de má-fé.

CAPíTULO II Da Transmissão

Art 17 O cheque pagável a pessoa nomeada, com ou sem cláusula expressa ‘’ à ordem’’, é transmissível por via de endosso.

§ 1º O cheque pagável a pessoa nomeada, com a cláusula ‘’não à ordem’’, ou outra equivalente, só é transmissível pela forma e com os efeitos de cessão.

§ 2º O endosso pode ser feito ao emitente, ou a outro obrigado, que podem novamente endossar o cheque.

Art 18 O endosso deve ser puro e simples, reputando-se não-escrita qualquer condição a que seja subordinado.

§ 1º São nulos o endosso parcial e o do sacado.

§ 2º Vale como em branco o endosso ao portador. O endosso ao sacado vale apenas como quitação, salvo no caso de o sacado ter vários estabelecimentos e o endosso ser feito em favor de estabelecimento diverso daquele contra o qual o cheque foi emitido.

Art 19 - O endosso deve ser lançado no, cheque ou na folha de alongamento e assinado pelo endossante, ou seu mandatário com poderes especiais.

§ 1º O endosso pode não designar o endossatário. Consistindo apenas na assinatura do endossante (endosso em branco), só é válido quando lançado no verso do cheque ou na folha de alongamento.

§ 2º A assinatura do endossante, ou a de seu mandatário com poderes especiais, pode ser constituída, na forma de legislação específica, por chancela mecânica, ou processo equivalente.

Art 20 O endosso transmite todos os direitos resultantes do cheque. Se o endosso é em branco, pode o portador:

I - completá-lo com o seu nome ou com o de outra pessoa;

II - endossar novamente o cheque, em branco ou a outra pessoa;

III - transferir o cheque a um terceiro, sem completar o endosso e sem endossar.

Art 21 Salvo estipulação em contrário, o endossante garante o pagamento.

Parágrafo único - Pode o endossante proibir novo endosso; neste caso, não garante o pagamento a quem seja o cheque posteriormente endossado.

Art 22 O detentor de cheque "à ordem’’ é considerado portador legitimado, se provar seu direito por uma série ininterrupta de endossos, mesmo que o último seja em branco. Para esse efeito, os endossos cancelados são considerados não-escritos.

Parágrafo único. Quando um endosso em branco for seguido de outro, entende-se que o signatário deste adquiriu o cheque pelo endosso em branco.

Art 23 O endosso num cheque passado ao portador torna o endossante responsável, nos termos das disposições que regulam o direito de ação, mas nem por isso converte o título num cheque ‘’à ordem’’.

Art 24 Desapossado alguém de um cheque, em virtude de qualquer evento, novo portador legitimado não está obrigado a restituí-lo, se não o adquiriu de má-fé.

Parágrafo único - Sem prejuízo do disposto neste artigo, serão observadas, nos casos de perda, extravio, furto, roubo ou apropriação indébita do cheque, as disposições legais relativas à anulação e substituição de títulos ao portador, no que for aplicável.

Art 25 Quem for demandado por obrigação resultante de cheque não pode opor ao portador exceções fundadas em relações pessoais com o emitente, ou com os portadores anteriores, salvo se o portador o adquiriu conscientemente em detrimento do devedor.

Art 26 Quando o endosso contiver a cláusula ‘’valor em cobrança’’, ‘’para cobrança’’, ‘’por procuração’’, ou qualquer outra que implique apenas mandato, o portador pode exercer todos os direitos resultantes do cheque, mas só pode lançar no cheque endosso-mandato. Neste caso, os obrigados somente podem invocar contra o portador as exceções oponíveis ao endossante.

Parágrafo único. O mandato contido no endosso não se extingue por morte do endossante ou por superveniência de sua incapacidade.

Art 27 O endosso posterior ao protesto, ou declaração equivalente, ou à expiração do prazo de apresentação produz apenas os efeitos de cessão. Salvo prova em contrário, o endosso sem data presume-se anterior ao protesto, ou declaração equivalente, ou à expiração do prazo de apresentação.

Art 28 O endosso no cheque nominativo, pago pelo banco contra o qual foi sacado, prova o recebimento da respectiva importância pela pessoa a favor da qual foi emitido, e pelos endossantes subseqüentes.

Parágrafo único Se o cheque indica a nota, fatura, conta cambial, imposto lançado ou declarado a cujo pagamento se destina, ou outra causa da sua emissão, o endosso pela pessoa a favor da qual foi emitido, e a sua liquidação pelo banco sacado provam a extinção da obrigação indicada.

CAPíTULO III Do Aval

Art 29 O pagamento do cheque pode ser garantido, no todo ou em parte, por aval prestado por terceiro, exceto o sacado, ou mesmo por signatário do título.

Art 30 O aval é lançado no cheque ou na folha de alongamento. Exprime-se pelas palavras ‘’por aval’’, ou fórmula equivalente, com a assinatura do avalista. Considera-se como resultante da simples assinatura do avalista, aposta no anverso do cheque, salvo quando se tratar da assinatura do emitente.

Parágrafo único - O aval deve indicar o avalizado. Na falta de indicação, considera-se avalizado o emitente.

Art 31 O avalista se obriga da mesma maneira que o avaliado. Subsiste sua obrigação, ainda que nula a por ele garantida, salvo se a nulidade resultar de vício de forma.

Parágrafo único - O avalista que paga o cheque adquire todos os direitos dele resultantes contra o avalizado e contra os obrigados para com este em virtude do cheque.

CAPíTULO IV Da Apresentação e do Pagamento

Art 32 O cheque é pagável à vista. Considera-se não-estrita qualquer menção em contrário.

Parágrafo único - O cheque apresentado para pagamento antes do dia indicado como data de emissão é pagável no dia da apresentação.

Art 33 O cheque deve ser apresentado para pagamento, a contar do dia da emissão, no prazo de 30 (trinta) dias, quando emitido no lugar onde houver de ser pago; e de 60 (sessenta) dias, quando emitido em outro lugar do País ou no exterior.

Parágrafo único - Quando o cheque é emitido entre lugares com calendários diferentes, considera-se como de emissão o dia correspondente do calendário do lugar de pagamento.

Art 34 A apresentação do cheque à câmara de compensação equivale à apresentação a pagamento.

Art 35 O emitente do cheque pagável no Brasil pode revogá-lo, mercê de contra-ordem dada por aviso epistolar, ou por via judicial ou extrajudicial, com as razões motivadoras do ato.

Parágrafo único - A revogação ou contra-ordem só produz efeito depois de expirado o prazo de apresentação e, não sendo promovida, pode o sacado pagar o cheque até que decorra o prazo de prescrição, nos termos do art. 59 desta Lei.

Art 36 Mesmo durante o prazo de apresentação, o emitente e o portador legitimado podem fazer sustar o pagamento, manifestando ao sacado, por escrito, oposição fundada em relevante razão de direito.

§ 1º A oposição do emitente e a revogação ou contra-ordem se excluem reciprocamente.

§ 2º Não cabe ao sacado julgar da relevância da razão invocada pelo oponente.

Art 37 A morte do emitente ou sua incapacidade superveniente à emissão não invalidam os efeitos do cheque.

Art 38 O sacado pode exigir, ao pagar o cheque, que este lhe seja entregue quitado pelo portador.

Parágrafo único. O portador não pode recusar pagamento parcial, e, nesse caso, o sacado pode exigir que esse pagamento conste do cheque e que o portador lhe dê a respectiva quitação.

Art 39 O sacado que paga cheque ‘’à ordem’’ é obrigado a verificar a regularidade da série de endossos, mas não a autenticidade das assinaturas dos endossantes. A mesma obrigação incumbe ao banco apresentante do cheque a câmara de compensação.

Parágrafo único. Ressalvada a responsabilidade do apresentante, no caso da parte final deste artigo, o banco sacado responde pelo pagamento do cheque falso, falsificado ou alterado, salvo dolo ou culpa do correntista, do endossante ou do beneficiário, dos quais poderá o sacado, no todo ou em parte, reaver a que pagou.

Art 40 O pagamento se fará à medida em que forem apresentados os cheques e se 2 (dois) ou mais forem apresentados simultaneamente, sem que os fundos disponíveis bastem para o pagamento de todos, terão preferência os de emissão mais antiga e, se da mesma data, os de número inferior.

Art 41 O sacado pode pedir explicações ou garantia para pagar cheque mutilado, rasgado ou partido, ou que contenha borrões, emendas e dizeres que não pareçam formalmente normais.

Art 42 O cheque em moeda estrangeira é pago, no prazo de apresentação, em moeda nacional ao câmbio do dia do pagamento, obedecida a legislação especial.

Parágrafo único. Se o cheque não for pago no ato da apresentação, pode o portador optar entre o câmbio do dia da apresentação e o do dia do pagamento para efeito de conversão em moeda nacional.

Art 43 (VETADO).

§ 1º (VETADO).

§ 2º - (VETADO).

CAPíTULO V Do Cheque Cruzado

Art 44 O emitente ou o portador podem cruzar o cheque, mediante a aposição de dois traços paralelos no anverso do título.

§ 1º O cruzamento é geral se entre os dois traços não houver nenhuma indicação ou existir apenas a indicação ‘’banco’’, ou outra equivalente. O cruzamento é especial se entre os dois traços existir a indicação do nome do banco.

§ 2º O cruzamento geral pode ser convertida em especial, mas este não pode converter-se naquele.

§ 3º A inutilização do cruzamento ou a do nome do banco é reputada como não existente.

Art 45 O cheque com cruzamento geral só pode ser pago pelo sacado a banco ou a cliente do sacado, mediante crédito em conta. O cheque com cruzamento especial só pode ser pago pelo sacado ao banco indicado, ou, se este for o sacado, a cliente seu, mediante crédito em conta. Pode, entretanto, o banco designado incumbir outro da cobrança.

§ 1º O banco só pode adquirir cheque cruzado de cliente seu ou de outro banco. Só pode cobrá-lo por conta de tais pessoas.

§ 2º O cheque com vários cruzamentos especiais só pode ser pago pelo sacado no caso de dois cruzamentos, um dos quais para cobrança por câmara de compensação.

§ 3º Responde pelo dano, até a concorrência do montante do cheque, o sacado ou o banco portador que não observar as disposições precedentes.

CAPíTULO VI Do Cheque para Ser Creditado em Conta

Art 46 O emitente ou o portador podem proibir que o cheque seja pago em dinheiro mediante a inscrição transversal, no anverso do título, da cláusula ‘’para ser creditado em conta’’, ou outra equivalente. Nesse caso, o sacado só pode proceder a Iançamento contábil (crédito em conta, transferência ou compensação), que vale como pagamento. O depósito do cheque em conta de seu beneficiário dispensa o respectivo endosso.

§ 1º A inutilização da cláusula é considerada como não existente.

§ 2º Responde pelo dano, até a concorrência do montante do cheque, o sacado que não observar as disposições precedentes.

CAPíTULO VII Da Ação por Falta de Pagamento

Art 47 Pode o portador promover a execução do cheque:

I - contra o emitente e seu avalista;

II - contra os endossantes e seus avalistas, se o cheque apresentado em tempo hábil e a recusa de pagamento é comprovada pelo protesto ou por declaração do sacado, escrita e datada sobre o cheque, com indicação do dia de apresentação, ou, ainda, por declaração escrita e datada por câmara de compensação.

§ 1º Qualquer das declarações previstas neste artigo dispensa o protesto e produz os efeitos deste.

§ 2º Os signatários respondem pelos danos causados por declarações inexatas.

§ 3º O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil, ou não comprovar a recusa de pagamento pela forma indicada neste artigo, perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que não lhe seja imputável.

§ 4º A execução independe do protesto e das declarações previstas neste artigo, se a apresentação ou o pagamento do cheque são obstados pelo fato de o sacado ter sido submetido a intervenção, liquidação extrajudicial ou falência.

Art 48 O protesto ou as declarações do artigo anterior devem fazer-se no lugar de pagamento ou do domicílio do emitente, antes da expiração do prazo de apresentação. Se esta ocorrer no último dia do prazo, o protesto ou as declarações podem fazer-se no primeiro dia útil seguinte.

§ 1º A entrega do cheque para protesto deve ser prenotada em livro especial e o protesto tirado no prazo de 3 (três) dias úteis a contar do recebimento do título.

§ 2º O instrumento do protesto, datado e assinado pelo oficial público competente, contém:

a) a transcrição literal do cheque, com todas as declarações nele inseridas, na ordem em que se acham lançadas;

b) a certidão da intimação do emitente, de seu mandatário especial ou representante legal, e as demais pessoas obrigadas no cheque;

c) a resposta dada pelos intimados ou a declaração da falta de resposta;

d) a certidão de não haverem sido encontrados ou de serem desconhecidos o emitente ou os demais obrigados, realizada a intimação, nesse caso, pela imprensa.

§ 3º O instrumento de protesto, depois de registrado em livro próprio, será entregue ao portador legitimado ou àquele que houver efetuado o pagamento.

§ 4º Pago o cheque depois do protesto, pode este ser cancelado, a pedido de qualquer interessado, mediante arquivamento de cópia autenticada da quitação que contenha perfeita identificação do título.

Art 49 O portador deve dar aviso da falta de pagamento a seu endossante e ao emitente, nos 4 (quatro) dias úteis seguintes ao do protesto ou das declarações previstas no art. 47 desta Lei ou, havendo cláusula ‘’sem despesa’’, ao da apresentação.

§ 1º Cada endossante deve, nos 2 (dois) dias úteis seguintes ao do recebimento do aviso, comunicar seu teor ao endossante precedente, indicando os nomes e endereços dos que deram os avisos anteriores, e assim por diante, até o emitente, contando-se os prazos do recebimento do aviso precedente.

§ 2º O aviso dado a um obrigado deve estender-se, no mesmo prazo, a seu avalista.

§ 3º Se o endossante não houver indicado seu endereço ou o tiver feito de forma ilegível, basta o aviso ao endossante que o preceder.

§ 4º O aviso pode ser dado por qualquer forma, até pela simples devolução do cheque.

§ 5º Aquele que estiver obrigado a aviso deverá provar que o deu no prazo estipulado. Considera-se observado o prazo se, dentro dele, houver sido posta no correio a carta de aviso.

§ 6º Não decai do direito de regresso o que deixa de dar o aviso no prazo estabelecido. Responde, porém, pelo dano causado por sua negligência, sem que a indenização exceda o valor do cheque.

Art 50 O emitente, o endossante e o avalista podem, pela cláusula ‘’sem despesa’’, ‘’sem protesto’’, ou outra equivalente, lançada no título e assinada, dispensar o portador, para promover a execução do título, do protesto ou da declaração equivalente.

§ 1º A cláusula não dispensa o portador da apresentação do cheque no prazo estabelecido, nem dos avisos. Incumbe a quem alega a inobservância de prazo a prova respectiva.

§ 2º A cláusula lançada pelo emitente produz efeito em relação a todos os obrigados; a lançada por endossante ou por avalista produz efeito somente em relação ao que lançar.

§ 3º Se, apesar de cláusula lançada pelo emitente, o portador promove o protesto, as despesas correm por sua conta. Por elas respondem todos os obrigados, se a cláusula é lançada por endossante ou avalista.

Art 51 Todos os obrigados respondem solidariamente para com o portador do cheque.

§ 1º - O portador tem o direito de demandar todos os obrigados, individual ou coletivamente, sem estar sujeito a observar a ordem em que se obrigaram. O mesmo direito cabe ao obrigado que pagar o cheque.

§ 2º A ação contra um dos obrigados não impede sejam os outros demandados, mesmo que se tenham obrigado posteriormente àquele.

§ 3º Regem-se pelas normas das obrigações solidárias as relações entre obrigados do mesmo grau.

Art . 52 portador pode exigir do demandado:

I - a importância do cheque não pago;

II - os juros legais desde o dia da apresentação;

III - as despesas que fez;

IV - a compensação pela perde do valor aquisitivo da moeda, até o embolso das importâncias mencionadas nos itens antecedentes.

Art 53 Quem paga o cheque pode exigir de seus garantes:

I - a importância integral que pagou;

II - os juros legais, a contar do dia do pagamento;

III - as despesas que fez;

IV - a compensação pela perda do valor aquisitivo da moeda, até o embolso das importâncias mencionadas nos itens antecedentes.

Art 54 O obrigado contra o qual se promova execução, ou que a esta esteja sujeito, pode exigir, contra pagamento, a entrega do cheque, com o instrumento de protesto ou da declaração equivalente e a conta de juros e despesas quitada.

Parágrafo único. O endossante que pagou o cheque pode cancelar seu endosso e os dos endossantes posteriores.

Art 55 Quando disposição legal ou caso de força maior impedir a apresentação do cheque, o protesto ou a declaração equivalente nos prazos estabelecidos, consideram-se estes prorrogados.

§ 1º O portador é obrigado a dar aviso imediato da ocorrência de força maior a seu endossante e a fazer menção do aviso dado mediante declaração datada e assinada por ele no cheque ou folha de alongamento. São aplicáveis, quanto ao mais, as disposições do art. 49 e seus parágrafos desta Lei.

§ 2º Cessado o impedimento, deve o portador, imediatamente, apresentar o cheque para pagamento e, se couber, promover o protesto ou a declaração equivalente.

§ 3º Se o impedimento durar por mais de 15 (quinze) dias, contados do dia em que o portador, mesmo antes de findo o prazo de apresentação, comunicou a ocorrência de força maior a seu endossante, poderá ser promovida a execução, sem necessidade da apresentação do protesto ou declaração equivalente.

§ 4º Não constituem casos de força maior os fatos puramente pessoais relativos ao portador ou à pessoa por ele incumbida da apresentação do cheque, do protesto ou da obtenção da declaração equivalente.

CAPíTULO VIII Da Pluralidade de Exemplares

Art 56 Excetuado o cheque ao portador, qualquer cheque emitido em um país e pagável em outro pode ser feito em vários exemplares idênticos, que devem ser numerados no próprio texto do título, sob pena de cada exemplar ser considerado cheque distinto.

Art 57 O pagamento feito contra a apresentação de um exemplar é liberatório, ainda que não estipulado que o pagamento torna sem efeito os outros exemplares.

Parágrafo único. O endossante que transferir os exemplares a diferentes pessoas e os endossantes posteriores respondem por todos os exemplares que assinarem e que não forem restituídos.

CAPíTULO IX Das Alterações

Art 58 No caso de alteração do texto do cheque, os signatários posteriores à alteração respondem nos termos do texto alterado e os signatários anteriores, nos do texto original.

Parágrafo único. Não sendo possível determinar se a firma foi aposta no título antes ou depois de sua alteração, presume-se que a tenha sido antes.

CAPíTULO X Da Prescrição

Art 59 Prescrevem em 6 (seis) meses, contados da expiração do prazo de apresentação, a ação que o art. 47 desta Lei assegura ao portador.

Parágrafo único - A ação de regresso de um obrigado ao pagamento do cheque contra outro prescreve em 6 (seis) meses, contados do dia em que o obrigado pagou o cheque ou do dia em que foi demandado.

Art 60 A interrupção da prescrição produz efeito somente contra o obrigado em relação ao qual foi promovido o ato interruptivo.

Art 61 A ação de enriquecimento contra o emitente ou outros obrigados, que se locupletaram injustamente com o não-pagamento do cheque, prescreve em 2 (dois) anos, contados do dia em que se consumar a prescrição prevista no art. 59 e seu parágrafo desta Lei.

Art 62 Salvo prova de novação, a emissão ou a transferência do cheque não exclui a ação fundada na relação causal, feita a prova do não-pagamento.

CAPíTULO XI Dos Conflitos de Leis em Matéria de Cheques

Art . 63 Os conflitos de leis em matéria de cheques serão resolvidos de acordo com as normas constantes das Convenções aprovadas, promulgadas e mandadas aplicar no Brasil, na forma prevista pela Constituição Federal.

CAPíTULO XII Das Disposições Gerais

Art 64 A apresentação do cheque, o protesto ou a declaração equivalente só podem ser feitos ou exigidos em dia útil, durante o expediente dos estabelecimentos de crédito, câmaras de compensação e cartórios de protestos.

Parágrafo único. O cômputo dos prazos estabelecidos nesta Lei obedece às disposições do direito comum.

Art 65 Os efeitos penais da emissão do cheque sem suficiente provisão de fundos, da frustração do pagamento do cheque, da falsidade, da falsificação e da alteração do cheque continuam regidos pela legislação criminal.

Art 66 Os vales ou cheques postais, os cheques de poupança ou assemelhados, e os cheques de viagem regem-se pelas disposições especiais a eles referentes.

Art 67 A palavra ‘’banco’’, para os fins desta Lei, designa também a instituição financeira contra a qual a lei admita a emissão de cheque.

Art 68 Os bancos e casas bancárias poderão fazer prova aos seus depositantes dos cheques por estes sacados mediante apresentação de cópia fotográfica ou microfotográfica.

Art 69 Fica ressalvada a competência do Conselho Monetário Nacional, nos termos e nos limites da legislação especifica, para expedir normas relativas à matéria bancária relacionada com o cheque.

Parágrafo único. É da competência do Conselho Monetário Nacional:

a) a determinação das normas a que devem obedecer as contas de depósito para que possam ser fornecidos os talões de cheques aos depositantes;

b) a determinação das conseqüências do uso indevido do cheque, relativamente à conta do depositante;

c) a disciplina das relações entre o sacado e o opoente, na hipótese do art. 36 desta Lei.

Art 70 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art 71 Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, em 02 de setembro de 1985; 164º da Independência e 97º da República.

JOSÉ SARNEY

Dilson Domingos Funaro

S uper ior T r ibunal de Jus t iça R evis t a E let r ônica de Jur is pr udência

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RECURSO ESPECIAL Nº 505.999 - SC (2003• 0005083-2)

RELATOR : MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO

RECORRENTE : MARCELO CONCEIÇÃO

ADVOGADO : ANA PAULA FONTES DE ANDRADE E OUTROS

RECORRIDO : ANTÔNIO BITTENCOURT MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO LTDA

ADVOGADO : SANDRO ANTÔNIO SCHAPIESKI E OUTRO

EMENTA Cheque pré-datado. Apresentação antecipada. Dano moral. Dissídio. Precedentes da Corte. 1. Sem dúvida, a apresentação do cheque pré-datado antes da data nele aposta constitui razão capaz de causar abalo moral. Todavia, o precedente apresentado não guarda similitude fática com o presente caso, porque naquele há conseqüências efetivas, assim a devolução do cheque por insuficiência de fundos e a inscrição do nome do cliente em cadastro negativo, o que não ocorre neste feito. 2. Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso especial. Os Srs. Ministros Nancy Andrighi e Ari Pargendler votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Castro Filho e Antônio de Pádua Ribeiro. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito. Brasília (DF), 18 de setembro de 2003 (data do julgamento).

MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Presidente e Relator

S uper ior T r ibunal de Jus t iça R evis t a E let r ônica de Jur is pr udência

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RECURSO ESPECIAL Nº 505.999 - SC (2003• 0005083-2)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO:

Marcelo Conceição interpõe recurso especial, com fundamento na alínea c) do permissivo constitucional, contra acórdão da Primeira Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, assim ementado: APELAÇÃO CÍVEL - CHEQUE PRÉ DATADO - DEPÓSITO ANTES DA DATA PACTUADA - PRESUNÇÃO DE LIQUIDEZ, CERTEZA E EXIGIBILIDADE - DANO MORAL NÃO CARACTERIZADO - RECURSO DESPROVIDO. A emissão de cheque pré-datado, constitui-se em uma prática corrente no comércio e nos negócios em geral, o que não descaracteriza-o como ordem de pagamento à vista, a teor do art. 32 da Lei 7357• 85, que considera como não escrita qualquer menção em contrário, sendo, portanto, lícita a apresentação do cheque ao banco antes da data prevista para o pagamento. Fica evidenciado o risco do cheque pré-datado, que expõe seu emitente a passar cheque sem a suficiente cobertura" (fl. 73). Aponta o recorrente dissídio jurisprudencial, trazendo à colação julgados, também, desta Corte no sentido de ser reconhecida a "ilicitude do ato de apresentação de cheque pré-datado antes do prazo fixado, gerando a obrigação de haver a indenização por danos morais" (fl. 98). Acrescenta que não há falar na prova do dano e que a indenização deve ser fixada no patamar de 200 vezes o valor do cheque apresentado antecipadamente. Sem contra-razões (fl. 126), o recurso especial (fls. 85 a 102) foi admitido (fl. 127). É o relatório.

VOTO O EXMO. SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO: O recorrente ajuizou ação de indenização por dano moral alegando que em novembro de 1998 foi até a loja ré para comprar materiais de construção, alcançando a compra o valor de R$ 426,00, divididos em três parcelas de R$ 142,00, em cheques ditos pré-datados; que a ré apresentou antecipadamente o último cheque, cinqüenta dias antes do combinado, sacando no mesmo mês o segundo cheque, ou seja, o que deveria ser efetivamente descontado. Com isso pede indenização em valor, que estima, deve corresponder a 200 vezes o valor do cheque descontado antecipadamente. A sentença julgou improcedente o pedido. Segundo o Magistrado a “argumentação de qualquer abalo sentimental, com base no depoimento de (fls. 52), tais declarações não merecem o mínimo de crédito, quando a referida testemunha mentiu descaradamente, basta ver em seu depoimento quando diz a este juízo que o autor era seu empregado e depois o demitiu, vindo depois depor em seu favor, fazendo-se de bonzinho, inclusive que emprestou dinheiro para o autor, o que não tem o menor sentido” (fl. 57). O Tribunal de Justiça de Santa Catarina manteve a sentença. Para o acórdão recorrido a ré não praticou “uma atitude ilícita, pois o fato de ter o cheque sido emitido para saque posterior não tem qualquer relevância jurídica, já que o cheque é título de crédito sempre pagável à vista, na data de sua apresentação ao sacado, pouco importando que tenha sido emitido de forma pré-datada, ou seja, para apresentação futura” (fl. 76), sendo, portanto, "lícita a apresentação do cheque ao banco, antes da data prevista para o pagamento" (fl. 78). O especial está amparado no dissídio, com precedente desta Corte. De fato, já decidiu a Corte que a “prática comercial de emissão de cheque com data futura de apresentação, popularmente conhecido como cheque 'pré-datado', não desnatura a sua qualidade cambiariforme, representando garantia de dívida com a conseqüência de ampliar o prazo de apresentação”, com o que a empresa que não cumpre o ajustado deve responder pelos danos causados ao emitente (REsp nº 237.376• RJ, da minha relatoria, DJ de 01• 8• 2000). Por outro lado, Relator o Senhor Ministro Eduardo Ribeiro, decidiu esta Terceira Turma que a “devolução de cheque pré-datado, por insuficiência de fundos, apresentado antes da data ajustada entre as partes, constitui fato capaz de gerar prejuízos de ordem moral” (REsp nº 213.940• RJ, DJ de 21• 8• 2000). Ocorre que, neste caso, a inicial não consegue indicar qual o tipo de constrangimento sofrido, não sendo a ruptura do acordo com a recorrida suficiente para impor a obrigação de indenizar. Leia-se o que está na inicial: “Desta feita, agindo portanto com negligência quem deposita cheque pré-datado antes do prazo acertado, deve responsabilizar-se pelos danos causados ao emitente da cambial. Para o caso mais especificamente dos autos, o Autor, em face ao saque dos cheques em quantia superior ao seu próprio salário, passou por constrangimento que só a ele, autor é capaz de aquilatar” (fl. 04).

Verifica-se que o constrangimento do autor está no fato de ter sido descontado valor superior ao de seu salário mensal. Não está dito que não havia provisão de fundos, que foi o cheque devolvido, que foi o autor exposto a alguma situação de constrangimento nem que o desconto acarretou qualquer dificuldade de natureza financeira que tenha levado o autor a uma situação de abalo moral, seja com relação ao seu crédito seja com relação a sua conduta social. Sem que haja conseqüência efetiva, o cheque descontado antecipadamente representa simples ruptura de acordo comercial que não acarreta automaticamente o dever de indenizar. No precedente indicado há o reconhecimento no acórdão do Tribunal de origem de que a apresentação do cheque antes da data combinada importou na falta de fundos e na inscrição do nome do cliente na lista do SPC. Não há, portanto, similitude fática com o presente caso. Com tais razões, eu não conheço do especial.

CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2003• 0005083 -2 RESP 505999 • S C Números Origem: 20000206881000100 990015869

PAUTA: 09• 09• 2003 JULGADO: 18• 09• 2003 Relator Exmo. Sr. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. WAGNER GONÇALVES Secretária Bela. LÚCIA MARGARET SIMAS MOURA

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : MARCELO CONCEIÇÃO

ADVOGADO : ANA PAULA FONTES DE ANDRADE E OUTROS

RECORRIDO : ANTÔNIO BITTENCOURT MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO LTDA

ADVOGADO : SANDRO ANTÔNIO SCHAPIESKI E OUTRO ASSUNTO: Civil - Responsabilidade Civil - Indenização - Ato Ilícito - Dano Moral

CERTIDÃO Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Turma, por unanimidade, não conheceu do recurso especial." Os Srs. Ministros Nancy Andrighi e Ari Pargendler votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Castro Filho e Antônio de Pádua Ribeiro. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito. O referido é verdade. Dou fé. Brasília, 18 de setembro de 2003

LÚCIA MARGARET SIMAS MOURA Secretária

S uper ior T r ibunal de Jus t iça R evis t a E let r ônica de Jur is pr udência

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RECURSO ESPECIAL Nº 557.505 - MG (2003• 0121273-7)

RELATOR : MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO

RECORRENTE : ARILDO RICARDO

ADVOGADO : ARILDO RICARDO (EM CAUSA PRÓPRIA)

RECORRIDO : MOURA DERIVADOS DE PETRÓLEO LTDA

ADVOGADO : JOSÉ SAMOEL DE OLIVEIRA REIS

EMENTA Cheque pré-datado. Apresentação antes do prazo. Indenização por danos morais. Precedentes da Corte. 1. A apresentação do cheque pré-datado antes do prazo avençado gera o dever de indenizar, presente, como no caso, a conseqüência da devolução do mesmo por ausência de provisão de fundos. 2. Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso especial e dar-lhe provimento. Os Srs. Ministros Nancy Andrighi e Castro Filho votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausentes, ocasionalmente, os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro e Humberto Gomes de Barros. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito.

Brasília (DF), 04 de maio de 2004 (data do julgamento).

MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Relator

S uper ior T r ibunal de Jus t iça R evis t a E let r ônica de Jur is pr udência

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RECURSO ESPECIAL Nº 557.505 - MG (2003• 0121273-7) RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO: Arildo Ricardo interpõe recurso especial, com fundamento nas alíneas "a" e "c" do permissivo constitucional, contra acórdão da Sétima Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, assim ementado: "RESPONSABILIDADE CIVIL - REQUISITOS - NÃO-CARACTERIZAÇÃO - RELAÇÃO DE CONSUMO - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA - JUSTIÇA GRATUITA - IMPUGNAÇÃO. Impõe-se a improcedência do pedido indenizatório, na hipótese do autor possuir reiterados registros do seu nome nos órgãos de proteção de crédito, porquanto não se há de falar em ofensa à honra e, por conseqüência, em pagamento de indenização por dano moral. Caracterizada a relação de consumo, o ônus da prova pode ser invertido, conforme dicção do art. 6º, inciso VIII, do CODECON. Concedida gratuidade judicial, a divergência da parte contrária deve ser oferecida em autos apartados, via impugnação, como prevê o art. 7º da Lei 1.060• 50. V.v. - EMENTA: INDENIZAÇÃO - CHEQUE PRÉ-DATADO - APRESENTAÇÃO ANTECIPADA - DANO MORAL. A apresentação extemporânea de cheque pré-datado pressupõe o dano moral, seja pelo fator surpresa, seja porque capaz de ensejar uma série de aborrecimentos" (fl. 82). Opostos embargos de declaração (fls. 95• 96), foram rejeitados (fls . 98 a 101). Sustenta o recorrente negativa de vigência do artigo 6º, incisos IV, VI e VIII, 37, § 1º, e 38 da Lei nº 8.078• 90, pois há dano moral quando o recorrido n ão cumpre com a obrigação de depositar o cheque na data combinada, acarretando, assim, sua devolução por insuficiência de fundos, haja vista o constrangimento do recorrente ao constatar que seu crédito sofrera restrições. Aponta dissídio jurisprudencial, colacionando julgados, também, desta Corte. Sem contra-razões (fl. 123), o recurso especial (fls. 104 a 106) foi admitido (fls. 124 a 126). É o relatório.

VOTO O EXMO. SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO: O recorrente, em causa própria, ajuizou ação de indenização por abalo de crédito alegando que atraído pela propaganda de desconto de cheques pré-datados em 55 dias de prazo, emitiu o seu em 26• 10• 98 contra o Banco Excel; que, poucos dias depois , recebeu do banco sacado carta comunicando a devolução do cheque sem provisão de fundos, com ameaça de envio do seu nome ao cadastro de emitentes de cheques sem fundos; que somente após o encerramento do prazo dado pelo banco é que sua mulher conseguiu localizar o cheque no escritório do réu; que o cheque foi depositado muito antes da data aprazada, ademais de impor longa espera no escritório para a entrega do cheque; que o prejuízo material e moral é evidente. Pede R$ 2.250,00 por lucros cessantes e R$ 22.500,00 por danos morais, além de declaração do réu publicada na imprensa, pelo menos duas vezes, admitindo a culpa na falha apontada, bem como na negativação indevida. A sentença julgou improcedente o pedido. Para o Juiz, o “autor não fez qualquer prova de que houve a combinação para apresentação em data posterior. Tal prova era de seu ônus – artigo 333, inciso I do Código de Processo Civil . Sem prova de contrato, avença entre as partes, o cheque segue à sua natureza jurídica de ordem de pagamento à vista. O pedido improcede” (fl.62). Os embargos de declaração foram rejeitados. O Tribunal de Alçada de Minas Gerais desproveu a apelação. O voto vencido do relator considerou que houve a promoção anunciada pela ré de desconto de cheque pré-datado em 55 dias e que o cheque foi apresentado antes da data de emissão, com o que violado o trato da empresa ré com o recorrente. Fixou o valor em R$ 2.000,00, porque o recorrente já tinha outras entradas em cadastros negativos por outros lojistas, além de cinco ocorrências no SPC relativas a cartão de crédito da Credicard e 18 em três bancos. Mas prevaleceu o voto do revisor no sentido de que “o documento de fl. 55-56, TA demonstra que o apelante é um contumaz emitente de cheques sem provisão de fundos. O seu nome foi incluído, reiteradas vezes, nos órgãos de proteção ao crédito e no cadastro de emitente de cheques sem fundos do Banco Central do Brasil" (fls. 91• 92). Os embargos de declaração foram rejeitados. Tenho que procede a impugnação. A jurisprudência da Corte agasalha a responsabilidade da empresa que não cumpre o prazo avençado, causando prejuízo de ordem moral ao emitente, que confiou que o cheque seria apresentado na data aprazada, evidente a conseqüência com a devolução do cheque pelo banco sacado: REsp nº 237.376• RJ, da minha relatoria, DJ de 01• 8• 2000; REsp n º 213.940• RJ, Relator o Ministro Eduardo Ribeiro, DJ de 21• 8• 2000. Com tais razões, eu conheço do especial e lhe dou provimento para fazer prevalecer o voto vencido do relator.

CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2003• 0121273 -7 RESP 557505 • MG Número Origem: 3674920

PAUTA: 01• 04• 2004 JULGADO: 04• 05• 2004 Relator Exmo. Sr. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. BENEDITO IZIDRO DA SILVA Secretária Bela. SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : ARILDO RICARDO

ADVOGADO : ARILDO RICARDO (EM CAUSA PRÓPRIA)

RECORRIDO : MOURA DERIVADOS DE PETRÓLEO LTDA

ADVOGADO : JOSÉ SAMOEL DE OLIVEIRA REIS ASSUNTO: Civil - Responsabilidade Civil - Indenização

CERTIDÃO Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso especial e deu-lhe provimento." Os Srs. Ministros Nancy Andrighi e Castro Filho votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausentes, ocasionalmente, os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro e Humberto Gomes de Barros. O referido é verdade. Dou fé.

Brasília, 04 de maio de 2004

SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO

Secretária