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HORIZONTE GEOGRÁFICO 62 HORIZONTE GEOGRÁFICO 63 PROTEGEM, CONSERVAM E VENDEM OS PRODUTOS. E AGORA TAMBÉM PRECISAM OFERECER ADEQUAÇÃO AMBIENTAL, TANTO NAS MATÉRIAS-PRIMAS QUE UTILIZAM QUANTO NOS PROCESSOS DE FABRICAÇÃO E m um passado não muito distante, a ideia da embalagem veio como uma solução fundamental para envolver e proteger os produtos que uma cres- cente atividade industrial colocava no mercado. A princípio, a solução parecia muito adequada para garantir tanto a integridade do conteúdo durante o transporte como sua conservação enquanto não chegasse às mãos do consumidor. Não demorou muito para que a indústria percebesse que a embalagem também poderia ser uma grande ferramenta de vendas. Afinal, um invólucro atraente tem grande poder de sedução e pode ser decisivo num mercado altamente competitivo. Hoje, no entanto, para conquistar esse mer- cado, as embalagens, além de proteger, conservar os produtos e torná-los sedutor ao consumidor, já precisam, e cada vez mais, oferecer outra qualidade: adequação ambiental. Para atender a esse novo desejo do consu- midor, as indústrias começaram, já há algum tempo, a buscar soluções pós-consumo, tais como embalagens biodegradáveis e recicláveis, que produziram bons resultados em alguns casos, principalmente na reciclagem do alumínio. Agora, no entanto, o desafio é adotar me- lhores práticas antes do consumo, ou seja, na produção propriamente dita das embalagens. E a indústria está descobrindo que há muito o que se fazer nesse sentido, principalmente quando examinamos todas as questões que estão direta ou indiretamente ligadas às embalagens. Como, por exemplo, soluções que economizam energia na sua produção, que utilizam menos matérias-primas, que reduzem as necessidades de transporte e que diminuem a quantidade de água utilizada no processo de fabricação. Algumas dessas soluções são experimentais, não possuem economia de escala e, portanto, apesar de promoverem economia, encarecem o produto ao consumidor. Há aqueles que não se importam em pagar um pouco mais para obter um produto embalado com preocupações ambientais. Mas se a questão é convencer o consumidor em grande escala, é importante que todas essas qua- lidades estejam associadas também a um impor- tante e histórico argumento de venda: o preço. HORIZONTE GEOGRÁFICO 63 PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS > O desafio das embalagens TEXTO NATÁLIA MARTINO E ROBERTO AMADO Metal DA FOLHA DE FLANDRES AO ALUMÍNIO, CADA TIPO DE METAL ATENDE A UMA NECESSIDADE ESPECÍFICA DA INDÚSTRIA DA EMBALAGEM Eficiente e ecológica A entrada em vigor, em 2009, da regulamentação das normas da ONU para o transporte de produtos perigosos, dentre os quais se destacam as tintas com base de solventes, trouxe um grande desafio para os fabricantes. Esse tipo de material precisa ser embalado de forma mais cuidadosa para evitar riscos durante o transporte e garantir a resistência frente aos impactos. Diante do desafio de desenvolver embalagens mais seguras para esse tipo produto, a Brasilata, fabricante de embalagens de aço, conseguiu lançar um recipiente inovador que não apenas é mais seguro como também mais ecológico. A nova lata precisa de 10% a menos de aço em sua fabricação, o que implica em uma economia em toda a cadeia produtiva, poupando energia e água. A folha de flandres – folha laminada composta por ferro e aço, revestida de estanho – e o alumínio são os materiais metálicos mais utilizados nas embalagem, por causa do peso e da resistência que apresentam. De acordo com o produto a ser acondicionado, porém, outros tipos de metais podem ser utilizados, como o aço. Todos esses metais são totalmente recicláveis e apresentam a vantagem de ter alto valor agregado. No caso do alumínio, por exemplo, formou-se uma cadeia de coleta que possibilita que o Brasil esteja entre os países que mais reciclam esse material no mundo. As vantagens não param por aí. A produ- ção do aço, por exemplo, consome pouca energia e água em comparação ao processo produtivo de outros materiais. Essa indústria tem trabalhado para reduzir ainda mais a utilização de energia e água, assim como a emissão de gás carbônico. Isso é feito, principalmente, a partir da diminuição do peso das embalagens, que traz ainda a vantagem de gerar uma menor quantidade de resíduos pós-consumo. A leveza influencia também na quantidade de com- bustível gasta no transporte do material. Várias utilidades SXC ISTOCKPHOTO DIVULGAÇÃO

O desafio das embalagens

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PROTEGEM, CONSERVAM E VENDEM OS PRODUTOS. E AGORA TAMBÉM PRECISAM OFERECER ADEQUAÇÃO AMBIENTAL, TANTO NAS MATÉRIAS-PRIMAS QUE UTILIZAM QUANTO NOS PROCESSOS DE FABRICAÇÃO

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PROTEGEM, CONSERVAM E VENDEM OS PRODUTOS. E AGORA TAMBÉM PRECISAM OFERECER ADEQUAÇÃO AMBIENTAL, TANTO NAS MATÉRIAS-PRIMAS QUE UTILIZAM QUANTO NOS PROCESSOS DE FABRICAÇÃO

Em um passado não muito distante, a ideia da embalagem veio como uma solução fundamental para envolver e proteger os produtos que uma cres-cente atividade industrial colocava no

mercado. A princípio, a solução parecia muito adequada para garantir tanto a integridade do conteúdo durante o transporte como sua conservação enquanto não chegasse às mãos do consumidor. Não demorou muito para que a indústria percebesse que a embalagem também poderia ser uma grande ferramenta de vendas. Afinal, um invólucro atraente tem grande poder de sedução e pode ser decisivo num mercado altamente competitivo.

Hoje, no entanto, para conquistar esse mer-cado, as embalagens, além de proteger, conservar os produtos e torná-los sedutor ao consumidor, já precisam, e cada vez mais, oferecer outra qualidade: adequação ambiental.

Para atender a esse novo desejo do consu-midor, as indústrias começaram, já há algum tempo, a buscar soluções pós-consumo, tais como embalagens biodegradáveis e recicláveis,

que produziram bons resultados em alguns casos, principalmente na reciclagem do alumínio.

Agora, no entanto, o desafio é adotar me-lhores práticas antes do consumo, ou seja, na produção propriamente dita das embalagens. E a indústria está descobrindo que há muito o que se fazer nesse sentido, principalmente quando examinamos todas as questões que estão direta ou indiretamente ligadas às embalagens. Como, por exemplo, soluções que economizam energia na sua produção, que utilizam menos matérias-primas, que reduzem as necessidades de transporte e que diminuem a quantidade de água utilizada no processo de fabricação.

Algumas dessas soluções são experimentais, não possuem economia de escala e, portanto, apesar de promoverem economia, encarecem o produto ao consumidor. Há aqueles que não se importam em pagar um pouco mais para obter um produto embalado com preocupações ambientais. Mas se a questão é convencer o consumidor em grande escala, é importante que todas essas qua-lidades estejam associadas também a um impor-tante e histórico argumento de venda: o preço.

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O desafio dasembalagens

TEXTO NATÁLIA MARTINO E ROBERTO AMADO

MetalDA FOLHA DE FLANDRES AO ALUMÍNIO, CADA TIPO DE METAL ATENDE A UMA NECESSIDADE ESPECÍFICA DA INDÚSTRIA DA EMBALAGEM

Eficiente e ecológicaA entrada em vigor, em 2009, da regulamentação das normas da ONU para o transporte de produtos perigosos, dentre os quais se destacam as tintas com base de solventes, trouxe um grande desafio para os fabricantes. Esse tipo de material precisa ser embalado de forma mais cuidadosa para evitar riscos durante o transporte e garantir a resistência frente aos impactos. Diante do desafio de desenvolver embalagens mais seguras para esse tipo produto, a Brasilata, fabricante de embalagens de aço, conseguiu lançar um recipiente inovador que não apenas é mais seguro como também mais ecológico. A nova lata precisa de 10% a menos de aço em sua fabricação, o que implica em uma economia em toda a cadeia produtiva, poupando energia e água.

A folha de flandres – folha laminada composta por ferro e aço, revestida de estanho – e o alumínio são os materiais metálicos mais

utilizados nas embalagem, por causa do peso e da resistência que apresentam. De acordo com o produto a ser acondicionado, porém, outros tipos de metais podem ser utilizados, como o aço.

Todos esses metais são totalmente recicláveis e apresentam a vantagem de ter alto valor agregado. No caso do alumínio, por exemplo, formou-se uma cadeia de coleta que possibilita que o Brasil esteja entre os países que mais reciclam esse material no

mundo. As vantagens não param por aí. A produ-ção do aço, por exemplo, consome pouca energia e água em comparação ao processo produtivo de outros materiais.

Essa indústria tem trabalhado para reduzir ainda mais a utilização de energia e água, assim como a emissão de gás carbônico. Isso é feito, principalmente, a partir da diminuição do peso das embalagens, que traz ainda a vantagem de gerar uma menor quantidade de resíduos pós-consumo. A leveza influencia também na quantidade de com-bustível gasta no transporte do material.

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Coca-Cola do etanolMais de cinco mil barris de petróleo poderão ser economizados em 2010 pela comercialização no Brasil de uma garrafa PET com origem parcialmente vegetal. A iniciativa é da Coca-Cola, que produz suas garrafas com 30% de etanol da cana-de-açúcar no lugar do petróleo. Além de economizar esse recurso não renovável, a nova garrafa, chamada de PlantBottle, reduz também a emissão de CO² em 25%.“Houve uma grande mobilização e investimentos para chegarmos à fórmula da PlantBottle e agora inauguramos uma nova era para as embalagens plásticas”, comemora Xiemar Zarazúa, presidente da Coca-Cola Brasil. A cana-de-açúcar utilizada provém de fornecedores auditados, ou seja, que seguem padrões sustentáveis em sua produção e utilizam, essencialmente, a irrigação natural, da chuva.

D e utensílios domésticos a computadores de última geração, quase tudo contém em alguma medida polímeros dos mais

diversos tipos abrigados sob a denomina-ção geral de plástico. Todos esses políme-ros podem ser utilizados para a fabricação de embalagens.

Entre eles, o mais consagrado para embalar líquídos é o politereftalato de etileno, conheci-do como PET. Desenvolvido na Inglaterra em 1941 e popularizado na década de 1970, o PET

prático e baratoREDUZIR A UTILIZAÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA NÃO RENOVÁVEL É O NOVO DESAFIO PARA O PLÁSTICO

substitui garrafas de vidro em muitos segmen-tos, notadamente no de refrigerantes. “É mais leve, inquebrável e apresenta, ainda, atrativos econômicos para a indústria”, diz Merheg Cachum, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). O resultado disso é que o uso da embalagem PET no Brasil tem aumentado vigorosamente a cada ano e a indústria concentra nela as buscas por soluções mais sustentáveis para a sua produção e utilização.

Plástico

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prático e barato

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Economia no processoCom a substituição de combustível originado de petróleo por madeira de reflorestamento no aquecimento das caldeiras de vapor das refinarias, a diminuição da gramatura das embalagens, a construção de uma fábrica mais eficiente e a conscientização dos funcionários, a produção das embalagens do óleo Liza tornou-se muito mais ecológica. As medidas levaram à diminuição em 40% da emissão de CO2 na atmosfera, em 56% do uso de combustíveis fósseis e em 26% do consumo de água. Ao mesmo tempo, geraram economia de matéria-prima, de energia elétrica e de água.

Reduzir e substituir“No estudo que fizemos, sobre a sustentabilidade dos nossos produtos, percebemos que a maior parte do impacto ambiental estava relacionada exatamente com as embalagens”, afirma Marcos Vaz, diretor de sustentabilidade da Natura Cosméticos, justificando os investimentos em pesquisa. Em 1983, a empresa lançou sua linha de cosméticos com refis, um velha ideia com cara nova, capaz de reduzir em 30% o uso de recursos naturais. Em 2007, começou a substituir os frascos virgens de uma de suas linhas por recipientes produzidos com até 30% de PET reciclado. “Estamos trabalhando também na redução de energia consumida no processo de fabricação das embalagens e na logística de distribuição do produto, com substituição gradual, por exemplo, do transporte rodoviário pelo hidroviário, sempre que possível”, completa Marcos Vaz.

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sempre na mira

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M ais de 50% das embalagens utilizadas no Bra-sil são de papel e papelão – o que justifica a importância de iniciativas que economizem

recursos naturais na sua produção e que ofereçam destino mais adequado, no sentido ambiental, às suas sobras. O papel é vendido por um valor muito pequeno para as indústrias de reciclagem, o que desencoraja o seu recolhimento. No Brasil, apenas 44% do papel consumido chega à reciclagem, em contraposição aos 87% do alumínio usado em em-balagens, segundo dados de 2008 do Cempre.

Por outro lado, a indústria brasileira de papel não utiliza árvores de florestas originais

para produzir celulose, a matéria-prima do papel extraída da madeira de árvores. Segundo Elizabeth de Carvalhaes, presidente-executiva da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), “o Brasil é considerado referência internacional por suas práticas sustentáveis, já que 100% da produção de celulose e papel são provenientes de florestas plantadas, que são recursos renováveis”. Além da regra de comprar papel proveniente de empresas que trabalham dessa forma, as indústrias de embalagem têm adotado outras iniciativas para reduzir o seu impacto, como as citadas a seguir.

Caixa inovadora A Puma, que atua no segmento de artigos esportivos, resolveu buscar soluções para que as caixas de papelão dos seus sapatos fossem mais ecológicas. Depois de 21 meses de pesquisas, a empresa chegou a um design baseado em uma folha simples de papelão e uma sacola reutilizável. Com esse formato, o papelão separa e protege individualmente cada par dos sapatos sem precisar envolvê-los por inteiro como fazia a caixa. Dispensa, ainda, a folha de papel que separa os pares nas caixas tradicionais e a sacola de plástico. A nova embalagem foi batizada de Clever Little Bag e significou uma redução de 65% de papelão e 60% de água e energia no processo produtivo.

O MATERIAL MAIS UTILIZADO NAS EMBALAGENS BRASILEIRAS BUSCA SOLUÇÕES ECOLÓGICAS CRIATIVAS

Papel e papelão

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Desembala e plantaA empresa canadense Cargo desenvolveu uma linha de batons que são embalados com o chamado papel-semente. Feito a partir de material biodegradável, o papel incorpora sementes de flores silvestres de forma que o consumidor pode “plantar a embalagem”. A linha foi batizada de Plant Love. Segundo Andrêa Carvalho, diretora de sustentabilidade da Papel Semente, que vende esse material para diversas empresas no Brasil, o princípio é muito simples. “É como a experiência que as crianças fazem na escola quando plantam feijão no algodão. Nossos clientes plantam flores no pires.” Basta colocar água na embalagem e, em 15 ou 20 dias, as flores começarão a germinar. “Depois tem de transferir para um vaso mesmo, porque a planta vai precisar de minerais para continuar crescendo”, adverte. A diretora da Papel Semente diz que as perspectivas são muitas. “Se as empresas resolverem embalar fogões e refrigeradores com o papel-semente, poderemos colocar sementes maiores, de árvores grandes, que podem servir até para projetos de reflorestamento dessas mesmas empresas.”

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Curativos econômicosUma medida aparentemente simples, a redução do tamanho das embalagens de Band-Aid, gerou, para a Johnson & Johnson, uma economia de 18% no uso de matérias-primas. Além disso, a empresa passou a utilizar 30% de matéria-prima reciclada pós-consumo na embalagem do Band-Aid e 40% na caixa de transporte do produto. Essa decisão aumentou ainda mais a economia de matéria-prima na produção da embalagem da marca.

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Uma das utilizações mais antigas e frequentes para o vidro é em embalagens. A crítica mais comum feita a essa matéria-prima é que sua

decomposição no meio ambiente é muito lenta em relação a outros materiais – normalmente, alguns milhares de anos. Stefan David, consultor de reciclagem da Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro), diz que, além do aspecto visual, não há nenhum inconveniente nisso. “O vidro é um material ab-solutamente natural: uma erupção vulcânica ou até um raio que cair na areia pode gerar vidro. Quando ele se decompõe, sobram apenas mate-riais naturais, como areia e calcário.”

Considerando, entretanto, que o vidro oferece muitas alternativas, “não é desejável que seja dado a ele outro destino que não o reaproveitamento ou a reciclagem”, como salienta David. Sua durabilidade possibilita que seja, com grande frequência, reutilizado pelo consumidor final, deixando de se tornar um resíduo. Em muitos casos, a embalagem de vidro pode ser também retornada à indústria, que, depois dos devidos procedimentos de limpeza, vai recolocá-lo na linha de produção, o que pode se repetir por cerca de 30 vezes. Essa prática é muito comum, por exemplo, nas indústrias de cerveja, que são

as maiores adeptas do vidro como matéria-prima para suas embalagens.

Quando não é possível mais ser reutilizada, a garrafa vai para a reciclagem. O vidro pode ser reciclado infinitamente e a grande vantagem nesse processo é que não há perda de volume. Com 1 quilo de cacos de vidro pode ser produ-zido 1 quilo de vidro novo. Além disso, David salienta que a produção de garrafas a partir de reciclagem economiza energia e água em relação ao mesmo processo realizado com matéria-prima virgem. “Com a liga molecular já criada, não são necessárias temperaturas tão altas para a fusão”, explica.

O grande reaproveitamento das embala-gens por consumidores finais e os incentivos da indústria para a entrega de garrafas a serem descartadas faz do vidro um dos materiais que ocupam o menor volume em aterros no país. No Brasil, o vidro corresponde a apenas 2% dos resíduos urbanos, segundo pesquisa realizada em 2002 pelo Cempre. Os caminhos buscados pela indústria para diminuir ainda mais os impactos passam por soluções que diminuem o emprego de matéria-prima a partir de designs alternativos e aumentam a utilização de cacos na produção das embalagens.

múltiplas alternativasA INDÚSTRIA INVESTE EM REUTILIZAÇÃO E PRODUÇÃO DE EMBALAGENS A PARTIR DE CACOS

Vidro

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Garrafas ecológicasAcaba de ser lançada no Brasil a linha de embalagens de vidro Leve+Verde, fabricada pela O-I (Owens-Illinois). As peças são de 18% a 25% mais leves em comparação a outras do mesmo formato e produzidas com a mesma matéria-prima. A linha foi lançada primeiro na Austrália e reduziu, nesse país, em 20% o consumo de energia e em 12% o de água na produção das garrafas. Em um ano, mais de 11 mil toneladas de CO2 deixaram de ser lançadas no ar e, no Brasil, isso pode ser ainda mais animador, já que a empresa comercializa um maior número de produtos aqui.

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Vidros perfumadosApesar de o vidro poder ser reciclado infinitamente, não é nada comum encontrar recipientes totalmente produzidos a partir de material reciclado. A fabricante francesa de embalagens de vidro SGD comercializa frascos de perfume com essa característica. A linha foi chamada de Gaia e é, em média, 30% mais cara, porque sua escala de produção é menor. A novidade foi lançada na França e a filial brasileira da marca já oferece quatro itens da linha no país.

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