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O Desafio do Espaço Interior Darshan Singh

O desafio do espaço interior

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O Desafio do Espaço Interior

Darshan Singh

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Índice

Índice________________________________________________________________1

Introdução____________________________________________________________2

Prefácio______________________________________________________________2

O Desafio do Espaço Interior_____________________________________________3

Plataforma de Lançamento - O Corpo Humano______________________________4

Veículo Espacial – Naan (O Verbo)________________________________________5

Sistema de Orientação - O Mestre_________________________________________6

Combustível - O Amor__________________________________________________8

Introdução

Darshan Singh nasceu em 1921, e recebeu treinamento espiritual de seu Mestre Baba Sawan Singh (1958-1948) e de seu pai, Sant Kirpal Singh (1894-1974). Serviu sucessivamente nas missões de ambos santos e começou sua missão espiritual depois de Kirpal Singh.

Sant Darshan Singh é o Diretor da Missão Ruhani Sawan Kirpal Foi presidente da Sexta Conferência Mundial das Religiões e é o presidente da Sociedade Mundial da Unidade do Homem. Poeta proeminente do idioma urdú, ganhou o prêmio da Academia por sua coleção poética: Manzil-e-Noor (Morada da Luz). Durante sua segunda viagem pelo mundo em 1983, foi distinguido com as chaves de muitas cidades e com a Medalha do Congresso da Colômbia.

Sant Darshan Singh é o atual Mestre do Surat Shabda Yoga ou Ciência da Espiritualidade. Ele ensina um caminho de misticismo positivo que não exige de seus praticantes abandonar suas atividades cotidianas. Distinguiu-se como trabalhador civil e agora vive aposentado pelo governo hindú. Encontra-se disponível para os buscadores da Verdade no Kirpal Ashram 2 Canal Road, Vijay Nagar, Delhi 110009. Faz conferências públicas aos domingos pela manhã e às terças-feiras à noite.

Publicações Sawan - Kirpal

"O fator decisivo no caminho é o desenvolvimento do nosso poder de concentração... À medida que nossa atenção se concentra no centro do olho, rompe-se a obscuridade inicial com pontos instáveis de luz. Um só ponto começa a estabilizar-se com uma crescente uniformidade... a lua mística se abre para dar passagem ao sol interno ".

Darshan Singh

Prefácio

Os Santos e os Místicos vêm falar-nos sobre uma realidade que está além do tempo e das transformações. Seus ensinamentos são de caráter eterno, mas para que possam chegar ao coração de seus ouvintes, apresentam-nos de acordo com o vocabulário e inquietudes contemporâneos. Por isso no

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princípio deste século, quando os homens estavam negligenciando a vida espiritual e colocando a ciência em altares, Hazur Baba Sawan Singh e Kirpal Singh começaram a proclamar a ancestral mensagem dos Mestres, como uma Ciência Perfeita: a mãe de todas as Ciências.

Desde então temos percorrido um longo caminho e os notáveis avanços alcançados no campo da tecnologia, têm modificado significativamente nossas inquietudes, vocabulário e modo de expressão.

Sant Darshan Singh visitou a Europa, América do Norte e América do Sul, de O9 de junho a 13 de setembro de 1983, falando sobre vários assuntos e por onde quer que fosse os homens e mulheres de todos os caminhos da vida aproximavam-se procurando orientação em sua busca de significado e de realização. Um dos temas de Sant Darshan Singh em sua segunda viagem mundial foi a apresentação dos eternos ensinamentos dos Santos, com a terminologia atual das viagens ao espaço. Já estivera falando a juventude ou com diplomatas ou congressistas, em Viena, Paris, Londres, Nova York, Chicago, Toronto ou em Bogotá.

Somente nas três últimas décadas foram possíveis as viagens ao espaço exterior. Sant Darshan Singh recordou em sua audiência que seu acesso era limitado a uns poucos, porque eles deviam reunir qualidades excepcionais de habilidade e treinamento. Para manter um só homem no espaço, necessitam-se de milhares de cientistas e técnicos, além de recursos de uma superpotência mundial. Enquanto que, por outro lado, a viagem ao espaço interior é um dom de Deus, e como todos os Seus dons, é gratuita e acessível a todos. Com um guia adequado, mesmo uma criança pode aprender a viajar internamente mais rápido que o próprio pensamento.

A jornada mística é o desfio supremo que os Santos e os Mestres sempre apresentam à humanidade.

A conferência de Sant Darshan Singh, o Desafio do Espaço Interior, nos chega apropriadamente na linguagem da atualidade. E nas palavras do Dr. Holguim Sardi, presidente do Congresso da Colômbia, que oxalá "seja uma semente que frutifique com o tempo e nos enriqueça".

Vinod SenaKirpal Ashram – Delhi junho de 1984

O Desafio do Espaço Interior

... o espaço exterior tem chamado nossa atenção desde que entrou em órbita o primeiro Sputnik e o homem colocou, pela primeira vez, seu pé na Lua.

Quando eu viajava de Londres a Nova York recentemente, lia um artigo sobre o lançamento do sétimo veículo espacial. Falava em particular da primeira mulher americana que ia ao espaço exterior. Isso foi significativo para mim, porque enquanto me dispunha a pisar o Novo Mundo, devia recordar as surpreendentes conquistas que haviam alcançado as nações avançadas do mundo no campo da tecnologia. Em verdade, o espaço exterior tem prendido a nossa atenção desde que o primeiro Sputinik entrou em órbita e o homem pousou pela primeira vez seu pé na Lua. Cada ano nos deparamos com novas conquistas nos vários campos, e novas perspectivas são abertas na exploração do espaço. Os astronautas americanos e os cosmonautas soviéticos são verdadeiros heróis de nossa época.

Temos feito um progresso surpreendente, e inclusive chegamos à Lua, porém, sem dúvida, não temos nos aproximado mais do coração do nosso próximo. Em verdade, hoje nos encontramos à beira de um precipício; um passo em falso, e nosso belíssimo planeta, com suas várias formas de vida, será destruído. Só há um caminho se quisermos alcançar a paz e a alegria eternas; é aceitar o desafio do que eu chamo, "o espaço interior". Temos que aprender a elevar-nos acima da consciência do nosso corpo. Este nosso corpo humano é a plataforma de lançamento, Naad, ou Shabda, ou Verbo, (Palavra) é o veículo espacial; o Sat Guru ou Mestre é o piloto e o sistema de navegação e o amor são o combustível especial que necessitamos para a jornada interior. Dadas estas quatro condições essências, não há razão para que no curso desta própria vida não possamos regressar à nossa origem, ao nosso Criador. Esta é a mensagem eterna dos místicos e dos Santos.

Desde tempos imemoriais, os Santos e os Profetas nos estão dizendo que, assim como temos mundos e universos externos, também temos mundos e universos internos. Falam-nos das viagens por estes mundos interiores, e as escrituras de todas as grandes Religiões fazem referências a essas viagens místicas, cujo propósito ultérrimo é a comunhão da alma com seu Criador. Durante vários séculos, o homem, em nome da Ciência, especialmente no Ocidente, vem ignorando esta realidade interior. Mas a Ciência por si mesma está redescobrindo esta antiquíssima sabedoria. Começando com Dr. Raymond

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Moody, que escreveu o livro Vida Depois da Vida, os investigadores médicos têm registrado experiências "depois da morte", de um grande número de pessoas que uma vez foram declaradas clinicamente mortas e que logo foram ressuscitadas. Através destas evidências, os médicos começaram a descobrir a existência de uma vida depois da morte, ou de uma vida anterior a esta vida. Tem-se pensado de uma consciência individual, que não morre com a morte do corpo; de uma consciência que pode chegar a se identificar com o próprio corpo enquanto está dentro do corpo porém, que é distinta dele. É uma consciência que, em um momento crítico, é capaz de se separar corpo e de ver e ouvir sem uso os órgãos do corpo físico.

É um fato que esta verdade é a alma das tradições esotéricas e religiosas, que nos têm, chegado desde tempos mais remotos. Essas tradições não só afirmam que o homem é uma entidade espiritual, uma entidade que sobrevive à morte física, senão que essa entidade ou alma pode elevar-se sobre o corpo - ainda enquanto vivo - e penetrar à vontade nos reinos existentes mais além deste mundo físico.

Pode ser que para a Ciência a viagem ao espaço externo seja uma nova concepção, porém a viagem ao espaço interior tem sido parte integral do misticismo desde o alvorecer da história.

Plataforma de Lançamento - O Corpo Humano

... O homem é o templo que Deus fez com suas próprias mãos. Deus não reside nos templos de pedras feitos pelas mãos dos homens.

Se desejamos explorar as maravilhas do espaço interior, nós mesmos devemos experimentá-lo. Nosso corpo humano é a plataforma de lançamento para ir ao espaço interior, porque como nos têm dito nossos santos e videntes e nossas escrituras, o nascimento humano é a única fornia vivente na qual podemos encontrar Deus. O homem é o templo que Deus fez com suas próprias mãos. Deus não reside nos templos de pedra feitos pelas mãos do homem. Ele vive no templo que Ele Mesmo fez. Todos os nossos santos e escrituras nos têm dito que o homem é a coroa e o ápice da criação, porque das 8,4 milhões de espécies viventes, é unicarnente no corpo humano que temos a dourada oportunidade de alcançar a união de nossa alma com o Criador. Os muçulmanos se referem ao nascimento humano como "ashraf-ul-makhkugat" e os hindus o chamam "Nar-naraini-desh". As escrituras cristãs nos dizem que Deus fez o homem à sua imagem e semelhança. Diz-se que quando Deus criou o homem, ordenou aos anjos prostraram-se ante ele, porque se os anjos desejassem alcançar a fusão de suas almas com o Criador, eles próprios deveriam assumir a forma humana.

Portanto, o corpo humano é a plataforma de lançamento que permite elevar-se ao espaço interior. Para consegui-]o, temos que retirar nossa atenção do mundo externo e penetrar com ela internamente. A atenção ou "surat", é o atributo da alma. Atualmente nossa atenção está dispersa nas coisas externas através de diversos sentidos. Nós temos nove por-tas no corpo: dois olhos, dois ouvidos, duas fossas nasais, a boca e duas partes inferiores. Nossa atenção está presa nos prazeres sensuais. O procedimento normal deveria ser que nossa alma tivesse o controle sobre a nossa mente, e a mente o controle sobre nossos sentidos, porém a situação é totalmente ao contrário. O homem é uma alma encarnada, e tanto a alma como a mente estão vivendo juntas dentro desta estrutura humana. Nossos sentidos estão arrastando nossa mente, e como a mente e a alma vivem juntas, a alma também é arrastada pelos prazeres sensuais. Portanto, o homem se vê impossibilitado de livrar-se dos deleites sensuais do mundo externo e assim conseguir inverter sua atenção para o interior. Não é estranho que por um lado Deus nos tenha ordenado a levar uma vida ética e espiritual, e por outro lado, tenha semeado tentações a cada passo de nosso caminho? Khawaja Hafiz, o grande sufi persa, descreveu muito apropriadamente a condição do homem; disse: "o homem tem sido amarrado a uma balsa e abandonado no meio de um mar tormentoso, com a ordem: - Não permita que suas roupas se molhem - " . É nessa situação que o homem dá conta de sua impotência. Então brota um lamento do fundo de seu coração e de sua alma e ele ora a Deus para que venha resgatá-lo. Guru Gobind Singh, o décimo Guru dos Sikhs, disse: "Deus escuta mais depressa o pranto que sai do coração de uma formiga que o bramido de um elefante". Um dos meus versos em urdú diz:

"Sunne ga roch ko parwaaz dey ke dekh zaraa,Qursebhai usey aawaz dey dekh zaraa.

Ele tem que ouvir-te, Apenas eleva teu espírito.Está tão próximo de ti,Chama-O, certamente Ele resporwlerá".

Então Deus escuta o lamento que brota do coração e das almas desses buscadores impotentes. Ele desce do altar do céu, coloca a vestidura humana em forma de um Santo ou Mestre, e nasce neste mundo

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para resgatar o homem dos tentáculos dos prazeres sensuais. Ele nos torna capazes de inverter nossa atenção, desapegando-a do mundo exterior e voltando-a para o interior. Assim nos leva de regresso ao nosso Lar, através do contato direto e de primeira mão com o Verbo o Sagrado Naam.

Veículo Espacial – Naan (O Verbo)

Necessitamos do veículo do Naam ou Verbo para viajar ao espaço interior. Surge a pergunta: como conseguir este veículo?

Nós utilizamos o veículo do Sagrado Verbo ou Naam - assim se chama - para viajar pelo espaço interior da mesma maneira como temos o veículo das naves espaciais para penetrar no espaço externo. Este Sagrado Verbo tem sido descrito na Bíblia: "no princípio era o Verbo (Palavra) e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus". Diz-se que no princípio era Deus. Estava completamente só. Era o Oceano de Consciência Absoluta. Então, de Um desejou converter-se em muitos. Este pensamento produziu unia vibração que assumiu duas formas primitivas: A Luz de Deus e a Música Celestial ou Harmonia das Harmonias ou Eterna Melodia Inédita. Guru Nanak disse: "O Naam fez aparecer todos os mundos e os universos; O Naam é o sustento de tudo que tem vida e da criação". Por isso, estas duas graças divinas, da Luz de Deus e a Música das Esferas, são conhecidas como o Sagrado Verbo. Este Poder Criativo tem sido descrito de muitas fornias nas escrituras das diferentes religiões. Chamou-se-lhe Naad nos Vedas, Udgit nos Upanishads, Luz Sonora pelos budistas, e como Sarosha pelos Zoroastrinos. Similarmente, os muçulmanos o chamam de Kalma. Os Sufis o chamam Saut-e-Sarmadi ou Baang-e-Aasmani. As escrituras Sikh se referem a Ele como Naam ou Shabda, e nossos irmãos da Sociedade Teosófica o chamam a Voz do Silêncio.

Então este Poder Criativo primeiro fez aparecer as regiões internas, para logo depois criar todos os outros universos, o homem e as 8,4 milhões de espécies viventes. Desde o início dos tempos tem sido lei e princípio de Deus, que aquele que quiser alcançar a comunhão de sua alma com o Criador, deverá fazê-lo pondo-se em contato direto com a Luz de Deus e com a Música das Esferas. Por isso, necessitamos do Veículo do Naam ou Verbo para viajar no espaço interno. Surge a pergunta: - Como conseguir este veículo? - Talvez o esforço mais contínuo e sistemático para contatar o Verbo venha da Índia. A Índia tem sido o berço de muitas formas de "Yoga". A palavra "yoga" em si mesma nos faz pensar geralmente em certas posturas e exercícios que nos ajudam na saúde e flexibilidade do corpo, todavia quando a utilizamos em seu sentido original, significa disciplina, unificar o nosso próprio ser. O fim desta auto-disciplina é o estado de "samadhi". Em sânscrito, "samadhi" implica o estado de unidade ou identidade com nossa raiz ou nossa causa; em outras palavras, a yoga se dirige nem mais nem menos para a união com o Criador. O Gita fala de diferentes formas de yoga, porém os estudantes da espiritualidade no Ocidente têm-se familiarizado com as várias técnicas que se têm desenvolvido recentemente. Diante desta multiplicidade, qualquer um se desconcerta. Que caminho devemos seguir? A grandeza de Hazur Baba Sawan Singh Ji Maharaj (1858-1948) e de Param Sant Kirpal Singh Ji Maharaj (1894-1974), reside na determinação com que eles responderam a esta difícil questão. Eles ensinaram o Surat Shabda Yoga ou Yoga da Absorção da nossa atenção no Sagrado Verbo, como o caminho disponível mais acessível e natural e como o que pode nos conduzir mais rápida e diretamente até à meta ultérrima do homem. Eles reinterpretaram os ensinamentos desta yoga como uma ciência perfeita para benefício do homem moderno.

Tive a grande boa sorte de sentar-me aos pés de Lotus destes dois seres divinos, e se em alguma coisa tenho podido ajudar aos buscadores espirituais, é através de Sua Graça. O caminho que eles divulgaram, ao contrário de tantas yogas, não dependem de nenhuma habilidade especial, seja física, emocional ou intelectual. Não prescreve exercícios especiais nem posturas extenuantes: tanto uma criança de cinco anos quanto um ancião centenário prostrado de cama podem praticá-la.

O Surat Shabda Yoga, dota-nos do meio mais natural para nosso progresso espiritual, mediante uma conexão direta com o Poder do Naam ou Verbo. A palavra "Surat" significa atenção e sua concentração é o atributo primário da alma. Aqueles que seguem o caminho dos Mestres buscam fixar o Surat no Shabda ou Verbo, para fogo seguir o Verbo de regresso à sua fonte.

O fator decisivo no caminho é o desenvolvimento de nosso poder de concentração. A atenção, o entendimento e a consciência são essencialmente, faculdades da alma. O buscador aprende a enfocá-los no centro que está situado no meio e detrás das sobrancelhas. Para ajudá-lo em seu propósito e evitar que a mente corra atrás de outras coisas, o Mestre ou Guia outorga uns nomes sagrados para que sejam repetidos com a língua do pensamento, não com a língua física. O que faz potente essa repetição ou Simran é o fato de que as palavras são energizadas por um Adepto, isto é, por aquele que se uniu com o Senhor, e seu poder não reside nas palavras como tais. À medida que nossa atenção se concentra no centro do olho, rompe-se a escuridão inicial com pontos de luz instáveis. Um só ponto começa a estabilizar-se com uma crescente uniformidade. Isto abre o caminho à estrela mística que aparece no céu. Quando se

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concentra no centro da estrela mística, ela se abre e alcança-se a lua interna. Do mesmo modo a lua mística abre-se para dar passagem até o sol interno. À medida que se concentra a atenção no foco do olho, ou no assento da alma, além de ver, começa-se a escutar o divino Shabda interminável ou Música Interna. Além da prática do Simran, ocupa-se do Bhajan ou concentração em escutar internamente a corrente sonora. Com a concentração de nossa consciência no foco do olho, podemos sentir o entorpecer e nosso corpo; a correntes motrizes que sustentam as diferentes funções do corpo permanecem intactas porém as correntes sensoriais começam a retirar-se para cima. Este processo da retirada sensorial não difere do que se experimenta no momento da morte; sem dúvida, comandado sob a orientação de um Adepto Perfeito, é totalmente indolor e bem maravilhoso. O processo da saída começa com o Simran. Aumenta enormemente durante o Bhajan, quando estamos concentrados na Música Interna.

Assim como encontramos em toda literatura mística referências sobre a estrela, a lua, e o sol internos, também encontramos referências sobre o sino, a concha, a flauta e o trovão.

Quando se consegue a transcendência completa do corpo, o sol interno se abre e encontramos face a fasecom a forma radiante do nosso Mestre. Nesse momento percebe-se como o Mestre está sempre conosco diferentemente de outros professores e amigos e que de certa forma, está mais próximo de nós que nós estamos de nós mesmos. Ao percebemos que ele constantemente nos protege e nos guia daí por diante nos colocamos conscientemente sob Sua direção e Ele nos guiará diretamente, passo a passo, incansavelmente, pelo resto de nosso trajeto até que nos tenhamos unido com o nosso Criador.

Sistema de Orientação - O Mestre

... a viagem pelo espaço interno é mais precária que a viagem pelo espaço externo. O caminho é cheio de distrações e sensações.

Necessitamos de um piloto e de um sistema de orientação além da plataforma de lançamento e do veículo, para voarmos no espaço. No caso do espaço externo, milhares de técnicos e cientistas têm que recolher dados para alimentar um computador e assegurar a viagem daqueles que estão na nave espacial. Mas para a viagem ao espaço interno não necessitamos mais que a ajuda de um Adepto Espiritual. O Mestre Vivente é que dá as instruções necessárias (nos guia) e nos conduz ao Veículo do Sagrado Naam até nosso destino final. Ensina-nos como elevar-nos sobre nossa consciência corpórea e nos concede uma experiência direta da Luz de Deus e da Música das Esferas.

Sempre me perguntam sobre a necessidade de um instrutor vivente ou Guru no campo espiritual. As pessoas dizem: "Porque necessitamos agora de um instrutor vivente, quando já tivemos instrutores tão grandes como Buda, Mahavira, Cristo, o Profeta Maomé, Guru Nanak e outros?" É surpreendente a preocupação que nasce em nós quando falamos desta necessidade no reino da espiritualidade, quando em quase todos os outros campos da atividade humana nós aceitamos com toda clareza a necessidade de um instrutor vivente.

Sabemos que não há substituto para o professor vivente no campo dos estudos acadêmicos, seja na aprendizagem das ciências ou das humanidades. Assim, enviamos as nossas crianças ao colégio, depois quando crescem, as enviamos aos institutos e universidades. Se desejamos realizar um experimento no campo da física, seguramente procura-mos um professor de física verdadeiramente competente. Não nos preocupará de que país é nem a que tradição religiosa pertence. O que nos interessa é a sua competência em uma determinada disciplina. O mesmo acontece em qualquer arte. Se desejamos aprender uma arte, temos que estudá-la com um artista diretamente. Eu, de minha parte, sou um poeta e já tive de buscar um dos poetas urdus líderes da época: Janab Shamin Karhani, quem ensinou-me tudo sobre a prosódia e as diferentes técnicas da poesia.

Se não há substituto para o professor vivente nos diferentes campos seculares, por que não aceitamos o mesmo princípio no campo da espiritualidade? Na verdade, no caso do caminho místico há duas razões adicionais especiais pelas quais devemos ter um guia ou instrutor vivente. Cristo disse que quando ele falava para a multidão o fazia por parábolas, porém quando falava a seus discípulos, o fazia em termos diretos. Assim sendo nossas escrituras descrevem as experiências e revelações internas que nos concedem os Santos, os Videntes e os Profetas. Amiúde se referem às regiões mais além da esfera do nosso intelecto (entendimento), recorrendo às parábolas, com alegorias e com símbolos. Enquanto não tivermos a orientação de um Deus-Homem (homem que realizou Deus, Mestre Vivente) que por si mesmo tenha atravessado os planos internos, que diariamente viaje pelo seu interior, e mais, que o faça várias vezes ao dia, não poderemos chegar a tomar no sentido figurado o que se queria dizer literalmente e como literal o que devia ser figurativo.

Se queremos compreender nossas escrituras em seu verdadeiro sentido, como variáveis das revelações do passado, necessitamos da ajuda de um Adepto Vivente, (Mestre Vivente). Elas são como a

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bela adormecida, que unicamente ressuscitam quando recebem o beijo de um príncipe vivente. Com seu mágico toque, o Mestre, o Homem-Deus, o Instrutor-Vivente, revive na verdade os livros do passado e os fazem falar-nos de uma maneira tão direta que muitas vezes nos surpreendem.

Sem dúvida o conhecimento é somente uma parte do domínio da espiritualidade, e como tal, é sua menor parte. Finalmente o misticismo se assenta sobre a experiência direta. Não é um caminho de dogmas, nem de fé cega, nem de crenças cegas. A este respeito as escrituras sikhs chegam a dizer: "Não crerei nem sequer em meu Mestre, enquanto não vir com os meus próprios olhos". Nós necessitamos experimentar a realidade interior; necessitamos viajar pelo espaço interior. Tão sério (difícil) como é o papel do Mestre Vivente ao dar-nos a correta compreensão de nossas escrituras, de nossa matéria, ainda o é mais indispensável quando se apresenta o verdadeiro trabalho de ir até dentro. Necessitamos de alguém que tenha atravessado o espaço interno por si mesmo, que tenha viajado pelas diversas regiões que há e que se tenha submergido completamente em Deus. Se queremos ter êxito em verdade, é tão sério o papel do "Expert" (Perito) Vivente, que é impossível enfatizá-lo com a devida importância. Ele quem primeiro nos traz a seus pés porque como afirma o ditado sufi: "O amor brota primeiro do coração do Amado".

Todos somos ovelhas perdidas; e não podemos encontrar nosso caminho sem ajuda de um pastor.

Nem sequer somos capazes de reconhecer quem é o pastor: É o Deus-homem que, por compaixão, se apiada de nós e se aproxima com sua irradiação. Ele traz consigo mesmo incontáveis tesouros de divindade vindos do Senhor e só se ocupa em distribuí-los. Não olha nossas falhas, nem nossas limitações, nem nossos pecados; porque se assim o fizesse quem se faria merecedor de seus divinos dons? O grande dom que nos concede é o dom da Iniciação, ou contato com o Poder do Sagrado Verbo ou Naam. Ensina-nos a arte de elevar-nos sobre a consciência do corpo a arte de morrer enquanto vivemos. Na realidade, a arte de morrer enquanto vivemos. Na realidade, a arte de morrer enquanto vivemos é arte de alcançar a vida imortal. Thomas Kempis disse: "Aprenda a morrer para que possas começar a viver". Da mesma forma, as escrituras muçulmanas dizem: "Mautu qablantu Mautu", quer dizer, morra antes da morte. Dadu Sahib, um Santo famoso hindu, disse:

"Temos que morrer no dia marcado, mas por que não aprender a conquistar a morte antes do nosso final físico"?

Quando Jesus disse: "Enquanto um homem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus" estava mostrando o mesmo princípio. Nicodemos não o entendeu e perguntou: - Como poderemos voltar a entrar no ventre de nossa mãe? Jesus respondeu: "O nascido da carne é carne, o nascido do espírito é espírito". É unicamente quando nos elevamos sobre o corpo que nascemos no espírito.

Para alcançar isto, o Mestre nos ensina a arte da meditação, a arte da concentração no terceiro olho, ou olho único. Este ponto, que fica no meio e detrás das sobrancelhas, é o verdadeiro assento da alma no corpo. O Deus-homem tira o selo do olho interno, quando nossa atenção se concentra ali e nos esquecemos do corpo. Como Jesus disse: "Se teu olho fosse único, todo o teu corpo se iluminaria". Não só nos manifesta a Luz de Deus ao abrir-nos nosso terceiro olho, mas também desbloqueia nosso ouvido interno e nos revela a Música das Esferas. Como Khwaja Hafiz havia dito: "Ninguém conhece a morada de meu Amado, porém o som dos sinos provém dali”.

À medida que a nossa atenção começa a concentrar-se no ponto referido, como o assento da abria, nossas correntes sensoriais começam a retirar-se para cima. Quando tivermos cruzado a Estrela, a Lua e o Sol, encontrar-nos-emos face a face com o Mestre Interno.

Esta forma radiante é tão arrebatadora, tão cativante, tão encantadora que nossa alma começa progressivamente a buscar perder-se a si mesma no Mestre. O Mestre não é um mortal comum, sujeito a limitações que acompanham a existência dos indivíduos. Tendo-se unido com o Senhor, o Mestre compartilha os atributos do Senhor. Ainda quando Ele era quem nos guiava a cada passo, em todo o momento, nem tínhamos idéia de sua onmipermeante vigilância. Sem dúvida, de agora em diante o vemos tomando-nos sob suas asas e ajudando-nos - estado após estado - a atravessar os planos espirituais internos. Nós temos três vestimentas corpóreas: a física, a astral e a causal. Quando aprendemos a elevar-nos sobre a consciência do corpo, colocamos o pé dentro do reino astral. O Mestre nos leva ao causal e dali ao supra causal, permitindo-nos assim livrar-nos de nossas vestimentas física e astral. Somente quando a alma bebe do néctãr do poço além do plano causal, é que se despoja de toda impressão mental e material. Ali então exclama "So-hang" o "Eu sou isso". Logo a alma se funde com seu próprio Mestre, cumprindo com o primeiro grande estado do misticismo, conhecido na literatura Sufi como o estado de Fana-Fil-Sheiknh, ou fundir-se com o mestre. Logo, continua sua jornada, para alcançar finalmente a comunhão com Deus.

Ocasionalmente sinto certo temor entre os buscadores ocidentais, de perder sua identidade em Deus quando se fala de caminho da espiritualidade. Mas esses temores são infundados porque o que sucede é uma expansão gradual do ser, até que se faça coextensivo com Deus.

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Nós nos tomamos os ganhadores, não os perdedores, convertendo-nos com o processo, em colaboradores conscientes do plano divino. Este estado de reunião com Deus é o estado final do misticismo, e a terminologia Sufi descreve como ou fusão com Deus. Isso representa o "sumo-bonun" da vida e não pode ser descrito (se subtrai a toda descrição). O mestre o cita como a absoluta felicidade, a absoluta bem-aventurança, absoluto entendimento. Aquele que tenha chegado até aqui não volta a renascer. Escapou da turbulenta roda da vida até o ponto imóvel, que é seu centro, isto é, o raio do sol se fundiu novamente no sol, a gota submergiu de novo no oceano.

Quando viajamos pelo espaço externo, corremos inevitavelmente o risco de nos despedaçar de encontro a meteoros, ou de perder nossa direção, de sermos arrastados pela influência gravitacional de um outro corpo celeste. Em vista da complexidade e dos perigos que há no espaço externo, a maior parte da orientação é controlada da terra. O controle da missão guia seguramente o veículo espacial, utilizando sofisticados reguladores, estações rastreadoras e avançados sistemas de comunicação. Uma função similar realiza o Mestre. Mesmo estando a milhares de milhas de distância, provê aos discípulos em todo o momento a orientação e ajuda, através do poder de transferência do pensamento. Ainda, assim, a viagem pelo espaço interno é mais precária que a viagem pelo espaço externo. O caminho está cheio de distrações e sensações. O trabalho de ir mais além do alcance da mente não é fácil. Ela é o adversário mais sutil e se inventa milhões de maneiras para manter a alma dentro de seu âmbito. Se coroamos de êxito a viagem até nosso destino final, isso se deve ao amor e a graça omniabarcante (que a tudo abarca) do Mestre. Nós não podemos mover-nos para adiante sem sua constante ajuda, sem sua guia, sem sua direção, sem sua proteção; do contrário nos perderíamos milhares de vezes, antes sequer de havermos cruzado os estados preliminares de nosso caminho. Por isso Kabir disse:

“Tanto Deus como meu Guru estão frente a mim.A quem devo render minha homenagem?Inclino-me ante meu Mestre, porque é atravésDele que reencontro a Deus”

Meu próprio Mestre Baba Sawan Singh dizia: "Toma-me como queiras, como teu irmão mais velho ou como teu pai. Toma-me como queiras, como teu velho amigo, ou professor. Porém escuta o que te digo e pratica o que te digo. Então, quando fores internamente, serás bem-vindo a chamar-me pelo nome que te agrade".

Combustível - O Amor

...Para a travessia pelo espaço interno também necessitamos de um combustível muito especial... o combustível do Amor Divino.

Quando viajamos pelo espaço, necessitamos de um combustível muito especial para nossa nave. Se vamos atravessar as distâncias astronômicas que jazem ante nós, não podemos utilizar os tipos comuns de combustíveis. Para a travessia do espaço interno também necessitamos de um combustível muito especial: o combustível do Amor Divino. Deus é Amor, nossa alma, sendo da mesma essência de Deus, também é amor. E o caminho de regresso a Deus é através do amor, Somente podemos alcançar a meta ultérrima da união com Deus, desenvolvendo amor por Ele e por Sua Criação. A palavra "amor" a pronunciamos facilmente com nossos lábios e falamos por extensão da irmandade do homem, da necessidade de compaixão e compreensão, mas só o fazemos ao nível intelectual. Não é mais que uma declaração dos lábios para fora. Não cremos no amor do fundo do nosso coração, do fundo de nossa alma.

São João diz: "Aquele que não ama não conhece Deus, porque Deus é amor". Guru Gobind Singh disse: "Digo-vos que somente aqueles que amam podem conhecer a Deus". Eles falam do amor que permeia cada átomo, cada célula de nosso ser. É um amor que olha para Deus e para o homem, é um amor que não descuida esta vida, este mundo, pela vida ou o mundo do além. Seu mandamento é duplo. Como Jesus estabeleceu: "Amarás o Senhor Deus com todo teu coração, com toda a tua alma, e com toda a tua mente", e ao mesmo tempo: "amarás o teu próximo como a ti mesmo" . Ele contempla toda a criação como a criação de Deus. Nos faz compreender que se falamos em amor às criaturas de Deus, seja homem, quadrúpede ou ave, falamos em nosso amor ao Grande Criador. É um amor que nos inspira, como inspirou a São Francisco de Assis, que considerava como seus irmãos, mesmo os asnos.

A crítica mais acerbada dirigida contra o misticismo oriental por filósofos e eruditos do Ocidente, é que obrigava a pessoa "ao abandono da vida". Homens como Albert Schweitzer, tem dito que a yoga hindu nega a realidade do mundo da verdadeira experiência, para converter-se em um caminho que escapa as responsabilidades e as obrigações. Permitam-me dizer-lhes que os Mestres do Surat Shabda Yoga não crêem nestas classes de misticismo negativo. Eles não nos exigem que abandonemos nossa terra e nosso

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lar, nem que nos internemos nas geladas cavernas dos Himalaias, nem nas areias ardentes do deserto, para passar nossas vidas em práticas ascéticas, longe do ruído mundano.

Como tenho dito, eles nos ensinam o caminho do misticismo positivo.

Temos obrigações para com nossos pais, nossas famílias, nossa sociedade, nossa nação; obrigações que hoje em dia tornaram-se internacionais mesmo interplanetárias. Devemos cumprir com nossas obrigações o melhor possível, porém ainda que o fizermos não devemos esquecer que o princípio e o fim da vida humana é o conhecimento de si mesmo e a realização de Deus. O Surat Shabda Yoga nos ensina que devemos buscar o misticismo como um elemento supremo da vida, em vez de fazê-lo às expensas da própria vida. Este não é um caminho de renúncia, mas um caminho onde se cultiva um espírito de desapego por qualquer coisa que façamos. Se pudermos desenvolver a capacidade de concentrar-nos em uma coisa de cada vez, aproveitaremos o melhor deste mundo, cumprindo com suas diversas obrigações e compromissos sem faltar com nossa meta espiritual. Até mesmo o homem mais ocupado tem as horas da noite para continuar a busca de seu espírito. Como Sant Kirpal Singh costumava dizer: "Converte tuas noites em uma selva solitária, onde livre das tensões e preocupações do mundo possas comungar com teu ser e com Deus. Uma vez tenhamos aprendido a amar ao Senhor, veremos que ainda que estejamos ocupados com os deveres e obrigações deste mundo, poderemos estar com nosso Amado em pensamento". Há um ditado punjabi que diz: "HATH KAR WAL, DIL YAAR WAL" . "As mãos para o trabalho e o coração para teu Amado".

Assim, o caminho do Surat Shabda Yoga é o caminho do misticismo positivo; não nos ensina optar para fuga deste mundo, em vez disso, nos convida a tirar o melhor proveito de ambos os mundos, para que possamos enriquecer e satisfazer a vida, para encontrar satisfação no reino da espiritualidade. Encontro algumas vezes alguns jovens que se aproximam de mim, homens e mulheres do Ocidente, que romperam contato com suas famílias. O primeiro conselho que lhes dou é que escrevam imediatamente a seus pais e restabeleçam seus vínculos de novo com eles. Há outros que vem depois de abandonar seus estudos, em busca da realização espiritual. Aconselho-os que voltem aos seus estudos. Ainda outros vêm com seus lares destruídos a ponto de romper seu matrimônio. Digo-lhes que o matrimônio não é um contrato, mas sim um sacramento e que eles devem empenhar-se para salvá-lo e levá-lo adiante. Animo aos meus jovens amigos para que levem uma vida familiar plena e harmoniosa. Se tiverem se entregando à bebida ou às drogas, ou a qualquer outro hábito anti-social, explico-lhes que nossa alma é uma entidade consciente, que seu nível de consciência deve aumentar e expandir-se se se quiser finalmente a imersão no Oceano da Consciência Absoluta. No empenho de afastá-los do licor e das drogas e de todos os tóxicos que acabam com a consciência da alma, sempre estimulo aos buscadores que não abandonem a corrente principal de sua sociedade, e que continuem dentro de suas respectivas comunidades sociais e religiosas. Assim, o que o misticismo, positivo vem a ensinar é a Religião do homem. Não devemos esquecer que somos espírito e que devemos buscar nosso desenvolvimento espiritual praticando a arte da meditação que nos ensina o Mestre. Sem dúvida também somos cidadãos do mundo e aqueles que nos rodeiam são igualmente filhos de Deus como nós. Em conseqüência, temos uma obrigação moral para com eles, que devemos cumprir sem refugá-la.

A vida ética é um degrau para a espiritualidade. Necessitamos uma base moral, para a qual devemos cultivar as virtudes divinas da não-violência, da verdade, da castidade, da humildade e do serviço desinteressado. Se alguém estuda os ensinamentos dos Grandes Mestres da espiritualidade, perceberá primeiro que eles dirigem nossa atenção, principalmente, para a realidade espiritual que jaz no fundo de toda criação, e simultaneamente colocam ante nós um ideal muito alto, no ético e no moral. A formação do homem e a realização de Deus devem ir um com o outro. Com este pensamento Sant Kirpal Singh desenvolveu um diário de auto-introspecção para os buscadores espirituais. Estimulou aos discípulos para que revisassem suas faltas ao final de cada dia com respeito às virtudes que já mencionou: Não-violência, verdade, castidade, humildade e serviço desinteressado.

Dividiu estas faltas em pensamento, em palavras e em atos. Também incluiu em seu diário colunas para registrar o tempo concedido às diferentes práticas da meditação que ele ensinou, assim como também para registrar o progresso interno. A introspecção e a autocrítica são fundamentais durante nosso progresso e desenvolvimento. Se estudamos as vidas dos grandes homens, não só dos Santos, nos diferentes aspectos da vida, encontramos amiúde que seus gozos e êxitos se deveram a este hábito. Porém o que o Amado Mestre fez, mesmo não sendo nada novidade, foi, estabelecer este método de anotações negativas à nossa conduta, registrando nossas falhas sobre bases muito sistemáticas, convertendo-o no princípio mais importante da vida espiritual.

Primeiramente temos que ser homens bons. Se formos homens bons, então poderemos ser bons cristãos, bons hindus e bons sikhs. Se não formos homens bons não poderemos ser bons sikhs, nem bons muçulmanos, nem bons cristãos, nem bons hindus. O Surat Shabda Yoga nos convida a tomar-nos santos ou homens íntegros. Os seres humanos estão constituídos por três partes: o corpo, a mente e a alma. Como temos um corpo físico, é lógico que nos desenvolva-mos fisicamente e que nos preocupemos com a

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saúde do corpo. Igualmente, tendo um intelecto, fazemos todo o possível para progredir intelectualmente. De fato, temos feito nos últimos anos espetaculares avanços no campo da ciência e da tecnologia, que nos tem suprido um vazio com o universo que nos rodeia. Mas junto com nosso corpo e intelecto, temos uma alma que nos anima aos dois, mas que sem dúvida até agora temos nos descuidado dela. O que os Santos e Videntes nos dizem, é que também devemos nos desenvolver espiritualmente porque é unicamente ao fazer isto, que podemos esperar converter-nos em seres totalmente íntegros e descobrir dentro de nós uma inexplorada potencialidade. Como tenho dito, não há nada de arbitrário nem irracional nos ensinamentos dos Mestres. Exige-se dieta vegetariana, não o fazem por dogma, mas porque o princípio da não violência exige que nos alimentemos das formas menos conscientes. Afinal, se nos pedem que nos abstenhamos de álcool e das drogas alucinógenas é porque nossa meta é muito mais alta, em níveis de consciência muito altos, e as drogas e o álcool denegrecem e distraem-nos do nosso objetivo. Hoje estamos passando por um período muito crítico da história da humanidade, e necessitamos urgentemente dos mais altos valores éticos. Como disse o doutor Martin Luther King:, "Nosso poderio cientifico tem sobrepassado nosso poder espiritual. Aprendemos a dirigir projéteis, porém temos desviado o homem". Nossa tecnologia e nosso progresso nos tem levado quase sempre às margens do desastre e aniquilação total. É imperativo que soframos um regeneração ética se é que o homem quer sobreviver, se é que querem sobreviver a todas as miríades de formas de vida que embelezam nosso maravilhoso planeta. A mesma ciência e a tecnologia estão nos fazendo reconhecer isto. Quando recentemente conheci um dos astronautas que colocou o seu pé na Lua, falamos da viagem através do espaço interno e do espaço externo. Como vos tenho tratado de dizer, há um paralelo entre os dois, e estão relacionados um ao outro. Contou-me que quando sua nave separou-se da terra, ele não era mais que um cientista cuja mente estava concentrada integralmente na difícil missão a que o haviam enviado. Sem dúvida, quando havia completado sua missão na Lua e vinha de regresso para casa, sua mente começou a abrir-se com os planetas e os corpos celestes que tinha em frente. Nossa mãe Terra luzia tão extraordinariamente bela, rodeada por um círculo azul celeste, que o encheu de amor por tudo que ela continha, por todas as formas de vida que ela sustentava. Havia deixado esta terra como um cientista, agora regressava como um místico.

Assegurou-me que o que me falava, não somente havia se passado com ele, mas que outros astronautas e cosmonautas haviam sofrido semelhantes experiências em diferentes graus. O dia em que o homem saiu deste planeta, sua personalidade adquiriu uma dimensão interplanetária. Imagine quanto mais podemos chegar a realizar ao viajar pelo espaço interno; se a viagem ao espaço externo pode em verdade modificar nossa capacidade de percepção. É muito significativo que os maiores expoentes do amor universal que o mundo conheceu, tenham sido os santos e os místicos, os Mestres do espaço interno. Foram eles que nos fizeram reconhecer a Paternidade de Deus e a irmandade do homem. De acordo com eles, o amor não é algo abstrato mas uma realidade vivente. "Não há amor maior que o do homem que entrega a vida por seus amigos". Os anais do misticismo e a espiritualidade estão cheios de mártires, que alegres e desejosos oferecem suas vidas por amor à humanidade. No mundo externo, para nós a unidade de toda a vida é uma mera suposição mental, um conceito intelectual, mas nossa visão se toma muito mais ampla e sutil, quando nosso olho interno é aberto e aprendemos a ir internamente. À medida que progredimos no caminho interno, percebemos o aumento da Luz de Deus, emanando, vindo, de todos os objetos que nos rodeiam. E é somente quando vemos que toda a criação é parte de uma só vida, de uma só divindade, que finalmente, amamos ao nosso próximo como a nós mesmos. É unicamente então, quando adquirimos a humanidade infinita dos santos, porque ante os olhos daquele que pode viajar à vontade no espaço interno, toda criatura seja ela pequena ou grande, se acha dotada da divindade.

Há uma história, da vida de uma santa famosa da tradição sufi, que nos mostra isto muito bem. "Uma vez, Rabia Basri, que era uma alma avançada, decidiu fazer uma peregrinação à Meca. Como todos sabem, o mais santo entre os muçulmanos é a Kaaba que existe em Meca. A maior parte da Arábia é um deserto e não era fácil viajar nesses dias. Então, ela se uniu a uma caravana para poder chegar a seu destino. No caminho viu um cão que estava completamente exausto, com sua língua pendurada. Era evidente que essa pobre criatura estava sedenta, que não tinha possibilidade de viver se não lhe dessem água. Cheia de compaixão Rabia Basri começou a procurar água e como era um lugar deserto teve que caminhar muito para encontrar um poço. Todavia, qual seria sua desilusão, pois quando encontrou o poço deu conta de que não tinha corda nem balde. Então, diz a história que ela rasgou suas roupas e amarrou-as em tiras umas às outras. Porém, ainda assim, não podia sequer tocar a superfície do poço. Cortou, então os seus cabelos e fez com eles uma trança, que amarrou na que havia feito com sua roupa. Assim pode pelo menos alcançar a superfície da água e molhar a ponta da corda, para em seguida espremê-la na boca do cão moribundo. Assim pode reanimar o cão que rapidamente começou a brincar por todo o lado. Rabia pensou que devia retomar sua viagem com a caravana, porém imaginem a surpresa quando viu que a caravana havia partido. Por onde quer que olhasse só viu areia, sem rastro da caravana. Havia-se perdido de vista completamente. Perguntou a si mesma se a sua peregrinação estava destinada a não se completar. Conta-se que precisamente neste momento uma voz vinda do céu lhe disse:, "Rabia Basri, tua peregrinação foi aceita" . Nós falamos da desenvoltura do amor universal, da Paternidade de Deus e da irmandade do homem, mas só o fazemos a nível intelectual. Somente quando a alma se submerge em Deus, que

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começamos a ver a Luz de Deus, não só nos homens, mas também em todos os animais, em todos os pássaros, em todos os répteis, em verdade, em todo o átomo da criação. Não haveria inimigos nem estranhos, nem espaço para ódios nem suspeita, nem para a violência nem para a guerra, se pudéssemos arriar a todas a criaturas como o fez Rabia Basri.

Todos viveríamos em perfeita paz e harmonia como filhos de mesmo Pai. De homens terrenos nos tornarmos homens planetários e agora nos corresponde converter-nos em homens cósmicos, para fazer descer o reino de Deus à Terra. Os santos e os místicos estão dirigindo nossos passos eternamente para essa meta. Vêm dizer-nos: "Não somos corpo mas espírito. Não cremos que haja Oriente nem Ocidente. Todos somos filhos do mesmo Pai e pertencemos ao mundo inteiro. Por que crer em nossas palavras? Aprendam a elevar-se a consciência de seus corpos, vão internamente e descubram por vocês mesmos que o Homem é espírito, que a alma é da mesma essência de Deus, que Deus é amor e que amor é o caminho de regresso a Ele".

Quando pela primeira vez cheguei aos Estados Unidos e falei no Hunter College de Nova York, as pessoas agradecem-me profundamente por haver ido a esse país. Disse-lhes que quando ainda estava a milhares de milhas de distância da terra em que havia nascido, todavia encontrava-me em meio a meus irmãos e irmãs. Nessa ocasião citei alguns de meus versos em urdu e permitam concluir compartilhando-os com vocês.

Naam hai admi to kia,als mein roohc-e-ishg hun;Sari zamin hai mera ghar,Sara fahan mera watan

Porque me chamam de homem?Em verdade sou a alma mesma do amor;O mundo inteiro é meu lar,e o universo é meu país.

Galey laga lo har insaan lo ley apna hai chalo to rahgrzaron main bantatey huey puar.

Abraça a todos os homens como a teu próprio ser,e derrama teu amor abundantemente onde quer que vás.