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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO O DIREITO DE DEFESA NO INQUÉRITO POLICIAL LUCAS TOLEDO

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALICENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, E SOCIAIS - CEJURPSCURSO DE DIREITO

O DIREITO DE DEFESA NO INQUÉRITO POLICIAL

LUCAS TOLEDO

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Itajaí (SC), maio de 2008,

ii

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALICENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, E SOCIAIS - CEJURPSCURSO DE DIREITO

O DIREITO DE DEFESA NO INQUÉRITO POLICIAL

LUCAS TOLEDO

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientadora: Professora Msc. Adriana Maria Gomes de Souza Spengler

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Itajaí (SC), maio de 2008

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AGRADECIMENTO

Agradeço primeiramente a Deus e a Nossa

Senhora Aparecida por ter me dado à

oportunidade de ter uma família maravilhosa. A

meus pais Expedito e Dona Maria que são

pessoas que sempre procuraram me ensinar os

princípios fundamentais da vida e que fez com

que me tornasse um homem digno de ser

chamado de filho,

A professora Adriana Spengler que se propôs a

me orientar com a maior boa vontade e paciência

que me foi concedida, pelo apoio intenso, pelas

correções e dicas que foram primordiais para que

esta pesquisa se concretizasse,

Ao professor Rogério Ristow que na medida do

possível, me indicou livros e providenciou cópias

de obras que não tinha, cujo acesso era difícil.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia a meu irmão Valdecir e

sua esposa Ivonette, por serem as pessoas

responsáveis pela minha vinda a Santa Catarina e

que abriram as portas para a realização de meu

sonho, sem a qual não poderia ser concretizado,

Aos meus irmãos Vicente, Marisa, João, Marli e

Fernando que apesar da distância (todos moram

em Varginha/MG), de alguma forma, sempre

contribuíram para que a saudade não me

desanimasse na luta do meu objetivo,

E em especial minha outra irmã Ângela e seu

marido Renato que não mediram esforços para

me socorrer nas horas de apuros financeiros e

nos momentos de solidão, sempre me atenderam

não importando a hora se era de dia ou a noite.

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“É muito melhor arriscar coisas grandiosas,

alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se a

derrota, do que formar fila com os pobres de

espírito, que nem gozam muito nem sofrem muito,

porque vivem nessa penumbra cinzenta que não

conhece vitória nem derrota”.

(Theodore Roosevelt)

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí (SC), maio de 2008

Lucas ToledoGraduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Lucas Toledo, sob o título O

DIREITO DE DEFESA NO INQUERITO POLICIAL, foi submetida em 10/06/2008

à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Professora Msc.

Adriana Maria Gomes de Souza Spengler e Prof. Msc. Rogério Ristow, aprovada

com a nota 10 (dez).

Itajaí (SC), junho de 2008.

Professora Msc. Adriana Maria Gomes de Souza Spengler

Orientador e Presidente da Banca

Professor Msc. Antonio Augusto LapaCoordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CF Constituição Federal

UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí

CEJURPS Centro de ciências jurídicas, políticas e sociais

SC Santa Catarina

OAB Ordem dos Advogados do Brasil

PÁG. Página

PÁGS. Páginas

ED. Edição

ESP. Especialista

ART. Artigo

art. Artigo

ARTS. Artigos

REV. Revisado

VER. Verificada

ATUAL. Atualizada

AMPL. Ampliada

N. Número

CP Código Penal

CPP Código de Processo Penal

IP Inquérito Policial

INC Inciso

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INCS Incisos

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que Lucas Toledo considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Contraditório:

A garantia do contraditório não raro é definida como a ciência para se dá ao

acusado da imputação, com seu conseqüente chamamento a juízo para defender-

se.1

Direito de não produzir provas contra si mesmo:

É inegável que o princípio nemo tenetur se detegere representa barreira à

atividade investigatória e probatória ilimitada por parte do Estado. Os

ordenamentos jurídicos assimilaram, em regra, a incidência do nemo tenetur se

detegere no interrogatório, principalmente reconhecendo o direito ao silêncio e

vedando determinados métodos de interrogatório que conduzam à auto-

incriminação e que violem a integridade física e moral do acusado.2

Devido processo legal:

O fim originariamente visado pelo princípio era o da proteção individual, por meio

de uma limitação posta ao poder, mas hoje entende que é uma cláusula aberta,

indeterminada, mas não vazia de conteúdo, dela defluindo vários princípios que a

jurisprudência, atendendo a sua origem, evolução e finalidade, vai reconhecendo

1 DEMERCIAN, Pedro Henrique. A oralidade no processo penal brasileiro. São Paulo: Atlas, 1999, p. 32-33.2 QUEIJO, Maria Elizabeth. O direito de não produzir prova contra si mesmo: o princípio nemo tenetur se detegere e suas decorrências no processo penal. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 240.

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e aplicando aos casos concretos. Mais do que uma simples regra de obediência à

lei processual para a aplicação de sanções, a cláusula do devido processo legal

abriga dois pontos principais.3

Inquérito Policial:

O inquérito policial é o procedimento administrativo de caráter inquisitivo que

formaliza a investigação policial, contendo apenas os elementos necessários para

instruir a denúncia do Ministério Público, nos crimes de ação penal pública, ou a

queixa-crime do ofendido, nos crimes de ação penal privada.4

Discricionariedade:

A autoridade policial não é permitido arquivar o inquérito que presidir. Entretanto,

a escolha das diligências investigatórias a serem realizadas no curso do inquérito

é discricionária da autoridade. O delegado de polícia, assim, efetivamente

conduzirá o trabalho investigatório, ordenando a realização das diligências que

julgar necessárias à apuração da infração penal.5

Polícia Judiciária:

Denominação dada ao órgão policial, a que se comete a missão de averiguar a

respeito dos fatos delituosos ocorridos ou das contravenções verificadas, a fim de

que sejam os respectivos delinqüentes ou contraventores punidos por seus delitos

ou por suas infrações. A polícia judiciária é repressiva, porque, não se tendo

podido evitar o mal, por não ter sido previsto, ou por qualquer outra circunstância,

procura, pela investigação dos fatos criminosos ou contraventores, recolher as

3 MIRABETE, Julio fabrini. Processo penal. São Paulo: Atlas, 2006, p. 74 ROCHA, Luiz Carlos. Investigação policial, Bauru. SP: Edipro, 2003, 2ª ed. p. 23.5 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 103-104.

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provas que os demonstram, descobrir os autores deles, entregando-os às

autoridades judiciárias, para que cumpram a lei.6

Princípio da Dignidade da Pessoa Humana:

O Estado Democrático de Direito tem uma dimensão antropocêntrica na medida

em que se arrima, fundamentalmente, na dignidade da pessoa humana, ou seja,

“num ser com dignidade, um fim e não um meio, um sujeito e não um objeto”. “A

dignidade da pessoa humana”, como valor reconhecido em nível constitucional,

deve ser amparada pela dupla via de sua proteção em concreto, enquanto direito

subjetivo pertencente a um titular determinado e de sua proteção, em abstrato,

enquanto um bem jurídico de superior valor e pressuposto de toda uma ordem

social justa e pacífica”.7

Princípio da presunção de Inocência:

Para a investigação criminal, a garantia da presunção de inocência estará

intimamente ligada ao tema dos denominados “maus antecedentes”, sendo

forçoso perquirir como se coloca a questão diante da mera existência de

investigação em andamento. O termo em questão vem encontrando dificuldades

de sistematização no direito pátrio, dada sua alocação no direito substantivo e no

instrumental.8

6 SILVA, de Plácido e. Vocabulário jurídico. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1984. p. 387.7 LOPES, Mauricio Antonio Ribeiro. Princípios políticos do direito penal. 2 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999. p. 242.8 CHOUK, Fauzi Hassan. Garantias constitucionais na investigação criminal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 39.

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SUMÁRIO

RESUMO................................................... .......................................XVI

INTRODUÇÃO.............................................................................. ........1

INQUÉRITO POLICIAL........................................................................41.1CONCEITO E FINALIDADE................................................................................41.2HISTÓRICO.........................................................................................................71.3CLASSIFICAÇÃO DE INQUÉRITOS................................................................121.3.1INQUÉRITO POLICIAL MILITAR................................................................................. 131.3.2INQUÉRITO ADMINISTRATIVO EM SENTIDO ESTRITO...................................................... 141.3.3INQUÉRITO PARLAMENTAR..................................................................................... 181.4PROCEDIMENTOS DO INQUÉRITO POLICIAL DA POLICIA JUDICIÁRIA..211.5ATOS DO INQUÉRITO POLICIAL....................................................................231.5.1CARACTERÍSTICAS............................................................................................... 271.5.1.1Forma escrita..............................................................................................271.5.1.2Sigilo............................................................................................................301.5.1.3Discricionariedade.....................................................................................331.6PRAZOS DO INQUÉRITO POLICIAL...............................................................35

O DIREITO DE DEFESA....................................................................371.7BREVE INTRODUÇÃO AOS PRINCÍPIOS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS ATINENTES AO PROCESSO PENAL................................371.7.1PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA............................................................ 411.7.2DEVIDO PROCESSO LEGAL..................................................................................... 431.7.3PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA .................................................................. 471.7.4PRINCÍPIO DA VERDADE REAL................................................................................. 481.7.5PRINCIPIO DA VEDAÇÃO DAS PROVAS ILÍCITAS............................................................. 501.7.5.1Interceptação telefônica............................................................................52

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1.7.6PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE.................................................................................... 541.8AMPLA DEFESA...............................................................................................551.8.1AUTODEFESA E DEFESA TÉCNICA............................................................................. 571.8.2DIREITO AO SILÊNCIO........................................................................................... 601.8.3O DIREITO DE NÃO PRODUZIR PROVAS CONTRA SI MESMO.............................................. 631.9CONTRADITÓRIO.............................................................................................641.9.1DIREITO AO CONTRADITÓRIO................................................................................... 64

O DIREITO DE DEFESA NO INQUÉRITO POLICIAL.......................681.10INÍCIO DO INQUÉRITO POLICIAL.................................................................681.10.1POR AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE..................................................................... 711.10.2POR PORTARIA................................................................................................. 741.10.3NOTA DE CULPA................................................................................................ 751.11IMPORTÂNCIA DO DIREITO DE DEFESA NO INÍCIO DA PERSECUÇÃO 781.11.1CIÊNCIA DA IMPUTAÇÃO...................................................................................... 801.12O PODER DISCRICIONÁRIO.........................................................................811.13O PRINCÍPIO DE NÃO PRODUZIR PROVAS CONTRA SI NO INQUÉRITO POLICIAL...............................................................................................................821.13.1 INTERROGATÓRIO: IMPORTÂNCIA E GARANTIAS......................................................... 851.14 DAS DILIGÊNCIAS........................................................................................881.14.1MOMENTO INICIAL PARA O EXERCÍCIO DO DIREITO DE DEFESA NO INQUÉRITO POLICIAL.........901.15PRERROGATIVAS DO ADVOGADO NO INQUÉRITO POLICIAL CONFORME O ESTATUTO DA ADVOCACIA..................................................... 911.16CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL....................................................95

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................. ...98

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS..........................................100

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RESUMO

A presente pesquisa trata do direito de defesa no inquérito

policial, através de entendimentos doutrinários favoráveis ao direito de defesa

como escudo protetor do indiciado. O inquérito policial é uma peça administrativa

que serve para o Ministério Público elaborar a denúncia encima dos indícios e de

suposta autoria descobertos pelo inquérito. Depois de levado ao conhecimento da

autoridade policial um fato criminoso, é então aberto o inquérito policial com todas

as diligências descritas no ordenamento processual penal. É dada a oportunidade

para a defesa do indiciado requerer diligências, oitiva de testemunhas, que pode

ser aceita ou não pela autoridade policial, por gozar essa do poder discricionário.

Na fase inquisitorial, busca-se a verdade formal, pelo fato de não haver o

contraditório e também a inexistência da ação penal. Terá o inquérito de ser feito

por escrito, sendo vedado à forma oral. É resguardado ao indiciado o direito de

permanecer em silêncio, direito este garantido pela Constituição Federal de 1988.

Cercado de princípios e garantias processuais penais, o inquérito busca cumprir o

que manda os mandamentos processuais penais e principalmente a Constituição

Federal. Como não há réu no inquérito por não existir ação penal, o indiciado tem

a garantia da presunção de inocência, pois não poderá ser condenado antes da

sentença penal condenatória. Portanto, a vida do indiciado tem que ser

preservada no sentido de não ser condenado prematuramente.

.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto a análise do Direito

de Defesa no Inquérito Policial.

O seu objetivo é buscar entendimentos que possa sustentar

o amplo direito de defesa já na abertura do inquérito policial.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, com o conceito e

finalidade do Inquérito Policial; seu histórico de como era antigamente e como era

o procedimento para descobrir o responsável por um ato criminoso, a

classificação dos inquéritos divididos em determinadas esferas assim como:

inquérito policial militar, inquérito administrativo em sentido estrito, inquérito

parlamentar, os procedimentos utilizados pela policia judiciária para desvendar o

ato criminoso praticado, atos do inquérito policial descrito no Código de Processo

Penal, características que fundamenta a peça inquisitória administrativa como:

forma escrita, sigilo, discricionariedade. Os prazos do inquérito policial

estabelecido em lei para que o inquérito seja finalizado e entregue ao juízo

criminal.

No Capítulo 2, tratar-se-á do Direito de Defesa do defensor

constituído ou nomeado requerer junto à autoridade policial, oitiva de

testemunhas de defesa e a produção de diligências que possa servir a favor do

indiciado, embasado em princípios e garantias constitucionais que garantam o

bom andamento do inquérito. Analisa-se os princípios processuais penais, tais

como: princípio da dignidade, devido processo legal, presunção de inocência,

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princípio da verdade real, princípio da vedação das provas ilícitas e, por fim,

princípio da publicidade.

No Capítulo 3, derradeiro capítulo, tratar-se-á do direito de

defesa no inquérito policial começando pelo início do inquérito policial depois de

ocorrido o fato tido como crime e levado ao conhecimento da autoridade policial.

Será analisado, principalmente, a dimensão do princípio de não produzir provas

contra si no inquérito policial e se, tal garantia é viável ao indiciado pelo fato de

não caber-lhe o ônus da prova.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre o direito de defesa no inquérito policial.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

O indiciado tem assegurado o direito de ser interrogado somente

com a presença do defensor constituído ou nomeado;

O indiciado deve ser informado por escrito de seus direitos

constitucionais de permanecer calado e de não produzir provas

contra si mesmo;

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados

o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

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Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliográfica.

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CAPÍTULO 1

INQUÉRITO POLICIAL

1.1CONCEITO E FINALIDADE

O inquérito policial consoante no artigo 4º e seguintes do

Código de Processo Penal é uma peça administrativa preparatória, que serve de

instrumento para o membro do Parquet, afim de que possa descobrir quem é o

autor, co-autor ou autores por investidas em infrações penais, ou ao menos

indícios dessa autoria e saber sobre a materialidade do crime.

Azevedo9 define o Inquérito Policial da seguinte forma:

A origem terminológica do termo inquérito é o verbo inquirir:,

indagar, procurar, numa palavra, averiguar o fato, ou fatos como

ocorreram e qual o seu autor, ou quais os seus autores. Para

realizar esse objeto, a autoridade, além de inquirir, isto é,

interrogar as testemunhas, o ofendido, o indiciado, - promoverá

diligências, inclusive, sempre que possível –, a reconstituição dos

fatos, a que o “inquirir é o verbo que dá origem ao substantivo

inquérito, equivale a perguntar Código chama reprodução

similada”.

Seguindo a mesma corrente, Rocha10 assim discorre acerca

da peça administrativa:

9 AZEVEDO, Vicente de Paulo Vicente. Curso de direito judiciário penal. São Paulo: Saraiva, 1958, v. 1. p. 140.10 ROCHA, Luiz Carlos, Investigação policial. 2ª ed. Bauru – SP: Edipro, 2003, p. 23.

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O inquérito policial é o procedimento administrativo de caráter

inquisitivo que formaliza a investigação policial, contendo apenas

os elementos necessários para instruir a denúncia do Ministério

Público, nos crimes de ação penal pública, ou a queixa-crime do

ofendido, nos crimes de ação penal privada.

No mesmo norte segue Capez11.

É o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para a

apuração de uma infração penal e de sua autoria, a fim de que o

titular da ação penal possa ingressar em juízo, exposto no Código

de Processo Penal. Trata-se de procedimento persecutório de

caráter administrativo instaurado pela autoridade policial.

Esclarece Demercian12 que:

O inquérito policial é um procedimento administrativo que não se

sujeita às mesmas fórmulas do processo judicial. É realizado pela

Polícia Judiciária e tem como escopo reunir elementos de

convicção que habilitem o órgão da acusação à propositura da

ação penal (pública ou privada).

No mesmo rumo, segue Salles Júnior13:

Inquérito policial é o procedimento destinado à reunião de

elementos acerca de uma infração penal. É o conjunto de

diligências realizadas pela Polícia Judiciária, para a apuração de

uma infração penal e sua autoria, para que o titular da ação penal

possa ingressar em juízo, pedindo a aplicação da lei ao caso

concreto.

11 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 72.12 DEMERCIAN, Pedro Henrique. Curso de processo penal. São Paulo: Atlas, 1999, p. 4.13 SALLES JÚNIOR, Romeu de Almeida. Inquérito policial e ação penal. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 3.

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Assevera Nogueira14:

Inquérito policial é o conjunto de diligências realizadas pela polícia

judiciária visando à apuração de uma infração penal e sua autoria,

para que o titular da ação penal possa ingressar em juízo, pedindo

a aplicação da lei ao caso concreto. A atividade persecutória

desdobra-se em duas fases: administrativa e judicial. A fase

administrativa ocorre através do inquérito policial, que é

procedimento da polícia judiciária (art. 4º), e a fase judicial

realizada pelo órgão acusatório na instrução.

Esclarece Noronha15 que:

No sistema processual penal adotado pelo Código, é o inquérito

“preliminar ou preparatório da ação penal”. É nele que se colhem

elementos que seria impossível ou difícil obter na instrução

judiciária, v. g., auto de flagrante, exames periciais, declarações

do ofendido etc. É, então, o inquérito instrução provisória. Não é

ele processo, mas procedimento administrativo, destinado na

linguagem do art. 4º, a apurar a infração penal e a autoria.

Fornece, pois, ao órgão da acusação a base ou supedâneo

necessário à propositura da ação penal. Dele se encarrega a

policia judiciária.

O propósito do inquérito policial é, portanto, auxiliar, dar

suporte ao Ministério Público para que seja processado o causador de um delito.

A maioria dos doutrinadores arrolados entende ser o inquérito policial, um

conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária.

14 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Curso completo de processo penal. 11ª ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 39.15NORONHA, E. Magalhães. Curso de direito processual penal. 26ª ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 22

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1.2HISTÓRICO

O inquérito policial não existia antigamente, e os delitos

praticados nas eras do Direito Repressivo e dos juízos de Deus, eram diretamente

julgados pelos juizes que tinham múltiplas funções, enquanto que o acusado, não

tinha a oportunidade nem mesmo de se autodefender, não contava com seu

defensor para falar em seu nome e tampouco era respeitado a dignidade da

pessoa humana.

Ao Juiz competente, foi dado o direito de punir, como ensina

Tourinho Filho16:

Num determinado momento histórico, o Estado aboliu a

autodefesa ou autotutela e chamou a si a tarefa de solucionar,

através dos Juízes, as lides que surgissem no meio social, pouco

importando se de natureza extrapenal ou penal. Mas, para

solucioná-las, era e é preciso que o interessado, titular do direito

violado, se dirija ao Juiz, relatando-lhe a ocorrência e pedindo a

aplicação da lei. Trata-se de um direito que o Estado confere a

todos, inclusive a ele próprio.

Ensina Lopez17:

Das maiores conquistas dos povos civilizados, na busca de uma

convivência mais justa e harmônica, é o repúdio aos métodos de

persecução criminal de molde inquisitorial. Para ilustrar, merece

relevo o acontecido na Idade Média, quando a Igreja Católica,

pela chamada Santa Inquisição, durante séculos, dedicou-se a

queimar na fogueira pessoas que discordassem de seus dogmas.

16 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de processo penal comentado. v. 1, 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 31.17 LOPEZ, Luiz Roberto. História da inquisição. Editora Mercado Aberto, 1993, pg. 3. cit. PERES.

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Tais condenações eram precedidas de um simulacro de processo,

no qual as funções de acusar e de julgar enfeixavam-se na

mesma mão. Submetidos a tais práticas hediondas, os acusados

nem sequer tinham conhecimento de estar sendo investigados ou

"processados". Eram informados de que seu comportamento não

se enquadrava nos moldes preconizados pelos donos do poder,

em geral, sob prisão. A pretexto de ser esta uma forma de

reconciliação com Deus, ou com o soberano, eram "convidados" a

"confessar" seus crimes, submetidos a torturas inimagináveis.

Assim observa Pedroso18:

No processo inquisitório, marcado pela violência e pelo arbítrio,

imperava o autoritarismo, sem qualquer respeito e consideração

pelos direitos do acusado. Assumiam os Juízes, no mister de uma

autotutela penal, a par de sua própria função especifica, o

encargo de acusar, tomando a si também os interesses do réu.

Este era o objeto do processo e a seus julgadores tudo era

permitido e a eles tudo impendia inclusive suprir a atividade do

acusado.

Na sua antiguidade, menciona Tornaghi19:

A forma de processo conhecida em toda a Antiguidade foi à

acusatória. Dominava-a um princípio fundamental, do qual lhe

vem o nome: ninguém pode ser levado a juízo sem uma

acusação. Nemo in iudicium tradetur sine accusatione. Depois de

feita a acusação, é que se ia pesquisar o crime, na sua

materialidade, e a autoria. Era um verdadeiro inquérito, mas

posterior à accusatio e feito pelo acusador, em presença do

acusado, se esse o desejasse.

18 PEDROSO, Fernando de Almeida. Processo penal o direito de defesa repercussão, amplitude e limites. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994,.p. 18-19.19 TORNAGHI, Hélio. Curso de processo penal. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 1987, p. 10.

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E finaliza afirmando:

Para a realização das investigações o magistrado concedia ao

acusador uma lex, isto é, um mandado, que era quase um

mandato, uma vez que, por meio dela, ele, magistrado, delegava

ao acusador o poder de investigar, que lhe pertencia. Munido da

lex, o acusador procedia a buscas, fazia apreensão, ouvia

testemunhas, examinava documentos, colhia os elementos

materiais que pudessem servir à prova da infração, enfim, fazia

tudo quanto hoje se faz o inquérito policial. Era a inquisitio

posterior a accusatio, convém insistir nesse ponto.

O doutrinador Almeida Júnior20 citado por Saad tem o

seguinte entendimento:

O modelo inquisitório, que vigorou na justiça eclesiástica e daí

passou para a justiça secular, transportava a ação pública das

mãos das partes para as do juiz; dava ao juiz o poder, não mais

de julgar somente, mas o de dirigir e provocar ex officio os atos de

instrução; essencialmente secreto este processo não faz pesar

responsabilidade alguma sobre o inquiridor. A acusação também

se transformou: não mais era feita segundo as formas romanas;

as partes, certas de que a denúncia bastava para pôr o juiz em

movimento, limitava-se a isso ou, quando muito, auxiliavam o juiz

ou o inquiridor nas pesquisa de provas; e, assim, estabelecido o

processo escrito, a acusação formal da parte ou da justiça, por um

promotor, só foi estabelecida para depois que a formação da

culpa, feita inquisitoriamente, em processo sumário, iniciado ou

por inquirição secreta nos casos de devassa, ou por querela do

ofendido, ou de qualquer do povo no interesse público, ou por

simples denúncia de crime público, estivesse encerrada. Só daí

em diante, posto que em forma escrita, seguia-se em processo

aberto e ordinário, como no cível, em libelo, contestação, réplica,

20 SAAD, Marta. O direito de defesa no inquérito policial. São Paulo: RT, 2004, p. 155.

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tréplica, dilação e provas, alegações finais, podendo haver a

defesa e perguntas ao réu em qualquer estado da causa antes

das alegações finais e da sentença.

Preceitua Almeida Júnior21 citado por Saad suas

características:

As características do modelo inquisitório puro, em que se

“procede a pesquisas antes de qualquer acusação, substitui à

defesa o interrogatório do indigitado, ao debate oral e público as

confrontações secretas das testemunhas e, em geral, a instrução

escrita e secreta às informações verbais”, “subordinando-se ao

método analítico, não afirma o fato, supõe a sua possibilidade e

probabilidade, presume um culpado, busca e colige os indícios e

as provas”, “propõe-se a fornecer ao juiz indícios suficientes para

que a presunção possa ser transformada em realidade” e

“preocupa-se principalmente do interesse público lesado pelo

delito”.

No Brasil, o inquérito policial surgiu no ano de 1841, e

naquele tempo não tinha o nome de Inquérito mas sim de ‘trabalhos de

investigação policial’, assim mencionado por Mehmeri22:

21 SAAD. O direito de defesa no inquérito policial. RT, 2004, p. 156.22 MEHMERI, Adilson. Inquérito policial dinâmica, São Paulo: Saraiva, 1992, p. 4.A própria acumulação de funções pelo Juiz já instabilizava a possibilidade de um julgamento justo do imputado, pois, como ponderou Pimenta Bueno, o juiz não deve ser senão Juiz, arbitro imparcial e não parte, porque, do contraditório, criará em seu espírito as primeiras suspeitas e, por amor próprio de sua previdência, julgará antes de ser tempo de julgar. (Rogério Lauria Tucci citado por Pedroso, persecução penal, prisão e liberdade, saraiva, 1980, p. 78)Por ai se vê que o juiz inquisitivo prejulgava e fazia com que os depoimentos testemunhais e a versão do réu, através dos martírios, propendessem para o fim antecipadamente almejado pelo Santo Ofício. Pedroso, persecução penal, prisão e liberdade, saraiva, 1980, p. 19Pode-se dizer, numa acepção bem elevada, que, desde a remota Antiguidade, sempre houve o processo investigatório para apuração dos delitos, suas circunstâncias e seus autores. No direito romano, contudo, esse processo começou a ganhar contornos mais definidos, com o nomen júris de inquisitio, ou seja, trabalhos investigatórios para se apurarem as circunstâncias do crime e localizar o criminoso. Tratava-se de uma delegação de poderes feita pelo magistrado à própria

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Com a emancipação da legislação brasileira, produto da

emancipação política, já em 1841 havia lei disciplinando os

trabalhos de investigação policial dos crimes, suas circunstâncias

e seus autores. Mas só trinta anos depois, através do Decreto nº

4.824, que regulamentou a Lei nº 2.033, criou-se o inquérito

policial com esse nomen júris.

E conclui explicando que foi o inquérito policial, tipificado no

diploma processual penal, em 1941:

O advento da República trouxe consigo novas esperanças,

inclusive no setor judiciário, e culminou com a restauração da

peça inquisitória. Mas ela sofreria, em seguida, duro abalo, já na

década de 30, quando se encetou nova campanha para a criação

do chamado “juizado de instrução” – que se destinava exatamente

à substituição do processo policial de inquisição. Mas o Decreto-

Lei nº 3.689, de 3-10-1941, introduziu o novo e atual CPP,

manteve-o, reservando-lhe todo o Título II de seu texto.

O inquérito policial no entendimento dos doutrinadores

citados a priori, mostra que quando ocorria um fato delituoso, tinha o juiz à missão

de julgar o indiciado sem ter em mãos todo procedimento de investigação do fato

ocorrido, ou seja, o acusado era julgado ser ter o direito de defesa, muito menos o

conhecimento do que estava sendo acusado.

vítima ou parentes, que se transformavam em acusadores. Essa inquisitio estendia-se ao acusado, concedendo-lhe o direito de promover também inquisições, em busca de elementos. Por isso se dizia contraditório o processo.A forma como se apurava os crimes extremamente violenta, e se baseava nas decisões arbitrárias do Juiz, que era quem presidia o processo inquisitivo, não havendo imparcialidade em nenhum momento. Portanto, não havia um julgamento justo do imputado.

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1.3CLASSIFICAÇÃO DE INQUÉRITOS

A doutrina classifica alguns tipos de inquéritos que estão

rodeados de três formas: investigação administrativa; legislativa e judiciária,

respectivamente inquérito policial militar; inquérito administrativo em sentido

estrito e o inquérito parlamentar, que através das diligências feitas acerca do ato

acontecido, buscará a elucidação dos atos ilícitos praticados.

Sobre a investigação policial, Rocha23 explica que:

A investigação policial é feita pela polícia de Segurança, para

obter informações sobre a existência de um crime e de todas as

suas circunstâncias, bem como de sua autoria. A forma da

investigação é o inquérito policial. Com os dados investigatórios

que o integram, esse procedimento fornece ao Ministério Público

os elementos necessários para propor a ação penal.

Os inquéritos têm a função de buscar a verdade real e sua

autoria, assim como a co-autoria e a participação juntamente com a culpabilidade

do agente.

Neste mesmo sentido, Pitombo24 citado por Saad, explica a

origem dos inquéritos e seus respectivos órgãos competentes:

Portanto em sentido amplo, a formação da culpa,

consubstanciada na apuração preliminar, ou prévia, voltada à

apuração do fato que se desenha ilícito e típico, e de sua autoria,

co-autoria ou participação, pode ser realizada nas três esferas do

Poder, segundo o órgão que a dirige. No âmbito do Executivo, há

23 ROCHA, Luis Carlos. Investigação policial teoria e prática. 2ª ed. rev. Ampl. Bauru – SP: Edipro, 2003., p 25.24 SAAD. O direito de defesa no inquérito policial. RT, 2004, p. 99-100.

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o inquérito policial, o inquérito policial militar e o inquérito

administrativo em sentido estrito, este disciplinar ou não

disciplinar. No Legislativo, há o inquérito parlamentar, cujo

resultado, de modo eventual, importa ao processo penal. E, no

Judiciário, há o inquérito judicial, da Lei de Falências, e a

formação judicial do corpo de delito, nos crimes contra a

propriedade imaterial.

Para se chegar ao resultado pretendido, segundo

entendimento doutrinário anteriormente citados, são feitos buscas de indícios,

realização de diligências, interrogatórios e a produção de provas dos delitos

praticados por qualquer membro da sociedade, ou da administração pública que

cometerem infrações penais.

1.3.1Inquérito Policial Militar

O policial militar que praticar atos abusivos e excessivos à

suas atribuições, será investigado através do inquérito policial militar, instrumento

este que auxilia o órgão da polícia militar, como explica Tourinho Filho25, “nos

crimes militares, como a investigação compete aos próprios militares, temos o

Inquérito Policial Militar”.

Como bem observa Capez26 que dos vários inquéritos

previstos em lei, “há outros, como, por exemplo, o inquérito realizado pelas

autoridades militares para a apuração de infrações de competência da justiça

militar”.

25 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de processo penal comentado. v. 1, 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 26.26 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2006,. p. 76.

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Sobre o inquérito policial militar, Saad27 tem o seguinte

entendimento:

O inquérito policial militar é forma de persecução penal prévia,

instaurada para apuração de crimes militares, próprios ou

impróprios, bem como crimes contra a Segurança Nacional, a

Ordem Política e Social, se o agente for militar ou assemelhado,

ou então determinadas hipóteses de crime, previstas na Lei 7.170,

de 14.12.1983.

Dispõe o artigo 124 da Constituição da República Federativa

do Brasil28, que é através dos procedimentos do inquérito policial militar que se

tem a viabilidade ou não de se iniciar a competente ação penal.

Portanto, os entendimentos dos autores arrolados não

deixam dúvidas de que a justiça militar tem competência própria para julgar os

policiais militares que fugirem das suas atribuições.

1.3.2Inquérito Administrativo em Sentido Estrito

Enquanto o inquérito policial busca a verdade real acerca de

um ato criminoso, o inquérito administrativo é dividido em processo administrativo

que trata sobre algum litígio entre a Administração Pública e o servidor, e aqueles

que envolvem os expedientes que tramitam pelos órgãos administrativos.

É também denominada sindicância administrativa, pois

segundo Cretella Júnior29:,

27 SAAD. O direito de defesa no inquérito policial. RT, 2004, p. 101.28 BRASIL, Constituição da República Federativa do. 1988.29 CRETELLA JÚNIOR, cit. Octaviano, Ernomar; Gonzalez, Átila J. Sindicância e processo administrativo, São Paulo: Liv. e Ed. Universitária de Direito, 1999, p. 22-23

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A sindicância não se confunde com o processo administrativo –

estabelecendo-se um paralelo mais ou menos aproximado, entre

o que ocorre no âmbito penal e na esfera administrativa, é lícito

dizer, sob a fórmula de proporção matemática, que a sindicância

está para o processo administrativo, do mesmo modo que o

inquérito policial para o processo penal.

Discorre Octaviano30 sobre o inquérito administrativo:

A observância do princípio da publicidade é paradigma de todos

os atos administrativos, devendo sê-lo, também, e por maiores

razões, dos procedimentos administrativos, como a atividade

sindicante. Mesmo porquê, nos dias atuais, a sindicância tem sido

usada sob a forma de pequeno inquérito, para esclarecimento

breve de um fato ou de sua autoria. Ou, ainda, para apuração e

apenamento de faltas disciplinares não muito graves. Uma

manobra, nesses casos, válida, para evitar o processo

administrativo, de procedimentos prescritos em lei, livre

contraditório, prazo mais amplo e, como tal, reservado para os

casos mais graves.

Assim acentua Medauar31:

Os processos administrativos propriamente ditos, por seu turno,

podem ser, em resumo, de duas espécies: disciplinares ou não

disciplinares. Os primeiros destinam-se à apuração de

responsabilidade dos servidores, enquanto os segundos envolvem

pleitos dos administrados ou aplicação a eles de penalidades

administrativas. Ambos são processos sancionadores de

acusados.

30 OCTAVIANO, Ernomar, GONZÁLES, Átila J. Sindicância e processo administrativo. 9ª ed. rev. e ampl. São Paulo: Liv. E Ed. Universitária de Direito, 1999, pág. 22-2331 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 2. ed. São Paulo: RT, 1998, p. 192.

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Meirelles32 explica que

Os atos administrativos punitivos, como facilmente se percebe,

podem ser de atuação interna e externa. Internamente, cabe à

Administração punir disciplinarmente seus servidores e corrigir os

serviços defeituosos através de sanções estatutárias;

externamente, incumbe-lhe velar pela correta observância das

normas administrativas. Em ambos os casos as infrações ensejam

punição, após a apuração da falta em processo administrativo

regular ou pelos meios sumários facultados ao Poder Público.

Rocha33 tem o seguinte entendimento sobre o inquérito

administrativo:

A investigação administrativa em sentido estrito é feita por órgãos

do Poder Executivo, diversos dos da Polícia de Segurança ou

Judiciária, que nos termos da lei, podem exercer função

investigatória. Citamos, por exemplo, a competência das

autoridades administrativas para apurar os crimes de sonegação

fiscal, contrabando, contra a economia popular, contra a saúde

pública, contra a flora e a fauna, etc. e ainda, as sindicâncias e os

processos administrativos instaurados contra funcionário público,

para apurar faltas disciplinares, que podem servir de notitia

criminis.

Discorre Mehmeri34 a respeito do inquérito administrativo:

Embora sendo de natureza especial, porque produz efeito

autônomo, no âmbito administrativo (daí ser mais chamado de

32 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 27 ed. São Paulo: Malheiros editora, 2002, p. 190.33 ROCHA, Luis Carlos. Investigação policial teoria e prática. 2ª ed. rev. Ampl. Bauru – SP: Edipro, 2003, p. 25.34 MEHMERI, Adilson. Inquérito policial dinâmica, São Paulo: Saraiva, 1992, p. 7

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“processo administrativo”), pode servir de base para oferecimento

da denúncia, no juízo criminal.

Explica Bueno Filho35 que:

Ao falar em litigantes e ligar esta expressão a processo judicial e

administrativo, a Constituição restringiu àquelas pessoas e

àqueles procedimentos o exercício do contraditório e a da ampla

defesa. Por outro lado, ao dizer que a perda patrimonial e da

liberdade não se decidem sem o devido processo legal,

esclareceu que não são possíveis tais ocorrências em

procedimentos tais como o inquérito policial ou a sindicância

administrativa.

E conclui:

Portanto, esses procedimentos administrativos, que se

caracterizam pela coleta de elementos que servem de base para o

oferecimento da denúncia pelo Ministério Público ou para a

elaboração de portaria que dá início ao processo administrativo,

não precisam observar as regras do contraditório e da ampla

defesa. O que não quer dizer que a autoridade sindicante ou

policial possa adotar uma postura arbitrária e dirigir as atividades

investigatórias sem qualquer tipo de controle. Não. Num Estado

de Direito, qualquer agente público no exercício da atividade

disciplinar ou policial está submetido ao controle pela própria

Administração, ou ao controle externo do Ministério Público ou do

Poder Judiciário, quando acionados.

Assevera Grinover36:

35 BUENO FILHO, Edgard Silveira. O direito à defesa na constituição. São Paulo: Saraiva, 1994.

36 SAAD. O direito de defesa no inquérito policial. RT, 2004, p. 110.

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Desse modo, na instrução do processo administrativo são sempre

asseguradas ao indivíduo às garantias próprias da ampla defesa,

assim, a Constituição não mais limita o contraditório e ampla

defesa aos processos administrativos (punitivos) em que haja

acusados, mas estende as garantias a todos os processos

administrativos, não-punitivos e punitivos, ainda que neles não

haja acusados, mas simplesmente litigantes.

Como se vê a doutrina colacionada é unânime no sentido de

que caberá ao acusado o direito de defesa, assegurado o princípio da ampla

defesa, nos procedimentos preparatórios e no processo administrativo. Ao

servidor público, caberá revisão do processo administrativo, caso seja

considerado culpado.

1.3.3Inquérito Parlamentar

O instrumento administrativo também denominado inquérito

parlamentar, ou, Comissão Parlamentar de Inquérito, é instaurado sempre que

algum parlamentar, seja Deputado Federal ou Senador da República, usar de

subterfúgios para se beneficiar de recursos ou praticar atos dolosos contra o

erário, ferindo o regimento interno de ambas as casas legislativas e

principalmente a Magna Carta.

A Constituição de 1934 tratou de disciplinar o inquérito

parlamentar em seu artigo 34:

Art. 34 A Câmara dos Deputados criará comissões de

inquérito sobre fatos determinados, sempre que o requerer a terça parte, pelo

menos, dos seus membros.

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Depois de passar por algumas Constituições, de 1934 até

ser promulgada a Carta Magna de 1988, o inquérito parlamentar passou por

algumas modificações.

O inquérito parlamentar está exposto no artigo 58, da

Constituição da República Federativa do Brasil, e quando formada em uma das

casas, ou de forma mista, sua sistemática segue as normas dos regimentos

internos de ambas as casas.

Artigo 58 – O Congresso Nacional e suas Casas terão

comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as

atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua

criação.

§ 3º As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes

de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros

previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas

pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto

ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus

membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo,

sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao

Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou

criminal dos infratores.

Sobre o inquérito parlamentar, Tucci37, coloca seu

entendimento da seguinte forma:

É a atuação parlamentar extraordinária e transitória, com a

finalidade de apurar fato ou fatos relevantes e determinados,

respeitantes à condução e à atividade administrativa do governo,

sobretudo para perquirir-lhe e, se for o caso, preservar-lhe a

37 SAAD. O direito de defesa no inquérito policial. RT, 2004, p. 117-118.

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transparência, a normalidade e a moralidade. Compreendendo,

necessariamente, uma série de atos, tem, assim, como principais

características: a) especialidade investigatória; b)

extraordinariedade; c) temporariedade; d) realização por órgão

colegiado criado no âmbito do Poder Legislativo, ao qual são

conferidos poderes de investigação e informação, em lei definidos;

e) apuração de fato ou fatos determinados; e f) materialização em

procedimento de natureza administrativa, finalizado num ou mais

relatórios.

Tourinho Filho38 faz o seguinte comentário:

A Lei n. 1.579, de 18-3-1952, dispõe sobre as Comissões

Parlamentares de Inquérito, que, como o nome está a indicar,

procedem a investigações de maior vulto, e, caso a Comissão

constate a existência de crime da alçada da Justiça Comum, pode

o órgão do Ministério Público, com base naqueles inquéritos

parlamentares, praticar o ato instaurador da instância penal, isto

é, oferecer denúncia. Cabe esclarecer que a Lei n. 10.001, de 4-9-

2000, dispõe sobre a prioridade nos procedimentos a serem

adotados pelo MP e por outros órgãos a respeito das conclusões

das comissões parlamentares de inquérito.

De fato, é o objetivo das Comissões Parlamentares de

Inquérito, investigarem os atos obscuros e ilícitos praticados pelos parlamentares

e também atinge o Poder Executivo.

Os parlamentares que participam das Comissões, podem

dispor de várias diligências, seguindo os mesmos moldes do Inquérito Policial,

assim como:

38 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002,. p. 62-63.

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I) Requerer a convocação de Ministros de Estados;

II) tomar o depoimento de quaisquer autoridades, seja na

esfera federal, estadual ou municipal;

III) ouvir indiciados;

IV) inquirir testemunhas;

V) requisitar informações e documentos de repartição

públicas e autárquicas;

VI) deslocar-se aos lugares onde for necessária a sua

presença.

A doutrina majoritária entende ser o inquérito parlamentar,

peça fundamental para a propositura da ação penal, onde através das

investigações, pode-se buscar a verdade real sobre o suposto envolvimento de

parlamentar em crimes, ou fatos determinados.

1.4PROCEDIMENTOS DO INQUÉRITO POLICIAL DA POLICIA JUDICIÁRIA

Logo que se tem notícia de um delito, a notitia criminis, a

autoridade policial dá início a elucidação dos fatos, e a busca do autor do crime e

todos os elementos e indícios encontrados no local do crime.

O art. 129, inciso I, da Constituição Federal estabelece que:

A Polícia Judiciária tem a função precípua de apurar as infrações

penais e a sua autoria por meio do inquérito policial, procedimento

administrativo com característica inquisitiva, que serve, em regra,

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de base à pretensão punitiva do Estado formulada pelo Ministério

Público, titular da ação penal pública.

Silva39 conceitua Policia Judiciária da seguinte forma:

Denominação dada ao órgão policial, a que se comete a missão

de averiguar a respeito dos fatos delituosos ocorridos ou das

contravenções verificadas, a fim de que sejam os respectivos

delinqüentes ou contraventores punidos por seus delitos ou por

suas infrações. A polícia judiciária é repressiva, porque, não se

tendo podido evitar o mal, por não ter sido previsto, ou por

qualquer outra circunstância, procura, pela investigação dos fatos

criminosos ou contraventores, recolher as provas que os

demonstram, descobrir os autores deles, entregando-os às

autoridades judiciárias, para que cumpram a lei.

No que tange a Polícia Judiciária, Mehmeri40 entende que:

Há momentos, contudo, em que esse policiamento preventivo não

é bastante para conter a perturbação. Nesse caso, ela chama

para intervir a Polícia Judiciária, já agora com caráter punitivo.

Ideal que isso não fosse necessário nunca, mas o é com

freqüência. A Polícia Judiciária ora é propriamente criminal,

quando apura o crime e o encaminha para apreciação e

julgamento judiciário; ora é correcional, quando aplica seus meios

próprios de repressão, autorizados por lei.

Observa Noronha41 que:

Inicia-se o inquérito com a notitia criminis. É o conhecimento que

a autoridade policial tem de um fato aparentemente criminoso:

39 SILVA, de Plácido e. Vocabulário jurídico. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1984, p. 387.40 MEHMERI, Adilson. Inquérito policial dinâmica, São Paulo: Saraiva, 1992, p. 376.41 NORONHA, E. Magalhães. Curso de direito processual penal. 26ª ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 22.

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encontro de corpo de delito, flagrante, comunicação de

funcionário, publicação da imprensa, informação de qualquer do

povo et. Pode também aquela notitia ser levada ao conhecimento

da autoridade pelo próprio ofendido ou seu representante,

denominando-se agora delatio criminis, que é simples ou

postulatória.

E assevera ainda:

Chegando, por qualquer dessas formas, ao conhecimento da

Policia a existência de infração penal, deverá ela agir, de acordo

com o art. 6º. Não tem o inquérito rito estabelecido em lei, porém,

esta cuidou, no citado dispositivo, de indicar as diligências que de

ordinário devem ser efetuadas. Visam elas a que a autoridade

possa colher ao vivo os elementos da infração, devendo por isso

agir com presteza, antes que se mude o estado das coisas no

local do crime ou desapareçam armas, instrumentos ou objetos do

delito, enfim, colhendo as provas que sirvam para elucidação do

fato e suas circunstâncias, consoante os incs. I, II e III do aludido

art. 6º.

Dá-se o procedimento no inquérito policial conforme o

diploma processual penal, caso não seja entendido que não houve crime, deverá

ser arquivado o inquérito sem que haja ação penal, conforme entendimento dos

autores mencionados.

1.5ATOS DO INQUÉRITO POLICIAL

No Inquérito policial serão realizados atos necessários à

investigação dos fatos delituosos, sempre registrados, que depois de concluído,

será feito um relatório minucioso de tudo que foi apurado com as diligências

ocorridas no curso da investigação, e em seguida, enviado ao juiz competente.

23

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Dispõe o artigo 6º do diploma processual penal que logo que

tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:

I – dirigir-se ao local, providenciando para que não se

alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;

II – apreender os objetos que tiverem relação com o fato,

após liberados pelos peritos criminais;

III – colher todas as provas que servirem para o

esclarecimento do fato e suas circunstâncias;

IV – ouvir o ofendido;

V – ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável,

do disposto no Capítulo III do Título VII, deste livro, devendo o respectivo termo

ser assinado por 2 (duas) testemunhas que lhe tenham ouvido a leitura;

VI – proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a

acareações;

VII – determinar, se o for caso, que se proceda a exame de

corpo de delito e a quaisquer outras perícias;

VIII – ordenar a identificação do indiciado pelo processo

datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;

IX – averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de

vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de

ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que

contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.

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Tornaghi42 explica que o caráter inquisitório está inserido no

inquérito policial, isso significa que:

a) a autoridade policial enfaixa nas mãos todo poder de direção;

b) deve ela assegurar o sigilo necessário à elucidação do fato ou

exigido pelo interesse da sociedade (art. 20); c) o indiciado pode

ser mantido incomunicável, até por três dias, quando o interesse

da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir (art. 21).

Cabe aqui, entretanto, uma observação. Originariamente, lei

posterior abriu exceção ao poder da autoridade que preside ao

inquérito, dispondo que essa apenas requer ao juiz, ao qual cabe

decretá-la ou não. Também o Ministério público pode solicitá-la ao

juiz. O decreto de incomunicabilidade deve ser fundamentado; d)

nos atestados de antecedentes não será mencionada a

instauração de qualquer inquérito, salvo se já houver condenação

(parágrafo único do art. 20). e) na fase policial não existe ainda

acusação contra ninguém. Essa virá mais tarde por ato do

Ministério Público (denúncia, nos crimes de ação pública) ou do

ofendido (queixa, nos de ação privada). Conseqüentemente

também a defesa não se faz no inquérito. Esse é mera apuração

de fatos.

Não obstante, o art. 14 do Código de Processo Penal assim

dispõe: “o ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer

qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade”.

Já o art. 15 do Código de Processo Penal dispõe: “Se o

indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador pela autoridade policial”

Assevera Tornaghi43 que:

42 TORNAGHI, Hélio. Curso de processo penal. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 1987, p. 31.43 TORNAGHI, Hélio. Curso de processo penal. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 1987, p. 31.

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Se, por um lado, a lei nova buscou dar ao indiciado maiores

garantias, por outro ela frustrou a sociedade: o pedido ao juiz e o

atendimento por ele não são instantâneos; algumas vezes são

demorados, por uma burocracia cheia de peias, de entraves. No

meio tempo entre o pedido e a concessão o indiciado dá

instruções a parentes, a comparsas, manda destruir os vestígios

do crime, esconder os objetos ligados a ele, persuadir as

testemunhas, enfim, desfazer a prova e, eventualmente,

assegurar-se os preventos da infração. Leis como essa é que

obrigam as autoridades policiais a tangenciá-las para não

desamparar os homens de bem e a Justiça, e levam os juizes a

fechar os olhos a certas ilegalidades. Até mesmo a Lei de 23 de

maio de 1821, base das liberdades civis no Brasil, permitia a

“incomunicabilidade dos delinqüentes”, contando que fosse “em

casas arejadas e cômodas, e nunca manietados ou sofrendo

qualquer espécie de tormento”. Observe-se que o art. 89. III, da

Lei n. 4.215 (Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil)

assegura aos patronos o direito de “comunicar-se pessoal e

reservadamente com os seus clientes, ainda quando estes se

achem presos ou detidos em estabelecimento civil ou militar,

mesmo incomunicáveis”.

Mirabete44 descreve os procedimentos do inquérito policial:

Embora o inquérito policial seja um procedimento investigatório

em que não há um rito formal nem uma ordem prefixada para as

diligências e atos que devem ser realizados, o art. 6º indica as

diligências a que, regra geral, a autoridade deve proceder para

colher ao vivo os elementos da infração a fim de elucidar o crime

e sua autoria.

Vários são os modos de diligências para se chegar ao autor

de uma infração penal como arrolado anteriormente, portanto, o poder público tem

44 MIRABETE, Julio fabrini. Processo penal. São Paulo: Atlas, 2006, p. 102.

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em mãos a discricionariedade para agir como manda a Constituição Federal de

88. No curso das investigações o indiciado fica preso ao enunciado da lei, não

sendo possível o contraditório.

1.5.1Características

1.5.1.1Forma escrita

O inquérito policial tem seu procedimento de forma escrita,

onde a autoridade policial irá buscar elementos para em seguida, fazer um

minucioso relatório sobre tudo o que ocorreu no fato criminoso.

Ordena o Artigo 9˚ do Código de Processo Penal que “Todas

as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou

datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade”.

Mehmeri45 ensina que:

Foi sábio o legislador quando exigiu, no art. 9.˚ do Código

Processual, que o inquérito policial fosse, todo ele, reduzido à

forma escrita, seja pelo manuscrito ou pela datilografia. O

procedimento oral se ajustaria melhor ao sistema contraditório,

porque promove exposições em relatório e dirá de sua decisão.

Confiar esse comportamento à autoridade policial seria incorrer no

risco de ficarem os acusados à mercê da memória e da

imparcialidade do inquiridor, que, concluídas as investigações,

diria com palavras próprias o que resultou dos trabalhos. O que o

inquérito policial ganharia em rapidez, perderia em segurança

para a coletividade.

Na doutrina de Silva Junior46, vem especificado que:

45 MEHMERI, Adilson. Inquérito policial dinâmica, São Paulo: Saraiva, 1992, p. 38.

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O inquérito policial é um procedimento escrita e, serve como base

para eventual propositura de uma ação penal, razão pela qual é,

ele, pré-processual. Nesse sentido pré-processual, é o inquérito

um procedimento preliminar ou preparatório da ação penal.

E esclarece ainda que:

A vítima ou ofendido, poderá comunicar a pratica de uma pena

através de um requerimento, ou mesmo oralmente, sendo que tal

comunicação poderá ser singela ou acompanhada de um pedido

de providência. Quando a vítima somente faz a comunicação,

denomina-se delitio criminis simples, e quando a comunicação

vem acompanhada de um pedido de providência, ou seja, além de

comunicar a infração penal, a vítima também pede que seja

tomada uma providência relativamente ao delito noticiado,

denomina-se delatio criminis postulatória.

Adverte Barbosa47 que:

Vê-se que não há regras indeclináveis para a forma dos atos do

inquérito. A preocupação que deve nortear a autoridade policial é

a de procurar elementos no sentido de comprovar a materialidade

da infração, elucidando a respectiva autoria. À medida em que as

diligências vão se realizando, deverão elas ser reduzidas a

escrito, vale dizer, documentadas. As peças, assim elaboradas,

serão enfeixadas nos autos do inquérito. Como peça final, deverá

ser elaborada, pela autoridade policial, um minucioso relatório do

que foi apurado.

46 SILVA JUNIOR, Euclides Ferreira da. Curso de direito processual penal. São Paulo: Ed. Oliveira Mendes, 1997, p. 38-39.

47 BARBOSA, Manoel Messias. Inquérito policial doutrina, pratica, jurisprudência. 4. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Método, 2004. p. 30

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Ensina Mirabete48 que:

O inquérito policial é um procedimento escrito, já que destinado a

fornecer elementos ao titular da ação penal. Dispõe o art. 9º do

Código de Processo Penal que “todas as peças do inquérito

policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou

datilografadas e, neste caso, rubricadas pelas autoridades”.

Embora não esteja sujeito a formas indeclináveis, como pode

servir de base para a comprovação da materialidade do delito, a

decretação da prisão preventiva etc., exige-se algum rigor formal

da peça investigatória nas hipóteses do interrogatório, art. 6º, V,

da prisão em flagrante.

Nogueira49 entende que:

Como se vê, o Juizado Especial Criminal trouxe uma valiosa

contribuição à causa da justiça, permitindo a eliminação tanto do

inquérito policial, substituído pelo termo ou boletim

circunstanciado, quanto do processo-crime, com suas

formalidades ou nulidades, que procrastinavam e emperravam o

andamento, contribuindo para o descrédito na justiça por parte da

opinião pública.

No entendimento dos doutrinadores anteriormente citados, a

Lei exige que o procedimento no inquérito policial, na peça que dá início a ação

penal privada e no requerimento do ofendido, seja de forma escrita, pelo fato de

que quando finalizado todos os atos, estes se juntam com documentos formando

os autos da peça acusatória.

48 MIRABETE, Julio fabrini. Processo penal. São Paulo: Atlas, 2006. p. 6149 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Curso completo de processo penal. 11ª ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 62.

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1.5.1.2Sigilo

É resguardado o sigilo no curso do inquérito, para que seja

realizado com eficácia toda a investigação policial. Com isso, é importante que

não vaze nenhuma informação acerca dos fatos, para que a pessoa que está

sendo investigada, não venha a sofrer constrangimento caso não seja o autor do

fato. Exceto ao advogado que mesmo sem procuração, poderá acompanhar o

andamento do processo.

Art. 20 – A autoridade assegurará no inquérito o sigilo

necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.

Esclarece Mirabete50 que:

O inquérito policial é ainda sigiloso, qualidade necessária a que

possa a autoridade policial providenciar as diligências necessárias

para a completa elucidação do fato sem que se lhe oponham, no

caminho, empecilhos para impedir ou dificultar a colheita de

informações com ocultação ou destruição de provas, influências

sobre testemunhas etc.

Observa Pedroso51:

O caráter inquisitivo do inquérito deve ser preservado, para que

dessa sua natureza decorra, como consectário lógico e sempre

que necessário à elucidação do fato ou à conveniência da

sociedade, o sigilo das investigações. E justifica-se o sigilo do

inquérito.

50 MIRABETE, Julio fabrini. Processo penal. São Paulo: Atlas, 2006, p. 61.51 PEDROSO, Fernando de Almeida. Processo penal o direito de defesa repercussão, amplitude e limites. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994, p. 57.

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O sigilo está divido em externo e interno, o primeiro diz

respeito da publicidade dos atos das investigações, tendo em vista, a população e

o segundo, o impedimento que tem o investigado em saber quais diligências

estão sendo feitas e as que estão por vir.

Bonfim52 explica que

Por um lado, é garantido ao advogado, por força do art. 7º, XIV,

da Lei n. 8.904/94 (Estatuto da Advocacia), o direito de “examinar

em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de

flagrantes e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que

conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar

apontamentos”. Por outro, é evidente que a eficácia de algumas

diligências depende do sigilo. Com efeito, a lei expressamente

admite a realização de determinadas diligências que excluem, por

sua própria essência, a possibilidade de que sejam

acompanhadas pelo réu ou por seu advogado.

Assim observa Barbosa53:

O indiciado, enquanto objeto da ação investigatória, deve ser

protegido, para que não ocorra o seu aniquilamento moral ou

material pelo sistema repressivo. O sigilo dos atos investigatórios

precisa ser mantido, quando necessário, pois, se não o for,

interferências estranhas podem impedir ou dificultar a busca da

verdade, ficando a sociedade desprotegida em decorrência de um

falso conceito de liberdade. De nada valerá a conclusão de que a

polícia pode ser discricionária, se estiver assegurada ao suspeito

a sua interferência nos autos do inquérito policial.

E conclui:

52 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 105.53 BARBOSA, Manoel Messias. Inquérito policial doutrina, pratica, jurisprudência. 4. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Método, 2004. p. 42-43.

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Conforme prevê a leitura do art. 20, do Código de Processo Penal,

a autoridade policial deve proceder as investigações sem alarde,

em absoluto sigilo, para evitar que a divulgação do fato criminoso

possa levar desassossego a comunidade. Vale afirmar que na

fase inquisitorial não vigoram os princípios constitucionais do

contraditório da ampla defesa. Tem por objetivo somente apurar a

existência ou não de elementos suficientes para dar início à

persecução penal. E o direito do advogado a ter acesso aos autos

do inquérito não é absoluto, devendo ceder diante da necessidade

do sigilo da investigação, devidamente justificada na espécie.

No mesmo norte segue Vinicius Nogueira54

Outra característica do inquérito policial é a sigilosidade. O sigilo,

todavia, não se estende ao Ministério Público e ao poder

Judiciário, que podem acompanhar a investigação criminal. O

Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, permite que o

advogado do indiciado tenha acesso ao inquérito policial, podendo

manusear, consultar os autos, salvo em caso de decretação de

segredo de justiça, ato que desautoriza o acompanhamento dos

atos procedimentais pelo advogado. (Artigo 7o, XIV, da Lei nº

8.906/94 – "examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem

procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em

andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar

peças e tomar apontamentos;")

Fernandes Filhos55 explica que:

A divulgação precipitada de fatos ainda sendo investigados

poderá ser prejudicial à sua completa elucidação e em outros

54 JORGE, Higor Vinicius Nogueira. A processualização do inquérito policial. É possível o contraditório no inquérito? Jus Navegandi, Teresina, ano 8, n. 471, 21 out. 2004. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5840. Acesso em: 15 jan 2008.55 FILHOS, Sólon Fernandes. O inquérito judicial e sua indagação. Mp.sp. http://www.mp.sp.gov.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_publigacao_divulgacao/doc_gra_dout_crim/crime%2032.pdf. Acesso em: 15 jan 2008.

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casos, a divulgação dos mesmos pode causar danos seríssimos à

tranqüilidade pública e, por isso, às vezes, o interesse da

sociedade clama pelo sigilo. O sigilo não permanece porém, o

membro do Parquet ou para a autoridade judiciária (juiz). O

advogado tem acesso aos autos, com exceção de quando seja

decretado judicialmente o sigilo das investigações. Durante o

transcorrer do inquérito policial, não há efetivamente nenhuma

acusação por parte do Estado. Busca-se a colheita de provas que

à comprovação do ilícito e de seu possível autor. Outro motivo ao

qual se caracteriza o inquérito policial pelo sigilo é que, por não se

ter certeza da autoria e do fato ilícito, a divulgação de fatos

acusatórios poderá atingir pessoas que, posteriormente, não

sejam autores ou partícipes dos ilícitos penais em apuração,

causando-lhe danos às vezes de difícil reparação.

É importante o sigilo nas investigações, no que tange ao

vazamento de informações, para que não sejam atrapalhadas as investigações,

mesmo porquê não se trata de ação penal, mas sim de uma peça investigativa,

para que a polícia judiciária forme entendimento acerca dos fatos. Assim entende

os doutrinadores mencionados anteriormente.

1.5.1.3Discricionariedade

O ato da discricionariedade consiste em ter o delegado que

preside o inquérito policial, poder para realizar quaisquer diligências que se achar

necessário, para desvendar tudo àquilo que cerca o delito, ou seja, obscuridades,

contradições e testemunhas que possam contribuir para desenrolá-lo do fato

investigado.

Conceitua Bonfim56:

56 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 103-104.

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À autoridade policial não é permitido arquivar o inquérito que

presidir. Entretanto, a escolha das diligências investigatórias a

serem realizadas no curso do inquérito é discricionária da

autoridade. O delegado de polícia, assim, efetivamente conduzirá

o trabalho investigatório, ordenando a realização das diligências

que julgar necessárias à apuração da infração penal.

Entretanto adverte o autor para uma restrição que tem o

advogado:

O delegado de polícia deverá, no entanto, realizar as diligências

requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público (art. 13, II, do

Código de Processo Penal). Não estará a autoridade policial,

contudo, obrigada a realizar as diligências requeridas pelo

indiciado, pelo ofendido ou pelo representante legal deste último

(art. 14 do Código de Processo Penal).

No que tange a discricionariedade, Marques citado por

Mirabete57 ensina que:

As atribuições concedidas à polícia no inquérito policial são de

caráter discricionário, ou seja, têm elas a faculdade de operar ou

deixar de operar, dentro, porém de um campo cujos limites são

fixados estritamente pelo direito.

A grande maioria dos entendimentos doutrinários colhidos

anteriormente, à luz do inquérito policial, deixa cristalina a forma de agir para

desvendar o ato tipificado no Código Penal ou em lei penal esparsas e qual a

contribuição que a Polícia Judiciária pode dar ao Ministério Público.

57 MIRABETE, Julio fabrini. Processo penal. São Paulo: Atlas, 2006, p. 61.

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1.6PRAZOS DO INQUÉRITO POLICIAL

O inquérito policial tem um prazo para que seja concluído

estando o indiciado preso ou estando em liberdade. Entretanto, as diligências que

são feitas no entorno das investigações, podem avançar além do tempo

estabelecido em lei.

Dispõe o artigo 10 caput e seguintes do diploma processual

penal que:

“O inquérito deve terminar no prazo de 10 (dez) dias, caso o

indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, ou no

prazo de 30 (trinta) dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela”.

Ordena o Código de Processo Penal em seu art. 10, § 3˚

que:

“Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver

solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores

diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz”.

Mehmeri58 salienta que:

Sabe-se que o prazo para conclusão do inquérito é

exageradamente exíguo, após cuja transposição gera o direito de

obtenção do habeas corpus. Assim, o desejo de protrair os

trabalhos policiais pode ser tentador, e não haveria melhor

instrumento de garantia desse desígnio que o requerimento de

diligências, sem qualquer resultado prático na busca da verdade.

E pondera observando que:58 MEHMERI, Adilson. Inquérito policial dinâmica, São Paulo: Saraiva, 1992, p. 453.

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Contra essa possível manobra pode a autoridade agir indeferindo

o pedido, mas é sempre bom relembrar que essa faculdade, como

qualquer outra concedida em lei, não pode ser desfundada, para

não se travestir de arbítrio ou abuso do poder.

Lima59 assevera ao observar que:

Podemos concluir que, estando toda a legislação citada em plena

validade, os prazos para conclusão de inquérito policial prendem-

se à natureza do crime praticado. Não podemos, entretanto,

deixar de citar que, conhecendo os magistrados a importância da

manutenção do indiciado preso, em determinados casos que

justificam a constrição cautelar, estão formando jurisprudência, no

sentido de que a contagem de prazo para relaxamento de prisão

não pode ser feita isoladamente, e sim quando o Estado esgotar o

seu direito em manter uma pessoa presa, sem sentença

condenatória. É o que ocorre nos crimes comuns, onde o Estado

dispõe de oitenta e um dias, computados entre inquisitório e a

formação de culpa durante o processo, sem levar em conta o

período que o acusado ficou com sua liberdade restringida em

decorrência de prisão temporária.

O prazo para que o inquérito seja concluído, deve ser

cumprido como manda o caderno processual penal, principalmente se o réu

encontrar-se preso. O fato é que com o indiciado preso em demasia, há uma

afronta ao principio da presunção de inocência como fora mencionado pelos

autores citados.

No próximo capitulo será analisado o direito de defesa

juntamente com os princípios processuais penais e suas atribuições no âmbito

constitucional e processual penal.

59Lima, Arnaldo Siqueira. Prazos para conclusão de inquérito policial. www.geocities.com/CollegePark/Lab/7698/dp15.htm. Acesso em 07 mai. 2008.

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CAPÍTULO 2

O DIREITO DE DEFESA

1.7BREVE INTRODUÇÃO AOS PRINCÍPIOS E GARANTIAS

CONSTITUCIONAIS ATINENTES AO PROCESSO PENAL

Os princípios e as garantias constitucionais são institutos

que dão sustentação aos direitos e deveres dos cidadãos. Na percepção de

Yacobucci60, princípio tem o seguinte significado: “de sua origem etimológica,

temos que, do latim, principium, compõe-se de duas idéias: a de primus,

“primeiro”, e a de cipium, que provém de capio, significando pegar ou considerar”.

Quanto às garantias, assevera Bonfim61:

Para efeito didático e visando o conceito mais condizente com a

doutrina brasileira, entendemos os princípios do processo penal –

ou princípios informativos do processo penal – como aquelas

normas que, por sua generalidade de abrangência, irradiam-se

por todo o ordenamento jurídico, informando e norteando a

aplicação e a interpretação das demais normas de direito, ao

mesmo tempo em que conferem unidade ao sistema normativo e,

60 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 34.61 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 34-35.

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em alguns casos, diante da inexistência de regras, resolvendo

diretamente os conflitos. Destarte, quando tais normas (princípios)

conferem garantias de cunho fundamental (direitos fundamentais)

aos jurisdicionados, alude-se então às garantias fundamentais,

que, em sede de processo penal, configuram as garantias

processuais. Bem se vê, daí, o diálogo constante e a difícil

separação da expressão “princípios” e “garantias”.

Almeida Júnior62 ressalta que:

O primeiro interesse individual é a segurança da ordem social,

porque o indivíduo não pode conservar-se e aperfeiçoar-se fora

da sociedade; o primeiro interesse da sociedade é a segurança

individual, porque a sociedade nada mais é do que a coexistência

dos indivíduos. Esses dois interesses igualmente sagrados,

igualmente poderosos, exigem garantias formais: o interesse da

sociedade, que quer a justa e pronta repressão dos delitos; o

interesse do acusado, que também é um interesse social e que

exige a plenitude de defesa.

Numa visão progressista, Choukr63 analisa as garantias

constitucionais na investigação criminal:

Colocada a proposta nesses termos, a inserção das garantias

constitucionais desde logo na investigação criminal, naquilo que

for possível e adequado à sua natureza e finalidade, aparece

como um “passo adiante” na construção de um processo penal

garantidor, entendida esta expressão como sendo o arcabouço

instrumental penal uma forma básica de proteção da liberdade

individual contra o arbítrio do Estado.

62 ALMEIDA JÚNIOR, João Mendes. O processo criminal brasileiro. 3 ed. aum. Rio de Janeiro: Tipografia Batista de Souza, 1920, p. 7-8.63 CHOUKR, Fauzi Hassan. Garantias constitucionais na investigação criminal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 24.

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Entende Edwards64 citado por Saad que “a presença do

defensor garante o assessoramento técnico e, por outro lado, verifica o controle

de legalidade do ato, zelando pelo respeito a direitos e garantias do acusado”.

E continua:

O País de hoje não é o mesmo daquele de 1941, a Constituição

não é mais aquela de 1937. Felizmente, inúmeras leis desde

então vêm modificando o Código de Processo Penal tentando

adequá-lo ao máximo aos princípios que norteiam o verdadeiro

Estado democrático de Direito. Até porque a Constituição de 1946

adotou, muito claramente, os princípios do contraditório, do devido

processo legal e da ampla defesa. Manteve o habeas corpus,

restaurou a soberania do Júri. Portanto, não é razoável dizer que

o Código de Processo Penal, por meio do qual subsistem os

ideais do Estado Novo, permanece inalterado em seus princípios

fundamentais. Sendo todos esses princípios mantidos pela atual

Constituição Federal de 1988.

Mendes Júnior citado por Marques65 enfatiza que:

O processo penal tem seus princípios fundamentalmente

consagrados nas Constituições políticas, as “Leis do processo são

os complementos necessários das leis constitucionais” e “as

formalidades do processo, por sua vez, as atualidades das

garantias constitucionais”.

O processo penal do ponto de vista de uma contenda entre

partes, implica o integral repúdio da forma inquisitiva de procedimento, e no

reconhecer, outrossim, que o acusado não é apenas objeto de investigações, mas

64 SAAD, Marta. O direito de defesa no inquérito policial. São Paulo: RT, 2004, p. 285.65 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. 2 ed. Campinas: Millennium, 2000, p. 167.

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também sujeito de direitos, ônus, deveres e obrigações dentro do procedimento

destinado a apurar da procedência ou não da pretensão punitiva do Estado.

Lopes66 assim preceitua os princípios:

Aos princípios costuma-se emprestar um conjunto variado de

funções. Em primeiro lugar, sobretudo nos momentos

revolucionários, resulta saliente a sua função ordenadora. As

revoluções, no mais das vezes, são feitas em nome de poucos

princípios, a partir dos quais, ao depois, extrair-se-ão os preceitos

que, mais direta e concretamente, refletirão a sociedade e o

Estado. Em segundo lugar, os princípios exercem uma ação

imediata, na medida em que tenham condições para serem auto-

executáveis. Exercem, ainda, uma ação tanto em um plano

integrativo e construtivo como em um plano essencialmente

prospectivo.

Choukr67 entende que:

Na verdade, todos os princípios constitucionais que encerram

garantias processuais estão intimamente interligados entre si,

podendo tornar difícil estabelecer qual princípio é responsável por

qual garantia processual. Essa interligação quer dizer que esses

princípios formam um todo, um conjunto, uma idéia fundamental

assumida pelo legislador constituinte e que está abrigada na

Constituição em mais de um dispositivo, em mais de uma

oportunidade. Essa idéia pode ser extraída da preocupação da

Constituição em estabelecer um processo legal e justo.

No que tange aos princípios, Silveira68 entende da seguinte

forma:66 LOPES, Mauricio Antonio Ribeiro. Princípios políticos do direito penal. 2 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999, p. 118.67 CHOUKR, Fauzi Hassan. Garantias constitucionais na investigação criminal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 32.

40

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A maioria destes princípios são direitos constitucionais que

serviram de fonte para a sistematização deles. Estes princípios

estão presentes nas ações de natureza pública e/ou natureza

privada, alguns pelas próprias peculiaridades intrínsecas

aparecem somente em uma ou em outra, outros hão tanto em

uma quanto na outra.

Os princípios processuais penais, como foram vistos pelos

autores citados anteriormente, são as vigas mestras do direito processual penal,

tendo em vista o bom andamento da instrução investigatória onde o indiciado

goza da presunção da inocência. Serão analisados a seguir os princípios que

correspondentes aos direitos e deveres do indiciado juntamente com suas

garantias.

1.7.1Princípio da dignidade da pessoa humana

A Constituição Federal de 1988, elencou entre os princípios

fundamentais da República o respeito à dignidade da pessoa humana, onde são

garantidos todos os direitos daquele que está sendo alvo de investigação criminal.

A dignidade da pessoa humana.

A Constituição Federal traz em seu inciso III do artigo 1º, o

seguinte ordenamento:

Art.1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união

indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em

Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I – (...)

68 SILVEIRA, Carlos Alberto Arruda. Manual doutrinário e pratico de processo penal. Leme – SP: 1999, Editora de Direito, p. 19.

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II – (...)

III – a dignidade da pessoa humana

E no artigo 5º:

Art.5º - Todos são iguais perante a Lei, sem distinção de

qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes:

I – (...)

II – (...)

III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento

desumano ou degradante.

O insipiente e antigo sentimento de dignidade que culminou

com a Revolução Francesa e que formulou bases teóricas da volta ao sistema

acusatório e ensejou ambiente para a doutrina da relação processual, evoluiu no

princípio constitucional da dignidade que, hoje, a maioria das constituições o

abriga e consagra.

Lopes 69 tem o seguinte entendimento:

O Estado Democrático de Direito tem uma dimensão

antropocêntrica na medida em que se arrima, fundamentalmente,

na dignidade da pessoa humana, ou seja, “num ser com

dignidade, um fim e não um meio, um sujeito e não um objeto”. “A

dignidade da pessoa humana”, como valor reconhecido em nível 69 LOPES, Mauricio Antonio Ribeiro. Princípios políticos do direito penal. 2 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999, p. 242.

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constitucional, deve ser amparada pela dupla via de sua proteção

em concreto, enquanto direito subjetivo pertencente a um titular

determinado e de sua proteção, em abstrato, enquanto um bem

jurídico de superior valor e pressuposto de toda uma ordem social

justa e pacífica.

Lopes70 alerta que:

A afirmação de que a dignidade da pessoa humana é fundamento

do Estado Democrático de Direito exige compreensão, além do

sentido clássico da expressão. Dignidade não tem seu limite num

mero conceito honorífico, como pudesse o absoluto miserável,

abandonado pelo Estado, a habitar sob viadutos, alimentar-se de

restos, vestir-se de trapos, e, ainda assim, ter considerada sua

dignidade no aspecto formal.

E conclui:

À evidência que a idéia de dignidade da pessoa humana, no

sentido de um Estado Democrático de Direito, compreende status

objetivo, material, consistente no pleno acesso às condições

necessárias para promoção do sentimento pessoal de satisfação.

Esse princípio anteriormente citado, na concepção dos

doutrinadores arrolados, é o que dá suporte ao indivíduo, no que tange ao seu

valor social e moral sobre a proteção da Constituição Federal.

1.7.2Devido processo legal

Estabelece a Constituição Federal no inciso LIV do artigo 5º

que todos os cidadãos serão submetidos ao devido processo legal antes de

70 LOPES, Mauricio Antonio Ribeiro. Princípios políticos do direito penal. 2 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999, p. 249.

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qualquer sentença penal condenatória, juntamente com o contraditório e a ampla

defesa.

Art. 5º LIV – Ninguém será privado da liberdade ou de seus

bens sem o devido processo legal.

Esclarece Bueno Filho71 que:

Interessante questão surgiu com adoção explicita da regra do art.

5˚, LIV, da Constituição, que garante aos indivíduos só poderem

ser privados de sua liberdade e bens desde que observado o

devido processo legal. Quanto ao valor “liberdade”, ninguém

duvida ou ousaria afirmar prescindir a sua provação de um

processo judicial. Nem mesmo na escuridão da ditadura a tanto se

chegou. Contudo, é de se indagar se a perda patrimonial também

só pode ser determinada em processo judicial ou se basta, como

na ordem constitucional pretérita, um processo administrativo.

Descreve Capez72 que o devido processo legal:

Consiste em assegurar à pessoa o direito de não ser privada de

sua liberdade e de seus bens, sem a garantia de um processo

desenvolvido na forma que estabelece a lei (due process of law –

CF, art. 5º, LIV). No âmbito processual garante ao acusado a

plenitude de defesa, compreendendo o direito de ser ouvido, de

ser informado pessoalmente de todos os atos processuais, de ter

acesso à defesa, de ter a oportunidade de se manifestar sempre

depois da acusação e em todas as oportunidades, à publicidade e

motivação das decisões, ressalvadas as exceções legais, de ser

julgado perante o juízo competente, ao duplo grau de jurisdição, à

71 BUENO FILHO, Edgard Silveira. O direito à defesa na constituição. São Paulo: Saraiva, 1994, 45-46.72 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 32-33.

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revisão criminal e à imutabilidade das decisões favoráveis

transitadas em julgado.

Entende Mirabete73 que:

O fim originariamente visado pelo princípio era o da proteção

individual, por meio de uma limitação posta ao poder, mas hoje

entende que é uma cláusula aberta, indeterminada, mas não vazia

de conteúdo, dela defluindo vários princípios que a jurisprudência,

atendendo a sua origem, evolução e finalidade, vai reconhecendo

e aplicando aos casos concretos. Mais do que uma simples regra

de obediência à lei processual para a aplicação de sanções, a

cláusula do devido processo legal abriga dois pontos principais.

Assim descreve a Jurisprudência no entendimento de Silva

Franco74 acerca do devido processo legal:

73 MIRABETE, Julio fabrini. Processo penal. São Paulo: Atlas, 2006, p. 7.74 TRF-1.ª R. – 4. ª T. – HC 2001.01.00.038310-4 – Rel. Fioravanti Sabo Mendes – j. 18.12.2001 – JSTJ e TRF-LEX 155/442A cláusula do devido processo legal, ao se dirigir ao feixe de princípios incidentes no campo do direito criminal (material ou processual), recebe a denominação de “devido processo legal penal” ou, apenas, “devido processo penal”. Na esfera penal, como também ocorre com o campo não-penal, muito embora o conteúdo procedimental daquela cláusula ganhe maior relevância, até mesmo como forma de garantir a vigência e validade dos demais princípios constitucionais do processo (p. ex., ampla defesa, contraditório, presunção de não culpabilidade e presunção de inocência, inadmissibilidade das provas ilícitas, juiz natural, motivação dos atos judiciais entre outros), não se pode deixar de reconhecer vários momentos em que o aspecto material do devido processo penal já demonstrou sua utilidade. Assim ocorreu, p. ex., quando da edição da Lei 10.259/2001, que instituiu os Juizados Especiais Federais. Nossos Tribunais, influenciados, explícita ou implicitamente, pelo princípio do devido processo legal em seu aspecto material, aplicaram o novo conceito de infração de menor potencial ofensivo definido no parágrafo único, do art. 2.˚, daquela lei, também para os crimes de competência dos Juizados Estaduais. Desprezou-se, por violar preceitos maiores de igualdade (art. 5.˚, caput, da CF) e de proporcionalidade, a “formal e normativa” restrição da aplicação daquele novo e ampliado conceito de crimes de competência federal, conforme, em uma primeira leitura, poderia fazer supor o caput do referido art. 20 da Lei 10.259/2001. FRANCO, Alberto Silva. Código de processo penal e sua interpretação jurisprudencial. 2. ed. rev. Atual e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004, p. 241.

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Processo penal. Habeas corpus. Nulidade. Citação editalícia. Réu

com endereço no exterior: carta rogatória. Violação ao princípio do

devido processo legal. Concessão da ordem. Ausência de

questão fática. Questão de ordem rejeitada. – “A citação por edital

é medida excepcional, cabível apenas quando esgotados, sem

sucesso, as demais formas de citação. Tendo o réu, ora paciente,

endereço no exterior, deve ele ser citado por meio de carta

rogatória, por aplicação do art. 386, do CPP. A citação por edital,

antes de tentada a citação por carta rogatória, conduz à nulidade

da citação editalícia e de todos os atos processuais que lhe sejam

subseqüentes. Estando configurada hipótese de violação ao

princípio constitucional do devido processo legal devem ser

considerados nulos a citação editalícia do acusado, ora paciente,

e todos os que lhe sucederam. Habeas corpus concedido”. (TRF-

1.ª R. – 4. ª T. – HC 2001.01.00.038310-4 – Rel. Fioravanti Sabo

Mendes – j. 18.12.2001 – JSTJ e TRF-LEX 155/442).

Discorre Lopes75 acerca do devido processo legal:

Se o elemento norteador da utilidade do principio é a tutela do

direito de defesa, como pretendem os processualistas, mormente

no campo das interferências do Estado em direção à liberdade

individual do acusado, quer nos parecer que muito mais

justificável se torna a necessidade da garantia se ela for anterior à

persecução iniciada pelo Estado. A exigência da law of the land

tinha desde sua primeira investidura essa dupla conotação.

Determinou a fixação de um sistema mínimo de garantias ao

exercício do direito de defesa dos acusados.

Estabelece claramente a Constituição que todos os cidadãos

têm o direito ao devido processo legal e ninguém poderá ser condenado sem que

75 LOPES, Mauricio Antonio Ribeiro. Princípios políticos do direito penal. 2 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999. p 160.

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antes seja feito todos os atos processuais estabelecidos pela legislação

pertinente. É pacífico o entendimento dos doutrinadores citados a priori.

1.7.3Princípio da presunção de inocência

O princípio da presunção de inocência no inquérito policial,

salvo confissão do indiciado, é a maior garantia que o indivíduo tem, até que se

prove em contrário à culpa do agente.

Este princípio vem esboçado no inciso LVII do artigo 5º da

Magna Carta onde esclarece que:

Art. 5º - LVII. Ninguém será considerado culpado até o

trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

Colhe-se da Jurisprudência76 o seguinte enunciado:

Inexistência de ameaça à ordem pública ou de embaraços à

instrução criminal. – “Não serve a prisão preventiva à punição sem

processo, mesmo considerada a extrema gravidade do crime

imputado, porque terminaria pondo em sacrifício desmedido o

princípio constitucional da presunção de inocência, segundo o

qual ‘ninguém será considerado culpado ate trânsito em julgado

de sentença penal acusatória’ (art. 5.˚, LVII, da Carta Magna),

além daquele outro princípio que garante ao acusado o devido

processo legal. A prisão preventiva há de ser adotada com

parcimônia, para que não se termine por impor ao paciente, desde

logo, uma sentença apenadora. Por outro prisma, a ordem pública

não se encontra seriamente ameaçada, tampouco a liberdade do

paciente irá desservir a instrução criminal. Tanto que, para apurar

a responsabilidade criminal do paciente, foi instaurado inquérito

policial, não havendo notícia de que tenha criado embaraçosa

76 TRF 2.ª R. – 2. ª T. – HC 98.02.42263-0 – j. 16.12.1998 – Rel. Castro Aguiar – DJU 20.04.1999.

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apuração dos fatos, ademais, também entendo que, mesmo

considerada a magnitude da infração, isto não bastaria, por si só,

para legitimar prisão preventiva, uma vez que já transcorreu

instrução criminal, não podendo mais interferir na apuração dos

fatos” (TRF 2.ª R. – 2. ª T. – HC 98.02.42263-0 – j. 16.12.1998 –

Rel. Castro Aguiar – DJU 20.04.1999).

Salienta Choukr77 que:

Para a investigação criminal, a garantia da presunção de

inocência estará intimamente ligada ao tema dos denominados

“maus antecedentes”, sendo forçoso perquirir como se coloca a

questão diante da mera existência de investigação em

andamento. O termo em questão vem encontrando dificuldades

de sistematização no direito pátrio, dada sua alocação no direito

substantivo e no instrumental.

Este princípio é o que mantêm o indiciado com a esperança

de não ser processado por uma ação penal condenatória, tendo em vista que não

lhe cabe provar sua inocência. A doutrina é predominante no sentido de que a

garantia do indiciado, além de outros princípios, é o da presunção de inocência.

1.7.4Princípio da verdade real

Consiste na averiguação e que na descoberta de um fato

tido como crime, por obrigação do Estado, busca-se o autor do fato e o desenrolar

do ato delituoso. Somente através da verdade real que o Ministério Público se

manifesta na denúncia levada ao Juiz competente.

Assevera Silveira78 que:

77 CHOUKR, Fauzi Hassan. Garantias constitucionais na investigação criminal, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 39.

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Todos os meios de provas são admitidos para apurar a verdade

dos fatos. As provas têm igual valor relativo, cabe ao juiz a livre

investigação, pois julgará de acordo com sua persuasão racional,

ou seja, está livre para firmar seu convencimento sobre as provas

produzidas e, assim, decidir o mérito da causa.

Discorre Capez79 que:

Característico do processo penal, dado o caráter público do direito

material sub judice, excludente da autonomia privada. Só

excepcionalmente o juiz se curva diante da verdade formal,

quando não disponha de meios para assegurar a verdade real,

como no caso da absolvição por insuficiência de provas (CPP, art.

386, VI). É dever do magistrado superar a desidiosa iniciativa das

partes na colheita de material probatório, esgotando todas as

possibilidades para alcançar a verdade real dos fatos, como

fundamento da sentença. Por óbvio, é inegável que mesmo nos

sistemas em que vigora a livre investigação das provas, a verdade

alcançada será sempre formal, porquanto “o que não está nos

autos, não está no mundo”.

No inquérito policial busca-se pelo descobrimento do autor

do fato delituoso, e a verdade do crime praticado. A verdade real consta nos autos

da ação penal, como entendem os autores mencionados.

78 SILVEIRA, Carlos Alberto Arruda. Manual doutrinário e pratico de processo penal. Leme – SP: 1999, Editora de Direito, p. 19.79 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 22-23.

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1.7.5Principio da vedação das provas ilícitas

As provas ilícitas são tratadas pela Constituição de 88, como

sendo ilegítimas na elucidação do fato criminoso, e conseqüentemente vedado

sem a devida autorização judicial, ou seja, todas as provas a serem produzidas a

priori sem o conhecimento do magistrado, não terá validade no processo.

Art. 5º LVI – “São inadmissíveis, no processo, as provas

obtidas por meios ilícitos”.

O doutrinador Avolio80 esclarece sobre provas admissíveis e

inadmissíveis:

Numa fase preambular, onde o tema das provas ilícitas mereceu,

pela primeira vez, a atenção dos juristas, o condicionamento aos

dogmas do “livre convencimento” e da “verdade real” fazia com

que um eventual balanceamento dos interesses em jogo

pendesse, inequivocamente, em favor do princípio da investigação

da verdade, ainda que baseada em meios ilícitos. Embora

partindo de pressupostos diversos, as teorias englobadas sob a

rubrica da admissibilidade das provas ilícitas postulam a sua

utilizabilidade no processo, reservando ao infrator as sanções

cabíveis. Inutilizáveis no processo, seriam somente as provas que

a própria lei processual proscreve.

No que tange a provas inadmissíveis, o autor explica que:

Nota-se na enunciação dos fundamentos em prol da

admissibilidade das provas ilícitas, mormente naqueles referidos a

princípio, um exacerbado apego à busca da verdade real, e,

paralelamente, uma incipiente consciência dos valores atinentes

80 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas ilícitas: interceptações telefônicas, ambientais e gravações clandestinas. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, p. 44-45.

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às liberdades públicas. Esta visão privatística dos direitos e das

provas é expressão da ordem de valores da época, e assim se

reflete, portanto, nos primeiros pronunciamentos judiciais sobre as

provas ilicitamente obtidas. Observa-se, outrossim, na evolução

dos diversos ordenamentos jurídicos, uma diversidade de critérios

na fixação das regras de exclusão, que se prende,

inequivocamente, às peculiaridades inerentes às famílias jurídicas,

aqui limitadas às da civil law e da common law.

Observa Tourinho Filho81 que:

Até o advento da Constituição de 1988 não havia, em nosso país,

qualquer regra impeditiva de se produzir em juízo “prova obtida

através de transgressões a normas de direito material”. Apenas o

art. 233 do CPP. Agora, contudo, toda e qualquer prova obtida por

meios ilícitos não será admitida em juízo. É como soa o inc. LVI

do art. 5.º da Constituição de outubro de 1988. Assim, uma busca

e apreensão ao arrepio da lei, uma audição de conversa privada

por interferência mecânica de telefone, microgravadores

dissimulados, uma interceptação telefônica, uma gravação de

conversa, uma fotografia de pessoa ou pessoas em seu círculo

íntimo, uma confissão obtida por meios condenáveis, como o

famoso “pau-de-arara”, o “lie detector” e, enfim, toda e qualquer

prova obtida ilicitamente, seja em afronta à Constituição, seja e,

desrespeito ao direito material ou processual, não será admitida

em juízo. Trata-se de uma demonstração de respeito não só à

dignidade humana como também à seriedade da Justiça e ao

ordenamento jurídico.

Descreve Capez82 que:

Provas ilícitas são aquelas produzidas com violação a regras de

direito material, ou seja, mediante a prática de algum ilícito penal, 81 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 58.82 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p 33.

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civil ou administrativo. Podemos citar como exemplos: a diligência

de busca e apreensão sem prévia autorização judicial ou durante

a noite; a confissão obtida mediante tortura; a interceptação

telefônica sem autorização judicial; o emprego do detector de

mentiras; as cartas particulares interceptadas por meios

criminosos (art. 233 do CPP).

As provas não autorizadas pelo juízo competente, são

consideradas provas ilícitas, pelo fato do juiz não ter certeza da veracidade da

prova produzida. Portanto, nos dizeres dos autores citados, este princípio como

visto anteriormente, veda a realização de provas sem autorização judicial.

1.7.5.1Interceptação telefônica

Para descobrir como foi o crime e seu autor, as autoridades

policiais têm inúmeros recursos que com autorização judicial, são extremamente

importantes nas realizações das diligências. É amparada pala lei 9.296/96 e a não

observância dos requisitos acarreta o crime previsto no art. 10.

Uma delas é a interceptação telefônica e Bueno Filho83

ensina que:

No regime constitucional passado, o sigilo das comunicações era

absoluto e não comportava qualquer exceção, não obstante

tenha-se chagado a entender possível a escuta telefônica para

fins investigatório, desde que autorizada por decisão judicial, com

fundamento em dispositivo do Código de Telecomunicação escrito

na vigência da Constituição de 1946. Atualmente, a Constituição

abre exceção à regra da inviolabilidade do sigilo para permitir que,

as hipóteses e na forma que a lei estabelecer, possa haver a

interceptação das comunicações telefônicas para fins de

83 BUENO FILHO, Edgard Silveira. O direito à defesa na constituição. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 57.

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investigação criminal ou instrução processual penal, por ordem

judicial.

Contribui Avolio84 com uma importante explicação acerca da

interceptação e a gravação clandestina:

O que importa, e também resulta essencial à noção de

interceptação, além do fato de a operação ter sido realizada por

alguém estranho à conversa, é que esse terceiro estivesse

investido do intuito de tomar conhecimento de circunstâncias, que,

de outra forma, lhe permaneceriam desconhecidas. Se é pelo ato

de terceiro que se concretiza a interceptação telefônica, a

hipótese de um dos interlocutores gravar a própria conversa,

limitando-se, assim, a documentar fatos conhecidos, não se

caracteriza como tal, nem se sujeita à mesma disciplina.

Denomina-se, assim, gravação clandestina, para efeito de

distingui-la, fundamentalmente, da interceptação telefônica. A

eventual divulgação da própria conversa pode caracterizar afronta

à intimidade (violação de segredo profissional, crime previsto no

art. 154 do Código Penal brasileiro). Surtirá efeitos também dentro

do processo se a violação de segredo afrontar a intimidade,

tornando, assim, ilícita a prova.

E conclui:

Por outro lado, a gravação da conversa interceptada não é,

necessariamente, elemento integrante do conceito de

interceptação. A simples escuta, desacompanhada de gravação,

pode ser objeto de prova no processo penal, desde que não

configure violação à intimidade. Assim, tanto as interceptações

como as gravações poderão ser lícitas ou ilícitas, na medida em

que obedecerem ou não aos preceitos constitucionais e legais que

84 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas ilícitas: interceptações telefônicas, ambientais e gravações clandestinas. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, p. 92-93.

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regem a meteria. E, a revelarem-se ilícitas, os seus resultados

devem ser considerados inadmissíveis (ou inutilizáveis) no

processo, e ineficazes enquanto provas.

A interceptação telefônica é um meio de se descobrir a

prática de um crime, porém, para fazer parte do bojo probatório no inquérito

policial, como entendem os doutrinadores, é necessário que o juiz autorize tal

escuta telefônica.

1.7.6Princípio da publicidade

A publicidade dos atos processuais é de suma importância,

para que o indiciado apresente sua defesa e que o mesmo não fique sem a

proteção estampada nos princípios garantidos pela Constituição Federal.

O art. 792 do Código de Processo Penal salienta que:

"As audiências, sessões e os atos processuais serão, em

regra, públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e tribunais, com assistência

dos escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e

hora certos, ou previamente designados".

Bueno Filho85 esclarece que:

Apesar da obviedade, pensamos que foi importante desta regra

no atual texto, eis que fica claro para todos que a presente ordem

jurídica repele os processos secretos bem ao gosto dos Estados

autoritários do passado e que ameaçam o nosso presente. Desse

modo, a regra no Brasil é a ampla publicidade atos processuais,

cujo objetivo está em permitir às partes o exercício da defesa pelo

85 BUENO FILHO, Edgard Silveira. O direito à defesa na constituição, São Paulo: Saraiva, 1994, p. 58.

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amplo acesso que elas têm a todos os atos neles praticados, e

assim evitar perseguições e arbitrariedades. Contudo, a restrição

não poderá atingir o interesse das partes, nem dificultar o

exercício do direito à defesa.

Tourinho Filho86 explica que:

No Direito pátrio vigora o princípio da publicidade absoluta, como

regra. As audiências, as sessões e a realização de outros atos

processuais são franqueadas ao público em geral. Qualquer

pessoa pode ir ao Fórum, sede do juízo, assistir à audição de

testemunhas, ao interrogatório do réu, aos debates. Em se

tratando de processo da competência do Júri, são impostas

algumas limitações (arts. 476, 481 e 486).

No conhecimento dos doutrinadores mencionados, o

princípio da publicidade vem consagrado no artigo anteriormente citado, de regra,

os atos processuais de uma forma geral, devem ser públicos. Exceto aqueles que

correm em segredo de justiça, e que o juiz entender seja realizado às portas

fechadas.

1.8AMPLA DEFESA

O direito a ampla defesa é efetivamente desenvolvido no

momento oportuno depois de findo o inquérito policial, iniciada a Ação Penal.

Previsto no art. 5º, LV, da Constituição da República

Federativa do Brasil, diz que:

86 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, revista e atualizada. 21.ed. São Paulo: Editora Saraiva, 1999. p. 47.

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“Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos

acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os

recursos a ela inerentes”.

Lopes Júnior87 citada por Saad ensina que:

O inquérito policial, assim como as demais formas de persecução

penal preliminar ou prévia, é fase procedimental carregada de

significado e importância, não obstante o descaso da doutrina e

mesmo dos tribunais com essa etapa da persecução penal. Nesse

específico campo, a Constituição da República vem sendo

reiteradamente interpretada de forma a restringir as garantias

constitucionais lá escancaradas.

Explica Bueno Filho88 :

De fato, só depois de uma acusação formal é que surge o direito à

defesa. Desse modo, não havendo acusado no inquérito ou na

sindicância, pois dependente da denúncia ou queixa no processo

penal e da portaria acusatória no processo administrativo, não há,

ainda como se defender. A reforçar esta tese invocamos inúmeras

decisões judiciais que desvalorizam as provas colhidas no

inquérito policial ou sindicância administrativa e inadmitem

condenações nelas fundamentais, eis que foram obtidas sem a

observância do devido processo legal, do principio do contraditório

e da ampla defesa.

87 SAAD, Marta. O direito de defesa no inquérito policial, São Paulo: RT, 2004, p. 200.Entendendo que o art. 5.˚, LV, da Constituição da República, por seu fundamento garantista, não pode ser objeto de leitura e interpretação restritiva, mas sim que o Código de Processo Penal deve, como legislação infra-constitucional, adaptar-se à Constituição. Aury Lopes Junior, Sistemas...., cit., p. 285.88 BUENO FILHO, Edgard Silveira. O direito à defesa na constituição. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 50.

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Doutrinadores como Mendes de Almeida89 entende que na

fase do inquérito policial não há necessidade de defesa:

Não sendo a atividade de investigação policial, que o inquérito

registra, destinada a servir de base à decisão da causa, é, do

ponto de vista constitucional, perfeitamente admissível que se

desenvolva sem necessidade de defesa. A autoridade policial é,

assim, puramente inquisitiva, o que lhe assegura, com a maior

liberdade de ação e a melhor oportunidade de segredo das

diligências, o necessário êxito na descoberta do fato e na

pesquisa e conservação dos meios de prova.

Há doutrinadores que entendem que não é possível o

contraditório e a ampla defesa na fase do inquérito policial, pelo fato de não existir

ação penal acusatória propriamente dita, mas sim, mera peça administrativa.

1.8.1Autodefesa e defesa técnica

A autodefesa e a defesa técnica são atributos de defesa do

acusado. O primeiro é o próprio indiciado se defendendo das acusações que lhe

são impostas em seu desfavor; a segunda é através do seu defensor ou do

defensor dativo, que usa de suas habilidades e conhecimentos jurídicos para

formular a defesa no intuito de inocentar o indiciado de culpa.

Explica Sendra90 que:

Embora a finalidade da autodefesa e da defesa técnica seja

comum, a natureza jurídica das regras, que presidem o exercício

de uma ou de outra, é diversa. “A causa da primeira estriba-se na

cominação ou vinculação do ‘direito à liberdade’, o que legitima a

89 TUCCI, Rogério Lauria. Persecução penal, prisão e liberdade. Saraiva, 1980, p. 49.90 FRANCO, Alberto Silva, Stoco, Rui. Código de processo penal e sua interpretação jurisprudencial. 2. ed. rev. Atual e ampl. São Paulo: 2004, Editora Revista dos Tribunais, p. 386.

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seu titular, isto é, ao acusado, fazer valer sua própria defesa, ora

contestando ou negando a imputação, ora guardando silêncio ou

conformando-se com a pretensão punitiva. Mas a causa a que

obedece a intervenção do defensor é distinta. Corresponde a

postulados de Direito Público, à consagração constitucional da

‘liberdade’ como ‘valor superior do ordenamento jurídico’, à

declaração da ‘inviolabilidade da defesa’ e às próprias exigências

constitucionais do devido processo. É, em definitivo, a sociedade

que impõe a necessidade de que o processado seja assistido e

defendido por um advogado”.

E finaliza:

Esta patente divergência sobre a natureza das normas relativas à

autodefesa e à defesa técnica conduz à conclusão de que a

autodefesa se traduz em um direito disponível, ou melhor,

renunciável, ao passo que a defesa técnica, máxime no Estado

Social e Democrático de Direito, não comporta qualquer tipo de

renúncia, por ser indisponível.

O entendimento jurisprudencial91 leciona que:

Defesa técnica. Defesa pessoal. – “Dois princípios incidem no

processo penal: contraditório e ampla defesa. Esta, por seu turno,

é biforme: defesa técnica e defesa pessoal. A primeira se impõe,

ainda que haja oposição do réu. A segunda pode se desprezada,

todavia, o réu tem o direito de exercê-lo; como parte processual,

querendo, tem direito à atuação”.

Ensina Grinover92 citada por Saad que:

91 STJ – Resp. – Rel. Luiz Vicente Cernicchiaro – RSTJ 75/325.92 SAAD, Marta cit. Ada Pellegrini Grinover; Antonio Scarance Fernandes e Antonio Magalhães Gomes Filho, As nulidades ..., cit., p.227.

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A autodefesa é renunciável, podendo ser exercida ou não. Com

relação à autodefesa, cumpre salientar que se compõe ela de dois

aspectos, a serem escrupulosamente observados: o direito de

audiência e o direito de presença. O primeiro traduz-se na

possibilidade de o acusado influir sobre a formação do

convencimento do juiz mediante o interrogatório. O segundo

manifesta-se pela oportunidade de tomar ele posição, a todo

momento, perante as alegações e as provas produzidas, pela

imediação com o juiz, as razões e as provas

Esclarece Andrade93 que:

A defesa técnica será, preferencialmente, elaborada por advogado

e constará de um arrazoado onde o defensor exporá,

minuciosamente, a prova recolhida no processo, analisando os

fatos apurados e a Doutrina e Jurisprudência aplicáveis à espécie,

procurando realçar os aspectos mais favoráveis ao imputado.

Explica Bonfim94 sobre a defesa técnica:

A defesa técnica é aquela exercida em nome do acusado por

advogado habilitado, constituído ou nomeado, e garante a

paridade de armas no processo diante da acusação, que, em

regra, é exercida por um órgão do Ministério Público. A defesa

técnica é indispensável. Caso o réu não possa contratar um

advogado, o juiz deverá nomear para sua defesa um advogado

dativo ou, quando possível, determinar que assuma a defesa um

defensor público. Sem isso não poderá prosseguir o processo

(arts. 261 a 264 do Código de Processo Penal).

93 ANDRADE, Wanderley. A defesa criminal. Belo Horizonte: 1995, ed. Del Rey, p. 49.94 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 43.

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Ressalva Choukr95 quanto à presença do Advogado no que

tange à defesa técnica que:

Ainda no plano investigativo já pode se fazer presente a defesa

técnica, com a presença de advogado constituído para

acompanhamento das investigações que, a teor do art. 14 do

CPP, poderá sugerir a realização de diligências que serão

realizadas ou não, a cargo da autoridade policial, sempre em

decisão fundamentada. Sem o que, o Estatuto da Ordem dos

Advogados do Brasil possibilita a consulta aos autos e o contato

direto do advogado com seu cliente com extensão do exercício

dessa garantia constitucional. Ainda que não se admita a

possibilidade interventiva constante do advogado ao longo das

investigações, sua presença serve para conferir legalidade aos

atos praticados e que tenderão à formação do convencimento do

titular da ação penal.

Como foi explicado a priori pelos autores citados, os dois

institutos são distintos, mas em contrapartida, remam para o mesmo rumo, a

defesa do indiciado.

1.8.2Direito ao silêncio

O direito ao silêncio é a defesa pessoal do indiciado no

momento em que for preso, ou quando for inquirido pela autoridade policial.

Garantido na Constituição Federal.

Artigo 5˚, inciso LXIII da Magna Carta de 1988, onde explica

que:

95 CHOUKR, Fauzi Hassan. Garantias constitucionais na investigação criminal. São Paulo: 2001, ed. Lúmen juris. p. 41

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“O preso será informado de seus direitos, entre os quais o

de permanecer calado, sendo-lhe assegurada à assistência da família e de

advogado”.

O direito ao silêncio vem exposto no parágrafo único do

Artigo 186 do Código de Processo Penal na qual:

“O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser

interpretado em prejuízo da defesa”.

Entende Coelho Nogueira96 citado por Saad que:

O indiciado tem o direito ao silêncio, nos termos do art. 5˚, LXIII da

Constituição – que, é crucial, também se aplica aos suspeitos,

indiciados ou acusados que estejam em liberdade – , e ainda nos

moldes do art. 186 do CPP, não devendo a autoridade policial

fazer a advertência constante da parte final deste último, que vem

sendo considerada pela doutrina como não recepcionada pela Lei

Maior. Com efeito, se o silencio é um direito da pessoa humana

que esteja colocada na situação de suspeito, indiciada, acusada

ou ré, configura absurdo afirmar que o exercício regular desse

mesmo direito pode prejudicar aquele que o exerce.

O direito de permanecer calado no interrogatório foi exercido

nas recentes comissões parlamentares de inquérito como ressalta Tucci97:

Tal recurso foi muito utilizado, notadamente em âmbito das

Comissões Parlamentares de Inquérito, que habitualmente

convocavam alguém para prestar depoimento na qualidade de

testemunha, mas tal pessoa acabava sendo formalmente tratada,

96 SAAD, Marta. cit. Coelho Nogueira, Carlos Frederico. comentários..., cit., p. 295.97 SAAD, Marta. cit. Tucci, Rogério Lauria. Comissão Parlamentar de Inquérito....,cit, p. 296.

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durante sua inquirição, como indiciada, ou suspeita, em relação

aos fatos investigados.

Lopes júnior98 esclarece que:

O direito de calar também estipula um novo dever para a

autoridade policial ou judicial que realiza o interrogatório: o de

advertir o sujeito passivo de que não está obrigado a responder as

perguntas que lhe forem feitas. Se calar constitui um direito do

imputado e ele tem de ser informado do alcance de suas

garantias, passa a existir o correspondente dever do órgão estatal

que assim o informe, sob pena de nulidade do ato por violação de

uma garantia constitucional.

Assis Moura99 entende que “questão importante reside no

momento a partir do qual o acusado pode exercer o direito ao silêncio, em sentido

amplo”.

E continua:

Definir o direito ao silencio como sendo, unicamente, o direito de

calar ante as perguntas da autoridade competente (policial ou

judiciária), no momento do interrogatório, é impor-lhe uma

limitação que não condiz com as origens do instituto. O direito ao

silêncio vai além do enunciado e deve, pois ser entendido como o

direito de não produzir prova contra si mesmo.

Na concepção dos autores arrolados, o silêncio faz parte da

defesa pessoal do indiciado que é garantido pela Magna Carta de 88. A

98 SAAD, Marta. cit. Lopes Junior, Aury Lopes, Sistemas..., cit. p. 297.99 SAAD, marta. cit. Rocha de Assis, Maria Thereza; De Moraes, Maurício Zanóide. Direito ao silêncio..., cit., p. 291.

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autoridade policial tem o dever de informar aquele que esta sendo indiciado, do

seu direito de permanecer em silêncio.

1.8.3O direito de não produzir provas contra si mesmo

O Ordenamento Processual Penal juntamente com a Carta

Magna de 1988, não obriga nenhum cidadão no momento de seu interrogatório,

produzir provas contra si próprio, mesmo porque o Direito Penal não pune o

acusado se estiver faltando com a verdade.

Sobre o tema Queijo100 observa que:

O princípio em foco decorre igualmente das garantias do devido

processo legal e da ampla defesa, mais especificamente na

vertente da autodefesa, bem como da presunção de inocência,

princípios estes agasalhados na Constituição Federal, em seu art.

5˚, LIV, LV e LVII, respectivamente.

E finaliza:

E, sobretudo, dada a vinculação do princípio nemo tenetur se

detegere à preservação da dignidade humana, que é um dos

postulados norteadores do Estado brasileiro, como Estado

Democrático de Direito (art. 1˚, III, da Constituição Federal),

possível seria extrair seu reconhecimento no direito brasileiro,

mesmo que não fosse expressamente previsto, como direito

fundamental decorrente do regime e dos princípios adotados na

Constituição.

100 QUEIJO, Maria Elizabeth. O direito de não produzir prova contra si mesmo: o principio nemo tenetur se detegere e suas decorrências no processo penal. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 80-81.

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Grinover citada por Saad101 lembra que “O acusado, ainda

que informalmente acusado, não tem qualquer dever de fornecer elementos de

prova que possam incriminá-lo”. Assim, ele “pode calar-se ou até mentir”.

O direito de não produzir provas contra si mesmo, nos

dizeres dos autores arrolados, protege o indiciado de acusação que pese contra a

pessoa do indiciado que venha a prejudicar sua defesa tanto na investigação,

quanto na instrução criminal.

1.9CONTRADITÓRIO

1.9.1Direito ao contraditório

A constituição traz em seu Título II, no inciso LV, “Dos

direitos e garantias fundamentais”, garante aos litigantes em processo judicial ou

administrativo, e aos acusados em geral, o exercício do contraditório e da ampla

defesa, com os meios e recursos a eles inerentes.

Assevera Choukr102 acerca do contraditório que:

101 SAAD, Marta. cit. Grinover, Ada Pellegrini. O direito de defesa no inquérito policial. p. 298.102 CHOUKR, Fauzi Hassan. Garantias constitucionais na investigação criminal. 1. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1995, p. 111.Não é difícil entender a quase insolubilidade dessa equação (liberdade X segurança) da maneira como ela é posta. Nada menos porque se dá diante de visões diferentes a justificar um mesmo problema. O Estado, pela sua óptica, cria uma regulamentação processual penal a partir dos valores políticos dominantes. Pode-se dizer que o sistema instrumental penal é marcadamente dominado pelo conceito de segurança, que por certo não é algo hermeticamente fechado, mas sim fruto de um determinado processo histórico e que apresenta na outra ponta o confronto com o respeito às liberdades individuais, criando um quadro altamente conflituoso. A questão, que não é nova, reascendeu nos últimos anos com a onda de movimentos reformadores surgidos na Europa e América Latina. Veja-se, entre alguns dos países nos quais tivemos reformulações de direito positivo, os casos da Itália, Portugal e parcialmente na França em sede européia, e a Argentina na hispano-américa, além do gigantesco movimento acadêmico que culminou na proposta de um “Código-Modelo” para a Íbero-América. CHOUKR, Fauzi Hassan. Garantias constitucionais na investigação criminal. 1. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1995, p. 12.

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São argumentos básicos dos defensores do contraditório já na

investigação: a) ser esta etapa um verdadeiro “processo

administrativo” (preparatório ao exercício da ação penal); b) haver

neste processo um conflito de interesses, portanto existindo litígio

e, por conseqüência, litigantes. O contraditório surge, então,

exatamente dentro do quadro garantidor do novo direito

(processual) administrativo.

E continua:

Não resta dúvida quanto ao crescente movimento de transposição

das normas protetivas do due processo f law para aquela relação

jurídica envolvendo indivíduos e Estado onde existia a idéia de um

procedimento, este não mais concebido dentro de um aspecto

formal, mas dentro da idéia de procedimento em contraditório.

Bueno filho103 observa que:

Em suma, para o exercício do contraditório é fundamental que a

parte seja informada de tudo quanto lhe acusaram, tenha tempo

para preparar sua reação e tenha a oportunidade de contraditar os

fatos e atos a ela atribuídos. Estas considerações, que

obviamente se referem ao início do processo, aplicam-se a todos

os demais momentos processuais, quando outros elementos

serão juntados e provas produzidas, de tal sorte que à parte

litigante adversa deve-se garantir informação, prazo e

oportunidade para responder, como acima referido. Igual direito

deve ser assegurado quando se trate de manifestar o

A forma de tratamento da dicotomia segurança x liberdade antes apresentada, hoje fortemente inclinada para o reconhecimento do maior número de garantias para o suspeito desde o início da persecução penal, reserva um ponto assaz delicado quando se pensa na inclusão ou não do contraditório durante a etapa investigativa. CHOUKR, Fauzi Hassan. Garantias constitucionais na investigação criminal. 1. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1995, p. 111.103 BUENO FILHO, Edgard Silveira. O direito à defesa na constituição. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 48.

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inconformismo em relação a alguma decisão interlocutória ou

terminativa do processo.

Demercian104 descreve os procedimentos do contraditório

onde diz que:

A garantia do contraditório não raro é definida como a ciência para

se dá ao acusado da imputação, com seu conseqüente

chamamento a juízo para defender-se. Essa conceituação, no

entanto, pode ser desdobrada e ampliada compreendendo outros

importantes corolários do contraditório, tais como: a) a

imparcialidade do julgador; b) a igualdade processual e paridade

de armas; c) a ampla defesa, compreendendo o direito à produção

das provas lícitas, o direito à autodefesa e defesa técnica, a

motivação das decisões, a garantia do duplo grau de jurisdição,

com o reexame das decisões; e d) a obediência a determinado rito

procedimental.

O contraditório no inquérito policial, como já foi visto, não

existe na fase investigatória, no entendimento dos doutrinadores citados, pelo fato

de que, caso existisse, não teria razão de existir o inquérito policial no sentido de

não haver como indiciar o suposto envolvido do crime, e também ficaria difícil a

elaboração do inquérito policial.

No próximo capítulo será analisado o direito de defesa no

inquérito policial propriamente dito, juntamente com todas as prerrogativas da

autoridade policial, onde começa o direito de defesa do indiciado e como é

concluída a peça administrativa.

104 DEMERCIAN, Pedro Henrique. A oralidade no processo penal brasileiro. São Paulo: Atlas, 1999, p. 32-33.

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CAPÍTULO 3

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O DIREITO DE DEFESA NO INQUÉRITO POLICIAL

1.10INÍCIO DO INQUÉRITO POLICIAL

O início do inquérito policial depende em primeiro lugar de

como ocorreu à infração penal, para que as investigações possam começar. Isso

porque a ação penal poderá ser pública condicionada, incondicionada, ou ação

privada.

Tourinho Filho105 assevera que depende da natureza da

infração penal. Se se tratar de infração de ação pública incondicionada, a primeira

peça do inquérito será:

a) portaria da Autoridade Policial;

b) ofício requisitório do Promotor de Justiça;

c) ofício requisitório do Juiz de Direito;

d) requerimento da vítima ou de quem legalmente a

represente; ou

e) auto de prisão em flagrante.

Ação penal pública que depende de representação:

a) a representação da vítima ou de quem legalmente a

represente, quando a representação for dirigida à Autoridade Policial;

105 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal. 27 ed. rev. Atual. e aum. São Paulo: 2006. p. 10-11

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b) ofício requisitório do Promotor de Justiça ou Juiz,

acompanhado da representação, quando esta for feita a essas autoridades; ou;

c) auto de prisão em flagrante.

Ação penal privada:

a) mediante requerimento de quem tiver qualidade para

intentar a ação penal: vítima, seu representante legal, ou sucessores da vítima;

ou;

b) auto de prisão em flagrante.

E conclui:

Observe-se que, nos crimes de ação pública condicionada à

representação ou mesmo nos casos de ação privada, a

representação ou requerimento pode ser feito pelo cônjuge,

ascendente, descendente ou irmão da vítima, caso ocorra à

hipótese prevista no § 1˚ do art. 24 ou no art. 31 do CPP.

Observa Marques106 que:

O inquérito policial é aberto quando a autoria do fato delituoso

vem atribuída a alguém. Sem indiciado não há inquérito, mas tão-

só investigações não formais levadas a efeito por agentes policiais

para a descoberta do autor do crime.

Assevera Mossin107:

106 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. 2 ed. Campinas: Millennium, 2000, p. 155.107 MOSSIN, Heráclito Antonio. Nulidades no direito processual penal. São Paulo: Atlas, 1998, p. 172.

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É de evidência cristalina que, quando a polícia judiciária exerce

sua atividade, não tem ela o propósito e nem mesmo a finalidade

de resolver pretensões, mas o faz exclusivamente para investigar

o crime, não só quanto ao seu acontecimento, sua comprovação

material, mas também para estabelecer quem foi seu autor.

Explica Mehmeri108 que:

Verificada a procedência das informações, ainda que nos

parâmetros da possibilidade, a autoridade promoverá

regularmente a instauração de inquérito, para a apuração dos

fatos. Se se tratar de ilícito, cuja apuração depende de

representação, sem ela nada deverá ser feito. Com ela, ou na

hipótese de crime de ação pública, a autoridade procederá na

forma dos incisos do art. 6. ˚ do CPP.

Enfatiza Marques citado por Almeida Pedroso109 que:

Não se há de exigir que o Estado compareça em Juízo de mãos

vazias, com sua função acusatória inteiramente anulada. Da 108 MEHMERI, Adilson. Inquérito policial dinâmica. São Paulo: Saraiva, 1992, p. 24.

Ao Estado pertence o direito penal subjetivo, id est, o direito de punir ou jus puniendi. Este, todavia, ex vi do princípio nulla poena sine judicio, não encontra realização imediata e automática frente ao cometimento de um ilícito penal. Preciso é que o Estado instaure um procedimento para a perfeita apuração dos fatos, procedimentos esse que servirá de cabo condutor ou segmento de entrelaçamento entre o crime e a imposição da pena. Daí aflorar, como direito estatal, o jus persequendi (ou jus persecutionis), que levará à instauração da persecutio criminis em seus dois momentos distintos: o da simples informatio delicti e o da ação penal propriamente dita. Destarte, cometido um fato aparentemente delituoso, deve o Estado instaurar um procedimento investigatório sobre sua ocorrência, preparatório da segunda fase da persecutio criminis (ação penal) e que lhe confira subsídios e supedâneo. Portanto, e em princípio, constrangimento ilegal algum pode ressumbrar do exercício de uma atividade estatal lícita. Somente quando a legalidade do procedimento estatal sobeje extrapassada pelo arbítrio ou quando se transluza flagrante e patente a atipia do fato que ao inquérito confere berço, é que o habeas corpus se assume como caminho defensório apto e idôneo para o trancamento da peça policial informativa. (ALMEIDA, Pedroso Fernando de. Processo penal. O direito de defesa: repercussão, amplitude e limites. 3 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p 64-65.)109 ALMEIDA, Pedroso Fernando de. Processo penal. O direito de defesa: repercussão, amplitude e limites. 3 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p 61.

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acusação é o ônus probatório. Limitá-la, pois, na fase prévia de

investigação, para impedir que colha os elementos informativos

imprescindíveis à autuação que deve desenvolver em Juízo, é

quebrar definitivamente o equilíbrio do sistema acusatório, para

que a balança penda decisivamente em favor de Sua Excelência,

o Réu.

Os entendimentos doutrinários anteriormente citados,

enfatizam que para dar-se o início de um inquérito, a autoridade policial deverá ter

conhecimento de um fato delituoso, para que então se inicie o inquérito com todos

os seus atos descritos em lei.

1.10.1Por auto de prisão em flagrante

Quando realizada uma prisão em flagrante,

automaticamente é instaurado o inquérito policial para que todos os elementos do

crime sejam colhidos. Importante destacar a categoria flagrante que é o momento

que o individuo é flagrado, ou seja, no calor do fato ocorrido, ou praticando um

delito, momentos depois de praticar, ou encontrado com instrumentos utilizados

na prática do crime.

O art. 302 do CPP dispõe que: considera-se em flagrante

delito quem:

I – está cometendo a infração penal;

II – acaba de cometê-la;

III – é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido

ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser ele autor da infração;

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IV – é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas,

objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.

Grinover, Fernandes e Gomes Filho, citados por Mossin110,

tecem o seguinte comentário:

A prisão em flagrante delito, como assinalado, constitui a única

forma de restrição cautelar do direito de liberdade que não resulta

de provimento jurisdicional; sua efetivação somente se justifica se

o agente realiza uma ação delituosa tipificada pelo Código Penal

e, ao mesmo tempo, ocorre uma das situações previstas no art.

302, CPP, que autorizam excepcionalmente a captura; além disso,

para que possa subsistir, exige a obediência às formalidades

previstas em lei, que representam, em última análise, a garantia

do cidadão contra possíveis abusos cometidos em nome da

repressão dos delitos. O atendimento dessas exigências deve vir

expresso no auto de prisão em flagrante, que é o instrumento em

que estão documentados os fatos que revelam a legalidade e a

regularidade da restrição antecipada do direito de liberdade.

Explica Barbosa111 que:

Quando da apresentação do preso à autoridade, essa deve, em

primeiro lugar, ouvir o condutor. Trata-se apenas de um meio

dado à autoridade para inteirar-se dos fatos a fim de prelibar se

resultam ou não fundadas suspeitas contra o conduzido, podendo

assim, tomar outras providências.

Tourinho Filho112 assevera que:

110 MOSSIN, Heráclito Antonio. Nulidades no direito processual penal. São Paulo: Atlas, 1998, p. 177.111 BARBOSA, Manoel Messias. Inquérito policial: doutrina, pratica, jurisprudência. 4.ed. rev. Atual. e ampl. São Paulo: Editora Método, 2004. p.59.112 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal. 27 ed. rev. Atual. e aum. São Paulo: 2006. p. 37.

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Atualmente, em face da Lei n. 11.113, de 13-5-2005, que deu

nova redação ao art. 304 do CPP, o auto de prisão em flagrante

deixou de ser uma peça inteiriça. Entendeu o legislador, e com

razão, que não seria justo manter na Delegacia, horas a fio, o

condutor (que normalmente é um Policial Militar) e eventuais

testemunhas. Assim, hoje, o condutor e as testemunhas

(eventualmente a vítima) têm seus depoimentos tomados em

termos separados, e, à proporção que ficam concluídos, retiram-

se da Delegacia. Deve ser entregue ao condutor um recibo de

“entrega do preso”.

Colhe-se da obra de Salles Júnior113 o seguinte

ensinamento:

Em determinados casos, pode o inquérito policial iniciar-se pelo

auto de prisão em flagrante. O respectivo auto conterá,

devidamente reduzido a escrito, todas as circunstâncias da prisão

ocorrida em estado de flagrância. Trata-se de uma peça única que

é ditada pela autoridade policial ao Escrivão, contendo o título, a

data, o local, o nome e o cargo da autoridade que preside o auto,

a qualificação e declarações do condutor do preso, qualificação do

preso ou dos presos, qualificação e depoimento das testemunhas

e do ofendido e interrogatório da pessoa detida, contendo ainda o

encerramento.

Há, então, prisão em flagrante, todas as vezes que ocorrer

um fato tido como crime e o indivíduo for capturado pela autoridade policial. Como

observa os doutrinadores ora mencionados, os atos devem ser cumpridos como

manda o ordenamento processual, respeitando os direitos e garantias do

indiciado.

113 SALES JÚNIOR, Romeu de Almeida. Inquérito policial prática, processo e jurisprudência, 2. ed. Curitiba: Juruá, 1995, p. 34.

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1.10.2Por portaria

A portaria é a peça inaugural do inquérito policial, quando se

tratar de crime de ação penal pública incondicionada, onde o delegado de polícia

toma conhecimento do ilícito penal praticado passando a apurar quem praticou o

ato criminoso e determinando diligências acerca da materialidade do crime.

Salienta Babosa114 que:

Na portaria de instauração do inquérito policial, a autoridade fará

constar descrição objetiva do fato considerado ilícito, com a

preliminar indicação de autoria ou da momentânea possibilidade

de apontá-la e, ainda, a classificação provisória do tipo penal

alusivo aos fatos, consignando, por último, as providências

preliminarmente necessárias para a eficiente apuração do caso.

Não se instaurará inquérito quando os fatos levados à autoridade

policial não configurarem, manifestadamente, qualquer ilícito

penal.

Tourinho Filho115 ensina que:

Na portaria, a Autoridade Policial pode determinar quantas

diligências julgar necessárias. De regra, limita-se à realização de

ouvida da vítima e do exame de corpo de delito. Nada obsta,

entretanto, que, tendo ciência de outras provas, determine, na

própria portaria, sejam elas colhidas. Quando, na peça inicial do

inquérito, estabelece a Autoridade Policial que se autue a portaria,

está determinado ao seu auxiliar, que é o Escrivão, forme o

inquérito, nele reunindo todas as peças que forem sendo

confeccionadas e que lhe digam respeito.

114 BARBOSA, Manoel Messias. Inquérito policial: doutrina, prática, jurisprudência. 4.ed. rev. Atual. e ampl. São Paulo: Editora Método, 2004. p. 29.115 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa Tourinho. Prática de processo penal. 27 ed. rev. Atual. e aum. São Paulo: 2006. p. 15-16.

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E continua:

A expressão “autuar” significa reduzir a auto, transformar em auto,

registrar a ocorrência. Já a palavra “autos” no plural traduz a idéia

de todas as peças contidas e pertencentes ao inquérito ou

processo. Por outro lado, como os inquéritos são registrados na

Delegacia e capeados, entende-se, também, por “autuação” o fato

de o Escrivão registrar a portaria e capeá-la.

Colhe-se da doutrina de Mossin116 o seguinte ensinamento:

Em tal situação, a informatio delicti é iniciada pelo ato

administrativo denominado portaria, “que deve conter o dia em

que o fato típico foi cometido, hora aproximada, local, o prenome

e o nome do indigitado autor, assim como da vítima e, em

conclusão, determinar a instauração do inquérito”.

Peça inaugural do inquérito policial, a portaria é um

documento que consta todos os dados do ato criminoso, e é através da portaria

que se inicia o inquérito policial. Assim é o entendimento dos autores

anteriormente citados.

1.10.3Nota de culpa

Realizada a prisão em flagrante, à autoridade policial da

ciência ao acusado formalmente do motivo da sua prisão, através da nota de

culpa, que será entregue ao acusado.

Reza o ordenamento processual penal em seu art. 306 que

“dentro de 24 (vinte e quatro) horas depois da prisão, será dada ao preso nota de

116 MOSSIN, Heráclito Antonio. Nulidades no direito processual penal. São Paulo: Atlas, 1998, p. 174.

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culpa assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os

das testemunhas”.

Tornaghi citado por Saad117 ressalta que:

O preso tem o direito de conhecer o motivo da prisão, não só para

poder eficazmente defender-se contra abusos da autoridade, mas

também para elidir as acusações que lhe são feitas. A fim de lhe

facilitar o exercício dos direitos e garantias individuais, a lei manda

informá-lo do motivo da prisão, dos nomes das testemunhas e do

condutor. Para isso a autoridade tem de lhe entregar documento

que recebe nome de nota de culpa.

Salles Júnior118 esclarece que:

Vê-se, então, que a nota de culpa aparece como documento

firmado pela autoridade que tenha presidido o flagrante. Trata-se,

na verdade, de uma declaração em duas vias, cuja via original é

encaminhada ao preso, contra recibo e a cópia é juntada aos

autos. A nota de culpa se resume numa comunicação contendo o

motivo da prisão e, geralmente, o dispositivo da legislação

repressiva violado. Através da nota de culpa informa-se ao

conduzido os motivos da prisão, possibilitanto-lhe exercer de

modo amplo, o seu direito de defesa.

E finaliza afirmando que:

Por outro lado, com a nota de culpa, tem-se um controle contra o

abuso das detenções ilegais. Se a nota de culpa somente pode

ser dada pela autoridade que detém legalmente o indivíduo, nos

termos da legislação processual penal, é fácil entender que

117 SAAD, Marta. O direito de defesa no inquérito policial. São Paulo: RT, 2004, p. 274118 SALES JÚNIOR, Romeu de Almeida. Inquérito policial pratica, processo e jurisprudência. 2. ed. Curitiba: Juruá, 1995, p 38.

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àquela pessoa que se encontra detida em desacordo com as

disposições da lei, não pode ser dada nota de culpa.

Barbosa119 lembra que:

É importante assinalar que a nota de culpa é fornecida ao preso

por escrito, exatamente para que, ficando em seu poder, possa

ele, de imediato, logo após os sobressaltos da prisão, começar a

analisar as circunstâncias da ocorrência, inspecionar a probidade

das testemunhas, etc. a falta de entrega do referido documento ou

a sua irregularidade, obscurantismo ou ambigüidade, desde que

afrontem o princípio de plenitude de defesa, cuja noção está mais

na essência do direito natural do que nos textos escritos, mais nos

corações bem formados do que nos arestos pretorianos,

constituem, evidentemente, motivo para a soltura do acusado,

pois a prisão se tornou ilegal.

Alerta Pozzer citado por Saad120 que:

A nota de culpa não pode trazer, apenas, a citação dos artigos de

lei, tipificadores da conduta penal relevante, atribuída ao acusado

(fato penal), como acontece de costume. Deverá conter, por

necessário, a imputação (fato processual), ou seja, a descrição do

fato criminoso e suas circunstâncias, permitindo ao increpado

prepara a defesa e fazer uso de direitos subjetivos processuais.

No que tange a nota de culpa, é o documento formal que o

acusado tem o direito de ter em mãos para saber qual o motivo de sua prisão. Os

autores ora pesquisados têm apontado entendimento no mesmo sentido.

119 BARBOSA, Manoel Messias. Inquérito policial: doutrina, pratica, jurisprudência. 4.ed. rev. Atual. e ampl. São Paulo: Editora Método, 2004. p. 81-82.120 SAAD, Marta. O direito de defesa no inquérito policial. São Paulo: RT, 2004, p. 274.

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1.11IMPORTÂNCIA DO DIREITO DE DEFESA NO INÍCIO DA PERSECUÇÃO

O indiciado no início da persecução penal, fica totalmente

refém do poder discricionário da polícia judiciária. É importante ter o cuidado na

imputação do fato delituoso a alguém, para que não se faça injustiça com uma

pessoa inocente.

Salienta Saad121 que:

Com efeito, a partir da instauração do inquérito policial, inúmeros

atos que acarretam restrição a direitos constitucionalmente

assegurados podem ocorrer em desfavor do acusado, tais como

os decretos de prisão preventiva (arts. 311 a 316 do CPP) e de

prisão temporária (art. 1.˚ da Lei 7.960/1989), se o inquérito já não

tiver se iniciado por meio de flagrante (arts. 301 a 310 do CPP),

em nítida restrição ao direito de liberdade (art. 5.˚, LXI, da

Constituição da República).

Quanto a autodefesa do indiciado no interrogatório, Faria122

citado por Saad ressalta que:

Defender-se, usando o interrogatório a seu favor, não é apenas

negar os fatos: pode o acusado defender-se confessando, com

vistas a diminuir a incidência penal, ou confessando o fato e

negando o direito, como nos casos em que já ocorrida a

prescrição, por exemplo. O direito de defesa pode ser exercido

para provar inocência, lançar dúvidas sobre a culpabilidade,

apresentar fatos que a atenuem ou abonem o acusado.

Ensina Tucci123 citado por Saad que:

121 SAAD, Marta. O direito de defesa no inquérito policial, São Paulo: RT, 2004, p. 199.122 SAAD, Marta. O direito de defesa no inquérito policial, São Paulo: RT, 2004, p. 284.123 SAAD, Marta. O direito de defesa no inquérito policial, São Paulo: RT, 2004, p. 202.

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É preciso, pois, garantir a defesa efetiva do acusado quando esta

realmente importa, estendendo-se o exercício do direito de defesa

no inquérito policial. Mas não só a autodefesa, insuficiente em

face do próprio comprometimento emocional e do

desconhecimento técnico do acusado. Este deve poder contar,

pois, com assistência de advogado, legalmente habilitado, zeloso

e competente, na real defesa dos interesses de sua liberdade

jurídica.

Alerta Pitombo124 citado por Saad quanto ao direito de

defesa do indiciado no inquérito policial:

E como tal interessada apenas na condenação do sujeito

efetivamente culpado, deve-se notar que o exercício do direito de

defesa por parte do indiciado e a própria atuação do defensor, no

inquérito policial, podem contribuir para que não sejam aforadas

acusações infundadas, apressadas, temerárias e até caluniosas.

E conclui:

De nada vale estar remetendo a juízo inquéritos feitos com

critérios unilaterais, para fundamento de queixas ou denúncias,

que ruirão fatalmente, no curso da ação judiciária, quando se

levarão a efeito, até determinadas, de oficio, pelo juiz, as

diligências, que, já na fase policial, se tinham como aptas a

revelar a inocência do indiciado. E bem se percebe que prejuízos

enormes advirão à causa da justiça pública, se tais diligências,

não admitidas, no inquérito, vierem demonstrar ser, efetivamente,

a autoria de pessoa diferente da denunciada, com o que o

verdadeiro agente terá obtido uma indiferença da justiça pública,

susceptível talvez de produzir efeitos irremediáveis. Mister se faz

não desatender nunca a que o inquérito não é um instrumento de

124 SAAD, Marta. O direito de defesa no inquérito policial, São Paulo: RT, 2004, p. 204.

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acusação e, sim, uma investigação, destinada ao descobrimento

da verdade.

No entendimento dos autores ora citados, a defesa agindo

no início do inquérito faz com que a justiça seja feita, por se tratar da pessoa do

indiciado que está sendo alvo de investigação, sendo assim, o poder judiciário

receberá em mãos o inquérito policial realizado em sintonia com o CPP e a

Constituição de 88.

1.11.1Ciência da imputação

O indiciado precisa conhecer o porquê da imputação e

somente depois de ocorrido este ato, é que o indiciado tem o direito de se

defender.

Explica Saad125 que:

Há, então, o direito de ser informado durante a tramitação de todo

o processo, diga-se, de toda a persecução penal, sem qualquer

distinção entre as fases pré-determinadas do procedimento. A

ciência deve ocorrer prontamente, tão logo se tenha o sujeito

como provável autor da infração penal que se está a apurar. A

exigência de informação detalhada significa que esta deve ser

clara, precisa, completa, e o acusado deve ficar ciente da

ocorrência do ilícito e de todos os elementos de prova que o

sustentam.

Ressalta Fernandes126 citado por Saad que:

Um feixe de indícios aponte o suspeito como provável autor da

infração penal. Somente o conhecimento da imputação permite a

125 SAAD, Marta. O direito de defesa no inquérito policial, São Paulo: RT, 2004, p. 273.126 SAAD, Marta. O direito de defesa no inquérito policial, São Paulo: RT, 2004, p. 272

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defesa: “o direito de ter ciência da imputação é pressuposto

necessário do direito à reação. Não há como reagir sem

conhecer.”

A ciência da imputação é o ato em que informa o indiciado

do que está sendo imputado, ou seja, tido como possível autor do fato criminoso,

será levado ao conhecimento do indiciado informações dobre o ocorrido de forma

clara e detalhada de tudo o que sucedeu, como entende os autores mencionados

anteriormente.

1.12O PODER DISCRICIONÁRIO

A autoridade policial tem o dever de ordenar a realização de

todos os atos que se fizerem necessários, tendo em vista o ônus da prova que a

policia judiciária possui, conforme o ordenamento processual penal.

Sobre a liberdade de realização dos atos do inquérito

policial, Mossin127 entende que: “A discricionariedade nas investigações é outro

fator determinante do caráter inquisitorial da informatio delicti. Diante dela, o

órgão investigatório tem certa liberdade na apuração do fato punível e sua

autoria”.

Assevera Mendes de Almeida128 citado por Mossin que:

Se a investigação é uma necessidade de pesquisa da verdade

real e dos meios de poder prová-la em juízo, não menos

necessária parece à liberdade discricionária de investigação, sem

a qual essa função de polícia seria mutilada, contrariaria sua

127 MOSSIN, Heráclito Antonio. Nulidades no direito processual penal. São Paulo: Atlas, 1998, p. 172.128 MOSSIN, Heráclito Antonio. Nulidades no direito processual penal. São Paulo: Atlas, 1998, p. 172.

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própria natureza. O homem investiga a verdade procurando na

matéria os sinais mentais dos acontecimentos. Privar a

investigação de um ou de alguns processos naturais de consultar

a matéria ou a mente acerca da realidade ocorrida é mutilá-la e,

por isso mesmo, mutilar a verdade investigável.

Como observa o autor arrolado, a autoridade policial tem o

poder discricionário, ou seja, goza da oportunidade e conveniência para realizar

de todos os atos legalmente regulamentados em lei para buscar a verdade real

dos fatos criminosos, como entendem os autores anteriormente mencionados.

1.13O PRINCÍPIO DE NÃO PRODUZIR PROVAS CONTRA SI NO INQUÉRITO

POLICIAL

As provas produzidas no inquérito existem para instruir uma

futura ação penal. Em que pese ao indiciado produzir provas contra si mesmo, a

autoridade policial ganha munições no que tange ao ônus probatório, na

fundamentação do relatório final do inquérito.

Ressalva Pedroso129 que:

Ora, comportando o inquérito instrução inquisitorial, por obedecer

a princípio de igual nome, crível é que os elementos instrutórios

nele carreados, quando não renovados em juízo sob o crivo do

contraditório, não podem servir como supedâneo de uma

condenação. Solução contraria transplantaria para o processo o

princípio inquisitivo, pois significaria condenar o acusado com

respaldo em provas de cuja produção não participou

contraditoriamente.

129 PEDROSO, Fernando de Almeida. Processo penal o direito de defesa repercussão, amplitude e limites, São Paulo: Revistas do Tribunais, 1994, 2ª ed. p. 69.

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Ensina Queijo130 que:

É inegável que o princípio nemo tenetur se detegere representa

barreira à atividade investigatória e probatória ilimitada por parte

do Estado. Os ordenamentos jurídicos assimilaram, em regra, a

incidência do nemo tenetur se detegere no interrogatório,

principalmente reconhecendo o direito ao silêncio e vedando

determinados métodos de interrogatório que conduzam à auto-

incriminação e que violem a integridade física e moral do acusado.

O indiciado no inquérito policial tem todo o direito de

resguardar-se, pelo fato de a autoridade policial necessitar de sua participação.

Cabe a polícia judiciária apontar a culpa ao indiciado e não o indiciado provar que

é inocente.

Assevera Lopes Junior citado por Saad131 que:

A recusa do acusado de participar na obtenção de meios de prova

constitui mais uma manifestação da autodefesa negativa, logo, o

regular exercício do direito constitucional de não fazer prova

contra si mesmo. Acrescente-se, ainda, a presunção de inocência,

como garantia da manutenção desse status ate a sentença

condenatória firme. Em definitivo, aplica-se aqui o princípio do

nemo tenetur se detegere.

130 QUEIJO, Maria Elizabeth. O direito de não produzir prova contra si mesmo: o principio nemo tenetur se detegere e suas decorrências no processo penal. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 240.131Há quem entenda que o acusado não pode se recusar a participar de reconhecimento, porque se cuida de uma colaboração passiva: “O indiciado é obrigado a se submeter ao reconhecimento, sob pena de desobediência (art. 330 do CP) ou de resistência, se se opuser com violência ou ameaças (art. 329 do CP). Não se trata de ato invasivo e nele o suspeito assume posicionamento meramente passivo. Além disso, a submissão a reconhecimento é, do ponto de vista probatório, neutra, ao menos em princípio, pois o sujeito pode ser reconhecido ou não. Não há, destarte, afronta à regra de que ninguém é obrigado a fornecer prova contra si próprio, já que a recognição não constitui, fatalmente, prova contrária ao indivíduo (ao revés do que ocorre com a confissão, que é contrária por natureza)”. (Carlos Frederico Coelho Nogueira, Comentários ..., cit., p. 317). SAAD, Marta. O direito de defesa no inquérito policial. São Paulo: RT, 2004, p. 284.

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Entende Coelho Nogueira132 citado por Saad que:

O indiciado é obrigado a se submeter ao reconhecimento, sob

pena de desobediência (art. 330 do CP) ou de resistência, se se

opuser com violência ou ameaças (art 329 do CP). Não se trata

de ato invasivo e nele o suspeito assume posicionamento

meramente passivo. Além disso, a submissão a reconhecimento

é, do ponto de vista probatório, neutra, ao menos em principio,

pois o sujeito pode ser reconhecido ou não. Não há destarte,

afronta à regra de que ninguém é obrigado a fornecer, prova

contrária ao individuo.

E conclui:

Contudo, deve-se ter em conta que o reconhecimento pressupõe

a colaboração do acusado, quer comparecendo ao ato, quer

sujeitando-se às formalidades do reconhecimento, de modo que,

participando do ato, o acusado pode efetivamente estar

produzindo prova contra si mesmo, tal como ocorre na reprodução

simulada nos fatos.

Quanto ao reconhecimento, Queijo133 observa que:

Primeiramente, a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será

convidada a descrever aquela que deva ser reconhecida. Por sua

vez, a pessoa que será submetida a reconhecimento deverá ser

colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem

qualquer semelhança.

E finaliza:

132 SAAD, Marta. O direito de defesa no inquérito policial. São Paulo: RT, 2004, p. 303.133 QUEIJO, Maria Elizabeth. O direito de não produzir prova contra si mesmo: o princípio nemo tenetur se detegere e suas decorrências no processo penal. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 256.

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O reconhecedor deverá apontar a pessoa a ser reconhecida. Do

reconhecimento será lavrado auto pormenorizado, subscrito pela

autoridade, pelo reconhecedor e por duas testemunhas

presenciais. Se houver fundado receio de que o reconhecedor se

sentirá intimidado, a autoridade providenciará para que não seja

ele visto pela pessoa a ser reconhecida.

Esse princípio de não produzir provas contra si mesmo no

inquérito policial, como demonstraram os autores arrolados, deixa a entender que

o indiciado quando interrogado, não está obrigado a se auto-incriminar, ou seja,

confessar o que não cometeu, participar de reconstituição, corroborar

pessoalmente com a autoridade policial como se fosse o autor do crime.

1.13.1 Interrogatório: importância e garantias

O interrogatório é uma fase do inquérito policial onde o

delegado de policia irá ouvir o indiciado e sua versão sobre o ocorrido. Não sendo

possível a realização deste ato, caso o indiciado não seja encontrado.

Dispõe o art. 6.˚, inciso V do CPP que:

Logo que tiver conhecimento da pratica da infração penal, a

autoridade policial deverá:

I – (...)

II – (...)

III – (...)

IV – (...)

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V – ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável,

do disposto no Capítulo III do Título VII, deste Livro, devendo o respectivo termo

ser assinado por 2 (duas) testemunhas que lhe tenham ouvido a leitura.

Salles Júnior134 explica que:

Na prática a autoridade policial deverá perguntar ao indiciado o

seu nome, naturalidade, estado, idade, filiação, meios de vida ou

profissão e lugar onde exerce a sua atividade; se sabe ler ou

escrever e, finalmente, depois de certificado dos fatos que pesam

contra ele, será inquirido sobre onde se encontrava ao tempo em

que foi cometida a infração; será feita a comunicação das provas

contra ele apuradas e indagará a autoridade se conhece a vítima

e as testemunhas eventualmente inquiridas e aquelas por inquirir;

se tem algo a alegar contra eles; se conhece o instrumento com

que foi praticada a infração; se é verdadeira a imputação que lhe

é feita e se, não sendo verdade, qual a alegação que tem a fazer,

ou se conhece a pessoa ou pessoas a que deva ser imputada a

prática do crime, bem como os pormenores que conduzam à

elucidação dos antecedentes e circunstâncias da infração. Será

inquirido ainda sobre sua vida pregressa, se já foi preso ou

processado alguma vez e, em caso afirmativo, qual o juízo do

processo, qual a pena imposta e se a cumpriu.

Bento de Faria citado por Saad135 explica que:

Defender-se, usando o interrogatório a seu favor, não é apenas

negar os fatos: pode o acusado defender-se confessando, com

vistas a diminuir a incidência penal, ou confessando o fato e

negando o direito, como nos casos em que já ocorrida a

prescrição, por exemplo. O direito de defesa pode ser exercido

134 SALES JÚNIOR, Romeu de Almeida. Inquérito policial pratica, processo e jurisprudência. 2. ed. Curitiba: Juruá, 1995, p. 40-41.135 SAAD, Marta. O direito de defesa no inquérito policial, São Paulo: RT, 2004, p. 284.

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para provar inocência, lançar dúvidas sobre a culpabilidade,

apresentar fatos que a atenuem ou abonem o acusado.

Lopes Júnior citado por Saad136 alerta que:

A partir do momento em que se identifica o suposto autor do

delito, seja porque consta na notícia-crime ou porque resulta da

investigação, deverá a autoridade policial proceder ao

interrogatório. É imprescindível que o suspeito seja informado –

antes da realização do interrogatório – de que o faz na condição

de suspeito e não como mera testemunha ou informante, bem

como deve ser informado na presença de seu defensor. No caso

de defensor dativo, é imprescindível que se lhe permita conversar

reservadamente com o suspeito, pois somente assim estará

sendo cumprido o dever constitucional e observada a garantia

prevista no art. 82, c da CADH. De nada serve um advogado na

situação de ‘convidado de pedra’. Ademais, a forma do

interrogatório policial deverá ser a mesma prevista para o

interrogatório judicial, pois assim determina o art. 6.˚, V, ao

remeter para os arts. 185 e seguintes .

Explica Mehmeri137 que:

Presente o indiciado, deverá a autoridade proceder pessoalmente

a seu interrogatório, na forma do dispositivo processual

específico. Mas ao interrogado podem ser feitas tantas outras

perguntas quantas sejam necessárias para elucidação do fato.

E finaliza:

Interrogar, tanto na fase judicial como na policial, principalmente

nesta última, é arte que requer habilidade, perspicácia para

alcançar a mentira, sempre que ela emerge. A psicologia forense

136 SAAD, Marta. O direito de defesa no inquérito policial, São Paulo: RT, 2004, p. 287.137 MEHMERI, Adilson. Inquérito policial dinâmica. São Paulo: Saraiva, 1992, p. 99.

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mostra todos os artifícios de que os criminosos são capazes na

técnica da mentira.

Para os autores citados anteriormente, o interrogatório é o

momento em que os indiciados são ouvidos de maneira em devem esclarecer o

ocorrido, ou dizerem o que sabem o que aconteceu sobre o que está sendo

investigado e o direito de permanecer calado.

1.14 DAS DILIGÊNCIAS

As diligências são atos para que se busque a verdade dos

fatos mediante provas que a autoridade policial busca acerca do crime

acontecido. Tudo isso porque não cabe ao indiciado provar sua inocência, mas

aos peritos criminais baseados nos indícios, desvendar o ocorrido.

Reza o art. 14 do CPP que: o ofendido ou seu representante

legal, e o indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou

não, a juízo da autoridade.

No que tange a defesa do indiciado, Mossin138 entende que:

A palavra diligência tem sentido amplo, podendo significar a oitiva

de pessoas apontadas pelo indiciado, coleta de documento ou

mesmo a realização de prova pericial. Entretanto,

independentemente da utilidade que essa prova apontada pelo

indiciado possa trazer às investigações, a verdade insofismável é

que a autoridade policial determinará sua realização querendo, ou

seja, tem ela certa discricionariedade quanto a sua produção.

E finaliza:

138 MOSSIN, Heráclito Antonio. Nulidades no direito processual penal. São Paulo: Atlas, 1998, p. 173.

88

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Em circunstâncias desse matiz, em sendo indeferido o

requerimento feito pelo individuo que está sendo objeto de

investigação, não há como afirmar-se, in casu, a ocorrência de

cerceamento de defesa, capaz de anular o inquérito policial.

Assevera Capez139 que além dos procedimentos corriqueiros

que a autoridade policial faz:

Deve também apreender os instrumentos e todos os objetos que

tiverem relação com o fato, “após liberados pelos peritos

criminais” (cf. :Lei n. 8.862/94), fazendo-os acompanhar os autos

do inquérito (CPP, art. 11), e colher todas as provas que servirem

para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias. Os

instrumentos empregados na prática da infração serão periciados,

a fim de se lhes verificar a natureza e a eficiência (CPP, art. 175).

Ensina Mehmeri140 que:

A prova pericial é uma das peças de maior sustentação e

importância no inquérito policial, porque dá os elementos técnicos

nas apurações e por ser um trabalho dificilmente reproduzido em

juízo, por isso que suas conclusões fornecem base técnica nos

três âmbitos – policial, judicial e plenário.

A prática das diligências, na ótica dos autores mencionados,

é de suma importância para o desenrolar da notitia criminis, os peritos fazem

relatórios, colhem materiais, vestígios, usam equipamentos de última geração

para detectar marcas de sangue, enfim, é o modo em que a autoridade tem para

investigar crimes.

139 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p.89.140 MEHMERI, Adilson. Inquérito policial dinâmica. São Paulo: Saraiva, 1992, p. 190.

89

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1.14.1Momento inicial para o exercício do direito de defesa no inquérito

policial

O início direito de defesa no inquérito policial acontece

quando o individuo é indiciado, e como não há processo, o indiciado pode

defender-se argüindo nulidades nos atos em que a autoridade policial agiu de

forma abusiva, ou arrolando testemunhas a seu favor.

Salienta Saad141 que:

Se é certo que o direito de defesa se faz necessário após o

indiciamento formal, é também certo que, por não estar definido o

momento em que deve ocorrer o indiciamento formal, o exercício

do direito de defesa não pode ficar em posição de aguardo, na

dependência de um evento futuro e incerto, portanto suscetível,

em tese, até mesmo a abusos dos condutores do inquérito.

E acrescenta:

Nos inquéritos policiais que se iniciam por meio de prisão em

flagrante delito, o direito de defesa deve ser exercido

imediatamente, porque o indiciamento é automático nessas

hipóteses, visto que a visualidade da situação enseja a prisão em

flagrante. Nos inquéritos policiais iniciados por requerimento ou

requisição, em que a delatio criminis seja postulatória – além do

apontamento de um fato que se desenha infração penal, há

indicação de autoria –, o direito de defesa deve ser exercido

desde logo e o acusado tratado como indiciado.

O que entendem os autores é que a defesa inicia-se logo

após o indiciamento do acusado. O defensor poderá acompanhar todos os o

141 SAAD, Marta. O direito de defesa no inquérito policial. São Paulo: RT, 2004, p. 262-263.

90

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andamento do inquérito, porém não poderá contraditar os atos e as diligencias da

autoridade policial.

1.15PRERROGATIVAS DO ADVOGADO NO INQUÉRITO POLICIAL

CONFORME O ESTATUTO DA ADVOCACIA

A defesa técnica como foi anteriormente pesquisado, cabe

ao advogado constituído do indiciado ou caso não tenha, ao advogado nomeado.

O Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil baseado na Lei n˚ 8.906 de 1994,

estabelece todas as prerrogativas do advogado.

Os direitos do advogado vêm expostos nos art. 6˚ e 7˚ do

estatuto:

Art. 6˚ – Não há hierarquia nem subordinação entre

advogados, magistrados e membros do Ministério Público, devendo todos tratar-

se com consideração e respeito recíprocos.

Parágrafo único. As autoridades, os servidores públicos e os

serventuários da justiça devem dispensar ao advogado, no exercício da profissão,

tratamento compatível com a dignidade da advocacia e condições adequadas a

seu desempenho.

Art. 7˚ - são direitos do advogado:

I – exercer, com liberdade, a profissão em todo o território

nacional;

II – ter respeitada, em nome da liberdade de defesa e do

sigilo profissional, a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, de seus

91

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arquivos e dados, de sua correspondência e de suas comunicações, inclusive

telefônicas ou afins, salvo caso de busca ou apreensão determinada por

magistrado e acompanhada de representante da OAB;

III – comunicar-se com seus clientes, pessoal e

reservadamente, mesmo sem procuração, quando estes se acharem presos,

detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou militares, ainda que

considerados incomunicáveis;

IV – (...)

V – (...)

VI – ingressar livremente:

a) nas salas de sessões dos tribunais, mesmo além dos

cancelos que separam a parte reservada aos magistrados;

b) nas salas e dependências de audiências, secretarias,

cartórios, ofícios de justiça, serviços notariais e de registro, e, no caso de

delegacias e prisões, mesmo fora da hora de expediente e independentemente da

presença de sues titulares;

VII – (...)

VIII – (...)

IX – (...)

X – (...)

92

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XI – reclamar, verbalmente ou por escrito, perante qualquer

juízo, tribunal ou autoridade, contra a inobservância de preceito de lei,

regulamento ou regimento;

XIV – examinar, em qualquer repartição policial, mesmo sem

procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que

conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos;

O Art. 133 da Constituição Federal tem o seguinte

enunciado: “O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo

inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da

lei”.

Ramos142 explica que:

E a melhor maneira de se verificar a natureza dos direitos

outorgados pelo Estatuto ao advogado, é exatamente examinar as

condições em que o mesmo pode ser exercido pelo profissional.

Se se tratasse de um direito propriamente dito, pura e

simplesmente, o seu exercício ficaria ao exclusivo critério do

titular, ao contrario do que ocorre no caso do advogado. Este,

como elemento indispensável à realização da justiça, não tem a

possibilidade de escolher se vai ou não exercer sua prerrogativa,

uma vez que, numa situação pratica de desrespeito a qualquer

destas, ele tem verdadeira obrigação de se insurgir. E não lhe é

facultado o conformismo porque a sua responsabilidade para com

a defesa do direito que lhe foi confiado pelo cliente, está acima da

sua própria autonomia.

Colhe-se da jurisprudência143 o seguinte enunciado:

142 RAMOS, Gisela Gondin. Estatuto da advocacia: comentários e jurisprudência selecionada. 4 ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2003. p. 135.

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PROCESSO PENAL. INQUÉRITO POLICIAL. MANDADO DE

SEGURANÇA. DIREITO DE COPIAR PEÇAS DO INQUERITO. 1.

Não se aplica ao advogado do indiciado o sigilo, previsto no art.

20, do CPP, sob pena de violação ao princípio da ampla defesa.

Também o Estatuto da OAB assegura ao causídico o direito de

copiar peças (Lei n˚ 8.906/94, art. 7˚, inc. XIV). 2. Remessa

improvida. (TRF – 5ª Região – REO-0556248/96-CE, rel. Juiz

Araken Mariz, j. em 19-05-98, 2ª T., v.u., DJ de 10-07-98, p. 92).

Cruz e Tucci144 citado por Saad pondera que:

Para se assegurar a liberdade e, sobretudo, a igualdade das

partes faz-se imprescindível que, durante todo o transcorrer do

processo, sejam assistidas e/ou representadas por um defensor,

dotado de conhecimento técnico especializado, e que, com sua

inteligência e domínio dos mecanismos procedimentais, lhe

propicie a tutela de seu interesse ou determine o estabelecimento

ou restabelecimento do equilíbrio do contraditório.

Esclarece Ramos145 quanto ao exame de documentos e

processos:

A disposição do inc. XIV não oferece maiores dificuldades, já que

trata do simples exame, pelo advogado, de documentos que

componham processos que não estejam em segredo de justiça,

porquanto o exame se dá no próprio local em que os mesmos se

encontrem, em se tratando de processos em andamento. Estando

concluído o processo, basta a simples apresentação da carteira

profissional.

143 TRF – 5ª Região – REO-0556248/96-CE, rel. Juiz Araken Mariz, j. em 19-05-98, 2ª T., v.u., DJ de 10-07-98, p. 92144 SAAD, Marta. O direito de defesa no inquérito policial. São Paulo: RT, 2004, p.228.145 RAMOS, Gisela Gondin. Estatuto da advocacia: comentários e jurisprudência selecionada. 4 ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2003. p. 146.

94

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O advogado do indiciado tem fundamental importância no

inquérito policial, porque é ele quem irá elaborar a defesa técnica do individuo

acusado. Como fora arrolado anteriormente pelo autores, pode o advogado ter

vistas de todo o inquérito findo ou em andamento, até mesmo sem procuração.

1.16CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

Realizados todos os atos processuais do inquérito policial

sendo preservado o princípio da presunção de inocência, a peça administrativa é

finalizada com um relatório minucioso de tudo que foi apurado, desta feita, é

então enviado todo o conteúdo do inquérito juntamente com todos os documentos

anexados para o juiz competente.

O ordenamento processual penal expõe que:

Art. 10 – (...)

§ 1˚ a autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido

apurado e enviará os autos ao juiz competente;

§ 2˚ no relatório poderá a autoridade indicar testemunhas

que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser

encontradas.

Mehmeri146 salienta que:

Muito se tem discutido sobre a justeza dessa estreita cota prazal,

sobretudo se se considerar, não a década da promulgação da lei

que o estipulou, mas os dias atuais, em que a Polícia,

inegavelmente acumulada de serviços e funções, não tem

146 MEHMERI, Adilson. Inquérito policial dinâmica, São Paulo: Saraiva, 1992, p.298-299.

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condições reais de cumprir tais prazos, rigorosamente curtos, e

por isso raramente cumpríveis.

E finaliza:

Como se vê, persiste a existência de rigoroso cumprimento desse

prazo, ainda que reconhecida a estreiteza de sua cota, nos dias

vertentes. Argumenta-se, a guisa de justificação de tal

inflexibilidade, que, se há acumulo de serviço nas Delegacias de

Polícia, ao Estado cumpre prover as deficiências com aumento de

pessoal qualificado. Não pode – dizem eles – a liberdade do

indiciado ficar a mercê de dificuldade que não dependem dele.

Observa Tourinho Filho147 que:

O prazo para a Autoridade Policial concluir as investigações,

tratando-se de indiciado que esteja solto, é de trinta dias, mas

caso não sejam concluídas dentro desse lapso, pode solicitar ao

Juiz sua dilação. Embora tal pedido possa ser feito nos termos do

§ 3˚ do art. 10, em face dos inúmeros inquéritos que tramitam

pelas Delegacias, já se tornou comum a concessão de novo

prazo, mesmo quando o fato não seja de difícil elucidação.

No mesmo rumo segue Mirabete148:

Fixa o Código, no artigo 10, o prazo de 30 dias para a conclusão

do inquérito policial se o indiciado estiver solto, mediante fiança ou

sem ela, contando-se o lapso de tempo da data do recebimento

pela autoridade policial da requisição ou requerimento ou, em

gera, da portaria que deve ser expedida quando da notitia

criminis. Estando o réu preso, o prazo é de 10 dias, contados da

147 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Pratica de processo penal. 27 ed. rev. Atual. e aum. São Paulo: 2006. p. 8.148 MIRABETE, Julio fabrini. Processo penal. São Paulo: Atlas, 2006, p. 80.

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data da prisão (em flagrante ou decorrente do cumprimento de

mandado de prisão preventiva).

E acrescenta:

Dispõe, porem, o artigo 10, § 3˚: “Quando o fato for de difícil

elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá

requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências,

que serão realizadas no prazo marcado pelo Juiz.” Não obstante,

a prorrogação do prazo tem sido deferida ordinariamente mesmo

na hipótese de crime de fácil elucidação quando não foi possível

ultimar no prazo legal todas as diligências necessárias à

conclusão do inquérito.

No mesmo norte segue Capez149:

Quando o indiciado estiver em liberdade, a autoridade policial

deverá concluir as investigações no prazo de trinta dias, contados

a partir do recebimento da notitia criminis (CPP, art. 10, caput).

Nesta hipótese, isto é, quando o sujeito estiver solto, o § 3˚ do

mesmo artigo permite a prorrogação do prazo pelo juiz sempre

que o inquérito não estiver concluído dentro do prazo legal, desde

que o caso seja de difícil elucidação. Não obstante a omissão do

Código de Processo Penal, o juiz, antes de fazê-lo, deverá ouvir o

titular da ação penal, o qual poderá, se concluir pela presença de

suficientes elementos de convicção, exercer desde logo o direito

de ação, ou, então, propor novas providencias. Findo o inquérito,

pode também o Ministério Público devolver os autos para novas

diligências, que entender imprescindíveis (CPP, art. 16); a regra

deve ser aplicada por analogia, ao ofendido, sempre que se tratar

de ação de sua iniciativa.

149 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p.98.

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Concluído o inquérito policial, é feito um relatório detalhado

com tudo que foi apurado no decorrer do inquérito. No entendimento dos autores

ora citados, feito todos os atos inscritos no ordenamento processual, a peça do

inquérito policial é remetido ao juízo criminal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente monografia teve como objetivo demonstrar que

mesmo no inquérito policial o direito de defesa não pode ser cerceado sob pena

de infringir preceitos constitucionais.

Para tanto, no Capítulo 1 tratou-se do conceito e finalidade

do Inquérito Policial; seu histórico de como era antigamente e como era o

procedimento para descobrir o responsável por um ato criminoso, a classificação

dos inquéritos divididos em determinadas esferas assim como: inquérito policial

militar, inquérito administrativo em sentido estrito, inquérito parlamentar, os

procedimentos utilizados pela policia judiciária para desvendar o ato criminoso

praticado, atos do inquérito policial descrito no Código de Processo Penal,

características que fundamenta a peça inquisitória administrativa como: forma

escrita, sigilo, discricionariedade. Os prazos do inquérito policial estabelecido em

lei para que o inquérito seja finalizado e entregue ao juízo criminal.

No Capítulo 2, tratou-se do Direito de Defesa do defensor

constituído ou nomeado requerer junto à autoridade policial, oitiva de

testemunhas de defesa e a produção de diligências que possa servir a favor do

indiciado, embasado em princípios e garantias constitucionais que garantam o

bom andamento do inquérito. Analisa-se os princípios processuais penais, tais

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como: princípio da dignidade, devido processo legal, presunção de inocência,

princípio da verdade real, princípio da vedação das provas ilícitas e, por fim,

princípio da publicidade.

No Capítulo 3, derradeiro capítulo, tratou-se do direito de

defesa no inquérito policial começando pelo início do inquérito policial depois de

ocorrido o fato tido como crime e levado ao conhecimento da autoridade policial.

Será analisado, principalmente, a dimensão do princípio de não produzir provas

contra si no inquérito policial e se, tal garantia é viável ao indiciado pelo fato de

não caber-lhe o ônus da prova.

Por fim, retomam-se as hipóteses levantadas na introdução:

A 1ª Hipótese restou confirmada, tendo em vista que o indiciado

tem assegurado o direito de ser interrogado somente com a

presença do defensor constituído ou nomeado;

A 2ª Hipótese também restou confirmada, tendo em vista que o

indiciado deve ser informado por escrito de seus direitos

constitucionais de permanecer calado e de não produzir provas

contra si mesmo;

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