O Discurso Social Coletivo e o documentário contemporâneo na era digital3

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  • 8/14/2019 O Discurso Social Coletivo e o documentrio contemporneo na era digital3

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    O DISCURSO DO SUJEITO COLETIVOE O DOCUMENTRIO.

    NOVAS POSSIBILIDADES NA ERA DIGITAL

    J osias Pereira1- [email protected] Coelli2

    Paula Tortola3

    Fernando Lefevre.4

    Categoria de Apresentao: Comunicao Oral

    1 Mestre em educao, Documentarista, roteirista, professor e Pesquisador da FACNOPAR2 Aluna de Comunicao da FACNOPAR3 Aluna de comunicao da FACNOPAR4 Doutor e Pesquisador da USP - Um dos criadores do Discurso do Sujeito Coletivo

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    mailto:[email protected]:[email protected]
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    Resumo: Neste trabalho iremos debater como o documentrio contemporneo vemsobrevivendo nova esttica do sculo XXI. O valor do documentrio est resumido amatria jornalstica? E a linguagem evoluiu ? Como o Discurso do Sujeito coletivo podecontribuir na realizao do documentrio contemporneo.

    Palavras-chave: Documentrio, Discurso do Sujeito Coletivo, subjetividade

    Todas as pessoas que entram em contato com a realidade social constroemrepresentaes desta realidade em suas cabeas. Cada um de nos formajuzos de valor a respeito do mundo, seus personagens, acontecimentos

    e fenmenos e acredita que esses juzos correspondem a verdade,ou seja:a verdade de cada um a idia do real que cada pessoa cr

    ser a mais fiel ao que efetivamente existe.Muito Alm do Jardim Botnico

    Carlos Eduardo Lins da Silva (1985)

    A sociedade est passando por transformaes estruturais, novas formas deorganizao social esto surgindo, mudando as estruturas de poder. O documentrio,que sempre foi um gnero que apresenta para a sociedade um questionamento, estapassando por mudanas, com a chegada de novos diretores, que tem em seu acervocultural, apenas a linguagem televisiva. Como ento este gnero esta se adaptando?Como est sobrevivendo no mundo digital? Como os novos diretores que no tem nalinguagem cinematogrfica sua marca registrada esto produzindo?

    A introduo das NTIC s na sociedade vem acelerando mudanas no mbitopoltico, cultural e social. Uma delas vem de encontro poltica internacional daglobalizao, o surgimento da banda larga e da possibilidade de assistir vdeos distncia, proporcionado por sites como o you tube foi uma revoluo silenciosa iniciadaem 2005 pelos amigos Chad Hurley e Steve Chen. A mudana realizada contribuiupara que o espectador saia da rea da passividade, esperar um titulo ser escolhido paraentrar na grade de uma emissora. O espectador s poderia assistir o que a emissoradesejasse, devido a contratos ou poltica interna. Assim, ficvamos a merc dasemissoras.

    Com as mudanas na tecnologia e com a contribuio de sites de exibio de

    vdeos e troca de filmes via Internet, muitos filmes comearam a ser vistos, muitoscurtas, a maioria amadores, comearam a se espalhar pela rede mundial decomputadores. Outro fator importante para o crescimento dos sites de exibio foi odesenvolvimento em 1994 da tecnologia de vdeos digitais. Empresas como Sony ePanasonic criaram cmeras de qualidade com preos diferenciados do broadcasting5,

    5Transmisso de sinal (udio ou vdeo) dentro dos padres nacionais para recepo de qualidade pelo espectador.

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    so as cmeras consumer6. Com a juno de cmeras de qualidade, equipamentosde edio a baixo preo e Internet com banda larga e o surgimento do streaming7 devdeo, da inicio a revoluo dos documentrios do sculo XXI

    O documentrio um gnero que para muitos sinnimo de chatice em

    funo dos documentrios etnogrficos exibidos pelas emissoras de Tv na dcada de70 e 80, neste tipo de documentrio o pesquisador atravs de um off8, voz de DEUS,explicava o que estava acontecendo com um ar de sabedoria. Narrando, explicando ofilme inteiro. Na dcada de 50 documentaristas americanos mudaram esta tcnicareformulando o documentrio. E os atuais diretores contam com equipamentos de baixocusto e alta tecnologia. So diretores oriundos de escolas de cinema que comeam arevoluo da linguagem do documentrio. Nos site vemos outro tipo de diretores, emgrande parte adolescentes que no conhecem a estrutura narrativa cinematogrfica outeatral e tem na Tv sua nica escola audiovisual.

    Alguns destes novos realizadores de vdeo digital (Silva, J .P. 2007) nem temconhecimento da linguagem audiovisual e realizam seus vdeos de modo intuitivo.Estes diretores, em boa parte, apresentam apenas na TV sua socializao paralinguagem do documentrio e no telejornal e nas reportagens especiais o modelo decomo fazer uma edio, dirigir e produzir um documentrio. Segundo Harvey, (1992),as ordenaes simblicas do espao e do tempo fornecem uma estrutura para aexperincia mediante a qual aprendemos quem ou o que somos na sociedade.

    A crescente insero da Tecnologia de Informao nas atividades humanas estcriando novos paradigmas sobre os relacionamentos humanos, e porque no uma novasocializao, a mdia. Segundo Luckmann (2000) a socializao primaria realizadacom afeto, emoo, diferentemente da socializao secundaria. E as NTICsconseguem emocionar sem impor, pois deixa a pessoa livre para escolher, mudar,alterar. Contribuindo assim para socializao do espectador. Para Baudrillard, ao invsdo econmico ser o determinante da vida social, a cultura passa a ser o elementoprincipal das relaes sociais, atuando, inclusive, sobre o significado dos aspectoseconmicos, e, por conseguinte, no seu poder de influenciar a dinmica dassociedades. (BAUDRILLARD, 1995).

    O CinemaO cinema surge como uma evoluo tecnolgica. Os irmos Lumiere em 1895

    realizam o primeiro registro de imagem em movimento, com a captao de imagens detrabalhadores saindo da fabrica da famlia Lumiere na cidade Francesa de Lyon. Osirmos deixaram a cmera parada focalizando os trabalhadores andando, saindo da

    6Equipamento feito para o consumidor, mais simples de operar e de qualidade mediana.

    7 uma tecnologia que permite o envio de informao multimdia por meio de pacotes. Assim no h necessidade de

    baixar o arquivo, udio ou vdeo para o seu computador, voc pode assistir ou ouvir enquanto o computador aindaesta lendo os dados graas ao buffer ( uma pequena rea de memria que armazena os dados)

    8 tcnica utilizada no cinema e no telejornal, quando um narrador, fora do ambiente apresentado descreve ouapresenta ao espectador a cena, sem estar nela.

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    fabrica. Os irmos lumiere no fascnio de sua experincia retrataram vrios aspectosque hoje podemos chamar de documentos audiovisuais. J o ilusionista Mlis viu nocinema uma maneira de dar continuidade a sua profisso. E fez da nascente tecnologiaum suporte para apresentar suas modificaes da realidade, de modificar, criar iluso.Isso fica claro em filmes como Le Voyage dans la lune ("Viagem Lua") de 1902.

    A nova tecnologia, o cinema, passa a ser usado de modo comercial paraproduo de curtas, mas ainda em espaos de tempo curto. Ate que Griffith comea acriar um novo tempo, o tempo flmico, uma nova linguagem surge com a desarticulandodo real. E o cinema sai da mera funo de registro e passa a ser arte. Com o longametragem de 1915 O surgimento de uma Nao Griffith da inicio ao cinema clssicoamericano com a estrutura narrativa, enquanto isso comercialmente o documentrio deixado de lado. A fico encanta mais que a realidade.

    O DocumentrioO Documentrio um gnero cinematogrfico que se caracteriza pelo

    compromisso com a explorao da realidade. No representa a realidade como ela ,mas do ponto de vista de um diretor. O documentrio, assim como o cinema de fico, uma representao parcial e subjectiva da realidade, documentrio no a realidade,apenas retrata um assunto real uma realidade midiada.

    O primeiro filme a ser considerado um marco histrico do gnero O esquimde (1922) de Robert Flaherty. O que destacou o filme dos demais de viagens feitos napoca o fato de ele incorporar s imagens naturais estratgias prprias da narrativaficcional. A criao do termo documentrio creditada ao escocs J ohn Griersonpioneiro no estudo do documentarismo e criador da escola britnica de documentrios,conhecida como a primeira no mundo a se dedicar ao estudo do assunto. Grierson noacredita na abordagem extica, etnogrfica e prope a aproximao com o mundoque est sua volta, em meio aos problemas econmicos e sociais como desemprego,pobreza, explorao da mo-de-obra e outros.

    Podemos dizer que :Escola Flahertyana Uso do documentrio como antropologia visual,

    etnogrfico ligado pesquisa, analise e registro dos fatosEscola Griersoniana uso do documentrio como denuncia social, contribuindo

    para um mundo melhorGrierson acredita que o documentrio tem um potencial educacional sobre as

    massas, podendo ser utilizado para superar problemas econmicos, sociais oupolticos atravs da conscientizao das pessoas a respeito de suas responsabilidadescomo cidados. Ele foi responsvel pelo reconhecimento da produo flmica enquantoproduo autoral especfica na Inglaterra dos anos de 1930.

    Na Rssia, na dcada de 20, foram realizadas pesquisas sobre o cinema,destacamos Dizga Vertov que cria o chamado cimena direto, ou cinema verdade quese empenha em captar, sem fins didticos a realidade, e procura reproduzir o que odiretor julga ser realidade. De suas pesquisas resulta o filme O homem e a cmerauma obra prima sobre montagem e enquadramento.

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    http://pt.wikipedia.org/wiki/Realidadehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cinema_de_fic%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Flahertyhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Realidadehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Realidadehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Flahertyhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cinema_de_fic%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Realidade
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    A Narrativa no DocumentrioNo documentrio a construo narrativa aponta para o ponto de vista do diretor.

    A esttica e a linguagem audiovisual so deixadas em segundo plano e o discurso valorizado em detrimento do belo. Muitas criticas realizadas ao modelo Griersonianade se fazer documentrio a subjetividade do diretor em cena. A imagem no retrata

    apenas a beleza esttica ou o plano perfeito, mas esto a servio de uma narrativa,onde o importante o entendimento do tema, a compreenso do que o diretor desejaapresentar, a viso do diretor sobre o que a verdade, por isso que chamamos de umaverdade midiada . Muitas vezes h a inverso da esttica para que o espectador vejae sinta um ponto de vista que geralmente a grande imprensa no apresenta. Imagensfortes e pontos de vistas diferentes.

    Em 1929, com o surgimento do som no cinema, o documentrio ganha maisfora com outro elemento de narrativa. O som passa a ser incorporado e usado pelosdiretores. Porm, outro problema apresentado, como fazer o corte do udio? Ondecortar? Qual metodologia usar? Analise do discurso ou analise do contedo?

    Ao se entrevistar uma pessoa para uma reportagem ou documentrio, o materialcolhido sempre maior que o tempo para exibio ou para o recorte especifico que oprofissional de mdia quer dar a matria ou ao documentrio. Assim, parte do discurso eliminado, e a escolha do profissional de mdia ou diretor. Ou seja, o que apresentado ao grande publico, sempre uma viso do material colhido, material estemuitas vezes aqum de uma pesquisa profunda. Assim uma das criticas que fazemosao gnero sobre as entrevistas apresentadas.

    O diretor escolhe a pessoas que ele acha importante, 1 subjetividade. Depois odiretor vai ouvir a entrevista, cortando o udio no ponto que ele deseja, deixando de foras vezes ate o ponto de vista real do entrevistado, 2 subjetividade. Sem contar onumero de pessoas que so entrevistadas e no utilizadas, por motivos de no seadequar no que o diretor deseja passar. 3 subjetividade. Ou seja, documentrio asubjetividade do diretor, longe de ser a verdade derradeira. E o telejornal que a basede aprendizagem de vrios documentaristas no fica longe desta realidade.

    Como exemplo cito uma suposta matria jornalstica sobre o governo Brasileiro,a reprter entrevista 15 pessoas e s ira colocar na matria 3 pessoas respondendo oseu questionamento sobre o governo. Se neste suposto exemplo 10 pessoas falem bemdo governo e 5 no falem to bem. Na hora de editar, a reprter pode colocar apenas 3pessoas falando. Pela diretriz do J ornal e da reportagem ela escolhe os entrevistados eas falas e a matria exibida fica assim. Duas pessoas no falando bem do governo euma falando bem. Neste pequeno exemplo podemos ver que ouve manipulao dedados, ou pelo menos no foi registrado a totalidade da pesquisa que ele realizou, ouseja, quem assiste v o jornal como um ponto de vista da verdade, mas no tem idiado que no foi ao ar.

    Sabemos que o ser humano um ser ideolgico e poltico, a imparcialidadedefendida pela imprensa no passa de delrio ou desejo. O espectador deve ter emmente que no h um vis na realidade do dia a dia dentro de uma emissora de TV, nafinalizao de uma matria ou artigo, muito menos na edio de um documentrio. Todoo processo mediado por algum ou por interesses. Profissionais da mdia vivem o

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    trauma do ndice de audincia e os anunciantes se tornaram uma busca inconscientee um carrasco desejado. Para Chau (2004)

    ideologia um conjunto lgico, sistemtico e coerente de representaes deidias e valores e de normas ou regras de conduta, que indicam e prescrevem aosmembros da sociedade o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e

    como devem fazer.Linguagem

    O publico de modo geral est acostumado com a linguagem televisiva e com oscdigos que a TV criou neste 50 anos de Brasil. Geralmente uma linguagem de fcilassimilao e entendimento, sem muitos detalhes e linguajar mais assimilvel. Semmuitas parafernlias artsticas e tecnolgicas.

    Segundo Silva, J .P. (2007)A Tv funciona como restaurante fast food, da a sensao de estar bem

    alimentado, mas na verdade uma alimentao com muitos carboidratos e carente devitaminas, protenas e sais minerais. J o cinema como um restaurante, que vocescolhe o prato, dependendo do restaurante ele feito, s para voc. E quando chega aalimentao voc aprecia cada parte, no para encher a barriga, se alimentarbiologicamente, mas desfruta a comida com prazer, e no apenas para continuar Vivo.

    Na TV, em diversos momentos notrio a imparcialidade do reprter, ou doapresentador, seu nervosismo e inexperincia. H casos que o reprter precisa fazertrs matrias por dia. Para Umberto Eco, a linguagem televisiva uma combinao detrs cdigos: o icnico, o lingstico e o sonoro.9O primeiro a parte esttica,referenciado a imagem. O segundo refere-se lngua, o discurso utilizado e o terceiro o cdigo sonoro relativo msica, e aos efeitos sonoros.

    Em nossa digresso o importante ser o cdigo lingstico e como a narrativapode ser realizada dentro deste cdigo, e como a construo de um documentrio seda via discurso e como o discurso do sujeito coletivo pode ser utilizado.

    A professora Consuelo Lins da UFRJ fala do documentrio e a utilizao do off10,tambm conhecido como a voz de Deus11; segundo a pesquisadora:

    Os pioneiros do cinema direto americano iniciaram no final dos anos 50, umasdas grandes mudanas no modo de filmar e montar documentrios partindo de umacrtica radical ao que eles consideravam uma esttica marcada pela herana do rdio.Filmes que eram absolutamente compreensveis sem a imagem e que eramininteligveis sem a locuo. Eles apostaram nas possibilidades narrativas da imagemoptando pelo sincronismo entre imagem e som de planos seqncias que capturavampersonagens em movimento, acontecimentos em processo.

    9 Eco apud Rezende, p. 38.10 Off tambm chamado Voz Over quando aparece uma cena e ouve a narrao do fato.11 Artigo apresentado no comps 2007 O ensaio no documentrio e a questo da narrao em offConsuelo Lins.

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    O grande uso do off em alguns documentrios pode ser explicado tambm pelovis da pratica, j que muitos profissionais de mdia perceberam que a populao de ummodo geral, os mais carentes gostavam da linguagem da TV, assim era uma maneira,inconsciente, de fazer o documentrio ser entendido. Outro motivo levantado quealguns documentaristas foram trabalhar na Tv e outros surgiram da TV, como exemplo

    citamos Eduardo Coutinho

    12.

    Assim, estes estilos misturados, Criaram uma confusonos dias de hoje, o que documentrio e o que jornalismo? Qual a diferena principalentre estas duas formas de expresso? At profissionais se confundem na hora dedelimitar os espaos de cada um.

    A voz de Deus, o off, aos poucos vai dando lugar narrao, personagens quenarram o fato em vez do off, este tipo de linguagem imperou ate o inicio da dcada de1990, quando a linguagem do documentrio se aproximou do telejornalismo. Na dcadade 90 vimos surgir uma nova gerao, diretores criados em faculdades de cinema comuma linguagem prxima da fico, onde a narrativa do documentrio realizada emcima de atores sociais. Personagens so apresentados e seguidos, produzindo noespectador um modo de assimilao com a fico. Era uma maneira de se usar osatores sociais, usar de seus discurso para mostrar o que o diretor optou por serdenuncia ou querer mostrar. Ainda ligado tradio Griersoniana de se fazerdocumentrio. A diferena bsica entre o estilo de narrao eo o narrativo ligado afico que neste so escolhidos personagens que ser apresentados e seguidos,naquele so depoimentos de varias pessoas refazendo a idia do off sobre algumtpico. Com estes novos diretores surge uma edio pautada nos acontecimentos e nanarrativa lgica dos dilogos editados. Como J ose Padilha realizou no nibus 174.Deixar a coletividade e todos os atores sociais, indiferente de sua importncia narrar.Documentrios como Pro Dia Nascer Feliz Direo de J oo J ardim Durao,Estamira direo de Marcos Prado, Meninas direo de Sandra Werneck. Soexemplos dos novos documentrios onde a narrativa feita pelo discurso do outro,atores sociais. Por ironia a fico tenta imitar a vida real e o documentrio tenta imitar alinguagem da fico.

    O Discurso do Sujeito Coletivo - DSC

    Possivelmente, um indivduo qualquer, j tenha sido parado na rua e convidado aresponder algum tipo de enqute ou pesquisa sobre determinado tema, como em umapesquisa de opinio. O entrevistador lhe faz algumas perguntas e lhe apresentarespostas pr-estabelecidas, cabendo ao entrevistado optar por uma destas respostascomo sua prpria opinio, mesmo que o seu verdadeiro pensamento sobre o assuntono esteja no questionrio.

    O entrevistador pode tambm fazer algumas perguntas abertas deixando maisliberdade para o entrevistado dar sua prpria opinio. O Discurso do Sujeito Coletivo, ouDSC uma mtodo desenvolvido para ser usado em pesquisas de opinio onde sebusca dar toda prioridade ao pensamento do entrevistado, utilizado sempre questesabertas, formuladas da maneira mais neutra possvel para no induzir respostas.

    12 Coutinho trabalhou no globo reprter

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    A grande novidade deste mtodo que ele consegue conciliar as vantagens daentrevista aberta (liberdade ao entrevistado) com o pensamento das coletividades namedida em que as distintas opinies coletivas sobre um determinado tema, com seuscontedos e argumentos, so enunciadas na primeira pessoa do singular, unindo-senum s discurso os depoimentos das pessoas que tenham o mesmo pensamento ou

    opinio, criando ento o Discurso do Sujeito Coletivo. Assim todos os entrevistados tema oportunidade de ofertar sua opinio, mesmo que esta no esteja em uma categoriapr-definida, sendo dada ateno aos "contedos discursivos e argumentativospresentes nos discursos individuais" (Lefevre e Lefevre, 2004 ) e no simplesmente aconcordncia com idias j pr-concebidas pelo entrevistador.

    O DSC descreve o pensamento das coletividades de modo qualiquantitativo demodo qualitativo reunindo, num discurso-sntese, as respostas semelhantes emitidas porentrevistados distintos, formando ento, o pensamento coletivo atravs de uma somaqualitativa, que agrega as diferentes opinies no intuito de formar o discurso coletivo;mas esta soma que qualitativa tambm quantitativa na medida em que cada DSCque expressa uma dada opinio coletiva formado por um nmero determinado dedepoimentos de sentido semelhante, emitidos por um determinado nmero deindivduos (de 1 a N), que constitui uma frao ou um percentual dos indivduos quecompe a amostra de indivduos pesquisados. Assim, por exemplo, se numa pesquisade opinio feita uma questo para, digamos, 200 indivduos pode haver, digamos, 10opinies diferentes sobre o tema pesquisado, que daro nascimento a 10 DSCs, cadaum deles apresentando uma determinada distribuio ( 20%; 30%;1% etc.) no conjuntoda populao pesquisada. Todas as opinies so respeitadas.

    O DSC e o documentrioDesde a sua gnese o documentrio se apresenta como um ponto de vista do

    diretor. Nos primrdios do documentrio, quando o cinema ainda era mudo, a imagemtinha valor central, narrando a historia e apresentando o fato. Porm a imagemapresenta varias interpretaes, e nem sempre a que o diretor desejava. Com oadvento do udio no final da dcada de 20 o documentrio incorpora para sua estticaeste elemento tecnolgico, mas em vez do udio complementar a imagem, ele tentaassumir e deixar a imagem em 2 plano. Segundo a pesquisadora Consuelo Lins Anarrao em off, recurso inventado nos anos 30 pelo movimento liderado pelodocumentarista J ohn Grierson e que marcou definitivamente a trajetria de filmesdocumentais.

    Nosso questionamento, e o que desejamos debater como estas falas so

    eleitas, escolhidas, e colocadas em uma ordem. O que alguns diretores fazem deixarum ator social comentar um ponto da historia, e o ator social B ira contrapor a idia oureforar a mesma. A criao narrativa do documentrio feita pela associao destasfrases criando um discurso nico, como um texto narrativo, uma coeso narrativa e deidias que postos em seqncia do unidade narrativa.

    Diferentemente da fico no documentrio a principal fonte de informaes vemdos depoimentos, aos quais ele d apoio. Para RONDELLI, (1998, p. 32)

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    a suposta existncia de um exerccio livre e polifnico das vozes discursivaspode ser contestado pelo argumento de que a simultaneidade de vrias vozes, emboraindependentes, se desenvolve a partir de um mesmo referencial, todas partem de ummesmo conjunto de fatos, previamente eleitos, postos discusso pblica.

    Criando um protocolo - Como fazer um documentrio usando o DSC?Em nossa pesquisa na utilizao do DSC no documentrio temos visto que

    precisamos, diferentemente do documentrio tradicional, diminuir a interferncia que odiretor possa dar a realidade, informar o espectador o numero de pessoas que foramentrevistados, colocar todos os pontos de vista, e fazer um resumo das diferentes visese onde a pesquisa foi realizada. Assim, estaremos dando mais transparncia. Poiscomo exemplo posso entrevista 30 pessoas e s usar 5 no documentrio, pois estasestavam dentro do que eu queria mostrar e apresentar, mas e a opinio dos que eu noutilizei? simplesmente eliminada, pois no esta dentro do ponto de vista que o diretorqueria dar ao documentrio. Usando o mtodo DSC esta duvida acaba, pois terei queinformar o espectador o nmero de entrevistados que utilizei. Temos em mente que issono inicio poderia criar um afastamento do espectador, por isso, a apresentao dosdados no final do documentrio.

    Para dar fluncia a linguagem audiovisual, os depoimentos devem ser cortadossem plano de apoio ou efeitos13, que poderia caracterizar no espectador umpensamento continuo do entrevistado, pelo contrario, o pulo de imagem ou um flashbranco ira denunciar que naquele ponto houve a manipulao do diretor.

    1 EtapaA idia principal do uso do DSC no documentrio seria utilizar uma Amostra das

    pessoas entrevistadas, fazer com que o contexto global da pesquisa seja resumidoproporcionalmente a poucos entrevistados, pois com o uso do DSC a opinio de todosser utilizada, mas no necessariamente todos tero que aparecer. A idia central quedeve ser a principal.

    2 EtapaA edio pode ser realizada com frases de cada entrevistado formando o DSC.

    Todas as falas seriam uma seqncia lgica, onde uma complementaria a outraformando um s discurso. Varias vozes criando um discurso nico . E os outrosentrevistados que apresentarem falas diferentes formariam outro discurso, fazendo comque todas as opinies fossem realmente apresentadas, sem deixar de mostrarnenhuma.

    3 Etapa

    13Plano de apoio utilizado quando se deseja reprimir uma parte da fala e juntar com outra.Tecnicamente a imagem iria apresentar o que chamamos de pulo de imagem. E o que se faz em algunscasos que no momento do corte se coloca um plano de outra coisa, ou detalhe do entrevistado, assimpara o expectador o corte fica mascarado.

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    E no inicio de cada depoimento do grupo apresentar o nmero de entrevistados ea porcentagem daquele grupo. Diminuindo assim a idia de que so apresentaram aspessoas entrevistadas.

    4 Etapa

    Opcional: Focar a opinio do jornalista ou diretor embasado academicamente,por um pesquisador respeitado da rea, fazendo explicaes sobre a realidade doassunto apresentado, indo contra ou a favor das opinies apresentadas.

    ConclusoNo pregamos a neutralidade no documentrio, pelo contrario, apenas

    desejamos contribuir com uma nova viso que pode ser realizada, ou experimentada naacademia e por novos diretores. Acreditamos que a faculdade tem por tradio apesquisa e a busca de novos caminhos.

    Desejamos que a populao tenha em mente que todo discurso apresentadopelos meios audiovisuais um discurso construdo a partir de fragmentos da realidade,o que no se permite concluir, que a verdade, mas um trabalho de subjetividade e deverdade de quem produziu a matria ou o documentrio. E que o publico pode, e deve,concordar ou discordar, pois o meio s apresenta um ponto de vista! E o DSC pelomenos minimiza a distancia entre o que foi coletado nas ruas nas entrevistas e o querealmente foi utilizado.

    Como diria Bretch

    No tomar partido em arte, ficar do lado do continusmo

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