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O Encontro Outubro de 2011 A Luz no Caminho - Associação Espiritualista - Distribuição gratuita Bhagavan Sri Ramana Maharshi O espírito encarnado não está envolvido pelos apelos do mundo. São os homens que, atrelados aos desejos, querem a todo instante se convencer de que Deus só é Deus quando atende aos seus pedidos. Ramana sempre foi absolutamente correto e isento em seu modo de viver. Era todo compaixão, mas não se comprazia pelos argumentos dos egos. O correto era o correto. O comportamento de todos deveria ser sempre pautado nos princípios da disciplina e não havia motivos para privilégios. Ramana não era “morno”. Era dócil, mas, acima de tudo, era fiel ao propósito da li- bertação. Assim também foi Francisco de Assis. Não vendo distinções entre os seres viventes, respeitava a tudo como possuidor do sopro divino. Tal como Bhagavan, não vejamos Francisco sob uma ótica “român- tica” de uma aparência no trato. Ambos os sábios eram delicados, atenciosos e harmônicos nas pa- lavras e nas atitudes, entretanto, jamais foram convencidos por pro- cedimentos que destoassem da ca- ridade e da fraternidade entre os seres vivos. Sri Maharshi sempre fora um oceano de tranquilidade, que nunca se encapelara por qualquer emoção causada por elogios ou censuras de outros. Na verdade, não havia “ou- tros” para Ele, pois Ele é o Ser de todos. Não se barganha com Deus. Ramana não poderia ser “conquis- tado” por trocas ou por envolvi- mentos “egóicos”. Alguns animais que conviveram com Ramana são o testemunho da unidade franciscana entre esses dois seres iluminados. Havia um velho cão no ashram que se encon- trava doente na ocasião da invasão de la- dros ao templo. Ramana ficou tão preocupado com o animal, que pediu a um devoto que primeiro que tudo levasse o cachor- ro para um O lado anciscano de Ra mana Por Marcos Garcia Daqui a sete meses A Luz no Caminho fará 40 anos. Tudo o que foi e é feito é extre- mamente louvável. A divulgação dos ensinamentos do Bhagavan, a descoberta de quem nós so- mos, a condução ao olhar que acalma, o atendimento espiritual, trazendo alívio e certeza de que a fé conduz ao Mestre. Tantas pessoas que passaram e ainda estão na casa do Maharshi cer- tamente têm a vida dividida em duas etapas: antes e depois de conhecê-lo. Iremos tornar esse aniversário inesquecível. A eterna presença Dele torna isso possível, porque a energia que Ele emana conta- gia e faz com que nos tornemos determinados, incansáveis. Esse aniversário, mais Dele do que nosso, nos traz a responsabilida- de de continuar sua obra, tijolo por tijolo. E Ele espera muito mais de nós, desafia a nossa ca- pacidade, a nossa determinação, porque, no fundo, Ele acredita que podemos fazer mais, jogar fora a vergonha e a acomoda- ção. O amor que temos por Ele é maior do que tudo. A partir de outubro começa- mos os planos para o Grande Aniversário, em que Bhagavan é a grande razão para a comemo- ração e nós somos convidados a ser os coadjuvantes desta história de fé, determinação e felicidade, de uma vida sem volta. Daqui a sete meses Por Daniel Soares Editorial i Na Unidade do Ser

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O EncontroOutubro de 2011A Luz no Caminho - Associação Espiritualista - Distribuição gratuita

Bhagavan Sri Ramana Maharshi

O espírito encarnado não está envolvido pelos apelos do mundo. São os homens que, atrelados aos desejos, querem a todo instante se convencer de que Deus só é Deus quando atende aos seus pedidos. Ramana sempre foi absolutamente correto e isento em seu modo de viver. Era todo compaixão, mas não se comprazia pelos argumentos dos egos. O correto era o correto. O comportamento de todos deveria ser sempre pautado nos princípios da disciplina e não havia motivos para privilégios. Ramana não era “morno”. Era dócil, mas, acima de tudo, era fiel ao propósito da li-bertação.

Assim também foi Francisco de Assis. Não vendo distinções entre os seres viventes, respeitava a tudo como possuidor do sopro divino. Tal como Bhagavan, não vejamos

Francisco sob uma ótica “român-tica” de uma aparência no trato. Ambos os sábios eram delicados, atenciosos e harmônicos nas pa-lavras e nas atitudes, entretanto, jamais foram convencidos por pro-cedimentos que destoassem da ca-ridade e da fraternidade entre os seres vivos.

Sri Maharshi sempre fora um oceano de tranquilidade, que nunca se encapelara por qualquer emoção causada por elogios ou censuras de outros. Na verdade, não havia “ou-tros” para Ele, pois Ele é o Ser de todos. Não se barganha com Deus. Ramana não poderia ser “conquis-tado” por trocas ou por envolvi-mentos “egóicos”.

Alguns animais que conviveram com Ramana são o testemunho da unidade franciscana entre esses dois

seres iluminados. Havia um velho cão no ashram que se encon-trava doente na ocasião da invasão de la-dros ao templo. Ramana ficou tão preocupado com o animal, que pediu a um devoto que primeiro que tudo levasse o cachor-ro para um

O lado franciscano de RamanaPor Marcos Garcia

Daqui a sete meses A Luz no Caminho fará 40 anos. Tudo o que foi e é feito é extre-mamente louvável. A divulgação dos ensinamentos do Bhagavan, a descoberta de quem nós so-mos, a condução ao olhar que acalma, o atendimento espiritual, trazendo alívio e certeza de que a fé conduz ao Mestre. Tantas pessoas que passaram e ainda estão na casa do Maharshi cer-tamente têm a vida dividida em duas etapas: antes e depois de conhecê-lo.

Iremos tornar esse aniversário inesquecível. A eterna presença Dele torna isso possível, porque a energia que Ele emana conta-gia e faz com que nos tornemos determinados, incansáveis. Esse aniversário, mais Dele do que nosso, nos traz a responsabilida-de de continuar sua obra, tijolo por tijolo. E Ele espera muito mais de nós, desafia a nossa ca-pacidade, a nossa determinação, porque, no fundo, Ele acredita que podemos fazer mais, jogar fora a vergonha e a acomoda-ção. O amor que temos por Ele é maior do que tudo.

A partir de outubro começa-mos os planos para o Grande Aniversário, em que Bhagavan é a grande razão para a comemo-ração e nós somos convidados a ser os coadjuvantes desta história de fé, determinação e felicidade, de uma vida sem volta.

Daqui a sete mesesPor Daniel Soares

Editorial

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Na Unidade do Ser

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local seguro, pois temia que os invasores o maltratassem. Em ou-tra ocasião, um visitante enganou-se quando Bhagavan se referiu aos “meninos”. Pensou que o Mestre estivera falando de crianças que pelo sopé da montanha andavam. Ramana disse-lhe: “Não sabemos que almas podem estar naqueles corpos e para cumprir sua missão de karma, ainda por completar-se, procuram nossa companhia.”

O mais importante dos animais foi sem sombra de dúvida a vaca Lakshmi, que deu ao templo vários bezerrinhos e muitos deles nascidos no dia 30 de dezembro (o jayan-thi de Ramana). Outro cão (Chinna Karuppan - “Pretinho”) mereceu de Bhagavan a seguinte descrição: “Era alguém de princípios elevados. E que alma!” Também a cadela Ka-mala foi inesquecível. Ramana lhe dizia: “Leve esta pessoa para co-nhecer o lugar.” Então, ela conduzia o visitante à frente de cada ima-gem, lago, caverna e em torno da colina e o trazia de volta.

Outra história que se conta foi o dia em que Maharshi e alguns devotos estavam voltando de uma longa caminhada. Não havia água em lugar algum por perto. Um

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O lado franciscano de Ramana Continuação

grupo de ma-cacos perceben-do a necessida-de dos homens, subiu num pé de uma árvore frutífera, sacu-diu os galhos e deixou cair um monte de fru-tas. Desceram silenciosamente e foram embo-ra. Nenhum de-les pegou uma fruta sequer.

Quando Ramana ainda vivia na caverna de Virupaksha, um rugido de leopardo foi ouvido. Os devotos correram para apanhar objetos que fizessem barulho para espantar o animal. Ramana os repreendeu: “O leopardo, com o primeiro rugido, me informou que estava chegando. Depois de beber água, avisou-me, com outro rugido, que estava indo embora. Seguiu o seu caminho e nunca se intrometeu com vocês! Esta montanha é o lar desses ani-mais e nós somos os seus hós-

pedes. Sendo assim, é correto de vossa parte expulsá-los?”

Um dia aconteceu que um esqui-lo, vindo buscar comida no ashram e porque Bhagavan estava ocupado lendo e não lhe deu a devida aten-ção - o animal só comia quando Ramana lhe dava o alimento na boca -, mordeu o seu dedo, talvez para chamar-lhe a atenção para a sua presença. Bhagavan repreendeu o esquilo dizendo que por causa de sua atitude, Ele não mais iria alimentá-lo. Coisa que realmente o fez durante alguns dias. O animal-zinho não se continha diante do “desprezo” do Mestre e se rasteja-va, rolava de um lado para o outro na frente de Maharshi, como se pe-disse perdão pela atitude. Até que um dia, Ramana, apiedado do seu “amiguinho”, colocou os amendoins na janela e lhe convidou a se ser-vir. Ele comeu, trepou nas pernas de Ramana e pulou no seu colo de alegria, porque o Mestre voltara a lhe dar atenção.

As histórias foram retiradas do livro “Conversa com Sri Ramana”.

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Shankara e BhagavanCírculo de Estudos

A filosofia que subjaz na vida de Ramana nos faz estabelecer uma clara relação entre Bhagavan e Sri Shankara (686-718 d.C.), um monge errante hindu, considerado um dos principais formuladores da doutrina do advaita vedanta. Seu ensinamento básico é o de que só Deus é a realidade que a tudo pe-netra; a alma individual não é outra senão a alma universal.

Sri Shankara nasceu em Kaladi, vilarejo de Malabar Ocidental, no Sul da Índia. Filho de brahmanes, aos dez anos já era um prodígio acadêmico. Esteve envolvido em discussões profundas com renoma-dos eruditos que de todas as par-tes do país se aproximavam para conhecê-lo. Desde muito cedo, sen-tia um vazio em sua alma, que não podia ser preenchido pelas brinca-deiras corriqueiras dos meninos de sua idade. Começava a questionar a diferença entre o discursos de seus professores e as suas práticas. Essa inquietação e a percepção do

contraste do mundo fez com que o jovem decidisse fazer da sua própria vida um exemplo que pu-desse reconduzir os homens à senda da verdade suprema.

Foi discípulo de Govinda-pada, mas logo alcançou a realização. A partir daí, tem início a sua missão de trans-mitir os ensinamentos da doutrina da unidade (não-dualidade). Uma das suas mais importantes obras, e que é um retrato da beleza dos ensinamentos de Ramana, chama-se Viveka Chuda Mani (A Joia Suprema do Dis-cernimento). Nesse li-vro (uma compilação de uma conversa com um devoto), Shankara fala de forma dire-ta e objetiva sobre o mundo de ilusão (maya) e a unidade do ser.

Deepawali é celebrado em toda a Índia, sempre no último dia da quinzena escura do mês hindu de ashwin (outubro-novembro). Ele simboliza a extinção da ignorância que subjuga a humanidade e da escuridão que devora a luz do co-nhecimento.

A palavra sânscrita deepawa-li significa “fileira de luzes” e, de

Deepawali, o festival das luzesfato, sua atração principal é a ilu-minação. O festival é visto como o início do ano novo.

Deepawali está associado a vá-rias lendas. Uma delas diz que, nes-se dia auspicioso, Lakshmi visita as casas das pessoas, sejam humildes ou poderosas. Todas são iluminadas com o brilho alaranjado de dyas, pequenas lamparinas de argila, para

Agenda

Por Daniel Soares

receber a deusa da prosperidade.

A data também comemora o triunfo do Senhor Rama sobre Ravana e o retorno da divindade para Ayodhya. Foi também nesse dia que o Senhor Krishna venceu o demônio Narkasura.

Trecho do livro Festivais e Jejuns Hindus, de Suresh Narain Mathur.

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O Encontro outubro, 2011

Sempre que canto, estou ContigoQuando os olhos de Thereza de

Jesus fitaram pela primeira vez os olhos de Bhagavan, uma emoção tomou conta dela a ponto de não poder conter as lágrimas. “Não olha-va para mais ninguém, apenas para o retrato do Mestre”, lembra ela. Os encontros da associação aconteciam às terças-feiras, no salão emprestado do centro espírita São Francisco de Paula, quando ela e o filho começa-ram a frequentá-los.

Essa rotina, Teca mantém há quase 40 anos e nem as dores no joelho direito a impedem de subir os degraus que levam até o atual salão principal da instituição, na Rua Maxwell. Assim como fazia na época, ela se senta à cabeceira da mesa, veste o opa azul celeste – uma espécie de pelerine - e começa a escrever mensagens captadas do plano su-perior, muitas vezes sem saber para quem serão dirigidas as palavras. Com muita humildade, Teca revela

que não é a autora dos textos. “Eu ouço as palavras fluírem dentro de mim, como uma intuição”.

Foi dessa forma que também chegou a ela a primeira música da associação, o “Hino da Casa”, e muitas outras canções recitadas até hoje. Nas reuniões de que participa, a voz de Thereza logo se destaca. Cantar é, para ela, uma forma de comunicação com o “alto”; é quando a tristeza dá lugar ao júbilo. Isso ela tem em comum com sua última encarnação e, daquela experiência, também trouxe o nome. Irmã The-reza de Jesus, como é sua designa-ção espiritual dentro da associação, dedicou-se no passado a assistir os necessitados.

Não foi diferente nessa vida, em-bora o “chamado” tenha vindo mais tarde. Teca atendia, juntamente com Daura e Vera, os aflitos que che-gavam à associação à procura de

equilíbrio espiritual. Como sexta pre-sidente da instituição, também deu prosseguimento à obra social Casa de Ramana. O trabalho incansável não beneficiava somente os outros. “Eu era uma menina muito tumul-tuada, triste, angustiada. Conhecer o Mestre me trouxe uma paz infinita. Ele leva as pessoas ao caminho da luz e todos nós tivemos essa feli-cidade”.

Nossa História

A Luz no Caminho - Associação Espiritualista | Rua Maxwell, 145 - Vila Isabel - Rio de Janeiro, RJ - CEP 20541-100 | (21) 2208 5196 | Horário de funcionamento (inclusive dias santos e feriados): segundas e quartas, das 14h30 às 20h30 - terças e quintas, das 14h30 às 21h00 - sábados, das 14h00 às 20h00 | Mais informações no site: www.aluznocaminho.org.br | Site da Casa de Ramana: www.casaderamana.org.br | Notícias da Casa: www.casaderamana.blogspot.com

Ficar parada não é com elaÉ comum encontrar Elza San-

tos sentadinha no sofá da varanda da Casa de Ramana, fazendo um novo crochê ou lendo um livro di-ferente. A expressão “ficar parada” parece não existir no vocabulário dessa senhora de 90 anos, come-morados no dia 1º de abril deste ano. Outra atividade de que gosta muito é escrever. Filha de jornalis-ta, ela herdou do pai essa paixão. “Escrevo sobre todos os assuntos”,

Casa de Ramana

conta. Elza chegou à instituição há sete anos, após o falecimento de sua irmã mais nova. O sobrinho, sem ter condições de sustentá-la, a levou, então, para o asilo. “No começo não gostei, pois não sabia como era. Hoje, adoro. A comida é boa e o tratamento, ótimo”, avalia. Na Casa de Ramana, além de abri-go, ela recebe, gratuitamente, as-sistência social, médica, psicológica e nutricional.