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Portugal devia negociar fundos para rescisões amigáveis na função pública Luís Menezes Vice presidente da bancada do PSD não se revê nas críticas feitas por João Almeida do CDS ao ministro das Finanças e diz a esse propósito que a política não deve ser um concurso de popularidade Entrevista Sofia Rodrigues Luís Menezes de 31 anos economista defende que o debate da reforma do Estado ao nível parlamentar deve centrar se na gestão das funções e não nas funções em si mesmas como estão consagradas na Constituição O social democrata acusa o PS de não querer participar no debate por ter medo das implicações que essa reforma possa ter no partido Foi indisfarçável o incómodo na bancada do PSD durante a aprovação do Orçamento do Estado Vive bem com a sua consciência enquanto deputado Se não vivesse bem com a minha consciência não tinha votado favoravelmente este orçamento É um orçamento duríssimo e que nenhum político gostaria de ter de apresentar mas nós hoje não vivemos num mundo em que fazemos o que queremos mas o que devemos fazer O que podemos apresentar é um orçamento que é de contenção e de recuperar a soberania financeira que se perdeu em 2011 Acha que é exequível É um orçamento difícil de executar e sobretudo difícil de viver para as famílias e para as empresas Tem riscos de execução o ministro das Finanças foi o primeiro a dizê lo Qual é o maior risco O quadro macroeconómico deste orçamento dentro das perspectivas que saíram de organizações internacionais está na versão mais optimista Como tal vai depender muito do comportamento da economia mundial e da economia europeia Menos receita do que o esperado mais recessão é esse o risco variáveis internas e externas que podem fazer com que as previsões falhem Queria lembrar que desde 2006 nenhum Governo acertou na mouche nas suas previsões A declaração de voto da bancada do PSD ficou mais suavizada face à versão inicial mas mesmo assim é crítica sobre as opções fiscais O que levou à mudança do texto Não sei o que levou à mudança do texto Assinei uma declaração de voto do grupo parlamentar em que me revejo A nossa matriz ideológica enquanto partido faria em condições normais com que um orçamento destes nunca fosse apresentado Mas também tem implícito um sentido de responsabilidade e de dever para estarmos à altura dos tempos que vivemos Como a declaração de voto de João Almeida vive presidente da bancada do CDS Não estou na política para ganhar troféus nem para ser a pessoa mais popular Nem tenho ambições partidárias de curto prazo no meu partido Independentemente das razões que tenham levado o deputado João Almeida a apresentar aquela declaração de voto não me revejo nela e posso dizer que a política hoje não deve ser um concurso de popularidade É muito fácil dizer coisas para sermos populares para nos porem a subir nos jornais e para parecermos que não queremos fazer o que estamos a fazer Gostaria de salientar que a enorme maioria de deputados do CDS não apresentou nenhuma declaração de voto e o discurso de encerramento do debate foi de uma enorme responsabilidade e de apelo à união Como é que avalia o comportamento do CDS ao longo do processo orçamental O PSD e o CDS são partidos diferentes É perfeitamente natural que tenhamos uma série de divergências em imensos assuntos Como avalia o estado da coligação Acho que a coligação está sólida Mas como qualquer coligação momentos de tensão que nascem do facto de sermos partidos diferentes É indisfarçável que houve momentos de maior tensão na coligação que acho que foram ultrapassados Esses momentos de tensão estou certo vão continuar a acontecer senão isto não era um governo de coligação Em relação à reforma do Estado como é que o Governo ea maioria querem debater se não avançam com uma ideia O Governo tem um objectivo que é apresentar um plano de redução de 4 mil milhões de euros até à próxima avaliação das entidades financiadoras do memorando de entendimento O debate sobre a reforma do Estado no Parlamento é totalmente diferente um caminho paralelo a esse corte que o Governo quer fazer O papel do Parlamento não é repensar as funções do Estado senão estaríamos a falar de uma revisão constitucional e isso não está em cima da mesa Temos de ter a coragem de debater a forma como fazemos a gestão das funções do Estado O que os partidos da oposição principalmente o PS têm tentado fazer é um debate entre os que estão contra o Estado social e os que estão a favor Isso é próprio de quem não quer mudar coisa nenhuma Mas um exemplo Vou dar alguns números Na área da defesa em Portugal gastamos 1 7 do PIB quando a média da União Europeia é 1 3 do PIB Em educação gastamos 5 8 do PIB quando a média da União Europeia é 5 4 do PIB Em segurança e ordem pública gastamos 2 4 do PIB enquanto a média europeia é de 1 9 Com a justiça gastamos 1 do PIB quando a média da zona euro é de 0 63 É um debate para colocar tudo em causa assuntos que não podem ser tabus Falar do Serviço Nacional de Saúde ou da educação é falar da forma como gerimos as funções Era preciso ter a coragem de dizermos que sítios em que temos funcionários públicos a mais sítios onde temos a menos Era importante negociarmos com Bruxelas fundos para podermos fazer um grande pacote de rescisões amigáveis com funcionários públicos um pacote que permitisse reduzir substancialmente a folha salarial do Estado mas nunca contra os funcionários Sempre com os funcionários públicos Isto é uma reforma estrutural para o futuro Mas se o Governo até agora não lançou nenhuma ideia para o debate… O que o PSD propôs foi que o Parlamento se abrisse ao exterior para que em cada área se fizesse um debate com universidades entidades independentes abertos à sociedade civil e depois discutíssemos O que não quero é conclusões feitas a priori Então por que é que não acordo com o PS O PS não quer mostrar se aos portugueses como um partido responsável adoptou uma postura tipo Bloco de Esquerda de estar contra tudo e contra todos Primeiro não quiseram debater depois apresentaram uma proposta que tinha imensas falhas O PS não quer participar no debate da reforma do Estado porque tem medo que essa reforma do Estado possa criar problemas dentro do próprio PS Foi o PS que criou um Estado sobredimensionado com os Governos de António Guterres e de José Sócrates E reformar o Estado terá também muitas implicações internas no PS e é isso que assusta o Partido Socialista Público 16 S/Cor 660 51453 Nacional Informação Geral Diário Página (s): Imagem: Dimensão: Temática: Periodicidade: Classe: Âmbito: Tiragem: 07122012 Política

O Estado devia negociar fundos europeus para um pacote de rescisões amigáveis na função pública

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Entrevista Jornal Público - 07-12-2012

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Page 1: O Estado devia negociar fundos europeus para um pacote de rescisões amigáveis na função pública

Portugaldevia negociar fundos pararescisõesamigáveisna funçãopúblicaLuísMenezes Vice presidente da bancada do PSD não se revê nas críticas feitas por João Almeida do CDSaoministro das Finanças e diz a esse propósito que a política não deve ser um concurso de popularidade

EntrevistaSofiaRodriguesLuísMenezes de 31 anoseconomista defende que o debateda reforma do Estado ao nívelparlamentardeve centrar se nagestão das funções e não nasfunções em simesmas como estãoconsagradas na Constituição Osocial democrata acusa o PS de nãoquererparticipar no debate portermedo das implicações queessa reforma possa ter no partidoFoi indisfarçável o incómodona bancada do PSD durante aaprovação doOrçamento doEstado Vive bem coma suaconsciência enquanto deputadoSe não vivesse bem com aminhaconsciência não tinha votadofavoravelmente este orçamentoÉ um orçamento duríssimo e quenenhum político gostaria de terde apresentar mas nós hoje nãovivemos nummundo em quefazemos o que queremos mas oque devemos fazer O que podemosapresentar é umorçamento queé de contenção e de recuperar asoberania financeira que se perdeuem 2011Acha que é exequívelÉ um orçamento difícil deexecutar e sobretudo difícil deviverpara as famílias e para asempresas Tem riscos de execuçãoo ministro das Finanças foi oprimeiro a dizê loQual é omaior riscoOquadromacroeconómicodeste orçamento dentro dasperspectivas que já saíram deorganizações internacionaisestá na versãomais optimistaComo tal vai dependermuitodo comportamento da economiamundial e da economia europeiaMenos receita do que o esperadomais recessão é esse o riscoHá variáveis internas e externas quepodem fazer comque as previsõesfalhem Queria lembrar que desde2006 nenhumGoverno acertou namouchenas suas previsõesA declaração de voto da bancadado PSD ficoumais suavizada faceà versão inicial mas mesmoassim é crítica sobre as opçõesfiscais O que levou àmudançado textoNão sei o que levou àmudança

do texto Assinei uma declaraçãode voto do grupo parlamentarem queme revejo A nossamatrizideológica enquanto partidofaria em condições normais comque um orçamento destesnuncafosse apresentado Mas tambémtem implícito umsentido deresponsabilidade e de deverparaestarmos à alturados temposquevivemos

Como vê a declaração de voto deJoão Almeida vive presidente dabancada do CDSNão estou na política para ganhartroféus nem para ser a pessoamais popular Nem tenho ambiçõespartidárias de curto prazo nomeu partido Independentementedas razões que tenham levadoo deputado JoãoAlmeida aapresentar aquela declaraçãode voto não me revejo nela eposso dizerque a política hoje

não deve ser um concurso depopularidade Émuito fácil dizercoisas para sermos popularespara nos porema subir nos jornaise para parecermos que nãoqueremos fazero que estamos afazer Gostaria de salientarquea enormemaioria de deputadosdo CDS não apresentou nenhumadeclaração de voto e o discursode encerramento do debate foi deuma enorme responsabilidade e deapelo à uniãoComo é que avalia ocomportamento do CDS ao longodo processo orçamentalO PSD e oCDS são partidosdiferentes É perfeitamente naturalque tenhamos uma série dedivergências em imensos assuntosComo avalia o estado dacoligaçãoAcho que a coligação está sólidaMas comoqualquer coligação hámomentos de tensão que nascemdo facto de sermos partidosdiferentes É indisfarçável quehouve momentos demaior tensãona coligação que acho que foramultrapassados Esses momentos detensão estou certo vão continuara acontecer senão isto não era um

governo de coligaçãoEm relação à reforma do Estadocomo é que o Governo e amaioria queremdebater se nãoavançam com uma ideiaOGoverno temum objectivo queé apresentar umplano de reduçãode 4 milmilhões de euros até àpróxima avaliação das entidadesfinanciadoras domemorando deentendimento Odebate sobre areforma do Estado noParlamentoé totalmente diferente e é umcaminho paralelo a esse corte queoGoverno quer fazer O papeldo Parlamento não é repensaras funções do Estado senãoestaríamos a falar de uma revisãoconstitucional e isso não está emcima damesa Temos de ter acoragem de debater a forma comofazemos a gestão das funçõesdo Estado Oque os partidos daoposição principalmente o PStêm tentado fazer é umdebateentre os que estão contra o Estadosocial e os que estão a favor Isso épróprio de quemnão quermudarcoisa nenhumaMas dê um exemploVou daralguns números Na áreada defesa emPortugal gastamos

1 7 do PIB quando a média daUnião Europeia é 1 3 do PIB Emeducação gastamos 5 8 do PIBquando amédia daUnião Europeiaé 5 4 do PIB Em segurança eordempública gastamos 2 4 doPIB enquanto a média europeia éde 1 9 Com a justiça gastamos 1do PIB quando amédia da zonaeuro é de 0 63É um debate para colocar tudoem causaHá assuntos que não podem sertabus Falar do Serviço Nacionalde Saúde ou da educação éfalar da forma como gerimosas funções Era preciso ter acoragem de dizermos que hásítios emque temos funcionáriospúblicos a mais há sítios ondetemos amenos Era importantenegociarmos com Bruxelas fundospara podermos fazer umgrandepacote de rescisões amigáveiscom funcionários públicos umpacote que permitisse reduzirsubstancialmente a folha salarialdo Estado mas nunca contra osfuncionários Sempre com osfuncionários públicos Isto é umareforma estrutural para o futuroMas se oGoverno até agora nãolançou nenhuma ideia para odebate…O que o PSDpropôs foi que oParlamento se abrisse ao exteriorpara que emcada área se fizesseum debate comuniversidadesentidades independentesabertos à sociedade civil e depoisdiscutíssemos O que não quero éconclusões feitas aprioriEntão por que é que não háacordo com o PSO PS já não quermostrar se aosportugueses como umpartidoresponsável adoptou umapostura tipo Bloco deEsquerdade estar contra tudo e contratodos Primeiro não quiseramdebater depois apresentaram umaproposta que tinha imensas falhasO PS não quer participar no debateda reforma doEstado porque temmedo que essa reforma doEstadopossa criarproblemas dentro dopróprio PS Foi o PSque criou umEstado sobredimensionado comosGovernos de António Guterres e deJosé Sócrates E reformar o Estadoterá tambémmuitas implicaçõesinternas no PS e é isso que assustao Partido Socialista

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