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Ano XII - Nº 40 - Janeiro / Fevereiro / Março de 2011 LIMNOLOGIA O ESTUDO DAS ÁGUAS CONTINENTAIS SEGURANÇA DE BARRAGENS Foi sancionada a Lei 12.334 que estabelece a Política Nacional de (PNSB) e cria o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB). Veja entrevista com o superintendente de Manutenção estratégica da Sabesp. PÁG. 31 O pequeno percentual da água do Planeta, que reside nos continentes, deverá ser o “ouro azul” das gerações futuras. A Limnologia é a ciência que estuda esses ambientes aquáticos. FENASAN 2011 E ENCONTRO TÉCNICO DA AESABESP Expositores/ apoiadores de todo o País e grupos internacionais e principalmente empresas sediadas na Europa e na Ásia, fabricantes e prestadoras de serviços para o setor, lotam a área do maior evento em saneamento da AL. PÁG. 50 Preparação de um experimento que visa determinar a produtividade primária das algas, executado no braço Taquacetuba (Billings)

o estudo das águas continentais

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Ano XII - Nº 40 - Janeiro / Fevereiro / Março de 2011

LimnoLogiao estudo das águas continentais

Segurança de BarragenSFoi sancionada a Lei 12.334 que estabelece a Política Nacional de (PNSB) e cria o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB). Veja entrevista com o superintendente de Manutenção estratégica da Sabesp.Pág. 31

o pequeno percentual da água do Planeta, que reside nos continentes, deverá ser o “ouro azul” das gerações futuras. a Limnologia é a ciência que estuda esses ambientes aquáticos.

FenaSan 2011 e encontro técnico da aeSaBeSp Expositores/ apoiadores de todo o País e grupos internacionais e principalmente empresas sediadas na Europa e na ásia, fabricantes e prestadoras de serviços para o setor, lotam a área do maior evento em saneamento da AL.

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Preparação de um experimento que visa determinar a produtividade primária das algas, executado no braço Taquacetuba (Billings)

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EdItorIAL

Nesta edição, temos como tema de capa, um assunto pouco difundido e que vai se impondo pela importân-cia no contexto atual: A LIMNOLOGIA.

O estudo de todos os tipos de águas interiores, tais como lagos, lagoas, reservatórios, rios, açudes, represas, riachos, brejos, áreas inundáveis, águas subterrâneas e nascentes, é um desdobramento decorrente dos tra-balhos desenvolvidos pelos pesquisadores, que hoje se traduz numa importante base de informações referen-tes às dimensões, concentração de sais, comunidades bióticas, entre outras, que subsidiam os gestores am-bientais na compreensão e alternativas de solução dos problemas decorrentes de ações humanas que afetam os ecossistemas aquáticos.

Do grego limne que significa lago e logos que significa estudo, a limnologia originalmente tinha como objetivo estudar os ambientes lacustres. Com o passar do tempo, pela força da própria necessidade de busca de respostas, naturalmente foram criados grupos de estudos dirigidos, que se especializaram de acordo com as necessidades de manejo desses re-cursos aquáticos.

A agressão, cada vez mais intensa decorrente das atividades desenvolvidas pela ação humana, obriga o homem a preocupar-se com as consequências de suas atividades, principalmente na preservação dos recursos hídricos, imprescindível para as atividades pesqueiras, agrícolas e industriais e, sobretudo, para a sobrevivên-cia da vida.

Esta matéria tema, descrita por especialistas, retra-tará a complexidade e abrangência de todo o contexto em que estará inserida a Limnologia e detalhará por-menorizadamente cada tópico importante nesse estu-do, de forma simples e objetiva.

Também nesta edição estaremos discorrendo so-bre segurança das barragens, regulamentada pela lei n 12,334/10 que estabelece a Politica Nacional de Se-gurança de Barragens(PNSB) e cria o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens(SNISB).

A Sabesp, como empreendedora e responsável pela operação de barragens para abastecimento de água, também deverá adequar-se às exigências dessa lei.

Hoje, os dados de operação e manutenção de bar-ragem são monitorados, sistematizados e disponibili-zados, quando exigidos.

Apesar de ainda termos alguns meses pela frente, também não podemos deixar de destacar que a edição de 2011 da Fenasan e Encontro Técnico da AESabesp, que mais uma vez supera todas as expectativas de nú-mero de expositores, sinalizando claramente o bom momento do setor e, subliminarmente, a credibilidade da nossa entidade.

Esta gestão tem se empenhado firmemente para que este evento, o maior do setor na América Latina, continue sendo a vitrine de técnica e da tecnologia na seara do saneamento ambiental, abrindo espaços para profissionais e empresas que labutam no setor, permi-tindo a difusão de conhecimentos e experiências de-senvolvidas em prol da melhoria da qualidade de vida.

Penso que a AESabesp tem representado honra-damente o setor , sempre sóbrio e sério nas suas ati-vidades, comprovadas pela fidelidade das empresas, ao longo de todos esses anos, e dos profissionais que engrandecem o nosso congresso expondo seus valio-sos trabalhos.

Mais uma vez ressalto a importância da Sabesp, que nos dá o suporte da logomarca Sabesp, e que ga-rante o sucesso da nossa entidade.

O sucesso sempre traz de carona mais desafios e são esses desafios que fazem da AESabesp uma enti-dade com vocação para crescer.

Compartilho com todos os associados cada vitória desta gestão!

Hiroshi IetsuguPresidente da AESabesp

Trazemos mais um Tema imporTanTe e assunTos perTinenTes para sua informação

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expedienteSaneas é uma publicação técnica trimestral da Associação dos Engenheiros da Sabesp

Diretoria executiva:Presidente - Hiroshi IetsuguVice-Presidente - Walter Antonio Orsatti1º Diretor Secretário - Nizar Qbar2º Diretor Secretário - Choji Ohara1º Diretor Financeiro - Yazid Naked2º Diretor Financeiro - Nélson Luiz Stábile

Diretoria aDjunta:Diretor Cultural - Olavo Alberto Prates SachsDiretor de Esportes - Evandro Nunes de OliveiraDiretor de Marketing - Reynaldo Eduardo Young RibeiroDiretor de Pólos - Helieder Rosa ZanelliDiretor de Projetos Socioambientais - Luis Eduardo Pires RegadasDiretor Técnico - Walter Antonio OrsattiDiretora Social - Viviana Marli Nogueira A. Borges (Em memória: Cecília Takahashi Votta)

conselho Deliberativo:Amauri Pollachi, Cid Barbosa Lima Junior, Choji Ohara, Eduardo NatelPatricio, Gert Wolgang Kaminski, Gilberto Alves Martins, Gilberto Margarido Bonifácio, Helieder Rosa Zanelli, Hiroshi Ietsugu, João Augusto Poeta, Marcos Clébio de Paula, Nélson Luiz Stábile, Nizar Qbar, Olavo Alberto Prates Sachs, Paulo Eugênio de Carvalho Corrêa, Pérsio Faulim de Menezes, Reynaldo Eduardo Young Ribeiro, Sonia Maria Nogueira e Silva, Viviana Marli Nogueira A. Borges, Walter Antonio Orsatti e Yazid Naked.

conselho Fiscal:Carlos Alberto de Carvalho, José Carlos Vilela e Ovanir Marchenta Filho

conselho eDitorial: Luiz Henrique Peres (Coordenador), João Augusto Poeta, Luiz Eduardo Pires Regadas e Maria Aparecida dos Santos

FunDo eDitorial:Márcia de Araújo Barbosa Nunes (Coordenadora)Alex Orellana, Celso Roberto Alves da Silva, José Marcio Carioca, Luis Eduardo Pires Regadas, Paulo Rogério Guilhem, Robson Fontes da Costa.

coorDenaDor Do site: Jônatas Isidoro da Silva

Pólos aesabesP Da região MetroPolitana - rMsPCoordenador dos Pólos da RMSP - Robson Fontes da CostaPólo AESabesp Costa Carvalho e Centro -Maria Aparecida S. de Paula SantosPólo AESabesp Leste - Nélson César MenettiPólo AESabesp Norte - Sebastião Matos de CarvalhoPólo AESabesp Oeste - Francisco Marcelo MenezesPólo AESabesp Ponte Pequena - João Augusto PoetaPólo AESabesp Sul - Paulo Ivan M. Franceschi

Pólos aesabesP regionaisCoordenador dos Pólos Regionais - José Galvão de F. R. e CarvalhoPólo AESabesp Botucatu - Rogélio Costa ChrispimPólo AESabesp Caraguatatuba - Silvio AntunesPólo AESabesp Franca - Antonio Carlos GianottiPólo AESabesp Lins - Marco Aurélio Saraiva ChakurPólo AESabesp Presidente Prudente - Gilmar José PeixotoPólo AESabesp Vale do Paraíba - Sérgio Domingos Ferreira

coorDenação Do xxii encontro técnico aesabesP e Fenasan 2011:Olavo Alberto Prates Sachs e Walter Antonio OrsattiComissão Organizadora: Hiroshi Ietsugu, Luis Eduardo Pires Regadas, Maria Aparecida Silva de Paula Santos, Nélson César Menetti, Nizar Qbar, Olavo Alberto Prates Sachs, Osvaldo Ioshio Niida, Regina Mei Silveira Onofre, Reynaldo E. Young Ribeiro, Tarciso Luis Nagatani e Walter Antonio Orsatti.

Órgão Informativo da Associação dos Engenheiros da Sabesp

jornalista resPonsável:Maria lúcia s. andrade – Mtb. 16081

Projeto visual gráFico e DiagraMaçãoNeopix [email protected] www.neopixdesign.com.br

associação dos engenheiros da sabespRua Treze de Maio, 1642, casa 1 Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/SPFone: (11) 3284 6420 - 3263 0484Fax: (11) 3141 [email protected]

Índice

05 Matéria teMa

Limnologia: o estudo das águas continentais

artigos técnicosSedimento: o que é como avaliar sua contaminação por metais A importância e problemática das cianobactérias nos reservatórios eutrofizados O processo de implantação da diretiva quadro da água na comunidade européia Invertebrados bentônicos: o que acontece sob nossos pés Interferentes endócrinos: uma nova classe de contaminantes emergentes em águas naturais visão de mercado As avaliações biológicas em reservatórios de abastecimento destaque da edição Foi aprovada a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) entrevista José Proença fala sobre a manutenção e inspeção das barragens da RMSP matéria sabesp Programa de monitoramento limnológico de rios e represas da Região Metropolitana de São Paulo realizado pela Sabesp Análise da eficiência da várzea do ribeirão Parelheiros na melhoria de qualidade das águas que afluem à represa do Guarapiranga - São Paulo indicação literária Uma reverência ao mestre José Galizia Tundisi aesabesp - projetos socioambientais Divulgação dos nossos projetos acontece no setor

Fenasan 2011 / xxii encontro técnico aesabesp O maior evento do setor de saneamento ambiental da AL. Credenciamento e Inscrição já estão abertos

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A grande maioria da quantidade de água do Planeta Terra está no oceano. Mas é o pequeno percentual que reside nos continentes que pode se

constituir no “ouro azul” das gerações futuras: a água doce.

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A Limnologia é a ciência que estuda as águas con-tinentais. Sua origem remonta ao início do século 20, quando François Forel iniciou seus estudos no lago Lé-man (Genebra, Suíça). Muito embora tenha sido origi-nalmente desenvolvida com o objetivo de estudar os lagos, atualmente abrange lagoas, lagunas, reservató-rios, rios, riachos e áreas inundáveis.

A vulnerabilidade da qualidade ambiental dos ecossistemas aquáticos continentais requer um es-forço de pesquisa direcionado ao conhecimento da estrutura e funcionamento desses ambientes. E é dentro desse contexto que a Limnologia vem se des-tacando como uma das mais atuantes áreas da Eco-logia, tendo em vista a sua contribuição no desenvol-vimento da teoria ecológica.

Além disso, a crescente deterioração da qualidade da água doce e a redução de sua disponibilidade en-contram na limnologia sólidas teorias e ferramentas para contribuir na compreensão e na solução desses problemas.

Numa definação bem básica, os ambientes lacus-tres são depressões preenchidas com água e sedimen-

tos provenientes do ambiente terrestre, ao longo do tempo geológico. Ainda somam-se um fluxo de ener-gia e a ciclagem de nutrientes, como o nitrogênio (N) e fósforo (P), que promovem o aumento da produtivi-dade dos lagos.

No cenário contemporâneo, as alterações no uso e ocupação do solo, como a remoção da vegetação nativa, agricultura, pecuária, urbanização, poluição difusa e lançamento de efluentes domésticos e in-dustriais em dada bacia de drenagem tem aumentado os fluxos de sedimentos e de nutrientes para os ecos-sistemas aquáticos.

Com isso, o seu processo de envelhecimento é ace-lerado causando alterações indesejáveis no ambiente aquático, como por exemplo, as florações de algas no-civas, capazes de produzir toxinas e o assoreamento. Esse processo é chamado de eutrofização e envolve a passagem do estado oligotrófico (baixa produtividade) para mesotrófico (produtividade média) e eutrófico ou hipereutrófico (alta produtividade). A eutrofização ao longo do tempo geológico é considerada como o en-velhecimento natural dos lagos.

considerações de especialisTa

Para discorrer sobre os procedimentos e a im-portância da aplicação da limnologia ao meio am-biente, e, por consequência na estrutura do setor de saneamento básico, convidamos o Prof. Dr. Marcelo Luiz Martins Pompêo (*), professor do Departamento de Ecologia, do Instituto de Biologia da USP- Uni-versidade de São Paulo:

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A Limnologia é uma área de atuação da Ecologia e muito tem a contribuir no estudo dos ecossistemas aquáticos. Suas abordagens e ferramentas auxiliam na compreensão dos problemas passados e presentes que afetam os ecossistemas aquáticos brasileiros e ao mes-mo tempo subsidiam com informações qualificadas os gestores dos ambientes, em particular quando ações de manejo são necessárias e empreendidas nas repre-sas utilizadas para o abastecimento público, foco de análise deste documento.

O limnólogo estuda a estrutura e dinâmica do ecossistema aquático, em particular o continental, mas devido a dificuldades no estudo de toda complexida-de de uma dada massa de água, relativa aos aspectos físicos, químicos e biológicos e suas interações, muitos dos limnólogos tornam-se especialistas em uma área do conhecimento.

Macrófita da represa do Guarapiranga. A espécie (Limnobium laevigatum (Humb. & Bonpl. ex Willd.) Heine) é da família Hydrocharitaceae.

Assim, encontramos grupos de pesquisa que pri-vilegiam o estudo do fitoplâncton, do zooplâncton, do zoobentos, de macrófitas aquáticas, de peixes, ou outra comunidade aquática. Relativo ao fitoplâncton há ainda grupos que se especializaram no estudo das cianobactérias, desenvolvendo pesquisas na intenção de compreender porque e como esses organismos po-tencialmente tóxicos muitas vezes crescem de maneira explosiva, comprometendo a qualidade da água bruta empregada no abastecimento público. Da mesma for-ma que para o fitoplâncton, também encontramos no Brasil grupos de pesquisas que empreendem esforços em estudos de campo e laboratório com as plantas aquáticas, chamadas pelos especialistas de macrófita. Estas plantas também podem crescer de forma des-controlada e cobrir significativa porção do espelho de água ou do sedimento do reservatório trazendo inú-meros transtornos ou momentaneamente impedindo alguns dos usos múltiplos desse sistema. Estudos em laboratório permitem determinar as amplitudes ecoló-gicas (faixas de ótimo de crescimento) de dada espécie de macrófita frente a alguns fatores ambientais.

Além dos aspectos biológicos, outros grupos de pesquisa estudam questões mais físicas ou quími-cas do sedimento ou da massa de água. No caso do sedimento, estes estudos visam compreender quais são e como se transformam os diferentes compostos químicos levados ao corpo de água e sedimento, por exemplo. Relativo à massa de água, ainda é importante compreender a dinâmica do nitrogênio e do fósforo, dois dos principais nutrientes responsáveis pela ele-

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vada produtividade biológica observada em inúmeros reservatórios brasileiros, principalmente os localiza-dos próximos às áreas urbanas, como os reservatórios Billings e do Guarapiranga (Estado de São Paulo). As-sim, a eutrofização, compreendida como o processo de enriquecimento artificial de uma dada massa de água, com nutrientes normalmente provenientes do lança-mento de esgotos não tratados, e seus efeitos secun-dários, como o intenso crescimento fitoplanctônico ou de macrófitas, por muitos anos ainda será importante foco da atenção dos limnólogos brasileiros.

Mas no presente também é fundamental não só quantificar as concentrações de metais, cianotoxinas (compostos tóxicos produzidos por cianobactérias), substâncias emergentes (como fenol e bisfenol), ou outros compostos, mas também são necessárias infor-mações sobre o potencial efeito tóxico dessas substân-cias. Muitos dos compostos empregados nas diversas atividades humanas não trazem transtornos à biota aquática ou ao homem, se em baixas concentrações, mas, em concentrações elevadas ou mesmo em bai-xas concentrações e constantemente em contato com os organismos, têm efeitos prejudiciais ao indivíduo, à população ou à comunidade.

Assim, complementam os estudos limnológicos a avaliação dos efeitos ecotoxicológicos (bioensaios),

desses compostos sobre a biota, que podem ser extra-polados ao próprio homem e aos usos que o homem faz desse sistema, mediante testes em laboratório, empre-gando avaliações em diferentes níveis de organização (molecular, celular, organismo, população, comunidade e ecossistema). As informações levantadas nesses tes-tes deveriam subsidiar ações de manejo e restauração empreendidas na massa de água, sedimento e na bacia de captação, direcionando políticas públicas relativas aos usos e ocupação dos espaços na área da bacia de drenagem do reservatório.

O limnólogo também tem muita necessidade de conhecer em nível específico a flora e a fauna de dado reservatório. A listagem de espécies (riqueza), sua abundância absoluta e biovolume, por exemplo, soma-do ao levantamento dos aspectos físicos e químicos, permite observar e concluir com muito mais proprie-dade e segurança do que apenas com os necessários

Rio Pequeno na represa Billings

Professor Marcelo Pompêo em preparação de um experimento que visa determinar a produtividade primária das algas.

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dados físicos e químicos da massa de água ou sedi-mento. Assim, muitas vezes os limnólogos também são os principais especialistas na identificação de diversos grupos de organismos, como o fitoplânctom, o zoo-plâncton, as macrófitas e os organismos bentônicos.

Mas é necessário lembrar que uma massa de água, principalmente em grandes reservatórios, não é um ente uniforme ou mesmo homogêneo. O limnólogo também se preocupa em observar a existência de diferenças no espaço, tais como a formação de compartimentos no reservatório, refletindo em porções do reservatório com distintas qualidades de água e muitas vezes na estrutura da comunidade constituinte. A observação da existência de compartimentos permitirá ações de manejo mais di-recionadas, aplicadas apenas na porção do reservatório considerado problema, com maior eficiência no resul-tado esperado, de menor custo financeiro e de menor risco aos outros usos do sistema e ao homem.

Ao longo do ano também podem ser observadas mudanças na qualidade da água e na comunidade constituinte, em parte seguindo o ritmo dos ciclos cli-máticos anuais. Isso implica que o limnólogo também tem por premissa considerar no delineamento expe-rimental de seus estudos amostragens em diferentes épocas do ano, particularmente quando o objetivo é

compreender a dinâmica do sistema. Hoje a Limnologia é uma ciência consolidada no

Brasil. Há inúmeros grupos de pesquisa e especialistas distribuídos em praticamente todo território nacional, com competência técnica, conceitual e metodológica no campo da limnologia. Há também inúmeros progra-mas de pós-graduação em ecologia, principalmente, que formam especialistas em limnologia. No entanto, as engenharias, a física, a química, a geografia, a geo-ciências, a geomática, como áreas de interface, tam-bém contribuem na consolidação dessa ciência e na formação de recursos humanos. Além da vocação na-tural aos estudos ecológicos relacionados à estrutura, função e dinâmica dos ecossistemas aquáticos, mais fechados às abordagens teóricas ou conceituais da Ecologia, a aplicabilidade de seus levantamentos e conclusões é quase imediata. Estas competências con-ferem ao limnólogo a obrigatoriedade para compor qualquer equipe multidisciplinar responsável pela ges-tão, monitoramento e manejo de reservatórios, em particular nas empresas de saneamento básico, caren-tes da atuação desses profissionais em seus quadros funcionais, pois em sua grande maioria as pesquisas em limnologia ainda são conduzidas nas universidades ou institutos de pesquisas públicos brasileiras.

Canal de saída de água para o leito ampliado do Rio Juquery Atividade no Reservatório Paiva Castro.

(*)Marcelo Luiz Martins Pompêo é limnólogo de formação, graduado em Ciências Biológicas, pela Universidade Federal de São Carlos; mestre em Engenharia Hidráulica e Saneamento e doutor em Ciências da Engenharia Ambiental, ambos pela Universidade de São Paulo. Atualmente é professor na USP- Universidade de São Paulo - Instituto de Biociências - Depto de Ecologia.

Os artigos técnicos que registraremos a seguir nos foram enviados, por meio de sua intervenção e colaboração com esta Revista.

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sedimenTo: como avaliar sua conTaminação por meTais por carolina f. mariani; marcelo l. m. pompêodepto. de Ecologia, Instituto de Biociências, USP, rua do Matão, travessa 14, n° 321cidade Universitária, Butantã, cEP: 05508-090, São Paulo (SP), tEL: +55 11 3091-7565 - FAx: +55 11 3091-7600 [email protected]

inTroduçãoSedimentos, no sentido semântico da palavra, são par-tículas depositadas. Essas partículas podem ser deriva-das de rochas ou de materiais biológicos e podem ser transportadas por fluidos (água e ar, principalmente). Alguns autores distinguem sedimento em transporte daquele já depositado (sedimento de fundo). Este últi-mo é um compartimento importante para o ambiente aquático, por acumular substâncias e por constituir parte ativa do sistema natural, reprocessando o ma-terial nele contido, seja por meios químicos, físicos ou biológicos.

Os sedimentos também servem como substrato e como habitat para diversos organismos, desde bacté-rias e fungos até macro-invertebrados, moluscos e al-guns peixes. Muitos organismos bentônicos (como são chamados aqueles que habitam o substrato de fundo) servem de alimento para níveis tróficos superiores.

Atualmente, os sedimentos vêm sendo amplamen-te estudados quando no que tange poluição. Isso acon-tece principalmente por eles serem um compartimento de acúmulo de substâncias (contaminantes ou não) no ambiente aquático, pois suas camadas são deposi-tas subsequentemente, podendo ser usado como um histórico daquele ambiente. Além disso, substâncias contaminantes que entram no sistema aquático são, eventualmente, depositadas no fundo quando a cor-rente de água diminui de velocidade. Tais substâncias podem ser, então, liberadas de maneira gradual para a coluna de água. Quando isso acontece, o sedimento age como fonte difusa desses contaminantes, mesmo após a desativação da fonte primária de poluição. De-vido a essa propriedade, os sedimentos de alguns locais muito poluídos no mundo precisam ser monitorados constantemente. Como exemplo, o lago Orta, no norte da Itália, cujo acompanhamento devido à poluição por metais se dá há mais de 60 anos.

valores-guia de qualidade de sedimenToCom a intensificação das atividades antrópicas, em especial a partir da Revolução Industrial, muitas subs-tâncias tóxicas foram lançadas no meio ambiente e depositadas nos sedimentos, dentre elas, metais. Di-ferentemente de outros compostos tóxicos, os metais não são degradados, portanto, se acumulam. A partir de então, começou-se a discutir sobre qualidade do sedimento e sobre os teores que, acima dos quais, po-deria haver consequências adversas à biota daquele ambiente. Esses teores ficaram conhecidos como “Va-lores-Guia de Qualidade de Sedimento”.

Figura 1 – Processos físicos, químicos e biológicos ocorrendo no sedimento e em sua interface com a coluna de água. Modificado a partir de Santos (1999) e Chapman et al. (1999).

O termo “biogeoquímica” é comum ser usado quan-do se trata de estudos de sedimento. “Bio” se refere aos organismos vivos (fungos, bactérias, macroin-vertebrados, etc), “Geo” se refere às rochas, solos, ar e água, componentes minerais dos sedimentos, e a “química” integra os dois primeiros.

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Coagulação, sorção/dessorção, ressuspensão e bio-turvação se referem a processos físicos que acon-tecem com as partículas de sedimento. Coagulação acontece quando as partículas se aglutinam e for-mam uma nova partícula maior. Sorção ou adsorção acontece quando substâncias se aderem à superfície das partículas. Dessorção é o contrário. Bioturvação acontece quando os organismos que vivem no se-dimento ou sobre este revolvem as partículas de-positadas, causando ressuspensão ou simplesmente facilitando algum processo biológico ou físico.

As tentativas iniciais de se estabelecer valores--guia basearam-se nas concentrações de metais que eram esperadas ocorrerem naturalmente no ambiente. Esses valores ficaram conhecidos como “background”. No Brasil, adotou-se o termo “Valor de Referência Re-gional” (VRR) ao invés do termo em inglês, já que es-ses valores precisam ser estabelecidos regionalmente, dentro dos limites da bacia de drenagem. Isso acontece porque geologia e seus processos (tipo de rocha-mãe, intensidade de intemperismo e condições de erosão e sedimentação) interferem na composição natural dos solos. O problema para se estabelecer esses valores é encontrar locais dentro da bacia de drenagem em que a atividade antrópica fosse historicamente nula. Isso foi resolvido com a metodologia de datação das ca-madas sedimentares usando-se isótopos radioativos. Deste modo, foi possível saber a idade de cada camada sedimentar e o teor de metais que elas continham. Re-lacionando as informações, concluía-se qual o teor de metal no sedimento quando a influência era apenas da natureza. No Brasil, existem poucos trabalhos que vi-saram estabelecer esses valores de referência regionais.

No entanto, o sedimento é composto de uma mis-tura de substâncias de diferentes origens e classes (inorgânicas e orgânica em diferentes estágios de de-composição). Aliado a isso, existem muitos processos físicos, químicos e biológicos ocorrendo no sedimento e na sua interface com a água que influenciam em sua composição, interferem na especiação de metais e na sua diagênese (processos pós-deposicionais). Isso pode trazer implicações na biodisponibilidade (forma em que se encontra a substância que pode ser assimilada pelos seres vivos) por favorecer a remobilização ou o sequestro dessas substâncias pelos organismos.

Atividade antrópica significa aquela que é realizada pelo homem.

Por isso, logo foi possível perceber que a aborda-gem de “Valores de Referência Regional”, embora for-necesse informações importantes sobre o incremento de metais no sedimento ao longo dos anos, possuía certas limitações quanto às implicações biológicas dos teores de metais. Foram, então, estabelecidos outros valores que levassem em consideração possíveis inter-ferências do teor de metais do sedimento nas popula-ções de seres vivos que lá habitassem ou que usassem os recursos ligados a ele.

equilíbrio de parTição e efeiTo limiar.Duas outras abordagens são as melhores aceitas na literatura atual com relação aos contaminantes me-tálicos, considerando o significado ecológico. A pri-meira é chamada Equilíbrio de Partição, e a segunda de Efeito Limiar.

A interface sedimento/água é o limite da superfície do sedimento que separa a coluna d’água da fase sólida depositada. Nessa camada, as atividades bio-geoquímicas são mais intensas, portanto, a interface tem papel determinante na regulação da concentra-ção da maioria das substâncias e na passagem entre a fase sólida (sedimento) e aquosa (água).

O Equilíbrio de Partição (EqP) foi proposto pela agência americana de meio ambiente (EPA, Environ-mental Protection Agency, http://www.epa.gov/). É um modelo que se baseia em um equilíbrio químico exis-tente entre a fase sólida (partículas de sedimento) e a fase líquida (água intersticial). Segundo esse modelo, os metais estariam ora presos ao sedimento ora livres na água. A espécie química metálica potencialmente mais tóxica aos seres vivos é a forma iônica aquosa, isto é, o íon metálico dissolvido na água, por ser mais facilmente assimilados pelos organismos. Em termos técnicos, diz-se que os metais na forma de íons livres são biodisponíveis. Por outro lado, os metais que per-manecem no sedimento estão numa forma que difi-cilmente são assimilados, ou seja, estão não biodispo-níveis. O principal regulador dessa partição dos metais entre sedimento e água, em sedimentos sem oxigênio, é o sulfeto. O sulfeto reage com metais livres na água e forma um composto insolúvel que se deposita no fun-

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do. Por isso, enquanto houver sulfeto no ambiente, os metais provavelmente estão depositados no sedimento e não biodisponíveis. O modelo de Equilíbrio de Par-tição utiliza a relação entre a concentração molar de sulfeto e de metais para dizer se existe probabilidade maior ou menor de os metais estarem livres na coluna d’água (biodisponíveis) ou presos ao sedimento (não biodisponíveis). Concentração molar é a concentração na forma de mol por litro. No caso do cálculo para o EqP, é importante que se saiba a concentração molar tanto de sulfeto quanto de metal, porque a teoria é baseada na reação química entre o metal e o sulfe-to, dando origem a sulfeto metálico. No entanto, para que esse modelo seja válido, é preciso haver um am-biente anóxico e redutor, ou seja, não haver oxigênio. Isso porque o sulfeto é um composto reduzido, e que prontamente reage com oxigênio, transformando-se em sulfato.

Reação do sulfeto de hi-drogênio com íon ferro H2S(g) + Fe2+

(aq) ↔ FeS(s) + 2H+(aq)

Reação do sulfeto de fer-ro com um íon metálico divalente (Me2+)

FeS(s)↔ ↔ Fe2+(aq)+ S2-(aq)

Reação de um íon metá-lico dissolvido em água (Me2+(aq)) com o íon sulfeto também dissolvi-do em água. O produto é um sulfeto metálico in-solúvel em água (MeS(s)).

Me2+(aq) + S2-

(aq) ↔↔ MeS(s)

Ambiente anóxico significa um local em que a con-centração de oxigênio (O2) é muito baixa. Em am-bientes aquáticos, a degradação de matéria orgânica mediada por seres decompositores pode consumir todo o oxigênio gasoso dissolvido na água, resultan-do em um ambiente anóxico.

Ambiente redutor é aquele que propicia a formação de compostos reduzidos. Como o oxigênio molecu-lar (O2) é um composto oxidante, em geral, em um ambiente redutor, existe pouco ou nenhum oxigênio molecular.

A abordagem de Efeito Limiar foi proposta pela agência ambiental canadense (CCME, Canadian Coun-cil of Ministers of the Environment, http://www.ccme.ca/about/). Para se chegar ao valor numérico qualida-de de sedimento, foi feito um banco de dados, com informações de diversos trabalhos realizados naquele país, a partir do qual foi gerada uma relação estatística

entre o teor de metais e os efeitos deletérios sobre a biota. De posse desses dados, foram estabelecidos dois valores: PEL (“Probable Effect Level”) e TEL (“Threshold Effect Level”). PEL é o maior valor, e representa a con-centração acima da qual os efeitos adversos sobre a biota foram estatisticamente frequentes; TEL é o me-nor valor, e representa a concentração abaixo da qual os efeitos adversos sobre a biota foram estatisticamen-te improváveis. Na faixa de concentração entre PEL e TEL estão os teores de metais em que os efeitos ad-versos sobre a biota foram estatisticamente ocasionais.

Espécie química é a forma real com a qual uma mo-lécula ou um íon está presente em solução. Ex. iodo em solução aquosa pode estar sob a forma de I2, I

-, I3

-, HIO3, IO-, IO3

-, ou ainda como par de íon, como íon complexo ou como composto orgânico iodado (Stumm & Morgan, 1996)

Muitos países como China, Estado Unidos, Austrália e Nova Zelândia seguiram o exemplo canadense e ge-raram os próprios valores de PEL e TEL, utilizando um banco de dados com trabalhos regionais, ou até mes-mo adotaram os valores integrais do órgão ambien-tal canadense. O Brasil não estabeleceu seus próprios valores-guia e as comparações com os valores cana-denses, embora válidas para o contexto de pesquisa, possuem a limitação de terem tais valores sido gerados em um país de clima temperado.

A Resolução Conama n. 344 (Brasil, 2004) é atual-mente o instrumento legal que se refere aos sedimen-tos. Esse documento trata do material a ser dragado, ou seja, retirado do fundo de um rio ou de um porto para melhorar sua navegabilidade, por exemplo. O ob-jetivo é proteger a vida aquática nessas situações em que o sedimento será mexido, através de uma avalia-ção prévia da concentração de substâncias poluidoras no sedimento e comparação com valores de referência. Para fazer esta lei, foram usados muitos desses valo-res de referência do Canadá, resultantes dos estudos de Efeito Limiar do CCME, como explicado acima. No entanto, essa lei não se aplica simplesmente para se dizer sobre a qualidade do sedimento e a qualidade do ambiente para os organismos aquáticos; como já se diz no título da lei, ela se aplica para as situações em que o sedimento será mecanicamente removido.

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TesTes de ToxicidadeAtualmente, os dados químicos de sedimento são usa-dos para se ter uma idéia geral da contaminação do ambiente. A tendência mundial é privilegiar metodolo-gias com valor ecológico, que gerem conclusões sobre o grau de comprometimento do ecossistema como um todo. O uso de diversas linhas de evidência tem sido o mais indicado quando é preciso concluir se um sedi-mento é ou não poluído, e tomar a decisão de interferir ou não naquele local para amenizar as consequências da poluição. Como exemplo, os testes de toxicidade que submetem organismos-teste a diferentes con-centrações de uma amostra poluída e dá resultados quanto à letalidade, capacidade de causar mutação ou câncer. Mesmo com essas novas abordagens, a possi-bilidade de se comparar os teores químicos com dife-rentes valores-guia ainda é uma ferramenta bastante utilizada e que serve de base para decisão da necessi-dade de aplicação de metodologias mais sofisticadas no diagnóstico ambiental.

ouTros esTudosPara complicar um pouco mais a tomada de decisão, estudos mostram que há compartimentação no siste-ma, isto é, há porções do reservatório, por exemplo, com diferenças estatísticas significativas nos teores de metais, como observado no braço Rio Grande da repre-sa Billings (Mariani & Pompêo, 2008). Outros estudos mostram que processos de estratificação e desestra-tificação (mistura) da massa de água interferem nos teores de metais na interface água/sedimento (Maria-ni, 2010 em preparação) em curtos espaços de tempo, como durante a passagem de uma frente fria, ou en-tre épocas do ano (Padial, 2008), conferindo um fator temporal à análise do sedimento.

considerações finaisPara uma avaliação integrada de determinada massa de água é fundamental o estudo do sedimento incor-porando diversas abordagens. Os estudos devem passar por abordagens pontuais, como observar o efeito do processo de mistura sobre os teores de metais, refleti-dos numa curta escala de tempo. Há também necessi-dade de desenvolver estudos em escala espacial hori-zontal permitindo observar a presença de compartimentos no sistema e como essa provável

compartimentação reflete na dinâmica do sedimento, passando pela determinação dos VRR e por diversos testes de toxicidade.

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a imporTÂncia e problemáTica das cianobacTérias nos reservaTÓrios euTrofizados por viviane moschini-carlosUNESP, campus Experimental de Sorocaba. Av. três de Março, n. 511, Alto da Boa Vista, cEP: 18087-180, Sorocaba, SP. e-mail: [email protected] paula Yuri nishimuraUSP, IB, depto. de Ecologia, rua do Matão, trav. 14, n. 321, cEP: 05508-900, São Paulo, SPpor marcelo pompêoUSP, IB, depto. de Ecologia, rua do Matão, trav. 14, n. 321, cEP: 05508-900, São Paulo, SP

O fitoplâncton pode ser utilizado como indicador de eutrofização, quando detectada florações de cianobac-térias, ou de poluição por pesticidas ou metais pesados, através da presença de espécies resistentes ao cobre. A presença de algumas espécies de cianobactérias em altas densidades pode comprometer a qualidade das águas, especialmente quando o reservatório é utilizado para abastecimento público, impondo restrições ao seu tratamento e a posterior distribuição.

Atualmente, a biomassa do fitoplâncton, particu-larmente de cianobactérias, é um dos principais pro-blemas dos reservatórios destinados ao abastecimento público e, consequentemente, de saúde pública. As cianobactérias são organismos procariotos e morfolo-gicamente podem ser unicelulares, coloniais e filamen-tosas. Existem cerca de 150 gêneros e 2000 espécies de cianobactérias. Estes organismos podem ser encontra-dos em diversos hábitats, como águas doces, oceanos e solos, com grandes amplitudes térmicas. O sucesso das cianobactérias deve-se: a habilidade em sobreviver com altas e baixas intensidades luminosas, devido à capacidade de produção de pigmentos acessórios ne-cessários à absorção mais eficiente da luz em qualquer habitat, a habilidade para estocar nutrientes essenciais e metabólitos em seu citoplasma, a capacidade para fixar nitrogênio atmosférico através do heterocito, a capacidade para acumular gás (vacúolos gasosos) que permitem movimento e ajuste de posição na coluna de água e formação de acinetos para sobreviver em condições adversas, as estratégias de evitação de pre-dação, como colônias grandes, presença de mucilagem e produção de toxinas (Van den Hoek et al., 1997).

Os ambientes lacustres rasos são os habitats mais apropriados para o crescimento das cianobactérias,

sendo que a maioria encontra-se em águas neutroal-calinas (pH de 6,0 a 9,0), em temperaturas entre 15 e 30 0C e com elevadas concentrações de nutrientes, particularmente, o nitrogênio e o fósforo. Em função das características fisiológicas, morfológicas e ecológi-cas, as cianobactérias apresentam grande capacidade adaptativa às condições luminosas, à turbulência e à quantidade de nutrientes (Mischke, 2003).

As florações de cianobactérias necessitam de uma atenção redobrada, pois de 25 a 70% das florações deste grupo fitoplanctônico são tóxicas (Sivonen, 1996). Dos 150 gêneros de Cyanobacteria, cerca de 40 são produtores de toxinas, as cianotoxinas, como os gêneros Anabaena, Aphanizomenon, Cylindrosper-mopsis, Lyngbya, Microcystis e Planktothrix. Ainda não se conhece exatamente as causas da produção das cia-notoxinas, mas sugere-se que desempenhem funções protetoras contra herbivoria (Carmichael, 1992). A ex-posição humana às cianotoxinas pode ocorrer através de contato dermal, inalação, ingestão oral, intravenosa e bioacumulação na cadeia alimentar.

As cianotoxinas podem ser agrupadas segundo três critérios: 1) origem e forma de dispersão no ambiente, 2) estrutura química e 3) ação farmacológica. Segun-do a origem e forma de dispersão no ambiente, as to-xinas são classificadas em endotoxinas e exotoxinas. As endotoxinas são constituintes da parede celular de bactérias e cianobactérias e são liberadas para a água quando as células morrem e entram em senescência. Sua composição é de polissacarídeos e lipídeos e são consideradas toxinas fracas. As exotoxinas são proteí-nas (polipeptideos) específicas, de grande ação tóxica. Tanto as endotoxinas quanto as exotoxinas podem ser letais em doses elevadas (Calijuri et al., 2006). Segundo

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a estrutura química, as cianotoxinas podem ser reu-nidas em três classes: peptídeos cíclicos, alcalóides e lipopolisacarídeos (Anderson, 1997). A classificação mais usual para as cianotoxinas é em função da ação farmacológica. Os principais grupos são: neurotoxinas, hepatotoxinas, citotoxinas e dermotoxinas. As neuro-toxinas são produzidas por espécies e cepas dos gê-neros: Anabaena, Aphanizomenon, Lyngbya, Oscilla-toria, Trichodesmium e Cylindrospermopsis. Os tipos de neurotoxinas produzidas por esses gêneros são: anatoxina-a, anatoxina-a (s), saxitoxinas (SXT), neo-saxitoxinas (Neo-STX) e homoanatoxina-a (Azevedo, 1998). Os sinais de envenenamento são: desequilíbrio, fasciculação, respiração ofegante e convulsões. As he-patoxinas agem diretamente no fígado e constituem--se no tipo mais comum de intoxicação por cianobac-térias. Apresenta ação relativamente lenta e a morte é causada através de hemorragia e choque hipovolêmico (aumento do fígado). Os sinais de ingestão são: pros-tração, anorexia, vômitos, dor abdominal e diarréia. Os gêneros produtores são: Microcystis, Anabaena, Nodularia, Oscillatoria, Nostoc e Cylindrospemopsis. A única citotoxina conhecida atualmente é a cilin-drospermopsina, produzida pelas espécies Cylindros-permopsis raciborskii, Umezakia natans e Aphanizo-menon avolisporum. Esta cianotoxina causa lesões a diversos órgãos, como fígado, pulmões, rins e mucosa gástrica (Carvalho, 2006). As dermotoxinas são toxinas irritantes de contato, produzindo dermatites e são pro-duzidas pelos gêneros: Lyngbya, Nodularia, Anabaena, Aphanizomenon, Oscillatoria, Gloetrichia e Shizothrix (Azevedo & Vasconcelos, 2006).

Não se conhece claramente os motivos que oca-sionam o aparecimento de cepas tóxicas, existem duas hipóteses: o predomínio de cepas tóxicas e não tóxi-cas pode estar relacionado à dinâmica populacional e as inter-relações competitivas entre as populações; a toxicidade pode ter relação com algum estressor am-biental (Calijuri et al., 2006). A irregularidade da toxi-cidade das cianobactérias ainda não está definida. Os fatores ambientais como luz, temperatura e nutrien-tes, têm grande influência na produção de cianoto-xinas (Carmichael, 1992). A toxicidade das cianobac-térias também pode apresentar sazonalidade, desde intervalos curtos de tempo até diferenças sazonais e anuais (Azevedo & Vasconcelos, 2006), varia também de espécie para espécie e dentro dos gêneros pode

haver cepas produtoras e não produtoras de cianoto-xinas (Zagatto, 2001).

As florações de cianobactérias em reservatórios com acelerado processo de eutrofização, produzem em suas águas aspecto desagradável, aumento da turbi-dez, sabor e odor da água alterado. Nesses casos, tam-bém há a possibilidade de produção de toxinas, devido à existência de linhagens de algumas espécies de cia-nobactérias, responsáveis pela sua produção. Além dis-so, a presença de florações pode causar a mortandade de peixes, tanto devido à deficiência de oxigênio que se instala após a floração como devido à presença de toxinas (Beyruth, 1996). A possibilidade de liberar to-xinas na água pode causar um sério risco aos sistemas de abastecimento de água se as ETAs não estiverem preparadas para inativá-las e removê-las (Di Bernardo et al., 2002). Várias toxinas de cianobactérias não po-dem ser retiradas através do processo de tratamento convencional realizado pelas empresas de saneamento (Azevedo & Vasconcelos, 2006).

O primeiro relato documentado de intoxicação de animais por cianotoxinas ocorreu no Lago Alexandrina, em 1878, na Austrália (Francis, 1878), no qual cães e aves mostraram sinais de intoxicação após beber água do lago. Tais eventos tomaram maior importância ao afetar a população humana. Na região nordeste do Brasil, em 1988, foi observado correlação entre uma floração de cianobactérias no reservatório de Itaparica (BA) e a morte de 88 pessoas, entre duas mil pesso-as intoxicadas (Teixeira et al., 1993). Um dos episódios mais graves envolvendo intoxicação por cianotoxi-nas foi o caso ocorrido na cidade de Caruaru (PE) em 1996 (Azevedo et al., 2002). Nesta cidade, em fevereiro de 1996, 116 pacientes de uma clínica de hemodiá-lise experimentaram distúrbios musculares e visuais, náusea e vômitos, e desses, 100 pacientes sofreram falência do fígado e a morte de 52 desses pacientes foram atribuídas à hoje conhecida como Síndrome de Caruaru. Análises da contagem do fitoplâncton dos anos anteriores a esse evento mostraram que as cianobactérias são dominantes nesse reservatório de abastecimento público desde 1990. A análise do carvão e de outras resinas provenientes do sistema de tratamento de água da clínica, bem como de soro sanguíneo e do fígado de pacientes permitiram iden-tificar dois grupos de hepatotoxicinas, a microcistina e a cylindrospermopsina. A comparação da patologia

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e dos sintomas das vítimas com estudos efetuados em animais permitiu concluir que o fator que mais contribuiu para a morte dos pacientes em diálise foi a exposição intravenosa a microcistinas, especialmente a microcictina-YR, -LR e –AR. Este foi o primeiro e único relato comprovado de óbito de seres humanos devido à intoxicação por cianotoxinas.

O número de ocorrências de florações de cianobac-térias tem aumentado significativamente nos reserva-tórios urbanos destinados ao abastecimento público, refletindo os processos de degradação de sua bacia de drenagem. Em algumas regiões do Brasil, a situação é bastante grave, pois vários reservatórios e açudes, utilizados para o abastecimento público, apresentam frequentes florações de cianobactérias tóxicas. Estas florações tornaram-se cada vez mais frequentes em consequência da eutrofização e da alta competitivi-dade de algumas espécies, como Cylindrospermop-sis raciborskii, em ambientes tropicais eutrofizados (Sant’Anna & Azevedo, 2000; Komarek et al., 2002; Tucci & Sant’Anna, 2003). Cepas tóxicas de cianobac-térias em corpos d’água brasileiros já foram registra-das em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Dis-trito Federal (Bouvy et al., 1999; Minillo et al., 2000; Azevedo & Vasconcelos, 2006; Carvalho et al., 2007; Moschini-Carlos et al., 2009). Entretanto, é certo que a ocorrência de cepas tóxicas de cianobactérias não ocorra exclusivamente nesses estados. Esses registros refletem que os estudos sobre esse tema estão mais concentrados na região centro-sul do Brasil.

Particularmente para o estado de São Paulo, no re-servatório de Guarapiranga, Beyruth et al. (1992) de-tectaram floração de Anabaena cf. solitária em 1991. Segundo Beyruth (1996), a diminuição da qualidade da água da represa de Guarapiranga, começou a ficar evidente na década de 70. No início da década de 80, florações de algas passaram a influenciar o processo de tratamento da água destinada ao abastecimento, causando entupimento de filtros, aumentando o tem-po de filtração, além de sabor e odor desagradáveis, comprometendo a qualidade do produto final.

Carvalho et al. (2007) detectaram em trabalho realizado entre dezembro de 2000 a agosto de 2001, uma maior biodiversidade de cianobactérias potencial-mente tóxicas no reservatório Billings quando com-parado com o reservatório Guarapiranga. Os autores

detectaram no reservatório Billings e Guarapiranga, respectivamente, 67% e 50% das espécies coletadas como potencialmente tóxicas. As análises de microcis-tina confirmam esses resultados, pois no reservatório Billings detectou-se microcistina durante todo período de estudo, enquanto que no reservatório Guarapiran-ga a presença de microcistina foi detectada somente nas amostras contendo Microcystis. Sant´Anna et al. (2007). Em trabalho realizado sobre a biodiversidade de cianobactérias nos reservatórios do Alto Tiête, obser-varam que a biodiversidade e a distribuição das cia-nobactérias se deve às condições físicas e químicas da água desses reservatórios e a represa Billings, mostrou--se o ambiente mais propício para o desenvolvimento dessas algas. Moschini-Carlos et al. (2009) observaram florações de cianobactérias no reservatório no braço do Taquacetuba (reservatório Billings) em fevereiro e julho de 2007. Cylindrospermopsis raciborskii foi dominante em fevereiro (352.661,0 cél.mL-1) and Mi-crocystis panniformis em julho (1.866.725,0 cél.mL-1). Três variantes de microcistinas foram encontradas em fevereiro (MC-RR, MC-LR, MC-YR), bem como saxito-xina. As mesmas variantes de microcistina foram en-contradas em julho. Anatoxina-a e cilindropermopsina não foram detectadas nesses períodos.

O tratamento da água bruta para o abastecimento público realizado por empresas do setor de saneamen-to no Brasil, em caso de floração de cianobactérias, é feito através do uso do oxidante peróxido de hidrogê-nio e do algicida sulfato de cobre. Esses compostos são aplicados diretamente no corpo de água. Como as cia-notoxinas são endotoxinas, a utilização de algicidas no manejo de cianobactérias tóxicas acarretam na morte celular e liberação das toxinas na água, comprometen-do a biota local e o abastecimento público.

A Portaria 528 do Ministério da Saúde de 25 de março de 2004 estabelece os procedimentos e respon-sabilidades relativos ao controle e vigilância da quali-dade da água para o consumo humano e seu padrão de potabilidade, entre outras providências.

Segundo a Portaria 528/2004, é vedado o uso de algicidas para o controle de cianobactérias no manan-cial, ou qualquer intervenção que provoque a lise das células de cianobactérias ou liberação de cianotoxinas, em função dos riscos à saúde associados às cianoto-xinas, quando a densidade de cianobactérias exceder 20.000 células/mL (ou 2mm3/L), sob pena de compro-

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metimento da avaliação de riscos à saúde associados à cianotoxinas. Além disso, a Portaria 528/2004 contem-pla o monitoramento apenas de microcistinas, saxito-xina e cilindrospermopsinas (Brasil, 2004).

Essa Portaria esteve em revisão até o ano passa-do. Os subgrupos foram divididos em Cianobactérias/Cianotoxinas, Microbiológico e Substâncias Químicas. Esses subgrupos foram formados por diversos especia-listas de instituições de pesquisa e serviços na área da qualidade da água para consumo humano. Foram rea-lizadas oficinas macrorregionais para debater a minuta final da nova portaria. Em outubro de 2010 foi aberta a consulta pública e este ano está passando por análise.

A problemática de florações de cianobactérias e a liberação de suas toxinas ainda estão longe de ser sanadas. É necessária a consolidação de metodologias analíticas, estruturação de laboratórios, capacitação técnica e fomento de pesquisas na área. Também é ne-cessária a elaboração de políticas públicas de controle da eutrofização em bacias hidrográficas e a implanta-ção de medidas de prevenção e remediação das flora-ções de cianobactérias em mananciais utilizados para abastecimento público.

agradecimenTosA Fapesp (Procs. 09/16652-1, 08/00784-3, 06/51705-0) e ao CNPq (Proc. 471404/2010-1).

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É comum observar nos grandes centros urbanos brasi-leiros a existência de massas de água contaminadas ou poluídas. A eutrofização é de longe um dos problemas mais rotineiros refletindo na alteração da qualidade da água com ocorrências de grandes crescimentos de fitoplâncton, em particular de cianobactérias poten-cialmente tóxicas, e de macrófitas aquáticas, muitas vezes interferindo nos usos múltiplos do sistema, como o abastecimento público. A solução desses problemas passa pela universalidade do saneamento básico e sem dúvida pela coleta e tratamento de todo esgoto ge-rado, o que poderia ser alcançado com uma política de descarte zero. No entanto, apenas isto não basta, também é necessário um sólido processo de gestão dos usos e ocupações do entorno e políticas públicas inte-gradoras capazes de sustentar a própria gestão, bem como apresentar diretrizes norteadores aos tomadores de decisão. A Diretiva Quadro d’Água (DQA), o sistema

de gerenciamento de recursos hídricos europeu, é uma alternativa auspiciosa e muito poderia acrescentar à nossa gestão. A DQA estabelece como objetivo o al-cance do ‘bom estado ecológico’ em todas as massas de água do território europeu, que, mesmo ambicioso, é considerado a única forma de garantir a satisfação de todas as necessidades de água num quadro de sus-tentabilidade. O trabalho a seguir expõe as principais etapas no processo de implantação da DQA, no que diz respeito aos aspectos ambientais.

a direTiva quadro d’águaAs represas são ecossistemas associados às civilizações e, consequentemente, suscetíveis às pressões humanas. Para o pleno funcionamento destes corpos hídricos, com o intuito de mantê-los nas melhores condições possíveis de funcionamento, essencial é a existência de um eficiente sistema de gestão dos recursos hídricos

o processo de implanTação da direTiva quadro da água na comunidade européia por sheila cardoso da silva1*, Teresa ferreira2, marcelo l. m. pompêo1**1- * doutoranda em Ecologia, ** orientador, Universidade de São Paulo, Instituto de Biociências, departamento de Ecologia, São Paulo, SP, Brasil.2- Professora Associado com Agregação, departamento de Engenharia Florestal, ISA- Instituto Superior de Agronomia, UtL- Universidade técnica de Lisboa, Portugal.

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(RH). Neste sentido, embora o sistema de gerencia-mento de RH brasileiro, estabelecido pela lei 9433/97 (Brasil, 1997), tenha representado grande avanço, com medidas promitentes que trarão melhorias na qualida-de dos corpos hídricos, muito ainda pode ser feito no sentido de aprimorá-lo.

No II Comitê de Bacias Hidrográficas, encontro rea-lizado em agosto de 2010, discutiu-se como a Diretiva Quadro d’Água (DQA), o sistema de gerenciamento de RH adotado pela comunidade européia, poderia auxi-liar no aperfeiçoamento do nosso sistema de gestão ambiental. A DQA reconhece que a gestão ecológica é a maneira mais eficiente de se garantir água em condi-ções adequadas de quantidade e qualidade.

A DQA foi estabelecida pelo Parlamento Europeu em 22 de dezembro de 2000- CE 60/2000 (EC, 2000), com o intuito de prevenir a deterioração e assegurar o alcance do ‘bom estado’ das massas d’água dos países membro da União Européia até o ano de 2015, com a possibilida-de de ser prorrogada para o ano de 2027. Para as águas subterrâneas o objetivo é atingir o bom estado químico e para as águas superficiais o objetivo é atingir tanto o bom estado químico quanto o bom estado ecológico (Cis, 2003a). No ‘bom estado’ as condições biológicas e de qualidade da água apresentam desvio ‘sutil’ em rela-ção às condições do corpo hídrico na ausência de im-pactos antrópicos (Acreeman & Ferguson, 2010).

Alguns corpos d’água podem não atingir este obje-tivo por diferentes razões. Para represas, por exemplo, o alcance do bom estado ecológico constituiria a destrui-ção da barragem para recuperar o fluxo natural dos rios, o que é inviável. Sob condições como esta a DQA permi-te identificar e designar corpos hídricos artificiais (CHAs) e corpos hídricos fortemente modificados (CHFMs) de acordo com o artigo 4 (3) da DQA (Cis, 2003a). Ao invés do bom estado ecológico o objetivo para CHFMs e CHAs é atingir o bom potencial ecológico (BPE) e o bom estado químico das águas superficiais (European Commission, 2000), ou seja, o bom estado mesmo tendo em conta os objetivos para os quais foram criados estes CHAs.

Mais do que a análise de parâmetros químicos a DQA estabelece a análise de elementos hidromorfoló-gicos e biológicos com o intuito de definir a qualidade ecológica do ambiente. A DQA busca uma harmoniza-ção nos sistemas de classificação dos corpos hídricos e monitoramento ao longo da Europa, sem, contudo, estabelecer critérios generalistas, pois reconhece que

os padrões químicos, geológicos e biológicos não são iguais ao longo da paisagem.

Embora promissora, os países membros da Comu-nidade Européia se deparam com uma série de dificul-dades para implantar a DQA. Nos tópicos a seguir serão abordadas as principais etapas no processo de implan-tação da DQA: 1) a classificação dos corpos de água em diferentes tipos (Anexo II 1.1), 2) a definição das condições de referência para cada um dos tipos (Anexo II 1.3 (i), e 3) a avaliação do estado de qualidade ecoló-gica dos corpos d’água (Anexo V) (EC, 2000). Apesar de importantes, aspectos administrativos e econômicos da DQA não serão abordados.

TipologiaUm dos primeiros passos para o estabelecimento dos estados ecológicos é a classificação dos corpos hídricos em tipos distintos A e B definidos no Anexo II (EC, 2000), para cada categoria de ecossistemas aquáticos: rios, la-gos, águas de transição e águas costeiras. Esta classifi-cação é baseada em condições geológicas e hidrológi-cas, e o que se espera é que condições distintas possuam características, biológicas e ecológicas distintas.

O objetivo da definição de tipos é permitir que se-jam corretamente estabelecidas condições de referên-cia e que sejam comparáveis as classificações de esta-do ecológico dentro de cada categoria de ecossistemas com características semelhantes (Alves, 2002). Em ou-tras palavras a tipologia apresenta um dado nível de probabilidade de uma dada comunidade ocorrer num dado cenário físico-químico (Ferreira et al., 2009).

A seleção do sistema A ou B fica ao critério de cada Estado-Membro. No sistema A são recomendados uma série de fatores obrigatórios para o estabelecimento da tipologia, para rios, por exemplo, são recomendadas medidas de: altitude, latitude, longitude, geologia e di-mensão; e para lagos além das medidas citadas avalia--se também a profundidade. No sistema B além dos fatores obrigatórios, uma série de fatores facultativos são elencados, como medidas de precipitação em rios e tempo de residência em lagos. Ou seja, a diferencia-ção de tipos, sempre e independentemente da decisão sobre o sistema a adotar, envolve a aplicação do Siste-ma A (Alves, 2002). Caso a separação ecológica para o estabelecimento das condições de referência possa ser atingida apenas com o sistema A o uso do sistema B torna-se dispensável (Cis, 2003b).

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Vale salientar que independentemente do sistema utilizado ao criar uma tipologia é preciso que esta te-nha significado ecológico. Portanto, é conveniente que seja utilizado um ou mais grupos biológicos para vali-dar a divisão em tipos.

No que se refere aos CHAs e CHFMs, a diferencia-ção em tipos será efetuada de acordo com os descri-tores aplicáveis à categoria de águas de superfície que mais se assemelhe ao CHA e CHFM, em questão (EC, 2000). Para represas, por exemplo, Portugal estabele-ceu a tipologia B e utilizou fatores descritores de rios e lagos já que as represas são sistemas híbridos entre estes dois ecossistemas (Ferreira et al., 2009).

O intuito é produzir uma tipologia o mais simples possível que seja ecologicamente relevante e prática para implantar (Cis, 2003b). Esta etapa deve ser conclu-ída o mais rapidamente possível, pois o estabelecimen-to dos estados ecológicos bem como o monitoramen-to, avaliação e elaboração de relatórios recomendados pela DQA dependem dela (Cis, 2003b).

esTabelecimenTo das condições de referência e dos esTados/ poTenciais ecolÓgicosEstipulada a tipologia a ser utilizada, os estados mem-bros possuem a frente o desafio de determinar o esta-do ecológico. O estado ecológico é definido pela DQA, como o desvio das condições no tempo presente em relação às condições de referência. A condição de re-ferência é a descrição da qualidade biológica dos ele-mentos que existem, ou deveriam existir, num corpo hídrico na ausência ou na presença de pequeno impac-to das atividades antrópicas (Cis, 2003b).

A condição de referência é apenas uma descrição dos elementos biológicos, entretanto, ao estabelecê--la devem ser definidos também os critérios para os elementos físicos, químicos e hidromorfológicos, já que estes dão suporte aos elementos biológicos (Ferreira et al, 2009). Os elementos biológicos a se-rem analisados pela DQA para o estabelecimento das condições de referência e do estado ecológico são: peixes, macrófitas aquáticas, invertebrados bentôni-cos, diatomáceas e fitoplâncton (Anexo V, (EC, 2000)). Caso não haja a possibilidade de estabelecer as con-dições de referência para algum elemento este pode-rá ser excluído da análise desde que haja justificativas fundamentadas.

A condição de referência será específica para cada um dos tipos de corpos d’água identificados na im-plementação da tipologia. Para derivar as condições de referência a DQA recomenda: 1) a comparação com um local numa área geográfica semelhante que não apresente impactos antrópicos ou que estes se-jam mínimos; 2) o uso de dados históricos; 3) o uso de modelagem matemática e 4) o julgamento por um especialista (Anexo II, 1.3(iii) (EC, 2000)). É possível utilizar uma combinação destas opções, entretanto, é recomendado que exista uma ordem hierárquica na escolha das opções (Cis, 2003a).

Após estabelecer a condição de referência é ne-cessário estimar o estado ecológico das massas de água. Quanto maior o desvio em relação às condições de referência ‘pior’ será o estado do corpo hídrico. O estado ecológico deverá ser expresso como um va-lor numérico entre 1 (excelente estado ecológico) e 0 (estado ecológico ruim), os valores entre este interva-lo indicam os estados: bom, razoável e medíocre (Cis, 2003b). Os elementos biológicos são expressos por indicadores ou índices composicionais ou estruturais, que se demonstrou serem responsivos à perturbação. A condição de um elemento biológico estimado como o mais afetado por alterações antrópicas irá ditar a classe que o corpo hídrico estará em conformidade, ao menos que os resultados do monitoramento para os elementos físicos e químicos ou hidromorfológicos indiquem uma classe inferior (Cis, 2003a).

Para CHAs ou CHFMs, o estabelecimento dos es-tados ecológicos apresenta uma abordagem diferente, pois o objetivo é alcançar o BPE e determinar o máxi-mo potencial ecológico (MPE). O MPE é definido como o estado onde os valores dos elementos de qualidade biológica, o quanto possível, refletem os valores asso-ciados ao tipo de massa de água de superfície mais aproximada, baseadas nas condições físicas resultantes das características artificiais ou fortemente modifica-das da respectiva massa de água (Anexo V, 1.2.5, (EC, 2000)). Em outras palavras, são as condições ecológi-cas em que os únicos impactos na massa de água são aqueles decorrentes das modificações e artificializa-ções associadas aos objetivos ao qual foi criada (Fer-reira et al., 2009).

Para definir o MPE, em geral, é feita uma avaliação sobre o estado dos elementos de qualidade hidromor-fológica, se apresentam as condições esperadas para

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eles, quando todas as medidas de mitigação foram to-madas para assegurar a melhor aproximação ao con-tínuo ecológico (Cis, 2003a). As medidas de mitigação devem ser compatíveis com a utilização a que o corpo d’água é designado (Ferreira et al., 2009), ou seja, nes-tes ecossistemas o estado do corpo hídrico está asso-ciado aos usos que dele se faz.

Para se avaliar o estado/potencial ecológico parte--se do pressuposto que as comunidades biológicas agem em resposta às pressões. Assim, é importante identificar as pressões existentes sobre os corpos hídri-cos conforme recomendações do artigo 5 (1) e anexo II. Também se faz necessário, na implantação da DQA (artigo 8° e Anexo V 1.3, (EC, 2000)), o estabelecimento de uma rede de monitoramento adequada. O monito-ramento terá como objetivos proporcionar uma visão geral dos estados/potenciais ecológicos e químicos em cada bacia hidrográfica.

Outro passo importante na implantação da DQA é o processo de intercalibração (Anexo V, 1.4.1 iii (EC, 2000)), cujo intuito é testar e validar as ferramentas utilizadas na classificação dos estados ecológicos. Isto ocorre, pois, países diferentes podem desenvolver métodos de avalia-ção diferentes. No entanto, a nível europeu é necessário efetuar comparações entre países, qual o estado das res-pectivas massas de água, para se equiparar o esforço de implantação da legislação. Assim, os valores numéricos de 1 a 0, estabelecidos para os estados/potenciais ecoló-gicos, são validados neste processo (Borja, 2007).

O processo de implantação da DQA tem consumi-do mais tempo e os métodos para a determinação dos estados ecológicos são mais complexos do que se es-perava. A intercalibração tem demandado esforço adi-cional no convencimento técnico e político para que cada particularidade implantada e reconhecida pelo Estado Membro seja aceita e compartilhada por todos os demais Estados. Cada Estado Membro apresenta condições ecológicas e sócio-econômicas distintas (Acreeman e Ferguson, 2010) e se depara com dificul-dades específicas no processo de execução da DQA, o que tem sido um complicador para que em 2015 esteja prevenida a deterioração e assegurado o ‘bom estado’ das massas de água, como preconiza a CE/60/2000. Entretanto, apesar das dificuldades na implantação da DQA, é preciso ter em mente que o relaxamento das exigências ambientais é um caminho indesejável de desenvolvimento econômico dado que pode com-

prometer seriamente o futuro das próximas gerações.

considerações finais A compreensão das vantagens e dificuldades na im-plantação da DQA nos estados membros da Comunida-de Européia trará sólida experiência à política nacional de recursos hídricos brasileira, pois é necessário mudar a atual visão de mero recurso que cada massa de água representa. Um novo olhar deve compreender que um reservatório, por exemplo, é um todo, tem uma estru-tura, uma função e dinâmica, através da mutua inte-ração dos aspectos físicos, químicos e biológicos, mas sem se esquecer do entorno e seus usos e ocupações que o homem toma para si o direito de fazer. Atual-mente as alterações que o homem provoca no meio refletem sobremaneira na redução da qualidade dos corpos hídricos, com redução na quantidade disponí-vel para usos mais nobres, como o abastecimento pú-blico, com prejuízos às gerações futuras. Assim, apesar de pontos falhos e dificuldades na implantação, a DQA traz esse novo olhar e devemos iniciar esforços para adequá-la a realidade nacional.

agradecimenTosA Fapesp (procs. 09/16652-1, 06/51705-0), ao CNPq (bolsa de doutorado a primeira autora) e Capes (proc. 4317-16).

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Muitas pessoas que, por um motivo ou outro, costumam entrar em corpos de água, como rios e represas entre outros, possivelmente nem imaginam que sob seus pés, no substrato do fundo, habita uma fauna de invertebra-dos que, em certos casos, pode ser muito rica e nume-rosa. A estes animais que habitam o substrato, vivendo em seu interior ou sobre ele, damos o nome de inver-tebrados bentônicos. No conjunto dos corpos de água continentais estes estão representados por um grande número de grupos taxonômicos de tamanhos variados, como protozoários, vermes pertencentes a diferentes fi-los, crustáceos, moluscos e insetos (adultos e imaturos). Assim como o tamanho, a forma e o modo de vida tam-bém são variáveis, pois dependem do tipo de hábitat em que vivem. Em um riacho, por exemplo, são encontrados substratos mais grosseiros (areia, cascalho) em áreas de corredeira e grânulos mais finos (silte, argila) e acúmulo de detritos vegetais em áreas de remanso. Em cada um destes habitats, serão observadas diferentes espécies de invertebrados bentônicos, as quais durante o tempo evolutivo foram contempladas, pelas pressões seletivas, com adaptações que lhes permitiram obter maior suces-so em apenas um dos habitats.

Uma vez que podem ser encontradas várias espécies compondo a fauna de invertebrados associada ao subs-trato de um determinado corpo d’água, podemos nos

referir a tal fauna como comunidade de invertebrados bentônicos. Os representantes de muitas destas espé-cies apresentam hábito alimentar detritívoro, ou seja, se alimentam de detritos, principalmente de origem ve-getal, e/ou dos microrganismos decompositores a estes associados. Sob sua ação, os detritos são transformados em partículas de menor tamanho, o que resulta em au-mento da área a ser colonizada pelos decompositores. Deste modo, indiretamente, os invertebrados bentônicos aceleram a decomposição (ou mineralização) da matéria orgânica, disponibilizando os nutrientes minerais mais rapidamente para os produtores primários. Percebe-se, então, que os invertebrados bentônicos representam um elo fundamental entre as cadeias de detritos e de pasta-gem nos ambientes aquáticos.

Há que se reconhecer que, sobretudo em ambien-tes lênticos, o substrato das regiões mais profundas, ou seja o sedimento, é o receptor final de matéria orgâ-nica particulada, nutrientes minerais e poluentes, entre outros. Neste local é comum a ocorrência de condições anaeróbias, tornando o ambiente redutor e propiciando, inclusive, a formação de gases potencialmente tóxicos resultantes da decomposição incompleta da matéria or-gânica, como é o caso do metano e do gás sulfídrico. Alguns grupos de invertebrados bentônicos ali presen-tes, através de sua movimentação, provocam o revolvi-

inverTebrados benTÔnicos: o que aconTece sob nossos pés por profa dra ana lúcia brandimarTedepartamento de Ecologia (IB/USP)Programa de Pós-graduação em ciência Ambiental – ProcAM (IEE/USP)

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mento do sedimento, ou melhor, o biorrevolvimento já que se trata de uma ação biológica. Como consequên-cia, poluentes e gases podem ser liberados para a coluna d’água, assim como os nutrientes que, então, se tornam disponíveis aos produtores primários. Por outro lado, o biorrevolvimento pode também promover a aeração do sedimento, favorecendo a decomposição aeróbia da matéria orgânica ali acumulada, além da oxidação e consequente liberação de íons que, de outra forma, permaneceriam imobilizados no sedimento.

O desenvolvimento de pesquisas envolvendo a fauna de invertebrados bentônicos deve levar em consideração, além dos aspectos acima mencionados, a dimensão temporal e as diferentes dimensões espa-ciais, cuja relevância varia de acordo com o tempo de residência da água em cada ecossistema. Aqui é im-portante salientar que os reservatórios são ambientes intermediários entre rios e lagos, aproximando-se mais de um ou outro em função do tempo de residência da água. Levando este fato em consideração, deve-se ter em mente que os reservatórios, assim como os rios, apresentam um alto nível de heterogeneidade que se manifesta como vias interativas em quatro dimensões: longitudinal, lateral, vertical e temporal.

Como é amplamente reconhecida na literatura es-pecializada, a variação da velocidade da água ao longo do eixo longitudinal de um reservatório implica em alterações da disponibilidade de nutrientes na coluna de água e da quantidade de material em suspensão e, portanto, da transparência da água. Estes fatos levam à partição longitudinal do reservatório em três zonas: lótica, transicional e lêntica. Teoricamente, na zona de transição ocorreria maior produtividade primária, em decorrência da maior transparência e da presença de nutrientes ainda em quantidades adequadas. Em con-sequência da maior disponibilidade de fitoplâncton, o zooplâncton também apresentaria maior densida-de nesta zona. No entanto, em relação à comunida-de zoobentônica pouco é postulado, a não ser que os detritos terrestres presentes sobretudo na zona lótica poderiam suportar uma cadeia alimentar detrítica for-mada por organismos detritívoros.

A dimensão lateral interfere no funcionamento e estrutura dos ecossistemas em função da ocorrência de trocas de energia e material entre o corpo de água e o ambiente ripário. A comunidade de invertebrados bentônicos é influenciada pela entrada de detritos

vegetais de origem terrestre que variam no espaço e no tempo em termos de quantidade e qualidade. A consideração da dimensão lateral em ambientes verdadeiramente lacustres tem como amplamente aceito o fato de que as intensas relações com o am-biente terrestre e a existência de macrófitas conferem maior variedade de habitats à zona litoral, resultando em maior riqueza da fauna. No caso de reservatórios, esta previsão nem sempre se confirma, pois devem ser levados em consideração fatores como a declividade das margens e a variação do nível de água em virtude da operação do sistema. Estes dois fatores limitam a produção autóctone marginal de macrófitas e algas e, consequentemente, os invertebrados bentônicos pas-sam a depender basicamente da disponibilidade de detritos alóctones. Além disso, as variações do nível de água podem resultar em profundas alterações nos habitats da zona litoral do reservatório. Quanto maior a variação do nível da água, mais instável o habitat ao longo de um determinado período de tempo, o que resulta em redução da diversidade de invertebra-dos bentônicos.

A dimensão vertical diz respeito às variações do am-biente em função da existência de uma coluna de água sobre o sedimento. Quanto maior a espessura desta co-luna, maior a probabilidade do reservatório apresentar estratificação térmica durante certo período do ano. E quanto maior a duração desta estratificação, maior a possibilidade de ocorrer baixas concentrações de oxi-gênio na interface água/sedimento, de modo que ape-nas organismos bentônicos resistentes a tal situação persistem no local. Esta é uma das causas pelas quais, em muitos reservatórios, a diversidade de invertebra-dos bentônicos tende a ser baixa na zona profundal. Se a estratificação térmica persistir por tempo suficiente para a ocorrência de anoxia, esta zona pode se tornar temporariamente azóica.

Além dos importantes papéis ecológicos citados no início deste texto, os componentes do zoobentos desempenham importante papel como bioindicadores de impactos ambientais, estando entre os organismos mais utilizados para este fim. Apresentam uma série de características que os tornam especialmente úteis para aplicação no biomonitoramento. Sob este aspec-to, salienta-se o fato de poderem ser encontrados pra-ticamente em todos os tipos de ambientes aquáticos, a baixa mobilidade que os torna altamente suscetíveis

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a alterações do habitat e o grande número de espécies presentes na comunidade que, portanto, apresenta ampla variedade de respostas às alterações ambientais. Além disso, sua amostragem é relativamente fácil e é realizada com baixo custo.

Os invertebrados bentônicos são indicadores, por exemplo, do grau de trofia de um reservatório, assim como de outros tipos de ecossistemas. Neste aspecto, é amplamente reconhecido que a ocorrência de eutro-fização tende a causar diminuição do número de es-pécies presentes na comunidade, acompanhada pelo aumento da densidade de certos táxons resistentes. Do mesmo modo, está bem documentado que a poluição por metais, os quais tendem a se acumular no sedi-mento, pode ser avaliada a partir da análise de defor-midades em estruturas da cápsula cefálica de larvas de determinados insetos.

A partir da relativa impossibilidade dos órgãos ambientais realizarem o monitoramento ambiental em uma gama muito ampla de corpos d’água, desde os anos 1960 começou-se a atrair os cidadãos para a participação neste processo, ampliando-se assim a base de dados a respeito daqueles ambientes. Em fun-ção da necessidade de se incluir a biota nas avaliações da qualidade da água, e da simplicidade da coleta dos invertebrados bentônicos em riachos, tais organismos têm sido utilizados no biomonitoramento voluntário desde os anos 1970, sobretudo nos Estados Unidos. No Brasil, experiências neste sentido ainda são incipien-tes mas, assim como em outros países, vêm imbuídas da visão do monitoramento participativo como uma forma de empoderamento dos voluntários, que resul-taria em uma participação efetiva no reconhecimento

de impactos ambientais negativos e na busca por uma solução para tal problema.

Apesar dos estudos relacionados aos invertebrados bentônicos consistirem em uma área de pesquisa mun-dialmente consolidada, ainda há muito para se fazer aqui no Brasil. Ainda não conhecemos e descrevemos grande parte das espécies de águas continentais, assim como desconhecemos aspectos relevantes da história natural da maioria das espécies. Além disso, no que diz respeito à sua utilização na avaliação da qualidade da água e no biomonitoramento, ainda são poucos os Es-tados que apresentam avanços significativos. Entre estes podem ser citados São Paulo, Paraná e Minas Ge-rais, nos quais as companhias de controle ambiental têm trabalhado ativamente no sentido de implantar o biomonitoramento com invertebrados bentônicos como rotina nas redes de monitoramento. O desenvol-vimento de mais pesquisas é premente pois, como es-pera-se que tenha ficado claro nesta rápida exposição, muitas coisas estão acontecendo sob nossos pés que, devido à relevância da comunidade zoobentônica, não podem continuar passando despercebidas.

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inTerferenTes endÓcrinos: uma nova classe de conTaminanTes emergenTes em águas naTurais por andré henrique rosa1*, danielle goveia2, leonardo fernandes fraceTo1

1 - Professores da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Sorocaba-SP; 2 - Pós-doutoranda do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Araraquara-SP.*[email protected]

O crescimento populacional, o desenvolvimento de novos produtos e a intensificação do uso da terra e

água na indústria e agricultura, tem levado a introdu-ção no ambiente de novos compostos com diferentes

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toxicidades e efeitos na saúde humana e de animais. Dentre estes contaminantes emergentes podemos incluir alguns fármacos, como analgésicos, antiinfla-matórios, drogas psiquiátricas, antilipêmicos, antibió-ticos (de uso humano e veterinário), hormônios e es-teróides. Também podem ser enquadradas nessa nova classe de contaminantes em águas naturais, as subs-tâncias presentes em protetores solares, produtos de higiene pessoal como fragrâncias contendo grupos nitro e ftalatos, inseticidas repelentes e anti-sépticos, bem como os surfactantes amplamente utilizados no consumo doméstico.

Dentre os contaminantes emergentes, os Interfe-rentes Endócrinos (IE) do inglês, endocrine disruptors, tem recentemente chamado a atenção de pesquisa-dores e de órgãos de regulação ambiental devido sua toxicidade mesmo quando presente em baixas concen-trações. Os IE são caracterizados como substâncias que podem causar distúrbios no sistema endócrino de seres humanos e animais, seja bloqueando sítios receptores de células ou aumentando a produção e/ou secreção de hormônios naturais, bem como interferindo em seu sistema reprodutor. Os processos fisiológicos do cor-po humano são controlados pelos sistemas nervoso e endócrino. O sistema nervoso atua nos processos fisiológicos por meio de impulsos nervosos que são conduzidos via neurônios, enquanto o sistema endó-crino utiliza-se de mensageiros químicos denomina-dos hormônios para mediar tais processos. Acredita-se que os alteradores endócrinos possam interferir neste complexo sistema pelo menos de três formas distintas:

a) Minimizando a ação dos hormônios produzidos naturalmente;

b) Bloqueando receptores hormonais nas células e impossibilitando a ação dos mesmos;

c) Interferindo na síntese, transporte, metabolismo e secreção de hormônios com alteração das concentra-ções normais dos mesmos.

Existem basicamente duas classes de compostos que podem alterar o sistema endócrino, os hormônios naturais e os compostos sintéticos ou de origem antró-pica. As principais classes de compostos e substâncias que podem provocar algum tipo de interferência no sistema endócrino, bem como as possíveis fontes de contaminação ao ambiente são:

1) Hormônios naturais: Estrogênio e progestogênio: hormônios femininos

responsáveis pelo desenvolvimento do sistema repro-dutor e pelas alterações que ocorrem durante a mens-truação e gravidez.

17-estradiol, estrona e estriol: Produzidos princi-palmente nos ovários e nos testículos em humanos e outros vertebrados e são originados do colesterol ou da acetil coenzima-A.

Fitoestrogênios: encontrados em algumas semen-tes, frutos ou vegetais, tem estrutura química e ativi-dade hormonal semelhante ao estradiol, porém, não causam tantos problemas ao homem quantos aqueles de origem antrópica porque não se ligam fortemente aos receptores hormonais, são facilmente excretados, não se acumulando nos tecidos corpóreos. Os princi-pais fitoestrógenos são: isoflavona da soja (genisteína, daidzeína), lignanos e coumestanos. Estas substâncias, principalmente as isoflavonas, podem afetar o sistema reprodutivo, glândulas mamárias, hipotálamo e hipófise.

2) Compostos sintéticos ou de origem antrópica:Hormônios sintéticos: Fabricados pelo homem são

idênticos aos naturais, embora mais potentes e ativos. O 17α-etinilestradiol é o hormônio sintético mais utili-zado como contraceptivos ou agentes terapêuticos de reposição hormonal.

Xenoestrogênios: Termo aplicado para uma série de substâncias produzidas para a utilização nas indústrias, na agricultura e para os bens de consumo que confun-dem os receptores celulares estrogênios no organismo:

Pesticidas: Compostos clorados e fosforados usa-dos na agricultura para destruição ou repleção de agentes que apresentem efeitos nocivos a plantas e animais. Em água potável podem aumentar os riscos de ocorrência de câncer, danos ao sistema nervoso, cardíaco, endócrino e reprodutivo.

Aditivos plásticos: Os ftalatos são polímeros sinté-ticos utilizados na estocagem/preservação de alimen-tos. O Bisfenol A é um agente plastificante e endure-cedor utilizado na produção de resinas policarbonato e epóxi.

Alquilfenois: usado como agente emulsificador e dispersor em numerosos produtos industriais e do-mésticos, em detergentes por exemplo. O octilfenol e o nonilfenol são os compostos mais comuns desta classe.

ArtIgo técNIco

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Bifenilas policloradas: Substâncias como o triclo-robifenil e o heptaclorobifenil encontrados em fluídos hidráulico e dielétrico, em isolante em capacitores e transformadores, como refrigerante em motores elé-tricos, etc.

Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos: Substân-cias como o naftaleno, benzo-↔-antraceno e o ben-zopireno cuja origem são os incêndios florestais, as erupções vulcânicas e o afloramento de petróleo e as sínteses biológicas.

Compostos bromados: são usados como retarda-dores de chama na fabricação de uma variedade de equipamentos tais como aparelhos elétricos, tintas, produtos têxteis e aeronaves. Exemplos: tetrabromo-bisfenol A, hexabromociclododecano, éteres difenílicos polibromados.

Subprodutos de processos industriais: são subs-tâncias aromáticas essencialmente produzidas devido à combustão incompleta de compostos orgânicos (ex. dioxinas e furanos). A exposição ocupacional acidental a 2,3,7,8-TCDD ou outras dioxinas tem sido associada ao aparecimento de cloracne (infecções cutâneas) e al-terações de enzimas hepáticas.

Uma das principais razões para que haja uma preo-cupação sobre este tema está nos possíveis efeitos dos interferentes endócrinos, mesmo quando em baixas concentrações, na saúde humana e biota. Substân-cias químicas suspeitas de causar alteração no sistema endócrino estão potencialmente associadas a várias doenças, como o câncer de testículo, de mama e de próstata, à queda da taxa de espermatozóides, defor-midades dos órgãos reprodutivos, disfunção da tireóide e alterações relacionadas com o sistema neurológico. Estudos recentes também apontam que os interferen-tes endócrinos podem agravar problemas associados à obesidade e o diabetes. Outra questão importante a salientar consiste no fato de que estudos tem mostra-do que os processos convencionais para tratamento de águas e efluentes não conseguem remover integral-mente esta classe emergente de contaminantes dos recursos hídricos.

Desta forma, o problema associado à presença dos interferentes endócrinos em sistemas aquáticos neces-sita de uma atenção especial pelas agências regulado-ras para a adequação da legislação vigente e, de pes-quisadores que atuam na área ambiental, visando o melhor entendimento dos processos de acúmulo,

transformação e toxicidade dos IE no ambiente, bem como, visando a proposição de alternativas para trata-mento destes novos contaminantes que têm sido en-contrados em águas naturais de nosso país.

para saber mais sobre o assunTo, sugerimos a leiTura na ínTegra das seguinTes bibliografias:ALVES, C.; FLORES, L.C.; CERQUEIRA, T.S.; TORALLES, M.B.P. Exposição ambiental a interferentes endócrinos com atividade estrogênica e sua associação com dis-túrbios puberais em crianças. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(5):1005-1014, 2007.SODRÉ, F.F.; MONTAGNER, C.C.; LOCATELLI, M.A.F.; JAR-DIM, W.F.; Ocorrência de interferentes endócrinos e produtos farmacêuticos em águas superficiais da re-gião de Campinas (SP, Brasil). Journal of the Brazilian Society of Ecotoxicology, v. 2, p. 187-196, 2007.RAIMUNDO, C.C.M. Ocorrência de interferentes endó-crinos e produtos farmacêuticos nas águas superficiais da bacia do rio Atibaia. Dissertação. Universidade Esta-dual de Campinas, Instituto de Química, 2007.GHISELLI, G.; JARDIM, W. F. INTERFERENTES ENDÓCRI-NOS NO AMBIENTEQuim. Nova, Vol. 30, No. 3, 695-706, 2007.MIGLIARINI, B.; PICCINETTI, C.C; MARTELLA, A.; MARA-DONNA, F.; GIOACCHINI, G; CARNEVALI, O. Perspectives on endocrine disruptor effects on metabolic sensorsGeneral and Comparative Endocrinology, v. 170, n. 3, pp. 416-423, 2011. BILA D.M.; DEZOTTI, E.M. Desreguladores endócrinos no meio ambiente: efeitos e conseqüências. Quim. Nova, Vol. 30, No. 3, 651-666, 2007.LINTELMANN, J.; KATAYAMA, A.; KURIHARA, N.; SHORE, L.; WENZEL, A. Endocrine disruptor in the environment. Pure Appl. Chem., v. 75, n. 5, pp. 631–681, 2003.YING, G.; KOOKANA, R.S.; RU, Y.; Occurence and fate of hormone steroids in the environment. Environmental International, v. 28, p. 545-551, 2002.RODRIGUEZ-MOZAZ, S.; MARCO, M.; ALDA, M.J.L.; BARCELÓ, D.; Biosensors for environmental monitoring of endocrine disruptors: a review article. Analytical and Bioanalytical Chemistry, v. 378, p. 588-598, 2004.

ArtIgo técNIco

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as avaliações biolÓgicas em reservaTÓrios de abasTecimenTo

O desenvolvimento tecnológico e o complexo sistema social e econômico no qual vivemos hoje exigem cada vez mais a utilização dos recursos naturais como fonte de matéria prima para sua manutenção. Os ecossistemas aquáticos con-tinentais estão inseridos no contexto das mais diversas atividades econômicas, seja na sua uti-lização para geração de energia hidroelétrica, na aquicultura, navegação, em sistemas de irrigação, e para o abastecimento público.

Uma das maiores experiências humanas na modificação de ecossistemas naturais é a cons-trução de represas (RODGHER et al., 2005), uma tecnologia que promove o aumento da reserva de águas superficiais em uma determinada região, e tem sido amplamente aplicada para contornar problemas de escassez de água.

Embora a formação de um reservatório pro-duza impactos ambientais, promovendo mudan-ças na hidrodinâmica do corpo d’água e promo-vendo alterações na qualidade da água e na biota residente, essa prática proporciona inúmeros be-nefícios à população humana, e especialmente em países em desenvolvimento, como o Brasil, é necessário que seja dada prioridade em melho-rar as condições básicas de saúde e saneamento. Contudo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (WHO, 1996) a degradação ambiental decorrente das intervenções estruturais no ciclo hidrológico natural pode superar tais benefícios, levando assim a necessidade de se conhecer a dinâmica e de implementar medidas que minimi-zem os efeitos deletérios.

Os diversos organismos que habitam os reser-vatórios têm papel fundamental no ciclo de nu-trientes destes locais, e são os responsáveis pela produção, assimilação e decomposição da matéria orgânica que entra no sistema. São também utili-zados como sensores das condições de qualidade

da água, e em dadas condições podem também ser um risco potencial à saúde pública, como conse-quência de intervenções contínuas no ambiente.

a problemáTica da euTrofização A eutrofização artificial é o aumento da concen-tração de nutrientes, principalmente o fósforo e nitrogênio, decorrentes principalmente de esgoto doméstico, efluentes industriais e escoamento de áreas agropastoris. Atualmente é um aspecto am-biental bastante relevante em termos de qualida-de da água em reservatórios.

O aumento na disponibilidade destes nutrien-tes permite um desenvolvimento excessivo dos vegetais aquáticos como as algas, as cianobacté-rias e as macrófitas aquáticas, que em vários as-pectos leva a prejuízos ecológicos, econômicos e riscos diretos à saúde humana. Especial atenção deve ser dada as cianobactérias, devido ao poten-cial de produção de toxinas que representantes deste grupo possui, e que por vantagens adaptati-vas são as que mais se desenvolvem em condições de aumento de nutrientes. Um outro efeito impor-tante do processo de eutrofização é a diminuição do oxigênio dissolvido na água que acarreta por exemplo o desaparecimento de organismos sensí-veis a esta mudança, tais como os peixes.

VISão dE MErcAdo

Arnaldo Ribeiro é biólogo, com 10

anos de experiência em laboratórios

de hidrobiologia, atualmente é

coordenador do Laboratório de Comunidades Aquáticas da

empresa Bioagri Ambiental, atuando

principalmente no monitoramento

de algas e cianobactérias e as

suas implicações ecológicas e

sanitárias. Desenvolve pesquisa

sobre o tema no Departamento de

Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde

Pública da USP.

Vanessa Cristina Nascimento é

bióloga e mestre em Saúde Pública,

pesquisadora do Laboratório de Comunidades Aquáticas da

Bioagri Ambiental, atua principalmente

em atividades que envolvem

as comunidades zooplanctônica e

bentônica.

Por ArNALdo rIBEIro E VANESSA crIStINA NAScIMENto (BIóLogoS dA EMPrESA BIoAgrI)

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as avaliações biolÓgicas As características químicas, físicas e biológicas dos re-servatórios determinarão a ocorrência e distribuição dos diferentes organismos no meio aquático. A alte-ração de qualquer uma destas características pode gerar estresse, provocar redução no número total de espécies ou também alteração qualitativa, podendo provocar desaparecimento e substituição de espécies ou o desenvolvimento excessivo de grupos que trazem prejuízos econômicos ou riscos a saúde pública.

Muitas vezes uma condição física ou química que gerou prejuízo à qualidade da água em determinado ambiente não pode mais ser detectada, mas os seus efeitos permanecem evidenciados nos organismos que habitam aquele local. Quando os métodos biológicos são empregados por pessoal qualificado, a análise tor-na-se mais rápida e barata, gerando dados confiáveis que podem ser integrados com outras variáveis, en-quanto que geralmente as análises físicas e químicas oferecem as informações pontuais.

Por exemplo, a partir do conhecimento das espé-cies e estrutura das comunidades aquáticas, é possível avaliar as condições e até mesmo predizer alterações ecológicas, além disso, a avaliação biológica pode ser feita no sentido de determinar presença de organismos patogênicos, avaliando os riscos diretos a saúde humana quando se é feito o consumo ou mesmo no contato com a água. Igualmente os organismos podem ser utilizados em ensaios na busca de substâncias químicas capazes de provocar efeitos tóxicos ao ambiente e a saúde publica, evidenciando também interações entre diferentes subs-tâncias e mesmo em concentrações muito baixas.

as comunidades aquáTicasFitoplânctonÉ formado por vários grupos de algas e cianobacté-

rias livres flutuantes em um corpo d’água, são organis-mos fotossintetizantes, portanto são a base da cadeia trófica, iniciando a fase biológica de nutrientes em ecossistemas aquáticos. A partir do conhecimento de sua diversidade é possível, por exemplo, obter informa-ções sobre o grau de eutrofização e da produtividade primária do ecossistema. Quanto ao aspecto sanitário, determinados grupos de algas podem conferir odor e sabor desagradáveis à água e algumas cianobactérias são produtoras de toxinas, que em eventos de flora-ções trazem riscos eminentes à saúde humana.

ZooplânctonA comunidade zooplanctônica é composta por

grupos de animais, geralmente microscópicos, de dife-rentes categorias taxonômicas, que habitam a coluna d’água. O zooplâncton possui um papel central na di-nâmica dos ecossistemas aquáticos, especialmente na ciclagem de nutrientes e no fluxo de energia, exercen-do uma importante função devido à sua posição na ca-deia alimentar. Além de serem utilizados pelo homem em programas de monitoramento e controle ambien-tal, estes organismos podem controlar o crescimento das algas planctônicas por herbívora, atuando desta forma na manutenção da qualidade da água.

Macrófitas AquáticasAs macrófitas aquáticas são plantas visíveis ao olho

nu, que podem viver total ou parcialmente submersas ou até mesmo flutuando em ambientes aquáticos. A elevação das concentrações de nutrientes em um reser-vatório favorece o crescimento acelerado da comunida-de macrofítica, que por sua vez contribui com a deterio-ração da qualidade pela produção e decomposição de grande quantidade de matéria orgânica, formando-se assim um ciclo com consequências desastrosas para o corpo d’água. Dentre os problemas relacionados po-demos citar o impedimento da pesca, da navegação, o entupimento de canais de irrigação, o impedimento de atividades turísticas, além do favorecer o aparecimento de verminoses como a esquistossomose.

PeixesA construção de reservatórios afeta diretamente o

ciclo reprodutivo dos peixes, já que a barragem atua como um obstáculo à migração reprodutiva de diver-sas espécies. A comunidade íctia além de participar da cadeia trófica atuando em vários níveis, é funda-mental na composição da biota aquática e possui um grande valor econômico levando em conta a produção pesqueira. O uso desta comunidade como indicador biológico traz a vantagem de que as espécies são re-lativamente fáceis de serem identificadas e os efeitos fisiológicos que as alterações na qualidade da água podem provocar no organismo destes animais também podem ser facilmente observados.

VISão dE MErcAdo

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Macroinvertebrados bentônicosOs macroinvertebrados bentônicos são animais in-

vertebrados cujo tamanho ultrapassa 0,25mm e que habitam o substrato de fundo dos ambientes aquá-ticos. Os organismos da comunidade bentônica são abundantes em todos os tipos de ecossistemas aquá-ticos, vivendo enterrados na areia e na lama, presos à superfície de rochas, sobre o sedimento orgânico do fundo, ou escondidos nos espaços existentes entre sei-xos e pedras. A análise dos macroinvertebrados bentô-nicos permite uma visão espacial eficiente dos efeitos de poluentes ou de perturbações físicas no meio, além disso, devido à sua baixa motilidade e possuírem o ciclo de vida relativamente longo, reflete as condições do ambiente por um período maior de tempo e não ape-nas no momento da coleta.

PerifítonO perifíton é definido como uma complexa micro-

biota formada por algas, bactérias, fungos, animais, de-tritos orgânicos e inorgânicos aderidos a um substrato orgânico ou inorgânico, vivo ou morto (Wetzel, 1983). A importância do perifíton como indicador da qualidade da água já foi evidenciada por vários pesquisadores, en-tretanto ainda são poucas as avaliações que levam em consideração esta comunidade. Por exemplo, pouco se sabe sobre o risco da produção de toxinas das cianobac-térias do perifíton em águas de abastecimento.

microorganismos causadores de doençasA análise microbiológica da água é uma ferramenta indispensável para garantir a qualidade da água des-tinada ao abastecimento da população, já que a con-taminação por patógenos oferece grande risco à saúde humana, podendo provocar gastroenterites ou outras doenças ainda mais graves e que podem inclusive se-rem fatais, como a cólera.

Bactérias e VírusOs patógenos bacterianos ocorrem no ambiente

aquático em todas as regiões do planeta. Segundo a OMS (1996), as bactérias patogênicas mais comumen-te encontradas são a Salmonella, Shigella, Escherichia coli enterotoxigênica, Campylobacter, Vibrio e Yersinia. Os agentes virais como o vírus da hepatite, o rotavírus e anterovírus também são importantes contaminantes.

ProtozoáriosDiversas doenças parasitárias que afetam prin-

cipalmente o sistema gastrointestinal são causadas pela ingestão de protozoários patogênicos que estão presentes na água. Dentre estes, podemos citar como sendo de grande importância para a saúde pública a Giardia sp., Entamoeba sp. e Cryptosporidium sp. A complexidade e os altos custos dos métodos de aná-lise são fatores limitantes para que seja feita pesquisa direta da presença destes microorganismos na água, por isso a qualidade da água é monitorada a partir da análise de outros indicadores de contaminação fecal. avaliação da ToxicidadeO efeito tóxico de substâncias, naturais ou artificiais, sobre os organismos aquáticos e suas consequências ao ecossistema e ao homem pode ser avaliado por meio de ensaios ecotoxicológicos. É uma excelente ferramenta que permite, por exemplo, avaliar e prever danos ambientais, estabelecer padrões de qualidade de água e de lançamento de efluentes. São ensaios padronizados feitos principalmente em condições de laboratório, que consiste basicamente em expor os or-ganismos selecionados a uma determinada amostra e avaliar seus efeitos agudos, ou seja, severos e rápidos, e os efeitos crônicos, que são as alterações fisiológicas e/ou comportamentais sobre os ciclos de vida dos orga-nismos. Podem ser utilizados organismos representati-vos de diferentes comunidades e níveis tróficos, como as algas, microcrustáceos, invertebrados bentônicos, peixes (Zagatto & Bertoletti, 2006).

as variáveis biolÓgicas na legislaçãoA legislação de qualidade da água para os mananciais destinados ao abastecimento público avançou no es-tabelecimento metas de preservação, com o enqua-dramento dos corpos d’água por meio de padrões de qualidade, visando a garantia do uso atual e futuro dos recursos hídricos.

A Resolução CONAMA n° 357/2005 que estabelece os critérios para a classificação e enquadramento dos corpos d’água, preconiza a preservação e a proteção das comunidades aquáticas. Traz alguns padrões bio-lógicos de qualidade, como o número de bactérias ter-motoletantes, que revela informações sobre contami-nação fecal da água, a concentração de clorofila-a que fornece o indicativo de biomassa de algas e cianobac-

VISão dE MErcAdo

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térias presentes no corpo d’água, e também determina o número máximo de células de cianobactérias para cada classe de água doce. Também traz a necessidade de considerar os ensaios ecotoxicológicos como uma ferramenta para avaliar a interação entre substâncias e presença de contaminantes não listados, e como pa-drão para o lançamento de efluentes. Além de estabe-lecer que a qualidade dos ambientes aquáticos pode ser avaliada por meio dos indicadores biológicos.

A Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde tam-bém estabelece avaliações biológicas dentro de pa-drões de qualidade, considerando por exemplo, Esche-richia coli e/ou os coliformes termotolerantes, e níveis de alerta com relação ao número total de células de cianobactérias e concentração de cianotoxinas no ma-nancial, aumentando quando necessário a frequência do monitoramento e a realização de bioensaios para se detecção de toxicidade.

a imporTÂncia da qualidade analíTica Contudo é certo que há uma crescente preocupação e um avanço na consideração das avaliações biológicas na legislação que trata da qualidade da água. Porém isto deve ser acompanhado pela qualificação contínua de laboratórios analíticos, uma vez que a partir dos dados gerados por eles que são tomadas muitas das medidas de controle e gestão dos recursos hídricos.

As técnicas para as análises biológicas também passaram por muitos avanços nos últimos anos, jun-tamente com uma preocupação da necessidade de implantação de um sistema de qualidade laboratorial, que atualmente já é considerado como um requisito básico para a atuação no setor. É fundamental destacar também que tanto o CONAMA 357/2005 e a Portaria 518/2004 exigem que os dados analíticos gerados se-jam provenientes de laboratórios que tenham um sis-tema de qualidade implementado.

Os rápidos avanços tecnológicos precisam de res-postas rápidas a diferentes problemas ambientais, e com o aumento da demanda de utilização da água frente à redução de sua qualidade, sem dúvida estamos diante de um grande desafio tecnológico neste setor. A exigência técnica das avaliações biológicas leva a ne-cessidade de contínua capacitação dos profissionais que atuam nesta área, ao aprimoramento de técnicas para que o tempo de resposta seja suficientemente rá-pido e é fundamental que os custos envolvidos no

atendimento a estas demandas permitam um amplo acesso a resultados confiáveis.

referências bibliográficasBRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 518, de 25 de março de 2004. Estabelece os procedimentos e respon-sabilidades relativos ao controle e vigilância da quali-dade da água para o consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências. Diário Oficial da União. Republica Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasilia, DF, 26 mar. 2004. BRASIL. Resolução CONAMA nº 357 de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos d’água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamen-to de efluentes, e dá outra providencias. Diário Oficial da União. Republica Federativa do Brasil, Poder Execu-tivo, Brasilia, DF, 18 mar. 2005. ESTEVES, F. A. Fundamentos de Limnologia, 2ª edição. Rio de Janeiro: Interciência. 1998.RODGHER, S.; ESPÍNDOLA, E. L. G.; ROCHA, O.; FRACÁ-CIO, R.; PEREIRA, R. H. G.; RODRIGUES, M. H. S. Limnological and ecotoxicological studies in the cas-cade of reservoirs in the Tietê river (São Paulo, Bra-zil). Braz. J. Biol., v. 65, p. 697-710, 2005.TUNDISI, J. G. Água no século XXI: Enfrentando a es-cassez. São Carlos: Rima, IIE, 2003.TUNDISI, J. G.; BICUDO, C.E.M.; MATSUMURA-TUNDISI, T. (Ed.). Limnology in Brazil. Rio de Janeiro: ABC/SBL, 1995. WETZEL, R.G. (Ed.). Periphyton of freshwater ecosyste-ms. The Hague: Dr. W. Junk, 1983. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Water Quality Asses-sments - A Guide to Use of Biota,Sediments and Water in Environmental Monitoring -Second Edition. 1996. Disponível em: http://www.who.int/water_sanitation_health/resources/wqa/en/ZAGATTO, P. A. & BERTOLETTI, E. (Ed.) Ecotoxicologia aquática – princípios e aplicações. São Carlos: Rima, 2006.

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dEStAQUE dA EdIção

foi aprovada a políTica nacional de segurança de barragens (pnsb)

Colaboração de Doralice Lemos, Edson Santana Borges e Wong Sui Tung (Sabesp)

Barragem Paiva Castro

Foi sancionada pelo Presidente da República, em 20/09/10 e já está em vigor, a Lei 12.334 que estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) e cria o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB), alterando o art. 35 da lei 9.433 (Conselho Nacional de Recursos Hídricos) e art. 4º da Lei 9984 (ANA).

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Em discussão desde 2003, essa Lei se aplica às bar-ragens destinadas à acumulação de água para quais-quer usos, à disposição final ou temporária de rejei-tos e à acumulação de resíduos industriais e define as responsabilidades dos atores envolvidos, detalhando o papel do 1empreendedor, a quem caberá garantir os recursos necessários à segurança de barragens e dos órgãos fiscalizadores estaduais e federais.

A Lei passará por uma etapa de regulamentação em que serão discutidos e normatizados os critérios técni-cos referentes aos empreendimentos de barragens. A partir daí, os empreendedores de barragens terão prazo de dois anos, contado a partir da publicação da Lei, para se adequarem à nova norma, ao longo dos quais deverão submeter à aprovação dos órgãos fiscaliza-dores os relatórios especificando ações e cronograma para implantação do Plano de Segurança de Barragens.

Todo esse processo será acompanhado pelos ór-gãos responsáveis pela outorga dos empreendimentos, inclusive os órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA.

o que exisTe na sabespA SABESP, no início da década de 1980, implantou com o IPT um programa preventivo, composto de ações de treinamento, inspeção e monitoramento das barra-gens da RMSP. Os primeiros passos foram dados com o SISMAPREV- Sistema de Manutenção Preventiva, cuja evolução culminou no Plano De Manutenção e segurança De barragens em 1992, que possibili-ta estabelecer indicadores de criticidade das barragens, associados às características intrínsecas e de manuten-ção dessas estruturas.

Em 2004, a Sabesp, por solicitação do Ministério da Integração Nacional e da Agência Nacional de Águas, cadastrou as barragens da RMSP no CNB - Cadastro Nacional de Barragens. Nesse banco de dados, forne-cido e disponibilizado pelo MIN e pela ANA, foram re-gistradas todas as informações técnicas disponíveis de cada estrutura.

As informações a serem fornecidas ao SNISB de-verão ser sistematicamente atualizadas e disponíveis quando exigidas, como dados técnicos de implantação do empreendimento, dados de operação e manutenção da barragem, estrutura organizacional, qualificação

técnica dos profissionais envolvidos, manuais de ins-peções de segurança e de monitoramento e respectivos relatórios, regras operacionais dos dispositivos de des-carga, áreas do entorno e acessos a serem resguarda-dos de usos ou ocupações permanentes, além de Plano de Ação de Emergência (PAE).

o que falTa fazer A SABESP, como empreendedora e operadora de bar-ragens para abastecimento de água da maioria dos municípios do Estado de São Paulo, deverá adequar-se para atendimento às ações determinadas por essa Lei.

O atual PLANO DE MANUTENÇÃO E SEGURANÇA DE BARRAGENS deverá ser remodelado assim como as demais informações existentes na empresa deve-rão ser adaptadas.

As ações que deverão ser implantadas pela SABESP, entre outras, são relativas ao envolvimento da popula-ção, que deverá ser informada e estimulada a partici-par das ações preventivas e emergenciais e ao desen-volvimento de mecanismos de participação e controle social nas ações de fiscalização da barragem.

fiscalizaçãoA fiscalização da segurança de barragens caberá, sem prejuízo das ações fiscalizatórias dos órgãos ambien-tais integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambien-te (SISNAMA), à entidade que outorgou o direito de uso dos recursos hídricos, observado o domínio do cor-po hídrico, que ainda será regulamentado.

O órgão fiscalizador também é obrigado a exigir do empreendedor a ART – Anotação de Responsabilidade Técnica por profissional habilitado pelo CREA/CONFEA dos estudos, planos, projetos, construção, fiscalização e demais relatórios citados nesta Lei.

Considerando-se os impactos das barragens sobre as populações afetadas, residentes a montante e ju-sante, essa lei imporá novos paradigmas não apenas para o empreendedor e ao órgão fiscalizador, mas para os projetistas, construtores, gestores e Poder Público.

Quem ganha com isso é a sociedade brasileira.

O conteúdo integral da referida pode ser acessa-do por meio do link: http://www.planalto.gov.br/cci-vil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12334.htm

Empreendedor: 1 agente privado ou governamental com direito real sobre as terras onde se localizam a barragem e o reservatório. É o responsável legal pela segurança da barragem, cabendo-lhe o desenvolvimento de ações para garanti-la

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BArrAgEM PAIVA cAStro sisTema canTareira

NoVA BArrAgEM dA grAçA sisTema alTo coTia

BArrAgEM PArAItINgA sisTema alTo TieTe

BArrAgEM JAcArEÍsisTema canTareira

BArrAgEM JAgUArI sisTema canTareira

dEStAQUE dA EdIção

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proença fala sobre a manuTenção e inspeçãodas barragens da rmsp

saneas: gostaríamos que o senhor discorresse sobre as condições de manutenção das barra-gens e lagoas de tratamento da sabesp, fren-te a essa nova legislação.Proença: Historicamente, as barragens da RMSP eram inspecionadas pelos engenheiros da Supe-rintendência de Manutenção Estratégica - MM. Essas inspeções, com periodicidade semestral, eram realizadas com base em orientações do CBDB - Comitê Brasileiro de Grandes Barragens. Mais tarde, o procedimento de inspeção foi apri-morado após o estabelecimento de convênio com o IPT- Instituto de Pesquisas Tecnológicas.

Em 1991, visando aprimorar esse processo, a MM, em conjunto com uma consultoria, desen-volveu o Plano de Manutenção e Segurança de Barragens, contendo Procedimentos de Vistoria e Diagnóstico para as estruturas situadas na Região Metropolitana de São Paulo.

A partir dessa época, as atividades de inspeção e avaliação de segurança das barragens da RMSP são fundamentadas nesse Plano de Manutenção, que, com adequações, já atenderá parte dos que-sitos da Lei.

Quanto as demais barragens, do litoral e do in-terior, a MM poderá estender o plano adotado na RMSP para essas estruturas, sendo que as tratati-vas iniciais já foram desencadeadas.

Quanto às lagoas de tratamento, caberá uma avaliação técnica/jurídica para definir a aplicabili-dade da Lei às mesmas, visto que o artigo 1º da Lei 12334/10 refere-se às barragens destinadas à

disposição final ou temporária de rejeitos e acu-mulação de resíduos industriais.

saneas: alguns técnicos da sabesp questio-nam a adequação da companhia no atendi-mento às ações determinadas por essa nova lei. é necessário estabelecer um planejamento para as adequações necessárias? como a MM se posiciona frente a esse desafio?Proença: Essa nova Lei surgiu após vários aciden-tes ocorridos no Brasil e o seu objetivo é garantir que a cultura de segurança e gestão de risco das Barragens sejam aplicadas por parte do empreen-dedor ou outorgado.

Essa Lei veio regulamentar as ações de segu-rança a serem adotadas em todas as fases de exis-tência das barragens desde planejamento, projeto, construção, primeiro enchimento, primeiro verti-mento, operação, desativação e usos futuros, em todo território nacional.

Dessa forma, caberá à Sabesp, como empreen-dedora e outorgada, estabelecer um planejamento e as adequações necessárias ao atendimento à Lei, a partir dos critérios e diretrizes a serem definidos pelo órgão fiscalizador. Lembramos ainda que a Lei estabelece um prazo de 2 anos, após a assinatu-ra, para a implantação do Plano de Segurança de Barragens.saneas: existe alguma metodologia da sa-besp referente ao Plano de Manutenção de barragens que já está em curso?Proença: Sim, toda metodologia de inspeção e

ENtrEVIStA

O Eng. José Francisco de

Proença é superintendente de Manutenção

Estratégica da Sabesp.

Associado da AESabesp, inclusive detentor do Prêmio

“Profissionais do Ano”, em 2005,

é engenheiro eletricista

graduado pela FESP (Faculdade

de Engenharia São Paulo) e tecnólogo mecânico graduado

pela FATEC (Faculdade de

Tecnologia de São Paulo). Também é pós-graduado em

Gestão e Tecnologia da Qualidade

pela Escola Politécnica da

USP (Universidade de São Paulo) e concluiu cursos

de especialização na Inglaterra e no

Japão.

Em virtude de um artigo em destaque nesta edição, que aborda o estabelecimento da Lei 12.334, referente à Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), elaborado por um grupo de engenheiros da Sabesp, a reportagem da Saneas foi buscar mais informações sobre esse processo com o Superintendente de Manuten-ção Estratégica da Sabesp, Eng. José Francisco de Proença, que nos forneceu os seguintes esclarecimentos:

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avaliação está contida no Plano de Manutenção e Se-gurança de Barragens, que vem sendo utilizado desde 1991.

saneas: como a sabesp realiza os processos de ins-peção das barragens e lagoas?Proença: Há quatro tipos de inspeção de Barragens na RMSP:

a) Rotineiras ou Informal: executadas pelos colabo-radores das áreas operacionais, sem utilização de Plani-lhas, com frequência mensal e leitura dos instrumentos. Não há emissão de relatório.

b) Periódicas: executadas pela equipe de Engenha-ria de Barragens da MM, podendo-se utilizar planilha detalhada para sua execução, com geração de relatório, onde são atribuídas notas aos indicadores de criticida-de e atualizados conforme as condições resultantes da manutenção corretiva executada ou não. A frequência dessas inspeções é estabelecida de acordo com o indi-cador de criticidade, variando de semestrais a bienais.

c) Formais: executadas por equipe multidisciplinar de especialistas, que não pertençam aos quadros do proprietário da obra. Inclui um estudo detalhado dos documentos de projeto, dos registros existentes e dos históricos das intervenções realizadas. A inspeção en-globa todos os aspectos das estruturas, incluindo de-talhes de operação dos equipamentos mecânicos rela-cionados com a segurança da barragem. A frequência dessas inspeções varia de 3 a 5 anos, gerando relatórios com recomendações.

d) Especiais: Executadas para a observação de uma ocorrência específica da barragem e suas estruturas anexas, seja por ocorrência de alguma deficiência im-portante ou quando aparecem oportunidades raras, tais como o rebaixamento do nível d’água do reservatório, etc. Encaixam-se neste ítem as inspeções subaquáticas, com mergulhadores e as batimétricas.

Quanto às lagoas, de forma geral, são realizadas apenas as inspeções de rotina.

saneas: como é feito o monitoramento de arma-zenamento dos reservatórios para minimizar os efeitos das fortes chuvas? a MM estabelece algum planejamento ou a área de operação é que se en-carrega dessa obrigação?Proença: Essas atividades são responsabilidades da área de operação.

saneas: a sabesp é referência em manutenção de barragens, fale um pouco sobre o contrato com a Petrobrás.Proença: A MM, atendendo à recente política da Sa-besp de busca de novos negócios, participou de licita-ção promovida pela Petrobrás , para elaboração de ava-liação e diagnóstico da Barragem da Superintendência de Industrialização do Xisto - SIX, em São Mateus do Sul, no Paraná.

Uma das exigências na fase de classificação das propostas no processo licitatório foi a existência e dis-ponibilidade de um Plano de Manutenção de Barragens, com classificação de risco, fator este que foi preponde-rante para a MM participar e vencer esse processo.

Os serviços contratados, de forma sucinta, foram: análise prévia de documentos e projetos para conheci-mento de suas características, inspeção de 3 dias no local com equipe multidisciplinar e elaboração de rela-tório final contendo diagnóstico e classificação de risco da estrutura.

ENtrEVIStA

A LEI 12.334, rEFErENtE à PoLÍtIcA NAcIoNAL dE SEgUrANçA dE BArrAgENS (PNSB) SUrgIU APóS VárIoS AcIdENtES ocorrIdoS No BrASIL E o SEU oBJEtIVo é gArANtIr QUE A cULtUrA dE SEgUrANçA E gEStão dE rISco dAS BArrAgENS SEJAM APLIcAdAS Por PArtE do EMPrEENdEdor oU oUtorgAdo.

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inTroduçãoA importância da qualidade da água está bem carac-terizada na Política Nacional de Recursos Hídricos, que define, entre outros objetivos:

“Assegurar à atual e às futuras gerações a neces-sária disponibilidade de água, em padrões de quali-dade adequados aos respectivos usos”, objetivando a visão da sustentabilidade dos Recursos Hídricos;

“A gestão sistemática dos Recursos Hídricos, sem dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade e a integração da gestão dos Recursos Hídricos com a gestão ambiental”.

O gerenciamento dos Recursos Hídricos compre-ende as atividades integradas de avaliação dos usos múltiplos da água.

Há estreita inter-relação entre qualidade e quanti-dade da água no contexto de diagnóstico e avaliação dos impactos ao meio ambiente. Em se tratando de re-presas, reconhecidos sistemas lênticos, uma das ações para obtenção de informações referentes à carga po-luidora é a medição de vazão dos pontos monitorados, para que seja possível avaliar a carga de fósforo, bem como alterações da quantidade e transporte de água de um ambiente para o outro, que pode levar, por exemplo, a modificações na comunidade fitoplanctônica.

Segundo Novo (2007), o monitoramento compre-ende a observação repetitiva de uma área ou fenôme-

no, com uma frequência definida pela variabilidade do fenômeno e pelas necessidades de informação sobre a dinâmica do seu comportamento.

A Resolução CONAMA 357/05 define monitora-mento como sendo a medição ou verificação de parâ-metros de qualidade e quantidade de água, que pode ser contínua ou periódica, utilizada para acompanha-mento da condição e controle da qualidade do corpo de água. Desta forma, essa atividade fundamental tor-na-se o primeiro passo para a elaboração de um banco de dados confiável e adequado e que possa ser útil ao planejamento e ao gerenciamento dos Recursos Hídri-cos (Tundisi, 2005).

A legislação sobre o tema Abastecimento de Água remete ao monitoramento da água captada nos ma-nanciais superficiais para fins de tratamento, contem-plando em seus artigos, o monitoramento de cianobac-térias e cianotoxinas. Deve-se considerar a ocorrência de florações de algas, tendo como um dos focos o grupo das Cianobactérias e seus eventuais impactos ao processo de tratamento, atuação esta baseada nos atos jurídicos referentes à qualidade da água para abasteci-mento, encontrados na Portaria 518/04, e também na Resolução CONAMA 357/05.

Os Ensaios Hidrobiológicos visam à avaliação da co-munidade fitoplanctônica e, consequentemente, seus impactos na qualidade da água. O significado sanitário

programa de moniToramenTo limnolÓgico de rios e represas da região meTropoliTana de são paulo realizado pela sabesp por adilson macedograduado em ciências Biológicas pela Universidade de Mogi das cruzes – UMc, Especialização em tecnologias Ambientais pela Faculdade de tecnologia São Paulo – FAtEc-SP. Biólogo do Laboratório de Limnologia da divisão de recursos Hídricos Metropolitanos Leste da SABESP - [email protected] .por elY Yamamuragraduada em ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo – USP, e especialista em gestão Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública – USP. Bióloga do Laboratório de Limnologia da divisão de recursos Hídricos Metropolitanos Sudoeste da SABESP - [email protected] lina ikejirigraduada em ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. Bióloga do Laboratório de Limnologia da divisão de recursos Hídricos Metropolitanos Norte da SABESP - [email protected] valesca rodrigues oliveira de souzagraduada em ciências Biológicas pelo centro Universitário São camilo. Bióloga do Laboratório de Limnologia da divisão de recursos Hídricos Metropolitanos Norte da SABESP - [email protected] vanessa de fáTima paTTarograduada em ciências Biológicas pela Universidade do grande ABc - UNIABc. Bióloga do Laboratório de Limnologia da divisão de recursos Hídricos Metropolitanos Leste da SABESP - [email protected].

MAtérIA SABESP

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dos microrganismos observados, como entupimento de leito de areia nos filtros, aumento de turbidez da água, presença de gosto ou odor, são indicadores de possíveis interferências no processo de tratamento das estações de tratamento de água, entre outros fatores.

objeTivoO objetivo deste trabalho é apresentar a rede de mo-nitoramento da qualidade das águas realizado pela SABESP, através de laboratórios de limnologia situados nas três divisões operacionais do Departamento de Re-cursos Hídricos Metropolitanos - MAR, sendo elas Divi-são de Recursos Hídricos Metropolitanos Leste – MARL, Divisão de Recursos Hídricos Metropolitanos Norte – MARN e Divisão de Recursos Hídricos Metropolitanos Sudoeste – MARS, que atuam nos mananciais, sendo eles rios e represas de toda a Região Metropolitana de São Paulo - RMSP.

maTeriais e méTodosrede de moniToramenToConsiderando a necessidade do levantamento de in-formações para avaliação das características limnoló-gicas dos rios e represas, foi consolidada uma estrutura subdividida em regiões, a fim de se agilizar a trans-ferência de informações de Monitoramento Ambiental aos tomadores de decisão em Gestão do Manancial.

Esta rede de monitoramento atende os oito grandes sistemas produtores de água (Figura 1), que a Sabesp classifica como sendo da Diretoria Metropolitana – M.

Para gestão descentralizada dos Recursos Hídricos, há divisões operacionais em três áreas distintas da RMSP que atendem um ou mais sistemas produtores de água. Na região leste de São Paulo, a Divisão MARL atua nos sistemas produtores Alto Tietê e Rio Claro; na região norte de São Paulo a Divisão MARN atua no sis-tema produtor Cantareira; na região sudoeste de São Paulo, a Divisão MARS atua nos sistemas produtores Guarapiranga, Rio Grande, Ribeirão da Estiva, Alto Co-tia e Baixo Cotia. Esta forma de descentralização na gestão é de extrema importância para o monitoramen-to, focado principalmente nos problemas e dificulda-des encontrados em cada região.Os ensaios hidrobiológicos são realizados nos labora-tórios das três divisões com frequências que superam a quantidade prevista em legislação e, por meio da técnica de Sedgwick-Rafter, permitem a identificação e quantificação de fitoplâncton (Figura 2). Avalia-se também o grau de toxicidade dos pontos amostrados através ensaios de toxinas de cianobactérias.

Figura 2. Comunidade fitoplanctônica observada em Câmaras de Sedgwick–Rafter em amostras de ensaios Hidrobiológicos.

Como parte do monitoramento, são realizadas aná-lises de Coliformes Totais e Escherichia coli. Isso permi-te uma primeira avaliação dos mananciais de abaste-cimento sob o ponto de vista bacteriológico. Embora simples, são análises que monitoram a qualidade da água na forma de indicadores de poluição. Com rela-ção à potabilidade, verifica-se de maneira indireta a

MAtérIA SABESP

Figura 1. Localização dos grandes Sistemas Produtores da Sabesp: 1 – Cantareira, 2 – Alto Tietê, 3 – Rio Claro, 4 – Rio Grande, 5 –

Guarapiranga, 6 – Alto Cotia, 7 – Baixo Cotia, 8 – Ribeirão da Estiva.

Fonte: SSD2 – Sistema de Suporte a Decisão para os Grandes Sistemas Produtores - SABESP

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presença de micro-organismos causadores de doenças de veiculação hídrica.

São realizadas ainda análises físico-químicas e de orgânicos, completando o monitoramento de nossos mananciais.

esTruTura laboraTorialOs Laboratórios de Limnologia, que atuam na ges-

tão de Recursos Hídricos, buscam através de sua estru-tura física e corpo técnico, diagnosticar com rapidez, os eventuais impactos aos corpos d’água.

Esta estrutura tem início nas equipes que realizam coletas de amostras de água em pontos georreferen-ciados em represas e rios (Figura 3). Em campo, são ob-tidos os primeiros dados do monitoramento.

Figura 3. Coletas realizadas em pontos de monitoramento em represa e rio.

Em laboratório, as amostras são encaminhadas para os respectivos ensaios físico-químicos e biológi-cos (Figura 4) e os resultados obtidos são apresentados na forma de relatórios e boletins.

Deve-se ressaltar o controle de qualidade reali-zado nos diferentes processos desde a coleta até a emissão de resultados para garantir a confiabilidade dos dados gerados.

Figura 4a. Análise de cianotoxinas.

Figura 4b. Análise Hidrobiológica.

resulTados e discussãoA rede de monitoramento implantada nos oito Sistemas Produtores permite avaliar as condições da qualidade das águas dos mananciais usados para abastecimento público por meio dos resultados de análises de campo e laboratório. As informações geradas nesse processo

servem de instrumento ao Departamento de Recursos Hídricos Metropolitanos – MAR para a gestão dos re-cursos hídricos, com enfoque na qualidade dessas águas.

Tem-se por objetivo ainda disponibilizar aos clien-tes internos informações, do ponto de vista limnológico, sobre a situação da água captada nas estações de trata-mento de água e sobre o próprio processo de tratamen-to por meio de análises hidrobiológicas comparativas entre a água de captação e a tratada.

Os rios e represas são avaliados com vistas à quantificação das cargas de nutrientes, principal-mente fósforo, visando possíveis impactos à comuni-dade fitoplanctônica. Muitas das represas da Região Metropolitana de São Paulo, eutrofizadas devido ao uso e ocupação do solo de maneira irregular (figura 5), têm o fósforo como fator limitante para o cresci-mento de muitos grupos de algas. Assim, a identifi-cação e quantificação dos diversos grupos de algas, principalmente o grupo das Cianobactérias, permitem a possibilidade da prevenção e controle das florações.

Desta forma, as análises realizadas para o monitora-mento dos sistemas fornecem uma visão bem ampla das condições dos nossos mananciais para usos no abaste-cimento público.

O Departamento de Recursos Hídricos, através de seus três sistemas gerenciais objetivam compor ferra-mentas para gestão e tomada de decisões relacionadas aos mananciais de abastecimento da Região Metropoli-tana de São Paulo, buscando a melhoria da qualidade da água que abastece as estações de tratamento de água.

Figura 5. Uso e ocupação do solo no entorno do Sistema Guarapiranga, impactando a qualidade da água do manancial. Fonte: Site Sabesp na internet

conclusões e consideraçõesO monitoramento nos mananciais dos Sistemas Produ-tores da Região Metropolitana do Estado de São Paulo,

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tem sido eficiente ferramenta possibilitando acesso a informações tanto qualitativas quanto quantitativas dos organismos fitoplanctônicos e sua dinâmica entre si e com os outros organismos, permitindo respostas rápidas para tomada de medidas emergenciais, corre-tivas e preventivas. Tal acompanhamento contínuo e sistemático das características limnológicas, através de análises e ensaios realizados nos Laboratórios Limnoló-gicos, possibilita ainda a avaliação de séries históricas de dados e tendências ao longo do tempo.

O objetivo final é a busca contínua da melhoria da qualidade dos rios e represas, que abastecem as esta-ções de tratamento de água e, portanto, da saúde pública, considerando também as ações mitigadoras para a redução da degradação ambiental em todos os segmentos.

referências bibliográficas1. BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria n.º 518, de 03/2004. Diário Oficial da República Federativa do Bra-sil. Poder Executivo. Brasília (DF), 26 mar. 2004, Seção1, p.266-270

2. BRASIL, CONAMA. Resolução nº. 357, de 03/2005. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Poder Executivo. Brasília (DF), 18 mar. 2005, Seção1.3. BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Agência Nacio-nal de Águas (ANA). Panorama da Qualidade das Águas Superficiais no Brasil, Caderno de Recursos Hídricos, Brasília, 2005, 172. Disponível em http://www.ana.gov.br/sprtew/1/1-ANA.swf Acessado em Maio de 2011.4. BRASIL, Presidência da República, Lei 9433/97, Polí-tica Nacional de Recursos Hídricos, de 01/1997. 5. CETESB - São Paulo, Relatório de qualidade das águas interiores do estado de São Paulo-2009, São Paulo, 2009, pp. 310 (Série Relatórios).6. NOVO, E.M.L.M. Monitoramento da qualidade e quantidade da água e sensoriamento remoto. XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, São Paulo, 2007. Disponível em http://mtc-m17.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/mtc-m17%4080/2007/12.03.20.57/doc/3.pdf. Acessado em Maio de 2011.7. TUNDISI, José Galizia. Água no século XXI: Enfren-tando a escassez. – São Carlos: Rima, IIE, 2 ed., 2005.

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Povoação da Represa – Fonte: SOS Rios

1. inTrodução A Bacia do Guarapiranga ocupa vasta extensão com área aproximada de 630 km², situando-se em ter-ritório dos municípios de São Paulo, Itapecerica da Serra, Embu, Embu-Guaçu, Cotia, São Lourenço e Juquitiba. Originalmente construída e utilizada para a geração de energia elétrica, em 1927 passou a ser utilizada como fonte de abastecimento público, sendo responsável hoje pelo abastecimento de 18,8 % da Região Metropolitana de São Paulo.

Ocupações desordenadas e irregulares da área do manancial a partir da década de 60 acarretaram em problemas ambientais crescentes, notoriamente na qualidade da água.

A necessidade de ampliação da oferta d’água para atender a demanda na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), principalmente na Região Sul da cidade, levou a uma série de obras que visaram à regularização do abastecimento de água na RMSP. O Sistema Produtor Taquacetuba - Guarapiran-ga foi destacado como uma das obras prioritárias constantes no plano de investimentos da Compa-nhia de Saneamento Básico do Estado de São Pau-lo – Sabesp, empresa pública estadual responsável

pelos serviços de abastecimento público de águas e tratou do aporte de até 4,0 m³/s de água para o Reservatório Guarapiranga, através da captação e transposição de água do braço do Taquacetuba na represa Billings, objetivando a melhoria da ca-pacidade de regularização do nível da represa do Guarapiranga e consequentemente a diminuição dos riscos de abastecimento nos períodos de grande estiagem, assim como a possibilidade de incremen-tação da captação de água para tratamento em 2 m³/s. Em setembro de 2000 foi iniciada a transfe-rência de água da represa Billings (braço do Taqua-cetuba) para a represa do Guarapiranga.

O sistema Taquacetuba é composto por um par de estações de bombeamento de água, sendo a pri-mária uma estação elevatória flutuante composta por cinco bombas submersíveis e a secundária uma estação elevatória convencional instalada em ter-ra com cinco bombas centrífugas horizontais, 13,9 km de adutora sendo 8,3 km de transferência por gravidade com 80 m de diferença de cota entre o ponto mais alto da linha de adução e o sistema de dissipação de energia, terminando em um canal de afluência à várzea do ribeirão Parelheiros.

O ribeirão Parelheiros aflui na represa do Gua-rapiranga onde forma uma várzea de aproximada-mente 93 hectares com grande influência antró-pica. Pode-se afirmar que esta não é uma várzea natural uma vez que, originalmente situava-se na afluência do ribeirão Parelheiros ao rio Guarapiran-ga mudando sua posição a partir do enchimento da represa. Até então esta região era um típico fundo de vale onde, apesar das cheias provocadas nos pe-ríodos de chuva não possuía o típico ciclo biogeo-químico de áreas de várzea. Com o passar do tempo essa “várzea construída sem planejamento” passou

MAtérIA SABESP

análise da eficiência da várzea do ribeirão parelheiros na melhoria de qualidade das águas que afluem à represa do guarapiranga - são pauloPor ALMIr APArEcIdo dE SoUzA ANdrAdE

Almir Aparecido é Químico,

Especialista em Engenharia de

Saneamento Básico pela FSP

– USP, Mestre em Ciências

da Engenharia Ambiental pela EESC – USP. Na

Sabesp, é químico da Divisão

de Gestão e Desenvolvimento

Operacional de Recursos Hídricos Metropolitanos -

MARG

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MAtérIA SABESP

a adquirir características naturais através da fixação e desenvolvimento de vegetação primária típica destes sistemas ecológicos, porém com retrocesso causado a sua formação pela antropização intensa em sua peri-feria.

2. áreas alagadasAs áreas alagadas ou várzeas, comumente tratadas usando-se o termo do idioma inglês “Wetland”, podem ser naturais, induzidas ou construídas. As Wetlands naturais têm importantes funções dentro dos ecossis-temas onde estão inseridos, entre as quais se desta-cam: a capacidade de regularização dos fluxos de água, amortecendo os picos de enchentes; a capacidade de modificar e controlar a qualidade das águas; sua im-portância na função de reprodução e alimentação da fauna aquática, incluindo os peixes; a proteção à bio-diversidade como área de refúgio da fauna terrestre e controle da erosão, evitando o assoreamento dos rios (Salati, 2000).

A principais propriedades que tornam estas áreas importantes para o controle de poluentes e contami-nantes em corpos d’água são: alta produtividade de ve-getação; grande capacidade de absorção dos sedimen-tos; altas taxas de oxidação pela microflora associada à biomassa das plantas e grande capacidade de reter nutrientes, poluentes e contaminantes (Salati, 2000).

Os processos físicos, químicos e biológicos, isto é, o ciclo biogeoquímico, que ocorrem nesses ecossistemas e que são responsáveis pela alteração da qualidade das águas, varia grandemente de acordo com o regime hidrológico, geologia, fatores climáticos e bióticos. As Wetlands construídas diferem das naturais por propor-cionarem o controle do regime hidrológico e ainda pela possibilidade de composição do substrato utilizado, uma vez que pode este ser projetado para otimização do sistema (Salati, 2000).

SALATI (2000) diz que as Wetlands construídas tem despertado interesse mundial devido em parte ao mo-vimento preservacionista de Wetlands naturais, tendo em vista que o seu uso indevido provocou profundas alterações descaracterizando estas áreas.

A utilização de Wetlands construídas como siste-mas de tratamento de águas residuais têm se inten-sificado nestas últimas décadas. Estes sistemas têm sido matéria de muitas discussões, as quais apresen-tam um ponto positivo: o desenvolvimento de pes-

quisas e experimentos conduzindo para um maior conhecimento e experiências nessa linha de pesquisa (HARBEL, 1997).

Segundo SALATI (2000) a remoção de nutrientes e contaminantes provenientes de efluentes domésticos e industriais são relatados em estudos e experiências de utilização de Wetlands naturais e construídas, porém os resultados são muito variáveis. Observa-se que essa variação é decorrente da especiação química presente nos efluentes assim como a carga dos mesmos asso-ciados à Wetlands.

No caso particular da transposição de água entre Represas que pode ser feito através de instalações hi-dráulicas para este fim ou por rios de interligação, é desejável que antes da afluência a Represa de recep-ção, as várzeas proporcionem papel significativo quan-to ao abatimento de carga de nutrientes e a minimiza-ção da ocorrência de florações de algas, notoriamente cianofíceas, assim como de substâncias, provenientes de seu metabolismo, tendo assim papel importante e estratégico na melhoria da água a ser captada para abastecimento público (Andrade, 2005).

Floração é a denominação do crescimento ace-lerado de organismos fitoplanctônicos, que podem trazer graves problemas econômicos e causar danos extremos à vida aquática em geral. Ocorrem mais co-mumente em lagos e represas cuja movimentação das águas é pequena, caracterizando-se como ambientes lenticos (Andrade, 2005).

Conforme Andrade (2000), dentre os aspectos es-téticos a serem considerados quando do fornecimento de água potável para fins de abastecimento público, não apenas os parâmetros de cor e turbidez devem ser considerados quando da concepção e operação de es-tações de tratamento de água (ETA), mas, também, a possibilidade da água bruta vir a apresentar problemas de odor e gosto, metais, substâncias precursores de or-ganoclorados, etc, dependendo do manancial utilizado.

Em recentes pesquisas efetuadas pela American Water Works Association (AWWA) mostrou-se que o primeiro critério utilizado pela população na aceitação da água distribuída à mesma era a capacidade desta apresentar ou não odor e gosto. Esta mesma pesquisa mostrou que a maioria dos consumidores norte-ame-ricanos que compram água mineral o faz pelo fato da água de abastecimento apresentar odor e gosto (AWWA, (1987) apud Andrade (2000)).

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É sabido que inúmeros microorganismos, notada-mente certas algas, especialmente as cianofíceas (algas azuis), bem como os actinomicetos são responsáveis pela produção de certos compostos orgânicos, resul-tantes do seu metabolismo, que, sob certas condições ainda não totalmente conhecidas, são liberados para a fase líquida. Além do aspecto estético deve ser res-saltado que as cianofíceas possuem enorme potencial para a produção de toxinas que despertam relevante preocupação sanitária. Todas estas substâncias prove-nientes do metabolismo algal são, indubitavelmente, muito difíceis de serem removidas (Andrade, 2000).

Para que os problemas provenientes das substân-cias originárias a partir de fontes biogênicas em águas de abastecimento possam ser solucionados ou, pelo menos, minimizados, é fundamental que os mesmos sejam estudados de modo a permitir que as suas cau-sas possam ser identificadas e, consequentemente, hajam condições de serem definidas as melhores alter-nativas técnicas para a sua solução.

3. descriçao da área de esTudoA Ribeirão Parelheiros aflui para a represa do Guarapi-ranga formando a Várzea (Figura 1) que leva seu nome, ocupando aproximadamente 93 hectares e tendo ain-da como contribuinte significativo o Córrego Itaim, ambos (Ribeirão e Córrego) com considerável degra-dação hídrica, decorrente de grande aporte de esgotos domésticos.

Figura 1 - Várzea do ribeirão Parelheiros. Verificando-se, ao fundo, a represa do Guarapiranga (Fonte: acervo do autor, 2000).

O regime hidrodinâmico desta Várzea deve ter so-frido severas alterações a partir da sua utilização a par-tir de agosto de 2000 como área receptora da transpo-sição de águas da Represa Billings (Figura 2), operação esta que contribui com uma vazão exógena de em média 4,0 m³/s de água com grande comprometimen-to hidrobiológico, uma vez que a Represa de origem tem alto grau de eutrofização e constantes florações de cianobactérias.

Figura 2 - Vista do canal de recepção de água da Billings (Fonte: acervo do autor, 2003).

O canal de recepção da água transposta localiza--se paralelo a afluência do Córrego Itaim e a aproxi-madamente 2000 metros a montante do reservatório. Podem ser facilmente observados pontos de grande alteração antrópica que envolvem desde atividades já extintas de mineração, movimentação de terra para fins agrícolas, de lazer (futebol de várzea), invasões imobiliares clandestinas.

A vegetação predominante na vázea é composta por Panicum Rivulare (capim-santa-fé) e Typha Angus-tifolia (taboa), com cobertura estimada em torno de 50% e 20% respectivamente.

4. análise dos resulTados“A várzea mostrou relativamente eficiente no tocante à melhoria de algumas variáveis (DQO, cor, turbidez, algas cianofíceas e microcistina), apresentando redu-ção dos valores de saída em comparação aos valores de entrada.

Os resultados de fósforo total, nitrogênio total e coliformes, nos permitem afirmar que houve contri-buição significativa de fontes difusas na várzea, nos períodos seco e chuvoso, uma vez que as concentra-ções dessas variáveis sofreram incrementos desde a entrada até a saída da várzea.

Os aumentos das concentrações de fósforo total e nitrogênio total durante os períodos estudados devem ser parcialmente originados a partir da deficiência de afastamento de efluentes sanitários oriundos de ocu-pações irregulares na região. Porém os incrementos

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destas concentrações durante o período chuvoso po-dem ser decorrentes da carga difusa proveniente das chuvas que neste período lavam os campos utilizados para a agricultura, o que não ocorre no período seco, pois este é marcado por baixa pluviosidade.

Quanto à variável coliformes totais, o incremento durante o período chuvoso pode também ser atribuído a carga difusa oriunda das chuvas.

Já em relação à variável coliformes fecais foram verificadas na saída da várzea concentrações supe-riores no período seco em relação ao chuvoso, o que reforça a tese de deficiência do sistema de coleta e afastamento de efluentes sanitários, uma vez que os períodos de estiagem exercem menor influência quanto ao potencial de diluição da concentração de compostos poluentes e contaminantes, ou seja, provavelmente a contribuição à várzea de colifor-mes fecais seja regular ao longo dos períodos seco e chuvoso, porém a ação das chuvas e as consequentes cheias dos corpos d’água exercem um papel significa-tivo como diluentes deste variável.

Tipicamente o pH passa de 8,0 para 7,0 entre a entrada e a saída da várzea. A diminuição de aproxi-

madamente 1 log da variável pH nos períodos seco e chuvoso pode ser consequência da possível formação de ácido carbônico, originado pela combinação de gás carbônico (proveniente da degradação de matéria orgânica, tipicamente abundante em áreas alagadas) com água.

A cor aparente da água analisada não demonstrou durante ambos os períodos (seco e chuvoso) nenhuma alteração significativa.

A remoção de turbidez que ocorreu em todos os períodos estudados pode ser explicada pela capacidade destes sistemas quanto ao amortecimento das águas de afluência que elevam as taxas de sedimentação de partículas em suspensão. Ainda há a possibilidade da retenção de partículas por aderência ao sistema radi-cular de macrófitas.

Durante o período chuvoso foi verificada uma re-moção superior a do período seco. Possivelmente a ve-locidade de escoamento em áreas alagadas durante o período chuvoso é maior que a do período seco, o que levaria a taxas de sedimentação menores. Porém a di-nâmica de crescimento das plantas no período chuvo-so deve atingir seu auge por corresponder às estações

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da primavera e verão, o que reforça a tese de retenção de partículas por aderência ao sistema radicular das plantas da várzea.

A redução de DQO promovida pela várzea deve ser decorrente da grande capacidade biótica das áreas ala-gadas em degradar matéria orgânica, seja pela ação de microorganismos, seja por adsorção radicular.

Pôde-se verificar reduções significativas das con-centrações de células de algas cianofíceas em ambos os períodos, a diminuição dessas concentrações deve estar associada a alguns fatores típicos das áreas ala-gadas tais como o sombreamento proporcionado pela vegetação da várzea, uma vez que a intensidade lumi-nosa interfere diretamente sobre a atividade dos orga-nismos, especialmente sobre a reprodução, alterando a densidade destes organismos na água.

Ainda outro fator é citado por Cooper et al. (1996) apud Elias (2003) onde referencia que a chave dos pro-cessos de redução de microorganismos e substâncias adsorvidas pelo sistema radicular se dá pela morte na-tural, oxidação química, fotólise, predação e exposição a antibióticos secretados pelas raízes.

Fatores hidrodinâmicos como os movimentos in-ternos e taxa de renovação da água, também são im-portantes, pois podem influenciar aspectos como a transparência d’água ou provocar turbulências típicas de sistemas lóticos.

A redução de microcistina verificada na várzea, também pode ser referida aos mesmos mecanismos da redução das densidades das algas. Andrade (2005).

5. conclusõesO aprofundamento dos estudos de desempenho da várzea depende da implantação de uma rede de mo-nitoramento qualitativo e quantitativo de contribui-ções difusas que proporcionará a realização de balan-ços de massa.

Para que os problemas provenientes das substân-cias originárias a partir de fontes biogênicas em águas de abastecimento possam ser solucionados ou, pelo menos, minimizados, é fundamental que os mesmos sejam estudados de modo a permitir que as suas cau-sas possam ser identificadas e, consequentemente, hajam condições de serem definidas as melhores alter-nativas técnicas para a sua solução.

A implantação de rede coletora de esgotos sani-tários nas áreas não atendidas por este serviço deve

contribuir significativamente quanto ao aumento de desempenho da várzea.

A coibição do aumento de ocupações irregulares na bacia do ribeirão Parelheiros deve ser um fator de pri-meira ordem de preocupação das instituições compe-tentes a fiscalização de uso e ocupação do solo. Andra-de (2005).

6. bibliografiaAndrade, A.S.A. Análise da eficiência da várzea do ri-beirão parelheiros na melhoria de qualidade das águas que afluem à represa do Guarapiranga, São Paulo. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2005.Andrade, A.S.A., Filho. S.F.S., Fernandes, A.N., Kairala, A.M., Aplicação de Carvão Ativado em Pó (CAP) na Re-moção de Gosto e Odor em Águas de Abastecimento. IX Simpósio Luso Brasileiro de Engenharia Sanitária. Porto Seguro, Bahia, 2000.Chorus, I. & Bartram, J. (Editors). Toxic cyanobacteria in water: a guide to their public health consequen-ces, monitoring and management. E. Who. & F. Spom, 1999. 416 p.Harbel, R., Perther, R., Laber, J. Wetland Systems for Water Pollution Control. Wat Sci. Techn. 35 Proceeding of the IAWQ. 5 rd International Conference on the Use of C W in Water Pollution Control (1996) (ed. COOPER, P. – 1997) – Vienna, Austria.Manfrinato, E. S. “Avaliação do Método Edafo-fito-pedológico para o Tratamento Preliminar de Águas”. Piracicaba-SP, 98 p. Dissertação (Mestrado). Escola Su-perior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Universidade de São Paulo. 1989.Salati, E. Estudo de Wetlands (Áreas Alagadas) Naturais e Construídas para Proteção e Recuperação dos Recur-sos Hídricos. São Carlos, SP. 2000. 46 p.Tundisi, J. G. Limnologia e Gerenciamento Integrado de Recursos Hídricos. Ciência & Ambiente v. 21, p. 10-20, 2000.

MAtérIA SABESP

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INdIcAção LItErárIA

Ao tematizarmos a edição nº 40 da Saneas, o estudo da Limnologia, a referência literária obrigatória é o Livro “Limnologia”, de autoria do grande mestre José Galizia Tundisi e da estudiosa pesquisadora, e também sua es-posa, Takako Matsumura Tundisi. Trata-se de uma obra que contempla uma grande lacuna de livros-texto e livros de difusão sobre esta ciência em língua portu-guesa. Representa também um marco na Limnologia tropical, por inserir resultados das pesquisas realizadas nos neotrópicos, tão pouco contempladas em obras similares, escritas e publicadas por autores de outros continentes.

José Galizia Tundisi é um dos grandes nomes brasi-leiros da biologia e da ecologia, com projeção interna-cional. Já trouxe o seu vasto conhecimento à AESabesp, como palestrante da abertura do Encontro Técnico e Fenasan de 2004, reverenciado com grande admiração e respeito pelos profissionais da Companhia.

Nascido em Bariri, em 2 de maio de 1938, é um Bacharel em História Natural, pela Universidade de São Paulo (1962), mestre em Oceanografia, pela Uni-versidade de Southampton (1966), Doutor em Ciências (1969), pela USP e Livre Docente em Ecologia (1977), pela mesma universidade. Professor da Escola de Enge-nharia de São Carlos (1986) e professor titular da USP (1988), fundou o Instituto Internacional de Ecologia, em São Carlos, no estado de São Paulo. Presidiu o CNPq de 1995 a 1998. Entre março de 1999 e dezembro de 2000, foi responsável pela criação da Secretaria Muni-cipal de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Eco-nômico do município de São Carlos. Foi membro do Comitê Científico do International Lake Environment Committe (1986-1994), do Comitê da SCOPE, Wetlan-ds (1981 -1986) e assessor da UNU, Universidade das Nações Unidas, presidiu os XXVI e XXVII Congressos da Sociedade Internacional de Limnologia (1994 e 1995). Também foi vice-presidente da IUBS (International Union of Biological Sciences) no período 1999-2003 e vice-presidente do ICSU (International Council of Science) para o período de 1999-2003. Foi também vice-presidente do International Lake Environment

Committee (ILEC), sediado no Japão. É membro da Academia Brasileira de Ciências; da Academia de Ci-ências do 3º Mundo; da Academia Mundial de Artes e Ciências; do Ecology Institute Excellence in Ecology – Alemanha.

Suas pesquisas mais consultadas são dirigidas aos temas:

■ Produção primária do fitoplâncton em rios, reser-vatórios, lagos naturais e estuários.

■ Ciclos biogeoquímicos em ecossistemas aquáticos. ■ Interações sistema terrestre/sistema aquático. ■ Recuperação de represas. ■ Planejamento regional baseado em recursos hídri-

cos. ■ Integração de princípios ecológicos básicos no pla-

nejamento regional.

uma reverência ao mesTre josé galizia Tundisi

Capa do Livro “Limnologia”

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AESABESP - ProJEtoS SocIoAMBIENtAIS

A partir desta edição da revista Saneas, a Diretoria de Projetos Socioambientais da Aesabesp divulgará, em detalhes, seus projetos em carteira. Esta iniciativa tem o intuito de levar ao conhecimento dos associados, parceiros e potenciais patrocinadores os projetos socioambientais em desenvolvimento. Situação que foi possível após a conquista da qualificação da AESabesp como OSCIP, obtida em 2008.Para esta edição, escolhemos o projeto “Sistema Biológico de Redução do Volume da Manta de Lodo”, de autoria do nosso associado João Camargo Botelho, que é destinado a lagoas de tratamento de esgotos domésticos e industriais.Maiores detalhes sobre a aplicabilidade do projeto poderão ser obtidos pelo email [email protected]

conheça nossa carTeira de projeTos

O sistema biológico de redução de lodo, ou seja, a uti-lização de microorganismos vivos para a redução da matéria orgânica contida no lodo é amplamente utili-zada em sistemas de tratamento de esgotos.

Trata-se de uma tecnologia associada a um produ-to que apresenta maior eficiência e baixo custo do que os semelhantes oferecidos no mercado, desenvolvido pelo Gestor Ambiental João Camargo Botelho, nosso associado, que é o detentor da patente, sendo o proje-to relativamente simples, seguro e econômico.

O produto utilizado é composto por uma mistura balanceada de enzimas e microorganismos de ocor-rências naturais, oriundos do solo não patogênicos, dispersos em carga orgânica associado a um estabi-lizante/conservante. Estes tipos de microorganismos são capazes de produzir concentrações de enzimas que degradam a matéria orgânica contida nos siste-mas de tratamento (fossas sépticas, caixas de gordura, esgotos e estações de tratamento de efluentes orgâ-nicos). As enzimas contidas catalisam a digestão, me-lhorando a atividade metabólica dos microorganismos.

O produto não é tóxico nem corrosivo, sendo abso-lutamente seguro o seu uso, não oferecendo qualquer risco às pessoas, animais ou meio ambiente, tendo como substrato final sais minerais e água.

A metodologia para implantação do Sistema Bioló-gico de Redução do Volume da Manta de Lodo consis-te basicamente em duas etapas prévias:

1ª etapa: Análise preliminar do aspecto e das con-dições físicas das lagoas da E.T.E.

2ª etapa: Com base nos dados obtidos na 1ª etapa, é determinada a formulação, a dosagem e o(s) ponto(s)

de aplicação do produto, coleta de amostras para aná-lise e prazo de conclusão.

É aplicado o produto diluído no próprio efluente no ponto determinado pelo técnico responsável, podendo a formulação e a dosagem serem alteradas durante o período de aplicação, dependendo do resultado das análises feitas, visando à manutenção dos demais pa-râmetros de qualidade da água.

Na fase inicial do projeto, os funcionários da E.T.E. serão capacitados para as atividades necessárias, por meio de palestra ministrada pelo coordenador do pro-jeto e simulação de campo. Eles serão monitorados durante todo o período de aplicação do produto, re-cebendo orientações e informações sobre as análises parciais realizadas.

O projeto será apresentado por meio de relatório técnico e fotográfico, contendo a documentação dos resultados parciais; o parecer técnico das visitas e os resultados finais, que contém uma breve descrição das atividades desenvolvidas, dos problemas encontrados e dos resultados alcançados.

Todas as análises laboratoriais, relatórios fotográ-ficos e outros documentos considerados importantes para a compreensão do projeto serão anexados ao relatório.

equipe Técnicaexecução: Responsável técnico e coordenador do projeto: João Camargo Botelho

parceria: AESabesp

projeTo “sisTema biolÓgico de redução do volume da manTa de lodo”

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A diretoria de Projetos Socioambientais da AESabesp, teve uma expressiva participação na 9ª Edição da Fe-brace 2011 - Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, realizada entre os dias 22 a 24 de março, na Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo).

Na condição de “Parceiro Apoiador” do evento, a entidade foi divulgada em seus Anais e teve uma am-pla divulgação via internet, inclusive com a logo da AESabesp disponibilizada no site do evento. A equipe da diretoria de Projetos Socioambientais foi ainda con-vidada a participar da Cerimônia de Premiação, que aconteceu em 25 de março.

Para os trabalhos premiados, foi entregue a mochi-la do Encontro Técnico, um Voucher de participação na Fenasan 2011, que dará direito à apresentação do trabalho no stand da Diretoria de Projetos Socioam-bientais, com certificado de participação e alimenta-ção custeada.

Na escolha dos projetos premiados a AESabesp so-licitou alguns critérios a serem cumpridos:

1º prêmio AESabesp: o trabalho deveria se enqua-drar na categoria de Saneamento Básico, com perti-nência voltada aos setores de água, esgoto, drenagem ou lixo urbano. Os alunos que receberam o prêmio fo-ram Lucas L. Jansen, Bianca G. Tavares e Mª Esther de V. Marinho, tendo como orientadora Daniela N. F. Gomes do Colégio Damas da Instrução Cristã - Recife – PE, com o trabalho: “Água do mar: uma solução para a escassez da água potável do mundo”. Convidado para ser apresentado no 1º dia da Fenasan: 01/08.

O presente trabalho teve como objetivo utilizar a água do mar, dita inútil para o consumo humano, através de uma breve pesquisa, foi construído um des-tilador caseiro, em que os sais são retirados, a água fica útil para o consumo humano. A água destilada foi le-vada para analises físico-química e bacteriológica, essa comprovaram que a água destilada pode ser consu-mida pelo ser humano, sem nenhum dano patológico, segundo a Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde. O trabalho visa provar a possível mudança das expec-tativas para o futuro em relação á escassez de água.

Destacamos ainda que com este mesmo trabalho, foi contemplado com o Prêmio Marinha do Brasil - 3º Lugar em Mentalidade Marítima (Centro de Coordena-ção de Estudos da Marinha em São Paulo).

2º prêmio AE-Sabesp: o trabalho deveria se enquadrar na categoria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, 3º Setor ou Sustentabilidade. Os alunos que recebe-ram o prêmio foram Caio Felipe Hoffmann e Davi G. B. Grillo, tendo como orientador José H. Bernardino Araújo da Universidade Tecnológica Federal – Campo Mourão – PR, com o trabalho “Fitoextração de metais pesados utilizando jatropha curcas L”. Convidado para ser apre-sentado no 2º dia da Fenasan: 02/08.

O presente trabalho teve como objetivo apresentar algumas plantas que tem a capacidade de acumular em seus tecidos os contaminantes extraídos do solo, da água ou do ar, sem, no entanto, degradá-los. Esse processo de remediação é chamado de fitoextração. Nela, as espécies são plantadas e posteriormente po-dem ser colhidas, com intuito de deixar o local livre das substâncias tóxicas.

Este trabalho proporcionou um estudo para viabi-lizar o tratamento de solos contaminados por diversos metais pesados, como o chumbo, o cromo e o níquel, cuja intoxicação nos seres humanos pode reduzir a qualidade de vida e levar a morte. No ambiente, quan-do introduzido na matriz do solo, esses metais são de difícil remoção, por isso, nesse projeto, foi utilizado semente de pinhão manso (Jatropha curcas L) culti-vados em solos com diferentes concentrações dos me-tais durante um período de dois meses. Os resultados mostraram que em todos os testes ocorreram absorção dos metais, isso comprovou o uso dessa planta na fi-torremediação dos solos contaminados, promovendo um melhor controle com menos dispêndio de energia e custos operacionais no tratamento de resíduos con-taminantes dos solos”. 3º Lugar em Ciências Agrárias.

Foi encaminhado um e-mail de parabenização para os alunos, orientadores e escolas, solicitando a confirmação de participação na Fenasan 2011, e até o momento foi confirmada a participação dos alunos da Universidade do Paraná.

AESABESPProJEtoS SocIoAMBIENtAIS

parTicipação da aesabesp na febrace 2011

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48 SaneaS JANEIro / FEVErEIro / MArço | 2011

A Viapol, empresa expositora/ investidora da Fenasan 2011, destaca o atendimento ao projeto de imper-meabilização do Sistema Pirapama de Abastecimento de Água (PE), considerado, segundo a empresa, “ uma das maiores obras de abastecimento de água do Brasil, com previsão de conclusão ainda em maio de 2011”.

A empresa foi fornecedora exclusiva dos produtos utilizados para o sistema de impermeabilização des-te projeto, que representa um marco, pois se trata do maior fornecimento de argamassa polimérica para uma única obra, abastecida, em grande parte, direta-mente pela Viapol Nordeste - unidade fabril instalada em Lauro de Freitas, na Bahia, no início de 2010. A área de impermeabilização totaliza 202.250 m² de es-truturas do sistema de abastecimento de água, onde estão sendo aplicados 405.000 Kg de Viaplus 1000 e

Deixando de lado os meios convencionais de transpor-te, a B&F Dias, fabricante de equipamentos e sistemas para tratamento de efluentes e ganhadora do Troféu Sustentabilidade na Fenasan 2010 e expositora/inves-tidora da Fenasan 2011, inovou o método de trans-porte para visitar as estações de tratamento com seus equipamentos instalados próximos a sua sede. Agora

708.000 Kg de Viaplus 5000, estruturados com tela Mantex (tela de poliéster especialmente desenvolvida para proporcionar um reforço na membrana de imper-meabilização).

b&f dias aposTa no relacionamenTo 4 x 4

Acontece no setorviapol aTende o sisTema pirapama de abasTecimenTo de água (pe)

os clientes vão da B&F Dias até as respectivas estações dirigindo quadriciclos 4 x 4. A idéia surgiu através de uma “brincadeira”, pois pilotar quadriciclo é um ho-bby de alguns diretores da empresa que em algumas conversas descontraídas abordavam seus veículos de aventura e acabavam dando uma voltinha ao redor da companhia. Foi onde surgiu à idéia, criada por Bruno Dinamarco – Gerente de Contratos da B&F Dias.

Localizada em uma área estratégica em Vinhedo, a sede da empresa está próxima a estradas de terra que permitem chegar a sete estações de tratamento com equipamentos fornecidos pela empresa, o que possibi-litou a implantação desta inovação. As visitas podem ser feitas com 3 quadriciclos que acomodam até 6 pessoas. Os trajetos duram cerca de trinta minutos e podem ser feitos com pouca ou muita aventura, mas claro, operados com total segurança e com o uso de capacetes e equipamentos de proteção. A real intenção da empresa foi proporcionar a seus clientes momentos agradáveis para fugir por alguns minutos da rotina do dia a dia de atribuições e responsabilidades, possibili-tando a integração de trabalho com o lazer.

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Acontece no setormizumo celebra seus 10 anos

Os 10 anos de história da Mizumo, exposito-ra/investidora da Fe-nasan 2011, comple-tados no mês de maio, é a prova do empreen-dedorismo e da busca bem sucedida do Gru-po Jacto - reconheci-do mundialmente pela

sua solidez. Quando optou pelo projeto de produzir sistemas compactos de tratamento de esgoto sanitário feitos de plástico reforçado com fibra de vidro (PRFV), a empresa já possuía em sua estrutura organizacional o know-how para processar esse compósito - que garante alta resistência a ambientes corrosivos. A tecnologia das ETEs da Mizumo é de origem japonesa, porém seus sistemas foram nacionalizados pelos engenheiros da em-presa, seguindo as normas técnicas brasileiras.

“A Mizumo registrou em 2010 um crescimento 40% su-perior ao alcançado em 2009. Neste ano, impulsionada pelos investimentos que estão previstos e por exigências mais rigo-rosas em questões ligadas ao meio ambiente, o faturamento da empresa deve crescer 20%”, declara Giovani de Toledo, gestor da unidade de negócios Mizumo . “Atuamos de forma trans-parente, proporcionando tranquilidade técnica e ambiental e a confiabilidade de eficiência em conformidade com as leis. Acre-ditamos na melhoria contínua e no trabalho sério como forma de alcançar a prosperidade e, com isso, conquistamos o respeito e a credibilidade da marca no mercado nacional. Por conta do know-how adquirido nesses 10 anos de atividades, certamente novos horizontes serão explorados”, conclui o dirigente.

AcoNtEcE No SEtor

De 04 a 08 de setembro de 2011, a Associação Brasileira de Limno-logia organizará o seu XIII “Congresso Brasileiro de Limnologia em Natal, Rio Grande do Norte”, a ser realizado pela UFRN – Universi-dade Federal do Rio Grande do Norte. Cientistas e gestores de todo o país e do exterior estarão nos simpósios do evento, cujos temas discutidos serão voltados às mudanças globais (Biogeoquímica e Biodiversidade), lagos rasos, reservatórios, setores elétricos, entre outros. Maiores informações estão disponibilizadas no site www.cblnatal2011.com.br

congresso brasileiro de limnologia em naTal - rn

consTruTora elevação desTaca obra da sabesp

Somente para a SABESP, a Construtora Eleva-ção detém uma das maiores carteiras de obras em execução, entre as quais se destaca o Sis-tema de Esgotos Sanitários de Taubaté / Tre-membé.

A obra, cujo projeto foi premiado pela Agência Nacional de Águas como a de “Melhor Projeto de Sistema de Tratamento de Esgotos do Brasil”, é constituída por uma estação de tratamento de esgotos, coletores tronco, linhas de recalque e estações elevatórias.”

Outros destaques são: Sistema de Coleta de Esgotos Sanitários de Peruíbe, compreendendo 300 km de tubulações; Sistemas de Esgotos Sa-nitários de Caraguatatuba; Ampliação do Sis-tema de Abastecimento do Guarujá, além do atendimento da Manutenção e do Crescimento Vegetativo de Redes/ Ligações nos Sistemas de Água e Coleta de Esgotos nas Áreas da Unidade de Negócio Norte da Região Metropolitana.

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FENASAN 2011 / xxII ENcoNtro técNIco AESABESP

o maior evenTo do seTor de saneamenTo ambienTal da alcredenciamenTo e inscrição já esTão aberTos Realizada há 22 anos pela Associação dos Engenheiros da Sabesp, a Fenasan (Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente), juntamente com o Encontro Técni-co AESabesp, que ocorre no mesmo espaço em caráter simultâneo, é considerada atualmente como o maior evento da América Latina no setor.

Serão 194 expositores / investidores, empresas na-cionais e internacionais, fabricantes e prestadoras de serviços para o setor, envolvidas com o saneamento ambiental e também com segmentos diversificados, como indústrias do setor químico e da construção civil. A grande demanda de empresas justifica-se pelo sane-

amento contar atualmente com uma grande perspec-tiva de investimento, inclusive com recursos do PAC, no cenário econômico-financeiro nacional.

A Fenasan 2011 será realizada nos dias 01, 02 e 03 de agosto, no Pavilhão Branco do Expocenter Norte, em São Paulo, que está com sua capacidade comple-tamente lotada para essa Feira, desde o início do ano.

No site www.fenasan.com.br os interessados já po-dem fazer o seu credenciamento para visita à Feira e também a inscrição no Congresso. A visitação à Feira é gratuita. Já a participação no Congresso conta com as seguintes taxas:

até 30 de junho após 30 de junho

Autor de trabalho, associado da AESabesp R$ 140,00 R$ 155,00

Autor de trabalho, não associado da AESabesp R$ 165,00 R$ 185,00

Associado da AESabesp não Autor de trabalho R$ 165,00 R$ 185,00

Congressista R$ 565,00 R$ 630,00

Estudante R$ 100,00 R$ 130,00 Após 15/07/2011, as inscrições somente poderão ser feitas no local do evento.

■ Desenvolvimento tecnológico e inovação ■ Eficiência energética ■ Gestão empresarial e empreendimentos ■ Legislação e regulação ■ Manutenção eletromecânica ■ Meio ambiente ■ Mudanças climáticas ■ Produtos, materiais e serviços ■ Recursos hídricos ■ Redução de perdas ■ Resíduos sólidos e reciclagem ■ Saúde pública ■ Sistemas de abastecimento de água / Tratamento

de águas superficiais e subterrâneas ■ Sistemas de coleta de esgoto/Tratamento de

esgotos e efluentes ■ Softwares e automação

Além dos trabalhos técnicos, também serão realizadas doze mesas redondas, dentro do Congresso, que serão abertas ao público.

O tema central do Congresso é “saneamento ambiental - a qualidade de vida no planeta” e os trabalhos estão voltados ao seguinte temário:

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denTro desTas caracTerísTicas, desTacamos as seguinTes presenças 100% inTernacionais em 2011:

BäNNINgEr KUNStStoFF ProdUKtE g.M.B.H. (ALEMANHA)Empresa sediada em Alemanha, que, entre seus produtos a serem apresentados na Fenasan, destacará a sua linha voltada à conexões especiais para instalação em sistemas sanitários. Maiores informações estão disponibilizadas no seu site: www.baenninger.de. O contato responsável pela vinda da Empresa à Fenasan é a sra. Olga Ehberger - [email protected].

dogUS VANA VE doKUM Ltd. StI. - dVd VALVES (tUrQUIA)Empresa sediada na Turquia, que em sua apresentação demonstra uma grande preocupação com a escassez de água no Planeta e trará para a Fenasan sua linha de válvulas e filtros. Maiores informações estão disponibilizadas no seu site: www.dogusvana.com.tr. O contato responsável pela vinda da Empresa à Fenasan é a sra. Asli Haciraifoglu - [email protected].

MIrAB co. (Irã)Empresa sediada no Irã, fabricante de válvulas industriais e acessórios, com alta tecnologia desenvolvida para sistemas de distribuição de água. Maiores informações estão disponibilizadas no seu site: www.mirab-valves.com. O contato responsável pela vinda da Empresa à Fenasan é o sr. Rolf Wildi - [email protected].

HcP PUMP MANUFActUrEr co., INc. (tAIwAN) Empresa sediada em Taiwan (República da China), que trará a sua linha de bombas, desenvolvidas com tecnologia própria, para apresentar no mercado nacional. Maiores informações estão disponibilizadas no seu site: www.hcppump.com.tw. O contato responsável pela vinda da Empresa à Fenasan é o sr. Jonas Chou - [email protected] .

PoLItEJo (PortUgAL) Esta empresa portuguesa, líder nacional na fabricação de tubos e acessórios, já participou da edição passada da Fenasan e retorna em 2011, devido a boa repercussão alcançada. Maiores informações estão disponibilizadas no seu site: www.politejo.com. O contato responsável pela vinda da Empresa à Fenasan é o sr. André Maia - [email protected]

wAtErLEAU groUP NV (BéLgIcA) A empresa belga, especializada em estações de tratamento de água e esgoto, em sua apresentação, propõe um selo de proteção azul ao Planeta. Maiores informações estão disponibilizadas no seu site: www.waterleau.com. O contato responsável pela vinda da Empresa à Fenasan é o sr. Joris Moors - [email protected].

Além de representantes brasileiros, a feira irá contar com as presenças de vários grupos internacionais, como o Saint-Gobain, entre outros, que escolhem a Fenasan para divulgar a sua linha de produtos e serviços, também é crescente o interesse de empresas sediadas fora do Brasil, mas intencionam entrar para o nosso mercado, por meio da Fenasan.

aumenTo de presenças inTernacionais na fenasan 2011

XXII Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente

conheça Todos os exposiTores da fenasan 2011, em visTa ao siTe www.fenasan.com.br

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01 A 03 DE AGOSTO DE 2011Pavilhão Branco do Expo Center NorteRua José Bernardo Pinto, 333 - São Paulo - SPFeira: 13h às 20hEncontro Técnico - Congresso Nacional de Saneamento e Meio Ambiente: 09h às 18h

SANEAMENTOA QUALIDADE DE

AMBIENTALVIDA NO PLANETA

PARTICIPE DO MAIOR EVENTO DE SANEAMENTOE MEIO AMBIENTE DA AMÉRICA LATINA

Até 30/06

140,00

165,00

165,00

565,00

100,00

Após 30/06

155,00

185,00

185,00

630,00

130,00

Categoria

Autor associado AESabesp

Autor não associado AESabesp

Associado AESabesp não autor

Congressista

Estudante

VALORES DE INSCRIÇÃO DO XXII ENCONTRO TÉCNICO

Após 15/07/2011, as inscrições somente poderão ser feitas no local do evento

Faça sua inscrição para o Encontro Técnico e o credenciamento para a Fenasan:

www.fenasan.com.brInformações

Acqua Consultoria - 11 3868 [email protected]

Promoção Apoio

Organização

Apoio institucional

ANAAGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS