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Artigo para curso livre de Regência.
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O estudo do piano como fator de contribuição primordial
para a formação do Regente
Fernando Vago Santana
1. Introdução
A atividade do Regente é de reconhecida importância para que se possa atingir
uma execução musical convincente, uniforme e inspiradora. Para que a performance
consiga atingir tais objetivos, torna-se necessário que a figura do líder, do condutor,
diretor musical, seja a de um músico de reconhecida competência expressa tanto em sua
capacidade de liderança como em sua habilidade como musicista.
No que tange à formação musical dos Maestros, enfoque metodológico do
presente artigo, sustenta-se que uma boa formação pianística seja de fundamental
relevância para a formação daqueles que se aventuram pelos caminhos do pódio, da
batuta e da casaca.
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2. Atributos do Maestro Competente
Quais são os atributos pelos quais se identifica e distingue um bom regente dos
maus regentes? Quando os indivíduos se assentam em uma sala de concerto e percebem
um indivíduo devidamente paramentado, ou muitas vezes apenas casualmente vestido,
de costas para a audiência, com os braços e o corpo em movimento, ditando a um grupo
de músicos quais devam ser os comportamentos a adotar na execução de uma
determinada obra musical, o que será que esperam esses ouvintes? Quanto de sua
atenção está de fato focada nos movimentos do regente e quanto dessa atenção está de
fato direcionada à sonoridade extraída pelos músicos dos seus instrumentos ou vozes?
Quando se quer estabelecer o que venha a ser um regente eficaz, precisamos
levar em consideração o que acontece antes do momento das apresentações públicas, o
que acontece durante o momento da performance e até mesmo as repercussões de uma
performance nos momentos vindouros à apresentação musical.
Um bom regente deve, antes de tudo , ser um bom administrador. Administrador
tanto do ponto de vista político e orçamentário, quanto do ponto de vista da
interpessoalidade e da intrapessoalidade, no trato com os outros indivíduos que a ele se
submetem e no domínio e controle do próprio temperamento, das próprias emoções.
Primeiramente, para haver coro ou orquestra é necessário que alguém financie a
existência de um projeto de tal monta, e é na capacidade de angariar fundos,
investimentos para a instalação e manutenção de um grupo musical que se começa a
identificar atributos de um verdadeiro regente. Este deve ser um líder, capaz de
articulações políticas o suficiente para gerir projetos, iniciá-los, mantê-los, desenvolvê-
los e ampliá-los em sua esfera de atuação.
Precisa ainda ser um bom líder do seu coro ou da sua orquestra, porque, do
contrário, não terá o respeito e submissão dos seus comandados, e assim ficará difícil
exercer sua autoridade sem ter que apelar para recursos tirânicos de autoritarismo.
Precisa , pois , de competências no trato com indivíduos, de exercitar suas habilidades
interperssoais, bem como suas habilidades intrapessoais, para que aprenda a ter domínio
sobre as próprias emoções, e , assim, possa conceber a possibilidade de ter domínio
sobre as emoções de outros musicistas.
A despeito do fato de que um bom regente deva ter qualidades de bom gestor,
não se pode olvidar de que o principal cabedal de competências de que deve dispor o
líder dentre os músicos é uma boa desenvoltura musical, em todas as facetas
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imagináveis desse complexo universo. Dificilmente outros músicos aceitariam ser
controlados, dirigidos, dominados, submetidos por alguém que demonstrasse
insegurança e inabilidade na capacidade de fazer música, em muitas ocasiões sendo até
mesmo inferior àqueles que deveriam ser seus subordinados, seus soldados de batalha.
É por isso que se considera primordial na formação do regente a aquisição de
uma gama de habilidades musicais complementares que servem como mecanismo de
legitimação do líder frente a seus pares, conferindo autoridade para que se suba ao
pódio com honradez e se dirija a música com qualidade e respeito do grupo comandado
pela gestualística do Maestro.
Passa-se pois a discutir algumas das habilidades musicais indispensáveis para a
formação de um bom regente, e em seguida demonstrar-se-á que o estudo acurado da
arte do piano pode consistir na maneira mais eficiente de se adquirir todas as
habilidades necessárias para o sucesso na regência musical.
As habilidades em questão são: Solfejo e audição interna e externa, leitura em
diversas claves simultaneamente, execução simultânea de ritmos complexos,
conhecimentos de estruturação musical, formas e ferramentas composicionais;
conhecimentos de contraponto, conhecimentos de história, estética e estilística musical;
conhecimento de vasta literatura do repertório tradicional; adaptabilidade a diferentes
estilos e contextos musicais.
2.1. Solfejo e audição interna e externa
Imagine-se a seguinte situação: um pequeno conjunto vocal ou instrumental
deve se apresentar em uma ocasião festiva, pequena, sem grande pompa ou importância,
sem necessidade de um estresse prejudicial à saúde humana. Todavia, o grupo musical
necessitará de regência, especialmente porque não foi possível realizar um ensaio sequer
do repertório a ser apresentado, o qual será executado quase que à primeira vista.
Não sendo suficientes os empecilhos acima, considere-se que o regente em
questão terá que fazer a execução com seus músicos sem prévio preparo, e sem ter
podido tocar qualquer instrumento musical com antecedência. Se for coro, a execução
será a capella, e se for conjunto instrumental, o regente só pode estudar mentalmente a
obra.
Como poderia esse regente ter consciência sobre o resultado que espera ouvir do
seu ensemble se antes não tiver silenciosamente observado a partitura e sido capaz de
reproduzir mentalmente ou executar com sua voz tudo o que está impresso em tinta
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preta em um papel branco? Regentes incapazes de solfejar são regentes com deficiência
formativa, porque nem sempre poderão contar com a bênção da presença de um piano
ou instrumento musical substitutivo que lhes permitam entoar os sons de que necessitam
para ensaiar um coro ou corrigir uma orquestra. Solfejo e boa audição interna são
habilidades indispensáveis para o regente.
Principalmente para aqueles que se aventurarem pela execução de obras
polifônicas, ou apenas com seções em fugato, não se pode desprezar a necessidade de
ter um ouvido preciso que permita identificar cada parte em sua singularidade,
acompanhar qualquer uma delas e executar vocalmente a qualquer momento uma das
vozes se assim o ensaio ou apresentação demandarem. Bom ouvido, externo e
interno, e excelente capacidade de solfejar em qualquer tonalidade (ou na ausência de
tonalidade) são fundamentais para o sucesso nesse empreendimento.
Pianistas são conhecidos por sua capacidade de solfejar bem, quando
comparados com outros tipos de instrumentistas e até mesmo cantores, o que é
surpreendente. O treinamento dos pianistas leva em grande consideração a capacidade
de solfejar bem, de ouvir mais de um fenômeno musical ocorrendo simultaneamente e
até mesmo de desenvolver ouvido absoluto. Espera-se de um pianista que seja capaz de
ter fluência na capacidade de decodificar uma partitura e de entoar cada uma das notas
impressas quase que instantaneamente e sem depender de qualquer recurso externo,
como um instrumento musical.
Essa primeira habilidade dos pianistas serve como argumento inicial para
incentivar os regentes a estudarem piano, uma vez que a melhor educação pianística
pode potencializar as capacidades de ouvir interna e externamente e de solfejar dos
Maestros. Não é por acaso que muitos regentes são e foram pianistas.
2.2. Leitura em diversas claves simultaneamente
Em termos de leitura musical, poucas coisas são tão complexas quanto a grade
completa instrumental e/ou vocal que o regente precisa ler em sua partitura para dar
direcionamento a quem estiver sob sua regência.
O regente precisa ser capaz de identificar quase que simultaneamente a base
harmônica produzia pela sua orquestra, que é composta essencialmente pelas cordas,
além de identificar a atuação das madeiras, dos metais e dos instrumentos de percussão.
São muitas atividades a serem realizadas em um pequeno interstício temporal, razão
pela qual a leitura simultânea de claves distintas não pode ser um embaraço na vida de
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nenhum regente que se preze.
Tomemos como ponto inicial de análise a própria parte das cordas. A leitura da
parte dos violinos abusa de linhas suplementares superiores, um fator que pode causar
lentidão na leitura de muitos regentes. Esse treinamento é específico e deve ser feito de
maneira que as notas possam ser identificadas com a maior velocidade possível nesse
registro agudo.
As violas, por seu turno, lêem a Clave de Dó na 3ª linha, outro fator que pode
provocar alguma lentidão na leitura dos regentes. Os violoncelos alternam as claves que
lêem e também o registro em que tocam, o que pode dificultar a leitura, e também os
contrabaixos estão em contraposição ao que foi dito acima em relação aos violinos, já
que os contrabaixos executam notas em registro demasiadamente grave.
Além de desenvolver agilidade na leitura dessas partes distintas, o regente
precisa ser capaz de ouvir com clareza o direcionamento das linhas contrapontísticas ou
as harmonias atacadas pelas cordas, e uma vez mais uma boa educação auditiva
proporcionada pelo piano poderia ser de grande ajuda na execução de tal atividade com
presteza.
Vencidas as cordas, o regente precisa ser capaz de ouvir as intervenções dos
naipes de madeiras , metais e percussão, os quais oferecerão dificuldades similares, seja
por tocarem em registros contrastantes, seja por estarem escritos em claves ou
tonalidades diferentes, seja por apresentarem complexidades de qualquer outra natureza.
O fato é que o Maestro sempre precisa de agilidade na sua capacidade de decodificação
da escrita musical e de solidez no entendimento de estruturas complexas executadas
simultaneamente.
Não existe treino melhor para isso do que o estudo consistente do piano, ou do
órgão, embora este seja um pouco mais raro de se ter acesso do que aquele.
Os regentes de coro normalmente lêem partituras que são muito similares
àquelas utilizadas pelos pianistas: uma clave de Sol e uma clave de Fa, com as 4(5 ou 6)
vozes dispostas em blocos de harmonia, similarmente ao que um piano ou órgão
executaria.
O regente acostumado a tocar piano, treinado no instrumento, poderá ser muito
ágil na decodificação e execução das vozes , mas há situações em que sua vida não fica
tão simples assim.
Partituras corais antigas podem optar por uma escrita em que cada naipe leia um
sistema diferente, ou mesmo utilizando uma Clave de Do diferente, tornando mais
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complicada a leitura simultânea. Se é difícil para um pianista ler simultaneamente ler
quatro claves distintas, que dirá para musicistas desacostumados com instrumentos
harmônicos. Uma vez mais se notabiliza a relevância do estudo do piano para a boa
formação de um regente musical.
2.3. Transposição e Acompanhamento (o Maestro camerista)
Apenas instrumentos harmônicos possuem a faculdade de, independentemente,
atuarem com função de acompanhamento, e quase que na totalidade das ocasiões esse
papel é desempenhado pelo instrumento piano.
Mesmo em instituições de ensino superior, quando ofertada a disciplina
Transposição e Acompanhamento, a mesma só se faz para instrumentistas de teclado e
guitarra, os quais podem desempenhar com mestria esse papel de correpetição, ensaio e
acompanhamento propriamente dito.
O regente em essência conduz e acompanha. Nas situações em que rege algum
concerto em que se destaque um solista, em diversas ocasiões sua atuação será quase
que essencialmente acompanhar o solista e garantir a perfeita interação entre este e a
orquestra.
Saber acompanhar portanto é um requisito indispensável para que se possa
exercer com completude as atividades de regente musical. Ninguém acompanha melhor
do que continuístas e do que pianistas, os quais são treinados desde muito cedo a
fazerem musica nessa modalidade, na qual são coadjuvantes, acompanham um solista
que exercita sua individualidade interpretativa.
Acompanhamento é fundamental para o exercício auditivo, para a capacidade de
colocar juntas diversas vozes ou diversos instrumentos musicais. Quem se habitua a
acompanhar se habitua a ouvir o que o outro faz, a com ele interagir não-verbalmente e
a estar sempre e de maneira precisa junto com o instrumentista ou cantor acompanhado.
Essa atividade o regente exercita colocando todo o coro ou orquestra para atacarem
simultaneamente, e tal habilidade pode ser muito melhor explorada caso o regente já
tenha previamente em sua vida se habituado ao ofício de acompanhar.
Mesmo as técnicas de ensaio podem ser consideravelmente aperfeiçoadas e
otimizadas caso o regente seja alguém que teve prévia e consistente experiência como
correpetidor ou camerista, notadamente ao piano.
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Similarmente, habilidades com transposição podem ser necessárias em contextos
os mais diversos. Em uma grade de instrumentos musicais, por exemplo, o regente
precisa ler concomitantemente as partes de metais com afinação em Eb, instrumentos
em C, Clarinetes em Bb, Trompas em F e assim por diante.
Detectar um erro na parte de um instrumento transpositor pode ser um desafio, e
precisa ser feito com precisão e velocidade. Caso necessite interromper o ensaio para
corrigir um trompista ou clarinetista, é preciso que o regente ouça na partitura
imediatamente o som produzido, ainda que escrito em tonalidade diversa, e seja capaz
de solfejar a altura relativa, que será diferente da altura notada na partitura.
Caso esteja regendo um grupo vocal, e , por alguma ocasião, a tonalidade não
esteja adequada para o contexto, é necessário transpor imediatamente para a tonalidade
mais correta, sem desperdício desnecessário de tempo ou mesmo de ensaios inteiros
para corrigir a eventualidade.
Saber acompanhar e saber transpor são duas características importantes para um
regente, e ambas são bem desenvolvidas desde cedo nos pianistas, razão pela qual aqui
se descortina mais um incentivo para que os regentes estudem piano com afinco, e
assim aperfeiçoem suas faculdades como diretores.
2.4. Execução de ritmos complexos simultaneamente
Ao ler uma partitura orquestral, e às vezes mesmo coral, um Maestro pode se
deparar com notações rítmicas demasiadamente complexas, as quais precisam ser
resolvidas com agilidade, em face dos limitados tempos de ensaio.
Não dá tempo de treinar demais, experimentar muitas alternativas, mas se exige
uma solução rápida, correta e convincente que permita o fazer musical ser espontâneo,
fluido, contínuo, sem interrupções.
Imaginar um ensaio inteiro desperdiçado resolvendo problemas de rítmica
significa desperdiçar precioso tempo que deveria ser investido no refinamento sonoro e
no ajuntamento do grupo em torno da univocidade da interpretação musical.
O pianista, o organista e o clavecinista estão habituados a coordenarem diversas
atividades rítmicas em simultaneidade, especialmente porque o tempo todo controlam
estruturas musicais complexas repartidas entre ambas as mãos.
Existem muitos ritmos que aparentam ser difíceis para muitos instrumentistas,
mas que um pianista pode dominar com relativa facilidade. Espera-se do pianista, aliás,
fluência rítmica e capacidade de organização métrica em qualquer uma de suas
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execuções musicais.
Ocupando-se os regentes de um estudo metódico do piano, certamente poder-se-
ão beneficiar de mais essa habilidade peculiar aos pianistas na hora de ensaiarem um
coro ou orquestra. O bom entendimento da movimentação rítmica de uma peça
permitem muito mais clareza à execução, à comunicação dos gestos e permitem maior
concentração de energia nos aspectos interpretativos.
Tocar piano é uma atividade de alto grau de refinamento da coordenação motora,
sendo mesmo classificada como das mais complexas atividades de que se pode ocupar o
cérebro humano. Há muitas informações simultâneas a coordenar, exatamente como há
muitos instrumentos a serem comandados em uma orquestra sinfônica.
Deve, pois, o regente, estudar piano com afinco de modo a aperfeiçoar a sua
capacidade de realização rítmica.
2.5. Conhecimentos de estruturação musical, formas e ferramentas composicionais.
Esse domínio pertence à teoria musical, de modo que muitos poderiam
argumentar que o regente precisa saber bem teoria musical, não necessariamente piano.
Ocorre que. na maioria esmagadora dos casos, os exemplos em livros didáticos e em
sala de aula quando se estudam as disciplinas teóricas de música, são justamente
extraídos da literatura do piano.
Obras pianísticas e para instrumentos de teclado representaram divisores de
águas na História da Música Ocidental, como foi o caso de "O Cravo Bem-
Temperado", de J.S.Bach e das 32 Sonatas para pianoforte, de L.V. Beethoven. Franz
Liszt, o pianista lendário foi o precursor do poema sinfônico e outros compositores
importantíssimos da História da Música sempre compuseram para piano, com raríssimas
exceções.
Pianistas, por esse motivo, tendem a ter uma certa afeição maior por disciplinas
de Teoria Musical, e muitos dos grandes autores nesse campo são ou foram pianistas.
Muitos musicólogos são e foram pianistas, e muitos também possuem alguma atuação
como regentes.
Quando se menciona estruturação musical, formas e ferramentas composicionais
estamos justamente mencionando os mecanismos lógicos e intuitivos pelos quais um
compositor organiza uma retórica musical.
Observa-se em obras distintas de natureza similar uma série de congruências
quanto à organização dos elementos, sua disposição em movimentos, seções, períodos,
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frases; semelhanças quanto à natureza das articulações de ataque do som, fraseologia,
dinâmicas, andamentos, dentre outros elementos.
O regente precisa ter muita segurança nos seus conhecimentos musicais, ter
muita solidez em suas concepções, sob pena de não conseguir transmitir aos seus
subordinados as informações musicais de que necessitam.
É essencial o conhecimento das principais formas, auto-composta,
improvisatório, fantasia, formas binárias, formas ternárias, forma sonata, forma rondó,
forma minueto-trio, estrutura de uma sinfonia tradicional, estrutura de uma missa, de
um oratório, de um concerto, de uma ópera, etc.
Normalmente os musicistas que mais se interessam pelo estudo de tais tópicos
são novamente os pianistas, e não há o que discutir em termos da necessidade do bom
domínio desses conceitos para a boa execução musical.
Se um musicista não pode ter dúvidas quanto à distinção de andamentos em
Adagio, Largo e Lento, quanto mais não pode ter tal dúvida um maestro. Uma vez
emitido seu levare, já será tarde demais para corrigir ou responder a qualquer uma das
suas dúvidas relacionadas à fluência do texto musical. Muito menos pode um maestro
reger com gestos que simulem uma articulação em staccato quando claramente a textura
musical em questão exige uma articulação em legato, cantabile.
Rudimentos musicais, conhecimentos de como a música se estrutura,
andamentos, glossário de termos musicais , firmeza na execução rítmica, clareza na
intenção interpretativa, nas gradações dinâmicas, nas diversas cores, são características
que não podem faltar a um regente.
Regente que desconhece o sujeito ou tema da seção em fugato que está a
conduzir, ou que não percebe o refrão recorrente do Rondó em questão; que não
identifica os temas a e b de um primeiro movimento de sinfonia que está a reger ou que
é incapaz de determinar com clareza a dinâmica, o fraseado e as articulações que
pretende realizar, é um regente incompleto.
Pianistas tendem a ter afinidade por esses ramos da teoria musical, e mais uma
vez fica patente a necessidade de um regente estudar aprofundadamente o piano como
forma de desenvolver suas próprias habilidades viscerais.
2.6. Conhecimentos de harmonia
Poucos são os instrumentistas que gozam do privilégio de produzirem por conta
própria as mais diversas combinações harmônicas possíveis. Dentre os instrumentos de
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cordas friccionadas, madeiras, metais e em muitos casos os de percussão, deparamo-nos
com instrumentos de possibilidade quase que essencialmente melódica.
O piano, por sua vez, assim como a harpa, o órgão e a guitarra, são capazes de
produzirem harmonias, conjuntos de sons que ouvidos simultaneamente funcionam
coesamente e permitem o acompanhamento de uma melodia qualquer que se faça
entoar.
Um quarteto de cordas, é bem verdade, pode executar harmonia, bem como o
pode um quinteto de sopros, por exemplo; entretanto, o regente é um só, e quando
estuda para se desenvolver como musicista, dedica boa parte do seu tempo de
preparação a aperfeiçoar-se em suas capacidades isoladamente. Seria de muita valia
para um regente tocar piano para que, por meio dessa atividade, pudesse desenvolver
consideravelmente o seu manejo das mais variadas harmonias encontradas em Música.
Toda obra musical que dependa de um regente, necessariamente estará pautada
ou em uma complexa polifonia ou em um jogo de sucessões harmônicas. O Maestro
precisa ser capaz de, pelo ouvido, identificar toda a movimentação harmônica e detectar
caso alguma coisa nesse contexto destoe daquilo que o seu ouvido interno esteja com
expectativa de ouvir.
Não há forma melhor de se exercitar na harmonia do que, além de praticar
exercícios no papel, manusear com frequência um instrumento harmônico e dele se
utilizar para tocar acordes em sucessão. Do mesmo modo como acima advoga-se pelo
estudo de piano como mecanismo para refinamento das habilidades esperáveis de um
regente, aqui novamente se estimula o estudo do instrumento piano com a finalidade de
aguçar as competências do regente.
Ouvir harmonias é um ouvir vertical, de verticalidades, de acordes. E tocar piano
é um excelente recurso para desenvolver essa habilidade.
2.7. Conhecimentos de contraponto
Tudo o que foi exposto para o contexto da harmonia pode aqui ser importado
para o contexto do Contraponto. Com a diferença fundamental de que a audição
contrapontística é muito mais horizontalizada do que verticalizada, como era o caso no
tópico anterior.
A bem da verdade, as sucessões lineares contrapontísticas terminam por
produzir intervalos harmônicos e acordes de naturezas diversas, razão por que não se faz
absoluta a horizontalização da escuta nesse contexto.
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Analogamente, nas progressões harmônicas são ouvidos diversos fenômenos que
também não se coadunam com o conceito de verticalidade das harmonias, tais como
suspensões, notas de passagem, escapadas, apogiaturas, dentre outros recursos.
Conhecer a arte do contraponto tem diversas vantagens para um regente. Com
isso ele poderá manusear com velocidade claves antigas, utilizadas para composições
corais tradicionais; poderá exercitar a escuta de várias partes simultaneamente e
entender a retórica individual de cada uma das partes, bem como sua interação com o
todo; poderá ainda ficar liberto da necessidade de ser o controlador de tudo o que
acontece na música, tornando-se apenas o organizador dos andamentos e do sentimento
geral da obra.
Dentre os musicistas, o pianista é dos que mais tende a se interessar pelo estudo
do contraponto, sendo esta técnica muito aparentada da música clavecinística de fins do
séc. XVI até a metade do séc. XVIII. Um regente que estude piano com profundidade
poderá ter desenvoltura com a linguagem contrapontística e assim estar preparado para
conduzir obras cuja textura predominante seja a polifonia.
A harmonia é uma derivação lógica e inevitável da própria técnica do
Contraponto. Saber seus fundamentos, pois, é essencial para o bom entendimento da
formação dos acordes, das teorias de encadeamentos e suas respectivas resoluções
tonais. Tal técnica foi também muito bem aproveitada por compositores do serialismo,
como Schoenberg e Webern.
2.8. Conhecimentos de história, estética, estilística musical
Espera-se, indubitavelmente, que um regente seja um grande conhecedor do
repertório musical, de história da música, da história das obras que rege, do contexto em
que foram escritas, suas características essenciais e formas mais adequadas de execução.
Caso seja falho em algum desses quesitos, perderá o respeito dos seus pares e sua
autoridade no pódio estará ameaçada.
Não se pode conceber a ideia de um grande regente ignorante, que balance os
braços intuitivamente, sem consciência do que faz, que executa Mozart como se Bach
fosse, Beethoven com feições de Prokofiev ou mesmo Liszt com as neuroses de um
Messiaen, Liggeti ou Penderecki.
Música precisa de forma, precisa de estilo, de contextualização. Música precisa
estar em conformidade , ainda que mínima, com o contexto histórico, estético em que
foi produzida. Por muitas vezes somos obrigados a ouvir execuções de obras sem o
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menor cabimento do ponto de vista interpretativo. Pior: com a derrocada da
sensibilidade estética dos ouvidos pós-modernos, muitas das atrocidades que hoje são
cometidas passam praticamente ilesas , despercebidas e sob calorosas ovações de muitos
leigos, os quais têm sido privados da possibilidade de ouvir e distinguir boas de más
execuções, vocais e instrumentais.
A cultura musical deve ser a marca registrada de qualquer regente. Espera-se que
um regente seja alguém que poderia ser aproveitado em uma escola de música como
professor de praticamente qualquer disciplina, justamente porque a sua formação
musical é amplíssima e irretocável, dotada de uma irrepreensibilidade invejada por
muitos.
O regente deve ter muitos conhecimentos de teoria musical, percepção rítmica e
melódica, solfejo, boa escuta interna e externa, harmonia, contraponto, análise das
formas musicais, capacidade de compor e arranjar, conhecimentos vastos de história da
música, proficiência em um ou mais instrumentos musicais, capacidade de reger com
segurança e clareza, além da vocação para liderança e administração.
Como executar bem uma sinfonia de Beethoven sem conhecer suficientemente o
homem e seu estilo? Num nível mais aprofundado, como executar bem Beethoven sem
compreender a mensagem filosófica que sua obra tinha para toda a humanidade?
Estudar, estudar e estudar deve ser o motto perpetuo na vida de qualquer um que se
aventure trilhar pelos caminhos sedutores da regência.
Deve o regente ter respostas para quaisquer perguntas que se lhe apresentarem,
ainda que não saiba tudo. Deve o regente primar pela sua formação filosófica, espiritual,
como ser humano holisticamente considerado. Deve o regente saber muito a respeito de
música e, sendo isso possível, executar gestos de direção musical com eficiência.
Pianistas em geral costumam reunir os requisitos acima destilados, com algumas
exceções, naturalmente. Aqui remete-se aos grandes pianistas, aos grandes mestres, que,
não por acaso, foram por muitos denominados também de Maestros.
2.9. Conhecimento de vasta literatura do repertório tradicional
Um regente não precisa conhecer toda e qualquer obra de música que exista
nesse mundo, até porque isso é virtualmente impossível. Entretanto, espera-se que ele
possua conhecimentos sobre os mais diversos estilos imagináveis, seja capaz de
identificar traços identificadores de diversos tipos de obras musicais e,
preferencialmente, saiba identificar muitas obras apenas de ouvir ou de olhar para a
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partitura.
O pianista é detentor de uma das maiores literaturas escritas para algum
instrumento musical, e por isso acaba por poder ampliar seus horizontes para muitos
séculos da história musical. Ouvir música tanto quanto possível e conhecer o máximo
concebível de obras, chamá-las pelo nome, identificar seus números de opus e conseguir
executar muitas delas com prontidão e de memória é um atributo louvável que se espera
identificar em um bom pianista.
Os regentes precisam gozar das mesmas qualidades, sendo capazes de identificar
as obras mais importantes já escritas no passado e no presente, não somente obras
sinfônicas, mas também óperas, obras instrumentais, concertos, música de câmara,
música popular, jazz, etc.
Não há um limite. A cultura musical de um regente pode ser expandida
praticamente ao infinito, e a auto-superação deve ser uma constante imutável nos
corações dos potenciais regentes.
2.10. Adaptabilidade a diferentes estilos e contextos musicais (o que o piano faz muito
bem, por sinal).
A música é muito ampla, nunca podendo ser restrita a uma simples forma de
manifestação da beleza dos sons. A música popular e o jazz, por exemplo, vias
alternativas de expressividade musical, também são ricos universos e que devem ser
conhecidos e explorados com volúpia.
O regente que se preza deve conhecer os principais ícones da música popular,
tanto nacional quanto internacional, sobretudo quando dizem respeito a estilos
regionais, como o choro, o congo, a bossa nova, a música caipira, o rock nacional e
tantos outros estilos.
Na seara internacional deve buscar o que puder, de acordo com suas
preferências, mas nunca estar adstrito ao fato de que algumas bandas de rock e
conjuntos de música popular até mesmo gravaram CDs acompanhados por orquestras
sinfônicas. Quanto mais informação, melhor para o regente.
O pianista, de igual modo, é um ser adaptável a diversos contextos. O piano
habita abundantemente os universos do Jazz, do Blues, do Rockabilly, do Ragtime, da
Bossa-Nova, do Choro, do Rock, dentre muitos outros.
Além do imenso repertório erudito escrito para o instrumento, pode o pianista
contar com um leque interminável de outros estilos a conhecer, todos utilizando de
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alguma forma o piano.
O maestro que toque piano pode tocar e ter acesso a uma quantidade enorme de
repertório, literatura escrita para o piano e outros instrumentos. Seguramente isso lhe
proporcionará um conhecimento de estilo que dirimirá dúvidas e poupará tempo quando
estiver preparando obras orquestrais que tenham traços caracterizadores exatamente
similares àqueles que conheceu com uma certa profundidade ao piano.
Outra vertente fundamental é a prática de música de câmara, atividade que pode
ser abundantemente exercida pelo pianista, o qual muitas vezes precisa assumir
exatamente o papel de regente do ensemble.
O contato com o repertório camerístico é o primeiro passo para conhecer o estilo
sinfônico de diversos compositores. Muitas obras de câmara são uma sinfonia em
pequena escala, em versão microscópica, de modo que a familiarização com esse tipo de
literatura pode e deve servir como excelente propedêutica à arte de dirigir as grandes
sinfonias.
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3. Se queres ser Maestro, estuda, pois, piano.
Parece-nos, portanto, convincente a tese de que , para se tornar um bom regente,
vale, e vale muito o investimento na aprendizagem diligente do piano como instrumento
musical.
Pelos motivos acima expostos, e por outros que se poderia imaginar e discorrer a
respeito, não ficam faltantes argumentos suficientes para convencer todo e qualquer
regente a se debruçar sobre as teclas brancas e pretas e buscar proficiência pianística.
O piano é um instrumento encantador, e seu domínio certamente será uma
ferramenta indispensável para que qualquer indivíduo venha a exercer com mestria e
excelência o seu ofício de regente.
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4. Maestros famosos de ontem e de hoje que são ou foram pianistas.
Muitos são e foram os Maestros, historicamente, que iniciaram sua formação
musical e suas carreiras artísticas como pianistas. Apenas alguns serão citados, a título
exemplificativo, e sobre alguns deles serão feitos comentários para demonstrar como a
atividade pianística proporcionou e facilitou para os indivíduos em questão uma
possibilidade de carreira como regentes graças ao piano.
Essa tradição sequer é nova, remontando a compositores como Mozart, Weber,
Mendelssohn, Liszt e Rachmaninov; e se estendendo a pianistas ainda vivos como
Vasary, Barenboim e Eschenbach.
Dimitri Mistropoulos estudou piano com Busoni e regência com Erich Kleiber.
Era um homem alto e magro, de aparência austera e um tanto quanto peculiar na sua
maneira de reger, chamada por H. Schonberg de "brusca, nervosa e inexpressiva".
Possuía musicalidade muito interessante e causava muitas surpresas por sua
espontaneidade. Foi dotado da memória mais impressionante de toda a história da
regência. Em poucos minutos era capaz de memorizar uma partitura de mais de 100
páginas e era capaz de reter tais detalhes por bastante tempo. Faleceu em um ensaio da
Terceira de Mahler.
Georg Szell era húngaro também era pianista. Entendia profundamente cada
instrumento da orquestra, era objetivo e analítico, produzia belas sonoridades e
concepções muito inspiradas. Tinha total controle da orquestra em suas mãos. Era capaz
de imprimir grande clareza e de fazer uma gigante orquestra soar como um conjunto de
câmara, em que os músicos se ouviam reciprocamente. Seu equilíbrio formal era
impecável e a sonoridade inconfundível. Foi uma grande personalidade, muito severo e
muito respeitado pelos músicos.
Herbert von Karajan iniciou seus estudos musicais ao piano. Era uma figura
muito carismática, de irradiação magnética, olhar penetrante, claro e frio, quase
hipnótico. Seu temperamento era forte e autoritário. Acumulou muitas posições
importantes e teve muito poder. Foi filiado ao partido nazista por puro oportunismo, e
nunca teve a simpatia de Hitler.
Sempre buscou perfeição nas gravações que fazia, tinha gestos característicos,
postura de absoluta concentração , ar de mago oriental. Alguns o consideravam um
superstar. Seu repertório foi o mais extenso a nós legado. Foi o mais universal dos
maestros. Possuía muita clareza e originalidade nas interpretações, aliadas a uma
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irresistível expressividade. Chegou a reger de olhos fechados. Estudava as obras
profundamente, lentamente e dava grande relevância ao papel das dinâmicas.
Georg Solti também era pianista, mas logo desistiu da carreira para ser Maestro.
Foi um dos grandes regentes húngaros do século passado e fez grande quantidade de
gravações com interpretações originais. Possuía muito vigor e energia, por vezes
poderia ser tenso mas expressava uma grande variedade de emoções bastante
convincentes. Foi acusado de não ser terno o bastante, mas sua técnica era impecável, os
tempos muito corretos e possuía muita vitalidade rítmica. Gritava muito nos ensaios e
insistentemente repetia a mesma passagem. Mantinha os músicos tensos com seu olhar
malicioso.
Leonard Bernstein também foi um excelente pianista, além de um dos mais
importantes compositores norte-americanos do séc. XX, ao lado de Copland, Ives e
Gershwin. Fez grande quantidade de gravações e atuou em diversas esferas, até mesmo
como conferencista e autor de livros. Foi um grande democrata da música clássica, no
sentido de que ajudou a divulgar esse tipo de fazer musical ao povo em geral,
especialmente pelos discos e pelos meios de comunicação.
Possuía uma musicalidade vital e um excelente temperamento. Sua aparição
diante dos músicos era um grande evento. Suas interpretações eram apaixonadas e
envolventes. O próprio Bernstein entendia que o papel do regente era o de substituir o
compositor no pódio. Devia, pois, o regente, prestar serviço à Música, sendo o regente
um mediador entre o compositor e os ouvintes.
Bernstein foi um grande militante da liberdade, um grande inconformado
politicamente. Considerado por muitos o segundo regente mais importante do último
século, apenas superado por Karajan. Interpretou uma grande variedade de repertório,
com execuções memoráveis de Beethoven e Mahler.
Pierre Boulez também aprendeu piano. Boulez prioriza seus trabalhos como
compositor, preferindo estar reservado às elucubrações da grande mídia. Afastou-se do
repertório tradicional e, curiosamente, foi autodidata em matéria de regência. Quando
rege, Boulez deixa transparecer o compositor que é, porque sempre se conecta à
estrutura da obra.
Boulez não reputa por inútil nenhuma nota que esteja escrita na partitura. É
sereno nos ensaios, mas possui implacável perfeccionismo. Seu ouvido é infalível. Foi
chamado de iceman conductor pelo New York Times, talvez por ser muito mais
racional do que emocional.
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O grande violoncelista Mstislav Rostropovich também era pianista. Foi um dos
grandes intérpretes do século XX, com um estilo interpretativo sob os impulsos do
sentimento, buscando o extremo limite da interpretação. Era um excelente
acompanhador ao piano, instrumento que utilizava para acompanhar sua esposa, a
soprano Galina Vishniévskaia; era um entusiasta da liberdade.
Rolf Reinhardt também era pianista, e priorizou repertório barroco e clássico.
Também obteve sucesso regendo obras corais, particularmente, Bach. Sabia como fazer
a música parecer espontânea e expressiva.
André Previn era um conceituado pianista de jazz. Considerado um regente
conciso , dotado de um estilo direto e preciso.
Daniel Barenboim é um pianista ainda em atuação, além de ser um regente de
grande notabilidade internacional. Realizou importantes gravações tanto para a literatura
do piano tanto quanto para a literatura sinfônica.
Barenboim pode inclusive ser visto tocando e regendo simultaneamente, uma
prática levada a efeito por alguns pianistas. Tem exercido importante papel de conexão
entre a geração de grandes pianistas como Claudio Arrau e novos talentos que vêm
surgindo internacionalmente. Barenboim é um grande admirador de Furtwangler e de
Otto Kemplerer. Ele possui preferência por gravações musicais feitas ao vivo.
Ira Levin também estudou piano, instrumento para o qual realizou importantes
transcrições. Cristoph Eschenbach também foi um pianista e tem experimentado grande
sucesso como regente nos EUA.
O pianista russo Vladimir Ashkenazy também tem atuado como regente, após
sólida e consistente carreira como pianista. Ashkenazy diz que após experimentar por
um tempo a experiência solística, sob a direção de alguns regentes, começou a ter
vontade de frasear e organizar a música da maneira que mais lhe conviesse. Decidiu,
pois seguir os caminhos da regência juntamente com o piano.
O pianista brasileiro João Carlos Martins também se tornou maestro, em seu
caso, por motivo de força maior. Impossibilitado de tocar piano, decidiu trilhar os
caminhos da regência e têm desenvolvido importante trabalho no Brasil, especialmente
no tocante aos projetos de ação social e junto à mídia nacional. João Carlos foi um dos
grandes intérpretes de Bach do século passado.
O pianista francês também caminhou para a regência. O pianista brasileiro
Ricardo Castro seguiu o mesmo caminho. Tamas Vasary também atuou como regente.
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Murray Perahia também não teve outro destino.
Dentre os compositores famosos que também foram regentes, temos Mozart,
Weber, Mendelssohn, Liszt, Brahms e Rachmaninov. Todos esses eram também
pianistas. O pianista Hans von Bulow também era regente.
O pianista americano Leon Fleisher, que teve uma história muito similar à do
brasileiro João Carlos Martins, também teve uma grande atuação como regente nos
EUA e no Canadá.
O pianista italiano Riccardo Muti também era pianista. É um regente simples,
sem excentricidades, mas muito musical. Suas interpretações são fiéis às intenções do
compositor e muito enérgicas. Acompanha pessoalmente os ensaios das óperas que
conduz ao piano.
Os exemplos acima citados não são exaustivos, mas demonstram com bastante
firmeza que a educação feita ao piano na formação do musicista pode ser importante
fator de produção de novos regentes. Todos os que regem deveriam ser proficientes em
piano, e estudar esse instrumento o suficiente para que possam aprimorar suas
habilidades musicais como um todo. Serve, pois, o instrumento, como excelente
ferramenta para aqueles que já são regentes ou que pretendem sê-lo eventualmente.
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5. Conclusão
Diante do exposto, fica patente a grande contribuição que o estudo diligente do
piano pode exercer tanto no estímulo à formação de novos regentes quanto no
aperfeiçoamento daqueles que já estão rendidos à batuta.
Embora haja grandes regentes oriundos do violino, da percussão, do órgão ou de
outros caminhos, estatisticamente o piano talvez seja o instrumento que mais tem
proporcionado ao mundo novos maestros.
Importa, pois, que se incentive desde a educação elementar dos músicos uma
aproximação com esse instrumento, de maneira que toda a musicalidade do indivíduo
possa ser desenvolvida ao máximo de suas potencialidades.
Eventualmente, com o descortinar das aptidões pessoais, cada um escolherá por
si o caminho que mais convém seguir; e se for a regência esse caminho, quem possuiu
educação musical estará muito melhor habilitado para exercer esse ofício, essa vocação,
com excelência.