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O Gerador Eléctrico de Relutância com Magnetos
Permanentes
Análise e Estudo Relativamente ao seu Circuito Magnético.
Ricardo Jorge Nunes Maurício
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Electrotécnica e de Computadores
Orientadores: Prof. Paulo José da Costa Branco
Prof. Joaquim António Fraga Gonçalves Dente
Júri
Presidente: Prof. Maria Eduarda de Sampaio Pinto de Almeida Pedro
Orientador: Prof. Paulo José da Costa Branco
Vogal: Prof. Maria José Ferreira dos Santos Lopes de Resende
Junho 2014
I
Resumo
A conversão de energia electromecânica desempenha um papel fundamental no consumo e
produção de energia eléctrica. Por esse motivo, as melhorias de eficiência nos geradores e motores
eléctricos são de enorme importância devido às necessidades crescentes de energia, ao
encarecimento das energias fosseis e a uma maior preocupação ambiental. Neste contexto, têm
surgido recentemente desenvolvimentos em máquinas eléctricas de relutância com magnetos
permanentes no estator, as quais oferecem elevadas densidades de potência, elevados rendimentos
e uma boa robustez construtiva graças a um rotor simples e homogéneo.
Nesta dissertação efectua-se uma análise das características deste tipo de máquinas com
principal incidência sobre os fenómenos do campo electromagnético. Será inicialmente tomado como
opção o estudo de uma topologia simplificada de uma máquina eléctrica de relutância com magnetos
permanentes no estator. Este sistema é composto por um estator com magnetos permanentes
responsáveis pela excitação da máquina e um rotor com saliências composto apenas de material
ferromagnético. Estas características conduzem à necessidade de se estudar o seu circuito
magnético, nomeadamente às forças de origem electromagnética geradoras de um binário pulsante
significativo e que pode por em risco a estrutura física da máquina. Sugerem-se por isso opções
topológicas mais complexas que permitam a atenuação dos binários pulsantes e dos seus efeitos
negativos. Em suma, será verificada a viabilidade e potencialidade deste tipo de máquinas quanto à
sua utilização como gerador de baixas e altas velocidades.
Palavras-Chave
força electromotriz, circuito magnético, relutância magnética, comutação de fluxo
II
Abstract
The electromechanical energy conversion plays an important role in the production and
consumption of electrical power. For this reason, the efficiency improvements in electric motors and
generators are of great importance due to the growing energy demand, the rising cost of fossil energy
and greater environmental concern. In this context, there have been recent developments of
reluctance machines with permanent magnets in the stator, providing high power densities, high
efficiency and a robust structure, thanks to a simple homogeneous rotor.
In this thesis, it is presented an analysis of the characteristics of this type of electrical machine,
with focus on the electromagnetic field phenomena. It was first considered a simplified topology for
this electrical machine, studying and analyzing its advantages and also drawbacks. The electrical
machine is composed by a stator with permanent magnets responsible by the excitation of the
machine and a salient homogenous rotor. These magnetic and geometric features lead to the
necessity of studying the magnetic circuit of the machine, namely the electromagnetic forces which
cause a cogging torque that can cause mechanical stresses in its structure. More complex topologies
are suggested, which would allow attenuation of the cogging torque and its effects. In short, the
viability and potential of using these type of electrical machines as low or high speed generators will
be analyzed.
III
Lista de Figuras
Figura 1- Exemplo de máquina de máquina de relutância com magnetos permanentes no estator.
................................................................................................................................................................. 2
Figura 2- Topologia proposta por Raunch e Johnson em 1955 ....................................................... 4
Figura 3- Topologia da máquina MPDS............................................................................................ 5
Figura 4- Topologia da máquina MPFR ............................................................................................ 5
Figura 5- Topologia da máquina MPCF ............................................................................................ 6
Figura 6- Representação do circuito magnético da máquina simplificada de relutância magnética
com magnetos permanentes no estator. ................................................................................................. 8
Figura 7- Representação dos caminhos fechados e para aplicação da lei de Ampère. ......... 8
Figura 8- (a) Evolução do inverso da relutância magnética relativa ao entreferro de ar, (b)
relutância magnética do ar . ......................................................................................................... 11
Figura 9- Fluxo ligado que atravessa a bobina. Valores considerados na simulação: ;
; ; =1. .................................................................................................. 12-
Figura 10- Caminho de circulação s para aplicação da lei geral de indução. ................................ 13
Figura 11- a) Fluxo. b) Força Electromotriz. ................................................................................... 14
Figura 12 - a) Coenergia Magnética. b) Binário. ............................................................................. 18
Figura 13 - Máquina simplificada de relutância magnética com magnetos permanentes no estator
com rotor posicionado em diferentes posições angulares. ................................................................... 20
Figura 14 - a) Potência b) Fluxo. .................................................................................................... 20
Figura 15 -a) Corrente em carga. b)Fluxos. c) Potência d) Potências Instantâneas. .................... 22
Figura 16- Binário médio em função da frequência de rotação (RPM) para diferentes cargas
indutivas,................................................................................................................................................ 23
Figura 17- Potência mecânica entregue ao veio consumida pela componente resistiva da carga
em função da frequência de rotação (RPM). ........................................................................................ 23
Figura 18- a) Correntes de Carga. b) Fluxo. c) Coenergia. d) Binário. .......................................... 24
Figura 19-a) Correntes de Carga. b) Fluxo. c) Coenergia. d) Binário. ........................................... 25
Figura 20- a) Correntes de Carga. b) Fluxo. c) Coenergia. d) Binário. .......................................... 26
. Figura 21- a) Correntes de Carga. b) Fluxo. c) Coenergia. d) Binário. ........................................ 27
Figura 22- Topologia 4/2 da máquina de relutância com magnetos permanentes no estator e que
permite um melhor aproveitamento do ferro. ........................................................................................ 29
IV
Figura 23- Sentido do fluxo magnético para -45º, 0º e 45º. ............................................................ 30
Figura 24- a) Fluxo ligado. b) Binário.............................................................................................. 31
Figura 25- Modelo 2D da máquina de relutância com magnetos permanentes de topologia 4/2
utilizado no FEMM. ................................................................................................................................ 32
Figura 26- a) Fluxo ligado. b) Binário.............................................................................................. 32
Figura 27- Representação das densidades fluxo. .......................................................................... 33
Figura 28- Representação do circuito magnético da máquina onde são retratadas também as
relutâncias associadas às fugas magnéticas. ....................................................................................... 34
Figura 29- a) Fluxos. b) Força electromotriz. c) Corrente de carga d) Binário (Condições de
simulação: frequência de rotação de 3000 rpm; carga RL de 0,2 Ω e 0.1 mH) .................................... 35
Figura 30- a) Binário em função da velocidade de rotação (RPM), b) Potência mecânica entregue
ao veio do gerador , neste caso igual à potência consumida pela componente resistiva da carga, em
função da velocidade de rotação (RPM). .............................................................................................. 37
Figura 31- Representação das densidades de fluxo de uma máquina síncrona de excitação
permanente com o rotor posicionado em diferentes posições angulares. ............................................ 39
Figura 32- Representação das densidades de fluxo de uma máquina de comutação com
magnetos permanentes no estator com o rotor posicionado em diferentes posições angulares. ........ 40
Figura 33- Representação de uma máquina de comutação de fluxo com magnetos permanentes
no estator com a indicação das secções de medição do fluxo magnético: magneto permanente e
através do enrolamento. ........................................................................................................................ 41
Figura 34- (a) Representação da distribuição da densidade de fluxo magnético de uma máquina
de comutação de fluxo com magnetos permanentes no estator com o rotor posicionado em diferentes
posições angulares (com o induzido em aberto). (b) Representação do fluxo magnético que atravessa
o magneto permanente (preto) e representação do fluxo que atravessa a secção transversal da espira
(com o induzido em aberto). .................................................................................................................. 42
Figura 35- (a) Representação das densidades de fluxo de uma máquina de comutação com
magnetos permanentes no estator com o rotor posicionado em diferentes posições angulares
(corrente desfasada de -90º). (b) Representação do fluxo que atravessa o magneto (preto) e
representação do fluxo que atravessa a secção transversal da espira (corrente desfasada de -90º). 44
Figura 36- (a) Representação das densidades de fluxo de uma máquina de comutação de fluxo
com magnetos permanentes no estator com o rotor posicionado em diferentes posições angulares
(corrente desfasada de -180º). Representação do fluxo que atravessa o magneto (preto) e
representação do fluxo que atravessa a secção transversal da espira (corrente desfasada de -180º).
............................................................................................................................................................... 46
Figura 37- Estatores orientados segundo o eixo magnético a 0º, -120º e a 120º. ......................... 47
V
Figura 38- Evolução do binário trifásico e respectivos conteúdos harmónicos (fundamental de 200
Hz). ........................................................................................................................................................ 48
Figura 39-Evolução do binário trifásico e respectivos conteúdos harmónicos (fundamental de 600
Hz). ........................................................................................................................................................ 48
Figura 40- Exemplo de modelo de máquina de comutação de fluxo com magnetos permanentes
no estator. Máquina de Comutação de Fluxo de 12/10 Saliências ....................................................... 51
Figura 41- Modelo de máquina de comutação de fluxo de ímanes permanentes. ........................ 51
Figura 42- Representação das densidades de fluxo da uma máquina de comutação de fluxo de
6/5 saliências. ........................................................................................................................................ 52
Figura 43- a) Evolução do binário pulsante b) Representação do conteúdo harmónico. ............. 53
Figura 44- Representação de uma máquina de comutação de fluxo de 6/5 saliências e 12/10
saliências. .............................................................................................................................................. 54
Figura 45- Abaulamento das saliências do rotor. ........................................................................... 56
VI
Lista de Tabelas
Tabela 1- Conservação da energia ................................................................................................. 25
Tabela 2- Conservação da energia ................................................................................................. 26
Tabela 3- Conservação da energia ................................................................................................. 27
Tabela 4- Conservação da energia ................................................................................................. 28
Tabela 5-Dimensões da topologia da máquina de 4/2 saliências .................................................. 30
Tabela 6- Tabela comparativa das topologias de 6/5 e 12/10 saliências. ...................................... 54
VII
Lista de Símbolos
Campo magnético [ ]
Secção transversal de condução de fluxo
Fluxo de indução magnética [ ]
Campo de indução magnética [ ]
Dimensão dos entreferros ]
Dimensão [ ]
Potência elécrica [ ]
Densidade de corrente [ ]
Intensidade de corrente [ ]
Campo remanescente do magneto [ ]
Relutância magnética do ar [ ]
Permeabilidade magnética do vazio [ ]
Permeabilidade magnética do magneto [ ]
Fluxo ligado com o enrolamento [ ]
Intensidade do campo eléctrico [ ]
Tensão eléctrica [ ]
Força electromotriz ]
Resistência eléctrica [ ]
Indutância magnética própria ]
Energia mecânica [ ]
Energia associada às perdas por efeito Joule [ ]
Energia da carga [ ]
Energia mecânica [ ]
Binário electromecânico [ ]
Perdas de histerese [ ]
Perdas de focault [ ]
VIII
Agradecimentos
Agradeço o apoio incondicional dos meus pais e irmão ao longo do desenvolvimento deste
trabalho e ao longo do curso.
Agradeço a disponibilidade e a ajuda imprescindível para o desenvolvimento e conclusão deste
trabalho do Prof. António Dente e do meu orientador, Prof. Paulo Branco.
Aos meus amigos que me acompanharam.
IX
Índice
Resumo .............................................................................................................................................. I
Abstract ............................................................................................................................................. II
Lista de Figuras ................................................................................................................................ III
Lista de Tabelas ............................................................................................................................... VI
Lista de Símbolos ............................................................................................................................ VII
Agradecimentos ............................................................................................................................. VIII
1. Introdução ................................................................................................................................ 1
1.1. Descrição do tema da dissertação ......................................................................................... 1
1.2. Enquadramento ...................................................................................................................... 2
1.2. Estado da Arte ....................................................................................................................... 4
1.3. Organização do Documento .................................................................................................. 6
2. Modelo da Máquina Eléctrica de Relutância com Magnetos Permanentes no Estator e Duas
Saliências (2/2) ........................................................................................................................................ 7
2.1. Análise do Circuito Magnético ............................................................................................... 7
2.2. Força Electromotriz e Corrente de carga ............................................................................. 13
2.3. Processo de Conversão Electromecânica do Gerador ........................................................ 15
2.3.1. Balanço Energético ....................................................................................................... 19
2.3.2. Características Electromecânicas: Binário-Velocidade e Potência-Velocidade ........... 23
2.3.3. Balanço de Potência: .................................................................................................... 24
3. Modelo da Máquina Eléctrica de Relutância com Magnetos Permanentes no Estator e de 4/2
Saliências .............................................................................................................................................. 29
3.1. Estudo Electromagnético ..................................................................................................... 30
3.1.1. Características electromecânicas: binário-velocidade e potência-velocidade ............. 36
3.2. Densidade de Perdas no Ferro ............................................................................................ 38
3.2. Análise de Algumas Soluções Construtivas para uma Atenuação dos Efeitos do Binário
Pulsante ............................................................................................................................................. 47
3.2.1. Máquina Trifásica: Três Máquinas de Comutação de Fluxo Acopladas ...................... 47
3.2.3. Modelo da Máquina Eléctrica Comutação de Fluxo com Magnetos Permanentes no
Estator de 6/5 Saliências ............................................................................................................... 50
X
4. Conclusões e Perspectivas Futuras ........................................................................................... 55
4.1. Conclusões .......................................................................................................................... 55
4.2. Perspectivas Futuras ........................................................................................................... 55
Referências ..................................................................................................................................... 57
1
1. Introdução
1.1. Descrição do tema da dissertação
Com os recentes avanços no desenvolvimento de novos materiais e novos dispositivos de
electrónica de potência, a utilização de máquinas com excitação por magnetos permanentes tem
vindo a intensificar nos últimos anos. Máquinas eléctricas com magnetos permanentes são
predominantemente utilizadas na indústria devido às elevadas performances, sendo maioritariamente
a sua excitação efectuada por magnetos permanentes instalados na periferia do rotor. Apesar dos
benefícios e aplicações que estas máquinas eléctricas têm encontrado, os magnetos permanentes
necessitam de ser protegidos de pressões mecânicas exercidas por possíveis forças centrífugas
significativas, assim como de elevadas temperaturas que poderão alterar a respectiva característica
magnética. As elevadas temperaturas podem ser responsáveis por uma desmagnetização
permanente dos magnetos e limitar assim a densidade de potência da máquina.
Recentemente, têm surgido desenvolvimentos em máquinas eléctricas de relutância com
magnetos permanentes no estator, em vez de no rotor, que poderão permitir atenuar os problemas
das máquinas com magnetos permanentes no rotor apontados anteriormente. Esta nova topologia
apresenta por principal vantagem uma boa robustez construtiva graças a um rotor simples e
homogéneo. Contudo, devido à geometria do circuito magnético apresentar saliências tanto no rotor
quanto no estator, aparecem binários electromagnéticos pulsatórios, o que é incompatível à exigência
de um binário constante exigido a estas máquinas. Nesta dissertação será realizada uma análise da
característica electromecânica deste tipo de máquinas eléctricas com principal incidência sobre os
fenómenos do campo electromagnético. Será também analisada a viabilidade e potencialidade deste
tipo de máquinas quanto à sua utilização como gerador eléctrico.
2
1.2. Enquadramento
Figura 1- Exemplo de máquina de máquina de relutância com magnetos permanentes no estator.
A conversão electromecânica com recurso a máquinas de magnetos permanentes foi durante
décadas considerada apenas em aplicações de baixo custo pela simplicidade construtiva. O termo
“máquinas de magnetos permanentes” descreve todos os dispositivos electromecânicos de
conversão de energia nos quais a excitação é realizada por magnetos permanentes. Estes
conversores de energia podem ser encontrados numa enorme variedade de configurações. Entre
elas, a configuração mais comum possui um estator idêntico à máquina síncrona clássica,
distinguindo-se apenas na composição do rotor cuja excitação fica a cargo de magnetos permanentes
em substituição do circuito eléctrico.
Comparativamente á máquina síncrona clássica onde no rotor existe um circuito responsável pela
excitação, o facto de se utilizarem magnetos permanentes resulta numa diminuição de perdas por
efeito de Joule e a dispensa do emprego de anéis e escovas para assegurar os contactos destes
condutores conduz necessariamente a uma maior robustez e simplicidade construtiva da máquina.
Recentemente graças ao desenvolvimento de novos materiais magnéticos e de dispositivos de
electrónica de potência de baixo custo, as máquinas eléctricas com magnetos permanentes vão
também ao encontro de aplicações de maior exigências tanto mecânicas quanto eléctricas. Um
exemplo do sucesso desta tecnologia é a máquina de corrente contínua sem escovas (DC brushless),
a qual consiste numa máquina síncrona (vulgarmente a de magnetos permanentes) transformada em
máquina de corrente continua graças a um colector electrónico (inversor). Desta retiram-se as
vantagens da excelente característica dinâmica da máquina de corrente continua sem os
inconvenientes do colector mecânico. Sendo a máquina com magnetos permanentes caracterizada
por elevado rendimento, boa robustez e relativa simplicidade construtiva, levou a que esta máquina
eléctrica passasse a desempenhar um papel importante na conversão de energia eólica. Esta é
aplicada como uma máquina de corrente contínua sem escovas em conjunto com um inversor ligado
à rede, permitindo assim a eliminação da caixa de velocidades que é normalmente fonte de
problemas devido à sua complexidade.
3
Entretanto, para aplicações com elevadas velocidades de rotação, o rotor desta máquina
necessita de ser protegido das forças centrípetas, sendo assim exigida uma maior robustez
construtiva. A máquina eléctrica de relutância com magnetos permanentes apresenta uma maior
robustez construtiva equivalente às máquinas de relutância clássicas. Esta apresenta-se
estruturalmente mais adequada a aplicações com elevadas velocidades de rotação e grandes
esforços mecânicos. É uma máquina de grande simplicidade e robustez construtiva devido ao seu
rotor simples, sendo que tanto os magnetos permanentes a cargo da excitação e o induzido se
encontram no estator.
4
1.2. Estado da Arte
O conceito das máquinas de relutância com magnetos permanentes remonta a meados de 1955
quando os investigadores Raunch e Johnson propuseram pela primeira vez este tipo de topologia [1] ,
como mostra a Figura 2. Tanto o estator quanto o rotor apresentam uma estrutura de polos salientes,
permitindo com o seu alinhamento a transferência dos fluxos criados pelos magnetos do estator para
o rotor. Assim se consegue reverter a polaridade do fluxo ligado que atravessava os enrolamentos do
induzido com a alternância dos alinhamentos entre as saliências do rotor e do estator. No entanto,
devido a limitações das propriedades dos magnetos permanentes da altura, esta topologia acabou
por ser ultrapassada. Esta topologia inicialmente proposta devido às suas vantagens construtivas têm
motivado recentemente o interesse pelas máquinas eléctricas com magnetos permanentes no
estator. Não é de estranhar por isso que ao longo dos últimos anos se tenham realizado estudos e
tenham surgido novas propostas de topologias de máquinas com magnetos permanentes no estator.
Actualmente e de forma resumida, estas máquinas eléctricas podem ser sistematizadas em 3
tipos: máquina de magnetos permanentes duplamente saliente (MPDS), máquina de magnetos
permanentes de fluxo reversível (MPFR), máquina de magnetos permanentes de comutação de fluxo
(MPCF). De acordo com os sentidos tomados pelos caminhos do fluxo magnético e pela posição dos
circuitos eléctricos, estas são caracterizadas como radiais. De se salientar que o principio de
operação e o desempenho destes 3 tipos de maquinas é distinto apesar de serem todas classificadas
de máquinas de relutância com magnetos permanentes.
Figura 2- Topologia proposta por Raunch e Johnson em 1955
5
Maquina MPDS
A MPDS é a máquina de relutância com magnetos permanentes que estruturalmente mais se
assemelha á máquina de relutância comutada comum. Nesta os magnetos encontram-se instalados
no interior do estator e os enrolamentos do induzido sobre as saliências do estator de material
ferromagnético. O fluxo ligado no enrolamento desta máquina não é reversível.
Figura 3- Topologia da máquina MPDS
Maquina MPFR
A FRPM tem os magnetos permanentes colocados sobre a superfície das saliências do estator
nas quais estão dispostos também os enrolamentos do induzido. Ao contrário da DSPM, o fluxo
magnético que atravessa os enrolamentos do induzido é bipolar. Nesta maquina a espessura do
magneto aumenta a espessura efectiva do entreferro entre as saliências do estator e as saliências do
rotor.
Figura 4- Topologia da máquina MPFR
6
Maquina MPCF
As saliências da MPCF são constituídas por duas peças de material ferromagnético que ladeiam
um magneto permanente. Os magnetos permanentes encontram-se magnetizados circunferencial
mente em direcções opostas de forma alternada. A envolver cada saliência encontram-se os
enrolamentos do induzido cujos o fluxos magnéticos serão reversíveis em função da posição angular
do rotor. Esta é a estrutura cujo princípio de operação mais se assemelha à proposta inicial de
Raunch e Johnson.
Figura 5- Topologia da máquina MPCF
1.3. Organização do Documento
Esta dissertação encontra-se repartida em 4 capítulos.
No capítulo um apresenta-se a descrição do tema da dissertação, é feito o enquadramento do
mesmo, apresenta-se o estado da arte onde se descrevem algumas das topologias existentes e
indica-se a estrutura da tese.
No capítulo dois inicia-se o trabalho de desenvolvimento, onde se elabora o estudo
electromagnético de uma topologia simples de máquina de relutância com magnetos permanentes no
estator. Este capítulo tem também por objectivo uma compreensão mais detalhada do modo como se
processa a conversão electromecânica de energia nas máquinas de relutância com magnetos
permanentes no estator.
Com base no estudo desenvolvido no capítulo dois, o capítulo três apresenta o estudo de uma
topologia de máquina de relutância com magnetos permanentes no estator que permite um melhor
aproveitamento das características electromagnéticas do material ferromagnético. É feita uma análise
das perdas magnéticas e procura-se apontar algumas soluções de redução de binários pulsatórios
tão característicos nesta topologia.
Finalmente, no capítulo quatro, o trabalho termina com as principais conclusões e perspectivas
futuras a investigar.
7
2. Modelo da Máquina Eléctrica de Relutância com Magnetos
Permanentes no Estator e Duas Saliências (2/2)
Considera-se inicialmente a topologia simplificada da máquina eléctrica de relutância com
magnetos permanentes apresentada na Figura 6, a qual irá ser usado numa primeira fase para o
estudo das características de funcionamento deste tipo de máquina eléctrica. A Figura 6 mostra a
máquina constituída por um estator com um par de saliências magnéticas e por um rotor também com
um par de saliências magnéticas, ambos de material ferromagnético. A excitação é efectuada por
dois magnetos permanentes embutidos no circuito magnético do estator, além de apresentar um
enrolamento concentrado disposto numa das saliências magnéticas do estator.
Para que ocorra o processo de conversão electromecânica na máquina, o fluxo magnético de
excitação que atravessa o enrolamento deve variar com a posição angular do rotor como
consequência da variação da relutância magnética do circuito magnético. Esta variação é conseguida
através da variação da secção transversal comum entre a saliência do rotor e a do estator e que irá
alterar a relutância magnética do entreferro de ar para as diferentes posições angulares do rotor.
O binário electromagnético produzido no estator será obtido recorrendo ao princípio da
conservação de energia [2] . Ainda com recurso à lei geral de indução, calcula-se a força
electromotriz induzida aos terminais do enrolamento e, caso a máquina esteja a alimentar uma carga,
obtém-se a corrente a circular nela. O modelo obtido desta forma tem assim por objectivo observar
temporalmente o modo como se processa a conversão de energia neste tipo gerador.
2.1. Análise do Circuito Magnético
Representa-se na Figura 6 a topologia do circuito magnético considerada para a máquina
eléctrica. Neste estudo não se consideram as fugas magnéticas, a permeabilidade magnética do ferro
é considerada muito elevada, a distribuição da densidade de fluxo magnética é considerada uniforme
ao longo de cada secção do circuito magnético e as saliências do rotor e do estator terão secções
iguais.
8
Figura 6- Representação do circuito magnético da máquina simplificada de relutância magnética com magnetos
permanentes no estator.
Ao ter por hipótese a não existência de fugas magnéticas significativas na análise do circuito
magnético, tendo em atenção a direcção estabelecida para a magnetização de cada magneto
permanente (Figura 5), e a conservação do fluxo magnético, obtém-se a expressão (1) que relaciona
os fluxos magnéticos existentes no circuito magnético onde representa fluxo magnético,
representa a densidade de fluxo magnético e a área de secção transversal de condução do fluxo
magnético.
(1)
Pela aplicação da lei de Ampére aos caminhos fechados e , indicados na Figura 7,
escrevem-se as relações (2). Ao se considerar de elevada permeabilidade magnética o material
ferromagnético que constitui o estator e o rotor, apenas se contabilizam as relutâncias magnéticas
correspondentes aos entreferros de ar.
Figura 7- Representação dos caminhos fechados e para aplicação da lei de Ampère.
9
Para os caminhos e escrevem-se as expressões em (2), onde representa a intensidade
do campo magnético que percorre os caminhos fechados de integração, a dimensão do entreferro e
o comprimento dos magnetos permanentes.
∫
∫
(2)
Tomando como referência de orientação os vectores unitários normais e para os
respectivos caminhos, encontram-se as relações escritas em (3) onde representa a densidade de
corrente que atravessa perpendicularmente os planos definidos, o número de espiras e a corrente
na espira.
∫
∫
(3)
Igualando-se (2) com (3) obtêm-se as relações (4).
(4)
Os magnetos permanentes 1 e 2 têm a sua característica de magnetização aproximada pelas
relações lineares em (5), onde representa a densidade de fluxo no magneto, o respectivo
campo magnético no magneto, o campo remanescente e a permeabilidade magnética do
magneto.
(5)
Substituindo (5) no sistema de equações (4) resulta o conjunto de equações (6) onde, além de se
escrever a relação entre os fluxos magnéticos no ferro e aquele no entreferro de ar, destaca-se o
termo que define a relutância magnética associada ao entreferro como uma função
dependente da posição angular do rotor.
10
(6)
Em seguida, estabelece-se uma função para a representação da relutância para as
diferentes posições angulares. Para tal, calcula-se a relutância mínima (7) e que correspondente à
maior secção de ar possível de condução do fluxo magnético, a qual se verifica quando o eixo do
rotor se encontra alinhado com a saliência magnética. Quando o eixo do rotor se encontra em
quadratura, obtém-se a relutância magnética máxima onde a distância de entreferro é máxima, ,
para a mesma secção como se explicita em (8) one representa a permeabilidade magnética do
ar.
(7)
(8)
Para verificar a evolução dos valores de relutância intermédios, considera-se de forma
simplificada que o inverso da relutância varia proporcionalmente com a posição angular
entre os valores máximos e mínimos de relutância magnética considerados, como se mostra em (9).
(9)
A Figura 8 (a) mostra a evolução da relutância magnética e seu inverso na Figura 8 (b),
onde se considera que o inverso da relutância varia entre 0 para a situação de relutância máxima e 1
para a situação de relutância mínima.
11
(a)
(b)
Figura 8- (a) Evolução do inverso da relutância magnética relativa ao entreferro de ar, (b) relutância magnética do
ar .
Considerando os magnetos permanentes com dimensões iguais, ou seja, e ,
o conjunto de equações em (6) fica abreviado na forma de (10) onde representa o fluxo magnético
total no rotor.
(
)
(10)
-180-150-120 -90 -60 -30 0 30 60 90 120 150 1800
0.2
0.4
0.6
0.8
1
Ângulo (graus mecânicos)
Invers
o d
a r
elu
tância
do a
r (H
)
-180-150-120 -90 -60 -30 0 30 60 90 120 150 1800
20
40
60
80
Ângulo (graus mecânicos)
Relu
tância
do a
r (H–1)
12
Da equação (10) calcula-se a expressão para o fluxo ligado com a bobina dado por (11).
(11)
A Figura 9 mostra agora a evolução do fluxo ligado com (Figura 9: cinza) e sem (Figura 9:
preto) a contabilização da relutância magnética do magneto. Como tal, o resultado obtido onde essa
relutância é desconsiderada, será equivalente ao de uma máquina onde a excitação é efectuada por
meio de enrolamentos concentrados.
Na Figura 9, onde a relutância magnética do magneto é inicialmente desprezada (curva preta), o
fluxo ligado varia proporcionalmente com o inverso da relutância, o que se compreende pela
análise da equação (11). No caso em que se considera a relutância magnética do magneto, esta
proporcionalidade deixa de se verificar (curva cinza) devido à contribuição da relutância do magneto,
a qual conduz a uma redução do valor do fluxo ligado. Em ambas as curvas observa-se também que
o fluxo magnético que atravessa o enrolamento apenas tem um sentido (o definido positivo), não se
aproveitando convenientemente o material ferromagnético. Com o movimento do rotor e com o
modelo da máquina considerado, apenas ocorre variação na intensidade do fluxo e nunca o seu
sentido.
Figura 9- Fluxo ligado que atravessa a bobina. Valores considerados na simulação: ; ;
;
=1.
-180-150-120 -90 -60 -30 0 30 60 90 120 150 1800
0.2
0.4
0.6
0.8
1
Ângulo (graus mecânicos)
Flu
xo lig
ado (
Wb)
Sem considerar a relutância magnética do magneto.
Considerando a relutância magnética do magneto.
13
2.2. Força Electromotriz e Corrente de carga
Para o estudo do comportamento da força electromotriz e das correntes estatóricas com a
máquina ligada em carga recorre-se à lei da indução electromagnética (12), onde representa a
intensidade do campo eléctrico que percorre o caminho de circulação definido pelo condutor.
∮
(12)
Figura 10- Caminho de circulação s para aplicação da lei geral de indução.
Em vazio, a tensão medida aos terminais é igual à força electromotriz, ficando estabelecida pela
relação (13).
(
)
(13)
Considerando uma velocidade de rotação do rotor de +50 rpm, simulou-se a evolução da força
electromotriz. Quando em vazio, a força electromotriz apenas depende da parte do fluxo ligado
correspondente à excitação, logo nos seguintes ensaios realizados em carga o comportamento da
força electromotriz será idêntico ao representado na Figura 11.
14
(a)
(b)
Figura 11- a) Fluxo. b) Força Electromotriz.
Considerando a bobina com um valor de resistência eléctrica igual a e uma carga com
características indutivas ( ), escreve-se o sistema de equações (14) para a análise da
evolução da corrente.
[ ]
(14)
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 20
0.2
0.4
0.6
0.8
1
Tempo (segundos)
Flu
xo lig
ado (
Wb)
Sem considerar a relutância magnética do magneto.
Considerando a relutância magnética do magneto.
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2
-4
-2
0
2
4
6
Tempo (segundos)
Forç
a e
lectr
om
otr
iz (
V)
Sem considerar a relutância magnética do magneto.
Considerando a relutância magnética do magneto.
15
Substituindo a expressão do fluxo ligado (11) na equação resultante em (14) obtém-se a equação
diferencial (15). Nesta, tem-se que
e
(
).
[ ]
(
)
[ ]
( )
(15)
A expressão (15) pode ser reescrita na forma (16), resultando na equação necessária à obtenção
da evolução da corrente do gerador em função do tempo. A equação (16) possui o termo
que surge como consequência da variação da indutância do sistema e é comum nas máquinas de
relutância magnética variável. Este termo a par com a força electromotriz é também responsável pela
conversão da energia electromecânica. A equação (16) será resolvida numericamente dada a não
linearidade do sistema em estudo.
( )
(16)
2.3. Processo de Conversão Electromecânica do Gerador
Para verificar a quantidade de energia mecânica que é transferida para o campo magnético e que
é por sua vez convertida em energia eléctrica durante um determinado intervalo de tempo recorre-se
ao princípio da conservação de energia. O princípio da conservação da energia permite escrever a
relação (17) que traduz o balanço energético do processo de conversão de energia mecânica em
eléctrica em variações incrementais num intervalo de tempo.< A variação da energia mecânica
fornecida será igual à soma da variação da energia magnética , mais a variação da
energia associada às perdas por efeito Joule ( ) e, por fim, mais a variação da energia entregue à
carga ( ).
(17)
A variação da energia mecânica, das perdas por efeito Joule e da energia entregue à carga são
representadas respectivamente pelas seguintes 3 igualdades:
(18)
16
(19)
( )
(20)
A expressão (17) pode ser reescrita em termos de potências instantâneas derivando (20) em
ordem ao tempo:
(21)
Na expressão (21) têm-se as seguintes grandezas:
Potência mecânica instantânea fornecida ao
gerador;
Potência das perdas de Joule dissipada
internamente no gerador;
Variação instantânea da energia magnética
ocorrida no circuito magnético do gerador.
(grandeza com dimensão de potência);
(
)
Potência instantânea entregue à carga. Parte
desta potência é dissipada na resistência de
carga mais a variação instantânea da energia
magnética fornecida à parte indutiva da carga.
Para obter a energia magnética armazenada no gerador, é necessário considerar o fluxo
magnético ligado com o enrolamento como variável independente e a corrente como função
dependente desse fluxo, ou seja, a energia magnética é uma função de estado
∫
(22)
Tendo já expresso o fluxo como função da corrente e sendo a intensidade das correntes
grandezas mais fáceis de medir do que os fluxos ligados, recorre-se a uma grandeza auxiliar sem
significado físico- a coenergia magnética, uma função de estado igual a . Esta é criada por
17
simetria com a função da energia magnética permitindo a consideração da corrente como variável
independente e o fluxo como dependente desta. Para calcular a coenergia magnética é necessário
considerar um estado inicial em que o sistema da máquina eléctrica se encontra “desmagnetizado”,
ou seja, sem energia magnética armazenada. Como a máquina se encontra já magnetizada por
magnetos permanentes, será necessário “desmagnetizá-la” totalmente. Para isto, faz-se uso de uma
corrente fictícia a determinar e inserida no circuito magnético através de um enrolamento também
fictício. Para a máquina eléctrica simplificada em análise a corrente fictícia necessária corresponderá
à igualdade (23), a qual permitirá obter a expressão para a coenergia magnética (24).
(23)
∫
[
]
(24)
A variação da energia magnética e da coenergia magnética verificam a relação (25) de onde
podemos obter a variação da energia magnética (26).
(25)
(26)
Recorrendo novamente ao princípio da conservação de energia e usando a variável auxiliar
coenergia magnética obtém-se (27) (consultar a referência [2] para saber como esta expressão foi
obtida). Como a coenergia é uma função de estado que depende das correntes e das coordenadas
generalizadas pode-se escrever (28).
(27)
(28)
A partir de (28) verifica-se que o binário electromagnético é uma derivada parcial da coenergia em
função da coordenada generalizada , ficando determinado pela expressão (29).
18
(29)
Como a coenergia depende de , a qual apresenta um comportamento não linear, a sua
derivada será calculada numericamente recorrendo à característica de representada na Figura
8 (b).
Representa-se na Figura 12 as evoluções da coenergia e do binário electromagnético para uma
volta completa do rotor , assim como a influência do uso de magnetos
permanentes (curva a cinzento) e quando não são usados mas substituídos por um enrolamento
(curva a preto).
(a)
(b).
Figura 12 - a) Coenergia Magnética. b) Binário.
-180 -150 -120 -90 -60 -30 0 30 60 90 120 150 1800
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
Ângulo (graus mecânicos)
Coenerg
ia M
agnética (
J)
Sem considerar a relutância magnética do magneto.
Considerando a relutância magnética do magneto.
-180 -150 -120 -90 -60 -30 0 30 60 90 120 150 180
-0.4
-0.2
0
0.2
0.4
0.6
Ângulo (graus mecânicos)
Bin
ário (
N.m
)
Sem considerar a relutância magnética do magneto.
Considerando a relutância magnética do magneto.
19
Verifica-se que apesar do circuito eléctrico da máquina estar em aberto esta já apresenta um
binário electromagnético de reacção. Este binário, apesar de oscilatório, apresenta um valor médio
nulo como se verifica na Figura 12. Fisicamente, o binário oscilatório resulta da tendência do rotor
saliente em alinhar com a saliência magnética do estator de forma a se obter um valor mínimo de
relutância magnética. Este alinhamento ocorre na Figura 12 nas posições do rotor iguais a e
a .
2.3.1. Balanço Energético
A energia magnética armazenada na máquina não participa directamente no processo de
transformação, o campo magnético actua sim como um meio de conversão de energia entre o
sistema mecânico e o sistema eléctrico. Tal como a energia magnética armazenada na carga
indutiva, a energia magnética circula na máquina de forma oscilante não sendo convertida. Portanto
para intervalos longos de tempo e/ou para ciclos eléctricos completos podemos escrever apenas que
a energia mecânica é igual à energia consumida pelas perdas mais a energia entregue à carga (30).
∫
∫
(30)
As simulações realizadas em seguida têm por objectivo observar o processo de conversão de
energia neste tipo gerador. As simulações representadas na Figura 14 e Figura 15 registam um
período eléctrico que corresponde por sua vez a meio período mecânico ( ) e
com o rotor a uma velocidade constante de 50 rpm. A relutância magnética dos magnetos foi
considerada nestas simulações, enquanto as perdas de Joule nos enrolamentos da máquina foram
consideradas nulas, .
No instante t=0 s ( ) o rotor encontra-se inicialmente em quadratura com as saliências do
estator donde a ligação magnética estator-rotor é nula; em t=0,1 s ( ) o rotor começa a
conduzir fluxo magnético iniciando-se o alinhamento do rotor com a saliência do estator; em t=0,3 s
( ) o rotor alinha totalmente com as saliências do estator, permitindo a ligação magnética
máxima entre o rotor e o estator; em t=0,5 s ( ) o rotor interrompe a ligação magnética com o
estator; em t=0,6 ( ) a simulação termina com o rotor em quadratura na mesma condição da
situação de partida. Os referidos posicionamentos do rotor encontram-se representados na Figura 13.
Na primeira simulação da Figura 12 considerou-se a situação de vazio onde . Na Figura
14 a) representa-se a evolução da potência mecânica instantânea fornecida à máquina cuja evolução
é semelhante ao binário electromagnético, sendo que a potência mecânica é resultado da
multiplicação do binário com a velocidade de rotação. Na Figura 14 b) representa-se a evolução no
tempo do fluxo ligado com o enrolamento. Nesta situação, a evolução da potência mecânica entregue
à máquina será igual à evolução da variação instantânea da energia magnética da máquina,
verificando assim a igualdade da expressão (21). A energia mecânica entregue durante este intervalo
de tempo será portanto nula ( .
20
Figura 13 - Máquina simplificada de relutância magnética com magnetos permanentes no estator com rotor
posicionado em diferentes posições angulares.
a)
b)
Figura 14 - a) Potência b) Fluxo.
21
Para os resultados apresentados na Figura 14 consideraram-se as condições da simulação
anterior, ou seja e , em seguida, o gerador encontra-se agora a alimentar
uma carga RL série de e . Na Figura 15 a) mostra a evolução da
corrente obtida computacionalmente através da expressão (16):
. A Figura 15 b) mostra a evolução do fluxo magnético que atravessa a bobina.
Este fluxo pode ser separado em duas componentes: o fluxo magnético com origem na excitação
criada pelos magnetos permanentes, e o fluxo com origem na corrente a circular. Verifica-se que o
fluxo com origem na corrente é de sentido contrário ao fluxo de excitação até ao instante em que o
rotor alinha com o estator em t=0,3 s ( ), instante em que o fluxo com origem na corrente inicia
uma inversão de sentido acabando por se somar com o fluxo de excitação. Esta diferença provocada
pelo fluxo magnético com origem na corrente sobre o fluxo de excitação faz com que seja perdida a
simetria anteriormente existente na evolução do fluxo magnético. Assim, a corrente acaba por
também apresentar uma evolução assimétrica como mostra a Figura 15 a), tendo influência directa
sobre a evolução do binário resultante no veio do gerador como se mostra em seguida.
O trânsito de potência no gerador quantificado pela relação
durante um ciclo eléctrico é apresentado na Figura 15 c) e d). A Figura 15 c) mostra a potência
mecânica fornecida
e a variação da energia magnética ocorrida na máquina
. A Figura 15 d)
mostra a evolução da potência dissipada na carga resistiva
e a variação da energia magnética
na indutância de carga
. Ao contrário dos resultados obtidos na situação de vazio, a evolução
da potência mecânica fornecida deixa de ter uma evolução igual à variação da energia magnética da
máquina. A diferença entre elas está na potência que é fornecida à carga.
Passa-se de seguida a fazer uma análise temporal mais pormenorizada dos resultados da Figura
15 . Assim, entre o intervalo de tempo de 0 a 0,1 segundos (de a ) não existe
ligação magnética entre o rotor e o estator, não sendo por isso aplicado binário sobre o rotor. Entre
0,1 a 0,3 segundos (de a ) o binário aplicado no sentido favorável ao do movimento
do rotor é reduzido comparativamente à situação de vazio. Isto deve-se à influência do fluxo
magnético com origem na corrente que alimenta a carga e que se subtrai ao fluxo de excitação
gerado pelos magnetos permanentes. De 0,3 a 0,5 segundos (de a ) o binário passa a
apresentar o sentido oposto ao do movimento e intensificado comparativamente à situação de vazio.
A influência do fluxo magnético com origem na corrente soma-se agora ao fluxo de excitação
intensificando o binário. A partir dos 0,5 segundos em diante (de a ) a ligação
magnética entre o rotor e o estator é nula novamente. O enrolamento do estator comporta-se aqui do
ponto de vista eléctrico como um curto-circuito, pelo facto do posicionamento do rotor conduzir a uma
indutância própria nula no enrolamento da máquina. A indutância de carga que por sua vez possui
energia magnética armazenada irá alimentar a resistência de carga até se descarregar por completo.
22
O resultado do balanço total de potências obtido durante os 0,4 segundos decorridos durante um
período eléctrico mostra, como seria de esperar já que não foram consideradas perdas por efeito
Joule no interior da máquina, que a potência fornecida ao gerador é totalmente dissipada na
resistência da carga a ele acoplada.
0,24 W
a) b)
c) d)
Figura 15 -a) Corrente em carga. b)Fluxos. c) Potência d) Potências Instantâneas.
-90 -60 -30 0 30 60 90-0.3
-0.2
-0.1
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
Ângulo (graus mecânicos)
Corr
ente
em
Carg
a (
A)
-90 -60 -30 0 30 60 90-0.1
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
Ângulo (graus mecânicos)
Flu
xo (
Wb)
Fluxo total.
Fluxo com origem na corrente.
Fluxo de excitação.
-90 -60 -30 0 30 60 90-8
-6
-4
-2
0
2
4
Ângulo (graus mecânicos)
Potê
ncia
(W
)
Potência mecânica instantânea fornecida à máquina.
Variação instantânea da energia magnética fornecida à máquina.
-90 -60 -30 0 30 60 90-6
-4
-2
0
2
4
Ângulo (graus mecânicos)
Potê
ncia
(W
)
Potência instantânea dissipada na resistência de carga.
Variação instantânea da energia magnética fornecida à indutância de carga
23
2.3.2. Características Electromecânicas: Binário-Velocidade e Potência-Velocidade
Considerando-se a relutância magnética do íman e diferentes cargas indutivas, obtiveram-se as
características binário médio-velocidade do gerador relativo a cada carga, como mostra a Figura 16.
Para baixas frequências de rotação, o binário apresenta uma relação linear com a velocidade. Pela
análise da expressão (29), ou seja,
. A impedância de carga é
composta por uma componente indutiva que será maior para frequências rotacionais mais elevadas.
Este aumento da reactância fará com que a corrente que circule na impedância de carga diminua,
reduzindo assim o binário para frequências de rotação superiores. Os resultados da Figura 16
mostram que para cada carga há um valor de velocidade na qual o gerador desenvolve um binário de
reacção máximo.
Figura 16- Binário médio em função da frequência de rotação (RPM) para diferentes cargas indutivas,
Nas condições da simulação anterior apresenta-se na Figura 17 a evolução da potência mecânica
entregue ao veio, em função da frequência de rotação.
Figura 17- Potência mecânica entregue ao veio consumida pela componente resistiva da carga em função da
frequência de rotação (RPM).
0 200 400 600 800-0.14
-0.12
-0.1
-0.08
-0.06
-0.04
-0.02
0
Velocidade de Rotação (RPM)
Bin
ário (
N.m
)
R= 5.0 ohm, L= 0.1H
R= 10.0 ohm, L= 0.1H
R= 20.0 ohm, L= 0.1H
0 200 400 600 8000
1
2
3
4
5
6
7
8
Velocidade de Rotação (RPM)
Potê
ncia
(W
)
R= 5.0 ohm, L= 0.1H
R= 10.0 ohm, L= 0.1H
R= 20.0 ohm, L= 0.1H
24
Tal como na característica binário-velocidade, o efeito indutivo da carga sobre a potência é
significativa para frequências de rotação elevadas. A potência entregue à carga tende a ser nula já
que a sua impedância passa a apresentar valores elevados. Assim, a potência fornecida ao gerador
passa apenas a contar para a variação da energia magnética no interior do gerador pois não se
consideram perdas no ferro.
2.3.3. Balanço de Potência:
A Figura 18 apresenta o primeiro conjunto de resultados do gerador com uma velocidade imposta
de 50 rpm onde se distingue os efeitos da relutância magnética associada ao magneto. Esta primeira
simulação alimenta uma carga puramente resistiva de 20 Ω. A Figura 18 mostra que a corrente de
carga toma um comportamento semelhante à da força electromotriz devido ao valor nulo da
indutância de carga, não se deformando assim a corrente. O fluxo e a energia magnética sofre uma
atenuação da sua intensidade nas simulação onde a relutância magnética é considerada, e
consequentemente tanto as corrente e o binário sofreram atenuação. Nas tabelas que se seguem
deste capítulo (da Tabela 1 à Tabela 4), mostra-se a potência média entregue à resistência de carga
, o binário de carga médio aplicado ao veio , a velocidade de rotação aplicada ao
veio , e a potência mecânica média entregue ao veio da máquina .
a) b)
c) d)
Figura 18- a) Correntes de Carga. b) Fluxo. c) Coenergia. d) Binário.
0 0.5 1 1.5 2 2.5-0.2
0
0.2
0.4
0.6
Tempo (segundos)
Corr
ente
em
Carg
a (
A)
0 0.5 1 1.5 2 2.50
0.2
0.4
0.6
0.8
1
Tempo (segundos)
Flu
xo (
Wb)
Sem considerar a relutância magnética do magneto.
Considerando a relutância magnética do magneto.
0 0.5 1 1.5 2 2.50
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
Tempo (segundos)
Coenerg
ia M
agnética (
J)
0 0.5 1 1.5 2 2.5-1
-0.5
0
0.5
Tempo (segundos)
Bin
ário (
N.m
)
Sem considerar a relutância magnética do magneto.
Considerando a relutância magnética do magneto.
25
Tabela 1- Conservação da energia
Preto 0.67 -0.128 2 ⁄ -0.67
Cinza 0.24 -0.0458 2 ⁄ -0.24
A Figura 19 apresenta um conjunto de resultados quando o gerador apresenta uma carga
indutiva. Esta consistiu na conjugação à carga resistiva anterior de uma indutância de valor igual 0,5
H. Verifica-se comparando a evolução da corrente com carga resistiva (Figura 18 (a)) com aquela
obtida com carga indutiva (Figura 19 (a)) que ocorre um abaulamento da forma de onda da corrente,
reacção característica de circuitos indutivos sobre as formas da corrente. Verifica-se que essa
alteração do comportamento da corrente terá por sua vez também influência na evolução do binário.
a) b)
c) d)
Figura 19-a) Correntes de Carga. b) Fluxo. c) Coenergia. d) Binário.
0 0.5 1 1.5 2 2.50
0.1
0.2
0.3
0.4
Tempo (segundos)
Coenerg
ia M
agnética (
J)
0 0.5 1 1.5 2 2.5-1
-0.5
0
0.5
Tempo (segundos)
Bin
ário (
N.m
)
Sem considerar a relutância magnética do magneto.
Considerando a relutância magnética do magneto.
0 0.5 1 1.5 2 2.5-0.2
0
0.2
0.4
0.6
Tempo (segundos)
Corr
ente
em
Carg
a (
A)
0 0.5 1 1.5 2 2.50
0.2
0.4
0.6
0.8
1
Tempo (segundos)
Flu
xo (
Wb)
Sem considerar a relutância magnética do magneto.
Considerando a relutância magnética do magneto.
26
Tabela 2- Conservação da energia
Preto 0.53 -0.1012 2 ⁄ -0.53
Cinza 0.18 -0.0344 2 ⁄ -0.18
Para analisar a influência da velocidade de rotação, efectuou-se uma simulação onde o gerador
roda a uma velocidade angular de 10 rpm e tem uma carga de 20 Ω e uma indutância de 0.5 H
(Figura 20). Para baixas, a variação da relutância e logo do fluxo magnético é lenta, originando assim
uma força electromotriz baixa e um binário com uma evolução próxima ao do binário da máquina em
vazio de valor médio nulo. Se por um lado a frequência mais alta de rotação do rotor introduz
assimetria na evolução da corrente, alcança-se uma força electromotriz mais elevada. Para que haja
conversão de energia a baixas rotações é então importante a escolha do número de saliências e um
dimensionamento da secção transversal de entreferro entre o rotor e o estator adequado à frequência
de rotação pretendida. Quanto menor for a frequência de rotação da máquina, mais saliências de
menor secção transversal esta deverá ter.
a) b)
c) d)
Figura 20- a) Correntes de Carga. b) Fluxo. c) Coenergia. d) Binário.
0 2 4 6 8 10 120
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
Tempo (segundos)
Coenerg
ia M
agnética (
J)
0 2 4 6 8 10 12-1
-0.5
0
0.5
Tempo (segundos)
Bin
ário (
N.m
)
Sem considerar a relutância magnética do magneto.
Considerando a relutância magnética do magneto.
0 2 4 6 8 10 12-0.06
-0.04
-0.02
0
0.02
0.04
0.06
Tempo (segundos)
Corr
ente
em
Carg
a (
A)
0 2 4 6 8 10 120
0.2
0.4
0.6
0.8
1
Tempo (segundos)
Flu
xo (
Wb)
Sem considerar a relutância magnética do magneto.
Considerando a relutância magnética do magneto.
27
Tabela 3- Conservação da energia
Preto 0.03 -0.0286 2 ⁄ -0.03
Cinza 0.009 -0.0086 2 ⁄ -0.009
Representa-se agora na Figura 21 o comportamento da máquina para vários valores de
resistência de carga (R=15 Ω, R=20 Ω e R=40 Ω). Com o rotor a rodar a novamente a 50 rpm, uma
indutância de carga de 0,5H e não considerando a relutância magnética do íman.
a) b)
c) d)
. Figura 21- a) Correntes de Carga. b) Fluxo. c) Coenergia. d) Binário.
0 0.5 1 1.5 2 2.5-0.4
-0.2
0
0.2
0.4
0.6
Tempo (segundos)
Corr
ente
em
Carg
a (
A)
0 0.5 1 1.5 2 2.50
0.2
0.4
0.6
0.8
1
Tempo (segundos)
Flu
xo (
Wb)
R=15 ohm
R=20 ohm
R=40 ohm
0 0.5 1 1.5 2 2.50
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
Tempo (segundos)
Coenerg
ia M
agnética (
J)
0 0.5 1 1.5 2 2.5-1
-0.5
0
0.5
Tempo (segundos)
Bin
ário (
N.m
)
R=15 ohm
R=20 ohm
R=40 ohm
28
Tabela 4- Conservação da energia
R=15 ohm 0.6 -0.1146 2 ⁄ -0.6
R=20 ohm 0.52 -0.0990 2 ⁄ -0.52
R=40 ohm 0.33 -0.0630 2 ⁄ -0.33
Como esperado com o aumento da carga (ou diminuição da resistência) observa-se em módulo um
aumento do valor médio do binário de carga e um aumento do valor eficaz da corrente. Quanto menor é a
carga mais a maquina se aproxima do comportamento em vazio.
29
3. Modelo da Máquina Eléctrica de Relutância com Magnetos
Permanentes no Estator e de 4/2 Saliências
Neste novo estudo pretendeu-se alterar estruturalmente a máquina de forma a se fazer um
melhor aproveitamento do ferro. A melhoria deste aproveitamento consistiu em fazer inverter o fluxo
magnético que atravessa perpendicularmente o plano do condutor (S) de forma a inverter o seu
sentido. No modelo estudado anteriormente apenas um dos sentidos do fluxo contribuía para a
indução de força electromotriz, problema que se pretende solucionar com a nova estrutura
representada na Figura 22.
Figura 22- Topologia 4/2 da máquina de relutância com magnetos permanentes no estator e que permite um
melhor aproveitamento do ferro.
Construtivamente esta máquina é muito idêntica à máquina anterior. O rotor de material
ferromagnético é composto por duas saliências, a excitação é efectuada por dois magnetos
permanentes instalados no estator e o induzido é composto por dois enrolamentos concentrados no
estator. A principal diferença da topologia 4/2 da Figura 22 reside na quantidade e no posicionamento
das saliências do estator, e dois pares de saliências com uma secção transversal de 45º intervaladas
também de 45º. A secção transversal de condução do fluxo do rotor possui a mesma secção que as
saliências do estator. O sentido do fluxo é comutado com a rotação do rotor, tomando o sentido
positivo ou negativo dependendo do par de saliências com que o rotor se encontra alinhado. Esta
comutação de sentidos pode ser verificada na Figura 23 onde se posiciona o rotor a -45º, a 0 e a 45º
em relação à referência definida na Figura 23.
30
Figura 23- Sentido do fluxo magnético para -45º, 0º e 45º.
3.1. Estudo Electromagnético
Recorrendo aos resultados do Capitulo 2, facilmente se desenvolve o modelo em circuitos
necessário para uma simulação do comportamento electromagnético desta nova topologia. Para
averiguar qual a influência que a dispersão magnética na máquina tem sobre o seu comportamento
electromecânico, simulou-se a máquina recorrendo a um programa de cálculo 2D por elementos
finitos (FEMM). Tomaram-se como referencia as dimensões referidas na Tabela 5. Para a simulação
com o modelo em circuitos apenas se consideraram as dimensões dos magnetos permanentes visto
que nela se desprezam as perdas no ferro e os efeitos de dispersão.
Tabela 5-Dimensões da topologia da máquina de 4/2 saliências
Comprimento do magneto 16 mm
Largura do magneto 5.2 mm
Comprimento Axial 18 mm
Campo Magnético Remanescente
(magnéto permanente NdFeB)
1,4 T
1114084 A/m
Diâmetro Externo do Estator 64 mm
Diâmetro Interno do Estator 32 mm
Diâmetro Externo do Rotor 30 mm
Dimenção Lc 4 mm
Dimenção Ld 8 mm
31
Recorrendo então ao modelo em circuitos da máquina mostra-se na Figura 24(a) a evolução
em vazio do fluxo ligado e na Figura 24 (b) o binário aplicado em função da posição angular do rotor.
a)
b)
Figura 24- a) Fluxo ligado. b) Binário.
Tal como na primeira máquina estudada (Capítulo 2), o binário pulsante obtido é resultante das
forças de relutância que são exercidas sobre o rotor que o levam a alinhar com cada um dos pares de
saliências.
Recorrendo agora ao modelo da máquina efectuado por elementos finitos no FEMM, simulou-se a
mesma máquina usando as dimensões definidas na Tabela 5. Na Figura 25, traçado a cinzento,
representa-se a secção S onde é obtido o fluxo magnético que será equivalente ao fluxo ligado que
atravessará uma espira.
-180-150-120 -90 -60 -30 0 30 60 90 120 150 180-4
-2
0
2
4x 10
-4
Ângulo (graus mecânicos)
Flu
xo lig
ado (
Wb)
-180-150 -120 -90 -60 -30 0 30 60 90 120 150 180-4
-2
0
2
4
Ângulo (graus mecânicos)
Bin
ário (
N.m
)
32
Figura 25- Modelo 2D da máquina de relutância com magnetos permanentes de topologia 4/2
utilizado no FEMM.
Na Figura 26 (a) e (b) representa-se a evolução do fluxo ligado e do binário obtido através do
tensor de maxwell.
a)
b)
Figura 26- a) Fluxo ligado. b) Binário.
-180 -150 -120 -90 -60 -30 0 30 60 90 120 150 180-0.4
-0.3
-0.2
-0.1
0
0.1
0.2
0.3
0.4
Ângulo (graus mecânicos)
Bin
ário (
N.m
)
33
Apesar do fluxo gerado pelos magnetos ser um pouco superior comparativamente ao fluxo
gerado na simulação do modelo estilizado, devido à dispersão magnética que permite uma redução
da relutância magnética equivalente do circuito magnético, o fluxo magnético que atravessa
transversalmente a espira é muito inferior. Como se verifica na Figura 27, esta redução do fluxo
ligado deve-se à saturação magnética nas saliências e também às fugas magnéticas que levam a que
o fluxo magnético não percorra o caminho prendido.
Figura 27- Representação das densidades fluxo.
Na Figura 28 apresenta-se uma representação do circuito magnético da máquina onde são
retratadas as relutâncias associadas às fugas magnéticas. O fluxo ligado que atravessará a espira
percorre o elemento “ferro rotor” representado no circuito cinza, o fluxo associado à dispersão
magnética é representado pelos circuitos a preto. O elemento “dispersão1” representa a relutância
magnética do fluxo que se fecha pelo ar nas proximidades do magneto. O elemento ”dispersão2”
representa a relutância associada ao fluxo que se fecha pelo ar entre as saliências que ladeiam o
magneto. Por último, o elemento ”dispersão3” que representa o fluxo magnético que passa
parcialmente o rotor mas que se fecha pela saliência que ladeia o magneto.
34
Ríman
Rdispersão1
Rsaliência 1
Rsaliência 3
Rferro estator
Rintervalo de ar
Rintervalo de ar
Rferro rotor
Rsaliência 2
Rdipersão 2
Rdipersão 3
a)
Figura 28- Representação do circuito magnético da máquina onde são retratadas também as relutâncias
associadas às fugas magnéticas.
Obteve-se o modelo estilizado para esta nova topologia recorrendo ao modelo desenvolvido no
Capitulo 2. A Figura 29 (a) mostra uma simulação temporal de cada componente do fluxo magnético,
da força electromotriz induzida (Figura 29 (b)), da corrente na carga (Figura 29 (c)), e o respectivo
binário aplicado quando se impõe uma frequência de rotação de 3000 rpm (Figura 29 (d)). As
dimensões são aquelas listadas na Tabela 5 onde, para uma melhor exposição dos resultados
obtidos, se consideraram 30 espiras no enrolamento do induzido.
Considerou-se que o gerador está ligado a uma carga RL de 0,2 Ω e 0.1 mH e um tempo de
simulação correspondente a dois períodos mecânicos. Os valores da frequência de rotação e de
carga RL atribuídos foram arbitrados tento em atenção a apresentação das formas de onda da força
electromotriz e do binário, para que os seus extremos não atinjam valores muito elevados. Uma vez
mais se verifica que o funcionamento em carga não atenua o binário pulsatório em vazio. A Figura 29
(d) mostra que o binário contrário ao movimento é intensificado enquanto o favorável é atenuado.
Este fenómeno justifica-se, tal como no modelo anterior no Capítulo 2), pela influência da
componente do fluxo magnético com origem na corrente na carga e que se encontra desfasado de -
90º em relação ao fluxo de excitação com origem nos magnetos permanentes, como mostra a Figura
29 (a). Esta figura mostra que o fluxo com origem na corrente da carga atenua o fluxo magnético que
atravessa o rotor nos instantes de tempo em que este se desloca no sentido do alinhamento com a
saliência, atenuando também o binário que é aplicado no sentido favorável ao movimento durante
esse período de tempo como mostra a Figura 29 (d). Por outro lado, nos instantes de tempo em que o
35
rotor se afasta do alinhamento com saliência do estator, o fluxo que atravessa o rotor é intensificado
pela corrente de carga, aumentando assim o binário que é aplicado de sentido contrario ao do
movimento.
Em carga, a evolução do binário resultante aplicado no veio do gerador mantém a sua
característica pulsante. No entanto, o seu valor médio é agora diferente de 0 (Figura 29 (d)). Note-se
entretanto que se este binário pulsante é por um lado indesejável para a integridade física da
máquina, por outro é essencial haver um valor médio não nulo para que haja conversão
electromecânica de energia. A simulação apresentada na Figura 29 (d) mostra um valor médio de
binário igual a .
a) b)
c) d)
Figura 29- a) Fluxos. b) Força electromotriz. c) Corrente de carga d) Binário (Condições de simulação: frequência
de rotação de 3000 rpm; carga RL de 0,2 Ω e 0.1 mH)
0 0.01 0.02 0.03 0.04-0.015
-0.01
-0.005
0
0.005
0.01
0.015
Tempo (segundos)
Flu
xo (
Wb)
Fluxo total.
Fluxo com origem na corrente.
Fluxo de excitação.
0 0.01 0.02 0.03 0.04-10
-5
0
5
10
Tempo (segundos)
Forç
a e
lectr
om
otr
iz (
V)
0 0.01 0.02 0.03 0.04-40
-20
0
20
40
Tempo (segundos)
Corr
ente
em
Carg
a (
A)
0 0.01 0.02 0.03 0.04-6
-4
-2
0
2
4
Tempo (segundos)
Bin
ário (
N.m
)
36
3.1.1. Características electromecânicas: binário-velocidade e potência-velocidade
Obtiveram-se também as características binário-velocidade (Figura 30 (a)) e potência-velocidade
(Figura 30 (b)) para esta máquina. Note-se que apesar de ser uma máquina com topologia 4/2, as
características são idênticas àquelas observadas na máquina de 2 saliências (Figura 16 e Figura 17).
Para valores de frequência rotacional baixos tanto a evolução do binário médio-velocidade como a
evolução do potência-velocidade apresentam uma relação linear. O aumento da frequência rotacional
conduzirá a um aumento da reactância que por sua vez fará com que a corrente que circula na
resistência de carga resistiva diminua. A potência fornecida ao gerador estabilizará, enquanto o
binário médio é atenuado para valores de rotação elevados.
Começa-se por determinar a velocidade até onde a característica binário-velocidade apresenta um
comportamento aproximadamente linear e onde o binário máximo é atingido para uma determinada
carga RL (o calculo é descrito em detalhe em anexo). A expressão que estabelece esta velocidade
em função dos valores da carga é aquela indicada em (37). Esta foi obtida de modo analítico onde se
considerou a indutância da máquina invariante, a força electromotriz e corrente como sendo
grandezas alternadas sinusoidais (máquina síncrona comum) (31).
(31)
Na expressão (32) a potência aparente é obtida multiplicando a tensão complexa pela corrente
complexa conjugada , como o angulo de fase de é nulo (referência) será considerado apenas o
seu valor eficaz . Com recurso à expressão (31) obteve-se a expressão (33) que permite determinar
a corrente complexa em função do valor eficaz da força electromotriz . Na expressão (34) a
potência activa é igual à componente real da potência aparente fornecida ao circuito eléctrico, da
expressão da potência activa obteve-se a expressão do binário electromagnético médio entregue ao
veio da máquina (35). Os valores da velocidade de rotação do veio para o qual o binário
electromagnético é máximo, obtêm-se derivando a expressão do binário electromagnético (35) e
igualando-o a 0 na expressão (36) (
). Como resultado obtêm-se a expressão (37) que
estabelece esta velocidade em função da carga. Apesar das aproximações consideradas a expressão
é valida, no entanto, não se passa o mesmo na máquina de duas saliências estudada anteriormente
dada a natureza intermitente da força electromotriz e corrente que nela se obtém.
(32)
( )
( ( )
)
(33)
37
( ( ) )
(34)
( ( )
)
( ( )
)
(35)
(
( ( )
))
( ( )
)
( ( )
)
(36)
(37)
a)
b)
Figura 30- a) Binário em função da velocidade de rotação (RPM), b) Potência mecânica entregue ao veio do gerador , neste caso igual à potência consumida pela componente resistiva da carga, em função da velocidade de
rotação (RPM).
0 1 2 3 4 5 6
x 104
-1.5
-1
-0.5
0
Velocidade de Rotação (RPM)
Bin
ário
(N
.m)
R= 0.1 ohm, L= 0.01mH
R= 0.2 ohm, L= 0.01mH
R= 0.4 ohm, L= 0.01mH
0 1 2 3 4 5 6
x 104
0
2000
4000
6000
8000
Velocidade de Rotação (RPM)
Potê
ncia
(W
)
R= 0.1 ohm, L= 0.01mH
R= 0.2 ohm, L= 0.01mH
R= 0.4 ohm, L= 0.01mH
38
3.2. Densidade de Perdas no Ferro
As densidades de perdas por efeito Joule no ferro devem-se à respectiva histerese magnética e
às correntes induzidas no ferro. Elas resultam das oscilações da densidade de fluxo magnético no
núcleo e podem ser estimadas recorrendo respectivamente às seguintes expressões:
(38)
Onde
δ= espessura das chapas ferromagnéticas
= densidade de fluxo máximo
f= frequência eléctrica
= constantes dependentes do volume do ferro e das suas características magnéticas.
= valor estimado que pode tomar valores de 1.5 a 2.5.
Numa máquina síncrona comum de excitação permanente no rotor como, por exemplo, aquela
representada na Figura 31, as perdas no ferro concentram-se essencialmente no circuito magnético
do estator, mais especificamente nas saliências, onde as densidades de fluxo magnético têm
amplitudes elevadas. As perdas no ferro dependem então da frequência eléctrica e do pico máximo
da densidade de fluxo. Nas máquinas síncronas a frequência eléctrica é-nos dada multiplicando a
frequência mecânica pelo número de pares de polos.
(39)
O número de fases ou o número de saliências do estator não influencia as frequências eléctricas. O
número de saliências poderá então influenciar quantitativamente as perdas apenas se a alteração da
estrutura conduzir a uma variação de volume da máquina ou a diferentes valores de densidades de
fluxo.
39
Figura 31- Representação das densidades de fluxo de uma máquina síncrona de excitação permanente com o
rotor posicionado em diferentes posições angulares.
Na máquina em estudo, é nas saliências e no rotor que ocorrem as maiores oscilações de
densidade de fluxo magnético devido à concentração de fluxo nas saliências, levando o ferro à
saturação magnética nas situações de alinhamento do rotor. No rotor, o fluxo magnético é ainda
levado a inverter a sua direcção em função da sua posição angular, como se pode verificar na Figura
32. Como tal as perdas no ferro concentram-se principalmente nas saliências do estator e no rotor.
A frequência de oscilação do campo magnético no induzido (frequência eléctrica) é dada pela
multiplicação da frequência mecânica com o número de saliências do rotor (a máquina em estudo tem
duas saliências no rotor).
(40)
40
Figura 32- Representação das densidades de fluxo de uma máquina de comutação com magnetos permanentes
no estator com o rotor posicionado em diferentes posições angulares.
Recorrendo às relações (38) verifica-se que, comparativamente a uma máquina síncrona de
excitação permanente de um par de polos, da mesma dimensão e para os mesmos valores de
indução magnética, estima-se que a densidade de perdas por histerese serão duas vezes superiores
e as perdas por correntes induzidas quatro vezes superiores pois a frequência dobra.
Ao contrário da máquina síncrona com magnetos permanentes no rotor, as máquinas
eléctricas de comutação de fluxo podem apresentar perdas por efeito Joule significativas devido ao
fenómeno de histerese nos magnetos permanentes situados no estator. O fluxo magnético foi obtido
nas duas secções indicadas na Figura 32, onde na recta a preto se mede o fluxo que atravessa o
magneto e na recta a cinzento o fluxo que atravessa a secção transversal da espira.
41
Figura 33- Representação de uma máquina de comutação de fluxo com magnetos permanentes no estator com a
indicação das secções de medição do fluxo magnético: magneto permanente e através do enrolamento.
As perdas de joule nos magnetos permanentes são devidas à variação da relutância do circuito
magnético que fará oscilar o fluxo que atravessa os magnetos e também estão associadas ao fluxo
que se introduz no circuito magnético gerado pelas correntes do enrolamento que alimenta a carga.
Para quantificar essas perdas realizaram-se simulações da evolução do fluxo ao longo do circuito
magnético.
Simulou-se inicialmente a máquina em vazio onde apenas se observa o efeito da variação da
relutância magnética. A Figura 34(a) mostra o gerador eléctrico numa evolução mecânica e
respectiva distribuição da densidade de fluxo magnético para várias posições do rotor. A Figura 34(b)
revela a evolução do fluxo em cada uma das secções indicadas: no magneto permanente e na espira
como indicado na Figura 33. O mais significativo é o fluxo magnético que atravessa a secção
transversal do magneto varia entre um mínimo de 2,3× a 2,5× Webers o que representa uma
variação de aproximadamente 8% entre o valor máximo e mínimo em relação ao valor médio. Esta
oscilação do fluxo magnético no magneto ocorre devido à variação da relutância magnética na
máquina, dando origem a perdas por efeito Joule devido ao fenómeno de histerese presente no
magneto.
42
(a)
(b)
Figura 34- (a) Representação da distribuição da densidade de fluxo magnético de uma máquina de comutação de
fluxo com magnetos permanentes no estator com o rotor posicionado em diferentes posições angulares (com o
induzido em aberto). (b) Representação do fluxo magnético que atravessa o magneto permanente (preto) e
representação do fluxo que atravessa a secção transversal da espira (com o induzido em aberto).
-180 -150 -120 -90 -60 -30 0 30 60 90 120 150 180-3
-2
-1
0
1
2
3
4x 10
-4
Ângulo [graus mecânicos]
Flu
xo [
Wb]
43
Numa segunda simulação, o gerador eléctrico alimenta uma carga. A simulação desta carga no
modelo de elementos finitos da máquina é realizada através da disposição de uma corrente eléctrica
a circular no enrolamento. A corrente aplicada será sinusoidal e a sua amplitude máxima deverá ser
suficientemente elevada para que o rotor fique magneticamente saturado, simulando assim o pior
caso,uma sobrecarga. A amplitude máxima arbitrada para a corrente será a corrente equivalente que
seria necessária aplicar a duas bobinas enroladas sobre os dois magnetos permanentes para anular
totalmente o seu campo magnético (41).
(41)
Quanto à fase da corrente aplicada, considerou-se uma desfasagem de -90º em relação à
evolução do fluxo com origem no magneto, que é próxima da desfasagem que se verificaria caso a
máquina alimenta-se uma carga essencialmente resistiva. Essa desfasagem de -90º devesse à
relação entre fases da força electromotriz induzida e do fluxo magnético ligado com o enrolamento.
Representa-se nas Figura 35 (a) e (b) os resultados da simulação efectuada com a máquina
alimentada por uma corrente desfasada de -90º, ou seja, uma carga resistiva
A Figura 35 (b) mostra a evolução do fluxo magnético que atravessa a secção transversal do
magneto e varia entre um mínimo de 1.9× a 2.64× Webers o que representa uma variação
de aproximadamente 28% entre o valor máximo e mínimo em relação à média. A curva relativa ao
fluxo que atravessa a secção transversal da espira mostra já o efeito da saturação magnética a
deformar ainda mais o fluxo, o efeito da saturação terá como consequência o aparecimento de uma
3º harmónica no respectivo conteúdo harmónico da onda. Nesta simulação o fluxo com origem na
corrente toma valores extremos nas posições em que o rotor não se encontra alinhado com as
saliências e onde a relutância é máxima.
44
(a)
(b)
Figura 35- (a) Representação das densidades de fluxo de uma máquina de comutação com magnetos
permanentes no estator com o rotor posicionado em diferentes posições angulares (corrente desfasada de -90º). (b)
Representação do fluxo que atravessa o magneto (preto) e representação do fluxo que atravessa a secção transversal
da espira (corrente desfasada de -90º).
-180 -150 -120 -90 -60 -30 0 30 60 90 120 150 180-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
3
4
5x 10
-4
Ângulo [graus mecânicos]
Flu
xo [
Wb]
45
Considerou-se também uma desfasagem de -180º, que é próximo da desfasagem entre a
corrente e o fluxo que se obteria caso a máquina alimenta-se uma carga essencialmente indutiva.
Representam-se nas Figura 36 (a) e (b) os resultados da simulação efectuada com a máquina
alimentada por uma corrente desfasada de -180º.
O fluxo que atravessa a secção do magneto é representado na Figura 36 (b) e varia entre um
mínimo de 1.6× a 2.4× Webers, o que representa uma variação de aproximadamente 33%
entre o valor máximo e mínimo em relação à média. Nesta simulação apesar do fluxo com origem na
corrente tomar valores extremos nas posições de alinhamento do rotor com as saliências, verifica-se
nas posições 45º e 135º da Figura 36 b) que este fluxo fecha as suas linhas de campo em torno dos
condutores.
Conclui-se então que as perdas de histerese no magneto permanente podem ter um peso
significativo nas perdas da máquina, tomando maior significado quando a máquina se encontra a
alimentar grandes cargas que exijam correntes elevadas. Parece não existir, no entanto, perigo de
desmagnetização dos magnetos permanentes em casos de sobrecarga. O fluxo com origem na
corrente e que é suficientemente elevado para saturar magneticamente o rotor, reparte-se em
paralelo atravessando ambos os magnetos. Por esse motivo e pelo facto de própria saturação do
ferro limitar o fluxo que atravessa o rotor, os magnetos permanentes não correm perigo de
desmagnetização por via de sobrecargas.
46
(a)
(b)
Figura 36- (a) Representação das densidades de fluxo de uma máquina de comutação de fluxo com magnetos
permanentes no estator com o rotor posicionado em diferentes posições angulares (corrente desfasada de -180º).
Representação do fluxo que atravessa o magneto (preto) e representação do fluxo que atravessa a secção transversal
da espira (corrente desfasada de -180º).
-180 -150 -120 -90 -60 -30 0 30 60 90 120 150 180-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
3
4
5x 10
-4
Ângulo (graus mecânicos)
Flu
xo (
Wb)
47
3.2. Análise de Algumas Soluções Construtivas para uma Atenuação dos Efeitos do
Binário Pulsante
O binário pulsante que surge devido às oscilações de relutância é um binário indesejável que
provoca desgaste e ameaça a integridade física da máquina e do que lhe está acoplado. A diminuição
dos efeitos negativos destas forças representa um aumento do tempo de vida útil do material
magnético e não só, além de uma diminuição dos custos de manutenção. Existem várias soluções
construtivas que permitem atenuar o binário pulsante e consequentemente os seus efeitos negativos.
De salientar que em todas essas soluções estão associados custos de desempenho que devem ser
tidos em conta na ponderação da sua aplicação. Nesta secção serão analisadas apenas as soluções
que conduzem a um aumento da frequência do binário pulsante. Esse binário de frequência superior
não é tão nocivo para a estrutura da máquina, sendo assim mais facilmente atenuado pelo momento
de inércia do veio.
3.2.1. Máquina Trifásica: Três Máquinas de Comutação de Fluxo Acopladas
Com o objectivo de atenuar os efeitos negativos do binário pulsante, resolveu-se estudar uma
solução trifásica. Pretende-se com esta solução a substituição de uma máquina, por máquinas de
menor dimensão e que no seu total produzam a mesma potência. Três máquinas idênticas serão
acopladas no mesmo veio, cujos estatores são posicionados desfasados 120º, como ilustra a Figura
37. Os rotores, por outro, lado não possuem desfasamento entre eles, encontrando-se direccionados
do mesmo modo.
N S
N S
Figura 37- Estatores orientados segundo o eixo magnético a 0º, -120º e a 120º.
Na Figura 39-8 é feita uma análise das harmónicas que constituem o binário em vazio de apenas
uma máquina do conjunto trifásico. A Figura 39- mostra o conteúdo harmónico resultante agora das 3
máquinas acopladas e desfasadas de 120º.
48
a) b)
Figura 38- Evolução do binário trifásico e respectivos conteúdos harmónicos (fundamental de 200 Hz).
a) b)
Figura 39-Evolução do binário trifásico e respectivos conteúdos harmónicos (fundamental de 600 Hz).
Como se verifica pelos resultados a amplitude, das aquando das 3 máquinas é semelhante ao
obtido na máquina simples devido ao aumento da sua frequência. Sabendo que o rotor foi colocado a
rodar a uma frequência de 50 Hz e o estator é constituído por 4 saliências, a frequência da harmónica
fundamental da máquina simples em vazio será 200 Hz. Na máquina trifásica a fundamental do
binário terá uma frequência 3 vezes superior (600 Hz).
Pretendo com esta solução a substituição de uma máquina por máquinas de menor dimensão
que produzirá a mesma potência, averiguar-se a sua viabilidade recorrendo às leis de semelhança [3]
Na relação de proporcionalidade (42) considera-se que a potência nominal da máquina é
proporcional a , sendo uma dimensão linear característica. É possível achar a relação entre uma
solução de potência e módulos de potência ⁄ através da expressão (44), verifica-se que
0 0.01 0.02 0.03 0.04-3
-2
-1
0
1
2
3
Tempo (segundos)
Bin
ário (
N.m
)
0 1 2 3 4 50
0.5
1
1.5
2
Frequência Fundamental
Db
0 0.005 0.01-3
-2
-1
0
1
2
3
Tempo (segundos)
Bin
ário (
N.m
)
0 1 2 3 4 50
0.5
1
1.5
2
2.5
Frequência Fundamental
Db
49
essa divisão se traduz numa divisão na dimensão linear por , resultando assim numa nova
dimensão linear (44). De forma a manter a potência do conjunto constante, sabendo que o volume da
máquina é proporcional a e recorrendo à nova dimensão linear obtida ( ⁄ ), facilmente se
obtém que a relação de proporcionalidade do volume de cada modulo (45) e relação de
proporcionalidade do volume total do conjunto de módulos(46). Como tal o volume e o peso total
da máquina será proporcional a
, o que no caso da solução trifásica apresentada representa um
aumento de peso de 30% das dimensões da máquina.
(42)
(43)
(44)
(45)
(46)
O rendimento da máquina depende das perdas do circuito eléctrico que se representam pelas
perdas de joule e perdas magnéticas, que inclui as perdas de histerese e as perdas por
correntes parasitas . Recorrendo à dimensão linear ⁄ obteve-se a relação proporcional
destas perdas para um modulo e m módulos. Como se verifica pelas relações (47) e (48) tanto as
perdas de Joule como as perdas de histerese sofreriam um aumento de 30%. As perdas de Foucault
que respeitam a relação (49) sofreriam um aumento de 120%. Conclui-se que esta solução apresenta
inconvenientes que estão relacionados com o aumento de dimensão e consequentemente aumento
de peso e degradação de rendimento.
50
(
)
(47)
(
)
(48)
(
)
(49)
3.2.3. Modelo da Máquina Eléctrica Comutação de Fluxo com Magnetos Permanentes no
Estator de 6/5 Saliências
Uma outra forma de aumentar a frequência do binário é aumentar o número de saliências do
estator e/ou do rotor. Apresenta-se uma solução construtiva idêntica onde se aumenta o número de
saliências do estator e do rotor e se encurta os caminhos de condução do fluxo [1] na Figura 39:
51
Figura 40- Exemplo de modelo de máquina de comutação de fluxo com magnetos permanentes no estator.
Máquina de Comutação de Fluxo de 12/10 Saliências
A máquina em estudo possui um estator de 6 saliências e um rotor de 5 saliências. No estator
cada saliência possuí um magneto permanente de secção transversal idêntica às secções metálicas
que constituem as saliências e os entreferros que as separam. As saliências do rotor encontram-se
desfasadas 72º e possuem a mesma secção transversal dos constituintes das saliências do estator.
Na Figura 41 representa-se modelo desta máquina analisada no programa FEMM.
Figura 41- Modelo de máquina de comutação de fluxo de ímanes permanentes.
Para se encontrar o número de períodos do binário pulsante recorreu-se à seguinte equação
(50).
(50)
52
Onde MDC significa o maior divisor comum entre o número de saliências do estator e o número de
saliências do rotor . O angulo mecânico correspondente a cada período é obtido a partir de (51).
(51)
Se se considerar uma determinada frequência de rotação , a frequência do binário pulsante é-
nos dada por (52).
(52)
Na simulação realizada na Figura 42 recorreu-se ao método do tensor de maxwell para se obter o
binário aplicado sobre o rotor para várias posições angulares.
Figura 42- Representação das densidades de fluxo da uma máquina de comutação de fluxo de 6/5 saliências.
A evolução do binário pulsante aplicado no rotor e respectiva análise de conteúdo harmónico é
representado na Figura 43. Na análise do conteúdo harmónico é identificada a fundamental cuja
frequência do binário pulsante é coincidente com a frequência obtida na expressão (46), onde por
cada período completo de rotação do rotor o binário pulsante terá 30 períodos.
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a)
b)
Figura 43- a) Evolução do binário pulsante b) Representação do conteúdo harmónico.
Na Figura 44 comparam-se as duas estruturas de máquinas de comutação de fluxo [5]. A primeira
com um estator de 6 saliências no estator e 5 saliências no rotor, a segunda de 12 saliências no
estator e 10 saliências no rotor.
-180 -150 -120 -90 -60 -30 0 30 60 90 120 150 180-1
-0.5
0
0.5
1
Ângulo (graus mecânicos)
Bin
ário (
N.m
)
0 1 2 3 4 5 60
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
Frequência Fundamental
Db
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Figura 44- Representação de uma máquina de comutação de fluxo de 6/5 saliências e 12/10 saliências.
Ao contrário da máquina síncrona de magnetos permanentes no rotor, neste tipo de máquinas
para que haja um bom aproveitamento do ferro o aumento de fases exige também um aumento do
número de saliências do rotor. As frequências eléctricas são-nos dadas pela relação (35) e
recorrendo às proporcionalidades descritas em (42) e (43) das perdas de histerese e das perdas de
Focault, faz-se uma análise comparativa das perdas no ferro na Tabela 6 das máquinas de 6/5 e
12/10 saliências em relação à máquina síncrona de excitação permanente no rotor de um polo.
Tabela 6- Tabela comparativa das topologias de 6/5 e 12/10 saliências.
6/5 Saliências 12/10 Saliências
5 vezes superior 10 vezes superior
5 vezes superior 10 vezes superior
25 vezes superior 100 vezes superior
Os inconvenientes desta solução de aumento do número de saliências, estão relacionados com o
aumento da complexidade do estator e com o aumento das perdas no ferro, principalmente aquelas
devido às correntes turbilhonares, pois são proporcionais ao quadrado da frequência eléctrica. Esta
máquina é assim pouco adequada a soluções que exijam grandes frequências de rotação.
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4. Conclusões e Perspectivas Futuras
4.1. Conclusões
Verificou-se a conversão electromecânica de energia das máquinas de relutância magnética com
magnetos permanentes no estator, usualmente denominadas de comutação de fluxo, concluindo-se
que os binários pulsantes que são característicos desta a operar em vazio, quando em carga são
intensificados. Esse binário pulsante em carga, indesejável para a integridade física da máquina
revela-se essencial para a conversão electromecânica de energia.
As soluções estudadas de atenuação do binário pulsante pelo aumento da sua frequência não
solucionam totalmente o problema, apenas atenuam os efeitos negativos deste binário sobre a
estrutura física da máquina. Estas apresentam ainda inconvenientes que importam considerar. A
solução da repartição da máquina por módulos conduz a um aumento de dimensão e consequente
aumento de peso e perdas no ferro e no cobre. A solução de aumento do número de saliências
conduz a um aumento da complexidade construtiva e a um aumento de perdas no ferro devidas às
correntes turbilhonares.
Este tipo de máquinas é adequado em aplicações que exijam um gerador barato, simples e
robusto mas que por outro, não se exija um tempo de vida demasiado longo para que os efeitos
negativos dos binários parasitas se façam reflectir na estrutura física do equipamento.
4.2. Perspectivas Futuras
Para trabalhos futuros deverá procurar-se outras formas de atenuar a intensidade dos binários
pulsantes, ou de minimizar os seus efeitos negativos. As possibilidades topológicas são inúmeras, e
com pequenas alterações pode-se conseguir melhorias significativas. Por exemplo:
“Skew Effect”- É a solução mais comum de atenuação de binário pulsante nas máquinas
de relutância magnética variável. Consiste em sua em suavizar as variações de relutância
através do “entrelaçamento” das saliências do rotor [8].
Abaulamento das saliências do rotor. Alterando a distância do entreferro entre as
saliências do estator e do rotor através de um abaulamento da superfície da secção de
condução de fluxo da saliência do rotor. Garante-se que assim variações de relutância
mais suaves [8].
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Figura 45- Abaulamento das saliências do rotor.
O controlo das correntes do induzido com recurso a electrónica de potência pode também ser
uma opção. Quando em carga, o binário pulsante atinge valores de pico elevados devido ao fluxo
gerado pelas correntes que se adicionam ao fluxo de excitação, intensificando o binário pulsante que
é característico da máquina em vazio. Limitando a corrente de carga nos períodos de maior
intensidade pode-se conseguir uma redução das amplitudes máximas do binário pulsante e assim um
melhoramento.
Todas estas soluções acarretam efeitos secundários negativos, sendo o mais relevante o
deterioramento da performance da máquina.
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Referências
[1] S. E. Rauch and L. J. Johnson, “Design principles of flux-switching alternators”
[2] António Dente, “Calculo das Forças Electromagnéticas Modelos Dinâmicos”
[3] António Dente, “Leis de Semelhança”
[4] Y. Chen1, S. Chen2, Z. Q. Zhu1, D. Howe1, and Y. Y. Ye2, “Starting Torque of Single-Phase
Flux-Switching Permanent Magnet Motors”
[5] Y. Wang, Z. W. Huang, J. X. Shen, and C. F. Wang, “Comparison and Study of 6/5- and 12/10-
Pole Permanent Magnet Flux-Switching Motors Considering Flux-Weakening Capability”
[6] Nicola Bianchi, Silverio Bolognami, “Design Techniques for Reducing the Cogging Torque in
Surface-Mounted PM Motors”
[7] Wei Hua, Ming Cheng, “Cogging Torque Reduction of Flux-Switching Permanent Magnet
Machines without Skewing”
[8] Yu Wang, Jianxin Shen, Weizhong Fei, Zongxi Fang, “Reduction of Cogging Torque in
Permanent Magnet Flux-Switching Machines”