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Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia - ITGT Curso de Pós-Graduação Lato Sensu com vistas a Especialização na Abordagem Gestáltica Cancela da Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC-GO O Habitar da Pessoa Idosa numa Instituição de Longa Permanência: uma perspectiva da abordagem gestáltica Bárbara Spenciere de O. Campos Dra.Virgínia E. Suassuna Martins Costa Goiânia Novembro de 2010

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Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia - ITGT

Curso de Pós-Graduação Lato Sensu com vistas a Especialização na Abordagem

Gestáltica

Cancela da Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC-GO

O Habitar da Pessoa Idosa numa Instituição de Longa

Permanência: uma perspectiva da abordagem

gestáltica

Bárbara Spenciere de O. Campos

Dra.Virgínia E. Suassuna Martins Costa

Goiânia

Novembro de 2010

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Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia

Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em nível de especialização em Gestalt-terapia

O Habitar da Pessoa Idosa numa Instituição de Longa

Permanência: uma perspectiva da abordagem

gestáltica

Bárbara Spenciere

Virgínia E. Suassuna Martins Costa

Goiânia

Novembro de 2010

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O Habitar da Pessoa Idosa numa Instituição de Longa Permanência: uma

perspectiva da abordagem gestáltica 1

Bárbara Spenciere2

Virgínia E. Suassuna Martins Costa3

Resumo:

Frente ao processo de envelhecimento populacional, a internação em uma instituição de

longa permanência vem sendo a opção da família ou do próprio idoso(a). Nesse sentido

o estudo do espaço vivido pela pessoa idosa em uma instituição de longa permanência

para idosos, mostrou-se de suma importância. Para tanto, essa pesquisa buscou

compreender a vivência do envelhecente em habitar uma ILPI. Utilizou-se a

metodologia de pesquisa fenomenológica para acessar os dados colhidos nas entrevistas

semi-dirigidas que eram compostas por duas perguntas norteadoras específicas do tema.

Evidenciou-se, diversas formas dos idosos se auto-regularem em suas relações com o

mundo circundante, próprio e humano ao habitarem uma ILPI.

Palavras-chave: Instituição de Longa Permanência para Idosos, Terapia Gestalt,

Envelhecimento.

Abstract:

Faced with aging population, need for a long-term care institution has been the choice

of family or elderly people. In this sense the study of the place experienced by the elderly

in a LTCI, was paramount. To that end, this research sought to understand the

experience of the elderly living in a LTCI. We used a phenomenological research

methodology to access the data collected in semi-directed interviews that were

composed of two mains questions specific theme. It was evident that various forms of

elderly self-regulate in their relations with the surrounding world, own and human when

inhabiting an LTCI.

Key-Words: Home for the aged, Gestalt therapy, Aging.

1 Trabalho apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de especialista em Gestalt-terapia

pelo Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia. 2 Psicóloga graduada pela PUC-Goiás, Assistente de Articulação do Projeto PLANTAR na PUC-Goiás,

Professora da UNATI – PUC-Goiás. 3 Psicóloga graduada pela USP, Professora da PUC-GO e fundadora, professora e supervisora do ITGT

(GO), Mestre em Psicologia pela PUC-GO e Doutora em Ciências da Saúde UnB/UFG-GO.

([email protected])

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Introdução

O interesse da autora pelo estudo da senescência existe desde 2008 com suas

pesquisas no Programa de Gerontologia Social da PUC-Goiás. Devido à motivação de

ampliar as pesquisas, somada às questões de caráter cultural e sociodemográficos que

permeiam essa categoria etária, fora decidido como objetivo do presente estudo

compreender a vivência dos idosos em habitar uma ILPI na cidade de Goiânia.

O olhar da abordagem gestáltica sob essa temática faz-se de suma importância,

uma vez que a sociedade caminha para um envelhecimento populacional e as produções

bibliográficas ainda são escassas, principalmente na abordagem em questão.

Durante a época moderna na sociedade ocidental, mais especificamente a partir

do século XIX, começou haver o surgimento de categorias etárias. Gradativamente,

peculiaridades entre as diferentes idades e hábitos, espaços e funções específicas a cada

grupo etário foram se estabelecendo (Silva, 2008).

A classificação por idade realizada por Philippe Ariès (1978) com o surgimento

da categoria infância foi um marco para as demais categorias que viriam a se instalar ao

longo do século XIX, se estabilizando no século XX. Dessa maneira, identidades etárias

foram se constituindo por meio de características próprias da etapa e da vivência de

„habitar‟ cada uma delas. Nesse contexto o grupo etário da velhice surge (Silva, 2008).

Idoso(a), de acordo com o dicionário Houaiss, é o velho, é aquele que tem muitos

anos de vida. Já o processo de tornar-se pessoa idosa, é a senescência. Para a

Organização Mundial de Saúde (OMS, 2010), a definição da idade que determina a

entrada na senescência é de 60 anos.

Beauvoir (1990) considera que a realidade da pessoa idosa não é a mesma em

todo local nem ao menos em toda história. Moreira e Nogueira (2008), por sua vez,

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complementam que, não obstante das outras faixas etárias da vida, a senescência é

marcada por características diferenciadoras no que tange ao tempo, ao espaço, às

vivências individuais, sociais e culturais do idoso.

De posse dessa opinião, vários estudos julgam necessária a contribuição e

atenção de diversas disciplinas para que se tenha uma visão com diferentes contornos e,

portanto mais completa, acerca do processo de envelhecimento (Koller (2004), Pavarini,

Mendiondo, Barham, Varoto & Filizola (2005), Pereira (2005), Moreira & Nogueira

(2008), Silva (2008)).

Estruturada na concepção da necessidade de um olhar múltiplo, buscou utilizar-

se de conhecimentos antropológicos, sociológicos, filosóficos e psicológicos acerca da

senescência para o embasamento teórico dessa pesquisa.

1- Antropologia e Sociologia

As diferentes culturas e épocas tem suas peculiaridades e até suas semelhanças

quando o tema é idoso. O contexto socioeconômico e cultural influencia na forma de ser

e de estar no mundo.

Moreira e Nogueira (2008) destacam que estudos transculturais referentes ao

envelhecer foram relevantes para que se visse a velhice e o envelhecer, não só como

fenômeno biológico e natural, mas, a partir de uma perspectiva cultural em que se

vislumbra diferentes concepções acerca da terceira idade.

Algumas sociedades, como exemplo as orientais, os idosos(as) são respeitados

pelos conhecimentos que adquiriram no decorrer de suas vidas. Diferente do que ocorre

nas sociedades ocidentais as quais são centradas na produção e dinamicidade. Nestas, a

pessoa idosa, por não ser mais nem um produtor de bens nem um consumidor em

potencial, perde seu valor social, se torna descartável e é excluído. Visão corroborada

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por Haddad (1986), Bosi (1994), Sousa (2004), Moreira e Nogueira (2008) e Silva

(2008).

De acordo com Negreiros (2003), no ocidente vê-se o processo de

envelhecimento como ligado a efeitos indesejáveis decorrentes da passagem do tempo,

sendo raras as situações em que o envelhecer é relacionado a conquista de características

positivas, sabedoria e virtude como acontece no oriente.

Augras (2002), por sua vez, ao questionar se a velhice é decadência ou sabedoria,

argumenta que essa questão será respondida em função do julgamento social. Beauvoir

(1990) acredita que quando esse olhar social é de inferiorizar a pessoa, ela começa a se

sentir como tal e, na busca de fugir, não assumem a real idade, assumindo-se mais

jovens ou até, em alguns momentos, doentes.

Uma outra consequência dessa visualização da sociedade para o idoso, é a de se

sentir velho sem nem ao menos ter vivenciado, muitas vezes, as mudanças advindas da

idade. Beauvoir (1990) metaforicamente exemplifica com a seguinte frase:

“interiormente, não adere à etiqueta que se cola a ele: não sabe mais quem é” (p.358).

Direcionando o olhar especificamente à sociedade brasileira, Moreira e Nogueira

(2008) realizaram uma pesquisa fenomenológica em que buscaram compreender a

experiência de envelhecer nesse contexto. Concluíram que a velhice é vivida de forma

ambígua, com uma tendência maior ao negativo, uma vez que, os valores

socioeconômico e culturais valorizam aquilo que é novo e o que é velho é normalmente

estigmatizado.

Em um âmbito jurídico, o desinteresse e a não atenção da sociedade à pessoa

idosa também são destacados. Pode ser notoriamente exemplificado, através da

diferença de 13 anos entre as datas de criação do Estatuto da Criança e do Adolescente e

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a do Estatuto Idoso. Sanches, Lebrão e Duarte (2008) complementam que os estudos

acerca da violência contra a pessoa idosa só foram acontecer trinta anos após os da

violência infantil. Fica nítido que a preocupação com o idoso está sempre a posteriori.

2- Visão filosófica

Jaspers (2006) ressalta que o espaço e o tempo estão presentes na vivência do

indivíduo e não se ausentam. A temática do artigo em questão direciona-se para a

vivência do idoso em um espaço específico: uma instituição de longa permanência para

idosos. Nesse sentido, discorrer a respeito de como o espaço é vivido faz-se

imprescindível. Uma vez que o homem é um ser-no-mundo.

Augras (2002) referindo-se ao conceito heideggeriano de Dasein expressa a idéia

do filósofo que “o existir inclui o espaço, como inclui o mundo” (p.39). Silva (2007)

complementa que, pelo fato do Dasein existir, simplesmente, já cria um espaço onde ele

vive.

Ser-no-mundo é uma expressão utilizada por Heidegger (2008), que em sua

própria forma escrita entre hífens, evidencia uma noção de unidade homem-mundo.

Mundo este que tem como uma de suas significações; “o contexto „em que‟ uma

presença fática „vive‟ como presença” (p.112).

Binswanger (2004), por sua vez, acredita que ser-no-mundo é uma estrutura

originária e sempre total, não podendo ser dividida em elementos independentes.

Contudo, ressalta que pode ser descrita em momentos que a constituem; mundo

circundante, mundo humano e mundo próprio.

O primeiro é caracterizado por proporcionar o contato entre o corpo e o meio

externo, por exemplo, via dos órgãos dos sentidos. O ser humano habita no mundo que

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se abre em diversas possibilidades para ele. O homem, então, precisa adaptar-se e acaba

até mesmo por agir sobre este mundo (Forghieri,1993).

O homem se movimenta por si só nesse espaço, e, assim, se orienta no mesmo.

Portanto, o espaço é aberto para o homem e ele é o construtor das coisas (lugares) nesse

espaço (Forghieri, 1993). Porém, não se pode deixar de ressaltar que o homem e o

espaço se “co-pertencem” (Silva, 2007). Enfim, o homem se orienta no espaço, podendo

construí-lo.

A vivência do ser no espaço é referida por Forghieri (1993) como espacializar.

Ela não se limita ao tempo presente estar aqui, mas inclui ter estado acolá, passado, e

estar acolá, no futuro. As vivências do espaço e do tempo, portanto, se inter-relacionam,

visão corroborada por Silva (2007).

Dessa forma, temporalizar, que é a vivência do tempo cronológico, é outro

aspecto da vivência do ser-no-mundo e, segundo Forghieri (1993), a mais próxima do

existir. O tempo caminha independente da vontade humana com amplitudes e restrições.

Nele, o ser humano pode ultrapassar a situação momentânea e vivenciar inclusive sua

finitude.

Ao vivenciar o tempo, o ser humano encontra-se aberto e livre para escolher

dentre as possibilidades com as quais se depara. O ato de escolher está ligado ao tempo

passado, presente e a imprevisibilidade do futuro o que acarreta a decisão da escolha um

caráter de liberdade e também de responsabilidade (Forghieri, 1993).

Ainda no mundo circundante também ocorre o encontro com os outros uma vez

que é “a partir do mundo que a presença se mantém” (Heidegger, 2008, p.175). E, é a

partir desse mundo e da “co-presença dos outros”, vindas de distintas maneiras, que a

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presença se articula. Enfim, “o outro vem ao encontro em sua co-presença no mundo”

(p.176).

Heidegger (2008) enfatiza ainda que “o mundo da presença é sempre mundo

compartilhado com os outros. O ser-em é ser-com os outros” (p175). o que constitui o

mundo humano. Mesmo quando o ser está só, ele está-com. Assim, o espaço é vivido

com os outros, de uma maneira compartilhada.

O ser é constituinte do mundo e que o “ser-com constitui existencialmente o ser-

no-mundo” (Heidegger, 2008, p.177). Portanto, o homem existe em um espaço e está em

relação com os outros.

Finalmente, o mundo próprio constitui-se como outro aspecto do ser-no-mundo e

diz respeito à relação estabelecida consigo mesmo. Ao se relacionar com os outros e

com o mundo, ele atualiza suas potencialidades e reconhece-se enquanto si mesmo.

Nesse ser-si-mesmo, o homem transcende o aqui e agora e traz o passado e o futuro

(Forghieri,1993).

3- Visão Psicológica

Na contemporaneidade, a categoria etária da velhice passa a ser considerada

como terceira idade tendo uma nova concepção do velho que passa a ser denominado

„idoso‟, „jovem senhor‟ e não mais „velho‟. O surgimento da “identidade terceira-idade”

está ligada a questões contemporâneas (Silva, 2008 e 2009). Algumas características são

descritas como constituintes da identidade atual da terceira idade: individualidade, auto-

responsabilidade, flexibilidade e disposição a aprender, noção indefinida da real idade

ou ageless, ativo. Essas tendências estão presentes na experiência da terceira idade

contemporânea.

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Pereira (2005) ressalta que grande parte dos estudos acadêmicos acerca da

longevidade e envelhecimento estão nos âmbitos físicos e biológicos. Em contrapartida,

em sua pesquisa, mostra um olhar psicológico acerca do envelhecer, referindo-se a essa

faixa etária como multifacetária na medida em que algumas pessoas a vivenciam como

inquietante e penosa enquanto outras a encaram como rica e repleta de significados.

Nesse grupo etário, de acordo com, tem-se a presença de limitações físicas,

dores, perdas profissionais e pessoais, ameaça de doenças, aposentadoria, casamento de

filhos, pouca convivência social. Esses fatores produzem uma sensação de vazio e

inutilidade, e isso induz a momentos de reflexão sobre o envelhecimento e o sentido da

vida, o que gera uma necessidade de adaptação. (Portal e cols., 2002 e Bessa e Silva,

2008).

Negreiros (2003) de igual maneira, acredita que o envelhecimento leva o

indivíduo à busca de um sentido à sua própria vida. Enfatizando a necessidade da pessoa

idosa em integrar; passado, presente e futuro.

A terceira idade, segundo Bauman (2005), pode ser uma possibilidade de

responder pelos projetos de vida de maneira individual e até solitária, favorecendo o

engrandecimento da perspectivas de vida do senescente.

Entretanto, segundo Pereira (2005), sentimentos de incerteza e impotência

relacionados a possibilidades de perdas, morte e dependência são mais constantes nessa

etapa da vida.

3.1-Abordagem gestáltica e terceira-idade

O envelhecimento é um percurso de mudanças inerentes ao desenvolvimento do

ser humano, porém, cada um o vivenciará de maneira individual e singular, pois somos

seres únicos (Neri, 2001 e Koller, 2004).

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Na abordagem gestáltica o processo de envelhecer é também definido como um

processo repleto de mudanças gerais, em que se tem uma diminuição dos

comportamentos fluidos, da autonomia, da capacidade de reagir e recuperar de eventos

de stress, de um outro lado, maior vulnerabilidade devido a perdas e aproximação da

morte (Koller, 2004).

Para lidar com tantas mudanças, é importante que a pessoa idosa atualize suas

potencialidades. O impulso permanente que leva o homem a essa atualização, segundo

Ribeiro (1985), é a auto-regulação organísmica cujo movimento dá “duração e unidade à

vida” (p.107). A auto-regulação parte de um olhar total da funcionalidade do organismo

em que se privilegia as necessidades mais urgentes para serem satisfeitas, primeiramente

(Ribeiro, 2006).

O processo em que o indivíduo utiliza de sua espontaneidade para encontrar

formas, seja no ambiente ou em si mesmo, de se auto-regular é o ajustamento criativo.

Esse fenômeno pode ser tanto instintivo quanto instrumentalizado. Para se viver, é

preciso um movimento constante de ajustar-se criativamente (Ribeiro, 2006). De acordo

com Koller (2004), esse mecanismo surge a partir de uma necessidade e se dá na relação

do indivíduo com o meio.

Os ajustamentos criativos terão que ser realizados no envelhecimento de forma

gradual para os indivíduos poderem ressignificar suas experiências; aceitar e conviver

com limitações e transformações, frustrações, perdas, preconceitos, gestalten abertas,

pensamentos de inutilidade, abandono e solidão. Assim como, deixar de lado “máscaras

sociais” e evitar fugas ao passado e isolamento (Koller, 2004).

Tanto a auto-regulação organísmica quanto o ajustamento criativo acontecem em

um determinado tempo e espaço. Ribeiro (2006) conceitua como aqui e agora o processo

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em que essas duas instâncias estão em uma relação de interdependência, e não podem

ser pensada uma sem a outra. Ele destaca ainda que o ser humano está inserido em

ambos e que a maneira como ele vive essa inter-relação indica muito acerca de como

essa pessoa se organiza e se projeta para o futuro.

Koller (2004) afirma que o processo de envelhecer é construído a cada instante

no aqui e agora, com a auto-regulação organísmica, enfrentando as perdas que advém

com o passar dos anos e ressaltando os ganhos, auto-realização e o crescimento. O que

também evidencia a presença do ajustamento criativo.

Com relação à organização do indivíduo no tempo, Silveira (2008) afirma que a

velhice engloba todas as etapas da vida antes percorridas, suas perdas e ganhos. Essa

retrospectiva do que fora vivido, leva a uma aceitação do seu próprio ciclo de vida. De

uma outra perspectiva, pode-se perceber a existência de situações inacabadas e perdas,

não ressignificadas, que podem impedir seu “potencial criativo para seguir confiante”

(p.133). Pois, segundo Koller (2004), as vivências acumuladas no percorrer da vida

estarão refletindo de algum modo na pessoa idosa.

Além de o indivíduo se organizar na temporalidade, ele se ajusta em suas

relações nas quais acontece um contato entre os entes. Esse contato se dá nas fronteiras

de contato que cada indivíduo envolvido na relação possui. Elas são limitações

individuais (Polster & Polster, 2001) e é nelas que se assimila aquilo que é permissível a

si mesmo e a rejeita-se o que não é.

As características principais das fronteiras de contato referem-se à dialética da

união e separação e às suas especificidades. Estão subdivididas em cinco dimensões

segundo Polster & Polster (2001). A primeira, a fronteira do corpo refere-se ao contato

que o indivíduo tem com as sensações e funções corporais. A segunda, da familiaridade,

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é a fronteira que traça os limites entre aquilo que é familiar e o que é novo. A terceira,

do valor, destaca o limiar dos valores pessoais. A quarta, de expressão, ressalta a

fronteira da forma como se expressa sentimentos e pensamentos. E, por fim, a quinta, a

fronteira de exposição é o limiar de ser observado e reconhecido.

Para Silveira (2000 & 2008), grande parte dos trabalhos voltados para a terceira

idade colocam-no como pessoas ligadas a lembranças e recordações distantes do

presente, o que segundo a autora, é desatualizado. Para ela, os idosos(as) sofrem perdas,

se preocupam com doenças, estudam, namoram, passeiam, fazem atividades domésticas,

religiosas, culturais e até filantrópicas.

4. Integrando as visões

Silveira (2008) ressalta que um aspecto natural do desenvolvimento humano -

velhice – está inscrito no imaginário social de forma variada dependendo da história e

cultura da sociedade. O momento histórico atual nega o envelhecer, as perdas e cultiva

mais o ter e a aparência física. Isso “estraçalha a maneira da pessoa estar no mundo,

favorecendo a eclosão de doenças como pânico, depressão e toxicomanias que nada mais

são do que impossibilidades de um melhor ajustamento criativo ao ambiente” (p.133).

A respeito dessa relação ser-no-mundo, Silva (2007) comenta que ela é um

habitar pensado de uma forma essencial. É ao habitar que se tecem as teias de relação. O

ser-no-mundo é influenciado pela forma de habitar o mundo circundante, mundo

humano e o mundo próprio.

5. O espaço: ILPI

Desde os anos 70, segundo o Instituto de pesquisa econômica aplicada (2008), o

país vem enfrentando uma queda na taxa de natalidade e de mortalidade bem como

mudanças nas configurações familiares advindas da inserção maciça das mulheres no

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mercado de trabalho e o aumento da escolaridade das mesmas, o que acarretou uma

modificação no sistema de valores da sociedade. Todas essas mudanças enfraquecem os

cuidados intergeracionais, antes desempenhados pelas mulheres, e afeta diretamente o

cuidado para com o idoso.

Frente a essa realidade, o IPEA (2008) levanta a questão de que uma das

alternativas para provisão de cuidado ao idoso é a Instituição de Longa Permanência

para Idosos (ILPI) que se trata das antigas instituições asilares e têm como atividade o

cuidar do idoso, com algum grau de dificuldade em desempenhar as rotinas de vida

diária, com baixa renda e/ou aqueles idosos cuja família não tem condição psíquica,

financeira e até física de prestar os cuidados dos quais ele necessita.

Tier, Lunardi e Santos (2008), por sua vez, definem as ILPIs como

estabelecimentos que promovem atendimento integral a idosos, dependentes ou não, que

não tem condições de viver com a família ou em seu domicílio.

Um ponto a se destacar é que a residência de idosos em ILPI não é uma prática

comum na sociedade brasileira. Eles atribuem essa realidade por as instituições serem

poucas e de alto custo e pela sociedade ter o preconceito de que os idosos preferem ser

cuidados pela família. Em contrapartida a escassa oferta do serviço, o órgão responsável

pela pesquisa afirma ainda que a demanda por cuidados institucionais tende a crescer

(Pollo e Assis, 2008).

Creutzberg e cols. (2007) corroboram com o IPEA (2008) quando afirmam que

se tem uma tendência ao aumento na internação de idosos em ILPIs no Brasil. Eles

ressaltam também que existe um consenso em afirmar que essas instituições, além de

serem uma importante alternativa, são uma maneira de se garantir qualidade de vida a

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essa população. Todavia a questão levantada por eles é a qualidade do atendimento

oferecido por estas instituições.

Bessa e Silva (2008) afirmam que muitos idosos têm a chance de poder conviver

com seus familiares até o fim de suas vidas, porém outros têm que aprender a conviver

em Instituições de Longa Permanência para Idosos com pessoas que lhes são estranhas.

Isso se dá, devido ao fato de que muitos idosos passam a não mais poder contar com a

rede de apoio familiar. Essa internação na ILPI requer um reestabelecimento da vida

como um todo o que muitas vezes trata-se de um evento muito complexo.

Ainda para as autoras, a ILPI é rodeada por um simbolismo e por isso não é

aprovada socialmente, no entanto, tem sido a alternativa encontrada por quem não

possui mais autonomia para viver sozinho. Elas depararam em sua pesquisa com os

seguintes fatores que levaram idosos a entrarem na ILPI; evitar solidão, por influência

de outras pessoas, necessidades de cuidados de saúde, favorecimento de práticas

religiosas, conflitos e exclusão familiar, processo adaptativo, sentir-se produtiva,

sentimentos de perda/ enfrentamento da realidade e abdicar da autonomia pela segurança

institucional. Portanto, várias causas externas contribuíram para a inclusão dos idosos na

instituição, porém a escolha e iniciativa foi dos próprios idosos.

5.1- ILPI em Goiás e Goiânia

O crescimento populacional que o país vivencia também é nítido no estado de

Goiás; os idosos que eram 3,0% da população goiana total em 1950 cresceu para 6,6%

em 2000 (IPEA, 2008).

Em Goiás há 157 ILPIs em todo o estado e 59% dos municípios não contam com

nenhuma instituição desta natureza. A grande maioria das instituições pesquisadas

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começou a funcionar entre 1980 e 1990 o que confirma o quão recente é a temática de

instituição de cuidado ao idoso em neste estado (IPEA, 2008).

Em Goiânia existem nove instituições de longa permanência para idosos. A

população idosa residente nelas é, em sua maioria dependente de cuidados (IPEA, 2008).

No caso dessa pesquisa o espaço abordado, como fora visto acima, é a Instituição

de Longa Permanência para Idosos. E frente ao processo de envelhecimento

populacional e o aumento no número de idosos na sociedade, faz-se necessário refletir a

respeito das opções de habitar um espaço que não seja o da própria família.

Caminho Metodológico

Participantes:

Dois casais que estão internados na instituição. Os sujeitos da pesquisa são S1 60

anos, sexo feminino, casada com S2, sexo masculino, 74 anos e moram há um ano na

instituição. S3 74 anos, sexo feminino, casada com S4 83 anos, sexo masculino e

residem na ILPI há três meses.

Materiais:

Foram utilizados os seguintes materiais: gravador digital, folha, mesa,

computador, impressora, pen-drive, tinta.

Procedimento:

Para compreender os significados atribuídos ao habitar essa ILPI, orientado pela

perspectiva fenomenológica de pesquisa, o presente estudo teve como instrumento de

investigação entrevistas semi-dirigidas.

Escolheu-se essa forma de entrevista, pois segundo Turato (2003), entrevistador

e entrevistado direcionam a entrevista de forma em que ambos corroboram com o

processo do entrevistar o que viabiliza o aparecimento de vários fenômenos e o acesso

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ao vivido. Essas características do instrumento favorecem a compilação e análise dos

dados ante ao objetivo proposto.

A entrevista era composta por uma pergunta norteadora específica do tema que é

o objeto de estudo desse artigo; a vivência do idoso em habitar uma ILPI em Goiânia.

Para tanto, a questão disparadora foi: como é habitar nessa instituição?

Após várias tentativas em outras ILPIs que não foram receptivas à pesquisa, e

para conseguir a autorização para realizar a pesquisa na instituição, a autora entrou em

contato com a coordenadora responsável pelo atendimento ao idoso na Secretaria de

Cidadania e Trabalho que contatou a direção da ILPI – Casa do Idoso - permitindo a

entrada da pesquisadora. As instalações e atividades realizadas na ILPI foram

apresentadas à autora pelo coordenador da instituição.

A ILPI, portanto, é pública, mantida pelo Governo do Estado de Goiás, e situada

em Goiânia. Possui 30 casas e os residentes são idosos independentes; cada um tem sua

casa. A casa tem um quarto, um banheiro, uma sala, uma cozinha, uma varanda no fundo

da casa com um tanque para lavar roupas e na frente uma área de jardim.

Os residentes não tem custo para morar, não pagam nenhuma taxa por estarem na

instituição e nem por receberem o que a ILPI proporciona a eles. Porém, a alimentação,

custos pessoais e de manutenção da casa são mantidos pela aposentadoria dos mesmos.

A ILPI oferece oficinas de trabalhos manuais, momentos de convivência, aulas

de alfabetização para os residentes e estende as atividades para a comunidade idosa da

região com o intuito de promover uma integração e maior convivência dos idosos com o

grupo social local.

As entrevistas foram realizadas na casa dos residentes da ILPI. A autora chegou

à porta, se apresentou e disse do interesse em realizar a entrevista. Explicou acerca do

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sigilo e questionou a disponibilidade do sujeito em participar. Após o consentimento e a

assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram feitas e gravadas as

entrevistas. Após a transcrição das entrevistas e a análise dos dados, as mesmas foram

deletadas.

A análise dos dados foi baseada no método da pesquisa fenomenológica de

Giorgi (1985) que, ao se seguir quatro passos de reduções fenomenológicas alcança-se

unidades de significado que expressam o conteúdo temático dos depoimentos.

Esse método tem como primeiro passo ler todo relato do participante na busca de

um sentido geral. Em um segundo momento a leitura terá o objetivo mais específico de

identificar unidades significativas com o foco no fenômeno a ser pesquisado. O terceiro

passo é o de delinear as unidades significativas que mais revelam o fenômeno em

consideração. E o quarto e último momento é o de sintetizar todas as unidades

significativas de forma a efetivamente demonstrar o que fora experienciado pelo sujeito

em questão (Giorgi,1985).

É imprescindível na utilização desse método que não se perca a noção do todo e

ao se buscar as unidades significativas, fazê-lo em etapas à medida que as unidades

forem emergindo. Essas unidades espontaneamente se destacarão em meio à descrição

do discurso do sujeito. Todo o método é baseado na descrição e percepção do fenômeno

que se mostra (Giorgi, 1985).

Amatuzzi (2008) ressalta a importância da pesquisa fenomenológica que é

direcionada para o vivido e permite, assim, a expressão do significado que nele está

contido. O vivido é expresso por intermédio da presença e movimentação dos sujeitos no

mundo.

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Diante dessa afirmação, percebe-se a importância de se pesquisar não somente o

espaço físico, mas também como ele é vivido. Enfim, como os idosos vivenciam o

habitar em uma ILPI.

Discussão

A partir da fundamentação teórica e posterior coleta e análise dos dados, pode-se

chegar a algumas considerações. Neri (2001) afirma que cada pessoa idosa vivencia seu

processo de envelhecer à sua maneira. Nos relatos dos casais e nos quadros em anexo,

percebe-se que cada ser-no-mundo habita de forma individual o mundo circundante, o

mundo humano e o mundo próprio. Porém, a partir da análise dos dados, pode-se

alcançar uma unidade de sentido comum à singularidade dos sujeitos; o cuidado.

Entretanto essa singularidade é vivenciada pelo casal S1 e S2, ao habitar o

espaço da ILPI, como cuidado relacionado ao auxílio no que se refere a questões na

saúde, ao financeiro e ao diálogo estabelecido nesse mundo circundante. O cuidado se

torna mais valorizado em função da escassa presença da família. Para o casal S3 e S4, o

cuidado é vivenciado nas mesmas dimensões, embora valorizem mais intensamente o

cuidado no aspecto financeiro, incluindo, no caso de S4 as atividades desenvolvidas pela

instituição.

A unidade de sentido, cuidado, também se mostra na relação que o idoso

estabelece com o seu mundo circundante ao cuidar das plantas e da casa. S4 comenta:

“...tem minhas plantinha aqui fora que eu gosto de cuidar...”. Esse cuidado dos

participantes com o jardim e com a casa evidenciam um co-pertencimento e uma co-

construção entre o espaço que passaram a habitar ao entrarem na ILPI e eles. Esse

apontamento entre homem e espaço é bem descrito por Forghieri (1993) e Silva (2007).

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A escolha dos idosos em habitar um novo mundo circundante, uma ILPI, em

detrimento de sua casa aparece como outra forma de se cuidar. A entrada na instituição

se deu por motivos diferentes, mas em todos os casos pode ser compreendida como uma

forma de auto-regulação. No que diz respeito à entrada dos idosos nessa instituição, esse

estudo obteve resultados semelhantes ao de Bessa e Silva (2008). Em ambos, o ingresso

na ILPI foi por iniciativa e escolha própria dos idosos. Porém a entrada fora causada por

questões externas diferentes. No caso da presente pesquisa, o Casal A (S1 e S2) teve

como motivo de entrada, a necessidade de cuidados na saúde: “...marido doente, eu tinha

que vir. Mas agora que eu estou aqui, aqui é bom!”(S1). Já o Casal B (S3 e S4) o

ingresso fora por razão de ordem financeira: “... a gente morava em um outro lugar que

era particular... e nunca sobrava dinheiro...” (S4).

De acordo com Beauvoir (1990) a realidade da pessoa idosa sofre modificações

dependendo do espaço e tempo em que o sujeito está inserido e o indivíduo tende a se

auto-regular. Isso evidencia-se nos relatos dos idosos entrevistados quando os casais

comparam a vida que tinham residindo no mundo circundante de antes e no mundo

circundante de agora: S1: “A gente morava de aluguel... Era muito difícil. Mas parece

que Deus abriu as portas pra mim, aí eu vim aqui e consegui... me sinto muito bem aqui

graças a Deus...”. Nesse paralelo, pode-se perceber a relação tempo-espaço defendida

pela Gestalt-terapia (aqui e agora).

Koller (2004) destaca a idéia de que a pessoa idosa deve evitar fugas ao passado

e isolamento, além de fazer os processos de ajustamento criativos gradualmente para que

possam conviver com tantas mudanças. Pode-se perceber que a vivência de habitar a

ILPI, é uma experiência que vem sofrendo um ajustamento criativo, por exemplo, com

relação à adaptação às novas regras.

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Bessa e Silva (2008) afirmam que a internação em uma ILPI é um reestabelecer

da vida da pessoa idosa. Já Ribeiro (2006) ressalta que para se viver, é preciso um

movimento constante de ajustar-se criativamente. Koller (2004) complementa que o

ajustamento criativo se dá na relação do indivíduo com o meio e surge a partir de uma

necessidade. Pode-se perceber que a decisão e a ida do casal S3 e S4 para o novo mundo

circundante, ILPI, foi uma forma de ajustamento criativo, uma vez que a necessidade

dos mesmos era de origem financeira e a instituição sendo pública, satisfazia essa

necessidade: “...nunca sobrava dinheiro...” (S4), “...agora que sobra dinheiro, eu estou

comprando as coisas que eu gosto... Está tudo bom agora!” (S3). O casal S1 e S2, por

sua vez, teve como motivação primeira a saúde e em segundo lugar o financeiro, como

pode-se perceber no trecho seguinte: “...marido doente, eu tinha que vir... A gente

morava de aluguel, passava todo tipo de coisa... Aí eu vim e me sinto muito bem..”

(S1). Em ambos os casos, as necessidades dos casais foram satisfeitas com a entrada na

ILPI e nesse momento, buscam se ajustar às regras da instituição como dito

anteriormente.

Augras (2002), Forghieri (1993), Silva (2007) defendem a idéia de que o ser está

sempre inserido em um espaço. O homem ao se relacionar com esse mundo circundante,

habita-o de forma essencial (Heidegger, 2004). Este espaço é sempre compartilhado

como enfatiza Heidegger (2008). É por meio da relação com o outro e com o mundo que

o indivíduo atualiza suas potencialidades e se reconhece enquanto si próprio

(Forghieri,1993). Nesse sentido, percebeu-se que no mundo humano, as relações com as

pessoas na instituição são imprescindíveis para a análise da vivência de habitar no

espaço ILPI.

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Nos trechos a seguir pode-se perceber, de forma unânime, a presença das relações

interpessoais, ou seja a vivência do mundo humano, como relevante aspecto do habitar a

ILPI: S1:“Eles cuidam direitinho da gente... Tem gente pra gente conversar...”, S2: “Eles

cuidam da gente direitinho... Eles tão sempre aí vendo se a gente precisa de alguma

coisa...”, S3: “O pessoal é tudo bonzinho com a gente.”, S4: “...o pessoal aqui é muito

bom pra gente... Tem aulas, atividades aqui...”.

Ainda no que se refere ao mundo humano, com relação às visitas familiares, S1,

S2 e S3 qualificaram-nas como escassas e tentaram justificar a ausência delas. S1

justifica a ausência pela impossibilidade da família em dormir na instituição: “Minha

família vem cá passeia vai embora... É aqui eles não podem ficar muito tempo né...”, S2

e S3 ressaltam a falta de tempo dos familiares para visitá-los: S2: “Família vem, visita a

gente.... Não é sempre não.... acaba que eles enrolam as vezes...”, S3:“...minha família

vem me visitar de vez em quando. O povo todo hoje em dia anda muito ocupado...”.

As falas dos entrevistados acima demonstram um afastamento da família o que

pode estar modificando as fronteiras de familiaridade desses idosos. Polster & Polster

(2001) afirmam que a fronteira de familiaridade é o limiar entre o que é familiar ao

sujeito e o que não é. Com o aumento da convivência interpessoal na ILPI, aquilo que

antes era o mais familiar começa a se modificar. Isso evidencia o processo de auto-

regular-se. Dessa forma, percebe-se como o mundo circundante e o mundo humano

encontram-se inter-relacionados.

Sob o prisma do mundo próprio, Silveira (2000 e 2008) acredita que a visão da

sociedade de que o idoso está prioritariamente ligado ao passado é desatualizada.

Negreiros (2003) e Portal e cols (2002) relatam que a pessoa idosa busca uma integração

presente, passado e futuro. No relato do casal S1 e S2 pode-se perceber que esses idosos

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fazem referência ao passado, quando moravam na outra instituição, ao presente e ao

futuro como se pode observar na fala de S2 a seguir: “Antes eu morava de aluguel, não

sobrava dinheiro pra nada... Agora a gente tem uma sobrinha de dinheiro...”. No relato

do outro casal, e no trecho de S3, também pode-se perceber que existem alusões a

questões do passado, do presente e do futuro o que deixa claro a interligação dos três

momentos do tempo: “A gente estava morando em um abrigo particular antes...

Devagarzinho, agora que sobra dinheiro, eu vou comprando as coisas... Está tudo bom

agora!” (S3).

Englobar os diversos momentos e etapas da vida, para Silveira (2008), é uma

maneira de se alcançar uma aceitação da própria trajetória da vida como um todo, o que

ainda abarca a questão do mundo próprio. Koller (2004) corrobora com a autora

complementando que a auto-regulação organísmica e o ajustamento criativo estão

presentes nesse processo de aceitação. A partir das respostas dos idosos, fica evidente

que eles buscam integrar as etapas e tentam se ajustar às dificuldades que encontram.

Assim como buscam se adaptar à nova realidade da ILPI e às novas regras, como a de

visitação, por exemplo, que é citada pelo casal S1 e S2: “não podem posar aqui... Mas

vem visita e depois vai embora....” (S2) “Vem pra cá, mas para dormir não... Vem visita

e vai embora...” (S1).

Considerações Finais

Como relatado por Forghieri (1993), o que é vivenciado no mundo circundante e

no mundo humano, implica na identidade de cada um, no mundo próprio. Visto a

escassez de produções bibliográficas da Gestalt-terapia na temática da pessoa idosa

habitar ILPIs, é de muita relevância para a Abordagem e para Psicologia essa pesquisa.

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Os idosos da ILPI em questão habitam um espaço físico de lar, porém

submetidos às regras de outrem. Pesquisas como estas são necessárias uma vez que a

sociedade caminha para um aumento de idosos habitando ILPIs. Porém é necessário se

atentar para as formas de cuidado promovidos aos idosos para que não tomem um

caráter assistencialista. Uma vez que, conforme Costa (2006) ressalta, referindo-se a

Heidegger (1981), o autêntico cuidar é aquele em que se convida o outro a voltar-se para

si mesmo facilitando para que ele próprio encontre seus caminhos e se encontre.

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Anexos

Anexo A

Entrevista S1 2º Passo 3º Passo 4º Passo

1-Como é habitar nessa

instituição?

No meu caso com marido

doente, eu tinha que vir.

Mas agora que eu estou aqui,

aqui é bom!

É!! Aqui é bom. A gente

morava de aluguel, passava todo tipo de coisa... Ele

doente, tem marcapasso...

Paga aluguel, paga energia,

paga água, tinha que guardar

dinheiro para na hora de

precisão leva pro hospital.

Era muito difícil. Mas

parece que Deus abriu as

portas pra mim, aí eu vim

aqui e consegui... Porque

assim, quando a pessoa

casa, tem que ser unida né!?

Aí eu vim aqui, conversei...

Eles foram lá, viram minha

situação né? E falaram...

não... vocês realmente

precisam... Aí eu vim e me

sinto muito bem aqui

graças a Deus... Nunca

arrependi!

Até agora me sinto bem...

Tem um ano que eu moro

aqui e não tenho nada que

arrepender... Tudo bom... Tudo bom...

Sempre foi bom... Ao menos

para mim... Agora para os

outros eu já não sei né... Mas

pra mim sempre foi bom... E

assim... Eu já estava

vendendo tudo.... O homem

ia lá em casa pedir o dinheiro

do aluguel, eu não tinha. Aí

depois recebia, o dinheiro

Entrevistada afirma

que teve que vir

morar na instituição

pela doença do

marido. Mas que

agora é bom morar

lá. Antes moravam

de aluguel e tinham

uma vida muito

difícil. Mas Deus

abriu as portas para

ela e ela conseguiu

morar lá. Tem a

crença de que

quando se casa,

deve-se ter união.

Hoje se sente bem e

atribui isso à Deus.

Tem um ano que

mora na instituição e

não se arrepende de

nada. É tudo bom

para ela. Hoje o

dinheiro é suficiente

para comprar os

remédios para o

marido e até para ele

comer melhor.

Desde que foi para a

instituição está

saudável, não

precisou nem

interná-lo mais.

Atribue a melhora do

marido aos cuidados

recebidos por ele na

instituição. Está tudo

ótimo, para ela. A

família vai visita e

vai embora, porque

não podem dormir lá

e, então, não ficam

Teve que vir morar

na instituição pela

doença do marido,

mas agora é bom.

Tem a crença deve-

se ter união no

casamento. Depois

que mudou para a

instituição o

dinheiro não falta,

o marido tem os

cuidados dos quais

precisa, família

vem e visita e ela

tem com quem

conversar.

Cuidado:

saúde,

financeiro,

presença dos

cuidadores via

diálogo e

ausência da

família.

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dele não dava... Aí eu falava,

nem que morre, mas paga

tudo... Aí eu pagava tudo...

Aí largava remédio... E ele é

igual criança... Tem que ter o

leite direto... Aí eu vim aqui

e consegui não é?

É menina, minha vida era

uma vida sofrida... Agora

graças a Deus não... Agora

o dinheiro dá pra comprar

os remédios dele, dá para

ele comer melhorzinho... Dá

para o leite... E dá... O que eu

tinha vendido para cuidar

dele eu já consegui comprar

tudo de novo... Ele pegou

saúde aqui... Não precisei

levar ele mais para

internar... Aqui eles cuidam

dele direitinho... Parece que

foi Deus que falou... vai pra

lá e abriu as portas para mim

de uma vez... Tudo ótimo...

Num tenho nada que

dizer... Minha família vem

cá passeia vai embora... É

aqui eles não podem ficar

muito tempo né... Aí quando

eles vem eles vão mais é para

a casa da minha irmã... Aí

fim de semana eles vem...

fica sexta, sábado e domingo

e eles vão embora... Isso

quando ele tá aqui, mas às

vezes eles pegam e vão pra

Tocantins... Vem pra cá,

mas para dormir não...

Vem visita e vai embora...

Tudo ótimo.... Eles cuidam

direitinho da gente... Tem

gente pra gente conversar...

Tudo ótimo!

muito tempo. Morar

lá é tudo ótimo e tem

gente para conversar.

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Anexo B

Entrevista S2 2º Passo 3ºPasso 4ºPasso

1-Como é habitar nessa

instituição?

Ah... É muito bom... o

pessoal aqui é tudo

bom! Eles cuidam da

gente direitinho... Eu

tenho problema no

coração e preciso as

vezes de remédio de

enfermeiro.... Eles tão

sempre aí vendo se a

gente precisa de

alguma coisa.... Muito

bom... Antes eu

morava de aluguel, não

sobrava dinheiro pra

nada. Minha mulher já

tava era vendendo as

coisas tudo para poder

pagar os remédio pra

mim... Aí nós ficamos

sabendo daqui e viemos

logo ver se tinha como

mudar para cá... No

começo foi difícil

porque não tinha

lugar... Mas logo

vagou um lugar e a

gente conseguiu vim....

Aí ficou tudo bom

graças a Deus.... Cuida.... cuida sim....

Eu tenho marcapasso

né.... Depois que eu

vim para cá nem tive

mais que sair

correndo para o

médico mais,

acredita? ....

Pois é... Graças a

Deus... Agora a gente

tem uma sobrinha de

O entrevistado

afirma que é muito

bom morar na

instituição. Os

funcionários cuidam

bem dele, sempre

estão vendo se

precisam de alguma

coisa, já que ele tem

problema de coração

e precisa de remédio,

enfermeiro. Antes de

virem morar na

instituição, não

sobrava dinheiro

para nada. No

começo, foi difícil

mudar porque não

tinha lugar. Depois

que conseguiu, ficou

tudo bom. Dá graças

a Deus de estar tudo

bem. Depois de

morar na instituição,

nem teve que sair

correndo mais para o

médico. Agora sobra

dinheiro. Não é

sempre que família

visita e quando vem

não podem dormir

na instituição. É bom

morar lá, não fica no

aperto e o deixa mais

tranqüilo.

É bom, os

funcionários

cuidam direitinho.

Ele tem problema

de saúde e precisa

de cuidados. Sobra

dinheiro o que o

deixa mais

tranqüilo. Família

nem sempre visita

e quando vem não

pode dormir.

Cuidado: Saúde,

financeiro,

ausência da

família.

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dinheiro para poder

comprar remédio e as

coisinhas que a gente

as vezes precisa né...

Família vem, visita a

gente.... Não é sempre

não.... acaba que eles

enrolam as vezes.... ficam lá pelo

Tocantins... porque eles

são de lá né... Mas

quando vem ficam na

minha cunhada porque

não podem posar

aqui... Mas vem visita

e depois vai embora....

mas mesmo assim

morar aqui é bom

demais.... sobra

dinheiro, a gente num

fica no aperto o tempo

todo, fica mais

tranqüilo né...

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Anexo C

Entrevista S3 2º Passo 3º Passo 4ºPasso

1-Como é habitar nessa

instituição? Eu acho bom...

Eu acho! O pessoal é tudo

bonzinho com a gente.

Moramos eu e o meu marido,

minha família vem me visitar

de vez em quando. O povo

todo hoje em dia anda muito

ocupado, quase não anda

tendo tempo de passear não.

Eu tenho uma filha caçula

que sempre vinha, mas agora

arranjou um serviço lá que

ela está enrolada; sai seis e

meia pro serviço e chega sete,

sete meia do serviço. Sábado

ela lava roupa, faz unha cabelo

e domingo ela quer descansar,

porque ela diz que pra vir aqui

é uma canseira desses ônibus;

ela não tem condução própria

né? Quando ela vem ela chega

cedo, almoça, passa um

pedaço e vai embora. Eu gosto

que ela venha para passar o

dia.... Mas vim pra cá foi

bom... Até engordei, não

queria ter engordado não! Vai fazer três meses agora que

eu estou morando aqui.

Foi facinho vir para cá. Meu

marido veio para cá conversou

com a Regina e ela disse que ia

arrumar uma casa para gente.

Ela falou para a gente

combinar direitinho o dia de

ir... A gente estava morando

em um abrigo particular

antes. Lá a gente paga para

dormir, paga para comer. E

ainda tava 70% do que a gente

ganha... Ainda tem que

comprar remédio... Teve um

dia lá que eu fiquei tão nervosa

Entrevistada

afirma que acha

bom morar na

instituição. Para

ela, os

funcionários

cuidam bem dela

e do marido.

Mora com o

marido e a família

a visita de vez em

quando. Porém,

antes, a filha a

visitava mais,

hoje não tem

tempo. Sua saúde

melhorou, até

ganhou um pouco

mais de peso. Foi

fácil entrar na

instituição. No

lugar aonde

morava antes, um

abrigo particular,

pagava para

comer, para

dormir e ela

queria se mudar

de lá. Agora nessa

instituição, o

dinheiro está

sobrando e ela

está comprando

coisas para ela

devagar.

Funcionários

cuidam bem

dela e do

marido e sobra

dinheiro para

ela. A família

visita de vez

em quando.

Cuidado:

financeiro,

saúde, ausência

da família.

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que eu falei pro B. que eu

queria sair de lá de qualquer

maneira. Nem que fosse para

a casa da minha filha eu ia. Meu pagamento era R$510,00

e sobrou R$0,50 para mim só.

E depois que o B. viu o tanto

que eu fiquei nervosa, ele veio

aqui e conversou com a

Regina. Aí ele foi lá e

combinou com o povo né o

pagamento do lugar que a

gente tava antes.... No dia que

a gente foi fechar com eles lá

eles entenderam e ainda

mandaram um monte de coisa

pra gente; prato, copo... Eles

sabiam que a gente num tinha

quase nada né? Agora meu

armário encheu que quase não

está cabendo mais nada! Eles

mandaram as coisas e mostrou

que de fato não ficaram com

raiva de mim de ter saído de lá

né? Aqui é tudo bom....

Devagarzinho, agora que

sobra dinheiro, eu estou

comprando as coisas que eu

gosto... Está tudo bom agora!

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Anexo D

Entrevista S4 2ºPasso 3ºPasso 4ºPasso

1-Como que é habitar

nessa instituição?

Uai... tem 3 meses

que eu moro aqui.... é

bom sabe... Eu moro

aqui com minha

esposa... A gente

morava em um outro

lugar que era

particular não era

publico igual aqui não

sabe? Lá a gente tinha

que pagar 70% da

aposentadoria e o

resto tinha remédio e

outras coisas e nunca

sobrava dinheiro... Minha mulher não

tava mais agüentando

até ameaçou me

largar e ir morar com

a filha porque não

queria mais viver tão

sem dinheiro sabe....

Por causa disso que

eu corri aqui, falei

com a Regina e ela

ajudou a gente a vir

para cá...

Morar aqui é bom

né... tem o pessoal

aqui que a gente

conversa.... tem

minhas plantinha

aqui fora que eu

gosto de cuidar.... Sem contar que sobra

um dinheirinho para

gente comprar as

comida, as coisas que

precisa... sem ficar

apertado.... As filha

vem visitar a gente

sempre que dá...

embora que elas tem

Entrevistado afirma

que é bom morar na

instituição. Antes

não sobrava dinheiro

e hoje sobra. Tem

diálogo com as

pessoas e as plantas

para cuidar. Os

funcionários cuidam

deles e verificam se

estão tomando os

remédios. A

comunidade perto

interage com eles

nas atividades da

instituição.

Sobra dinheiro, os

funcionários cuidam,

e tem pessoas para

dialogar. Interagem

com a comunidade

nas atividades.

Cuidado:

financeiro,

saúde, diálogo

e atividades.

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vindo menos por

causa que tá difícil....

correria né... Mas é

bom demais morar

aqui.... Tem o centro

de saúde aqui dentro

também né... o

pessoal aqui é muito

bom pra gente...

Conversa com a

gente.... leva os que

tão na cadeira de

rodas para dar umas

voltas... cuida da

gente... vê se a gente

ta tomando os

remédios.... Tem

aulas, atividades

aqui.... O pessoal

que mora aqui perto

vem pra ter aula

com a gente... É

muito bom.... Eu

gosto de morar

aqui... É muito

bom...