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O Homem - PNLD 2020 Record · criado pelo matemático árabe Maomé ibn Musa al-Khwarizmi, autor do livro Al-jabr wa’l muqabala, sobre equações elementares. O HOMEM QUE CALCULAVA-MANUAL

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O Homemque Calculava

Malba Tahan

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Elaboração do manual:Daniele Mendes

Doutora em Literatura Comparada eprofessora de Estudos Literários

Título O Homem que Calculava

Páginas 304

Autor Malba Tahan

Idioma Língua Portuguesa

Categoria 2

Tema(s) Outros temas: Matemática

Gênero Literário Romance

Interdisciplinaridade Com as áreas de Matemática, Educação Física, História, Música e Geografia

Romance: texto narrativo, de caráter imaginativo, constituído pe-los elementos estruturadores: espaço, tempo, enredo, personagens e narrador. Sua característica principal é a de recriar a realidade, interpretando-a; no entanto, essa recriação precisa respeitar a veros-similhança (coerência) interna da obra.

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Conversa com o professor

Estimado professor, O Homem que Calculava é um romance voltado para jovens lei-

tores em torno do tema da matemática. O livro narra a história de Beremiz Samir, o Homem que Calculava, camponês persa que se revela um prodígio no campo da matemática. A história começa com seu encontro fortuito com o narrador, Hank Tade-Maiá. Prossegue apresentando as peripécias e os desafios impostos a Beremiz quando este decide seguir com o narrador para Bagdá.

A história foi escrita por Malba Tahan, pseudônimo do professor de matemática Júlio César de Mello e Souza. Aficionado pelas histó-rias orientais, o professor Júlio resolveu utilizá-las em sua busca por meios lúdicos de ensinar matemática. Assim, escreveu uma série de obras sobre o tema, entre as quais se destaca O Homem que Calculava.

Com uma linguagem acessível aos alunos, o livro consegue seduzir com suas histórias e seus desafios matemáticos, mostrando como a matemática faz parte da nossa vida e ressaltando como o pensamento lógico pode ser divertido. Rompe, portanto, com uma visão taciturna dessa área do saber ao instigar os leitores a desvendar enigmas e saborear histórias de outras culturas.

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Quem escreveu a história

Júlio César de Mello e Souza nasceu em 1985, filho de um funcio-nário público e de uma professora, pais de mais oito filhos. Quando menino, estudou no Colégio Militar do Rio de Janeiro e no Colégio Pedro II.

Apesar de ter sido mau aluno na matéria, formou-se como pro-fessor de matemática e engenheiro, lecionando com expertise a disciplina. Leitor apaixonado na infância, Júlio transformou-se em um escritor incansável, com mais de 110 livros publicados, nas áreas de matemática e ficção. Em sua vasta obra, apropriou-se e recontou, a seu modo, histórias em torno do universo cultural árabe.

A ideia de criar Malba Tahan veio como solução para a dificuldade em publicar seus livros. Percebeu que era mais fácil ser editado no Brasil caso se apresentasse como um autor estrangeiro. Assim, surgiu a ideia de escrever sob o pseudônimo de Malba Tahan.

Júlio inventou toda a história de vida de Malba Tahan, pois queria que as pessoas acreditassem em sua autenticidade. Para tanto, estudou e pesquisou durante anos sobre a língua e a cultura árabes. Criou Malba Tahan como um escritor nascido em 6 de maio de 1885, em Muzalit, na Península Arábica, próximo à cidade de Meca, sagrada para os muçulmanos.

Malba Tahan teria estudado na Turquia e no Egito, e sido prefeito de uma cidade. Ao receber uma herança generosa, decidiu viajar pelo

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mundo, visitando inclusive o Brasil. Porém, em 1921, já de volta à Arábia, teria sido morto ao se engajar na luta pela liberdade da região.

Júlio também passa a dizer que as obras de Malba Tahan foram escritas em árabe, sendo necessário traduzi-las para a língua portu-guesa, tarefa que atribui a outro pseudônimo criado por ele, Breno Alencar Bianco.

Durante muito tempo, acreditou-se que Malba Tahan fosse uma pessoa real. Na verdade, havia até uma imagem dele publicada em seu primeiro livro, Contos de Malba Tahan, que o retrata como um senhor vestido à moda árabe, de turbante e barba longa.

A identidade da persona ficcional foi descoberta por uma poeta, através de um tradutor. Quando a verdade veio à tona, Júlio pleiteou a Getúlio Vargas o direito de acrescentar à sua identidade o nome Malba Tahan, o que foi aceito pelo então presidente. Criador e cria-tura fundiram-se em uma identidade: a de escritor apaixonado por encantar o público com suas histórias fantásticas.

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Mergulho no livro

O Homem que Calculava foi lançado originalmente em 1938, quando Júlio César de Mello e Souza já havia publicado algumas obras. Tornou-se um grande sucesso.

Trata-se de um romance de ficção ambientado no mundo árabe, voltado para um público leitor jovem. A obra explora o tema da ma-temática, dentro do contexto da cultura árabe, seus saberes e herança literária. Podemos falar que é um romance cujo eixo temático, a matemática, é abordada em uma perspectiva étnica, a partir de suas configurações na cultura árabe.

Os árabes tiveram um papel relevante no desenvolvimento da Ciência e da Matemática. Na Idade Média, diante do monopólio e do controle cultural e educacional impingidos pela Igreja Católica, o legado cultural e científico da Antiguidade greco-romana foi alijado do cenário europeu. Filósofos e pensadores árabes, como Avicena e Averróis, resguardaram a tradição do pensamento filosófico antigo, possibilitando o seu alcance para a posterioridade.

Muitos dos avanços alcançados pela tecnologia nos mundos medieval e moderno devem-se aos árabes, às suas invenções e aos seus conheci-mentos matemáticos, como a divulgação dos algarismos, a compreensão e valoração das posições ocupadas por estes, e a própria álgebra, conceito criado pelo matemático árabe Maomé ibn Musa al-Khwarizmi, autor do livro Al-jabr wa’l muqabala, sobre equações elementares.

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O Homem que Calculava dialoga tanto com este universo mate-mático árabe quanto com outros aspectos desta civilização, como a religiosidade e as formas específicas de narração de histórias dessa cultura. A fé muçulmana ocupa papel relevante na dedicatória pre-sente na obra e em sua narrativa.

Em relação a esse ponto, é válido apontar duas questões recor-rentes na obra de Malba Tahan. A primeira diz respeito à marcação da forte religiosidade de Malba Tahan, explicitada nas dedicatórias dos livros, que sempre atribuem louvores e agradecimentos a Alá, o Deus muçulmano — que vem a ser o mesmo do judaísmo e do cristianismo, embora concebido a partir de óticas distintas. A segun-da refere-se justamente à presença dessa pluralidade de concepções sobre o sagrado e à crença em uma convivência tolerante e pacífica entre pessoas de visões religiosas diferentes. No século XX, a obra de Malba Tahan já pregava essa relação de respeito, que é ainda tão necessária reforçar em nossos dias.

As duas questões estão presentes em várias de suas obras, como, por exemplo, Mil histórias sem fim, na qual personagens de origens mu-çulmana, cristã e judaica convivem de modo harmônico e empático. Especificamente em O Homem que Calculava, tal temática é destacada no próprio desenrolar do enredo, quando o protagonista se casa com uma jovem de origem cristã, convertendo-se ao cristianismo.

Em relação às formas específicas de narração concernentes à cul-tura árabe, vale destacar a forte influência da literatura e do folclore árabes neste livro, especialmente os contos de As mil e uma noites. Há até mesmo citações literais advindas de As mil e uma noites, bem como de Tagore, famoso poeta árabe.

A estrutura dos diálogos, que remete à de As mil e uma noites, mos-tra o resgate de uma construção específica que referencia a tradição oral árabe, conhecida como mise-en-abyme, isto é, uma narrativa de histórias em cadeia, que ocorre quando a obra apresenta uma se-

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quência de histórias interligadas pela voz narrativa, cada qual com o seu arco dramático. Tais narrativas se integram à história central no enredo.

Em As mil e uma noites, por exemplo, as narrativas são alinhavadas pela narradora Scherazade, como recurso para conquistar o sultão; em O Homem que Calculava, a conexão é feita pelo narrador, que conta a sua viagem com o protagonista rumo a Bagdá, costurando os vários episódios que se sucedem, de modo a compor a unidade do livro. Entretanto, essas histórias não alcançam um fim, mas em seu clímax se abrem para as posteriores. Podemos mesmo afirmar que os limites entre as histórias episódicas são propositalmente or-ganizados de maneira a dispor os contos em cadeia, como é típico da tradição literária oriental.

Outros elementos típicos dessa tradição, recuperados pela escrita literária de Malba Tahan, são a predileção pelos diálogos, o emprego de orações curtas, os paralelismos, a inserção de provérbios e conse-lhos, e os jogos de desafio lógico. Ponto também fundamental de ser lembrado é a influência do livro fundamental da religião muçulmana, o Alcorão, nas frases proferidas pelos personagens, no sistema moral e de valores, na dedicatória da obra e na própria construção da per-sona de Malba Tahan como um homem islâmico, nascido próximo a Meca, lugar sagrado para os muçulmanos.

A dedicatória estabelece uma relação cíclica com o epílogo do romance. A obra é dedicada a uma série de filósofos e matemáticos, como Descartes, Pascal e Newton, que não professavam a fé cris-tã. Em acordo com o costume islâmico, Malba Tahan clama a Alá para que este se compadeça dos infiéis. Como explicado pelo outro pseudônimo de Júlio César de Mello e Souza, Breno Bianco, no apêndice da obra, esse é um apelo islâmico fundamentado na ideia de misericórdia de seu Deus, que poderia vir a poupar os homens sábios de sua infidelidade.

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À dedicatória de Tahan, que clama pela misericórdia ao infiel, e ao apêndice de Bianco, que reconhece o sentido e o valor da fé alheia, soma-se o epílogo da narrativa, com a conversão de Beremiz por conta de seu casamento com a cristã Telassim. Beremiz somen-te concorda em se converter se fosse batizado “por um bispo que soubesse a Geometria de Euclides”. Assim, cria-se uma teia entre a religião e a matemática, de modo a sublinhar as relações entre a fé e a lógica. Do mesmo modo, insere-se na narrativa ficcional reflexões sobre a alteridade, ao apresentar vivências e elementos culturais das religiões muçulmana e cristã.

Tanto nesta como em outras obras, Malba Tahan reforça a sua fé muçulmana e apresenta-se sob o epíteto de “crente de Alá e de seu santo profeta Maomé”, demonstrando sua gratidão a Alá e a consciên-cia da grandiosidade de seu Deus. Também é importante lembrar que a palavra “corão” significa recitar, o que reforça a recuperação, na obra, de marcas da tradição oral árabe.

O livro é composto de 34 capítulos, nos quais são narradas as aventuras e peripécias vividas pelo narrador, Hank Tade-Maiá, e pelo protagonista, Beremiz Samir, o Homem que Calculava. Além dos capítulos com as narrativas, há uma introdução e um apêndice, no qual a dedicatória é explicada e são feitas considerações sobre a civilização árabe e a matemática, notas sobre a vida de matemáticos importantes, a explicação dos problemas propostos no livro, um glossário e um índice de autores e personagens históricos.

Introdução e apêndices são assinados por Breno Alencar Bianco, que se apresenta como “tradutor” da obra. Nas palavras dele, a obra tem duplo objetivo: “educativo e cultural”. De fato, Malba Tahan consegue com grande habilidade criar um texto culturalmente rico, literariamente bem construído, instigante e prazeroso, em torno do universo da matemática. O cenário medieval árabe seduz com seu

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exotismo e desafia o jovem leitor com uma série de enigmas, deci-frados pelo personagem do Homem que Calculava.

O livro possui um narrador homodiegético, isto é, ele narra em primeira pessoa uma história que não protagoniza. A abertura da nar-rativa dá-se no momento em que Hank Tade-Maiá, um homem de Bagdá, encontra na cidade de Samarra, por acaso, Beremiz Samir, um jovem camponês persa que recebera uma folga de seu patrão, como recompensa por tê-lo enriquecido com seu dom para os cálculos. Impressionado com as habilidades do jovem, o narrador convence-o a seguir viagem com ele até Bagdá, onde poderia colocar, a serviço do governo, o seu dom para o cálculo.

O fato de Beremiz ser um jovem com um dom para a matemá-tica é importante. Ele destaca a presença do pensamento lógico e matemático no cotidiano e o aponta como algo que efetivamente faz parte de nossas vidas. Beremiz resolve os problemas pela sua capacidade intuitiva de dedução, fora de quaisquer instruções pe-dagógicas formais. O autor consegue com isso uma estratégia para retirar a matemática de um domínio erudito.

Ao mesmo tempo, ao inserir no apêndice os comentários para a resolução dos problemas solucionados por Beremiz, o autor conduz o jovem leitor ao aprimoramento e à sistematização das propostas matemáticas inseridas na obra, através dos desafios impostos ao pro-tagonista, como a partilha de heranças, a contagem de camelos e a descoberta da cor dos olhos de escravas, tendo como pistas respostas que poderiam ser verdadeiras ou falsas. Tais desafios se entrelaçam, na obra, a lendas e histórias, como a que aborda o surgimento do jogo de xadrez, por exemplo.

Hank Tade-Maiá e Beremiz ficam amigos e, ao chegar a Bagdá, tornam-se, respectivamente, escriba e secretário do grão-vizir. Be-remiz também aceita trabalhar como professor de matemática para

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a filha do xeque Iezid, Tessalim. O convite foi feito por conta de uma previsão astrológica segundo a qual a moça padeceria de gran-de sofrimento caso não estudasse matemática. Tessalim torna-se a “aluna invisível” de Beremiz, assim chamada porque não podia ser vista pelo seu professor. Por Telassim, Beremiz enfrentará seu últi-mo grande desafio — o da cor dos olhos das escravas — e rejeitará promessas de riqueza, preferindo uma vida simples e feliz, que será o seu maior tesouro.

A fama do Homem que Calculava chega até o califa, que o testa, sendo o teste final uma audiência com sete sábios. Ele vence a prova e pede a mão de Telassim em casamento, o que lhe é concedido. A narrativa alinha-se, assim, a um motivo clássico presente nos con-tos populares: a do herói que vence uma tarefa difícil e tem como recompensa a mão da amada.

A narrativa encerra-se com o final feliz do Homem que Calculava, que se muda para Constantinopla com a esposa, seguido pelo nar-rador. Entretanto, ao contrário de boa parte dos contos populares, a felicidade não vem da opulência ou da conquista do poder pelo herói, mas de sua compreensão sobre os benefícios de uma vida sensata e temente a Deus, ao lado da mulher amada.

Monteiro Lobato, ao falar sobre O Homem que Calculava, pon-tuou sua crença na longevidade da obra, que alcançaria as gerações futuras. A previsão de Lobato foi certeira. Ainda que passado na Idade Média oriental, o livro aponta para elementos de extrema relevância para a educação de nossos alunos no contexto da pós--modernidade: a pluralidade cultural, o respeito à alteridade e o conhecimento e reconhecimento da ideia de cultura de um ponto de vista antropológico, no qual se recuse a noção de superioridade, de modo a recuperar elementos da riqueza cultural de povos orientais, estimulando a convivência pacífica de grupos culturais e étnicos distintos. Assim, a leitura da obra é de extrema importância como

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instrumento para desconstruir preconceitos, estereótipos, discursos de ódio e de intolerância às diferenças religiosas, culturais e étnicas. Ao trazer à tona esclarecimentos capazes de desconstruir a visão do diferente como bárbaro, leva o jovem a reconhecer a civilização em contextos diferentes dos ocidentais.

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Pré-leitura

A leitura da obra O Homem que Calculava, de Malba Tahan, pseu-dônimo de Júlio César de Mello e Souza, dialoga com contextos culturais, religiosos e sociais plurais. Pela via da ficção, as histórias do livro são elementos potentes para instigar o aluno à reflexão sobre o respeito à alteridade e à valorização de tradições artísticas milenares.

Aos professores, com o fito de estabelecer pesquisa prévia às aulas, recomendamos a leitura dos artigos “Do pseudônimo ao orientalismo: um ‘caminho das pedras’ representativo no labirinto das narrativas de Malba Tahan”, de Bosco e Resende, e de “Malba Tahan, muito além do pseudônimo”, de Salles e Pereira Neto. Tam-bém sugerimos a leitura do livro O Islã, de Karen Armstrong, uma vez que o pensamento e a tradição islâmica se destacam na obra em questão.

Para a preparação do aluno, neste momento de pré-leitura, suge-rimos as seguintes atividades:

•  Exiba o vídeo Pequenas histórias do mundo: a cultura e herança árabes. Converse sobre ele com a turma e sobre como a civili-zação árabe contribuiu para a Ciência e a Matemática como as conhecemos no mundo atual.

•  Converse sobre como a cultura árabe também influenciou a Língua Portuguesa. Leve exemplos de palavras da Língua

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Portuguesa de origem árabe. Peça aos alunos que façam uma pesquisa e exiba os resultados no mural da classe.

•  Fale sobre o envolvimento de Malba Tahan com a cultura árabe e a religião muçulmana. Exiba o vídeo Malba Tahan, produzido pelo Canal Futura, à turma.

•  Leve à sala o Livro das mil e uma noites, do folclore árabe, e Mil histórias sem fim, de Malba Tahan. Fale sobre a história, escolha algumas das narrativas e as conte para a turma. Deixe os livros circularem entre os alunos. Depois, escolha uma história de cada livro e a distribua para a turma. Faça uma leitura coletiva e a discuta com os alunos, comparando-as.

•  Explique à turma o que é uma narrativa em cadeia (mise-en--abyme), como a que aparece em o Livro das mil e uma noites e O Homem que Calculava.

•  Confeccionem um livro (digitado e impresso, ou artesanal) com narrativas em cadeia produzidas pela turma.

•  Escolha um dos desafios matemáticos presentes na obra O Ho-mem que Calculava e o apresente à turma. Compare as respostas da turma e deixe que eles descubram o resultado durante o processo de leitura.

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Pós-leitura

Após a leitura, sugerimos a reunião da turma para um debate sobre a obra. Explore as principais questões da narrativa: a sua estrutura, em comparação ao Livro das mil e uma noites, por exemplo; o modo como as personagens são construídas; a figuração do tempo e do espaço; a representação da cultura árabe, de seus costumes, da re-ligião islâmica, das palavras e expressões em árabe que aparecem na narrativa. Depois, como forma de dar continuidade às reflexões estabelecidas no momento da pré-leitura e da leitura, gostaríamos de sugerir as seguintes atividades:

•  Peça à turma para falar sobre os sentimentos despertados pela leitura e comente as escolhas das personagens sobre as suas vidas. Pergunte sobre as identificações e diferenças que senti-ram em relação às vivências deles.

•  Pergunte sobre como a leitura impactou a visão deles sobre o mundo árabe.

•  Exiba o vídeo O Islã na periferia de São Paulo. Converse com os alunos sobre como o vídeo mostra a religião muçulmana. Discuta a questão da intolerância religiosa e do preconceito.

•  Organize com os alunos um mural que exiba as principais contribuições da civilização árabe nas áreas de Literatura, Arquitetura, Ciências e Matemática. Ou, se for possível, con-

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feccione um livro coletivo artesanal em torno do tema e o disponibilize na biblioteca da escola.

•  Leve os alunos à biblioteca da escola para que pesquisem sobre outros livros de Malba Tahan.

•  Organize um clube de leitura em torno da obra de Malba Tahan. Na bibliografia deste manual, sugerimos outros livros do autor que podem ser lidos e debatidos pelos estudantes.

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Interdisciplinaridade

Interdisciplinaridade é um conceito de meados da década de 1960, surgido na França, a fim de atender a reivindicações de ordem social, política e econômica que não encontravam respostas em uma única área de saber ou disciplina. No Brasil, a interdisciplinaridade apare-ce nas últimas Leis de Diretrizes e Bases (LDB) e nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).

A leitura de O Homem que Calculava é um instrumento potente para o trabalho interdisciplinar, uma vez que a ideia em si do conhecimen-to como uma trama de saberes múltiplos que se entrelaçam está no próprio cerne da obra. Assim, abre-se ao trabalho interdisciplinar não apenas com a área de Matemática, obviamente, mas também com as de Educação Física, História, Música e Geografia. Tal parceria pode ser feita ainda no momento de pré-leitura, através do mapeamento dos contextos históricos e geográficos relacionados à narrativa. Além disso, sugerimos o desenvolvimento de um projeto interdisciplinar a partir das seguintes atividades:

•  Pesquisa sobre a civilização e a cultura árabe.•  Sarau em torno do tema, com apresentações de poemas, esque-

tes, danças, músicas e uma gincana de desafios matemáticos. •  Mostra de filmes sobre o mundo árabe, com debate sobre os 

filmes exibidos. Se houver em sua cidade alguma instituição ligada à cultura árabe, convidá-la a participar dos debates.

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Para saber mais...

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ARMSTRONG, Karen. O Islã. São Paulo: Objetiva, 2002.BARTHES, Roland. Aula. São Paulo: Cultrix, 2007.LIVRO das mil e uma noites. São Paulo: Globo, 2005. (3 v.)MALBA TAHAN. Lendas do oásis. Rio de Janeiro: Record, 2000. _______ . Lendas do ceu e da terra. Rio de Janeiro: Record, 2001._______ . Maktub! Rio de Janeiro: Record, 2006. _______ . O livro de Aladim. Rio de Janeiro: Record, 2008._______ . Mil histórias sem fim. v. 2. Rio de Janeiro: Record, 2011._______ . Lendas do deserto. Rio de Janeiro: Record, 2013._______ . Matemática divertida e curiosa. Rio de Janeiro: Record, 2017._______ . O homem que calculava. Rio de Janeiro: Record, 2018._______ . Os melhores contos. Rio de Janeiro: Record, 2018.MALBA Tahan. Canal Futura. Disponível em: https://www.youtube.

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