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1232 lI13UW". A ciência • estudo das transformações das sociedades e comunida- des sob o impacto de acontecimentos políticos (revolu- ções, guerras civis, conquistas territoriais), econômicos (crises, inovações técnicas, descobertas de novas formas de exploração da riqueza ou procedimentos de produção, mudanças na divisão social do trabalho), sociais (movi- mentos sociais, movimentos populares, mudanças na es- trutura e organização da família, da educação, da morali- dade social, etc.) e culturais (mudanças científicas, tecnológicas, artísticas, filosóficas, éticas, religiosas, etc.); • estudo dos acontecimentos que, em cada caso, deter- minaram ou determinam a preservação ou a mudança de uma formação social em seus aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais; • estudo dos diferentes suportes da memória coletiva (do- cumentos, monumentos, pinturas, fotografias, filmes, moedas, lápides funerárias, testemunhos e relatos orais e escritos, etc.). Lingüística • estudo das estruturas da linguagem como sistema dota- do de princípios internos de funcionamento e transfor- mação; • estudo das relações entre língua (a estrutura) e fala ou palavra (o uso da língua pelos falantes); • estudo das relações entre a linguagem e os outros siste- mas de signos e símbolos ou outros sistemas de comu- nicação. Psicanálise • estudo da estrutura e do funcionamento do inconscien- te e de suas relações com o consciente; • estudo das patologias ou perturbações inconscientes e suas expressões conscientes (neuroses e psicoses). Devemos observar que: • cada uma das ciências humanas subdivide-se em vários ramos, definidos pela especificidade crescente de seus objetos e métodos. Assim, podemos falar em psicologia social, clínica, do desenvolvimento, da aprendizagem, da criança, do adolescente, etc. Ou em sociologia política, do trabalho, rural, urbana, econômica, etc. Também po- demos falar em história econômica, política, oral, social, etc. Ou levar em consideração que aantropologia depen- de de investigações feitas pela etnografia e pela etnolo- gia ou pela arqueologia, assim como a lingüística traba- lha com a fonologia, a fonética, a gramática, a semântica, a sintaxe, etc.; • embora com campos e métodos específicos, as ciências humanas tendem a apresentar resultados mais comple- tos e satisfatórios quando trabalham interdisciplinar- mente, de modo a abranger os múltiplos aspectos simul- tâneos e sucessivos dos fenômenos estudados; • os desenvolvimentos da lingüística, da antropologia eda psicanálise suscitaram o aparecimento de uma nova dis- ciplina ou interdisciplina científica: a semiologia, que es- tuda os diferentes sistemas de signos e símbolos que constituem as múltiplas e diferentes formas de comuni- cação. O desenvolvimento da semiologia conduziu à idéia de que signos e símbolos são ações e práticas só- cio-históricas, isto é, estão referidos às relações sociais e às suas condições históricas, cada sociedade e cada cultura constituindo-se como um sistema que integra e totaliza vários subsistemas de signos esímbolos (lingua- gem, arte, religião, instituições sociais e políticas, costu- mes, etc.). Vários estudiosos propuseram que o método das ciên- cias humanas fosse capaz de descrever e interpretar esses subsistem as e o sistema geral que os unifica. Essemétodo éa semiótica, tomada como metodologia própria às ciên- cias humanas e capaz de unificá-Ias. CAPiTULO 4 o ideal científico e a razão instrumental o ideal científico O percurso que fizemos no estudo das ciências eviden- cia a existência de um ideal científico: embora continuida- des e rupturas marquem os conhecimentos científicos, a ciência é a confiança que a cultura ocidental deposita na razão como capacidade para conhecer a realidade, mesmo que esta, afinal, tenha de ser inteiramente construída pe- la própria atividade racional. A lógica que rege o pensamento científico contempo- râneo está centrada na idéia de demonstração e prova, ba- seada na definição ou construção do objeto do conheci- mento por suas propriedades e funções e da posição do sujeito do conhecimento, por meio das operações de aná- lise, síntese e interpretação. A ciência contemporânea fun- . da-se: • na distinção entre sujeito e objeto do conhecimento, que permite estabelecer a idéia de objetividade, isto é, de in- dependência dos fenômenos em relação ao sujeito que conhece e age;

O Ideal Científico e a Razão Instrumental- Texto 4.1

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O ideal científico, ciência desinteressada e utilitarismo, a ideologia cientificista.

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  • 1232 lI13UW". A cincia

    estudo das transformaes das sociedades e comunida-des sob o impacto de acontecimentos polticos (revolu-es, guerras civis, conquistas territoriais), econmicos(crises, inovaes tcnicas, descobertas de novas formasde explorao da riqueza ou procedimentos de produo,mudanas na diviso social do trabalho), sociais (movi-mentos sociais, movimentos populares, mudanas na es-trutura e organizao da famlia, da educao, da morali-dade social, etc.) e culturais (mudanas cientficas,tecnolgicas, artsticas, filosficas, ticas, religiosas, etc.);

    estudo dos acontecimentos que, em cada caso, deter-minaram ou determinam a preservao ou a mudanade uma formao social em seus aspectos econmicos,polticos, sociais e culturais;

    estudo dos diferentes suportes da memria coletiva (do-cumentos, monumentos, pinturas, fotografias, filmes,moedas, lpides funerrias, testemunhos e relatos oraise escritos, etc.).

    Lingstica estudo das estruturas da linguagem como sistema dota-do de princpios internos de funcionamento e transfor-mao;

    estudo das relaes entre lngua (a estrutura) e fala oupalavra (o uso da lngua pelos falantes);

    estudo das relaes entre a linguagem e os outros siste-mas de signos e smbolos ou outros sistemas de comu-nicao.

    Psicanlise estudo da estrutura e do funcionamento do inconscien-te e de suas relaes com o consciente;

    estudo das patologias ou perturbaes inconscientes esuas expresses conscientes (neuroses e psicoses).

    Devemos observar que: cada uma das cincias humanas subdivide-se em vriosramos, definidos pela especificidade crescente de seusobjetos e mtodos. Assim, podemos falar em psicologiasocial, clnica, do desenvolvimento, da aprendizagem, dacriana, do adolescente, etc. Ou em sociologia poltica,do trabalho, rural, urbana, econmica, etc. Tambm po-demos falar em histria econmica, poltica, oral, social,etc. Ou levar em considerao que aantropologia depen-de de investigaes feitas pela etnografia e pela etnolo-gia ou pela arqueologia, assim como a lingstica traba-lha com a fonologia, a fontica, a gramtica, a semntica,a sintaxe, etc.;

    embora com campos e mtodos especficos, as cinciashumanas tendem a apresentar resultados mais comple-tos e satisfatrios quando trabalham interdisciplinar-

    mente, de modo a abranger os mltiplos aspectos simul-tneos e sucessivos dos fenmenos estudados;

    os desenvolvimentos da lingstica, da antropologia edapsicanlise suscitaram o aparecimento de uma nova dis-ciplina ou interdisciplina cientfica: a semiologia, que es-tuda os diferentes sistemas de signos e smbolos queconstituem as mltiplas e diferentes formas de comuni-cao. O desenvolvimento da semiologia conduziu idia de que signos e smbolos so aes e prticas s-cio-histricas, isto , esto referidos s relaes sociaise s suas condies histricas, cada sociedade e cadacultura constituindo-se como um sistema que integra etotaliza vrios subsistemas de signos esmbolos (lingua-gem, arte, religio, instituies sociais e polticas, costu-mes, etc.).

    Vrios estudiosos propuseram que omtodo das cin-cias humanas fosse capaz de descrever e interpretar essessubsistem as e o sistema geral que os unifica. Essemtodo a semitica, tomada como metodologia prpria s cin-cias humanas e capaz de unific-Ias.

    CAPiTULO 4

    o ideal cientfico e a razoinstrumental

    o ideal cientficoOpercurso que fizemos no estudo das cincias eviden-

    cia a existncia de um ideal cientfico: embora continuida-des e rupturas marquem os conhecimentos cientficos, acincia a confiana que a cultura ocidental deposita narazo como capacidade para conhecer a realidade, mesmoque esta, afinal, tenha de ser inteiramente construda pe-la prpria atividade racional.

    A lgica que rege o pensamento cientfico contempo-rneo est centrada na idia de demonstrao e prova, ba-seada na definio ou construo do objeto do conheci-mento por suas propriedades e funes e da posio dosujeito do conhecimento, por meio das operaes de an-lise, sntese e interpretao. A cincia contempornea fun- .da-se: na distino entre sujeito e objeto do conhecimento, quepermite estabelecer a idia de objetividade, isto , de in-dependncia dos fenmenos em relao ao sujeito queconhece e age;

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  • o ideal cientfico e a razo instrumental .,IItIII'233 I

    na idia de mtodo como um conjunto de regras, normase procedimentos gerais, que servem para definir ou cons-truir o objeto e para o autocontrole do pensamento du-rante a investigao e, aps esta, para a confirmao oufalsificao dos resultados obtidos. A idia de mtodo temcomo pressuposto que o pensamento obedece universal-mente acertos princpios internos - identidade, no-con-tradio, terceiro excludo, razo suficiente - dos quaisdependem o conhecimento da verdade e a excluso dofalso. A verdade pode ser compreendida seja como cor-respondncia necessria entre os conceitos e a realida-de, seja como coerncia interna dos prprios conceitos;

    nas operaes de anlise e sntese, isto , de passagemdo todo complexo s suas partes constituintes ou de pas-sagem das partes ao todo que as explica e determina. Oobjeto cientfico um fenmeno submetido anlise e sntese, que descrevem os fatos observados ou cons-troem a prpria entidade objetiva como um campo de re-laes internas necessrias, ou seja, uma estrutura quepode ser conhecida em seus elementos, suas proprieda-des, suas funes e seus modos de permanncia ou detransformao;

    na idia de lei do fenmeno, isto , de regularidades econstncias universais e necessrias, que definem o mo-do de ser e de comportar-se do objeto, seja este tomadocomo um campo separado dos demais, seja em suas re-laes com outros objetos ou campos de realidade. A leicientfica define o que o fato-fenmeno ou o objetoconstrudo pelas operaes cientficas. Em outras pala-vras, a lei cientfica diz como o objeto se constitui, comose comporta, por que e como permanece, por que e co-mo se transforma, sobre quais fenmenos atua e de quaissofre ao. A lei define o objeto segundo um sistema com-plexo de relaes necessrias de causalidade, comple-mentaridade, incluso e excluso. A idia de lei visa mar-car o carter necessrio do objeto e afastar as idias deacaso, contingncia, indeterminao, oferecendo o ob-jeto como completamente determinado pelo pensamen-to ou completamente conhecido ou cognoscvel;

    no uso de instrumentos tecnolgicos e no simplesmen-te tcnicos. Os instrumentos tcnicos so prolongamen-tos de capacidades do corpo humano e destinam-se aau-ment-Ias na relao do nosso corpo com o mundo. Osinstrumentos tecnolgicos so cincia cristalizada emobjetos materiais, nada possuem em comum com as ca-pacidades e aptides do corpo humano; visam intervirnos fenmenos estudados e mesmo construir o prprioobjeto cientfico; destinam-se a dominar e transformar omundo e no simplesmente a facilitar a relao do ho-mem com o mundo. A tecnologia confere cincia preci-so e controle dos resultados, aplicao prtica e inter-disciplinaridade;

    r/O! _I~!!?/t{I 17>'

    t.{._-l- oS-

    Tcnica de clonagem de genes em laboratrio daUnesp de Jaboticabal (SP), onde se encontra o bancode genes do Projeto Genoma. As amostras de clonesso inoculadas em placas de crescimento com afinalidade de extrao de DNA. A pesquisa procuracombater a doena do amarelinho que ataca a lavourada laranja.

    na criao de uma linguagem especfica e prpria, distan-te da linguagem cotidiana e da linguagem literria. A cin-cia procura afastar os dados qualitativos eperceptivo-emo-tivos dos objetos ou dos fenmenos para guardar ouconstruir apenas seus aspectos quantitativos e relacionais.

    A linguagem cotidiana e a literria so conotativas e po-lissmicas, o que significa que nelas as palavras possuemmltiplos significados simultneos, subentendidos, ambi-gidades e exprimem tanto o sujeito quanto as coisas, ouseja, exprimem as relaes vividas entre o sujeito e o mun-do qualitativo de sons, cores, formas, odores, valores, sen-timentos, etc.

    Nas cincias, porm, sons e cores so explicados co-mo variao no comprimento das ondas sonoras e lumino-sas, observadas e medidas no laboratrio. Valores e senti-mentos so explicados pelas anlises do corpo vivido e daconscincia, feitas pela psicologia; pelas anlises da estru-tura e organizao da sociedade, feitas pela sociologia epela antropologia.

    A linguagem cientfica destaca o objeto das relaescom o sujeito, separa-o da experincia vivida cotidiana e

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  • 123411111lrlMi. A cincia

    constri uma linguagem puramente denotativa para expri-mirsem ambigidades as leis do objeto. Osimbolismo cien-tfico rompe com o simbolismo da linguagem cotidiana cons-truindo uma linguagem prpria, com smbolos unvocos edenotativos, de significado nico e universal. A cincia cons-tri o algoritmo e fala por meio deles ou de uma combina-tria de estilo matemtico.

    Justamente por serem estes os principais traos doideal cientfico, podemos compreender por que existem osproblemas epistemolgicos examinados nos captulos pre-cedentes. Emoutras palavras, o ideal de cientificidade im-pe s cincias critrios e finalidades que, quando impedi-dos de se concretizarem, foram rupturas e mudanastericas profundas, fazendo desaparecer campos e disci-plinas cientficos ou levando ao surgimento de objetos, m-todos, disciplinas e campos de investigao novos.

    Cincia desinteressadae utilitarisIllo

    DesdeaRenascena- isto ,desde o Humanismo, quecolocava o homem no centro do Universo eafirmava seu po-der para conhecer edominar a realidade - duas concepessobre o valor da cincia estiveram sempre em confronto.

    A primeira delas, que chamaremos de ideal do conhe-cimento desinteressado, afirma que o valor de uma cinciaencontra-se na qualidade, no rigor ena exatido, na coern-cia e naverdade de uma teoria, independentemente de suaaplicao prtica. A teoria cientfica vale por trazer conheci-mentos novos sobre fatos desconhecidos, por ampliar o sa-ber humano sobre a realidade e no por ser aplicvel na pr-tica. Emoutras palavras, por ser verdadeira que a cinciapode ser aplicada na prtica, mas o uso da cincia conse-qncia e no causa do conhecimento cientfico.

    A segunda concepo, conhecida como utilitarismo,afirma, ao contrrio, que o valor de uma cincia encontra-se na quantidade de aplicaes prticas que possa permi-tir. o uso ou a utilidade imediata dos conhecimentos queprova a verdade de uma teoria cientfica e lhe confere va-lor. Os conhecimentos so procurados para resolver pro-blemas prticos e estes determinam no s o aparecimen-to de uma cincia mas tambm suas transformaes nodecorrer do tempo.

    As duas concepes so verdadeiras, mas parciais. Seuma teoria cientfica fosse elaborada apenas por suas fina-lidades prticas imediatas, inmeras pesquisas jamais te-riam sido feitas e inmeros fenmenos jamais teriam sidoconhecidos, pois, com freqncia, os conhecimentos teri-cos esto mais avanados do que as capacidades tcnicas

    de uma poca e, em geral, sua aplicao s percebida es possvel muito tempo depois de haver sido elaborada.

    No entanto, se uma teoria cientfica no for capaz desuscitar aplicaes, se no for capaz de permitir o surgi-mento de objetos tcnicos e tecnolgicos, instrumentos,utenslios, mquinas, medicamentos, de resolver proble-mas importantes para os seres humanos, ento seremosobrigados a dizer que a tcnica e a tecnologia so cegas,incertas, arriscadas e perigosas, porque so prticas sembases tericas seguras. Na realidade, teoria e prtica cien-tficas esto relacionadas na concepo moderna e con-tempornea de cincia, mesmo que uma possa estar maisavanada do que a outra.

    A distino ea relao entre cincia pura e cincia apli-cada pode solucionar o impasse ou o confronto entre asduas concepes sobre o valor das teorias cientficas, ga-rantindo, por um lado, que uma teoria possa e deva ser ela-borada sem a preocupao com fins prticos imediatos,embora possa, mais tarde, contribuir para eles; e, por ou-tro, garantindo o carter cientfico de teorias construdasdiretamente com finalidades prticas, as quais podem, porsua vez, suscitar investigaes puramente tericas.

    Pode-sedizer que so problemas edificuldades tcnicase prticas que suscitam o desenvolvimento de conhecimen-tos tericos. Sabemos, por exemplo, que o qumico Lavoisierdecidiu estudar o fenmeno da combusto para resolver pro-blemas econmicos de iluminao da cidade de Paris, e queGalileu eTorricelli investigaram o movimento dos corpos novcuo para resolver problemas de carregamento de grandespesos nos portos e para responder auma pergunta dos cons-trutores de fontes dos jardins da cidade de Florena.

    No entanto, o que sempre se verifica que a explica-o cientfica e a teoria acabam conhecendo muito mais fa-tos e relaes do que o que era necessrio para solucionaro problema prtico, de tal modo que as pesquisas tericasvo avanando j sem a preocupao prtica, embora co-mecem a surgir e a suscitar, tempos depois, solues pr-ticas para problemas novos. Assim, por exemplo, passou-se muito tempo at que a teoria eletromagntica de Hertzlevasse s tcnicas de radiodifuso.

    Osenso comum, ignorando as complexas relaes en-tre as teorias cientficas e as tcnicas, entre cincia pura ecincia aplicada, entre teoria e prtica e entre verdade e uti-lidade, tende a identificar as cincias com os resultados desuas aplicaes. Essa identificao desemboca numa ati-tude conhecida como cientificismo, isto , a fuso entrecincia e tcnica e a iluso da neutralidade cientfica.

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  • o ideal cientfico e a razo instrumental

    Examinemos brevemente cada um desses aspectosque constituem a ideologia da cincia na sociedade con-tempornea.

    o cientificismoo cientificismo a crena infundada de que a cincia

    pode e deve conhecer tudo; que, de fato, conhece tudo e a explicao causal das leis da realidade tal como esta emsi mesma.

    Ao contrrio dos cientistas, que no cessam de en-frentar obstculos epistemolgicos, problemas e enig-mas, o senso comum cientificista redunda numa ideolo-gia e numa mitologia da cincia.

    Ideologia da cincia: crena no progresso e na evolu-o dos conhecimentos cientficos que, um dia, explicarototalmente a realidade e permitiro manipul-Ia tecnica-mente, sem limites para a ao humana.

    Mitologia da cincia: crena na cincia como se fossemagia e poderio ilimitado sobre as coisas e os homens,dando-lhe o lugar que muitos costumam dar s religies,isto , um conjunto doutrinrio de verdades intemporais,absolutas e inquestionveis.

    A ideologia e a mitologia cientificistas encaram a cin-cia no pelo prisma do trabalho do conhecimento, mas peloprisma dos resultados (apresentados como espetaculares emiraculosos) e sobretudo como uma forma de poder socialede controle do pensamento humano. Poressemotivo, acei-tam a ideologia da competncia, isto , a idia de que h, nasociedade, os que sabem e os que no sabem, que os pri-meiros so competentes etm o direito de mandar ede exer-cer poderes, enquanto os demais so incompetentes, de-vendo obedecer e ser mandados. Em resumo, a sociedadedeve ser dirigida e comandada pelos que "sabem" e os de-mais devem executar as tarefas que lhes so ordenadas.

    A iluso da neutralidade da cinciaComo a cincia se caracteriza pela separao e pela

    distino entre o sujeito do conhecimento e o objeto e porretirar dos objetos do conhecimento os elementos subje-tivos; como os procedimentos cientficos de observao,experimentao e interpretao procuram alcanar o obje-to real ou o objeto construdo como modelo aproximado doreal; e, enfim, como os resultados obtidos por uma cinciano dependem da boa ou m vontade do cientista nem desuas paixes, estamos convencidos de que a cincia neu-tra ou imparcial. Diz razo o que as coisas so em si mes-mas. Desinteressadamente.

    No entanto, essa imagem da neutralidade cientfica ilusria. Quando o cientista escolhe uma certa definio de

    seu objeto, decide usar um determinado mtodo e esperaobter certos resultados, sua atividade no neutra nem im-parcial, mas feita por escolhas precisas. Vamos tomar trsexemplos que nos ajudaro a esclarecer este ponto.1. O racismo no apenas uma ideologia social e poltica;

    tambm uma teoria que se pretende cientfica, apoia-da em observaes, dados e leis conseguidos com a bio-logia, a psicologia, a sociologia. uma certa maneira deapresentar tais dados de modo a transformar diferenastnicas e culturais em diferenas biolgicas naturaisimutveis e separar os seres humanos em superiores einferiores, dando aos primeiros justificativas para explo-rar, dominar e mesmo exterminar os segundos.

    2. Por que Coprnico teve de esconder os resultados desuas pesquisas e Galileu foi forado a comparecer pe-rante a Inquisio e negar que a Terra se movia em re-dor do Sol? Porque a concepo astronmica geocn-trica (elaborada na Antiguidade) permitia que a IgrejaRomana mantivesse a idia de que a realidade cons-tituda por uma hierarquia de seres, que vo dos maisperfeitos - os celestes - aos mais imperfeitos - osinfernais -, tendo aTerra como ponto intermedirio en-tre o celeste e o infernal. Essa posio da Terra comoponto intermedirio servia de base para a afirmao deque a mesma funo pertencia Igreja e que esta, por-tanto, estava mais prxima de Deus do que as outras re-ligies e que, no mundo cristo, ela ocupava um lugarmais alto do que os reis eos imperadores. Estes, por suavez, na hierarquia de perfeio dos seres, estavam aci-ma dos bares e estes acima dos camponeses e servos.Se a astronomia demonstrasse que aTerra no o cen-tro do Universo e se a mecnica galilaica demonstrasseque todos os seres esto submetidos s mesmas leisdo movimento, ento as hierarquias celestes, naturaise humanas perderiam legitimidade e fundamento, noprecisando ser respeitadas. Uma sociedade e uma con-cepo do poder viram-se ameaadas por uma novaconcepo cientfica.

    3. Nosso terceiro exemplo pode ser dado com a antropolo-gia. Durante muito tempo os antroplogos afirmaram quehavia duas formas de pensamento cientificamente ob-servveis e com leis diferentes: o pensamento lgico-ra-cional dos civilizados (homens europeus brancos adul-tos) e o pensamento pr-lgico e pr-racional dosselvagens ou primitivos (africanos, ndios, tribos austra-lianas). O primeiro era considerado superior, verdadeiroe evoludo; o segundo, inferior, falso, supersticioso eatra-sado, cabendo aos brancos europeus "auxiliar" os selva-gens "primitivos" a abandonar sua cultura e adquirir acultura "evoluda" dos colonizadores. Em outras pala-vras, uma cincia como aantropologia simplesmente ex-primia com conceitos e teorias o poder dos dominantese legitimava a dominao colonial.

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  • A cincia

    A fotografia, inventada em 1839, foi muito usada comoforma de registro dos povos ento chamados deprimitivos, como neste daguerretipo de um indiobotocudo, datado de 1844.

    As condies atuais da pesquisa e osgrandes interesses em jogo

    o melhor caminho para perceber a impossibilidade deuma cincia neutra levar em considerao o modo comoa pesquisa cientfica se realiza em nosso tempo.

    Durantesculososcientistas trabalharam individualmen-te (mesmo que possussem auxiliares e discpulos) em seuspequenos laboratrios. Suas pesquisas eram custeadas oupor eles mesmos ou por reis, nobres e burgueses ricos, quedesejavamaglria de patrocinar descobertas e asvantagensprticas que delas poderiam advir. Por sua vez, o senso co-mum social olhava o cientista como inventor egnio.

    Hoje os cientistas trabalham coletivamente, em equi-pes, nos grandes laboratrios universitrios, nos dos ins-titutos de pesquisa e nos das grandes empresas transna-cionais que participam de um sistema conhecido comocomplexo industrial-militar. As pesquisas so financiadaspelo Estado (nas universidades e institutos), pelas empre-sas privadas (em seus laboratrios) e por ambos (nos cen-tros de investigao do complexo industrial-militar). Sopesquisas que exigem altos investimentos econmicos e

    das quais se esperam resultados que a opinio pblica nemsempre conhece. Alm disso, os cientistas de uma mesmarea de investigao lutam entre si porque competem porrecursos e finaciamentos, etendem a fazer segredo de suasdescobertas, pois dependem delas para conseguir fundose vencer a competio com outros.

    Sabemos, hoje, que a maioria dos resultados cientfi-cos que usamos em nossa vida cotidiana - mquinas, re-mdios, fertilizantes, produtos de limpeza e de higiene,materiais sintticos, computadores - tiveram como ori-gem investigaes militares e estratgicas, competieseconmicas entre grandes empresas transnacionais ecompeties polticas entre grandes Estados. Muito doque usamos em nosso cotidiano provm de pesquisas nu-cleares, bacteriolgicas e espaciais.

    O senso comum social, agora, v o cientista como en-genheiro e mago, em roupas brancas no interior de gran-deslaboratrios repletos de objetos incompreensveis, ro-deado de outros cientistas, fazendo clculos misteriososdiante de dezenas de computadores.

    Tanto na viso anterior - o cientista como inventor egnio solitrio - quanto na atual- o cientista como mem-bro de uma equipe de engenheiros emagos -, o senso co-mum v a cincia desligada do contexto das condies desua realizao e de suas finalidades. Eis por que tende aacreditar na neutralidade cientfica, na idia de que o ni-co compromisso da cincia o conhecimento verdadeiro edesinteressado e a soluo correta de nossos problemas.

    A ideologia cientificista usa essa imagem idealizadapara consolidar a da neutralidade cientfica, dissimulando,com isso, a origem ea finalidade da maioria das pesquisas,destinadas a controlar a natureza e a sociedade segundoos interesses dos grupos que dominam os financiamentosdos laboratrios.

    A razo il!trulTIentalPor que h uma ideologia e uma mitologia da cincia?

    A Escola de Frankfurt e a razoinstrumental

    Quando estudamos a teoria do conhecimento, exami-namos a noo de ideologia como lgica social imaginriade ocultamento da realidade histrica. Ao estudarmos onascimento da Filosofia, examinamos a diferena entremythos e lgos, isto , entre a explicao antropomrfica emgica do mundo e a explicao racional. Quando estuda-mos a razo, vimos que alguns filsofos alemes, reunidosna Escola de Frankfurt, descreveram a racionalidade oci-

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  • - - entfico e a razo instrumental

    - ::omo instrumentalizao da razo. Se reunirmos es-- irios estudos que fizemos at aqui, poderemos res-

    : :-::er pergunta sobre a ideologizao e amitologizao:" cincia.

    A razo instrumental - que os frankfurtianos, como!.dorno, Marcuse e Horkheimer, tambm designaram comaexpresso razo iluminista - nasce quando o sujeito doconhecimento toma a deciso de que conhecer dominare controlar a natureza e os seres humanos. Assim, porexemplo, o filsofo Francis Bacon, no incio do sculo XVII,criou uma expresso para referir-se ao objeto do conheci-mento cientfico: "a natureza atormentada".

    Atormentar a natureza faz-Ia reagir a condies arti-ficiais, criadas pelo homem. O laboratrio cientfico a ma-neira paradigmtica de efetuar esse tormento, pois, nele,plantas, animais, metais, lquidos, gases, etc. so submeti-dos acondies de investigao totalmente diversas das na-rurais, de maneira a fazer com que a experimentao supe-re a experincia, descobrindo formas, causas, efeitos queno poderiam ser conhecidos se contssemos apenas coma atividade espontnea da natureza. Atormentar a natureza conhecer seus segredos para domin-Ia e transform-Ia.

    O tormento da realidade aumenta com a cincia con-tempornea, uma vez que esta no se contenta em conhe-cer as coisas eos seres humanos, mas os constri artificial-mente e aplica os resultados dessa construo ao mundofsico, biolgico e humano (psquico, social, poltico, hist-rico). Assim, por exemplo, a organizao do processo detrabalho nas indstrias apresenta-se como cientfica por-que baseada em conceitos da psicologia, da sociologia,da economia, que permitem dominar e controlar o traba-lho humano em todos os aspectos (controle sobre o corpoeo esprito dos trabalhadores), a fim de que a produtivida-de seja a maior possvel para render lucros ao capital.

    Namedida em que a razose torna instrumental, a cin-ciavai deixando deser uma forma de acessoaosconhecimen-tos verdadeiros para tornar-se um instrumento de domina-o, poder e explorao. Paraque no seja percebida comotal, passa a ser sustentada pela ideologia cientificista, que,atravs da escola edos meios de comunicao demassa, de-semboca na mitologia cientificista.

    Elaborao cientfica X mitologia cientficaTodavia, devemos distinguir entre o momento da in-

    vestigao cientfica propriamente dita e o da ideologiza-o-mitologizao de uma cincia. Umexemplo poder au-xiliar-nos a perceber essa diferena.

    Quando Darwin elabora a teoria biolgica da evoluodas espcies, o modelo de explicao usado por ele permi-tia-lhe supor que o processo evolutivo ocorria por seleonatural dos mais aptos sobrevivncia.

    Ora, na mesma poca, a sociedade capitalista estavaconvencida de que o progresso social e histrico provinhada competio e da concorrncia dos indivduos, segundoa lei econmica da oferta e da procura. Um filsofo, Spen-cer, aplicou, ento, a teoria darwiniana sociedade: nes-ta, os mais "aptos" (isto , os mais capazes de competir econcorrer) tornam-se naturalmente superiores aos outros,vencendo-os em riqueza, privilgios e poder.

    Ao transpor uma teoria biolgica para uma explicaofilosfica sobre a essncia da sociedade, Spencer transfor-mou a teoria cientfica da evoluo em ideologia evolucio-nista. Por qu? Emprimeiro lugar, porque generalizou paratoda a realidade resultados obtidos num campo particularde conhecimentos especficos. Emsegundo lugar, porquetomou conceitos referentes a fatos naturais e os converteuem fatos sociais, como se no houvesse diferena entre na-tureza esociedade. Umavez criada a ideologia evolucionis-ta, o evolucionismo tornou-se teoria da histria e, a seguir,mitologia cientfica do progresso humano.

    Os efeitos da razo instrumentalOemprego da noo de razo instrumental nos permi-

    te compreender: a transformao de uma cincia em ideologia emito social,isto , em senso comum cientificista;

    que a ideologia da cincia no se reduz transformaode uma teoria cientfica em ideologia, mas encontra-sena prpria cincia quando esta concebida como instru-mento de dominao, controle e poder sobre a naturezae a sociedade;

    que as idias de progresso tcnico e neutralidade cient-fica pertencem ao campo da ideologia cientificista.

    Confuso entre cinciae tcnica

    Vimos que a cincia moderna e contempornea trans-forma a tcnica em tecnologia, isto , passa da mquina-utenslio mquina como instrumento de preciso, quepermite conhecimentos mais exatos e novos.

    Essa transformao traz duas conseqncias princi-pais: a primeira se refere ao conhecimento cientfico e a se-gunda, ao estatuto dos objetos tcnicos:1. o conhecimento cientfico concebido como lgica da

    inveno (para soluo de problemas tericos e prti-cos) e como lgica da construo (de objetos tericos),graas possibilidade de estudar os fenmenos sem de-pender apenas dos recursos de nossa percepo e de

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  • 123slliIlUt;Ulil A cincia

    nossa inteligncia. assim que, por exemplo, Galileu serefere ao telescpio como um instrumento cuja funono a de simplesmente aproximar objetos distantes,mas de corrigir as distores de nossos olhos e garantir-nos a imagem correta das coisas. O mesmo foi dito so-bre o microscpio, sobre a balana de preciso, sobre ocronmetro.

    Emnosso tempo, os instrumentos tcnico-tecnol-gicos vo alm da correo de nossa percepo, poiscorrigem falhas de nosso pensamento, uma vez que sointeligncias artificiais (o computador foi chamado de"crebro eletrnico") mais acuradas do que nossa inte-ligncia individual. Evidentemente, so conhecimentoscientficos que permitem a construo desses instru-mentos, mas dando-lhes capacidades que cada um dens, como indivduo, no possui. Ora, os objetos tcni-co-tecnolgicos ampliam a idia da cincia como inven-o e construo dos prprios fenmenos;

    2. os objetos tcnicos so criados pela cincia como ins-trumentos de auxlio ao trabalho humano, mquinas

    para dominar a natureza e a sociedade, instrumentosde preciso para o conhecimento cientfico e, sobretu-do, em sua forma contempornea, como autmatos.Estes so o objeto tcnico-tecnolgico por excelncia,porque possuem as seguintes caractersticas, marcasdo novo estatuto desse objeto:

    so conhecimento cientfico objetivado, isto , deposita-do e concretizado num objeto. So resultado e corporifi-cao de conhecimentos cientficos;

    so objetos que possuem em si mesmos o princpio desua regulao, manuteno e transformao. As mqui-nas antigas dependiam de foras externas para realizarsuas funes (alavancas, polias, manivelas, fora muscu-lar de seres humanos ou de animais, fora hidrulica, etc.).As mquinas modernas so autmatos porque, dado oimpulso eltrico-eletrnico inicial, realizam por si mesmastodas as operaes para as quais foram programadas, in-cluindo a correo de sua prpria ao, a realimentaode energia, a transformao. So auto-reguladas e auto-

    '.

    Neste hospital do Ounia, os pacientes com Aids recebem apenas o tratamento para doenas oportunistas,pois os medicamentos necessrios para reforar o sistema imunolgico so caros em razo do monoplioda indstria farmacutica dos EUA, protegido pela Lei de Patentes.

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  • o ideal cientfico e a razo instrumental .'/!i!!d2391conservadas, porque possuem emsi mesmas as informa-es necessrias ao seu funcionamento;

    como conseqncia, no so propriamente um objetosingular ou individual, mas um sistema de objetos in-terligados por comandos recprocos;

    so sistemas que, uma vez programados, realizam ope-raes tericas complexas, que modificam o contedodos prprios conhecimentos cientficos, isto , os objetostcnico-tecnolgicos fazem parte do trabalho terico.

    Ora, o senso comum social ignora essas transforma-es da cincia e da tcnica e conhece apenas seus resul-tados mais imediatos: os objetos que podem ser usadospor ns (mquina de lavar, video game, televiso a cabo,mquina de calcular, computador, rob industrial, telefo-ne celular, etc.).

    Como, para us-los, precisamos receber um conjuntode informaes detalhadas esofisticadas, tendemos a iden-tificar o conhecimento cientfico com seus efeitos tecnol-gicos. Com isso, deixamos de perceber o essencial, isto ,que as cincias passaram a fazer parte das foras econmi-casprodutivas da sociedade etrouxeram mudanas sociaisde grande porte na diviso social do trabalho, na produoe nadistribuio dos objetos, na forma de consumi-los. Nopercebemos que as pesquisas cientficas so financiadaspor empresas e governos, demandando grandes somas derecursos que retomam, graas aos resultados obtidos, naforma de lucro e poder para os agentes financiadores.

    Por no percebermos o poderio econmico das cin-cias, lutamos para ter acesso, para possuir e consumir osobjetos tecnolgicos, mas no lutamos pelo direito deacesso tanto aos conhecimentos como s pesquisas cien-tficas, nem lutamos pelo direito de decidir seu modo deinsero na vida econmica e poltica de uma sociedade.

    Eispor que, entre outros efeitos de nossa confuso en-tre cincia e tecnologia, aceitamos, no Brasil, polticas edu-cacionais que profissionalizam os jovens no ensino mdio- portanto, antes que tenham tido acesso s cincias pro-priamente ditas - e que destinam poucos recursos pbli-cos s reas de pesquisa nas universidades - portanto,mantendo os cientistas na mera condio de reprodutoresde cincias produzidas em outros pases e sociedades.

    o problema do uso_________________________________________..4a$_ cinS:~l1

    Alm do problema anterior, isto , de teorias cientficasserem formuladas com base em certas decises e escolhas

    do cientista ou do laboratrio onde trabalham os cientistas,com conseqncias srias para os seres humanos, um ou-tro problema tambm trazido pelas cincias: o seu uso.

    Vimos que uma teoria cientfica pode nascer para darresposta a um problema prtico ou tcnico. Vimos tambmque a investigao cientfica pode ir avanando para des-cobertas de fenmenos e relaes que j no possuem re-lao direta com os problemas prticos iniciais e, como con-seqncia, freqente uma teoria estar muito maisavanada do que as tcnicas e tecnologias que poderoaplic-Ia. Muitas vezes, alis, o cientista nem sequer ima-gina que a teoria ter aplicao prtica.

    exatamente isso que torna o uso da cincia algo de-licado, que, em geral, escapa das mos dos prprios pes-quisadores. assim, por exemplo, que a microfsica ouquntica desemboca na fabricao das armas nucleares; abioqumica e a gentica, na de armas bacteriolgicas. Teo-rias sobre a luz e o som permitem a construo de satlitesartificiais, que, se so conectveis instantaneamente emtodo o globo terrestre para a comunicao e informao,tambm so responsveis por espionagem militar e porguerras com armas teleguiadas.

    Quando estudarmos a tica, veremos os graves pro-blemas morais trazidos pelas tcnicas desenvolvidas pelagentica contempornea.

    Uma das caractersticas mais novas da cincia estem que as pesquisas cientficas passaram a fazer partedas foras produtivas da sociedade, isto , da economia.A auto mao, a informatizao, a telecomunicao de-terminam formas de poder econmico, modos de orga-nizar o trabalho industrial e os servios, criam profissese ocupaes novas, destroem profisses e ocupaes an-tigas, introduzem avelocidade na produo de mercado-rias e em sua distribuio e consumo, modificando pa-dres industriais, comerciais e estilos de vida. A cinciatornou-se parte integrante e indispensvel da atividadeeconmica. Tornou-se agente econmico e poltico.

    Alm de fazer parte essencial da atividade econmica,a cincia tambm passou a fazer parte do poder poltico.No por acaso, por exemplo, que governos criem minis-trios e secretarias de Cincia eTecnologia e que destinemverbas para financiar pesquisas civis e militares. Do mes-mo modo que as grandes empresas financiam pesquisas eat criam centros e laboratrios de investigao cientfica,tambm os governos determinam quais cincias sero de-senvolvidas e, nestas, que pesquisas sero financiadas.

    Essanova posio das cincias na sociedade contem-pornea, alm de indicar que mnimo ou quase inexisten-te o grau de neutralidade e de liberdade dos cientistas, in-dica tambm que o uso das cincias define os recursosfinanceiros que nelas sero investidos.

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    00044403313RealceOBJETOS TCNICO-TECNOLGICOS

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    00044403313RealceIMPORTANTE: NO PERCEBEMOS, NO LUTAMOS PELO DIREITO DE SABER COMO FUNCIONA DE FATO E PARA QUE SERVEM E COMO SERO UTILIZADAS AS PESQUISAS CIENTFICAS

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    00044403313RealceREALMENTE O USO (PARA QUE VAI SERVIR?) DO QUE FOI DESCOBERTO CIENTFICAMENTE O QUE VAI DEFINIR OS RECURSOS FINANCEIROS QUE SERO INVESTIDOS. O DINHEIRO QUE MANDA.

  • 1240 ,@ulUlf. A cincia

    A sociedade, porm, no luta pelo direito de interferirnas decises de empresas e governos quando estes deci-dem financiar um tipo de pesquisa em vez de outro. Dessamaneira, o campo cientfico torna-se cada vez mais distan-te da sociedade sem que esta encontre meios para orien-tar o uso das cincias, pois este definido antes do inciodas prprias pesquisas e fora do controle que a sociedadepoderia exercer sobre ele_

    Um exemplo de luta social para interferir nas decisessobre as pesquisas eseus usos encontra-se nos movimen-tos ecolgicos, no novo movimento da gentica'" e emmui-tos movimentos sociais ligados a reivindicaes de direi-tos. De modo geral, porm, a ideologia cientificista tendea ser muito mais forte do que esses movimentos e, em de-corrncia dos poderes econmicos, polticos e militares en-volvidos, a limitar o seu poder de ao.

    CAPTULO 1 A atitude cientfica

    1. D alguns exemplos de certezas do senso comum esua refutao pelas cincias.

    2. Quais as principais caractersticas dos saberes do sen-so comum? Dessascaractersticas, escolha trs eexpli-que-as.

    3. Quais as principais caractersticas do conhecimentocientfico em oposio ao senso comum? Dessascarac-tersticas, escolha trs e explique-as.

    4. Por que em nossa sociedade a cincia tende a sertomada como se fosse magia? Qual o equvoco disso?

    5. Que atividades intelectuais garantem rigor ao traba-lho cientfico?

    6. Como Aristteles define a cincia? Como Granger defi-ne a cincia?

    7. Quais os pr-requisitos para a constituio de umacincia?

    8. Que significa dizer que a cincia um pensamento sis-temtico?

    CAPiTULO 2 A cincia na histria

    1. Quais as trs principais concepes de cincia?

    2. Explique brevemente a concepo raciona lista decincia.

    3. Explique brevemente a concepo empirista decincia.

    4. Explique brevemente a concepo construtivista decincia.

    5. Explique o que significam as expresses "hipot-tico-dedutivo" e "hipottico indutivo".

    6. Quais os princpios do ideal de cientificidade na con-cepo construtivista de cincia?

    7. Qual a principal diferena entre a cincia antiga e acincia clssica ou moderna?

    8. Qual a diferena entre tcnica e tecnologia?

    9. Explique as idias de progresso e evoluo cientficose a concepo de histria pressuposta por elas.

    10. Dalguns exemplos que indiquem a descontinuidadedos conhecimentos cientficos.

    11. Que significam as expresses "ruptura epistemolgi-ca" e "obstculo epistemolgico", criadas por GastonBachelard para se referir s mudanas cientficas?

    12. Quais os tipos de descontinuidade cientfica apresen-tados por Granger?

    13. Oque Thomas Kuhn entende por revoluo cientfica?Quando ela acontece? Por que ela uma ruptura radi-cal com relao cincia anterior?

    14. Oque um paradigma cientfico e uma cincia normal?

    15. Oque uma crise de paradigma cientfico?

    16. Porque, apesar das rupturas e descontinuidades, con-tinuamos acreditando no progresso das cincias?

    17. Que justificativa oferece Kuhn para admitirmos, comalgumas restries, a idia de progresso cientfico?

    18. Como Karl Popper explica a mudana de uma teoriacientfica?

    27 Termo inventado por cientistas para indicar um conjunto de princpios e valores a serem defendidos diante dos problemas ticos trazidos pela gentica con-tempornea.

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    A atitude cientfica - Cap. 1 ideal cientfico e a razo in 6A atitude cientfica - Cap. 1 ideal cientfico e a razo in 7A atitude cientfica - Cap. 1 ideal cientfico e a razo in 8A atitude cientfica - Cap. 1 ideal cientfico e a razo in 9A atitude cientfica - Cap. 1 ideal cientfico e a razo in 10A atitude cientfica - Cap. 1 ideal cientfico e a razo in 11A atitude cientfica - Cap. 1 ideal cientfico e a razo in 12A atitude cientfica - Cap. 1 ideal cientfico e a razo in 13A atitude cientfica - Cap. 1 ideal cientfico e a razo in 14