O Intempestivo e o Desterritorializado

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  • O intempestivo e o desterritorializado:Oswald de Andrade e o lugar das ideias no Brasil

    Murilo Duarte Costa Corra

    ndice1 O binrio e o dual 12 A diferena irredutvel a um baio de

    dois 33 A raiz e o rizoma: Oswald de Andrade

    e uma metafsica canibal 64 guisa de concluso: o intempestivo

    e o desterriorializado 15Referncias 17

    Resumo

    A fim de estimar a extenso polticado gesto antropofgico com relao aoproblema do lugar das ideias no Brasil,investigar-se-o as teorias esttica e polticade Oswald de Andrade, especialmente emseus mais sensveis deslocamentos, ocor-ridos entre o Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924), passando pelo ManifestoAntropofgico (1928) e pela Revista deAntropofagia (1928-1929), at chegar Tese para Concurso da Cadeira de Filosofiada Faculdade de Filosofia, Cincias eLetras da Universidade de So Paulo

    Doutorando em Filosofia e Teoria Geral do Direi-to pela Universidade de So Paulo (USP). Mestreem Filosofia e Teoria do Direito pela UniversidadeFederal de Santa Catarina (UFSC). Professor deFilosofia do Direito e de Introduo ao Estudo do Di-reito.

    (1950), intitulada A crise da filosofia mes-sinica. A leitura problematizante dar-se- em necessria conexo com uma brevehistria das snteses apresentadas comosolues ao problema do lugar das ideias noBrasil, entrevisto a partir de Antonio Cn-dido e Roberto Schawrcz, com o objetivo deverificar se a antropofagia oswaldiana pde,ou no, ser captada pela clssica tenso dia-ltica entre universal e nacional, ou se h, emOswald, um gesto de subverso do problemado lugar das ideias isto , o reposiciona-mento da questo submetida a novas condi-cionantes.

    1 O binrio e o dual

    EM 1950, Antonio Cndido escreveriaLiteratura e Cultura de 1900 a 1945(panorama para estrangeiro) como signo deum esforo por sistematizar a evoluo davida espiritual brasileira. Mais tardiamentepublicado em Literatura e Sociedade, Lite-ratura e Cultura... delineia desde seu princ-pio a histria dos esforos na literatura e nopensamento poltico-social nacionais na pro-gressiva tomada de conscincia e afirmaode nossas particularidades diante de nossasorigens coloniais e da sobrevivncia de suasformas estticas, polticas e institucionais

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    no perodo ps-independncia poltica doBrasil.

    Os processos estticos e polticos que, se-gundo Antonio Cndido (2006, p. 117),teriam assegurado essa afirmao do par-ticular, colocar-se-iam de incio sobre umplano de tenses que orientariam os senti-dos de toda a evoluo de nossa vida espi-ritual. Assumida da perspectiva da produoliterria brasileira como uma tarefa polticaprivilegiada, ao menos desde o Romantismobrasileiro do dbut do sculo XIX, todagrande obra da literatura nacional teria seproduzido unicamente ao preo de entreter-se nas malhas de uma tenso dialtica entrelocalismo e cosmopolitismo, testemunhandoum gnero de equilbrio ideal entre as duastendncias como o signo de um compro-misso mais ou menos feliz entre particulare universal.

    A correlao histrica entre os eventosda independncia poltica e o romantismoliterrio nacional teria constitudo o ele-mento que engendrou uma agressiva recusapor parte dos escritores de romance em per-manecerem atrelados aos valores portugue-ses. Todo um trabalho de formao deuma cultura propriamente nacional ter in-cio com a estereotipada rebeldia contra oportugus, ao mesmo tempo em que se forjaa conscincia dos literatos brasileiros a res-peito de uma srie de obstculos particularesa serem superados: sentimento de inferio-ridade, novidade, mestiagem, tropicalidade(Cndido, 2006, p. 118).

    A literatura brasileira encontrar, pois, en-tre o dbut do sculo XIX e o do sculoXX, dois momentos que, aos olhos do crticocarioca, teriam constitudo as variaes cul-minantes do particularismo literrio na ten-so dialtica do local e do cosmopolita: o

    romantismo (1836-1870) e o modernismo(1922-1945). Ambos os movimentos, con-tudo, a despeito da agressiva afirmao doparticular, teriam procurado inspirao eu-ropeia: os romnticos, ao buscarem afir-mar a peculiaridade literria do Brasil contratoda a influncia da esttica expressiva por-tuguesa, habitam, ainda, a forma demasiada-mente europeia do romance; os modernistas,em um perodo em que j perdera todo osentido levantar-se contra a influncia es-ttica portuguesa, elegero toda forma deacademicismo como antagonista, mas, a ums tempo, abrandaro o dilogo com a Eu-ropa e suas vanguardas, como signo do queCndido (2006, p. 118) ora qualifica comoum amaciamento do dilogo, ora comouma atenuao da rebeldia.

    A par de toda a produo da literaturasertaneja do mil e novecentos, da qual oregionalismo de Os Sertes, de Euclides daCunha, teria constitudo o diapaso dos ro-mances da fase ps-romntica, na poesiareinava o parnasianismo, a reduzir as formasestticas do poema a um puro fim.

    Apenas vinte anos depois, no interior daSemana de 22 surgida em um contextode ausncia de agitao cultural marcadopelo naturalismo convencional e pelo idea-lismo simbolista , que o modernismoprovoca uma ruptura com as duas tendn-cias, e constitui uma espcie de catalisadorda nova literatura (Cndido, 2006, p. 125).Se, por um lado, haver a retomada doparticularismo nacional, ele j no se pro-duz no mesmo plano do particularismo na-cionalista romntico. Como quisera Cn-dido (2006, p. 126-128), o modernismobrasileiro entranhava-se no seio da ambi-guidade de nossa formao cultural, mas, apartir de agora, investia agressivamente con-

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    tra uma srie de recalques tericos que deter-minavam a inferioridade cultural dos brasis.

    Toda a interferncia de uma filosofia dio-nisaca, que encontravam em Raul Bopp, emMrio e em Oswald de Andrade os arautos deum inconsciente coletivo no qual era precisomergulhar sem escafandro, dirigia a tarefade reinterpretar o que at ento as tradiespoltica, social e esttica nacionais haviamentrevisto como signos de inferioridade (onegro, o mulato, o primitivo) e liber-los sobformas simblicas que dessem conta de taissignos como fontes afirmativas de beleza.

    Mesmo diante de toda afirmao do par-ticularismo, Cndido observa a presenade uma inspirao desordenada dos mo-dernistas brasileiros em vanguardas franco-italianas, especialmente quanto a suas for-mas de expresso literria. Com ela,instaura-se toda uma tendncia polmicae ao ensaio como forma privilegiada deprosa forma essa que, aps a dcada detrinta, alcanar o pensamento poltico e so-cial brasileiro de Sylvio Romero a OliveiraVianna, de Gilberto Freyre a Srgio Buar-que de Holanda e a Caio Prado Jnior , ins-taurando na prosa da pesquisa sociolgicanacional um original sincretismo deverasprprio ao ensaio brasileiro; eis o que pro-duzir uma estranha, mas prenhe, comunhoentre observao e imaginao, favorecidapela confluncia da histria, da economia, dafilosofia e das artes (Cndido, 2006, p. 138).

    Os anos 40 iniciariam um novo perodo,marcado pela reao contra o local mal-grado Jos Lins do Rego e Jorge Amado te-nham permanecido regionais. Logo se pro-duziria, apesar da poesia de Carlos Drum-mond de Andrade (Sentimento do mundo,A rosa do povo), uma abrupta ruptura en-tre preocupaes esttica e poltica. Eis o

    que conduziria a literatura a desertar o cen-tro da vida espiritual brasileira, fechando-seprogressivamente sobre si mesma como re-flexo esttica.

    2 A diferena irredutvel a umbaio de dois preciso criar um lugar partepara a Amrica. Claro, ela noest isenta da dominao das r-vores, de uma busca das razes.V-se isto at na literatura, nabusca de uma identidade nacional,e mesmo de uma ascendncia ougenealogia europias (...). O quevale que tudo que aconteceude importante, tudo o que acon-tece de importante, procede porrizoma americano: beatnik, un-derground, subterrneos, bandos egangues, empuxos laterais suces-sivos em conexo imediata comum fora. (Deleuze; Guattari, 2007,p. 30)

    A descrio de Antonio Cndido a res-peito dos elementos duais que comporiamuma lei de evoluo para nossa vidaespiritual subordina sua interpretao auma tenso dialtica entre localismo e cos-mopolitismo. Isto , se todas as grandesobras da cultura nacional constituem umequilbrio ideal entre ambas as tendncias,toda a literatura brasileira que se preocupoucom o problema do particularismo e, logo,em apresentar uma resposta a um s tempoesttica e poltica ao problema sugerido pelolugar das ideias no Brasil, teria articulado emgraus variveis o dado local como substn-cia da expresso e os moldes herdados da

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    tradio europeia como forma da expresso,se seguirmos o diagnstico oferecido porAntonio Cndido.

    A tradio nacional oscilaria, pois, modade um binarismo ou de um dualismo espi-ritual complexo, no interior do qual o ro-mantismo brasileiro das primeiras dcadasdo sculo XIX e o modernismo inauguradopolemicamente com a Semana de 22 teriamconstitudo momentos de culminncia do e-logio do particularismo. Todavia, no dei-xavam de entreter relaes paradoxais comuma tradio europeia, que Cndido quali-fica como universal ou, moda nabuquiana,cosmopolita (Nabuco, 1949).

    Tais relaes constituam-se ora comorapports de agressiva recusa, ora deaproveitamento de formas literrias,como aparecem no caso dos romnticosbrasileiros, em que o autctone desabitaa oca para ir morar na forma mais bem-acabada do romance francs. No caso dosmodernistas, ora persistiram a influncia e ainterferncia da filosofia e da psicanlise vetores metafsicos e ticos das vanguardasfranco-italianas nas quais se haviam inspi-rado , ora se estabeleceu um trabalho desuperao do complexo de inferioridadenacional por meio de um lirismo telrico ecrtico que, ao ensaiar suas viagens em di-reo ao inconsciente coletivo para superaros recalques que determinavam a tradi-cional perspectiva de nossa inferioridadeprimitivista, respondiam a uma vocaodionisaca de razes propriamente europeias.

    H, contudo, no contexto dos proble-mas sugeridos por Antonio Cndido, umadinmica particular, surgida no seio do mo-dernismo, que no parece poder ser captadaem sua integridade porque no teria permi-tido deixar-se inscrever em um movimento

    dialtico sem se ver essencialmente muti-lada.

    Trata-se de um olhar possvel sobre oproblema do lugar das ideias no Brasilque, sem sequer ter tocado nele com am-bas as mos, parece recus-lo como umfalso-problema, ou mesmo recoloc-lo ou-tramente, em outro terreno, sob determi-naes hibridizantes que parecem escapar aodiagnstico de Antonio Cndido. Refiro-me antropofagia oswaldiana e a seus desdo-bramentos atuais, que encontram entre etn-logos e cientistas polticos contemporneosa chancela de suas intuies antropolgicase de seu potencial poltico profanatrio mais do que simplesmente polmico, cuja as-sero teria constitudo uma clara estratgiade neutralizao desse mesmo potencial.

    Eis o que torna possvel entrever naantropofagia oswaldiana uma outra linha defuga e de anlise apta a recolocar em jogo,sob novos determinantes, o problema do lu-gar das ideias no Brasil. Ao faz-lo, Os-wald parece fugir tanto sua pura e sim-ples recusa como teria sugerido o cernedo clebre argumento de Maria Sylvia deCarvalho Franco acerca do carter funcionaldas ideias , bem como tampouco parecepoder ser alinhado formulao de RobertoSchwarcz (2000) sobre as ideias fora de lu-gar, e toda a crtica endereada a desvendarcomo o liberalismo pde ter se tornado umaideologia de segundo grau no Brasil, fruto daassuno do carter de um particularismono-universal bastante caracterstico do li-beralismo brasileiro (Ricupero, 2008).

    Trata-se, portanto, de investigar se o pen-samento esttico e poltico dos escritos deOswald de Andrade teria, ou no, significadouma efetiva ruptura com as formas clssi-cas de se pensar a questo das relaes en-

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    tre as ideias e seu lugar no Brasil moderno,ainda acossado por seu passado colonial, es-cravagista e, a um s tempo, comercial ediscursivamente liberal dos anos 1920/1930.Para alm disso, exsurge, no primitivismooswaldiano, a lgica estrangeira do negroda terra (o ndio) que, segundo o diagns-tico de Eduardo Viveiros de Castro (2009, p.176), teria permanecido margem da teoriasocial produzida no incio do sculo XX, le-gitimamente preocupada com o escravismonegro dos canaviais e cafezais como pecadooriginal brasileiro.

    nesse plano que se torna preciso avaliarsob que linhas de anlise a progressiva cons-truo da antropofagia oswaldiana poderiaapresentar-se como a reflexo meta-culturalmais original produzida na Amrica Latinaat hoje, segundo a avaliao de Viveirosde Castro (2009, p. 168), capaz at mesmode ter tornado anacrnico o clebre clichcebrapiano-marxista sobre as idias fora dolugar.

    Para isso, seria necessrio estimar sob quecondies d-se a construo oswaldiana deuma sntese disjuntiva e diferencial na in-terao universal-local, que terminou porconceber a antropofagia como nica lei domundo, segundo a qual s me interessa oque no meu (Andrade, 1990, p. 47), ex-purgando, dessa forma, qualquer possibili-dade de retorno a uma lgica romntica desimples afirmao do nacional ou do parti-cular.

    Ao mesmo tempo, preciso analisar comoa intuio de uma metafsica canibal per-turba a progresso demasiadamente linearsugerida pelo diagnstico binrio ou dual,ainda que reconhecidamente complexo, datenso dialtica a que estaria submetida ahistria das variaes de nossa vida espiri-

    tual; desse ponto de vista, trata-se de definira relao entre o primitivismo oswaldiano ea interferncia do problema do intempestivo,nascido com Nietzsche, de cuja filosofia Os-wald fora declaradamente um vido leitor.

    Finalmente, se a antropofagia retira otempo de seus gonzos expresso shakes-peariana que outrora Pelbart (2007) cani-balizara , Oswald tampouco deixa into-cadas as certezas referenciais sobre o lugardas ideias. Se sua crtica telrica no recusao problema, ela o reposiciona nomadica-mente sob o signo do desterritorializado, oqual opera uma diferena que torna impos-svel reduzi-lo ao desterrado de Srgio Buar-que de Holanda (2006, p. 19) ou ao senti-mento molesto de despaisamento do jovemDrummond (Andrade, 2002, p. 59-60).

    A fim de estimar a extenso da rup-tura produzida pelo gesto antropofgico noseio das teorias esttica e poltica de Os-wald de Andrade, cuidaremos de analis-las em seus mais sensveis deslocamen-tos, ocorridos entre o Manifesto da Poe-sia Pau-Brasil (1924), passando pelo Mani-festo Antropfago (1928) e pela Revista deAntropofagia (1928-1929), at chegar Tesepara Concurso da Cadeira de Filosofia daFaculdade de Filosofia, Cincias e Letras daUniversidade de So Paulo (1950), intituladaA crise da filosofia messinica, texto emque se insinua a intuio de uma metafsicacanibal capaz de, subvertendo-os, escapar aoproblema da dialtica da evoluo de nossoesprito, de Cndido, e ao problema do lugardas ideias, de Schwarcz.

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    3 A raiz e o rizoma: Oswald deAndrade e uma metafsicacanibal

    3.1 A raiz: No somosromnticos...

    A teoria da sociedade brasileira,produzida pela elite brasileira nocomeo do sculo XX, estavaobcecada pela questo da es-cravido negra, por razes b-vias e justas: era pela escravidoque se devia pensar a falha, opecado essencial, a raiz da ver-gonha nacional. Mas nisso, esque-ceram da Amaznia, dos negrosda terra (os ndios), do pas paraalm dos canaviais e dos cafezais.Ainda no conseguimos escapar dotratado de Tordesilhas. (Viveirosde Castro, 2009, p. 176)

    Desde 1836, quando Domingos Jos deMagalhes publica um clebre ensaio na Re-vista Nitheroy, Sobre a histria da lite-ratura, vemo-nos s voltas com a provoca-tiva meta enunciada em seus primeiros par-grafos: Cada povo tem sua Literatura, comocada homem o seu carcter, cada rvore o seufruto. Mas esta verdade, que para os primi-tivos incontestvel, e absoluta, todavia al-guma modificao experimenta entre aque-lles, cuja civilisao apenas um reflexo dacivilisao de outro povo. (...) similhante srvores enxertadas (...) (Magalhes, 1978,p. 132-133).

    Os plurais movimentos modernistas devanguarda, sobretudo deflagrados entre oManifesto da Poesia-Pau Brasil (1924) e oManifesto Antropfago (1928), com o em-

    blema da poesia de exportao (Andrade,1992, p. 99 e, ainda, Andrade, 1990, p.42), aparentemente teriam retomado o pro-jeto romntico de instituir uma literatura na-cional. No entanto, se desenvolvimentosulteriores do projeto modernista resvalamem numerosos aspectos na pretenso neo-romntica de conceber uma literatura dopuro enraizamento, a antropofagia oswal-diana, cujo primitivismo complexo pre-nunciado pelo manifesto de 1924, no podereduzir-se pura e simples reabilitao doproblema de construir uma literatura partic-ularmente nacional (Andrade, 2009, p. 49).

    Do manifesto de 1924 originaram-se, es-pecialmente a partir de 1926, movimentosliterrios de inspirao fscio-integralista,como o verde-amarelismo, ou a Escola daAnta. Seguindo uma aposta instintiva eufanista que investia contra a crtica telricaafrancesada de Oswald, escritores comoPlnio Salgado mais direita, a quemOswald chamar falsrio , Menotti DelPicchia, Cassiano Ricardo e Guilherme deAlmeida inauguravam, aos olhos de Os-wald, a subdiviso de centro-direita do mo-dernismo e alimentavam xenofobicamenteum projeto de literatura nacional espon-tanesta.

    Uma vez acentuadas as tendncias inte-gralistas durante a ditadura Vargas, nessemesmo perodo uma terceira e heterogneaala, composta por antropfagos, comunistase liberais, haveria de unir-se em prol dademocracia (Andrade, 1992, p. 101-102).

    Apesar de o Manifesto da Poesia Pau-Brasil soar abertamente como um elo-gio do nacional e do particular em facedo academicismo estrangeiro o ladodoutor, o bacharel , reside em seu in-terior uma lgica que evoca elementos anti-

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    nacionalistas que encontraro seu desen-volvimento apenas quatro mais tarde, noManifesto Antropfago, bem como nas dis-cusses pblicas travadas por Oswald comMonteiro Lobato e Cassiano Ricardo em tex-tos de jornal (Andrade, 2004).

    O Manifesto da Poesia Pau-Brasil (An-drade, 1990, p. 41-45) tem por ponto departida o enunciado concreto de uma poe-sia que residiria nos fatos. A paisagem local,Os casebres de aafro e de ocre nos verdesda favela, sob o azul cabralino so inter-pretados como fatos estticos, testemunhosde uma riqueza plural: a um s tempo, mi-neral, vegetal e tnica, como um possvelgesto de recuperao do problema da pin-tura nacional, no seio do qual, nove anosantes, Oswald j denunciava que jovens pin-tores brasileiros, bolsistas do governo, fre-quentemente viajavam a Paris e retornavamdespaisados, desgostosos das paisagens na-cionais.

    semelhana do que ocorre no manifestode 24, no texto de 1915, Oswald tece umelogio ao meio e exorta os jovens pintoresa incorporarem-se ao nosso meio, nossavida, afirmando ser dever deles tirar dos re-cursos imensos do pas, dos tesouros de cor,de luz, de bastidores que os circundam, a artenossa que se afirme (...) uma manifestaosuperior de nacionalidade (Andrade, 1992,p. 143).

    No manifesto, a paisagem nacional servede dcor e abre-alas a partir do qual se en-gendra toda a crtica de uma cultura do de-calque produzida ao longo da histria ban-deirante e comercial do Brasil, que desde oImprio educou doutores annimos e ocultoua poesia nos cips maliciosos da sabedoria(Andrade, 1990, p. 41). Do teatro pin-tura, da msica escultura, Oswald sugerir

    substituir a perspectiva visual e naturalistapor uma perspectiva de outra ordem: senti-mental, intelectual, irnica, ingnua (Idem,p. 43).

    No entanto, a reao contra o assunto in-vasor, que respondia insuportvel mons-truosidade esttica da pea de tese, do ro-mance de ideias, do quadro histrico e da es-cultura eloquente, anunciava antes a voltaao sentido puro mas uma volta que deve-ria infiltrar-se no presente, mais que um puroe simples retorno a um sentido mais origi-nal de nossa cultura autctone. Ver comolhos livres, Ser regional e puro em suapoca, no Manifesto da Poesia Pau-Brasil,no adquire outro encaminhamento que o dainscrio do estado de inocncia to ca-racterstico da alegria dos que no sabem edescobrem em uma atualidade que j noadmitia simplesmente retroceder.

    Nada h de original a recuperar, como pro-duto de um retorno simples, em Oswald deAndrade; a atitude de esprito que caracterizao estado de inocncia era olhar uma vez maispara o presente como Brasileiros de nossapoca; isto equivale a afirmar o particu-larismo da floresta ao lado da escola comoa base dupla e presente capaz de dester-rar toda cultura livresca, e assim conceb-lo como a forma mais bem-acabada de ummodernismo lrico experimental por meiodo qual teramos, enfim, nos tornado Br-baros, crdulos, pitorescos e meigos (An-drade, 1990, p. 45).

    Um manifesto estilisticamente construdosobre marchas e contramarchas, repetiese sucessivos deslocamentos diferenciais porintermdio dos quais Oswald ora se aven-tura na paisagem local, ora ingressa no sem-fundo das cpias indigestas e acadmicasque produziram a misria da esttica do de-

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    calque, que encontra na pirogravura e noprogressivo povoamento de todas as saletasnuas por pianos (e suas variaes) sua formamais bem-acabada, de modo que, em certomomento, pde-se afirmar que As meninasde todos os lares ficaram artistas (Andrade,1990, p. 42).

    Mesmo a expresso Poesia Pau-Brasil,ou apenas Pau-Brasil, repetida uma dezenade vezes nas quatro laudas e meia do Mani-festo de 1924, assume a enftica funo decompor uma frase musical que percorre otexto sob a forma de um ritornelo breve,de uma rememorao concebida nos tem-pos curtos da inveno e da surpresa quedeveriam oferecer o diapaso das renovadasperspectiva e escala ante o diagnstico doexaurimento testemunhado pela cultura dasrepeties nuas e do decalque contra a qualo manifesto se insurgia.

    O ritornelo Pau-Brasil engendra maisque um bordo ou uma marca simblica;antes, ele constitui o ensaio expressivo-estilstico que permitiria realizar o que a cul-tura do decalque no pudera fazer: reunir oelemento da repetio ao da diferena, en-gendrar a diferena que no se sabe de an-temo se reside na escola ou na floresta, mas criada a partir da interao favorecida porrepeties diferenciais sempre relacionadass urgncias atualidade, j que No jornalanda todo o presente (Andrade, 1990, p.44).

    Mais tarde, o ataque que Oswald desferecontra a notria xenofobia de Monteiro Lo-bato a ponto de Oswald afirmar ironica-mente que, quele tempo, assistiramos auma luta entre Tarzan e Emlia reprovavaa Lobato o fato de estar fora de sua poca(Santiago, In: Andrade, 2004, p. 19). Se-ria preciso liberar o problema de pensar a

    questo nacional luz da figura anacrnicade Jeca-Tatu e, ao lado disso, atualizara relao dialtica do par nacionalismo-cosmopolitismo sob o fio condutor de umavanguarda esttica cosmopolita que se a-licera numa vanguarda proletria e por elase deixa direcionar (Santiago, Idem, p. 20),como testemunho de seu marxismo cons-ciente.

    Em outra oportunidade, em um bilheteaberto ao Fotognico C. R. (iniciais doescritor Cassiano Ricardo), literato de con-tornos identitrios definidos com o qual,mais tarde, Oswald se reconciliaria, a crticaandradiana dedicava-se a desmascarar oufanismo xenfobo de Cassiano e de to-dos aqueles que, em meados dos anos vinte,haviam se alinhado ao Integralismo de PlnioSalgado e proposta nacionalista, quase-romntica, de recuo escatolgico e naf a umden tupiniquim desde sempre perdido quetestemunharia as razes de uma cultura pro-priamente brasileira. Em outro texto, Os-wald reprovar a Cassiano Ricardo o fatode que seu nativismo literrio no passariade macumba para turistas: Querer que anossa evoluo se processe sem a latitudedos pases que avanam a triste xenofo-bia que acabou numa macumba para turistas(...) (Andrade, 2004, p. 164).

    J se pode antever, ainda que precoce-mente, por que a Antropofagia oswaldiana,que malgrado reelaboraes permanecerrelativamente fiel aos princpios lanados noManifesto da Poesia Pau-Brasil, ensaia umafuga da dialtica tempo-espacial tal comoenunciada por Antnio Cndido.

    No se pode reduzir Oswald a um mo-mento polmico da literatura nacional queteria produzido uma simples exaltao doparticular em detrimento do cosmopolita.

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    Ao contrrio, ao menos a partir do Manifestode 1924, no se trata de confrontar o univer-sal ou de puramente afirm-lo; antes, trata-sede, fazendo o local interferir junto ao uni-versal como seu princpio real, diferenciadore presente, reagir contra a aparncia, con-tra a cultura douta da citao livresca e dobacharel annimo o bulmico consumidorde frases feitas.

    contra uma cultura arborescente que,procedendo, como quisera Magalhes, porramos, visa um dia a enterrar-se com suasrazes e, assim, recuperar qualquer elementomais original, que Oswald arrancar do chouma rvore de Pau-Brasil: matria-prima deexportao, produto hbrido que, circulando,favorece interferncias mltiplas.

    O rizoma, que procede unicamente porsingularidades heterogneas sem origem,no pode remeter-se a uma estrutura axialunitria da qual proviriam suas mltiplashastes; segundo Deleuze e Guattari (2007,p. 21), lgica do rizoma, no pertencemmodelos estruturais ou gerativos. Uma inter-ao mltipla e heterognea, na qual a PoesiaPau-Brasil viria encontrar sua gnese, nopode, portanto, ser justificada segundo mo-delos redutores, como a dialtica entre par-ticular e universal; a absoluta novidade deOswald encontra-se em colocar em xequeexatamente os termos demasiadamente li-neares desse movimento em falso que umadialtica do local e do cosmopolita teriatradicionalmente engendrado.

    3.2 ...somos canibais: o rizoma(...) ainda no proclamamos direi-to a nossa independncia. Todasas nossas reformas, todas as nossasreaes costumam ser dentro do

    bonde da civilizao importadas.Precisamos saltar do bonde, pre-cisamos queimar o bonde. [...]. AEuropa atualista nos ajudar (...).A obra de desvio e de falsificaodo nosso tipo nativo h de termi-nar pela revanche da sua integralantropofagia. Comeremos todos osemboabas. (Andrade, 2009, p. 62)

    Quatro anos mais tarde, em maio de1928 quando se completava o ano 374da deglutio do Bispo Sardinha , apare-cia a Revista de Antropofagia em suaprimeira dentio. Inicialmente sob a di-reo de Raul Bopp e Antonio de Alcn-tara Machado, se apenas em sua segundadentio que a Antropofagia assumir defini-tivamente seus contornos como Movimento(Campos, 1975), na primeira que tem lu-gar a publicao do Manifesto Antropfago,de Oswald de Andrade, no qual a antropofa-gia emerge como uma operao de resistn-cia em face dos importadores de conscin-cia enlatada (Andrade, 1990, p. 48).

    Transitando entre os elementos selvagensde um mundo no-datado, no-rubricado(Andrade, 1990, p. 50) e o maquinrio mo-dernista, o cdigo de justia do antropfago,residente na fora e na vingana, ocupa-se dealterar os dados de uma civilizao invasora.A linguagem surrealista, o comunismo e aidade de ouro estiveram dados desde sempreentre os nativos, e a Europa contemporneas pudera chegar a eles com os meios de seuatraso.

    nesse sentido que a operaoantropofgica, ao provocar uma interfern-cia diferencial entre a tradio civilizadaque incorporada disjuntivamente, coloca oprimitivo em uma posio particularmente

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    paradoxal: o primitivo e o antropofgicoso, ao mesmo tempo, elementos de umpassado que no se pode recuperar de todo,cujas vanguardas europeias apenas hojeprenunciam. Isto , no se trata de recuperara operao antropofgica como um elementoanacrnico, mas como uma operao quecoloca em jogo os prprios referenciais deuma compreenso sincrnica do tempo. Poressa razo que Eduardo Viveiros de Castropoder afirmar a antropofagia como a nicacontribuio realmente anti-colonialista quegeramos, pois, fazendo o tempo sair de seusgonzos, o manifesto antropofgico lanou oprimitivo, isto , os ndios para o futuro epara o ecmeno (Viveiros de Castro, 2009,p. 168).

    Se a Antropofagia oswaldiana rechaa aMemria como fonte da tradio, no o passado que rechaado, mas as con-tinuidades simples, a possibilidade esttico-poltica de engendrar repeties puras. Oque h a subverso da relao de hierar-quia entre a cpia e o original, segundo aqual o ltimo j no tem supremacia sobrea primeira e, mais alm, o original decai deseu estatuto de referencial e pedra de toqueem funo das sucessivas falsificaes defor-mantes, A contribuio milionria de todosos erros (Andrade, 1990, p. 42).

    Alexandre Nodari (2010, p. 144-145)quem percebe haver um deslocamento fun-damental havido entre os regimes de in-veno e de cpia presentes no ManifestoPau-Brasil e no Manifesto Antropfago. Noprimeiro, a inveno que Nodari explicafazendo interferir a etimologia apreendidado latim, in-venire, isto , ir ao encontrode... no significaria postular como tarefauma creatio ex nihilo, mas implicaria umaapropriao remissvel ao sentido jurdico do

    instituto clssico da inveno, uma das for-mas de aquisio da propriedade. Mesmoento, no se pode supor a existncia deuma contraposio entre original e cpia,compreendida como repetio nua, mas umaapropriao que se faz de pleno direito.

    No Manifesto Antropfago, por sua vez,a relao entre cpia e original seria no-vamente descentrada. Seguindo a teoriada posse contra a propriedade, que Oswaldcanibaliza de Rodolfo Valentino, a invenod lugar la parodia y la degluticincultural de prcticas culturales extranjeras,sem que isso signifique criar ou eleger umaidentidade mestia que substitua a geneal-gica (Nodari, 2010, p. 143).1 As potn-cias do falso habitam o seio da experinciaantropofgica de Oswald que, na abertura deSerafim Ponte Grande, concedia ao pblicoo direito de ser traduzido, reproduzido e

    1Ainda sobre a teoria da posse contra a pro-priedade, uma sua singela elaborao aparece svoltas com o que Oswald denominou DireitoAntropfago em (Andrade, 2009, p. 83-84): Odireito antropofgico tem suas razes nas leis csmi-cas que nos condicionam. / A lei da gravidade nosgarante a posse de um pedao do planeta, enquantovivermos. / Disso a noo de propriedade, de ttulomorto, de latifndio e de herana, nunca! Somos con-tra tudo isso. Mas a posse respeitvel, garantida pelovalor de quem possui, pela vitalidade de quem sabeguardar. / No fosse o Brasil o maior grilo da histria um grilo de milhes de quilmetros talhados no t-tulo morto, de Tordesilhas. Eis o que parece ser su-ficiente para confirmar a correo da interpretao deNodari (2010, p. 143-145), que acima endossamos e a qual nos aproveita sobre o deslocamento havidono regime oswaldiano original-cpia-falsificao en-tre os manifestos Pau-Brasil e Antopfago. Com-plementar a esta confirmao parece ser o estatutode nica lei do mundo que Oswald empresta Antropofagia nas primeiras linhas do Manifesto de 28(Andrade, 1990, p. 47).

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    deformado em todas as lnguas (Andrade,2007, p. 54).

    Da mesma forma que o tempo nopermanece indiferente experinciaantropofgica, tampouco o regime dasidentidades pode permanecer indene suainterferncia especialmente se certoregime temporal que pode assegurar aconsolidao de identidades e a formao deestados.

    Ao mesmo tempo em que a antropofagiaaparece como um elemento de coeso (so-cial, econmica, filosfica) na primeira linhado Manifesto de 28, ela portadora do es-tatuto de nica lei do mundo. A Lei doantropfago constitui a Lei do homem,segundo a qual S me interessa o que no meu (Andrade, 1990, p. 47). O instintocaraba devolve-nos o corpo e rene as forasrevolucionrias humanistas: A unificaode todas as revoltas na direo do homem(Idem, p. 48). A reverso oswaldiana, pelaqual a filiao no teria se dado no sen-tido Europa-Brasil, mas, sim, no sentido in-verso, permite afirmar que Sem ns a Eu-ropa no teria sequer a sua pobre declaraode direitos do homem (Idem, loc. cit.).As recusas agressivas da catequizao e donascimento da lgica entre ns o espritorecusa-se a conceber o esprito sem o corpo constituam indcios da sobrevivncia deuma potncia descodificadora dos elementoscoloniais e de todo aparato colonizador im-posto ao Brasil Caraba.

    As ideias cadaverizadas do academicismoe da cincia encontravam, agora, no recuode sua memria e na antecipao de um de-vir antropofgico, a potncia falsificadora doInstinto Caraba: o Carnaval desterritoria-liza a catequese: Fizemos Cristo nascerna Bahia. Ou em Belm do Par, falsifi-

    camos tudo antropofagicamente, havamossaqueado os emboabas e, nesse processo desaque que superava em muito a romnticaprojeo do fascnio indgena pelo culto epelo civilizado, a metafsica canibal dos bra-sis poderia transfigurar todo tabu em totem.

    Recusando a Memria fonte do costumeem favor de uma experincia pessoal re-novada, a operao antropofgica surge noManifesto de 28 como testemunho de um pa-ganismo ritual e alegre: Antropofagia. Ab-soro do inimigo sacro. Para transform-loem totem. A humana aventura. A terrenafinalidade (Andrade, 1990, p. 51).

    Isso que aparece no manifesto comouma operao, uma experincia pessoalrenovada que desterritorializa o lugar daMemria como fonte do costume oque significar que a operao antropof-gica desgarra-se, de incio, de referen-ciais espao-histrico-temporais em proveitode operaes intensivas, que subvertem osregimes de identidades desenvolver-se-em A Crise da Filosofia Messinica (1950)como o ndice de uma cultura que no haviaencontrado entre ns o seu pleno floresci-mento.

    Uma cultura antropofgica, constante emsua inconstncia (Viveiros de Castro, 2011,p. 190), j podia ser entrevista quando ofecho do manifesto de 1928 investia Con-tra a realidade social, vestida e opressora,cadastrada por Freud e propunha o queconstitui mais do que uma utopia, a iden-tificao de um veio cultural heternomo;evocava, precisamente, contra o homemvestido, o impermevel entre o mundo in-terior e o mundo exterior (Andrade, 1990,p. 47), a realidade sem complexos, semloucura, sem prostituio e sem peniten-cirias do matriarcado de Pindorama (An-

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    drade, 1990, p. 52). Intuio oswaldianaque, para alm de constituir uma inspirao,parece ser incessantemente confirmada e rea-tualizada por cientistas polticos e etnlo-gos contemporneos como Giuseppe Coccoe Eduardo Viveiros de Castro.

    3.3 Uma cultura antropofgica...(...) o que exasperava os padresno era nenhuma resistncia ativaque os brasis oferecessem aoEvangelho em nome de uma outracrena, mas sim o fato de quesua relao com a crena era in-trigante: dispostos a tudo engolir,quando se tinham por ganhos,eis que recalcitravam, voltando aovmito dos antigos costumes(...).(Viveiros de Castro, 2011, p. 190).

    Em A crise da Filosofia Messinica, Os-wald de Andrade expe os termos segundoos quais compreendia o sentido da culturaantropofgica e, portanto, rene contornostericos disso que permanecera apenas su-gerido em linhas gerais e fragmentrias noManifesto da Poesia Pau-Brasil (1924) noqual seu primitivismo ainda no falar sobreantropofagia, mas seus contornos sero su-geridos de maneira embrionria , e no Ma-nifesto Antropfago (1928), em que o con-ceito parece ultrapassar os diversos desloca-mentos no discurso oswaldiano.

    Concebido como Tese para o Concursoda Cadeira de Filosofia da Faculdade deFilosofia, Cincias e Letras da Universidadede So Paulo no ano de 1950, A crise daFilosofia Messinica , talvez, a elaboraomais sistemtica do que Oswald pensava seressencial na crtica da tradio ocidental do

    pensamento metafsico e, ao mesmo tempo,na sugesto de uma perspectiva alternativa.

    Para emprestar uma expresso cara a et-nlogos como Pierre Clastres (2011, p. 17) eEduardo Viveiros de Castro (2011), o primi-tivismo oswaldiano concebido como umaexterioridade absoluta em relao comtudo o que o Ocidente pde um dia imaginarcomo fundamento de seu pensamento e cul-tura. No instigante MundoBraz, GiuseppeCocco, ao descerrar a atualidade do ma-nifesto antropofgico em conexo com suapotncia poltica como uma referncia naobra de Eduardo Viveiros de Castro, afirmaque Na antropofagia tupinamb, Eduardoencontra aquela alteridade radical que per-mite deslocar as iluses culturais (Cocco,2009, p. 230).

    Um dos elementos-chave que o primi-tivismo empresta aos etnlogos contempor-neos encontra-se em uma compreenso deseu carter de exterioridade pura e absoluta,o que implica afirm-lo no mais como umaetapa relativamente atrasada no desenvolvi-mento da civilizao ocidental, mas, comoquisera o prprio Oswald, como uma ope-rao metafsica mais profunda, com impli-caes polticas e estticas cujos desdobra-mentos poderiam, ainda hoje, constituir umdos cernes de nossas investidas e lutas polti-cas, desde o ponto de vista de uma interfe-rncia intempestiva sobre a atualidade.

    Tal perspectiva, abertamente assumidapela antropologia de Viveiros de Castro, ereconhecida, por exemplo, por Bento PradoJnior (In: Clastres, 2011, p. 17), supeque o outro do ocidental no seja forosa esimplesmente o oriental, mas, sobretudo, oprimitivo; a fratura interior que habita o seiodo imaginrio ocidental no condiz com oponto de singularidade menos desenvolvido

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    de uma civilizao que viria a ter por ine-xorvel destino a sociedade tal como a con-hecemos patriarcal, dividida em classes, aformao da estrutura estatal e o congraa-mento do que, em Oswald, assume o signifi-cado do limite, do negativo absoluto: o Tabu.

    Antes, o primitivo encarna uma singularexterioridade pura, o outro absoluto, capazde fazer girar diferentemente at mesmo aperspectiva ocidental sobre o primitivo comoalgo originrio de seu prprio seio cultural.Nesse sentido, se o primitivismo conservaalgo de arqueolgico, o elemento arqueo-lgico nele tem lugar apenas como se a archfosse, agora, pura exterioridade sem refern-cia no ocidente civilizado, branco, europeu evestido.

    Todo escrito esttico de Oswald tam-bm um escrito poltico e metafsico, maisdo que simplesmente polmico. A alianaoswaldiana implica pensar a antropofagiacomo uma experincia ritual: a um stempo metafsica, poltica e esttica (An-drade, 1990, p. 101).

    Isso faz com que o antropfago no sejaintercambivel com o canibal. O canibal nopassa de uma projeo da moral sacerdotaldo colonizador e do instrutor escolstico: aviso colombiana de homens que comiamhomens por fome ou gula duas formas deamor barbrie presentes nas crnicas colo-niais.

    Algo diferente se passa na obra de Os-wald, e transforma a antropofagia em umobjeto que no pode ser conhecido semabandonar a perspectiva do colonizador emproveito no da perspectiva do amerndio oudo selvagem, mas da compreenso de queo selvagem e o primitivo podem colocar emquesto a validade e at mesmo a prpria e-xistncia de uma perspectiva.

    A ruptura que engendra a antropofagiacomo operao propriamente metafsica, ada transformao de tabu em totem (An-drade, 1990, loc. cit.), encontra sua cisomais originria entre duas linhas divergentesde desenvolvimento da cultura humana: acultura antropofgica e a cultura messinica.A aposta oswaldiana encontra-se na existn-cia de dois plos culturais que permitiriamdividir a histria da humanidade em Matriar-cado e Patriarcado. O primeiro, mundo maisprprio do homem primitivo; o segundo, ter-ritrio do homem civilizado (Andrade, 1990,p. 102).

    Em 1950, Oswald parece j haver com-preendido a partir de suas aparentemente as-sistemticas leituras da tradio metafsicaocidental algo de essencial sobre a operaoantropofgica; Oswald concebeu-a comoum engendramento excessivo em relao filosofia moral e metafsica ocidental doUno-Todo. Segundo Oswald, a antropofa-gia amerndia envolve uma Weltanschauung,pertencendo ao rico mundo espiritual dohomem primitivo ao mesmo tempo em queconstitua expresso de um modo de pensar,de uma viso do mundo (Andrade, 1990,p. 101). Da porque seja impossvel re-duzir a antropofagia a uma operao pura-mente esttica ou polmica encerrada so-bre si mesma: se ela disputa com os mo-dos de vida correntes, a antropofagia encerrairrecusavelmente um potencial profanatrioque no escapa da ordem do poltico.

    Apenas mais tarde, as pesquisas etnolgi-cas iriam confirmar certo que em termosverdadeiramente diferentes , isto que, emOswald, parece ser da esfera de uma aguadaintuio: uma diviso essencial entre cul-turas messinica e antropofgica.

    Para os guaranis, afirma Pierre Clastres

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    (2003, p. 190-191), o tempo em queas coisas podem ser ditas unas o reinodas coisas imperfeitas, finitas, corruptveis;a Terra sem Mal dos guaranis constitui aregio do no-Um, onde a infelicidade abolida, o milho cresce sozinho, a flecha traza caa queles que no tm mais necessi-dade de caar, o fluxo regrado dos casamen-tos desconhecido, os homens, eternamentejovens, vivem eternamente; sobretudo, aTerra sem Mal designa a regio em que umhomem , sem dvida, um homem, mas aomesmo tempo encarna o outro do homem,um deus. No pode, pois, ser dito Um, pois,na cosmologia guarani, o Um o Mal, e oBem , no o mltiplo, mas o dois: o um eseu outro, a designao de um ser completo.Assim, a Terra sem Mal engendra um signocosmolgico aparentado andradiana reali-dade sem complexos, sem loucura, sem pros-tituio e sem penitencirias do matriarcadode Pinodorama (Andrade, 1990, p. 52).

    No Matriarcado, forma de organiza-o comunitria propriamente antropof-gica, encontrava-se ausente a diviso emclasses, assentando-se sobre o filho de direi-to materno, a propriedade comum do soloe o Estado sem classes. Este ltimo ele-mento definira a oswaldiana ausncia de Es-tado, muito prxima conhecida instituioamerndia da chefia sem poder, fundada so-bre o exerccio da palavra qual ningumdirige sua ateno e em face da qual ne-nhum homem ou mulher desvia-se de seusafazeres (Clastres, 2003, p. 169-172). Porisso, Oswald pudera escrever no ManifestoJ tnhamos o comunismo. J tnhamos osurrealismo. A idade de outro (Andrade,1990, p. 49), como signo da potncia tripla-mente subversiva da antropofagia: subvertera metafsica, a poltica e a esttica com a in-

    terveno desterritorializante e intempestivado instinto Caraba.

    A antropofagia oswaldiana , tambm,uma metafsica ao menos em duas medidas:(1) ao passo em que implica a transformaode tabu em totem, do limite e do negativo empositividade, ou do valor oposto em valorfavorvel; (2) porque dormita um vitalismonietzscheano na metafsica antropfaga deOswald, na medida em que este pode definira prpria vida como devorao pura (An-drade, 1990, p. 101).

    Enquanto a histria da filosofia do Oci-dente a histria da progressiva elevaodas categorias do conhecimento para chegara Deus, enxergando-se na transcendncia osupremo bem, o primitivo institui a sua es-cala de valores at Deus, o supremo mal. Hnisso uma radical oposio de conceitos qued uma radical oposio de conduta (An-drade, 1990, loc. cit.).

    Embora Oswald afirme que o modo depensamento e de vida antropofgico ca-racterizou certa fase primitiva de toda hu-manidade, messianismo (transcendente, pa-triarcal e classe-estatalista) e antropofagia(imanente, matriarcal e sem diviso declasses) constituem as linhas divergentes dedesenvolvimento de suas experincias devida e pensamento; isto , formam duaszonas de exterioridade recproca cujas ten-ses e rupturas seria necessrio retraar,mesmo para ressignificar e reatualizar oprimitivo.

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  • O intempestivo e o desterritorializado 15

    4 guisa de concluso: ointempestivo e odesterriorializado

    A antropofagia oswaldiana, entrevista daperspectiva mltipla em que constitui a ums tempo uma metafsica, uma esttica e umapoltica, opera, em sua ponta extrema, maisa partir de uma lgica de intensidades que deuma lgica submetida ao carter identitrioalinhado tarefa romntica atualizada porcertas verses do modernismo do incio dosculo XX de forjar esttica e politicamenteo hmus de uma identidade nacional fixa enativista das quais Oswald no comungava.

    Isso significa que sua antropofagia recusaessencialmente uma ideia em geral de iden-tidade como seu destino, seja ela pura, na-cional ou hibridizada. Uma vez dirigida aOswald a questo O que devemos fazer daAlemanha ps-45?, sua resposta no pode-ria ser outra: A Alemanha racista, puristae recordista precisa ser educada pelo nossomulato, pelo chins, pelo ndio mais atrasadodo Peru ou do Mxico, pelo africano doSudo. E precisa ser misturada de uma vezpara sempre. Precisa ser desfeita no melting-pot do futuro. Precisa mulatizar-se (An-drade, 2004, p. 122).

    De modos singularmente diversos, por-tanto, vemos tocarem-se as interpretaesde Silviano Santiago e Eduardo Viveirosde Castro sobre o tratamento que Oswalddispensara , assim chamada, questo na-cional; se Santiago (In: Andrade, 2004,p. 19) percebe que lenfant terrible ocupa-se do reposicionamento do problema postopela questo nacional por julgar que o parnacionalismo-cosmopolitismo, e sua inter-ao dialtica, precisa ser atualizado, e no

    pode, por isso, ser reduzido ao caldo tericotnico-poltico imperante durante os anos 30do sculo XX, Eduardo Viveiros de Castro(2009, p. 168) ir mais longe ao afirmar quea obra oswaldiana poderia ter tornado defini-tivamente anacrnico o problema do lugardas ideias no Brasil.

    O que explica a enftica afirmao deViveiros de Castro encontra-se na compreen-so de que a antropofagia oswaldiana com-preende duas formas divergentes de traba-lhar com os referenciais de tempo e es-pao. Para diz-lo em duas palavras, que oranos oferecem uma interessante grade con-ceitual, os conceitos profundos que habitama antropofagia oswaldiana so o intempes-tivo e o desterritorializado.

    Esses dois conceitos o primeiro delescronologicamente anterior a Oswald; o se-gundo, posterior contribuem para com-preender seu tratamento acerca da questonacional e do problema do lugar das ideiasna mesma dimenso em que sugerem suaradical perda de sentido. E essa radical perdade sentido, mais que uma recusa negativista,implica, antes, um esforo e uma intuiocapazes de des-pensar o lugar das ideiascomo um falso-problema.

    Se h, em Oswald, uma reatualizaodo primitivo, ela no se produz em corre-lao com qualquer afirmao fixa e tran-quilizadora do particularismo nacional. Aantropofagia, em seus sentidos mais profun-damente metafsico, esttico e poltico, cons-titui um dispositivo de dissoluo das identi-dades que no oferece, como produto final,uma identidade mais original ou uma iden-tidade simples que possa ser resumida a umestado divergente ou sinttico. Seu modo defuncionamento, moderno e maquinal, com-preende duas operaes profundas: o lugar

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    das ideias perde seu sentido como problemaporque cada ideia canibalizada pelos primi-tivos, vidos de novas formas (Viveiros deCastro, 2011, p. 184), a um s tempointeressante e transparente. A natureza in-constante dos gentios os tornava ao mesmotempo absolutamente receptivos e imper-meveis a elas.

    Contra as elites vegetais. Em comuni-cao com o solo (Andrade, 1990, p. 49)e, ao mesmo tempo, Contra o mundo rever-svel e as ideias objetivadas. Cadaverizadas,Oswald no propunha nenhum outro lugarpara as ideias. Reterritorializ-las, reinvesti-las no corpo pleno do territrio nacional, sig-nificaria repetir nuamente as formas iden-titrias fixas, implicaria reafirmar O stopdo pensamento que dinmico (Idem, loc.cit.). O instinto Caraba da ordem no dosem territrio e do sem corpo, mas do dester-ritorializado e dos processos de desterritoria-lizao.

    Na cultura antropofgica no est em jogoum novo ponto de vista e, coextensivos aele, um novo sujeito e um novo objeto, masum devir em que tudo isso dissolvido, ecuja absoluta distncia no se deixa alcanarpelas inteligibilidades demasiado fixas damoral ocidental: por isso, a antropofagia nopassar de um ritual sem significado ou deum mau costume sob os olhos civilizados,europeus, cristos.

    Um devir pode investir precariamente umterritrio o corpo do inimigo, um territrioselvagem ou nacional , mas ele est sem-pre prestes a abandon-lo; um devir , pordefinio, desterritorializante: obedece uni-camente ao que Oswald chamava lei daconstncia antropofgica (Andrade, 2009,p. 78), que transforma todo homem em a-

    nimal devorante, nmade, errtico e experi-mental.

    Ainda uma vez a operao antropofgicaser desterritorializantee, mas agora com re-lao componente do tempo, se a lei daconstncia antropofgica , como sustenta-mos, da ordem do devir. Quando o Mani-festo de 1928 ataca as histrias do homemque comeam no Cabo Finisterra e evocaem seu lugar O mundo no datado. Norubricado. Sem Napoleo. Sem Csar, porque ao mundo de intensidades do sel-vagem no pertencem a ocidental e kantianaexperincia espacializada do tempo,2 tam-pouco a ordem da assinatura.

    O argumento final, que afastaria definiti-vamente de Oswald certo carter simples-mente particularista, encontra-se na recusado tempo espacializado, datado e referen-cializado em proveito do tempo intensivo doantropfago, que o tempo do devir. Seo devir desterritorializante, como insisti-ram Deleuze e Guattari ao longo de toda suaobra conjunta, os retornos ao mais puro ouao mais original so impossveis.

    A antropofagia oswaldiana , nesse sen-tido, prenhe de exemplares e reafirmaesde que, nem mesmo em sentido esttico se-ria admissvel pensar seu acento primitivistacomo um retorno simples: as polmicas car-tas e bilhetes abertos endereados a Mon-teiro Lobato, Plnio Salgado e Cassiano Ri-cardo cujo nativismo foi, mais de uma vez,tachado de macumba para turistas peloprprio Oswald , a negao da Memria

    2No devemos esquecer-nos de que diversos tex-tos de Oswald testemunham um grande interesse porHenri Bergson, em cuja obra se pode encontrar acrtica das operaes de espacializao do tempo e daexperincia duracional, que teria encontrado em Kantseu ponto mximo.

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    como fonte do costume, a operao rituale metafsica de transformao do tabu emtotem, entre outras, demonstram que no so-brevivem a Oswald nem um tempo linear,espacializado e irreversvel, tampouco ter-ritrios existenciais fixos. O ocidente , pois,descentrado e anacronizado.

    Se Eduardo Viveiros de Castro, coma confirmao e a chancela de GiuseppeCocco, pode afirmar que Oswald anacroni-zou o problema do lugar das ideias, isso sedeve porque no s o que no meu... os-waldiano cabe mais de um pas inteiro. Isto, s se pode dizer que h um retorno doprimitivo, no um retorno ao primitivo comoalgo essencialmente mais original que de-veramos recuperar. E o primitivo no re-torna como origem perspectiva ou identi-dade, mas como elemento que vem comporuma zona intensiva de interferncias, dis-junes, diferenas absolutas e irredutveis.

    Esse retorno marca seu carter extempor-neo, intempestivo; enquanto aos olhos doscristos europeus o antropofgico represen-tava os maus hbitos e o recuo que a civiliza-o moderna j havia superado, o tempo, alei da constncia antropofgica, demarcavamuma outra potncia poltica que deslocava in-tempestivamente o prprio enraizamento deuma perspectiva cultural.

    Nas palavras de Eduardo Viveiros de Cas-tro, Oswald ocasionou a anacronia do pro-blema do lugar das ideias, pois os ndios jno significavam mais um retorno: em faceda perspectiva cultural europeia, constituamao mesmo tempo a memria do fora abso-luto, o presente intensivo com o qual pre-ciso conectar-se e a projeo de uma linhade ruptura, de um devir. Mesmo no planoda esttica que, em sua obra, no pode serdissociada da poltica , Oswald reconhecia

    que O poeta, o pensador e o artista [...] soos semforos cujas antenas captam o ar dosnovos tempos. So muitas vezes procelriasna tempestade (Andrade, 1992, p. 97); as-sim, Oswald testemunhava toda a relao in-tempestiva de sua gerao com seu tempo,a qual parece no poder esgotar-se na lgicadialtica do particular e do cosmopolita.

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