31
SEADE O IPRS E A GESTÃO DA POLÍTICA PÚBLICA, DIMENSÕES E ESPACIALIZAÇÃO DO INDICADOR e ANÁLISE DA TIPOLOGIA n os 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 Autores deste número Carlos Roberto Almeida França, chefe da divisão de produção da Fundação Seade; Alda Regina Ferreira de Araújo, pes- quisadora da Fundação Seade; Bernadette Cunha Waldvogel, gerente de indicadores e estudos populacionais da Fundação Seade; Rafael Camelo, assessor da Diretoria Execu- tiva da Fundação Seade Coordenação e edição Edney Cielici Dias ISSN 2317-9953

O IPRS E A GESTÃO DA POLÍTICA PÚBLICA, DIMENSÕES E ... · DIMENSÕES E ESPACIALIZAÇÃO DO INDICADOR e ANÁLISE DA TIPOLOGIA nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 Autores deste

  • Upload
    vutu

  • View
    220

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

SEADE

O IPRS E A GESTÃO DA POLÍTICA PÚBLICA,

DIMENSÕES E ESPACIALIZAÇÃODO INDICADOR

eANÁLISE DA TIPOLOGIA

nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015

Autores deste númeroCarlos Roberto Almeida França, chefe da divisão de produção da Fundação Seade; Alda Regina Ferreira de Araújo, pes-quisadora da Fundação Seade; Bernadette Cunha Waldvogel, gerente de indicadores e estudos populacionais da Fundação Seade; Rafael Camelo, assessor da Diretoria Execu-tiva da Fundação SeadeCoordenação e ediçãoEdney Cielici Dias

ISSN 2317-9953

Diretora ExecutivaMaria Helena Guimarães de Castro

Diretor-adjunto Administrativo e FinanceiroLuiz Carlos Puntoni (respondendo pelo expediente)

Diretor-adjunto de Análise e Disseminação de InformaçõesEdney Cielici Dias

Diretora-adjunta de Metodologia e Produção de DadosMargareth Izumi Watanabe

Corpo editorial

Maria Helena Guimarães de Castro;

Haroldo da Gama Torres;

Margareth Izumi Watanabe;

Edney Cielici Dias e

Osvaldo Guizzardi Filho

Assistente de edição

Cássia Chrispiniano Adduci

SEADEFundação Sistema Estadual de Análise de Dados

Av. Prof. Lineu Prestes, 913 – Cidade Universitária – 05508-000 – São Paulo SPFone (11) 3324.7200 Fax (11) 3324.7324

www.seade.gov.br / [email protected] / [email protected]

apresentação

PESQUISAS INSERIDAS NO DEBATE PÚBLICOO Seade é uma instituição que remonta ao século 19, com o surgi-

mento da Repartição da Estatística e do Arquivo do Estado, em 1892. Ao longo de mais de um século, tem contribuído para o conhecimento do Es-tado por meio de estatísticas, com um conjunto amplo de pesquisas sobre diversos aspectos da sociedade e do território de São Paulo. Levar parte importante desse volume de informação e suas interconexões ao público é,

por sua vez, uma tarefa tão relevante quanto desafiadora.O Projeto Primeira Análise visa divulgar parte do universo de conheci-

mento da instituição, ao dialogar com temas de interesse social. Os artigos que compõem o projeto procuram sinalizar de forma concisa tendências e apresentar uma análise preliminar do tema tratado. Trata-se de texto au-toral, de caráter analítico e científico, com aval de qualidade do Seade.

Os textos são destinados a um público formado por gestores públi-cos, ao oferecer informação qualificada e de fácil compreensão; ao meio acadêmico e de pesquisa aplicada, por meio de abordagem analítica pre-liminar de temas de interesse científico; e para a mídia em geral, ao suscitar pautas sobre questões relevantes para a sociedade.

Os artigos do projeto têm periodicidade mensal e estão disponíveis na página do Seade na Internet. Os temas englobam aspectos econômicos, sociais e de interesse geral, abordados em perspectiva de auxiliar na formu-lação de políticas públicas.

Desta forma, o Seade mais uma vez se reafirma como uma instituição ímpar no fornecimento de informações de importância para o conhecimen-to do Estado de São Paulo e para a formulação de suas políticas públicas.

Maria Helena Guimarães de Castro

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 4

RESUMO: O texto tem como objetivo apresentar, de forma sintética,

o Índice Paulista de Responsabilidade Social – IPRS, enfocando des-

de sua origem, principais variáveis e conceitos até sua importância

como ferramenta de gestão pública.

SUMÁRIO EXECUTIVO

• No IPRS 2014, 70 municípios destacam-se como os de melho-res condições de vida: altos níveis de riqueza, longevidade e escolaridade;

• Apesar de baixo nível de riqueza, 194 municípios apresentam boas condições de vida;

• A maioria dos municípios localizados ao longo dos principais eixos rodoviários que partem da RMSP é classificada como de alta rique-za, reflexo do processo de industrialização do Estado;

• Os 152 municípios classificados na categoria de alta riqueza muni-cipal concentram 74,4% da população estadual;

• No Estado, 47,6% dos municípios, que concentram 63,6% da po-pulação paulista, apresentam altos índices de longevidade;

• As Regiões Administrativas de São José do Rio Preto, Araçatuba, Marília, Central e Campinas têm os melhores indicadores de esco-laridade entre as regiões paulistas.

O IPRS E A GESTÃO DA POLÍTICA PÚBLICA,DIMENSÕES E ESPACIALIZAÇÃODO INDICADOReANÁLISE DA TIPOLOGIA

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 5

Parte 1 O IPRS E A GESTÃO DA POLÍTICA PÚBLICA

INTRODUÇÃO

A proposta deste boletim 1a Análise é apresentar, de forma simplificada, o

Índice Paulista de Responsabilidade Social – IPRS criado pela Fundação Sea-

de e que tem como referência o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH,

do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD.

A necessidade de disseminação de um indicador que busca qualificar

as condições de vida e o grau de equidade entre o crescimento econômico

e a qualidade de vida nos municípios paulistas é uma das motivações para

o presente texto, que pretende também destacar o papel do IPRS como

importante ferramenta de planejamento para o desenvolvimento do Estado

de São Paulo.

Com o objetivo de apresentar o índice para o público em geral, o arti-

go traz, inicialmente, uma síntese da metodologia, mostrando os pontos de

convergência entre o IPRS e o IDH e suas especificidades; na sequência, faz

uma análise dos componentes do IPRS – riqueza, longevidade e escolaridade

– para o conjunto do Estado de São Paulo; e, por fim, expõe uma interpreta-

ção da distribuição dos grupos do IPRS no território paulista, destacando sua

contribuição na elaboração de políticas públicas voltadas para a melhoria

das condições de vida da população paulista.

METODOLOGIA

Criado há 14 anos, o Índice Paulista de Responsabilidade Social – IPRS tem

como paradigma o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, do Programa

das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD. O principal objetivo do

indicador é avaliar a evolução da qualidade de vida nos municípios paulistas

e fornecer subsídios aos formuladores de políticas públicas. Ao eleger um

conjunto de variáveis que resultam na construção dos índices sintéticos, o

IPRS permite também uma análise desagregada, que facilita que estes agen-

tes possam atuar na causa principal do baixo desempenho do indicador em

análise.

Índices como o IDH têm como pressuposto a hipótese de que a renda

ou qualquer outro indicador puramente econômico é insuficiente como me-

dida das condições de vida de uma população e propõe a inclusão de outras

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 6

dimensões necessárias à sua classificação. Desta forma, além da riqueza, o

IDH incorpora a longevidade e a escolaridade, adicionando as situações de

saúde e de educação das populações em um indicador mais abrangente de

suas condições de vida.1

Com base nesse paradigma, a Fundação Seade e a Assembleia Legis-

lativa do Estado de São Paulo – Alesp decidiram construir, para o Estado de

São Paulo, um indicador que preservasse as três dimensões componentes do

IDH – riqueza, escolaridade e longevidade –, mas com especificidades que

permitissem acompanhar, de forma adequada, a evolução socioeconômica

dos municípios paulistas.

A primeira e mais importante dessas especificidades consistiu na ela-

boração de uma tipologia de municípios que permitisse agrupá-los por se-

melhanças nos padrões existentes nas três dimensões consideradas, criando

grupos homogêneos em relação às condições de vida, útil para o desenho

de políticas públicas específicas, embora não pretenda ordená-los em ter-

mos de nível de desenvolvimento.2

Em segundo lugar, foram incluídas, na medida do possível, variáveis

capazes de apreender mudanças nas condições de vida do município em

períodos mais curtos que os dez anos que separam os censos demográficos,

fonte de informações do IDH municipal.

Por último, foram adotados como base de informações, prioritaria-

mente, os registros administrativos que satisfizessem as condições de qua-

lidade, periodicidade e cobertura, sem a necessidade de levantamentos pri-

mários, garantindo, assim, com custos relativamente baixos, a relevância

analítica no nível dos municípios do Estado. Dessa forma, apesar de repre-

sentarem as mesmas dimensões, as variáveis escolhidas para compor o IPRS

são distintas daquelas empregadas no cálculo do IDH.

Tomando como base esse conjunto de variáveis e hipóteses, compôs-

-se o IPRS de quatro conjuntos de indicadores: três setoriais, que mensuram

as condições do município em termos de riqueza, escolaridade e longevida-

de, permitindo, nesse caso, o ordenamento dos 645 municípios do Estado

de São Paulo, segundo cada uma dessas dimensões; e uma tipologia deno-

minada grupos do IPRS que, constituída por cinco grupos, resume a situação

municipal de forma multidimensional, segundo os três eixos considerados.

1. PNUD. Desenvolvimento humano e condições de vida: indicadores brasileiros. Brasília: PNUD, 1998.

2. FUNDAÇÃO SEADE. Índice Paulista de Responsabilidade Social – metodologia. São Paulo, 2004. Disponível em: <http://indices-ilp.al.sp.gov.br/view/pdf/iprs/metodologia.pdf>.

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 7

Para cada uma das três dimensões do IPRS foram criados indicadores

sintéticos que são expressos em escala de 0 a 100 e constituem uma com-

binação linear das variáveis selecionadas em cada tema. A estrutura de pon-

deração foi obtida de acordo com um modelo de análise fatorial, em que se

estuda a interdependência entre diversas variáveis.3 O Quadro 1 sintetiza as

variáveis consideradas em cada uma das dimensões do IPRS e a estrutura de

ponderação utilizada.

A combinação das três dimensões – riqueza, longevidade e escolari-

dade – propicia uma tipologia que classifica os 645 municípios do Estado

de São Paulo em cinco grupos com características similares. A construção

dos grupos baseou-se em técnicas de estatística multivariada que identifi-

cou cinco grupos de municípios com padrões semelhantes em termos de

condições de vida. Para tanto, os três indicadores sintéticos setoriais foram

transformados em escalas discretas, formadas pelas categorias baixa, média

e alta (no caso do indicador de riqueza municipal definiram-se apenas as ca-

tegorias baixa e alta), a partir das quais foram constituídos os cinco grupos

de municípios. O Quadro 2 apresenta os critérios de formação de cada um

desses grupos.

Merece destaque o caráter relativo do IPRS, pois de maneira oposta

aos índices baseados em critérios normativos, este é um indicador essen-

cialmente comparativo. Isto é, seus parâmetros norteadores são definidos a

partir dos próprios dados que lhes dão origem. Assim, as categorias baixa,

média e alta, que caracterizam os grupos de municípios, são estabelecidas

segundo a realidade dos 645 municípios paulistas no ano em análise. Por

exemplo, para um município ser classificado como de alta escolaridade, em

2008, teria que apresentar um escore igual ou superior a 46. Em 2012, a

distribuição dos dados mostrou que, para serem incluídos no grupo de alta

escolaridade, os municípios teriam que atingir o escore igual ou superior a

57 e não mais 46. Esse novo valor indica que o cenário considerado bom

em 2008 já foi superado por grande parte das localidades em 2012 e as

que se destacam em escolaridade já se distanciaram, em muito, dos níveis

anteriores.

Por fim, faz-se necessário ressaltar a importância do IPRS como ins-

trumento de gestão da política pública. O reconhecimento de que apenas

a situação de desenvolvimento econômico é insuficiente para mensurar as

condições de vida da população faz do IPRS uma ferramenta estratégica de

3. FUNDAÇÃO SEADE. Índice Paulista de Responsabilidade Social – metodologia. São Paulo, 2004. Disponível em: <http://indices-ilp.al.sp.gov.br/view/pdf/iprs/metodologia.pdf>.

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 8

QUADRO

1

Variáveis selecionadas e respectivas contribuições para o indicador sintético, segundo dimensões do IPRS

Dimensões ComponentesContribuição

para o indicador sintético

Riqueza municipal

Consumo residencial de energia elétrica, por ligação 25%

Consumo de energia elétrica na agricultura, no comércio e nos serviços, por ligação

25%

Remuneração média dos empregados com carteira assinada e do setor público

25%

Valor adicionado fiscal per capita 25%

Longevidade

Taxa de mortalidade perinatal 30%

Taxa de mortalidade infantil 30%

Taxa de mortalidade de pessoas de 15 a 39 anos 20%

Taxa de mortalidade de pessoas de 60 a 69 anos 20%

Escolaridade

Taxa de atendimento escolar na faixa de 4 a 5 anos 19%

Média das proporções de alunos do 5o ano do ensino fundamental da rede pública que atingiram pelo menos o nível adequado nas provas de português e matemática

31%

Média das proporções de alunos do 9o ano do ensino fundamental da rede pública que atingiram pelo menos o nível adequado nas provas de português e matemática

31%

Taxa de distorção idade-série no ensino médio 19%

Fonte: Fundação Seade. Índice Paulista de Responsabilidade Social – IPRS.

avaliação e planejamento da gestão pública, com grande utilidade tanto

para os gestores estaduais quanto municipais. Confirma essa relevância, sua

utilização por diversas instituições dentro e fora do governo, assim como em

análises acadêmicas sobre políticas públicas.

Como exemplos, podem ser apontadas as secretarias de Estado que

selecionam, principalmente entre os grupos 4 e 5 do IPRS, os municípios

prioritários para receberem apoio institucional ou financeiro para a execu-

ção de alguns programas, em especial os que impactam no desenvolvimen-

to social. Entre eles, podem ser citados os casos da Secretaria Estadual da

Saúde em seus Planos de Ação Regional, dos diagnósticos feitos pela Secre-

taria Estadual de Desenvolvimento Social e da classificação de escolas usada

pela Secretaria Estadual de Educação.

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 9

Outra importante utilização é a do Ministério Público Estadual, que

vem adotando o IPRS na seleção de locais para a instalação de suas divisões

de atuação especial. Vale citar, ainda, que o simples fato de o IPRS ser o

indicador definido pela Assembleia Legislativa de São Paulo para orientar

a avaliação socioeconômica dos municípios já o qualifica como importante

balizador a ser considerado pelos gestores públicos.

Grande parte dos municípios paulistas também avalia suas ações pelas

medidas usadas no IPRS, haja vista a grande repercussão de sua divulgação

QUADRO

2

Critérios adotados para a formação dos grupos de municípios

Grupos Categorias

Grupo 1

Alta riqueza, alta longevidade e alta escolaridade

Alta riqueza, alta longevidade e média escolaridade

Alta riqueza, média longevidade e alta escolaridade

Alta riqueza, média longevidade e média escolaridade

Grupo 2

Alta riqueza, alta longevidade e baixa escolaridade

Alta riqueza, média longevidade e baixa escolaridade

Alta riqueza, baixa longevidade e alta escolaridade

Alta riqueza, baixa longevidade e média escolaridade

Alta riqueza, baixa longevidade e baixa escolaridade

Grupo 3

Baixa riqueza, alta longevidade e alta escolaridade

Baixa riqueza, alta longevidade e média escolaridade

Baixa riqueza, média longevidade e alta escolaridade

Baixa riqueza, média longevidade e média escolaridade

Grupo 4

Baixa riqueza, alta longevidade e baixa escolaridade

Baixa riqueza, média longevidade e baixa escolaridade

Baixa riqueza, baixa longevidade e alta escolaridade

Baixa riqueza, baixa longevidade e média escolaridade

Grupo 5 Baixa riqueza, baixa longevidade e baixa escolaridade

Fonte: Fundação Seade. Índice Paulista de Responsabilidade Social – IPRS.

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 10

a cada edição, com a disponibilização de análises em órgãos de imprensa,

sobretudo os regionais, assim como o uso em debates e publicações dos

legislativos municipais.4

No âmbito acadêmico, o IPRS vem sendo utilizado como indicador

qualitativo dos municípios para análises cruzadas entre condições socioeco-

nômicas e uma grande gama de medidas de interesse analítico.5 Não pode

deixar de ser referida, ainda, a ampla adoção dos parâmetros metodológi-

cos do IPRS para a criação de índices semelhantes por instituições de outras

unidades da federação, como as do Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul,

entre outras.

4. Exemplo disso é o boletim Indicador Metropolitano (CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Indicador Metropolitano, São Paulo, CTEO, set. 2015. Disponível em: <http://www2.camara.sp.gov.br/CTEO/Boletins/Indicador%20Metropolitano%2052%20-%20setembro%2015.pdf>).

5. Uma amostra recente dos estudos que usam o indicador pode ser encontrada em <https://scholar.google.com.br/scholar?q=iprs+seade&hl=pt-BR&as_sdt=0,5>, merecendo destaque alguns exemplos como: <http://www.inderscienceonline.com/doi/abs/10.1504/IJBSR.2015.066807>, <http://www.seer.ufrgs.br/read/article/view/38846/0> e <ftp://ftp.sp.gov.br/ftpiea/publicacoes/ie/2009/tec6-0609.pdf>.

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 11

Parte 2 DIMENSÕES E ESPACIALIZAÇÃO DO INDICADOR6

RIQUEZA

O indicador de riqueza municipal procura captar, ao mesmo tempo, a

produção de riqueza do município e das famílias por meio dos seguintes

componentes:• Consumo de energia elétrica residencial, por ligação;

• Consumo de energia elétrica na agricultura, no comércio e nos serviços, por ligação;

• Rendimento médio dos empregados com carteira assinada no se-tor privado e no setor público; e

• Valor adicionado fiscal per capita.

Essas variáveis em conjunto permitem uma mensuração da produção

e da renda, com a vantagem de uma disponibilização mais rápida que os in-

dicadores clássicos, como, por exemplo, o PIB, que só é divulgado com dois

anos de atraso. Além disso, estudos estatísticos mostram que o consumo de

energia é uma boa proxy da renda e da produção.

Nessa edição do IPRS, a nota de corte para classificação do município

como de alta riqueza foi ter um escore superior a 40 pontos. Assim, todos

os municípios que atingiram no máximo 40 pontos nesse indicador foram

classificados como de baixa riqueza. Em 2012, o Estado de São Paulo atin-

giu a marca de 46 pontos em riqueza no IPRS, um avanço de um ponto em

relação a 2010.

A análise dos componentes mostra que houve modesta melhora em

três dos seus quatro itens: o consumo anual de energia elétrica residencial

por ligação aumentou 3,9% (passando de 2,49 para 2,58 MW); o consu-

mo de energia elétrica no comércio, agricultura e em serviços por ligação

cresceu 8,6% (de 20,38 MW para 22,13 MW por ligação); e o rendimento

médio do emprego formal registrou ampliação real de 4,5% (de R$ 2.230

para R$ 2.330). Já o valor adicionado fiscal per capita reduziu em 0,4% (de

R$ 19.775 para R$ 19.690).7 Esses resultados expressam a dinâmica de bai-

xo crescimento da economia paulista no início da presente década.

6. Responsável pela dimensão riqueza, Alda Regina Ferreira de Araújo; pela dimensão longe-vidade, Bernadette Cunha Waldvogel; e pela dimensão escolaridade, Rafael Camelo.

7. Todos os valores monetários estão expressos em reais de 2012.

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 12

Um olhar sobre a distribuição da geração da riqueza pelo território pau-

lista mostra que a economia apresenta uma clara especialização produtiva: • No entorno da RMSP, num raio de 100 km, situa-se a porção mais

dinâmica em termos industriais e de serviços articulados a esse núcleo industrial;

• A porção norte-nordeste, seguindo pela Rodovia Anhanguera, até a altura da Rodovia Abrão Assad, e pela Rodovia Washington Luís tem como peculiaridade a importância da agroindústria ligada, principalmente, à cadeia produtiva da cana-de-açúcar e do suco de laranja;

• Na região oeste, a mais distante do centro dinâmico, a cadeia pro-dutiva sucroalcooleira divide a importância com a carne bovina. Além disso, nessa área, emoldurada a oeste pelo Rio Paraná, ao sul, pelo Rio Paranapanema, ao norte, pelo Rio Grande e, corta-da pelo Rio Tietê, localizam-se as maiores usinas hidrelétricas do Estado;

• A porção centro-oeste, mais próxima ao centro dinâmico, se asse-melha ao recorte territorial oeste na importância relativa da produ-ção sucroalcooleira e da pecuária;

• O recorte territorial centro-sul é marcado por uma atividade pri-mária mais diversificada, reflexo da sua proximidade com gran-des centros consumidores, onde tem se expandindo o cultivo de frutas. A produção de madeira também se destaca na região e alimenta a indústria moveleira local;

• A porção sul, formada pelo Vale do Ribeira e onde se concentra a maior área de Mata Atlântica do país, o que transforma grande parte de seu território em área de proteção ambiental, tem assim uma pequena expressão econômica na economia paulista. Seus principais segmentos são a agroindústria, a mineração e o turismo.

Essa configuração indica ainda que a maioria dos municípios localiza-

dos ao longo dos principais eixos rodoviários que partem da Região Metro-

politana de São Paulo – RMSP é classificada como de alta riqueza, reflexo

do processo de industrialização do Estado.8 Esses eixos abrigam o maior

complexo industrial da América Latina, com uma ampla diversidade setorial:

indústrias automobilísticas; aeronáutica; refino de petróleo; farmacêutica e

8. Esses eixos são formados pela Rodovia Presidente Dutra, que liga a capital à região de São José dos Campos; pelo eixo Anhanguera–Bandeirantes, que se estende até Ribeirão Preto; pela Rodovia Castelo Branco, até Sorocaba; e pelo eixo Anchieta–Imigrantes, que interliga a RMSP e a Região Metropolitana da Baixada Santista.

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 13

química; máquinas e equipamentos; e equipamentos eletrônicos e teleco-

municações. Trata-se de segmentos com ligações importantes com o mer-

cado externo e que se caracterizam por níveis mais altos de investimentos,

P&D, inovação tecnológica e produtos de maior valor agregado (Mapa 1).

Entre os 39 municípios da RMSP, 24 foram considerados de alta rique-

za em 2012, enquanto na região de Ribeirão Preto foram oito entre 25 cida-

des (Cravinhos, Jardinópolis, Pontal, Pradópolis, Jaboticabal, Ribeirão Preto,

Sertãozinho e Luís Antônio). Tal fato indica que a expansão da indústria foi

capaz de aumentar a riqueza local apenas em cidades que já contavam com

uma presença industrial relevante ou que se apropriaram de alguma ativida-

de de manufatura ligada à cultura da cana.

A importância da indústria na classificação dos municípios de alta ri-

queza é também evidente na escala estadual: entre os dez municípios mais

bem posicionados nesse ranking, sete apresentam importante adensamento

industrial: Barueri (59 pontos), Paulínia (58 pontos), Louveira (57 pontos),

Vinhedo, Cubatão (ambos com 55 pontos), São Caetano do Sul e Jambeiro

(os dois com 53 pontos). As únicas exceções nesse quadro correspondem a

Santana de Parnaíba, São Sebastião e Bertioga (todos com 56 pontos).

MAPA

1

Classificação dos municípios, segundo níveis de riqueza do IPRS2012

Fonte: Fundação Seade. Índice Paulista de Responsabilidade Social – IPRS.

Riqueza

Baixa

Alta

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 14

Em sentido oposto, os dez municípios com os piores desempenhos no

escore de riqueza municipal, localizam-se em regiões com baixa atividade

industrial: seis estão na região de Itapeva – Barra do Chapéu (14 pontos),

Itaóca, Itapirapuã Paulista (ambos com 16 pontos), Iporanga (18 pontos),

Ribeira e Ribeirão Branco (ambos com 19 pontos) –, três localizam-se na RM

do Vale do Paraíba e Litoral Norte, em sua porção próxima à serra do mar

– Natividade da Serra (19 pontos), Cunha e Silveira (ambos com 20 pontos)

– e um na região de Registro – Eldorado (19 pontos).

Merece destaque, por fim, a sobreposição entre o núcleo econômico

e sua base demográfica, ou seja, apesar de o Estado contabilizar 493 mu-

nicípios de baixa riqueza (76,4% do total), neles residem apenas 25,6% da

população paulista, enquanto nos 152 municípios (23,6%) classificados na

categoria de alta riqueza municipal, essa proporção é de 74,4%.

Essa concentração pode ser apreendida quando verificamos que dos

100 municípios mais bem ranqueados, 46 possuem mais de 100 mil habi-

tantes, entre os quais, os dez municípios com os melhores resultados são:

Barueri (59 pontos), Santana de Parnaíba (56 pontos), Cubatão (55 pontos),

São Caetano do Sul (53 pontos), São Bernardo do Campo (52 pontos), San-

tos, Itapevi (ambos com 51 pontos), São Paulo, Jundiaí e Cotia (todos com

50 pontos).

LONGEVIDADE

A dimensão longevidade do IPRS contempla quatro aspectos da saúde da

população:

• Acesso a serviços de saúde e qualidade da assistência ao pré-natal,

ao parto e ao recém-nascido, avaliado pela taxa de mortalidade do

período perinatal, calculada pela soma dos óbitos fetais com mais

de 22 semanas de gestação e daqueles de crianças com menos de

7 dias de vida, dividida pelo total de natimortos e nascidos vivos;

• Desenvolvimento socioeconômico, infraestrutura ambiental, aces-

so e qualidade dos recursos disponíveis para atender a saúde ma-

terna e a população infantil, avaliados pela taxa de mortalidade

infantil, calculada pela razão entre os óbitos de menores de um

ano e o total de nascidos vivos;

• Mortes muito precoces que atingem a população jovem adulta,

avaliado pela taxa de mortalidade da população de 15 a 39 anos,

calculada pela relação entre os óbitos e a população nesta faixa

etária;

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 15

• Indicador sentinela das condições de atendimento médico-hospi-talar, medido pela taxa de mortalidade da população entre 60 e 69 anos, calculada pela relação entre os óbitos e a população nesta faixa etária.

Os componentes integrantes da dimensão longevidade apontam, com

maior precisão, os pontos críticos que devem ser avaliados e enfrentados

para minimizar e até mesmo resolver aqueles aspectos existentes que não

estão contribuindo para a melhoria das condições de vida e de saúde da

população.

O indicador de longevidade do IPRS representa um referencial impor-

tante para a gestão municipal na área da saúde, permitindo o aprimoramen-

to de experiências exitosas em cidades vizinhas e/ou assemelhadas, com a

adequação às especificidades locais. Sua concepção considera também a

possibilidade de acompanhamento da evolução das condições de saúde em

cada cidade do Estado de São Paulo, por meio da série histórica disponível

do IPRS.

No cálculo das taxas de mortalidade utilizadas foram consideradas

duas fontes de dados produzidas na Fundação Seade: Sistema de Estatísti-

cas Vitais e Sistema de Projeções Populacionais.

A primeira é elaborada com base na Pesquisa Mensal de Eventos Vitais

nos Cartórios de Registro Civil de todos os municípios paulistas. Entre as in-

formações levantadas, encontram-se aquelas relativas aos óbitos registrados

em todo o Estado, contendo diversas variáveis que geram rica base de esta-

tísticas de mortalidade, cobrindo o universo de eventos ocorridos e registra-

dos no Estado. Essas informações são produzidas desde o final do século XIX

e constituem importante acervo de dados disponível na Fundação Seade.

A segunda é resultante de estudo sobre a dinâmica populacional de

cada região e município do Estado, a partir dos principais componentes res-

ponsáveis pelo seu crescimento: fecundidade, mortalidade e migração. Essa

análise possibilita a adoção, pela Fundação Seade, do método dos compo-

nentes demográficos para projetar a população, por idade e sexo, de todas

as localidades paulistas. Assim, encontram-se disponíveis as informações

que servem de denominador para as taxas de mortalidade consideradas em

cada versão do IPRS.

O Estado de São Paulo atingiu, em 2012, a marca de 70 pontos no

indicador de longevidade, com acréscimo de um ponto em relação a 2010.

Entre os dois anos, com exceção da taxa de mortalidade perinatal que per-

maneceu estável em 13,3 óbitos do período perinatal por mil nascidos vivos

e natimortos, observa-se tendência de redução nos demais componentes

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 16

do indicador. A taxa de mortalidade infantil diminuiu de 12,0 óbitos de

menores de um ano por mil nascidos vivos, para 11,5 óbitos por mil, com

decréscimo de 4,2%; a taxa de mortalidade da população jovem adulta re-

duziu apenas 1,5%, passando de 1,35 óbitos por mil habitantes de 15 a 39

anos, para 1,33 por mil; e a taxa de mortalidade da população entre 60 e

69 anos diminuiu 3,0%, ao passar de 16,6 óbitos por mil habitantes, nesse

grupo de idade, para 16,1 por mil.

Em 2012, o Estado de São Paulo possuía 41,9 milhões de habitantes,

sendo que 43% de seus municípios (280) tinham menos de 10 mil habitan-

tes e concentravam apenas 3,4% de sua população. Por outro lado, somen-

te na cidade de São Paulo residiam 27% da população total do Estado que,

somados aos 74 municípios com contingente acima de 100 mil habitantes,

totalizavam 75% da população paulista.

Considerando o reduzido volume populacional de importante parcela

de municípios e a necessidade de minimizar possíveis ocorrências de variabi-

lidade aleatória dos eventos registrados nessas localidades, adotou-se a mé-

dia das taxas de mortalidade que integram o indicador de longevidade do

IPRS. Assim, aqueles municípios com contingente inferior a 10 mil tiveram

suas taxas calculadas com o acumulado de eventos de sete anos, enquanto

para os demais acumularam-se três anos.

Os municípios foram classificados em baixa longevidade quando apre-

sentaram índice de até 66 pontos; em média longevidade, quando ele fi-

cou entre 67 e 69 pontos; e em alta longevidade, quando registrou 70

ou mais pontos. Interessante notar que a cada nova versão do IPRS (2010,

2012 e 2014), o indicador foi acrescido de 1 ponto para cada patamar de

classificação.

Nessa última versão, 237 municípios, situados principalmente na por-

ção sul e litorânea do Estado, foram identificados como de baixa longevi-

dade, variando de 40 a 66 pontos. Na classificação intermediária, encontra-

vam-se 101 municípios, a maioria também mais concentrada nesta área. Os

municípios com alta longevidade somaram 197, sendo que 44 deles apre-

sentaram o mesmo índice do Estado: 70 pontos. Isso indica que apenas

24% dos municípios paulistas superaram o patamar médio registrado pelo

Estado de São Paulo. Em 4 municípios, o índice alcançou mais de 90 pontos:

Poloni, Trabiju, Emilianópolis e Nova Castilho.

O Mapa 2 apresenta o indicador longevidade municipal, apontando

as áreas mais críticas do Estado, com índice baixo e intermediário, e aque-

las em que as condições de saúde encontram-se iguais ou acima da média

estadual.

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 17

A análise individualizada de cada componente do indicador de longe-

vidade auxilia na identificação dos aspectos da saúde pública municipal que

mais requerem atenção, no sentido de reduzir as taxas de mortalidade e,

assim, elevar a referida classificação.

O primeiro componente é a taxa média de mortalidade do período pe-

rinatal. Considerando-se a taxa estadual, que na versão do IPRS de 2014 foi

de 13,3 óbitos fetais de mais de 22 semanas de gestação e óbitos de crian-

ças com até 7 dias de vida, por mil nascidos vivos e natimortos, verifica-se

que 54% dos municípios paulistas apresentaram taxas médias acima deste

patamar, sendo que em 130 cidades o indicador registrou índices entre 18,0

e 35,4 óbitos por mil. Interessante notar que em outros 130 municípios a

taxa de mortalidade perinatal apresentou apenas um dígito, mantendo-se

inferior a 10 óbitos por mil. A distribuição municipal dos níveis diferenciados

das taxas médias da mortalidade perinatal mostra que as maiores taxas, su-

periores à média estadual, encontram-se espalhadas no território paulista,

mas com maiores concentrações nas regiões sul, litorânea, central, oeste e

nordeste do Estado.

O segundo componente é a taxa média de mortalidade infantil. Con-

siderando-se a taxa estadual, que na versão do IPRS 2014 foi de 11,5 óbitos

MAPA

2

Classificação dos municípios, segundo níveis de longevidade do IPRS2012

Fonte: Fundação Seade. Índice Paulista de Responsabilidade Social – IPRS.

Longevidade

Baixa

AltaMédia

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 18

de menores de um ano por mil nascidos vivos, verifica-se que 39% dos mu-

nicípios paulistas registraram taxas de apenas 1 dígito, inferiores a 10 por

mil, sendo que em 105 deles a taxa foi inferior a 7 por mil. Por outro lado,

23% das localidades apresentaram níveis entre 15,0 e 43,1 óbitos infantis

por mil, sendo que em 47 delas a taxa de mortalidade infantil ficou acima

de 20 óbitos por mil. A distribuição das taxas médias da mortalidade infantil

por municípios mostra que as maiores taxas, superiores à média estadual,

encontram-se, em grande parte, localizadas ao sul, no litoral sul e no centro

oeste do Estado, enquanto as menores taxas concentram-se nas regiões

leste e nordeste.

As mortes que ocorrem antes do nascimento e aquelas dos primei-

ros dias de vida da criança devem-se a fatores de risco comuns, entre os

quais se destacam a presença de malformações congênitas e a ocorrência

de número insuficiente de consultas de pré-natal. Estas mortes representam

importante indicador das condições de saúde, de assistência ao pré-natal e

ao parto, podendo refletir questões diretamente relacionadas ao processo

gestacional, tanto geradas por problemas ligados à saúde da mãe, quanto

àquelas relacionadas aos serviços de saúde responsáveis pelo acompanha-

mento da gestação e do parto.

A ausência, em muitas localidades, de unidades de terapia intensiva

neonatal para este contingente, necessárias para o adequado atendimen-

to da mulher grávida e do recém-nascido com problemas sérios de saúde,

constitui outro condicionante para a ocorrência de mortes muito precoces. É

verdade que as malformações congênitas, alguns problemas de crescimento

intrauterino e de prematuridade extrema ou mesmo doenças clínicas da mu-

lher prévias à gestação constituem questões complexas e de difícil controle,

mas havendo maior monitoramento das mães com gravidez de alto risco

torna-se possível minimizar diversos desses transtornos.

Ainda é insuficiente o número de consultas de pré-natal realizado pe-

las mães no Estado de São Paulo, cujo patamar preconizado é de sete ou

mais. Entre as mães que tiveram uma criança nascida viva em 2012, 24%

não completaram esse total de consultas. Chama atenção ainda a existência

de 5% de mães paulistas que não realizaram nenhuma consulta durante

toda a gestação naquele ano.

Na mortalidade infantil, além das questões diretamente relaciona-

das ao período de gestação, parto e puerpério, somam-se aquelas en-

volvendo as condições ambientais e socioeconômicas das famílias, que

resulta em número importante de perdas de crianças com menos de um

ano de idade.

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 19

O terceiro componente é a taxa média de mortalidade da popula-

ção jovem adulta. Considerando-se a taxa estadual, que na versão do IPRS

2014 foi de 1,33 óbitos por mil pessoas na faixa etária entre 15 e 39 anos,

verifica-se que 90 municípios registraram menos de um óbito para cada mil

habitantes e outros 215 apresentaram taxas entre 1 e a média do Estado.

Por outro lado, mais da metade dos municípios paulistas (340) registraram

taxas superiores a este patamar, sendo que em 52 ocorreram mais de 2

óbitos por mil residentes jovens-adultos.

Essa taxa é um indicador da violência que vitima precocemente os

jovens-adultos residentes no Estado, uma vez que metade das mortes ocor-

ridas neste contingente populacional, em 2012, foi devida a causas exter-

nas, que incluem principalmente as agressões e os acidentes de transporte.

As taxas superiores à média estadual situam-se mais nas áreas periféricas na

parte oeste, no sul e em todo o litoral do Estado, enquanto as menores taxas

concentram-se mais nas regiões centro, leste e nordeste.

O quarto componente é a taxa média de mortalidade da população

entre 60 e 69 anos. Considerando-se a taxa estadual, que na versão do IPRS

2014 foi de 16,1 óbitos por mil pessoas na faixa etária entre 60 e 69 anos,

verifica-se que 28 municípios registraram menos de 10 óbitos para cada mil

habitantes e outros 282 apresentaram taxas entre 10 e a média do Estado.

Por outro lado, 335 municípios paulistas tiveram níveis superiores, sendo

que em 85 ocorreram mais de 20 óbitos por mil residentes nessas idades.

Considerando-se que um terço das mortes ocorridas entre residen-

tes com idades de 60 a 69 anos no Estado de São Paulo foram devidas a

causas relacionadas ao aparelho circulatório, e que parcela importante de

tais causas pode ser evitada se houver atendimento rápido e adequado

às vítimas, a análise desse indicador revela-se como instrumento sentinela

das condições dos serviços médico-hospitalares das diversas localidades do

Estado de São Paulo.

A combinação dos quatro componentes que compõem a dimensão

longevidade do IPRS 2014 permite captar aspectos específicos da mortalida-

de de cada município paulista, ampliando ainda o campo de análise dessa

questão como condições de acesso e qualidade dos serviços de saúde, diag-

nóstico precoce e tratamento eficaz da população, além de fatores associa-

dos ao desenvolvimento socioeconômico local.

Vale ressaltar que o indicador síntese utilizado em outros estudos,

como a esperança de vida ao nascer, apesar de sua relevância para realizar

comparações entre diferentes localidades, não possibilita o entendimento

desagregado dos diversos aspectos da área da saúde.

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 20

Os pontos trabalhados delineiam o panorama de saúde da população

de cada município paulista e permitem avaliar diferenciais existentes, e por

vezes persistentes, em cada localidade. Possibilitam também a identifica-

ção mais precisa do foco prioritário de atenção para minimizar relevantes

questões de saúde, transformando-se em instrumento para melhor orientar

ações e formulação de políticas públicas locais, que são as que atingem com

maior rapidez e eficiência a vida de cada cidadão.

ESCOLARIDADE

O indicador de escolaridade do IPRS prioriza componentes relacionados à

oferta, ao rendimento e ao atraso escolar da educação básica. Dessa forma,

estão incluídas as seguintes variáveis:

• Taxa de atendimento escolar na faixa de 4 a 5 anos, que refere-se

à cobertura da oferta de educação infantil;

• Média das proporções de alunos de 5o ano do ensino fundamental

da rede pública que atingiram pelo menos o nível adequado nos

exames de português e matemática da Prova Brasil, que capta o

rendimento escolar do primeiro ciclo do ensino fundamental;

• Média das proporções de alunos de 9o ano do ensino fundamental

da rede pública que atingiram pelo menos o nível adequado nos

exames de português e matemática da Prova Brasil, que capta o

rendimento escolar do segundo ciclo do ensino fundamental;

• Taxa de distorção idade-série no ensino médio, que, na ausência

de um indicador de desempenho escolar abrangente para esta eta-

pa, é indicativo do rendimento dos alunos.

Todas essas variáveis foram construídas a partir de dados do Censo

Escolar e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), ambos realiza-

dos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), con-

siderando como denominador as projeções populacionais por idade escolar

produzidas pela Fundação Seade.

No IPRS 2014, foram considerados de baixa escolaridade os municí-

pios com indicador até 53 pontos. O Mapa 3 mostra que há 265 municípios

nesta faixa, em sua maioria concentrados no litoral paulista e Região Me-

tropolitana de São Paulo. Na faixa de escolaridade média (indicador entre

54 e 56 pontos), estão 115 municípios, relativamente bem distribuídos pelo

Estado, sobretudo pelo interior. Já o grupo de alta escolaridade, acima de

57 pontos, é formado por 265 municípios, distribuídos pelo interior, com

maior concentração no oeste e noroeste do Estado.

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 21

Os municípios com maior indicador de escolaridade são Cândido Ro-

drigues (RA Central) e Meridiano (RA de São José do Rio Preto), ambos com

77 pontos. Já os municípios com menores indicadores são Lavrinhas (RA de

São José dos Campos) e Nova Europa (RA Central).

De maneira geral, a região administrativa com maior indicador de es-

colaridade é a de São José do Rio Preto, onde destacam-se positivamente

cidades como Meridiano, Adolfo e Novo Horizonte, que têm os maiores in-

dicadores (acima de 73); mas onde também encontramos municípios como

Palestina, Catiguá e Riolândia com indicadores muito baixos (abaixo de 44).

Ou seja, mesmo nas melhores regiões é possível encontrar situações de de-

sigualdade muito graves.

Do outro lado, as regiões de Registro e a Região Metropolitana de

São Paulo são as de menor indicador de escolaridade. As piores situações

são encontradas nos municípios de Carapicuíba, Jandira e Itaquaquecetuba

(RMSP) e Pedro de Toledo, Itariri e Barra do Turvo (RA de Registro). Porém,

mesmo nas regiões com educação mais atrasada é possível encontrar muni-

cípios com indicadores em nível alto ou médio. Este é o caso de São Caetano

MAPA

3

Classificação dos municípios, segundo níveis de escolaridade do IPRS2012

Fonte: Fundação Seade. Índice Paulista de Responsabilidade Social – IPRS.

Escolaridade

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 22

do Sul (RMSP, com indicador acima de 70) e Cananéia (na RA de Registro,

com indicador 54).

A dimensão escolaridade do IPRS permite acompanhar a evolução

dos resultados das políticas educacionais ao longo do tempo, por isso o

comparativo entre as diferentes edições do indicador é importante. Um

primeiro ponto a se destacar é que de acordo com as variáveis sintetiza-

das nesse indicador, a educação básica no Estado de São Paulo evoluiu de

2010 a 2012, passando de 48 para 52 pontos. O indicador capta variáveis

associadas a todos os níveis da educação básica: infantil, fundamental (1o

e 2o ciclos) e médio. Assim, os números retratam a evolução estadual em

todos esses níveis.

Na educação infantil, a taxa de atendimento de crianças de 4 a 5 anos

(população em idade ideal para cursar a pré-escola) cresceu 12 pontos por-

centuais (de 84,8% para 96,8%), o que indica que o Estado, pelo menos

em termos gerais, está próximo da universalização da educação para essa

faixa etária.

No ensino fundamental, o IPRS avalia o desempenho escolar dos estu-

dantes na Prova Brasil, ao invés da taxa de atendimento, uma vez que esta

etapa já está universalizada no Estado. Este exame conta com uma escala

que permite identificar se o desempenho dos alunos em Língua Portuguesa

e Matemática está dentro ou aquém do nível esperado para a série cursada.

A variável que compõe o indicador é a média das proporções de alunos da

rede pública com desempenho adequado, sendo que os dados demonstram

que essa adequação cresceu.

Na versão anterior do IPRS, que considerava as notas na Prova Brasil

2009, calculou-se que 40,9% dos estudantes de 5o ano tinham desempe-

nho dentro do esperado e na versão mais recente, com referência na Pro-

va Brasil 2011, essa mesma proporção subiu para 42,9%. Houve evolução

também no desempenho dos alunos do 9o ano, porém sua melhoria foi mais

modesta. Entre o IPRS 2012 e 2014, cresceu de 19,19% para 19,24% a

proporção de alunos com desempenho adequado, o que mostra, em parte,

a dificuldade geral em melhorar a qualidade do segundo ciclo do ensino

fundamental.

No ensino médio, o IPRS avalia a taxa de distorção idade-série, que

mede o porcentual de estudantes em atraso escolar, isto é, a proporção

de alunos com idade acima do ideal para esta etapa. O atraso escolar está

superado no ensino fundamental, porém ainda é um problema importante

no ensino médio, sendo um fator que contribui para o abandono escolar

dos jovens.

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 23

Os dados mostram que o Estado evoluiu no sentido de reduzir a distor-

ção idade-série no ensino médio. No IPRS 2012 calculou-se uma taxa de dis-

torção de 18,1% e, na versão mais recente (2014), a taxa caiu para 16,3%.

Esse cenário de evolução geral dos indicadores de educação é relati-

vamente bem disseminado entre as regiões paulistas, isto é, de forma geral

todas também melhoraram. Porém o quadro das desigualdades dentro do

Estado pouco mudou.

Três regiões metropolitanas (São Paulo, Baixada Santista e Vale do Pa-

raíba) estão entre as que mais evoluíram, em termos do indicador de educa-

ção. Estas RMs, junto com as RAs de Sorocaba e Barretos, tiveram evolução

entre 5 e 6 pontos. Porém é importante considerar que as RMs de São Paulo

(48) e da Baixada Santista (50) são ainda as mais atrasadas em educação,

assim como a RA de Registro (48). No IPRS 2012, essas mesmas regiões já

figuravam entre as de menor indicador educacional.

Os problemas na educação dessas regiões, conforme apontam os da-

dos, estão em todos os níveis. Na RA de Registro, por exemplo, a taxa de

atendimento da pré-escola não chega a 90%. Nesta região, assim como na

RMSP, o desempenho dos alunos de 5o ano do ensino fundamental está

muito atrás do restante do Estado: pouco mais de 35% dos estudantes

estão no nível considerado adequado pelos parâmetros da Prova Brasil. O

mesmo acontece no segundo ciclo do fundamental nessas duas regiões,

onde cerca de 16% dos alunos tem somente o desempenho esperado para

o 9o ano. No ensino médio, as RMs de São Paulo e da Baixada Santista são

as mais atrasadas, com taxas de distorção idade-série próximas a 20%.

Do outro lado do ranking, as regiões mais avançadas em educação

seguem as mesmas desde a última edição do IPRS. São José do Rio Preto

(62), Marília (59), Araçatuba (58), Central (58) e Campinas (58) têm os indi-

cadores mais altos do Estado. Na educação infantil, a RA de São José do Rio

Preto alcançou a universalização do atendimento de crianças de 4 a 5 anos

e no primeiro ciclo do ensino fundamental quase 60% dos alunos de 5o ano

alcançaram desempenho adequado na Prova Brasil. No segundo ciclo do

fundamental, a proporção de estudantes com desempenho dentro do es-

perado (24% a 25%) aparece nas regiões de Campinas, Central e São José

do Rio Preto. Já no ensino médio, o menor atraso escolar é observado na

RA de Barretos (com taxa de distorção de 9,8%), além das RAs de São José

do Rio Preto, Araçatuba e Marília que também se destacam, com distorção

em torno de 11%.

Interessante notar que, mesmo nas regiões mais avançadas em edu-

cação básica, as melhorias foram maiores no ensino infantil e no primeiro

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 24

ciclo do fundamental, sendo menores no segundo ciclo e ensino médio.

Essa melhoria não é coincidência e segue o padrão de evolução da educa-

ção no Brasil. O país tem, de fato, feito importantes avanços na expansão

da educação infantil (creches e pré-escolas) e o desempenho dos alunos

tem melhorado, significativamente, nos primeiros anos do fundamental. Ao

contrário, o segundo ciclo do fundamental e o ensino médio têm passado

por persistente estagnação nos últimos anos.

Este cenário, comum a São Paulo e Brasil, pode, em parte, ser expli-

cado pelo contexto da política educacional nos últimos anos, que tem colo-

cado especial esforço nas primeiras etapas da educação básica. A educação

infantil, por exemplo, passou a receber mais atenção, especialmente após

mudanças na legislação9 e a inclusão do atendimento em educação infantil

como meta número 1 do Plano Nacional de Educação.

Concomitantemente, especialistas têm ressaltado cada vez mais a im-

portância dos cuidados na primeira infância, o que aumenta a conscientiza-

ção dos pais e, assim, a procura por vagas em creches e pré-escolas. Como

resposta, os governos federal e estadual têm respondido com programas de

apoio aos municípios, entes responsáveis pela educação infantil, para cons-

trução e equipamento de creches e pré-escolas. Os municípios, por sua vez,

além de contarem com o apoio estadual e federal, têm se esforçado para

ampliar o atendimento da educação infantil por meio de convênios com o

setor privado.

Da mesma maneira, o contexto da política educacional nacional tam-

bém ajuda a explicar os resultados mais tímidos do segundo ciclo do ensino

fundamental e do médio. É consenso entre especialistas que o ensino médio

brasileiro está em crise. O número de disciplinas é excessivo (são 12 obriga-

tórias), o conteúdo é focado exclusivamente no acesso ao ensino superior,

com pouca diversificação que permita aos alunos a preparação para profis-

sões de nível médio. Isso faz com que poucos alunos mantenham o interesse

pelos estudos, tornando a reprovação e o abandono escolar em problemas

importantes nessa etapa.

Além disso, no caso do ensino médio, as políticas públicas mais recen-

tes pouco têm ajudado. O novo Exame Nacional do Ensino Médio – Enem,

que passou a ser usado como critério de seleção para diversas universidades

federais, e os programas ProUni e Fies reforçaram o caráter exclusivamente

de transição para o ensino superior, que o nível médio tem assumido. Pro-

9. A Emenda Constitucional no 59, de 2009, tornou obrigatória e gratuita a educação básica a partir dos 4 anos.

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 25

postas de reformas mais profundas têm sido discutidas há anos, mas sem

efeitos práticos até agora.

No Estado de São Paulo, uma das iniciativas mais relevantes para me-

lhoria do ensino médio, o Novo Modelo de Escola de Tempo Integral, chega,

por enquanto, a 80 mil dos 1,6 milhão de alunos da rede estadual, portanto

ainda não deve ter seus resultados refletidos no IPRS.

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 26

Parte 3 ANÁLISE DA TIPOLOGIA

Um diferencial do IPRS frente ao IDH é a construção de uma tipologia de

municípios constituída de cinco grupos, denominada grupos do IPRS, que

resumem a situação municipal segundo os três eixos considerados – riqueza,

longevidade e escolaridade –, de forma multidimensional. A combinação do

desempenho municipal entre as três dimensões classifica os municípios com

características similares nos cinco grupos.

Como destacado, o IPRS é um indicador relativo, isto é, seus parâme-

tros de comparação são definidos a partir dos próprios dados que lhes dão

origem. O que significa dizer que a cada edição do indicador podem ocorrer

modificações na classificação dos municípios entre os grupos. Na edição de

2014, os 645 municípios do Estado de São Paulo foram classificados segun-

do os grupos do IPRS da seguinte forma:

Grupo 1: formado por 70 municípios, corresponde ao conjunto com

melhor desempenho econômico e social. Localizam-se, em sua maioria, ao

longo dos principais eixos rodoviários do Estado, entre os quais pode-se

destacar São Bernardo do Campo, Santo André, São José dos Campos, So-

rocaba, Jundiaí, Piracicaba, Jaguariúna, Americana. Esse grupo abrigava 9,9

milhões de pessoas ou 23,6% da população paulista;

Grupo 2: composto por 82 municípios, engloba localidades com alto

nível de riqueza, que não se reflete em seus indicadores sociais. Esse grupo

concentra 50,9% da população paulista, o que corresponde a 21,3 milhões

de habitantes. Essa elevada concentração populacional justifica-se pela pre-

sença, nesse grupo, de cidades como São Paulo, Guarulhos, Campinas e

Ribeirão Preto, e que igualmente se distribuem ao longo dos principais eixos

rodoviários;

Grupo 3: concentra 194 localidades com nível de riqueza baixo, mas

com bons indicadores de longevidade e escolaridade. Esse grupo reúne 4,3

milhões de pessoas, correspondendo a 10,5% da população estadual. É

formado por pequenos e médios municípios, distribuídos entre as regiões

oeste, centro-oeste e norte do território paulista;

Grupo 4: abriga 206 municípios, com pouco mais que 4,0 milhões de

habitantes, o que corresponde a 9,7% da população estadual. Esse grupo

exibe baixo nível de riqueza e níveis intermediários de longevidade e/ou es-

colaridade, encontrando-se disperso por quase todo o Estado de São Paulo;

Grupo 5: composto por 93 cidades, exibe os indicadores de riqueza e

sociais mais desfavoráveis no contexto estadual. Com população de 2,4 mi-

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 27

lhões de pessoas, esse grupo encontra-se, primordialmente, em áreas bem

específicas do Estado: nas RAs de Registro, Itapeva, Presidente Prudente e

na RM do Vale do Paraíba e Litoral Norte, em sua porção próxima à serra

do mar; além de um conjunto de municípios na faixa do centro ao noroeste

do Estado.

A distribuição dos grupos do IPRS no Estado de São Paulo pode ser

observada no Mapa 4.

Como já destacado, um diferencial do IPRS é a construção de sua tipo-

logia de grupos de municípios, que permite identificar através da separação

dos seus componentes – riqueza, longevidade e escolaridade –, em quais

dimensões o gestor público pode atuar com a finalidade de melhorar os

indicadores de condições de vida municipal, frente à classificação do muni-

cípio em cada rodada do indicador.

Como exemplo dessa possibilidade, apresentaremos a desagregação

das variáveis que compõem os indicadores de longevidade e escolaridade

para o município de São Paulo, pertencente ao Grupo 2 do IPRS, caracteri-

zado por um elevado nível de riqueza e indicadores sociais que não refletem

seu desempenho econômico.

MAPA

4

Municípios paulistas, segundo grupos do IPRS2012

Fonte: Fundação Seade. Índice Paulista de Responsabilidade Social – IPRS.

Grupo 1Riqueza: alta Indicadores sociais: bons

Grupo 2Riqueza: alta Indicadores sociais: insatisfatórios

Grupo 3Riqueza: baixaIndicadores sociais: bons

Grupo 4Riqueza: baixaIndicadores sociais: intermediários

Grupo 5Riqueza: baixaIndicadores sociais: insatisfatórios

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 28

O município de São Paulo abriga mais de 11 milhões de habitantes e

responde por 65,8% do PIB da Região Metropolitana de São Paulo – RMSP,

sendo o principal polo da indústria nacional. Conta com uma robusta base

tecnológica, um grande mercado consumidor, centros de pesquisa e de-

senvolvimento de ponta, uma sofisticada infraestrutura de logística e um

grande contingente de mão de obra altamente qualificada. A cidade pos-

sui também crescente presença na prestação de serviços, especialmente os

financeiros, mantendo-se como o principal centro financeiro da América

Latina. A forte presença dos serviços de saúde e educação e a conforma-

ção do maior complexo científico-tecnológico do país são outras marcas do

município, que abriga inúmeros institutos e centros de pesquisa, hospitais e

instituições de saúde, além de várias universidades e faculdades.

Aliado a esse perfil econômico, o município de São Paulo exibe em seu

interior uma profunda assimetria entre seu núcleo dinâmico e suas regiões

mais periféricas, carentes de infraestrutura urbana, social e econômica. Se

fosse fácil e acessível calcular os indicadores socioeconômicos por regiões

intramunicipais, essa assimetria seria melhor aferida. Como, no âmbito do

IPRS, o cálculo dos indicadores é efetuado para o conjunto do município, o

desempenho municipal para os indicadores sociais não reflete com precisão

o descolamento entre a base econômica e as condições de vida da popula-

ção residente nas áreas periféricas.

Os componentes integrantes da dimensão longevidade do IPRS apon-

tam, com maior precisão, os pontos críticos que devem ser avaliados e en-

frentados para minimizar aspectos existentes que não estão contribuindo

para a melhoria das condições de vida e de saúde da população. Essa dimen-

são é composta pelas taxas de mortalidade das populações infantil, perina-

tal, de 15 a 39 anos e de 60 a 69 anos. O município de São Paulo tem sido

classificado entre aqueles com alta longevidade, nas edições do IPRS, sendo

que na de 2014, seu escore foi de 71, quando a média estadual foi de 70.

A desagregação do indicador de longevidade em suas quatro dimen-

sões evidencia que a cidade de São Paulo, nesse conjunto, apresenta um

desempenho próximo da média estadual. A taxa de mortalidade infantil

para o Estado de São Paulo foi de 11,5 óbitos de menores de um ano por

mil nascidos vivos e a taxa de mortalidade perinatal foi de 13,3 óbitos por

mil nascidos vivos e natimortos, enquanto para o município essas taxas são

de 11,2 e 12,4 óbitos por mil, respectivamente.

Com relação às taxas de mortalidade das populações com idades entre

15 e 39 e 60 a 69 anos, a cidade de São Paulo apresenta desempenho igual

ou superior à média estadual. O município apresentou, respectivamente,

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 29

taxas de mortalidade de 1,3 e 15,0 óbitos por mil pessoas de cada faixa

etária correspondente, enquanto para o Estado essas taxas foram de 1,3 e

16,1 óbitos por mil.

Em que pese o bom desempenho do município, essa média pode es-

conder disparidades internas muito acentuadas entre as regiões dinâmicas

e aquelas mais afastadas e carentes de infraestrutura socioambiental e de

saúde.

O indicador de escolaridade permite acompanhar a evolução dos re-

sultados das políticas educacionais ao longo do tempo, por isso o compara-

tivo entre as diferentes edições deste indicador é importante. O município

de São Paulo apesar de sua acentuada melhora no IPRS, entre os anos de

2010 e 2012, quando evoluiu de 41 para 46, ainda encontra-se longe de

um desempenho aceitável. Sua posição no ranking estadual é de 568o, ex-

pondo de forma contundente a necessidade de melhoria desse indicador no

município.

A desagregação do indicador em suas variáveis constitutivas mostra

que apenas a taxa de atendimento escolar para crianças de 4 a 5 anos

encontra-se num patamar aceitável: 96,6%, contra uma média estadual de

96,8%.

Quando são avaliados os demais componentes de escolaridade para

o município fica evidente o tamanho do esforço a ser realizado, entre os

diversos níveis de governo, para melhoria desse indicador na cidade de São

Paulo. A média das proporções dos alunos do 5o ano do ensino fundamental

da rede pública que atingiram o nível adequado nas provas de matemática

e português foi de 34,8, enquanto a média estadual foi de 42,9; para os

alunos do 9o ano do ensino fundamental da rede pública, nas mesmas dis-

ciplinas, foi de 15,9 contra uma média estadual de 19,2; já para o porcen-

tual de alunos com atraso escolar no ensino médio o município apresentou

uma taxa de 20,4, enquanto a média estadual situa-se em 16,3. São esses

resultados apresentados pela cidade de São Paulo que explicam sua posição

no ranking estadual da escolaridade e colocam como urgente uma atuação

mais articulada e enérgica dos gestores públicos em todas as instâncias de

governo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como destacado ao longo do texto, o IPRS constitui uma importante ferra-

menta para a melhoria dos indicadores sociais. O Estado de São Paulo, em

que pese sua importância econômica e demográfica no contexto nacional,

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 30

apresenta em seu território fortes assimetrias sociais e econômicas: os in-

dicadores de riqueza mostram uma acentuada concentração ao longo dos

eixos rodoviários que partem da RMSP, já os indicadores de longevidade e

escolaridade apresentam uma distribuição mais desconcentrada e, por ve-

zes, sem relação com o indicador de riqueza. Assim, verificam-se localida-

des com alto nível de riqueza e indicadores sociais que não refletem esse

desempenho, por outro lado, observam-se localidades classificadas como

de baixo nível de riqueza e que apresentam bons indicadores sociais. Esses

municípios localizam-se, principalmente, nas regiões oeste, centro-oeste e

noroeste.

O IPRS, em sua dimensão de escolaridade, permite acompanhar os

resultados das políticas educacionais, apontando seus avanços e desafios.

Com os dados disponíveis podemos concluir que o Estado avançou de for-

ma importante nas etapas em que os municípios possuem um controle mais

direto: a educação infantil e o primeiro ciclo do fundamental. Por outro

lado, a evolução foi mais tímida no segundo ciclo do fundamental e ensino

médio, etapas de maior responsabilidade do governo estadual.

Esse quadro traz algumas indicações importantes. A evolução acon-

teceu nas etapas que receberam maior esforço dos três entes federados,

em termos de mudanças na legislação e destinação de recursos, incluindo

importantes iniciativas de apoio aos municípios. Porém, as mudanças foram

bem menos positivas nas etapas em que as reformas institucionais pouco

evoluíram e onde ocorreu menor coordenação entre os entes federativos.

Além disso, a persistência das desigualdades regionais frente ao mos-

trado na edição anterior do IPRS mostra o quão difícil é reverter as situações

de maior atraso na educação. Assim, o avanço na educação básica requer

uma série de mudanças institucionais articuladas e coordenadas entre os

diferentes níveis de governo.

Já as variáveis constitutivas da dimensão longevidade permitem de-

linear o panorama de saúde da população de cada município paulista e

avaliar diferenciais existentes, e por vezes persistentes, em cada localidade.

Possibilitam ainda a identificação mais precisa do foco prioritário de atenção

para minimizar relevantes questões de saúde, servindo de instrumento para

melhor orientar ações e formulação de políticas públicas locais, que são as

que atingem, com maior rapidez e eficiência, a vida de cada cidadão.

As informações completas do IPRS estão disponíveis no site da Funda-

ção Seade (www.seade.gov.br), permitindo o aprofundamento da análise

de seus diversos aspectos e especificidades regionais.

1a Análise Seade, nos 30, 31 e 32, set./out./nov. 2015 31

NOTA AOS COLABORADORES

Os artigos publicados pelo Primeira Análise devem ser relacionados

a pesquisas da Fundação Seade. As colaborações podem ser tanto

de integrantes da Fundação como de analistas externos.

A publicação não remunera os autores por trabalhos publicados.

A remessa dos originais para apreciação implica autorização para

publicação pela revista, embora não haja obrigação de publicação.

A editoria do boletim poderá contatar o autor para eventuais dúvidas

e/ou alterações nos originais, visando manter a homogeneidade e

a qualidade da publicação, bem como adequar o texto original ao

formato dos artigos do Primeira Análise – e para isso podem ser

realizadas reuniões de ajuste de conteúdo editorial com os autores.

É permitida sua reprodução total ou parcial, desde que seja citada

a fonte.

E-mail de contato: [email protected]

NORMAS EDITORIAIS

O artigo deverá ser digitado em Word (fonte TIMES NEW ROMAN,

corpo 12), contendo no mínimo 15 e no máximo 30 páginas, em

espaço duplo.