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O Jogo Da Morte - Ursula Poznanski

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Um misterioso jogo de computador se torna sensação entre os alunos de uma escola londrina. Mas as regras são extremamente rígidas. Cada pessoa tem apenas uma oportunidade e deve jogar sempre sozinha, não comentando com ninguém. Quem viola essas instruções ou deixa de cumprir suas missões é eliminado e não pode iniciar outro jogo. O mais estranho, no entanto, é que as missões são realizadas não no mundo virtual, e sim no real. Ficção e realidade se confundem de maneira intrigante neste thriller, best seller na Alemanha.

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    "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando pordinheiro e poder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novo nvel."

  • Traduo deGABRIEL PEREZ

    1 edio

    2013

  • P867j

    13-04137

    CIP-BRASIL. CATALOGAO NA FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

    Poznanski, Ursula, 1968-O jogo da morte [recurso eletrnico] / Ursula Poznanski; traduo Gabriel Perez. - 1. ed. - Rio de Janeiro:

    Galera Record, 2013.recurso digital

    Traduo de: ErebosFormato: ePubRequisitos do sistema: Adobe Digital EditionsModo de acesso: World Wide WebISBN 9788501100344 (recurso eletrnico)

    1. Fico infantojuvenil austraca. 2. Livros eletrnicos. I. Perez, Gabriel. II. Ttulo.

    CDD: 028.5CDU: 087.5

    Ttulo original:Erebos

    Copyright 2010 Loewe Verlag GmbH, Bindlach

    Todos os direitos reservados. Proibida a reproduo, no todo ou em parte, atravs de quaisquer meios. Os direitosmorais da autora foram assegurados.

    Direitos exclusivos de publicao em lngua portuguesa somente para o Brasil adquiridos pelaEDITORA RECORD LTDA.Rua Argentina 171 Rio de Janeiro, RJ 20921-380 Tel.: 2585-2000que se reserva a propriedade literria desta traduo.

    Produzido no Brasil

    ISBN 9788501100344

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  • Para Leon

  • Comea sempre noite. noite eu alimento meus planos com escurido.Se existe algo que eu possua em abundncia a escurido. Ela o choonde florescer o que quero cultivar.

    Desde sempre, quando me perguntavam, eu preferi a noite ao dia e o poro ao jardim. Apenasaps o pr do sol minhas mutiladas criaturas de ideias ousam sair de seus refgios para respirar o arglido. Elas esperam que eu d aos seus corpos deformados alguma beleza grotesca. Uma isca tem deser bela para que a presa s perceba o anzol quando ele j repousa no fundo da carne. Minhas presas.Eu quase as quero abraar sem conhec-las. De certa maneira, eu farei isso. Ns seremos um, no meuesprito.

    Eu no preciso procurar a escurido, ela est sempre ao meu redor, eu a exalo como minharespirao. Como o suor do meu corpo. Entretanto, as pessoas me evitam, e isso bom. Elas seesgueiram minha volta, sussurrando, desconfortveis, amedrontadas. Elas acham que o fedor queas mantm afastadas, mas eu sei, a escurido.

  • 1J so trs e dez e nem sinal de Colin. Nick quicava a bola de basquete sobre oasfalto, pegando-a uma vez com a mo direita, outra com a esquerda, e ento com adireita de novo. Ouvia-se um estrondo breve e meldico cada vez que a bola tocava ocho. Ele se esforava para manter o ritmo. S mais vinte e ento, se Colin nochegar, Nick ir para o treino sozinho.

    Cinco, seis. No era do feitio de Colin faltar sem dar explicao. Ele sabia bemcomo as pessoas eram cortadas rapidamente do time do treinador Betthany. Ocelular de Colin tambm estava desligado, ele com certeza havia se esquecido decarregar a bateria. Dez, onze. Mas esquecer tambm o basquete, seus colegas, seutime? Dezoito. Dezenove. Vinte. Nada do Colin. Nick deu um suspiro e colocou abola embaixo do brao. Tudo bem, hoje a maioria das cestas ficaria finalmente porsua prpria conta.

    O treino foi puxadssimo e deixou Nick encharcado de suor aps duas horas.Com as pernas doloridas, Nick foi mancando para debaixo do chuveiro, ps-sedebaixo do jato dgua e fechou os olhos. Colin no apareceu mais, e Betthany,como esperado, ficou louco, descontando sua raiva inteiramente em Nick, como sefosse ele o culpado pela ausncia de Colin.

    Nick passou o xampu na cabea e lavou seu cabelo aos olhos do treinadorBetthany demasiadamente longo, prendendo-o em seguida em uma trana com umelstico. Ele foi o ltimo a deixar o ginsio, l fora j era noite. Enquanto descia asescadas rolantes em direo ao metr, Nick tirou seu celular do bolso e digitou ocdigo de discagem rpida sob o qual ele havia armazenado o nmero de Colin.Aps o segundo toque, a caixa postal atendeu e Nick desligou sem deixar recado.

  • Sua me estava deitada no sof lendo uma de suas revistas de cortes de cabeloenquanto assistia televiso.

    Hoje s vai ter cachorro-quente disse ela, mal Nick havia batido a porta. Estou esgotada. Voc pode pegar uma aspirina para mim na cozinha?

    Nick jogou sua bolsa do basquete no canto e colocou um comprimido de aspirinaem um copo com gua. Cachorro-quente, que timo. Ele estava morto de fome.

    Meu pai no est em casa? No, ele vai chegar mais tarde. aniversrio de um colega dele.Sem muitas esperanas, Nick examinou a geladeira procurando algo mais

    palatvel que salsicha o resto da pizza de ontem, por exemplo , mas noencontrou nada.

    O que voc acha do que aconteceu com Sam Lawrence? gritou a me, dasala. Loucura, n?

    Sam Lawrence? O nome no lhe era estranho, mas ele no conseguia relacion-loa nenhuma pessoa. Sempre que ele estava cansado como hoje, as informaescodificadas de sua me lhe irritavam consideravelmente. Ele lhe serviu o coquetelcontra dor de cabea e ficou se perguntando se no deveria tambm tomar umcomprimido.

    Voc estava l quando eles o levaram? A sra. Gillinger me contou a histriahoje, enquanto eu pintava suas mechas. Ela trabalha na mesma empresa que a medo Sam.

    Diga-me uma coisa: Sam Lawrence estuda na minha escola?A me o fitou com ar de desaprovao. Mas claro! Apenas duas sries abaixo da sua. Ele foi suspenso das aulas.

    Voc no ficou sabendo da confuso toda?No, Nick no sabia de nada, mas sua me fez questo de lhe contar

    detalhadamente o ocorrido. Encontraram armas no armrio dele! Armas! Parece que eram um revlver e

    dois canivetes. Onde que um garoto de quinze anos arruma um revlver? Vocpode me dizer?

    No disse Nick, contando a verdade. O escndalo todo, como a me ochamou, lhe passou despercebido. Ele pensou nos massacres nas escolas americanas esentiu um agito involuntrio. Ser que existia mesmo gente to doente ao seu redor?Ele sentiu o dedo coar para ligar para Colin, talvez ele soubesse mais a respeito,mas ele nem atendeu, aquele preguioso. Talvez tenha sido melhor, poisprovavelmente sua me exagerou de novo e o tal do Lawrence s tinha consigo umapistola de gua e uma faca de cozinha.

    triste como tudo pode dar errado enquanto os filhos esto crescendo disse

  • a me, encarando-o com aquele olhar de quem diz meu fofinho, meu pequeno, meubeb, voc no faria uma coisa dessas, no ?

    Era essa a expresso que fazia Nick sempre ponderar se ele no deveria se mudarpara a casa do irmo.

    Voc estava doente ontem? Deve ter sido praga do Betthany! No. Est tudo bem. Os olhos avermelhados de Colin fixavam a parede do

    corredor da escola ao lado da cabea de Nick. Tem certeza? Voc est com uma cara horrvel. Tenho. Eu no dormi nadinha na noite passada.Rapidamente o olhar de Colin dirigiu-se ao rosto de Nick, para depois voltar a

    fixar-se na parede. Nick conteve um suspiro de raiva. Falta de sono nunca haviadeixado Colin desse jeito.

    Voc estava na rua?Colin sacudiu a cabea, suas tranas rastafri balanaram para l e para c. Certo. Mas se tiver sido seu pai que mais uma vez No foi meu pai, est bem? Colin esquivou-se de Nick e foi para a sala de

    aula. No entanto, ele no se sentou no seu lugar, e sim caminhou em direo a Dan eAlex, sentados perto da janela, totalmente interessado na conversa deles.

    Dan e Alex? Nick piscou os olhos sem acreditar. Aqueles dois eram to sem-graaque o Colin costumava cham-los de irms tricoteiras. A irm tricoteira 1 (Dan)era um nanico que dava a impresso de querer compensar isso com seu traseiroparticularmente gordo, que ele fazia questo de coar. J a irm tricoteira 2 (Alex)mudava a cor do rosto, em velocidade digna de recorde, do branco-papel paravermelho-sangue no mesmo instante em que algum se dirigia a ele. Toda vez.

    Ser que Colin pretende candidatar-se ao posto de irm tricoteira nmero 3 comos outros dois?

    No estou entendendo murmurou Nick. Falando sozinho? Jamie apareceu atrs dele, deu um tapinha em seu ombro

    e largou a mochila esfarrapada pela sala de aula. Ele sorriu para Nick, mostrando-lhe os dentes mais tortos que se podiam encontrar na escola.

    Falar sozinho um mau sinal. um dos primeiros sintomas de esquizofrenia.Voc j est ouvindo vozes tambm?

    Que besteira! Nick deu um empurrozinho amigvel em Jamie. Mas,veja, Colin est todo amigo das irms tricoteiras.

    Ele olhou mais uma vez os trs e ficou perplexo. No era amizade aquilo, e simsubmisso. Colin estava agora com um olhar suplicante jamais visto.

  • Involuntariamente, Nick se aproximou alguns passos. Eu no entendo, qual o problema de voc me dar mais algumas dicas? ele

    ouviu seu amigo dizer. No d. E pare de agir assim, voc mesmo sabe disse Dan, cruzando os

    braos sobre sua barriga. Na gravata de seu uniforme havia grudado um resto dagema do ovo do caf da manh.

    Ah, vai, no nada demais dedurar. E eu no vou caguetar voc.Enquanto Alex olhava Dan com um ar desconfiado, sua satisfao com a situao

    estava estampada de maneira bvia em seu rosto. Esquea insistiu Dan. No seja to presunoso. Vamos ver como se sai

    nessa. Ao menos No! Cale essa boca, Colin!Logo, logo. Daqui a pouco Colin vai segurar Dan pelos ombros e faz-lo voar

    pelo corredor. Daqui a pouco.No entanto, Colin apenas abaixou a cabea e olhou para a ponta dos seus

    sapatos.Havia alguma coisa errada a. Nick caminhou na direo da janela e se juntou aos

    trs. E a, o que est havendo com vocs? Est precisando de algo? perguntou Dan agressivamente.Nick passou o olhar entre ele e os outros dois. De voc, no respondeu. S do Colin. Voc est cego? Ele est conversando com a gente.Nesse momento Nick ficou at sem ar. Como que ele lhe falava daquela

    maneira? Ah, mesmo, Dan? perguntou ele vagarosamente. E sobre o que ele

    poderia conversar com voc? Sobre estampas de tric?Colin lhe lanou um olhar rpido com seus olhos negros, mas sem dizer uma

    palavra. Se a sua pele no fosse to escura, Nick poderia jurar que ele tinha ficadovermelho.

    No pode ser! Ser que Colin est escondendo algo que o Dan saiba? Ser que eleo est chantageando?

    Colin Nick falou alto , Jamie e eu vamos nos encontrar depois da aulacom um pessoal no Camden Lock. Voc vem?

    Demorou um tempo at Colin responder. Ainda no sei disse ele com o olhar concentrado na janela. melhor no

    contar comigo.

  • Dan e Alex trocaram um olhar repleto de significados que causou certodesconforto no estmago de Nick.

    O que que est acontecendo aqui, hein? Ele agarrou seu amigo peloombro. Colin, o que est havendo?

    Foi o Dan, aquele rolha de poo, que tirou a mo do Nick do ombro do Colin. Nada que te interesse. Nada que voc v entender.

    s seis e meia, a Linha Norte estava cheia at no caber mais gente em p. Nick eJamie, a caminho do cinema, iam imprensados entre pessoas cansadas e suadas. Pelomenos Nick conseguia se projetar para fora daquela massa e respirar ar fresco,enquanto Jamie era desesperadamente encurralado por um engravatado e umasenhora de seios fartos.

    E digo mais, tem alguma coisa errada a insistiu Nick. Dan tratou Nickcomo um office boy. E a mim como uma criana. Da prxima vez Nick sedeteve.

    O que ele iria fazer da prxima vez? Dar um soco no nariz do Dan? Da prxima vez eu vou mostrar a eles como que terminou sua frase.Jamie deu de ombros, para um movimento maior no havia espao. Eu acho que voc est tirando concluses precipitadas disse com calma.

    Talvez Colin queira que o Dan lhe ensine espanhol. Ele d aulas de apoio para muitagente.

    No, no foi isso. Voc devia t-los ouvido. Ento ele deve estar tramando alguma coisa o sorriso de Jamie foi se

    estendendo at os molares. Ele est sacaneando os dois, entendeu? Que nemdaquela vez quando ele convenceu o Alex de que Michelle estava a fim dele. Isso foidiverso para semanas!

    Contra sua vontade, Nick teve que rir. Colin fora to convincente que Alex ficouperseguindo a acanhada Michelle. Obviamente acabaram sabendo de tudo e Alexficou alguns dias sem mudar de cor. Ele ficou permanentemente vermelho vivo.

    Isso foi h dois anos, nessa poca ns tnhamos s catorze anos disse Nick. E isso era retardamento de criana.

    As portas do vago se abriram e algumas pessoas desceram, enquanto muitasmais embarcaram. Uma jovem de salto alto pisou no p de Nick com todo o seu pesoe a dor espantou todos os pensamentos sobre o comportamento estranho de Colindurante os minutos seguintes.

    S mais tarde, quando eles estavam sentados na escura sala de cinema e aspropagandas passavam na tela gigantesca, voltou mente de Nick a imagem de

  • Colin ao lado dos dois esquisites. O olhar solicitamente brilhante de Alex, o sorrisosuperior de Dan. O constrangimento de Colin.

    Aquilo no se tratava de aulas de apoio, no mesmo.

    Durante todo o final de semana Colin no deu sinal de vida e, mesmo na segunda-feira, ele s falou com Nick o estritamente necessrio, parecendo estar sempre desada. Em um dos intervalos, Nick o observou enquanto ele passava algo sescondidas para Jerome. Algo fino, de plstico espelhado. Jerome parecia poucointeressado enquanto Colin falava sem parar, gesticulando freneticamente e depoisdesaparecendo de novo.

    Ei, Jerome Nick foi em sua direo, nitidamente de bom humor. Diz a,o que que o Colin acabou de lhe dar?

    Ele deu de ombros Nada de mais. Ah, me mostre a.Por um momento pareceu que Jerome fosse colocar a mo no bolso do casaco

    antes de pensar em algo melhor. Por que tanto interesse? Nada, no. S curiosidade mesmo. No nada importante. E, alis, pergunte ao Colin. Disse Jerome,

    juntando-se a umas pessoas que discutiam os ltimos resultados do futebol.Nick pegou seus livros de ingls do armrio e caminhou at a sala de aula, onde

    seu olhar, como sempre, se dirigia primeiro a Emily. Ela desenhava concentrada e decabea baixa. Seus cabelos escuros pendiam sobre o papel.

    Ele desviou o olhar e dirigiu-se at a carteira de Colin mas nela sentava-secomo um rei a irm tricoteira Alex. Ele e Colin, com as cabeas prximas uma outra, cochichavam.

    V se murmurou Nick sinistramente.No dia seguinte, Colin no foi escola.

    Pode haver qualquer coisa por trs disso. Ei, normalmente eu que sou odesconfiado de ns dois! Jamie bateu a porta do armrio como se fosse paraafirmar algo. Voc j pensou se Colin por acaso no est apaixonado? Quando assim, a maioria enlouquece Jamie imitou um olhar insano. Por Gloria, porexemplo, quem sabe? Ou por Brynne. No, no, ela caidinha por voc, Nick, seuheri da mulherada.

  • Nick ouviu sem prestar muita ateno, porque mais adiante no corredor, emfrente aos banheiros, havia dois garotos da stima srie: Dennis e um outro cujonome Nick esqueceu completamente. De qualquer forma, Dennis falava com o outrofreneticamente, colocando-lhe algo bem diante do seu rosto: um pacotinho fino equadrado. A viso pareceu muito familiar a Nick. O outro sorriu e sumiu com oobjeto discretamente em seu bolso.

    Talvez Colin esteja doidinho pela fofa da Emily Carver Jamie continuousupondo. Ele tenta de tudo com ela, ento no de se admirar o seu mau humor.Ou pela nossa favorita: Helen! Jamie deu um forte tapa no traseiro da corpulentamenina que tentava esquivar-se dele para entrar na sala de aula.

    Helen virou-se e lhe deu um golpe que o lanou metade do corredor para frente. Tire a mo, seu babaca resmungou.Aps alguns segundos de susto, Jamie atacou novamente. Pode deixar, apesar de isso ser muito difcil no caso da sua aparncia. Eu sou

    louco por espinhas e banha. Deixe-a em paz disse Nick. Jamie ficou perplexo. O que que est acontecendo com voc? Voc agora do Greenpeace? Salvem

    as morsas e tal?Nick no respondeu. As piadas de Jamie custa de Helen sempre lhe fizeram

    sentir como se algum estivesse soltando fogos de artifcio sobre barris de plvora.

    Na televiso estava passando Os Simpsons. Nick estava sentado no sof com suacala de corrida comendo ravili morno direto da lata. Sua me ainda no haviachegado. Ela devia ter sado com pressa, arrumando de novo suas coisas de qualquerjeito, pois metade da sua caixa de ferramentas encontrava-se espalhada pelo choda sala. Ao entrar em casa, Nick havia pisado em um bbi e quase se espatifou nocho. Que me mais bagunceira.

    Seu pai roncava no quarto e havia pendurado a placa de Por favor, no perturbe estou recuperando foras na porta.

    A lata de ravili estava vazia e Homer tinha acabado de bater seu carro numarvore. Nick bocejou. Ele j conhecia o captulo e, alm disso, tinha que ir mesmopara o treino de basquete. Sem muita vontade, ele arrumou sua bolsa. Talvez pelomenos Colin aparea hoje, j que ele perdeu o ltimo treino. Em todo caso, ligarpara ele e lembr-lo no iria fazer mal. Nick tentou trs vezes, mas apenas a caixapostal atendeu e Colin s a ouvia uma vez na vida e outra na morte.

  • Quem no leva o jogo a srio no tem nada o que fazer no time! o grito deBetthany preencheu sem esforo o ginsio. Os membros do time significativamentedesfalcado olhavam, embaraados, para baixo. Betthany estava gritando com aspessoas erradas, pois essas vieram para o treino. Mas eles eram oito em vez dedezessete. Com oito jogadores no se pode formar um time, no era preciso nempensar em substituio de jogadores. Colin obviamente no foi, mas Jerome tambmfaltou. Estranho.

    O que aconteceu com esses fracassados? Esto todos doentes? Ser que aepidemia de retardamento agudo est se alastrando pela regio?

    Nick desejava que em breve Betthany ficasse sem voz. Se for pra ele ficar sempre de escndalo, da prxima vez eu tambm no venho

    ele resmungou, tendo que pagar com vinte e cinco flexes.No caminho para casa, Nick ligou mais duas vezes para Colin, sem sucesso. Que

    droga!Por que que ele estava to inquieto? S porque Colin estava agindo como um

    louco? No, concluiu aps refletir brevemente. Como louco estaria bem. Mas pelovisto, Colin havia apagado Nick totalmente de sua vida de um dia para o outro. Eledevia pelo menos lhe ter explicado o porqu.

    Ao chegar em casa, Nick correu para seu quarto e se jogou na cambaleantecadeira giratria junto escrivaninha. Ele ligou o computador e abriu o programa dee-mails.

    De: Nick Dunmore Para: Colin Harris Assunto: T tudo bem com voc?E a cara! Voc t doente ou tem algo errado? Eu te ofendi ou algo do tipo? Se sim, no foi minhainteno.E me conta, o que que h entre voc e o Dan? Aquele cara muito estranho, e ns que ramos tounidosVoc vai pra escola amanh? Se voc est com problemas, vamos conversar.A gente se v.Nick

    Ele clicou em enviar, depois abriu o navegador e entrou no bate-papo do grupo dobasquete. Mas no havia ningum l, ento ele foi para o deviantART. Buscou Emily.Checou se ela havia postado algum mang novo ou algum poema na pgina. Ela eraincrivelmente talentosa.

    Ele encontrou dois esboos novos que salvou no disco rgido, e um breve texto no

  • blog. Antes de ler, hesitou. Ele tinha sempre de ultrapassar uma barreira invisvel,pois sabia que o texto no era para ele. Emily havia se esforado para permanecerannima, mas tinha amigas muito fofoqueiras.

    Ele afugentou esse pensamento. Aqui, nesta pgina, ele estava perto dela. Comose pudesse toc-la no escuro.

    No blog, Emily escreveu que sua cabea estava vazia. Ela queria ir para o campo,para longe dessa Londres massacrante. Nick sentiu suas palavras como umapunhalada. Era impensvel que Emily deixasse a cidade, a vida dele. Ele leu o textomais uma vez antes de fechar a pgina.

    Mais uma vez Nick olhou os e-mails. Nem uma palavra de Colin. E tambmnenhum tweet, h dias j. Nick suspirou, bateu o mouse com fora sobre aescrivaninha e desligou o computador.

    Qumica era um castigo do destino. Com crescente desespero, Nick se debruavasobre o livro e tentava entender o dever que a sra. Ganter lhes havia empurrado paraesta aula. Se ao menos um C no final do ano bastasse. Mas abaixo de B no seconseguia nada e, na verdade, teria de ser um A. As faculdades de medicina noaceitam quem ruim em qumica.

    Ele olhou para cima. sua frente estava sentada Emily, sua trana negra caasobre as costas. No eram dessas costas estreitas de slfide, e sim as costas de umanadadora. Assim como suas pernas, que eram longas e firmes e Ele sacudiu acabea, como que para forar seus pensamentos para o lugar certo. Droga. Quantosmols mesmo tinham 19 gramas de CH4?

    Logo bateu o sinal, indicando o final da aula. Sendo um dos ltimos, Nickentregou sua folha, convencido de que a sra. Ganter no ficaria nada satisfeita.Emily j tinha sado; Nick saiu automaticamente procurando por ela e a encontrou,de fato, apenas alguns metros frente no corredor. Ela conversava com Rashid, cujoenorme nariz projetava uma sombra em formato de bico na parede. Nick seaproximou alguns passos, como se fosse procurar alguma coisa em seu fichrio.

    No vai contar pra ningum, entendeu? Rashid segurava algo diante dela,um pacotinho fino, embrulhado em jornal. Tambm quadrado. importante.Voc vai ficar boquiaberta, simplesmente incrvel.

    O ceticismo no rosto de Emily dizia tudo. Eu no tenho tempo para essas abobrinhas.Nick permanecia um pouco de lado observando o quadro de avisos do clube de

    xadrez. Que no tem tempo o qu? Tome aqui, tente s!

  • Olhando de lado, Nick conseguiu ver que Rashid segurava um pacotinhoembrulhado em jornal diante de Emily, mas ela no o pegou. Ela deu um passo paratrs e foi embora.

    D isso a outra pessoa gritou ela para Rashid, voltando a cabea para trs.Isso, d para mim, pensou Nick. O que que estava acontecendo? Como assim

    ningum falava sobre esse pacotinho que estava circulando por a? E por que diabosele ainda no tinha um? Logo ele que sempre sabia de tudo!

    Nick observava Rashid, que, com o pacotinho enfiado no bolso do casaco,arrastava os ps pelo corredor. Agora ele se dirigia a Brynne, que acabara de sedespedir de uma amiga; ele falou com ela, tirou o pacotinho do bolso

    Para onde que voc est olhando assim avoado? Uma mo bateu comfora no ombro de Nick. Jamie. Como foi a aula pavorosa de qumica?

    Pavorosa murmurou Nick. Voc pensava o qu? Eu s queria ouvir em primeira mo.Algumas pessoas permaneciam paradas no meio do corredor bloqueando a vista

    para Brynne e Rashid; Nick se aproximou, mas a transao j estava concluda.Rashid retirou-se com seu tpico andar lento e Brynne desapareceu no prximocorredor.

    Que bosta! xingou Nick. O que que houve? Ah, esto escondendo alguma coisa. No outro dia Colin deu alguma coisa para

    Jerome e eles fizeram isso de maneira bizarramente secreta. Agora Rashid acabou deoferecer primeiro Emily, que o mandou ir passear, e depois ele foi encher a Brynne ele passou a mo pelo cabelo preso para trs. O resto eu no vi. Eu queriamuito saber do que que isso se trata.

    De CDS disse Jamie calmamente. Alguma cpia pirata, presumo. J viduas vezes hoje uma pessoa puxando outra para um canto e lhe empurrando um CD.Qual o problema, n?

    CD. Isso estaria de acordo com o formato do pacotinho de Rashid. Uma cpiapassando de mo em mo, talvez msicas indecentes. Ento no de se admirar queEmily no quisesse saber daquilo. O pensamento acalmou um pouco a curiosidade deNick, mas se era s um CD, por que ningum ouvia falar dele? Da ltima vez queum filme proibido circulou por a, virou o assunto do dia. Quem j o havia assistido,alongava-se em descries, enquanto os outros ouviam mortos de inveja.

    Mas agora? Parece at brincadeira de telefone sem fio, como se uma mensagemsecreta estivesse circulando. Quem sabia a respeito se calava, cochichava, se isolava.

    Pensativo, Nick caminhou rumo aula de ingls. A hora seguinte foirazoavelmente chata, Nick ocupava-se com seus pensamentos; aps vinte minutos,

  • percebeu que, no s Colin, mas Jerome tambm havia faltado hoje.

    Uma luz quente de outono lanou-se sobre a escrivaninha, colorindo de dourado abaguna de livros, cadernos e folhas amassadas de exerccios. A redao de inglssobre a qual Nick debruava-se havia meia hora, tinha agora apenas trs frases,sendo que as margens laterais estavam cheias de rabiscos espirais, raios e ondinhas.Droga, simplesmente no conseguia se concentrar, toda hora seus pensamentosperdiam o foco.

    Na cozinha ele ouvia os barulhos de sua me trocando as estaes do rdio.Whitney Houston cantava I Will Always Love You. O que que ele fez paramerecer isso?

    Ele jogou a caneta em cima da mesa, deu um salto e bateu a porta. Assim nodava, ele simplesmente no conseguia tirar esses CDs da cabea. Como assim eleainda no tinha um? Mais uma vez ele tentou ligar para o Colin, mas ele quesurpresa no atendeu. Nick deixou algumas palavras grosseiras na caixa postal,foi at o nmero de Jerome e apertou em ligar. O telefone tocou uma, duas, trsvezes e ento a ligao foi interrompida.

    Mas que droga isso! Nick respirou fundo. Que coisa mais ridcula Ele atirou-seem um gesto vigoroso, com o qual pretendia jogar seu celular dentro da mochila,mas se deteve repentinamente. Uma ideia lhe fazia ccegas com asinhas leves comopena. Ele tinha o telefone de Emily armazenado tambm.

    Antes que lhe viessem cabea vrios motivos para no fazer isso, ele j tinhadiscado. Mais uma vez lhe veio ao ouvido o sinal de chamada, uma, duas vezes.

    Al? Emily? Er sou eu, Nick. Eu queria lhe perguntar uma coisa sobre hoje

    na escola Ele fechou bem os olhos, respirou. Por causa do trabalho de qumica? No. Er por acaso eu vi que Rashid queria lhe dar alguma coisa. Voc

    poderia me dizer o que era?Foram alguns segundos at Emily responder. Como assim? Ento, que Tem uma gente agindo de maneira estranha nos ltimos dias.

    Muitos esto faltando s aulas, voc j reparou? Bem, finalmente ele conseguiuformar frases inteiras. E eu acho que isso tem algo a ver com essas coisascirculando por a. Por isso Entende? Eu queria saber do que isso se trata.

    Eu mesma no sei. Rashid no lhe falou nada a respeito?

  • No, ele me fez vrias perguntas, queria saber coisas sobre a minha famliaque no lhe diziam respeito algum. Se eles me do muita liberdade e coisas assim deu uma risada desanimada e breve. E se eu tinha um computador prprio.

    Ah h! Nick esforou-se em vo para tirar algo dessas informaes. Eledisse por que voc precisaria de um computador?

    No. Ele s me disse que iria me dar algo incrvel, melhor que tudo que eu jhavia visto na vida, e que eu deveria ver sozinha pelo tom de Emily se percebia oque ela achava daquilo. Ele estava bastante frentico e insistente. Mas isso vocviu, ou no?

    Essa ltima frase havia soado arrogante. Nick sentiu-se enrubescer. Vi, sim disse. Houve uma pausa. O que voc acha que ? perguntou Emily por fim. No sei. Vou perguntar a Colin quando ele voltar escola. Ou talvez voc

    tenha uma ideia melhor. Ficou um silncio na linha. No disse Emily. Sinceramente, eu ainda no pensei tanto a respeito

    disso.Antes de fazer a prxima pergunta, Nick respirou fundo. E voc gostaria de saber quando eu descobrir algo? S se for interessante,

    claro. Sim, com certeza disse Emily. Agora eu tenho que desligar, tenho muito

    pra fazer.Aps a conversa, o dia de Nick estava salvo. Colin podia ir se danar. Ele havia

    encontrado uma ligao com Emily. E ele tinha um pretexto para voltar a ligar paraela. Assim que soubesse mais.

    Colin havia voltado. Como se no houvesse acontecido nada, ele estava encostado noseu armrio, sorriu para Nick e jogou os dreadlocks sobre os ombros.

    Eu tive a maior infeco de garganta da minha vida disse, apontando paraseu cachecol. No dava nem pra falar no telefone. Eu estava completamenterouco.

    Nick procurou a mentira no rosto de Colin, mas no encontrou. Betthany est furioso como nunca disse Nick. Por que voc no avisou

    que estava doente? Ah, eu no estava me sentindo bem. O homem no deve estar assim to bravo.Nick escolheu suas prximas palavras com cuidado. Deve ser muito contagiosa mesmo, essa sua doena. Anteontem s foram oito

    pessoas. Um absoluto recorde negativo.

  • Se Colin ficou espantado, no demonstrou. , acontece. Jerome tambm faltou.Foi apenas uma palpitao mnima de suas plpebras que revelou o interesse

    repentino de Colin. Imediatamente Nick prosseguiu. Por falar em Jerome, diga-me uma coisa: o que era aquilo que voc lhe deu na

    ltima vez?A resposta saiu como se atirada por um revlver. O novo lbum do Linkin Park. Desculpe, eu sei que eu devia ter feito uma

    cpia pra voc tambm, mas at amanh eu lhe dou uma, t? disse, e ento bateua porta de seu armrio, colocou os livros de matemtica sob o brao e olhou Nickanimado. E a? Vamos?

    Com um impulso, Nick se desfez da perplexidade que a explicao de Colin lhehavia causado. Linkin Park! Ser que ele mesmo imaginou toda aquela coisa deconspirao? E se sua imaginao tiver lhe pregado uma pea e uma onda de gripefor a causa das faltas dos alunos? E pensando bem, nem faltaram tantos assim. Nickcontou rapidamente ao entrar na sala pouco depois de o sinal bater. A irmtricoteira 2 havia faltado, e tambm Jerome, Helen e o calado do Greg. Os outrosse esparramavam mais ou menos adormecidos pelos bancos.

    Tudo bem, pensou Nick. Ento eu imaginei isso tudo mesmo. No nenhumgrande segredo, s o Linkin Park. Ele riu de si mesmo e virou-se para Colin paradescrever-lhe o ataque de fria de Betthany ontem. Mas Colin nem prestou ateno.Ele estava olhando concentrado para Dan, que estava em seu lugar marcado najanela. Dan mostrava, cobrindo parcialmente com a sua barriga, quatro dedos. Colinelevou as plpebras, reconhecendo o sinal, e levantou trs dedos.

    O olhar de Nick acompanhou os dois para l e para c, mas antes que houvesse aoportunidade de perguntar a Colin o que estava por trs desses sinais, o sr. Fornaryentrou na sala. Ele lhes enfiou pelos ouvidos, durante uma hora, problemasmatemticos to cabeludos que Nick, no final, no teve tempo de pensar em coisasto simples como trs ou quatro dedos sendo mostrados.

  • 2Na mesa da cozinha havia dinheiro e uma lista de compras incrivelmente grande. Suame andava atarefadssima com servios de permanente. Como se o outono tivessedespertado em todas as mulheres de Londres a necessidade de ter cabelos cacheados.Franzindo a testa, Nick examinou a lista de compras: um sem-nmero de pizzascongeladas, palitinhos de peixe, pratos prontos de macarro. No parecia que suame tivesse planejado cozinhar nos prximos dias. Ele suspirou, pegou trs bolsasgrandes de compras e se ps a caminho do supermercado. E ento ele se lembrounovamente dos sinais de Dan com a mo e da resposta muda de Colin. Ser que eleestava vendo fantasmas? Essa era, alis, a opinio de Jamie. Voc anda entediado,cara, ele teria concludo. Voc precisa de um hobby ou de uma namorada. Possomarcar uma sada com Emily para voc?

    Nick pegou um carrinho de compras e espantou todos os pensamentos sobre aescola. Jamie tinha razo, era melhor se preocupar com problemas reais. Porexemplo, como ele iria carregar at em casa as vinte garrafas de gua mineral quesua me havia anotado na lista.

    Ao chegar na escola no dia seguinte, havia uma agitao no ar. No corredor deentrada havia muito mais alunos do que o normal, a maioria reunida em grupinhos.Eles cochichavam, murmuravam, sussurravam, suas conversas fundiam-se em umtapete de sons do qual Nick no conseguia identificar uma s palavra. As atenesem geral dirigiam-se a dois policiais, que andavam determinados pelo corredor emdireo diretoria.

    Em um canto, no muito longe da escada, Nick encontrou Jamie, envolvido emuma conversa intensa com a irm tricoteira Alex, com Rashid e com um aluno mais

  • novo cujo nome Nick no se lembrou na hora. Ah sim, ele se chamava Adrian, tinha13 anos e no costumava andar com alunos mais velhos. Mas Nick o reconheceuporque sua vida familiar havia sido assunto quando ele entrou na escola dois anosatrs. Diziam que o pai de Adrian havia se enforcado.

    Ei! Jamie chamou Nick com um gesto. O bicho est pegando hoje! O que os tiras esto fazendo na escola?Jamie abriu um sorriso largo. Tem criminosos aqui. Bandidos. Corja de ladres. Nove computadores foram

    roubados; notebooks novinhos em folha, tudo comprado para a aula de computao.Agora eles esto procurando pistas na sala de informtica.

    Adrian acenou com a cabea. E olha que ela estava fechada acrescentou timidamente. Isso foi o que o

    sr. Garth contou para os policiais, eu mesmo ouv Cale a boca, moleque ameaou Alex. Suas espinhas brilhavam

    certamente de nervoso, presumiu Nick.Ele sentiu repentinamente a necessidade de socar aquele idiota. Para no ter que

    continuar vendo-o, Nick virou-se para Adrian. E arrombaram a porta? No; quer dizer, sim disse animadamente. Ela foi aberta. Algum deve

    ter roubado a chave, mas o sr. Garth diz que isso impossvel, que todas as trsesto em sua sala, uma delas, inclusive, anda com ele para todos os lados.

    Nick? Uma voz baixa interrompeu a falao de Adrian, uma mo comunhas pintadas de esmalte transparente pousou sobre o ombro de Nick. Emily,pensou Nick por um breve momento, corrigindo-se imediatamente depois. Emily nousava trs anis em cada dedo e no tinha um cheiro to oriental.

    Ele virou a cabea e olhou nos olhos azuis-claros de Brynne. Azuis como poasdgua.

    Nickinho, voc pode quer dizer, ser que a gente pode conversar rapidinho,sem que nos ouam?

    Alex sorriu com malcia e passou a lngua sobre os lbios, fazendo Nick cerrar ospunhos.

    Certo disse para Brynne. Mas s alguns minutos.Seu tom irritado aparentemente no a incomodou, e se sim, ela no demonstrou.

    Ela era bonita, sem dvidas, mas era sobretudo fofoqueira e tambm, na opinio deNick, no tinha nada na cabea. Ela caminhou vagarosamente na frente dele,rebolando, at a escada que levava aos sales de ginstica. Neste horrio ainda nohavia ningum l.

    Ento, Nick disse em voz baixa. Eu queria lhe dar algo. incrivelmente

  • legal, juro. Ela vasculhou dentro de sua bolsa, deteve-se e tirou a mo de novo.Nick olhava a bolsa fixamente. Ele j suspeitava do que se tratava e quase sorriu

    para Brynne. Mas antes eu tenho que lhe perguntar uma coisa disse, alisando lentamente

    uma mecha de cabelo de sua testa.Se voc quiser fazer um favor a si mesmo, no me pergunte o que eu acho de

    voc. Pode falar. Voc tem computador? Um computador s seu, isso importante. No seu

    quarto.Era isso, finalmente! Tenho sim.Ela acenou a cabea com satisfao. Ah, e seus pais mexem nas suas coisas? No, meus pais no so malucos. Que bom ela pensou, franzindo a testa. Espere, tem mais uma coisa.

    Ela deu mais um passo em sua direo, aproximando seu rosto do dele. Seu hlito dechiclete e o perfume Harem formavam uma bizarra combinao. Voc no podemostrar a ningum. Seno no funciona. Voc tem que guardar isso imediatamente eno contar a ningum que eu lhe dei isso. Promete?

    Mas que bobeira. Ele fez uma careta. Como assim? So as regras disse Brynne enfaticamente. Se voc no prometer, no

    posso lhe dar nada.Nick deu um suspiro alto, mostrando sua irritao. Por mim prometido. Mas pense nisso, hein? Seno vou ter problemas ela lhe estendeu a mo e

    ele a pegou, sentindo como ela estava quente. Quente e um pouco molhada. Bom sussurrou Brynne. Estou confiando em voc ela lanou um olhar

    que, como ele temia, parecia sedutor, e ento tirou da bolsa uma caixinha fina equadrada de plstico e a pressionou contra a mo de Nick.

    Divirta-se murmurou e foi embora.Ele no a viu ir. Toda sua ateno voltava-se ao objeto em sua mo, um DVD

    gravvel em uma capinha sem nada escrito. Nick a abriu, tomado pela curiosidade.Linkin Park uma ova.Estava escuro ali embaixo e ele virou o DVD na direo da luz para poder

    reconhecer o que Brynne havia escrito nele com sua letra sapeca.Era apenas uma palavra totalmente desconhecida para Nick: Erebos.

  • Jamie encarnou Nick pelo resto do dia isso era tpico dele, mas no era to ruim.Pior do que isso foi a luta contra a tentao de tirar o DVD do bolso do casaco emostrar ao amigo. Mas todas as vezes ele achou melhor no faz-lo. Primeiro ele iriav-lo sozinho, descobrir o que era aquilo e por que todos agiam de maneira tomisteriosa. Mas de maneira alguma ele iria aderir a essa bobeira de segredo que a elemesmo dava nos nervos.

    As outras aulas estenderam-se de maneira torturantemente longa. Nick malconseguia se concentrar, sua ateno se voltava sempre para o singelo objeto em seucasaco. Ele podia senti-lo atravs de trs camadas de tecido. Seu peso. Suas arestas.

    T passando mal? perguntou-lhe Jamie antes de bater o ltimo sinal. No, como assim? Porque voc est com uma cara estranha. No, estou pensando.Os lbios de Jamie contraram com ironia. Deixe-me adivinhar. a Brynne? Voc marcou uma sada com ela?Nick nunca iria entender como Jamie poderia acreditar que ele estaria a fim de

    algum como Brynne. Porm, hoje lhe faltava nimo para discutir. E se for? respondeu, ignorando a expresso de eu-j-sabia de Jamie. Ento espero saber os detalhes amanh. Est bem. Quer dizer, no sei. Talvez.

  • 3O apartamento estava vazio e frio como gelo quando Nick chegou. Sua me devia tersado apressada novamente e se esquecido de fechar as janelas. Ele tirou a jaqueta,fechou tudo e ligou o aquecedor de seu quarto no mximo. Ento ele tirou o pacoteda bolsa e o abriu: Erebos.

    Nick fez uma careta. Erebos soava como Eros. Seria isso, talvez, um programapara arrumar namorado? Isso combinaria com Brynne. Mas essa idiota desapareceuimediatamente de sua cabea.

    Ele ligou o computador e foi pegar na sala, enquanto o sistema iniciava, umcobertor de l para colocar em volta dos ombros.

    Ele tinha pelo menos quatro horas pela frente sem ser incomodado. Mais porhbito, mas tambm para aumentar ainda mais a ansiedade, ele acessou os e-mails(trs propagandas, quatro spams e um recado injuriado de Betthany, ameaando comconsequncias terrveis aqueles que faltassem ao treinamento mais uma vez).

    No momento em que ele iria abrir sua pgina no Facebook, Finn enviou umamensagem pelo messenger.

    Oi maninho! Tudo bem?Nick sorriu involuntariamente. Sim, tudo timo. Como que est a me? Ela est cheia de coisas para fazer, mas est bem. E a, como est voc? Bem tambm. Os negcios esto indo s mil maravilhas. Legal. Nick forou-se a no perguntar mais detalhes. Nickinho, escuta. A camiseta que eu lhe prometi voc sabe qual, n?E como ele sabia. Uma camiseta do Hell Froze Over, a melhor banda do mundo,

    se perguntassem a Finn.

  • Sim, o que tem ela? Eu no estou encontrando no seu tamanho. No pelas prximas semanas. Voc

    simplesmente alto demais, irmozinho. Eles encomendaram na loja de msica, masvai demorar. Tudo bem?

    No primeiro momento Nick no sabia por que estava to decepcionado. Talvezpor haver em sua cabea a imagem dele e de Finn no show dali a duas semanas,ambos com a camiseta do HFO com a cabea de diabo sobre o peito, berrandoDown the Line.

    No tem problema, no. Mas eu vou comprar, prometo. Voc vem me visitar de novo? Claro. Estou com saudades, rapaz, sabia? Eu tambm. E como. Mas isso ele no precisava jogar na cara de Finn, pois

    o deixaria com remorso.Aps a conversa com seu irmo, Nick deu uma olhada nos desenhos de Emily no

    deviantART, mas desde ontem no havia nada novo. Obviamente, ele se sentiu umpouco envergonhado e desconectou-se.

    Sua voz interior lhe dizia que era melhor escrever a redao de ingls antes de sededicar ao Erebos. Sem chances, pois a curiosidade de Nick era grande demais. Eleabriu o pacote, contraiu o rosto ao olhar a letra de Brynne e colocou o DVD no drive.Passaram-se alguns segundos at que uma janela se abrisse.

    Nada de filme, nada de msica. Um jogo.A tela de instalao exibia uma imagem sombria. Ao fundo, se via uma torre em

    runas e ao seu redor uma paisagem em chamas. Na frente da torre encontrava-seuma espada cravada na terra nua com um leno vermelho amarrado em seu punho.Ele balanava ao vento, como uma ltima lembrana de vida em um mundo morto.Acima, tambm em vermelho, elevava-se o logotipo: Erebos.

    Nick sentiu um desconforto no estmago. Ele aumentou o volume, mas no haviamsica. Apenas um estrondo abafado como o de uma tempestade se aproximando.

    Nick deteve o cursor do mouse sobre o boto de instalao, com a sensaoindefinida de haver esquecido algo claro, o antivrus. Com dois programasdiferentes ele verificou os arquivos do DVD e suspirou aliviado porque nenhum dosdois encontrou algo. Ento vamos l.

    A barra de instalao avanou muito lentamente. Em passos de formiga. Vriasvezes parecia que o computador havia travado. Para testar, Nick mexeu o mousepara l e para c no entanto, o cursor se mexia. Ainda que lenta e vacilantemente.Impaciente, Nick ziguezagueava em sua cadeira.

    Vinte e cinco por cento, mas no possvel! Ele bem que podia ir at a cozinha e

  • buscar algo para beber.Ao voltar minutos depois, j eram trinta e um por cento. Xingando, ele se jogou

    na cadeira e esfregou os olhos. Que bosta.Uma hora inteira se passou quando os cem por cento foram alcanados. Nick

    ficou muito contente mas, em seguida, a tela ficou negra. E permaneceu negra.Nada adiantava. Nenhuma pancada contra o gabinete, nenhuma combinao de

    teclas, nenhum acesso de raiva. A tela no mostrava nada alm de uma escuridoimplacvel.

    Pouco antes de Nick desistir e apertar a tecla reset, aconteceu algo. Letrasvermelhas desprenderam-se do escuro, palavras pulsantes, como se um coraoescondido as alimentasse com sangue.

    Entre.Ou volte.Isso Erebos.

    Ah, finalmente! Tomado por uma alegria radiante e antecipada, Nick selecionouEntre.

    Para variar, a tela ficou mais uma vez negra, por vrios segundos. Nick recostou-se novamente em sua cadeira. Tomara que esse jogo no fique muito lento. Por causado seu computador no podia ser: ele era to bom como os de ltima gerao, oprocessador e a placa de vdeo eram super-rpidos e tudo o que ele tinha de jogosrodava sem problemas.

    Gradualmente a tela foi se iluminando, exibindo uma clareira bastante realistasobre a qual se debruava a lua. Ao centro encontrava-se uma pessoa agachada coma camisa rasgada e cala desgastada. Sem armas, apenas com um pedao de pau namo. Aquilo provavelmente era seu personagem no jogo. Para ver o que acontecia,Nick clicou sua direita, fazendo-o pular e dirigir-se exatamente posioselecionada. Muito bem, os comandos podiam ser entendidos por qualquer idiota e oresto ele iria acabar aprendendo em breve. Afinal, este no era seu primeiro jogo.

    Ento vamos l. Mas em qual direo? No havia qualquer trilha ou informao.Talvez um mapa? Nick tentou em vo acessar alguma lista ou menu, mas no havianada. Nenhuma informao sobre misses ou objetivos, nenhum outro personagem vista. Apenas uma barra vermelha indicando a vida e abaixo dela outra azul,provavelmente de energia. Nick tentou diversas combinaes de teclas que teriamsucesso em outros jogos, mas aqui elas no funcionavam.

  • Provavelmente este negcio deve estar cheio de erros de programao, pensouirritado. Para testar, ele clicou diretamente sobre seu jogador esfarrapado. Os dizeresSem Nome apareceram sobre sua cabea.

    Que timo murmurou Nick. O misterioso Sem Nome. Elemovimentou seu boneco primeiro um pouco para a frente, ento para a esquerda efinalmente para a direita. Todas as direes pareciam estar erradas e no aparecianingum a quem ele pudesse perguntar algo.

    incrivelmente legal. Juro, Nick imitou em pensamento a voz de Brynne. Poroutro lado Colin parecia igualmente empolgado com o jogo. E Colin no eranenhum idiota.

    Nick decidiu fazer seu jogador andar para a frente. Ele teria feito o mesmo seestivesse perdido, pensou. Manter uma direo. Alguma coisa ele iria acabarencontrando e toda floresta tinha um fim.

    Ele concentrou-se em seu Sem Nome, que desviava agilmente das rvores egolpeava com seu pedao de pau os galhos que se colocavam em seu caminho. Erapossvel ouvir cada passo do personagem, a vegetao rasteira estalava, as folhassecas farfalhavam. Ao escalar um rochedo, pequenas pedras se soltaram e rolarampara baixo.

    Atrs do rochedo o cho se tornava mais mido. Sem Nome no conseguia maisavanar to rpido, pois seus ps toda hora atolavam at o tornozelo. Nick estavaimpressionado. Tudo era extraordinariamente realista, nem mesmo o rudo decaminhar sobre a lama faltava.

    Sem Nome persistia e j comeava a ofegar. A barra azul estava reduzida a umtero de seu comprimento. No rochedo seguinte Nick deu uma pausa ao seu jogador.Seu personagem apoiou as mos sobre a coxa e abaixou a cabea claramente seesforando-se para recuperar o flego.

    Em algum lugar aqui deve haver um crrego. Nick ouviu o barulho da gua eencerrou o descanso. Ele controlou o Sem Nome um pouco para a direita, onde ele,de fato, descobriu um pequeno curso de gua. Ainda ofegando, o boneco paroudiante dele.

    Ah vamos, beba logo disse Nick. Ele pressionou a seta para baixo em seuteclado e ficou encantado quando Sem Nome de fato ajoelhou-se, pegou a gua docrrego com as mos em concha e bebeu.

    Depois disso, o jogo avanou rapidamente. O cho perdia umidade e as rvoresno pareciam mais to densas. Mas ainda faltava um ponto de orientao e Nickcomeou a temer que sua ttica de seguir sempre em frente tivesse sido um tiro nop. Ao menos se ele pudesse ter uma viso geral melhor, um mapa talvez, ou

    Uma viso geral! Nick sorriu. Vejamos, talvez seu alter ego virtual possa no

  • somente ajoelhar-se, mas tambm escalar! Ele escolheu uma rvore grossa comgalhos baixos, colocou seu personagem diante dela e pressionou a seta para cima.

    Cuidadosamente, Sem Nome colocou seu pedao de pau de lado e debruou-sesobre o galho. Ele parou assim que Nick soltou a tecla e continuou escalando quandoNick a pressionou novamente. Nick subiu o mais alto possvel, at que os galhos setornassem fracos demais e seu jogador quase casse. S quando encontrou umaposio segura, Nick arriscou olhar sua volta. A vista era fantstica.

    A lua cheia elevava-se sobre o cu e lanava sua luz sobre um mar verde-prateadoaparentemente infinito de rvores. esquerda havia o sop de uma cordilheira, direita avanava a plancie. frente, a paisagem desenvolvia-se de maneiraacidentada. Pontinhos pequenos em algumas montanhas, como se feitos por umaagulha, revelavam a existncia de povoados.

    Isso a, pensou Nick, triunfante. O caminho para a frente o certo.Ele j estava com o dedo sobre a seta para baixo quando lhe chamou a ateno

    um feixe de luz amarelo-ouro entre as rvores, bem prximo. Isso parecia promissor.Se ele corrigisse seu caminho um pouquinho para a esquerda, acabaria encontrandoem alguns minutos a fonte de luz. Uma casa, talvez? Tomado por impacincia, Nicklevou seu personagem de volta ao cho, onde ele pegou novamente seu pedao depau, e seguiu adiante. Nick mordia seu lbio inferior, esperando ter gravadocorretamente o caminho.

    Pouco tempo depois, ele j comeava a reconhecer os primeiros raios mais fracosdo feixe de luz. Praticamente no mesmo instante ele se deparou com um obstculo:uma fenda no cho, larga demais para poder pular com seu personagem. Droga! Afissura estendia-se para ambos os lados e se perdia em algum lugar na escuridoentre as rvores. Dar a volta custaria muito tempo ao Sem Nome e, provavelmente,perderia sua orientao tambm.

    Nick s foi descobrir a rvore cada aps j estar h algum tempo xingando. Sefosse possvel coloc-la na posio certa

    A barra de espao foi a chave para o sucesso. O boneco de Nick arrastou, puxoue empurrou o tronco em todas as direes que o cursor do mouse lhe sugeriu.Quando a rvore se encontrava finalmente sobre a rachadura na terra, Sem Nome jestava ofegante e a barra de vida havia ficado um pouco mais curta de novo.

    Com toda a cautela necessria, Nick foi equilibrando seu boneco sobre o tronco,que se revelou uma ponte bastante insegura ao rolar, no quinto passo, um poucopara a direita. Foi com um salto arriscado que Nick conseguiu colocar seu jogadorem segurana.

    O feixe de luz estava agora mais intenso que antes, e tremulava. Diante de Nickencontrava-se uma pequena clareira com uma fogueira ardendo em seu centro.

  • Apenas um homem sentava-se diante do fogo, olhando as chamas fixamente. Nicktirou a mo do mouse, fazendo Sem Nome parar imediatamente.

    O homem junto ao fogo no se mexeu. Ele no portava nenhuma arma visvel,mas isso no significava nada. Ele poderia ser um mgico, como sugeria seusobretudo longo e negro. Assim que Nick tocou o homem com o cursor do mouse,ele levantou a cabea, revelando um rosto fino e uma boca bem pequena. No mesmomomento, uma caixa de dilogo se abriu na parte inferior da tela.

    Salve, Sem Nome. As letras cinza-prateadas contrastavam com o fundo negro.Voc foi rpido.

    Nick aproximou seu boneco do homem, mas no houve reao. Ele reunia comum galho longo os pedaos de lenha de sua fogueira. Nick estava decepcionado;finalmente ele encontrava algum nesta floresta deserta e essa pessoa dizia apenasuma saudao seca.

    Apenas ao descobrir o cursor piscando na linha de baixo, Nick percebeu que opersonagem esperava uma resposta. Ol, digitou.

    O homem de sobretudo negro acenou com a cabea. Escalar a rvore foi umaboa ideia. Poucos Sem Nomes foram to criativos. Voc uma grande esperanapara o Erebos.

    Obrigado, Nick escreveu.Voc acha que quer continuar? A boca pequena do homem contraiu-se em um

    sorriso esperanoso.Nick quis digitar Claro!, mas seu adversrio ainda no havia terminado.Somente se voc se aliar ao Erebos, voc poder enfrent-lo. Isso voc tem que

    saber.Certo, respondeu Nick.O homem abaixou a cabea e fincou seu pedao de pau na brasa de sua fogueira.

    Fascas esvoaaram. Isso parece srio, srio mesmo.Nick esperou, mas seu adversrio no fez qualquer meno de continuar a

    conversa. Ele simplesmente j devia ter desenrolado toda a fala programada para ele.Curioso para saber se o homem reagiria se ele falasse espontaneamente, Nick

    digitou p#434

  • Claro que no houve resposta. O homem apenas abaixou a cabea, como seprecisasse pensar. Porm, alguns segundos depois e para o espanto de Nick,apareceram palavras na caixa de dilogo.

    Eu sou uma pessoa morta. Novamente ele olhou para Nick como se quisesseverificar o efeito de sua declarao. Apenas um morto. Voc, no entanto, est vivo.Voc apenas um Sem Nome, mas no por muito tempo. Em breve poder escolherum nome, uma profisso e uma vida totalmente nova.

    Os dedos de Nick escorregaram de cima do teclado. Isso era incomum, oumelhor, assustador. O jogo havia dado uma resposta coerente a uma perguntaaleatria.

    Talvez fosse uma coincidncia.Mortos geralmente no falam, escreveu e recostou-se novamente em sua

    cadeira. Isso no tinha sido uma pergunta, e sim uma objeo. E, para ela, o homemjunto ao fogo no teria uma resposta apropriada programada.

    Voc tem razo. Este o poder de Erebos. Ele mantinha o galho no fogo e otirou novamente em chamas.

    Um pouco inquieto, embora ele mesmo no quisesse admitir, Nick verificou seseu computador estava realmente off-line ou se havia algum caoando dele. No.No havia conexo internet. O galho na mo do homem queimava intensamente eseu reflexo danava em seus olhos.

    A prxima frase foi digitada pelos dedos de Nick como se por eles mesmos. Ecomo estar morto?

    O homem sorriu, uma risada ofegante, vacilante. Voc o primeiro Sem Nomeque me pergunta isso! Com um movimento distrado ele jogou o resto de seupedao de pau no fogo.

    solitrio. Ou cheio de fantasmas. Quem que vai poder dizer? Ele passou amo sobre a testa. Se eu lhe perguntasse Como estar vivo?, o que vocresponderia? Cada um vive de sua maneira. Da mesma forma, cada um tem suaprpria morte. Como se quisesse enfatizar sua declarao, o morto colocou o capuzde seu sobretudo sobre a testa, lanando uma sombra sobre seus olhos e nariz;apenas a pequena boca permaneceu visvel. Sem dvida voc vai saber um dia como.

    Sem dvida. Nick enxugou as mos midas na cala. O assunto havia se tornadodesagradvel para ele.

    E como eu continuo? digitou, divertindo-se com o fato de poder contar comuma resposta coerente.

    Voc quer continuar mesmo? Estou avisando, melhor no fazer isso.Mas claro que eu quero.

  • Ento v para a esquerda, seguindo pelo crrego, at encontrar um desfiladeiro.Passe por ele. Depois voc ver. O homem morto encolheu-se em seu sobretudo,como se estivesse congelando.

    E preste ateno no Mensageiro de olhos amarelos.

  • 4O personagem caminhava ao longo do crrego, seguindo seu gorgolejar sempre esquerda, em um trotar leve que no gastasse muito a barra de energia. Energia,Nick concluiu, no era o forte de seu Sem Nome. Toda vez, aps a mais leve subida,ele j ficava ofegante e precisava fazer uma pausa, at que a barra de energia nocanto direito inferior da tela ficasse azul novamente. Ento continuou. Subiu pedras,pulou obstculos, procurou o desfiladeiro. E nada de Mensageiros de olhos amarelosem lugar algum.

    Gradualmente a paisagem ia se elevando direita e esquerda do crrego, o soloescuro da floresta dava lugar a um cho de pedras e a toda hora um pedregulho secolocava diante da trilha, dificultando o avano de Sem Nome e fazendo-o cairvrias vezes. Ento, apenas quando o terreno em ambos os lados se tornara duasvezes mais alto que seu personagem, Nick percebeu que ele j se encontrava no meiodo desfiladeiro. Alm disso, ele notou que no estava sozinho. Na vegetao direitae esquerda do caminho ouvia-se um barulho de folhas, algo se movimentava; e,ento, como se obedecendo a uma ordem inaudvel, pequenas criaturas parecidascom sapos saltaram e caram sobre ele. Seus ps no contavam com membranas, esim com garras que causaram vrios ferimentos ao Sem Nome de Nick. Foramalguns segundos de susto at Nick se lembrar do pedao de pau que seu jogadorlevava nas mos e comear a se defender.

    Dois dos sapos conseguiram fugir, um morreu aos ps de Nick com uma pauladacerteira.

    Strike! murmurou Nick.Um ltimo sapo, no entanto, permanecia pendurado na perna esquerda de Sem

    Nome e uma mancha de sangue crescia sob suas garras. Alarmado, Nick percebeuque a barra vermelha estava preenchida com pouco mais da metade. Ele deu uma

  • batida na barra de espao, fazendo Sem Nome pular, mas sem alarmar o sapo.A tecla ESC foi que trouxe o sucesso desejado. Sem Nome deu um giro rpido

    como um relmpago, espantando o sapo, e em seguida o matou com o pedao de pausob o comando de Nick.

    Com isso, sua barra de vida j havia encolhido para bem menos que a metade.Nick assegurou-se de que no havia outras ameaas vista e ento passou o cursordo mouse sobre o cadver do sapo, fazendo aparecer a informao 4 peas decarne.

    Pelo menos isso murmurou Nick, deixando seu exausto personagemdescansar e reunindo a carne em seguida, antes de prosseguir rumo ao desfiladeiro.Ele estava atento e pronto para atacar com seu pedao de pau qualquer sapo comgarras que aparecesse repentinamente. No entanto, no apareceram mais inimigos.Em vez disso, um barulho se manifestava ao fundo, de maneira rtmica ereverberando repetidas vezes pelas paredes do abismo. Os passos de um cavalo.

    Ele entrou com Sem Nome lenta e cuidadosamente na prxima curva, atrs daqual nada se escondia alm de outros paredes ngremes e mais pedregulhos.

    Poucos momentos depois o tropel cessou. Nick moveu Sem Nome, encostando-oao longo do paredo e passando por arbustos espinhosos da altura de uma pessoa. Efoi seguindo adiante at que uma outra parede de terra revelou-se diante dele. Nametade da altura do paredo, mas ainda assim bem acima da cabea de Sem Nome,destacava-se uma salincia larga que penetrava no desfiladeiro e, atrs dela,encontrava-se aberta a entrada de uma caverna. Na frente dessa passagem, sentadasobre um cavalo gigante couraado, estava uma figura delgada com um aventalcinza, que acenava tanto para Nick quanto para Sem Nome. Nick reparourapidamente no crnio nu e pontiagudo e nos dedos exageradamente longos eossudos do personagem, mas toda sua ateno voltava-se para os olhos amarelosplidos.

    Voc se saiu realmente muito bem. Obrigado. Mas seu vigor ainda est deixando a desejar. Eu sei. Voc tem que prestar ateno nisso no futuro.A maneira corporativa de falar do Mensageiro formava um contraste bizarro com

    sua aparncia horripilante. Est na hora de voc receber um nome prosseguiu. Est na hora do

    primeiro ritual. Com um gesto calmo, ele apontou para a caverna atrs dele. Eu lhe desejo sorte e que voc tome as decises certas. Ns nos veremos novamente. Ele virou seu cavalo e sumiu.

  • Nick esperou o tropel se tornar inaudvel para avanar com seu personagem at oparedo. Uma escada ngreme, talhada na pedra, levava at o ponto mais alto. Estna hora do primeiro ritual. Por que que ele estava de novo com as mos midas?Nick clicou com o boto esquerdo do mouse na escurido da entrada da caverna.Sem Nome marchou em sua direo e desapareceu. No momento seguinte a telaficou negra.

    Escurido. Silncio. Nick ziguezagueava em sua cadeira. Por que isso demoravatanto? Para ver o que aconteceria, ele deu umas batidinhas nas teclas, o que noadiantou absolutamente nada.

    Ah, vamos disse, batendo no gabinete do computador. Aguenta a maisum pouco.

    A escurido persistiu e o nervosismo de Nick cresceu. Ele poderia tirar o DVD docomputador e colocar de novo, ou apertar o boto de reiniciar, mas era arriscado.Talvez ele tivesse que comear tudo de novo desde o incio. Ou talvez o jogo neminiciasse mais.

    De repente ouviu-se um som. Tum tum! Uma batida como a de um corao. Nickabriu a gaveta superior de sua escrivaninha, pegou o fone de ouvido e o conectou emseu computador. Agora ele ouvia o barulho com maior clareza e podia perceber algomais ao fundo tambm. Cornetas tocando uma sequncia sonora. Ele pensouimediatamente em sinais de caa. Aquilo parecia promissor. Como se em umsegundo plano estivesse acontecendo de tudo no jogo, s que sem ele. Ele aumentouo volume e aborreceu-se por no ter tido a ideia dos fones antes. Talvez ele tenhaperdido informaes valiosas, alertas, avisos! Talvez ele no tenha escutado a dicaimportante sobre como prosseguir no jogo.

    Mais por impacincia do que por esperana de acelerar as coisas, Nick bateu natecla ENTER.

    Os batimentos cessaram e letras vermelhas se despregaram novamente do fundonegro.

    Eu sou Erebos. Quem voc?Nick no pensou por muito tempo. Ele iria escolher o mesmo nome que j havia

    usado em alguns jogos de computador. Eu sou Gargoyle. Diga-me o seu nome. Gargoyle! Seu nome de verdade.Nick espantou-se. Mas para que isso? Tudo bem, ento ele daria um nome e um

  • sobrenome para poder finalmente continuar. Simon White.O nome estava l, escrito em vermelho sobre o negro, e por alguns segundos nada

    aconteceu. Apenas o cursor piscava. Eu disse: seu nome verdadeiro.Sem acreditar, Nick olhava fixamente para o monitor e chegou a sentir como se

    algum o estivesse olhando de volta. Ele tomou ar e fez uma nova tentativa. Thomas Martinson.Mais uma vez o nome ficou parado por alguns instantes antes do jogo responder. Thomas Martinson est errado. Se voc quer jogar, diga-me o seu nome.No havia uma explicao coerente para isso. Talvez isso fosse um erro no

    programa e o jogo no iria aceitar nome algum. As letras desapareceram, restandoapenas o cursor piscando em vermelho. Repentinamente Nick temeu que o programahouvesse travado ou que ele se bloqueasse aps a terceira resposta errada, como umcelular depois que se digita uma senha incorreta trs vezes.

    Nick Dunmore. Digitou, na esperana de que a resposta verdadeira tambmfosse recusada.

    Em vez disso, o programa sussurrou seu prprio nome em seu ouvido. NickDunmore. NickDunmore. Nick. Dunmore. Vrias e vrias vezes as palavras foramreproduzidas como um lema sendo repassado entre criaturas murmurantes. Como asaudao de boas-vindas de uma comunidade invisvel.

    O sentimento de estar sendo observado era amedrontador. Nick procurou com asmos o fone de ouvido para retir-lo das orelhas. Ento as letras e vozesdesapareceram e uma melodia envolvente comeou a tocar, uma promessa demistrio e aventura.

    Bem-vindo, Nick. Bem-vindo ao mundo de Erebos. Antes de comear a jogar,familiarize-se com as regras. Se elas no lhe agradarem, voc pode encerrar o jogo aqualquer momento, tudo bem?

    Nick olhava fixamente para a tela. O jogo o havia pegado mentindo. Sabia seunome verdadeiro. Agora parecia estar esperando impacientemente por uma resposta o cursor piscava cada vez mais rpido.

    Tudo bem digitou Nick, com o sentimento incerto de que tudo ficariaescuro de novo se ele demorasse muito tempo. Depois, depois ele iria pensar sobreisso.

    Muito bem. Aqui est a primeira regra: voc tem apenas uma chance parajogar Erebos. Se voc errar, j era. Se seu personagem morrer, j era. Se voc violaras regras, j era. Certo?

    Certo.

  • A segunda regra: quando voc estiver jogando, certifique-se de estar sozinho.Nunca mencione no jogo seu nome verdadeiro. Nunca mencione fora do jogo onome de seu jogador.

    Como assim?, pensou Nick. Ento ele se lembrou que mesmo Brynne, quenunca se importara em ser reservada, no lhe havia revelado nada sobre o Erebos: incrivelmente legal, srio, e foi tudo.

    Certo. Muito bem. E a terceira regra: o contedo do jogo secreto. No fale com

    ningum a respeito dele. Principalmente com pessoas no registradas. Com osjogadores voc pode trocar ideias perto das fogueiras enquanto voc estiver jogando.No divulgue informaes no seu ciclo de amizades ou para sua famlia. Nodivulgue informaes na internet.

    Como se voc fosse ficar sabendo, pensou Nick, e respondeu: Certo. A quarta regra: guarde o DVD do Erebos de maneira segura. Voc precisa dele

    para iniciar o jogo. No o copie de maneira alguma, a no ser que o Mensageiro lhepea.

    Certo.Assim que Nick pressionou a tecla ENTER, o sol nasceu. Pelo menos era o que

    parecia. O negro do monitor dava lugar a um vermelho suave e que pouco depois setransformou em tons de amarelo e dourado. O Sem Nome de Nick surgia em meio aessas cores como uma sombra, ganhando contornos lentamente, assim como a reaao seu redor uma clareira banhada pelo sol, onde crescia um capim alto atravsdo qual serpenteava um caminho j bastante trilhado. Ele conduzia a uma torrecoberta por musgo, cuja porta pendia sobre apenas uma dobradia. Sobre umarocha, um pouco mais esquerda, encontrava-se sentado Sem Nome, com os olhosfechados e a face voltada para o sol. Nick sentiu uma ponta de inveja, como seestivesse olhando fotos incrveis de frias. Por um breve momento ele acreditoupoder sentir o cheiro das ervas em flor e da resina das rvores em torno da torre. Osgrilos cricrilavam e o vento passava suavemente pelo capim.

    A porta inclinada da torre bateu ruidosamente contra o muro, e o personagem,assustado e ainda com as roupas esfarrapadas, se levantou. Ele colocou a mo sobreo rosto e o removeu como uma mscara. Atrs dela no havia nada alm de umapele nua, lisa como uma casca de ovo.

    Uma rajada de vento desdobrou a bandeira fixada no topo da torre. Ela exibia onmero um desbotado.

    Seguindo por aqui se chegaria ao nvel um, presumiu Nick, e moveu seu jogador cuja ausncia de rosto o incomodava mais do que admitia at a torre.

  • Do lado de dentro est tudo calmo: at o vento faz silncio e a porta no bate mais.Entre palha e ossos espalhados encontram-se bas de madeira com ferragensoxidadas. Nas paredes brilham placas de cobre com palavras cunhadas sobre elas. Aprimeira palavra sempre a mesma: Escolha.

    Ele vai seguindo as placas na sequncia.Escolha um sexo, ordena a primeira.Sem hesitar, ele escolhe masculino. S aps decidir, ele pensa que jogar como

    uma mulher poderia ter seu charme. No importa, tarde demais.Escolha um povo, ele l na segunda placa.Neste ponto ele se detm por mais tempo. Ele descarta o brbaro e o vampiro,

    apesar de experimentar vestir-se com seus corpos ao olhar a musculatura dobrbaro, brilhante como leo, Nick torce a boca. O homem-lagarto ele considera poralguns minutos, suas escamas reluzem de maneira to atraente, mudando de corconforme a incidncia da luz. A espcie humana tambm pode ser escolhida, masest fora de questo. Normal demais. Fraca demais.

    Ano, lobisomem, homem-gato, elfo negro as ltimas quatro opes so todasatraentes. Ele experimenta o corpo do ano: pequeno, rstico, vigoroso. Nada mal, aaltura diminuta o atrai. As pernas tortas e a expresso esgrouvinhada no tanto.

    Ele acaba escolhendo o elfo negro: com no mximo uma estatura mdia, pormgil, elegante e misterioso. Ele confirma sua deciso.

    Escolha sua aparncia, ordena a terceira placa de cobre.Ele quer ter a menor semelhana possvel com seu alter ego virtual. Ento,

    cabelos curtos e louros, que se destacavam arrepiados em sua cabea, narizpontiagudo, olhos azuis e amendoados. Ele encarou o novo personagem por elecriado e que no tinha mais semelhana alguma com o Sem Nome. Cuidadosamente,ele escolheu a roupa: um casaco verde-dourado, calas escuras, botas com canodobrado. Um chapu de couro, que o protegeria melhor do que nada, ainda que eletivesse preferido um elmo. Mas infelizmente no h nenhum disponvel para elfosnegros.

    Ele continua editando suas caractersticas faciais. Aumenta os olhos e a distnciaentre a boca e o nariz. Eleva as sobrancelhas. Deixa as mas do rostosignificantemente mais protuberantes e passa a achar que agora ele se parece com ofilho prdigo de um rei.

    Escolha uma profisso, diz a quarta placa.Assassino, bardo, mgico, caador, espio, guarda, cavaleiro, ladro. Uma grande

    variedade. Ele considera as vantagens de cada profisso. Descobre que lobisomensdo mgicos excelentes, enquanto vampiros possuem talento para assassinos etambm ladres. Os elfos negros, como ele, tambm do bons ladres.

  • Ele hesita. E se assusta quando de repente as dobradias da porta rangem e esta seabre, deixando algum entrar na torre. Uma sombra enorme. Um gnomo corcunda ede pernas tortas, nariz vermelho abatatado e um tumor azul-escuro no pescoo. Elese aproxima mancando, monta-se sobre um dos bas e lambe os lbios.

    Mais um elfo negro, veja s. Uma espcie popular, parece. Srio?Isso no conforta o elfo negro recm-fabricado. Ele no quer ser mais um entre

    muitos. A propsito. Voc j escolheu uma profisso?Ele examinou a lista. Provavelmente ladro. Ou guarda. Ou talvez cavaleiro. E que tal mgico? Eles so poderosos, os feiticeiros.Ele considera brevemente essa possibilidade antes de comear a se confundir. No

    queria saber de bruxarias, e sim de luta com espada. No, mgico no. Cavaleiro. Tem certeza?Sim, ele tem. Cavaleiro soa nobre, praticamente como um prncipe. Cavaleiro enfatiza.Escolha suas habilidades, ordena a quinta placa de cobre. E abaixo dela h uma

    lista longa e confusa de habilidades.Ele escolhe a viso de longo alcance. Fora, energia e a habilidade de confundir-se

    com a paisagem. Fazer fogo. Velocidade. Saltos.Ele vai com calma por no saber quantas capacidades lhe cabem no total. E agora

    todas as decises tomadas tm como consequncia que outras ficam bloqueadas paraele. Quando ele seleciona poder de cura, a opo maldio mortal se apaga.Com escudo de fora desaparece pele de ferro.

    Aps dez selees, ele finalmente tem que terminar. As palavras se desfazem,justamente no momento em que ele pensava poder ficar escolhendo para sempre.

    Voc recusou algo que lhe far falta em breve disse o gnomo, sorrindo. Pode ser.Ele se pergunta o que aquele sujeito feio fazia ali, pois na verdade ele estaria

    melhor sozinho. A sexta placa est esperando.Escolha suas armas.Embaixo da placa se abre um imenso ba. Espadas, lanas, escudos e outras

    maravilhas de todos os tamanhos. Algumas lminas de aspecto horrvel com farpasvisveis, chicotes com garras nas pontas, clavas com espinhos.

    Voc quer um conselho? pergunta o gnomo.Para voc me dar uma rasteira depois?

  • No, obrigado.Ele quer escolher a arma certa por si s e vai tirando cuidadosamente da caixa

    uma espada aps a outra, enfileirando-as na parede. Testa o quo bem cada umadelas pode ser erguida e o quo rpido elas brandem. Sua escolha, finalmente, umaespada longa de lmina fina e punho vermelho-escuro, que zumbe sedutoramentequando ele a agita no ar.

    Os escudos so todos de madeira e no parecem muito confiveis. Alm disso,quanto maiores, mais pesados eles so, deixando-os mais lentos. Ento ele pega omenor escudo que encontra: redondo, com bojo em bronze e pinturas azuisentrelaadas sobre a madeira.

    Voc pode prend-lo nas suas costas recomenda o gnomo, balanando-seagilmente sobre suas pernas tortas, como se quisesse bater as esporas no cavalo.

    O elfo negro no lhe dignou uma resposta. Ele vai at a stima e ltima placa.Escolha o seu nome.Um pouco admirado, Nick se lembra que at algum tempo atrs ele queria se

    chamar Gargoyle. Mas isso no combina mais com ele de forma alguma. Ele olha aoseu redor para ver se no se abriria mais um ba contendo possivelmentepergaminhos com sugestes de nomes. No. Para escolher o nome ele estinteiramente s. Alis, quase, pois o gnomo insiste em ajud-lo, da sua maneira, nadeciso.

    Rabo-de-elfo, Pele-de-elfo, Polegar-nvoa-negra! Fedelho-de-orelhas-pontudas,Cara-de-raposa! Ou algo clssico? Momos, Eris, Ker ou Ponos, e no vamosesquecer: Moros! Algo lhe agradou?

    Ele flertou brevemente com a ideia de pegar a espada e acabar com a criatura.No seria to difcil e, ento, haveria paz para pensar com calma. Mas ao pensar nosagudos gritos de morte do gnomo, ele se deteve.

    Algo clssico, pensou, um bom comeo. Algo classicamente romano.Marius. No, Sarius.

    No pensou mais, este nome era exatamente o que ele estava procurando. Ele odigita.

    Sarius, Ssssarius, Sa-ri-us o murmrio reverbera pela Torre. Bem-vindo,Sarius.

    Sarius? Que sem graa! Pessoas sem graa morrem rpido. Voc sabia disso,Sarius?

    O gnomo salta de cima do ba e em um ltimo gesto mostra sua lngua verde epontiaguda, que bate em seu peito.

    Sarius deixa a torre e chega relva banhada pelo sol. Apenas aps ver o gnomodesaparecer na floresta, ele prende o escudo nas costas.

  • 5Vermelhas como pequenos rubis esfricos, elas brilham entre as folhas aveludadas.Sarius alcanou a margem da floresta e descobriu bagas que cresciam sob a sombradas rvores. Ser que ele pode colh-las?

    Sim, pode. Para sua alegria, agora descobre que dispe de uma lista de itens naqual fica armazenado tudo o que lhe pertence. Nele se encontra tambm a carne desapo que ele pegou ainda como Sem Nome. No mais, a lista ainda est vazia, demaneira que h espao o bastante para as bagas.

    Ele se levanta ao ouvir um barulho nos arbustos.Haveria uma cobra escondida? Um olhar rpido para todos os lados no, no

    h nada. Ningum. Sarius volta a dedicar-se s suas bagas. Com certeza elas crescemaqui para que seja possvel abastecer-se com alimentos.

    O ataque vem to rpido que Sarius s se assusta quando tudo j passou. Doishomens o derrubaram e o mantiveram imobilizado no cho. Um deles pressiona osjoelhos sobre suas costas, puxa seus braos para trs e o amarra. O outro segura sobseu queixo um punhal com sangue e cabelos grudados.

    Sarius no pode se defender. Ele tenta, mas consegue apenas se debater e nopode impedir que o mais alto dos homens o levante e jogue-o sobre seus ombroscomo um saco.

    Pronto, acabou. Sarius, elfo negro e cavaleiro, surpreendido apanhando bagas eraptado. Um pouco de azar e o cara com o punhal vai assassin-lo. E a o fim daaventura. Bosta, imbecil, miservel. E, bvio, para coroar: ele com certeza deve ser onico que se deixou surpreender de maneira to idiota.

    Eles marcham atravs da floresta e o sujeito carregando Sarius o ajeita o tempointeiro sobre seu ombro. Provavelmente no quer perd-lo por descuido. Mas no que ele o faz? Na beira de um abismo ele se detm bruscamente, arremessa-o ao

  • cho e, com um chute, atira-o ladeira abaixo.Sarius capota duas vezes at atingir um terreno plano.Aqui embaixo o esperam trs figuras que se assemelham aos seus sequestradores:

    roupas rasgadas, pele coberta de sujeira, cicatrizes. Um deles no tem um olho, umoutro corcunda. Apenas suas armas parecem cuidadas.

    Onde vocs o acharam? pergunta o corcunda. Ele estava engatinhando perto da torre. Foi mais fcil de pegar que um

    pombinho.O corcunda pega Sarius pelo colarinho e o apoia contra o caule de uma rvore. Vocs acham que ele pode ser usado como ladro? Ser que devemos mant-lo?O sem olho inclina a cabea como se pudesse, dessa maneira, examinar Sarius

    melhor. No conclui. Esse a no presta. Ele no nos serve, isso se nota em suas

    vestes. Ele daqueles que marcham contra Hortulano. Ento vamos esfaque-lo! disse alegre, o corcunda.Sarius tinha vontade de responder algo por exemplo, que ele no conhecia

    nenhum Hortulano e que ele poderia, a qualquer momento, juntar-se a um bando deladres se ele pudesse viver por conta disso. Mas no d. Antes, com o gnomo, elepodia falar, mas agora ele est mudo. As coisas ao seu redor passam como se em umfilme.

    O terceiro dos homens, cujo rosto est coberto pela sombra de um grande chapu,no disse nada at ento. Agora, ele se aproxima um passo.

    No. Ns no vamos mat-lo. Este aqui no como os outros.Ele se inclina e mete a mo nos bolsos de Sarius. Vejam aqui. Nenhum veneno, nenhuma carta de recompensa. Nada de ouro.

    Este aqui podemos deixar seguir seu caminho. S isso? o corcunda se decepciona. Mas isso no faz sentido! No tem

    graa!O homem do chapu de abas largas balana a cabea. Eu gostaria que algum como ele vencesse no final. Mas, infelizmente, Sarius,

    na maioria das vezes so os pequenos que perdem. Como voc. Mas eu no osmachuco, no.

    Ele enxota o corcunda enquanto este tentava vasculhar o contedo dos bolsos deSarius.

    Em vez disso, eu lhe darei um conselho. Sabe o que seria o melhor para voc?No, Sarius gostaria de dizer, se pudesse. Mas, de qualquer forma, seu

    interlocutor no espera uma resposta. Ele o pega pelos braos e solta suas amarras. Voc deveria deixar o Erebos. V e no volte mais. Aja como se voc nunca

  • tivesse estado aqui. Esquea esse mundo. Voc far isso?Claro que no, pensa Sarius. Ele tenta reconhecer o rosto do homem por baixo

    da aba de seu chapu, mas no consegue ver nem mesmo um olho. Se voc quer sair do Erebos, siga em frente. Volte para a torre. Agora.Ser isso uma chance de fugir ou uma armadilha? Ser que o Erebos ficar

    travado caso aproveite a oportunidade de fugir de seus sequestradores? Ele detm-seindeciso. O ladro toma isso como resposta.

    Foi o que eu pensei suspirou. Ento escute bem: ningum aqui seuamigo. Por mais que parea. Ningum ir ajudar voc, pois todos querem chegar aoCrculo Interno e muito poucos conseguem.

    Sarius no entende uma palavra. Que Crculo Interno? No fim, restam apenas alguns: os escolhidos para a batalha contra Hortulano.

    Eles podem matar o monstro e encontrar o tesouro. Para isso, no so todos queservem.

    Era difcil dizer se o ladro estava de brincadeira ou no, e Sarius no podia fazerqualquer pergunta.

    No conte a ningum nada do que eu disse. No v eliminar suas vantagens,que j no so muitas. Certifique-se de encontrar os cristais de desejos. Eles vofacilitar sua a vida. A vida, entendeu?

    No conte a ele dos cristais de desejos interrompe o corcunda. E por que no? Ele precisar deles. Sabe de uma coisa, Sarius? Os cristais de

    desejos so um dos maiores segredos do Erebos. Eles sero teis a voc. Eles tornampossvel o impossvel. Eles realizam seus sonhos.

    Se o Mensageiro souber o que voc anda revelando a esse garoto, sua cabeavai rolar esbraveja o corcunda.

    Isso ele far de qualquer jeito, se colocar as mos em mim.O homem com o chapelo ele o lder, ele s pode ser o lder, pensa Sarius

    lhe vira as costas e se afasta, caminhando pela vegetao rasteira. Os outros oseguem. O sem olho ainda cospe rapidamente no rosto de Sarius antes de sair. Mas,fora isso, ningum lhe toca em um fio de cabelo. Porm, o que deve fazer agora,ningum lhe diz.

    Ento ele escala novamente o desfiladeiro e tenta se orientar. A torre deve estar esquerda, mas ele no quer voltar at l. Olha ao seu redor, procurando um ponto dereferncia quando ouve repentinamente um tilintar baixo vindo da direo maisescura da floresta.

    Sarius segue o rudo, que se torna mais claro a cada passo: ferro batendo sobre

  • ferro, sobre madeira, sobre pedra. Entre um barulho e outro, berros abafados e o quepareciam ser gritos de dor. Uma batalha. Ele continua seguindo o som, sentindo umcalor por dentro que podia ser curiosidade, medo, ou ambos, at que, de repente,encontra um obstculo. Ele diminui o passo e fita, estupefato, um muro negro que seestende por toda a paisagem e supera as rvores em altura. O tom escuro do murobrilha como piche.

    Escalar o muro nem pensar; ele precisa encontrar uma passagem. Ou o final dogigantesco obstculo. Vira-se para a esquerda, pois dessa direo que vm osbarulhos de luta. Ele anda at consumir toda sua barra de energia. Nenhum porto.Furioso, bate sua espada contra o muro. O negro do paredo se lasca, e por baixodele duas letras se tornam visveis: NA.

    Convencido de que por baixo da camada brilhante se encontra uma mensagemescondida, ele continua a raspar o muro com a espada, esperando que isso no aestrague. Mas funciona, a espada resiste, minutos depois, Sarius descobre uma frasecompleta. Uma mensagem de duplo sentido: CAIA NA REDE.

    Ele ouve sua prpria risada. Eu sou uma boa presa, pensa, e se conecta internet.

    No mesmo momento uma parte do muro cai, liberando a viso para uma batalha.Dois brbaros, uma mulher-gato, um lobisomem, vrios anes, trs vampiros e doiselfos negros lutam contra quatro trolls inexplicavelmente horrveis. Um deles japresenta quatro flechas cravadas em seu pescoo, que deviam ser da mulher-gato,pois ela era a nica com um arco. Um outro troll balana um pedao de pedra e olana contra o lobisomem, que se defende com um salto. Dois dos anes ocupam-secom as pernas do terceiro troll com seus machados, ajudados pelo brbaro mais alto,que aoita com uma clava as suas costas.

    Sobre todos eles paira no ar um objeto oval azulado. Ele cintila como umagigante safira lapidada e gira, inerte, em torno de seu prprio eixo.

    Seria isso um cristal de desejos?Ele seria, ento, muito grande para simplesmente lev-lo consigo. Os outros, os

    lutadores, no do a mnima para o objeto e tambm esto muito ocupados paraisso.

    Sarius pega a espada em seu cinto. Subitamente ela parece muito pequena einofensiva. Provavelmente ele deveria entrar na luta agora, mas no ousa aproximar-se.

    Sangue escorre do elmo de um dos anes, correndo por sua barba e nelapenetrando. No entanto, ele ainda luta freneticamente.

    Sarius respira fundo. Nenhum ferimento que venha a sofrer aqui poder lhecausar dor de verdade, por mais real que ela parea. Ele avana um passo, mas recua

  • imediatamente para pensar em uma estratgia: o quarto troll est livre, tinhaencurralado uma vampira, que com sua longa e fina lana tenta manter a ele e ao seumangual afastados. Ele ainda no percebeu a presena de Sarius.

    Para o troll, ento. Com um rpido movimento, Sarius saca seu escudo dascostas, levanta sua espada e se lana na luta. Por um momento ele se senteconstrangido por ter realmente precisado tomar coragem para isso.

    Sua espada acerta em cheio a pele do troll da mesma maneira que acabara deacertar o muro, mas dessa vez sem deixar uma marquinha sequer. O troll urra comsarcasmo. Ele agarra a vampira e a sacode no ar. Ela debate os braos, perde suaespada e bate contra o cho com um estrondo terrvel. A faixa vermelha que elaveste na cintura torna-se cinza-escuro, restando apenas um mnimo trao devermelho piscando.

    O indicador de vida, conclui Sarius. S agora ele percebe que cada um doslutadores leva algo vermelho em seus equipamentos na maioria das vezes umafaixa no peito ou um cinto, como ele mesmo.

    A vampira sabia do risco de vida que estava correndo. Ela se arrasta at asmoitas; sua perna esquerda est torcida de maneira grotesca e ela a puxa como sefosse um corpo estranho.

    O troll perdeu o interesse em sua inimiga. Ele se vira e mede Sarius com seusolhos apticos, a baba viscosa escorre de sua boca. Sarius recua involuntariamente.Voc s pode jogar esse jogo uma vez, disso ele no se esqueceu. De maneiraalguma isso poderia acabar to rpido.

    Com passos errantes, o troll vem em sua direo, e Sarius d a volta nele rpidocomo um relmpago. Ele precisa atingir alguma parte sensvel do troll, e o maisrpido possvel. Mira nos tendes de suas pernas de rptil e os golpeia.

    O troll urra novamente, mas dessa vez parece que de dor. O sangue vermelho-escuro, espesso como xarope, brota de uma ferida. Espantado, Sarius fita o largo fiode lquido rubro e percebe, tarde demais, que sobre ele gira o mangual de seuadversrio ele o v zunindo para baixo e se lana instintivamente para o lado.

    A esfera espinhenta passa raspando em seu ombro. Um chiado ensurdecedorressoa, penetrando em seu crebro como um arame em brasa.

    Ele cai. De p e parado junto a ele, o troll o encara, olhando para baixo com seusolhos cinza-concreto. Ele torna a levantar sua arma. E ento, por trs daquelezumbido doloroso, ouve-se um estrondo. O troll cambaleia e Sarius v o mais altodos dois brbaros que, aparecendo do nada, tenta quebrar a coluna do troll com suaclave.

    O golpe o acerta, o inimigo monstruoso de Sarius se empina e, aps mais umgolpe, o troll cai de joelhos. Agora no urra mais, apenas geme. Bastou um ltimo

  • golpe na nuca para que sucumbisse.Sarius quer se sentar, mas cada tentativa faz aquele som horrvel aumentar. Seria

    melhor que se movesse lentamente. Seu cinto ainda possui cerca de um quarto devermelho. Ser que se recuperaria com uma pausa? Permanece deitado sobre o mato.O que viu bastou para acalm-lo. Dois trolls a mais jazem derrotados no cho, e umterceiro fugiu. O quarto ainda est de p, mas sendo terrivelmente atacado pelosbrbaros, e agora todos que ainda podem andar se juntam matana. Face a talcontingente, o troll no tem qualquer chance: ele cambaleia, se debate e cai no chocom o machado de um ano cravado profundamente entre suas escpulas.

    Vitria sussurra uma voz sem corpo.No momento seguinte aparece o Mensageiro dos olhos amarelos s margens da

    floresta e freia seu cavalo diante dos combatentes. Vocs conquistaram o oval diz, tocando o disco cintilante com seus dedos

    ossudos. A recompensa est garantida a vocs. BloodWork!BloodWork? Sarius no entende nada, at que o brbaro alto d um passo adiante

    e reverencia o Mensageiro. Voc prestou a contribuio mais valiosa no combate. Eu o recompenso com

    um elmo de fora 27. Ele o proteger contra envenenamento, relmpagos e feitiosfebris.

    O Mensageiro entrega a BloodWork um elmo dourado com chifres de carneiro.Rapidamente o brbaro retira seu singelo capacete de ferro e coloca a proteoreluzente em sua cabea, com a qual ele parece ainda mais alto.

    Keskorian prossegue o Mensageiro e o brbaro um pouco mais baixo seaproxima.

    Voc deu o melhor de si, no entanto voc hesita com demasiada frequncia.Mesmo assim, merece uma recompensa. Pegue o elmo antigo de BloodWork, ele melhor que o seu.

    Keskorian faz o que lhe pedido. Sarius! chama o Mensageiro.Mas j? Isso o surpreende. Ele s foi intervir nas lutas depois e sem qualquer

    destaque. Com notvel esforo, ele se levanta. Cada movimento faz o chiadotorturante aumentar. Seu ombro volta a sangrar e ele v mais uma parte minsculade seu cinto escurecer.

    Essa foi sua primeira batalha e voc demonstrou coragem em vez de se bastarcom o papel de espectador. Eu estimo a coragem, portanto voc ter o que maisprecisa: cura. Tome esta poo, ela recuperar sua sade e aumentar sua energia.Tim-tim, amigo.

    Sarius v o frasco amarelo brilhante pairando diante de si, estende a mo e o

  • abre. E bebe.As marcas de sangue em seu ombro desaparecem, seu cinto irradia um vermelho

    vivo e, que alvio, o som agudo que havia surgido com seu ferimento cessa. Em seulugar soa a msica que ele ouviu na torre. A melodia um pressgio de tudo. Detudo que ele sempre quis.

    Para voc, Sapujapu, que pela primeira vez resistiu at o final, eu tenho umnovo machado.

    O ano d um passo para frente, pega o machado e recua rapidamente. Ocorreuma pausa. O Mensageiro contempla um aps o outro, como se precisasse pensar.

    Golor! ele chama um vampiro e o presenteia com 25 minutos deinvisibilidade. E o segundo vampiro, LaCor, com 25 moedas de ouro.

    Nurax, o lobisomem, recebe um elogio e uma armadura; a mulher-gato Samira,uma espada duplamente reforada. O Mensageiro distribui presentes pequenos emaiores a todos: um escudo de runas para o segundo ano, uma adaga envenenadapara Vulcanos, o elfo negro. Restam um outro elfo negro e a vampira ferida, que jazna grama ao lado de Sarius.

    Lelant, voc se manteve em segundo plano. Foi covarde, sofreu apenas doisarranhes insignificantes. Voc no receber recompensa, e estou pensando emrebaix-lo um nvel.

    Lelant, o elfo negro de cabelos escuros, encontra-se s margens da luz,parcialmente encoberto pelas rvores, por entre as quais foi se esconder durante aluta.

    Sarius sente uma satisfao estranha. No foi especialmente bom, ele sabe, masuma outra pessoa foi pior do que ele.

    Eu o advirto, Lelant. O medo no compensa. Na prxima batalha eu conto com asua vontade, sua fora, com todo o seu corao.

    E por fim, o Mensageiro dirige-se vampira. Jaquina, voc est praticamente morta. Se eu a deixar aqui, voc morre em

    poucos segundos. Se quiser isso, deite-se para morrer. Caso o contrrio, siga-me.Com imenso esforo, a vampira se ajoelha. O sangue que corre de suas feridas

    negro. Ela se arrasta at o Mensageiro que a ergue at o cavalo assim que ela seaproxima o suficiente.

    Vocs tm permisso para acender uma fogueira diz ele, e parte com seucavalo, galopando para a escurido.

    Sapujapu o mais rpido. Trs pedaos de lenha mais uma fasca vermelhadisparada pelos seus dedos e um fogo j comea a tremular no meio da clareira.

  • Imediatamente todos se agrupam sua volta. O que vocs acham que ele quer da Jaquina? pergunta Nurax. O de sempre diz Keskorian. Quem se importa? Se ela voltar, vai ser nvel

    4. Se ela voltar responde Sapujapu.Eles se sentam um aps o outro. Sarius est indeciso. Ele se sente estranho e

    desconfortvel. No entanto, seria bom conhecer algumas dessas pessoas aqui, talveztodas elas, quem sabe

    Temos um novato. Sarius observa Samira. Sim, mais um elfo negro zomba BloodWork que at agora estava calado.

    Eles so como moscas. Mas so mais bonitos que os brbaros completa Lelant. E voc cale a boca, fracassado.Lelant se cala de fato, ento BloodWork volta toda sua ateno para Sarius. Por que um elfo negro? No lhe disseram que j temos muitos deles? E o que voc tem a ver com isso? Com certeza voc tambm um informante continua o brbaro. , como

    todos do seu cl. Sou cavaleiro. Voc tem algo contra eu cham-lo de Bloody?O vampiro LaCor caoa com prazer. Um cavaleiro! Voc vai acabar batendo as botas mais cedo do que imagina.

    Principalmente se voc ficar inventando apelidos para BloodWork.O que h de errado em ser cavaleiro? Sarius gostaria de perguntar, mas no quis

    continuar se expondo. Talvez o gnomo lhe teria dito se Sarius tivesse decidido pedir-lhe um conselho.

    Para onde o Mensageiro vai levar Jaquina? pergunta. Isso voc mesmo ver mais tarde diz Sapujapu, com desdm. Por que voc simplesmente no me conta? No posso. Voc est no nvel 1.Nvel 1, claro. Ele acabou de comear, e, por isso, os outros esto doidos para v-

    lo se danar no jogo. Ou bater as botas, como LaCor to deleitosamente expressou.Ele examina melhor Sapujapu e Samira, mas no encontra qualquer informaosobre seus nveis. Como que todos sabem que ele est no nvel 1?

    Enquanto isso, j se comea a discutir um outro assunto. Algum sabe onde est Drizzel? Sei l. Talvez ele esteja andando com outro grupo. Ou esteja em uma misso solitria. Eu acho que ele tem algo para fazer l fora.

  • O interesse em Sarius