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O Pai da Sabedoria

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O Pai da Sabedoria - Série BereshitAuthor: Eliy Wellington Barbosa da SilvaTodo cristão deve procurar conhecer tudo o que for atingível à inteligência humana. Porém deve admitir que a situação atual da natureza e do conhecimento humana não é o único estado possível. Pois o homem tem a possibilidade e a capacidade de alcançar a natureza espiritual.Em “De divina omnipotentia” Pedro Damião (1007-1072), diz que todo cristão deve fazer com a filosofia como o israelita fazia com a mulher prisioneira de outras nações, antes de tomá-la como esposa (Dt 21.10-13): cortar o cabelo (as teorias inúteis), aparar as unhas (as obras de superstição) e tirar as vestes (as fábulas e as crendices mundanas).

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O PAI DA

SABEDORIA

SÉRIE BERESHIT

ELIY WELLINGTON BARBOSA DA SILVA

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Copyright © 2005 por Eliy Wellington Barbosa da Silva

Todos os direitos reservados.

Direitos exclusivos deste e-book para FONTE DE ÁGUAS VIVAS

Coorde n ação Ed i tor i a l • Eliy Barbosa

R e vi são • Fonte de Águas Vivas

P ro j e to e D i agram ação • Fonte de Águas Vivas

Aprov ação f i na l • Pastores Clenilson Barbosa da Silva & Marck Stefania

Martini

Ministério Fonte de Águas VivasRua São Paulo 241 • CentroJaguapitã • PR • 86.610-000

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SUMÁRIOSUMÁRIO

1ª PARTE

!! Sabedoria de Deus 06

!! Indubitável Solidez 13 !! Senso de Propósito 17

!! Ignorância ou Preconceito 20

2ª PARTE

!! O Livro: Conselhos do Santo 27 !! Legitimidade da Origem da Bíblia 28

!! Septuaginta e Apócrifos 33

!! O Livro dos Séculos 38

!! O Livro da Criação 48

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Textos são palavras desconcertantes, desentoantesTextos são palavras desconcertantes, desentoantesJogadas sobre o papel, como folhas ao léuJogadas sobre o papel, como folhas ao léu

Num redemoinho mágico, muitas vezes em tomNum redemoinho mágico, muitas vezes em tom trágicotrágico

Distorcem pensamentos, sentimentos e traumaDistorcem pensamentos, sentimentos e trauma

Textos são palavras intrigantes, personalidadesTextos são palavras intrigantes, personalidadesGravadas sobre o papel, como portas para o céuGravadas sobre o papel, como portas para o céu

Num movimento santo, muitas vezes em tomNum movimento santo, muitas vezes em tom práticoprático

Revelam pensamentos, sentimentos e calmaRevelam pensamentos, sentimentos e calma

Textos são palavras pretensiosas para o presente eTextos são palavras pretensiosas para o presente e o futuroo futuro

Cuja utilidade está reservada para oCuja utilidade está reservada para o esquecimentoesquecimento

Textos são palavras guias para o presente e oTextos são palavras guias para o presente e o futurofuturo

Cujos frutos são gerados para a eternidadeCujos frutos são gerados para a eternidade1

1 A palavra “texto” vem do latim textum, que nos remete à tecido, à entrelaçamento. E o texto desta obra foi etimologicamente tecido, com suas pequenas partes entrelaçadas, para que resista ao futuro.

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SABEDORIASABEDORIADE DEUSDE DEUS

1ª PARTE

““Nosso saber é uma gotinha e o ignorar é umNosso saber é uma gotinha e o ignorar é um oceano”.oceano”. (Provérbio popular)

BASICAMENTE NÃO EXISTE mais perguntas filosóficas a serem feitas: todos os povos, em todas as épocas já realizaram inúmeras perguntas relacionadas, dentro de vários contextos, com Deus e com a Bíblia. Entre estas questões os temas como as origens da Terra e da vida são os mais recorrentes.

Esta inquietação humana externada pela filosofia, foi paulatinamente substituída pela panacéia da ciência e do cientificismo, que se esforçam para explicar quase tudo, esquecendo que certas questões não necessitam de explicações, como esperança, fé, amor, perdão, Deus...

Mesmo com inumeráveis “respostas” disponíveis, as pessoas continuam vivendo entre a indiferença e o conflito, pois vêem em si mesmas o começo e o fim de tudo, fazendo da mente humana um objeto de adoração.2

E para se sentirem seguras e felizes durante sua passageira existência as pessoas criaram uma cômoda

2 “A soberba do teu coração te enganou, (...) que dizes no teu coração: Quem me derrubará em terra?” (Obadias 3 – ECA).

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religião, que expressa bem o egocentrismo intelectual e social: a tecnociência, cuja pressa irrefletida a faz fugir de Deus diariamente.

Assim, é possível encontrar pessoas bem informadas, mas com uma cultura rasa; cépticas em relação a tudo, porém sem senso crítico gabando-se com toda jactância de nada; que não querem conclusões seguras, pois se contentam com meras opiniões e trivialidades. E isso é fruto de um mundo impessoal, sem tradição, raízes ancestrais ou memória. Um mundo que vive repetindo os mesmos erros na História. Um mundo unido por circunstâncias efêmeras, ocupando espaços comuns mas sem interesses comuns.

Para muitos, Deus, fé e religião são assuntos ultrapassados. Friedrich Engels (1820-1895) afirmou que “a religião nasce das concepções limitadas dos homens”.

A religião passou a ser considerada como um fenômeno que define o comportamento humano num determinado contexto. Porém, em contradição a estas conclusões, os primeiros capítulos da Bíblia revelam que a religião não foi inventada por homens. Mas mostram um Deus amoroso em constante busca do homem (Gn 3.9).

Após a queda da humanidade frente ao pecado no Jardim do Éden, a religião passou a ser uma busca por valores supremos, o reconhecimento de uma existência que ultrapassa a existência humana. E esta visão passou a definir até mesmo o Cristianismo, sendo considerado apenas mais uma entre as muitas religiões do mundo (Ez 33.31-32).

Mas se o Cristianismo realmente fosse apenas mais um caminho entre muitos, nem melhor ou pior, então

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seria uma presunção desmedida supor que alguém poderia aproveitar positivamente a nossa experiência religiosa (I Co 11.1). E tornar-se-ia desnecessária e inverossímil a aparentemente impossível missão conferida por Jesus: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura” (Mc 16.15).

O Cristianismo considerado apenas como religião, anula nossas origens apostólicas, que traz em si mesmas a urgente necessidade de evangelizar o mundo (Mc 16.16).

Antes de reduzir o Cristianismo à condição de mera religião, é necessário aprender a julgar as pessoas através da fé, e não a fé através das pessoas, pois a incredulidade humana não diminui

a soberania de Deus (Rm 3.3-4). Assim como ocorre na sociedade, o Cristianismo também compartilha do caráter pecador dos homens que dele fazem parte (I Co 11.30). Contudo existe uma distinção entre a sociedade e o Cristianismo que não é material, e sim espiritual.

Como religião, o Cristianismo infelizmente muitas vezes transformou sua mensagem em um produto do contexto cultural. Sujeitando o Evangelho a novas maneiras de pensar. Reformulando os ensinos bíblicos. Imprimindo um caráter unicamente histórico as Leis divinas. Isso para que a Bíblia fosse aceitável do ponto de vista filosófico e coerente em relação à lógica.

A constante mudança na conjunção entre cultura e religião exige respostas convincentes quanto às questões teológicas. Todavia estas mudanças acabam por apresentar um “deus” que lamenta por ser Deus, que

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necessita de constante reciclagem para adaptar-se ao moderno e suplica humildemente a atenção humana.

Em “Hexaêmeron” (“As nove homilias sobre a obra dos seis dias”) Basílio Magno (330-379 d.C.) chama de αα(“falseadores da verdade”) os que distorcem as Escrituras, dando-lhe um sentido unicamente humano.

Criam e recriam uma Igreja que busca o múltiplo reconhecimento e a maior recompensa de todas: o poder. Mas o verdadeiro cristão é aquele que não busca nenhuma recompensa ou prêmio: sua recompensa é a Graça que vem de Deus e sua maior herança é a contemplação e o amor de Deus (II Co 12.9). E aceita humildemente a Verdade, mesmo que ela seja a favor ou contra ele. Pois para suportar a Verdade é necessário ir até aos limites extremos da humildade.

Deve-se considerar que o Evangelho foi um dos fatores mais importantes e também mais misteriosos da época apostólica. E o tempo não teve o poder de transformá-lo em uma simples opção, pois a Igreja continuou viva na certeza de ter um relacionamento pessoal com o único Salvador, Jesus Cristo (Mt 28.19-20).

Quinto Septímio Florêncio Tertuliano (150 - ?), em “De anima” (sobre a essência, origem e imortalidade da alma), mostra que através da fé, até mesmo os iletrados chegam a conhecer muitas Verdades inacessíveis aos filósofos. Como observou Samuel Nyströn em 1939: “muitos anunciam verdades que ainda não entendem;

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Deus, porém, na Sua misericórdia, não olha para a falta de ciência, mas para o desejo e o anseio de quem pede”.

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E isto não é de se estranhar, pois coube à um desconhecido grupo de galileus, anunciar ao mundo as boas-novas do homem-Deus Jesus (At 1.8). Sem terem que acomodar a Palavra de Deus aos seus interesses pessoais ou aos dos ouvintes:

26 Porque, vedes irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados.

27 Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. 28 E Deus escolheu as coisas vis deste

mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são. (I Coríntios 1.26-28)

Em vez de imponentes sistemas filosóficos, fundamentados no raciocínio e sustentados por sua efêmera coerência interna; a Bíblia desafia os sábios com o absurdo de um Deus que veio do céu para a terra, fazendo-se homem foi da terra para a cruz, tendo sido morto foi da cruz para a sepultura, mas ressurrecto ao

3 "Pelo Espírito do Senhor dos Exércitos”. Mensageiro da Paz. Rio de Janeiro/RJ. CPAD. Pág. 10. Ano LXVII. Nº 1322. Outubro/1997. Artigo de Samuel Nyströn, publicado em 1939.

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terceiro e glorioso dia, foi da sepultura para o Céu (I Co 15.3-4)!

Muitos hoje acreditam mais em jornais e revistas do que na Bíblia, mais em personalidades históricas do que em Jesus. Ignoram que existem mais provas e fontes confiáveis da existência de Jesus, do que de algumas personalidades “históricas”, como Sócrates – cuja existência foi testemunhada basicamente por um discípulo, Platão.

Como disse Justino (século II d.C.) em “Apologia II”: “Ninguém creu em Sócrates a ponto de dar a vida por sua doutrina. Quanto a Cristo, (...) n’Ele confiam não somente os filósofos e sábios, como também os artesãos e as pessoas simples, e isto com o mais completo desprezo às honrarias, ao medo e à morte. Pois Ele é a força do Pai inefável, e não um vaso da razão humana.”

Jesus foi, dentro de qualquer contexto religioso, a maior manifestação do sagrado (uma hierofania). Enquanto nas diversas religiões o sagrado é representado, em geral, por um mundo totalmente diferente do nosso, em Jesus o sagrado se manifestou em uma íntima semelhança com nós: na humanidade de Cristo, através da condição de Emanuel – Deus conosco (Mt 1.23). E esta revelação do homem-Deus (Jo 8.19), foi definitiva: somente é possível aceitá-la (Jô 20.28) ou rejeitá-la (Mt 9.34).

Porém esta revelação não está totalmente acessível à razão humana, sendo necessário a fé para aceitá-la. Pois a razão pode induzir o homem ao mesmo erro de Ário (250-336 d.C.): concluir que Jesus não era divino, mas apenas um ser humano excepcional. Todavia

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os Evangelhos apresentam um Jesus que não deixou a opção de ser considerado apenas um Mestre entre outros (Jo 12.45).

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INDUBITÁVELINDUBITÁVELSOLIDEZSOLIDEZ

““Por causa de seu orgulho, o ímpio não investiga;Por causa de seu orgulho, o ímpio não investiga; todas as suas cogitações são: Não há Deus”.todas as suas cogitações são: Não há Deus”. (Salmo 10.4)

Como escreveu Tertuliano em “De Praescriptlone haerecticorum”: “Quanto a nós, não temos necessidade de curiosidades depois da vinda de Cristo Jesus, nem de pesquisas depois do Evangelho. Nós possuímos a fé e nada mais queremos crer. Pois principiamos por crer que para além da fé nada existe que devamos crer”.

Nada mais desejamos crer, pois conhecemos plenamente a salvação. E nada mais poderá ser revelado que acrescente algo à redenção humana. Entretanto ter fé ou acreditar não basta. Tertuliano também considerava necessária uma compreensão daquilo que se crê. Pois fé não implica em descrédito à razão, ao conhecimento e à investigação meticulosa.

Todo cristão deve conhecer a fé em toda sua intensidade, beleza e profundidade (Is 34.16). Deve firmar-se de forma definitiva na fé, exatamente como a Bíblia a apresenta: amando-a e colocando-a como conduta de vida, para ter uma vida madura no Espírito Santo (Fp 1.27).

Sendo o homem um ser privilegiado, não buscar esta compreensão ou a Sabedoria do alto, é colocar-se em

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situação inferior a dos irracionais, tornando-se negligente e leviano (Mt 22.29).

Todo crente deve buscar não somente um crescente conhecimento de Deus, mas uma profunda intimidade com Ele, para poder experimentar em si mesmo toda a doçura do seu Deus. Todos devem colocar-se à disposição e na posição de servo, pois Deus nos quer usar sem reservas ou limites (I Cr 28.9).

Todavia, a maioria jamais alcança ou alcançará as possibilidades que Deus lhe põe ao alcance, por ter uma fé insuficiente (Lc 12.28, 31).

A razão nunca foi uma premissa necessária para a fé. Crer para compreender ou compreender para crer: é um esforço inútil tentar compreender para poder crer. Sören Kierkegaard (1813-1855), sintetizou bem isto ao afirmar: “se quero entender Deus objetivamente, é porque não creio; e precisamente porque não posso entendê-lo objetivamente é que preciso crer.”

Seria impossível transcrever todo conhecimento acumulado para declarar a fé cristã bíblica. Por isso o compromisso assumido está baseado na Reforma Protestante – “as Escrituras somente”, pois somente ela contém a resposta definitiva.

Corroborado pela fé cristã objetiva como critério, nesta série foram reintegradas as verdades que se encontram parcialmente expostas nas diversas áreas do conhecimento humano. A Teologia sistematizada nesta obra é sintetizada e limitada as necessidades abordadas.

Mas por trás desta súmula existe uma rica herança, vivida e composta por pensadores, descobridores e pesquisadores que se empenharam em suas conclusões.

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No entanto isso não significa que os temas aqui discutidos giram em redor do pensamento humano, e sim em redor de um único centro, que é Deus.

Dionísio Pseudo-Areopagita (século VI), em “De divinis nominibus” escreveu que “a fé e a Escritura são o fundamento inabalável e o princípio da unidade”.

Por isso nesta série se faz uma indicação precisa das passagens que serviram de origem para as crenças bíblicas, as quais deverão ser estudadas. Para esclarecer possíveis obscuridades e ajudar o desenvolvimento sistemático do assunto.

Assim o estudo fica bem delimitado, evitando interpretações unilaterais. A citação de versículos é muito eficaz quando não existe a intenção de deixar oculta a concepção que está na base do texto.

Mesmo que se houvesse optado pela árdua missão de tornar a revelação de Deus clara e compreensível ou de demonstrar com nitidez o verdadeiro teor da fé cristã; seria necessário implorar que o Espírito Santo nos concedesse a sabedoria (Jo 14.26). O que nos faz retornar a necessidade da fé.

A fé é o único antidoto para evitar o risco de uma intelectualização da fé cristã, o que seria apenas uma tentativa malograda de validar todas as coisas pela razão. E se verbalizar alguns assuntos já é um desafio, imagine textualizar frente a um Cristianismo improdutivo, cada vez mais nominal.

Nesta análise - para incorporar somente elementos aproveitáveis para a compreensão e elaboração de um tratado cristão - foi desprezado tudo o que não interessasse para a fé. Para isso, foi necessário reconhecer

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a fé como única norma, suficiente em si mesma, sendo preferível ficar na ignorância do que ultrapassar os limites da fé (II Pe 3.17-18).

E tudo que foi desprezado, também foi pesado, pois nem sempre o desprezo é justo e eqüitativo, principalmente quando refere-se a inteligência, sentidos e ciência.

Todo cristão deve procurar conhecer tudo o que for atingível à inteligência humana. Porém deve admitir que a situação atual da natureza e do conhecimento humana não é o único estado possível. Pois o homem tem a possibilidade e a capacidade de alcançar a natureza espiritual.

Em “De divina omnipotentia” Pedro Damião (1007-1072), diz que todo cristão deve fazer com a filosofia como o israelita fazia com a mulher prisioneira de outras nações, antes de tomá-la como esposa (Dt 21.10-13): cortar o cabelo (as teorias inúteis), aparar as unhas (as obras de superstição) e tirar as vestes (as fábulas e as crendices mundanas).

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SENSO DESENSO DEPROPÓSITOPROPÓSITO

Não existe nada de novo nesta obra. Mas o apóstolo Pedro nos exorta a estarmos “sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (I Pe 3.15).

As respostas sintetizadas nesta série não são simplesmente parciais ou comprometidas com instituições e conceitos religiosos. Muito menos servem aos interesses de um determinado grupo em particular.

Elas procuram apresentar uma visão teológica sincera e séria. Pois toda e qualquer perspectiva desta série foi moldada pela Palavra de Deus.

Nada nestes livros é inspirado ou exige como tal, pois tudo o que sai da boca do homem é parcial e provisório, passível de revisão. Mesmo que sejam comentários sobre a Bíblia, continuam sendo palavras de um homem.

As palavras apresentadas nestes livros são somente verdadeiras quando se harmonizam com as Verdades reveladas na Bíblia. A mensagem bíblica é dogmática, não pode ser negada ou contestada, mas é possível transmiti-la como em um diálogo, discutindo os pontos aparentemente contestáveis sempre que for oportuno e necessário.

Contudo deve-se manter uma atitude reflexiva e uma maravilhosa emoção frente a cada descoberta. Para poder sentir o gosto das palavras. Pois a mensagem de

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Deus não é um vislumbre passageiro mas uma revelação permanente.

O reconhecimento, mesmo a citação, de idéias de outros, não deve ser visto como amizade ou apoio. Muitas dessas citações ficam por conta da intertextualidade literária. Mesmo que haja uma admiração pelos “pais da Igreja” (os primeiros filósofos-teólogos-apologistas) não é possível ver sem algumas reservas suas doutrinas.

Como filho de uma época, todo filósofo ou teólogo está sujeito às influências de seu tempo, não sendo plenamente livre de idéias preestabelecidas ou de coações externas. Por isso, de certa forma houve uma luta para elaborar uma obra o mais livre possível do peso da cultura do tempo presente. E isso somente é possível quando há uma viva consciência das próprias limitações.

Preservando as devidas proporções do respeito mútuo, é preferível, de forma geral, manter uma atitude modesta e reservada (o que vale mais que o ouro); pois como escreveu João de Salesbury (1110, 1120 – 1180) em “Polycraticus sive de nugis eurialium et vestigiis philosophorum”, existem certas questões que não podem ser resolvidas nem pela fé, nem pela razão e nem pelos sentidos.

Mesmo sendo uma série composta por livros pouco mais que medíocres, foi optado em reter o “bem” e desprezar tudo a que se assemelhe com o mal. Distinguindo o santo do profano e o puro do impuro (Ez 22.26). Pois como disse Gregório de Nazianzo (329 – 390), “há perigo em se tocar o puro com o impuro”.

Esta série não será querida por alguns “intelectuais”, também não enriquecerá a filosofia ou

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acrescentará algo à teologia. É no máximo um conjunto introdutório, limitado a assuntos cujo interesse pode levar a inúmeras possibilidades.

E para aqueles que se deliciarão em refutar os elementos desta obra, faço minhas as palavras de Antônio Neves Mesquita registradas em 1928: “a crítica ainda pode esperar por outros mais capazes”. 4

4 Mesquita, Antônio Neves de. Estudo no Livro de Gênesis. Rio de Janeiro/RJ. Casa Publicadora Batista. Pág. 9. 4ª Edição. 1979.

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IGNORÂNCIA OUIGNORÂNCIA OU PRECONCEITOPRECONCEITO

““Por causa de seu orgulho, o ímpio não investiga;Por causa de seu orgulho, o ímpio não investiga; todas as suas cogitações são: Não há Deus”.todas as suas cogitações são: Não há Deus”. (Salmo 10.4)

Qual o preço do desenvolvimento da inteligência?

O desenvolvimento da inteligência ocorre, sempre, às custas de coisas que devem ser esquecidas e abandonadas, como antigos ideais e conceitos.

Foi desta forma que alguns “estudiosos racionalistas” esqueceram de sua posição na criação (Rm 1.18, 21, 23), alienando-se de Deus (Is 51.12-13) e abandonado a Verdade das Escrituras Sagradas (Hb 2.1). Não ocorreu o desenvolvimento da inteligência, mas o início de uma loucura (Rm 1.21-22). Pois o princípio da soberba é alienar-se de Deus.

A loucura foi o alto preço pago por filósofos hodiernos (Sl 50.22), que classificaram as antologias dos povos do passado como “antiga sabedoria” ou “sabedoria milenar”. E em contraparte, as histórias bíblicas receberam a classificação de mitos: narrativas alegóricas, fábulas, lendas ou mesmo uma representação exagerada dos fatos.

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Estas literaturas antigas, cheias de heresias e apócrifas, passaram ter credibilidade comparável à da Bíblia (Tt 1.15). E, nesta equivalência com as histórias de outros povos, não foi considerado o fator demoníaco que opera nas demais religiões, ligando o santo ao profano (II Co 6.14-16).

É um consolo saber que a fé em Deus (Hb 11.6) é a única arma capaz de nos defender do indiferentismo racionalista e das superstições espiritualistas (Ef 6.16).

Toda sociedade possui uma estrutura de transferência do conhecimento de uma geração para outra. Esta estrutura foi fundamentada durante séculos na tradição oral, representada pelos mitos.

Porém, os mitos não devem ser vistos como as teorias científicas ou mesmo sociológicas de um povo, pois sua ênfase é normalmente a consciência do indivíduo. Os mitos eram transmitidos por pessoas que buscavam um conhecimento, por exemplo, da origem do homem, nos limites de sua religiosidade.

É inegável que os estudos dos mitos revelam uma clara universalidade do pensamento humano, que apesar de linguagens diferentes, em sua essência é semelhante. Entretanto, não justifica uma confiabilidade ao nível da Bíblia.

Se estas metáforas e simbolismos cruzam os limites entre estes mitos e a Bíblia, é porque, em um tempo incerto, todos os homens conheceram a Deus: Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança (Gn 1.26), sem pecado (Ec 7.29), com a lei divina escrita em seu coração (Rm 2.14, 15); e, até o incidente na torre de

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Babel (Gn 11.1-9), todos foram testemunhas dos mesmos fatos, como a criação, o jardim do Éden e o dilúvio.

E a narração destes fatos foi corrompida posteriormente pelo paganismo regional e acrescidos de símbolos e metáforas, cujos sentidos eram restringidos pelas diferenças culturais.

Deve-se destacar que a Bíblia é anterior ao surgimento de textos sagrados do hinduísmo, do budismo, do islamismo e do xintoísmo. E diferente dos mitos e lendas, os relatos bíblicos estão ligados a pessoas e datas específicas (veja I Rs 14.25; Is 36.1; Lc 3.1-2).

Os primeiros adeptos da Teoria da Evolução pensavam que teria existido uma fase na origem da história humana em que não havia religião. Partindo da crença de um antepassado pré-símio, e que animais não possuem religião, os evolucionistas supunham ter existido um longo caminho até o desenvolvimento da religião.

Todavia provou-se que esta crença era falsa. Todos os povos possuem a memória de alguma espécie de deus superior, um tipo de bondoso pai-criador-deus, que por não ser temido deixou de ser adorado.

Por isso é “que a evolução a partir do animatismo (medo do escuro, ou segundo Bouquet, crença numa vaga, poderosa e aterrorizadora força inescrutável) já não pode ser considerado como axiomática, e alguns antropólogos estão agora a sugerir que, certo ponto de vista, o monoteísmo pode ser mais primitivo e natural do que o animismo (religião do medo dos espíritos das tribos primitivas). (...)

A sua investigação sugere que as tribos não são animísticas porque tenham evoluído sem modificações

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desde a alvorada da História. Pelo contrário, as provas indicam uma degeneração de um verdadeiro conhecimento de Deus. O isolamento em relação aos profetas e livros religiosos levou-os ao suborno sacrificial para aplacarem os espíritos, em vez das alegres refeições sacrificiais na presença do Criador”.

Assim, as provas da História levam-nos de regresso a uma reconsideração da resposta bíblica”. 5

Em cerca de 248 d.C., o filósofo grego Celso havia afirmado que o monoteísmo era ridículo. Com base nesta afirmação, Orígenes (185-255 d.C.) escreveu a obra “Contra Celsum”, onde afirmou que a razão nos conduz ao monoteísmo. Pois o politeísmo se desenvolveu à medida que o homem se afastava de Deus.

Deve-se destacar que a constante formalização das religiões, nunca foi sinônimo de evolução biológica, e sim de progresso, de evolução social. No entanto a simples afirmação de que as respostas contidas no livro de Gênesis são relatos baseados na História, já seria motivo suficiente para gerar protestos de cientistas e intelectuais.

Pois ignoram que entender plenamente as verdades bíblicas é recuperar a História, usando-a como bases constitutivas e projetistas.

É sabido por todos que não se deve cair no grande erro de aplicar a ciência em debates teológicos, pois existem severas restrições para a ciência e para a religião (Dt 29.29). Porém, isto não impede de ambos se defrontar, em seus depoimentos contraditórios, para se apurar a verdade.

5 "As religiões do mundo: do primitivismo ao século XX”. Ob. Cit. Pág. 31. Reverendo Robert Brow

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Ao contrário da ciência, a religião policiada pela fé e aliada com a teologia, tem a humildade de recusar a compreender o que a ultrapassa e põe sua confiança em Deus. E apesar dos evidentes limites da ciência e da religião, ambas devem aprender que não se pode confinar o Inconfinável.

Contudo alguns praticam a mais estúpida das tentativas, que é limitar Deus, querendo ditar o que Deus pode ou não fazer, no que Deus deve ou não agir. A maioria desses erros se origina em concepções extremamente antropomorfas de Deus e unicamente materialistas das coisas espirituais.

Não convém interpretar a Bíblia cientificamente, pois ela não foi escrita com esta finalidade (Tt 3.9). Apesar de usar uma linguagem singela e despretensiosa, ela não foi escrita para satisfazer curiosidades, mas edificar vidas.

Orígenes escreveu que “a despretensiosidade da letra nos conduz à preciosidade da compreensão espiritual”.

Outrossim, “a terminologia científica começou a desenvolver-se a partir do início do século XIX. Além do mais, cada ciência adquiriu o seu próprio vocabulário. (...)

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Os cientistas empregam as palavras nos mais variados sentidos. Mas a linguagem da Bíblia não é científica”. 6

A função da ciência é apenas descrever e descobrir processos e não definir os propósitos das coisas. O “cientismo” ou “cientifismo” é uma superstição que acredita possuir as respostas do objetivo e significado de nossos atos.

Por isso, apesar de todo o conhecimento acumulado, a ciência não possui respostas para questões básicas como o motivo da existência do universo e da vida. E nem mesmo soluções para os problemas da humanidade.

O caos que existe hoje é resultado da falência de uma sociedade científica e tecnocrática que obteve o completo fracasso ao ignorar a dimensão espiritual do homem. Pois o intelecto humano é incapaz de resolver problemas espirituais (I Co 2.14, 15; 3.19, 20).

Mesmo sem o apoio da ciência, a Bíblia continua sendo respeitada através dos tempos, sobrevivendo a impérios e a ideologias. Isto prova que a Verdade (Jo 8.32) é o único antídoto para a cegueira (intelectual, moral e espiritual) causada pelo pecado (Ap 3.17, 18). A Verdade e a

6 William W. Menzies & Stanley M. Horton. Doutrinas Bíblicas - Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro/RJ. CPAD. Pág. 31. 2ª Edição. 1996

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Revelação podem ser ignoradas mas nunca destruídas.

Mesmo com tanta informação à disposição do homem, a falta de sabedoria tem sido o entrave da inteligência. Sabedoria é o conhecimento moral e espiritual de Deus, independente da capacidade cientifica, acadêmica ou filosófica do indivíduo.

E sem fé é possível chegar até a inteligência, mas impossível alcançar a sabedoria (Is 7.9), pois o verdadeiro conhecimento não vem de dentro: vem do alto (Êx 28.3).

E qual o preço do desenvolvimento da sabedoria?

O desenvolvimento da sabedoria ocorre, sempre, às custas do temor ao Senhor (Sl 111.10).

O desenvolvimento da inteligência é uma construção contínua, caracterizada pelas substituições e adições de grandezas quantitativas, qualitativas, espaciais e temporais.

Mesmo sendo dotado de uma capacidade para progredir indefinidamente, o homem não pode por si mesmo alcançar a Sabedoria (Jó 28.12-13). Pois a sabedoria é um dom de Deus e não simples fruto dos recursos humanos (II Cr 20.20).

É com esta Sabedoria que cada crente deve se conduzir diariamente (Pv 3.13). E sua preciosidade consiste na capacidade de fazer refletir em todas as ações diárias o temor ao Senhor (Pv 3.14-18).

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28 Eis que o temor ao Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência. (Jó 28.28)

O LIVRO: CONSELHOSO LIVRO: CONSELHOSDO SANTODO SANTO

2ª PARTE

““É Deus quem fala no homem, é Deus quem falaÉ Deus quem fala no homem, é Deus quem fala pelo homem, é Deus que fala como homem, é Deus quepelo homem, é Deus que fala como homem, é Deus que fala a favor do homem”.fala a favor do homem”. (Myer Pearlman)

““Disse o néscio em seu coração: Não há Deus”.Disse o néscio em seu coração: Não há Deus”. (Salmo 14.1)

DEUS EXISTE e tem se revelado para a humanidade. Esta é a mensagem com a qual se inicia a Epístola aos Hebreus: “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho. A quem

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constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo” (Hb 1.1-2).

E cada vez que Deus se revela através de Sua Palavra, é como água cristalina: refresca, renova as forças, mata a sede e nos inspira vida.

LEGITIMIDADE DALEGITIMIDADE DA ORIGEM DA BÍBLIAORIGEM DA BÍBLIA

““Por causa de seu orgulho, o ímpio não investiga;Por causa de seu orgulho, o ímpio não investiga; todas as suas cogitações são: Não há Deus”.todas as suas cogitações são: Não há Deus”. (Salmo 10.4)

Todas as Palavras de Deus estão registradas na Bíblia. A Bíblia (vocábulo derivado por meio do latim e proveniente do termo grego “biblia” - “Livros”) não se assemelha a nenhum outro livro do mundo, por isso é corretamente chamado de “O Livro dos livros”.

Antes da invenção da imprensa em 1436, por João Gutenberg, todo o registro bíblico era “manuscrito” (do latim “Manus” – mão e “scriptus” – escrito). Para isso eram usados diversos materiais, como:

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Pergaminho: peles de carneiros muito finas, curtidas e polidas (II Tm 4.13). Teve seu uso generalizado a partir do século I, na Ásia;

Papiro: material extraído de um junco de 2 a 4 metros de altura, que cresce às margens do rio Nilo (Êx 2.3; Jó 8.11; Is 8.2; II Jo 12). Sua origem remota 3000 a.C., no Egito. Porém não era usada largamente pelos judeus;

Argila (Êx 4.1); Cera (Is 8.1; 30.8; Lc 1.63); Chumbo (Jó 19.23, 24); Ouro (Êx 28.36).

Os textos eram escritos letra por letra em quadros de madeira divididos 10 por 10 letras; para os mais importantes, se usava a pedra como no caso das Dez Palavras, o Decálogo.

Não encontramos o termo “Bíblia” além de sua inscrição na capa. Ela é chamada de Escrituras ou Sagradas Escrituras (Mt 21.42; Rm 1.2), Livro do Senhor (Is 34.16), Palavra de Deus (Mc 7.13; Hb 4.12), Oráculos de Deus (Rm 3.2).

O termo “Bíblia” foi primeiramente utilizado pelo reformador cristão João Crisóstomo (398-404 d.C.). Este vocábulo é derivado por meio do latim e proveniente do vocábulo grego que remete etimologicamente a idéia de “coleção de livros”.

Devido a incrível harmonia, unidade, consistência e coerência destes livros, o termo grego “biblos” passou a ser singular nas línguas modernas.

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20 Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular origem.

21 Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo. (II Pedro 1.20, 21)

O Cristianismo herdou do Judaísmo a fé em um Deus que fala. Não palavras vazias, mas palavras que geram ação, palavras dinâmicas. E foi justamente a necessidade de registrar as surpreendentes revelações feitas deste Deus, que deram origem a Bíblia.

Tão grandioso registro só poderia ser feito por um único povo a qual este Deus progressivamente se revelava: o povo judeu.

Deus revelou-se lentamente através dos séculos. Esta revelação foi gradual, da menor revelação para a mais complexa. Porém não existem revelações antigas ou novas na Bíblia, nem revelações primitivas ou modernas, nem inferiores ou superiores.

O relato bíblico é o desdobramento do relacionamento entre Deus e o homem. Por isso os mais profundos e inquietantes dilemas existenciais são respondidos pela Bíblia.

O chamado Velho Testamento foi escrito quase todo em hebraico (II Rs 18.26, 28; Ne 13.24; Is 19.18; 36.11, 13). O hebraico, que faz parte do grupo ocidental das línguas semíticas, lê-se da direita para a esquerda.

Seu alfabeto é composto por 22 letras, todas consoantes, como as que se vêem no Salmo 119 e nos

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capítulos 1 a 4 de Lamentações de Jeremias (somente em algumas versões). Apenas as passagens de Ed 4.8 a 6.18; 7.12-26; Jr 10.11; Dn 2.4 a 7.28 e duas palavras em Gn 31.47 foram escritas em aramaico. As traduções somente conservam a inspiração divina quando reproduzem com fidelidade as línguas originais.

Estas Escrituras Hebraicas (que correspondem ao Velho Testamento), vão Gênesis a Malaquias, e registram o relato da criação e os primeiros 3500 anos da história da humanidade. São geralmente chamadas de “Tanakh” (em hebraico תנ״ך) e divididas em três seções (Lc 24.44): “Torah” - תורה) A Lei), “Neviim” (נביאים - Os Profetas) e “Kethuvim” (כתובים - Os Escritos).

Os tradutores gregos da Septuaginta chamaram esta última seção de “Os hagiógrafos” ou “Santos Escritos”. Já as Escrituras Samaritanas correspondem ao Pentateuco hebraico.

O “Velho Testamento” hebraico é de certa forma menor que o encontrado na maioria das bíblias, pois é composto por apenas 22 livros.

Os judeus consideram como um os livros de Juizes e Rute, I e II Samuel, I e II Reis, I e II Crônicas, Esdras e Neemias, Jeremias e Lamentações, e os doze profetas menores. Já as Escrituras Gregas vão de Mateus a Apocalipse, compondo o Novo Testamento.

O Velho Testamento é composto por 39 livros divididos em quatro seções: Leis (5 livros), História (12 livros), Poesia (5 livros) e Profecias (17 livros). Esta organização temática apareceu na Vulgata Latina e foi baseada na Septuaginta.

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Estas divisões ressaltam que a Bíblia não é uma obra sistemática, suas doutrinas encontram-se sob as mais diversas formas literárias. Na coleção de livros sagrados do Velho Testamento está a história da aliança contraída com Deus com Israel antes de Cristo.

O Novo Testamento também é dividido em quatro seções: Biografia (4 livros), História (1 livro), Doutrina (21 livros) e Profecia (1 livro). Apesar da maioria dos escritores do Novo Testamento serem de origem judaica, os livros foram escritos em grego, que era a língua comum do Império Romano.

Apesar destas divisões e sub-divisões, a Bíblia apresenta uma unidade íntima, profunda e completa, que está além de qualquer aparência, coletânea ou antologia.

Na Bíblia o Velho e Novo Testamento se fundem harmoniosamente para forma um único tema – a redenção humana. Pois sua composição está ligada, em cada momento histórico, à degeneração do homem e o fiel amor de Deus.

Em função da natureza histórica do Velho Testamento, muitos o tem posto em um plano inferior ao Novo Testamento. Esquecem que o Velho Testamento é o alicerce para o magnífico plano da salvação de Deus.

Os dois Testamentos não se opõem, antes se completam, pois a incrível harmonia da Bíblia tende a mesma finalidade. A relação entre os Testamentos é o de promessa (Velho) para o cumprimento (Novo). Pois é o próprio Senhor quem diz: “Eu velo sobre a minha palavra para a cumprir. (Jeremias 1.12).

Jesus reivindicou a autoridade inquestionável do Velho Testamento ao usar a expressão “está escrito” (Lc

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4.4). Ele reconhecia o Velho Testamento como sendo a Palavra de Deus: “o Criador” (Mt 19.4-5); “pelo Espírito Santo” (Mc 12.36), “o que Deus declarou” (Mt 22.31).

SEPTUAGINTA ESEPTUAGINTA E APÓCRIFOSAPÓCRIFOS

““Por causa de seu orgulho, o ímpio não investiga;Por causa de seu orgulho, o ímpio não investiga; todas as suas cogitações são: Não há Deus”.todas as suas cogitações são: Não há Deus”. (Salmo 10.4)

Após a expansão do império de Alexandre III, o Grande (356 – 323 a.C.) a partir de 331 a.C., a língua grega popularizou-se e tornou-se inevitável uma tradução das escrituras hebraicas.

Em 285 a.C. (ou 275), a pedido de Demétrio Falario (bibliotecário do rei Ptolomeu Filadelfo), 72 sábios do Sinédrio de Alexandria iniciaram uma tradução das escrituras hebraicas para o grego.

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Cerca de 39 anos depois haviam concluído a tradução que ficou conhecida por “Septuaginta” (em latim “Setenta”, em referência ao número de tradutores), o que acabou por se tornar a Bíblia no Ocidente.

Nesta versão foram incluídas umas séries de textos que, apesar do valor histórico e literário, não faziam parte do cânon hebraico. O termo “cânon” (“norma” ou “vara de medir”) é usado para designar a coleção de livros inspirados por Deus, reconhecidos pela tradição e aceitos como regra de fé.

A existência deste cânon (abrangendo sua formação, a sua composição, a sua preservação e a sua transmissão) é um milagre de Deus. É difícil imaginarmos o quanto o trabalho manuscrito feito por escribas foi trabalhoso, vagaroso e oneroso.

Estes outros livros haviam surgido no período entre os Testamentos Velho e Novo (270 – 50 a.C.), e ficaram conhecidos como “apócrifos”. Foi por causa destes livros que o termo “apócrifo” ganhou vários significados: no sentido etimológico, significa “escondido” ou “secreto”; no sentido doutrinário bíblico, significa “não inspirado”; no sentido geral, significa “livro de falsa autoria”.

Ao admitir livros apócrifos e pseudoepígrafos formou-se a Bíblia católica. Entre os apócrifos da antiga aliança (o Velho Testamento), encontram-se: I e II Esdras, Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão,

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Eclesiástico, Baruque, Epístola de Jeremias, Canção dos três jovens, Oração de Manassés, I e II Macabeus, Enoque, Assunção de Moisés.

Em 1546 o Concílio de Trento (um concílio de orientação católica, contra a Reforma Protestante) considerou alguns desses livros como “protocanônicos” e outros como “deuterocanônicos” (“Segundo Canônicos”).

A partir de então eles foram incluídos na Bíblia Vulgata Latina (versão católica romana), como: Livros Históricos (Tobias, Judite, I e II Macabeus e adições ao livro de Ester), Sapiênciais (Sabedoria de Salomão e Eclesiástico) e Proféticos (Baruque e adições ao livro de Daniel).

Por não aparecerem no cânon hebraico (pois foram escritos em grego) e nunca terem sido citados por Jesus ou os apóstolos, este livros não aparecem em diversas versões da Bíblia, principalmente as protestantes. Pois são providos de autoridade meramente humana e eclesiástica. A Bíblia protestante fica entre a católica e judaica: admite somente os livros judaicos, mas na ordem católica.

Os livros que compõe a Bíblia são considerados “canônicos”, não pela aptidão da mente de seus escritores ou por não apresentarem erros teológicos. Mas pelo fato de terem sido inspirados pelo Espírito Santo, tendo Deus como autor (I Pe 1.10-11).

Por isso qualquer que ler a Bíblia, chegará a conclusão que o escritor não pode ter tido somente um surto de criatividade, e que seu esboço veio dos céus.

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Na época de Jesus, os 39 livros do Velho Testamento já eram aceitos pelo Judaísmo, por isso são citados centenas de vezes pelos escritores do Novo Testamento. Quanto ao Novo Testamento, Atanásio (367 d.C.) e o Concílio de Cartago (397 d.C.), declararam seus 27 livros como “canônicos”. Para isso foi considerado a Apostolicidade, a Universalidade, o Conteúdo e a Inspiração de cada livro.

No passado houve discussões quanto a canonicidade de Ezequiel, Eclesiastes, Cantares de Salomão e Esdras, o que ficou conhecido por “Antilegômena” (“Contestado”, em grego). Também existem composições diferentes da Bíblia, como a etíope que inclui I Enoque e Jubileus ou a utilizada por alguns ramos da Igreja Siríaca, que não incluem II Pedro, II e III João, Judas e Apocalipse.

Outras traduções importantes são: a Hexapla de Orígenes, a Siríaca Peshita (150-200 d.C.), e os targuns (de Jonatã, Onquelos e de Jerusalém).

As Escrituras são dignas de confiança e infalíveis em sua composição original. Se existem falhas ou erros, são dos copistas e tradutores (compare II Rs 24.8 com II Cr 36.9).

Um erro comum dos copistas era as omissões involuntárias, conhecidas por “Homoioteleuton” (no grego “final igual”). Quando terminava o trabalho ou desviava os olhos do texto, o copista ao reiniciar, se encontrasse duas passagens com finais iguais, poderia enganar-se e continuar do último final, omitindo o contexto.

A Torah ou o Rolo da Lei, ainda hoje só podem ser copiadas pelos escribas ou Sopherim (no hebraico

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“guardiões da palavra”). São eles que conhecem o memorizam o texto, o conhecendo no exato seguimento das letras.

Existe uma extensa lista de variantes textuais encontradas nas Bíblias que envolvem acréscimo ou omissão de palavras, ordens textuais e discrepâncias numéricas. São normalmente compostos por erros de copistas ou atualizações deliberadas da linguagem.

Todas estas variações além de não interferirem em qualquer grande doutrina bíblica, são mínimas frentes as verdades contidas na Bíblia. Deve-se destacar que a Bíblia não é apenas derivada de fontes documentárias, nem forma uma coleção de fragmentos ajuntados.

Mas para a reprodução dos manuscritos guardados pelos sacerdotes, existiam rígidos cuidados, assim como para sua manutenção. As descobertas arqueológicas revelaram que os textos atuais são substancialmente os mesmos dos tempos em que foram escritos.

Isto foi beneficiado pelo uso do hebraico, que é uma língua concisa e de difícil mutabilidade. Pois não existem línguas primitivas: muitas línguas dos povos nativos são mais complexas e eficientes do que a de países civilizados. O que se tem notado é justamente o contrário: uma tendência de ir do complexo para o simples.

Antigamente, mesmo para um rabino experiente, encontrar uma passagem nas Escrituras era uma tarefa incrível, pois elas não eram numeradas por capítulos e versículos (Lc 4.16-17).

A Torah foi primeiro “uma única palavra”: seu texto escrito em Lashon

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Hakodesh, era sem lacunas, sem espaços entre as letras, não possuía acentos ou pontuação. Somente em 1250 d.C. o Cardeal Hugo de Sancto Caro, monge dominiciano, dividiu a Bíblia em capítulos; o Arcebispo da Cantuária Stephen Langton também havia feito uma divisão semelhante em 1232.

Em 1551 o impressor francês Robert Stphen dividiu a Bíblia em versículos, que também havia sido dividida em 1525 pelo erudito judeu Jacob Ben Haim, em Veneza.

Apesar de toda gratidão e admiração que devemos ter por estes homens, é lamentável que muitos versículos passaram a sofrer interpretações estanques, com conexões arruinadas.

O LIVRO DOSO LIVRO DOSSÉCULOSSÉCULOS

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““Eu sei, ó Senhor, que não é do homem o seuEu sei, ó Senhor, que não é do homem o seu caminho nem do homem que caminha o dirigir os seuscaminho nem do homem que caminha o dirigir os seus passos”.passos”. (Jeremias 10.23)

A Bíblia é um livro de revelação e infabilidade total, por isso é a autoridade exclusiva sobre tudo quanto o homem necessita saber em relação a Deus (ações, pensamentos e vontades) e de Seu propósito redentor (Jo 3.16).

Foi A. H. Strong quem afirmou que “a Bíblia é a regra suficiente de fé e conduta”. Mais do que isto: sem a Bíblia não teríamos condições de conhecer Deus.

Antes de Cristo os homens somente tinham acesso ao conhecimento natural, que obviamente era adquirido ao se observar as coisas criadas. Poucos, fora da nação israelita, tinham acesso à Palavra de Deus. Mas depois de Cristo, todos os homens podem ter acesso à um conhecimento transcendental.

O irlandês João Scoto Erígena (800 - ?) em sua obra “Commentarium in Joannem”, compara o conhecimento natural – adquirido na fonte da razão – com o poço de Jacó e seu esforço para tomar a água (Jo 4.3-13). Já o conhecimento transcendental – adquirido na fonte da fé – é a água oferecida por Cristo. Quem a beber nunca mais terá sede.

A Bíblia não é uma “fraude piedosa”, com uma fórmula simplista para convencer o homem de uma suposta salvação; nem um “apanhado de bons pensamentos”, o qual pode tornar o homem um ser moralmente melhor. Pois os padrões éticos e morais de

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Deus, expressos na Bíblia, são superiores as vulgaridades deste mundo.

Nem tão pouco um manual sistemático de leis, rituais, doutrinas ou respostas. Ela apresenta as verdades divinas nos contextos históricos e ordinários da vida de um povo. Mostrando os sucessos quando um indivíduo ou uma nação passa a agir em harmonia com a vontade de Deus.

Bem como os exemplos individuais e coletivos de derrotadas e humilhações por confiarem somente em suas obras e suas posses (Jr 48.7).

Ao criar o homem (Gn 2.7), Deus por bondade o

visitava na “viração do dia” (Gn 3.8), ocasião na qual conversava com ele. Mas o pecado mudou este relacionamento entre Deus e o homem (Is 59.2). Expulso do Paraíso (Gn 3.24), o homem não pode mais desfrutar o privilégio de ouvir a voz de Deus.

Mesmo assim Deus bondosamente continuou falando e revelando-se muitas vezes e de várias maneiras (Hb 1.1). Esta progressiva revelação de Deus não ocorreu para destacar nossa ignorância, mas para nos fazer entender que é possível conhecê-Lo (Os 6.3). E ter diariamente uma nova experiência em que possa sentir a Sua presença.

Deus não se fechou em si mesmo, taciturno, impenetrável. Antes diminuiu sua grandiosidade para não

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somente falar com ou através do homem, mas para falar como homem.

Paulo sintetiza esta procura de Deus pelo homem ao afirmar que Cristo Jesus “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz” (Fp 2.6-8).

Literalmente a Bíblia desce de Deus ao homem, a fim de subir o homem até Deus. Por isso ela faz maravilhas nos corações dos homens.

Apesar da evidente impossibilidade em exprimir Deus através de palavras (pois não conhecemos Sua essência), é possível conhecê-Lo através de palavras. Por isso, mesmo transcendendo em tudo o conhecimento humano, Deus revelou-se através da Bíblia.

A natureza íntima de Deus permanece incompreensível ao nosso entendimento essencialmente limitado ao ser finito. Assim os termos antropomórficos, quando aplicados a Deus, são limitados pela conceituação e percepção.

Mas não podemos ser agnósticos e negar totalmente a capacidade do homem em conhecer Deus. Os que assim crêem, confundem o pensamento absoluto e o

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conhecimento de Deus. Pois através das Escrituras nos é permitido chegar a um conceito verdadeiro sobre Deus.

Esta é a grande diferença entre a Bíblia e a Ciência: a ciência não revela Deus, mas esconde Deus evidenciando apenas sua criação. Enquanto a Bíblia se relaciona com Deus, muitas vezes o pensamento científico se opõe a ela. E é exatamente essa a beleza incomparável da Bíblia: o seu poder de nos aproximar de Deus (Jo 5.39,46).

Mas o que nos concede o direito de classificar como superstições, mitos ou mentiras os escritos e as crenças das demais religiões?

São múltiplas as diferenças que distinguem a Bíblia de qualquer outro livro. A principal diferença é justamente a inspiração divina encontrada exclusivamente na Bíblia, sendo superior à consciência e à razão.

Essa inspiração, não é uma inspiração natural, que possa ser confundida com “esclarecimento” ou “iluminação”, pois conforme II Tm 3.16, 17 a Bíblia emana de Deus: “Toda a Escritura é dada pelo sopro de Deus”.

Ou seja, o Espírito Santo não serviu apenas como catalisador ou amplificador das percepções religiosas de cada escritor. Por isso a Bíblia é chamada de Palavra de Deus. E se a declaração de II Timóteo for correta e verdadeira, então se torna inimaginável a sabedoria que Bíblia contém.

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A Bíblia não deve ser vista como fruto de uma ação mecânica (simplesmente ditada por Deus) ou uma ação dinâmica (confiável mas sujeita a erros). Pois ela não é o registro da Palavra de Deus, ela é a própria Palavra de Deus para hoje.

Deus usou os mais de 40 escritores de forma plena, fazendo com que suas faculdades (dons, educação, vocabulário e estilo) tomassem parte nos registros das mensagens (Lc 1.1-4). Seus escritores eram homens de profissões, caráters e de épocas diferentes que não se tornaram meros autores ou teólogos que simplesmente refletiam as relações sociais e a cultura vigente. Pois em cada palavra está a inspiração plena e verbal do Espírito Santo.

Cada escritor bíblico escreveu baseado em suas experiências com Deus (Ex 4.1-17; Sl 32; Jr 12; At 1.1-3; I Co 1.3-11; II Pe 1.14-18). Eles superaram o subjetivismo pessoal, pois não registraram apenas os sentimentos individuais em relação a Deus; mas escreviam motivados por Deus.

Era mais que uma aptidão, mérito ou intuição natural. Cada escritor transmitia o que de Deus havia recebido (I Co 11.23) – uma cooperação vital e consecutiva entre ele e o Espírito Santo.

A extensão revelada e a forma desta revelação foram determinadas pelo próprio Deus. Pois até mesmo para Deus existe “tempo de falar e de calar” (Ec 7.3). Em alguns casos houve uma revelação externa (Deus falou com estes homens em voz audível Am 3.8; nuvem e fogo) e com outros se revelou internamente (através de visões

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Jl 2.28; sonhos). Veja Ex 13.21-22; Nm 12.6; Dn 9.21-22; At 9.3-4.

Cada escritor tinha a assombrosa e ímpar responsabilidade de falar em nome de Deus. Mas em todos os casos foi excluída a influência do pecado (II Pe 1.19-21): pois a perfeição absoluta de Deus exclui toda e qualquer imperfeição.

Na Bíblia não se encontra espaço para discrepância, contradição, inexatidão ou inconsistência. Deus é a própria garantia de tudo quanto foi escrito, pois Ele não pode enganar-se ou enganar.

Na Bíblia existem livros de história, biografia, ética e poesia, escritos num período aproximado de 1500 anos – e todos possuem mensagens com lições objetivas. Apesar desta diversidade, os 66 livros que a formam apresentam uma harmonia e unidade incrível, formando um único livro.

Essa harmonia e unidade foi possível pois o que contém estes livros é o uniforme e progressivo pensamento de Deus, que revelam Sua personalidade. Mesmo que a Bíblia fosse composta por inúmeros simbolismos, transmitidos de geração para geração, ela só poderia ter surgido de fenômenos de percepção comum, conseqüentemente objetivo.

A negação da origem divina da Bíblia sempre apareceu em todas as épocas com maior ou menor intensidade (Ml 3.14-15).

Existe um prazer doentio, uma vitória ilusória e uma explícita derrota em querer contradizer a Bíblia. Neste mundo não existe uma astúcia capaz de silenciar a Palavra de Deus. Para muitos, ouvir falar da Bíblia como

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sendo a Palavra de Deus, pode soar como orgulho, vaidade ou pretensão.

Entretanto, deve-se notar que a Bíblia foi revolucionária e influente no desenvolvimento do mundo ocidental. É nítida sua “missão civilizadora” na vida social e cultural em todas as épocas.

Ela sempre serviu mais como motivação para as atividades do homem no mundo, do que como fonte de alienação. Os feitos artísticos mais imponentes da história (literatura, arquitetura, pintura e música) foram inspirados pela Bíblia.

E os que negam sua origem divina, estão apoiados no fato de não entenderem o que está escrito (Mt 22.29). Geralmente os chamados leigos, tendem a desanimar quando lêem a Bíblia pela primeira vez. Seus textos são longos, a linguagem muitas vezes poética e as traduções clássicas. Isso faz com que as pessoas ignorem o potencial da Palavra de Deus.

A maior parte dos erros está na tentativa de interpretar as palavras da Bíblia como se tivessem sido escritas em nossa época moderna, para pessoas da língua portuguesa e com o contexto deste século. Isto ocorre sempre em função de se chegar aos extremos em tal interpretação: espiritualizar ou materializar.

Talvez o maior erro seja a negação do aspecto sobrenatural contido na Bíblia. Todos os métodos de interpretação ligados às críticas histórica e literária da Bíblia – derivadas da Alta e Baixa Crítica - acabam por atacar a Palavra de Deus, vendo-a conforme o querer particular, e não sob a óptica da unidade inspirada por Deus.

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Os livros da Bíblia foram escritos visando satisfazer uma necessidade contemporânea. Ao olhar a Palavra de Deus, deve-se observar a nitidez da Teologia bíblica e exegética que enfatiza que a Verdade e a Revelação possuem uma mensagem peculiar para cada época e seu povo.

Para entender esta Verdade e Revelação é preciso encaixá-los no quadro cronológico, histórico e geográfico em que foi escrita. Mesmo as biografias dos personagens bíblicos só podem ser compreendidas no contexto da própria Bíblia. O mundo ocidental teve fácil acesso a Bíblia, porém poucos puderam ir aos países do Oriente e examinar o clima, os costumes e povos, para entender o seu significado real.

Para Baruch Spinoza (1632-1677) quando lemos a Bíblia é necessário considerá-la, exclusivamente, um produto de sua época. Spinoza contestava o fato de que cada palavra da Bíblia fosse inspirada. Mas é justamente a inspiração do Espírito Santo que permitiu a unidade da Bíblia e sua aplicação teológica a todas épocas, culturas e situações.

Realmente a Bíblia está ligada à uma série de fatos históricos, mas seu conteúdo transcende em muito a situação histórica em que foi escrita. A mensagem de Deus para hoje, contém a mesma Verdade dos dias de Moisés, de Isaías...

E esse é o papel que cabe ao teólogo: ouvir o que o Espírito Santo dizia no contexto bíblico original.

Mas como saber se o que está escrito é verdade? É possível buscar em várias especialidades do conhecimento humano (história, lingüística, geografia e arqueologia)

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indícios da autenticidade do texto. Apesar disto, outra gloriosa diferença com os demais livros, é que as Escrituras (notavelmente o Novo Testamento) não estão simplesmente dominadas pelo espírito de uma época. A maioria dos livros sobre auto-ajuda fica obsoleta em poucos anos.

Mas o tempo não exerce nenhuma influência sobre a Bíblia (Mc 13.31), pois quase 2000 anos já se passaram desde que as últimas palavras da Bíblia foram escritas. O próprio Jesus aprovou (Mc 7.13), leu (Lc 4.17), ensinou (Lc 24.25-27) e cumpriu (MT 5.17) as Escrituras.

Enquanto isso, na ciência, muitas coisas consideradas verdades foram reavaliadas e mesmo desmentidas. A maioria das descobertas da ciência é acompanhada por uma obsolência programada. Porém a própria Bíblia afirma que passará o céu e a terra, mas a Palavra de Deus permanece para sempre (Mc 13.31). Nada na Bíblia, por mais obscuro ou pitoresco que possa parecer, pode se anulado (Jô 10.34-35).

O estudo diário do texto bíblico tem algum valor como exercício religioso, pois se pode simplesmente lê-la e achá-la interessante e proveitosa (Sl 119.130). Basta ver a Bíblia como um objeto de conhecimento ou um meio de conhecimento. Mas será inútil se a Bíblia não se adaptar as necessidades pessoais.

Isto não quer dizer que se deva manipular a Palavra de Deus, conforme a ideologia do momento histórico ou da necessidade social. Pois quem não crê é incapaz de viver a Verdade apresentada pela Bíblia, e quem não vive a Verdade, não está apto para compreendê-la.

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Assim a Bíblia, que é um excelente meio, transforma-se em um fim em si mesmo. Mas a sua leitura não é garantia de salvação instantânea ou automática para ninguém.

É necessário ir além do simples conhecimento dos ensinos bíblicos. Pois com a lógica podemos conceituar qualquer coisa, mas não vivenciar. Deve-se conhecer seu Autor (Lc 2.27, 45; At 16.14), pois somente Ele nos ajudará a descobrir os tesouros mais preciosos de Sua Palavra (I Co 2.14).

Nada nela é supérfluo, pois a consistência e exatidão do texto bíblico tornam toda doutrina indispensável: “Tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para ensinar de forma que, por meio da perseverança, mantenhamos a esperança”. Por isso a Bíblia é a autoridade final e suprema (Js 1.8).

É loucura alguém pretender compreender a Palavra de Deus, sem se identificar com Seu autor. A meditação na Palavra de Deus acende em nosso íntimo uma chama (Sl 39.3), que ultrapassa todas a filosofias e conceitos de vida: nos transformando de passivos ouvintes sem memória, para ativos obreiros de Deus (Tg 1.25).

Mas se ao ler a Bíblia, alguém conseguir ter pensamentos verdadeiros sobre Deus, irá alcançar mais do que jamais imaginou (Jo 10.41).

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““Eu sei, ó Senhor, que não é do homem o seuEu sei, ó Senhor, que não é do homem o seu caminho nem do homem que caminha o dirigir os seuscaminho nem do homem que caminha o dirigir os seus passos”.passos”. (Jeremias 10.23)

A Torah é também denominada pelos seguintes nomes: Lei de Moisés, Chumash (חומש) ou Pentateuco Mosaico. Ela é composta por cinco livros:

• Bereshít (do hebraico בראשית, "no ínicio", "no princípio" – Gênesis);

• Shemot (ואלה שמות, “Nomes” - Êxodo);

• Vayikrá (ויקרא, “Ele chamou” - Levítico);

• Bamidbar (במדבר, “No deserto” - Números);

• Devarim (דברים, “Palavras” - Deuteronômio).

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Os nomes que aparecem nas Bíblias ocidentais, são derivados do grego e estão relacionados com o conteúdo. Enquanto que as denominações hebraicas são constituídas pela primeira ou principal palavra do início de cada livro.

Composta por pergaminhos manuscritos de um único lado, costurados de forma contínua e enrolados em dois cabos de madeira: a Torah é poeticamente chamada pelos judeus de “Árvore da Vida”.

As confecções destes rolos de pergaminhos, a escrita, a paginação e ornamentação, são particularmente importantes para a cultura judaica. Ela é lida desde o século IV a.C. (na volta do exílio babilônico) nas segundas, quintas e sábados .

Os relatos bíblicos das primeiras histórias da humanidade encontram-se no livro de Gênesis. O relato de Gênesis pode ser visto como hiperliteral (as informações e fatos narrados ocorrem invariavelmente conforme descritos), como hipercientífico (procurar adequar os relatos às constantes descobertas das ciências) ou como sumário (resume os fatos sem indicar cronologia em tempo real).

De qualquer forma Gênesis contém pouco do que gostaríamos de saber, pois seu relato é moral e não material, é específico e não geral: registra a origem do povo de Israel.

No mundo intelectual existe uma nítida aversão ao relato de Gênesis. Mas assim como toda a Bíblia, Gênesis é um relato real, objetivo e racional, e nunca pode ser considerado inverídico ou mitológico. As verdades de Gênesis encontram eco por toda a terra, pois ele é mais do que lendas nacionais israelenses.

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Sua história é maravilhosamente ingênua, mas livre de especulações científicas e filosóficas. O relato conciso e simples de Moisés tem resistido durante milênios às mais variadas críticas.

Mesmo que a ciência considere o relato de Gênesis primitivo e incompleto, religiosamente ele é exato e completo: nada se pode acrescentar nem diminuir à cosmogonia mosaica. Pois Deus revela nos primeiros capítulos de Gênesis mais do que todos os estudos publicados por aqueles que acreditam em mitos, como a Teoria da Evolução.

Considerar o primeiro capítulo de Gênesis somente para procurar o processo de criação é tolice, pois toda a ênfase está no fato que existe um Deus que criou todas as coisas.

Gênesis, chamado de Bereshit (em hebraico “No princípio”) ou Géveois (em grego Γένεσις na Septuaginta), é corretamente conhecido por “Livro dos Começos”. O nome “Gênesis”, como aparece nas Bíblias da língua portuguesa, tem sua origem em uma raiz grega que significa “nascimento”.

Na Septuaginta “Gênesis” foi usada para traduzir o hebraico toledhoth (“procriações” ou “registros genealógicos”) no sentido de “geração”. Gênesis, que tem sua autoria creditada a Moisés (Lc 16.31; 24.44), é o “Livro das Gerações”:

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• dos céus e da terra (2.4),

• de Adão (5.1),

• de Noé (6.9),

• dos filhos de Noé (10.1),

• de Sem (11.10),

• de Terá (11.27),

• de Ismael (25.12),

• de Isaque (25.19),

• de Esaú (36.1),

• dos filhos de Esaú (36.9),

• de Jacó (37.2).

Estas “histórias” resumidas, provavelmente, foram baseadas em registros históricos (orais e escritos). Uma indicação disto nestas passagens é a expressão hebraica e’lleh toledhoth, traduzida por “estas são as gerações” ou “estas são as histórias por”. Mas Gênesis não é um estudo comparativo ou sintético das tradições correntes na época.

Foi em 1753 que o médico francês Francisco Astruc viu na alternância do uso de Elohim e Jeová (para designar Deus), a indicação do uso de fontes distintas para compor o livro de Gênesis.

Mas tarde, graças a Eichhorn esta “hipótese documentária” foi complementada e tentou reduzir Moisés a um mero compilador de histórias. Surgiu uma contra-

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hipótese, a “hipótese suplementar”, a qual afirma que foram adicionados posteriores comentários não registrados por Moisés.

Mas toda a Teoria Documentária da Alta Crítica é repudiante: Gênesis e os outros 4 livros que formam o Pentateuco são mais do que uma compilação de outros documentos. Nas passagens em que se referem a Moisés, ele aparece em terceira pessoa, pois cada uma das palavras que formam a Torah foi-lhe ditada por Deus.

Como não poderia ser diferente, a palavra chave deste livro é “princípio” (1.1): é o começo dos céus e da terra (2.4), da vida (1.24), das instituições (2.24) e da auto-revelação de Deus (1.3).

Gênesis é considerado a porta de acesso à catedral da revelação escrita por Deus. Pois toda a Bíblia está fundamentada sobre o relato de Gênesis.

Deve-se destacar que a ciência estuda a razão e a natureza. Deus fala através da razão do homem e das coisas criadas. A simples observação da natureza pode nos levar ao reconhecimento de Deus, pois a natureza e a Bíblia são obras do mesmo Autor. Mas a Bíblia é a Palavra de Deus!

Como observou Moisés Maimônides (1135-1204), na falta de argumento decisivo em pró ou contra a criação por Deus, deve-se ficar com o relato da Bíblia. Sempre cientes de que quando a criação do mundo for completamente demonstrável, encontraremos no início de tudo Deus.

12 Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus,

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para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus.

13 As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comprando as coisas espirituais com as espirituais.

14 Ora o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.

15 Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido.

16 Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo. (I Coríntios 2.12-16)

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:: O Pai da Mãe Natureza

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