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1 8 Edição da Associação Progresso - Janeiro 2004 Com financiamento de ACDI/CODE O PANGOLIM O PANGOLIM A Cultura de pagar Imposto Para o Estado funcionar, para providenciar os serviços a que os cidadãos têm direito – na Saúde, na Educação, na Justiça etc - precisa de dinheiro. É com dinheiro do Estado que os salários dos funcionários, dos professores, dos enfermeiros, são pagos. É com dinheiro do Estado que se fazem estradas, escolas, hospitais, postos de saúde. E como vai o Estado obter esse dinheiro? O cidadão paga directamente uma pequena parte no acto de receber alguns serviços, quando paga os emolumentos, por exemplo. Ou quando atravessa fronteiras com bens adquiridos noutro país, pagando o respectivo imposto nas Alfândegas. Mas a maior parte do dinheiro do Estado provem de impostos sobre rendimentos e lucros. As empresas pagam impostos na forma de percentagem sobre os seus lucros; as pessoas individuais que têm rendimentos provenientes de participação em empresas, aluguer de propriedades, etc., pagam uma percentagem desse rendimento ao Estado. Os empregados pagam impostos sobre o seu salário. Quanto maior for o salário mais alto é o imposto. Quem não tem rendimento ou salário, ou ganha muito pouco, não paga imposto. O Estado isenta essas pessoas de impostos. Sabendo que os impostos são precisos para beneficiar a Nação inteira, quem foge a pagar impostos talvez não compreenda que está a prejudicar-se a si próprio e a toda a sua comunidade. Quando pagamos impostos adquirimos o direito de exigir que o nosso dinheiro seja utilizado para o bem público, e temos responsabilidade de controlar o uso destes fundos. Pagar impostos é assim um passo no processo de democratização da sociedade. Notícias da Progresso Pág. 2 Eleições Autárquicas Pág. 4 Linguagem e discriminação Pág. 5 Mosquitos e Malária Pág. 10 Fronteiras de Moçambique Pág. 14 A circuncisão (Literatura) Pág. 15 O gesto iluminado na procura do saber. O primeiro verbo: aprender (Calane da Silva)

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8Edição da Associação Progresso - Janeiro 2004

Com financiamento de ACDI/CODE

O PANGOLIMO PANGOLIM

A Cultura de pagar Imposto

Para o Estado funcionar, para providenciar osserviços a que os cidadãos têm direito – na Saúde, naEducação, na Justiça etc - precisa de dinheiro. Écom dinheiro do Estado que os salários dosfuncionários, dos professores, dos enfermeiros, sãopagos. É com dinheiro do Estado que se fazemestradas, escolas, hospitais, postos de saúde.

E como vai o Estado obter esse dinheiro? O cidadãopaga directamente uma pequena parte no acto dereceber alguns serviços, quando paga os emolumentos,por exemplo. Ou quando atravessa fronteiras com bensadquiridos noutro país, pagando o respectivo impostonas Alfândegas.

Mas a maior parte do dinheiro do Estado provem deimpostos sobre rendimentos e lucros.

As empresas pagam impostos na forma depercentagem sobre os seus lucros; as pessoasindividuais que têm rendimentos provenientes departicipação em empresas, aluguer de propriedades,etc., pagam uma percentagem desse rendimento aoEstado. Os empregados pagam impostos sobre o seusalário.

Quanto maior for o salário mais alto é o imposto.Quem não tem rendimento ou salário, ou ganha muitopouco, não paga imposto. O Estado isenta essaspessoas de impostos.

Sabendo que os impostos são precisos parabeneficiar a Nação inteira, quem foge a pagar impostostalvez não compreenda que está a prejudicar-se a sipróprio e a toda a sua comunidade.

Quando pagamos impostos adquirimos o direito deexigir que o nosso dinheiro seja utilizado para o bempúblico, e temos responsabilidade de controlar o usodestes fundos.

Pagar impostos é assim um passo no processo dedemocratização da sociedade.

Notícias da Progresso Pág. 2

Eleições Autárquicas Pág. 4

Linguagem e discriminação Pág. 5

Mosquitos e Malária Pág. 10

Fronteiras de Moçambique Pág. 14

A circuncisão (Literatura) Pág. 15

O gesto iluminado na procura do saber.O primeiro verbo: aprender

(Calane da Silva)

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Notícias da progresso

A época da chuva chegoue com ela iniciamos ascampanhas de plantaçãode árvores. O viveiro deChude (Mueda) preparou20.000 plantas paradistribuir pelas aldeiasvizinhas.Em Niassa, a Progressoestá organizada paradistribuir cerca de 30.000árvores entre instituiçõese familias. Daremos maioratenção às comunidadesque começaram as suas‘matas comunitárias’,áreas plantadas e geridaspela comunidade. Juntam-

Mais árvoresmais viveiros

actividade de refloresta-mento. Para motivar apopulação para a plantaçãode árvores estão sendoutilizados cartazes, comtextos traduzidos para aslínguas faladas pelapopulação.

se aos viveiros sobcontrole da Progresso(Muembe, Lago eLichinga), cinco viveiroscomunitários produzindocerca de 1000 árvorescada um.Na distribuição e planta-ção estarão envolvidosextensionistas e técnicosdas direcções distritais eprovinciais de agricultura,que assim estarão melhorpreparados para fazer oacompanhamento dasárvores plantadas. Ocontrole do crescimentoe das doenças dasplantas e a educação dosdonos, são tarefas impor-tantes para assegurar orendimento de toda a

Turmas experimentais deEnsino bilingue

O livro do aluno da 1ª classe foirevisto e apresenta-se agoramelhor e mais bonito.

provinciais do MELE eforam acompanhados demateriais de apoio.

No início de Janeiro 2004reuniram-se em Pemba eLichinga professores etécnicos das turmasexperimentais do ensinobilingue. Novos professores foramcapacitados para leccionara 1ª classe, enquanto osque deram esta classe noano passado, vão este anoensinar na 2a classe. Oprograma tinha uma partemetodológica e outrarelacionada com o ensinoda língua local. Os semi-nários foram orientadospor equipas mistas daProgresso e do INDE, comapoio dos formadores

Construção ereabilitaçãode edifícios

Ao longo de 2003, aProgresso financiou aconstrução e equipamentode várias infra-estruturas,entre elas os Centros deRecursos (CR) de Pemba eMuidumbe (Cabo Delgado).Para o CR de Metoro foientregue à DPE o equipa-mento básico (gerador emobiliário).Também em Cabo Delgadofoi retomada a construçãode latrinas nas escolasprimárias, com a constru-ção de 3 blocos de latrinasnas escolas de Mpeme eMuatide.No Centro de Saúde deMiteda (entregue em 2003)iniciámos a construção da2ª casa para pessoal.Em Niassa foi electrificadoo CR de Mandimba, estãoem construção casas paraprofessores na EP deUtuculo e iniciou-se areabilitação de sanitáriosdo Lar Estrela Vermelhaem Lichinga.

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Notícias da progresso

AssembleiaGeral daProgresso

Realizou-se nos dias 28 e29 de Novembro de 2003 a10a Sessão da AssembleiaGeral da Progresso com aparticipação de cerca de 50membros.As províncias de Cabo Del-gado e Niassa estiveramrepresentados por 14pessoas, entre membros,funcionários e colabora-dores.A Assembleia discutiu oRelatório de Actividades eContas relativamente aosanos 2002 e 2003 e o Planode Acção para os anos2004 e 2005.Realizaram-se as eleiçõesdos orgãos sociais, tendosido eleito por unanimidadea lista proposta peloConselho de Direcçãocessante.Nos dois dias seguintes àAssembleia, as coorde-nações provinciais e opessoal da sede fizeramum trabalho de planificaçãodetalhada, em que sedistribuiu as tarefas eresponsabilidades e acoordenação das activi-dades entre as províncias ea sede.O Conselho de Direcçãoavaliou, na sua primeirasessão, a AssembleiaGeral como tendo sido“produtiva” e realçou “osentido de responsabilidadede todos os intervenientes”

que foi notório nos debates.Notou ainda que “ascoordenações provinciaisrevelam maior capacidadede actuação”.Por outro lado constatou-seque o trabalho nas províncias,particularmente no sector de

educação, aumentoutornando necessário reforçara capacidade dos escritóriosprovinciais para garantir queo Plano de Acção sejacumprido.

No Pangolim número 7informámos sobre o Con-curso para Editoraspromovido pela Progresso.O juri do concurso avaliouas 21 obras concorrentese comunicou os resultadosdo seu trabalho naCerimónia de divulgação,realizado em 6 deNovembro de 2003. Forampremiados 2 livros infantise 4 juvenis. O prémio paraos vencedores é a garantiade compra de 5500 cópias

Concurso de editorespela Progresso, paradistribuição nas bibliotecasescolares em CaboDelgado e Niassa.As obras premiadas são:Chiquinho e os trêscorações; O sorriso; Asaventuras do cajuzinho; Osgémeos e os traficantes; Osgémeos e os ladrões detesouro; O conselho dosanciões. Estes livrospoderão ser encontradosbrevemente nas bibliotecasdas escolas.

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Política e Democracia

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As eleições para as Autarquias tiveram lugara 19 de Novembro de 2003, nos 33Municípios de todo o país.

A campanha dos partidos e seus candidatosa presidentes dos Municípios e AssembleiasMunicipais, desde 4 de Novembro, indicavamdesde logo que estas eleições iam serdisputadas com maior empenho porque haviamais competição.

Nas anteriores eleições autárquicas, em1998, só a Frelimo concorreu em todos osmunicípios. Nessas eleições gruposindependentes (não pertencentes apartidos), concorreram na Beira e emMaputo e conquistaram alguns lugares nasAssembleias Municipais. A Frelimo teve amaioria nos 33 municípios.

As eleições de 2003 para 33 autarquiasem Moçambique foram mais uma vez ademonstração que a democracia avança empassos pequenos, mas seguros.

A Governação é a acção política que visaalcançar os melhores resultados, tendo emconta os meios disponíveis, humanos emateriais, para a realização dos fins doEstado, nomeadamente: Justiça, a Segurançae Bem-estar material de toda a população dopaís respeitando a sua História e os seusValores culturais e tradicionais e aParticipação do cidadão nos processos detomada de decisão.Boa Governação existe quando:- os dirigentes dão o exemplo de honestidade,isenção, capacidade de trabalho e sentido deresponsabilidade;- há uma utilização correcta dos recursospúblicos, materiais e financeiros;

Agenda 2025 – O que deve ser a Governação- há uma planificação correcta e realista nosobjectivos e acções;- a política económica e financeira do Estadoé adequada à realidade;- existe transparência e há prestação de contas;- há respeito rigoroso pela Lei;- agentes ou representantes do Estado sãoresponsabilizados e punidos por seus actos ouomissões e os cidadãos ofendidos sãoindemnizados;- se defende a unidade e identidade nacional;- se reconhece e respeita a democracia e opluripartidarismo;- há inclusão e participação da sociedade civilincluindo o sector privado;- há respeito pela opinião pública.

Vitória da Democracia nas EleiçõesAutárquicas

O que mudou

A Frelimo, partido mais antigo e maisexperiente, obteve a maioria dos lugares dePresidentes do Conselho Municipal edeputados para as Assembleias Municipais.

Mas o maior partido da oposição, aRenamo-União Eleitoral, pela primeira vezparticipa no governo a nível local, pois obtevea maioria em 4 municípios: a cidade da Beira(a segunda cidade mais importante do país),Angoche, Ilha de Moçambique e Nacala.

Alguns dos grupos independentes obtiveramlugares nas Assembleias Municipais, o quesignifica uma contribuição mais variada deideias e sugestões nesses Municípios.

Chegou a altura de mais cidades e vilasobterem o seu estatuto de Município para quemais moçambicanos estejam envolvidos nosgovernos locais e a democracia dê maiorcontributo para o desenvolvimento.

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Política e Democracia

Linguagem e discriminação

A Lei de Família foi finalmente aprovada pela Assembleia da República na sua

última sessão de trabalho do ano de 2003. A proposta de Lei foi amplamente

discutida, revista e ajustada para que correspondesse o mais possível às ideias

e vontades da maioria da população e ainda para adequá-la à Constituição da

República

As novidades que a Lei da Familia traz são, entre outras, o reconhencimento

do casamento monogâmico, seja ele religioso, tradicional ou civil e o

impedimento do casamento de pessoas com idade inferior a 18 anos. A lei

estabelece ainda que a chefia da família pode ser exercida tanto pelo homen

como pela mulher e que qualquer dos cônjuges é livre de exercer uma

profissão, .......

A Lei de Família

A linguagem é um produto social queacumula e expressa a experiência decomunidades concretas. A língua,socialmente construida, influi na maneiracomo a sociedade se percebe a si mesma.A palavra escrita e os meios de comunicação

ampliam a influência da linguagem, cujoalcance não se limita já a uma relação directa,cara a cara, quotidiana, entre as pessoas. Oslivros, as revistas, a rádio e a televisão,transmitem uma série de crenças, valores eatitudes que configuram as nossasconcepções do mundo e a nossa percepção

da realidade. Por exemplo, chamar “mãe” àsmulheres, redu-las à dimensão única damaternidade.(...)É através das palavras, dos mitos e das

narrações que se vai moldando a subjectividadeindividual e colectiva numa sociedadeAtravés dos exemplos em baixo podemos ver

como práticas supostamente humoristicaspodem conter valores discriminatórios.

Maria José ArthurOutras VozesWLSA (Mulher e lei na África Austral)nº 2 Fevereiro 2003

Cão: O melhor amigo do homem

Aventureiro: Ousado, Valente, corajoso

Ambicioso: Visionário, enérgico, que tem metas

Homenzinho: Homem de pequena estatura, rapaz novo

Homem da vida: Homem com grande experiência

O significado das palavras muda consoante o género

Cadela: Prostituta

Aventureira: Prostituta

Ambiciosa: Que quer”subir a todo o custo”, sem olhar a meios

Mulherzinha: Mulher sem importância, prostituta

Mulher da vida: prostituta

Outras Vozes WLSA (Mulher e lei na África Austral) nº 2 Fevereiro 2003

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Saber não ocupa lugar

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No início de Novembro o Ministério da Saúdeem Maputo anunciou que as últimas contagensestatísticas revelam que a nivel nacional13.6% da população adulta (entre 15 e 49anos) está infectada com o vírus do HIV quecausa Sida. Este número é o resultado decontagens obtidas a partir de análises desangue em 10.788 mulheres grávidas, noscentros e postos de saúde do país, no anode 2002. Comparativamente aos dados de2001, houve um aumento da taxa deinfecções de 1. 4%.

HIV/Sida em Moçambique: novos dadosestatísticos

Há diferenças quando se analisa região porregião. A região sul é mais afectada pois aí onúmero de seropositivos entre a população éde cerca de 17%. No passado era a regiãocentro que acusava taxas mais altas no país,com 16. 7%. Mas a província de Sofala aindaestá entre a que tem as mais altas percentagensde seropositivos. As áreas menos afectadascontinuam a ser 3 províncias do Norte: Niassa,Cabo Delgado e Nampula. Mas atenção,mesmo aqui a taxa de infecções pelo HIVcresceu de 5. 7% em 2000 para 8. 4% em2002.

Malária mata 7 crianças por horaNo continente africano a malária ainda é a doença que mata mais pessoas, sobretudocrianças. Dom Dinis Sengulane, Bispo Anglicano dos Libombos e patrocinador daCampanha Contra a Malária, diz que a malária é o mais grave problema de Saúde Pública,a principal causa dos internamentos nas enfermarias de Pediatria nos hospitais deMoçambique.

Mas como é que a nossa alimentação setransforma em energia e saúde? O processocomeça por uma fase chamada digestão. Adigestão é o modo pelo qual aquilo quecomemos se transforma em substâncias queo nosso organismo pode utilizar. Esteprocesso dá-se no aparelho digestivo ou ca-nal alimentar que é como um tubo compridoque começa na boca e termina no ânus.A digestão começa na boca onde desfazemosos alimentos com os dentes e os amolecemoscom a ajuda da saliva. Estes alimentos passamentão para o tubo chamado esófago. Osmúsculos do esófago empurram os alimentos,

agora transformados em bolo alimentar, paraum saco chamado estômago. Os ácidosproduzidos pelo estômago fazem com que estebolo se transforme num líquido cremoso quepassa para o intestino delgado, onde líquidoscomo a bílis produzida no fígado, e outrosproduzidos no pâncreas, transformam aindamais os alimentos. Estes, assim transformadosatravessam as finas paredes do intestinodelgado e passam directamente para acorrente sanguínea. Resta só aquilo que não éútil para o organismo, uma massa sólida quevai para o intestino grosso e é depois expelidacomo fezes para o exterior.

Comer e DigerirDevemos comer para viver e não viver para comer. Quem segue este princípio pode tersaúde e vida longa.

De cada 100 crianças que são levadas àconsulta com várias queixas, 40 sofrem demalária. De cada 100 que ficam internadas,63 estão com malária grave. E destas morre oelevado número de 30.

A comunidade pode e deve colaborar com asautoridades da Saúde para erradicar a maláriae evitar que morram tantas crianças.(Ler na secção AMBIENTE sobre Malária)

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Saber não ocupa lugSaber não ocupa lugSaber não ocupa lugSaber não ocupa lugSaber não ocupa lugararararar

Actualmente, grandes unidades industriais empaíses industrializados, produzem em série osobjectos cerâmicos mais utilizados como ospratos, as canecas, chávenas, etc. Mas aindústria artesanal ainda existe mesmo nessespaíses mais industrializados e tem cada vezmais apreciadores. Os artesãos fazem nãoapenas objectos utilitários mas tambémfiguras artísticas e decorativas.A chamada cerâmica artesanal é muito antigaem África e é geralmente produzida pormulheres. Antes de estarem disponíveis osobjectos industriais comprados nas lojas, asmulheres produziam os seus próprios

utensílios como potes para a água, tijelas paraseparar grãos, etc., com barro moldado à mão,decorado (com desenhos) e cozido em fornosde lenha ou carvão, por elas próprias.

Um país chamado Nigéria

Potes de barro conservam a água fresca e desde que bemtapados e mantidos em local fresco e seco, conservam oscereais livres de bicho.

Há milhares de anos que povos dos diferentes continentes usam a argila ou barro paramoldar e cozer objectos, para seu uso doméstico. Olaria é a arte e técnica de moldar obarro, cerâmica é o nome deste tipo de indústria artesanal.

Cerâmica e Olaria

Kandua

Ibadan

Lagos

Port Harcout

ABUJA

Este grande país – em extensão e empopulação – fica na costa ocidental de Áfricae o seu nome deriva do Rio Níger queatravessa a Nigéria. Tem mais de 120 milhõesde habitantes e é o mais populoso da Áfricasub-sariana. A sua capital é Abuja, mas a cidademais importante, do ponto de vista económico,é Lagos.A Nigéria é uma República Federativa e a suapopulação ainda reflecte muito as divisõesprovenientes de diferentes grupos étnicos,linguísticos e religiosos. Estas divisõestribais e religiosas já provocaram guerras civise continuam hoje a provocar violênciae mortos de tempos a tempos.Cerca de metade da populaçãonigeriana é muçulmana. Nosestados onde predominam osmuçulmanos, devido àautonomia de que gozam pelanatureza federal do País, asautoridades locais pretendemimpor a lei islâmica sobretoda a população, incluindo a não

islâmica. Isto tem causado movimentos derebelião dos cristãos principalmente, queacabam por ser reprimidos com violência pelapolícia ou exército que obedecem ao governocentral.A grande riqueza da Nigéria, é o petróleo.Companhias estrangeiras, associadas a gruposnacionais, extraem petróleo na costa daNigéria e muitos políticos que têm governadoa Nigéria foram acusados de corrupçãoassociada com os negócios do petróleo.Também por causa dele tem havido episódiosde violência. A população dessas regiões ricasem petróleo revolta-se por viver na pobreza

apesar do petróleo que éextraido e transportadoem condutas que

atravessam as suasterras, sem que os

residentes beneficiem dessariqueza.

Além do petróleo, a Nigéria é ricaem produção agrícola e é grande

exportador de cacau.

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Saber não ocupa lugar

Invasão e Evasão – Estas duas palavras sãoantónimas (uma é o contrário da outra) massão confundidas com frequência. Invasão (deinvadir) quer dizer entrar para dentro, ocupar;Evasão (de evadir) quer dizer sair, escapar dequalquer coisa. Exemplo de empregocorrecto: A colheita foi destruida pelainvasão de uma praga de gafanhotos namachamba. Ou nesta frase: Os presosevadiram-se da cadeia, quando estamos afalar de uma evasão. Ouvimos ou lemos nacomunicação social, mencionar o crime deevasão fiscal. Quem não paga os impostos quedeve ao Estado, evade-se ao imposto. Parareter na memória a palavra que se deve utilizar,é preciso lembrar que, nestas e noutraspalavras, o prefixo in (invasão) significa paradentro; o prefixo ex, ou e (evasão) significapara fora.

Juramento – é uma declaração solene ou umcompromisso, que uma pessoa assume emnome daquilo que tem de mais sagrado. Nospaíses onde a cultura e prática social sãomarcadas pela religião cristã, uma testemunhaao prestar declarações no Tribunal pode jurardizer só a verdade em nome da Bíblia. Muitaspessoas no dia a dia dizem, para sublinhar quefalam verdade, que juram pela sua saúde, oupela saúde dos seus filhos, ou por Deus.Quando um alto funcionário do Estado tomaposse do seu cargo faz um juramento solene,em que declara servir o povo e fazer cumprira Constituição e as Leis, na presença dumaalta autoridade do Estado como o Presidenteda República, o Presidente da AssembleiaNacional ou o Juiz-Presidente do Tribunal Su-premo. Um dos actos mais importantes da vidade um soldado é o Juramento da Bandeira,quando ele se compromete a lutar sempre peladefesa da Pátria simbolizada na BandeiraNacional.

Licença – permissão para fazer qualquercoisa. Ao entrar em casa ou no gabinete deoutra pessoa pergunta-se: Dá licença que en-tre? E quando entramos, podemos dizer: Comlicença. É uma autorização (do governo,município, etc.) para possuir ou fazer algumacoisa, exercer um negócio ou actividade. Ésinónimo de permissão. No caso de umaempresa, essa licença para exercer a actividadetambém se chama alvará. É igualmente onome do documento onde está escrita,assinada e carimbada pela autoridade, essalicença. Para construir uma casa numa zonaurbanizada, é preciso pedir a licença deconstrução. O polícia pediu ao vendedorpara mostar a licença para estar no mercado– aqui, licença é o documento que comprovaa autorização concedida pelo município paraexercer o comércio no mercado.A palavra tem também o sentido menoscomum de excessiva liberdade de acção. Énesta acepção que se fala de licençapoética, significando que o escritor oupoeta pode transgredir as regras degramática ou de estilo de escrita.

Modelo – é a representação de qualquerobjecto ou construção que se pretende copiar(reproduzir), ou a réplica (cópia) de qualquercoisa que existe. Por exemplo, antes deconstruir um barco, um avião ou um carro, ostécnicos fabricam um modelo em pequenasdimensões para apresentar o projecto. NumMuseu podemos ver modelos, ou réplicas, deuma construção, de um animal, mesmo de umapessoa famosa.Na linguagem de todos os dias, empregamosa palavra modelo, referindo alguém que temas qualidades que outros, em especial os maisnovos, devem tentar imitar. Quando falamosde um aluno estudioso, disciplinado, solidáriocom os colegas, podemos dizer que é um

DICIONÁRIO DE PORTUGUÊS

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Saber não ocupa lugar

aluno-modelo.

Nutrição e mal-nutrição – Nutrição é o actode se alimentar ou o estado de um organismorelativamente ao modo como se temalimentado. A ciência da alimentação chama-se nutricionismo. Nutrir é mais do quealimentar ou fornecer comida, porque é daralimentos de acordo com as necessidades docorpo humano relativas à sua idade, seu peso,estado de saúde, etc. Mal-nutrição é o estadode uma criança ou adulto em risco de vida oude saúde por falta de alimentos, não só emquantidade mas principalmente em qualidade– falta de vitaminas, de proteinas ou de saisminerais que fazem parte de uma alimentaçãoequilibrada, diversificada e saudável.

Opção – é o acto de escolher, decidir entreduas ou mais coisas. A opção é o direito quetodo o indivíduo adulto tem de escolher, dedeterminar qual a acção a executar numa dadasituação que afecta o seu interesse. No actode votar em eleições, o eleitor opta pordeterminado candidato ou partido que acha sero melhor para governar.

Personalidade – o conjunto de qualidades(ou defeitos) que caracterizam uma pessoa, ocarácter que define uma pessoa, a identidadeque a distingue. Quando se diz: A mãe tinhauma personalidade forte, recorda-se umapessoa que era dominante na família, queassumia as responsabilidades e tomava asdecisões. Também se usa a palavra no sentidode pessoa importante, por exemplo:Estiveram presentes diversaspersonalidades da vida económica e social.

Quotidiano – o mesmo que diário, de todosos dias. Emprega-se mais na linguagem escritado que falada. Por exemplo: Deve ensinar-se às crianças o hábito quotidiano de lavara boca e escovar os dentes. As actividadesrecorrentes em cada dia, podem chamar-se astarefas quotidianas.

Racismo e Racialismo – Teoria, jáultrapassada científicamente, que dizia que as

capacidades humanas são determinadas pelaraça. Acreditar que há raças superiores einferiores, é racismo ou racialismo.Antagonismo entre pessoas de raçasdiferentes, também se chama racismo.Chama-se racista a alguém que,sistemáticamente, tem atitudes deantagonismo e hostilidade para com pessoasque não são da sua raça, ou que atribui defeitosou qualidades a outra pessoa na base da raça.

Sevícia – é o mesmo que maus tratos.Espancar ou penalizar uma criança ou qualquerdependente, privando-o de alimentação ouabrigo, é cometer sevícias contra essa criançaou pessoa. É um comportamento desumanoe cruel que atenta contra os direitos humanoselementares e enquadra-se frequentemente naviolência doméstica.

Tabagismo: o hábito de fumar tabaco naforma de cigarros. Por exemplo: Paraproteger a saúde deve combater-se otabagismo.

UNESCO – é a agência das Nações Unidasque trata de assuntos relativos à Ciência, àEducação e à Cultura. Moçambique tem umaComissão para a UNESCO baseada em Maputoonde se coordenam projectos das NaçõesUnidas para estes assuntos.

Verbo, – é a palavra em sentido geral. Verboem sentido estrito, gramatical, é qualquerpalavra usada para indicar acção, estado ouocorrência. Verbal é tudo o que respeita àpalavra. Tem muitas vezes o significado depalavra falada, oral, não escrito. Porexemplo: A criança exprimiu verbalmente,o que sentia, isto é exprimiu por palavras enão por gestos ou chorando.

Xisto, ou chisto – é uma variedade de rocha,de cor castanha, preta ou cinzento-escuro,com valor económico porque é usada comomaterial nobre de construção.

Zarolho – termo popular que designa umapessoa que tem só um olho.

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ambiente animais e plantas

No mês de Novembro celebrou-se o DiaInternacional da Malária. Ouvimos falar nosmeios de comunicação social sobre aquantidade de mortes provocadas nas nossascomunidades por causa da malária; dos diasde trabalho e produção perdidos, por causa damalária; das consultas e internamento nosnossos postos de saúde e hospitais, ocupadoscom pessoas doentes de malária.

A malária consome muitos dos recursoshumanos, materiais e financeiros deMoçambique. E esses recursos fazem faltapara outras situações de saúde como melhorassistência às mulheres grávidas, àsparturientes e aos recém-nascidos.

A malária é uma doença directamenterelacionada com o Ambiente.

Malária evita-se

Muitos países, na Europa por exemplo,tiveram malária no passado, mas erradicaram-na completamente há muitas décadas. Quandoainda havia poucos conhecimentos sobre aorigem, as causas e a cura da malária, sabia-se que ela estava relacionada com os pântanos,os charcos, a água estagnada.

De facto o mosquito adulto põe ovos emlocais húmidos onde as larvas crescem aosmilhões até poderem voar e sair à procura dealimento. O alimento do mosquitotransmissor da malária é o sangue humano. Aopicar uma pessoa cujo sangue tem parasitasdeixados por outros mosquitos em picadasanteriores, o mosquito suga sangue contendoparasitas. E ao picar de novo vai deixar esses

Sobre Mosquitos Águasparadas e MaláriaAmbiente é tudo o que nos rodeia. Nós, os seres humanos, dependemos doAmbiente mas também, mais do que qualquer outro ser vivo, modificamos oAmbiente, de modo positivo e de modo negativo.

parasitas no sangue da última pessoa quepicou.

Assim se gera o círculo vicioso: pessoasdoentes contaminam mosquitos e mosquitoscontaminados contaminam mais pessoas.

Podemos evitar a malária atacando-a emvárias frentes: evitando ser picado, portantocontaminado; tomando medicamentos edestruindo o parasita da malária no nossosangue; e tornando difícil, ou mesmoimpossível a reprodução do mosquito,destruindo o seu habitat que são as águasparadas.

À volta das nossas casas devemos manter ochão completamente seco. Não devemosesperar que o sol seque as poças de águadepois da chuva. Se queremos evitar que elasse transformem em viveiros de mosquitos,devemos cobri-las com areia ou terra seca.

Assim melhoramos o nosso Ambientelimpando-o daquilo que prejudica e destrói anossa saúde.

PLASMODIUM

O Plasmodium é um protozoário. Umprotozoário é um organismo com umasó célula que vive dentro de outrosorganismos.

É o Plasmodium que transmite a Malária.Ele vive no organismo do mosquito ouno organismo do homem. Quando ummosquito portador de Plasmodium picauma pessoa passa o Plasmodium parapessoa e esta adoece com Malária poiso Plasmodium passa a reproduzir-se ea multiplicar-se no corpo do doente.

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AMBIENTE ANIMAIS E PLANTAS

nos num saco de pano para extrair o óleo –mil frutos dão um jarro de óleo.

Para o sabão esmagam-se os abacates bemmaduros sem caroço e passam-se numapeneira de metal. À pasta que sai da peneiramistura-se uma gordura ou óleo de coco eacrescenta-se um pouco de soda cáustica(hidróxido de sódio, que se compra nas lojaspara desentupir canalizações).

A seguir coze-se a pasta em lume fracomexendo bem. Pode-se acrescentar qualqueressência bem cheirosa, para perfumar. Deixa-se a pasta arrefecer e repousar durante duassemanas. E assim se obtem um excelente sabãoque os homens apreciam particularmentecomo sabão de barba.

Electricidade éDesenvolvimento

Que benefícios traz a electrificação de umaaldeia aos seus moradores? Muitos: aelectricidade ligada às casas e locais detrabalho, dá a Luz que permite aproveitarmelhor as horas do dia estudando, trabalhandoem casa ou no gabinete.

Para os que não podem ter electricidade emcasa, há benefícios na iluminação pública, narecarga de pilhas e baterias, na possibilidadede ter acesso a computadores nos chamadostelecentros, na instalação de frigoríficos emestabelecimentos comerciais permitindoconservar produtos alimentares, etc.

Aproveitemos oAbacate

Os abacates são um excelente alimento. Asua polpa oleosa acompanha bem uma saladatemperada com sal. Comida com açucar esumo de limão é sobremesa de luxo!

Mas pode ter outros aproveitamentos. Noano 2000, trinta mulheres de uma aldeia anorte de Nairobi, no Quénia, lançaram a suaindústria artesanal de fabrico de óleo e sabãocom base no abacate. Na época da colheitadeste fruto, nem toda a produção eraconsumida como alimento e grande parte dosfrutos apodreciam e perdiam-se.

Assim, na aldeia de Kathangu, no Quénia,as mulheres colhem abacates ainda verdes paraa produção de óleo, e apanham os demasiadomaduros, caidos no chão, para a produção desabão.

Cortam os frutos meio verdes aospedaços e deixam secar. A seguir prensam-

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HISTÓRIA

Fronteiras de MoçambiqueAs actuais fronteiras de Moçambique – e

de quase todas as nações africanas de hoje –foram traçadas pelas potências coloniais. Paraevitar guerras e conflitos, gerou-se oconsenso entre os movimentos políticosafricanos que no século XX conduziram a lutaanti-colonial, de manter essas mesmasfronteiras após a independência.

Hoje, Moçambique, com os seus 771 125Km quadrados, que se estendem do RioRovuma à Ponta do Ouro, mantem as fronteirasque foram estabelecidas em 1885 naConferência de Berlim, na Alemanha, depoismodificadas na sequência de um acordoforçado pela Inglaterra sobre Portugal em1891. Outros acordos parcelares envolveramtambém a África do Sul.

A fronteira terrestre final estabelecidadepois de todas as negociações no século XIX,acabou por ser a que conhecemos hoje.Moçambique confina com a Tanzania, o Ma-lawi, a Zambia, o Zimbabwe, a África do Sul ea Suazilandia – 6 paises diferentes – tendo asoma destas fronteiras a extensão 3 784 Km.

O autor de “Memória das guerras coloniais”,o jornalista João Paulo Guerra, descreveassim o impacto sobre as nações-tribosvivendo no território moçambicano:

O traçado das fronteiras coloniaistambém interferiu com a organizaçãopolítica, económica e social do território. NoNorte de Moçambique, os Macondes,com uma identidade muitoacentuada e aguerrida, foramseparados pela fronteira traçada aolongo do Rovuma: 188 mil Macondesficaram do lado de Moçambique,340 mil no Tanganica (Tanzaniaactualmente). A fronteira separoutambém os Ajauas, 127 mil dos quaispermaneceram no Niassa, onde seradicaram também 30 mil Nianjasque habitavam as margens do Lago.

O período da Resistênciaà ocupação europeia

Na época do Tratado de Berlim, não existiano território moçambicano nada que separecesse com uma administração portuguesa.Portugal apenas ocupava alguns entrepostosde comércio na costa marítima. No interioras populações continuavam com o seu modotradicional de viver, organizadas em clãsdebaixo da autoridade dos seus chefes.

Havia porém, um pouco por todo oterritório, focos de resistência contra odomínio dos portugueses. Um dos maisorganizados e poderosos focos deresistência nessa época era o Império deGaza, com a capital em Manjacaze. Oterritório do Imperador Gungunhanaestendia-se desde as proximidades da actualcidade de Maputo até ao Rio Zambeze. Oexército de Gungunhana tinha 15 mil homensbem treinados e disciplinados. Alguns delescombatiam com armas de fogo vendidas poreuropeus.

Esta resistência anti-colonial só foi vencidaem 1895 por soldados portuguesescomandados por Mousinho de Albuquerque,após batalhas renhidas que ficaram na históriacomo a de Magude e Coolela.

Mas as tropas de ocupação portuguesas, nãotiveram descanso até pelo menos1920. Havia focos de luta contraa ocupação um pouco por todo oterritório. Só em 1920 osrepresentantes do Reino de Por-tugal da época conseguiram ocupar

uma vasta zona interior, no norte,entre Cabo Delgado e Niassa. Antes

disso tinham imposto a suapresença, entre 1908 e 1912 nas

margens do Lago Niassa e, entre 1902e 1904, em Tete.

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PARA CONTAR ÀS CRIANÇAS

Coelho esperto e vigaristaHá muito, muito tempo, quando os animais

falavam, o Coelho era conhecido como o maisesperto de todos. Mas a esperteza do Coelhoestava junta com desonestidade, como vamosver nesta história.

Nessa época o Leão andava à procura dequem tomasse conta dos filhotes deleenquanto ia à caça. Até que um dia encontrouo Coelho. Cumprimentaram-se e o Leão disseao Coelho que estava com uma grandepreocupação porque não encontrava quem lhetomasse conta dos filhotes. Logo o Coelhose mostrou muito simpático e prometeu queno dia seguinte vinha ajudar o Leão e resolvero problema.

De facto, no dia seguinte o Coelho chegouà casa do Leão e começou logo a trabalhar. OLeão saíu para caçar e o Coelho ficou a brincarcom os leõezinhos. Os leõezinhos estavam ahabituar-se ao Coelho e gostavam muito debrincar com ele todos os dias.

Um dia, andava o Leão por fora a caçar, oCoelho chamou os leõezinhos e disse: “Vamosbrincar à luta uns com os outros. Quem forderrotado vai ser comido por nós todos”.

Os leõezinhos, como eram crianças,aceitaram a proposta. Começaram a lutar atéum deles cair no chão. Os outros, juntamentecom o Coelho, cairam em cima dele ecomeçaram a comê-lo. Nem deixaram osossos.

E assim continuaram com a brincadeiraestúpida que o Coelho tinha ensinado até ficar

só um dos leõezinhos. Este leãozinhocomeçou a lutar com o Coelho e não demorouque o Coelho fosse derrubado no chão peloleãozinho que lutava melhor! Começou entãoa pensar rápidamente e saíu-se com esta:“Então amigo, se me comes quem é que fica atomar conta de ti?”. O leãozinho, inocentecomo era, parou de lutar. O Coelho atirou-selogo a ele e comeu-o!

O Coelho começa logo a pensar noutroesquema. Vai buscar um ramos de espinhosa earranha-se com eles até ficar coberto desangue. Quando o Leão chega a casa diz-lheque foi atacado por macacos que comeramtodos os filhos dele. Ouvindo isto o Leão ficouenraivecido e jurou que ia matar todos osmacacos.

O Coelho diz então ao Leão que se metadentro dum saco enquanto ele vai chamar osmacacos e convencê-los que o saco está cheiode bagas e frutos da floresta.

Os macacos ficam aos pulos de alegriaquando ouvem isto e seguem o coelho até àcasa do Leão. Diante do saco o Coelho diz-lhes: “Esperem vou desatar o saco!”. E quandodesata o saco sai o Leão enraivecido que saltapara cima do grupo dos macacos enquanto oCoelho sai sem ninguém reparar nele. Arrancanuma corrida pelo mato fora e vai à procurade outro a quem enganar.

Porque ele é esperto e rápido, mas muitodesonesto!.

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HUMOR E PASSATEMPO

Sabia Que?

- A cidade mais populosa do Mundo é Tóquio, capital do Japão, que tem 27 milhões dehabitantes? (Maputo tem cerca de 2 milhões e o total da população de Moçambique é de cercade 16 milhões). Tóquio está de tal maneira superpovoada que um trabalhador, em média,viajando em combóios modernos de alta velocidade, gasta 56 minutos de casa para o trabalhoe vice.versa.

- Quem ganhou o Prémio Nobel da Paz este ano foi a Senhora Shirin Ebadim uma juristairaniana ? Até 1979 ela exercia o cargo de Juiz na sua terra mas a revolução islâmica queteve lugar no Irão nesse ano proibiu as mulheres de serem juizes nos tribunais. O PrémioNobel foi-lhe dado em reconhecimento pela sua luta em prol dos direitos humanos.

Encontra os números de que os ratinhos Leónioe Sidónio estão a falar observando osnúmeros que escreveram no quadro.

Eu - diz o Leónio - escrevi 3 vezes um númeromaior que 5 mas menor que 8.

Eu - diz o Sidónio - escrevi 2 vezes um númeromenor que 5 mas maior que 2.

Identifica o antónimo correcto de cada uma das seguintes palavras.

amainar

compraser

divergir

estruturar

travar

granjear

isentar

normar

popularizar

repreender

concordar

deregulamentar

intencificar

elitizar

elogiar

perder

desorganizar

desagradar

obrigar

destravar

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Literatura

Uma escritora do Senegal

A circuncisãoAlém dos meus irmãos viviam na casa vários

primos. O Pai decidiu que seriam todoscircuncisados no mesmo dia. Eram todosmais ou menos da mesma idade, entre os deze os treze anos. Vim a conhecer mais tarderapazes que só fizeram a circuncisão commais de vinte anos, assim guardados paraque pudessem ter consciência do actoconsentido. Era assim nas aldeias eprovávelmente continua a ser ainda nasmesmas condições, tantas vezes mortais, semanestesia, sem desinfecção, sem anti-tetânicos e, naturalmente, sem antibióticos.Por isso havia tantos tétanos, hemorragiase outras infecções.

A “operação” era feita com o homemconsciente e com os sentidos alerta,devendo enfrentar a dor com a maior calmapara provar que é corajoso.

Acompanhei a Vóvó ao mercado paracomprar pano de algodão para costurar ascamisas dos circuncisados. A minha tiaKéwé, irmã mais nova do meu pai que veio

Hoje apresentamos aos nossos leitores e leitoras uma escritora doSenegal, na África Ocidental. Chama-se Nafissatu Dialo e ela própria

se apresenta na introdução ao seu romance “De Tilène ao Planalto”,dizendo:“Não sou uma heroína de romance mas uma simples mulher deste país:

uma mãe de família e uma profissional (parteira e puericulturista) a quemo trabalho de casa e a profissão deixam pouco tempo livre.Na clínica (Centro de Protecção Materno-Infantil em Dacar, capital do

Senegal), depois das horas de trabalho intenso das manhãs, consagradas àscrianças doentes, a consulta dos bébés, à tarde, deixa alguns momentos livres,

que o pessoal consagra à leitura, à costura ou a fazer malha.Há algumas semanas dediquei-me a escrever. E sobre o que escreveria uma mulher

que não pretende ter nem uma imaginação nem um talento especial para escrever? Sobreela mesma, claro. Esta é pois a minha infância e a minha juventude,tal como eu me lembro dessestempos. O Senegal mudou numa geração. Talvez valha a pena recordar aos mais novos o que nósfomos”

viver connosco quando se divorciou, fezos “boubous” com o cinto e o barrete.

Raparam-se as cabeças dos futuroscircuncisados. Na sexta-feira de manhã cedo,os meus primos e eu fomos tirar água à fonteda praça. A Vóvó deu-lhes banho, esfregouos corpos com água benzida e pós variados.Mandou-os cheirar com toda a força fumo deincenso que protege do mau olhado, mandou-os recitar vários versos do Corão e só depoisdisso é que os confiou ao Pai para irem aohospital.

Nós ficámos à espera, tendo preparado jáum dos quartos de visitas. O chão estavacoberto com esteiras. Tinham de dormir nelas,sem colchão; isto era parte da prova dehumildade. A panela enorme reservada aosgrandes acontecimentos, foi trazida. Erapreciso fazer uma refeição abundante paramarcar a data e alimentar os familiares quevieram passar uns dias a nossa casa. Degolou-se o carneiro grande do meu irmão Carimo.Eu não conseguia ficar quieta de tão contente.

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Ficha TécnicaEdição: Associação Progresso Maputo. •Av. Ahmed Sekou Touré, 1957 C. Postal: 2223Telefone: (01) 430485/6 • Fax:(01) 323140, e-mail [email protected] Rua do Cemitério nº109 • C. P. 304 • Tel/Fax:(072) 20934 e-mail [email protected] Rua de Nachingweia Talhão B/50 Quart.-2 Bairro-1 •Tel/Fax: (071) 20417 e-mail [email protected].

Coordenação e redacção: Maria de Lourdes TorcatoIlustração e arranjo gráfico: Benjamim MondlaneImpressão: Minerva Central. Tiragem: 4.500 ExemplaresRegisto de imprensa Nº 015/GABINFO/02 Periodicidade: Trimestral

Literatura

Gostava destas situações de confusão ondeas pessoas crescidas estavam tão ocupadasque se esqueciam de nós.

Perto do meio-dia chegaram eles, vaidososcomo pavões, ostentando o sorriso da vitória.Tinham conseguido aguentar a prova com

coragem e sem deitar uma lágrima. O Paiestava radiante de felicidade. Mandou compraruma grade de refrescos e gelo e nós todosajudámos os circuncisados a bebê-los.

(Traduzido do original em francês de “De Tilène auPlateau”)

ORIENTE

Este lugar amou perdidamenteQuem o cabo rondou do extremo SulE a costa indo seguindo para OrienteViu as ilhas azuis do mar azul

Viu pérolas safiras e coraisE a grande noite parada e transparenteViu cidades nações viu passar genteDe leve passo e gestos musicais

Perfumes e tempero descobriuE danças moduladas por vestidosSedosos flutuantes e compridosE outro nasceu de quanto viu

(1988)

POESIA

Sofia de Mello Breyner é a Poetisa contemporânea mais publicada e com mais prémiosatribuidos, de toda a literatura portuguesa. O mar e as praias são dos temas maisfrequentes nos seus poemas. Hoje o Pangolim traz este poema que, muito metafóricamente,evoca os navegadores que sairam da ponta ocidental da Europa, contornaram a África eforam até à Índia que era até então desconhecida pelos povos europeus.