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8 CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SANIDADE ANIMAL LÍVIA AIRES LISBOA O Papel da BRG1 no Controle Epigenético em Ovários Suínos LONDRINA 2008

O Papel da BRG1 no Controle Epigenético em Ovários Suínos · contribui para que o Brasil possua o terceiro maior rebanho mundial de suínos e alcance expressiva competitividade

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CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SANIDADE ANIMAL LÍVIA AIRES LISBOA

O Papel da BRG1 no Controle Epigenético em

Ovários Suínos

LONDRINA

2008

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Lívia Aires Lisboa

O Papel da BRG1 no Controle Epigenético em

Ovários Suínos

Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Estadual de Londrina como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Medicina Veterinária. Orientador: Marcelo Marcondes Seneda

Lívia Aires Lisboa

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O Papel da BRG1 no Controle Epigenético em Ovários

Suínos

Dissertação de Mestrado

Orientador:Marcelo Marcondes Seneda

COMISSÃO EXAMINADORA

_____________________________________________________

Prof a. Dr a. Evelyn Rabelo Andrade

___________________________________________________________

Prof a. Dr a. Fernanda da Cruz Landim e Alvarenga

___________________________________________________________

Prof. Dr. Marcelo Marcondes Seneda

Londrina, ___ de ______ de 2008.

11

Aos meus pais José Carlos e Marina e a minha irmã Laís.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me capacitar para este trabalho, pelas pessoas que Ele coloca em minha vida e pelo discernimento e sabedoria para resolver os problemas.

12

A minha mamãe Marina pela companhia no laboratório durante a noite, pelas idas ao frigorífico, enfim pelo apoio incondicional e pela participação ativa nesses anos de mestrado.

Ao meu papai José Carlos que nesses anos não poupou ligações e mensagens para diminuir a distância entre nós.

A minha irmã e amiga Laís por sempre corrigir meus trabalhos e

pelo apoio incondicional mesmo quando eu estava errada. A minha vovó Maria Aparecida que é responsável por grande

parte da minha educação.

Ao meu orientador e amigo Prof. Dr. Marcelo Marcondes Seneda por acreditar em mim, pela paciência e compreensão nestes anos.

Aos meus queridos amigos da equipe CENTRA, Fabiana, Evelyn, Wanessa, Kátia, Gustavo, Marilu, Roberta, Augusto, Mariana e Letícia pelo companheirismo, apoio e pela amizade.

As minhas amigas Marilu, Evelyn e Wanessa por não pouparem esforços para colaborar com meu trabalho e com meu bem estar.

Aos meus amigos Thales, Alexandre, Tiago e Mariana pela boa vontade em colaborar e principalmente pela amizade sincera.

À equipe do Laboratório de Virologia por viabilizar a realização do meu trabalho, ao funcionário Paulão por estar sempre tão disposto a ajudar.

Aos residentes de grandes animais por me cederem tantas vezes

o computador para pesquisas. Aos funcionários Beto do frigorífico KM3 e Ju do frigorífico de

Ibiporã pela atenção, boa vontade e por se colocarem sempre à disposição.

A todos que de alguma forma colaboraram para a conclusão

deste trabalho.

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SUMÁRIO

PÁGINA

1. INTRODUÇÃO 08

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 11

2.1. Ovário mamífero 11

2.2. Oogênese 11

2.3. Foliculogênese 14

2.4. Epigenética 17

2.5. Estrutura do nucleossomo mamífero 18

2.6. Modificações epigenéticas 19

2.7. Complexo SWI/SNF – BRG1 21

REFERÊNCIAS 23

3. JUSTIFICATIVA 27

4. OBJETIVOS

4.1. Gerais 28

4.2. Específico 28

5. ARTIGO PARA PUBLICAÇÃO 29

REFERÊNCIAS 46

LEGENDA 50

1. Introdução

14

A reprodução é uma área da ciência que desafia os pesquisadores. Por

representar o início da vida, a possibilidade da compreensão de seus mecanismos

reguladores gera crescentes perspectivas e interesse de diversas áreas.

Neste contexto, os avanços nas biotécnicas associadas à reprodução animal,

têm trazido inegáveis benefícios às medicinas veterinária e humana. Na pecuária

esses avanços resultam no melhor aproveitamento do material genético dos animais

de alto valor zootécnico, otimizando a produção do rebanho nacional. Este fato

contribui para que o Brasil possua o terceiro maior rebanho mundial de suínos e

alcance expressiva competitividade no mercado internacional. Já em relação à

medicina humana, as pesquisas com suínos assumem inestimável importância visto

a semelhança da espécie com o homem. Os suínos, através do uso de biotécnicas

reprodutivas na medicina regenerativa, tais como transgenia e clonagem, podem

fornecer substâncias vitais ao homem, como insulina e hormônio tireoidiano, sendo

ainda a espécie responsável pelos xenotransplantes. Conclui-se assim pela

importância e necessidade do profundo conhecimento da fisiologia reprodutiva desta

espécie.

Um campo fundamental do conhecimento é a fisiologia reprodutiva feminina,

na qual a interação de dois processos, a foliculogênese e a oogênese, origina o

gameta feminino. Apesar do amplo interesse e das muitas pesquisas realizadas,

existem ainda várias lacunas a serem esclarecidas, principalmente quanto à fase

inicial do desenvolvimento folicular, sendo o conhecimento dos mecanismos

reguladores do início da foliculogênese um dos pontos essenciais para o progresso

da ciência. Nesta linha, a epigenética, uma recente área do conhecimento, traz

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promissoras perspectivas para o esclarecimento de aspectos pouco compreendidos

da fisiologia ovariana.

A epigenética consiste no estudo das modificações fenotípicas herdáveis sem

alteração na seqüência do DNA. Os mecanismos epigenéticos regulam a atividade

de transcrição, alterando os padrões de expressão gênica. Relevante contribuição

trouxe o Projeto Genoma Humano, ao revelar que o ser humano e um fungo

possuem quantidades aproximadas de genes, comprovando que a complexidade

biológica não depende do número de genes, mas sim de como esses genes são

usados (expressos), aspecto regulado pela epigenética.

Portanto, os mecanismos epigenéticos são fundamentais, atuando no núcleo

da célula, na estrutura do nucleossomo. Por muito tempo acreditou-se em uma

função apenas estrutural para o nucleossomo, mas recentemente, descobriu-se o

seu papel crucial e dinâmico no controle da expressão gênica. Alguns mecanismos

podem modificar sua estrutura, permitindo ou inibindo o acesso ao DNA, controlando

assim a expressão do código genético. Um exemplo são os complexos

remodeladores de cromatina, que alterando de maneira energia-dependente os

contatos DNA-histona, modificam os padrões de expressão gênica. Há evidências

que a BRG1, uma importante subunidade do complexo remodelador SWI/SNF

participa nos processos de foliculogênese e embriogênese modulando a transcrição;

entretanto o modo de funcionamento destes remodeladores e de suas subunidades

é desconhecido até o momento.

Infere-se do exposto que a epigenética se apresenta como uma inédita e

promissora área de investigação dos mecanismos que regulam a foliculogênese

inicial. Considerando a importância da espécie suína no contexto da biotecnologia

16

reprodutiva, o objetivo deste trabalho foi analisar a presença da BRG1 em folículos

ovarianos em diferentes estágios do desenvolvimento com a finalidade de propor

uma possível função desta proteína no processo da foliculogênese.

17

2. Revisão Bibliográfica

2.1. Ovário mamífero

O ovário mamífero é constituído pelas regiões cortical e medular. A região

cortical contém folículos ovarianos em diferentes estágios de desenvolvimento, bem

como corpos lúteos, albicans e hemorrágicos. A região medular é localizada na

porção mais interna do ovário, com exceção dos eqüídeos, sendo constituída por

tecido conjuntivo, algumas células musculares lisas, nervos, artérias e veias

(Comarck, 1991), responsáveis pela nutrição e sustentação do ovário (Hafez, 1996).

O ovário desempenha funções endócrina e exócrina ou gametogênica. A

primeira é responsável pela produção e liberação de hormônios esteróides e

diversos peptídeos e a segunda, a qual é exercida pela interação de dois

fenômenos, a oogênese e a foliculogênese (Saumande, 1991), é responsável pela

produção e liberação de oócitos (Hafez, 1996).

2.2. Oogênese

A oogênese em mamíferos pode ser definida como uma seqüência de

eventos através dos quais as células germinativas primordiais (CGPs) desenvolvem-

se e diferenciam-se até a formação do oócito haplóide fecundado (Russe, 1983). É

um processo que se inicia na vida fetal e envolve crescimento e diferenciação

celular, assim como síntese e armazenamento de novas organelas (Song et al.,

2006). Vale ressaltar que somente alguns oócitos conseguem completar este

processo, meses ou anos mais tarde no animal adulto, após a fecundação

(Wassarman, 1988).

18

Através de sucessivas divisões mitóticas, as CGPs se multiplicam e originam

grupos de oogônias, conectados entre si por interações citoplasmáticas (van den

Hurk & Zhao, 2005). Em algumas espécies, como ruminantes, roedores, suínos e

primatas, a diferenciação e a multiplicação das oogônias ocorrem ainda no feto em

desenvolvimento, muito antes do parto. Em outras, como carnívoros e lagomorfos,

esses processos se prolongam para o período imediatamente pós-natal (Banks,

1992). Em suínos, o processo de diferenciação das CGPs em oogônias ocorre entre

os dias 33º e 60º de gestação (Oxender et al., 1979; McCoard et al., 2001). Por

volta do 60º dia de gestação ocorre o pico da mitose e a quantidade máxima de

oogônias (Black & Erickson, 1968); estas por sua vez sofrem replicação do DNA,

iniciam a meiose e diferenciam-se em oócitos (van den Hurk & Zhao, 2005).

Os oócitos formados iniciam a primeira divisão meiótica, passando pelos

estágios da prófase I: leptóteno, zigóteno, paquíteno e diplóteno (Hirshfield, 1991). O

estágio de diplóteno também é conhecido como dictioteno ou vesícula germinativa

(Gordon, 1994), e é nesta fase que ocorre a primeira interrupção da meiose (Moore

& Persaud, 1994). Os oócitos cujos núcleos encontram-se em prófase I são

denominados oócitos primários ou imaturos (Figueiredo et al., 2002).

Nestas fases iniciais da meiose, onde várias proteínas de reparo do DNA e

outros fatores são solicitados para a recombinação do cromossomo, os oócitos são

extremamente vulneráveis, resultando na degeneração de muitos deles. Essa perda

de oócitos pode chegar a 60% em suínos (van den Hurk & Zhao, 2005).

O núcleo do oócito permanecerá em prófase I até a puberdade, quando

ondas de hormônio luteinizante estimulam a retomada da meiose (Eppig et al., 2004)

e o núcleo oocitário entra em diacinese (Figueiredo et al, 2002). Neste momento,

19

ocorre o rompimento da vesícula germinativa (VG), seguida das fases de metáfase I,

anáfase I e telófase I, quando então ocorrerá a expulsão do primeiro corpúsculo

polar, resultando na formação do oócito secundário (Betteridge et al., 1989). O

núcleo do oócito começa a segunda divisão meiótica, que avança apenas até a fase

de metáfase II, quando ocorre a segunda parada da meiose (Gordon, 1994). A

divisão somente será retomada caso ocorra a fecundação ou a ativação por

partenogênese, possibilitando assim a expulsão do segundo corpúsculo polar e a

formação do oócito haplóide fecundado (Moore & Persaud, 1994).

Os mecanismos que regulam a oogênese ainda não são esclarecidos, porém

sabe-se que durante o crescimento oocitário ocorrem alterações dinâmicas na

estrutura e função da cromatina, essenciais para o desenvolvimento e capacitação

meiótica do oócito (De La Fuente, 2006). Estudos em camundongos demonstraram

um remodelamento da cromatina durante o crescimento oocitário, onde inicialmente

a cromatina apresentou-se descondensada (NSN, do inglês non-surrounded

nucleolus), no entanto após os processos de crescimento e diferenciação, foi

observada uma alteração na organização nuclear, tornando-a progressivamente

condensada (SN, do inglês surrounded nucleolus) (Debey et al., 1993). Esta

diferença está relacionada com importantes modificações durante a oogênese (De

La Fuente, 2006). Oócitos com a configuração NSN apresentam alto nível de

transcrição, enquanto que a aquisição da configuração SN está associada a uma

repressão global da atividade transcricional in vivo (Miyara et al., 2003). Apesar

destas informações, pouco é conhecido sobre os eventos biológicos envolvidos nas

modificações da estrutura da cromatina durante a oogênese nos oócitos mamíferos

(De La Fuente, 2006).

20

2.3. Foliculogênese

A foliculogênese é um processo que ocorre simultaneamente à oogênese,

quando o oócito está entre as fases de prófase I e metáfase II. Também inicia-se na

vida pré-natal na maioria das espécies e caracteriza-se pela formação, crescimento

e maturação folicular. Este evento origina-se com a formação do folículo primordial e

culmina com o desenvolvimento do folículo pré-ovulatório ou De Graaf (Saumande,

1991; Moore & Persaud, 1994).

De acordo com o grau de evolução, os folículos podem ser divididos em pré-

antrais ou não cavitários e antrais ou cavitários (Hulshof et al., 1994). Os folículos

pré-antrais representam cerca de 90% da população folicular do ovário (Erickson,

1986) e são constituídos pelos folículos primordiais, primários e secundários

(Hulshof et al., 1995; van den Hurk et al., 1997). Os folículos antrais podem ser

classificados como folículos terciários e folículos De Graaf, denominados ainda

maduros ou pré-ovulatórios. É importante salientar que alguns folículos podem ser

ativados e se desenvolverem até o estágio terciário na fase pré-natal, no entanto,

somente na vida pós-natal, sob efeito hormonal, podem atingir o estágio pré-

ovulatório (Fortune, 1994).

Os folículos primordiais são os primeiros a serem formados e os que se

encontram em maior quantidade no ovário, sendo denominados de pool de reserva

(Figueiredo et al., 2002). São caracterizados por um oócito imaturo central

circundando por uma camada de células somáticas planas, conhecidas como células

da pré-granulosa, originárias do mesoderma. Os folículos permanecem neste

estágio de quiescência até a ativação folicular, quando é dada continuidade ao

desenvolvimento.

21

A ativação folicular consiste na transição do folículo primordial para primário,

e é caracterizada por três eventos principais: mudanças na forma das células da

granulosa de plana para cúbica, proliferação destas células e aumento de tamanho

do oócito (Hirshfield, 1991). Há vários aspectos a serem esclarecidos sobre este

mecanismo, no entanto é possível que fatores que estimulam a proliferação das

células da granulosa sejam prováveis promotores da ativação folicular (Fair, 2003).

Como descrito acima, após ativação são formados os folículos primários, que

consistem em um oócito circundado por uma camada de células cubóides. Nesta

classe folicular, as células da granulosa aumentam de número e tornam-se mais

volumosas (van den Hurk, 1997). Outro evento marcante é a expressão gênica para

a síntese de proteínas para a formação da zona pelúcida, estrutura ao redor do

oócito mantida por todo desenvolvimento (Seneda & Bordingon, 2007). As

informações sobre a ativação e o crescimento folicular são escassas, contudo,

admite-se para a fase inicial do crescimento, uma ação predominantemente local e

de vários fatores de crescimento, como o Kit Ligand (Parrot & Skinner, 1999), GDF-9

(Vitt et al., 2000), bFGF (Nilsson et al., 2001) e LIF (Nilsson et al., 2002).

A próxima etapa são os folículos secundários, formados por proliferação das

células da granulosa, sendo caracterizados por uma ou mais camadas de células ao

redor do oócito. Nestes folículos o tamanho do oócito aumenta, a zona pelúcida já

pode ser observada e nos mais desenvolvidos é possível observar células tecais.

Durante o processo de formação do folículo secundário, alguns marcadores têm sido

reportados como de grande importância, tais como ativina– A (Zhao et al., 2001),

EGF (Gutierrez et al., 2000) e BMP-15 (Juengel et al., 2002).

22

A etapa seguinte do desenvolvimento consiste no folículo terciário, cuja

principal característica é a formação do antro, uma cavidade repleta de líquido.

Ocorre também a multiplicação das camadas da granulosa e a organização

completa das células da teca. Nesta etapa a ação gonadotrófica já pode ser

detectada, sendo então iniciados os efeitos amplos do FSH e LH (van den Hurk et

al., 2000). Alguns marcadores, como ativina – A e sua proteína de ligação -

folistatina - foram identificados desde o estágio de folículo primordial até grandes

folículos antrais (Silva et al., 2004). Com a evolução dos folículos terciários, a

cavidade antral aumenta e o oócito fica aderido à parede do folículo pelas células do

cumulus, originando o folículo pré-ovulatório que corresponde a fase final do

desenvolvimento folicular (Hulshof et al., 1994).

Durante a foliculogênese, as células dos folículos ovarianos sofrem intensa

proliferação e diferenciação desde o momento da ativação do folículo primordial até

alcançarem capacidade ovulatória (Ruiz-Cortez et al., 2005). Admite-se um

programa coordenado entre elementos genômicos e epigenéticos regulando o

complexo processo da foliculogênese em ovários mamíferos (Ruiz-Cortez et al.,

2005).

Apesar do interesse crescente, pouco se sabe sobre os mecanismos que

regulam a foliculogênese, principalmente no que se refere à fase inicial do

desenvolvimento folicular. Com o objetivo de auxiliar na elucidação destes

mecanismos, áreas recentes do conhecimento, como a epigenética, começam a

trazer perspectivas promissoras (Seneda & Bordignon, 2007).

23

2.4. Epigenética

O termo “epigenética” refere-se ao estudo das modificações fenotípicas

herdáveis sem alterações na seqüência do DNA. Conforme alterações bioquímicas,

a mobilidade do nucleossomo pode ser alterada pela modificação na interação do

DNA com as histonas, permitindo assim uma importante mudança na capacidade de

expressão do código genético (Seneda & Bordignon, 2007).

Os processos epigenéticos são naturais e essenciais para muitas funções do

organismo, porém se ocorrerem inadequadamente podem ter efeitos adversos na

saúde e no comportamento (Weinhold, 2006). Agentes como metais pesados,

pesticidas, hormônios, vírus, bactérias entre outros podem gerar alterações

bioquímicas na cromatina, interferindo na expressão de certos genes, podendo levar

a disfunções respiratórias, reprodutivas e a vários tipos de câncer. Essas

modificações epigenéticas podem ser transmitidas por até quatro gerações

(Weinhold, 2006), evidenciando assim a importância da epigenética no processo

evolutivo.

2.5. Estrutura do nucleossomo mamífero

No núcleo dos eucariotos, a cromatina carrega não somente informação

genética codificada pelo DNA, mas também informação epigenética carreada pelas

histonas na forma de modificações covalentes reversíveis (Mellor, 2006).

O nucleossomo é a unidade estrutural fundamental da cromatina e consiste

de aproximadamente 146 pares de bases de DNA arranjados ao redor de um

octâmero de proteínas denominadas histonas (figura 1). Este octâmero é formado

por duas cópias de cada uma das quatro histonas centrais, H2A, H2B, H3 e H4

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(Trotter & Archer, 2007) e uma histona de conexão denominada H1, que delimita o

local onde o DNA entra e deixa o nucleossomo, concluindo assim duas voltas de

DNA ao redor das histonas (Kamakaka & Biggins, 2005). Por muito tempo,

acreditou-se em uma função apenas estrutural do nucleossomo, uma maneira da

célula realizar o empacotamento da longa fita do DNA, para permitir a condensação

e organização do mesmo no núcleo da célula (Cosgrove & Wolberger, 2005).

Recentemente, descobriu-se o papel crucial e dinâmico do nucleossomo no controle

da expressão gênica. Conforme alterações bioquímicas, a interação do DNA com as

histonas pode variar, permitindo assim uma importante modificação na capacidade

de expressão do código genético (Seneda & Bordingnon, 2007).

As histonas são constituídas por um domínio globular e por uma estrutura

indefinida denominada cauda. Ambas as estruturas são alvos de modificações pós-

translacionais que estão relacionadas com estados distintos da cromatina, os quais

regulam o acesso ao DNA (Cosgrove et al., 2004). Dessa acessibilidade ao DNA

depende o controle da transcrição e expressão gênica. Uma alta mobilidade do

nucleossomo é necessária para desestabilizar a fibra da cromatina e assim

aumentar a acessibilidade ao DNA, enquanto uma baixa mobilidade do nucleossomo

está presente na estabilização da cromatina, diminuindo assim o acesso ao DNA

(Cosgrove et al., 2004). A mobilidade do nucleossomo é regulada por mecanismos

epigenéticos.

25

Figura 1: estrutura do nucleossomo, DNA envolto no octâmero (em verde) de histonas H2A, H2B, H3 e H4 e H1, histona de conexão.

2.6. Modificações epigenéticas

É bem estabelecido que modificações epigenéticas nas histonas regulam a

estrutura da cromatina e consequentemente a expressão gênica. No entanto há

diferentes mecanismos que podem modular a cromatina, são eles: metilação do

DNA, modificações covalentes nas histonas e fatores remodeladores da cromatina

energia-dependente.

A metilação do DNA consiste na adição de uma radical metil à base citosina

na fita de DNA. Este processo está relacionado com a repressão da transcrição por

impedir o acesso ao DNA no local da reação e é importante na repressão gênica de

mamíferos e plantas, embora não ocorra em alguns eucariotos como leveduras e

Caenorhabditis elegans (Bird, 2002)

As modificações covalentes são mediadas por enzimas e consistem na adição

ou remoção de grupos químicos capazes de interferir na coesão do DNA com as

26

histonas, basicamente por modificações de cargas elétricas (Seneda & Bordignon,

2007). As proteínas histonas são alvos de muitas modificações pós-translacionais,

incluindo metilação, fosforilação, acetilação e ubiquitinização (Zhang, 2001). Essas

reações são predominantemente reversíveis, constituindo assim uma maneira

dinâmica de facilitar ou reprimir a ação do DNA (Mellor 2006).

Os remodeladores da cromatina consistem em complexos protéicos que

utilizam energia da hidrólise do ATP para alterar a posição do nucleossomo no DNA,

conduzindo à ativação ou repressão da transcrição (Cosgrove et al., 2004). Os

eucariotos contêm pelo menos cinco famílias de remodeladores de cromatina:

SWI/SNF, ISWI, NURD/Mi-2, INO80 e SWR1 (Saha et al., 2006). O complexo

SWI/SNF e suas subunidades são objetos de muito interesse.

2.7. Complexo SWI/SNF – BRG1

O complexo remodelador de cromatina SWI/SNF é um complexo proteico

ATP-dependente e está envolvido em aspectos críticos do crescimento celular e

estabilidade do genoma (Kadam & Emerson, 2003). Possui massa molecular de 1

MDa e consiste de aproximadamente nove subunidades, embora essa composição

possa variar nos diferentes tipos celulares (Mohrmann & Verrijzer, 2005). Foi

primeiramente identificado em leveduras e é altamente conservado entre os

eucariotos (Peterson & Workman, 2000). Este complexo tem um papel importante no

controle da expressão gênica, de uma maneira energia-dependente ele altera a

estrutura do nucleossomo por modificar a interação DNA-histona, influenciando a

atividade transcricional, podendo esta ser ativada ou reprimida.

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A BRG1 (brahma related gene 1) é uma importante subunidade da família

SWI/SNF. A função exata desta proteína é desconhecida, entretanto estudos

mostram que ela está envolvida na ativação do genoma embrionário (AGE) e é um

marcador da qualidade oocitária e embrionária. Oócitos com a expressão da BRG1

inativada completaram a meiose e foram fecundados, porém houve bloqueio dos

embriões no estágio de 2 células e redução de 30% na trasncrição dos genes

(Bultman et al., 2006). A ausência da expressão da BRG1 foi associada à letalidade

embrionária precoce (Bultman et al., 2000).

Um estudo analisou a expressão desta proteína em diferentes tecidos

humanos saudáveis e constatou que a expressão da BRG1 foi predominantemente

vista em tipos celulares que sofrem constante proliferação e auto-renovação como

células das criptas intestinais, epitélio da bexiga e espermatogônias (Reisman et

al.,2005). Sabe-se que durante o crescimento folicular ocorre intensa proliferação,

requerendo assim uma investigação mais detalhada sobre a função desta proteína

durante o desenvolvimento folicular.

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Referências

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32

3. Justificativa

A foliculogênese é um universo a ser explorado. Apesar dos extraordinários

avanços verificados nos últimos anos, ainda há várias lacunas para uma perfeita

compreensão do processo de crescimento folicular, especialmente na fase pré-

antral. A fim de auxiliar nesse entendimento, a epigenética se apresenta como uma

promissora área do conhecimento. Os complexos remodeladores de cromatina

regulam a transcrição por alterar a interação DNA-histonas no nucleossomo. Um

importante complexo é o SWI/SNF, composto por várias subunidades protéicas,

entre elas a BRG1. A função da BRG1 ainda é desconhecida, porém há evidências

do seu envolvimento na oogênese, foliculogênese e embriogênese. O

esclarecimento da função e/ou modo de ação desta subunidade durante o

crescimento folicular auxiliará na compreensão dos mecanismos regulatórios da

foliculogênese, desconhecidos até o momento.

33

4. Objetivos

4.1. Gerais:

• Considerar modificações epigenéticas de remodeladores de cromatina

no desenvolvimento folicular

• Auxiliar na elucidação de mecanismos envolvidos na

foliculogênese, ainda pouco compreendidos.

4.2. Específico:

• Pesquisar a imunolocalização da BRG1 em folículos primários,

secundários, terciários e antrais na espécie suína

34

5. Artigo para publicação

O Papel da BRG1 no Controle Epigenético em

Ovários Suínos

35

Resumo

Durante o crescimento folicular e oocitário ocorrem alterações dinâmicas na

estrutura da cromatina e conseqüentemente na expressão gênica. Estas

modificações são reguladas por mecanismos epigenéticos capazes de modificar a

estrutura do nucleossomo através de reações bioquímicas, influenciando assim a

expressão do DNA. Os remodeladores de cromatina alteram as interações DNA-

histonas, influenciando a atividade transcricional, por facilitar ou inibir o acesso ao

DNA. Uma família importante de remodeladores é o complexo SWI/SNF, composto

por várias subunidades protéicas, entre elas a BRG1. Nosso objetivo foi analisar os

padrões de expressão da BRG1 em diferentes estágios do desenvolvimento

folicular. Para tal, ovários de marrãs (n=10) foram coletados imediatamente após a

evisceração e então lavados duas vezes em PBS resfriado. Os ovários foram

divididos em fragmentos de aproximadamente 8x8x8 mm e homogeneizados por

agitação constante em solução de paraformaldeído 4% em temperatura de 4°C por

12 h. Os fragmentos ovarianos foram posteriormente lavados três vezes em PBS a

4°C e imediatamente transferidos para álcool 70% para posterior processamento

para imunofluorescência. Os tecidos foram inclusos em parafina e seccionados

utilizando protocolos histológicos padrão. Para a imunofluorescência, as amostras

foram desparafinizadas e reidratadas por três passagens sucessivas em etanol.

Após lavar em PBS-Brij, a recuperação antigênica foi realizada pela incubação em

tampão citrato de sódio por 5 minutos em uma panela de pressão.

Subseqüentemente, as seções foram bloqueadas por 1 h com soro total caprino e

então incubadas com anticorpo policlonal anti-BRG1 produzido em coelho (1/200) ou

com IgG de coelho não imunizado (controle) na mesma concentração dos anticorpos

primários, durante 12 horas a 4°C.Os anticorpos primários foram identificados

36

utilizando-se AlexaFluor 594-anti IgG de coelho na diluição 1/1000. As células foram

contracoradas com DAPI. Sinais de imunofluorescência foram mensurados em

microscópio Nikon eclipse 80i. Sinais positivos para BRG1 foram detectados em

todas as amostras analisadas. Nos folículos primários a proteína foi encontrada

apenas no núcleo do oócito, no entanto conforme o desenvolvimento folicular foi

identificado a expressão da BRG1 nas células da granulosa e nas células da teca,

em um padrão bem definido conforme a proximidade das células em relação ao

oócito. Estes resultados sugerem uma participação importante da BRG1 no

processo de crescimento folicular, possivelmente modulando a proliferação das

células da granulosa e da teca, além de todo crescimento e maturação do oócito.

Palavras-chave: BRG1, oócito, foliculogênese, complexo SWI/SNF, suínos

37

Abstract

Dynamic changes in chromatin structure and gene expression occur during follicular

and oocyte growth. Epigenetic mechanisms regulate these changes through

biochemical reactions that modify the nucleosome structure, and consequently

affecting DNA expression. Chromatin remodelers that alter DNA-histones interactions

can influence transcriptional activity by facilitating or repressing DNA access. The

SWI/SNF complex represents an important chromatin remodeling family, which

comprises many proteins subunits including the BRG1 (brahma-related gene 1). Our

aim in this study was to analyze BRG1 expression patterns in different stages of

follicular development. Ovaries (n=10) were collected from pre-pubertal gilts

immediately after evisceration and then rinsed twice in cold PBS. Ovarian fragments

of 8x8x8 mm were cut and placed into a 4% paraformaldehyde solution at 4˚C for 12

hours. Ovarian fragments were then washed three times in PBS at 4˚C and

transferred to 70% Ethanol. Tissues were processed for embedding in paraffin, and

sectioned using standard histological protocols. For immunofluorescence, samples

were deparaffinized and rehydrated through three changes of alcohol. After washing

in PBS-Brij, antigen retrieval was performed by incubating the tissue sections in

sodium citrate buffer for 5 min in a pressure cooker. Sections were subsequently

blocked for 1 h with normal goat serum and then incubated with primary antibodies,

polyclonal rabbit anti-BRG1 (1/200) or control rabbit IgG at the same concentration,

overnight at 4 degrees. Primary antibodies were detected using Alexa Fluor 594-anti-

rabbit 1/1000 diluted secondary antibody. Cells were counterstained with DAPI.

Immunofluorescence signals were evaluated using a Nikon eclipse 80i microscope.

Positive fluorescent signal for BRG1 was detected in all analyzed samples. In

primary follicles, the protein was detected only in the oocyte nucleus. However, in

38

growing follicles, BRG1 was identified in granulosa and theca cells in a well defined

pattern according to the proximity of the cells from the oocyte. These results suggest

an important participation of BRG1 in the regulation of follicular growth, probably

modulating granulosa and theca cells proliferation, as well as oocyte growth and

maturation

Key-words: BRG1, oocyte, folliculogenesis, SWI/SNF complex, porcine

39

Introdução

O ovário mamífero é responsável pela produção de oócitos aptos para

fecundação e pela produção de hormônios esteróides essenciais à fecundação e

prenhez (Seneda et al., 2008). Os oócitos encontram-se inclusos em folículos, os

quais são responsáveis pela manutenção da viabilidade, bem como crescimento e

maturação oocitária (Figueiredo et al., 2002). Os primeiros folículos a serem

formados no ovário são denominados primordiais, nos quais o oócito é envolvido por

uma camada de células somáticas denominada células da pré-granulosa. Após a

formação, componentes do folículo primordial são mantidos em um estado de

quiescência, sendo o oócito mantido em prófase I da meiose, enquanto as células da

pré-granulosa permanecem na fase G-Zero do ciclo celular (Pepin et al., 2007). Essa

quiescência permanece até a ativação do folículo primordial, caracterizada pela

mudança na forma das células da granulosa e pela proliferação das mesmas (Braw-

Tal & Yossefi, 1997). A ativação ainda não é totalmente compreendida, mas admite-

se os fatores de proliferação celular como prováveis promotores deste processo

(Fair, 2003). Em relação à expressão gênica, a transição do folículo primordial para

o primário é a fase de maior incidência de alterações na expressão dos genes,

quando comparada com todas as outras fases do desenvolvimento folicular (Pan et

al., 2005).

Uma vez ativados, os folículos passam pelos estágios primário, secundário,

terciário e antral. Admite-se para a fase inicial do crescimento folicular, uma ação

predominantemente local e de vários fatores de crescimento, como o Kit Ligand

(Parrot & Skinner, 1999), GDF-9 (Vitt et al., 2000), bFGF (Nilsson et al., 2001) e LIF

(Nilsson et al., 2002). Sinalizações entre o oócito e as células da granulosa têm se

40

mostrado como uma chave regulatória na transição do folículo primário para

secundário e antral, e membros da família TGFB são requeridos para esta transição

(Pangas & Matzuk, 2004). Os oócitos tornam-se competentes para retomar a meiose

durante o estágio final de desenvolvimento do folículo antral (Eppig et al., 1992),

fase estimulada por ondas de hormônio luteinizante (LH). Uma vez retomada a

meiose, os oócitos progredirão até a fase de metáfase II, quando ocorrerá a

segunda interrupção da divisão. A meiose somente será retomada caso ocorra a

fecundação, possibilitando assim a formação do oócito haplóide fecundado (Moore &

Persaud, 1994).

Apesar da foliculogênese ser objeto de grande interesse de pesquisadores,

vários mecanismos envolvidos no processo de ativação folicular e oocitário

permanecem obscuros, mas admite-se um programa coordenado de elementos

genômicos e epigenômicos regulando o complexo processo da foliculogênese nos

ovários mamíferos (Ruiz-Cortez et al, 2005). Estudos recentes mostraram o

crescimento oocitário durante as mudanças dinâmicas na estrutura e função da

cromatina, essenciais para conferir maturação e competência meiótica ao oócito (

De La Fuente, 2006).

Nos eucariotos, a infomação genética é armazenada em um polímero

dinâmico denominado cromatina, composta pela associação do DNA com proteínas

chamadas histonas (H1, H2A, H2B, H3 e H4). A unidade estrutural fundamental da

cromatina é o nucleossomo, constítuido por 146 pares de bases do DNA arranjados

ao redor destas histonas (Trotter e Archer, 2007). O controle transcricional da

expressão gênica depende crucialmente da acessibilidade do DNA, a qual é

epigeneticamente regulada por modificações nas histonas (Narlikar et al., 2000). O

41

remodelamento da cromatina é uma forma de modificação epigenética capaz de

regular a transcriçao por alterar a organização do nucleossomo, facilitando ou

restringindo o acesso ao DNA, determinando assim a ativação ou repressão,

respectivamente, da transcrição. Os complexos remodeladores da cromatina

realizam atividades enzimáticas, modificando a estrutura da cromatina por alterar o

contato DNA-histonas com o nucleossomo de uma forma ATP dependente (Martens

& Winston, 2003).

Os eucariotos contém pelo menos cinco famílias de remodeladores de

cromatina : SWI/SNF, ISWI, NURD/Mi-2, INO80 e SWR1 (Saha et al, 2006). O

complexo SWI/SNF é um dos mais estudados e é composto por multisubunidades (7

a 13 subunidades) reguladoras da expressão gênica por remodelamento da

estrutura da cromatina através de elementos promotores e regulatórios ( Knott et al.,

2006). A proteína BRG1 (brahma related gene) é uma importante subunidade

ATPase deste complexo. Sua exata função não é conhecida, no entando sabe-se

que ela se liga a outras proteínas, glicocorticóides (Inayoshi et al., 2005) e

receptores de estrógeno (Ichinose et al., 1997). A expressão da BRG1 em oócitos

(Bultman et al., 2000) e embriões (Bultman et al, 2006) de camundongos evidenciam

a participação desta proteína na foliculogênese e embriogênese, embora pouco

tenha sido relatado a respeito. Oócitos de fêmeas que sofreram mutação para anular

a expressão da BRG1 completaram a meiose e foram fecundados, porém os

embriões concebidos destes óvulos exibiram problemas na ativação do genoma

embrionáio e o desenvolvimento dos mesmos foi interrompido no estágio de 2 a 4

células com a atividade transcricional reduzida em 30% dos genes (Bultman et al,

2006).

42

Considerando as evidências da participação da BRG1 na foliculogênese, bem

como a importância das modificações epigenéticas na organização da cromatina e

expressão gênica, objetivou-se neste trabalho pesquisar a presença da BRG1 nas

diferentes fases do denvolvimento folicular. A partir de ovários suínos submetidos à

imunofluorescência, foram analisados folículos primários, secundários, terciários e

antrais, bem como os oócitos neles inclusos.

Material e métodos

Ovários de marrãs foram coletados em abatedouros imediatamente após a

evisceração. Logo após a coleta, os ovários foram lavados duas vezes em PBS

resfriado, divididos em fragmentos de aproximadamente 8x8x8 mm e

homogeneizados por agitação constante em solução de paraformaldeído 4% em

temperatura de 4°C por 12 h. Os fragmentos ovarianos foram posteriormente

lavados três vezes em PBS a 4°C e imediatamente transferidos para álcool 70%. Foi

utilizado protocolo histológico padrão, no qual os tecidos foram desidratados em

diferentes concentrações de álcool, diafanizados em Citrisolve (Fisher Scientific

Canadá, Ottawa, Ontario), incluídos em parafina e seccionados seriadamente à

espessura de 3 µm. Nesses cortes foi realizada a técnica de imunofluorescência.

Imunofluorescência

Os fragmentos ovarianos foram desparafinizados com Citrisolve (Fisher

Scientific Canadá, Ottawa, Ontario) e reidratados por três passagens sucessivas em

43

etanol. Após lavar em PBS-Brij (tampão fosfato salina [PBS] com 0,03% de Brij 35)

por 10 minutos, a recuperação antigênica foi realizada pela incubação em tampão

citrato de sódio por 5 minutos em uma panela de pressão. As secções foram

resfriadas à temperatura ambiente e, em seguida, lavadas três vezes em PBS-Brij.

Subseqüentemente, as seções foram bloqueadas por 1 h em PBS-Brij com 10% de

soro total caprino e albumina sérica bovina 2,5% e então incubadas com anticorpo

policlonal, produzido em coelho, anti-BRG1 (Abcam Inc., Cambridge, MA; ab8895,

1/200). O controle negativo foi realizado utilizando IgG de coelho não imunizado

(Jackson Immunoresearch Laboratórios, PA) na mesma diluição dos anticorpos

primários. A incubação com o anticorpo primário foi realizada sob agitação por 12 h

a 4°C. Os anticorpos primários foram detectados utilizando-se AlexaFluor 594-anti-

IgG de coelho (Molecular Probes Inc., Eugene, OR) na diluição 1/1000. As células

foram contracoradas com 4',6-Diamidino-2-fenilindol (DAPI). Sinais de

imunofluorescência foram mensurados em microscópio Nikon eclipse 80i e as

imagens capturadas em sistema de fotodocumentação digital.

Resultados

Através de análise de imunofluorescência realizada em ovários de porcas pré-

púberes, foi analisada a presença da proteína BGR1, uma subunidade do complexo

remodelador da cromatina SWI/SFN, em folículos primários, secundários, terciários e

antrais. Sinais de imunofluorescência positivos para BGR1 foram expressos em

todas as amostras analisadas (figura 1), sugerindo assim um envolvimento da

proteína com o desenvolvimento folicular. Nos folículos primários a BRG1 esteve

presente apenas no núcleo do oócito, no entanto a expressão da mesma foi

evidenciada nas células da granulosa nas próximas etapas do desenvolvimento. Nos

44

folículos secundários, além do núcleo, houve expressão da BRG1 também nas

células da granulosa próximas ao oócito. Nesta etapa de desenvolvimento, o folículo

é uma estrutura mais compacta e não há muito espaço entre o folículo e oócito. Já o

folículo terciário é caracterizado pelo início da formação cavidade antral e pela

completa organização das células da teca, dividas em teca interna e externa. Neste

estágio, o contato oócito-granulosa começa a diminuir, pois o espaço central começa

a ser preenchido pelo fluído folicular. Nesta fase observamos a expressão da BRG1

nas células da granulosa mais próximas às células tecais e também no núcleo do

oócito. Nos folículos antrais, a BRG1 além de presente no núcleo do oócito, também

foi observada nas células da granulosa e nas células tecais. É importante informar

que folículos primordiais não foram analisados por não apresentarem marcação para

BRG1.

Discussão

Em todas as classes foliculares analisadas foram observados sinais de

imunofluorescência positivos para a expressão da BRG1, sugerindo o envolvimento

desta subunidade do complexo SWI/SNF no processo da foliculogênese.

O desenvolvimento folicular é um processo lento, o período do início do

crescimento do folículo primordial até o estágio de folículo pré-ovulatório leva quatro

meses em suínos (Morbek et al, 1992), e as células do folículo ovariano sofrem

intensa proliferação e diferenciação (Ruiz-Cortez et al, 2005). O complexo SWI/SNF

parece estar envolvido nestes dois processos, a BRM (proteína brama), uma das

subunidades deste complexo, foi relacionada com a diferenciação celular, pois seus

níveis aumentaram durante o processo de diferenciação de hepatócitos e células

neurais (Itoh et al, 2008). Já a BRG1, parece ter maior envolvimento com a

45

proliferação celular, pois sua expressão foi predominantemente vista em tecidos em

constante proliferação ou auto-renovação, como células das criptas intestinais,

epitélio da bexiga e espermatogônias (Reisman et al., 2005). Estas informações

podem sugerir uma função para a BRG1 durante a foliculogênese no processo de

proliferação das células da granulosa.

Para o sucesso do desenvolvimento folicular é necessária a ativação dos

folículos primordiais. As mudanças na expressão gênica durante a transição de

folículo primordial para folículo primário têm sido considerado o evento mais

complexo da foliculogênese, pela intensa reorganização da estrutura folicular e início

do crescimento e desenvolvimento (Pan et al, 2005). No entanto, as mudanças na

estrutura da cromatina, quando ocorre ativação da BRG1, são pobremente

caracterizadas durante essa transição (Pan et al, 2005). Em nosso trabalho a BRG1

apareceu somente no núcleo do oócito de folículos primários e só depois, nas fases

subseqüentes do desenvolvimento é que sua expressão se expande, sendo evidente

também nas células da granulosa, sugerindo que esta proteína começa a participar

da foliculogênese após a ativação dos folículos primordiais, que não apresentaram

marcação.

Após ativação, os folículos primários iniciam a fase de crescimento, cujos

mecanismos regulatórios são pouco esclarecidos, porém um papel crucial do oócito

tem sido demonstrado (Eppig, 2001). O desenvolvimento folicular inicial parece ser

dependente de fatores secretados pelo próprio oócito, como GDF-9 (fator-9 de

crescimento e diferenciação) e BMP-15/GDF-9B (proteína-15 óssea morfogenética)

(Carabatsos et al., 1998; Galloway et al., 2000). Vale ressaltar que a BRG1 esteve

46

presente nos oócitos de todos folículos analisados, demonstrando assim a sua

participação no desenvolvimento folicular por meio da atividade regulatória do oócito.

O processo de transição do folículo primário para secundário é marcado por

proliferação das células da granulosa e aumento do oócito. Alguns marcadores têm

sido reportados como de grande importância para a formação do folículo secundário,

tais como ativina-A (Zhao et al., 2001), EGF (Gutierrez et al., 2000) e BMP-15

(Juengel et al., 2002). Neste estágio a zona pelúcida já pode ser evidenciada, as

células tecais começam a se organizar e os folículos parecem começar a responder

às gonodatrofinas (Fair, 2003). No folículo secundário as células da granulosa

adquirem capacidade proliferativa e em nossos resultados, é nesta fase que foi

observado o início da expressão da BRG1 na granulosa, reforçando a idéia de um

possível papel desta proteína na regulação da proliferação das células da granulosa.

A etapa seguinte do desenvolvimento consiste no folículo terciário, cuja

principal característica é o início da formação do antro. As camadas da granulosa se

multiplicam e as células da teca se organizam completamente em teca externa e

interna (Driancourt, 1991). Nesta etapa, a ação gonadotrófica já pode ser detectada,

sendo então iniciados os efeitos amplos do FSH e LH (van den Hurk et al, 2000).

Quanto à expressão da BRG1, a localização nas células da granulosa diferiu dos

folículos secundários, sendo sua expressão evidente nas células da granulosa

próximas às células da teca. Considerando-se a intensa participação interativa entre

as células da teca e da granulosa para a esteroidogênese, admite-se uma possível

atividade da BRG1 neste processo, principalmente pelo fato de já se ter

demonstrado o vínculo da BRG1 com receptores de estrógeno (Ichinose et al.,

1997).

47

Nos folículos antrais, a cavidade antral aumenta muito e o oócito fica preso à

granulosa pelas células do cumulus. Sabe-se que o progresso através dos

sucessivos estágios da foliculogênese é dependente de uma efetiva comunicação

do oócito com as células da granulosa e da granulosa com as células da teca

(Knight & Glister, 2003). A BRG1 esteve presente no oócito, na granulosa e nas

células da teca. Considerando-se as dinâmicas modificações morfo-funcionais nesta

etapa do desenvolvimento folicular, sugere-se uma participação efetiva da BRG1 de

maneira bastante ampla. A BRG1 pode exercer funções distintas nas diferentes

estruturas, podendo atuar na regulação da transcrição no oócito, na proliferação

celular nas células da granulosa e da teca, além do possível envolvimento na

esteroidogênese. Contudo estas informações ainda devem ser melhor investigadas.

Dentre as histonas com atividades importantes na foliculogênese, destaca-se

a histona H3. A fosforilação da serina 10 da histona H3 foi relacionada com atividade

transcricional favorável ao processo de divisão celular (Hans e Dimitrov, 2001). Por

sua vez, esta modificação da H3 apresentou-se vinculada à ação tanto do FSH

como do estradiol, durante o período pré-ovulatório, comprovando a estreita relação

desta alteração na cromatina com a regulação do crescimento folicular (Ruiz-Cortés

et al., 2005). Ainda da H3, a lisina 4 (K4), tem despertado o interesse dos

pesquisadores. A H3K4 e a enzima reguladora da sua metilação – Lysine Specific

Demethylase 1 (LSD1) – parecem exercer um papel central no comando da

expressão gênica de gametas, tanto em organismos mais simples, como a

Drosophila (Di Stefano et al., 2007), como também nos mamíferos (Godmann et al.,

2007). Ao longo do desenvolvimento folicular, demonstrou-se uma distribuição

específica da H3K4 mono, di e tri-metilada, com presença bem definida em folículos

48

antrais e um surpreendente e progressivo decréscimo com a proximidade da

ovulação (Seneda et al., 2008).

Uma associação da H3K4 com a BRG1 foi apresentada por Bultman et al.

(2002). Durante a ativação do genoma de embriões oriundos de oócitos de

camundongas com depleção do gene BRG1, houve um decréscimo na expressão da

H3K4 dimetilada. Esses autores demonstraram uma redução de aproximadamente

61% de expressão da H3K4 dimetilada, quando em comparação com embriões

originados de camundongas normais. Comparando a modulação da BRG1 nas

diversas categorias foliculares do presente trabalho com os resultados de H3K4

mono, di e trimetilada obtidos por Seneda et al. (2008), constata-se identidade de

expressão entre BRG1 e H3K4 em folículos ovarianos. Os oócitos dos folículos

primários, secundários e terciários apresentaram marcação tanto para H3K4 mono,

di e trimetilada como para BRG1, porém nas células da granulosa apenas a BRG1

foi expressa. Já em folículos antrais, todas as formas de metilação da H3K4 foram

identificadas (Seneda et al., 2008) em oócitos, células da granulosa e da teca,

situação idêntica à observada no presente trabalho para a BRG1. Estes resultados

evidenciam uma relação entre esses marcadores, no entanto mais estudos são

necessários para afirmar uma possível função correlacionada entre BRG1 e H3K4.

O fato de se ter identificado a BRG1 em oócitos desde as fases iniciais do

crescimento folicular, atesta a ativa participação deste gene a partir do começo do

crescimento oocitário até a fase embrionária, tendo sido demonstrada letalidade

embrionária precoce em homozigotos para a nulidade de BRG1 e vários problemas

para os heterozigotos (Bultman et al, 2000). A ativação do genoma embrionário foi

claramente associada com a BRG1 em estudo posterior, sendo mesmo considerado

49

um gene primordial neste processo de ativação (Bultman et al., 2006). O início do

desenvolvimento embrionário, antes da ativação do genoma embrionário, é

coordenado por RNAs e proteínas sintetizadas e armazenadas pelo oócito (Sirard &

Coenen, 1994). Como demonstrado no presente trabalho, a expressão da BRG1

ocorre de maneira bastante precoce, sugerindo a sua importância no controle do

genoma embrionário advindo desde período anteriores, no início do crescimento

oocitário.

O complexo SWI/SNF foi primeiramente identificado em leveduras e é

altamente conservado entre os eucariotos (Peterson & Workman, 2000). Esta

informação nos leva a pensar em uma função básica para esse complexo e suas

subunidades. No entanto estudos mais detalhados são necessários para afirmar a

exata função da BRG1 durante a foliculogênese, porém nossos resultados sugerem

que esta proteína é requerida no processo de crescimento folicular e oocitário, que

envolve proliferação e diferenciação celular.

50

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54

Legenda

Figura 1: Localização por imunofluorescência da BRG1 em folículos

ovarianos de diferentes estágios de desenvolvimento. Na primeira coluna a

coloração DAPI (em azul) foi utilizada para evidenciar núcleo de células foliculares, a

segunda coluna mostra a localização da BRG1 (em vermelho) e a terceira, a

sobreposição das figuras. Nos folículos primários a BRG1 está presente somente

nos oócitos, nos secundários a expressão da proteína já pode ser detectada também

nas células da granulosa próxima ao oócito. Nos terciários a BRG1 está presente no

oócito e na granulosa e nos folículos antrais também pode ser vista nas células da

teca, além da granulosa e oócito.

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20x

60x

Primary

follicle

Secondary

follicle

DAPI SNF2 BRG1 merge

20x

60x

60x

Tertiary

follicle

Antral follicle

Oocyte from

antral follicle

Antral follicle

20x

Figura 1.