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A sustentabilidade permeia todas as relações atuais e é garantia do futuro da vida e também dos negócios. Para as empresas crescerem de forma sustentável, devem abranger os três pilares da sustentabilidade – o social, o econômico e o ambiental – em todos os seus processos, relacionamentos e atitudes. A fim de atingir-se um desenvolvimento sustentável dos negócios é de suma importância o engajamento de todos que trabalham nas empresas. Sua comunicação interna tem papel decisivo unificador, formador e informativo dos valores sustentáveis a fim de que estes façam parte do dia a dia das organizações. O presente estudo pretende discutir a função da Comunicação Interna na consolidação de uma cultura sustentável nas organizações e mostrar como a comunicação para a sustentabilidade pode ser mais efetiva. A partir de uma pesquisa bibliográfica, de conceitos e de fundamentos teóricos, analisou-se o conteúdo de duas publicações da empresa BRF – Brasil Foods, tomando-a como um case ilustrativo de boas práticas: destacam-se seus desafios em relação à fusão Perdigão-Sadia, suas políticas sociais e ambientais, a valorização de seus públicos internos e sua comunicação.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
ESPECIALIZAÇÃO EM COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL
O papel da comunicação interna na consolidação de uma cultura
organizacional para a sustentabilidade
Juiz de Fora
Março de 2012
Thereza Cristina Gerhard da Gama Garcia
O papel da comunicação interna na consolidação de uma cultura
organizacional para a sustentabilidade
Trabalho de Conclusão de Curso
Apresentado como requisito para obtenção de
título de especialista em Comunicação
Empresarial na Faculdade de Comunicação da
UFJF
Orientadora: Profª. Ms. Iara Marques do
Nascimento
Juiz de Fora
Março de 2012
Thereza Cristina Gerhard da Gama Garcia
O papel da comunicação interna na consolidação de uma cultura organizacional para a
sustentabilidade
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para obtenção de título de
especialista em Comunicação Empresarial na Faculdade de Comunicação da UFJF
Orientadora: Profª. Ms. Iara Marques do Nascimento
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado
em 24/03/2012 pela banca composta pelos seguintes membros:
_____________________________________________________
Profª. Ms. Iara Marques do Nascimento – Orientadora
_____________________________________________________
Profª. Ms. Cláudia Rodrigues Castro – Convidada
_____________________________________________________
Prof. Esp. Raphael Silva Souza Oliveira Carvalho - Convidado
Conceito Obtido: 95
Trabalho examinado em 24 de março de 2012.
Juiz de Fora
Março de 2012
À minha avó materna, Terezinha Andrade Gerhard da
Gama, e ao meu padrinho e tio, Paulo César Gerhard da
Gama, por querer que tivessem participado desta etapa
da minha vida e que pudessem compartilhar dessa
conquista. (In Memoriam)
AGRADECIMENTOS
A Deus pela vida.
À minha mãe pelo seu amor incondicional e por ter investido tempo, dinheiro e paciência na
minha formação.
Ao meu avô que queria ser jornalista, pelos seus incentivos, pela acolhida e por seu amor.
Aos amigos que me orientaram aos caminhos a seguir.
Ao meu namorado que me incentivou e me ajudou em várias etapas da minha jornada.
À minha orientadora Iara que, apesar dos obstáculos, soube ser presente, ágil e incentivadora,
com conselhos e críticas construtivas.
À minha banca, não apenas pelos elogios, mas por apontarem claramente meus erros e me
ajudarem a encontrar soluções para que eu melhor conduzisse minha pesquisa.
Às pessoas que realizam ações pequenas no seu dia a dia ou abrangentes em seus trabalhos e
voluntariados para que o mundo se torne um lugar melhor para se viver.
“Com as pessoas que trabalham comigo, explico tudo,
quero que elas saibam o porquê de estarem fazendo o que
lhes é solicitado. Se não gosto de algo, eu digo por que e
aonde quero chegar – e também falo do que gosto. (...)
Para mim, é mais fácil agir com carinho, mostrando para
as pessoas o que estão fazendo e deixando que
compreendam a importância daquilo. Acho que isso faz os
envolvidos colocarem o coração em suas tarefas”.
(Cristina Arcângela. In: VIDIGAL, Marina. Para Ser
Grande, 2009, p. 229)
“Estamos sendo confrontados com a necessidade de fazer
a transição de uma sociedade de crescimento industrial
que explora as pessoas e a natureza a uma sociedade que
consegue a sustentação da vida”. (LASZLO, Chris. Valor
Sustentável, 2008, p. 66)
RESUMO
A sustentabilidade permeia todas as relações atuais e é garantia do futuro da vida e também
dos negócios. Para as empresas crescerem de forma sustentável, devem abranger os três
pilares da sustentabilidade – o social, o econômico e o ambiental – em todos os seus
processos, relacionamentos e atitudes. A fim de atingir-se um desenvolvimento sustentável
dos negócios é de suma importância o engajamento de todos que trabalham nas empresas. Sua
comunicação interna tem papel decisivo unificador, formador e informativo dos valores
sustentáveis a fim de que estes façam parte do dia a dia das organizações. O presente estudo
pretende discutir a função da Comunicação Interna na consolidação de uma cultura
sustentável nas organizações e mostrar como a comunicação para a sustentabilidade pode ser
mais efetiva. A partir de uma pesquisa bibliográfica, de conceitos e de fundamentos teóricos,
analisou-se o conteúdo de duas publicações da empresa BRF – Brasil Foods, tomando-a como
um case ilustrativo de boas práticas: destacam-se seus desafios em relação à fusão Perdigão-
Sadia, suas políticas sociais e ambientais, a valorização de seus públicos internos e sua comunicação.
Palavras-chave: Comunicação Interna. Cultura. Sustentabilidade.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 8
2. CULTURA E NATUREZA, COMUNICAÇÃO E SUSTENTABILIDADE ................. 13
2.1 SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA, SOCIAL E AMBIENTAL ......................... .......19
2.2 COMUNICAÇÃO E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL ........................................... 22
Tabela 1 ................................................................................................................................... ..30
3. A COMUNICAÇÃO INTERNA NA CONSOLIDAÇÃO DA CULTURA
EMPRESARIAL SUSTENTÁVEL ....................................................................................... 31
3.1 MISSÃO, VISÃO, POLÍTICAS E VALORES................................................................... 32
3.2 COMUNICAÇÃO INTERNA E CULTURA ..................................................................... 35
3.3 OS COLABORADORES COMO FORMADORES DA IMAGEM CORPORATIVA ..... 39
3.4 GESTÃO TRANSPARENTE ............................................................................................. 42
4. COMUNICAÇÃO INTERNA E SUSTENTABILIDADE NA BRF – BRASIL
FOODS......................................................................................................................................47
4.1 METODOLOGIA ................................................................................................................ 47
4.2 BRASIL FOODS ................................................................................................................. 48
4.2.1 Comunicação para a sustentabilidade .......................................................................... 52
4.2.2 Desenvolvimento das pessoas ......................................................................................... 56
4.2.3 Gestão Ambiental ........................................................................................................... 60
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 65
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 71
7. ANEXOS............................................................................................................................... 74
7.1 ANEXO 1 - RELATÓRIO BRF .......................................................................................... 74
7.2 ANEXO 2 - REVISTA BRF ............................................................................................... 75
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1. INTRODUÇÃO
A sustentabilidade é a capacidade de conciliar a necessidade do desenvolvimento
econômico com a promoção do desenvolvimento social e o respeito ao meio ambiente, de
acordo com o conceito, apresentado por Cabestre (2008), de desenvolvimento sustentável que
surge em meados da década de 1970, a partir de estudos da Organização das Nações Unidas
(ONU) sobre mudanças climáticas.
Desenvolvimento torna-se sinônimo de crescimento econômico, porém o
desenvolvimento sustentável não tem como consequência a falta de crescimento ou o
retrocesso. Diversas empresas que já implementaram um modelo sustentável de negócios
mostram que é possível haver progresso econômico sem que os recursos naturais sejam
degradados. Como endossa Layrargues (1998), pode-se, sim, crescer tecnológica e
economicamente sem destruir a natureza.
É possível explicar a aplicação de um modelo sustentável de negócios a partir de
suas vantagens empresariais e competitivas, como a melhoria da imagem da empresa ou de
sua marca; oferecimento de serviços diferenciados e produtos inovadores ao encontro das
solicitações de consumidores cada vez mais conscientes e exigentes; lembrança da marca e
associação da empresa com ações de responsabilidade.
Porém, essa maquiagem verde que algumas empresas adotam com o nome de
práticas sustentáveis não é uma política efetiva em prol do meio ambiente e não atende as
demandas atuais dos consumidores. Kotler (2010) confirma que diversas empresas ainda não
começaram a incorporar em todas as etapas de seus processos políticas de preservação do
meio ambiente, diminuição do consumo e reuso de materiais e energia, entre outras práticas
sustentáveis. O autor aponta que algumas organizações já sentiram certa pressão e
conscientizaram-se de que precisavam pôr em prática políticas sustentáveis antes de serem
apontadas como danosas ao meio ambiente pela sociedade, seus consumidores ou pelo poder
9
público. Por outro lado, há organizações que conscientes ou não da importância da
preservação ambiental, perceberam o interesse do público e passaram a comercializar
agressivamente produtos verdes.
Mas esses “produtos e serviços ‘verdes’” como nomeia Kotler (2010, p. 45)
devem ser muito bem pensados e estar alinhados com a verdadeira cultura e prática produtiva
da empresa. Afinal, ainda de acordo com o autor, os consumidores estão, sim, mais
conscientes e preocupados com a sustentabilidade. Segundo ele, no paradoxo dos valores
efêmeros e mutáveis da sociedade atual, as pessoas querem transformar o mundo num lugar
melhor ou ideal para se viver. E as empresas devem seguir esses anseios e oferecer esses
valores em seus produtos, serviços, atendimento e condutas para atender esses desejos e
“fazer a diferença” no mundo.
Neste contexto, enfatiza-se que, para essas práticas serem realmente efetivas e
verdadeiras, a sustentabilidade deve ser um conceito intrínseco da empresa, estar na mente de
todos os envolvidos, fazer parte do dia a dia, das decisões, da produção, dos relacionamentos
e de todos os processos empresariais em especial da comunicação interna e externa, a qual a
primeira analisaremos no presente estudo.
Para que todos os stakeholders1 de uma empresa pensem de forma sustentável,
vários fatores devem ser considerados: a cultura em que estão inseridos, o processo de
mudança cultural caso esses valores não façam parte da conduta desses indivíduos, a
comunicação, a transmissão de informações e a educação (ambiental). A consequência
esperada seria a consolidação da cultura organizacional com valores sustentáveis embutidos
na visão, missão, valores e políticas da empresa.
1 Stakeholders ou partes interessadas: indivíduo ou grupo que tem interesse em quaisquer decisões ou atividades
de uma organização, de acordo com a definição apresentada na norma ISO 26.000 de Responsabilidade Social
Disponível em: http://www.inmetro.gov.br. Acesso em: 25/03/2012.
10
E como a comunicação é parte importante neste processo de consolidação da
cultura empresarial, os comunicadores seriam os principais responsáveis pela transmissão de
informações, pela educação, conscientização e mobilização dos stakeholders.
A gestão ambiental e a preocupação com a sustentabilidade e o desenvolvimento
sustentável é importante não apenas para as empresas, mas para toda a sociedade. A
comunicação interna tem papel importante na consolidação de uma cultura organizacional
preocupada em garantir a aplicação prática do conceito de sustentabilidade. E a relação entre
esses dois temas – sustentabilidade e comunicação interna – é de extrema relevância tanto
para o meio acadêmico quanto para o mercado de trabalho. Este estudo abrange as áreas
empresarial, de comunicação e de gestão ambiental.
O principal objetivo desta pesquisa é analisar o papel da comunicação interna na
consolidação de uma cultura organizacional preocupada com a sustentabilidade e
incentivadora de políticas sustentáveis. Para isto, pretende-se entender como a comunicação
ajuda a propagar os ideais de sustentabilidade entre os funcionários; observar se a
comunicação interna voltada para as questões ambientais influencia e/ou facilita e amplia as
políticas da empresa na área da preservação ambiental; avaliar as melhores formas de
mobilização e engajamento dos funcionários e da comunidade para a consolidação de uma
cultura organizacional sustentável.
O projeto será desenvolvido, primeiramente, com pesquisa bibliográfica, através
de leitura e fichamento de livros e artigos, para o aprofundamento dos conceitos sobre cultura
e cultura organizacional, comunicação e comunicação interna e desenvolvimento sustentável e
sustentabilidade em seus pilares econômico, social e ambiental, com foco do estudo no último
aspecto, além da conceituação de natureza e meio ambiente. Além disso, discutiremos a
importância da motivação dos funcionários a seguirem os valores sustentáveis e o papel da
11
governança corporativa e da ética, respeito e valorização dos funcionários por parte dos
líderes.
O case que analisaremos é da empresa BRF – Brasil Foods – líder na fabricação
de proteínas, carnes, leite, processados e alimentos congelados, entre suas principais marcas
estão Sadia e Perdigão. A empresa possui políticas e ações em prol da sustentabilidade,
procura treinar e informar os funcionários e valorizá-los, respeitando a diversidade, a cultura
em que estão e estiveram inseridos (antes da fusão das marcas Sadia e Perdigão) e os direitos
trabalhistas. Ao final do trabalho, consideraremos as contribuições teóricas e do case
analisado e buscaremos mostrar a importância da comunicação para os temas discutidos, além
dos possíveis desdobramentos do presente estudo.
Para tanto, trabalharemos o capítulo dois com os conceitos de cultura e natureza
que estão inseridos um no outro e, com isso, conceituaremos também comunicação como
parte e produto desta cultura e também apresentaremos a contextualização do surgimento do
conceito de sustentabilidade em seus pilares social, econômico e ambiental, focando no
último aspecto. Ainda nesta parte da pesquisa, apresentaremos dicas para os comunicadores
estruturarem os discursos das empresas sobre sustentabilidade e meio ambiente.
Já no capítulo três, com base nos conceitos apresentados no capítulo dois, o
conceito de Cultura é aprofundado e debatido sob o viés da Comunicação Interna como peça
principal na consolidação, dentro das empresas, de uma cultura para a sustentabilidade. Os
aspectos também destacados neste estudo serão: a valorização dos funcionários e o incentivo
para que todos preservem o meio ambiente. Neste sentido, apresentamos os conceitos de
missão, visão, políticas e valores que são elementos norteadores da organização que o setor de
Comunicação Interna tem papel fundamental em disseminar e são as bases para que a
sustentabilidade, objeto estudado, faça parte das ações efetivas e contínuas da empresa. Os
colaboradores são apresentados como os maiores formadores da imagem corporativa e, para
12
isso, devem estar em um ambiente de informação acessível e de livre participação. A gestão
transparente é outro elemento que complementa o capítulo, ressaltando a posição das
lideranças como o exemplo para que as boas práticas sejam seriamente perpetuadas.
O capítulo quatro é dedicado ao case analisado como uma ilustração de boas
políticas da empresa BRF – Brasil Foods nas áreas de comunicação; preservação, conservação
e compensação do meio ambiente e no desenvolvimento de seus funcionários e comunidade.
O desafio maior da BRF para o alcance destas metas é a recente mudança cultural ocorrida a
partir da fusão das marcas Perdigão e Sadia, em que trabalhadores foram demitidos e os que
permaneceram na empresa ainda levavam em suas mentes a antiga rixa entre as duas
empresas, antes rivais no mercado.
Após as considerações finais do trabalho e apresentação das obras citadas direta
ou indiretamente na pesquisa; em anexo, disponibilizaremos as capas das publicações da BRF
– Relatório Anual e de Sustentabilidade 2010 e Revista BRF, Edição Especial, nº 89, dos
meses de setembro a outubro de 2011 – das quais faremos a análise de seu conteúdo.
13
2. CULTURA E NATUREZA, COMUNICAÇÃO E SUSTENTABILIDADE
O conceito clássico de cultura formulado por Tylor, comentado no artigo de
Gomes afirma que
Cultura é aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral,
direito, costumes e outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como
membro da sociedade. Em outras palavras, cultura é tudo que é socialmente
aprendido e partilhado pelos membros de uma sociedade. (TYLOR apud GOMES,
1992, p. 12)
Gomes (1992) ainda cita Schein para conceituar cultura como um padrão e
premissas básicas compartilhadas resultantes do aprendizado a partir de experiências na
solução eficiente de problemas de adaptação externa e integração interna, as quais foram
consideradas válidas e, portanto, passaram a ser ensinadas a novos membros como a maneira
correta de perceber, pensar e sentir em relação àquelas questões.
A comunicação como processo de transmissão e recepção de mensagens através
de um determinado canal num processo contínuo de interpretação, entendimento e resposta é
um processo cultural, como afirma Laraia: Entre os homens,
toda a experiência de um indivíduo é transmitida aos demais, criando assim um
interminável processo de acumulação. Assim sendo, a comunicação é um processo
cultural. Mais explicitamente, a linguagem humana é um produto da cultura, mas
não existiria cultura se o homem não tivesse a possibilidade de desenvolver um
sistema articulado de comunicação oral. (LARAIA, 2006, p. 52)
Para Laraia, caso respeitemos as regras de comportamento da sociedade em que
vivemos, podemos prever o comportamento das outras pessoas e somos capazes de nos
comunicarmos melhor com os outros. Por outro lado, o autor afirma que “nem sempre, porém,
a falta de comunicação acontece porque um padrão de comportamento foi quebrado, mas
porque às vezes os padrões não cobrem todas as situações possíveis” (LARAIA, 2006, p. 84).
Isto ocorreria, segundo o autor,
14
em períodos de mudança cultural e, principalmente, quando estas são determinadas
por forças externas, quando surgem fatos inesperados e de difícil manipulação. São
situações sem precedentes e que, portanto, não são controladas pelo conjunto de
regras ordinárias. Nem sempre os indivíduos envolvidos conseguem utilizar sua
tradição cultural para contorná-las sem provocar conflitos. (LARAIA, 2006, p. 84)
O autor explica que “existem dois tipos de mudança cultural: uma que é interna,
resultante da dinâmica do próprio sistema cultural, e uma segunda que é o resultado do
contato de um sistema cultural com o outro”. (LARAIA, 2006, p. 96) De acordo com ele, essa
“mudança proveniente de causas externas é a mais atuante na maior parte das sociedades e dá
surgimento ao conceito de aculturação”. (LARAIA, 2006, p. 96-97).
E quando uma empresa passa a adotar a premissa da sustentabilidade seja por uma
mudança interna dos próprios valores – ou por mudanças externas – pressão do governo, de
especialistas ou dos consumidores –, todos precisam mudar seu modo de pensar e os líderes e
colaboradores devem se adaptar a essa nova cultura da empresa. E, se não há uma boa
transmissão de informações e conhecimentos e o consequente engajamento de todos nessa
nova realidade, nenhuma ação será efetiva.
De acordo com o autor, “somente pode ser considerado uma mudança quando as
pessoas, além de agirem diferentemente, começam a colocar em dúvida a validade do
modelo”. (LARAIA, 2006, p. 100). Ou seja, é preciso que o padrão de pensamento em relação
ao desenvolvimento econômico sem preocupação com o meio ambiente, com a sociedade e
com a transparência econômica seja percebido como negativo e descartado, para que a noção
de desenvolvimento sustentável seja aceita e praticada por todos os envolvidos. O desafio é
comunicar de forma clara, objetiva e envolvente sobre essa nem tão nova realidade que é
fundamental para a sobrevivência tanto dos negócios quanto da vida.
O principal ponto a ser destacado é o quanto as pessoas desvinculam a natureza da
cultura e como pensam que o ser humano está fora ou acima das questões ambientais e como
15
a cultura está desvinculada da natureza. “Somos parte do ambiente e ambiente. Somos
natureza e sociedade e, portanto, problema ambiental é problema social e problema social é
problema ambiental”. (COSTA, 2011, p. 22)
O homem faz parte da natureza e a natureza também é cultura e, de acordo com
Gilberto Gil, também um produto cultural.
É infinitamente variável, no tempo e no espaço, o modo como o ser humano vê,
pensa, imagina, povoa e “representa” o ambiente natural que o cerca. Vale dizer,
cada época e cada cultura constrói uma determinada leitura da natureza. O que
significa que a natureza, para além da sua existência física, também é, sempre, uma
criação cultural. (GIL, 2003, p. 46).
Mas a sociedade há muito acredita e dissemina o paradigma de que a natureza não tem
qualquer relação com o homem e a cultura. Nos últimos quatrocentos anos, como ressalta
Costa (2011, p. 15) as sociedades ocidentais, das quais somos parte, acostumaram-se a pensar
a natureza como uma coisa diferente de cultura e exterior ao homem. Ora pensamos a
natureza como um lugar onde estão as florestas, os rios, as montanhas, os animais e plantas,
ora como um conjunto de tudo isso. Um mundo sem interferência humana. Da mesma forma,
a cultura é entendida como algo relativo apenas ao homem, produto dele, criação dele, nada
tendo a ver com a natureza.
Lara Costa compila os conceitos de meio ambiente que circulam atualmente em
nossa sociedade. Praticamente todas essas definições separam o homem da natureza.
Além dessa visão separatista, vemos a visão reduzida, que se refere à natureza
apenas como um sistema de leis que regem e explicam o mundo. [...] Em outras
respostas aparece a visão disjuntiva acrescida da chamada visão antropocêntrica, em
que o homem é o centro do mundo, ao reduzir a natureza àquilo que rodeia o homem
e que tem relação direta ou indireta com ele. (COSTA, 2011, p. 17)
Essa centralidade significa, de acordo com Costa, superioridade. E esta crença de
que o homem está acima da natureza deturpa as formas como nos relacionamos com o meio
16
ambiente e com todos ao nosso redor e resulta na dominação dos recursos naturais e de outros
seres vivos.
Essa ideia de centralidade, é claro, não é de uma centralidade qualquer, mas
significa também uma superioridade, na qual o homem está hierarquicamente acima
da natureza. É com base nessa ideia, de que nós estamos no centro e acima da Terra
e dos outros seres, que nos tornamos o que somos hoje. Construímos relações de
dominação, em que aquilo que está ao nosso redor, seja coisa, animal ou pessoa,
existe para nos servir, ou para servir ao homem. (COSTA, 2011, p. 17)
E é em razão dessa visão que degradamos o meio ambiente. Afinal, a partir do
prisma de que temos poder e estamos acima e não vinculados ou dependentes do outro, não
haveria razão para não usarmos e chegarmos ao esgotamento de recursos e de outros seres
vivos. Talvez também pela crença de que esses elementos seriam infinitos ou eternamente
renováveis. “Não é por acaso, então, que a humanidade chegou à primeira década do século
XXI com 60% dos ecossistemas seriamente comprometidos e já consumindo 20% de recursos
naturais a mais do que o planeta pode repor”. (COSTA, 2011, p. 17)
Com a Revolução Industrial, passamos a acreditar num modelo de crescimento
econômico baseado em exploração e consumo sem que tenhamos analisado as consequências
desta atitude.
A partir da Revolução Industrial, esse modelo de desenvolvimento se especializou
na superexploração e no superconsumo dos recursos naturais, na superexploração
dos trabalhadores e também na superdegradação e superpoluição de todos os
ambientes. Além disso, criou sociedades hierarquizadas e profundamente desiguais.
(COSTA, 2011, p. 34)
Mas tanto a degradação ambiental como o desrespeito pelos trabalhadores são
repensados e, por alarme ou conscientização, ações começam a ser tomadas e cobradas para
que o planeta e, com ele, os seres humanos, não chegue a uma catástrofe total. “O estrago foi
tão grande que, a partir dos anos 1970, o rumo do desenvolvimento começou a ser duramente
17
criticado, tanto por cientistas quanto por instituições políticas internacionais, como a ONU”.
(COSTA, 2011, p. 35)
Esse rumo de desenvolvimento passa a ser analisado e, com isso inicia-se a
proposição de soluções. A forma de produzir deve mudar.
Em 1987, por exemplo, no relatório Nosso futuro comum (Our Common Future), a
ONU colocava a necessidade de se repensar o modelo de desenvolvimento
econômico adotado pelos países industrializados e reproduzido pelas nações em
desenvolvimento. O relatório ressaltava os riscos de usarmos os recursos naturais
sem considerarmos a capacidade dos ecossistemas, e alertava para a
incompatibilidade entre os padrões de produção e consumo vigentes e a integridade
dos ecossistemas do planeta. (COSTA, 2011, p. 36)
Costa (2011, p. 36) contextualiza o surgimento do conceito de
ecodesenvolvimento no final do século XX que evoluiu para o de desenvolvimento
sustentável o qual defende uma forma de desenvolvimento que seja ecologicamente
sustentável, economicamente viável e socialmente justa. Ambos os conceitos, ainda de acordo
com a autora, surgiram para reorientar o nosso desenvolvimento de modo a não comprometer
a integridade dos ecossistemas e garantir o uso dos recursos naturais para as gerações futuras.
Segundo Costa, de acordo com o relatório “Avaliação ecossistêmica do milênio”,
encomendado pela ONU em 2005,
60% dos ecossistemas do planeta já estão deteriorados. As conclusões revelam que
já ultrapassamos o limite da exploração possível da natureza, e que dentro de pouco
tempo o planeta não terá condições de fornecer bens naturais para o consumo
humano. Já estaríamos à beira de um colapso pela superexploração do ambiente por
este modelo de desenvolvimento da sociedade moderna. (COSTA, 2011, p. 36).
A autora alerta que para o bem das espécies, inclusive a humana, avisa o estudo, é
urgentíssimo mudarmos nosso atual padrão de produção e consumo. De acordo com Costa
(2011, p. 37), a partir da pesquisa de outro relatório da ONU, intitulado “O estado do mundo”,
com última publicação em 2010, as consequências são ainda mais sérias. O documento
18
declara que hoje já não temos recursos naturais para suprir o atual padrão de consumo
humano, pois o homem consome 20% a mais do que o planeta pode repor.
Costa (2011, p. 43), através de seus estudos e análises, afirma que essa distância
que colocamos entre nós e a natureza resultaria no sentimento de que tudo está no mundo para
nos servir – sejam animais, plantas, recursos naturais e mesmo outras pessoas. Dessa
dominação advêm a desigualdade social, o consumo desenfreado e a poluição. Tais ações
destrutivas poderão resultar no esgotamento do planeta.
Costa confirma que os países desenvolvidos são os que mais consomem e
degradam, porém ressalta que os países mais pobres mesmo não poluindo tanto, também
sofrem com as consequências e, pior, não têm recursos ou estrutura para enfrentar os
problemas gerados pela escassez de recursos naturais e pela degradação ambiental.
Os países mais ricos são também os que mais consomem energia e os que mais
emitem poluentes. Já os países mais pobres são os que menos consomem energia –
os que menos consomem qualquer coisa, aliás –, os que emitem menos poluentes e
os que apresentam os dados de maior desigualdade e exclusão social. Entretanto,
esses países mais pobres estão ameaçados com as consequências das mudanças
climáticas tanto quanto seus irmãos ricos. Na verdade, de certa maneira estão até
mais ameaçados, já que os países pobres têm menos infraestrutura para lidar com os
problemas relacionados às mudanças climáticas, como secas e enchentes (COSTA,
2011, p. 43-44)
O consumo e a pressão pelo consumismo exacerbado tão difundidos pelos meios
de comunicação de massa são elementos a serem adequados. Os países desenvolvidos
deveriam diminuir e otimizar o seu consumo e os menos desenvolvidos, não deixando de
consumir, também não deveriam almejar consumir e, portanto, degradar tanto quanto os
países desenvolvidos, porque o planeta não suportaria e não poderia suprir a demanda
crescente por recursos naturais.
19
2.1 SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA, SOCIAL E AMBIENTAL
A questão da sustentabilidade está em pauta em vários setores da sociedade, mas
ainda causa desconfiança e é pouco compreendida. A mídia não aprofunda os debates e, em
certos casos, confunde o público. O setor empresarial percebe oportunidades ao estender a
bandeira verde, tanto na melhoria da imagem das empresas, na inovação tecnológica e na
criação de novos produtos e oferecimento de serviços diferenciados, mas nem sempre
incorpora ideais efetivos e verdadeiros de sustentabilidade em sua cultura organizacional,
colocando-os em sua missão, visão e valores.
Mas, afinal, o que é sustentabilidade? Capra2 contextualiza a construção do
verdadeiro significado da palavra sustentabilidade e de como se iniciou a utilização do
conceito de desenvolvimento sustentável:
O conceito [de sustentabilidade] foi introduzido no início da de 1980 por Lester
Brown, fundador do Worldwatch Institute, que definiu comunidade sustentável
como a que é capaz de satisfazer às próprias necessidades sem reduzir as
oportunidades das gerações futuras. (CAPRA, 2003, p. 19)
O autor cita o Relatório Brundtland, intitulado “Nosso Futuro Comum”, publicado
no Rio de Janeiro pela editora da Fundação Getúlio Vargas, em 1990, que utiliza o mesmo
significado para apresentar o conceito de “desenvolvimento sustentável”:
A Humanidade tem a capacidade de atingir o desenvolvimento sustentável, ou seja,
de atender às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras
gerações de atender às próprias necessidades. (CAPRA, 2003, p. 19)
2 Doutor em Física Teórica, fundador e atual diretor do Centro de Alfabetização Ecológica em Berkeley,
Califórnia.
20
Mas Capra não percebe muita praticidade nesses conceitos. Ele afirma que “o que
precisamos é de uma definição operacional de sustentabilidade”. (CAPRA, 2003, p. 20).
Capra argumenta que
não precisamos inventar as comunidades humanas sustentáveis a partir do zero, mas
podemos moldá-las de acordo com os ecossistemas naturais, que são comunidades
sustentáveis de plantas, animais e micro-organismos. Como a principal característica
da biosfera é sua capacidade intrínseca de manter a vida, uma comunidade humana
sustentável deve ser planejada de modo que os estilos de vida, negócios, atividades
econômicas, estruturas físicas e tecnologias não interfiram nessa capacidade da
natureza de manter a vida. (CAPRA, 2003, p. 20)
Layrargues explica que o “Ecodesenvolvimento” está “baseado em três pilares:
eficiência econômica, justiça social e prudência ecológica” (LAYRARGUES, 1998, p. 138).
Embora, o foco deste estudo seja o pilar ambiental, esses aspectos são indissociáveis. Para que
uma empresa se torne sustentável é importante haver transparência econômica, de prestação
de contas e também de relacionamento com todos os públicos; preservar e recuperar o meio
ambiente e garantir o respeito à legislação, melhoria da qualidade de vida de funcionários,
consumidores, comunidade e sociedade, apoio a projetos sociais, entre outras condutas
relativas à responsabilidade social.
A partir dos anos 1960 e 1970 foi que a sustentabilidade começou a ser
pesquisada no país. No Brasil, as pesquisas sobre temas ambientais só começam, segundo
Crespo (2003, p. 60), a acontecer, timidamente, há cerca de vinte anos, quando algumas
pesquisas em São Paulo foram feitas sobre “poluição”, fenômeno dos anos 60 e 70, quando a
sociedade urbanizada descobriu os efeitos colaterais da industrialização, tida naquele tempo
como sinônimo de desenvolvimento.
A sustentabilidade é amplamente explicada sob três pilares que hoje são
subdivididos e detalhados de acordo com a Agenda 21 Brasileira que incorpora as dimensões
21
“ecológica, ambiental, social, política, econômica, demográfica, cultural, institucional e
espacial”. (MOUSINHO, 2003, p. 348)
E para que todos os aspectos da sustentabilidade sejam analisados e
aprimorados é preciso acesso à informação. Isso é uma das metas da Rio + 203, Conferência
das Nações Unidas a ser realizada em junho de 2012. Rio + 20: O Esboço Zero intitulado “O
futuro que queremos” da Organização das Nações Unidas afirma que:
Nós reconhecemos que uma melhor participação da sociedade civil depende do
fortalecimento do direito a acesso à informação e da capacidade da sociedade civil
exercer esse direito. A tecnologia está facilitando aos Governos partilhar
informações com o público e ao público cobrar atitudes dos tomadores de decisões.
Nesse sentido, é essencial trabalhar para obter acesso universal a informações e
tecnologias de comunicações (ONU, 2012, p. 5).
Reúne-se a seguir alguns conceitos de Sustentabilidade de acordo com o Guia de
Comunicação e Sustentabilidade do CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro de
Desenvolvimento Sustentável 4, sob o ponto de vista de alguns empreendedores:
Condição de sobrevivência do planeta, do homem e de seus empreendimentos.
(Fernando Almeida, presidente-executivo do CEBDS). O ponto de intersecção entre
3 Rio + 20: “Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a ser realizada nos dias 13 a
22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro. A Rio+20 é assim conhecida porque marca os vinte anos de
realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) e deverá
contribuir para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas. O objetivo da
Conferência é a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação
do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do
tratamento de temas novos e emergentes. A Conferência terá dois temas principais: a economia verde no
contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza; e a estrutura institucional para o
desenvolvimento sustentável”. Disponível em: <http://www.rio20.gov.br/sobre_a_rio_mais_20/participacao-na-
conferencia> Acesso em: 25/03/2012.
4 CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável: associação civil, sem fins
lucrativos, fundada em 1997 para promover o desenvolvimento sustentável entre as empresas que atuam no
Brasil. Reunindo os maiores grupos empresariais do país, o CEBDS é o representante no Brasil da rede do
“World Business Council for Sustainable Development” (WBCSD), que conta com quase 60 conselhos
nacionais e regionais em mais de 30 países para disseminar uma nova maneira de fazer negócios ao redor do
mundo. Primeira instituição no Brasil a falar em sustentabilidade dentro do conceito do Tripple Botton Line, que
norteia a atuação das empresas a partir de três pilares: o econômico, o social e o ambiental, o CEBDS é hoje uma
referência da sustentabilidade tanto para as empresas quanto para os parceiros e governos.
22
os negócios e os interesses da sociedade e do planeta. (Andrew W. Savitz, presidente
da Sustainable Business Strategies, consultoria americana de sustentabilidade). Dar
certo fazendo a coisa certa do jeito certo. (Fábio Barbosa, presidente do Grupo
Santander Brasil) (Guia de Comunicação e Sustentabilidade do CEBDS, 2009, p.
16).
Os conceitos se sustentabilidade pelos empreendedores têm um elemento em
comum a praticidade. Como sustentado pela pesquisa, a sustentabilidade para ser real precisa
ser próxima às pessoas, útil, fácil de ser compreendida e praticada.
2.2 COMUNICAÇÃO E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
Entendemos que os três pilares da sustentabilidade são indissociáveis, no entanto,
no presente estudo, aprofundaremos a conceituação e debate na dimensão ambiental. Apesar
do amplo debate e até da divulgação e cobertura excessivas dos aspectos ambientais da
sustentabilidade, o meio ambiente ainda é tratado de forma errônea e desvinculado da
sociedade e cultura ou de forma reducionista e estereotipada.
O conteúdo ambiental é o mais divulgado pelas empresas, o que deixa em
segundo plano os elementos justiça social e transparência econômica. E acaba por reduzir o
conceito de sustentabilidade apenas pelo seu viés de preservação e responsabilidade
ambiental. “A sustentabilidade está muito atrelada ao aspecto ambiental em detrimento do
socioambiental. O estudo revela que a maioria das campanhas de fato aborda de forma mais
enfática o meio ambiente” (Revista Ideia Sustentável, 2010, p. 50-51).
E mesmo com o foco no meio ambiente, o que já seria errado e reducionista, há
ainda casos em que, seja pelas empresas ou pelos meios de comunicação, o meio ambiente
também é retratado de maneira errônea.
23
De acordo com o jornalista André Trigueiro (2003, p. 76-77) os programas de
televisão, um dos meios de comunicação mais influentes e acessíveis, contribuem para que as
pessoas associem meio ambiente à fauna e flora. Mas o meio ambiente é muito mais que isso
e não é algo a parte que não nos inclui. Mas quais os elementos que o conceito de meio
ambiente engloba? Trigueiro cita uma boa definição: “um conjunto de fatores naturais, sociais
e culturais que envolvem um indivíduo e com os quais ele interage, influenciando e sendo
influenciado por eles”. (LIMA-E-SILVA apud TRIGUEIRO, 2003, p. 77).
Mas o jornalista ressalta que a questão é muito ampla e que não é fácil, mesmo
para quem se interessa pelo assunto, definir com clareza de forma simples “meio ambiente”.
Num universo fragmentado, como lembra Trigueiro, a discussão ambiental resgata o sentido
holístico e o caráter multidisciplinar da questão “nos induz a uma leitura da realidade onde
tudo está conectado, interligado, relacionado”. (TRIGUEIRO, 2003, p. 78)
E como o tema é plural e muito abrangente e a interdisciplinaridade ainda é um
pouco distante da nossa realidade, algumas dificuldades surgem para transmitir uma
mensagem clara sobre o que é meio ambiente para quem é leigo no assunto. Trigueiro cita o
“jargão ecológico” que muitas vezes deve ser usado para não simplificar muito a questão e
que com o tempo acaba sendo incorporado no vocabulário da maior parte das pessoas, mas
que demanda conhecimento do jornalista para que seja traduzido, sem prejuízo da informação,
sem ser simplificado, mas que ainda informe com clareza para o entendimento correto das
pessoas.
Um dos obstáculos para as informações sobre meio ambiente ganharem destaque
na mídia, ainda de acordo com Trigueiro, seria o imediatismo e o timing acelerado do
noticiário. Como muitas questões ambientais, como as mudanças do clima, por exemplo, só
ocorrerão daqui a dezenas ou centenas de anos, as notícias passam a ser consideradas frias,
24
perdem espaço, são postergadas e acabam não tendo tanto destaque. O que se sobressai são os
desastres imediatos e assuntos mais factuais que responderiam melhor aos interesses
imediatistas de quem consome notícia. Esse caráter imediatista também pode ser um entrave
para as mensagens veiculadas através das ferramentas de comunicação interna.
A questão central seria como comunicar os assuntos relativos ao meio ambiente
para quem não entende do assunto. No caso estudado, trabalhadores de empresas que buscam
incorporar o valor da sustentabilidade em sua gestão e que, para isso, devem informar, educar
e mobilizar seus colaboradores para a importância do tema.
Algumas questões devem ser pensadas ao elaborar uma pauta para transmitir este
tipo de informação, seja através da comunicação interna, seja através dos meios de
comunicação de massa ou da publicidade. As mensagens devem ser claras, com linguagem
acessível, devem ser criativas, estimulantes, educativas, adequadas ao público a que se
destina, atender aos interesses, ao timing imediato das notícias e estarem próximas ao
receptor, sendo úteis no seu dia a dia.
Elementos emocionais também podem fazer parte desta comunicação. A
autoestima e os sentimentos estimulam as pessoas que se sentem motivadas e, então,
engajam-se na causa. O Guia de Comunicação e Sustentabilidade do CEBDS endossa o
engajamento dos colaboradores através da emoção. “A comunicação tem que engajar
emocionalmente” (Guia de Comunicação e Sustentabilidade do CEBDS, 2009, p. 6).
O papel educativo da comunicação das empresas também foi apontado pelo
CEBDS como elemento importante para a motivação e engajamento dos indivíduos para que a
sustentabilidade se torne uma proposta coletiva. “A comunicação carece de didática. A
ausência de mensagens mais diretas e educativas prejudica a assimilação de conteúdos por
25
parte dos consumidores e, por consequência, o seu engajamento em relação aos valores
sustentáveis”. (Revista Ideia Sustentável, 2010, p. 50)
A didática da comunicação organizacional e a forma como a mensagem é
organizada, fundamentada e apresentada seria uma forma de engajar e motivar a sociedade e,
aí incluímos, os próprios trabalhadores dessas organizações. Um dos formadores de opinião
entrevistados pelo CEBDS revelou que é preciso fazer comunicação para a sustentabilidade, o
engajamento, para mobilizar a conscientização da sociedade. Isso quer dizer, segundo o
entrevistado, que as corporações poderiam ter uma “comunicação muito mais educativa,
pedagógica, orientadora e ao mesmo tempo motivadora”. (Revista Ideia Sustentável, 2010, p.
50)
Os discursos das empresas precisam ser transparentes e claros. O discurso deve
refletir a prática da empresa, informando e também educando o público para o qual a
mensagem se destina. De acordo com a reportagem de Pedro Corrêa “Discurso insustentável”,
publicada no site da Revista Imprensa, em novembro de 2011,
cada vez mais presente no discurso corporativo, a sustentabilidade nem sempre leva
os públicos a acreditarem que a empresa, realmente, tem compromisso social,
ambiental e econômico. Pesquisa do Instituto Akatu5 em parceria com o Instituto
Ethos6, realizada no ano passado em 12 estados, indicou que 44% dos consumidores
não acreditam que as empresas realmente praticam aquilo que professam em termos
de responsabilidade social corporativa. E parte do problema pode estar, justamente,
no discurso. (CORRÊA, 2011, s/n)
Corrêa defende, tomando como base para sua argumentação a pesquisa do
Instituto Akatu que “o discurso corporativo deve promover a formação, o conhecimento dos
5 Instituto Akatu: “O Instituto Akatu é uma organização não governamental sem fins lucrativos que trabalha pela
conscientização e mobilização da sociedade para o Consumo Consciente”. Disponível em:
<http://www.akatu.org.br/Institucional/OAkatu> Acesso em: 25/03/2012.
6 Instituto Ethos: Criado em 1998, “o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma organização
sem fins lucrativos, caracterizada como Oscip (organização da sociedade civil de interesse público). Sua missão
é mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-
as parceiras na construção de uma sociedade justa e sustentável”. Disponível em:
<http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/pt/31/o_instituto_ethos/o_instituto_ethos.aspx>. Acesso em: 25/03/12.
26
consumidores sobre práticas sustentáveis” (CORRÊA, 2011. s/n). Isso porque, também de
acordo com o estudo, 56% dos consumidores nunca ouviram falar em sustentabilidade e, entre
os 9% que dizem conhecer o termo, 40% são incapazes de dar uma definição para ele ou não
o definem de maneira correta. Na avaliação do Akatu, “o termo desperta muito pouco
interesse na população, além de ser um assunto mais abstrato e, portanto, mais difícil de ser
compreendido e transformado em prática no dia a dia”. (CORRÊA, 2011, s/n).
Como ressalta Corrêa, quando realmente praticada, a sustentabilidade deve ser
comunicada, porém as mensagens devem ser reformuladas para se tornarem mais acessíveis.
Para ele, “buscar alternativas criativas, diretas, objetivas para informar aos públicos o que se
faz no terreno da sustentabilidade é tão importante quando as próprias práticas sustentáveis”.
(CORRÊA, 2011, s/n)
Podemos nos colocar no lugar do público para o qual nos dirigimos e perguntar
em que tal assunto pode influenciar diretamente e imediatamente no dia a dia dessas pessoas.
As pessoas precisam se identificar com o assunto, percebê-lo próximo e familiar e entender
como ele é importante agora, mesmo que seus desdobramentos só ocorram em longo prazo.
Uma das formas de elaborar um discurso que causasse identificação no público a
que se destina seria se perguntar como as práticas defendidas pela mensagem poderiam
beneficiar ao leitor. Sendo em primeiro plano uma vantagem para si, as práticas poderiam
mais facilmente ser impulsionadas e os desdobramentos positivos para o bem coletivo seriam
naturalmente alcançados. Entre os benefícios mais específicos podemos citar a saúde humana.
É esse o direcionamento que Samyra Crespo sugere para uma boa abordagem ao falar sobre
meio ambiente.
Em 1992, quando fizemos a primeira pesquisa, perguntamos (questão aberta) por
que proteger o meio ambiente e conservar os recursos naturais? A resposta
predominante foi “porque é bom para a saúde humana”. Talvez essa resposta não
seja tão ao gosto dos ambientalistas que dizem que tais razões são por demais
antropocêntricas (ancoradas na centralidade/superioridade da espécie humana), mas
27
talvez seja um importante indicativo de que é este o elo mais imediatamente
apreensível, a relação mais facilmente tangível entre meio ambiente e o ser humano.
Possivelmente fortalecer os laços entre fatores que determinam melhor qualidade de
vida, saúde e meio ambiente seja mais eficiente do que os apelos a uma consciência
que busque estabelecer certa essencialidade na natureza ou um valor
demasiadamente econômico aos recursos naturais. (CRESPO, 2003, p. 69)
Destacamos que a sustentabilidade não é apenas a preocupação com o meio
ambiente, mas leva em consideração a sociedade e a economia e todo o discurso sempre deve
ser baseado em uma postura ética e de práticas sustentáveis permanentes que sejam
consolidadas na cultura organizacional.
Na visão dos entrevistados, algumas companhias baseiam seu conceito de
sustentabilidade em práticas cotidianas, mas não tratam o tema levando em conta o
tripé econômico, social e ambiental. E ainda não consideram os requisitos básicos de
um empreendimento sustentável: ser ecologicamente correto, socialmente justo e,
ainda, culturalmente aceito. (Revista Ideia Sustentável, 2010, p. 50).
Mesmo dentro de uma empresa deve-se levar em conta que há diversos tipos de
públicos e a linguagem, ferramentas e abordagens devem se adequar a cada perfil destes
públicos, formas e locais de trabalho, meios de comunicação mais acessíveis, interessantes e
eficientes para cada um deles. “Use seu bom senso para saber quais palavras e termos você
deve evitar. Cada setor tem as suas peculiaridades” (Guia de Comunicação e Sustentabilidade
do CEBDS, 2009, p. 45).
O bom-humor, a inovação e a criatividade também são importantes na construção
e criação dessas mensagens. Além disso, deve-se diferenciar as mensagens a serem
multiplicadas e levadas para o público externo – inclusive pelo público interno – e as que
serão utilizadas apenas internamente considerando o contexto da empresa. É importante
pesquisar, identificar e monitorar os públicos para saber como se comunicar com cada um
deles. O Guia de Comunicação e Sustentabilidade do CEBDS sugere alguns exercícios para
os comunicadores de empresas que pretendem não só comunicar o que a empresa faz no
campo da sustentabilidade (“comunicação da sustentabilidade”), mas comunicar para
28
promover e educar motivando as pessoas a praticarem a sustentabilidade (“comunicação para
a sustentabilidade”) de forma eficiente:
Na hora de comunicar para promover a sustentabilidade no setor da sua empresa ou,
se possível, para além dele, tente: Observar, observar e observar antes de agir;
Colocar-se no lugar do ouvinte; Incluir públicos diversos como audiência das suas
comunicações; Usar diferentes linguagens para as mensagens que deseja transmitir;
Apoiar-se em diferentes meios de comunicação: Web, rádios, mídias sociais,
lideranças comunitárias, eventos diferentes, dinâmicas sociais, reunião de
stakeholders, entre outros; Criar peças de comunicação atraentes; Contar histórias,
usar o bom humor, mostrar exemplos motivadores; Diferenciar quais são as
mensagens-chave que multiplicam e as que servem apenas para a sua empresa.
Divulgue as que multiplicam, assim estimulando a transformação. [...] Os estilos da
comunicação têm de ser positivos e desenvolvidos de acordo com os diferentes
contextos culturais e circunstâncias dos mercados e comunidades onde as empresas
estão operando. (Guia de Comunicação e Sustentabilidade do CEBDS, 2009, p. 42)
Outro ponto fundamental é alinhar este discurso para que todos internamente
recebam a mesma mensagem e possam ser agentes multiplicadores destas ideias sem que haja
erros ou discrepâncias nas informações destinadas a diferentes públicos. Embora a linguagem,
canal ou abordagem se diferencie, o cerne deste discurso e valores intrínsecos contidos nestas
mensagens não devem se modificar. Mensagens que se contradizem desestimulam. Por outro
lado, se a motivação é alcançada, ela precisa acompanhar a capacidade de realização da
empresa. Como muitos autores defendem, a ação sempre vem antes do discurso.
Alinhe o discurso internamente para poder comunicar bem e, assim, mobilizar, pois
a falta de identidade gera imagem errada e não motiva ninguém, ao contrário:
desestimula; Aja antes de comunicar. O desejo de fazer é forte, mas a velocidade
não pode ser tão alta atropela a credibilidade; Mantenha os pés no chão. A
motivação é tamanha que há um risco grande de ela ser maior que a capacidade de
realizá-lo tombos e maus exemplos. O que acontece quando as empresas se
comunicam sem tomar esses cuidados? Elas demonstram às demais que é arriscado
criam desestímulo. (Guia de Comunicação e Sustentabilidade do CEBDS, 2009,
p. 44)
A credibilidade do discurso tem a ver com a prática fundamentada e contínua
de ações sustentáveis que se tornam políticas das organizações, porém o discurso também
29
deve se mostrar crível e, para tanto, os exageros nas mensagens sobre sustentabilidade
precisam ser evitados para que não sejam tomados como falsidade ou supervalorização de
fatos nem sempre condizentes com a realidade ou com o julgamento de quem os presencia.
“A dosagem na comunicação é muito importante. Adéque a mensagem sempre ao que será
dito. No campo da sustentabilidade, mensagens festivas demais, exageradas, soam falsas, e a
fonte pode perder a credibilidade”. (Guia de Comunicação e Sustentabilidade do CEBDS,
2009, p. 35)
O CEBDS, de acordo com estudos de agências internacionais especializadas em
comunicação e sustentabilidade, como a Futerra, que orientam em relação a erros e acertos já
testados, sugere mensagens-chave a serem usadas na “comunicação para a sustentabilidade”:
Lixo zero, evite o desperdício, reutilize, recicle, poupe energia, flex; A expressão
“Menos é mais”; Pegada ecológica, cooperação, parceria; Consumo consciente,
comércio solidário, produto verde, compromisso socioambiental, lucro social,
influência positiva, valorização da cultura; Consumidores cidadãos, consumidores
conscientes, “nós”; Pegada positiva, impacto mínimo; Ecologicamente correto,
ecologicamente inteligente, socialmente justo; Culturalmente aceito; Diálogo (Guia
de Comunicação e Sustentabilidade do CEBDS, 2009, p. 44-45).
“Nem todo o mundo quer ser Ambientalista” (Guia de Comunicação e
Sustentabilidade do CEBDS, 2009, p. 45), lembra-nos, no entanto, a agência Futerra.
Devemos refletir acerca deste lembrete. Se, por um lado quem está imerso no estudo da
sustentabilidade percebe a questão como crucial e procura a melhor forma de comunicá-la
justamente por não ser um conceito muito difundido e entendido, quem recebe estas
mensagens por mais que compreenda que é um conceito importante e sua prática,
fundamental, não precisa necessariamente querer saber detalhes técnicos e se envolver tanto
com esta causa na mesma intensidade de quem estuda ou é especialista na área.
A comunicação para promover a sustentabilidade deve ser democrática, ouvir e
permitir a participação de todos. Os interesses de todos os envolvidos devem ser considerados
30
para que esta comunicação leve a resultados efetivos, eduque e engaje. “Comunicar para a
sustentabilidade é dividir aprendizados, é promover a educação sobre o tema e incluir novos
atores. É não manter o foco apenas na empresa, ampliando-o para os interesses gerais.” (Guia
de Comunicação e Sustentabilidade do CEBDS, 2009, p. 45)
Com informações do Guia de Comunicação e Sustentabilidade (CEBDS, 2009, p.
58), elencamos as ferramentas de comunicação direcionadas aos colaboradores. A linguagem
utilizada nessas ferramentas deve ser adequada a cada perfil dos públicos internos. Marcamos
com * os canais de comunicação que devem possuir prioridade de personalização para estes
públicos, porém sempre devemos considerar que essas ferramentas e prioridades podem
mudar de acordo com o porte e setor de atuação da empresa:
Web Relatório de Sustentabilidade Anual (Hotsite)
Revista/Jornal interno*
Website*
Intranet*
Treinamentos e capacitação
Programas de visitação
Cartilhas e folhetos sobre responsabilidade socioambiental e SSMA
(Segurança, Saúde e Meio Ambiente)
Publicidade e propaganda
Marketing direto/ E-mail marketing
Eventos
Mídias e Redes Sociais
Campanhas de endomarketing*
Tabela 1 – Tabela adaptada do Guia de Comunicação e Sustentabilidade, 2009, p. 58
Para fechar estas recomendações, resume-se, de acordo com o CEBDS (2009), que
as mensagens para a sustentabilidade devem ser baseadas nos valores da organização, na
vocação e na realidade da empresa; consistentes e com dados que as comprovem; refletir
projetos que possuem continuidade e um processo evolutivo de engajamento e de atitudes
sustentáveis.
31
3. A COMUNICAÇÃO INTERNA NA CONSOLIDAÇÃO DA CULTURA
EMPRESARIAL SUSTENTÁVEL
Para que a sustentabilidade seja consolidada na cultura de uma empresa é preciso
educar e transmitir conhecimento fundamentado e de fácil compreensão a todos a fim de que a
sustentabilidade não seja apenas um conceito, mas sim uma prática e faça parte da conduta, do
pensamento e da ideologia dos indivíduos. Ou seja, que a sustentabilidade seja um elemento
cultural.
Laraia afirma que Jean Jacques Rousseau, em seu “Discurso sobre a origem e o
estabelecimento da desigualdade entre os homens”, em 1775, atribui um grande papel à
educação [na formação da cultura]. (LARAIA, 2006, p. 27).
A comunicação interna, assim como a mídia, possui papel relevante na
transmissão de informações. E, assim como o líder de uma empresa, o setor de comunicação
deve ser o primeiro a acreditar e obter conhecimento aprofundado continuamente para ter
capacidade de informar todos os colaboradores de uma organização de forma clara, leve,
efetiva, para então motivá-los a seguir esses ideais de sustentabilidade.
E de acordo com a ABRACOM, a comunicação interna tem papel fundamental
neste processo de consolidação da cultura organizacional, sendo a principal difusora da visão,
missão e valores de uma empresa:
O sistema de comunicação entre a organização e seu público interno é o conceito
mais simples, mas não simplista, para a Comunicação Interna. Em se tratando de
comunicação, pressupõe obrigatoriamente um sistema de mão dupla, estruturado,
dinâmico e proativo, capaz de disseminar o fluxo de informações que a organização
tem interesse em compartilhar e que o colaborador precisa saber. Esse
relacionamento intenso, vivo e permanente com os colaboradores (sejam eles
efetivos, terceirizados ou estagiários) e seus familiares, permite que a Comunicação
Interna realize a primeira de suas funções estratégicas: a difusão da Visão, Missão e
Valores Corporativos. Além disso, amplia e harmoniza o diálogo entre capital e
trabalho, equaliza interesses, integra equipes e valoriza o conhecimento e a
produção, fruto da razão de ser da organização. (ABRACOM, 2008, p. 9)
32
Kotler indica a importância da missão, visão e valores empresariais e qual sua
relação com a cultura organizacional: “Para incluir as boas ações na cultura corporativa e
manter-se firme a seu compromisso, a melhor abordagem é incorporá-las à missão, à visão e
aos valores da empresa”. (KOTLER, 2010, p. 45-46)
O autor cita ainda a importância dos líderes estarem compromissados com a
sustentabilidade para que os funcionários também estejam alinhados com esse pensamento,
discurso e prática. Kotler dá como exemplo “a história inspiradora da Fetzer Vineyards sob
liderança de Paul Dolan”:
Dolan percebeu que, para transformar a Fetzer Vineyards em uma empresa
admirável que demonstra a melhor prática de sustentabilidade, além de ser um
membro orgulhoso da comunidade, o compromisso tem de começar no nível
corporativo, para que todos os funcionários o levem a sério. (KOTLER, 2010, p. 46)
Kotler demonstra desta maneira como os líderes devem ser o exemplo de personalidade
compromissada com seus públicos internos e externos e verdadeiros praticantes dos valores e
políticas da organização para a qual trabalham e com a qual estão compromissados.
3.1 MISSÃO, VISÃO, POLÍTICAS E VALORES
No livro Marketing 3.0, os autores preferem definir missão em termos mais
permanentes “como a razão de ser da empresa; a missão reflete o propósito básico da própria
existência da empresa”. Kotler argumenta ainda que “a empresa deve caracterizar sua missão
da maneira mais fundamental possível, pois é o que determinará sua sustentabilidade”.
(KOTLER, 2010, p. 46).
A missão define o que é e para que serve a empresa, além de quais áreas ela vai ou
não atuar. “A formalização da missão deve ser tão clara e objetiva que qualquer elemento da
33
organização poderá ter uma visão de orientação de quais seus nichos de mercado e, desta
forma, saber em quais situações sua organização pode estar envolvida” (IANHEZ, 2006, p.
103).
A missão também orienta na tomada de decisões em todos os setores da
organização. “É uma das principais bases para a ação de todos que atuam na organização, em
sua tomada de decisões” (IANHEZ, 2006, p. 103).
Além disso, a missão é importante ao esclarecer um compromisso da empresa na
união de todos em busca de um objetivo comum através de valores partilhados. “A missão é a
expressão atuante de um compromisso compartilhado. Tendo por base valores comuns, ela
atrai as pessoas para o esforço, com clareza, consenso e compromisso” (IANHEZ, 2006, p.
103).
A missão pode ser compreendida, portanto, como um ponto de partida para a
existência da empresa e para as decisões a serem tomadas. Já a visão é aposta ou esperança
que todos têm em relação ao futuro da empresa. O que queremos alcançar? Como a empresa
será daqui a certo tempo?
Enquanto a missão tem suas raízes no passado, quando a empresa foi fundada, a
visão tem a ver com a invenção do futuro. A visão pode ser definida como o que
desejamos que a empresa seja no futuro. Explica o que a empresa pretende ser e o
que pretende realizar. Para definir isso, uma empresa precisa criar um quadro mental
do futuro com base na definição de missão corporativa. (KOTLER, 2010, p. 46-47)
As pessoas são o elemento mais importante de uma empresa, são elas que agem e
decidem. São os funcionários, empregados, colaboradores (como quer que sejam chamados)
que são os verdadeiros multiplicadores dos valores e políticas da empresa, devem ser
valorizados, respeitados, envolvidos nas tomadas de decisão e para tanto precisam saber o que
a empresa faz, por que é importante e quais são seus papéis para a realização dos objetivos da
empresa. “Para um empregado [a visão] significa estar envolvido em uma tarefa que tem um
34
significado maior para a unidade, a organização, os clientes e a sociedade” (IANHEZ, 2006,
p. 104).
Os colaboradores devem ter em mente qual sua importância e como devem atuar
na organização.
Missão e visão ajudam a evitar a desorientação e a dispersão dos esforços de todos
os que atuam na organização. Por isso, tanto a missão quanto a visão devem permear
toda a organização, através de todos os meios de comunicação, inclusive matérias
jornalísticas em veículos internos e externos. (IANHEZ, 2006, p. 104).
Os líderes precisam ser os primeiros a acreditar nos valores, na missão e na visão
da empresa e compartilhá-los com todos, dando o exemplo, orientando, mobilizando e
engajando a todos para o alcance de um objetivo comum através de relacionamentos e
comunicação. Mas todos também devem participar do alcance dessa esperança de futuro da
empresa e devem estar compromissados em alcançar essas metas relacionadas na Visão da
empresa. “Visão tem a ver com esperança. Visão envolve confiança, credibilidade, não apenas
nas lideranças, mas na organização em sua totalidade, isto é, entre todos que dela participam”
(IANHEZ, 2006, p. 104).
Os valores e as políticas são de acordo com Ianhez (2006, p. 106) ferramentas
necessárias para que a organização cumpra sua missão e atinja sua visão e para que os
elementos postulados pela missão e visão sejam traduzidos no que pode ou não ser e como
deve ser feito – políticas – e como devem agir todos que atuam na organização no
relacionamento com o público – valores, ou seja, nas ações práticas do dia a dia que devem
permear toda a organização.
As políticas, como conceitua Ianhez (2006, p. 106), são baseadas em usos e
costumes da organização ao orientar operações do dia a dia de cada um de seus membros e
decisões gerenciais. Assim como os valores, as políticas devem permear toda a organização e
o ideal é que sejam formalizadas pela alta administração.
35
Ianhez (2006, p. 107) ressalta que as políticas podem se modificar de acordo com
a evolução da organização e do ambiente social no qual está inserida. As políticas, segundo o
autor, garantiriam uma uniformidade de desempenho e orientação para o alcance de operações
mais eficazes. As políticas, segundo Ianhez (2006, p. 107), orientam as ações dos
colaboradores nas situações de rotina e funcionam no dia a dia para superar problemas.
De acordo com o mesmo autor (IANHEZ, 2006, p. 107), os valores estabelecem a
forma como a organização se relaciona com as demais pessoas com as quais interage. Cria
uma coerência nas decisões que envolvem seus públicos e faz com que haja unidade mesmo
quando as pessoas trabalham separadamente.
Os valores podem ser considerados ‘padrões de comportamento institucionais da
corporação’ [...] Os valores articulam um conjunto de prioridades corporativas e
tentativas de gestão para incluí-los em suas práticas, o que, espera-se, fortalecerá
comportamentos que beneficiem a empresa e as comunidades dentro e fora dela, o
que, por sua vez, fortalecerá os valores da instituição. (KOTLER, 2010, p. 47)
Posto isto, depreendemos que os valores têm papel decisivo e cíclico no
desenvolvimento sustentável de uma empresa porque, assim como demonstra os princípios da
ecologia, tudo é interligado e gera uma consequência. Valores positivos melhoram interna e
externamente a empresa e esses benefícios fortalecem os próprios valores da instituição.
3.2 COMUNICAÇÃO INTERNA E CULTURA
De acordo com IANHEZ (2006, p. 108), “se uma organização consegue fazer com
que seus valores sejam realmente preservados e compartilhados, obtendo a adesão de todos os
seus colaboradores, ela não precisará dar destaques às sanções por práticas inadequadas”.
Aqui o autor aponta o fato de que se os empregados tiverem um bom comportamento, com
36
práticas alinhadas aos valores das empresas, não serão punidos porque já agem da maneira
como a empresa pensa e divulga que é certa.
Porém, podemos pensar a questão dos valores de forma mais abrangente. Se as
empresas possuem e praticam os valores adequados ao negócio que realizam e com a
preocupação com todo o entorno e com os públicos com os quais interagem e conseguem
tornar esses valores intrínsecos no comportamento de seus colaboradores, então não haverá
prejuízos para a própria empresa. Ou seja, pensando no pilar ambiental da sustentabilidade, se
uma empresa prega a preservação ambiental, seus colaboradores acreditam e a praticam, então
a empresa não terá que arcar com os prejuízos de uma degradação ambiental, porque antes
teve a preocupação de evitá-los. Para isso, a empresa deveria ter sido fundada com esta
missão, pensando nesta visão e baseada neste valor. E, consequentemente, sustentado e
transmitido a todos os seus públicos este compromisso.
Claro que há exceções, acidentes ou situações inesperadas. Como uma empresa
petrolífera que, apesar de pregar esses valores, ter políticas voltadas para a sustentabilidade e
mesmo educando seus colaboradores, passa pela situação de um derramamento de óleo no
mar, por exemplo. E para isso, deve-se haver planejamento e gestão de crises, não apenas
durante, mas principalmente antes do ocorrido.
Os valores exigem coerência tanto em sua formulação quanto na prática diária.
Assim como as políticas que devem abranger todas as situações que a organização pode estar
envolvida e orientar para as decisões mais eficazes que estejam alinhadas aos valores da
organização. Mesmo num caso especial, é imprescindível haver uma resposta rápida ao
episódio que deve, portanto, estar fundamentada neste ideal sustentável. Tanto na resolução
do problema, quanto na divulgação do que ocorreu. Além das práticas para evitar outro
incidente similar.
37
Mas algo imprescindível é que os líderes da organização compartilhem destes
mesmos valores e sejam o exemplo de que esses valores e políticas formalizadas pela
organização não são apenas palavras num livro de condutas, placas ou afins, e sim uma
prática sólida, verdadeira e que sejam a forma mais simples e correta a ser seguida. Porque,
por mais que os valores e políticas sejam divulgados, eles não serão praticados efetivamente
por todos os envolvidos se não houver o exemplo das lideranças.
Na prática do código de valores não existe imposição, nem sanções, nem punições.
Ela envolve a prática da democracia, da conscientização de que os valores são a
forma mais adequada de conduzir os relacionamentos da organização, em benefício
de todos os que dela participam e dela própria. (IANHEZ, 2006, p. 108).
Quando falamos de conscientização envolvemos a comunicação interna e externa
da empresa. Os profissionais que dela são responsáveis devem também se ater às diferentes
mudanças ocorridas na sociedade, dessa mobilidade dos empregados, dos clientes e da própria
sociedade. A comunicação deve ser ágil, porém bem fundamentada e deve ser voltada para
todos os públicos, mesmo os que façam parte da organização temporariamente, seja por ser
um cliente esporádico, seja por prestarem serviços por tempo limitado. Afinal, todos podem
ser agentes multiplicadores de opiniões (construtivas ou destrutivas) e de práticas (boas ou
ruins) de uma organização.
O banco Itaú, em um comercial de televisão, propaga a ideia de que o mundo
muda, apenas o que não muda é o respeito pelos seus clientes. Podemos interpretar esse texto
publicitário como uma coerência aos valores da empresa que se adéquam às mudanças do
mundo e da sociedade, porém na sua base não se modificam, mantendo sua integridade e
alinhamento de acordo com o que foi delineado em sua missão e de acordo com que foi
projetado em sua visão. Os elementos são interligados, devem ser flexíveis, porém íntegros.
Se há mudanças sociais, globais, de negócios ou ambientais, a empresa precisa se ajustar a
38
este contexto, porém sem perder de vista a razão de ser do seu negócio, seus valores e
objetivos.
Os jornalistas, assim como todos os profissionais de comunicação de uma
empresa, devem direcionar as organizações para a mudança de valores relativos à
sustentabilidade, como afirmou o jornalista Washington Novaes (informação verbal)7, durante
palestra no 9º Enjac que tratou, entre outros temas, do Meio Ambiente e da Sustentabilidade.
“As empresas que não tiverem condições e competência para acompanhar essas mudanças
estarão ultrapassadas e perderão espaço para as que o fizerem”.
A mediadora da mesa, jornalista Janice Caetano, confirmou que “o papel do
jornalista é levar aos diversos setores e à sociedade a importância do tema” (informação
verbal)8. Ela ainda enfatizou que não há mais espaço para a maquiagem verde. Ou seja, a
sociedade não acredita em discursos vazios sem ações práticas efetivas.
Regra de ouro da comunicação da sustentabilidade: existe uma lógica temporal – a
ação vem antes da comunicação. As ações e os programas de sustentabilidade das
empresas precisam estar maduros, gerar resultados, oferecer continuidade e
relevância. Nunca o contrário. Este é o ponto em que incidem as críticas
relacionadas ao greenwashing. Gastar R$ 100 mil com projetos e R$ 1 milhão com
a divulgação deles pode ser alvo de duras críticas, objeto de persecuções em
instâncias de autorregulamentação publicitária ou até mesmo, dependendo do teor,
alvo de ações e sanções públicas. (Guia de Comunicação e Sustentabilidade do
CEBDS, 2009, p. 36)
Nem os colaboradores nem a sociedade de maneira geral apoiarão gastos em
publicidade ou em qualquer área da comunicação de uma empresa no sentido de divulgar
mensagens acerca da sustentabilidade sem que antes os esforços e recursos sejam utilizados
7 Informação obtida no painel Assessorias de Comunicação e Rio 20 proferido pelo jornalista e advogado
Washington Novaes no 9º ENJAC – Encontro Nacional de Jornalistas de Assessorias de Comunicação, em
outubro de 2011.
8 Informação obtida no painel Assessorias de Comunicação e Rio 20 mediado pela jornalista Janice Caetano no
9º ENJAC – Encontro Nacional de Jornalistas de Assessorias de Comunicação, em outubro de 2011.
39
na verdadeira ação em prol da responsabilidade social, da preservação ambiental e da
transparência econômica, ou seja, dos pilares da sustentabilidade.
3.3 OS COLABORADORES COMO FORMADORES DA IMAGEM CORPORATIVA
Os funcionários, empregados, terceirizados e efetivos ou os colaboradores9, como
é atualmente denominado quem trabalha ou presta serviços a uma empresa (termo
considerado hipócrita por Wilson da Costa Bueno (BUENO, 2011, s/n)10, são as pessoas que
tem o primeiro contato com a organização e que sabem exatamente o que acontece em todas
as atividades da empresa. E são os colaboradores que têm o poder de formar uma imagem boa
ou ruim de uma empresa, são eles que podem analisar se as políticas e valores divulgados
externamente para os consumidores e a sociedade em geral são praticados internamente no dia
a dia da empresa.
O fato de informar bem os colaboradores sobre as questões ambientais implica em
realmente a empresa ser sustentável e evitar que as medidas sustentáveis sejam meramente
reativas e de resposta à degradação já ocorrida, mas sim preventivas; e de que se a empresa
realmente age de forma sustentável, essas políticas possam ser divulgadas pelos próprios
9 De acordo com a ABRACOM, no Caderno de Comunicação Organizacional, intitulado Como entender a
Comunicação Interna, “a questão da denominação é livre dentro das empresas. Cada empresa usa a terminologia
de acordo com sua cultura: funcionários, associados, colaboradores, empregados”. (ABRACOM, 2008, p. 9)
10
No artigo do Blog do Wilson “Uma organização tem vários públicos internos”, Wilson da Costa Bueno
questiona o uso do termo “colaboradores”: “Julgamos, na maior parte dos casos, hipocrisia designar os
funcionários como colaboradores. [...] Será lógico reconhecer que todos os funcionários colaboram? E deveriam
colaborar, levando em conta o grau de autoritarismo das chefias que predomina em boa parte das organizações?”
(BUENO, 2011, s/n)
40
colaboradores, o que possuiria ainda mais credibilidade e não seria visto apenas como uma
“jogada de marketing”.
Mas mesmo as divulgações externas das empresas sobre as questões sustentáveis,
desde que embasadas por políticas efetivas e contínuas, também são muito importantes. Pois a
conscientização das pessoas em relação às questões ambientais, sociais e econômicas é
positiva, não importa o meio pelo qual é feita: propaganda, informação jornalística ou
educação ambiental. Mas deve-se levar em conta que os primeiros a serem informados sobre
as políticas da empresa devem ser os colaboradores, até para que eles se sintam parte, possam
comunicar bem ao público externo e ainda saibam como agir. “O público interno é um dos
que têm maior crédito ao falar a respeito da organização. Por isso, é importante que ele esteja
sempre bem informado”, corrobora Portugal (2010, p. 59).
O fato é que o endossamento dos colaboradores é muito relevante. Eles poderão
confirmar ou destruir toda uma campanha de marketing. Mas isso não deve ser considerado
negativo pelos dirigentes. Antes, deve impulsionar para que as atividades da empresa sejam
realmente efetivas e que a sustentabilidade permeie todos os processos da organização.
Se os valores de uma empresa são seguidos pelos seus colaboradores dentro da
organização, uma conquista ainda maior é levar esses conceitos e práticas para fora de seus
muros. Isso possibilitaria que os esforços da empresa fossem perpetuados por todos e a
sociedade como um todo fosse conscientizada de que, se não cuidar do meio ambiente agora,
não haverá recursos para a sobrevivência das futuras gerações. Todos devem, portanto, cobrar
uma postura sustentável do governo e das empresas, mas também precisam fazer o seu papel
para ajudar na manutenção e melhoria do planeta.
41
As empresas, por sua vez, também devem perceber que sem qualidade de vida,
saúde, com a degradação dos recursos naturais, o consumismo desenfreado e a continuidade
da pobreza mundial não haverá ambiente para os seus negócios nem para sua expansão.
Essa divulgação “informal” dos ideais sustentáveis seria uma forma de atingir
uma gama ainda maior de pessoas e torná-las agentes de práticas éticas, de solidariedade,
preservação ambiental e conscientização quanto ao consumo. Essa abrangência seria ainda
maior pela credibilidade da mensagem. Hoje, cada vez mais, acreditamos naquilo que os
outros membros da comunidade compartilham. Os funcionários de uma companhia seriam
vistos como mais acessíveis e mais próximos do que dirigentes desta empresa. As mensagens
perpetuadas por eles, no papel de parentes e amigos são muito mais confiáveis que
propagandas, por exemplo. E se os funcionários de uma empresa endossam a mensagem
divulgada pela empresa, então esse discurso passa a ser real.
Em outro âmbito, a preocupação da empresa com os funcionários também é vista
como positiva e importante para a sociedade, visto que a opinião pública não apóia empresas
que não respeitam seus funcionários. Uma empresa para ser reconhecida pelo publico externo,
primeiro deve ter credibilidade e valorização interna.
Com foco no público interno, as políticas e a comunicação da e para a
sustentabilidade podem seguir os seguintes parâmetros, os quais também dizem respeito aos
elementos sociais do tripé da sustentabilidade, de acordo com o Guia de Comunicação e
Sustentabilidade do CEBDS:
respeito às convenções internacionais de trabalho e direitos humanos, trabalho
escravo e trabalho infantil. O respeito às leis trabalhistas e ao direito à livre
associação dos funcionários. A provisão de condições de segurança no trabalho. O
compartilhamento do processo decisório e o empoderamento de funcionários e
colaboradores para a construção de soluções, ferramentas e processos na
implantação das estratégias de sustentabilidade. O respeito às diferenças sociais,
culturais e religiosas e a valorização da diversidade étnica e de gênero dentro da
empresa e na sua relação com os stakeholders. O incentivo à seleção e promoção de
42
funcionários e colaboradores unicamente sob o ponto de vista da meritocracia. O
desenvolvimento de programas de nivelamento salarial entre homens e mulheres, de
políticas, procedimentos e treinamentos de funcionários e colaboradores no combate
à corrupção, de estratégias e programas para a melhoria das condições de saúde dos
empregados e da sociedade. A criação de estratégias e programas para a melhoria da
educação dos funcionários e para o desenvolvimento de mão de obra qualificada. A
educação e o incentivo a modos de vida sustentáveis e à responsabilização
individual dos funcionários e demais stakeholders. O entendimento de que o
engajamento de stakeholders deve ser utilizado para o direcionamento de ações e
compromissos da empresa. (Guia de Comunicação do CEBDS, 2009, p. 20)
O papel dos comunicadores dentro de uma empresa pode não ser tão abrangente
ou influenciador, mas é importante que nós comunicadores busquemos atuar como gestores.
Através da comunicação, da pesquisa, monitoramento e avaliação dos resultados das ações
executadas, podemos influenciar positivamente para que estes elementos da sustentabilidade
sejam postos em prática pelas altas gerências da organização mostrando como as práticas
sustentáveis podem ser vantajosas para a manutenção e continuidade da empresa e como o
respeito e valorização dos funcionários podem melhorar a produtividade e assim os lucros da
organização.
3.4 GESTÃO TRANSPARENTE
Para que a empresa conquiste seus maiores formadores de opinião e
multiplicadores de práticas positivas, além do respeito e da valorização, os seus dirigentes
devem agir e comunicar-se de forma transparente. Isto significa, em resumo, informar com
clareza o que é a empresa, qual seu papel na sociedade, qual seu faturamento, quais são suas
políticas e valores e o que ela espera atingir, informando os destinos que pretende tomar.
A gestão transparente inicia-se com um conhecimento prévio da própria empresa e
do perfil dos seus stakeholders, para que então possa treinar seus recursos humanos para que
43
eles possam atender bem e dar resultados. O foco da empresa deve ser seu ambiente e seu
público interno.
Para quem começa a trabalhar na empresa, a integração é o primeiro passo. Os
novos funcionários precisam conhecer a missão, a visão, as políticas e os valores da empresa,
ser informados sobre as ações de meritocracia e serem estimulados a atuar com entusiasmo a
partir de um relacionamento que leve em conta sua estima.
Novos e antigos funcionários devem poder participar ativamente das decisões e os
gestores devem dar abertura para sugestões, participação, para que os funcionários mostrem
outras soluções e que suas opiniões sejam consideradas e suas propostas analisadas e
praticadas. As pesquisas de clima, nesse caso, são ferramentas importantes no intuito de levar
as reivindicações dos funcionários aos gestores e diretores de cada departamento para que
sejam analisadas quanto à viabilidade e possam ser colocadas em prática.
A motivação dos funcionários não pode ser apenas, como exposto acima, por
meio da remuneração. Mas claro que o salário justo, compatível com o mercado, conforme as
leis e convenções trabalhistas e de acordos coletivos e de classe, participação nos lucros e
meritocracia devem ter sua importância e devem ser respeitados, assim como os demais
direitos dos trabalhadores. Mas a forma como um colaborador é remunerado, gratificado ou
premiado também precisa passar por uma transparência maior e ser justa em todos os níveis
hierárquicos e abranger toda a cadeia produtiva.
Para motivar e engajar é preciso mais que remuneração, é necessário informação
clara e transparente e promover um ambiente de trabalho agradável que inspire confiança, que
incentive a participação e valorize o empregado. Desta forma, fica mais fácil os funcionários
adotarem o discurso da empresa porque o percebem como real e sentindo-se parte desta
engrenagem, podendo participar e influenciar nas decisões, a satisfação pessoal por trabalhar
44
fica mais evidente e, portanto, o engajamento e a mobilização dos colaboradores para atuarem
de forma espontânea e com entusiasmo e multiplicarem estas políticas e valores é muito
maior.
A comunicação é parte importante da educação, transmissão de informação,
divulgação, conscientização e motivação para a adoção de práticas sustentáveis. “Não havendo
motivação, não há envolvimento no processo produtivo. Se existe uma comunicação efetiva é
porque as partes envolvidas no processo estão interagindo”. (PORTUGAL, 2010, p. 59).
Porém antes de comunicar, a empresa deve agir de forma sustentável. A maioria
(65%) dos entrevistados para a pesquisa publicada no Dossiê Verde11
, da Revista Ideia
sustentável, entre o público em geral e 62% dos formadores de opinião responderam
concordar totalmente com a pergunta “É melhor que uma empresa admita que faz pouco pela
sociedade ou meio ambiente do que dizer que faz mais do que realmente faz”. (Revista Ideia
Sustentável, 2010, p. 47) Ou seja, os públicos de uma forma geral não acreditam em discursos
que não estão alinhados com as práticas reais das empresas no que se refere à
sustentabilidade. “A pesquisa mostra que se uma empresa utiliza estratégias de comunicação
que não condizem com a sua conduta, isso é muito ruim para sua reputação, na visão de todos
os públicos, sejam experts ou não”. (Revista Ideia Sustentável, 2010, p. 47)
O público em geral e principalmente o público interno não acredita em discursos
que não se baseiam em informações de ações concretas e contínuas praticadas pelas empresas.
Se a empresa não faz nada ou faz pouco pelo meio ambiente e a sociedade deve admitir isso.
Caso o faça deve divulgar suas políticas para servir de exemplo, conscientizar e motivar para
11
Dossiê Verde: É um suplemento da Revista Ideia Sustentável. Na edição 9, publicada em dezembro de 2010,
apresenta-se a pesquisa “Comunicação e Educação para a Sustentabilidade” que se constitui em um
levantamento que é resultado da parceria entre a Market Analysis e o Conselho Empresarial Brasileiro de
Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e envolve a realização de pesquisas de opinião pública com os temas do
ciclo Sustentável 2010: Cidades e Mudanças Climáticas,Comunicação e Educação para a Sustentabilidade e
Rede de Mercados Inclusivos. O objetivo da iniciativa é trazer a perspectiva do cidadão-consumidor e de
formadores de opinião da sociedade para encontros promovidos em diversas capitais brasileiras. A estrutura
desta pesquisa foi apresentada no segundo evento, ocorrido em Porto Alegre, em agosto de 2010.
45
que mais pessoas adotem esta postura. “Uma das conclusões da sondagem é que a melhor
forma de comunicar é a organização servir de exemplo, aplicando princípios sustentáveis na
sua gestão e em seus valores”. (Revista Ideia Sustentável, 2010, p. 52)
Os gestores e líderes das organizações também devem se conscientizar e, para isso
precisam estar bem informados e também perceberem que a comunicação tem função decisiva
para superar os desafios que envolvem a sustentabilidade.
A evolução do conceito (de sustentabilidade) no País passa pela conscientização dos
gestores sobre a importância da atitude sustentável incorporada nos processos
internos e no dia a dia de seus colaboradores. A assimilação dessa atitude também
depende do grau de conhecimento que se tem sobre o tema: os líderes empresariais
não acordaram ainda para os desafios de tudo que envolve a sustentabilidade e da
importância das estratégias e ferramentas de comunicação para alcançar os
objetivos. (Revista Ideia Sustentável, 2010, p. 52)
Entre essas ferramentas destacamos a governança corporativa12
que alinha interesses
entre acionistas e dirigentes. O CEBDS oferece uma definição relevante sobre esta estratégia:
Governança Corporativa é o sistema pelo qual as organizações são dirigidas,
monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre proprietários,
conselho de administração, diretoria e órgãos de controle. As boas práticas de
governança corporativa convertem princípios em recomendações objetivas,
alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor da organização,
facilitando seu acesso ao capital e contribuindo para a sua longevidade.’(IBGC)
(Guia de Comunicação e Sustentabilidade do CEBDS, 2009, p. 18)
A sustentabilidade está entre os componentes principais da governança corporativa, de
acordo com a listagem do CEBDS:
12
De acordo com o IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – a boa governança ou a governança
corporativa surge em meados de 1990, principalmente nos Estados Unidos, quando acionistas percebem a
necessidade de novas regras que os protegessem dos abusos da diretoria executiva das empresas, da inércia de
conselhos de administração inoperantes e das omissões das auditorias externas. Ainda segundo o Instituto, a
preocupação da Governança Corporativa é criar um conjunto eficiente de mecanismos, tanto de incentivos
quanto de monitoramento, a fim de assegurar que o comportamento dos executivos esteja sempre alinhado com o
interesse dos acionistas. A boa governança proporciona aos proprietários (acionistas ou cotistas) a gestão
estratégica de sua empresa e a monitoração da direção executiva. As principais ferramentas que asseguram o
controle da propriedade sobre a gestão são o conselho de administração, a auditoria independente e o conselho
fiscal. (IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. A origem da boa governança. Disponível em:
<http://www.ibgc.org.br/Secao.aspx?CodSecao=18> Acesso em: 25 mar. 2012)
46
os valores, os princípios e as políticas para o desenvolvimento sustentável; A visão
de sustentabilidade e a estratégia de negócios; A intenção de influenciar clientes e
formar mercado; A identificação e a priorização de questões; A gestão de riscos
sociais, ambientais e econômicos; A identificação de oportunidades; As
responsabilidades e as estruturas de governança; A percepção dos desafios de
implementação de estratégias de desenvolvimento sustentável; A implantação de
instrumentos de avaliação de desempenho; A acessibilidade e a transparência de
informações (Guia de Comunicação e Sustentabilidade do CEBDS, 2009, p. 18)
Os parâmetros norteadores da governança corporativa a serem seguidos pelas
empresas, de acordo com o CEBDS (Guia de Comunicação e Sustentabilidade do CEBDS,
2009, p. 18), devem ser a real vinculação da sustentabilidade à estratégia dos negócios; o
desenvolvimento de estruturas adequadas, que garantam responsabilidades e
comprometimento com a visão e as metas propostas; o comprometimento dos conselhos de
administração e das lideranças com a sustentabilidade.
Hoje o ambiente de negócios global permite que as empresas possam ter um papel de
responsabilidade frente à sociedade ao mesmo tempo em que alcança lucros. Para Laszlo
(2008, p. 67), este é o modo inteligente de fazer negócios. Segundo ele, em sua análise de
diversos cases de empresas globais, “aquelas que oferecem soluções a problemas ambientais e
sociais estão descobrindo enormes oportunidades de ganhos” (LASZLO, 2008, p. 67).
47
4. COMUNICAÇÃO INTERNA E SUSTENTABILIDADE NA BRF – BRASIL FOODS
Apresentamos a seguir o case da BRF – Brasil Foods – empresa do ramo
alimentício que promove estratégias de desenvolvimento sustentável. Buscamos explicitar os
pontos de convergência entre as práticas de gestão e as teorias apresentadas e discutidas no
estudo bibliográfico da presente pesquisa.
4.1 METODOLOGIA
Realizamos uma análise de conteúdo de duas publicações da empresa BRF –
Brasil Foods – selecionada para investigação pelo reconhecimento público em diversas
esferas da efetividade de suas políticas em favor da sustentabilidade. São objetos de análise o
Relatório Anual e de Sustentabilidade da companhia, publicado em 2010 (Anexo 1), o
primeiro balanço que leve em consideração e destaca a importância da sustentabilidade, e uma
edição especial da Revista BRF, nº 89, do ano de 2011 (Anexo 2), que explica a fusão das
marcas Perdigão e Sadia e o surgimento da nova companhia; considera-se os desafios da
mudança cultural pela integração de equipes distintas, antes rivais no mercado; o papel da
comunicação e também a criação de um setor específico para a sustentabilidade.
Verificamos, de acordo com as premissas de Sustentabilidade explicadas na parte
teórica do trabalho, as ações que eram praticadas pela empresa escolhida. Analisamos que a
empresa também se compromete com a valorização, respeito e reconhecimento de seus
funcionários, objeto de estudo complementar do presente trabalho que resultaria na motivação
e consequente engajamento dos colaboradores de uma empresa na causa sustentável. Por fim,
investigamos as formas de comunicação, que sob diversas premissas, pretende ser um
48
“processo [...] claro, transparente e constante, que sinalize para onde caminhamos, permitindo
a cada profissional refletir sobre como esses valores e estratégias estão sintonizados com o
seu cotidiano, planos pessoais e carreira.” (BRF, 2011, p. 11)
A versão dos fatos expostos pela empresa em seu site, através de relatórios e
publicações, é analisada sob a ótica das teorias expostas e discutidas anteriormente. O
presente case é o ponto de partida para outros estudos e para que outras empresas também
compartilhem de políticas parecidas ou melhores para que obtenham resultados econômicos,
valorizando seus funcionários e os considerando como parte fundamental de seus negócios e
protegendo e preservando e compensando seus impactos negativos no meio ambiente – sendo
ele cultural ou natural.
4.2 BRASIL FOODS
A BRF – Brasil Foods, de acordo com seu Relatório Anual e de Sustentabilidade
publicado em 2010 (BRF, 2010, p. 2), é uma companhia de capital aberto que fabrica,
distribui e comercializa alimentos, é líder na produção global de proteínas, com participação
de 9% da comercialização mundial, e maior exportadora mundial de aves. Em 2010, alcançou
a posição de terceira maior exportadora do Brasil, segundo dados do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. É ainda uma das mais importantes
captadoras e processadoras de leite do País.
De acordo com o Relatório publicado em 2010 (BRF, 2010, p. 2), o portfólio de
produtos da BRF é formado por mais de três mil itens, nos segmentos de aves, suínos,
bovinos, processados de carne, leite, lácteos, margarinas, massas, pratos e vegetais congelados
e outros produtos processados. Suas principais marcas são Perdigão, Sadia, Qualy, Doriana,
49
Becel, Rezende, Batavo, Elegê, Wilson, Cotochés, Miss Daisy, Deline, Avipal, Texas Burger,
Speedy Pollo, Turma da Mônica, Chester, Fribo e Freski.
Em 2010, segundo a revista BRF (BRF, 2011, p. 9) a empresa operava 60 unidades
industriais no Brasil, espalhadas por 11 estados, mais três unidades no exterior (Argentina,
Inglaterra e Holanda). Além de escritórios comerciais da companhia instalados na Argentina,
Chile, Uruguai, Ilhas Cayman, Venezuela, Hungria, Inglaterra, Rússia, Holanda, Itália,
Áustria, Ilha da Madeira (Portugal), França, Inglaterra, Alemanha, Turquia, Emirados Árabes
Unidos, Cingapura, Japão e China.
Com faturamento líquido de R$ 23 bilhões, a BRF se considera (BRF, 2011, p. 9)
a maior exportadora mundial de aves e uma das maiores companhias globais de alimentos em
valor de mercado. Consta entre as principais empregadoras privadas, com 117 mil
funcionários. E, com isso, causa forte impacto econômico e social nas regiões onde opera, de
acordo com seu relatório anual (BRF, 2010, p. 2). Segundo o site da BRF (BRF, 2012), em
2012, o número de funcionários sobe para 119 mil com mais uma fábrica instalada no país.
A relevância para integrar o presente estudo é devido à sua adesão a elevados
padrões de governança corporativa, e por ter sido selecionada pelo sexto ano consecutivo para
o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE)13
, por seu compromisso com o crescimento
sustentável.
13 Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE): índice de ações referencial para os investimentos socialmente
responsáveis. Criado pela BM&FBOVESPA em parceria com várias instituições - ABRAPP, ANBIMA,
APIMEC, IBGC, IFC, Instituto ETHOS e Ministério do Meio Ambiente – formou-se um Conselho Deliberativo
do qual faz parte também o PNUMA. O ISE tem por objetivo refletir o retorno de uma carteira composta por
ações de empresas com reconhecido comprometimento com a responsabilidade social e a sustentabilidade
empresarial, e também atuar como promotor das boas práticas no meio empresarial brasileiro.
(BM&FBOVESPA. Índice de Sustentabilidade Empresarial. [2012a]. Disponível em:
<http://www.bmfbovespa.com.br/indices/ResumoIndice.aspx?Indice=ISE&Idioma=pt-BR>Acesso em: 15 abr.
2012)
50
Em maio de 2009, com informações do site da empresa (BRF, 2009), foi
celebrado um Acordo de Associação entre a Perdigão e a Sadia, que resultou na criação da
BRF Brasil Foods S.A, com sede social na cidade de Itajaí, Santa Catarina. Em 13 de julho de
2011, de acordo com a Agência Estado, em reportagem de Collet e equipe (COLLET, 2011),
a fusão das marcas Perdigão e Sadia foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade), com a restrição de que alguns produtos da Perdigão e também Batavo
fossem suspensos e retirados do mercado por três, quatro e cinco anos.
A fusão da Perdigão e Sadia impacta investidores, gestores, consumidores, mas
principalmente seus funcionários. As diferenças culturais dos funcionários de ambas as
empresas são usadas como oportunidade de um “intercâmbio de conhecimentos e
experiências, com respeito e aceitação as diferenças”, segundo Pérsio Pinheiro, diretor de
Desenvolvimento Organizacional e RH Internacional da BRF, em entrevista para a Revista da
BRF nº 89, de setembro/outubro de 2011. Pinheiro afirma que “para ajudar nesse processo,
[...] iniciaremos um programa de desenvolvimento para executivos sobre entendimento e
gestão das diversidades. Esse e todos os outros programas existentes na companhia fortalecem
a cultura BRF” (BRF, 2011, p. 11).
De acordo com a matéria publicada na revista, saber lidar adequadamente com
comunidades tão distintas, ricas em história e cheias de peculiaridades, requer jogo de cintura
e competência administrativa. Gerenciar corretamente essas diferenças culturais é
fundamental, pois pode significar vantagem competitiva. Essa vantagem seria resultado da
combinação das melhores práticas de cada empresa e com isso o intercâmbio entre os
conhecimentos mais eficazes dos funcionários de cada uma delas.
As diferenças que precisavam ser harmonizadas não eram apenas por serem pessoas
com conhecimentos e modos de produzir diferentes, mas funcionários de empresas rivais, o
que traz estranhamento, competitividade, menosprezo e sentimentos de superioridade ou
51
inferioridade, se não forem trabalhados pelas gerências, se não houver respeito e justiça no
tratamento, remuneração, entre outros. “Há diferenças significativas, e criar uma política
harmonizada não é tarefa simples”, de acordo com o diretor de Gestão de Projetos da BRF,
Maurício Cherobin. O diretor, em entrevista para a Revista BRF, lembra que “havia certo
desconforto entre as pessoas por conta da rivalidade anterior das companhias e, para quebrar
esses e outros tabus, decidimos somar o que havia de bom em cada uma para tornar a BRF
uma empresa ainda melhor”. (BRF, 2011, p. 14)
Para a tarefa de otimizar as melhores práticas de cada uma das companhias foi criado
um Comitê de Melhores Práticas, que compilou 200 práticas resultantes de um mapeamento
das oportunidades advindas da fusão. Esse time foi dividido em áreas e, para que não
houvesse estranhamento ou sentimento de favorecimento de uma das partes o grupo foi
dividido em pares com representantes de cada empresa para que identificassem e
comparassem os processos mais eficientes, de acordo com Cherobin, em entrevista para a
Revista BRF.
E a BRF que surge com esta fusão, com diversas mudanças e ajustes culturais, de
práticas e processos, “nasce estruturada com uma área que cuidará das iniciativas e ações
ligadas à sustentabilidade” (BRF, 2011, p. 18) para que as melhores práticas sustentáveis de
cada empresa também sejam incorporadas nas práticas da empresa que se inicia. Desse modo,
a missão, visão e valores da empresa foram revistos.
Missão, Visão e Valores são apresentados no início do Relatório Anual e de
Sustentabilidade 2010 da Brasil Foods (BRF, 2010). De acordo com o relatório, a BRF nasce
com a missão ou a razão de ser da empresa como a de “Participar da vida das pessoas,
oferecendo alimentos saborosos, com qualidade, inovação e a preços acessíveis, em escala
mundial” (BRF, 2010). Já na concepção da visão da empresa, ou das metas que ela pretende
alcançar, aparece a palavra “sustentável”, colocando a empresa como uma das responsáveis
52
por ações em prol de um mundo sustentável. A visão da BRF é a de “Sermos uma das maiores
empresas de alimentos do mundo, admirada por suas marcas, inovação e resultados,
contribuído para um mundo melhor e sustentável” (BRF, 2010). E entre seus valores estão
integridade, respeito pelas pessoas, desenvolvimento das pessoas, desenvolvimento
sustentável e compromisso com a diversidade.
De acordo com Pérsio Pinheiro, em entrevista para a Revista BRF, “os valores
representam o ‘DNA’ da BRF e precisam ter um entendimento comum, ser internalizados e
praticados no dia a dia” (BRF, 2011, p. 11).
4.2.1 Comunicação para a Sustentabilidade
Como estudado no capítulo 3, a Comunicação Interna de uma empresa tem papel
estratégico em disseminar os elementos norteadores da empresa, entre eles a Missão, Visão,
Valores e Políticas. Como a sustentabilidade é pensada na visão de futuro e permeia os
valores da empresa BRF – Brasil Foods, o setor de Comunicação Interna, em diálogo com os
outros setores da organização, têm como objetivo estratégico disseminar a sustentabilidade
em todas as ações, discursos e como imagem da empresa. A sustentabilidade precisa permear
todos os relacionamentos seja por parte da comunicação, dos públicos internos, dos líderes e
pelos outros setores e, neste sentido, a comunicação tem função de comprometer e engajar os
stakeholders.
A empresa BRF considera como parte importante do processo de fusão entre as
marcas Perdigão e Sadia e também para o intercâmbio de conhecimentos entre as duas
marcas, antes rivais no mercado e que hoje reúne as melhores práticas de cada uma, a
comunicação clara, transparente e constante que sintonize os valores da empresa para as
atividades diárias, deixando o discurso empresarial próximo e útil. Na avaliação de Pérsio, em
53
entrevista para a revista BRF, um ponto muito importante é um processo de comunicação
claro, transparente e constante, que sinalize para onde caminhamos, permitindo a cada
profissional refletir sobre como esses valores e estratégias estão sintonizados com o seu
cotidiano, planos pessoais e carreira. “Todos também devem estar dispostos a construir uma
empresa virtuosa e culturalmente forte, considerando o que cada um tem de melhor,
respeitando as diferenças e gerando cada vez mais valor e satisfação para todos.” (BRF, 2011,
p. 11)
A empresa BRF valoriza a comunicação, a transmissão de informações e a
educação para a sustentabilidade como forma de multiplicar uma cultura sustentável que
também beneficia seu próprio negócio, expondo um argumento válido para que outras
empresas também sigam esse caminho. “Se conseguir disseminar essa cultura voltada para a
sustentabilidade, trará ganhos para a eficiência do negócio e terá oportunidade de associar
esses aprimoramentos da gestão como um diferencial da marca BRF” (BRF, 2011, p. 7).
Com o aumento da população mundial, nas próximas décadas, a BRF acredita que
o consumo global de carne e derivados dobrará. Para a empresa, o desafio é ampliar a
produção com o menor impacto socioambiental. Com uma equipe exclusiva, o setor que
cuidará da sustentabilidade prevê o diálogo com as demais áreas da empresa, mostrando o
valor da comunicação para todo o processo. “Trata-se de uma grande oportunidade para a
nova organização, que manterá uma equipe exclusiva para disseminar e desenvolver conceitos
com foco em inovação e aprimoramento constante de processos, em parceria com as demais
áreas da empresa” (BRF, 2011, p. 18-19).
“Está entre os objetivos da gestão estratégica a adoção e o fortalecimento de práticas
sustentáveis em toda a cadeia de produção da BRF e no relacionamento com os seus
principais públicos de interesse”, segundo a gerente de Sustentabilidade da BRF, Luciana
Ueda, em entrevista para a Revista BRF (BRF, 2011, p. 19). Entre os pilares prioritários que a
54
Brasil Foods busca implantar em sua gestão estratégica para a sustentabilidade estão:
engajamento com públicos de relacionamento e valorização do capital humano. Em sua
política de Meio Ambiente, a BRF confirma seu “papel na disseminação de boas práticas para
a preservação ambiental através da educação e do comprometimento de seus funcionários,
terceiros e dos envolvidos na cadeia produtiva” (Política de Meio Ambiente BRF, 2011),
compreendendo a importância da educação ambiental para o engajamento de seus
stakeholders, entre eles seus públicos internos.
A comunicação interna da empresa, neste sentido, teria como papéis estratégicos a
educação, disseminação de boas práticas e, seja pelos discursos como pelo relacionamento,
comprometer e engajar os públicos da empresa para a prática sustentável.
A Brasil Foods coloca suas políticas de sustentabilidade como parte estratégica de seu
plano de negócios. Assim a empresa explica o que entende pela vantagem competitiva de ser
uma empresa sustentável:
É mais do que preservar o meio ambiente ou gerar empregos. É atuar de forma
diferenciada no mercado, gerindo o dia a dia e as atitudes da organização com base
num conjunto de diretrizes, práticas e ações que visem resultados positivos
simultâneos nos aspectos econômicos, ambientais e sociais. (BRF, 2010, p. 7)
A BRF dá um grande passo em sua reflexão sobre a sustentabilidade, não como
um gasto, uma obrigação ou uma mera conformidade com leis e acordos, mas como uma
forma de evolução, de se manter e fortalecer no mercado e, então crescer. “A BRF entende
que contribuir para o desenvolvimento da sociedade é compatível com seu próprio avanço”.
(BRF, 2010, p. 7).
Com esta visão, a BRF (BRF, 2010, p. 7) formulou os pilares de sua estratégia
sustentável, entre eles: compromisso total com sustentabilidade, que inclui critérios de
sustentabilidade nas decisões de investimentos e novos projetos/produtos da organização;
atrelar remuneração variável/bônus dos principais executivos às metas de sustentabilidade;
55
alavancar a sustentabilidade na cadeia de valor, que entre outras ações busca identificar e
reduzir os principais riscos sociais e ambientais na cadeia de valor (do campo à mesa);
engajamento com públicos de relacionamento, que tem como princípios envolver os públicos
de interesse nas tomadas de decisões; aprimorar o processo de prestação de contas em
assuntos voltados à sustentabilidade, priorizando transparência e públicos-chave; promover o
consumo sustentável; e a valorização do capital humano, com a percepção da importância de
valorizar e capacitar mão de obra local; aprimorar práticas de gestão para elevar os níveis de
satisfação dos funcionários; incluir a educação para a sustentabilidade na estratégia de
desenvolvimento organizacional; orientar os funcionários para atuar como agentes de
sustentabilidade.
Em 2010, de acordo com o Relatório Anual e de Sustentabilidade publicado
naquele ano, a empresa totalizava 113 mil colaboradores, entre funcionários fixos e
temporários, estagiários, aprendizes e terceirizados, e uma comunicação com este número de
funcionários se torna difícil de ser totalmente personalizada. O estudo para escolha dos temas
constantes no relatório da empresa foi feita entre gestores e representantes do público externo.
Com a elaboração do relatório anual, esclarecimento e participação dos gestores, estes, por
sua vez, foram incumbidos de disseminar o conteúdo do relatório, entre outras informações,
para os demais funcionários da empresa. A comunicação interna, entre outras ferramentas,
utilizou-se de totens, murais e reuniões com os supervisores de cada área. A gerência de
comunicação interna e a de recursos humanos têm o papel de se relacionar e de se comunicar
com estes funcionários. Em 2011, 30 áreas foram englobadas nesse engajamento constando de
gerentes e hierarquias inferiores.
Nos próximos tópicos, verificaremos como a BRF valoriza e incentiva seus
maiores formadores de opinião – seus públicos internos – e quais são suas ações e políticas
56
para a preservação, conservação e compensação ambiental em alinhamento com seu processo
produtivo.
4.2.2 Desenvolvimento das pessoas
As metas sociais da empresa avançaram em 2010, após a fusão, com ações de
treinamento e desenvolvimento e dos programas de qualidade vida no trabalho, de acordo
com seu Relatório anual publicado no mesmo ano, que tiveram resultados positivos para os
negócios da empresa.
A Companhia elegeu como prioridades o desenvolvimento da cultura BRF, a
formação de líderes para o crescimento da empresa e de gestores com visão global e a
consolidação da cultura de Segurança, Saúde e Meio Ambiente (SSMA). Um dos reflexos
dessa iniciativa, de acordo com o relatório (BRF, 2010, p. 38), foi a redução de 35% na Taxa
de Frequência de Acidentes com afastamento em 2010, que passou de 7,1 para 4,6.
A atração e retenção de talentos conta com diversos benefícios que estimulam a
motivação do público interno: a BRF “procura manter salários e benefícios competitivos e um
ambiente de trabalho que estimule o engajamento do público interno [...] premiação por
assiduidade e produtividade” (BRF, 2010, p. 38). Na captação de talentos estimula-se o QI
(quem indica) em que funcionários indicam conhecidos para trabalhar na empresa, no
programa “Eu Recomendo”, que leva em consideração a segurança de contratar alguém que
seja de confiança de outro empregado, mas que precisa levar em consideração as
qualificações e méritos deste trabalhador que é indicado. Há também o “Recrutamento
Itinerante” que é um projeto que desloca as equipes de atração e seleção até as localidades
onde há vagas em aberto, como forma de aperfeiçoar os processos de contratação,
promovendo e incentivando a diversidade. Também no esforço de capacitar futuros
57
empregados, a BRF, em 2010, lançou o Geração BRF 2011, primeiro programa de trainees.
De acordo com a empresa (BRF, 2010, p. 38), 15 mil jovens inscreveram-se para concorrer a
30 vagas. Os jovens passarão por todos os setores da empresa e serão capacitados em sua área
de interesse.
O que desperta a atenção no Relatório Anual e de Sustentabilidade da Empresa
publicado em 2010 é que o número de funcionários fixos, temporários, terceirizados, assim
como seu número total diminuiu, tanto pela fusão como pelas restrições e alienações de
fábricas. Porém, notamos que o número de aprendizes e estagiários aumentou
aproximadamente 18% e 15%, respectivamente. A tendência de aumentar o número de
estagiários e aprendizes para capacitar futuros empregados é grande, porém a empresa deve
continuar a atender os direitos dos empregados, não ultrapassar o limite no número de
aprendizes e estagiários e não usá-los como uma forma de substituir os trabalhadores fixos
por mão de obra mal remunerada e que não onera a empresa em despesas com os direitos
trabalhistas.
Entre estes direitos, estão a segurança e a saúde do trabalhador. Na BRF, de
acordo com seu relatório anual de 2010 (BRF, 2010, p. 40), mais de 90% dos funcionários são
representados em comitês formais de segurança, auxiliando no monitoramento e
aconselhamento sobre programas de segurança e saúde ocupacional, entre eles o Comitê de
Segurança, Saúde e Meio Ambiente, que contribui para a redução e eliminação dos acidentes
ou doenças de trabalho, com a disseminação de informações e o monitoramento da aplicação
de suas normas e princípios. Como resultado, de acordo com a empresa, em 2010 houve
redução média de 40% na Taxa de Frequência de Acidentes de com afastamento, incluindo
acidentes de trajeto: chegou a 5,01, em comparação a 7,05 em 2009 e 8,61 em 2008. Segundo
a BRF, a meta é alcançar uma redução anual superior a 10%.
58
Um dos focos da BRF para os seus públicos internos, em 2010, foi dado à
execução do plano anual de treinamento, em que estão organizadas todas as ações para os
níveis não gerenciais da empresa, com abordagem educacional, tanto técnica quanto
comportamental. Para o nível executivo, a atenção concentrou-se em práticas e conceitos
modernos de gestão. O programa de trainees foi revisado, o que demonstraria a constante
preocupação da empresa com a formação de futuros líderes. Para 2011, foi previsto o
desenvolvimento de soluções customizadas por meio de relacionamentos e parcerias; atuação
em planos de desenvolvimento individual com abrangência em todos os níveis; alinhamento e
padronização das ações de treinamento e desenvolvimento; assim como o foco no desenho e
na implantação de novas políticas, processos e programas, dando assim suporte ao constante
crescimento da empresa.
Com o objetivo de atribuir método e transparência ao processo de sucessão de
lideranças, a BRF promove periodicamente avaliações e análises de desempenho e
desenvolvimento da carreira dos executivos da companhia.
Os treinamentos são parte constante do desenvolvimento dos trabalhadores e
temas relacionados à saúde e segurança são abordados por grande parte dos acordos com
sindicatos. Entre eles estão fornecimento e orientações sobre a importância da utilização dos
equipamentos de proteção individual (EPIs), treinamentos e processos educacionais com foco
em segurança e saúde no trabalho, participação de representantes dos trabalhadores –
sindicalistas e cipeiros – em vistorias de segurança e saúde, auditorias e investigações de
acidentes.
Os empregados também podem recusar trabalho inseguro, embora não conste dos
acordos coletivos, a decisão seria respeitada pela Empresa e é parte integrante da política de
SSMA. A adoção de comportamento seguro é uma das garantias para atingir o nível de
excelência. Em 2010, os treinamentos de saúde, segurança e meio ambiente (SSMA)
59
abrangeram 7.087 pessoas (20.245 em 2009), com investimento de R$ 3,4 milhões (R$ 5,5
milhões em 2009).
A BRF mantém diversos programas para assegurar melhores condições de saúde
e segurança, a exemplo de prevenção e educação sobre dependência química, reabilitação
profissional, ergonomia participativa, diálogos de saúde e segurança, além de requisitos
legais, como controle médico e saúde ocupacional. Há também o “Programa de Qualidade de
Vida no Trabalho” (PQVT) que procura tornar o ambiente de trabalho mais saudável por meio
de atividades como ginástica laboral, centro de condicionamento físico e reabilitação
profissional.
A representação sindical também é respeitada e as negociações coletivas
abrangem, segundo a BRF (BRF, 2010, p. 41), 99,4% dos empregados e as premissas dessas
relações com os sindicatos são diálogo, ética, respeito, responsabilidade e transparência e,
ainda de acordo com a empresa, a sindicalização é feita com autonomia e liberdade.
A BRF exige de seus fornecedores que tenham o mesmo respeito pelos seus
funcionários, cobrando “o cumprimento integral da legislação trabalhista e do livre exercício
do direito de sindicalização” (BRF, 2010, p. 41). Para que o impacto aos trabalhadores devido
à fusão e à alienação de fábricas fosse minimizado, a empresa também exigiu, por no mínimo
seis meses, que os novos empregadores mantivessem o número de contratações conforme a
gestão anterior.
A empresa também entende que deve desempenhar um papel importante no
desenvolvimento das comunidades em que está presente. Para cumprir este princípio a
empresa atua na prevenção, mitigação e compensação de seus impactos negativos e fortalece
seus pontos positivos, aprimorando seus impactos positivos. Seus investimentos sociais
focam-se em educação e meio ambiente, de acordo com as necessidades locais. Em 2010,
(BRF, 2010, p. 44) a empresa destinou R$ 2,2 milhões a projetos com essas características.
60
Em 29 de março de 2012, a BRF lança, durante a sétima edição do principal
encontro de investimento social do Brasil – Congresso GIFE –, o Instituto BRF. De acordo
com a empresa (BRF, 2012), todos os projetos e programas do Instituto visam potencializar o
desenvolvimento dos municípios em que a BRF está presente. Ao longo de 2012, a previsão é
investir R$ 5 milhões. Além de recursos financeiros, a BRF pretende gerar aprendizagem e
conhecimento. O instituto, ainda de acordo com o site da empresa (BRF, 2012), viabiliza
também a participação voluntária de funcionários que dedicam tempo e talento às atividades
locais.
4.2.3 Gestão Ambiental
Já os investimentos em Gestão Ambiental totalizaram R$ 144,1 milhões em 2010,
o que representou um aumento de 29% em relação ao ano anterior. A empresa presta contas
de como esse montante foi gasto naquele ano: “A maior parte dos recursos (51,3%) foi
aplicada em destinação, tratamento de resíduos e mitigação de impactos e em florestas
renováveis (31,8%)” (BRF, 2010, p. 46).
Segundo a empresa essas políticas permeiam todas as etapas de suas operações e
beneficiam todas as comunidades de entorno de suas unidades. Dessa forma, a BRF acredita
que “contribui para solidificar uma cultura atenta ao desenvolvimento sustentável em todos os
seus segmentos de atuação e públicos com os quais se relaciona” (BRF, 2010, p. 46).
Com isso, a BRF coloca sua opinião sobre como criar e fortalecer uma cultura
para a sustentabilidade: desenvolver ações que permeiem todos os seus públicos e em cada
etapa de seus processos. Uma forma de constatar essa afirmação é o fato de que a BRF exige
que seus fornecedores cumpram as metas sustentáveis e de respeito aos trabalhadores, assim
como a própria empresa busca fazer; o processo de fabricação também pretende ser
61
sustentável; o que não é respondido é se o descarte pelos consumidores finais é considerado
pela empresa, mas mesmo a preocupação com os materiais utilizados nas embalagens já
demonstra uma prevenção na quantidade de materiais a serem rejeitados.
Durante o processo produtivo destaca-se pela empresa o uso racional da água,
com a prioridade na captação de água na superfície, o que evita a exploração dos mananciais
subterrâneos e o uso de abastecimento público, que significa um consumo concorrencial com
os seres humanos. Mesmo esta forma de captação de água está para ser estudada a fim de
avaliar seus impactos nas regiões onde a empresa está instalada e prover soluções para
conflitos e situações de emergência.
Na outra ponta da produção, a água é devolvida ao ambiente de acordo com os
parâmetros exigidos pela legislação, em condições de reutilização e absorção pela natureza
sem causar danos. A BRF informa em seu relatório anual que todas as unidades industriais
possuem Estação de Tratamento de Efluentes (ETE).
Quanto ao consumo de energia, três grupos de trabalho foram criados para estudar
o consumo de energia elétrica, uso e consumo de vapor e de aumento na eficiência do
reflorestamento. Essas equipes identificaram oportunidades de aumentar a eficiência
energética dos equipamentos e processos para aprimorar a utilização dos recursos naturais. Os
planos foram desenvolvidos para cada unidade, sendo imediatamente implantados os que não
dependiam de investimentos e os demais tiveram os recursos aprovados e colocados em
prática no decorrer de 2011. De acordo com o Relatório da empresa, o resultado foi uma
economia de 4,78% do consumo indireto de energia (BRF, 2010, p. 48). Além da redução dos
impactos ambientais, os custos de produção também diminuíram o que possibilitou a
introdução de diversas melhorias: atualização tecnológica; padronização e treinamento de
operadores, aumento da eficiência na geração de vapor e redução de perdas na distribuição de
vapor.
62
A forma como o consumidor descarta as embalagens e restos do produto não pode
ser totalmente controlada, mas os resíduos da companhia têm em sua maior parte destino
certo: reaproveitamento e reciclagem. De acordo com a empresa, apenas 3,86% de todos os
resíduos produzidos pela BRF, em 2010, foram destinados a aterros. Segundo a empresa,
apenas uma pequena parte dos resíduos é processada internamente, de acordo com a
legislação vigente. O restante é encaminhado à reciclagem ou processamento externo por
meio de terceiros licenciados em órgãos ambientais para que possam exercer a atividade.
Além do cumprimento dessa determinação, a BRF realiza uma seleção rigorosa, controla as
licenças concedidas e realiza auditorias para monitorar a conformidade dos processos.
Como afirmado anteriormente, a empresa não pode exigir, por exemplo, que o
consumidor encaminhe as embalagens para a reciclagem se sua cidade não possui coleta
seletiva. Mas pode incentivar um caminho mais prático e acessível para todos que resulte num
impacto positivo para o meio ambiente. Uma das ações neste sentido é o engajamento dos
consumidores em uma campanha de reutilização de cartuchos de produtos congelados e potes
de margarina. A campanha foi uma parceria com a TerraCycle, líder global na coleta e
reutilização de resíduos pós-consumo. Para participar da campanha, os consumidores se
cadastram no site (http://www.terracycle.com.br) e a Brigada Perdigão se encarrega de
recolher o material que, posteriormente, é enviado à TerraCycle para ser transformado em
produtos ecoamigáveis.
De acordo com o relatório anual da BRF (BRF, 2010, p. 51), as empresas
desenvolveram um catálogo de itens reciclados – lancheiras, relógios, bolsas. – para
comercialização pelo varejo. A Brigada já está ativa em 20 estados, obteve 238 assinaturas,
sendo 37% de escolas e 30% de famílias, e recolheu 1.947 embalagens em três meses. A
iniciativa está alinhada à Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada em 2010.
63
Com o intuito de reduzir a emissão de Gases do Efeito Estufa – GEE, a BRF foi
incluída no Índice de Carbono Eficiente (ICO2)14
, da BM&FBovespa, criado em 2010 para
incentivar as empresas a migrarem para um sistema de produção de baixo carbono. No
primeiro ano do índice, de acordo com a BRF (BRF, 2010, p. 51) foi realizada uma estimativa
das emissões pela consultoria internacional Trucoust, contratada pela BM&FBovespa para
ajudar na estruturação do ICO2. Por esse trabalho, referente a 2009, foram estimadas, segundo
a BRF, emissões de 410.507 toneladas de CO2eq como escopo 1 (diretas) e 53.858 toneladas
de CO2eq como escopo 2 (indiretas).
Como políticas de redução da emissão desses gases, a BRF monitora
continuamente as condições de sua frota, procura construir centros de distribuição próximos
aos locais de consumo e de fornecimento. Dessa forma, os seus caminhões estão sempre
rodando com a carga completa, eliminando o desperdício e reduzindo o impacto no meio
ambiente. A empresa também conquistou prêmios com essas ações. A BRF foi premiada em
2010 pelo Projeto Despoluir, Programa Ambiental do Transporte do Governo de Santa
Catarina, desenvolvido pela Confederação Nacional do Transporte (CNT-SC). Porém, a
totalidade da frota não estava regularizada até 2010, ano do último relatório da empresa.
Inspeções feitas na frota da BRF, segundo o relatório (BRF, 2010, p. 51), indicaram que 87%
dos veículos operavam de acordo com a legislação e os padrões de qualidade.
A empresa afirma que um dos projetos mais emblemáticos de sustentabilidade é o
de Suinocultura Responsável que alia aspectos sociais, econômicos e ambientais. Com o
14 Índice de Carbono Eficiente (ICO2): Considerando a preocupação com o Aquecimento Global, a
BM&FBOVESPA e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), numa iniciativa
conjunta, decidiram criar este novo índice de mercado. O objetivo principal é incentivar as empresas emissoras
das ações mais negociadas a aferir, divulgar e monitorar suas emissões de gases do efeito estufa (GEE),
preparando-se, dessa forma, para atuar em uma economia chamada de “baixo carbono”. (BM&FBOVESPA.
Índice de Carbono Eficiente. [2012b]. Disponível em:
<http://www.bmfbovespa.com.br/indices/ResumoIndice.aspx?Indice=ICO2&Idioma=pt-br > Acesso em:
15/04/2012).
64
apoio à construção de biodigestores nas propriedades dos produtores integrados, a empresa
desenvolve um programa estruturado de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE),
que deve ser ampliado para toda a sua cadeia de fornecimento de suínos. Por meio do projeto,
os agricultores adotam os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), reduzindo o
impacto dos dejetos da suinocultura no meio ambiente. Esse projeto é voluntário e está
alinhado às diretrizes do Protocolo de Kyoto. Foi o primeiro projeto do mundo elaborado por
uma empresa de alimentos a obter registro na Organização das Nações Unidas (ONU),
adotando a metodologia POA (Programme of Activities) para a comercialização dos créditos
de carbono.
Esta medida faz parte da meta de reduzir emissão de dióxido de carbono (CO2)
em toda a cadeia de produção, fornecimento e distribuição. Considerando os projetos já
implantados, a empresa acredita que o potencial de redução é de 591.418 toneladas anuais de
CO2eq, de acordo com a metodologia da ONU. Em 2010, (BRF, 2010, p. 51), a redução
chegou a 137.870 toneladas de CO2eq. O projeto faz parte de uma lista de 50 iniciativas
globais do setor privado destacadas pelo organismo porque têm impacto na redução da
pobreza e melhoria nas condições de vida. A iniciativa faz parte do relatório “Criando valores
para todos – Estratégias para fazer negócios com os pobres” do Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD).
65
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A motivação de um indivíduo só pode surgir dentro dele, porém os estímulos e o
incentivo chegam por diversos meios através das outras pessoas. Uma mensagem, um prêmio,
um e-mail personalizado, uma conversa franca, um elogio ou alguma forma de
reconhecimento pela atividade do outro pode ser decisivo para o seu bem-estar e engajamento
e, consequentemente, sua produtividade no trabalho. As lideranças têm papel imprescindível
neste processo e a Comunicação Interna desempenha papel fundamental tanto no engajamento
dos colaboradores como no trabalho para que as lideranças valorizem e relacionem-se melhor
com seus liderados. O trabalhador precisa não só de remuneração justa, mas de valorização e
respeito para que obtenha melhor qualidade de vida e produza melhor. E para que o ambiente
de negócios perdure e prospere é preciso que o planeta também tenha condições de abrigar a
vida.
O governo, as empresas e todas as pessoas têm o seu papel na melhoria da
qualidade de vida no planeta. No campo da sustentabilidade, os pilares ambiental, social e
econômico devem estar alinhados para que as gerações futuras possam desfrutar das mesmas
ou melhores oportunidades que nós.
As empresas passaram a ter uma ação bem estruturada na manutenção da vida,
com projetos e estudos ambientais e sociais e, cada vez mais, são cobradas para que exerçam
suas atividades e suas movimentações e investimentos financeiros de forma mais transparente
tanto para seu consumidor quando para seus funcionários.
Dentro de uma empresa de grande porte, como a Brasil Foods – case que ilustra
esta pesquisa, o relacionamento interpessoal torna-se difícil de ser alcançado em sua
totalidade e as pontes para que haja comunicação direta, reconhecimento do trabalho e
66
participação dos funcionários são os seus “superiores”, chefes, supervisores, coordenadores
ou outros gestores.
Para que o ambiente de trabalho seja saudável e acolhedor, os líderes devem estar
muito bem treinados, preparados e informados para transmitir informações e serem exemplos
dos valores da empresa para que os mesmos sejam perpetuados.
No caso da Brasil Foods, no case apresentado, a companhia elegeu como
prioridade no desenvolvimento da cultura BRF a formação de líderes para o crescimento da
empresa e gestores com visão global, o que reafirma o compromisso da empresa com a gestão
transparente, justa e de que os líderes sejam o exemplo para as boas práticas de todos os
públicos internos.
A comunicação como parte estratégica e permeando todos os setores, teria papel
de informar, conscientizar e treinar os líderes para um bom relacionamento com os
stakeholders da empresa. No caso da comunicação interna da Brasil Foods, o objetivo
estratégico seria o de disseminar a sustentabilidade em todas as ações, discursos e como
imagem da empresa, porque a comunicação da BRF pretende ser clara, transparente e
sintonizada com os valores da organização. A comunicação da empresa pretende tornar o
discurso empresarial próximo e útil, compatível com interesses e projetos de carreira dos
colaboradores para então comprometê-los e engajá-los nos ideais sustentáveis propagados e
praticados pela empresa.
No caso da sustentabilidade, entende-se que para o funcionário ou colaborador da
empresa entender as informações relacionadas, perceber como importante, praticá-la no dia a
dia e consolidá-la como um valor realmente efetivo da empresa, ele deve ser informado com
clareza, com dados fundamentados e concretos. A comunicação possui maior credibilidade
67
quando as ações para a sustentabilidade são estruturadas, contínuas, formalizadas em políticas
da empresa.
Vamos tomar como exemplo a coleta seletiva, se uma empresa não tem pontos de
coleta, não encaminha para a reciclagem, não tem programas de reutilização de materiais e os
líderes também não iniciam essas ações, não há como incentivar o funcionário a separar o
lixo, porque, em princípio ele não terá como descartá-lo no lugar certo e por fim ele não será
destinado da forma correta. Todo o trabalho de motivação faz parte de um discurso vazio em
que ninguém acredita no que está sendo dito ou, embora perceba o assunto como importante,
não deu estrutura nem o exemplo para que a ação se completasse da maneira correta.
Com a premissa de que a empresa, sim, cria a estrutura necessária para que sejam
respeitados os pilares ambiental, social e econômico e pratique-se a sustentabilidade, a
comunicação tem o papel de esclarecer, reforçar, transmitir informações fundamentadas e
incentivar a adesão dos funcionários às práticas sustentáveis, contribuir para a multiplicação
de canais de comunicação e para que os funcionários tenham um ambiente seguro e
acolhedor, que propicie e valorize sua participação ativa com sugestões passíveis de
influenciar decisões. Em sua estratégia sustentável, a BRF inclui a educação e a valorização
de seu capital humano a fim de que seus funcionários também se tornem agentes
multiplicadores dos valores sustentáveis.
Com o engajamento dos funcionários, também buscado pela empresa BRF no
relacionamento com seus públicos internos, acredita-se que as políticas serão realmente
efetivas permeando todas as etapas de produção e abrangendo as relações entre todas as áreas
da empresa. Um funcionário bem informado e que toma para si um valor da empresa,
comunicará sobre a empresa de forma clara e convincente, porque ele mesmo acredita e os
pratica.
68
As políticas na área da sustentabilidade criam um ciclo virtuoso de melhorias,
ética e respeito que dão suporte à manutenção da vida e, com isso, advirá a melhoria também
dos negócios, mas com outros valores, inclusive do consumo consciente, defendido e
propagado pela BRF, e de que se quisermos equiparar ao consumo atual dos países
desenvolvidos não teremos condições nem de manter a vida, muito menos os negócios.
A solução pode ser a maneira como as empresas encaram seus lucros. As políticas
no campo da sustentabilidade já comprovaram que não são encarecedoras. Há exemplos de
empresas, assim como a Brasil Foods estudada no case apresentado, que obtiveram vantagens
competitivas e economia de gastos em diversas áreas pelas suas ações e soluções no melhor
aproveitamento de recursos e encaminhamento correto dos dejetos, por exemplo.
O grande desafio é, ainda que haja boas ações, convencer esses mesmos dirigentes
de que remunerar bem, melhorar a qualidade do ambiente de trabalho e reconhecer o trabalho
de seus colaboradores é também importante para o sucesso de seus negócios e pode trazer um
aumento de lucros. A BRF dá o exemplo e demonstra que a prática sustentável é compatível
com a rentabilidade e estimula o próprio avanço da empresa.
É parte do papel da Comunicação, juntamente com os Recursos Humanos e o
treinamento dos líderes de uma empresa, aprimorar as relações entre os indivíduos que
trabalham na organização, melhorar os fluxos de comunicação, estudar o clima organizacional
e indicar aos dirigentes o que precisa ser melhorado, transmitir informações a fim de
esclarecer e educar de acordo com o público, sua formação e interesses e contribuir para a
consolidação da cultura organizacional com a comunicação e estímulo para que os públicos
internos acreditem e pratiquem os valores da organização e se engajem em suas políticas.
Para que a sustentabilidade seja praticada, portanto, esse deve ser um valor da
empresa, deve estar presente em sua missão e visão para o futuro, mas não deve ser apenas
69
uma palavra num jornal, relatório, mural ou outro documento. Deve permear as políticas da
empresa de forma concreta e permanente e deve ser esclarecida e reforçada utilizando as
melhores ferramentas de comunicação.
As mensagens sobre sustentabilidade precisam informar de forma clara; ser
adequadas aos públicos a que se destinam; precisam ter um timing imediato, ser fáceis de
serem praticadas.
Podemos utilizar de diversos artifícios para tornar a mensagem mais criativa,
interessante, comovente ou estimuladora. Mas devemos levar em consideração que a
comunicação também deve possuir os valores da sustentabilidade, ética, respeito e
transparência. Não se deve mentir ou aumentar os fatos. E, o mais importante, não se deve
obrigar ninguém a acreditar, praticar ou mesmo ler/assistir/ouvir o mesmo assunto
indefinidamente. É preciso lembrar, como foi mencionado no estudo, que nem todo mundo
almeja ser um especialista em tal tema.
Com equilíbrio, relações francas, justiça e respeito, podemos melhorar a
comunicação, as relações de trabalho e também a forma como lidamos com o planeta, com os
outros seres vivos, com o consumo e os negócios. Há um caminho gigante a ser percorrido e,
portanto, é preciso ter em mente que exaurir os recursos naturais, explorar a mão de obra e
ampliar a desigualdade entre os povos não vai ajudar em nada no sucesso dos negócios, da
comunicação ou da vida.
Os desdobramentos para esta pesquisa seriam o incentivo para mais estudos no
campo da sustentabilidade na mídia e nas organizações e também na área de comunicação
interna como engajadora dos públicos internos das instituições; o aprofundamento do debate,
em próximas pesquisas, sobre os pilares social e econômico da sustentabilidade e o estímulo
70
de uma maior fundamentação e disseminação de planos de comunicação para a
sustentabilidade.
71
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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74
7. ANEXOS
Incluímos a seguir as capas das publicações da empresa BRF – Brasil Foods –
analisada no case apresentado no capítulo 4.
7.1 ANEXO 1 – RELATÓRIO BRF
Relatório Anual e de Sustentabilidade de 2010 da BRF – Brasil Foods.
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7.2 ANEXO 2 – REVISTA BRF
Edição Especial da Revista BRF, nº 89, publicada em Setembro-Outubro de 2011, que
apresenta os detalhes e desafios da fusão das marcas Perdigão e Sadia.