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1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento do Homem faz-se a partir das interações sociais. A educação escolar torna-se cada dia mais imprescindível para o cidadão. O conhecimento sobre a aprendizagem - suas condições, seu papel no desenvolvimento - ajuda o professor a ensinar melhor. Saber sobre a vida escolar do aluno, conhecer suas competências, suas referências socioculturais e paixões torna-se imprescindível para que o professor tenha sucesso na tarefa de levar o aluno aprender. Uma das características marcantes do sistema educacional brasileiro é seu caráter seletivo e excludente das camadas populares. O ensino básico, apesar da grande expansão a partir da década de 50 até a de 60, mantém, pela deficiência qualitativa, seu caráter seletivo, pois tem sido incapaz de atender às características da população proveniente das camadas populares. A partir da década de 80, não é o acesso à escola o grande problema, a não ser em algumas áreas específicas do país, mas, sobretudo, a repetência continuada nas primeiras séries do ensino fundamental (GATTI, 1990). Daí a necessidade de buscarmos formas inovadoras de avaliar. Muitas vezes as crianças que conseguem ingressar no sistema têm de enfrentar sérios desafios para garantir sua permanência, em decorrência de fatores intra e extra-escolares, objeto de estudo de vários pesquisadores (CUNHA, 1988). Nos dias de hoje, quando se sofisticam os meios de informação, não é possível aceitar que tantos cidadãos sejam reprovados e excluídos da escola, sem o domínio do código escrito da própria língua e de instrumentos básicos para compreender seu tempo, sua história e sua cultura. Fracassam na escola os que não conseguem aprender por conta de suas adversas condições de vida e, também, pelas condições adversas que costumam caracterizar o atendimento escolar. Daí a necessidade de conhecer o aluno e sua realidade com intuito de ser mais capacitado na hora de avaliar, pois este não deve ser visto individualizado e sim visto dentro do contexto onde ele está inserido, levando em conta o saber que traziam e seu universo cultural, de modo a organizar e ampliar seus conhecimentos. Durante muito tempo acreditou-se que a repetência beneficiaria o aluno, possibilitando-lhe a recuperação da aprendizagem. No entanto, estudos vêm apontando que, ao contrário, ela tem sido geradora de novas repetências. Os educadores hoje, não podem limitar-se a constatar ano após ano os índices de fracasso escolar e aguardar melhores condições sociais que permitam, um dia, instalar uma 1

O papel da educação de qualidade na vida do aluno · educadores brasileiros se "tornam construtivistas". Na década seguinte, foi a vez de Vigotsky (1995) aparecer no cenário e,

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1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento do Homem faz-se a partir das interações sociais. A educação

escolar torna-se cada dia mais imprescindível para o cidadão. O conhecimento sobre a

aprendizagem - suas condições, seu papel no desenvolvimento - ajuda o professor a ensinar

melhor. Saber sobre a vida escolar do aluno, conhecer suas competências, suas referências

socioculturais e paixões torna-se imprescindível para que o professor tenha sucesso na tarefa

de levar o aluno aprender.

Uma das características marcantes do sistema educacional brasileiro é seu caráter

seletivo e excludente das camadas populares. O ensino básico, apesar da grande expansão a

partir da década de 50 até a de 60, mantém, pela deficiência qualitativa, seu caráter seletivo,

pois tem sido incapaz de atender às características da população proveniente das camadas

populares. A partir da década de 80, não é o acesso à escola o grande problema, a não ser em

algumas áreas específicas do país, mas, sobretudo, a repetência continuada nas primeiras

séries do ensino fundamental (GATTI, 1990). Daí a necessidade de buscarmos formas

inovadoras de avaliar. Muitas vezes as crianças que conseguem ingressar no sistema têm de

enfrentar sérios desafios para garantir sua permanência, em decorrência de fatores intra e

extra-escolares, objeto de estudo de vários pesquisadores (CUNHA, 1988).

Nos dias de hoje, quando se sofisticam os meios de informação, não é possível aceitar

que tantos cidadãos sejam reprovados e excluídos da escola, sem o domínio do código escrito

da própria língua e de instrumentos básicos para compreender seu tempo, sua história e sua

cultura. Fracassam na escola os que não conseguem aprender por conta de suas adversas

condições de vida e, também, pelas condições adversas que costumam caracterizar o

atendimento escolar. Daí a necessidade de conhecer o aluno e sua realidade com intuito de ser

mais capacitado na hora de avaliar, pois este não deve ser visto individualizado e sim visto

dentro do contexto onde ele está inserido, levando em conta o saber que traziam e seu

universo cultural, de modo a organizar e ampliar seus conhecimentos. Durante muito tempo

acreditou-se que a repetência beneficiaria o aluno, possibilitando-lhe a recuperação da

aprendizagem. No entanto, estudos vêm apontando que, ao contrário, ela tem sido geradora de

novas repetências.

Os educadores hoje, não podem limitar-se a constatar ano após ano os índices de

fracasso escolar e aguardar melhores condições sociais que permitam, um dia, instalar uma

1

melhoria na escola. Abrir espaços e aproveitar as brechas existentes para conquistar avanços -

essa tem sido a caminhada dos educadores comprometidos com a democratização do ensino,

mesmo sabendo que a educação sozinha não vai mudar a realidade social; e que a própria

escola, por mais competente e equipada que seja, não vai se tornar um espaço democrático se

a sociedade também não se transformar. Baseado nisso defendemos a utilização de Fichas de

Acompanhamento Individual, onde estejam registrados os avanços e as dificuldades de cada

aluno especificando a atividade e os objetivos propostos para aquela aula.

Em todo o Brasil o fracasso escolar representa elevados custos humanos, sociais e

financeiros. O Ministério da Educação constatou que, no país, todo ano são desperdiçadas

57% das matrículas com evasão e repetência; e de cada 100 alunos que entram na 1ª série,

apenas 33 chegam à 8ª, levando uma média de quase dez anos para alcançá-la. Isso significa

que, após repetir uma ou mais séries várias vezes, dois terços dos alunos acabam por desistir

da escola. Visando reverter esse quadro e criar condições para que a escola possa cumprir

efetivamente sua função social, criam-se estratégias para otimizar a aprendizagem e promover

o aluno de forma satisfatória para ele e para a sociedade.

Para se compreender como acontece a avaliação no interior da escola, é preciso

analisar essa instituição no contexto da sociedade. Nesse sentido, tem-se a contribuição de

autores que abordam a questão da relação entre escola e sociedade. Mesmo que a preocupação

central não seja especificamente a avaliação da aprendizagem, ao tratarem das funções da

escola na sociedade contribuem para uma melhor compreensão do ato de avaliar. Bourdieu e

Passeron (1975) concebem a avaliação como um mecanismo de seleção e classificação do

indivíduo, enquanto Foucault (1987) a considera como forma de a escola obter a submissão

do aluno. Em síntese, vêem a avaliação realizada nas situações de exame como um

instrumento para a conservação e a reprodução da sociedade. Luckesi (1998), Hoffmann

(1993) e Vasconcellos (1995) têm ajudado a compreender a avaliação ao concebê-la como um

ato pedagógico que ocorre no interior da instituição escolar, a qual, por sua vez, está inserida

num determinado contexto social. Analisam o trabalho pedagógico, a prática avaliativa que se

realiza na escola, observando que a avaliação pode assumir as funções, classificatória e

diagnóstica, conforme a postura pedagógica assumida pelo professor. Portanto propomos

neste trabalho um olhar diferente sobre os critérios que norteiam o ato de avaliar do professor

dentro da sala de aula.

2

Com essa forma de avaliar, o professor pode rever os procedimentos que vem

utilizando e replanejar sua atuação, enquanto o aluno vai continuamente se dando conta de

seus avanços e dificuldades, levando os alunos a atingir novos patamares de conhecimento.

Essas intervenções podem exigir formas diversificadas de atendimento e alterações de várias

naturezas na rotina diária da sala de aula, no uso do tempo e do espaço, na organização dos

grupos; as informações que recolher nesse processo de avaliação também vai levá-lo a

perceber quando o acompanhamento deve ser mais individualizado, em grupos ou coletivo,

bem como a necessidade de reformular as atividades realizadas, incluir novas atividades ou

materiais. No entanto, para debruçar-se desse modo sobre as produções dos alunos, é preciso

ter clareza dos objetivos de trabalho, de onde se quer chegar. Ou seja, em qualquer situação de

avaliação, ter em mente um ou vários parâmetros para apreciar o que está sendo avaliado.

Assim, cada professor deve explicitar claramente, o que espera que os alunos alcancem. E os

alunos também devem saber, a cada passo, o que se espera deles.

Para instalar um processo contínuo de avaliação, inserido na rotina, é preciso assumir

a postura de constante observação e cuidadoso registro. Observe atentamente o desempenho e

o aproveitamento dos alunos no desenvolvimento das atividades, anotando as observações que

fizer. O registro ajuda a organizar o pensamento e estimula a reflexão, na medida em que

obriga à verbalização e sistematização do que foi observado. O ato de registrar o que ocorre

em sala de aula permitem (re)construir a memória do processo vivido; consultados

freqüentemente, propiciam uma visão geral do trabalho desenvolvido, facilitando a

identificação dos entraves, exercício central à continuidade de qualquer projeto. Tornam-se,

pois um instrumento indispensável para situar a aprendizagem dos alunos e, a partir daí,

organizar a seqüência do ensino para toda a classe, assim como os acompanhamentos mais

específicos que sejam necessários. As anotações feitas pelo professor abrangem pois

observações a respeito de cada aluno, da classe e de sua própria atuação - as buscas e

tentativas que deram certo, as que foram inadequadas, os avanços feitos, as retomadas

consideradas importantes. Esse tipo de registro permite uma percepção crítica de sua atuação,

facilitando as mudanças de encaminhamento necessárias - o que contribui para tornar sua

prática mais competente.

3

2 A NOVA ESCOLA NO BRASIL

Ao longo de toda a História da humanidade a busca do conhecimento e da verdade tem

impulsionado o homem a alcançar níveis crescentes de compreensão da natureza, da realidade

e ainda de uma melhor compreensão de si mesmo, de suas relações com o meio ambiente e

com os outros indivíduos. Essa compreensão o auxilia a questionar suas condições, como um

ser capaz de construir suas concepções de ser humano, de sociedade e de mundo, na busca de

satisfazer suas necessidades em diversas dimensões e ao mesmo tempo legitimar sua

identidade perante seus pares.

Diante, pois dos novos desafios postos á educação é imprescindível se repensar a

produção do conhecimento, no sentido de proporcionar aos alunos uma boa oportunidade de

exercer a sua cidadania, num processo de aquisição de competências e habilidades condições

de construir e agregar novos saberes que os tornem aptos a conviver na sociedade atual.

No Brasil, a expressão da Escola Nova foi tardia, iniciou-se na década de trinta do

século XX, e demorou a disseminar-se. O foco da relação pedagógica, que na Escola

Tradicional centrava-se no professor e no ensino, na Escola Nova deslocou-se para a

aprendizagem e para o estudante, foi a principal mudança ocorrida no ambiente escolar nessa

primeira fase de mudanças. Tal mudança se fez em nome do respeito à individualidade dos

estudantes. Os indivíduos são, necessariamente, distintos entre si, como é possível ensinar a

todos ao mesmo tempo, ministrando-lhes a mesma disciplina e o mesmo tópico? A solução

desse dilema é fazer com que cada aluno aprenda a partir dos seus interesses e necessidades

individuais. Assim, diante da impossibilidade de ensinar a todos ao mesmo tempo, é preciso

fazer com que eles aprendam a aprender, o que os torna autônomos. É claro que, nesse

contexto, autonomia quer dizer individualização.

O lema "aprender a aprender", sintetiza a posição dos novos educadores que

sustentam a idéia de que cabe ao professor apenas ensinar o estudante a aprender por meio da

sua própria experiência que deve fundar-se nos seus interesses e necessidades individuais. Em

outras palavras, o fundamento da aprendizagem do discente é a sua própria experiência. O

professor deve apenas estimulá-lo a buscar a solução das indagações que formula a partir da

sua vivência cotidiana. É por isso que Saviani (1977) chama a Pedagogia Nova de Pedagogia

da Existência. Assim, o "aprender a aprender" está vinculado à auto-suficiência do indivíduo

e, por isso, jamais poderá assumir um caráter libertário ou libertador. O compromisso do

4

"aprender a aprender" é com o indivíduo, porém, quando o lema é pronunciado com o

entusiasmo comum aos educadores comprometidos com as demandas populares, a noção de

indivíduo parece irrelevante, mas o perigo da reprodução ideológica está nessa aparente

irrelevância.

Na segunda fase, implementada depois da Segunda Guerra Mundial, os representantes

da Escola Nova começaram a desenvolver mudanças de ordem conceptual, cuja base foi e é a

psicologia da aprendizagem, o que consolida a idéia de que a Escola deve preocupar-se

exclusivamente com o aluno e o seu aprendizado.

Nesta segunda fase da Escola Nova, pode-se destacar, na Educação brasileira, a

influência de vários psicólogos da aprendizagem. Na década de sessenta ocorreram

experiências de Educação não-formal. A partir da década de setenta, quase todos os

educadores brasileiros se "tornam construtivistas". Na década seguinte, foi a vez de Vigotsky

(1995) aparecer no cenário e, nos anos noventa, a novidade são as inteligências múltiplas. O

pensamento de vários autores, quando veiculado pelos educadores brasileiros, assume sempre

a perspectiva da aprendizagem por parte do aluno. O importante é que se consiga explicar, a

aprendizagem do aluno. Cabe explicitar que diferentes opções teórico-metodológicas

implicam diferentes modos de compreender o mundo, bem como a adoção de distintas

categorias de análise da realidade, quase sempre incompatíveis entre si.

As duas fases da Escola Nova, embora apresentem características distintas, têm na

aprendizagem do aluno o seu ponto central. Na primeira fase, predomina a idéia de que ele

deve "aprender a aprender"e isso só é possível quando os seus interesses e necessidades

individuais são respeitados. Na segunda, caracterizada pela recorrência, quase exclusiva, às

formulações teóricas dos psicólogos da aprendizagem, reforça-se a idéia do compromisso da

Escola com a aprendizagem do aluno. A segunda fase da Escola Nova reforça os pontos

centrais das teses desenvolvidas na primeira fase conferindo-lhe consistência teórica a partir

das teorias de aprendizagem desenvolvidas pela Psicologia. Cabe observar que, na Escola

brasileira, a atividade pedagógica é, quase sempre, compreendida na perspectiva do senso

comum e, desse ponto de vista, ela se vincula, exclusivamente, a um fazer imediato e, por

isso, dispensa a discussão de conceitos e teorias. Em outras palavras, espera-se que, por meio

da atividade pedagógica, o aluno seja capaz de desenvolver, sozinho, as competências e

habilidades necessárias para a compreensão dos conceitos, bem como estabeleça as relações

entre eles. Assim, o professor desobriga-se de ensinar o aluno, quem o ensina é a atividade.

5

A Escola Nova no Brasil não consegue abrir mão da avaliação quantitativa que mede,

exatamente, o desempenho do aluno, ou seja, o conhecimento acumulado pelo aluno. A

avaliação pedagógica foi um dos temas mais estudados, nas últimas duas décadas, nos

programas de pós-graduação brasileiros que investigam a Educação. Há, portanto, muitos

trabalhos acadêmicos que procuram examinar criticamente a questão, porém, essas análises,

geralmente, tratam de problemas de ordem metodológica, ou seja, do como fazer a avaliação.

Pode-se dizer que esses estudos pretendem mudar os procedimentos de avaliação preservando

as relações vigentes na Escola. Por isso, eles, freqüentemente, limitam-se a propor reformas

no âmbito da avaliação de desempenho, fortalecendo assim, a idéia de acumulação do

conhecimento.

A idéia de construção do conhecimento, o construtivismo, é difundida no Brasil com

base no pensamento de Piaget (1991), porém, é provável que o autor discordasse do uso dessa

categoria para explicar os processos de aprendizagem pois, de acordo com Piaget (1991), eles

desenvolvem-se no plano da acomodação, pois promovem mudanças constantes que não

modificam, radicalmente, a vida do aluno. A construção, ao contrário, ocorre poucas vezes na

vida do ser humano, mas promove sínteses que acarretam mudanças radicais. Assim, não se

pode falar em construção do conhecimento por parte de cada aluno tido como indivíduo. O

construtivismo, no Brasil, provavelmente, esteja associado à noção de construção civil que é

um processo lento de sobreposição de tijolos um a um. Nesta representação, cada aluno é

responsável pela construção do seu próprio conhecimento, preferencialmente, a partir das

atividades de ensino. É provável que, cada aluno seja capaz de acomodar o conhecimento

sintetizado a partir da sua relação com o meio.

A noção de que o aluno deve apropriar-se do conhecimento desenvolve-se no Brasil a

partir dos adeptos da teoria crítica social dos conteúdos. Esses educadores defendem a

necessidade de apropriação do conhecimento por parte do aluno, não conseguem superar a

idéia de que ele deve ser acumulado, guardado como propriedade individual. O aluno não

pode apropriar-se do conhecimento, ao contrário, ele deve sintetizá-lo.

6

3 BREVE HISTÓRICO DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

O modelo tradicional de avaliação da aprendizagem está fortemente relacionado com

desenvolvimento das teorias tecnicistas e comportamentalistas que se ganharam importância

principalmente durante a década de 60. Elas buscavam, através da avaliação, julgar a

efetividade do processo de aprendizagem de acordo com os “comportamentos esperados”. Por

muito tempo foram dedicados esforços à produção de testes, inventários, questionários, fichas

de registro de comportamento, etc. A avaliação da aprendizagem assumiu, durante décadas, a

identidade de um instrumento para análise de desempenho final. E foi a partir deste modelo

que foram desenvolvidas muitas das ferramentas de avaliação dos ambientes digitais de

aprendizagem disponíveis na atualidade. A predominância de instrumentos de verificação

quantitativa de aprendizagem nesses ambientes reflete no fundo a concepção mecanicista de

avaliação.

Dentro do modelo tecnicista, a avaliação educacional era considerada como a

comparação constante entre os desempenhos dos alunos e os objetivos, previamente definidos.

O trabalho de Bloom, Hastings e Madaus (1971), Manual de Avaliação Formativa e Somativa

do Aprendizado Escolar, influenciou especialmente o planejamento educacional de várias

gerações. Neste trabalho os autores sugerem três funções para a avaliação: diagnóstica,

formativa e somativa. A avaliação formativa é a que ocorre ao longo do processo de

aprendizagem. Seu objetivo é a correção de falhas do processo educacional e a prescrição de

medidas alternativas de recuperação das falhas de aprendizagem. A avaliação somativa ocorre

ao final de um processo, com claros objetivos de mensuração de resultados. Por fim a

avaliação diagnóstica, que ocorre antes e durante o processo de aprendizagem, visando

agrupar alunos de acordo com suas dificuldades no primeiro momento, e no final, identificar

se houve, ou não, progresso em relação à assimilação dos conteúdos.

Na procura por estruturar as propostas de avaliação da aprendizagem dentro dos

ambientes de aprendizagem, é comum encontrar autores que voltam a utilizar os conceitos

apresentados em trabalhos de anteriores, sem a devida preocupação com uma re-significação

dos mesmos dentro dos novos modelos propostos. Não se pode esquecer que o foco da

atuação do professor dentro do modelo tecnicista era o de estruturar o conteúdo de forma a

facilitar a sua absorção pelos alunos. O conceito de avaliação formativa, por exemplo, é muito

citado, mas confundido com o conceito de mera avaliação contínua (isto é, aquela que é

7

realizada ao longo do processo de aprendizagem). Segundo Perrenoud (1999) e Masetto

(2003) uma avaliação pode ser contínua sem ser formativa. A verdadeira avaliação formativa

é a que contribui para a individualização dos processos de aprendizagem, e não apenas as que

são realizadas em vários momentos do processo de aprendizagem.

Autores construtivistas e sócio-interacionistas realizaram críticas à utilização da

avaliação apenas como forma de verificação de conhecimentos, dando mais importância ao

processo da aprendizagem do que os resultados observados. Ao encarar a aprendizagem

fundamentalmente como um processo de construção do conhecimento, estes autores

consideram que o papel da avaliação é o de contribuir positivamente para o processo de

aprendizagem, e não apenas como forma de verificação de conhecimentos. Ao contrário do

modelo anterior, o foco dessa produção teórica está no conhecimento do desenvolvimento

cognitivo dos alunos e não na elaboração de instrumentos ou estratégias pré-definidas.

É possível que a avaliação da aprendizagem hoje corresponda a uma incógnita que não

encontrou a solução merecida, ou quem sabe, em termos teóricos já tenha sido encontrada,

mas, a prática avaliativa é impregnada de interrogações. A educação tradicional preocupava-

se com a transmissão de conhecimentos acumulados, onde o professor era o centro, autoridade

máxima, transmissor do conhecimento e dirigia o processo. Com a Revolução Industrial (séc.

XVIII), a complexidade da instituição escolar requer novas ciências e estímulo a novas

descobertas. O desenvolvimento da biologia e das ciências humanas chama atenção para o uso

de técnicas mais eficazes de aprendizagem, voltadas às diferenças individuais.

Surge, no final do séc. XIX, a Escola Nova, o aluno é o centro e o professor o

facilitador da aprendizagem. A preocupação com o método estava presente, os conteúdos

precisavam ser compreendidos, não decorados. A avaliação é compreendida como “um

processo válido para o próprio aluno e não para o professor e por isso constitui apenas uma

das etapas da aprendizagem, e não o seu centro” (ARANHA, 1989, p.111).

Na década de 70, surge a visão de educação progressista. Preocupava-se com a

superação das teorias reproduzidas aleatoriamente, através de uma pedagogia social e crítica,

onde a escola é local da socialização do conhecimento produzido. A avaliação manifestar-se-á

“como um mecanismo de diagnóstico da situação, tendo em vista o avanço e o crescimento e

não a estagnação disciplinadora” (LUCKESI, 1998, p.16).

São muitas as indagações que permeiam os meios educacionais, na busca de

informações que possam direcionar o ato de avaliar a uma significância, que não a de

8

classificar, rotular e até excluir alunos, porém “[...] quaisquer práticas inovadoras se

desenvolverão em falso se não alicerçadas por uma reflexão profunda sobre concepções de

avaliação /educação” (HOFFMANN, 1991, p.9).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional –LDBEN n.º 9394 /96 e os

Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, dão prioridade a avaliação onde “critérios

qualitativos” estejam presente. Os critérios quantitativos podem subsidiar os critérios

qualitativos, a partir da interpretação realizada. É preciso despertar a uma conscientização da

prática avaliativa exercida nas escolas, priorizar a pedagogia do ensino aprendizagem,

servindo de orientação e integração, visando superar a pedagogia do exame. Para

Depresbitéris (1995), as funções da avaliação (diagnóstica, formativa e somativa), estão

voltadas à tendência progressista, porém, o sistema tradicional não prioriza o diagnóstico e o

formativo, prepondera o controle: classificação de resultados. A prática avaliativa pode

contribuir para a transformação do aluno. O incentivo e a significação do aprender a aprender

possibilitarão uma aprendizagem mais eficiente e eficaz. Assim, podemos considerar

relevantes as contribuições advindas das idéias de: Moraes (1996), quanto a mudança de

Paradigma da Educação, bem como as idéias de Melchior (1994), Hadji (2001) e Hoffmann

(1998), quando estes discutem a educação e a forma de avaliar numa perspectiva de

construção do conhecimento.

9

4 PARADIGMAS DA EDUCAÇÃO E O PROCESSO DE AVALIAÇÃO

A busca que as pessoas fazem no sentido de satisfazer suas necessidades em diversas

dimensões e de ao mesmo tempo legitimar sua identidade, torna-se mais sistematizada, sem

tender, no entanto a segmentação ou compartimentação dos conhecimentos, ao contrário

verifica-se uma tendência crescente de conexão entre os conhecimentos das diversas áreas,

tornando suas fronteiras cada vez mais sutis. Neste contexto a sistematização relaciona

harmonicamente às diversas formas de conhecimento, caracterizando assim uma sinergia, o

que tem contribuído para aumentar o nível de organização, assim como a eficácia dessa

construção de conhecimentos principalmente quando aplicados ao desenvolvimento de novas

tecnologias e ainda para o surgimento de novas áreas de estudo numa velocidade cada vez

maior. Portanto, necessitamos da mudança de paradigmas antigos, ainda muito presente, para

novos paradigmas de comportamento, fundamentado na ciência atual, que devem influenciar a

população mundial.

Paradigmas são “[...] padrões compartilhados que permitem a explicação de certos

aspectos da realidade. É mais que uma teoria... Estrutura que gera novas teorias” (MORAES

apud, KUHN, 1994, p 21). Então fica esclarecido que o emprego do termo paradigma refere-

se a mudanças de abrangência global relativas às estruturas fundamentais da humanidade.

Nessa perspectiva a sociedade atual denominada “do conhecimento”, “da informação”,

“globalizada”, dentre outras denominações vive um período de transição e sofre as influências

de uma mudança de paradigma que por sua vez é decorrência de uma outra mudança, ocorrida

nas ciências da natureza, e de forma mais intensa no campo da física. Questiona-se, pois, se

esta sociedade está preparada para essa mudança.

Assim, a avaliação da aprendizagem assume uma grande importância nesse contexto

de mudança não só para o professor, mas também para o aluno ao construir atitudes reflexivas

e de auto-regulação que facilitam a sua convivência diante das constantes e variadas escolhas

do cotidiano, que exigem uma tomada de decisão rápida e eficaz, envolvendo desde a

dimensão pessoal até outras dimensões de caráter mais coletivo como a dimensão

profissional, financeira e social.

Diante desse contexto cabe uma reflexão a respeito dos rumos que a educação deve

tomar, do seu papel, da sua missão, da sua operacionalização. Assim um novo paradigma

educacional terá conseqüentemente desdobramentos tanto na formação do professor quanto na

10

sua prática pedagógica, o que levará também a mudanças no processo avaliativo. Segundo

Moraes (1996) As implicações do novo paradigma na formação dos futuros professores para

sociedade do conhecimento precisam ser cuidadosamente observadas no sentido de

possibilitar um novo redimensionamento de seu papel. O modelo de formação dos

professores, de acordo com esse novo referencial, pressupõe continuidade, visão de processo,

não buscando um produto completamente acabado e pronto, mas um movimento permanente

de “vir a ser”, assim como movimento das marés, ondas que se desdobram em ações e que se

dobram e se concretizam em processos de reflexão. É um movimento de reflexão na ação e de

reflexão sobre a ação.

Nesse sentido o processo avaliativo do professor de ciências na perspectiva desse

contexto de mudança de paradigma educacional, motivado pela mudança de paradigma nas

ciências, se torna um fator diferencial para o exercício da cidadania de nossos alunos.

11

5 AVALIAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL

A avaliação deve ser contínua e sistemática, destinando-se a auxiliar o processo de

aprendizagem e a fortalecer a auto-estima. Desse modo, quaisquer instrumentos de avaliação

utilizados nesta etapa deverão, obrigatoriamente, levar em consideração a idade dos alunos e

serem utilizados como ferramentas para a construção de uma sólida base para o aprendizado

nas etapas subseqüentes. A maioria das escolas adota o sistema de notas, com o uso de

exames, provas ou outros instrumentos que exercem demasiada pressão psicológica nas

crianças. Considera-se aspectos qualitativos e quantitativos. A avaliação do aproveitamento

escolar é constante, contínua e cumulativa, visando a verificação dos conhecimentos e

habilidades intelectuais, bem como atitudes e valores decorrentes das mudanças do

comportamento do aluno.

O processo de avaliação norteia a ação docente por meio de atividades individuais ou

em grupos, exercícios em classe e extraclasse, testes orais e escritos, realizações de projetos e

pesquisas bibliográficas, dentre outras formas de conscientizar e trabalhar o desenvolvimento

das habilidades e competências necessárias à boa formação educacional do aluno.

A realidade nas escolas é que, a avaliação da aprendizagem é feita por meio do

processo contínuo e acumulativo de análise do desempenho escolar dos alunos, prevalecendo

os aspectos qualitativos sobre os quantitativos e sendo utilizados vários instrumentos, a saber:

provas escritas; observação constante do aluno; trabalhos individuais e em grupo; recuperação

final, se necessária. A avaliação do aproveitamento do aluno é computada por meio de notas,

na escala de 0 a 10, fracionada ou não de acordo com os critérios estabelecidos pelas escolas.

O aproveitamento insuficiente é representado pela nota inferior a 6. A média final é resultante

da média aritmética das somas das quatro sínteses bimestrais. Os estudos de recuperação são

contínuos e paralelos, inerentes ao processo de ensino–aprendizagem, responsabilidade do

próprio docente e da instituição, objetivando sanar as deficiências de aprendizagem

detectadas. No fim dos quatro bimestres, os alunos que ainda apresentarem resultados

insatisfatórios, ou seja, não tenha atingido 6 na média final terá seu ano letivo prorrogado com

o intuito de recuperar satisfatoriamente as deficiências apresentadas por ele ao término do

período letivo. Na recuperação final, o aluno deve obter média 6 para ser aprovado.

Com relação aos instrumentos de avaliação são selecionados pelo professor conforme

a natureza do conteúdo e o tratamento metodológico adotado, devendo o professor, durante o

processo, utilizar mais de um método de avaliação.

12

O processo avaliativo valoriza o progresso do aluno, onde ele compreende conceitos,

desenvolve atitudes e procedimentos relativos ao seu cotidiano acadêmico / educacional, com

o objetivo de tornar-se um profissional cujo perfil está calcado nas habilidades do saber

pensar e do aprender e assim tornar-se gerente de informações com habilidades que o levem a

demonstrar segurança e competência.

São objetivos da avaliação, segundo a revista Gestão em Rede:

• Acompanhar e verificar o desempenho e a aprendizagem dos conhecimentos;

• Verificar se o aluno transfere conhecimento na resolução de situações novas;

• Avaliar se o aluno está se apropriando dos conhecimentos e se estes estão sendo

significativos e contínuos;

• Detectar, analisar e retomar a defasagem no aprendizado;

• Repensar novas estratégias de trabalho em classe.

São Instrumentos de avaliação, segundo a revista Gestão em Rede:

• Todo trabalho realizado com o aluno é em potencial um instrumento de avaliação;

• Provas, trabalhos de pesquisa, listas de exercícios (individuais ou em grupo), entre

outros, devem avaliar os conteúdos e habilidades de forma clara e inteligível;

• A utilização de fichas de acompanhamento individual do aluno;

Os instrumentos de avaliação devem avaliar o raciocínio e a criatividade do aluno passo a

passo, de forma continuada, sendo igualmente importantes a auto-avaliação e a avaliação

formativa, visando estimular o contato do aluno com a construção do conhecimento.

Muitos autores defendem que alguns professores se distanciam dos principais objetivos da

avaliação, utilizando instrumentos que nem sempre estão de acordo com a realidade do aluno,

Azanha (1989; p.741) destaca o aspecto seletivo do sistema educacional, coloca que “ a taxa

de repetência é obtida a partir de precaríssimos processos de avaliação”. A avaliação do

rendimento escolar é fortemente subjetiva, influenciada por critérios pessoais, variando,

portanto, de docente para docente. O professor elabora critérios absolutos para distinguir o

aluno que deve ou não ser aprovado e tais critérios refletem as deficiências de sua formação,

seus preconceitos e representações.

13

Embora os professores se sintam seguros com relação às habilidades relativas ao ensino, a

avaliação constitui para alguns um aspecto conflitante quando de sua atuação esta idéia

confirma a colocação de Perrenoud (1994) de que a preparação para o ensino é mais

valorizada na formação do professor do que a avaliação. O trabalho de Faria Junior (1988) e

uma equipe de mestrandos da Universidade Federal Fluminense também aponta a exigüidade

e a precariedade com que o tema da avaliação é tratado pela literatura destinada à formação de

professores, utilizada nos cursos de licenciatura. Apesar de não se deter nos livros adotados

nos cursos de formação do ensino fundamental, o pesquisador acredita que essa formação não

esteja melhor servida, no tocante ao preparo para trabalhar com a avaliação nas escolas.

Analisando os livros de Didática, constatou várias inconsistências e desatualizações

conceituais, destacando-se: a ausência total do tratamento da avaliação como ato político; a falta

de contextualização, por não considerar no discurso sobre avaliação a realidade socioeconômica e

cultural. Essa literatura valoriza a mensuração para controle do desempenho do aluno,

fundamentando-se na concepção tecnicista que coloca de lado a subjetividade (necessidades e

interesses de cada um) e privilegia a objetividade, a necessidade do planejamento, incluindo a

operacionalização de objetivos em termos comportamentais, seleção e estruturação do

conteúdo (aspecto mais valorizado), seleção e uso de técnicas variadas para buscar a

efetividade do ensino.

Ao longo dos anos os testes objetivos, principalmente de múltipla escolha, tiveram

tamanha aceitação que passaram a ser utilizados no sistema de seleção de ingresso à

universidade, em concursos públicos e nas escolas, sendo uma forma de avaliar o aluno de

forma rápida, no entanto sabemos que esta forma de avaliar não favorece a capacidade de

expressão do aluno, na maioria das vezes prejudica o seu desenvolvimento.

14

6 PERSPECTIVAS PARA AVALIAÇÃO DE APRENDIZAGEM

A avaliação da aprendizagem não se restringe à mensuração nem é uma atividade

isolada na prática pedagógica, um mecanismo neutro ou uma questão puramente técnica,

desprovida de intencionalidade. É uma questão epistemológica mas é também política, por se

constituir em momento privilegiado no qual o professor tem a oportunidade de corrigir os

rumos da sua prática pedagógica, mais do que isso é a chance de todos os elos da educação

serem avaliados.

Para se compreender como acontece a avaliação no interior da escola, é preciso

analisar essa instituição no contexto da sociedade. Nesse sentido, tem-se a contribuição de

autores que abordam a questão da relação entre escola e sociedade. Mesmo que a preocupação

central não seja especificamente a avaliação da aprendizagem, ao tratarem das funções da

escola na sociedade contribuem para uma melhor compreensão do ato de avaliar. Bourdieu e

Passeron (1975) concebem a avaliação como um mecanismo de seleção e classificação do

indivíduo, enquanto Foucault (1987) a considera como forma de a escola obter a submissão

do aluno. Em síntese, vêem a avaliação realizada nas situações de exame como um

instrumento para a conservação e a reprodução da sociedade. Luckesi (1998), Hoffmann

(1993) e Vasconcellos (1995) têm ajudado a compreender a avaliação ao concebê-la como um

ato pedagógico que ocorre no interior da instituição escolar, a qual, por sua vez, está inserida

num determinado contexto social. Analisam o trabalho pedagógico, a prática avaliativa que se

realiza na escola, observando que a avaliação pode assumir as funções, classificatória e

diagnóstica, conforme a postura pedagógica assumida pelo professor.

Sabe-se que a educação é um direito de todos os cidadãos, assegurando-se a igualdade

de oportunidades (Constituição Brasileira). Inseridas neste contexto, ao estudarem, as pessoas

passam muitas e muitas vezes pela avaliação, cujos aspectos legais norteiam o processo

educacional através dos regimentos escolares. Assim, as avaliações são tidas como

obrigatórias e, através delas, atingimos os objetivos pessoais e sociais.

Conforme Luckesi (1998, p. 33), "é como um julgamento de valor sobre manifestações

relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de decisão". A finalidade da avaliação é

um aspecto crucial, já que determina, em grande parte, o tipo de informações consideradas

pertinentes para analisar os critérios tomados como pontos de referência, os instrumentos

utilizados no cotidiano da atividade avaliativa. Nem sempre o professor tem definido os

15

objetivos que quer alcançar com seus alunos. Nesse sentido, a avaliação muitas vezes tem

sido utilizada mais como instrumento de poder nas mãos do professor, do que como resposta

para aprendizagem de seus alunos e para o seu próprio trabalho. Na realidade, é comum ouvir

dos professores, indicando o desempenho ruim de alguns alunos, esquecendo-se de que esse

desempenho pode estar ligado a outros fatores que não só o contexto escola.

Hoffmann (1993) enfatiza que geralmente os professores se utilizam da avaliação para

verificar o rendimento dos alunos, classificando-os como bons, ruins, aprovados e reprovados.

Na avaliação com função simplesmente classificatória, todos os instrumentos são utilizados

para aprovar ou reprovar o aluno, revelando um lado ruim da escola, a exclusão. Segundo a

autora, isso acontece pela falta de compreensão de alguns professores sobre o sentido da

avaliação, reflexo de sua história de vida como aluno e professor.

Na concepção de Moretto (1996, p. 1) “a avaliação tem sido um processo angustiante

para muitos professores que utilizam esse instrumento como recurso de repressão e alunos que

identificam a avaliação como chata e desnecessária”. Luckesi (1998) alerta que a avaliação

com função classificatória não auxilia em nada o avanço e o crescimento do aluno e do

professor, pois se constitui num instrumento estático e frenador de todo o processo educativo.

Segundo o autor, a avaliação com função diagnóstica, ao contrário da classificatória,

constitui-se num momento dialético do processo de avançar no desenvolvimento da ação e do

crescimento da autonomia. Neste momento é necessário que ocorra uma mudança na forma de

avaliar, aplicada de forma diferente de avaliar, de acordo com a realidade de cada aluno.

Trabalhar com fichas de acompanhamento permite ao professor conhecer o seu aluno,

identificar seus avanços, conhecer suas dificuldades corrigindo sua ação pedagógica. O

professor deve ver seu aluno como um ser social e político, construtor do seu próprio

conhecimento. Deve percebê-lo como alguém capaz de estabelecer uma relação cognitiva e

afetiva com o seu meio, mantendo uma ação interativa capaz de uma transformação

libertadora e propiciando uma vivência harmoniosa com a realidade pessoal e social que o

envolve. O professor deverá, ainda, ser o "mediador" entre o aluno e o conhecimento,

proporcionando-lhe os conhecimentos sistematizados.

O ato de avaliar não pode ser entendido como um momento final do processo em que

se verifica o que o aluno alcançou, consiste no momento de refazer o planejamento e

direcionar forças para vencer as dificuldades apresentadas por eles. A avaliação tem um

significado muito profundo, à medida que oportuniza a todos os envolvidos no processo

16

educativo momentos de reflexão sobre a própria prática. Nesse sentido, faz-se necessário

redimensionar a prática de avaliação no contexto escolar. Então, não só o aluno, mas o

professor e todos os envolvidos na prática pedagógica podem, através dela, refletir sobre sua

própria evolução na construção do conhecimento.

17

7 A UTILIZAÇÃO DE FICHAS DE ACOMPANHAMENTO INDIVIDUAL COMO

FORMA DE AVALIAR A APRENDIZAGEM DOS ALUNOS NA DISCIPLINA DE

CIÊNCIAS

A questão da avaliação é amplamente discutida e abordada em todos os segmentos

externos e internos da escola. Nos últimos anos, as escolas buscam constantemente redefinir e

ressignificar o seu papel e a sua função social. Elas estão elaborando o seu projeto educativo

para nortear as práticas educativas e, conseqüentemente, a avaliação. A escola que hoje

queremos, dentro da pedagogia preocupada com a transformação, e não mais com a

conservação, repensa o processo da sala de aula. A sala de aula existe em função de seus

alunos, e cabe a nós, educadores, refletir se realmente respeitamos os alunos em relação ao

acesso ao conhecimento e se consideramos quem são eles, de onde vieram, em que contexto

vivem. Diante disso, tentaremos trazer para a sala de aula um novo sentido para a

aprendizagem e para a avaliação. Assim, a prática pedagógica e a prática de avaliação deverão

superar o autoritarismo, o conteudismo, a punição, estabelecendo uma nova perspectiva para o

processo de aprendizagem e de avaliação educacional, marcado pela autonomia do educando

e pela participação do aluno na sociedade de forma democrática.

Partindo desses pressupostos, para que o aluno construa o seu conhecimento, a sua

autonomia, é necessário que ele esteja inserido em um ambiente em que haja intervenções

pedagógicas, e somente conseguiremos chegar a esse ponto se inovarmos na forma de avaliar

e para isso propomos a aplicação de uma ficha de acompanhamento individual, onde o aluno

estará sendo observados em todos os pontos, durante todo o processo de aquisição do saber,

oportunizando a este aluno formas diferentes de manifestar a sua aprendizagem, não estando

restrito apenas a nota de uma avaliação. Importante ainda dizer que o aluno deve ter

oportunidade de participar da elaboração das regras, dos limites, dos critérios de avaliação,

das tomadas de decisão, além de assumir pequenas responsabilidades.

Na perspectiva dessa escola cidadã, teremos, na sala de aula, um professor mediador

entre o sujeito e o objeto do conhecimento, trabalhando de forma que, a partir dos conteúdos,

dos conhecimentos apropriados pelos alunos, eles possam compreender a realidade, atuar na

sociedade em que vivem e transformá-la. Por conta de uma série de reformas e mudanças que

18

ocorreram na educação nos últimos anos, os sistemas de ensino têm produzido maior

flexibilização e autonomia nas escolas, até mesmo em relação ao desempenho dos alunos.

Cabe à escola definir o seu projeto educativo, atualmente podemos ver exemplos de

escola que implantaram um sistema diferente de avaliar e que obtendo ótimos resultados,

várias secretarias de educação de diversos estados lutam pela implantação de uma forma

inovadora de avaliar e para respaldar esta necessidade podemos ler e refletir sobre as idéias e

opiniões de Luckesi (1998). O professor deve largar a posição de conteudista, tecnicista,

preocupado somente com provas e notas, mas, sim, um professor mais humano, ético,

estético, justo, solidário, que se preocupa com a aprendizagem e com o aluno.

Portanto a escola deve mudar sua forma de avaliar adequando o seu sistema a

realidade do aluno, o professor terá de fazer da avaliação não só um processo de medida, de

verificação de resultados, mas sim, uma aliada no seu próprio desempenho profissional, daí a

necessidade de conhecer o aluno e de registrar todo o seu desenvolvimento durante o ano

letivo.

Melchior (1994), alerta para a necessidade de se oferecer subsídios ao professor não

como receitas prontas, mas como suporte de informações que lhe possibilitem refletir sobre o

seu papel na construção do conhecimento, saber o que está fazendo e, especialmente, ter

clareza sobre a função da avaliação no processo ensino aprendizagem. É necessário, pois, ao

professor construir competências para administrar e avaliar aprendizagem, nessa nova

dinâmica, construindo, num desafio, pois nenhum preparo acadêmico esgota a formação

necessária para a atuação pedagógica, sendo relevante a formação continuada na prática

docente, medida por referencias e pela constante reflexão na ação e sobre a ação no cotidiano

da sala de aula. É imperativo, pois investir na formação continuada dos professores, tanto do

ponto de vista acadêmico quanto pedagógico, na perspectiva de que a partir da reflexão na

ação da prática pedagógica, ou seja, que este possa vivenciar na prática situações de

aprendizagens. As práticas e saberes dos professores em relação a avaliação da aprendizagem

devem, pois ser concebidas como elementos mediadores no processo de formação, onde essa

formação deve ter referências numa perspectiva reflexiva e de tomada de consciência das

limitações sociais, culturais e ideológicas da própria profissão docente.

19

Assim é relevante, a realização deste estudo, que nos propomos desenvolver, procurar

identificar, analisar e caracterizar os diversos saberes dos professores em relação à avaliação,

destacando a necessidade de utilizar formas inovadoras de avaliar os alunos, respeitando sua

realidade e percebendo seus avanços enquanto cidadão capaz de apreender o conhecimento já

existente e produzir novos saberes. O professor deve ter clareza quanto a definição do objeto a

observar, das informações a buscar e de sua utilização, afora os objetivos a serem atingidos e,

ainda, a construção dos instrumentos, técnicas e estratégias empregados. Desse modo, estão

intrinsecamente relacionados aos processos de avaliação os juízos de valor.

A discussão acima nos aponta para um novo referencial de avaliação, que se opõe as

práticas rotineiras de avaliação, muitas vezes fundamentadas no uso e abuso do poder,

vislumbrando a possibilidade de uma avaliação democrática, que vai além da simples função

seletiva e sancionadora, cujo objetivo final e exclusivo consiste em cumprir com as exigências

e os relatórios solicitados pela administração educativa. O acompanhamento feito através de

uma ficha individual trata-se de levantar informações úteis á regulação do processo

ensino/aprendizagem. Oportunizando ao professor fazer um balanço das aquisições dos

alunos, conduzindo o professor a fazer os ajustes necessários para adaptar melhor o conteúdo

e as formas de ensino às características dos alunos reveladas pela avaliação (pedagogia

diferenciada).

Ressaltamos ainda que, nesse processo de avaliação, o professor deve conhecer os seus

alunos, seus avanços e dificuldades, e também que o próprio aluno deve aprender a se avaliar

e descobrir o que é preciso mudar para garantir melhor desempenho. É importante que os

alunos reflitam sobre seus relacionamentos, de forma a alterar as regras quando necessário,

para que todos alcancem os objetivos estabelecidos coletivamente. O professor, para

acompanhar o desempenho dos alunos, poderá registrar cotidianamente as considerações

sobre o grupo todo e sobre cada um dos alunos, a partir das atividades desenvolvidas durante

todo o trabalho pedagógico. Tomando como parâmetros os critérios formais da aprendizagem,

deve observar: o nível de aprendizagem, relacionado ao conhecimento; o interesse e a

iniciativa do aluno para a leitura, o estudo, a pesquisa; a qualidade do conteúdo elaborado e da

linguagem utilizada; a sistematização e ordenação das partes, relacionadas à produção

individual; a qualidade da elaboração em conjunto com outros alunos; a capacidade crítica,

indicando a criatividade; a capacidade de reconstrução própria e de relacionar os conteúdos

das diversas áreas do conhecimento. As considerações e opiniões dos próprios alunos deverão

também ser anotadas e analisadas pelo professor. Nesse processo de avaliação, não podemos 20

esquecer que o professor também deve se avaliar, refletindo sobre o seu próprio trabalho,

verificando seus procedimentos e, quando necessário, reestruturando sua prática.

Diante de todas as considerações apresentadas acerca do papel e da importância da

avaliação no processo educativo, destacamos que a avaliação deve ser conscientemente

vinculada à concepção de mundo, de sociedade e de ensino que queremos, permeando toda a

prática pedagógica e as decisões metodológicas. Sendo assim, a avaliação não deve

representar o fim do processo de aprendizagem, nem tampouco a escolha inconsciente de

instrumentos avaliativos, mas, sim, a escolha de um caminho a percorrer na busca de uma

escola necessária.

21

8 PROJETO DE PESQUISA E O USO DAS FICHAS DE ACOMPANHAMENTO

INDIVIDUAIS

Diante do que já foi exposto, neste trabalho, para fundamentar a importância da

utilização da ficha de acompanhamento individual pelos professores do ensino fundamental I,

pretende-se, agora, tomar como base de argumentação comprovativa uma experiência

realizada numa instituição escolar da rede municipal de ensino, a Escola de Ensino

Fundamental Rosinha Bastos Sampaio, situada no município de Meruoca, Ceará, com alunos

do turno vespertino, no total de três salas de aula 6°, 7° e 8º ano cada turma possui em média

30 alunos.

A escolha das turmas se deu através da intenção de se verificar os efeitos da ficha nas

diferentes séries do ensino fundamental I e por serem salas mistas, podendo verificar também

a diferença de comportamento dos alunos do sexo masculino e do sexo feminino diante do

monitoramento através da ficha. No decorrer do trabalho houve um acompanhamento da

coordenação pedagógica que forneceu subsídios para um bom desenvolvimento das aulas,

fazendo as intervenções necessárias para otimizar o processo de ensino e aprendizagem.

Para desenvolver este estudo foram elaboradas atividades do cotidiano dos alunos,

bem como atividades avaliativas, foram feitos os registros de acompanhamento e por fim a

análise comprovativa dos resultados, também foi feita uma análise comparativa das médias

mensais e bimestrais, o antecedente e o concomitante ao projeto, e uma entrevista com uma

amostragem de 10% do total dos alunos que participaram do experimento. Por ter caráter

interdisciplinar, os projetos de aprendizagem foram desenvolvidos de acordo com a proposta

curricular de cada série, pois a intencionalidade é mostrar os benefícios de conhecer o aluno e

monitorar a sua aprendizagem mediante a utilização da ficha.

Durante a execução do projeto, os alunos foram constantemente estimulado a

participar das aulas, a fazer suas atividades, dentro de sala e em casa, foram utilizadas

metodologias inovadoras sugeridas pela Coordenadora Pedagógica Maria Sílvia do

Nascimento que fez o acompanhamento do processo de ensino e aprendizagem e da utilização

correta da ficha de acompanhamento individual. Os alunos foram avaliados de formas

variadas, podendo citar como exemplos debates, avaliação escrita, seminários, pesquisas,

22

70%

20%

10%

ExcelenteBomRegular

confecção de murais, e todos os dados foram registrados, especificando a data, atividade

proposta na ocasião, bem como o grau de dificuldade apresentado pelo aluno durante a

execução da mesma.

Este estudo durou um bimestre tendo sido aplicado nos meses de Agosto e Setembro,

comparando as médias obtidas, com as médias dos bimestres anteriores pode-se comprovar a

melhoria significativa dos resultados, que refletiu um percentual de 85% de notas melhores e

até mesmo alunos que não conseguiram atingir a média mostraram uma progressão, também

foi possível verificar que as meninas em geral são mais preocupadas com as notas em relação

aos meninos, demonstrando mais interesse, participando ativamente das atividades propostas

e sendo mais desinibidas na hora de apresentar seus trabalhos. Também é possível concluir

que através deste estudo que a utilização das fichas de acompanhamento individual não requer

do professor muito tempo, sendo perfeitamente executável dentro do tempo que dura a aula. A

seguir, apresentaremos os gráficos com os resultados obtidos neste estudo.

8.1 Resultados alcançados na auto-avaliação dos alunos

O questionário auto-avaliativo respondido pelos alunos, logo após a publicação das

pesquisas continha cinco perguntas, sendo estas três objetivas e duas subjetivas.

Na primeira questão, dentre os dez alunos entrevistados, 70% classificaram como

“Excelente” a utilização das fichas de acompanhamento individual, 20% classificaram como

“Bom” e apenas 10% classificaram como “Regular”, sendo que nenhum afirmou ser “Ruim” a

utilização das fichas de acompanhamento individual.

GRAFICO 1: UTILIZAÇÃO DA FICHA DE ACOMPANHAMENTO INDIVIDUAL

DO ALUNO NA APRENDIZAGEM DE CIÊNCIAS

23

70%

98%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

MeninosMeninas

A cerca da eficiência da utilização da ficha 90% afirmou que ”sim, a ficha foi de

fundamental importância” e apenas 10% afirmou que “sim, mais não significou muito pra

mim, as outras alternativas não foram escolhidas por nenhum dos entrevistados.

Em relação a terceira pergunta que questionava o fato da ficha despertar ou não o

interesse dos alunos em aumentar seu esforço na hora de realizar as atividades, mostrou que

60% afirmaram que “Muito”, 20% escolheram a opção “Razoável” e 10% optaram por

“Pouco” e apenas 10% escolheram nada.

No caso das duas perguntas abertas foram dadas várias as opiniões o aluno C. A. S., do

7º ano “C”, deu como sugestão que na ficha deveria constar se o aluno é repetente ou não, se

o aluno for novato deve constar a data de sua admissão. A aluna V. V., do 6º ano “A” relatou

sua experiência como maravilhosa, elogiando a professora e a iniciativa da escola de inovar

na forma de avaliar seus alunos.

O estudo também mostrou que 98% das meninas se empenharam mais em obter bons

resultados neste tipo de acompanhamento. Ao contrário dos meninos, em que apenas 70%

deles mostraram maior empenho e preocupação com as notas.

GRÁFICO 2: COMPARATIVO ENTRE MENINOS E MENINAS

Portanto, podemos concluir que os resultados foram satisfatórios e que a utilização da

ficha de acompanhamento individual consiste numa importante ferramenta para a melhoria

dos resultados obtidos durante o processo de ensino aprendizagem, adiante analisaremos e

faremos a comparação dos resultados obtidos.

24

6,77,8

6,3 6,8 6,57,1

0

2

4

6

8

10

6º Ano 7º Ano 8º Ano

2º Bi3º Bi

8.2 Resultados Alcançados nas Médias Bimestrais das Turmas

No segundo bimestre, a média geral da turma, obtida no mês de Junho do corrente ano,

foi de 6,7 no 6° ano; 6,3 no 7º ano; 6,5 no 8º ano. Considerou-se como base para tal, as notas

das avaliações feitas no mês de Maio e Junho, também foram atribuídas notas por duas

atividades de pesquisa cujos temas estão incluídos no plano curricular de cada ano.

Ao reiniciar as aulas no segundo semestre, se iniciou também o projeto que consistiu

em um acompanhamento direto do rendimento dos alunos utilizando a ficha de

acompanhamento individual do aluno, ao término do mês de Setembro ao aplicar as

avaliações bimestrais e ao contabilizar a pontuação dos alunos verificou-se que a média geral

teve uma melhora significativa o 6º ano subiu para 7,8; no 7º ano subiu para 6,8; no 8º ano

subiu para 7,1. Considerou-se como base para tal, as notas obtidas nas avaliações realizadas

no final do mês de Agosto e no final do mês de Outubro, a participação dos alunos na

Gincana Cultural que ocorreu durante as comemorações alusivas ao Dia do Estudante, a

realização das atividades na sala de aula e extraclasse, as atividades de pesquisas relacionadas

ao Projeto Vamos Cuidar do Brasil, seminários e debates ocorridos durante as aulas, vale

ressaltar que foi trabalhado integralmente o Plano Curricular e aplicada todas as ações

previstas no Plano de Ação da escola. Além disso, foram observados quesitos como interesse

na execução das atividades, comportamento, freqüência, dentre outros.

GRÁFICO 3: COMPARATIVO ENTRE MÉDIAS

Embora se perceba que a melhora abrangiu a todos, é também perceptível que para as

meninas a melhora foi mais significativa, pois tiveram várias oportunidades de melhorar seu

25

desempenho e recuperar algumas notas que não foram satisfatórias, demonstrando a vontade

de superar os limites. Acredita-se que a melhora não ocorreu apenas na disciplina de

Ciências, tendo em vista que os projetos de aprendizagem têm caráter interdisciplinar.

Após a aplicação da ficha podemos verificar que essa forma de avaliar mostrou-se

eficiente, sendo possível de ser aplicada em todas as disciplinas e estar sendo implantadas em

qualquer instituição de ensino comprometida com a melhoria da qualidade de ensino, basta

que as alterações sejam feitas de acordo com a realidade de cada turma ou escola.

26

CONCLUSÃO

A escola foi criada para atuar na formação do cidadão. A ela cabe ensinar, garantir a

aprendizagem de habilidades e conteúdos indispensáveis para a vida em sociedade,

contribuindo para a inserção social das novas gerações. Sendo a escola pública muito

importante para a maioria da população, que tem nela o principal - e às vezes o único - meio

de acesso ao conhecimento, é urgente que encontre caminhos para cumprir sua função social.

Impedindo a ação maléfica do fracasso escolar, para isso devemos apoiar e participar de

iniciativas que possam fortalecer o trabalho docente e favorecer a aprendizagem de alunos,

isso motivou essa pesquisa que defende a utilização da ficha de acompanhamento como uma

forma eficaz de avaliar.

Considerando o acesso ao conhecimento um benefício social a que todo jovem tem

direito, neste projeto a avaliação é concebida como um instrumento para ajudar o aluno a

aprender, fazendo parte integrante do dia-a-dia em sala de aula. Defendemos que o aluno não

deve ser totalmente responsabilizado pelo fato de não obter êxito diante daquilo que é

esperado dele e que ele deve ser analisado dentro da sociedade na qual ele está inserido. O

sentimento gerado por uma forma errada de ser avaliado, leva-o a formar imagens negativas

de si próprio, acreditando em sua inadequação ao trabalho escolar, pensando que é

exclusivamente sua a responsabilidade por tal situação. O professor deve analisar com

cuidado suas produções, conversando com eles, considerando as razões que os levaram a

produzi-las de uma determinada maneira e não de outra, ouvindo suas justificativas, pode-se

detectar o que está impedindo que o processo transcorra conforme o esperado, assim com os

pontos críticos identificados, o professor poderá replanejar suas atividades.

É imprescindível partilhar com os alunos a análise de suas produções, num clima de

confiança e respeito, para que possam reconhecer seus avanços e dificuldades, desenvolvendo

a consciência dos progressos feitos em relação a situações anteriores. E que tudo esteja

devidamente registrado na ficha de acompanhamento individual de aprendizagem do aluno.

Isso ajuda-os a desenvolver autonomia, perceber-se sujeitos do processo de aprendizagem e

melhorar o desempenho. Ele poderá refletir sobre a maneira como estão realizando as tarefas

e como podem melhorar suas competências num determinado tipo de aprendizagem. Desta

forma a avaliação é concebida e usada a favor da aprendizagem do aluno, como instrumento

auxiliar do trabalho do professor, processando-se continuamente com a função de diagnóstico

e acompanhamento.27

A avaliação configura-se como um recurso instrumental, neutro e eficiente e confirma

a idéia do controle e a especificação do trabalho escolar como único meio de melhorar a

eficácia e a eficiência do ensino. Ao reduzir os problemas educacionais em ordens técnicas, a

discussão sobre a avaliação tem se restringido ao como fazer, que recursos devemos utilizar,

dentre outros questionamentos. Neste sentido, a avaliação acontece para providenciar a

melhora da aprendizagem que oportunizamos na escola. No que se refere aos julgamentos dos

professores sobre a aprendizagem de seus alunos e alunas, a avaliação proposta não é

sinônimo de aprovação ou reprovação, mas deveria responder a questões sobre como o

estudante está aprendendo e quais atividades mediativas fazem sucesso e que outras medidas

se fazem necessárias para continuidade do processo de aprendizagem com a melhor qualidade

possível. Constantemente precisamos avaliar também as formas de registro do trabalho

realizado e a forma como estamos fazendo o acompanhamento deste aluno.

Durante a realização e publicação das pesquisas os alunos trabalharam em várias

atividades, algumas individuais e outras coletivas, valorizando a integração entre alunos e

professor. E durante essa experiência conseguimos demonstrar que a utilização da ficha de

acompanhamento individual é um forte aliado do professor na hora de avaliar este aluno,

tornando mais fácil o ato de decidir quanto a promoção destes alunos e fornecendo ao

professor um detalhamento preciso sobre os avanços e as dificuldades apresentados pelos

alunos durante o processo de ensino e aprendizagem. Também foi possível perceber uma

diferença comportamental entre meninos e meninas pois elas se mostraram mais preocupadas

em adquirir bons resultados, demonstraram esforço em cumprir todas as atividades de forma

satisfatória, diferente de alguns alunos que se comportavam de forma indiferente,

demonstrando que para eles qualquer resultado seria suficiente.

Este trabalho teve como finalidade apresentar uma nova forma de acompanhar nossos

alunos e através desse estudo pôde-se verificar a importância do aluno ser analisado de forma

completa, usando dados da sua realidade e buscando compreender através de uma análise

séria e competente os entraves que impedem a aprendizagem destes alunos. Também

podemos comprovar que o registro da descrição da atividade facilita para o professor na hora

de uma reunião de pais e mestres mostrar a forma como este aluno foi avaliado, o porquê de

ter atribuído ao aluno aquela nota, seja ela satisfatória ou não. Através dele conclui-se

também que o fato de avaliar utilizando as fichas de acompanhamento melhora

significativamente as notas dos alunos e que estes se mostram mais interessados por saberem

28

que estão sendo avaliados durante toda aula e que através de seu esforço ele pode reverter a

situação a seu favor.

Contudo, muita coisa ainda deve ser feita em relação a utilização das fichas de

acompanhamento individual, não sendo possível definir um modelo padrão, pois esta acima

de tudo deve ser condizente com a realidade do aluno e de acordo com os objetivos definidos

pelo professor. Atitudes assim levam a pensar naquele que é a meta maior do nosso sistema

educacional: o aluno. É preciso que a escola ensine conceitos envolventes e busque se inovar

no dia-a-dia, para que a mesmice e a monotonia não venham a dominar seus alunos, seus

professores e aqueles que procuram levar o conhecimento aos lugares dantes dominados pela

ignorância, pelo não-saber. Assim, de pouco ou nada adiantarão leis, decretos ou outras

formas de controle educacional, se não partirmos para uma revolução da consciência, do

coração, em que todos os envolvidos venham a atuar com maior ênfase em todos os sentidos,

para a melhoria da educação, através de uma relação que nos levará a um melhor ensinar, para

juntos caminharmos rumo ao conhecimento acumulado pela humanidade ao longo do tempo.

29

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31

ANEXOS

32

Anexo 1

QUESTIONÁRIO AUTO-AVALIATIVO

Aluno(a): ______________________________________________ Data:___/___/___

Série: __________________________________ Sexo ( ) M ( ) F

1. Como você classifica a utilização da Ficha de Acompanhamento Individual da

Aprendizagem nas aulas de Ciências:

( ) Excelente ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

2. Na sua opinião a Ficha de Acompanhamento se mostrou eficiente, como ferramenta

educativa:

( ) Sim, foi de fundamental importância

( ) Sim, mais não significou muito para mim

( ) Mais ou menos, poderia ser melhor aplicada

( ) Não, poderia perfeitamente ser retirada

3. A Ficha despertou em você a vontade de estudar, se esforçando para melhorar suas notas?

( ) Muito ( ) Razoável ( ) Pouco ( ) Nada

4. Que outros fatores poderiam ser incluídos nesta Ficha para serem observados?

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___________________________________________________________________________

5. Faça uma avaliação da postura do professor ao acompanhar o aluno através do uso dessa

ficha:

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Anexo 2

E.E.F. ROSINHA BASTOS SAMPAIODISCIPLINA:______________________________SÉRIE:_________________PROFESSOR:_____________________________________________________

FICHA DE ACOMPANHAMENTO INDIVIDUAL DO ALUNO

Nº DATA CONCEITO OBJETIVO ATIVIDADE

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