~$O Papel Do Direito Internacional Do Ambiente

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    Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

    Direito do Ambiente

    Regente: Professor Doutor Vasco Pereira da Silva

    Assistente: Professor Doutor Joo Miranda

    O papel do Direito Internacional do Ambiente

    Em especial, o desenvolvimento sustentvel Da Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), e

    suas implicaes;

    Da anlise de vrios contextos passagem do plano internacional para o nacional (e local).

    Rita Couto Martins Carrilho da Cunha, N 18378

    Subturma 9

    2011/2012

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    ndice

    1. Introduo.. 3

    2. Breve excurso relativo evoluo do Direito Internacional do Ambiente,na ptica do desenvolvimento sustentvel 5

    3. Conferncia do Rio, Compromissos Aalborg e Agenda 21 Querelao? Que vinculatividade para asoft law? 8

    4. Anlise da aplicao, neste mbito, de princpios orientadores do Direitodo Ambiente e a sua repercusso no sistema jurdico portugus.13

    4.1. Princpio do poluidor-pagador.16

    4.2. Princpio da preveno e precauo e sua articulao com o regimede avaliao de impacto ambiental....17

    4.3. Princpio da participao..21

    5. Particular exemplo da Agenda 21 Local do municpio de Seia anlisedos indicadores, consolidao doprograma e perspectivas futuras 22

    6. Concluses..26

    7. Referncias bibliogrficas .29

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    1. Introduo

    Soft law is a trouble maker because it is either not yet or not only law (P.

    Marie Dupuy)

    A preocupao cultural com os problemas do ambiente nasce daverificao de nveis muito elevados de poluio nos pases onde a

    industrializao acelerada/ selvagem produziu violentas agresses ao equilbrioda natureza (ecolgico) e o desgaste por utilizao anrquica dos recursosnaturais. Estas duas preocupaes, o esgotamento dos recursos naturais e adeteriorao da qualidade de vida resultante da poluio geram uma tomadade conscincia, podendo estar aqui a gnese do Direito do Ambiente.

    Pretendemos, atravs da sistematizao de umas breves notas relativasao Direito Internacional do Ambiente, aferir a sua eficcia e vinculatividade paraos operadores, tomando como estudo de caso o municpio de Seia (Serra daEstrela), no que toca concretizao dos objectivos da Agenda 21 Local.

    indiscutvel a quantidade de convenes, protocolos e declaraesinternacionais que vinculam o Estado portugus, estas assumemindiscutivelmente a qualidade de fonte de Direito do Ambiente. Como assinalao Professor Vasco Pereira da Silva, este ramo do Direito apresenta-se sobdiversas formas e a sua dimenso internacional inegvel. Existem diversostextos, de distinto valor normativo, com mbito multilateral (os emergentes noseio de organizaes internacionais) ou bilateral.

    Relembrando uma citao impressiva de Paulo Canelas de Castro, oDIA trata -se de um direito que, para alm da tcnica dos tratados, recorrecada vez mais, tambm, das resolues das Organizaes Internacionais.Por isso, alm de aparecer como um direito hard, como obrigaes bem

    recortadas e seguras, ele tambm, muitas vezes uma soft law que serefugia nos princpios, eles prprios de contedo e sentido diversos, na

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    impossibilidade de avanar desde logo com regras impositivas, mas tambmporque pretende ser um contributo para a sua adaptao a novos desafios.

    No entanto, independentemente das fragilidades inerentes ao Direito

    Internacional do Ambiente e que sero analisadas neste trabalho esteassume uma importncia considervel, por diversas razes. Atente-se nocarcter transversal das questes ambientais mais gravosas, que exigemmecanismos de proteco concertados entre vrios Estados, bem como dasdeclaraes emitidas escala internacional que, embora juridicamente poucoeficazes, podero fazer com que, dentro da jurisdio de cada Estado, seassista a um progressivo aumento da efectividade das medidas de tutela

    ambiental. Dito isto, se compreende a Professora Carla Amado Gomes, quandono seu Tratado, ensina que os problemas ambientais esto interrelacionados eenvolvem uma abordagem holstica, global, deslocalizada.

    A componente ecolgica das polticas de desenvolvimento sustentvel importante para se perceber que no h desenvolvimento sem equilbrioecolgico, mas tambm que a ecologia no vale seno ao servio dos fins doHomem e da Humanidade, o que vale por dizer que defender o patrimnio

    natural e cultural da humanidade algo que no implica a paralisia de todas asactividades econmicas e tecnolgicas (Antnio Sousa Franco).

    Ora, depreende-se, assim, a importncia da escolha deste tema para oDireito do Ambiente, sendo necessrio recort-lo um pouco mais, visto que oDIA um ramo de extenso considervel, pelo que nos situaremos apenas noplano do desenvolvimento sustentvel, na ptica da Conferncia do Rio de

    1992, tentando considerar as suas implicaes para Portugal, a saber:quetipo de princpios/orientaes foram consagrados na nossa legislaoambiental nacional, de modo a que a vinculatividade dos mesmos tenha ficadoassegurada? ; que repercusses pode ter tido a Eco-92 no nosso plano

    jurdico local?.

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    2. Breve excurso relativo evoluo do Direito Internacionaldo Ambiente, na ptica do desenvolvimento sustentvel

    Cabe inicialmente, para uma correcta compreenso dos instrumentosque a seguir se analisam, definir o conceito de desenvolvimento sustentvel.

    Este concebido como um princpio ambiental de valor constitucional, comconsagrao expressa no 66./2 da CRP. Ser este um verdadeiro princpiocom efectivo interesse norteador para o Direito do Ambiente? Creio que,embora compreenda a crtica de Pierre-Marie Dupuy ao consider-lo um rasto

    ziguezagueante , devido sua indeterminao, parece claro que a razo estcom aqueles que vem nele uma orientao de base econmica e jurdica, aoestabelecer a imperiosa ponderao entre a proteco do meio ambiente e odesenvolvimento scio-econmico. Assim, de louvar que estedesenvolvimento sustentvel possa conduzir ilegalidade (ou mesmoinconstitucionalidade!) de decises jurdicas adoptadas, ainda que por rgoscom legitimidade para tal, se delas resultar uma excessiva e intolervel lesode interesses ambientais. No se nega, assim, que este seja um vectormeramente principiolgico, que se desdobra na realizao de um conjunto detarefas mais concretas, o que no pode servir de fundamento para lhe retirarvalidade e importncia no domnio do ambiente.

    A meu ver, este princpio deriva directamente do princpio da dignidadeda pessoa humana, qualificando-se como inerente aos direitos fundamentais,uma vez que todos tm direito a uma existncia condigna, que se obtm

    tambm atravs da defesa do meio ambiente. E, se assim se aceitar, indiscutvel a sua importncia, pois, como ensina Paulo Ferreira da Cunha, adignidade da pessoa humana possui uma dimenso to importante no mundodos valores do Homem que considerada valor dos valores supra-jurdico. Nomesmo sentido, Paulo Otero considera a dignidade como princpio e valor cimeiro do ordenamento jurdico.

    Este conceito de desenvolvimento sustentvel surge no quadro do

    Direito Internacional do Ambiente, mais precisamente com a Declarao de

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    Estocolmo, de 1972, onde se consagra uma obrigao de preservao do meioambiente numa perspectiva de intergenerational equity. Efectivamente, este

    um texto entusiasmante, que parece dar um novo alento ao desenvolvimentodo Direito do Ambiente, ao posicion-lo como o cerne de preocupaes daComunidade Internacional. Sublinhe-se, no entanto, o aspecto menos relevantedeste instrumento de proteco ambiental a falta de vinculatividade (questoque se relaciona, indiscutivelmente, com a soberania dos Estados, que Bodinnos ensinou ser o poder absoluto e perptuo de uma Repblica, e que

    analisaremos posteriormente).

    Cabe, antes de prosseguir, desenvolver o conceito de desenvolvimento

    sustentvel, pois este encerra uma ideia que permeia todo o discursoambiental moderno, cuja consecuo deve ser assegurada pelo poder pblicoe promovida pelos particulares. Ora, o bice deste princpio resideprecisamente no facto de este configurar um desejo to amplo e vago queacaba por impedir ou dificultar a sua operacionalizao.

    No sentido estritamente ecolgico, o desenvolvimento sustentvelaparece como princpio constitucional em diversos textos constitucionais de

    vrios pases (incluindo o nosso) e, nesse sentido, seguindo Alexy, surgeassociado a uma lgica de optimizao, ou seja, a uma concretizao mxima,tendo em conta as possibilidades fcticas e jurdicas em cada momento.

    J numa outra ptica, ser necessrio, assim se cr, estipular metas eobjectivos definidos (como sejam a reduo de consumo, a transferncia detecnologia e investimento dos pases mais desenvolvidos para os menosdesenvolvidos), que sejam concretizados atravs de planos e estratgias comfora vinculativa e imposio de sanes para o seu incumprimento.

    A composio deste princpio revela quatro elementos:

    Necessidade de preservao de recursos naturais para as futurasgeraes (princpio da equidade intergeracional );Objectivo de explorar os recursos de forma racional, prudente,sensata e adequada ( princpio da utilizao sustentvel );

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    Uso equitativo de recursos, de forma a que a utilizao por umEstado tenha em considerao as necessidades dos outrosEstados (princpio da equidade intrageracional );Necessidade de assegurar que as consideraes ambientaissejam integradas na economia e outros planos dedesenvolvimento, e que as necessidades de desenvolvimentosejam tidas em conta na aplicao dos objectivos ambientais(princpio da integrao ).

    No entanto, esta Declarao no alcanou os resultados esperados. OsEstados deveriam ter-se pautado pelos seus princpios orientadores, no sentido

    de uma maior responsabilizao ecolgica, disciplinando a utilizao dosrecursos de que dispunham e estabelecendo bases para uma maior ingerncianestas matrias. No entanto, os problemas intensificaram-se no perodo ps-Estocolmo (desertificao, abate de florestas, extino de diversas espcies,reduo da camada de ozono, aquecimento global).

    Chegamos ao ponto crucial desta breve resenha histrica aConferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento(CNUMAD), tambm conhecida por ECO-92, que aconteceu no Rio de Janeiro.Esta constituiu um marco na viragem de perspectiva no sentido de um maiorpragmatismo, tentando colmatar a inrcia dos operadores e a ineficcia dasestratgias at ento delineadas. Os 166 pases e representantes dasociedade civil reuniram-se com objectivos muito claros: diminuir adependncia de combustveis fsseis, combater a desertificao e editarregulamentos mais severos para diminuir os lanamentos de dejectos nos

    oceanos. J no que toca ao evento posterior no campo do desenvolvimentosustentvel a Rio +10, em 2002, Johanesburgo o tema considerado fulcralno debate foi a pobreza generalizada.

    No entanto, o Direito Internacional do Ambiente continuou a demonstraras mesmas falhas, as mesmas inoperncias, a mesma normatividade relativa(Fastenrath).

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    3. Conferncia do Rio, Compromissos Aalborg e Agenda 21 Que relao? Que vinculatividade para a soft law?

    Fazendo um breve excurso pela Declarao resultante destaConferncia, temos no princpio 1 a tnica no ser humano como centro daactividade ambiental, ou seja, no mais se poder falar de Ambiente sem umacorrelao directa com o desenvolvimento da personalidade humana, emtermos de aproveitamento pelo Homem dos recursos que a Natureza poderoferecer. J no que toca ao princpio 2, principio este da maior relevncia para

    aferio do nvel de implementao das mximas presentes nesta Declarao,parece que a proteco dos recursos estar condicionada pelo poder soberanodo Estado, impedindo uma lgica de proteco conjunta e umaconsciencializao que permita a adopo de polticas verdadeiramentecapazes de responder aos desafios ambientais, que cada vez mais aparecemassociados globalizao e internacionalizao.

    Num primeiro olhar, destacam-se alguns princpios, que sero

    posteriormente analisados com detalhe. Assim, tal como afirmmos antes, ocarcter principiolgico da Declarao notrio, o que no afasta apreocupao em contemplar, como se denota nos princpios 13 e 16, medidasa adoptar pelos Estados, no sentido de conferir uma maior proteco, a nvelinterno, atravs de leis que prescrevam a responsabilidade por danos e ainternalizao dos custos ambientais. De destacar tambm o princpio 7, quepugna o princpio das responsabilidades comuns mas diferenciadas, no sentido

    de uma compensao aos Estados por respeitarem o principio dodesenvolvimento sustentvel, salvaguardando a integridade da riquezaambiental, como forma de garantia intergeracional de usufruir o meio ambiente.Os princpios da preveno (princpios 2 e 21), da precauo (principio 15) e dopoluidor-pagador (principio 16) tambm tm sede neste instrumentointernacional.

    Ressaltem-se os artigos 11 (sublinha-se a urgncia de efectiva

    legislao ambiental, embora com padres variados em funo dos pases,

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    pois existem notrias diferenas scio-econmicas), 17 (necessidade de umprocedimento de avaliao de impacto ambiental) e os princpios 18 e 19(apontam para uma real cooperao internacional, ao afirmar o dever de umEstado de notificar outros relativamente a situaes de emergncia ou daexistncia de determinado projecto passvel de afectar o meio ambiente).

    No entanto, a importncia que para os Estados assume a proteco dasua soberania acaba por fazer com o que o soft law abunde neste Direito

    Internacional do Ambiente. Ressalve-se que a urgncia da adopo demedidas, tendo em conta a conjunctura ps-Estocolmo, fez com que osinstrumentos utilizados fossem de cariz inspiratrio e com pouco valor

    normativo, visto serem formas mais simples de serem negociadas.No se nega que este tipo de acordos, com um grau de vinculatividade

    reduzida, trazem inmeras consequncias. Este dfice de vinculatividade deve-se a diversos factores. Destacam-se a inexistncia de uma instnciainternacional com jurisdio em matria ambiental, com competncia paraemitir decises condenatrias e para aplicar sanes compulsrias em caso deincumprimento. Alm disso, s os Estados se podem dirigir ao tribunal, levando

    ao seu conhecimento ofensas ocorridas em territrio sob a sua jurisdio,significando que o poder estadual no pode reagir em defesa de recursos quese encontrem em zonas livres de qualquer jurisdio nem assinalar falhas dedefesa de recursos que esto sob a jurisdio de um qualquer outro Estado.Ainda assim, quando os Estados possam efectivamente recorrer ao Tribunal(uma vez que existe o princpio da preferncia da resoluo de litgios atravsdas vias extra-judiciais), todas as partes devem expressamente aceitar a

    jurisdio do tribunal em causa, o que torna mais morosa e complexa aresoluo de qualquer questo, soluo que no se compadece com aurgncia necessria que, muitas vezes, imperiosa no que toca protecode bens ambientais. Mesmo ultrapassada esta questo, e verificado oconsenso entre os Estados, h diversas instncias competentes quando estejaem causa mais do que um instrumento internacional, o que promove conflitosde jurisdio e privilegia as decises de forma, ao invs das decises sobre o

    mrito da causa.

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    Assinale-se tambm que no est previsto que, por exemplo, asOrganizaes Internacionais, possam invocar, junto dos tribunaisinternacionais, a violao de bens de natureza ambiental em si mesmos,independentemente de danos causados a algum cidado. Estamos, assim,perante uma legitimidade reduzida no que toca a questes suscitadas noDireito Internacional do Ambiente.

    A Doutrina j tem estudado a possibilidade de criao de um TribunalInternacional do Ambiente (veja-se, Postiglione), propugnando o alargamentoda legitimidade e o aumento da componente sancionatria, afastando, destaforma, aquilo a que se vem designando de soft liability.

    Uma vez identificada, em traos gerais, a Conferncia do Rio, que foiefectivamente a inspirao e a base jurdica (ainda que com o carcterpuramente declamatrio que j analismos, embora com o objectivo depreparar as normas futuras, atravs da insero de princpios e valores noordenamento jurdico), compete aprofund-la e retirar os documentosimportantes que esto na origem do estudo apresentado.

    Neste mbito, o conceito central de desenvolvimento sustentvel foi desenvolvido por um Relatrio sobre Sustentabilidade o Relatrio Brundtland

    O Nosso Futuro Comum, definindo -se o desenvolvimento sustentvel comoaquele que atende s necessidades do presente sem comprometer aspossibilidades de as geraes futuras atenderem s suas prpriasnecessidades. Este conceito foi tambm firmado na Agenda 21, documentodesenvolvido na Eco-92, com particular acuidade no princpio 22 da Declaraodo Rio. J mais concreto quanto ao seu contedo normativo, porm ainda semsanes previamente estabelecidas, este um instrumento com vocaoprogramatria e recomendatria, funcionando como factor de presso emobilizao da comunidade internacional. A assinatura do mesmo contou comquase duas centenas de governos, entre os quais Portugal, e teve comoobjectivo a unio da proteco do ambiente com o desenvolvimento econmicoe com a coeso social. possvel distinguir neste documento quatro partesprincipais: a dimenso scio-econmica (habitao, sade, demografia,consumo e padres de produo); a conservao e gesto de recursos

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    (atmosfera, floresta, gua, resduos); o fortalecimento do papel das ONGs e

    outros grupos sociais; medidas de implementao (financiamento, instituies).A aprovao deste documento propiciou a criao da Comisso deDesenvolvimento Sustentvel, vinculada ao Conselho Economico e Social dasNaes Unidas, que servia o objectivo de acompanhar e auxiliar os pases naelaborao e implementao das suas agendas nacionais.

    Mais tarde, realizou-se em Aalborg, a IV Conferncia Europeia deCidades e Vilas Sustentveis Inspirando o Futuro Aalborg +10, onde seafirmou o desejo de adoptar uma perspectiva comum para um futurosustentvel das suas comunidades. Essa perspectiva diz respeito a cidades e

    vilas inclusivas, prsperas, criativas e sustentveis, que proporcionam uma boaqualidade de vida a todos os cidados e permitem a sua participao em todosos aspectos relativos vida urbana e pe -se em prtica atravs de umconjunto de compromissos - osCompromissos de Aalborg:

    Governao Promover uma maior democracia participativa; Gesto Local para a Sustentabilidade Implementar uma gesto

    eficiente, em ciclos, desde o planeamento, passando pelaimplementao, at avaliao;

    Bens Comuns Naturais Assegurar plenamente as responsabilidadespara proteger, preservar e assegurar o acesso equitativo aos benscomuns naturais;

    Consumo responsvel e opes de estilo de vida Adoptar eproporcionar um uso prudente e eficiente dos recursos e a encorajar umconsumo e produo sustentveis;

    Planeamento e Desenho Urbano Reconhecer o papel estratgico doplaneamento e do desenho urbano na abordagem das questesambientais, sociais, econmicas, culturais e da sade, para beneficio detodos;

    Melhor Mobilidade, Menos Trfego - Reconhecer a interdependnciaentre os transportes, a sade e o ambiente e promover opes demobilidade sustentveis;

    http://agenda21seia.files.wordpress.com/2010/11/compromissosaalborg.pdfhttp://agenda21seia.files.wordpress.com/2010/11/compromissosaalborg.pdf
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    Aco Local para a Sade Proteger e promover a sade e o bem-estar dos cidados.

    Economia Local Dinmica e Sustentvel Apoiar e criar condiespara uma economia local dinmica que reforce o acesso ao empregosem prejudicar o ambiente.

    Equidade e Justia Social Assegurar uma comunidade inclusiva esolidria.

    Do Local para o Global Assumir as suas responsabilidades globaispela paz, justia, equidade, desenvolvimento sustentvel e proteco doclima.

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    4. Anlise da aplicao, neste mbito, de princpiosorientadores do Direito do Ambiente e a sua repercussono sistema jurdico portugus

    Cabe agora analisar a repercusso dos princpios e valoresestruturantes do Direito do Ambiente no ordenamento jurdico portugus, paraaferir da eficcia deste instrumento de direito internacional na nossa ordeminterna. Para tal, proceder-se- a enunciao dos vrios princpios contidos naDeclarao (destacando-se os que se consideram essenciais), no sentido de

    averiguar se as propostas de soluo a apresentadas para o problema dodesenvolvimento sustentvel tiveram acolhimento entre ns, procedendo-se auma anlise de cada regime jurdico vigente em Portugal, correspondente aosprincpios enunciados.

    No entanto, antes de fazermos aquilo a que nos propomos, cumprelanar um olhar pela Lei de Bases do Ambiente.

    Parece que, como ensina Rute Saraiva, este diploma no se centramuito no plano internacional, uma vez que tem a vocao de definir umapoltica geral nacional para o Ambiente, devido ao j aflorado princpio dasoberania e visto que imperioso existir um enquadramento jurdico-poltico realidade econmica, social, cultural e institucional de cada pas.

    As referncias ao DIA so escassas (veja-se por exemplo, o 3., alnease) e f), quanto ao princpio da cooperao internacional e o artigo 50., quanto

    aos acordos internacionais.

    A lei de Bases do Ambiente lei 11/87 - cronologicamente anterior aonosso objecto de estudo, a Conferncia do Rio. de louvar o seu carcterpioneiro, pois surge antes da exploso meditica da questo ambiental, e pormuitos considerada bastante avanada para a poca, quanto ao seu contedoe opes, apesar de muitas delas s tardiamente terem sido executadas eoutras h que nunca o foram.

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    A LBA utiliza a relao direito mole, sistema sancionatrio mole, pois,

    embora se prevejam sanes criminais e contra-ordenacionais nos artigos 46.e 47., o legislador adopta solues denon compliance com relatrios e livrosbrancos.

    Quanto s contra-ordenaes, plasmadas na Lei-Quadro das ContraOrdenaes Ambientais, a Lei n 50/2006, de 29 de Agosto (alterada pela Lei89/2009, de 31 de Agosto, rectificada pela Declarao de Rectificao n70/2009, de 1 de Outubro)

    Define Contra-Ordenao Ambiental como o acto ilcito e censurvel quepreencha um tipo legal correspondente violao de disposies legais eregulamentares relativas ao ambiente que consagrem direitos ou imponhamdeveres, para os quais se comine uma coima (artigo 1 n. 2) da lei-quadro.

    Esta Lei-Quadro instituiu a existncia do Fundo de IntervenoAmbiental (artigo 69.) que se destina a prevenir e reparar danos deactividades lesivas para o ambiente, nomeadamente nos casos em que osresponsveis no os possam ressarcir em tempo til.

    Quanto aos crimes ambientais, estes esto consagrados no CdigoPenal no seu captulo III: os artigos 278. (Danos contra a Natureza), 279.(poluio) e 280. (poluio com perigo comum). A alterao do Cdigo Penal,pela Lei 32/2010, introduziu dois outros tipos de consagrao de crimesurbansticos: artigo 278.-A (violao das regras urbansticas) e artigo 382.(violao de regras urbansticas por funcionrio).

    4.1 Princpio do poluidor-pagador

    Este princpio baseia-se na ideia de escassez de recursos naturais,fazendo com que o seu uso na produo e no consumo necessariamenteacarretem o seu esgotamento ou degradao, da tornar-se imperioso atribuir ocusto dessas consequncias ao seu responsvel, pois se assim no for, omercado no ser capaz de reflectir a escassez.

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    Tudo isto uma consequncia natural, ou mesmo necessria, dofuncionamento do modelo de crescimento puramente materialista oueconomicista dominante nas economias capitalistas ocidentais. Este modelovisa basicamente o lucro individualista. Neste lucro no estavam/estoconsideradas as agresses ambientais, o que gerou a necessidade (emalgumas situaes j acontece) de internizar custos externos, que eramrepercutidos em toda a sociedade.

    O PPP incorpora no s os custos relativos reparao de danosproduzidos no meio ambiente (vertente repressiva), como tambm os custospara precaver as disfunes geradas pela actividade produtiva, para

    implementar medidas que, objectivamente, visam evitar o dano, como o casodas medidas que visam controlar os ndices de poluio. (vertente preventiva).

    Na declarao do Rio, existe uma consagrao expressa do mesmo nosprincpios 13 e 16, acabando por ter uma base bastante slida na estruturainternacional, funcionando como importante estratgia de controlo deactividades prejudiciais ao meio ambiente, na medida em que sublinha aresponsabilidade econmica do poluidor. Creio que se poder afirmar que se

    assume a obrigatoriedade de respeitar o contedo deste princpio, talvezpossamos represent-lo como um princpio econmico erigido em regra deDireito.

    No sistema jurdico portugus, este princpio teve acolhimento do DL147/2009, relativo responsabilidade ambiental, sendo o poluidor-pagadorconsiderado autonomamente, como ltimaratio que motiva o regime legalvigente. Atente-se no prembulo do diploma, de inspirao economicista, quedefende a aplicao de instrumentos econmicos proteco ambiental, com oobjectivo de obter uma alocao economicamente mais racional dos recursose por crer que este sistema gerar necessariamente menores custos

    administrativos para o Estado e para o particular.

    O objectivo poderia ter sido apenas prevenir a ocorrncia de danosambientais, minimiz-los e repar-los quando no pudessem ser evitados, e, se

    assim fosse, estas medidas poderiam ser tomadas pelo Estado. Mas no foiesta a opo do nosso legislador, deixou-se antes a cargo do poluidor,

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    tentando implementar uma filosofia de internalizao de custos, soluo queconsiderou mais justa e eficaz para o ambiente.

    Assim, conclumos que este princpio presente na Declarao foi

    institudo na ordem jurdica portuguesa, pelo DL 147/2008. No entanto, procedea crtica da Professora Doutora Alexandra Arago, quando fala de poluionormativa existente no supra citado Decreto-Lei, resultante das dificuldades deinterpretao e aplicao por parte dos destinatrios das normais no caso, oprprio poluidor. Por vezes, os deveres no so suficientemente claros, nem assanes decorrentes do seu incumprimento se revelam de fcil e rpidaapreenso. Chegamos mesmo, no limite, situao um tanto absurda de o

    prprio operador no poder cumprir as suas obrigaes legais. A Professora do exemplo da obrigatoriedade de seguro de poluio, que muitas vezes setorna invivel, visto que as companhias de seguro no apresentam preparaopara celebrar esse tipo de contratos. A par disso, temos a dificuldade dosistema em lidar com problemticas cada vez mais frequentes na actualidade,como a poluio difusa, a pluricausalidade ou os riscos de desenvolvimento,tornando menos eficaz a faceta preventiva que est instituda no DL 147/2008.

    4.2 Princpios da preveno e precauo e sua articulao como regime da AIA

    No cabe aqui fazer uma distino profunda entre os dois princpios.Sinteticamente, apenas importa clarificar que a preveno se reporta a perigos,ou seja, a situaes em que o nexo de causalidade entre a conduta e oresultado cientificamente comprovado (impactos ambientais j conhecidos) ea precauo aplicvel aos riscos, situaes meramente potenciais em queno h certeza cientfica em relao s consequncias de determinado acto(proibio de certas intervenes no meio ambiente antes de se ter absoluta

    certeza de que estas no sero adversas para o mesmo pode falar-se aqui

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    em eco-fundamentalismo? Suscita-se a questo, mas no momento oportunopara a resolver).

    A precauo est presente no princpio 15 da Declarao do Rio, onde

    se prescreve que devem ser observadas medidas que possam impedir acesatentatrias contra o ambiente. Quanto preveno, podemos encontr-la nosprincpios 2 e 21 da Declarao, sendo que os Estados devem tomar asprovidncias apropriadas para prevenir os danos transfronteirios, reduzindo orisco ao mnimo, pois, nas palavras de Kiss, a preveno deve ser a regra de

    ouro em matria ambiental, tanto por razes ecolgicas como por razeseconmicas. . Compreende-se a preocupao do Autor; primeiro, porque nem

    sempre possvel o meio ambiente nos oferece a hiptese de reconstituionatural; segundo, pode tornar-se materialmente invivel reparar determinadodano.

    No que toca ao regime de avaliao de impacto ambiental, a primeiraregulao sobre este procedimento surge nos EUA, no incio da dcada de 70,cumprindo a conotao preventiva aplicvel s questes do foro ambiental, aoinvs de medidas meramente repressivas, at ento predominantemente

    aplicadas. Este regime de avaliao de impacto ambiental rapidamente sedisseminou internacionalmente, passando a ser regulamentado pelosordenamentos jurdicos de diversos pases, pois revela-se um meio deproteco extremamente inovador, na medida em que capaz de considerartodas as variveis relevantes, tais como as econmicas, sociais, histricas eculturais, a fim de identificar e minimizar as consequncias das acespropostas e tentar assegurar a seleco da melhor alternativa de

    desenvolvimento sustentvel.

    Os princpios da preveno e da precauo e o regime de avaliao deimpacto ambiental aparecem como primordiais na Declarao ora em anlise,que afirma este procedimento como um princpio norteador de direitointernacional, e tambm no documento da Agenda 21. Evidentemente,entende-se que estas problemticas necessitam de ocupar um lugar cimeiro nadiscusso em torno do ambiente, na medida em que se lida com matrias quedo origem a incertezas, de espcie diversa. Podemos tentar explicar a

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    complexidade associada a estas questes atravs do facto de se lidar commatrias de grande dimenso espacial, do facto de poder ocorrer um grandedesfasamento temporal entre o momento em que se tomou conhecimento doproblema e o momento em que o mesmo se tornou compreensvel em toda asua amplitude e da prpria natureza das questes ecolgicas. crucial, assim,adoptar medidas que antecipem, prevejam e ataquem as causas dedegradao ambiental.

    A Conferncia do Rio endossa princpios e politicas com implicaesextremamente relevantes para a sustentabilidade, tentando alcanar umestdio superior na proteco ambiental, tendo como base a Conferncia de

    Estocolmo. Um grande impulso para a difuso desta avaliao de impactoambiental surge com com o princpio 17, plasmado na Declarao. Tambm naAgenda 21, em diversos captulos, revela uma notria preocupao com aintroduo necessria deste regime preventivo.

    Com efeito, apesar do j debatido problema da falta de vinculatividade, averdade que a Declarao do Rio, ao abordar nos seus princpiosestruturantes, a importncia do regime da AIA, alertou os Estados para a sua

    adopo por via de leis internas como o caso de Portugal, com o DL69/2000.

    Este Decreto-Lei sujeito determinados projectos a regime de avaliaode impacto ambiental, pelo que,a contrario sensu , todos os outros noincludos no precisaro de ser avaliados. No entanto, o raciocnio a fazer no no pode ser assim to linear, pelo que um projecto no includo nosanexos pode desencadear este processo de AIA, mediante a verificao dedeterminadas condies. Tal resulta, como evidente, da necessidade deacautelar devidamente os princpios da preveno e da precauo, de modo aque estes sejam verdadeiramente eficazes e no meras proclamaesprincipiolgicas sem efectividade prtica.

    A este respeito pronunciou-se o Acrdo 24.11.2004, do STA (casoTnel do Marqus, no sentido de que a lista dos anexos I e II do RAIA

    taxativa, mas da no deriva um sistema fechado, acabando por concluir nosentido de uma consagrao de tipicidade aberta, conseguida atravs da

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    possibilidade de sujeitar a AIA um projecto no includo nos anexos, mediantedeciso administrativa nesse sentido.

    Ressalte-se apenas um aspecto do regime que no parece muito

    consentneo com o esprito da Declarao. Ora, embora seja inquestionvel avinculatividade da deciso final de procedimento da AIA e a possibilidade deimpugnao judicial da Declarao de Impacto Ambiental, o sistema portugusrevela algumas incoerncias, uma vez que se prev (sendo contrria ao regimeprescrito pelo CPTA) a possibilidade de deferimento tcito do pedido de AIA, aoque a Doutrina chama de paradoxo, pois prev -se o deferimento em caso desilncio da entidade competente num regime em que a deciso negativa

    sempre vinculativa. Alm disso, este regime contraria a jurisprudncia do TJ,que j declarou, no Acrdo Comisso/Blgica que um sistema deautorizaes tcitas incompatvel com as exigncias da Directiva85/337/CEE.

    Como aspecto extremamente positivo do regime portugus de avaliaode impacto ambiental, destaca-se a complementaridade com a avaliaoambiental de planos e programas (AIA estratgica), que tenta ultrapassar as

    limitaes intrnsecas da AIA que se prendem com o facto de ter como objectoum projecto, logo surge numa fase j avan ada, em que j foram tomadasalgumas decises susceptveis de produzir efeitos significativos no ambiente(por exemplo, a escolha da localizao do mesmo).

    Assim sendo, o esprito que presidiu elaborao dos princpios 2, 15,17 e 21 da Declarao, no sentido da optimizao possvel, encontra-seacautelado pelo regime jurdico nacional

    4.3 Princpio da participao

    Encontra-se presente nos princpios 10, 20, 21, 22 e 23 da Declaraodo Rio e possibilita os interessados de participarem do processo de feitura deleis ambientais, de utilizarem instrumentos jurdico-processuais para a

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    5. Particular exemplo da Agenda 21 Local do municpio deSeia anlise dos indicadores, consolidao doprograma e perspectivas futuras;

    Feitas as consideraes que considermos pertinentes para enquadrar aConferncia do Rio e a Agenda 21 das Naes Unidas, fazendo meno aosprincipais princpios e instrumentos de proteco do direito ambiental que nelasse incorporam, cabe estudar um caso concreto de aplicao destesinstrumentos, concluindo-se, assim, pela efectiva importncia prtica do Direito

    Internacional do Ambiente (reitera-se a ideia de que a soft law, apesar do se udfice de vinculatividade, pode servir de matriz inspiradora para instrumentosvinculativos e dotados de coercibilidade).

    A Agenda 21 Local deriva directamente da Agenda 21 que foi analisada,que atribui ao poder local a responsabilidade de desenvolver, em parceria comos muncipes, uma plataforma de dilogo e criao de consensos na definiodas prioridades para promover uma estratgia participada de sustentabilidade.

    (projecto que deriva do princpio 22 da Conferncia do Rio). Em Seia, estecaminho iniciou-se em 2006 quando a Cmara Municipal assinou osCompromissos de Aalborg, compromete ndo-se a averiguar o seu estado desustentabilidade.

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    A equipa procurou na sociedade senense alguns actores, por estaremligados a instituies de interesse cultural recreativo desportivo, o clero, as

    IPSS, as escolas. (agrupamentos e ensino superior). Houve um primeirolevantamento da realidade socioeconmica e cultural e foi feito o retratoatravs dos contributos destes participantes. Numa fase subsequente,existiram contactos com a populao local.

    Pretende-se, a partir do existente, corrigir o que h a corrigir, por forma atornar possvel a mudana de comportamentos ambientais poucorecomendveis por outros que possam melhorar a qualidade de vida daspessoas locais pela introduo de novas prticas, que passam pela reutilizaode matrias orgnicas, separao de resduos, diminuio de consumosenergticos, diminuio de emisso de CO2.

    Outro dos objectivos promover os produtos endgenos, a identidadedas localidades e a preservao de usos e costumes de grande tradio.

    Visa-se tambm que as localidades possam gerar sinergias com vista ao

    desenvolvimento da economia local e a evitar o despovoamento daslocalidades.

    Tentaremos, sumariamente, apresentar, com base nos indicadoresutilizados Compromissos de Aalborg apresentar os resultados relativos aeste municpio, procedendo posteriormente a uma anlise crtica dos mesmos,apontando os aspectos positivos, as falhas, perspectivas futuras no sentido daoptimizao de recursos e da promoo do desenvolvimento sustentvel.

    Ora, o estudo realizado comprovou que os compromissos com melhoresndices de cumprimento foram o 3 e 4 (respectivamente, bens comunsnaturais e consumo responsvel e opes de estido de vida), com umaavaliao qualitativa de Cumprimento satisfatrio, entendendo -se que o nvelpoderia ainda ser mais elevado caso viessem a ser tomadas medidas eimplementados projectos de saneamento ambiental ao nvel das guas

    residuais urbanas, gesto de resduos biodegradveis e projectos de promoo

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    da eco-eficincia no uso de recursos hdricos e energticos e utilizao defontes renovveis de energia.

    No nvel mdio Cumprimento Parcial ficaram colocados os

    compromissos de Aalborg 5, 6, 7, 8, 9 e 10 (versupra ).

    Quanto aos ndices que traduzem o 1 e 2 Compromisso, parece que aavaliao se deparou com resultados aqum dos esperados, tendo ficadoscolocados no nvel qualitativo de Incumprimento. Quanto Governana,

    parece que o fraco ndice de transparncia municipal, o grande absentismoeleitoral e o desconhecimento de alguns factores (grau de satisfao dapopulao residente e grau de participao da populao nos processos dedeciso municipais) contriburam fortemente para esta carncia decumprimento.

    No que toca ao ndice que mais directamente interessa ao nosso estudo a gesto local para a sustentabilidade parece que o nvel insatisfatrio emque se encontra se fica a dever ao reduzido nmero de iniciativas encetadaspara o efeito, bem como ao estado inicial em que o projecto Agenda 21 Localainda se encontra, fazendo com que o grau de incorporao das medidas(ainda que poucas) existentes seja insuficiente.

    Em concluso, o municpio de Seia apresenta um grau global decumprimento intermdio, ou, na terminologia adoptada, parcial.

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    Relativamente aos projectos j implementados pelo municpio,destacam-se alguns, como o Novo Mercado de Seia, espao fsico disposio dos Senenses que acolhe as ideias, os projectos, os movimentosdos cidados, como forma eficaz de atingir a sustentabilidade, atravs daparticipao e forte envolvimento dos habitantes. Este Mercado apresentaquatro caractersticas: sustentvel , dando-se clara prioridade aos produtos einiciativas locais, elaborados em igualdade de oportunidades, com reduo doimpacto ambiental e/ou reutilizao de materiais, promotores de um modo devida mais saudvel e equilibrado, inovadores e criativos; o ponto de encontroda cidadania activa; no lucrativo e aberto diversidade.

    Refira-se tambm o boletim ecolgico, que divulga as aes realizadasno mbito deste processo, como tambm iniciativas e boas prticas desustentabilidade.

    Como perspectivas futuras, prev-se que sero mitigados algunsproblemas, com a progressiva implementao do projecto em curso e com aintensificao da conscincia ecolgica por parte dos cidados. Os projectosdefinidos so bastante relevantes e pertinentes, mas carecem outros projectos

    de promoo de informao pblica e participao em processos de deciso eorientao estratgica que enriqueam e reforcem os fundamentos de basedas deliberaes municipais, bem como projectos que potenciem e promovamno s o planeamento, mas tambm os necessrios processos de controlo,fiscalizao e seguimento de forma a permitir que os objectivos estratgicossejam realmente atingidos.

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    6. Concluses

    Cest une question de discipline, me disait plus tard le petit prince.Quand on a termin sa toilette, if faut faire soigneusement celle de laplante (Saint -Exupry, Le Petit Prince )

    Chegados a este ponto, imperioso assumir uma postura criticarelativamente ao que foi exposto, assim como tentar expor uma soluoinovadora a questo abordada do desenvolvimento sustentvel.

    Do estudo feito retiram-se algumas concluses, a saber:

    Os instrumentos de soft law, embora sofram de um dfice devinculatividade, norteiam a comunidade internacional,funcionando como cdigos de conduta a seguir pelos Estados ecomo base principiolgica, que posteriormente observada, pormeio de legislao interna;A Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente eDesenvolvimento constituiu um marco importante na evoluo doDIA, trazendo uma nova vida ao princpio do desenvolvimento

    sustentvel;O princpio da solidariedade est necessariamente ligado aodesenvolvimento sustentvel, na medida em que se impe aaceitao de responsabilidades, por parte de governos,

    instituies e cidados, para superar a crise ambiental global. necessrio, ainda neste mbito, obter recursos para ajudar ospases menos desenvolvidos a cumprir os seus compromissos. Oessencial , claramente, conjugar a solidariedade intra e intergeracional, s dessa forma ser possvel salvar o planeta,

    promover o desenvolvimento, alcanar a prosperidade universal ea paz.

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    O sistema jurdico portugus de proteco ambiental traduzinmeros princpios consagrados na Declarao do Rio, tornando-os vinculativos a nvel interno;A Agenda 21 local, documento derivado da Agenda 21 dasNaes Unidas, no seguimento dos princpios da Conferncia doRio, j est a produzir alguns resultados no municpio de Seia,necessitando apenas de uma maior implementao, conduzindo auma cada vez maior consciencializao ecolgica dos cidados.

    Dito isto, cabe perguntar se o desenvolvimento sustentvel estar beminserido no Direito Internacional do Ambiente. No h dvida que o mesmoconsubstancia um vector fundamental deste ramo de Direito, no entanto serque deveria haver uma autonomizao?

    Quanto a esta problemtica, a Professora Rute Saraiva apresenta umaideia que nos parece interessante, na esteira de Nuno Lacasta e ManuelAndrade Neves, que defendem a criao de uma nova disciplina jurdico-

    internacional, o Direito Internacional do Desenvolvimento Sustentado(doravante, DIDS), com a vertente ambiental e as utilidades decorrentes daactividade econmica (relao Ambiente-Economia e Ambiente-Desenvolvimento).

    No momento actual, este DIDS ainda no tem autonomizao. Segundoa Autora, esta nova disciplina, a existir, acresentaria algumas dimenses: umadimenso tica (com a perspectiva intergeracional e de responsabilizao);

    uma dimenso unificadora e uma dimenso pedaggica (numa lgica depreveno e antecipao).

    O DIDS traria consigo uma construo de responsabilidade partilhada, justia e solidariedade, para resolver problemas relacionados com o binmioambiente/desenvolvimento.

    Parece-nos uma proposta razovel, desde que a introduo neste novo

    ramo viesse acompanhada da sua convico de obrigatoriedade, no s para o

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    legislador internacional, mas tambm para o legislador interno e para aDoutrina.

    Por fim, este teria que se afirmar como um Direito Total: de todos, para

    todos, em funo de todos, em todos os tempos, em todos os lugares.

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    7. Referncias bibliogrficas

    Monografias:

    AA.VV.,Actas das Jornadas de Direito do Ambiente O que h de novo noDireito do Ambiente?, Faculdade de Direito de Lisboa, 15 de Outubro de 2008,org. de Carla Amado Gomes e Tiago Antunes, Lisboa, 2009;

    AA.VV., Actas do Colquio: A Responsabilidade Civil por Dano Ambiental,

    Faculdade de Direito de Lisboa, 18, 19 e 20 de Novembro de 2009, org. deCarla Amado Gomes e Tiago Antunes, Lisboa, 2009;

    AA.VV., Actas do Colquio: A Reviso da Lei de Bases do Ambiente,

    Faculdade de Direito de Lisboa, 2 e 3 de Fevereiro de 2011, org. de CarlaAmado Gomes e Tiago Antunes, Lisboa, 2011;

    GOMES, Carla Amado,

    Tratado de Direito do Ambiente, in Tratado de Direito Administrativo Especial - Volume I , Almedina, 2009;

    Elementos de apoio ao Direito Internacional do Ambiente, AAFDL,2008;

    Temas de Direito do Ambiente, Almedina, 2011;

    Textos dispersos de Direito do Ambiente, I, 1 reimp., Lisboa, 2008;

    PEREIRA DA SILVA, Vasco,Verde. Cor de Direito. Lies de Direito doAmbiente, Coimbra, 2002;

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    ROCHA, Mrio de Melo; A avaliao de impacto ambiental como princpio do

    direito do ambiente nos quadros internacional e europeu, PublicaesUniversidade Catlica, Porto, 2000;

    SARAIVA, Rute,Direito Internacional do desenvolvimento sustentado?,

    Universidade de Lisboa. Faculdade de Direito de Lisboa,in Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor Andr Gonalves Pereira /coord. Jorge Miranda.-Coimbra: Coimbra Editora, 2006;

    Publicaes online:

    MEALHA, Esperana,Avaliao de Impacto Ambiental (AIA) em Portugal Notas de jurisprudncia, inwww.icjp.pt/sites/default/files/papers/831-1359.pdf;

    SEQUEIRA RIBEIRO, Antnio, A Reviso da Lei de Bases do Ambiente(algumas notas sobre a vertente sancionatria), in www.igaot.pt/wp-content/uploads/2012/.../ LeiBasesAmbienteRev.pdf;

    Teses:

    GUERRA, Sidney, Direito Internacional Ambiental; MARINHO, Aliete Rodrigues, O soft law no Direito Internacional do

    Ambiente;