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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA O PAPEL MODERADOR DA REFLEXIVIDADE NA RELAÇÃO ENTRE CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO EM EQUIPAS Ângela Vitória Casaca Botelho Dissertação Orientada pelo Professor Doutor Luís Alberto Curral MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA (Secção de Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das Organizações) 2010

O PAPEL MODERADOR DA REFLEXIVIDADE NA … · presente estudo pretende explorar o papel desta variável enquanto moderadora da relação entre criatividade, enquanto geração de ideias

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

O PAPEL MODERADOR DA REFLEXIVIDADE NA RELAÇÃO ENTRE

CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO EM EQUIPAS

Ângela Vitória Casaca Botelho

Dissertação Orientada pelo Professor Doutor Luís Alberto Curral

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das Organizações)

2010

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

O PAPEL MODERADOR DA REFLEXIVIDADE NA RELAÇÃO ENTRE

CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO EM EQUIPAS

Ângela Vitória Casaca Botelho

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das Organizações)

2010

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais….

À minha irmã…

Ao meu namorado…

Aos meus amigos…

E a todos os que colaboraram e me acompanharam nesta jornada.

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ÍNDICE

Resumo ...................................................................................................................... 1

Abstract ..................................................................................................................... 1

Introdução .................................................................................................................. 2

Criatividade e inovação........................................................................................... 3

Reflexividade da equipa .......................................................................................... 7

A reflexividade da equipa na relação entre criatividade e inovação ......................... 10

Método .................................................................................................................... 13

Amostra ............................................................................................................... 13

Procedimento ....................................................................................................... 14

Medidas ............................................................................................................... 15

Resultados ............................................................................................................... 17

Discussão ................................................................................................................. 19

Limitações deste estudo e investigação futura ........................................................ 22

Implicações práticas ............................................................................................. 23

Referências .............................................................................................................. 24

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Resumo

Actualmente, o sucesso das organizações depende em grande parte da inovação e a

reflexividade é uma das variáveis que influencia este processo. Uma vez que a

reflexividade pode ser considerada como um processo de regulação das equipas, o

presente estudo pretende explorar o papel desta variável enquanto moderadora da

relação entre criatividade, enquanto geração de ideias novas e a inovação, que

corresponde à sua implementação. Foi utilizada uma amostra de 50 equipas de

investigação e desenvolvimento, num total de 239 colaboradores de duas organizações e

os resultados demonstraram uma relação positiva entre criatividade e inovação e uma

relação positiva entre reflexividade e inovação. Uma análise através de regressão

múltipla hierárquica revelou que a reflexividade modera a relação entre a criatividade e

a inovação, tendo um efeito positivo em condições de baixa criatividade, aumentando os

níveis de inovação, e negativo em condições de elevados níveis de criatividade,

diminuindo os níveis de inovação.

Palavras-chave: criatividade, inovação, reflexividade

Abstract Innovation is essential for organizational success and reflexivity is one of the

variables that influence that process. Taking reflexivity as a team regulatory process the

present study intend to explore the moderating effect of this variable in the relation

between creativity, defined as idea generation, and innovation, considered as the

implementation. A sample of 50 research and development teams, with 239 workers

from two organizations, was used and the results showed a positive relation between

creativity and innovation, as well as between reflexivity and innovation. A multiple

hierarquical regression showed that reflexivity moderates the relation between creativity

and innovation, enhancing innovation, in the presence of low levels of creativity, and

decreasing innovation, in high creativity levels conditions.

Key-words: creativity, innovation, reflexivity

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Introdução

As exigências colocadas às organizações para manter a sua eficácia em ambientes

complexos e dinâmicos são cada vez maiores (West & Andersen, 1996), tendo levado a

mudanças radicais na natureza do trabalho (Konradt, AndreBen & Ellwart, 2009). Para

fazer face às necessidades de adaptação às novas circunstâncias as organizações tornam-

se cada vez mais flexíveis e dinâmicas, dependendo da inovação como uma ferramenta

preciosa (West & Andersen, 1996) e utilizando as equipas como uma componente

fundamental (De Dreu, 2002; Schippers, Hartog, Koopman & Knippenberg, 2008).

Consequentemente, a análise dos factores que contribuem para a sua eficácia e inovação

assumem um papel de destaque na investigação (Hoegl & Parboteeah, 2006).

O estudo das equipas assume actualmente um papel relevante na investigação

organizacional. Quer a literatura conceptual, quer os estudos empíricos comprovam a

importância das equipas nas organizações, sobretudo as que dependem da inovação para

o seu sucesso. Dada esta importância, o interesse da investigação pela relação entre as

características fundamentais das equipas, dos seus processos e das variáveis que podem

ter um papel mediador ou moderador entre as características da equipa e a sua eficácia e

desempenho é evidente (Hoegl & Parboteeah, 2006).

A investigação sobre inovação tem identificado uma variedade de preditores da

inovação a nível organizacional, individual e das equipas, no entanto os resultados

apresentam uma grande variabilidade na magnitude e na direcção (Hulsheger, Anderson

& Salgado, 2009). West e Farr (1989) descreveram o estado da literatura sobre a

inovação das equipas como uma selva de resultados inconsistentes.

O presente estudo contribui de forma efectiva para o crescimento do corpo de

investigação sobre a inovação das equipas, indo para além da análise comum dos

preditores da criatividade e inovação, muitas vezes, tomados desajustadamente como

um construto unitário, e centrando-se na análise da reflexividade das equipas como

preditor da inovação, mas também como moderador da relação entre criatividade e

inovação. Embora a reflexividade da equipa tenha sido já estudada enquanto preditora

da criatividade e da inovação, estudos empíricos sobre o efeito moderador desta variável

na relação entre criatividade e inovação são inexistentes. Vários autores têm solicitado

investigação sobre estes efeitos de moderação para clarificar como e quando a

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reflexividade, entre outras variáveis de equipa, influenciam a inovação da equipa

(Hulsheger et al., 2009).

A escolha de uma variável de processo, como é a reflexividade, prende-se com o

facto de estas terem sido identificadas por Hulsheger e colaboradores (2009), através de

uma meta-análise, como sendo significativamente agentes mais poderosos da inovação,

comparativamente às variáveis de input.

Criatividade e inovação

A inovação, introdução planeada e efectiva de mudança, tem sido considerada

progressivamente não só como uma vantagem estratégica, mas também como necessária

para a sobrevivência e crescimento das organizações nos mercados actuais, em

constante mudança (Burpitt & Bigoness, 1997; West, 2002).

Sendo a inovação um aspecto fundamental da mudança organizacional planeada e da

sua capacidade de adaptação às alterações ambientais e a novas condições (West &

Anderson, 1996), há muito que é objecto de curiosidade e de estudo, assistindo-se nas

últimas décadas a um rápido crescimento da investigação dos factores facilitadores e

inibidores da inovação nas organizações (Hulsheger et al., 2009).

Antes de mais é importante clarificar o que é a inovação, já que é evidente a

diversidade de perspectivas e definições. Uma análise da literatura sobre o estudo da

inovação permite verificar que os conceitos de criatividade e inovação são

frequentemente referidos de forma indiferenciada, apesar de constituírem fases distintas

de um processo mais complexo que é o processo de inovação (Woodman, Sawyer &

Griffin, 1993).

Amabile, em 1988, sugeriu que era essencial distinguir os conceitos de criatividade e

inovação, defendendo que constituíam processos distintos, influenciados por diferentes

factores individuais e organizacionais, considerando a criatividade como um produto da

mente, individual ou colectivo, e como dizendo respeito apenas à produção de ideias

novas e úteis, por parte de indivíduos ou grupos de indivíduos que trabalham juntos.

Desta forma, a criatividade diz apenas respeito à geração e desenvolvimento de ideias

ou produtos novos, ou seja, diferentes do que já se conhece, e adequados ao problema

ou circunstância em causa (Amabile, 1997; West, 1997; West, 2002).

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A inovação, por sua vez, é definida como a implementação intencional, efectiva e

com sucesso dessas ideias, processos, produtos ou procedimentos, que constituem uma

novidade e que visam o desenvolvimento e mudança, com impacto ao nível pessoal/da

função (e.g. satisfação; desenvolvimento individual; melhoria de processos), da equipa

(e.g. grau de coesão; qualidade dos processos de tomada de decisão), da organização

(e.g. economia; posicionamento no mercado), ou da sociedade em geral (Van de Ven,

1986; Curral, Forrester, Dwason & West, 2001; Curral, 2005; West & Farr, 1990). A

inovação é assim um processo que compreende duas etapas: a geração de novas ideias e

a sua implementação efectiva (Amabile, 1996; West & Farr, 1990; Woodman et al.,

1993).

A inovação é uma alavanca na produção de mudança nas organizações, quer como

consequência no ambiente externo ou interno, quer como forma de antecipação para

influenciar o ambiente (Damanpour, 1991). Embora a inovação também possa ocorrer a

nível individual, normalmente desencadeada por uma percepção individual de

necessidade de mudança de alguns aspectos do trabalho (Farr & Ford, 1990), dentro das

organizações as ideias novas são maioritariamente propostas e implementadas por

equipas (Hulsheger et al., 2009), especialmente por equipas de gestão de topo, equipas

multidisciplinares na área da saúde e equipas de investigação e desenvolvimento (I&D)

(Curral, 2005).

Os produtos ou ideias inovadoras têm sido classificadas como tecnológicas,

administrativas ou complementares (Damanpour, 1987). As inovações tecnológicas

implicam o uso de novos instrumentos, técnicas, equipamentos ou sistemas, que

introduzem mudanças na forma como um produto é feito ou na forma como um serviço

é prestado. As inovações administrativas enquadram-se no domínio social das

organizações, da sua estrutura e processos administrativos, incluindo a estruturação de

tarefas, agenda e sistemas de incentivos. Por último, as inovações complementares

dizem respeito à fronteira entre a organização e o ambiente, e envolvem esforços

partilhados entre os membros organizacionais e os clientes. Estas categorias de inovação

foram desenvolvidas para o nível organizacional de análise, podendo ser utilizadas

também para o nível grupal.

Amabile (1997), na sua descrição do Modelo Componencial da Criatividade e

Inovação, considera que a criatividade, individual e da equipa, é a fonte primária da

inovação nas organizações, estando dependente de variáveis individuais, como por

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exemplo, a motivação para a tarefa, e ambientais, como por exemplo as práticas de

gestão da organização. Embora a criatividade e inovação sejam duas etapas do processo

de inovação (West, 2002), o facto de constituírem fases sequenciais do processo não

significa que o mesmo seja linear (Drazin & Schoonhoven, 1996; Van de Ven,

Schroeder, Scudder, & Polley, 1986; Van de Ven, Polley, Garud, & Venkatraman, 1999

citados por West, 2002). Outros autores consideram que a criatividade por si só não tem

uma consequência directa ou imediata na inovação (Phelan & Young, 2003; DiLiello &

Houghton, 2006). Finalmente, Rosenfeld e Servo (1990) referem-se à criatividade como

o ponto de partida para a inovação e a esta como o trabalho árduo que se segue à

concepção das ideias e que, habitualmente, envolve o trabalho de muitas pessoas com

competências variadas e complementares.

De facto, Scott e Bruce (1994) consideraram a inovação como um processo

complexo que compreende três fases distintas: 1) o reconhecimento e limitação de um

problema para o qual se geram potenciais ideias ou soluções; 2) procura, promoção e

construção de suporte, interno e/ou externo, para a sua implementação; e, finalmente, 3)

a concretização de um modelo ou protótipo da inovação desejada, com a consequente

experimentação e aplicação na tarefa, no grupo de trabalho ou na organização, para uso

e benefício da organização ou parte dela.

A inovação a nível de equipa implica actividades individuais e grupais, assim como

processos de integração, sendo que a geração de ideias é muitas vezes uma etapa

individual, que posteriormente dá origem à apresentação da ideia ao grupo para

discussão e desenvolvimento, e eventualmente à apresentação de ideias sobre como

desenvolver e implementar as mesmas (Curral et al., 2001). Posteriormente a ideia pode

ou não ser aceite pelo grupo, sendo expectável uma maior aceitação e

consequentemente maior vontade de investir tempo na discussão, desenvolvimento,

avaliação e implementação de ideias que são percebidas como levando a um resultado

desejado pelos membros do grupo (e.g. aumentos na produtividade ou qualidade do

produto, melhores condições de trabalho) (Drazin, Glynn & Kazanjian, 1999; Farr &

Ford, 1990). Os processos de interacção do grupo podem ainda envolver negociações

entre os membros da equipa, que têm ideias diferentes acerca da melhor forma de

proceder ou que têm interesses distintos (Anderson, 1992; Drazin et al., 1999; King &

Anderson, 1990; Nystrom, 1979).

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A investigação tem dado grande atenção ao estudo dos processos de criatividade e

inovação, sobretudo enquanto processo individual. Grande parte dos estudos restringe-

se à análise da inovação numa perspectiva e individual, descurando o nível da equipa

(Anderson, De Dreu & Nijstad, 2004). Existem poucos estudos empíricos dedicados à

exploração e compreensão dos processos de inovação nas equipas de trabalho e os que

existem utilizam maioritariamente equipas cujos processos de inovação não fazem parte

das suas actividades diárias ou equipas de projecto temporárias. Têm sido raramente

estudadas equipas cuja principal função é criar e implementar novas ideias, como as de

I&D, que criam provavelmente um cenário distinto do anterior, já que as mudanças

implementadas habitualmente não têm impacto na sua equipa ou contexto, mas sim fora

da sua equipa ou organização (Curral, 2005).

No âmbito do estudo da inovação das equipas West (1990) propôs inicialmente um

modelo de quatro factores relacionados com os processos das equipas, como explicativo

da inovação das equipas – visão, segurança de participação, orientação para a tarefa e

suporte à inovação. Este modelo tem sido, desde então, amplamente utilizado e testado

na investigação por diversos autores. A investigação subsequente não só utiliza os

quatro factores apontados por West, como introduz melhorias e factores adicionais ao

modelo.

West e Anderson (1996), num estudo com equipas de gestores de topo de hospitais,

encontraram evidências de que os processos de equipa (clareza dos objectivos, elevados

níveis de participação, orientação para a tarefa e suporte à inovação), assim como o

número de membros inovadores prediziam o número de inovações introduzidas,

revelando que o suporte à inovação é um bom preditor da mesma.

Curral e colaboradores (2001) estudaram a relação entre variáveis de input e

variáveis de processo, encontrando relações significativas entre o tipo de tarefa e o

tamanho da equipa e os processos de equipa (clareza e envolvimento com os objectivos,

níveis de participação, suporte à inovação e ênfase na qualidade). Equipas com maiores

exigências de inovação apresentaram níveis superiores de participação e suporte à

inovação.

Num estudo com equipas de várias organizações De Dreu e West (2001),

demonstraram que as equipas são mais inovadoras sob condições de elevados níveis de

influência de opiniões minoritárias, mas apenas quando as mesmas se envolviam numa

tomada de decisão participativa.

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Recentemente, Hulsheger e colaboradores (2009), numa meta-análise de 104 estudos

independentes, identificaram um conjunto de variáveis de equipa, enquadradas numa

versão alargada do Modelo Input-Processamento-Output de Hackman (1987), como

antecedentes da inovação, tais como o suporte à inovação, visão, orientação para a

tarefa e comunicação externa, considerando a inovação como um construto global,

incluindo a geração de ideias novas e a sua implementação.

Utilizando a perspectiva do nível de análise, Anderson e colaboradores (2004), numa

pesquisa de vários estudos no âmbito do tema da inovação publicados entre 1997 e

2002, apresentaram diversos estudos que exploravam o impacto de variáveis

individuais, de grupo e organizacionais na inovação. Entre as variáveis individuais são

referidos aspectos relacionados com a personalidade, motivação e características do

trabalho; entre as variáveis de equipa encontram-se o humor, a estrutura daquela, clima

da equipa, características dos seus membros, variáveis de processo (e.g. reflexividade) e

o estilo de liderança. Por fim, a nível organizacional têm sido estudados factores como a

estrutura, tamanho, cultura e os recursos organizacionais.

Para este estudo, os termos criatividade e inovação serão utilizados para nomear a

primeira e segunda etapa do processo de inovação, respectivamente. Deste modo, a

criatividade refere-se à geração de ideias e a inovação corresponde apenas à sua

implementação implementação. De acordo com o enquadramento teórico esperamos

encontrar uma relação positiva entre a criatividade e a inovação.

H1: A criatividade da equipa está positivamente relacionada com a inovação da equipa.

Reflexividade da equipa

A origem do conceito de reflexividade remonta à filosofia antiga e tem sido aplicado

em múltiplos contextos, tais como a psicologia do desenvolvimento e educacional, a

medicina e a psicologia do trabalho. No contexto do trabalho a reflexividade foi

primeiramente encarada numa perspectiva individual, sendo utilizado para referir o

ciclo de reflexão e acção levado a cabo pelos profissionais na realização de tarefas

complexas (Schippers et al., 2008).

No entanto, a reflexividade ganha a sua expressão máxima no âmbito do trabalho em

equipa, sobretudo naquelas que enfrentam constantes mudanças no seu envolvimento,

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interno e externo. As equipas que trabalham em projectos de inovação enfrentam

constantemente incerteza, falta de conhecimento sobre eventos futuros e consequências

de determinadas acções, e maiores níveis de ambiguidade e confusão relativamente ao

que precisa ser feito (Sicotte & Langley, 2000). De forma a ultrapassar com sucesso tais

exigências é importante para as equipas monitorizar o seu ambiente e reagir

apropriadamente. Um dos aspectos fundamentais da habilidade das equipas para esta

monitorização e reacção adequada é a reflexividade (West, 2000).

A reflexividade da equipa pode ser definida como a medida em que os membros de

uma equipa reflectem abertamente sobre os objectivos do grupo, as estratégias (e.g.

tomada de decisão) e os processos (e.g. comunicação), avaliam o trabalho dos colegas

para aumentar a eficácia da equipa e se adaptam a circunstâncias ambientais ou

endógenas, presentes ou antecipadas (West, 1996). Este processo leva à exploração de

opiniões opostas e consideração de alternativas, aumentando a qualidade das decisões

tomadas e das ideias geradas (Tjosvold, Tang & West, 2004; Wong, Tjosvold & Su,

2007). Um dos aspectos críticos que diferencia a reflexividade individual da

reflexividade da equipa é que esta envolve necessariamente discussão e,

consequentemente, comportamento observável, podendo ser vista como uma actividade

relacional (Barge, 2004 citado por Schippers et al., 2008).

Carter e West (1998) identificaram dois factores distintos subjacentes à reflexividade

da equipa: reflexividade da tarefa e reflexividade social. No entanto, a primeira parece

ser o construto central e está positivamente relacionada com a participação na tomada

de decisão, clareza dos objectivos da equipa e bem-estar emocional, assim como com o

desempenho e a eficácia da equipa.

A reflexividade da equipa inclui três tipos de acções colectivas: reflexão,

planeamento e acção e adaptação. A reflexão envolve comportamentos como o

questionamento, aprendizagem exploratória, avaliação, exploração divergente,

utilização explícita do conhecimento e consciência de acontecimentos passados e do

futuro. O planeamento caracteriza-se pela inclusão de potenciais problemas, detalhe e

hierarquização dos planos, assim como o planeamento de curto-prazo. Durante a

reflexão, podem ser desenhados planos de acção alternativos, formadas intenções,

elaborados planos detalhados e as decisões podem ser convertidas em acções. A

adaptação é alcançada através de ciclos contínuos de adaptação, planeamento e acção

(West, 1996).

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A reflexividade parece ser o mecanismo ideal a utilizar pelos grupos para auto-

regularem as suas acções perante objectivos estabelecidos. Grupos reflexivos são

capazes de se focar e tentar modificar a adequação e clareza dos objectivos, a eficácia

das estratégias ou dos planos para atingir os objectivos, a tomada de decisão,

comunicação, controvérsia e processos de auto-avaliação do grupo ou do impacto dos

factores ambientais. West (1996) propõe que em momentos de tomada de decisão

complexa a reflexividade terá um efeito positivo na eficácia do grupo e nos seus

processos sociais (suporte social, gestão de conflitos, suporte ao desenvolvimento e

clima do grupo).

Dayan e Basarir (2010) apresentam um modelo que pretende sistematizar os

diferentes antecedentes e consequências da reflexividade das equipas, em equipas cujo

objectivo principal é o desenvolvimento de novos produtos. Apontam como principais

antecedentes factores relacionados com a equipa e com o contexto. De entre os factores

relacionados com a equipa, os autores consideraram a memória transactiva, a clareza

dos objectivos e a autonomia da equipa. Os factores de contexto identificados estão

associados à justiça procedural e interaccional. Hoegl e Parboteeah (2006) apontam

ainda como antecedentes importantes da reflexividade da equipa as competências

sociais e competências de gestão de projectos dos seus membros. Identificam também

diversas consequências da reflexividade da equipa, nomeadamente: um efeito positivo

no desempenho global da equipa (Hoegl & Parboteeah, 2006); efeito mediador positivo

entre diversidade e satisfação no trabalho (Schippers, Den Hartog, Koopman & Wienk,

2003); efeito positivo na inovação da equipa (Tjosvold et al., 2004). Contudo, a

investigação e a teoria acerca dos determinantes e consequências da reflexividade ainda

é escassa (Schippers et al., 2003)

Como vimos, a reflexividade é considerada como um processo adaptativo importante

das equipas no que toca ao aumento do desempenho (Shippers, 2003; Schippers et al.,

2003; West, 2000; Schippers, Den Hartog & Koopman, 2007). No entanto, uma questão

pouco explorada na investigação é em que circunstâncias a reflexividade é mais

importante e se é sempre útil. Schippers e Homan (2009) sugerem que a reflexividade

apresenta um papel mais importante e necessário quando as melhorias nos processos são

imperativas e a sua necessidade é explícita, como é o caso da inovação para o sucesso.

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A reflexividade da equipa na relação entre criatividade e inovação

Alguns investigadores mostraram-se inicialmente cépticos relativamente às

capacidades cognitivas das equipas para analisar situações complexas e criar soluções

de qualidade (van Knippenberg, van Knippenberg & van Dijk, 2000), outros

consideraram as equipas como meios de anulação da criatividade individual e da

qualidade dos resultados (Aldag & Fuller, 1993). No entanto, mais recentemente, a

investigação tem demonstrado que a inovação é um processo colaborativo de equipa e

que os grupos podem ser produtivos desde que as situações e as tarefas sejam

apropriadas ao trabalho colaborativo (Burpitt & Bigoness, 1997; West, 2002).

No entanto, a investigação também tem demonstrado que apesar de os grupos

apresentarem potencial para a inovação, confrontam-se com uma série de obstáculos

que podem frustrar o processo de forma significativa (Hackman, 1990; West, 2002). De

facto, a inovação no local de trabalho é um processo complexo que frequentemente

enfrenta dificuldades, obstáculos e frustração. O indivíduo ou equipa inovadores

enfrentam uma situação exigente na qual é requerida uma grande quantidade de esforço

para completar todas as fases do processo de inovação, assim como para enfrentar as

resistências internas e do meio, que se opõem ao seu esforço e às suas acções. A

resistência à mudança acontece porque as pessoas tendem a preferir a estabilidade e a

resistir à insegurança ou incerteza subjacentes a um processo de inovação (Carmeli,

Meitar & Weisberg, 2006). Adicionalmente, os membros dos grupos enfrentam

obstáculos enquanto tentam coordenar esforços, fortalecer relações interpessoais e

integrar ideias (Tjosvold et al., 2004). Em contexto organizacional, a sugestão de ideias

novas, mesmo que pouco ajustadas, não traz consequências. Estas surgem com maior

evidência perante a tentativa de implementação, que tem custos associados para a

organização incluindo tempo, recursos e pessoas, e que pode trazer consequências

negativas se não for bem sucedida (West, 2002), justificando as dificuldades acrescidas

associadas à passagem à prática.

Os grupos necessitam, assim, de capacidade de gestão considerável para identificar

frustrações, desenvolver e implementar soluções adequadas (Tjosvold et al., 2004;

West, 2002), desempenhando a reflexividade um papel importante e decisivo nestes

processos. Espera-se que aquela ajude a equipa a conhecer o seu estado actual e

desenvolver a compreensão e os métodos para responder a novas condições e desafios

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(Carter & West, 1998), tornando-se especialmente útil para grupos que trabalham em

tarefas desafiantes e em ambientes complexos (Tjosvold et al., 2004).

A investigação tem demonstrado de forma consistente, e de acordo com a formulação

inicial de West (1996) do conceito de reflexividade, que a reflexividade está

positivamente relacionada quer com medidas subjectivas, quer objectivas do

desempenho das equipas (Carter & West, 1998; Schippers et al., 2003; Somech, 2006;

Hoegl & Parboteeah, 2006). Por exemplo, um estudo realizado por Carter e West

(1998), em equipas de produção de televisão demonstrou que a reflexividade era o

melhor preditor da eficácia. Schippers e colaboradores (2003) sugerem que a

reflexividade medeia a relação entre a diversidade e o desempenho da equipa, o

envolvimento e a satisfação. Um outro estudo, realizado com estudantes a trabalhar em

grupos de projecto, também demonstrou uma relação positiva entre a reflexividade e o

desempenho do grupo, comprovando que a reflexividade contribuía para o progresso do

projecto na fase de execução, mas não na fase de orientação (Gevers, Van Eerde &

Rutte, 2003). Hoegl e Parboteeah (2006) demonstraram, num estudo com equipas de

desenvolvimento de software, que a reflexividade está positivamente relacionada com a

eficácia da equipa, mas não com a eficiência. Por último, num estudo experimental com

equipas de três pessoas foi demonstrado que as equipas na condição de reflexividade

apresentavam melhores desempenhos do que as equipas do grupo de controlo (Gurtner,

Taschan, Semmar & Nagele, 2007).

Embora exista já alguma investigação sobre o papel da reflexividade no desempenho

das equipas, pouco tem sido estudado acerca da relação entre a reflexividade e a

inovação das mesmas. Não obstante, surgem na literatura alguns estudos que exploram

a relação entre estas variáveis, sugerindo uma influência directa e positiva da

reflexividade na inovação das equipas (Carter & West, 1998; Hirst & Mann, 2004;

Schippers et al. 2003).

De Dreu (2002) estudou o papel da reflexividade enquanto variável moderadora,

concluindo que as equipas apresentavam maiores níveis de inovação e de desempenho

sob condições de maior diversidade de opiniões, apenas em condições de elevados

níveis de reflexividade. Somech (2006) encontrou uma relação positiva significativa

entre a reflexividade e a inovação em equipas de cuidados de saúde.

A reflexividade, como conceito multifacetado que envolve, como já vimos, vários

processos (e.g. questionamento, avaliação) pode criar uma preparação conceptual para a

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inovação (West, 2000), na medida em que a contínua monitorização e adaptação

permite à equipa desenvolver novos significados e compreensões partilhadas da

realidade (Maccurtain, Flood, Ramamoorty, West & Dawson, 2009), assim como levar

as equipas à implementação efectiva da inovação (Gollwitzer, 1996).

A maioria da investigação sobre reflexividade e inovação explora a inovação ao nível

da equipa (West, 2000), demonstrando que as equipas que se envolvem em

comportamentos reflexivos tem maior probabilidade de se adaptar, ser proactivas e levar

a cabo mudanças radicais (Hoegl & Parboteeah, 2006; West et al., 2004). Elevados

níveis de reflexividade da equipa podem estimular o processo de selecção de boas e más

ideias e de soluções de problemas, tornando a implementação de sucesso mais provável

(De Dreu, 2002). As equipas reflexivas têm maior consciência das consequências das

suas acções e são mais proactivas, enquanto as equipas não-reflexivas funcionam

essencialmente sem qualquer consciência das suas acções. Da mesma forma, uma

equipa reflexiva apresenta maior tendência para monitorizar o ambiente interno e

externo, o que permite aos seus membros serem mais capazes de se adaptar e serem

proactivos nas situações que assim o exigem.

Tendo em conta o suporte conceptual e estudos empíricos já realizados são colocadas

as seguintes hipóteses:

H2: A reflexividade da equipa está positivamente relacionada com a inovação da

equipa.

H3: A reflexividade da equipa modera a relação entre a criatividade e a inovação, de

tal modo que equipas criativas e com níveis mais elevados de reflexividade serão mais

inovadoras do que equipas criativas e com baixos níveis de reflexividade.

O diagrama I sintetiza as hipóteses levantadas.

Diagrama I – Modelo de hipóteses

Criatividade

Equipa

Inovação da

Equipa

Reflexividade

da equipa

+

+

H1

H3

H2 +

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Método

Amostra

A amostra deste estudo foi retirada de duas organizações nacionais cuja actividade

principal é a investigação e desenvolvimento (I&D). Uma das organizações é suportada

por uma fundação privada e a sua actividade centra-se essencialmente na investigação e

educação na área da biomédica (Organização I). A outra é uma organização de

investigação e desenvolvimento tecnológico, em parceria com o Ministério da

Economia, cujo principal objectivo é fortalecer o potencial de inovação e qualidade na

área dos negócios e promover a sustentabilidade da economia (Organização II).

A organização I é um instituto de dimensão média, organizada em 36 grupos

direccionados para uma grande diversidade de áreas de investigação no ramo da

biomédica. A organização II é uma empresa pública de grande dimensão, organizada em

14 unidades cujas áreas de investigação variam desde a biotecnologia, química e energia

à engenharia aeroespacial.

Apesar das semelhanças entre ambas, foram encontradas algumas diferenças

significativas. Enquanto na organização I as equipas de investigação são muito

semelhantes no tamanho, composição (idade, sexo e educação) e organização, na

organização II as equipas são bastante diferentes no tamanho, composição (idade, sexo,

educação e proporção entre técnicos e cientistas) e organização.

Participaram neste estudo 50 equipas, com um total de 239 colaboradores I&D,

incluindo 189 membros de equipas e 50 líderes das equipas. Foram ainda inquiridos sete

gestores de departamentos da organização II.

O tamanho médio das equipas era de cinco pessoas (desvio padrão 2.42). O número

mínimo de elementos por equipa era de três pessoas e o máximo de 11. As equipas

foram classificadas pelos seus líderes e gestores de acordo com a sua actividade

principal de I&D, com base no sistema de classificação proposto por Katz & Tushman

(1979). A maioria das equipas que participaram neste estudo estava predominantemente

envolvida em investigação básica (36%) ou aplicada (38%). A maioria das equipas

envolvidas em investigação aplicada estava também implicada em desenvolvimento

(22%). Um quinto da amostra incluía equipas que trabalhavam em serviços técnicos e

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uma pequena parte das equipas (6%) estava exclusivamente envolvida na produção de

novos processos.

Dadas as diferenças encontradas entre os membros das diferentes equipas, foram

considerados como membros efectivos de uma equipa, podendo integrar a amostra deste

estudo, os membros que estivessem a trabalhar na mesma equipa, nos últimos três

projectos e no momento da recolha dos dados, e que fossem considerados pelos líderes

como membros activos da equipa há pelos menos seis meses.

A amostra é constituída por cerca de duas vez mais mulheres do que homens. As

equipas eram constituídas em média por cerca de 60% de mulheres. Cerca de metade

das equipas tinham mais de 75% de mulheres na sua constituição. Doze equipas eram

constituídas exclusivamente por mulheres, enquanto apenas três eram constituídas

apenas por homens. Relativamente ao tempo de experiência na equipa, em média os

membros pertenciam à sua equipa há mais de cinco anos. Setenta por cento dos

participantes pertenciam à equipa há menos de um ano e aproximadamente 35%

pertenciam à sua equipa há mais de dez anos. Nove membros trabalhavam na mesma

equipa há mais de 20 anos (4%).

Procedimento

A amostra foi conseguida através de uma abordagem directa aos directores de topo

de cada uma das organizações. Após a autorização concedida pelos gestores de topo

cada líder de equipa foi contactado directamente, por e-mail ou por telefone, no sentido

de lhe ser dado a conhecer o estudo e a metodologia. Aqueles que concordaram com a

participação no estudo, realizaram uma entrevista com o objectivo de melhorar o

conhecimento do trabalho da organização e as principais actividades do departamento.

Na Organização II, onde cada departamento inclui mais do que uma equipa, foi

realizada uma segunda entrevista com cada líder de equipa para explicar o objectivo do

estudo e obter a aceitação de participação. De seguida, foram marcadas e realizadas

entrevistas individuais com os respectivos líderes. Na maioria das vezes, foi solicitada a

participação nas reuniões de equipa regulares, para explicar os objectivos do estudo e a

metodologia, assim como para responder a questões sobre confidencialidade dos dados.

Apenas em alguns casos foram marcadas reuniões extraordinárias pelos líderes de

equipa, para apresentar o estudo aos membros da equipa.

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Os membros das equipas foram contactados pessoalmente e solicitados a preencher o

questionário em formato de papel. Em ambas as organizações a maioria dos membros

das equipas preencheram os questionários durante as reuniões de equipa periódicas,

entregando-os posteriormente. Três meses após a recolha dos questionários dos

membros das equipas, os líderes das equipas e gestores de departamento foram

solicitados a preencher o respectivo questionário de avaliação da criatividade e inovação

das suas equipas.

Medidas

Medidas dos processos da equipa

Reflexividade da equipa. O questionário para medir a reflexividade da equipa foi

desenvolvido por Swift e West (1998) e os detalhes sobre a sua precisão e validade

podem ser consultados em Carter e West (1998). É constituído por nove itens e avalia a

medida em que os membros de uma equipa reflectem acerca dos objectivos da mesma,

das estratégias e processos e se adaptam em função disso. Como exemplos de itens “A

equipa revê com frequência a sua abordagem para concluir o trabalho” e “Discutimos

regularmente em que medida a equipa está a trabalhar efectivamente em conjunto”.

As respostas dos participantes, os gestores das equipas, foram dadas numa escala de

cinco pontos, que variava desde 1 = discordo completamente até 5 = concordo

completamente. O coeficiente alpha de Cronbach para os nove itens foi de .83.

O presente questionário foi seleccionado por já ter sido utilizado em amostras

portuguesas (Curral, 2001, 2005).

Variável de controlo. Como variável de controlo foi utilizado o tamanho da equipa.

Medidas de criatividade e inovação da equipa

Avaliar a inovação de uma equipa não é uma tarefa fácil. Alguns investigadores

apelam ao desenvolvimento de um critério objectivo de desempenho, mas outros

reconhecem que algumas dimensões do desempenho são difíceis de operacionalizar uma

vez que estão fortemente ligadas ao contexto. Nicholson (1990) defende que nos

devemos focar a construção social da inovação como forma de ultrapassar o problema

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de definição do construto. Sugere ainda que a abordagem empírica à inovação deve

começar com a análise do contexto cultural onde o processo de inovação ocorre, já que

é a cultura que dá à inovação os seus diferentes significados. Amabile (1983) também

defende a adopção de definições de criatividade e inovação assentes em critérios

subjectivos claros validados num contexto de percepções partilhadas. Segundo a autora,

uma forma satisfatória de alcançar uma validação consensual é através de peritos no

domínio em causa. Os líderes de equipa na organização I e os gestores de departamento

na organização II foram seleccionados como peritos no domínio, com a vantagem

adicional de deterem igualmente um conhecimento profundo do contexto cultural, que

inclui a organização, o mercado e a comunidade científica, onde as suas equipas

operam.

Foram utilizados dois questionários. Um questionário com cinco itens que pretendia

avaliar a inovação geral da equipa com base nas dimensões propostas por West e

Anderson (1996). Os participantes tiveram que avaliar as equipas de acordo com os

seguintes critérios: Novidade, definida como quão novo é o trabalho da equipa no

domínio científico e tecnológico. As respostas variaram de 1 = nada novo até 7 =

extremamente novo; Magnitude, definida como quão grandes são as consequências do

trabalho da equipa para o desenvolvimento do conhecimento. As respostas variaram

entre 1 = sem consequências e 7 = grandes consequências; Inovação geral, definida

como o nível de inovação da equipa. As respostas variaram entre 1 = nada inovadora e

7= extremamente inovadora; Benefício para a sociedade, definido como a importância

do trabalho da equipa para a sociedade em geral. As respostas variaram entre 1 = nada

importante e 7 = extremamente importante.

Para a organização I, e porque realiza essencialmente investigação básica, foi

adicionada outra dimensão: radicalidade, definida como a medida em que uma

mudança no status quo seria resultado do trabalho em equipa. As respostas variaram

entre 1 = nada radical e 7 = extremamente radical. O coeficiente alpha de Cronbach

para o questionário de cinco itens da organização I foi de .67. A correlação inter-itens

foi de .28 e a correlação item-total mais baixa foi .25 (benefício para a sociedade).

Para a organização II, e porque as equipas realizam predominantemente investigação

aplicada e desenvolvimento, foi adicionada uma dimensão às primeiras quatro:

benefício para o cliente, definido como a medida em que os clientes estão satisfeitos

com as soluções/produtos apresentados pela equipa. As respostas variaram entre 1 =

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nada satisfeitos e 7 = extremamente satisfeitos. O coeficiente alpha de Cronbach para o

questionário de cinco itens da organização II foi de .83. A correlação inter-itens foi de

.48 e a correlação item-total mais baixa foi de .34 (Benefício para o Cliente).

O segundo questionário, também aplicado aos líderes ou gestores, pretendia avaliar o

nível global de criatividade da equipa com base em duas dimensões: 1) criatividade das

ideias geradas pela equipa; 2) criatividade das soluções geradas pela equipa. As

respostas variaram entre 1 = nada criativas e 7 = extremamente criativas. O coeficiente

alpha de Cronbach para estes dois itens foi de .88, para a organização I, e de .69, para a

organização II.

Resultados

A tabela 1 apresenta as médias, desvios-padrão e correlações entre as variáveis em

estudo.

De um modo geral, os valores médios obtidos sugerem que os participantes possuem

níveis elevados de Criatividade (M = 5.53, DP = 0.63) e Inovação (M = 5.57, DP =

0.68) e níveis médios de Reflexividade (M = 3.67, DP = 0.43).

A análise das correlações revelou que a Criatividade tem uma correlação positiva

significativa com a Inovação (r = 0.553, p <0,01) e a Reflexividade apresenta uma

correlação positiva com a Criatividade (r = 0.427, p <0,01) e com a Inovação (r = 0.596,

p <0,01).

Tabela 1 - Médias, Desvios Padrão e Inter-Correlações

Variável M D.P. 1 2 3 4

1. Tamanho da equipa 5.60 2.42 -

2. Criatividade 5.53 .63 -.032 -

3. Inovação 5.57 .68 .002 .553** -

4. Reflexividade 3.67 .43 .064 .427** .596** -

a. N = 50.

** p < 0,01

A predição de que a criatividade estaria associada a maior inovação, especialmente

sob condições de elevada reflexividade foi testada através de uma análise de regressão

múltipla hierárquica. No primeiro passo foram introduzidos os preditores criatividade e

reflexividade, bem como o tamanho da equipa, como variável de controlo (Curral et al.,

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2001). No segundo foi introduzido o produto da criatividade e da reflexividade como

forma de obter o efeito único da interacção entre estes dois preditores (Baron & Kenny,

1986).

Em relação à hipótese 1, podemos observar na Tabela 2 que a criatividade está positiva

e significativamente associada à inovação medida pelos lideres da equipa, o que vem

dar suporte à primeira hipótese, que predizia uma relação positiva entre a Criatividade e

a Inovação (β= .39, p< 0.01). Os resultados dão também suporte à segunda hipótese

colocada, verificando-se efectivamente uma relação positiva e significativa entre a

Reflexividade, medida pelos membros da equipa, e a Inovação medida pelos respectivos

líderes (β= .42, p<0.01).

Relativamente à terceira hipótese, que antecipava um efeito moderador da

Reflexividade sobre a relação entre a Criatividade e a Inovação, verifica-se que de facto

o mesmo existe (β= -.24, p<0.05), acrescentando a reflexividade cerca de 4% na

explicação da variância obtida.

Tabela 2 – Resultados da regressão múltipla hierárquica

Inovação da Equipa

Passos R2 β

1.

Tamanho da equipa .03

Criatividade .39**

Reflexividade .42**

.40**

2. Tamanho da equipa -.02

Criatividade .30*

Reflexividade .45**

Reflexividade x Criatividade -,24*

.44**

* p < 0,05 ** p < 0,01

A análise das linhas de regressão (Gráfico 1), permite um olhar mais detalhado sobre o

comportamento da variável Reflexividade, indicando que o efeito moderador positivo

da Reflexividade na relação entre Criatividade e Inovação, ou seja, um nível elevado de

Reflexividade, apenas se verifica quando a Criatividade é baixa. Quando a criatividade é

alta, elevados níveis de Reflexividade traduzem-se em níveis inferiores de Inovação.

Desta forma, os resultados suportam apenas parcialmente a terceira hipótese.

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Gráfico 1 – Interacção entre criatividade, reflexividade e inovação

Discussão

A reflexividade da equipa tem sido vista como um factor relevante na eficácia das

equipas e nas suas capacidades para inovar. Considerando a inovação como um

processo complexo, que tem na base a criatividade, e que enfrenta obstáculos e

frustrações importantes no que respeita à sua passagem à prática, ou seja à

implementação efectiva de novas ideias, produtos ou procedimentos, o presente estudo

teve como principal objectivo explorar a relação entre a criatividade e a inovação, e

mais especificamente, o papel da reflexividade enquanto variável moderadora desta

relação.

O racional da antecipação do efeito de moderação da reflexividade na relação entre a

criatividade e a inovação, passa por considerar a reflexividade como um mecanismo de

regulação da equipa, que permite à mesma focar-se nos objectivos e nas estratégias a

usar para os alcançar, assim como para monitorizar os processos e facilitar o ajuste ao

seu estado actual (Brandstätter, Lengfelder & Gollwitzer, 2001).

Os resultados suportaram a primeira hipótese, que postulava uma relação positiva

entre criatividade e inovação. Tal como Amabile (1997) sugeriu, a criatividade parece

estar na origem da inovação, sendo necessário gerar ideias novas para que

posteriormente possam ser implementadas, dando corpo à inovação. Deste modo,

0

1

2

3

4

5

6

7

BaixaCriatividade AltaCriatividade

Inov

ação

BaixaReflexividade

AltaReflexividade

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quanto maior a criatividade, neste caso especificamente maior número e qualidade das

ideias geradas, mais elevados são os níveis de inovação.

A segunda hipótese foi também suportada, verificando-se efectivamente uma relação

positiva entre reflexividade e inovação. Tal indica que equipas com maiores níveis de

reflexividade apresentam maiores níveis de inovação. Os resultados suportam a teoria

de West (1996, 2000, 2002) sobre o valor da reflexividade para a inovação das equipas

nas organizações e são consistentes com os resultados de estudos realizados

anteriormente (Carter & West, 1998; Hirst & Mann, 2004; Schippers et al. 2003).

No entanto, a relação entre a reflexividade e a inovação é mais complexa quando se

analisa a interacção entre esta variável e a criatividade na predição da inovação. A

terceira hipótese colocada foi apenas parcialmente suportada. A reflexividade modera a

relação entre criatividade e inovação, sendo que elevados níveis de reflexividade apenas

têm um efeito positivo na inovação, quando as equipas apresentam menores níveis de

criatividade.

Em cenários de menor número ou menor qualidade das ideias, a reflexividade parece

desempenhar um papel fundamental. Consistentemente com os argumentos teóricos de

West (1996), uma equipa reflexiva apresenta maior capacidade para questionar e

acompanhar os desafios gerados pelas mudanças ambientais contínuas subjacentes aos

projectos de inovação. Esse esforço proactivo contribui para uma melhor compreensão

da ambiguidade e da confusão gerada (Sicotte & Langley, 2000) à volta dos projectos

de inovação, assim como desencadeia mecanismos para a resolução de problemas ou

geração de novas soluções. Deste modo, os resultados sugerem que, nestas condições, a

reflexividade cumpre o seu papel de superação dos obstáculos e resistências que se

colocam habitualmente à implementação de novas ideias, funcionando como um

processo de auto-regulação das acções da equipa.

Em equipas com elevados níveis de criatividade, o efeito da elevada reflexividade

parece ser negativo, ou seja, em circunstâncias de elevada criatividade, a reflexividade

parece não acrescentar valor à equipa, podendo inclusive reduzir a sua eficácia. Tal

pode ser explicado, em parte, pelo facto de, em equipas de elevada criatividade, em que

o número e a qualidade das ideias geradas são elevados, e uma vez que as actividades

reflexivas de questionamento, planeamento e monitorização contínuos requerem

elevados níveis de envolvimento e dedicação de recursos e de tempo (Hoegl &

Parboteeah, 2006), existir um maior dispêndio de tempo nos processos de análise da

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informação retardando os processos de tomada de decisão. Paralelamente, e tendo em

conta a teoria dos recursos cognitivos limitados (Draycott & Kline, 1996), na presença

de maior número de ideias, serão necessários mais recursos para proceder aos processos

associados à reflexividade, que podem não estar disponíveis. Por outro lado, os recursos

da equipa podem consumir recursos de forma excessiva, diminuindo a capacidade da

equipa para alocar recursos à concretização de acções concretas essenciais à

implementação.

O consumo de recursos torna-se especialmente importante em equipas de I&D, cujas

exigências de inovação são elevadas e muitas vezes existem factores externos, como o

cumprimento de prazos, que condicionam o funcionamento da equipa. Coloca-se ainda

a hipótese, e tendo em conta a análise dos níveis médios de reflexividade das equipas

estudadas, que em equipas desta natureza o impacto da reflexividade seja menos

evidente, uma vez que os processos de reflexividade podem ser encarados como

fazendo parte do funcionamento normal da equipa, tornando-se a sua identificação

menos saliente e, paralelamente, trazendo menor diferenciação entre níveis baixos e

elevados de reflexividade.

Estas possíveis explicações para os resultados levantam novas questões no que

respeita à sequenciação da reflexividade da equipa ao longo de um projecto de inovação

e em equipas ou circunstâncias de elevada criatividade. É possível antever uma maior

necessidade de reflexividade na fase inicial de concepção e planeamento, invocando

maiores competências de foco no resultado e implementação das estratégias

previamente planeadas nas fases de desenho e desenvolvimento ou implementação

(Gupta & Wilemon, 1990; Clark & Fujimoto, 1991; Souder & Moenaert, 1992).

De forma geral, os resultados apresentados parecem revelar que a reflexividade,

tomada como um mecanismo de auto-regulação, dá o seu contributo máximo e é

chamada a intervir ao longo do processo de inovação, sempre que existe uma

discrepância entre o desempenho actual da equipa e os objectivos traçados, reduzindo

essa discrepância (Curral, 2005).

Contudo, para uma melhor compreensão do impacto da reflexividade na relação

entre criatividade e inovação seria necessária a exploração simultânea de outras

variáveis de processo, como por exemplo, a participação ou o suporte à inovação.

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Limitações deste estudo e investigação futura

Embora o presente estudo contribua para o enriquecimento da literatura sobre a

inovação das equipas, algumas limitações devem ser apontadas.

Embora o desenho do presente estudo tenha procurado prevenir a ocorrência de

variância devida a um método comum, utilizando diferentes fontes para as variáveis

criatividade e inovação (líderes das equipas) e reflexividade (gestores), o objectivo

poderia ter sido alcançado com maior rigor se tivessem sido utilizadas fontes distintas

para as variáveis preditoras e variáveis dependentes. Poderiam ter sido usadas diferentes

fontes para a medida de criatividade e para a medida de inovação, considerando

adicionalmente medidas objectivas de inovação, a partir de outras fontes, como por

exemplo, os clientes.

Outra limitação relaciona-se com o facto de as medidas de criatividade e inovação

terem sido recolhidas num único momento, reportando, por isso, a indicadores globais

das equipas, impedindo o estabelecimento de relações causais. Para ultrapassar esta

limitação as medidas de criatividade e inovação poderiam ter sido recolhidas

diferidamente, ou seja, no momento inicial e final dos respectivos projectos.

Embora este estudo contribua para o aumento da compreensão dos processos de

equipa que afectam a inovação da equipa, o conhecimento actual sobre a dinâmica das

equipas e as relações entre as variáveis de input, processo e output é ainda insuficiente.

Em investigações futuras, seria útil explorar com maior profundidade as relações entre

as variáveis de input e as variáveis de processo, assim como o papel de moderação das

variáveis de input e de processo já identificadas, na relação entre a criatividade e

inovação. Concomitantemente, serão necessários mais estudos multinível que integrem

e relacionem variáveis individuais, de equipa e organizacionais, uma vez que, quer a

criatividade, quer a inovação são normalmente tidas como dependentes da interacção

entre o indivíduo/equipa e a situação em que se encontra (Amabile, 1997; Scott &

Bruce, 1994).

Paralelamente será importante clarificar se existem diferenças entre equipas com

elevadas exigências de inovação e as que têm exigências de outra natureza, em que os

processos associados à reflexividade sejam menos implícitos. Tal é fundamental, pois,

em equipas de I&D a geração de ideias e a sua implementação ocorrem de forma

natural, constituindo a exigência básica do trabalho das equipas. Consequentemente, a

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adopção de mecanismo para ultrapassar as resistências naturais colocadas à inovação

esbatem-se. O mesmo pode não acontecer em equipas cuja exigência principal não

passa pela inovação, antevendo-se, nestes casos, um papel mais significativo da

reflexividade como meio de promover a gestão da mudança e das resistências geradas,

que naturalmente podem ser maiores.

Por último, em investigações futuras poderá ser útil dar maior atenção, para além dos

factores que facilitam ou predizem a inovação, à existência de factores inibidores ou

ainda ao papel da reflexividade na aprendizagem das equipas e médio e longo-prazo.

Implicações práticas

Uma vez que a inovação se tornou fundamental na sobrevivência e sucesso das

organizações actuais, os gestores estão preocupados em como promover a eficácia das

equipas ao serviço da inovação. Os resultados apresentados neste estudo contribuem

para o aumento do conhecimento acerca da forma como a reflexividade actua na

promoção da inovação das equipas. Considerando que esta variável se comporta de

forma distinta em contextos de baixa vs. elevada criatividade, é possível identificar

algumas linhas de orientação para os líderes e gestores na condução das suas equipas.

Alguns estudos já demonstraram a importância da liderança na promoção da

reflexividade, sobretudo a liderança transformacional (Schippers et al., 2008),

salientando que os líderes das equipas desempenham um papel importante no

funcionamento do dia-a-dia das suas equipas e devem estar especialmente bem

posicionados para influenciar os processos da equipa, nomeadamente a reflexividade. O

papel do líder pode ganhar importância sobretudo nas acções de planeamento ou

geração de alternativas, contribuindo para a organização da equipa nas fases

imediatamente anteriores à implementação das ideias.

Desta forma, perante as evidências apresentadas neste estudo, os gestores e líderes

estarão mais aptos a gerir os processos de reflexividade das suas equipas, consoante as

circunstâncias e exigências de cada momento, aumentando os seus níveis de

desempenho e inovação.

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