21
Psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017 Ana Isabel Mendes Teixeira 1 facebook.com/psicologia.pt O PERDÃO NAS RELAÇÕES DIÁDICAS DE INTIMIDADE Seminário de Projeto realizado no âmbito do Mestrado Integrado em Psicologia Clínica e da Saúde, com o objetivo apoiar o/a estudante no desenvolvimento de um projeto de dissertação de mestrado. 2016 Ana Isabel Mendes Teixeira Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde pela Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) (Portugal) E-mail de contato: [email protected] RESUMO O Homem é um ser genuinamente social e relacional que desde o nascimento necessita da interação com os seus semelhantes para o alcance de um desenvolvimento pleno. Já Bowlby (1978) postula, na sua teoria da vinculação, a necessidade humana universal de os indivíduos desenvolverem ligações afetivas de proximidade com outros significativos ao longo da existência. O percurso que fazemos, desde o berço até à morte, é pautado pelas interações diádicas, sejam estas complementares - com os progenitores - ou recíprocas - com os amigos, namorados, cônjuges…. Das inúmeras relações que estabelecemos ao longo da vida, as relações românticas emergem como as mais significativas. Estas relações de intimidade não são estáticas e imutáveis, mas antes, pautam-se por diversas experiências, por prazeres e desprazeres. Como tal, torna-se impossível conceber uma relação em que não haja divergências (Costa, 1998), pelo que no seguimento destas divergências facilmente surgem mágoas. Efetivamente, é na relação com que mais se ama que facilmente se é ofendido (Allemand, Amberg, Zimprinch & Fincham, 2007). Palavras-chave: Perdão, relações de intimidade, relações amorosas, conjugalidade, determinantes do perdão, processo. Copyright © 2017. This work is licensed under the Creative Commons Attribution International License 4.0. https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/

O perdão nas relações diádicas de intimidade · acontecimento dentro do relacionamento. ... inclui também o acréscimo de fatores positivos ou a substituição daqueles por estes,

Embed Size (px)

Citation preview

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 1 facebook.com/psicologia.pt

O PERDÃO NAS RELAÇÕES DIÁDICAS DE INTIMIDADE

Seminário de Projeto realizado no âmbito do Mestrado Integrado em Psicologia Clínica e da Saúde, com o

objetivo apoiar o/a estudante no desenvolvimento de um projeto de dissertação de mestrado.

2016

Ana Isabel Mendes Teixeira

Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde pela Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação da

Universidade do Porto (FPCEUP) (Portugal)

E-mail de contato:

[email protected]

RESUMO

O Homem é um ser genuinamente social e relacional que desde o nascimento necessita da

interação com os seus semelhantes para o alcance de um desenvolvimento pleno. Já Bowlby (1978)

postula, na sua teoria da vinculação, a necessidade humana universal de os indivíduos

desenvolverem ligações afetivas de proximidade com outros significativos ao longo da existência.

O percurso que fazemos, desde o berço até à morte, é pautado pelas interações diádicas, sejam

estas complementares - com os progenitores - ou recíprocas - com os amigos, namorados,

cônjuges…. Das inúmeras relações que estabelecemos ao longo da vida, as relações românticas

emergem como as mais significativas. Estas relações de intimidade não são estáticas e imutáveis,

mas antes, pautam-se por diversas experiências, por prazeres e desprazeres. Como tal, torna-se

impossível conceber uma relação em que não haja divergências (Costa, 1998), pelo que no

seguimento destas divergências facilmente surgem mágoas. Efetivamente, é na relação com que

mais se ama que facilmente se é ofendido (Allemand, Amberg, Zimprinch & Fincham, 2007).

Palavras-chave: Perdão, relações de intimidade, relações amorosas, conjugalidade,

determinantes do perdão, processo.

Copyright © 2017.

This work is licensed under the Creative Commons Attribution International License 4.0.

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 2 facebook.com/psicologia.pt

1. INTRODUÇÃO

A importância do perdão para a saúde física e mental passou a ser amplamente reconhecida

(e.g. Harris & Thoresen, 2005; Toussaint, Williams, Musick, & Everson, 2001; cit in Fincham,

Hall & Beach, 2006), pelo que diversos investigadores têm revelado que o perdão pode

proporcionar não só uma maior saúde emocional como relacional (Enright & Fitzgibbons, 2000).

Embora seja um processo complexo, o perdão está na vanguarda das relações humanas, do

desenvolvimento emocional, espiritual e físico (Hill, 2001). Tal como Aponte (1998) sugere, o

amor incondicional é a fonte espiritual do perdão, pelo que, deste modo, torna-se de extrema

importância estudar que papel o perdão poderá ter no seio das relações românticas, consideradas

por muitos como o alicerce da vida humana e onde o vínculo emocional existente é o maior que

possa existir (Dillow, Malachowski, Brann & Weber, 2011).

2. O CONCEITO DE PERDÃO

2.1. Da religião à psicologia

O interesse pelo estudo do perdão é relativamente recente. Tradicionalmente, o perdão foi

sempre compreendido como um conceito puramente teológico e uma componente essencial para

melhorar a saúde espiritual das comunidades (Newberg, d’Aquili, Newberg & Marici, 2000; cit in

Neto, Ferreira & Conceição, 2006). Já Fitzgibbons (1986; cit in Barnett & Youngberg, 2004)

especulava que investigadores e psicoterapeutas evitavam o estudo do perdão por ser um conceito

reservado primordialmente aos teologistas. Só recentemente, teóricos sociais começaram a estudar

o construto e os seus processos, tendo Gartener (1992; cit in Neto, Ferreira & Conceição, 2006)

referindo o perdão como sendo um objetivo de investigação fundamental tanto para os especialistas

em assuntos religiosos como para psicólogos. Tal como Worthington (1998, 2005; cit in Rique &

Camino, 2009) informa, só a partir de 1968 é que publicações sobre o tema começaram a surgir,

com um crescimento significativo durante as décadas de 1980 e 1990, permanecendo o interesse

sobre o tema desde então (Rique & Camino, 2009). Ainda assim, é possível identificar já na década

de trinta artigos teóricos e trabalhos empíricos desenvolvidos para compreender minimamente

alguns aspetos relacionados com o comportamento de perdoar (McCullough, Pargament &

Thoresen, 2001). Deste modo, dois períodos na história do perdão podem ser destacados. O

primeiro período foi de 1932 a 1980, refletindo várias discussões teóricas e investigações empíricas

modestas destinadas a lançar uma luz sobre certos aspetos do perdão como um conceito

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 3 facebook.com/psicologia.pt

(McCullough et al., 2001). Já o segundo período, de 1980 até o presente, demonstrou “uma reflexão

mais intensa e séria do conceito de perdão” (McCullough et al., 2001, p. 3).

2.2. O que não é o perdão: diferença entre perdão e outros construtos

Uma das grandes questões que caracteriza o estudo do perdão está relacionada com a

definição deste construto, sendo que atualmente não existe uma definição consensual (Hill, 2001),

pelo que alguns autores interpretam esta falta de acordo como um dos problemas mais importantes

do campo (Elder, 1998; Enright & Coyle, 1998; Enright, Freedman, & Rique, 1998; Enright,

Gassin, & Wu, 1992; cit in Santana & Lopes, 2012). Curiosamente, parece existir mais consenso

sobre o que não é o perdão, existindo diversas distinções realizadas por autores entre perdão e

outros conceitos frequentemente confundidos como sinónimos, tais como desculpa, esquecimento,

reconciliação e aceitação. A realização destas distinções parece particularmente útil no campo da

intervenção, uma vez que crenças negativas sobre o perdão e concetualizações erróneas podem

levar a que os clientes hesitem em trabalhar no sentido do perdão, assim como os próprios

terapeutas podem abster-se de o incentivar (Fincham et al., 2006).

Apesar de em Portugal não existir uma distinção clara entre o conceito de desculpa (excusing)

em contraponto com o de perdão (Soares, 2014), sendo provavelmente dois conceitos bastante

confundidos pelo senso comum, o termo desculpa sugere que o ofensor possui uma justificação

para ter cometido a ofensa. No entanto, mesmo que exista uma razão, perdoar não é simplesmente

compreender que não existiu intencionalidade (Enright e Coyle, 1998; cit in Santana & Lopes,

2012).

Em relação ao esquecimento, este traduz a ideia de que a memória da ofensa foi removida da

consciência, pelo que perdoar vai mais além do que não pensar ou recordar a ofensa (Fincham et

al., 2006). Aliás, segundo Fincham (2009), perdoar implica o reconhecimento da ofensa, ao invés

de uma posição passiva.

No que respeita à reconciliação, esta sugere a renovação ou restauração do relacionamento.

Segundo Fincham e colaboradores (2006) o perdão não exige necessariamente a reconciliação,

sendo que este apenas aumenta a sua probabilidade (Hall & Fincham, 2006). Como tal, é possível

a existência de perdão sem reconciliação e vice-versa, pois embora os relacionamentos possam

continuar depois de uma ofensa, isso não significa necessariamente que a ofensa seja perdoada.

Por outro lado, a decisão de terminar o relacionamento não impede que os parceiros se perdoem

(Fincham et al., 2006).

Relativamente à aceitação, enquanto esta implica que a vítima mude o seu ponto de vista

relativamente à ofensa, o perdão não exige que a transgressão seja vista como algo menos do que

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 4 facebook.com/psicologia.pt

é, ou seja, que a vítima mude a sua visão acerca da ofensa, considerando-a menos repreensível do

que verdadeiramente é (Fincham et al., 2006).

O perdão também difere de outros construtos relevantes, tais como a negação, que indica uma

falta de vontade para perceber o dano da ofensa cometida, e a absolvição, a qual é concedida

primordialmente por um representante da sociedade, tal como um juiz (Fincham et al., 2006).

2.3. Da ofensa ao perdão

Para que o perdão ocorra é necessário que exista, previamente, algum tipo de ofensa ou

transgressão que leve o outro a sentir-se magoado. Deste modo, torna-se relevante definir num

primeiro momento o conceito de transgressão. Segundo Worthington, Maezzo e Carter (2005), a

transgressão leva a uma violação dos limites morais, físicos ou psicológicos pela não

correspondência do ofensor às expectativas que a vítima possui para determinada situação ou

acontecimento dentro do relacionamento. Após sofrer a ofensa, a vítima tem a escolha voluntária

de perdoar ou não (Martín, González & Fuster, 2011). Então, o que é o perdão? Etimologicamente,

o verbo perdoar tem origem no verbo perdonare do latim vulgar (Santana & Lopes, 2012). Através

de uma leitura do Glossarium Mediae et Infimae Latinitatis (Du Cange, 1850; cit in Santana &

Lopes, 2012) é possível constatar que os significados iniciais do verbo perdonare seriam os de

dar/conceder. O prefixo per possui o sentido de por (através de) e de plenitude, sendo que, desta

forma, do ponto de vista etimológico o perdão pode ser concebido como um superlativo do conceito

de doação (Santana & Lopes, 2012). O perdão não é algo a que o transgressor tem direito, mas é,

no entanto, concedido, o que levou alguns estudiosos a descrevê-lo como uma dádiva altruísta (e.g.,

Enright et al., 1998; Worthington, 2001; cit in Fincham et al., 2006) ou como o cancelamento de

uma dívida (Exline & Baumeister, 2000).

2.4. Perdão: um fenómeno controverso

Com o interesse crescente pelo estudo do perdão, torna-se compreensível o surgimento de

diversas definições e perspetivas que muitas vezes são contraditórias entre teóricos, suscitando

pontos de desacordo sobre o construto. Efetivamente, três pontos de discordância visam sobre o

perdão (McCullough et al., 2001): (1) se é um fenómeno intrapessoal ou interpessoal, (2) se está

mais relacionado a abrir mão de sentimentos, pensamentos e comportamentos negativos ou se

inclui também o acréscimo de fatores positivos ou a substituição daqueles por estes, e (3) em que

extensão o perdão é um evento especial ou algo bastante comum na experiência humana.

Em relação ao primeiro ponto, há teóricos que descrevem o perdão como um processo

intrapessoal, que ocorre interiormente no indivíduo e que conduziria a mudanças ao nível das

cognições, emoções, motivações e comportamentos da pessoa ofendida, pelo que estudos a partir

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 5 facebook.com/psicologia.pt

desta perspetiva focam-se essencialmente na pessoa ofendida, processos através dos quais as

pessoas perdoam e consequências resultantes para as mesmas (McCullough et al., 2001). Já outra

linha de investigação concetualiza o perdão como um processo interpessoal. Neste sentido, Exline

e Baumeister (2001) chamam a atenção para o facto de que as transgressões envolvem

frequentemente pessoas próximas, como familiares, amigos, colegas de trabalho ou cônjuges.

Também, Madanes (1990; cit in Barnett & Youngberg, 2004) postula que o perdão não é uma

qualidade individual, mas antes uma interação entre indivíduos, desenvolvida ao longo da vida e

mantida no contexto familiar. Desta perspetiva, é o relacionamento, em vez da pessoa ofendida, a

unidade de análise dos estudos do perdão. Ainda, há autores que defendem que o perdão possui

elementos tanto intrapessoais como interpessoais. Neste sentido, McCullough e colaboradores

(2001) propuseram uma definição que fosse suficientemente ampla e capaz de englobar os aspetos

intra e interpessoais envolvidos no processo de perdoar. Segundo os autores, o perdão

corresponderia a uma “mudança intra-individual, pró-social em direção a um transgressor que

está situado dentro de um contexto interpessoal específico” (McCullough et al., 2011, p. 9).

Relativamente ao segundo ponto de divergências, o que se tem verificado é que comum à

maioria das definições de perdão está a ideia de uma mudança em que uma pessoa se torna menos

motivada para pensar, sentir e comportar de forma negativa em relação ao infrator (Worthington,

2005). Deste ponto de vista, o perdão adquire uma visão unidimensional, com o foco na diminuição

da negatividade face ao ofensor. Estudos recentes, porém, têm desafiado esta visão unidimensional,

que predominou numa fase mais precoce da investigação do construto, e destacado uma dimensão

positiva adicional ou benevolência, que envolve agir de boa vontade para com o ofensor (Fincham,

2000; Fincham & Beach, 2002; Fincham et al, 2004; cit in Fincham et al., 2006). Ainda neste

sentido, Enright e o The Human Development Study Group (1991) destacaram a importância de

se considerar a natureza multidimensional do perdão ao tentar definir o constructo, propondo que

quando uma pessoa perdoa, ocorrem mudanças nos sistemas afetivo, cognitivo e comportamentais.

As emoções negativas, como a raiva, o ódio, o ressentimento e a tristeza, são abandonadas e

substituídas por emoções mais neutras e, eventualmente, por afeto positivo (Yaben, 2009).

Também na mesma linha, Watkins e colaboradores (2011) postulam que o perdão possui dois

processos distintos, mas convergentes entre si: o perdão decisional (ou comportamental), que diz

respeito à escolha voluntária por parte do ofendido para diminuir os comportamentos negativos

face ao ofensor e, possivelmente, renovar os comportamentos positivos, e o perdão emocional, que

implica a experiência interna de substituir emoções negativas por positivas.

Na verdade, o perdão pode ser unidimensional em relacionamentos não contínuos

(Worthington, 2005), mas parece conter tanto elementos positivos (benevolência) como negativos

(falta de perdão) em relações próximas. Também Fincham e Beach (2002) postulam que reduções

na dimensão negativa do perdão podem desencadear menos evitamento por parte dos parceiros,

mas só esta mudança não levará necessariamente a comportamentos de aproximação, fundamentais

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 6 facebook.com/psicologia.pt

para retomar a intimidade de um relacionamento próximo. Deste modo, e embora as definições do

perdão na literatura variem entre si, o campo de estudos está a mover-se no sentido de uma

definição mais consensual, pelo que no centro das várias abordagens está a ideia de uma

transformação na qual a motivação para procurar a vingança e evitar o contacto com o ofensor é

diminuída, e a motivação pró-social em direção a este é aumentada (Fincham, Paleari & Regalia

2002). Assim, e tendo em conta a perspetiva da vítima, o perdão diz respeito a uma diminuição dos

julgamentos, sentimentos e comportamentos negativos em relação ao ofensor, existindo, ao mesmo

tempo, um aumento dos sentimentos, julgamentos e comportamentos positivos (Rique & Camino,

2009). Também Enright e colaboradores (1998) procuraram estudar o perdão a partir da perspetiva

das vítimas, tendo definido este construto como “uma atitude moral na qual um indivíduo

considera abdicar do direito ao ressentimento, julgamentos negativos e comportamentos negativos

para com a pessoa que ofendeu injustamente. E, ao mesmo tempo, nutrir a compaixão, a

misericórdia e, possivelmente, o amor para com o ofensor” (p. 46-47). Dir-se-á, então, que estes

processos são complementares e indissociáveis. Note-se, ainda, que a redução dos elementos

negativos sem o aumento dos positivos não significa um perdão genuíno, mas, possivelmente, uma

etapa do processo (Enright & The Human Development Study Group, 1991). Deste modo, uma

questão pertinente poderá ser levantada: será então exequível perdoar de forma completa ou

incompleta? Neste sentido, Fincham (2009) faz a distinção entre indivíduos que perdoam

completamente (completely forgivers) e os que perdoam de forma incompleta (uncompleted

forgivers), fazendo, ainda, a divisão entre perdão explícito e implícito, sendo que para o autor o

perdão completo/genuíno só é conseguido quando se alcança ambos.

Quanto ao terceiro ponto de divergência, McCullough e colaboradores (2001) afirmam que

é importante notar que teóricos que definem o perdão como algo pouco comum têm focado,

sobretudo, em vítimas que experienciam transgressões intensas, sendo necessário ter em conta que

as ofensas entre significativos no quotidiano são certamente mais frequentes, resultando em formas

de perdão mais vulgares.

3. MODELOS TEÓRICOS DO PERDÃO

Na literatura é possível encontrar quatro grandes modelos sobre o perdão: modelos baseados

em teorias psicológicas particulares, modelos processuais descrevendo tarefas envolvidas no ato

de perdoar, modelos baseados na estrutura do desenvolvimento moral e tipologias do perdão

(Denton & Martin, 1998). Contudo, os modelos que atualmente mais prevalecem são,

aparentemente, os modelos processuais (Orathinkal, 2006), pelo que de seguida serão abordados

alguns destes modelos.

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 7 facebook.com/psicologia.pt

3.1. O perdão enquanto processo

Devido ao interesse crescente pelo estudo do perdão, vários modelos têm sido desenvolvidos

no sentido de compreender que tipo de processo subjaz ao perdão, pois a compreensão das

possíveis fases subjacentes a este processo parece ter particular relevância no âmbito da

intervenção. Apesar de ainda não ser consensual a definição das fases deste mecanismo, é de

acordo comum que o perdão é melhor visualizado como um processo em vez de um ato específico

(e.g., Enright & Fitzgibbons, 2000; Fincham, 2000; cit in Fincham et al., 2006), pois tal como

Patton (1985, p.16; cit in Hill, 2010) afirma “O perdão humano não é fazer algo, mas descobrir

algo – que eu sou mais parecido com aqueles que fizeram-me mal do que diferente.”

Worthington (2006; cit in Worthington, Jennings & DiBlasio, 2010) desenvolveu um modelo

psicoeducacional do perdão composto por cinco passos, os quais o ofendido tem que concretizar

para alcançar o perdão: num primeiro momento, este deve recordar a mágoa provocada pela ofensa

(R-Recall of the hurt); em seguida, deverá existir uma tentativa de empatizar (E-Empathize to

emotionally replace), que consiste na substituição de emoções negativas por positivas; o passo

seguinte toma a forma de um presente altruísta (A-Altruistic gif), em que por meio da humildade e

empatia o ofendido decide emocionalmente experienciar o perdão; já o quarto passo envolve o

compromisso (C-Commit), com o objetivo de consolidar a experiência emocional anterior e a

decisão de perdoar; por fim, a preservação (H-Hold) toma lugar, havendo a conservação da decisão

de perdoar ao longo do tempo.

Para Enright, o crucial na sua definição é a visão do perdão como um processo que integra

as esferas do comportamento, da cognição e do afeto (Worthington, 2005). A partir desta

perspetiva, Enright elabora um modelo heurístico de como os indivíduos perdoam, constituído por

vinte passos que se agrupam em quatro fases (Santana & Lopes, 2012): fase da descoberta, onde o

ofendido se confronta com a própria mágoa; fase da decisão, que engloba uma análise detalhada

dos vários fatores envolvidos; fase do trabalho, a qual está subjacente um esforço de compreensão

e reflexão acerca do ofensor e da ofensa; e, por fim, a fase dos resultados, onde o perdão é

alcançado.

Já Hill (2001) fornece um paralelismo interessante, sugerindo que as etapas subjacentes ao

processo do perdão não são diferentes das tarefas básicas do luto. Assim, o ofendido deve

reconhecer a realidade da perda, experienciar a dor que precede o perdão, fazer os ajustamentos

necessários e reinvestir a energia emocional, com vista a potenciar a reconciliação (Hill, 2001). Na

mesma linha, Coleman (1998) declara que todas as ofensas envolvem a perda, pelo que o processo

de perdão começa quando a pessoa é capaz de identificar a perda específica que ocorreu; a segunda

fase do processo abrange a confrontação do ofensor, “para confirmar que a vítima está

profundamente magoada e deixar claro que a ofensa não pode ser ignorada” (Coleman, p.89); na

terceira fase, o ofendido deve procurar dar sentido ao sofrimento, o que muitas vezes implica um

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 8 facebook.com/psicologia.pt

diálogo entre ambas as partes; por fim, a quarta fase corresponde ao alcance do perdão, que

Coleman descreve como a renovação da confiança no relacionamento.

Ainda, é de destacar o modelo proposto por Gordan, Baucom e Snyder (2000), um modelo

de três etapas que postula que a vítima deve lidar com o impacto da ofensa, encontrar um sentido

para a transgressão e, em seguida, avançar com um novo conjunto de crenças relativas ao

relacionamento. Este modelo parece mais apropriado para transgressões que Gordon e

colaboradores (2000) denominaram de trauma interpessoal, como infidelidades. De facto,

intervenções empregando este modelo têm mostrado sucesso preliminar em ajudar casais com

questões de infidelidade, havendo uma diminuição da angústia emocional e conjugal e um aumento

do perdão (Gordon, Baucom & Snyder, 2004).

4. OS DETERMINANTES DO PERDÃO

Como tem sido possível constatar, o perdão é um construto complexo, influenciado por

características intra e interpessoais. Como tal, será de esperar que o processo de perdoar seja único

para cada indivíduo, até porque perdoar envolve uma decisão voluntária, pelo que é possível que

no final deste processo a conclusão mais viável seja a de não perdoar. Como um processo que

engloba diversas fases, poder-se-á esperar que estas etapas possam ser influenciadas por diversos

fatores, facilitando ou não o alcance do perdão. Neste sentido, McCullough e colegas (1998)

introduziram um modelo em que postulam a existência de quatro determinantes do perdão:

determinantes sociocognitivos, determinantes relacionados com a transgressão, determinantes do

relacionamento e determinantes associados a características de personalidade da pessoa ofendida.

De acordo com o modelo, as variáveis sociocognitivas estão relacionadas com a forma como a

vítima pensa e sente em relação ao ofensor e à transgressão (e.g., atribuições ou emoções

empáticas), sendo os determinantes mais proximais do perdão (Fincham et al., 2002). Em

comparação com as variáveis sociocognitivas, determinantes da transgressão, como a severidade

percebida da ofensa, a intencionalidade do ofensor e o pedido de desculpas, são vistos como menos

determinantes do perdão e, assim, moldam o perdão indiretamente através das variáveis

sociocognitivas (Fincham et al., 2002). Ainda, mais distal do que os determinantes sociocognitivos

são os determinantes do relacionamento em que a transgressão tem lugar, como a satisfação

relacional, compromisso, proximidade da relação e o nível de intimidade (Fincham et al., 2002).

4.1. Determinantes sociocognitivos

Relativamente aos determinantes sociocognitivos, há o destaque para o papel das atribuições

e da empatia. Em relação às atribuições, uma série de estudos tem demonstrado que as atribuições

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 9 facebook.com/psicologia.pt

ou explicações para o comportamento ofensivo predizem o perdão, nomeadamente as atribuições

positivas, que estão associadas a níveis maiores de perdão do que atribuições negativas (e.g., Boon

& Sulsky, 1997; Bradfield & Aquino, 1999; Weiner, Graham, Peter, & Zmuidinas, 1991; cit in

Fincham et al., 2006). Entre cônjuges, Fincham e colegas (2002) encontraram que atribuições

benignas predizem o perdão quer de forma direta como indiretamente, através de uma diminuição

das reações emocionais negativas face à ofensa e pelo aumento da empatia face ao parceiro

(Fincham, 2000). Ainda, é de referir que uma robusta literatura sobre as atribuições conjugais tem

sugerido que atribuições positivas tendem a estar associadas com casamentos mais satisfatórios

(Bradbury & Fincham, 1990; cit in McNulty, 2008).

No que toca à empatia, esta é uma variável que tem sido alvo de grande atenção na

comunidade científica, embora no que respeita ao perdão seja uma variável ainda pouco estudada

(Fehr, Gelfand & Nag, 2010). De facto, a empatia é um construto relacional que aparenta possuir

um papel importante no processo de perdão (McCullough et al., 1998), constatando-se que

comportamentos de perdão são facilitados por afetos pró-sociais, dos quais se destaca a empatia

perante o ofensor (Worthington & Wade, 1999). No mesmo sentido, a meta-análise de Fehr e

colaboradores (2010) aponta a empatia como um relevante preditor do perdão, sugerindo que

quanto maior a capacidade de empatizar com o ofensor, mais facilmente o ofendido perdoará. Uma

vez que a empatia implica a capacidade cognitiva de se colocar no lugar do outro, poderá então

esperar-se que a tomada da perspetiva permita ao ofendido uma maior compreensão das

motivações que levaram à ofensa e, como tal, suscite uma maior probabilidade de perdão.

Por fim, será interessante referenciar um estudo realizado por Fincham e colaboradores

(2002) com casais sobre o papel da qualidade conjugal, atribuições e empatia, o qual revelou que

enquanto as atribuições de responsabilidade foram mais fortemente relacionadas ao perdão nas

esposas, a empatia emocional era mais fortemente associada com o perdão nos maridos.

4.2. Determinantes da ofensa

Ao nível dos determinantes da transgressão, destaca-se a severidade da ofensa. Tem sido

demonstrado que quanto maior a severidade da ofensa, maior a culpa por parte do ofensor e menor

a vontade de perdoar por parte do ofendido, promovendo a criação de impressões negativas do

ofensor (Boon & Sulsky, 1997; cit in Taysi, 2010). Também, a literatura tem evidenciado que

quanto maior for a responsabilidade ou a intenção do ofensor, menor será a probabilidade de existir

perdão (Fehr et al., 2010). Um estudo realizado por Taysi (2010) com 80 casais de uma cultura não

ocidental, onde o perdão foi examinado no contexto das atribuições, da satisfação com o

relacionamento e da severidade da transgressão, revelou, tal como esperado, que quanto maior a

severidade da ofensa, menor o perdão. Ainda ao nível da severidade da transgressão, o estudo

demonstrou a existência de diferenças de género, no sentido em que mulheres casadas afirmam

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 10 facebook.com/psicologia.pt

serem mais ofendidas do que os seus maridos, o que é consistente com a literatura (Taysi, 2010).

Uma possível explicação para tal poderá estar relacionada com o facto de as mulheres casadas

ruminarem mais as dificuldades do casamento e, portanto, perceberem a transgressão dos maridos

mais severamente (Taysi, 2010).

Por fim, torna-se também relevante abordar o papel do pedido de desculpas, uma vez que a

literatura evidencia uma relação positiva entre este pedido e o perdão, ou seja, o uso do pedido de

desculpas como uma tática de reparação, com o intuito de modificar as perceções do ofendido,

aumenta a probabilidade de o ofensor ser perdoado pela ofensa cometida (Fehr et al., 2010). Já

McCullough, Worthington e Rachal (1997) postulam que a relação entre estas duas variáveis possa

ser compreendida pela tomada de perspetiva, ou seja, pelo aumento da empatia por parte do

ofendido. Ainda, no contexto das relações íntimas, indivíduos que estão mais satisfeitos nas suas

relações são mais propensos a considerar o pedido de desculpas dos seus parceiros como

expressões autênticas de arrependimento do que indivíduos menos satisfeitos (Schumann, 2012).

4.3. Determinantes do relacionamento

No que respeita aos determinantes relacionais, de acordo com Huston e Vangelisti (1991),

desde meados do século XX que pesquisadores têm vindo a examinar os fatores que contribuem

para a satisfação conjugal. Como Bradbury, Fincham e Beach (2000) observaram, a razão para o

estudo da satisfação conjugal deriva da sua centralidade no bem-estar conjugal e familiar (Stack &

Eshleman, 1998; cit in Orathinkal, 2006), dos benefícios que advêm para a sociedade quando

casamentos fortes são formados e mantidos (Laub, Nagin, & Sampson, 1998; cit in Orathinkal,

2006) e da necessidade de desenvolver intervenções empiricamente validadas para adultos que

permitam colmatar possíveis problemas conjugais (e.g., Baucom, Shoham, Mueser, Daiuto, e

Stickle, 1998; cit in Orathinkal, 2006). Dada a centralidade da satisfação com o relacionamento na

literatura mais ampla, não é de estranhar a atenção substancial dada à relação entre a satisfação

conjugal e perdão (Fincham et al., 2006). Efetivamente, vários estudos têm documentado uma

associação positiva entre satisfação com o relacionamento e perdão (e.g., Fincham, 2000; Gordon

& Baucom, 2003; Kachadourian, Fincham, & Davila, 2004; Paleari, Regalia, & Fincham, 2003;

cit in Fincham et al., 2006). Apesar de robusto, o mecanismo subjacente à relação entre satisfação

e perdão permanece obscuro, existindo várias questões por resolver, nomeadamente se a relação é

causal e, em caso afirmativo, qual a direção de possíveis efeitos (Fincham & Beach, 2007). Ainda,

parece que a associação entre o perdão e a satisfação com o relacionamento possa ser bidirecional;

há uma evidência emergente de que a satisfação conjugal prediz o perdão (Paleari, Regalia &

Fincham, 2003), bem como os dados que dizem que o perdão prediz posteriormente a satisfação

conjugal (Vaughan, 2001; cit in Fincham et al., 2006).

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 11 facebook.com/psicologia.pt

Tendo em conta a perspetiva dos próprios parceiros, Fenell (1993; cit in Fincham et al., 2002),

ao examinar as características de casamentos de longo prazo, encontrou que os cônjuges

reconheceram que a capacidade de procurar e conceder o perdão é um dos fatores mais importantes

que contribuiu para a longevidade e satisfação conjugal. Já Gordon e Baucom (1998; cit in

Orathinkal, 2006) encontraram que, quanto mais os cônjuges perdoam, mais fazem suposições

conjugais positivas, sentem igual equilíbrio de poder nos seus casamentos e têm relações conjugais

próximas e bem-ajustadas.

Já em relação à proximidade da relação, a literatura evidencia o seu papel facilitador, no

sentido em que quanto maior a proximidade, maior será a probabilidade de se perdoar (Fehr et al.,

2010). McCullough e colaboradores (1998) postulam que subjacente a esta relação está a maior

motivação do ofendido para preservar a relação. No entanto, esta variável não tem apenas

influência na vítima, mas também ao nível do ofensor, pois quanto maior for a proximidade

relacional, maior será a probabilidade de procura do perdão por parte do ofensor (Riek, 2010).

Na mesma linha, o compromisso parece também desempenhar um papel relevante, no sentido

em que um maior compromisso na relação tem sido associado a níveis superiores de perdão,

provavelmente pelo facto de parceiros mais comprometidos nas suas relações permaneceram,

também, mais motivados nas mesmas e investirem mais (Fincham, 2009).

Por fim, mas não menos importante, é também de realçar o papel da intimidade, tida como

principal componente das relações românticas. O que a literatura demonstra é que a existência de

níveis elevados de intimidade no relacionamento faz com que o perdão perante uma ofensa seja

muito mais provável (Rusbult, Hannon, Stocker & Finkel, 2005).

4.4. Determinantes da personalidade do ofendido

No processo de perdão, determinados aspetos de personalidade da pessoa ofendida parecem

assumir, também, um papel relevante. Segundo alguns teóricos, experienciar “cognições quentes”,

como a raiva e ruminar sobre a ofensa, aumenta a disposição para procurar a vingança junto do

ofensor, diminuindo assim a procura do perdão (Bies & Tripp, 1996; Worthington & Wade, 1999;

cit in Fincham et al., 2002). De um modo bidirecional, estudos empíricos têm apoiado a relação

entre atos individuais de perdão e redução da raiva (Huang & Enright, 2000; Weiner, Graham,

Peter, & Zmuidzinas, 1991; cit in Yaben, 2009). De facto, experienciar raiva parece ser natural e

inerente às fases mais precoces do processo de perdão, pois segundo Freedman (2011, p.334) “A

ideia de que o perdão pode ajudar indivíduos que foram profundamente magoados, implica que

estes tenham o direito de sentirem e expressarem raiva, de aprenderem novas formas de lidar com

emoções negativas e de seguir em frente.”. Por fim, Fehr e colaboradores (2010) na sua meta-

análise revelam que quanto mais elevados forem os níveis de raiva, quer enquanto traço, quer

enquanto estado, menor são os níveis de perdão.

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 12 facebook.com/psicologia.pt

Já em relação aos cinco grandes fatores da personalidade, investigadores têm colocado como

hipótese de que o perdão está negativamente associado com o fator de personalidade neuroticismo

(Ashton, Paunonen, Helmes, & Jackson, 1998; McCullough, 2000; cit in Yaben, 2009), pelo que

quanto maior forem os níveis de neuroticismo, menores serão os níveis de perdão. Já a afabilidade,

enquanto tendência do indivíduo para se relacionar bem com os outros, encontra-se positivamente

relacionada com o perdão (Fehr et al., 2010).

O ajustamento psicológico e os níveis de depressão são também outros fatores a considerar.

Na meta-análise de Fehr e colegas (2010), os autores indicaram que quanto maior forem os níveis

de humor negativo na pessoa ofendida, mais difícil se torna a procura do perdão. Ainda, níveis

baixos de autoestima parecem influenciar negativamente o alcance do perdão, ao distorcer

negativamente reações afetivas face a transgressões (Fehr et al., 2010).

5. O PERDÃO NAS RELAÇÕES ÍNTIMAS ROMÂNTICAS

As relações íntimas satisfazem as nossas necessidades afiliativas mais profundas, mas

também são fonte das nossas maiores mágoas (Fincham et al., 2002). Devido à sua importância

nas relações íntimas românticas, o perdão começou a ser investigado no âmbito dos

relacionamentos românticos (Boon & Sulsky, 1997; Fincham, Jackson, e Beach, 2005; cit in Taysi,

2010) nos últimos anos, investigação alimentada pela visão de que o perdão é a pedra angular de

um casamento bem-sucedido (e.g., Worthington, 1994; cit in Fincham et al., 2006). Se o estudo do

perdão na psicologia é recente, o estudo dentro das relações íntimas românticas ainda o é mais

(Fincham, 2009).

É inevitável que no seio das relações românticas os parceiros tendam a ser, simultaneamente

ou em alternativa, autores e vítimas de transgressões (Leary, Springer, Negel, Ansell & Evans,

1998), e estas podem ser o resultado de uma variedade de causas, tais como preferências

incompatíveis, estratégias de resolução de conflito inadequadas, fontes externas de stress e, ainda,

relações extraconjugais (Finkel, Rusbult, Kumashiro & Hannon, 2002). No mesmo sentido, as

motivações que levam o parceiro ofendido a passar por todo o processo de perdão podem ser

múltiplas. Kelly (1998; cit in Fincham & Beach, 2002) constatou que, em narrativas sobre o perdão

envolvendo relações próximas, subjacente às motivações para perdoar o parceiro estavam o amor,

a restauração do relacionamento ou o bem-estar do parceiro. Além disso, a necessidade do

envolvimento no processo de perdão pode resultar de tentativas individuais para reconstruir ou

modificar antigas crenças sobre o seu parceiro e da relação, bem como de esforços para recuperar

a sensação de segurança interpessoal no relacionamento (Gordon et al., 2009).

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 13 facebook.com/psicologia.pt

Nos últimos tempos, a investigação tem caminhado no sentido de desenvolver diversas e

novas intervenções conjugais que enfatizam o papel do perdão particularmente no contexto da

infidelidade conjugal (e.g., Gordon, Baucom, & Snyder, 2005; cit in Fincham & Beach, 2007),

uma vez que a infidelidade tem sido considerada como a ofensa mais grave no contexto do casal

(Abrahamson, Hussain, Khan e Schofield, 2012). No entanto, há situações em que a infidelidade é

o resultado da extrema solidão na relação, pelo que o cônjuge envolvido na traição poderá sentir

mais raiva do que o seu parceiro, por sentir que este último não transmite mais carinho, amor e

respeito (Abrahamson et al., 2012). Nestas situações, é a pessoa que cometeu a infidelidade que

possui maior dificuldade em perdoar e é o parceiro ofendido que precisa de fazer o trabalho árduo

de crescer na capacidade de se entregar mais emocionalmente ao outro (Abrahamson et al., 2012).

Com efeito, a resolução de conflitos é essencial para um relacionamento bem-sucedido e

pode-se argumentar que o ressentimento face a transgressões do parceiro é suscetível de alimentar

os conflitos e impedir a sua resolução bem-sucedida (Fincham et al., 2004). Em contraste, perdoar

o parceiro pela ofensa é um dos meios possíveis para encerrar o ciclo de reciprocidade negativa e

preparar o terreno para a reconciliação (Fincham et al., 2004). No mesmo sentido, Barnett e

Youngberg (2004) afirmam que o perdão é um recurso eficaz no evitar da escalda no seio conjugal,

pois na ausência de perdão é relativamente fácil o surgimento de cadeias de reciprocidade negativa,

com níveis crescentes de agressão e abuso psicológico que culminam na opressão dos aspetos

positivos do relacionamento (Fincham & Beach 2002). Especificamente, quando um dos parceiros

opta por ficar fora do ciclo de interação negativa, é menos provável que o outro parceiro continue

o seu comportamento negativo (Fincham et al., 2004).

É ainda possível que a incapacidade dos cônjuges em se perdoarem não tenha apenas impacto

na relação de ambos; em vez disso, as dimensões do perdão podem exercer influência sobre vários

âmbitos do funcionamento familiar mais amplo (Gordon, Hughes, Tomcik, Dixon & Litzinger,

2009). De facto, a literatura evidencia que a incapacidade de perdoar um parceiro pode contribuir

para padrões parentais pobres e expor as crianças ao conflito parental, o que acarreta implicações

negativas para o funcionamento da criança e suas perceções parentais (Gordon et al., 2009).

A terapia de casal pode beneficiar em muito com a introdução de intervenções centradas na

promoção do perdão (Allemand et al., 2007). De facto, a terapia do perdão no âmbito de

transgressões conjugais tem-se revelado significativamente associada quer com a esfera da

satisfação conjugal, quer com a esfera mais ampla do funcionamento familiar, nomeadamente a

aliança parental e perceções das crianças e adolescentes sobre funcionamento conjugal dos pais

(Gordon et al., 2009), tal como supracitado. Ainda, um estudo sobre cônjuges que sofreram abuso

emocional nos seus casamentos mostrou que aqueles que se envolveram numa terapia do perdão

tiveram melhorias significativamente superiores em relação à depressão, ansiedade-traço, sintomas

de stress pós-traumático e autoestima, do que os participantes que se envolveram em programas

de tratamento alternativos (Reed & Enright, 2006; cit in Enright & Fitzgibbons, 2015).

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 14 facebook.com/psicologia.pt

Em contraponto, as limitações do perdão como intervenção terapêutica são ainda pouco

conhecidas (Sells & Hargrave, 1998). Quando é que o perdão poderá ser prejudicial e impedir o

progresso relacional? Será o perdão um elemento chave para todas as relações conjugais? Segundo

um estudo longitudinal efetuado por McNulty (2008) investigando os efeitos da tendência de 72

casais heterossexuais para perdoar os seus parceiros, ao longo de um período de dois anos,

verificou-se que o perdão acarretava custos a longo prazo quando moderado pelo papel da

negatividade e do contexto em que o perdão ocorria, incluindo a frequência de infrações do

cônjuge. Os efeitos benéficos do perdão pareceram ser mais prováveis entre os cônjuges que

raramente se envolviam em comportamentos negativos, ao passo que o perdão parecia revelar-se

prejudicial ao longo do tempo para os cônjuges cuja relação é marcada por elevados níveis de

conflitos, existindo, consequentemente, uma detioração na satisfação conjugal (McNulty, 2008).

De facto, a diminuição do perdão para os parceiros em que o comportamento negativo era frequente

revelou-se benéfica ao longo do tempo (McNulty, 2008). Esta pode ser uma razão para o esforço

relacional exercer um papel mediador entre o perdão e a satisfação com o relacionamento

(Braithwaite, Selby & Fincham 2011), pois quando apenas um parceiro faz investimentos na

relação, a probabilidade de sucesso relacional é reduzida (McNulty, 2008). Tais descobertas têm

levado Worthington, Witvliet, Pietrini, & Miller (2007) a salientar que "O perdão de estranhos é

fundamentalmente diferente do perdão a um ente querido." (p. 292).

Em suma, se o perdão pode ser um meio para oferecer a longevidade, saúde e regeneração

dentro dos relacionamentos, então, adicionar esta componente como âmbito de intervenção

psicoterapêutica para ajudar casais a reforçar a sua satisfação com o relacionamento, é, sem dúvida,

digno de consideração (Aalgaard, Bolen, & Nugent, 2016), pois a capacidade de perdoar um

parceiro pode ser um dos fatores mais importantes na manutenção de relacionamentos românticos

saudáveis (Fincham, 2009).

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 15 facebook.com/psicologia.pt

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Aalgaard, R. A., Bolen, R. M., & Nugent, W. R. (2016). A literature review of forgiveness

as a beneficial intervention to increase relationship satisfaction in couples therapy. Journal Of

Human Behavior In The Social Environment, 26(1), 46-55. doi:10.1080/10911359.2015.1059166.

Allemand, M., Amberg, I., Zimprich, D., & Fincham, F. D. (2007). The role of trait

forgiveness and relationship satisfaction in episodic forgiveness. Journal of Social and Clinical

Psychology, 26(2), 199-217.

Abrahamson, I., Hussain, R., Khan, A. y Schofield, M. J. (2012). What helps couples rebuild

their relationship after infidelity? Journal of Family Issues, 33, 1494-1519.

Aponte, H. J. (1998) Love, the spiritual wellspring of forgiveness: an example of spirituality

in therapy. Journal of Family Therapy, 20, 37–58.

Barnett, J. K., & Youngberg, C. (2004). Forgiveness as a ritual in Couples Therapy. The

Family Journal, 12(1), 14-20. doi:10.1177/1066480703258613.

Bradbury, T. N., Fincham, F. D., & Beach, S. R. (2000). Research on nature and determinants

of marital satisfaction: A decade in review. Journal of Marriage and Family, 62, 964–980.

Braithwaite, S. R., Selby, E. A., & Fincham, F. D. (2011). Forgiveness and relationship

satisfaction: Mediating mechanisms. Journal Of Family Psychology, 25(4), 551-559.

doi:10.1037/a0024526.

Coleman, P. W. (1998). The process of forgiveness in marriage and the family. In R. D.

Enright & J. North (Eds.), Exploring forgiveness (pp. 75–94). Madison, WI: University of

Wisconsin Press.

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 16 facebook.com/psicologia.pt

Costa, M. E. (1998). Novos encontros de amor: Amizade, amor e sexualidade na

adolescência. Porto: Edinter.

Bowlby, J. (1978). Attachment and loss. Vol. 1: Attachment. New York: Basic Books.

Denton, R. T., & Martin, M. W. (1998). Defining forgiveness: an empirical exploration of

process and role. American Journal of Family Therapy, 26, 281–292.

Dillow, M. R., Malachowski, C. C., Brann, M. y Weber, K. (2011). An experimental

examination of the effects of communicative infidelity motives on communication and relational

outcomes in romantic relationships. Western Journal of Communication, 75, 473-499.

Enright, R. D., & Fitzgibbons, R. P. (2000). Helping clients forgive. Washington, DC: APA

Books.

Enright, R. D., & Fitzgibbons, R. P. (2015). Forgiveness therapy: An overview. In ,

Forgiveness therapy: An empirical guide for resolving anger and restoring hope (pp. 15-29).

Washington, DC, US: American Psychological Association. doi:10.1037/14526-002.

Enright, R. D., Freedman, S., & Rique, J. (1998). The psychology of interpersonal

forgiveness. In R. D. Enright & J. North (Eds.), Exploring forgiveness (pp. 46-62). Madison, WI:

University of Wisconsin Press.

Enright, R. D., & The Human Development Study Group. (1991). The development of

forgiveness. Moral Behavior and Development, 1, 148.

Exline, J. J., & Baumeister, R. F. (2001). Expressing forgiveness and repentance: Benefits

and barriers. In M. McCullough, K. Pargament, & C. Thoresen (Eds.), Forgiveness: Theory,

research, and practice (pp. 133– 155). New York: Guilford Press.

Fehr, R., Gelfand, M., J, & Nag, M., (2010). The road to forgiveness: A meta-analytic

synthesis of its situational and dispositional correlates. Psychological Bulletin, 136(5), 894–914.

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 17 facebook.com/psicologia.pt

Fincham, F. D. (2000). The kiss of the porcupines: From attributing responsibility to

forgiving. Personal Relationships, 7(1), 1–23.

Fincham, F. D. (2009). Forgiveness: Integral to a science of close relationships. Prosocial

motives, emotions, and behavior: The better angels of our nature, 347-365.

Fincham, F. D., & Beach, S. R. H. (2002). Forgiveness in marriage: Implications for

psychological aggression and constructive communication. Personal Relationships, 9(3), 239-251.

Fincham, F. D, & Beach, S. R. H. (2007). Forgiveness and marital quality: Precursor or

consequence in well-established relationships?. The Journal Of Positive Psychology, 2(4), 260-

268. doi:10.1080/17439760701552360

Fincham, F. D., Hall, J., & Beach, S. H. (2006). Forgiveness in Marriage: Current Status and

Future Directions. Family Relations: An Interdisciplinary Journal Of Applied Family Studies,

55(4), 415-427.

Fincham, F. D., Paleari, F. G., & Regalia, C. (2002). Forgiveness in marriage: The role of

relationship quality, attributions, and empathy. Personal Relationships, 9(1), 27-37.

Finkel, E. J., Rusbult, C. E., Kumashiro, M., & Hannon, P. A. (2002). Dealing With Betrayal

in Close Relationships: Does Commitment Promote Forgiveness?. Journal Of Personality & Social

Psychology, 82(6), 956-974. doi:10.1037//0022-3514.82.6.956.

Freedman, S. (2011). What It Means to Forgive and Why the Way We Define Forgiveness

Matters: Finding Forgiveness: A 7-Step Program for Letting Go of Anger and Bitterness, Eileen

R. Borris-Dunchunstang, 2007. New York, NY: McGraw-Hill. Peace and Conflict: Journal of

Peace Psychology, 17(3), 334-338.

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 18 facebook.com/psicologia.pt

Gordon, K. C., Baucom, D. H., & Snyder, D. K. (2000). The use of forgiveness in marital

therapy. In M. McCullough, K. Pargament, & C. Thoresen (Eds.), Forgiveness: Theory, research,

and practice (pp. 203– 227). New York: Guilford Press.

Gordon, K. C., Baucom, D. H., & Snyder, D. K. (2004). An integrative intervention for

promoting recovery from extramarital affairs. Journal of Marital and Family Therapy, 30, 213–

231.

Gordon, K. C., Hughes, F. M., Tomcik, N. D., Dixon, L. J., & Litzinger, A. C. (2009).

Widening Spheres of Impact: The Role of Forgiveness in Marital and Family Functioning. Journal

of FamilyPsychology, 23(1), 1-13. doi:10.1037/a0014354.

Hall, J. H., & Fincham, F. D. (2006). Relationship dissolution following infidelity: The roles

of attributions and forgiveness. Journal of Social and Clinical Psychology, 25(5), 508–522.

Hill, E. W. (2001). Understanding Forgiveness as Discovery: Implications for Marital and

Family Therapy. Contemporary Family Therapy: An International Journal, 23(4), 369-384.

Huston, T. L., & Vangelisti, A. L. (1991). Socio-emotional behavior and satisfaction in

marital relationships: A longitudinal study. Journal of Personality and Social Psychology, 61(5),

721–733.

Leary, M. R., Springer, C., Negel, L., Ansell, E., & Evans, K. (1998). The causes,

phenomenology, and consequences of hurt feelings. Journal of Personality and Social Psychology,

74, 1225-1237.

Martín, M. D. G., González, R, M., & Fuster, G, G. (2011). Forgiveness in Marriage: Healing

or Chronicity. A Dialog Between a Philosophical and a Psychotherapeutic Understanding. Human

Studies, 34(4), 431-449. doi:10.1007/s10746-011-9194-9.

McCullough, M. E., Pargament, K. I., & Thoresen, C. E. (2001). The psychology of

forgiveness: History, conceptual issues, and overview. In M. E. McCullough, K. I.

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 19 facebook.com/psicologia.pt

McCullough, M., Rachal, K., Sandage, S., Worthington, E., Brown, S., & Hight, T. (1998).

Interpersonal forgiving in close relationships: II. Theoretical elaboration and measurement.

Journal of Personality and Social Psychology, 75, 1586–1603.

McCullough, M. E., Worthington, E. L., & Rachal, K. C. (1997). Interpersonal forgiving in

close relationships. Journal of personality and social psychology, 73(2), 321-336.

McNulty, J. K. (2008). Forgiveness in Marriage: Putting the Benefits Into Context. Journal

of Family Psychology, 22(1), 171-175.

Neto, F., Ferreira, A. V., & da Conceição Pinto, M. (2006). Perdão aos outros, perdão de

Deus e religiosidade em adolescentes. Psicologia Educação Cultura, 10(2), 387-406.

Orathinkal, J. A. (2006). The Effect of Forgiveness on Marital Satisfaction in Relation to

Marital Stability. Contemporary Family Therapy: An International Journal, 28(2), 251-260.

Paleari, F., Regalia, C., & Fincham, F. (2003). Marital quality, forgiveness, empathy, and

rumination: A longitudinal analysis. Personality and Social Psychology Bulletin, 31, 368–378.

Riek, B. M. (2010). Transgressions, guilt, and forgiveness: A model of seeking forgiveness.

Journal of Psychology and Theology, 38(4), 246-254.

Rique, J., & Camino, C. P. S. (2009). O perdão interpessoal em relação a variáveis

psicossocias e demográficas. Psicologia: Reflexão e Crítica, 23(3), 525-532.

Rusbult, C. E., Hannon, P. A., Stocker, S. L., & Finkel, E. J. (2005). Forgiveness and

relational repair. In E. L. Worthington Jr. (Ed.), Handbook of forgiveness (pp. 185–205). New

York: Routledge.

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 20 facebook.com/psicologia.pt

Santana, R. G., & Lopes, R.F. (2012). Aspectos Concetuais do Perdão no Campo da

Psicologia. Psicologia: Ciência E Profissão, 32(3), 618-631. doi:10.1590/S1414-

98932012000300008.

Schumann, K. (2012). Does love mean never having to say you’re sorry? Associations

between relationship satisfaction, perceived apology sincerity, and forgiveness. Journal Of Social

And Personal Relationships, 29(7), 997-1010. doi:10.1177/0265407512448277.

Sells, J. N., & Hargrave, T. D. (1998). Forgiveness: a review of the theoretical and empirical

literature. Journal Of Family Therapy, 20(1), 21-36.

Soares, J. (2014). Explorando o Perdão na Conjugalidade: Significados, Importância e

Processos. Tese de Mestrado não publicada, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

da Universidade do Porto, Porto, Portugal.

Taysi, E. (2010). Forgiveness in Marriage: The Role of Marital Adjustment and Attributions.

Turk Psikoloji Dergisi, 25(65), 53-55.

Watkins, D. A., Hui, E. K., Luo, W., Regmi, M., Worthington Jr, E. L., Hook, J. N., & Davis,

D. E. (2011). Forgiveness and interpersonal relationships: A Nepalese investigation. The Journal

of social psychology, 151(2), 150-161.

Worthington, E. L. (2005). More questions about forgiveness: Research agenda for 2005-

2015. In E. L. Worthington (Ed.), Handbook of forgiveness (pp. 557–575). New York: Routledge.

Worthington E. L., Jennings, D. J., & DiBlasio (2010) Interventions to promote forgiveness

in couple and family therapy context: Conceptualization, Review, and analisys. Journal of

Psychology and Theology, 23(4), 231-245.

Worthington, E. L., Maezzo, S., & Carter, D. (2005) Forgiveness-promoting Approach:

Helping Clients Reach Forgiveness Trough Using a Longer Model that Teaches Reconciliation. In

Psicologia.pt

ISSN 1646-6977 Documento publicado em 03.12.2017

Ana Isabel Mendes Teixeira 21 facebook.com/psicologia.pt

L. Sperry & Slafronske (Eds), Spiritually oriented psichotherapy (pp. 235-256). Washington:

American Psychological Association.

Worthington, E. L., & Wade, N. G. (1999). The social psychology of unforgiveness and

forgiveness and implications for clinical practice. Journal of Social and Clinical Psychology, 18,

385–418.

Worthington, E.L., Witvliet, C., Pietrini, P., & Miller, A. (2007). Forgiveness, health, and

well-being: A review of evidence for emotional versus decisional forgiveness, dispositional

forgivingness, and reduced unforgiveness. Journal of Behavioral Medicine, 30, 291-302.

Yaben, S. Y. (2009). Forgiveness, attachment, and divorce. Journal Of Divorce &

Remarriage, 50(4), 282-294. doi:10.1080/10502550902775952.