O Perfeito e Sublime Maçom

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    O Perfeito e Sublime Maom

    Perfeito e Sublime Maom, tambm chamado de Grande Eleito da Abbada Sagrada,corresponde ao iniciado que, no Rito Escocs, atinge o grau quatorze. Esse titulo dado quele que galgou todos os degraus das Lojas de Perfeio, tendo cumprido ocurriculum previsto para essa etapa. O titulo no significa, entretanto, que a escaladaterminou. O que se supera apenas a primeira etapa de uma longa jornada. Asvirtudes consagradas no grau so a autodisciplina, a constncia, a solidariedade, afraternidade e a discrio, que deve acompanhar os maons conhecedores do sagradomistrio que representa a pronncia do Verdadeiro Nome de Deus. Essa, pelo menos, a mensagem passada pela lenda do grau.Em termos iniciticos, o Perfeito e Sublime Maom aquele que procura a PalavraPerdida da lenda de Enoque. A lenda do grau diz que esse ttulo foi criado por Salomo justamente para premiar os Mestres que encontraram a Palavra Sagradaoculta por Enoque. Aps a construo e a consagrao do templo, a maioria dosmestres que foi elevada ao grau de Cavaleiro do Arco Real voltou para suas terras. AMaonaria disseminou-se por toda parte e perdeu qualidade, sendo seus segredoscompartilhados por muitos iniciados sem mrito. Vrias disputas e cises acabaram por desvirtuar a Ordem, de um modo geral. Somente os eleitos que prometeram ecumpriram o juramento do grau perseveraram na prtica da verdadeira Arte Real e astransmitiram a uns poucos.Quando o Templo de Jerusalm foi tomado pelas tropas babilnicas, foram esses poucos eleitos que defenderam o Altar do Santo dos Santos, e por, fim quando todaresistncia se tornou intil, eles mesmos penetraram na Abbada Sagrada edestruram a pedra onde o Nome Inefvel estava gravado. Em seguida, sepultaram osescombros num buraco de 27 ps de profundidade para que, numa futura restauraodo templo, ou da Aliana, a posteridade pudesse recuper-lo. Assim, o Nome Inefvelnunca mais foi escrito nem pronunciado, mas apenas soletrado, letra por letra. E s osPerfeitos e Sublimes Maons ficaram conhecendo essa pronncia.

    Essa alegoria reflete claramente um retrato do momento em que o grau foi criado, ali pela metade do sculo XVIII. Nessa poca, a Maonaria enfrentava um processo de

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    muitas cises, oriundas de controvrsias e conflitos de ordem ritualstica, doutrinria emesmo polticas. Opunha-se Maonaria inglesa, anglicana e protestante, com a suatentativa de unificao empreendida por Anderson e seu grupo, a Maonaria francesae alem, jacobita, stuartista e catlica.A primeira, dirigida para um objetivo moral e filosfico, fundamentado nos principiosdo Iluminismo, e a segunda orientada mais por sentimentos polticos, temperados por um apelo emocional ao passado, representado pelo esoterismo rosacruciano e pelatradio da cavalaria templria. Foi a unificao dessas duas tendncias que originouo Rito Escocs como hoje o conhecemos. Essa unificao, curiosamente, ocorreusomente na Amrica do Norte, atravs do Conselho de Charleston em 1800. Na lenda do grau, como se pode perceber, est implcita a preocupao, j evocada por Jmblico em relao aos Mistrios Egpcios, de que a Maonaria no uma prtica que deva ser popularizada. de se recordar que aquele filsofo deplorava atraduo para o grego daqueles Mistrios, entendendo ser a lngua dos helenosimprpria para transmitir segredos de ordem inicitica, pois que a popularizao detais ensinamentos acabaria por abastard-los. Essa tambm era a razo pela qual osalquimistas evitavam transmitir, de forma clara, o magistrio de sua arte, que setornou a cincia hermtica por natureza. A est tambm, como vimos, a razo dosilncio exigido por todos aqueles que se iniciam em sociedades desse tipo. A PalavraPerdida tomada aqui como segredo que deve ser guardado a sete chaves e somentetransmitido aos iniciados que realmente tenham mostrado mrito para conhec-la.Os trabalhos do 14 grau se realizam sob a abbada secreta, que simbolicamente, selocaliza num ponto qualquer do infinito. A idade do Perfeito e Sublime Maom onove, quadrado de trs, que o numero perfeito. Seus instrumentos de trabalho so oesquadro e o compasso, com os quais trabalha o pensamento e a inteligncia. O iniciodo trabalho o meio dia em ponto, hora em que o sol est no seu znite. Os trabalhosso abertos pelos Nmeros Misteriosos, cuja soma total 21. A abertura feita pelaleitura dos versculos 18 a 23 do capitulo 33 de xodo, onde Deus diz o seu nome aMoiss, mas no lhe mostra a sua face.So executados trs sinais, que s podem ser divulgados em Loja. So os sinais doJuramento, do Fogo e de Admirao, cada um representando um simbolismo ligado apario de Deus para Moiss no Monte Sinai e no pacto feito com ele e com o povode Israel. Na elevao ao grau 14 se recordam todas as virtudes adquiridas nos graus precedentes. uma espcie de rememorao da escalada da perfeio. Uma faca e ummachado so colocados no centro do Templo, para que seja executado o sacrifciosimblico das paixes do iniciando. O grau evoca tambm sua libertao pessoal,

    atravs do simbolismo do xodo do povo israelita do Egito. Pressupe-se que nestegrau, aps o iniciado ter adquirido o conhecimento da Palavra Sagrada, estar ele emcondies de perseguir a verdadeira sabedoria, que o significado e a forma corretade pronunciar esse Nome.

    Um dos mais misteriosos mandamentos do Declogo justamente a proibio de pronunciar Nome de Deus em vo. Diz o Senhor que no tomaria por inocenteaquele que o fizesse. Portanto, no tempo de Moiss j se cultivava a tradio deassociar poder e sabedoria quele que conhecesse esse Santo Nome, pois tal pessoano era inocente.Destarte, o possuidor desse conhecimento no podia utiliz-lo irresponsvelmente.

    Para que o prprio Deus tivesse tal preocupao, por que essa Palavra Sagrada, esse Nome Inefvel continha realmente, um poder inesprimivel que somente pessoas

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    iniciadas e com muita intimidade com Ele podiam fazer uso.Para os cabalistas, esse nome grafava-seShemhamphorach , que quer dizer o

    principio . Diziam que esse Nome era a base do Tetragrammaton, o nmero queequivalia ao significado do Nome Inefvel, ou seja as iniciais do nome de DeusIHVH, que em portugus Jeov. Todos os demais nomes de Deus eram produtos desuas manifestaes, mas oShemhamphorach era derivado de sua prpria substncia, por isso podia ser considerado o primeiro.Uma vez mais evocado o antigo ensinamento, magistralmente expresso na frase deJesus, segundo a qual quem conhece a verdade realmente livre. Assim, a evocaoao Nome Inefvel de Deus, como supremo conhecimento, a verdade que liberta.Moiss somente adquiriu o poder para libertar o povo hebreu do Egito aps adquirir esse conhecimento.Rizzardo da Camino lembra bem que hoje a face poltica da escravido j no causatanto horror e constrangimento. O que hoje mais se propugna pela libertao moraldo ser humano, libertao essa que se consubstancia na vitria do individuo sobre simesmo, libertando-se dos vcios e das paixes que o escravizam.Os atos cerimoniais que se fazem por ocasio da elevao do iniciando ao 14 grauso conotativos desse ideal. O candidato imola suas paixes no altar dos sacrifcios;no Mar de Bronze mergulha suas mos como smbolo da materialidade que ali sedissipa, como ocorrido na Lenda de Hiram ; depois, com o leo sagrado que desce pela barba de Aro at a orla dos seus vestidos, misturado ao vinho e farinha detrigo, simbolizando os materiais da ceia mstica, o iniciando consagrado peloPresidente da Loja. O discurso do Presidente evoca a idia da Fraternidade existenteentre os homens que comungam de um mesmo ideal e de uma mesma f. Tendo eleencontrado a Palavra Perdida, fez-se merecedor da fita do Mestre Secreto com o Nome Inefvel nele inscrito, grafada pelo nome Jeov (Iavh).Ele agora sabe quem o seu Deus, e est livre dos vcios de carter que o impediamde seguir adiante, superando os limites da matria e ingressando nos domnios doesprito. Por isso que a liturgia do grau sempre evoca, em primeiro lugar, aadmirao pela mgica do nome revelado, e a infinitude que se revela aos seus olhos.O contedo metafsico do grau exprimido por um dilogo entre o Presidente, o 1Vigilante e o Orador, no qual estes discorrem sobre o conceito de infinito e suasrelaes com o divino, o profano e a doutrina manica, proclamando ainda, comoverdadeiro auto de f, a livre convico religiosa, que se exprime na crena daexistncia de Deus, nica e simplesmente, sem qualquer necessidade de provamaterial ou filosfica dessa existncia.Esse dilogo exprime as idias antigas e modernas sobre o conceito de Deus e suas

    manifestaes, que o universo visvel e invisvel. Tanto poderia ser encontrado nosversos da Baghavad Guita quanto num estudo dos modernos cientistas do tomo, daastronomia ou da biologia molecular. A noo do infinito e sua correlao com onfimo incomensurvel uma intuio que pode ser encontrada, tanto na obra doscientistas do tomo como na dos modernos telogos, como Teilhard de Chardin, por exemplo, que extrapolam o conceito dos limites de tempo e espao materiais, parasituarem a origem de toda realidade num ponto qualquer algures, que no pode ser alcanado pela razo, mas pode ser sentido pela inteligncia da emoo. a voltada questo metafsica que sempre preocupou o homem desde que ele se mirou noinfinito e sentiu sua prpria pequenez em confronto com a imensitude do universo.Mas ele agora sabe que essa inquietude, essa sensao de esmagamento csmico,

    produto do movimento de uma alma procura desse centro energtico nico, de ondeum dia ela saiu como manifestao do pensamento divino e para onde um dia voltar

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    como energia centrada no mais alto grau de potenciao.A jornada do esprito humano uma viagem procura da Palavra Perdida, o VerboFundamental, a partir do qual tudo, inclusive ele mesmo, foi criado. E quando elechega a esse conhecimento, quando aprende, enfim , essa Palavra, ele est livre daignorncia que o mantm escravo de uma vida chumbada a desejos sempreinsatisfeitos, a angstias que jamais se curam, a propsitos que nunca se cumprem, a problemas que jamais se resolvem. Nesse momento ele demole seus antigos dolos, queima seus totens de decadncia e passa a adorar o nico e Verdadeiro Deus, que a Verdade. Conhecendo a Verdade ohomem ser, finalmente livre. Agora o Mestre Perfeito sabe o que significa essas profticas palavras. Ele sabe que Deus existe e tem um Nome, um Nome que outorgao poder que vem do verdadeiro conhecimento, a felicidade que vem da prtica daverdadeira virtude, o progresso que vem do trabalho, a confiana que vem da certezade que Deus Um, a Natureza Uma, o Criador Uno, e tudo faz parte de um grandeorganismo onde nada descartado, mas tudo tem um sentido, uma importncia e umafinalidade.E com essa certeza o iniciado retorna sua insignificncia de micrbio perdido nassolitudes csmicas, sabendo agora, entretanto, que o cosmo, sem ele, no existiria. Ainvestidura neste grau, como pode se perceber, representa uma espcie deencerramento de uma etapa de iniciao, em que o nefito adquire a perceponecessria para passar para a etapa adiante, que so as Lojas Capitulares.>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>.

    DO LIVRO "CONHECENDO A ARTE REAL", PUBLICADO PELA ED.MADRAS, SO PAULO, 2007.