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O Pestim O rei perdido A tartaruga Noite de Tempestade A ...ginação que, nas noites de lua cheia, tocava o seu violino, encantando a todos que o escutavam, junto à fogueira, e que

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Alma Cigana, contos, origem e curiosidades | Curiosidades

ÍndiceBreve síntese do percurso do povo cigano até à Penísula Ibérica- Da Índia à Europa

Início da instalação na Europa e 1.ª discriminação entre 1200 e 1700

Políticas dos estados: integração, assimilação forçada, deportação entre 1700 e 1850- A grande razia dos «gitanos» em Espanha- 2.ª migração e intensificação da discriminação entre 1850 e os anos de 1930- Holocausto – persecução, internamento, genocídio entre 1938 e 1945- Discriminação prolongada e luta pelos direitos do homem desde 1945 até hoje- 3.ª migração e processos de emancipação desde os anos de 1960 até hoje

Gastronomia

Vestuário

Tradições e mitos

Algumas personalidades (de origem ou de ascendência cigana)

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1.ª migração entre 250 a. C. até 1400 d.C.

Da Índia à Europa

A origem indiana e a «marcha em direção à Europa» via Pérsia, Armé-nia e Ásia Menor na época do Império Bizantino são factos incontestados, sobretudo as provas da origem linguística. Por falta de documentos e de factos inegáveis e da importância da origem em qualquer processo de emancipação, esta questão é objeto de várias teorias fundadas tanto em factos científicos como em especulações mais ou menos bizarras. Teriam saído de Delhi na Índia central, na 1.ª metade do 1.º milénio d.C., deslocando-se para o Nordeste da Índia, no Punjab, na 2.ª metade do 1.º milénio d.C., permanecendo aí algum tempo. Teriam atravessado a Pérsia e a Arménia para alcançar o Império Bizantino, a Ásia menor e finalmente a Grécia. As descobertas linguísticas demonstram a chegada no Império Bizantino de um grupo homogéneo, pois todos os Roms recenseados hoje possuem uma base linguística – língua de origem indo-ariana – comum que engloba também elementos do vocabulário e da gramática grega.

A data exata que os Roms teriam partido da Índia é, ainda, desconhecida. Uns historiadores dizem que tiveram de fugir devido a catástrofes naturais (secas e/ou inundações) ou a guerras e/ou invasões locais. Várias lendas alimentam este mistério. Contudo, fazendo ou não parte de grupos que se deslocaram da Índia Central até ao Nordeste da Índia, os cientistas ad-mitem que os Roms teriam iniciado a sua deslocação prolongada entre os séc. III e X, mais provavelmente entre o séc. VIII e X.

Um das mais recentes explicações sobre a origem das migrações dos Roms originários de populações do Noroeste do subcontinente indiano, das regiões do Punjab e do Rajastão, obrigadas a emigrar em direção ao Ocidente, possivelmente em ondas, entre c. 500 e c. 1000 d.C. Iniciar-am a sua migração para a Europa e África do Norte, pelo planalto ira-niano, no século XI, por volta de 1050. A saída da Índia provavelmente ocorreu no contexto das invasões do sultão Mahmud de Ghazni (região do atual Afeganistão). Mahmud fez várias incursões no norte da Índia, capturando os povos que ali viviam. No inverno de 1019-1020,

Breve síntese do percurso do povo cigano até à Penísula Ibérica

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o sultão saqueou a cidade sagrada de Kannauj, que era então «uma das mais antigas e letradas da Índia, capturando milhares de pessoas, e vendendo-as em seguida aos persas». Estes, por sua vez, venderam os prisioneiros como escravos na Europa. No Leste Europeu, cerca de 2.300 deles foram para a zona dos principados cristãos ortodoxos da Transil-vânia e da Moldávia, onde foram convertidos em escravos do príncipe, dos conventos e dos latifundiários. Por volta do século XI, a língua romani apresenta claros traços de línguas indo-arianas modernas. Já no século XIV, devido à conquista territorial e política de estados indianos, muitas caravanas rom partiram para a Europa, Oriente Médio e Norte da África. É segunda onda migratória, que os roms denominam Aresa-jipe. Um primeiro grupo tomou rumo oeste e atingiu a Europa através da Grécia; o segundo partiu para o Sul, adentrando o Império Bizantino e chegando à Síria, Egito e Palestina.

(Fonte: Clanet, E. 2007, «Teriam sido os antepassados dos ciganos, escravos militares dos turcos? Uma nova focagem sobre a sua migração entre a Índia e a Europa», em Montenegro, Mirna (coord.), Ciganos e Cidadanias, Setúbal, ICE, pp. 99-110)

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Esta 2.ª fase da história dos roms cobre o período que vai da chegada à Europa, no séc. XV, assim como a situação dos roms em diferentes regiões da Europa nos séc. XVI e XVII: a sua situação no Império Otomano e na Europa Central, a servidão e escravatura na Valáquia e na Moldávia, a marginalização e persecução nos países da Europa Ocidental. Teriam sido vistos em diversos locais simultaneamente, o que indicia vários grupos dis-persos: 1381, Módon – Grécia1385, Valáquia – Roménia atual 1386, Salónica – Grécia 1402, Viena – Áustria atual 1407, Amesterdão – Holanda atual 1413, Constância – Suíça 1414, Moldávia atual 1417, Hamburgo – Alemanha 1418, Nuremberga – Alemanha atual 1418, Praga – República Checa atual 1419, Avignon – França 1419, Milão – Itália 1419, Nuremberga – Alemanha 1420, Antuérpia – Bélgica atual 1422, Roma e Florência – Itália

1423, Veneza – Itália 1425, Saragoça – Espanha 1427, Paris – França 1428, Moldávia 1436, Bordéus – França 1444, Kiev – Ucrânia atual 1462, Sevilha – Espanha 1501, Vigo – na Rússia atual 1501, Ucrânia atual 1505, York – Inglaterra atual 1512, Uppsla – Suécia atual 1513, Londres – Inglaterra atual 1510, Portugal 1540, Abo – Finlândia atual 1574, Vera Cruz – Brasil (depor-tados de Portugal)

O 1.º documento que nos remete aos ciganos em Portugal data do início do século XVI, uma poesia de Luís da Silveira, do Cancioneiro de Garcia Resende, onde relata o engano, cometido por um cigano, e, em 1521, Gil Vicente monta e apresenta a sua notável peça A Farsa das Ciganas, docu-mento precioso, onde num diálogo entre quatro ciganas, Martina, Cas-sandra, Lucrécia e Giralda, apresenta as palavras de pedinte das mul-heres, o carácter de sua etnia, e nos mostra como dizem a buena dicha, cantam, dançam, e se propõe a ensinar feitiços.

Início da instalação na Europa e 1.ª discriminação entre 1200 e 1700

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No séc. XVII, Idade das Luzes, na história europeia, os Roms são expostos a «novos métodos» de discriminação: internamento em Espanha e leis or-denando a assimilação forçada no Império Austro-Húngaro. Estes métodos contrastam com os que são geralmente reservados aos ciganos na Rússia, onde são considerados como iguais entre os vários súbditos do czar, gozan-do de todos os direitos civis. A grande razia dos «gitanos» em Espanha.

O período do despotismo esclarecido ofereceu às autoridades possibilidades alargadas de aplicar medidas a todas as pessoas submetidas à sua juris-dição. Em Espanha, esta situação levou a um dos episódios mais dolorosos da história da comunidade cigana do país: a razia geral executada sob o reinado de Fernando VI, a 30 de julho de 1749. A operação – tão minu-ciosamente preparada como sistemática – conduziu ao internamento de 10 a 12 mil pessoas pelos simples facto de serem ciganas. A coordenação das diferentes autoridades públicas implicadas, a cooperação da Igreja (que permaneceu passiva perante uma tal injustiça), os excessos cometidos por todas as pessoas tendo tornado a operação possível e a colaboração de concidadãos e de vizinhos das vítimas conferiram a esta «quarta-feira ne-gra», nome por que ficou conhecida na história, o carácter único na longa série de persecuções anticiganas levadas a cabo na Europa.

2.ª migração e intensificação da discriminação entre 1850 e os anos de 1930

O meio do séc. XIX tornou-se palco de um segundo movimento migratório que iria mudar a população rom no mundo inteiro. Os kalderash, os lo-vari e outros grupos roms da Europa Central e do Sudoeste partiram para Leste e para Oeste e acabaram mesmo por atingir a América e a Austrália. Este segundo fluxo migratório – assim designado porque o primeiro fluxo foi observado em 1400 – resultou de mudanças sociais profundas, nome-adamente a abolição da escravatura na Valáquia e na Moldávia (atual Roménia) assim com o advento da industrialização. Durante a 2.ª metade do séc. XIX, um 2.º movimento migratório produz-iu-se: grupos roms da Europa Central e do Sudeste partem em direção a

Políticas dos estados: integração, assimilação forçada, deportação entre 1700 e 1850

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outras regiões da Europa sem hesitar, em certos casos, a atravessar os mares. Os processos e as mudanças políticas advindas por volta dos séc. XIX e XX afetam também os roms. Estas mudanças refletem-se na intensi-ficação da discriminação numa região outrora parte integrante do Império Austro-Húngaro e pelo tratamento infligido aos roms como sendo um povo à parte, ainda que fizesse parte integrante da sociedade, na jovem União Soviética

O Holocausto – persecução, internamento, genocídio entre – 1938 e 1945

Holocausto ou Samudaripen (genocídio cigano). A perseguição aos ciga-nos, que durou vários séculos, conheceu o seu apogeu com o genocídio cometido durante a era nazi. Qualificados de «problema» e considerados «associais» e «radicalmente inferiores», os roms foram detidos e assassi-nados durante o Reich alemão e nos territórios ocupados. O genocídio nazi marca uma rutura na história recente dos roms. Corresponde ao apogeu de uma atitude secular de discriminação, de estigmatização e de persecução. Inúmeros grupos não ultrapassaram o Holocausto até hoje. O Holocausto não pode ser tratado como pertente ao passado: faz sempre parte inte-grante da vida dos roms, de modo que os não-roms devem estar sensibili-zados para esta fase da história deles.

Discriminação prolongada e luta pelos direitos do homem desde 1945 até hoje

Institucionalização e emancipação – durante grande parte do séc. XX, as atividades emancipadoras ficaram acantonadas a experiências praticamente isoladas. Nos anos 1950-1960, um número crescente de ONG foram criadas e pre-pararem terreno para o «movimento rom» dos anos 1970. Esta década viu a emergência de uma superabundância de organizações roms nacionais e locais; perseguiram toda a espécie de objetivos e implementaram esforços consideráveis visando garantir aos roms uma representação política a nível internacional. Desde 1989, em vários países da Europa de Leste, os roms são cada vez melhores representados no seio de órgãos políticos municipais e nacionais:

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1.º Congresso Mundial Rom em 1971. 2.º Congresso Mundial Rom em 1978 (dando origem à URI – União Inter-nacional Romani). Em 1986, a URI integra a UNICEF. Em 1999, a URI integra a OSCE, organizando uma Conferência Mundial em Varsóvia em 1994. Em 2000, a URI realiza o seu 5.º Congresso em Praga. Em 2004, o 6.º Congresso da URI realiza-se em Itália

3.ª migração e processos de emancipação desde os anos de 1960 até hoje

Depois da primeira aparição dos roms na Europa e do fluxo de imigração dos roms consecutiva à abolição da escravatura na Roménia (2.ª mi-gração, cerca de 1850), o último movimento migratório dos roms de Leste para Oeste no continente Europeu remonta à 2.ª metade do séc. XX. Esta 3.ª migração deve ser avaliada sob o ângulo de fatores externos: as guerras, as mudanças políticas e as crises económicas levaram muita gente a abandonar os seus países de origem. No caso dos roms, é preciso acres-centar um racismo e uma discriminação aguda em todos os domínios da vida quotidiana. Refugiados da Hungria em 1956, durante o levantamento 150 mil pessoas fugiram do país, inclusive roms, e foram para a Áustria. Roms jugoslavos – originários das regiões mais pobres da Sérvia, da Macedónia e da Bós-nia-Herzgovina – emigram para a Europa Ocidental, preferindo a Itália, a Alemanha, a França e a Holanda.

fonte: https://www.coe.int/t/dg4/education/roma/Source/FS/0.0_french_corr3.pdf)http://www.coe.int/t/dg4/education/roma/histoculture_FR.asp? Entrevistas: https://prezi.com/gl8o7hj_tiu3/ciganos/

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Pilar 4: Curiosidades.Este pilar serve para consultadoria de vários factos e características da comunidade cigana portuguesa. É uma ferramenta de informação sobre especificidades da cultura cigana, podendo ser utilizada, posteriormente, para pesquisa e informação relevantes sobre a cultura cigana. Ex.: ves-tuário; pratos tradicionais; mitos; provérbios; fatores históricos e percur-sos do povo cigano…

GastronomiaCasamento

1.º DIA

Toda a alimentação é confecionada pelas mulheres mais chegadas da família do noivo e da noiva: guisado de carne e batatas «à moda ciga-na»; várias sopas: canja, feijão e caldo verde.Na festa, estão penduradas várias quantidades de peças de carne.Quem quiser comer, tem que assar na brasa a carne. Esta ação é realizada por cada homem da sua família, as mulheres preparam o prato no sentido de «self-service». Nesse dia, não se põem mesas.Há todo o tipo de bebidas.Aos noivos, atiram-se rebuçados e amêndoas.

2.º DIA

A seguir ao almoço, é a mostra dos pertences da noiva (enxoval) e do respetivo noivo; a noiva leva tudo o que pertença ao recheio da casa e ofertas em ouro e o noivo leva tudo o que é necessário para iniciar uma vida profissional (venda ambulante).

Põe-se a mesa dos noivos, designado por «dia da manhãná», com o bolo de noiva e de tudo um pouco.O recheio desta mesa é oferecido pelos padrinhos, que podem ser vários.

3.º DIA

É o dia da sopa de peixe, há doces, bebidas, etc..Desde 2000 até à data, o casamento cigano tem vindo a modificar-se em alguns aspetos: passou a ser só 1 dia de casamento «com algumas vari-antes»; o casamento também passou a encomendar «catering» em vez da confeção, bem como a decoração de sala e mesas de refeição.

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Os casamentos têm início no final da tarde, as famílias começam a oferecer o jantar. Pela noite fora é dada a bênção aos noivos pelos convidados com dança tradicional, com lenços brancos no ar. Nesse momento, os padrinhos atiram aos noivos as amêndoas e os rebuçados para adoçar a vida conjun-ta do casal. A mesa dos padrinhos é colocada pela noite fora, há danças e alegria. Tudo o resto é igual.

Fonte: AMUCIP

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A comida cigana não difere muito da comida tradicional portuguesa, a não ser nos condimentos.O povo cigano tem uma alimentação bastante cuidada, quer a nível da confeção, quer a nível dos produtos. Estes raramente são congelados.Relativamente aos conhecimentos adquiridos sobre a distribuição equilibrada da alimentação, o povo cigano, como não tem um trabalho que exija um esforço físico grande, toma pequenas refeições ao longo do dia. O almoço, sendo já tardio, é a mais forte e porventura a mais elabo-rada refeição. Nas comunidades ciganas, os pratos específicos são: ouriço assado na brasa, feijão com funchos. O único prato comum a nível nacion-al dentro da comunidade cigana é o feijão de guiso com bacalhau frito, prato tradicional do Natal. Nesta noite todos/todas ceiam este prato, ex- ceto as pessoas ciganas que estão num período de luto. Estes ceiam o tradi-cional bacalhau cozido com couves, prato da sociedade maioritária, pois o nosso prato de Natal só é comido quando estamos no estado de alegria.

Fontes: AMUCIP e Fernanda Reis, Cozinha Cigana, Secretariado Diocesano de Lisboa da Obra Nacional para a Pastoral dos Ciganos, 1997, Lisboa

Menu de Natal

DIA 24

Bacalhau frito com feijão (guizos), filhoses (pestins).DIA 25

Grão com massa e peru assado.DIA 26 Os homens correm as casas dos amigos, fazendo «o rapa».

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Coloca-se a mesa do Natal numa toalha no chão e é abençoada pelo patriarca da família; esta ação foi usual até 1995; atual-mente a mesa de Natal é posta na mesa de sala de jantar, (é geral-mente a área maior da casa para juntar a família). Esta mesa é sempre muito farta em comida e fruta.

Fonte: AMUCIP e Fernanda Reis, Cozinha Cigana, Secretariado Diocesano de Lisboa da Obra Nacional para a Pastoral dos Ciganos, 1997, Lisboa

Feijão de guiso

1 kg de feijão manteiga (demolhado em 24h)3 cebolasCravo cabecinhaColorauLouroAzeiteVinagre

O feijão é cozido com uma cebola onde são cravados os cravos cabecinha, com azeite e sal, durante 3 horas em lume brando.À parte, faz-se um refogado com azeite, cebola, louro, colorau e vinagre. Quando o feijão estiver cozido, junta-se o refogado envolvendo-o e está pronto! É acompanhado com bacalhau frito. Este é passado por farinha e ovo. Depois de frito, coloca-se numa travessa forrada com folhas de

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alface, enfeita-se o prato com rabanetes, azeitonas, rodelas de limão e laranja e salsa.

Receita dos pestins da Olga Mariano

IngredientesPara 1 quilo de farinha 2,5 dl de azeite2,5 dl de água com erva doce e sal75 gr. de banhaóleo para fritaraçúcar e canela para enfeitar no final

Põe-se a farinha de trigo, sem fermento, num alguidar de barro. Faz-se um montinho com a farinha com uma abertura no meio, no qual se deita sumo de laranja (para um quilo de farinha, põe-se sumo de três laran-jas), uma dúzia de gemas de ovo, uma terça parte de um pacotinho (do mais pequenos) de canela. Dá-se-lhe a volta com as mãos. Depois de bem dada a volta, começa-se a esfregar a farinha das mãos, esfarelando--a entre as mãos. Faz-se isto durante uma hora. É a melhor maneira da massa ficar tenrinha. Depois, tapa-se com um paninho. Entretanto, coloca--se ao lume, em três tachos diferentes, 2,5 dl de azeite, 75 gr. banha de porco e 2,5 dl de água com erva doce e sal. Quando estiver tudo a ferver, (deve-se deixar em lume brando para ficar sempre a ferver) deita-se um bocadinho de azeite e dá-se a volta à massa (com uma colher de pau para não se queimar); deita-se um bocadinho de banha e dá-se a volta; deita-se um bocadinho de água e dá-se a volta. Deixa-se amornar (para não se queimar) começa-se a amassar com as mãos como se faz o pão. Coloca-se um cálice de aguardente. Torna-se a amassar; deita-se mais um boca dinho de azeite, torna-se a amassar; deita-se mais um bocadinho de ban-ha, torna-se a amassar; deita-se mais um bocadinho de água, torna-se a amassar. Quando a massa já der para tender é porque já está boa. Tende--se com o rolo da massa e cortam-se aos losangos. Depois põe-se o óleo a ferver e vai-se deitando lá para dentro os pestins. Quando estiverem bem fritinhos retiram-se e colocam-se num alguidar às camadas com açúcar com canela.

Fonte: AMUCIP

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VestuárioLuto

A viúva traja luto (preto) toda a vida, cortando o cabelo e despojando-se de qualquer enfeite ou maquilhagem.

Quando falece o patriarca da família na casa da viúva são colocados panos pretos por cima dos móveis, não se vê televisão nem se escuta músi-ca. Durante um período de tempo a viúva e os filhos não comem carne, com respeito à pessoa que faleceu.

Foto de traje viúva/viúvo

O único traje comum dentro das comunidades ciganas portuguesas é o luto, independentemente do estrato social, do meio em que está inserido ou da educação que se recebeu. Sabemos que este traje deve ser usado aquando do falecimento de alguém da família. Ao longo dos anos o vestuário também sofreu alterações. Pensamos que se deve à influência da sua progressiva sedentarização. Atualmente, não con-

Fonte: AMUCIP

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seguimos distinguir uma cigana(o) pelo seu traje e, ao longo dos tempos, as jovens procuram, cada vez mais, estar atualizadas das últimas tendên-cia da moda.

Solteira nos anos 60

Fonte: AMUCIP

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Anos 70

Fonte: AMUCIP

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Anos 80

Solteiras nos anos 90

Fonte: AMUCIP

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Tradições e mitos

São João É a festa nacional do cigano – 24 de junho.A 8 de abril é celebrado o dia internacional dos ciganos.1 e 2 de novembro, dia dedicado aos entes queridos (passam todo dia no cemitério). Os casamentos normalmente são feitos aos dias de semana quando não há actividade profissional (venda ambulante), nos fins de semana tem merca-dos.

SuperstiçãoA «bitcha mala» (cobra/serpente) augura mau negócio e o sapo atrai «contrários»/conflitos. Ferraduras do cavalo penduram nas carrinhas, símbolo de sorte; aranha, símbolo de sorte (dinheiro); nos cantos da casa espalham moedas, simbol-iza nunca faltar dinheiro em casa; deixar acabar o açúcar em casa é sinal de pouca fartura; deixar cair sal no chão de casa traz azar.

HospitalizaçãoA comunidade não vai para a porta do hospital quando se dá um nasci-mento porque é motivo de alegria, apenas quando se trata de um interna-mento porque é motivo de preocupação e demonstração de solidariedade.

Fonte: AMUCIP

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«Homens de lei»Ainda se respeitam as pessoas mais velhas que continuam a ser «consul-toras de apaziguamento», as quais devem, ao longo da vida, demonstrar ter uma vida «reta» e digna: homens que, ao longo da sua vida, tiveram sempre uma postura correta, homens de coragem, de palavra, que nunca tenham estado envolvidos em negócios ilícitos.

TrabalhoOs vários grupos ciganos que se deslocaram do Nordeste da India até à Europa e espalhando-se pelo mundo trouxeram com eles os seus «misters» (ofícios) que se foram adaptando às necessidades dos países onde se fo-ram sedentarizando. Assim, existiam grupos ciganos circenses, músicos, fer-reiros, cesteiros, tosquiadores e negociantes de animais. Progressivamente, estes ofícios foram rareando, sendo substituídos por outros mais rentáveis e passíveis de sobrevivência, nomeadamente a venda ambulante, seja de porta a porta ou nas feiras e mercados (de roupa, calçado, fazenda, etc.). Esta, devido à expansão do «mercado asiático», também tem vindo a sofrer alterações, «obrigando» a procurar, através da formação (académica e profissional) outras formas de sobrevivência, nomeadamente o trabalho por conta de outrem, quando assim o conseguem (com frequên-cia, à custa da sonegação da sua origem étnica para não sofrerem dis-criminação)!Fonte: AMUCIP

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Da Península Ibérica

Portugal:• Ricardo Quaresma (futebolista internacional), • Carlos Miguel (presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras e secretário de Estado das Autarquias), • Leonor Telles (cineasta, prémio Urso de Berlim) • Sérgio Silva (músico do grupo Ciganos d’Ouro) • Olga Mariano (ativista, primeira presidente da AMUCIP e presi dente das Letras Nómadas)• Ramiro Maia (empresário da sapataria Mocci) • Cidália Moreira (fadista)• Nininho Vaz Maia (cantor e compositor

Espanha:• Juan de Dios Ramirez-Herédia (ativista e deputado espanhol), • Joaquim Cortez (bailarino espanhol),• Manitas de Plata (guitarrista espanhol, • Camaron de la Isla (cantor espanhol)• Vicente Amigo (músico espanhol)• Azúcar Moreno (cantoras espanholas).• Ninã Pastori (cantora espanhola)• José Merce (cantor espanhol)

Outros países

• Gypsy Kings (grupo musical francês)• Tony Gatlif (cineasta franco-argelino),• Juscelino Kubitschek de Oliveira (presidente do Brasil),• Charlie Chaplin (ator emigrante nos EUA que acabou por morar na Suíça), • Elvis Presley (cantor dos EUA),• Sir Yul Brenner (ator britânico), • Sir Michael Caine (ator britânico),

Algumas personalidades (de origem ou de ascendência cigana)

Page 24: O Pestim O rei perdido A tartaruga Noite de Tempestade A ...ginação que, nas noites de lua cheia, tocava o seu violino, encantando a todos que o escutavam, junto à fogueira, e que