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RESENDE E ITATIAIA - DEZEMBRO DE 2012 Nº 200 . ANO 17 - JORNAL MENSAL DISTRIBUIÇÃO GRATUITA [email protected] www.pontevelha.com Diagnóstico sobre bacia do rio Sesmaria mostra nossa histórica má relação com a natureza Orquídeas do rio das Pedras, para Oscar Niemeyer Mathias Mann

O Ponte Velha - dezembro de 2012

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Page 1: O Ponte Velha - dezembro de 2012

RESENDE E ITATIAIA - DEZEMBRO DE 2012Nº 200 . ANO 17 - JORNAL MENSAL

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Diagnóstico sobre bacia do rio Sesmaria mostra nossa histórica má relação com a natureza

Orquídeas do rio das Pedras, para Oscar Niemeyer

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2 - O Ponte Velha - Dezembro de 2012

P O L I T I C Á L Y ACabo Euclides e Professor Silva

1) INDICE FIRJAN DE DESENVOLVIMENTO MUNI-CIPAL - IFDM

A Firjan divulgou ranking -- Edição 2012, ano base 2010 -- com seu índice IFDM, que leva em conta Educação, Saúde, Emprego e renda. Porto Real ficou em 1º lugar no Estado do Rio e em 79º no Brasil. Resende ficou em 3º lugar no Estado do Rio e em 87º lugar no Brasil. As classificações revelam nossa boa posição dentro do Estado, mas também nos levam a refletir, com humildade, que ainda temos muito que avançar, se almejarmos as primeiras posições no Brasil.

2) E AGORA, JOSÉ? José poderia estar naquele

estado de felicidade alcançado pelos candidatos eleitos, no período entre a vitória e a posse. O pro-blema é que ele é o atual Prefeito, e precisará enfrentar, agora, a dança das cadeiras. Para muitos, isto poderia ser uma tremenda dor de cabeça. Para José, é apenas mais um desafio. Bom árabe, conhece e ama a arte de negociar. Como desfrutará de tranquila maioria na Câmara, não se assustem se criar mais alguns cargos para acomodar os coligados. Afinal, a terceira melhor cidade do Estado do Rio e umas das cem melhores do Brasil, precisa ser bem adminis-trada. Vamos dar um passeio pelas Secretarias:

2.1. - SECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO - Seu titular é Fernando Henrique Soares, Presidente do PSDB local, o que indica ser da cota deste partido, que não se saiu muito bem nas últimas eleições, arriscando-se a perder esta Secretaria.

2.2 - SECRETARIA DE AGRICULTURA E PECUÁ-RIA - Comandada pelo Dr. Miguel Gilberto Almeida Balieiro Mariano Diniz Moreira Dias, também

conhecido como Miguelzinho Osama ou Bin Laden. Para quem duvida da linhagem do excêntrico Secretário, listamos seus primos que atuam na política resendense: Vereadores Soraya Balieiro, Gilmar Moreira e Romério Almeida; Ex--Vereador Dr. Aluísio Balieiro; Rubinho Moreira (Secretário de Obras), Robson Dias (Assessor na Educação) e Alexandre Diniz (Subprocurador Jurídico). Além da parentalha influente, Miguel tem uma capacidade só igualada pela sua popularidade. A manutenção desse Secretário certamente passará pelo Dr. Gilmar Moreira, vereador não reeleito, e sempre lembrado para ocupar esta Pasta. Se conhe-cemos o José, ele não prescindirá dos serviços do Miguelzinho, que poderá “cair para cima”, provando que Política é a arte do impossível.

2.3 - SECRETARIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL - Atu-almente comandada pela Sra. Marly Ceccoline Cortona, de perfil técnico. Para quem gosta de fazer política, esta é a melhor Secre-taria que existe. Certamente será ocupada por um político da base do José.

2.4 - SECRETARIA DE EDU-CAÇÃO - Atual Secretária - Rosaly Gonçalves de Azevedo. Tradicio-nalmente, essa Secretaria vem sendo dirigida por um membro do PSB. Foi daqui que saiu a Vereadora mais votada nesta eleição, a resplande-cente Soraya Balieiro.

2.5 - SECRETARIA DE FAZENDA - Ocupada pelo poderoso e competente Renato de Moraes Viegas, que só deixará de ser o guardião do cofre, se quiser. Membro ativo do CICC, nas reu-niões está sempre sentado à mão direita de José Rechuan.

2.6 - SECRETARIA DE GOVERNO - Comandada, na maioria do tempo, pelo eficiente José Antonio de Carvalho Pinto, mais conhecido como Totonho Paiva, consagrado presidente

do PDT local. Totonho poderá voltar para essa Secretaria, ou ser convidado para um outro cargo à altura de sua importância.

2.7 - SECRETARIA DE HABITAÇÃO - Ligada ao DEM, desde a sua criação, deverá ser preenchida com a participa-ção do Vereador Mirim.

2.8 - SECRETARIA DE INDÚSTRIA, TECNOLOGIA E SERVIÇOS - Seu titular é Edgard Moreira Gomes, atual-mente no partido PRTB, cujo desempenho na última eleição foi pouco expressivo.

2.9 - SECRETARIA DE OBRAS - Dirigida por Rubens César Moreira Almada, é uma das joias da coroa. Além de ser um engenheiro de renome, Rubinho é uma pessoa gentil, conduzindo as reivindicações dos resendenses, com cortesia e presteza.

2.10 - SECRETARIA DE PLANEJAMENTO - Alfredo José de Oliveira, o popular Alfredinho fez um bom trabalho à frente do Planejamento, cul-minando na criação do Instituto Marechal José Pessoa, o mais reluzente dos conselhos munici-pais.

2.11 - SECRETARIA DE SAÚDE - O Dr. Daniel Brito Pereira dirigiu a Secretaria mais melindrosa de qualquer adminis-tração municipal, com seriedade e competência. Se quiser, será reconduzido ao cargo.

2.12 - SECRETARIA DE SERVIÇOS PÚBLICOS - Marcial de Abreu Correia, membro ativo do CICC, fincou suas raízes nesta Secretaria, mas poderá ocupar qualquer outra função no Governo. Sem o Rechuan presente, onde o Marcial sentar, passa a ser a cabeceira da mesa.

2.13 - TURISMO E COMÉRCIO - Reynaldo Lombardi Raeli - Irmão da OPA, o simpático Raeli é sempre um

aliado do Rechuan, no Turismo ou em outra função à altura de seu talento.

2.14 - URBANISMO E ARQUI-TETURA - O Secretário Wellington José Antônio Renno Kneip, como todo gênio, desperta paixões. Há quem adore seus postes trôpegos e seus caquinhos coloridos. Há quem os deteste. Tudo indica que o Rechuan adora, pois os caquinhos coloridos viraram a marca de sua administração. Vida longa para o Ton!

2.15 - SECRETARIA DE TRA-BALHO E EMPREGO - Ricardo Moraes está apenas tomando conta da cadeira para um Vereador que irá assumi-la, no início de janeiro próximo.

2.16 - PROCURADORIA JURÍDICA - Carlos Antonio Tei-xeira Serra, atual titular, procura conduzir os assuntos de sua pasta com justiça e perfeição, colhendo os frutos de bom conceito junto ao Zero-Um, um dos epítetos do José.

2.17 - CHEFIA DE GABI-NETE - Jaime Correa de Mattos Junior é o atual titular. Habilidoso e bem relacionado, é forte candi-dato ao cargo.

2.18 - CONTROLADORIA GERAL DO MUNICÍPIO - Ludemar Pereira, técnico consa-grado, tem tudo para continuar na área, que poderá virar Secretaria de Inteligência, englobando Licita-ções e Prevenção Jurídica.

2.19 - ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO - Ricardo Paiva e Ricardo Moraes (BN e BJ), cuidam da imagem do Governo, de forma irreparável. Profissionais de elevadíssimo nível, certamente continuarão dando as cartas na Comunicação e na Ouvidoria, onde está alojado o simpático e efi-ciente Antonio Leão, apresentando excelentes resultados corretivos e preventivos.

2.20 - AMAR - AGÊNCIA DO MEIO AMBIENTE - Diri-gida pelo Paulo José Fontanezzi, primo do poderoso Vice-Prefeito

Noel Fontanezzi de Oliveira. O Presidente da AMAR tem longa experiência na área ambiental e, em política, militou muitos anos no PV, migrando para o PSDB. Seu partido não foi bem na última eleição. Esta Agência foi o nervo exposto do Governo em dois episódios: o do chorume de Volta Redonda, despejado no Rio Paraíba aqui em Resende, e o problema do aterramento da Lagoa da Turfeira, na obra da Nissan. O Governo Municipal blindou o Fontanezzi, nos dois problemas, demonstrando co--responsabilidade. Talvez, agora o brinde com a continuidade na AMAR.

2.21 - SANEAR - AGÊNCIA DO SANEA-MENTO AMBIENTAL DE RESENDE - Dirigida por Luís Cláudio Siqueira Chaves, fun-cionário de carreira da antiga Esamur, profundo conhecedor dos problemas de saneamento básico (água, esgoto e outros). Administrador talhado para chefiar essa Agência Reguladora, sempre batalhando para o consu-midor auferir um serviço de qua-lidade, com preços módicos, sem perder de vista que a concessio-nária precisa, também, alcançar um razoável resultado. É difícil encontrar um perfil como o do Luiz Cláudio: bom técnico, com sensibilidade política, nas medidas certas.

Um Feliz Natal a todos!

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Dezembro de 2012 - O Ponte Velha - 3

Marcos Cotrim

Oscar Niemeyer era muito grande, e por isso pôde se afirmar comunista até o fim da vida; tinha estatura para enfrentar a pecha de desatualizado - a falta de “atualidade” tem relação com o medíocre conformismo que prega que a história acabou e que o neoliberalismo é o supra sumo para a humanidade.

Niemeyer sabia que o ideal de um mundo mais justo - nas relações humanas e na relação da humanidade com a natureza - é o nosso destino, e que o percalço dos Gulags foi uma contingência que a história vai superar, num novo momento em que nosso instinto de poder se voltará para criação coletiva de beleza, porque “não há como não ser modesto; o contrário é o ridículo”.

E essa evolução espiritual (a definição de esquerda é movimento) é urgente por causa do clima do planeta e do clima das relações humanas nesse tempo de segregação em que os usuários de crack (parte dos excluídos, dos, dos sem perspectiva) têm que ser varri-dos para baixo do tapete para não atrapalha-rem os mega-eventos que a parte civilizada das pessoas promove. O senador Cristovam Buarque já chama a atenção há algum tempo para o fato de a esquerda se acomodar por ter concedido à classe operária o direito ao mundo consumista:

“Atualmente, no lugar das fronteiras raciais ou nacionais, a economia capitalista absorve parte dos trabalhadores do setor moderno, não importa de que país, graças aos bolsões da modernidade global existentes em todos os lugares do mundo, e dentro de cada país surge uma nova fronteira social, que separa os trabalhadores modernos das massas excluídas. O próximo passo será a implantação de uma fronteira biológica que, mais do que separar, fará os seres humanos dessemelhantes”.

Em Resende e arredores já vemos a vio-lência que acompanha a exclusão. O tráfico é a grande empresa que absorve a mão de obra dos nossos dessemelhantes. É interessante para o sistema, por empregar e por exter-minar com eficiência e pouco problema de consciência - os jovens pobres, os da ponta do varejo, não os grandes acionistas.

Também excluídos são os pequenos produtores rurais - como se depreende da entrevista desta edição sobre a bacia do rio Sesmaria. Eles carecem da assistência que poderia tornar suas terras mais produtivas, com menos degradação do solo e da mata, tornando atrativa a vida num campo saudá-vel, até espiritualmente. Mas não. A menina dos olhos é a agroindústria, tão importante para o onipotente PIB. Os jovens oriundos das pequenas propriedades? Que tornem--se “modernos”, vindo para as periferias das mega-cidades - e lutem muito para ficar do lado do muro destinado aos incluídos.

A questão social se entrelaça com a ambiental e com a cultural. Precisamos demais entender o que é valor (aquilo que não tem preço) para salvar tanto o pessoal do crack quanto o pessoal que afoga a alma em corrupção. Isso é que se espera da esquerda, esse norte. Era certamente o norte que Oscar Niemeyer via quando afirmava com orgulho não ter deixado nunca de ser comunista.

PS: Vou lançar meu livro “Trem Parador” neste sábado dia 15 de dezem-bro, a partir das 17h, no Hotel Pequena Suécia. E também na terça-feira, dia 18, a partir de 20h, no bar e restaurante Uai e Su, em Resende. Estão todos convidados!

Errata: Na última edição, onde se lê General Dilermando Monteiro leia-se Ednardo D`ávila.

Oscar Niemeyer e o rio SesmariaG

usta

vo P

raça

Existe. Pelo menos no mundo da reciclagem. E vida inteligente. Uma garrafa pet, depois de “morta”, pode voltar ao mundo em forma de camiseta. A sacola de plástico do supermercado, depois da sua vida útil, pode virar madeira plástica. Uma caixa de papelão pode reencarnar em centenas de cartões de visita. Quando isso acontece, todos ganham. O papel reciclado

evita a morte de milhares de árvores. Ganha o meio ambiente (nós). Na reciclagem são gerados empregos e renda. Ganham os trabalhado-res. Bom para o meio ambiente, bom para as pessoas. Está aí um belo exemplo de desenvolvi-mento socioeconômico sustentável.

Se é tão bom assim, por que a reciclagem é tão pouco praticada? Um dos motivos é o poderoso lobby das empresas da indústria do lixo. Ou você tem dúvidas? Este setor é quase um monopólio, concentrado nas mãos de poucas empresas. Outro motivo, talvez influenciado pelo primeiro, é o pouco caso demonstrado pelo poder público municipal, praticamente no país todo, na solução desta questão. Política de resíduos exige gerência exclusiva e permanente, além de uma logística inteligente. Esta logística inteligente começa pela educação ambiental específica para o assunto, não só nas escolas, mas também nos bairros, condomínios e empresas. Não é nada inteligente juntar tudo para depois ter que separar, um por um. Não é inteligente transformar um pequeno problema (uma sacola de lixo) em um enorme problema (lixão ou algo semelhante). Logística inteligente é não misturar tudo, não deixar criar volume, descentralizar a coleta e o tratamento, e enviar tudo direto para a linha de produção, onde o resíduo é tratado, não como lixo, mas sim como matéria prima. Vários estudos mostram que cerca de 80% do lixo doméstico pode ser reciclado.

Dentro desta logística inteligente, não pode ficar de fora a definição criteriosa dos pontos de recepção, os meios adequados de transporte (xô!, caminhão do lixo) e o pessoal devidamente treinado, principalmente a população que gera o resíduo. Premiação para quem cumpre com as regras estabelecidas (abatimento no IPTU, por exemplo) e penalidades para quem não cumpre

Existe vida depois da morte?(taxa de coleta de lixo). Para os novos condomí-nios e loteamentos, a construção de ecopontos, devidamente equipados, deveria ser objeto de um projeto de lei. Para não onerar ainda mais o contribuinte, o custo da construção poderia ser amortizados com descontos no IPTU. Ao invés de trabalhar em condições insalubres, os atuais catadores e garimpeiros (que garimpam nos lixões) trabalhariam direto nos pontos de geração de resíduos e nos ecopontos, devidamente treinados, equipados e adequadamente vestidos. Resíduos orgânicos, restos de comida, que para muitos é um grande transtorno, uma simples com-posteira caseira transforma problema em solução, lixo em adubo, sem cheiro e sem moscas.

Tão importante quanto tudo isso aqui comen-tado, é o envolvimento, a sério, das prefeituras neste processo. Quanto a isso, não tenho como deixar de registrar e elogiar a presença do pre-feito José Rechuan na última audiência pública realizada para buscar as soluções para a política de resíduos que o município terá que apresentar ao governo federal, e à sociedade civil resen-dense, até 2014. Ponto para o Rechuan. Quando tenho que criticar, critico. Quando merece elogio, também o faço. O resto é intriga e fofoca de cabo eleitoral de plantão nos corredores da prefeitura e nas redes sociais. Segundo o prefeito, seja qual for a solução, ela não implicará na criação de uma taxa do lixo.

Pesquisa recente realizada pela WWF--Brasil demonstrou que o brasileiro topa encarar a reciclagem com seriedade, mas não admite pagar mais uma famigerada taxa. Os estudos com vistas à solução deste problema que aflige o meio ambiente e, consequentemente, a saúde das pessoas, são técnicos, exigem pessoas qualificadas no assunto, mas não podem pres-cindir da participação popular. Neste sentido, o Instituto Agulhas Negras (INAN), do qual faço parte, se colocou à disposição do prefeito Rechuan para participar dos estudos que serão exigidos. O que não podemos é achar que este tema pode ser decidido apenas com a participa-ção do poder público.

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Eliel de Assis Queiroz é Gestor da Reserva Agulhas Negras (RPPN)

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de nossa gente, bem podíamos voltar a chamar de futebol so-mente aquela arte circense, onde a vitória é saudável quando vai além do placar e não se remunera com dinheiro. O virtuose devia receber honorários, tamanha é a desproporção entre o espírito que o anima e o dinheiro que mede salários.

Assim terminava a última crônica sobre homeopatia no fu-tebol. Dizia então que o encanta-mento do jogo estaria na “psora”, meio-de-campo virtuoso, entre os vícios da “sicose” dos cartolas e empresários, e a “sífilis” dos peladeiros irresponsáveis. Mas eis o que eu queria dizer (Ave, Nélson!), já que o leitor não está entendendo nada mesmo: nos anos 1960, nossas peladas eram “shakespeareanas”.

No glorioso tempo de minhas peladas, em que a sarna atacava os campinhos baldios - princi-palmente o lugar do goleiro -, o zagueiro grosso ou era “beque da roça” ou “mirantão”, enquanto o companheiro que não “dividia” era uma “moça” ou um Jeca Tatu que precisava de “biotônico”. E todo mundo tratava de se coçar. A gozação era certa e implacável. Doce bullying...

Agora, essa cassação anacrô-nica do Monteiro Lobato, por seu racismo de belle èpoque, nos envergonha. Em vez da compe-tente contextualização de sua obra por professores e editores, empurram-nos a censura torpe, ressentida em sua sífilis encuba-da. Porque acham que a arte deve ser engajada, barraram o Saci na seleção, e a tia Nastácia na tele-visão. Logo ela, que é a “psora” do Sítio, a criadora da Emília e do Visconde, a debatedora da sabichona Dona Benta...

Quem sabe não foi a tia Nas-tácia que trouxe para o Brasil o “fumo-de-Angola”? Cruz credo!

A tristeza do Jeca- Mas não era isso o que eu queria dizer... O tema eram os psicotrópicos, neste ano de centenário do Levi--Strauss, que perambulou pela Paulicéia e pelas matas outrora virgens do nosso Brazil entre 1935 e 39. Viera ajudar a fundar a USP, antes que os maconheiros lançassem mão. Antes que o ex--presidente THC, o Pepe Mujica e o Gabeira trouxessem à baila a questão da liberação da cannabis sativa. O futebol engatinhava. Ainda não era a sarna nacional. Aliás, a disseminação da maco-nha só se explica por faltar fute-bol arte a este país de Parreiras, Teixeiras e Blatters. É isso que causa a imensa e tropical tristeza brasileira. O fim do Maracanã.

A tese é patriótica. O livro Re-trato do Brasil, de Paulo Prado, de 1928, começa com a frase: “Numa terra radiosa vive um povo triste”. Somos filhos de “três raças tristes”? Prado cita como testemunha o padre José de Anchieta, para quem Pindorama era uma terra “algo melancólica”. Ora, melancolia era moléstia tratada com a Triaga do Brasil, poderosa panacea que as boticas da Companhia tinham sempre à mão. Eis a receita, em português

colonial. (Boa viagem a todos!)“Raizes para o pó: de mil-ho-

mens, aypo, jerubeda, angericó, limão, gengibre, malvaisco, ja-borandi, orelha de onça, aristo-loquia redonda, batata do campo, ipecacoanha negra e branca, Cipó de cobras, canella da India, cravo do Maranhão, cascas de angelicas do Brazil, flor de noz moscada, assafrão em pó, erva de sangue, semente de cidra, de erva doce, de cominhos, de salsa da horta, de pindaíba, urucu secco em torciscos. Extratos de ópio, alcaçuz, angélica, pindaíba. Balsamo do Brazil, goma Arábia, incenso, mirra, almessega da India, terbentina fina, Castorio, Terra sigillada, terra de S. Paulo, pedra de Cananor, Espirito de Marte, torciscos de jararacas, vinho branco, xapore de limõens, mel de abelhas. Olios chimicos de cascas de laranjas, de salsa-fraz, de pindaíba, de erva doce, de funcho, de canela, de salva, de cascas de limõens. Sal hercúleo, de cravo, de canella, de alecrim, de tobaco, de caroba, de chico-rea, de borragens, de pindaíba, de arruda, de cardo santo”.

O espírito das leis- Mas o que eu queria dizer era o seguin-te. A maconha não substitui a espiritualidade. A vida espiritual procura a liberdade no repouso de uma contemplação da verda-

de, do bem e da beleza. E isso é de graça. A dificuldade do cami-nho está em que recusamos rece-ber e queremos conquistar. Para isso, trocamos sabedoria por ciência, e saímos da economia da gratuidade e da admiração, para ficar no lucro. Não sabemos perder, para tomar o caminho de casa. Navegar ainda é preciso.

A geração 68, que fumou em Woodstock para vencer um Vie-tnã virtual, conseguiu a proeza de se suicidar espiritualmente numa das maiores experiências de desmobilização política da história. Melhor que Goebbels, Sex, Drugs & Rock’n roll S/A criou uma massa de consumi-dores amorais, cujo horizonte político não consegue passar de um neopaganismo ecológico e tribal. Os melhores, tornaram-se devotos da bondade natural de Rousseau e são hoje um rebanho de bem comportados bons selva-gens. Tudo bem baseado.

Mas nossa gaiata República, dirigida por homens gravemente sãos, preferem ficar abstêmios ante a eterna síndrome de abs-tinência espiritual; promovem a viagem sem retorno do progresso estúpido. Aqui, a tristeza não é melancolia, é inveja. Pior que a intemperança de quem fuma, é essa avareza mórbida, é esse barato que sai caríssimo. Melhor é o de graça.

Marcos Cotrim

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Dezembro de 2012 - O Ponte Velha - 5

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É tempo de flamboyant florido no campus da Associação Educacional Dom Bosco. As flores caídas das árvores formam um bonito tapete vermelho nas alamedas entre os pavi-lhões do campus. E a gente ouve contar que o Prof. Antonio Esteves, fundador da AEDB, a mantenedora das Faculdades Dom Bosco, falecido em 2009, recomendava às faxineiras que não varressem as alamedas, nesta época do ano, para não desmanchar o tapete de flores. Até hoje sua recomendação é respeitada.

Quem nos conta isso são seus filhos e sua esposa, que hoje continuam sua obra, admi-nistrando o grande complexo educacional

em que se transformou esta Faculdade que foi a primeira instituição de ensino superior privado de Resende, fundada pelo Prof. Esteves há quase 50 anos, com a coragem de um desbravador. A AEDB, que começou oferecendo apenas o curso de Economia, hoje mantém três Faculdades - que oferecem, ao todo, 15 cursos de graduação -, mais o Centro de Pesquisa, Pós-graduação e Exten-são e o Colégio de Aplicação, fechando, assim, o ciclo do ensino, da Educação Infan-til à Pós-Graduação.

Nesses muitos anos em que presto serviço para a AEDB, como jornalista,

sempre ouvi dizer, também, que, na Faculdade Dom Bosco, ninguém deixa de estudar por não poder pagar a mensalidade. A democratização do ensino superior era um sonho e a meta do Prof. Esteves. Este ano, a AEDB foi a instituição de ensino superior privado do Sul Fluminense que mais ofereceu bolsas de estudo pelo ProUni – Programa Universidade para Todos, do Governo Federal. Foram distri-buídas 400 bolsas para alunos aprovados no ENEM. E a AEDB conta, ainda, com um programa próprio de distribuição de bolsas, concedendo descontos nas mensa-lidades, conforme a necessidade compro-vada do aluno.

A preocupação com o social sempre foi uma característica marcante do Prof. Esteves, que jovem ainda, em Marechal Hermes, no Rio de Janeiro, onde nasceu, alfabetizava adultos numa escola improvisada no quintal de sua casa. Cadete na AMAN, participou da criação da Vila Vicentina, para abrigar idosos e desempregados, embrião do atual bairro Vicentina. Foi um dos criadores da Liga Resendense contra a Tuberculose e o idealizador da Feira da Providência que era realizada anualmente, com a renda revertida para as entidades assistenciais de Resende.

Voltando à AEDB, obra maior do Prof. Esteves, que hoje é administrada por seus familiares e uma equipe de profissionais competentes, comprometidos com a causa da Educação. A instituição está passando por uma fase de grande expansão, nos últimos

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quatro anos, período em que o número de cursos de graduação subiu de sete para quinze. A maior oferta de cursos elevou consideravelmente a procura dos estudantes por uma vaga nas Faculdades Dom Bosco. Em 2011, o número de novos alunos quase dobrou, com relação ao ano anterior.

Esse crescimento levou à necessidade de ampliação da estrutura física. Em 2011 e 2012, o campus da AEDB transformou--se em um grande canteiro de obras, com a construção de mais um prédio e a instalação de novos laboratórios para as aulas práticas dos cursos de Engenharia e de Biologia; da Agência Experimental de Publicidade para os alunos do curso de Comunicação Social e ainda de uma web rádio.

Inaugurado em outubro, o novo prédio tem cinco pavimentos – considerando o espaço de convivência multiuso, no térreo – e 40 salas de aula. A edificação foi projetada de forma a permitir a racionalização do uso de água e de energia elétrica. Foi equipada para fazer captação e reaproveitamento de água de chuva. Nas rampas de acesso e corredores, a iluminação é natural; e nas salas de aula, estão sendo usadas lâmpadas econômicas;

Dá gosto ver a vida que pulsa no campus da AEDB, localizado em local pri-vilegiado, com vista linda para o maciço do Itatiaia e a Pedra Selada, de onde se assiste a um pôr do sol que é um espetáculo à parte. Sem contar a beleza dos flamboyants floridos, aos quais vão se juntar os ipês amarelos que não tardam a florir.

Ocimar da Silva

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6 - O Ponte Velha - Dezembro de 2012

GUSTAVO: Felipe, a tua ligação com Resende é antiga, certo? O teu pai, inclusive, escreveu um romance ambientado aqui durante a revolução de 32.

FELIPE: Sim, chamado “Tenente Pacífico”. Meu pai nasceu em Resende. O meu avô era do Rio e veio morar aqui porque o clima era recomendável para o problema de saúde da minha avó. Meu avô era pastor da igreja metodista do Rio, e ficava indo e vindo de trem. Por conta dessa questão da igreja, meu pai ficou conhecendo todos os grandes proprietá-rios: Aarão, Orlandino, etc. Meu avô, inclusive, fez o casa-mento do Orlandino Klotz. E eu acabei me radicando aqui também. Frequento Resende e Serrinha desde menino e estou morando aqui há 29 anos.

GUSTAVO: Foram as recentes enchentes que levaram vocês ao projeto do Sesmaria?

FELIPE: Esse foi um fator que chamou a atenção para a importância do rio Sesmaria, da relação profunda que ele tem com a cidade, e do potencial de impacto que ele tem para a cidade. O rio Alambari, por exemplo, corta só um trechinho de área urbana, que não é uma área central, e não costuma causar problemas.

GUSTAVO: O assoreamento é a grande questão, certo? Esse assoreamento se dá mais dentro da área urbana ou ao longo da área rural?

FELIPE: É isso que nós queremos saber. O foco do projeto foi alavancado pela audiência pública que a Câmara dos Vereadores promoveu sobre as enchentes. E na audiência todos tinha muitas idéias: tem que reflorestar, tem que meter uma draga e desassorear tudo, tem que fazer barragens no rio, tem que derrubar alguns prédios dentro da cidade... Tinha um monte de idéias, todas faziam algum sentido. E aí o diretor da AGEVAP (Associação Pró-gestão das Águas da Bacia Hidro-gráfica do Rio Paraíba do Sul), que na época era o Fujita, disse o seguinte: “estamos com o edital aberto e achamos muito importante que seja feito um diagnóstico do conjunto da bacia, para que a gente possa ter um planejamento das ações que precisam ser feitas a curto, médio e longo prazo”. Ou seja, um planejamento. E é isso que nós estamos fazendo: um grande diagnóstico, para conhecer a bacia desde Resende até lá a serra da Bocaina, em São José do Barreiro. Ver quais os pontos fracos e quais as providências que precisam ser tomadas.

GUSTAVO: Quantas pessoas estão envolvidas?FELIPE: Somos 12 no total.GUSTAVO: Em que fase do projeto vocês estão?FELIPE: Estamos no curso dele. Começamos com uma dinâ-

mica muito interessante: um diagnóstico rápido participativo.MATHEUS: É um enfoque sócio-ambiental. Conver-

samos com os moradores das áreas urbanas (Resende e Formoso, em São José do Barreiro) e, principalmente, das áreas rurais. Interagindo com eles, ouvindo as histórias de

como o rio era antes e como é hoje, a questão das chuvas, do volume de água do rio, do modo de vida deles. E estamos elaborando mapas da bacia, do uso do solo, de altitude, decli-vidade, fragmentos florestais: uma etapa de mapeamento, que está quase pronta. Estamos também fazendo um estudo dos fragmentos florestais que ainda existem na bacia, para conhe-cer as espécies, o que pode ajudar em futuros programas de recuperação florestal, para a gente saber quais espécies são da região, desde as cabeceiras, no alto, até aqui embaixo, porque existe uma variação.

GUSTAVO: Próximo às cabeceiras as águas do Sesmaria ainda são bem limpas?

MATHEUS: Na verdade, o Sesmaria é a junção de dois rios que nascem lá na serra da Bocaina paulista.

GUSTAVO: Na Serra do Mar.MATHEUS: Isso. Um se chama rio Formoso e o outro

rio do Feio. Eles descem e vêm formar o Sesmaria já em Resende. São os dois rios principais que formam o Sesmaria.

FELIPE: Inclusive, lá em Formoso ninguém relaciona aquele rio que passa lá com o rio Sesmaria. Eles acham que o Sesmaria é “um rio que tem lá em Resende”...

GUSTAVO: Como a gente aqui também não pensa em como o nosso Sesmaria vem se formando pelo caminho. A gente perde a noção da bacia. Numa civilização mais integrada com a natureza a pessoa não diria que mora em Formoso, mas sim na bacia do Sesmaria.

FELIPE: Como os índios do Xingu, que se autodenomi-nam “Povos do Xingu”.

GUSTAVO: O Formoso e o Feio ainda têm muito peixe?INGRID: Hoje tem muito pouco, mas as pessoas relatam

que tinha muito. As águas eram mais limpas, eles pescavam, nadavam, pulavam da ponte. E relatam também que tem cada vez menos água.

GUSTAVO: E para cima da cidade há lugares balneáveis?MATHEUS: Tem dois ou três atrativos turísticos: o prin-

cipal se chama “Cachoeirão”, que por não ter mata no entorno já é meio sujo de terra, e também já tem algumas proprieda-des rurais acima. Mas o pessoal vai muito lá, tomar banho, tomar sol, tomar cerveja. Tem uma outra chamada “Cachoeira

da Mata”, que é mais para cima, já é no meio da mata. Essa é mais limpa, e já é uma outra água, que vai ajudar a formar a do Cachoeirão.

INGRID: Quando chega em Formoso o rio recebe muito esgoto, não dá mais para tomar banho.

GUSTAVO: E é do rio Formoso que eles pegam a água para beber?

MATHEUS: Não, é de um outro afluente formador da bacia, chamado ribeirão da Cachoeira, que nasce num outro lado da bacia.

INGRID: E inclusive às vezes falta água, tem racionamento.MATHEUS: Mas eu visitei a captação e acho que a falta

dágua é mais pela precariedade da capatação do que pela falta de água na cabeceira, porque o lugar é muito úmido lá em cima. Quanto à questão inicial que você colocou, sobre o assoreamento, ele acontece desde a cabeceira até aqui dentro de Resende. Na vila de Formoso, o rio já é bem assoreado. Os moradores relatam que antigamente pulavam de uma ponte onde hoje o rio não tem um palmo de água. As cabeceiras são muito declivosas e margeadas por pastos degradados, de forma que a água não tem como se infiltrar; ela já vai lavando o solo e levando terra para o rio direto. Essas margens estão sendo degradadas desde o tempo do café.

INGRID: São as áreas de terra mais férteis.MATHEUS: Depois continuaram a ser degradadas com

pasto para o gado de leite; agora o gado de leite está que-brando, está vindo o gado de corte...

O assoreamento acontece desde a cabeceira. Moradores de Formoso relatam que antigamente pulavam de uma ponte onde hoje o rio não tem um palmo d’água. As cabeceiras são muito declivosas e margeadas por pastos degradados, de forma que a água não tem como se infiltrar. Essas margens estão sendo degradadas desde o tempo do café.

Paralelamente às ações da Prefeitura de Resende para desassorear a foz do rio Sesmaria e conter suas margens na área urbana, a ONG ambientalista Crescente Fértil vem realizando um trabalho de diagnóstico ambiental de toda a bacia - que nasce na serra do Mar, com os rios Formoso e Feio. O assoreamento se dá desde as cabeceiras, por um problema secular de uso degradante da terra e pela falta de uma política de apoio ao pequeno produtor rural. O projeto da Crescente - financiado pela AGEVAP com os recursos da cobrança pelo uso da água - não só vai indicar as correções a serem feitas como também realizar plantio de áreas ciliares e apresentar planos de melhor uso da propriedade para alguns fazendeiros. Uma ação de médio e longo prazo, para minorar o problema das enchentes. O Ponte Velha conversou sobre a questão com três dos principais participantes do projeto: Luis Felipe César, fundador da Crescente; e os engenheiros florestais Matheus Ambrósio e Ingridy Coelho. Falou-se também sobre o Parque da Pedra Selada, a Lagoa da Turfeira e o pouco investimento ambiental urbano.

rAdiogrAfiA de um rio que PAssA em nossA vidA

Projeto Sesmaria

(continua na página 7, após o encarte)

Page 7: O Ponte Velha - dezembro de 2012

Sesmaria - verão de 2013

Instituto Campo BelloHistória e Memória

da Região das Agulhas Negras

pag. 13

Foi há 80 anos...Nossa região encontrava-se no meio do caminho

de dois projetos nacionais: o do gaúcho Getúlio Vargas, que assumira o governo em 1930, apeando Washington Luís do Catete; e o da burguesia pau-lista, que perdera poder após a crise da cafeicultura de 1929.

Para São Paulo, desde os anos 1870, haviam se transmigrado famílias inteiras de vale-paraibanos, clãs dos antigos povoadores que fundaram Resende em 1801, transformando a antiga Campo Alegre da Paraíba Nova em terra da promissão do café na região de “serra acima”, como se via desde o litoral, e então se dizia. Aqui no Vale reescreveram a saga de “Casa Grande e Senzala”. Daqui partiram para traduzir no Planalto, em pauta da Belle Époque, algo parecido com “Sobrados e Mocambos”.

Ao falar de Resende, o campista Alberto Lame-go interpreta nosso horizonte de crescimento em termos de “determinismo geográfico” (O Homem e a Serra, 1963). Não só – acrescentemos – por se achar entre as Minas e os portos do Mar, por onde se da-vam descaminhos do ouro, mas por ficar em terras com apreciável topografia que destoava do “mar de morros”, bem no entroncamento do melhor acesso entre Rio de Janeiro e São Paulo.

As duas cidades representavam, desde a colônia, duas mentalidades: o Rio de Janeiro, a oficial, cen-tralizadora e intervencionista dos Vice-Reis, que ali plantaram sua Corte desde 1763; e São Paulo dos entradistas e bandeirantes, que preservaram uma sobranceira autonomia, uma certa fidalguia que já foi chamada de “nobreza da terra”. Eram, respectivamen-te, a modernidade instituída pelo Marquês de Pombal, científica e militarizada, em contraste com um tradi-cionalismo cheio de atitudes liberais e epiquéias, que afirmava a iniciativa heroica, a honra familiar e a dig-nidade das Câmaras como valores predominantes.

O Vale do Paraíba era a haste desta balança, cuja primeira grande expressão no século XX foi a aber-tura em 1928 da Rodovia Washington Luís, ligando os dois centros ideológicos que disputavam o poder, depois que o Nordeste fora alijado e o Sul ainda não se mobilizara, desde a pacificação dos farrapos em 1845. Mas se mobilizou em 1930, trazendo Vargas, que amarrou o cavalo no obelisco da Avenida Rio Branco em 1º de novembro.

Começava uma nova República, que seria – como hoje sabemos – urbanizada, industrializada e populista. Mas penderia a balança que Vargas agora empunhava, para o Rio de Janeiro de Pombal, e não para a São Paulo de Amador Bueno.

Este 4º número de Sesmaria traz um pouco da história da Revolução de 32, com episódios e estu-dos envolvendo Resende, Itatiaia, Engenheiro Pas-sos e adjacências. Um conflito armado dessas pro-porções sempre marca a memória coletiva e deixa rastros. Bens foram confiscados, famílias foram de-salojadas e a sociedade local sofreu para enfrentar a situação sem precedentes. Um político trabalhista como Augusto de Carvalho dizia até o fim da vida: “São Paulo é inimigo”.

De fato, após a Inconfidência Mineira, que mo-tivou a vinda para Resende de um Pe. Marques e de um Cel. Brasiel; após a Revolução Liberal de 1842, que envolveu mineiros e paulistas, chegando a Sil-veiras e Lorena, e que nos trouxe a primeira profes-sora pública, Bernarda Brandão; após a Guerra do Paraguai (1865), que exigiu da Municipalidade seu Batalhão de Voluntários da Pátria, e após a Coluna

Contreiras em 1930, enfim, depois de tais choques, a Revolução de 32 quebrou a monotonia das fazen-das e a modorra das cidades.

Há 80 anos do conflito, nossa modernidade industrializada não conseguiu erguer ainda um monumento alusivo ao episódio; uma placa come-morativa sequer. Há relatos de testemunhas, alguns buracos de bala em paredes esquecidas e trincheiras perdidas na paisagem que voltou à perigosa norma-lidade.

A colonização da memória caminha com a da economia. Em qualquer país civilizado do mundo, a Estação de Boa Vista, depois Engenheiro Passos, onde foram capturados combatentes paulistas, não estaria em ruínas. Seu pinho de Riga, suas telhas de Marselha, seus lambrequins resistirão à peculiar omissão de um tempo em que tanto se fala em “res-ponsabilidade social”?

[email protected] Cotrim

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Sesmaria - verão de 2013 - pag. 14

Calibre 32 – Resende em Armas Júlio César Fidelis Soares

O estudo do prof. Julio Fidelis – da Academia Resendense de História (ARDHIS) e do Instituto de Estudos Valeparaibanos (IEV) – sobre a Revolução Constitucionalista de 1932, vai aqui parcialmente transcrito. Ao ler o trabalho na íntegra, nos surpreende a intensidade da luta em nossa região, disputada por seu valor estratégico.

Os paulistas exigiam do governo provisório de Vargas a Constituição – que só viria em 34 –, e a convocação de eleições – que só voltariam em 45. Exigiam a saída imediata do interventor federal João Alberto Lins e Barros, um pernambucano vencedor em 30, e a nomeação de um interventor paulista. Também critica-vam muito a forma autoritária com que Vargas governava o país, e clamavam por mais democracia e maior participação de São Paulo na vida política do Brasil.

Ante as negativas de Vargas, em maio de 1932 houve uma série de manifestações de rua contrárias ao seu governo. No calor de uma dessas manifestações, a forte reação policial levou à morte quatro estudantes – Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo – as iniciais de cujos nomes (MMDC) transformaram-se no símbolo da revolução (ver Cartaz reproduzido).

O tema já esteve na pauta dos estudos regionais, em de março de 1996, no contexto de um Simpósio do IEV, sediado na AMAN, Centro de Recuperação de Itatiaia, e As-sociação Educacional Dom Bosco, “A Presença Militar no Vale do Paraíba”. Os resendenses possuíam já, desde 1975, uma crônica dos episódios mais marcantes, escrita por Itamar Bopp, testemunha dos fatos (BOPP, Itamar. Resende – Cem Anos da Cidade 1848-1948, São Paulo Gráfica Sangirard, 1975). Este ano, Cláudio Moreira Bento (O 80º aniversário da revolução de 32 -Algumas considerações. Disponível em http://www.ahimtb.org.br/), e Júlio Fidelis Soares (Calibre 32 – Resende em armas. Disponível em http://www.valedoparaiba.com/ nossagente/estudos/calibre.pdf) publicaram estudos oportunos.

Historiadores paulistas como Ilka Cohen, Rogério Batistini Mendes e Ernani Donato debruçaram-se sobre a questão, fazendo coro à interpretação de que a Revolução fora promovida por elites oligárquicas paulistas, depostas pela Revolução de 30. Cláudio Moreira Bento observava, a propósito, “o valor do povo paulista no conflito que considero o mais notável exercício de Mobilização Geral ocorrido no Brasil e riquíssimo em lições de Logística”.

O texto do prof. Julio Fidelis vem nos proporcionar um acesso ao olhar local, à consciência do habitante daqueles anos 30, com uma competente reconstrução da memória da “guerra civil brasileira”. Por se tratar de excerto, o editor fez intervenções explicativas entre colchetes.

Falar da Revolução Constitucionalista de 1932 é lembrar-se de imagens, vídeos, reportagens de um confronto que pouca gente conhece e que na maioria das vezes acham até engraçado, pois só se falam de um lado, mas que história é esta que têm um confron-to que não existe inimigo do lado oposto? As cidades afetadas foram somente algumas? Onde entra o Vale do Paraíba, sobretudo a parte do Vale Fluminense?

Resende dos anos de 1932, passou a ser sede do comando do Destacamento do Exército do Leste, sob a direção do General Pedro Aurélio de Góis Monteiro figura importante para que o Estado Novo [1937-1945] se consolidasse e tomasse rumo nos seus anos de gestão do Brasil.

Quando se inicia o movimento no Estado de São Paulo, Resende sente os primeiros efeitos da movi-mentação de tropas uma vez que as mais importantes unidades militares paulistas vão se voltar para direção de Resende como primeiro ponto a ser conquistado com vistas a chegar à capital federal.[...]

Itamar Bopp nos relata que em 10 de março de 1932, entra na cidade sob o comando do Coronel Pin-to Coelho, um pelotão do 1º Regimento de Cavalaria Divisionária, que monta sua área de acantonamento em Campos Elíseos.[...] O destacamento é reforçado por mais três unidades do exército, quando se instala o Quartel General em dependências da Estrada de

Ferro, ou seja, na sede da Estação Ferroviária de Re-sende, neste momento é proclamada aos habitantes de Resende que a cidade está ocupada militarmente como medida preventiva e é divulgado quais as restrições sob ordem marcial. Mais de 800 homens são mobiliza-dos para manterem a ordem e disciplina em função do momento delicado.

No dia 16 de março chega à cidade o Presidente Getulio Vargas, em visita as tropas acantonadas. Teve contato com soldados concitando-os a manterem a ordem e dentro do possível tratar com tolerância os revoltosos, pois são brasileiros. Um fato interessante desta visita é que o Presidente Vargas fala aos oficiais

de sua pretensão de voltar a Resende para assistir o lançamento da pedra fundamental da nova Escola Militar em terras de Resende.1

No lado paulista as tropas progridem em sua infil-tração no distrito de Engenheiro Passos, em Formoso área de São Jose do Barreiro ainda dentro de terras paulistas mas que dariam o controle de um setor im-portante como a rodovia São Paulo – Rio e também por este município paulista ter função estratégica num movimento para captura de Resende. Dentro do seu processo de progressão as tropas paulista avançam sobre a freguesia de Sant´Anna dos Tocos [houve

Destacamento de Cavalaria do Exército em 1932

Page 9: O Ponte Velha - dezembro de 2012

A luta continua o Capitão Zenóbio da Costa inflige uma grande derrota às forças paulistas até então lo-calizadas em Engenheiro Passos na altura da Fazenda Palmital nos contrafortes do Itatiaia.

Resende, mais precisamente Itatiaia recebe a visita do Presidente Getulio Vargas que chega acompanha-do pelo Ministro da Guerra e o General Góes Mon-teiro. O Presidente Vargas visita a tropa acantonada no local e depois vai a Formoso na altura do Clube dos 200 para observar melhor a frente. Ação perigosa, pois estava à pequena distancia da área de ação do Regimento de Infantaria paulista oriundo de Lorena.

Em Resende o Comandante Militar de Ocupação baixa normas para os serviços postais telegráficos da

cidade fixando censura militar. Intensificam-se as pa-trulhas de cavalaria e infantaria que rondam a cidade, onde a partir de 9 horas da noite foi estabelecido um toque de recolher que só pode ser revogado mediante a um salvo conduto.

O bairro de Campos Elíseos foi ocupado pelas tropas e sua área do Horto Florestal do Ministério da Agricultura [onde depois se ergueu a Escola Militar] foram derrubadas árvores para dar lugar a um cam-po de pouso para operação de esquadrilha de aviões militares que iriam fazer operações de observação e ataque ao solo paulista. Os populares “Vermelhinhos” chamavam muita atenção dos locais, principalmente quando chega o primeiro deles pilotado pelo tenente Muricy, da aviação do Exército.

Neste momento enquanto umas unidades se deslo-cam rumo a frente de combate outras tropas chegam a Resende vindas de Alagoas, Sergipe e do Ceará, sendo que estes últimos são em especial mencionados por Itamar Bopp por sua fé em Padre Cícero, dizendo que em grande maioria usavam uma medalha do “Padrim” e não deixavam de ir as missas na matriz todos os dias.

Os primeiros prisioneiros paulistas chegaram à cidade e foram para cadeia de Resende, todos jovens estudantes de Direito da Faculdade Paulista do Largo de São Francisco e depois chegou ainda mais uma leva de 36 prisioneiros entre eles advogados, industriais e mais estudantes.

Varias entidades se engajaram no apoio as operações mais nenhuma foi tão atuante como a Loja Maçônica Lealdade e Brio que através de seu Venerável Mestre

Jose Ferreira de Matos cede as instalações da loja para alojar oficiais superiores e inferiores. [...] Mas não só de situações belas de solidariedade vive-se num momento com os de 1932,ocorreram problemas como o assalto da Fazenda Santa Maria, onde ocorreu o assassinato de Albino de Araújo,administrador da fazenda. As autori-dades no sentido de manter a ordem local procederam a investigações e apuraram-se os culpados do crime, um Cabo do Batalhão de Polícia de Sergipe José de Barros Cavalcante e o soldado Manoel de Almeida.

Outro fato que trouxe comoção a cidade foi à che-gada do corpo do Capitão Cícero Augusto de Góes Monteiro, morto em combate no setor de Silveiras, sendo feito as exéquias [...] na Capela de N. S. da Boa Morte da Santa Casa de Misericórdia.

O Hospital de Convalescentes de Itatiaia em Cam-po Belo é utilizado como Hospital de Sangue em apoio às tropas [...]. Este posto avançado deve ter sido deslocado para Itatiaia uma vez que os combates eram aguerridos na região de Engenheiros Passos, próxi-mos a fazenda Palmital, pois houve grande infiltração de tropas paulistas neste setor.

Segundo Bopp ocorre à distinção do 2º Tenente Cabral por bravura em combates na região entre Engenheiro Passos e Queluz, resendense que servia na 1ª companhia do 1º Batalhão do 1º Regimento de Infantaria. Nesta mesma região morre em função dos combates o Aspirante das forças Paulistas Almachio de Castro Neves, que foi sepultado no cemitério de Engenheiro Passos.

Resende esteve ocupada por tropas de 10 de março até 23 de Setembro de 1932 com pleno envolvimen-to da população nas ações que acabam por marcar a história do Brasil nos primeiro momentos da década de 30 do século vinte. Podemos dar conta disto pela contabilidade de atendimentos da Santa Casa duran-te esta fase em que segundo dados foram atendidos 1.963 soldados, sendo 451 feridos em decorrência dos confrontos entre um lado e outro. [...]

Assim entendemos que o estudo das Guerras, das lutas internas mesmo que sendo fratricida como o episódio de 1932 nos ajuda entender com olhares positivos e negativos a luz da História Social e Mili-tar os atos de bondade, dedicação, de benemerência por parte das populações que viveram um dos piores momentos da história de qualquer sociedade a guerra, que requer uma infra-estrutura como foram as usadas: fontes de energia elétrica, escolas, hospitais, templos religiosos, agremiações como a Maçonaria, o grupo de jovens escoteiros entre outras tantas. Por isto tudo devemos sempre ter olhares para o passado e relem-brarmos de tudo o que passou e de todos aqueles que mesmo anonimamente participaram dos eventos que marcou e marcará a história do Vale do Paraíba a Re-volução de 1932.

Sesmaria - verão de 2013 - pag. 15

combates na Fazenda da Grama] fazendo com que a população local fugisse para não sofrer os reveses das possíveis lutas. Bopp ainda nos dá notícias de que pa-trulhas da cavalaria paulista esquadrinhavam a região em missões de reconhecimento chegando à altura da fazenda Babilônia, a cerca de 10 km da cidade de Re-sende [pela estrada para Formoso].

Já o distrito de Itatiaia [então denominado Campo Bello] é que vê de fato os efeitos da Revolução, pois tropas da Infantaria paulista em conjunto com mili-cianos revolucionários ocupam a estação ferroviária da Central do Brasil [chamada “Barão Homem de Mello”]. Imediatamente o Comando do Destacamento do Leste procura ordenar a movimentação de tropas para repelir o avanço dando inicio a uma reação a 17 de março de 1932. Houve confronto e as tropas paulistas revolucionárias recuam em função da ação legalista, o saldo foi a recaptura do setor e o aprisio-namento de retardatários que em sua maioria segundo Bopp eram jovens e que já estavam desprovidos de munição, fato que vai ser recorrente nas tropas paulis-tas ao longo do confronto.

Ainda segundo Bopp na região de Engenheiro Passos havia muitos abrigos bem preparados e ele credita tais estruturas as tropas paulistas da Guarni-ção de Lorena.

Em função da delicada situação de confronto é instalada na Santa Casa de Misericórdia o Serviço de Saúde Divisional sob o comando do Capitão Médico Dr. Gentil Alves. O Dr. Jose Máximo Ballieiro médico resendense de maneira espontânea coloca seus servi-ços no auxílio as intervenções cirúrgicas realizadas no Ambulatório Militar [...].

Chegam junto mais reforços ao contingente local e ficaram alojados nos cinemas Odeon e Central, no Grupo Escolar Dr. João Maia e Grupo Escolar Eze-quiel Freire em Itatiaia. A residência do Dr. Oliveira Botelho também foi utilizada como abrigo aos militares bem como sua fazenda Santo Amaro, o contingente foi abrigado por força de que o filho do proprietário o te-nente Cesar Botelho fazia parte deste destacamento.

E as tropas chegam em maior número aumentan-do toda movimentação bélica na cidade pois para Re-sende vieram o 2º Batalhão do 1º Grupo de Artilharia da Paraíba do Norte, com efetivo de 400 homens sob o comando do Capitão Muniz.

Em função dos combates são capturados em Engenheiro Passos próximo a Estação 30 soldados paulistas, na sua maioria jovens de ascendência italia-na. Bopp diz que foram interrogados pelo Oficial de Dia ao Q.G. que lhes perguntou: “São Brasileiros?” e responderam de maneira altiva : “Somos Paulistas”. [...] as tropas legalistas avançaram em suas incursões e tomaram Sant’Anna dos Tocos aos paulistas, após violentos combates.

Um grande número de soldados é baixado para Santa Casa não por causa dos embates mas por causa dos carrapatos e só uns poucos foram baixados feridos por conta dos embates. Prestaram serviços ao Servi-ço de Saúde Divisionário, instalado na Santa Casa os escoteiros Apolo, Gleber Novaes, Jose Soares e outros meninos do Grupo Escolar Dr. João Maia que servi-ram a secção de saúde do Exército.

1 - No dia 29 de Junho de 1938, o presidente Getulio Var-gas e comitiva participam do lançamento da pedra fundamental da Universidade Militar da Agulhas Negras, que depois passa se chamar de Escola Militar de Resende e em 1951 ganha o nome atual de Academia Militar das Agulhas Negras.

Peça 150 mm Schneider Artilharia Paulista.

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Sesmaria - verão de 2013 - pag. 16

Os dois painéis históricos que o prof. Jacson de Andrade e Silva

publica neste número de Sesmaria chamam atenção pelo propósito da pesquisa,

pela apresentação gráfica bem elaborada e por seu caráter didático.

O trabalho ilustra oportunamente estes anos de que a presente edição trata.

Dois painéis Históricos

***

“Na cidade de Areias, contavam que, quando

jovens, não havia muitas distrações na cidade, a

não ser o cinema. Juntavam uma turminha de ami-

gos e iam para a cidade. Na hora da ida não havia

problemas, ainda era dia, mas no retorno sempre

tinham medo. Inúmeras vezes, eram assustados

na sinuosa Rodovia dos Tropeiros, por grandes

e intensos faróis amarelados, que brilhavam, mas

nunca aparecia o carro. Contam os mais velhos

da cidade que havia muita explicação para esses

faróis. Uma delas é que poderia ser um dos cami-

nhões que circularam pela região por época da Re-

volução de 32, carregando fantasmas de soldados,

imagem esta, que ainda assombra os que viram e

os que escutaram de seus pais os terríveis acon-

tecimentos daquela época” (Sônia Gabriel, Jornal

Vale Mais, 12 de março de 2011).

***

A. b. surdo

(Noel Rosa e Lamartine Babo)

Nasci na Praia do Vizinho oitenta e seis

Vai fazer um mês (Vai fazer um mês)

A minha tia me emprestou cinco mil-réis

Pra comprar pastéis (Pra comprar pastéis)

É futurismo, menina, É futurismo, menina

Pois não é marcha, nem aqui nem lá na China

Depois mudei-me para a Praia do Caju

Para descansar (Para descansar)

No cemitério toda gente pra viver

Tem que falecer (Tem que falecer)

É futurismo, menina, É futurismo, menina

Pois não é marcha, nem aqui nem lá na China

Seu Dromedário é um poeta de juízo

É uma coisa louca (É uma coisa louca)

Pois só faz versos quando a lua vem saindo

Lá do céu da boca (Lá do céu da boca)

Na São Paulo da industrialização e do pro-

gresso, um espírito de renovação assinalava a

ruptura modernista sob o rótulo do “futurismo”

, o que “facilitava enormemente a tarefa, a que se

impunham, de renovação e, sobretudo, adequava-

-se à saciedade à paisagem paulista, à mentalidade

urbana que São Paulo criara em seus filhos” , diz

Mário da Silva Brito.

Os modernistas reforçavam essa imagem,

como Oswald de Andrade, em 1921: “Nunca,

nenhuma aglomeração humana esteve tão fatali-

zada a futurismos de atividade, de indústria, de

história e de arte como a aglomeração paulista.

Que somos nós, senão forçadamente futuristas -

povo de mil origens, arribado em mil barcos,

com desastres e ânsias?”

Guilherme de Almeida também reunia-se a

esse coro, em 1926: “São Paulo, que um deus amá-

vel destinara a fomentar no país todas as liberda-

des - a libertação das terras pelas bandeiras e a

libertação política pelo gesto de 1822 ditado pelo

Patriarca - São Paulo devia, ‘par droit de conquête

et naissance’, ser também, no Brasil, o berço da

libertação intelectual.”

O filho de Guaratinguetá, José Brito Broca

(1903-1961) escreveu uma crônica da revolução de

1932, (“Memórias”,1968, póstumo), recordando a

Guaratinguetá da sua infância. No conflito, Gua-

ratinguetá foi bombardeada pelas tropas legalistas,

o que o levou a se abrigar com a família no sítio de

parentes. Reconstruiu a sua província, a sua cidade

por meio de suas memórias:

‘A cidade ainda não tinha perdido total-

mente o seu jeito de vil a e o seu contato com

o campo. As ruas e os bairros ainda eram

extensões das casas e os vizinhos eram meio

como parentes de todos. Os bairros periféri-

cos terminavam onde começavam os campos,

os sítios, a roça. ... As mulheres cuidavam das

casas. As avós contavam histórias de assom-

brações, do saci e do tempo dos escravos. ’”

Quadros de Época

Page 11: O Ponte Velha - dezembro de 2012

Dezembro de 2012 - O Ponte Velha - 7

(continuação da pág. 6)

FELIPE: Teve também a chegada da cultura do eucalípto.GUSTAVO: A solução então seria um plantio de

mata ciliar?INGRID: Acho que a gente não deve falar em “solução”

porque são muitos fatores, humanos e ambientais; é complicado. Acho que devemos falar em ações para melhorar esse quadro.

MATHEUS: O que ser deve fazer é um plantio associado com outras práticas, principalmente de conservação de solo, para segurar a terra ali, fazer com que a água infiltre e evite a erosão. Porque se você faz o plantio numa terra frágil, a chuva forte acaba levando o plantio também embora.

GUSTAVO: Quais são essas outras práticas?MATHEUS: Valetas nos morros, por exemplo, para que

a água perca a velocidade quando vem descendo e se infil-tre; plantar faixas de vegetação, pode até ser de capim, em determinados pontos dos morros, também com a função de fazer a água perder a velocidade. O importante é fazer a água se infiltrar, ir para os lençóis freáticos.

GUSTAVO: Não é preciso também dragar o rio?MATHEUS: Na área urbana, com certeza. Durante nossas

entrevistas para o projeto, muita gente disse que antigamente ficava uma draga o tempo todo na saída do Sesmaria para o Paraíba, e que nessa época não aconteciam enchentes. Eu acho que dragagem é importante ali, mas tem que ser contí-nua, não só uma vez ou outra.

GUSTAVO: A prefeitura fez dragagem ali recen-temente. E muita gente reclamou: “ meus Deus, estão mexendo no rio, não pode!”.

FELIPE: A sociedade está muito atenta. Pessoalmente eu tenho dúvidas se foi feito da melhor maneira, se precisava ter aberto tanto ali no Paraíba, mas o concreto é que precisava fazer a dragagem, assim como precisava dos muros de arrimo

que foram feitos. Analisando de uma forma mais imediata, tudo indica que foram obras necessárias. O nosso projeto, por outro lado, indica intervenções para resultados de mais longo prazo, para que não precise ficar eternamente dragando. É bem a sustentabilidade mesmo.

GUSTAVO: Uma crítica que eu ouvi ao projeto de vocês era de que ele ia só fazer um diagnóstico. O diagnóstico é uma coisa fundamental, mas as pessoas estão querendo ver ações concretas. Comentei outro dia isso com o Felipe e ele disse que vocês também vão fazer plantio de matas ciliares.

FELIPE: Olha, uma coisa é fazer um diagnóstico pura-mente técnocrático. Hoje tem muito recurso. Bastaria pegar as imagens, juntar com a legislação e dizer o que tem que fazer. Mas nós estamos fazendo um diagnóstico participativo, que dá muito mais trabalho mas que é a única forma sustentável

de diagnosticar, porque envolve diretamente os interessados. É com eles que a gente vai trabalhar, são eles que vão ajudar a manter os procedimentos que têm que ser feitos. É a técnica junto com o conhecimento local. Quando, daqui pra frente, a gente buscar mais recursos para mais ações, a gente já tem ali uma rede social de apoio que é fundamental para dar certo. E o nosso projeto não é só o diagnóstico, nós também vamos plantar uma área de quatro hectares, dois no município de Resende e dois no de São José do Barreiro. Tem diversas propriedades que estão na fase final de seleção.

MATHEUS: Nós fizemos uma ficha cadastral de quem tem interesse em reflorestar a área de sua propriedade e estamos agora mapeando com GPS as áreas em que vamos atuar. O replantio vai ser terceirizado, nós vamos supervi-sionar, e vai haver manutenção por dois anos para que as mudas não se percam.

INGRID: E foi muito legal porque o processo de entrevistas, do diagnóstico participativo, permitiu que a gente construísse uma relação amigável com os proprietá-

rios. Hoje mesmo, um deles nos ligou querendo entrar no processo de replantio.

GUSTAVO: A lei do Código Florestal obriga ao reflores-tamento. Houve tantas idas e vindas que eu nem sei ao certo quanto das margens têm que ser reflorestadas no caso do Sesmaria. Vocês estão se pautando por isso?

MATHEUS: Olha, no plantio a gente não vai se fixar na lei não. Mas eu vou mostrar a eles, no GPS, a área que eles estão disponibilizando e vou mostrar o que a lei determina. Para eles verem se está ou não adequado com a lei. Eles poderão querer se adequar logo, e, se não quiserem, pelo menos vão ficar sabendo que um dia poderão ter que aumen-tar aquela área de mata ciliar. Por outro lado, a gente tem que ter cuidado em algumas áreas de várzea onde o rio costuma transbordar nas enchentes, porque pode vir uma enchente e a

gente perder todo o investimento de plantio ali.GUSTAVO: A maior parte dos proprietários aceita bem

ou reage à intervenção de vocês?MATHEUS: A maior parte está preocupada é com as nas-

centes das suas terras, com as grotas de onde vem a água que usam; não está muito preocupada com o rio principal, não.

GUSTAVO: A nascente é o interesse pessoal; o rio é o interesse coletivo.

FELIPE: Sim, é um fato. Mas também tem a questão da escala: de alguma maneira, a pessoa sente-se impotente diante dos problemas ambientais, pelo tamanho dos problemas. Então, ela sabe, no fundo, que recuperar aquele trechinho de mata ciliar do rio principal não pesa muito para resolver um problema que é grande; mas se ela recupera um pedacinho na nascente da propriedade, ela vai ver o resultado. Então, ela privilegia essa escala que ela tem o controle.

MATHEUS: Por outro lado, o proprietário se preocupar com a nascente dele já ajuda o rio principal, já vai aumentar o volume de água do rio principal.

INGRID: E também nessas nascentes é visível a diminui-ção do volume de água. Muita gente reclamando disso; teve nascente que sumiu.

GUSTAVO: Mas eles não preservam essas nascentes da água que usam? Elas não estão dentro da mata?

MATHEUS: Mais ou menos... Como a gente disse, o lugar lá é muito degradado. Não é igual aqui, onde tem muito fragmento de mata (referindo-se à Serrinha e seu entorno). Aqui a semente cai na terra e germina. Lá a terra é muito compactada: a semente cai, o sol está quente, não tem sombra, a vaca passa ali, ela não nasce. Lá não tem esse potencial de mata que nós temos aqui, onde não houve esse uso tão intensivo do solo.

GUSTAVO: É possível que essas áreas ciliares sejam pro-dutivas, certo? Cacau, por exemplo, nasce no meio da mata; abelhas podem aproveitar as floradas. Enfim, que aquele trecho cedido não fique improdutivo.

FELIPE: É a agrofloresta. O Código Florestal cria essa possibilidade, de que uma boa parte da recuperação seja com

O que fica nítido nesse processo é o quanto o produtor rural carece de mais assistência do que aquela que os órgãos de fomento, de extensão, conseguem dar. Inclusive em tecnologia.

(continua na página 8)

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8 - O Ponte Velha - Dezembro de 2012

(continuação da página 7)

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agrofloresta. Um aproveitamento não madeireiro da floresta: frutos, folhas, cascas. Essa é uma possibi-lidade que a nova lei abriu.

INGRID: E a gente sente que o produtor precisa daquela área de pasto. A terra já é tão degradada que aquela área vai fazer falta a ele. A gente vê esse aperto dele, e então é interessante essa alterna-tiva de aquela faixa ter rendimento econômico.

GUSTAVO: Ou oferecer a ele incentivos para cuidar do gado de maneira mais intensiva, com técnicas mais modernas. Uma política de governo para esse pequeno produtor.

FELIPE: O que fica nítido nesse processo é o quanto o produ-tor rural carece de mais assistência do que aquela que os órgãos de fomento, de extensão, conseguem dar. Inclusive em tecnologia. Essa idéia de que ceder um pedaço da beira do rio é prejuízo é, de fato, uma consequência da falta de assistência. Tecnologias melhores conservam o solo, que vai produ-zir mais. Com assistência e mais tecnologia os produtores poderiam ganhar muito mais ocupando menos áreas, podendo destinar a beira dos rios para proteção, e tendo benefício climáticos, de água, de qualidade de vida. Por sinal, dentro do projeto, nós estamos oferecendo a dois proprie-tários, que vão ser selecionados, um Plano de Uso da Terra: o mape-amento de sua propriedade com sugestões do que é melhor fazer em cada parte, como um pequeno plano de manejo, um roteiro de propriedade produtiva e sustentá-vel. A idéia é que eles adotem os

planos e daqui a uns anos a gente possa te-los como exemplos.

GUSTAVO: Quero pegar essa deixa para falar do Parque da Pedra Selada. A reclamação dos produtores lá foi de que não teria havido algo tipo o diagnóstico par-ticipativo que vocês estão fazendo no Sesmaria. E também faltaria

esse tipo de apoio técnico que vocês estão planejando fazer.

FELIPE: Olha, os proprietá-rios rurais colocam um argumento muito válido: por que fazer Parque se eu já preservo? Ao que o Estado responde argumentando que o pro-prietário não estará para sempre ali; os filhos podem pensar diferente, por exemplo. No caso da Pedra Selada o Estado sugeriu que quem já preserva criasse uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural). E na época dos primeiros encontros e audiências públicas foi dito que o Parque não incluiria as áreas onde houvessem RPPNs ou onde elas estivessem em processo de criação. Como de fato aconte-ceu. O Parque, no seu desenho, desviou de várias RPPNs aqui na Serrinha. Infelizmente não houve iniciativa de criação de nenhuma RPPN nas outras áreas do Parque, porque isso comporia o interesse do particular em proteger a sua

floresta com o interesse coletivo de proteger uma das últimas áreas importantes da Mata Atlântica.

GUSTAVO: Aquela área já foi decretada APA (Área de Proteção Ambiental). Isso já não garante a proteção?

FELIPE: O que a gente tem visto na prática é que os Parques

têm maior efetividade na proteção. O Parque implica numa estrutura de visitação, numa sede, numa estrutura de trilhas. Acaba cum-prindo um papel muito maior do que simplesmente proteger uma área. Ele tem um papel na forma-ção da opinião pública, na educa-ção ambiental. Coisa que somente um lugar com alguma estrutura de visitação consegue proporcionar. Vai atingir uma gama da sociedade muito maior do que aquela que mora na região.

GUSTAVO: A criação do Parque não signficaria, por outro lado, uma certa desistência da cultura rural que sempre vigorou ali?

FELIPE: Olha, se você observa o desenho do Parque, 90% da área do Parque é floresta. Então, já são áreas que não têm utilização para produção rural. A área de pastagem dentro do Parque é muito pequena, e sobra uma área de pastagem, de produção rural, enorme em torno

do Parque. A mensagem que eu vejo é que, havendo o Parque, essas áreas do entorno vão ter todo tipo de estímulo para a produção agroeco-lógica, agricultura sustentável, leite orgânico, programas de ecoturismo. Virão recursos para o Parque e para o entorno, de forma que quem está ali vai poder colocar sua propriedade num outro patamar de qualidade.

GUSTAVO: E qual é a área desse entorno? Já está definida?

FELIPE: É toda a faixa que contorna o Parque. Agora, a largura dela é o Plano de Manejo que vai definir. Mas para a pessoa se beneficiar de ser vizinha do Parque ela nem precisa estar no entorno formal do Parque.

GUSTAVO: Você me dizia outro dia que no Parque de Itatiaia está havendo um processo interessante na revisão do Plano de Manejo, inclu-sive sobre esse conceito de entorno.

FELIPE: Exato. Uma das coisas interessantes é a mudança no conceito de “entorno”. Até agora o entorno do Parque era con-siderado uma linha aleatória de 10 quilômetros. Ou seja, isso pegava até dentro da Cidade Alegria, em Resende. Agora, essa linha está sendo revista observando-se cri-térios muito mais consistentes, de influência territorial, características ambientais, de importância de fato para o Parque. Isso não implica em nenhuma limitação de uso, mas para que o Parque participe de algumas decisões de impacto mais significativo. Outra coisa legal que está acontecendo lá é a compra de terras. O Parque Nacional tem um passivo monstruoso nesse aspecto de regularização fundiária, e de uns

anos para cá o Parque vem com-prando áreas, inicialmente aquelas que os proprietários querem vender.

GUSTAVO: E a pessoa que vai ser obrigada a vender a proprie-dade, que já é da família há muito tempo, em alguns casos até ante-rior ao Parque?

FELIPE: Isso é da legislação dos Parques. O Parque é uma área pública. Então, é normal ser desapropriada e o proprietário indenizado. Acontece que nesses 70 anos houve uma omissão histórica do governo federal, que não tomou as providências de regularização, e isso fez com que as pessoas fossem se sentindo à vontade para construir, para parcelar a terra. É triste, mas essa crise toda eram favas contadas, que em algum momento ia acon-tecer. Agora, na medida em que esse processo aconteça de forma gradativa, com as pessoas podendo ir se adaptando, tanto melhor.

GUSTAVO: Felipe, você faz parte do Conselho Municipal de Meio Ambiente e tem acompanhado a questão da lagoa da Turfeira. Como é que está? Vai ser feita alguma correção ao dano causado?

FELIPE: Olha, o Conselho, num primeiro momento, votou por uma série de exigências, de estudo de impacto ambiental. Mas um pouco mais tarde o Conselho acabou votando que não preci-sava mais daquelas informações complementares. E o que se tem hoje é que a obra está prosse-guindo com base na licença que foi dada pelo INEA, e o Con-selho não tem recebido novas informações sobre o assunto.

GUSTAVO: E do jeito que vai

O entorno do Parque da Pedra Selada vai ter todo tipo de estímulo para a produção agroecológica, de forma que quem está ali vai poder colocar sua propriedade num outro patamar de qualidade.

Page 13: O Ponte Velha - dezembro de 2012

numa rua do centro da cidade tinha árvores de três em três metros. As copas se tocavam. Hoje a gente tem que adensar, arborizar inten-samente, buscar uma relação mais equilibrada entre os investimentos de infraestrutura e os ambientais, para mitigar os impactos daquela infraestrutura.

MATHEUS: Eu, se fosse o prefeito, exigiria que tivesse uma ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) dentro do condomínio Alphaville (próximo à AEDB, às margens do Sesmaria) e uma bacia de contenção para a água não ir toda direto para o rio, para reduzir a velocidade dela, coisas assim. Ali é uma área de expansão urbana, uma imensa área que estão asfaltando, impermeabilizando o solo, canalizando. Eu acredito que vá influenciar muito na questão da enchente.

FELIPE: A água vai chegar ao rio com muita velocidade e em maior volume.

MATHEUS: Eles só sabem que o importante é fazer a manilha bem grande.

FELIPE: É curioso que naquela parte da cidade, por trás do condo-mínio, você já tem pasto com gado. Não há subúrbio. É uma transição radical para a roça. É o lote com muro e o pasto com gado. Eu acho que a cidade tem que crescer para aquele lado mesmo, mas crescer com sustentabilidade.

Dezembro de 2012 - O Ponte Velha - 9

Rua A

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RJ:: Loterias

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ficar você acha que acaba a vida silvestre ali?

FELIPE: Era para responder a essa pergunta que nós queríamos o estudo de impacto. Porque a área é muito complexa. É uma grande área alagada, brejosa, na qual existem alguma pequenas lagoas e uma grande lagoa - em parte criadas de forma artificial, mas que já têm uma colonização de vida importante. E saber até que ponto você pode aterrar uma parte desse sistema sem comprometer o funcio-namento dele é que é a questão. E é uma pena que a falta desse estudo - que poderia ter sido feito - fique gerando dúvidas sobre um empre-endimento que é importante para o município e que poderia estar vindo cercado de certezas.

GUSTAVO: Como é a formação do Conselho?

FELIPE: Um terço de organi-zações da sociedade civil, um terço empresarial e um terço de órgãos do governo. E, de uma certa forma, nessa votação que dispensou o estudo, as organizações governa-mentais e empresariais tiveram maioria sobre as organizações da sociedade civil.

GUSTAVO: Quando vocês pensam na área urbana de Resende sob o ponto de vista ambiental, o que lhes vem a mente?

FELIPE: Eu vejo Resende copiando as pseudo-soluções que a maioria das cidades realiza, que é aumentar a sua infraestrutura para a continuidade do crescimento dos carros, da população e da poluição. Não vejo nenhuma ação consistente que vá na direção da sustentabilidade, que seria uma ação massiva na mudança da lógica do transporte público (que é muito mais do que fazer uma ciclovia),

uma ação massiva de plantio de árvores. Eu vejo cada vez menos árvores em Resende. Eu fico preocupado ao ver a cidade ter um crescimento enorme de estrutura urbana e um crescimento muito pequeno de ações que equilibrem essa balança. A grande questão é que a gente precisa do cresci-mento econômico, que a população exige, mas o percentual de uso dos recursos desse crescimento aplicados em meio ambiente é baixíssimo, é ínfimo. Eu vou trazer aqui um exemplo muito banal:

aquela avenida Chico Fortes, que foi asfaltada há pouco, é uma obra de cerca de cinco milhões. Repare nas árvores que foram plantadas no canteiro central dessa avenida. São umas arvorezinhas que devem ter custado vinte reais cada uma, estão a vinte metros umas das outras e muitas já quebradas sem substitui-ção. Essa desproporção é que é a grande ameaça à sustentabilidade humana. No mínimo tinha que ser feito um bosque ali, de ponta a ponta. Eu estive agora em Lima, e

Na votação que dispensou o estudo (sobre os impactos

na lagoa da Turfeira), as organizações

governamentais e empresariais tiveram

maioria sobre as organizações da sociedade civil.

Dava a impressão de que eram os Novos Baianos, surgidos por um milagre ali no pátio do Pé de Kanela. A mesma energia, a mesma harmonia conjugada à liberdade de cada músico, a mesma alegria da comunhão com o público. Japão era um saci, pulando e cantando umas coisas do Cordel do Fogo Encantado, vindas lá do fundo do baú do norte do Brasil. Davi inventava na sustentação do baixo - assim como inventa na construção de instrumentos, inclusive aquele seu baixo. Adriano quebrava nas baquetas, Rômulo no atabaque, Jamile nos vocais. O Rafa nem precisava subir no meio fio porque crescia era com a guitarra. E tudo aquilo jogado pra cima pelos atabaques do Uirá, do Neto e de outros, que também faziam sacudir os ombros, os quadris e as almas das cabroxas de saias coloridas. Bom demais, ninguém queria que acabassse. E não eram os Novos Baianos, era a banda Pedra So-nora, que atuava ali junto com o grupo de maracatu Pedra Sonora, que inclui as moças bailarinas. Acho que é por aí, tudo uma coisa só. Eu quis fazer uma foto à altura mas não consegui. Vocês então imaginem. E me façam o favor de não perder a apresentação deles quando a virem anunciada, porque eles estão voando. (G.P)

Eles Estão Voando

Outra coisa boa na área da cultura em Penedo é a Estante da Leitu-ra, uma biblioteca que a Paula Malfitani, o Lydio Alberto e o Rodrigo da Agropecuária inventaram. Funciona nos fundos da Agropecuária Penedo, no Formigueiro, e tem livros muito bons. É só pegar o livro e assinar numa prancheta lá a data da retirada e depois a da entrega. Não tem nem que encher ficha. E o número de livro vem aumentando, com doações. Já tiveram que fazer mais uma estante e em breve o Rodrigo vai ter que aumentar a área da loja. Você vai comprar ração pro ca-chorro e leva junto a “Idade da Razão”, do Sartre, olha que chique.

Ração com Razão

Jornalista responsável: Gustavo Praça de Carvalho - Reg.: 12 . 923

Layout: Afonso Praça24 . 3351 . 1145 // 9301 . 5687

[email protected] www.pontevelha.com

expediente:

Page 14: O Ponte Velha - dezembro de 2012

Joel PereiraAdvogado - OAB.RJ - 141147

[email protected]. Ten. Cel. Adalberto Mendes, 21/201

CEP: 27520-300 - Resende - RJ Fones: (24) 3360.3156 / 3354.6379

10 - O Ponte Velha - Dezembro de 2012

Av. Casa das Pedras(a 800m do Portal de Penedo)

24 . 3351 2072

Kris

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Sim

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Vendemos pelo Construcard da CAIXA e pelo CDC do Banco do Brasil

Às vésperas de mais um Natal, os resultados de uma pesquisa emocionante foram publicados essa semana

por uma equipe da universidade de Oxford, na Inglaterra: Papai Noel realmente existe. Financiada pela Coca-Cola e pela Walmart, a pesquisa utilizou moderníssimos métodos de localização GPS para encontrar a casa do velhinho mais conhecido do planeta. Sua resi-dência fica na remota cidade de Karosjok, no norte da Noruega, e não na Finlândia, como se pensava.

Abordado pela equipe de pes-quisadores, Papai Noel não quis ser filmado nem fotografado, mas aceitou conceder uma pequena entrevista (publicada na íntegra junto com os resultados da pesquisa), na qual responde a diversas perguntas intrigantes, principalmente o porquê de tantas crianças pobres não receberem presentes no Natal.

Papai Noel explicou que a grande maioria das crianças pobres do mundo vive em países tropicais, cujas casas dificilmente possuem lareiras, e que esse é o grande impedimento de entrega de presentes. Ele sugeriu que os governos desses países criem pro-

A Mentira com Responsabilidade

Pesquisadores de Oxford confirmam existência de Papai Noelgramas de financiamento de lareiras para as casas, para que milhões de crianças do mundo todo que não têm sequer o que comer na festa natalina possam ao menos receber brinquedos.

Curiosity encontra vestígios de vida inteligente em Marte

O robô Curiosity, que desde agosto deste ano está na superfície de Marte, finalmente parece ter encontrado sinais de vida inteligente no planeta. Ontem foram enviadas imagens de uma caverna marciana, no interior da qual desenhos seme-lhantes às nossas pinturas rupestres da Terra levam a crer que uma extinta civilização viveu lá.

Foram detectados diversos desenhos, numa sequência obviamente cronológica. O último desenho se assemelha bastante ao de um cogumelo gigante, sugerindo para alguns especia-listas que possa representar uma grande explosão nuclear. Como a partir daí a sequência termina, supõe-se que essa explosão pode ter sido a última coisa registrada pela civilização marciana, que teria então se extinto.

Alguns cientistas já encaram essa descoberta como um alerta para a civilização humana.

Resende, o metro quadrado mais caro do Brasil

E parece mesmo que a alta do preço dos imóveis em Resende não tem volta. A revista Corretoras & Cia deste mês traz uma tabela em que a cidade já aparece entre as dez cidades mais caras para se adquirir um imóvel no país, com um gráfico exponencial no qual se prevê o metro quadrado mais caro do Brasil até 2015. Uma pro-jeção otimista para esse ano calcula, por exemplo, em cerca de um milhão e meio reais um apartamento sala e quarto em Campos Elíseos.

A causa principal para o aumento dos imóveis é apontada como sendo a chegada de grandes empresas para a cidade. Em breve, irão se instalar em Resende a Ferrari (carros esportivos), a Mercedes-Benz (carros de luxo), a Volvo (caminhões), a Bombardier (helicópteros) e ainda uma filial da ESA (Agência Espacial Europeia, na sigla em inglês) que produzirá peças para satélites de comunicação.

Está prevista, também, a cons-trução de um hotel de 80 andares, na altura de Bulhões, pela empresa Turner Construction Company, a mesma responsável pelo Burj Khalifa de Dubai, o maior prédio do mundo.

O programa “Minha Casa, Minha Vida de Luxo”, do governo federal, que financia a construção de mansões, pre-tende se instalar também na cidade em breve para poder atender a uma classe historicamente esquecida dos planeja-mentos brasileiros da casa própria.

Bom, tá aí. O tão cantado asfalto, que nos meus trinta anos e tal de Mauá sempre foi reivindi-cado e muito contestado. Quanto a mim, sempre estive dos dois lados, conforme a situação apresentada.

Mesmo porque, apesar de contar com a licença poética, nunca achei poético uma estrada péssima, longa e única para chegar aos meios com que não contamos aqui.

Estamos rodando pela rodovia asfaltada que dizem ser parque. Bom, dos projetos apresentados, aos bla bla blás e à conclusão e entrega das obras, ficamos com um parqui-nho infantil - e palmas e palmas. E agora será que termos mudanças significativas?

Claro que sim, como tudo sob a abóbada celeste, e de ano para ano. É impossível não observar que quando aportei minhas posses físicas e espirituais em Visconde de Mauá, fluía aqui, no ar, na terra e na água, um toque leve, claro, alegre e meditativo. Os anos foram se passando e hoje só a topografia

nos distingue de certos comporta-mentos urbanos, porque em termos humanos e sociais estamos esbar-rando no que move o não essencial.

O rio Preto, responsável pela vinda de milhares de visitantes,

anda meio ruim das pernas. Já não libera aquela brisa fresca. Em certos pontos, nem o ar está prazerozo de respirar. Claro que de certa forma acompanhamos um fenômeno que ocorre globalmente - o homem afastado do humano (Deus); na verdade, um barco à deriva que, aqui, ali e acolá, de vez em quando afunda.

Como o sono é profundo, ninguém vê. Ou faz que não. A troca dos princípios pelos valores fez com que a região se desenvol-vesse individualmente. “Negócios particulares”. Mas aonde o coletivo tem que funcionar, estamos sem nada. Perdemos poderes políticos, não há lideranças e os órgãos governamentais não estão nem aí pro pedaço.

Mauá terá que voltar a afirmar--se como pólo alternativo, como já foi - e bem sucedido. Toda essa demanda de visitantes que ocorre hoje é em função deste trabalho anterior. O nome de Mauá, levamos longe como marca de carinho e respeito ao turista. A estrada ajuda.

Se não nos ligarmos, estamos fadados ao lugar comum. Conta-mos com algumas associações, e coisas e tais, mas a onda mesmo é nos firmarmos politicamente e irmos à luta para fazer da grande Visconde de Mauá um município indepen-dente. Não está difícil. Na Câmara e no Senado há parlamentares que acenam positivamente para este aspecto, principalmente em localida-des distantes mais de 30 km da sede, que é o nosso caso geral. Temos eco-nomia suficiente para gerar receita e daí legalizar o paraíso.

Então, dependerá de nós comer-mos a maçã ou não.

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Dezembro de 2012 - O Ponte Velha - 11Jo

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Seu carro agradece e seu paladar tambémCREDIBILIDADE

Esta invocação é uma Prece MundialExpressa verdades essenciais.

Não pertence a nenhuma religião, seita ou grupo em especial. Pertence a toda humanidade como

forma de ajudar a trazer a Luz Amor e a Boa Vontade para a Terra. Deve ser usada

frequentemente de maneira altruísta, atitude dedicada, amor puro e pensamento concentrado.

A Grande Invocação

Desde o ponto de Luz na Mente de Deus,que aflua Luz às mentes dos homens.

Que a Luz desça à Terra.

Desde o ponto de Amor no Coração de Deus, que aflua Amor aos corações dos homens.

Que aquele que vem volte à Terra.

Desde o Centro, onde a Vontade de Deus é conhecida, que o propósito guie

as pequenas vontades dos homens.O propósito que os Mestres conhecem

e a que servem.

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o plano de Amor e Luz. E que se feche a porta onde mora o mal.

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JORGE BAPtIStA SAMPAIO

Neste mês, homenageamos Jorge Baptista Sampaio, que dá nome a uma rua situada na Alegria Velha, perpendicular à rua Inácio Lopes Siqueira. Seu CEP é 27522-110.

Jorge Sampaio, também co-nhecido como Jorge Açougueiro ou Jorge Boiadeiro, nasceu em Resende, em 26 de setembro de 1918, e aqui morreu, no dia 15 de abril de 1971.

Como indica um de seus apelidos, foi comerciante, no ramo de carnes, por mais de 40 anos, no grande Manejo, na Av. Ten. Cel. Adalberto Mendes. Primeiro, onde hoje existe o Bar do Preguinho, na esquina com Cel.Alfredo Sodré; depois, ao lado do antigo Bar Ode-on; finalmente, próximo à esquina com Av. Riachuelo.

Sem prejuízo de gostar de seu comércio, Jorge gostava mesmo é de ser boiadeiro; trazendo boiada de Silveiras (SP), com destino a Mendes, no Estado do Rio. Nesse trajeto, vivia à ro-saniana, convivendo com seus camaradas

de comitiva e com os anfitriões, nos locais de pouso. Assim, Jorge Boiadeiro sempre tinha interessantes histórias para contar, especialmente as envolvendo seu cavalo

REFERÊNCIAS: anotações de sua filha Aída e foto do acervo da família.

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Curinga, que só faltava falar.A maior parte de sua vida, morou em

sua chácara, na Alegria, cuja rua foi batiza-da com seu nome, por indicação do então vereador Vicente Diogo. Foi casado com Lúcia Teixeira Sampaio (na foto, com o homenageado), com quem teve 9 filhos: Catarina (enfermeira); José Carlos (desenhis-ta); Ida Maria (costureira e dona de uma confecção); Regina Amália (chacareira em Brasília, ex alta funcionária do Banco do Brasil); João Bosco (biólogo do Ibama, além de ator, modelo e dançarino); Pedro Marcos (industriário no ramo automotivo); Jorge Luís (servidor do TJ de Brasília); Miguel Fernando (engenheiro eletrônico, em Brasília) e João Pedro (ferrador de cavalos, em Areal-RJ).

Trazendo lembranças de uma Resende que ficou no tempo, Jorge Sampaio foi o último dos caubóis resendenses.

Page 16: O Ponte Velha - dezembro de 2012

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12 - O Ponte Velha - Dezembro de 2012

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Pois bem, ainda estamos no governo do Augusto Leivas, Rezende em festa pelo anúncio da vinda da Volkswagen, bombando em toda a mídia e muitos jorna-listas vindos para nossa cidade. O Augusto divide a equipe para atendê-los e para mim “sobra” a jornalista da Veja Rio, Leila Sterenberg, que hoje brilha no canal da Globo News. Apontando para o Rio Paraíba, eu o comparei ao rio Sena, e que Rezende era a nossa Paris. Tentei mostrar a Rezende das pessoas bacanas, do conjunto Avalon, só de mulheres, que tinha no Penedo, Claudio Menandro, nosso mestre maior no violão e o Grupo de Teatro Boca de Cena. Mas tive também a ideia de convidar o radialista Odilon Farias, no auge de sua carreira, represen-tando o “juízo final”, condenando e absolvendo todos pelas ondas da Rádio Agulhas Negras.

Então, a Leila se encanta com o charme e a verve do Odilon, mas numa certa hora o radialista manda essa: “Não sei se você notou que em Rezende não tem mendigo? Sabe por que? Porque eu ando com uma garrafa de álcool no carro. Se vejo um na rua eu passo

O dia em que o Martinho desafiou São Pedroe ameaço. Se eu te encontrar aqui à noite eu taco fogo. Viu porque não tem mendigo em Rezende?” A coitada da Leila, depois de se recuperar do choque, volta para o Rio de Janeiro e abre a reportagem com a seguinte frase. “Rezende não é essa Paris toda”.

O Odilon Farias era real-mente uma figuraça. Com o dom da oratória, ele deitava e rolava naquele microfone. Uma vez, isso eu ainda era da Cultura no Noel de Carvalho, eu acabei com a festa da cultura negra que a prefeitura realizava. Isso porque não existia mobilização da comunidade negra, a festa era feita por um monte de branquelos, soando como uma espécie de Casa Grande e Senzala. No mesmo ano, voltamos com o festival de Teatro. Pois bem, o Odilon espumava no microfone porque eu não tinha feito o evento dos negros e gritava: “Prefeeeeito, o Zé Leon não fez a festa para os negros, mas arrumar dinheiro

para trazer bicha e maconheiro pro festival de teatro ele arruma”. Esse era o Odilon Farias.

E onde entra o Martinho nessa história? Eu era o Secretário de Cultura e ele o Secretário de Turismo. Organizamos o carnaval juntos e, no dia da abertura, fomos entrevistados pela TV Rio Sul, para o RJ TV segunda edição. Ainda não tinha link ao vivo e a entrevista foi feita na parte da manhã e só entraria no ar à noite.

A última pergunta da repórter foi: “Mas seu Martinho, o senhor não tem medo de que a chuva possa atrapalhar o desfile?” E ele respondeu de bate pronto: “Não, minha filha, em festa de Martinho não chove”. E às sete da noite, na hora que o RJ estava no ar, uma chuva desabava em Rezende. Quando o Martinho faleceu, quase na hora do enterro, ameaçava chover e os familiares ficaram preocupados. Eu me meti e falei: podem ficar tranquilos, em enterro de Martinho não chove.

Feliz Natal e Próspero Ano Novo aos meus poucos mas fieis leitores.

// Neste final de ano a grande pedida para um presente original é visitar bazares como os da Associação Arcanjo Gabryel e do Centro Cultural Visconde de Mauá. Encontra-se artigos únicos e pretigia-se os artesãos da região.

// A Grandiflora Consultoria Ambiental vai promover nos dias 19 e 20 de janeiro, na sede do CDL de Resende, o curso de Legislação Ambiental I, voltado para graduandos e pós graduandos de áreas afins à questão ambiental, que, na verdade, mais do que nunca são todas. Haverá aula durante todo o período dos dois dias. As inscrições podem ser feitas pelos telefones 3355 1006 - 9254 9851, ou por [email protected].

“Em festa de Martinho não chove”. E às sete horas ja desabava o temporal...

Curtas

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