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O potencial da paisagem urbana como atratividade turística: um estudo sobre a paisagem de Brasília-DF the potential of the urban landscape as tourist attractiveness: a study on the landscape of Brasília – DF Le potentiel du paysage urbain en tant que attraction touristique : une étude sur le paysage de Brasília – DF El potencial del paisaje urbano como atracción turística: un estudio en el paisaje de Brasília - DF Josildete Pereira de Oliveira* Francisco Antonio dos Anjos** Fabiana Calçada de Lamare Leite*** Recebido em 4/8/2007; revisado e aprovado em 10/3/2008; aceito em 22/7/2008. Resumo: Este artigo é resultado de um estudo exploratório sobre o potencial da paisagem urbana de Brasília para o turismo. Especificamente, a área correspondente ao Eixo Monumental do Plano Piloto. Esta reflexão procurou dar ênfase ao conceito da percepção e interpretação do significado da imagem da cidade, a partir do qual o estudo da forma que configura a paisagem urbana se faz importante tanto quanto o processo cultural de apropriação dessa paisagem pelo usuário. A análise procurou inferir sobre os aspectos que podem suscitar uma discussão sobre a perspectiva do observador/visitante em sua experiência turística. Palavras-chave : Arquitetura. Paisagem Urbana. Turismo. Abstract: This article is resulted of a Exploratory study on the potential of the urban landscape of Brasilia for the tourism. Specifically, the corresponding area to the Eixo Monumental of the Plano Piloto. This reflection looked for to give to emphasis to the concept of the perception and interpretation of the meaning of the image of the city, from which the study of the form that configures the urban landscape if it in such a way makes important how much the cultural process of appropriation of this landscape for the user. The analysis looked for to infer on the aspects that can excite a quarrel on the perspective of the visiting observer/in its tourist experience. Key words: Architecture. Urban Landscape. Tourism. Résumé: Cet article a été originé d´une étude sur le potentiel turistique du paysage urbain de Brasília. Plus particulierment, la région urbaine dénomée l´Axe Monumental du Plan Pilote de la Capitale du Brésil. Cette réflexion a mis au point le concept sur la pérception et l´interpretation du significat de l´image urbaine, qui met en valeur l´étude de la forme, ainsi que le processus culturel d´assimilation du paysage par les utilisateurs. L´analyse a signalé les aspects qui peuvent susciter la discussion sur la perspective touristique de ce paysage. Mots-clé: Architecture. Paysage Urbain. Tourisme. Resumen: Este artículo es el resultado de un estudio exploratorio sobre el potencial del paisaje urbano de Brasilia para el turismo. En concreto, la superficie correspondiente al Eixo Monumental del Plano Piloto. Esta reflexión ha puesto de relieve el concepto de percepción e interpretación del significado de la imagen de la ciudad, a partir de la cual el estudio de la forma en que configura el paisaje urbano es importante, ya que el proceso de la propiedad de paisaje cultural por el usuário. El análisis tratado de inferir en las cuestiones que puedan plantear un debate sobre la perspectiva del observador / usuario en su experiencia turística Palabras clave : Arquitectura. Paisaje Urbano. Turismo. INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 9, n. 2, p. 159-169, jul./dez. 2008. * Arquiteta e Urbanista pela UFBA. Mestre em Natureza, Meio Ambiente, Sociedade e Doutora em Geografia pela Université de Caen-Basse Normandie - França. Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu - Mestrado Acadêmico em Turismo e Hotelaria e do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Itajaí – SC – Brasil. E-mail: [email protected] ** Graduado em Geografia (UNIVALI). Mestre em Geografia e Doutor em Gestão Ambiental ( UFSC). Pós-doutorado em Geografia (UNESP-PP) Professor e Pesquisador do Curso de Mestrado em Turismo e Doutorado em Administração e Turismo (UNIVALI). E-mail: [email protected] *** Graduada em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (UFF/RJ), MBA em Turismo pela UNIVERCIDADE (RJ), mestranda em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Bolsista CNPq - AT/NS. E-mail: [email protected] Introdução A implantação de Brasília no final da década de 50, durante o governo de Juscelino Kubitschek, é favorecida pelo contexto de expansão e redistribuição urbana para o cen- tro do país, seguido da complementação do sistema de transportes e da melhoria das comunicações como uma condição material para unificar o território. A criação de uma unidade territorial integrada, também foi favorecida pela existência de um Projeto

O potencial da paisagem urbana como atratividade turística ... · Francisco Antonio dos Anjos** Fabiana Calçada de Lamare Leite*** Recebido em 4/8/2007; revisado e aprovado em 10/3/2008;

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O potencial da paisagem urbana como atratividade turística: um estudo sobre apaisagem de Brasília-DF

the potential of the urban landscape as tourist attractiveness: a study on thelandscape of Brasília – DF

Le potentiel du paysage urbain en tant que attraction touristique : une étude sur lepaysage de Brasília – DF

El potencial del paisaje urbano como atracción turística: un estudio en el paisaje de Brasília - DF

Josildete Pereira de Oliveira*Francisco Antonio dos Anjos**

Fabiana Calçada de Lamare Leite***

Recebido em 4/8/2007; revisado e aprovado em 10/3/2008; aceito em 22/7/2008.

Resumo: Este artigo é resultado de um estudo exploratório sobre o potencial da paisagem urbana de Brasília parao turismo. Especificamente, a área correspondente ao Eixo Monumental do Plano Piloto. Esta reflexão procuroudar ênfase ao conceito da percepção e interpretação do significado da imagem da cidade, a partir do qual o estudoda forma que configura a paisagem urbana se faz importante tanto quanto o processo cultural de apropriaçãodessa paisagem pelo usuário. A análise procurou inferir sobre os aspectos que podem suscitar uma discussãosobre a perspectiva do observador/visitante em sua experiência turística.Palavras-chave : Arquitetura. Paisagem Urbana. Turismo.Abstract: This article is resulted of a Exploratory study on the potential of the urban landscape of Brasilia for thetourism. Specifically, the corresponding area to the Eixo Monumental of the Plano Piloto. This reflection looked forto give to emphasis to the concept of the perception and interpretation of the meaning of the image of the city, fromwhich the study of the form that configures the urban landscape if it in such a way makes important how much thecultural process of appropriation of this landscape for the user. The analysis looked for to infer on the aspects thatcan excite a quarrel on the perspective of the visiting observer/in its tourist experience.Key words: Architecture. Urban Landscape. Tourism.Résumé: Cet article a été originé d´une étude sur le potentiel turistique du paysage urbain de Brasília. Plusparticulierment, la région urbaine dénomée l´Axe Monumental du Plan Pilote de la Capitale du Brésil. Cetteréflexion a mis au point le concept sur la pérception et l´interpretation du significat de l´image urbaine, qui met envaleur l´étude de la forme, ainsi que le processus culturel d´assimilation du paysage par les utilisateurs. L´analysea signalé les aspects qui peuvent susciter la discussion sur la perspective touristique de ce paysage.Mots-clé: Architecture. Paysage Urbain. Tourisme.Resumen: Este artículo es el resultado de un estudio exploratorio sobre el potencial del paisaje urbano de Brasiliapara el turismo. En concreto, la superficie correspondiente al Eixo Monumental del Plano Piloto. Esta reflexión hapuesto de relieve el concepto de percepción e interpretación del significado de la imagen de la ciudad, a partir de lacual el estudio de la forma en que configura el paisaje urbano es importante, ya que el proceso de la propiedad depaisaje cultural por el usuário. El análisis tratado de inferir en las cuestiones que puedan plantear un debate sobrela perspectiva del observador / usuario en su experiencia turísticaPalabras clave : Arquitectura. Paisaje Urbano. Turismo.

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 9, n. 2, p. 159-169, jul./dez. 2008.

* Arquiteta e Urbanista pela UFBA. Mestre em Natureza, Meio Ambiente, Sociedade e Doutora em Geografia pelaUniversité de Caen-Basse Normandie - França. Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu - MestradoAcadêmico em Turismo e Hotelaria e do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Itajaí – SC– Brasil. E-mail: [email protected]** Graduado em Geografia (UNIVALI). Mestre em Geografia e Doutor em Gestão Ambiental ( UFSC). Pós-doutoradoem Geografia (UNESP-PP) Professor e Pesquisador do Curso de Mestrado em Turismo e Doutorado emAdministração e Turismo (UNIVALI). E-mail: [email protected]*** Graduada em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (UFF/RJ), MBA em Turismo pelaUNIVERCIDADE (RJ), mestranda em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). BolsistaCNPq - AT/NS. E-mail: [email protected]

Introdução

A implantação de Brasília no final dadécada de 50, durante o governo de JuscelinoKubitschek, é favorecida pelo contexto deexpansão e redistribuição urbana para o cen-

tro do país, seguido da complementação dosistema de transportes e da melhoria dascomunicações como uma condição materialpara unificar o território. A criação de umaunidade territorial integrada, também foifavorecida pela existência de um Projeto

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Nacional em que continha uma política dedesenvolvimento onde constava a constru-ção da cidade de Brasília, com suas interli-gações com o resto do território.

Segundo Yázigi (2003), a construçãode uma nova cidade gera a “construção” deuma nova paisagem. A paisagem está asso-ciada à passagem do tempo sobre um deter-minado local, às percepções das formas e domundo. Essa percepção passa pela visão quenos conduz a múltiplos processamentos deinformações percebidas no meio, onde o ar-ranjo espacial das formas que configura umapaisagem é tão importante quanto o proces-so cultural que lhe é apropriado. Assim, aarquitetura deve ser considerada como par-te de um todo. A profusão de formas arquite-tônicas que constituem uma cidade é reve-ladora de sua história, cultura, forma e mui-tas outras informações que interessam tantoao estudioso quanto ao possível visitante.

Este artigo é resultado de um estudoexploratório realizado sobre a paisagem ur-bana de Brasília e sua potencialidade comoatrativo turístico, focado principalmente naárea urbana correspondente ao Eixo Monu-mental do Plano Piloto, com sua expressãomonumental e com características geográ-ficas que a individualizam no cenário na-cional.

Considerando que cada cidade possuiuma paisagem específica, em função do de-senho urbano e das características do sítiogeográfico de implantação, esta reflexão pro-curou ressaltar que a análise da paisagemedificada, embora seja provida de uma baseconceitual consistente, é também resultanteda percepção do observador. Neste sentido,o estudo da forma ou do arranjo urbanísticoque configura a paisagem de uma cidade sefaz importante tanto quanto o processo cul-tural de apropriação dessa paisagem porquem a observa.

O conceito que norteou a análise foi oda percepção e interpretação do significadoda imagem da cidade, cuja análise procu-rou inferir sobre os aspectos mais significati-vos que podem suscitar uma discussão sobrea apreensão e significado dessa paisagem apartir da perspectiva do observador/visitan-te, eventualmente durante a sua experiên-cia turística.

Assim, no primeiro momento da dis-cussão procurou-se discorrer sobre os con-

ceitos de paisagem e sobre o aporte teóricode vários autores focados na percepção am-biental, na imagem urbana e na semiologiado espaço como um referencial da análise.Em seguida, a discussão se atém à análiseda paisagem do Eixo Monumental de Brasíliae seu potencial como atratividade turística.

1 Brasília: criação, localização e forma

Brasília começa a existir na primeiraconstituinte do império Brasileiro, em 1823,numa proposta colocada pelo inconfidentemineiro José Bonifácio de Andrade e Silva,argumentando quanto à necessidade damudança da Capital para um ponto maiscentral do interior do País e sugerindo aindapara a cidade o próprio nome que recebeuefetivamente.

No dia 7 de setembro de 1922 é lançadaa pedra fundamental de Brasília e na déca-da de 1950 essa idéia começa a ser articula-da. Por inspiração do Presidente JuscelinoKubitscheck de Oliveira, precisamente em1956, foi criada a NOVACAP, empresa pú-blica para planejar e executar a construçãoda nova capital. No dia 21 de abril de 1960,Brasília é oficialmente fundada. O projetopara o Plano Piloto foi escolhido por meiode um concurso promovido pela NOVACAPem 1957, do qual participaram urbanistasde renome internacional. A proposta pre-miada foi a de Lúcio Costa, definida pela co-missão julgadora como “clara, direta e fun-damentalmente simples”. Em três anos, foiconstruído o Plano Piloto, cuja proposta ur-banística original foi implantada, com alte-rações insignificantes aprovadas pelo autor.

O Distrito Federal, onde Brasília se lo-caliza com suas cidades de entorno, é divi-dido em 29 Regiões Administrativas, sendoa Região Administrativa 01, correspondidapela capital federal. Localizada no DistritoFederal, Brasília situa-se entre os paralelos15º30' e 16º03' de latitude sul, os rios Preto,a leste, e Descoberto, a oeste. A longitude noextremo leste é 47º25' W e no extremo oeste,48º12' W. Em relação aos aspectos físicos, porsua localização geográfica e a combinaçãode demais fatores influentes, a capital fede-ral é característica da vegetação de cerrado,possui uma temperatura média de 20,5°C,sendo o mês de setembro o mais quente (má-

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xima de 29°C) e julho, o mês mais frio (míni-ma de 13°C). O clima é chuvoso e quente desetembro a abril e ensolarado e seco de maioa agosto. Característica que confirma a umi-dade relativa do ar baixa no inverno, em tor-no de 25% e 68% no verão. A Altitude mé-dia da capital é de 1.100 metros.

Segundo o IBGE, Brasília possuía, em2007, uma área de 5.802 km² e 2.455.903habitantes, resultando em uma densidadedemográfica estimada em 407,3 habitantespor quilômetro quadrado.

A economia da cidade é baseada, con-forme dados do IBGE (2005), em comércio eserviços, notadamente o serviço público porser a capital federal, apresentando um PIBde 80,5 bilhões de reais , o que representa3,75 % de todo o PIB brasileiro (IBGE, 2005).A atividade econômica mais importante dacidade resulta de sua própria propostainspiradora, ou seja, sua função administra-tiva. Segundo os dados do IBGE a área urba-na correspondente ao plano piloto de Brasíliapossui atualmente um dos maiores índicesde renda per capita do Brasil. No conjuntodas atividades de serviço, o turismo mereceatenção, por se tratar de um segmento sig-nificativo na geração de emprego e renda.

Para a construção de Brasília vierampessoas de várias regiões do País. Assim, acidade recebeu distintas formas de apreen-são do espaço trazidas por sotaques, cultu-ras e costumes de indivíduos que vinha detodas as regiões do Brasil, mobilizados paraa execução da cidade, considerada um em-preendimento histórico. Mas, Brasília é umacidade essencialmente concebida e construí-da segundo o conceito da arquitetura mo-derna, no que se refere à sua forma urbanís-tica e consequentemente sua paisagemedificada. Este fato, até então inédito no país,certamente influenciou a assimilação de no-vos hábitos e práticas sociais de uso e apro-priação do espaço urbano.

Evidentemente, o plano urbanístico esua monumental expressão arquitetônica fi-zeram de Brasília um marco mundial da ar-quitetura moderna. Em decorrência, a Ca-pital do Brasil foi o primeiro núcleo urbanoconstruído no século XX a ser incluído nalista de bens de valor universal, recebendoem 1987 o título de Patrimônio Cultural daHumanidade pela UNESCO.

O plano urbanístico de Lúcio Costa foiconcebido em quatro escalas estruturais: aescala monumental, que abarca o Eixo Mo-numental que, por sua vez, abriga o centropolítico-administrativa do País; a escalagregária representada por todos os setoresde convergência da população; a escalaresidencial composta pelas Superquadras Sule Norte e a escala bucólica caracterizada pelaarquitetura paisagística de Burle Marx, quepermeia as outras três escalas, ou seja as áre-as de uso público destinados aos jardins,praças e parques. Da interação dessas qua-tro escalas nasceu uma cidade que é predo-minantemente monumental (figuras 01 e02).

Em sua definição, Lúcio Costa (1991,p. 09) afirmou:

é também uma cidade cômoda, eficiente, aco-lhedora e íntima. [...]. É ao mesmo tempo umacidade derramada e concisa, bucólica e ur-bana, lírica e funcional [...]. Nascida do ges-to primário de quem assinala um lugar oudele toma posse.Para Lucio Costa, a idéia de uma

Brasília monumental não tinha o sentido deostentação, mas deveria expressar o seu valorcomo capital. Neste propósito, a idéia foi assi-milada prontamente por Oscar Niemeyer emsua arquitetura grandiosa.

Conseqüentemente, a paisagem monu-mental da cidade é resultado da interaçãode seus arranjos urbanísticos e arquitetôni-cos com as características do sítio geográficode implantação.

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Figura 2 - Vista Panorâmica – Asa Norte.Fonte: http://www.superbrasilia.com

3 Paisagem: significado, conteúdo erepresentatividade

A paisagem é a representação da con-dição humana e da mudança de tempo noespaço, nela ficam registrados os processosda natureza e ações humanas, cujo ambien-te vai se alterando na medida em que essesprocessos e ações deixam suas marcas.

Segundo De Oliveira (1999), a paisa-gem é resultado de processos naturais e dasações antrópicas, configurada na escala dapercepção humana. Nesse sentido, pode-sedizer que a paisagem é a materialização dasações humanas e/ou de processos naturaisocorridas em uma determinada área no de-correr do tempo.

De acordo com Santos (1982), a paisa-gem pode ser entendida como o resultadode uma acumulação de tempos. É a formaespacial presente, testemunho de formaspassadas que poderão persistir ou não.

Considerando a paisagem urbanacomo sendo predominantemente um resul-tado das ações humanas no meio ambiente,seu entendimento e sistematização vêm sen-do objeto de vários estudos, na busca de no-vas abordagens teórico-metodológicas, vi-sando o desenvolvimento de métodos e téc-nicas para a melhoria da qualidade do am-biente urbano.

As reflexões de Gordon Cullen reme-tem ao significado da paisagem urbana, suarepresentatividade e simbolismo com seus efei-tos sobre o imaginário social. Assim ele define:

Uma cidade é, antes de mais nada, uma ocor-rência emocionante no meio ambiente. Se-não, atente-se na pesquisa e nos esforçosdespendidos para a tornarem uma realida-de, empenhado na concretização de umainfinidade de fatores que possibilite a cria-ção de uma organização funcional, viável esaudável. É um tremendo empreendimentohumano!”. (CULLEN, 1971, p. 10)Os estudos da paisagem urbana têm

enfatizado não apenas os aspectos formaisexplícitos da configuração, mas atentamtambém para os valores simbólicos e para os

Figura 1 - BrasíliaFonte: http://www. superbrasilia.com

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processos cognitivos desencadeados em cadaindivíduo no seu processo de assimilação dapaisagem. Nessa perspectiva, entendemosque o significado e a representatividade dapaisagem urbana prepassam os aspectospuramente formais dos elementos que a com-põe, na medida em que a sua assimilaçãoresulta também da percepção de cada indi-víduo em seu processo cognitivo, mediadopor um filtro cultural e por valores simbólicos,como representações do seu imaginário.

Nessa linha de pensamento, os estu-dos de Kevin Lynch (1987) dão ênfase à ima-gem da cidade e atentam para a percepçãodo observador:

As imagens ambientais são o resultado deum processo bilateral entre o observador e omeio ambiente. Este último sugere especifi-cidades e relações, e o observador – com gran-de capacidade de adaptação e à luz de seuspróprios objetivos – seleciona, organiza e con-fere significado aquilo que vê. A imagem as-sim desenvolvida limita e enfatiza o que évisto, enquanto a imagem em si é testada, numprocesso constante de interação, contra a in-formação perceptiva filtrada. Desse modo, aimagem de uma determinada realidade podevariar significativamente entre observadoresdiferentes”. (Lynch, 1997, p. 7)Por essa razão, o autor admite que a

sua análise limita-se aos aspectos físicos per-ceptíveis da paisagem urbana, mas chaman-do a atenção sobre as outras influências atu-antes sobre a imaginabilidade: o significadosocial de uma área, sua função, sua história,ou mesmo seu nome.

A partir dessa premissa, o autor con-sidera que “a forma deve ser analisada parareforçar o significado e não para negá-lo”(Lynch, 1997, p. 51). Assim, em um primei-ro momento, pode-se utilizar de alguns ele-mentos formais que caracterizem a paisagemedificada que trazem àquele local legibilidadeaos seus usuários. Segundo o autor, um lugarlegível é aquele cujos marcos, vias, limites ebairros são facilmente reconhecidos, permi-tindo uma locomoção mais fácil pela cida-de. Além disso, pode servir como um vastosistema de referências ou um organizadorde atividades.

Roberto Boullón (1985) argumenta quea percepção da paisagem urbana não é instan-tânea, mas é apreendida na medida em que,mesmo em se tratando da imagem parcial, o

observador registre, em sucessivas vivências,as informações que o espaço físico transmitepor meio de uma série de elementos formais,que este identifica e retém em sua memória.Nessa perspectiva, Kevin Lynch (1997) corro-bora, ao defender que a percepção da ima-gem não é abrangente, mas fragmentada eassociada a condições de outra natureza ecom quase todos os sentidos em operação.

Considerando a paisagem urbana umatrativo turístico potencial, essa discussãoprocura evidenciar a condição dessa paisa-gem no contexto do turismo. Sabe-se que oturismo em ambientes urbanos é de desta-cada relevância na mobilidade turística mun-dial, representando quase a totalidade dosespaços preferidos para a visitação. A estefato, assinala-se que a sociedade contempo-rânea é predominantemente urbana, logoseu horizonte é a cidade e o turismo umaatividade que se organiza a partir da cidadeseja como pólo emissor ou receptor. Portan-to, a atratividade das paisagens dos pólosreceptores é uma variável considerável naanálise do potencial turístico das cidades.

Vários autores têm se dedicado ao es-tudo da paisagem urbana e sua relação como turismo. Nesse sentido, Castrogiovanni(2001), afirma que é fundamental o estudodos elementos que compõem a paisagempara saber o motivo pelo qual leva os visi-tantes a contemplá-las. Pitte apudCastrogiovanni (2002, p. 132), afirma:

a paisagem é uma realidade cultural, poisnão é somente trabalho humano, mas tam-bém objeto de observações, inclusive consu-mo. A cultura desempenha um papel de fil-tro variável de um para outro indivíduo e deum para outro grupo social.

De acordo com Yázigi (2002, p. 7):As cidades são formadas por uma profusão deformas arquitetônicas, reveladoras de história,tecnologia, virtudes estéticas e muitas outrasinformações que interessam tanto o estudiosoquanto o amador, freqüentemente na posiçãode turista ou voyeur. (Yázigi, 2002, p. 7).

Para Bullón (2002), as cidades são es-paços que o homem cria e constrói, sendocada cidade diferente da outra, como espaçocultural, pois reflete a expressão da socieda-de que ali habita. Esse autor apresenta a ar-quitetura como uma variável que influenciao visitante a viver uma experiência “antiga”ou “moderna”, proporcionando, assim, uma

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viagem no tempo, tanto para o passadocomo para o futuro.

Portanto, o estudo sobre a paisagemurbana na configuração do espaço turísticode Brasília, nos parece um aspecto chavecomo potencial de atratividade a ser consi-derado, até para reforçar outras estratégiasde atração turística, como por exemplo, aconsolidação do segmento de eventos, quenos parece ser um aspecto já bem exploradopela atividade turística em Brasília.

4 Brasília: Paisagem e Turismo

A análise efetuada por este estudo seateve à área correspondente ao Eixo Monu-mental Leste, desde a Praça dos Três Pode-res (figura 04) até a Estação Rodoviária, pas-sando pela Esplanada dos Ministérios e aCatedral Metropolitana Nossa SenhoraAparecida, e o Eixo Monumental oeste, ini-ciando pela Estação Rodoferroviária e inclu-indo a Torre de Televisão (figura 03), Palá-cio do Buriti, Memorial JK e Praça do Cru-zeiro. Esta porção da paisagem da cidadetransmite, sobretudo, a harmonia plena en-tre volumes, espaços e formas valorizadapela linha do horizonte, confirmando a in-tenção do projeto de Lúcio Costa.

Os extensos gramados verdes sobre oqual surge a arquitetura das edificações, queparece não ter peso sobre o solo, caracterís-tica da obra de Oscar Niemeyer, conferemleveza e amplidão a esta paisagem.

As fachadas envidraçadas espelham a cida-de, multiplicando o reflexo das belas imagensarquitetônicas como um sonho futurista. Essadescrição expressa claramente o aspecto maisamplo do conteúdo, abrangendo uma visãogeral da cidade. (COSTA, 1991, p. 17)

A Praça dos Três Poderes é um amploespaço cívico que circunscreve o edifício doCongresso Nacional (figura 05), sede do Po-der Legislativo, o Palácio do Planalto (figu-ra 06), sede do poder executivo e o SupremoTribunal Federal, sede do Poder Judiciário.Esse local, como o próprio nome sugere, re-presenta a união dos poderes e, teoricamen-te, dá significado a historia não só da capi-tal federal, mas do país como um todo.

Figura 3 - Vista da Torre de TV - Eixo Monu-mental

Fonte: http://www.superbrasilia.com

Figura 4 -Praça dos Três Poderes, Torre de TV,Catedral, Memorial JK.

Fonte: http://www.superbrasilia.com

Figura 5 - Congresso NacionalFonte: http://www.geocities.com/TheTropics/3416/tabfotos.htm

Figura 6 - Palácio do PlanaltoFonte: http://www.geocities.com/TheTropics /3416/tabfotos.htm

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Como destaca Silva (2004, p. 21) quan-do diz:

As paisagens são testemunhos visuais deelementos estéticos e simbólicos construídoshistoricamente e, quando identificados eapropriados, despertam um renovado inte-resse no lugar visitado e contribuem paraestabelecer uma valorização qualitativa.(SILVA, 2004, p. 21)

De acordo com depoimentos de OscarNiemeyer, o edifício do Congresso é sua rea-lização arquitetônica predileta. Com suaconcepção plástica arrojada, a sede do PoderLegislativo é um conjunto arquitetônico ondese destacam as duas cúpulas representandoos plenários da Câmara dos Deputados quecorresponde à cúpula maior – cúpula con-vexa - e do Senado Federal representado pelacúpula menor – cúpula côncava – além doedifício de 28 pavimentos, onde funciona aadministração das duas Casas legislativas.Esse conjunto de edificações, além da suarepresentatividade arquitetônica, é dotadode significados associados às principais de-cisões e manifestações políticas do Brasil.

Os edifícios do Palácio do Planalto e doSupremo Tribunal Federal completam o ar-ranjo arquitetônico modernista da Praça dostrês Poderes, igualmente projetados por OscarNiemeyer. São exemplos que despertam o in-teresse da visitação turística, não somente porsuas expressões arquitetônicas na paisagemda Praça dos Três poderes, mas também pelomuseu anteriormente mencionado.

Do grande terraço suspenso que con-forma a Praça dos Três Poderes é possívelavistar o Palácio da Alvorada (figura 09),residência oficial do Presidente da República,que está situado numa cota mais baixa dositio de implantação do Plano Piloto, confor-mado pelo Lago Paranoá. A área de entornodo Palácio é caracterizada pela topografiaplana e por uma cobertura vegetal remanes-cente do cerrado brasileiro. Esses condicio-nantes da paisagem natural foram intencio-nalmente preservados no projeto paisagísticode Burle Marx, com o objetivo de valorizar obioma e as características ambientais do Pla-nalto Central do Brasil.

Figura 7 - Escultura “Justiça”Fonte: http://www.geocities.com/TheTropics/3416/tabfotos.htm

Figura 8 - Os “Guerreiros”Fonte: http://www.geocities.com/TheTropics/3416/tabfotos.htm

Assim, a paisagem concreta, ou a pai-sagem materializada que conforma a Praçados Três Poderes, extrapola sua dimensão fí-sica, emanando significados e representaçõespor todo o país devido aos fatos e medidasque ali se originam. Nessa paisagem ainda épossível apreciar as esculturas Os Guerreiros(figura 8), de Bruno Giorgi, A Justiça (figura7), de Alfredo Ceschiatti, a Pira da Pátria e oMarco Brasília, de Niemeyer, em homenagemao ato da UNESCO que considerou a cidadePatrimônio Cultural da Humanidade. Essesmonumentos agregam mais representativida-de simbólica à Praça dos Três Poderes, já quecada indivíduo se apropria do fato construídocodificando seus próprios significados.

Figura 9 - Palácio da AlvoradaFonte: http://www.geocities.com/TheTropics/3416/tabfotos.htm

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A arquitetura do Palácio da Alvoradaé uma das obras-primas de Oscar Niemeyere foi projetado em 1956, antes mesmo doconcurso que escolheu o plano urbanísticoda nova capital. Trata-se de um edifício re-tangular de dois andares e um subsolo, tendocomo elemento arquitetônico marcante ascolunas que emolduram as fachadas longi-tudinais, as quais se tornaram símbolo dacapital federal. Uma pequena capela lateralcompleta o conjunto. No hall de entrada sedestaca a parede de azulejos dourados deAthos Bulcão, assim como a porta e o vitralda capela. Os jardins do Palácio foram proje-tados por Burle Marx para compor o con-junto edificado e o sítio de entorno.

A localização privilegiada e a arquite-tura do Palácio da Alvorada no contexto dapaisagem de Brasília são fatores deatratividade e despertam o interesse turísti-co. Nesse sentido, pode-se afirmar que a Pra-ça dos Três Poderes funciona também, e prin-cipalmente para o turista, como um miranteque possibilita apreciar esta paisagem.

A partir da Praça dos Três Poderes, nosentido oposto à visão do Palácio da Alvo-rada, se descortina a Esplanada dos Minis-térios. No primeiro plano, uma edificação dedestaque na paisagem é o Palácio doItamaraty, sede do Ministério das RelaçõesExteriores do Brasil. É uma das obras maisconhecidas de Niemeyer, possui a fachadaem arcos e painéis decorativos de vários ar-tistas, como Athos Bulcão, Rubem Valentim,Sérgio Camargo, Maria Martins, além de umafresco de Alfredo Volpi e, por fim, é rodea-do por um espelho d’água que serve de cená-rio para a famosa escultura O Meteoro, deBruno Giorgi (figura 10). Neste exemplo,mais uma vez a categoria de conteúdo pelodetalhamento de suas características é rele-vante, já que situam as obras no tempo e asindividualizam, assim como a valorização doespaço interno e externo através da arquite-tura paisagística de Burle Marx.

Ainda na Esplanada dos Ministériosencontram-se 17 edifícios de construção uni-forme que abrigam os Ministérios do PoderExecutivo. Nessa perspectiva, esse conjuntode edificações se volta para o que Bullón(2002), chama de centro gravitacional, já queao final da Esplanada é possível avistar oCongresso Nacional. Assim, esse conjuntoarquitetônico uniforme parece estar mar-geando e condicionando o olhar a uma únicadireção: o edifício do Congresso Nacional.

Essa perspectiva é acentuada pelasduas fileiras de edifícios idênticos e pela umavasta área gramada como um tapete verdea ser seguido. Embora se verifique certa mo-notonia pela uniformidade do conjunto, asensação transmitida ao observador condizcom o que Cullen (1971) classifica de pers-pectiva grandiosa, já que a ligação do primei-ro plano – a Esplanada – induz a uma sensa-ção de onipresença da paisagem com o focono edifício do Congresso Nacional.

Na paisagem da Esplanada dos Minis-térios se destaca por seu conteúdo e forma oconjunto monumental da Catedral Metropo-litana Nossa Senhora Aparecida (figura 11).Trata-se de um exemplo complexo de catego-rização da paisagem, na medida em que elaassume um papel importante na estética dapaisagem da Esplanada dos Ministérios e,particularmente, em sua geometria, inter-rompendo a uniformidade e, portanto, amonotonia peculiar dessa área da cidade.Além de toda a representação simbólica eda apropriação de significados a ela atri-buída.

Figura 10 - Palácio do Itamaraty e o “Meteoro”.Fonte: http://www.geocities.com/TheTropics/3416/tabfotos.htm

167O potencial da paisagem urbana como atratividade turística:um estudo sobre a paisagem de Brasília-DF

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 9, n. 2 p. 159-169, jul./dez. 2008.

A catedral de Brasília é um exemplarda arquitetura grandiosa de OscarNiemeyer. Neste projeto o autor faz umareleitura da disposição do conjuntoarquitetônico de Miguel Ângelo para a Ca-tedral de Florença na Itália – nave, batistérioe campanário – mas mantém a sua própriaexpressão arquitetônica, além de dotar ànave de uma planta circular em desnível ede uma cúpula que emerge do plano do ter-reno e se abre em direção ao firmamento.Esta cúpula é composta por 16 pilares curvosde concreto unidos pelos painéis de vitraisque dão leveza ao conjunto e possibilita aentrada da luz natural ao interior do templo(figura 12).

Além disso, a catedral de Brasília pos-sui um expressivo acervo de obras de arte:no lado externo, as esculturas dos quatroevangelistas, de Alfredo Ceschiatti, os vitraisde Marianne Peretti, as pinturas de Di Ca-valcante e um painel no batistério em cerâ-mica de Athos Bulcão.

A seqüência do Eixo Monumental parao lado oeste é marcada pela centralidadeatribuída à Estação Rodoviária, que corres-ponde ao centro geográfico do Plano Pilotode Brasília. Neste ponto se verifica o cruza-mento do Eixo Monumental com o EixoRodoviário.

O autor do projeto da Estação Rodo-viária foi Lucio Costa, que concebeu um con-junto de plataformas em quatro níveis. Aestação rodoviária é o local onde se podeobservar uma maior urbanidade de Brasília,devido à circulação intensa de pessoas e,portanto, imprimindo uma possível primeiraimpressão da vida urbana. Nesse sentido,Carpintero (1998, p. 154) pontua que “amonumentalidade proposta no projeto deLúcio Costa é discreta e não ostentatória” eque a cidade foi pensada para o uso da classemédia, os funcionários do governo, e que ostrabalhadores mais modestos não foram con-siderados no projeto.

Mas, na prática, no que se refere à ur-banidade, verifica-se que nessa área centrala cidade se mostrou diferente do imaginado.Segundo Carpintero, Lúcio Costa reconheceisso numa entrevista dado in loco na Rodo-viária de Brasília:

[...] Isso tudo é muito diferente do que eu ti-nha imaginado para esse centro urbano,como uma coisa requintada, meio cosmopo-lita. Mas não é. Quem tomou conta dele fo-ram os brasileiros verdadeiros que constru-íram a cidade e estão aí legitimamente. É oBrasil... E eu fiquei orgulhoso disso, fiqueisatisfeito. É isto, eu é que estava errado. Elestomaram conta daquilo que não foi concebi-do para eles. Então eu vi que Brasília temraízes brasileiras reais, não é uma flor deestufa como poderia ser. Brasília está funci-onando e vai funcionar cada vez mais. Naverdade o sonho foi menor que a realidade.A realidade foi maior e mais bela. Eu fiqueisatisfeito me senti orgulhoso de ter contri-buído. (COSTA& COST, 311, apudCARPINTERO, 1998, p. 154)Assim, esta área é caracterizada como

um ponto nodal, ou ainda como um limiteno contexto da paisagem urbana, segundoa classificação de Lynch (1997) e como talela estabelece claramente uma mudança navisualidade e na percepção do usuário oudo observador. Esta mudança de cenáriopara o lado oeste do Eixo Monumental é re-forçada pela Torre de Televisão (figura 13),

Figura 11 - Esplanada dos Ministérios e Catedral.Fonte: http://www.geocities.com/TheTropics/3416/tabfotos.htm

Figura 12 - Interior da CatedralFonte: http://www.geocities.com/TheTropics/3416/tabfotos.htm

168 Josildete P. de Oliveira; Francisco Antonio dos Anjos; Fabiana C. de Lamare Leite

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 9, n. 2, p. 159-169, jul./dez. 2008.

projetada também por Lucio Costa, funcio-nando também como mirante. É o pontomais alto de todo o Plano Piloto, com1.224m, onde é possível ter uma visão com-pleta do Plano Piloto. A torre é umareferencia de Lucio Costa à Torre Eiffel deParis. Para o turismo a torre é um local bas-tante visitado e um marco referencial dapaisagem urbana, pois ela associa o valor daatratividade proporcionada por seu miran-te de observação da cidade, um museu e afeira de artesanatos.

Outra edificação de relevância no EixoMonumental oeste é o Palácio do Buriti, pro-jetado pelo arquiteto Nauro Jorge Esteves,que abriga a sede do Governo do DistritoFederal. Seu nome se deve a uma palmeiratípica do cerrado brasileiro, denominadaburiti. Segundo consta, o plantio da palmeirafoi uma sugestão de Israel Pinheiro, constru-tor e primeiro prefeito da nova capital, em1959. Posteriormente, essa vegetação que dáo nome ao referido palácio foi tombada peloPatrimônio Histórico do Distrito Federal.

De acordo com Cullen (1971), as ár-vores estão entre os mais tradicionais elemen-

tos naturais que compõem a paisagem ur-bana, fazendo referência a elas como “umapresença viva do espaço edificado”(CULLEN, 1971, p. 84).

O Memorial JK (figura 14) é outra edi-ficação que se destaca na paisagem. Proje-tado por Oscar Niemeyer, originalmente sedestinava ao mausoléu de Juscelino Kubitschek.Em exposição permanente dos objetos e fotosdo fundador de Brasília esse espaço se ca-racteriza ademais como um museu, atraindoturistas por seu significado e representativi-dade histórica.

Então, chegamos à Praça do Cruzeiro,“o marco zero” que além de ser a cota maiselevada do Plano Piloto, 1172m, simboliza olugar escolhido para a abertura do EixoMonumental.

Atualmente, essa cruz é uma replicada original, a qual foi transferida, por razõesde conservação para a Catedral Metropoli-tana. Segundo Carpintero (1998, p. 119),Lúcio Costa escolheu o triângulo contidoentre os braços do lago Paranoá o local paraa implantação da cidade e seguindo a linhageométrica de maior declividade, por causado promotório visível de toda a encosta leste,que confere ao local uma serena monumen-talidade, realçada pela água. Assim, LúcioCosta tirou partido desse condicionamentogeográfico para o seu plano piloto. Nesseponto, seguindo a linha do espigão foi estabe-lecido o Eixo Monumental e ao longo dascurvas de nível lançou o Eixo Rodoviário.Dessa forma, Lúcio Costa expressou o iníciodo seu plano para a cidade: “Nasceu do ges-to primário de quem assinala um lugar ou

Figura 14 - Memorial JKFonte: http://www.geocities.com/TheTropics/3416/tabfotos.htm

Figura 13 - Torre de TVFonte: http://www.geocities.com/TheTropics/3416/tabfotos.htm

169O potencial da paisagem urbana como atratividade turística:um estudo sobre a paisagem de Brasília-DF

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 9, n. 2 p. 159-169, jul./dez. 2008.

dele toma posse: dois eixos cruzando-se emângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz”(COSTA, apud CARPINTERO 1998, p. 121).

5 Considerações finais

Brasília é uma cidade de onde se origi-nam as principais decisões que conduzem avida do país, afinal a cidade foi construídacom essa finalidade. Nesse cenário, uma jun-ção do sentimento que a cidade desperta e aforma concreta da sua representatividadetornam-se a principal fonte de informaçãosobre a sua paisagem urbana. Dessa manei-ra, é possível entender a complexidade desua formação, na medida em que a formapossui informações, que são aceitas e inter-pretadas de inúmeras maneiras por cadaindividuo que se dispõe a conhecê-la. Assim,na medida em que um lugar e a consciênciaque ele toma de si mesmo, volta-se para asua afirmação cultural, articulada às afirma-ções políticas e econômicas, é possível cons-tatar alguns padrões que o personaliza.

Consideramos que as paisagens edifi-cadas, dos menores aos maiores ambientes,são carregadas de informações e de signifi-cados, mesmo que incompletos, fazendocom que o cotidiano seja mais representativoe, portanto, mais fácil de entender uma de-terminada realidade. Mas, de qualquer for-ma é essa paisagem com seus atributos am-bientais e com sua dinâmica socioculturalque atrai a motivação turística. Um cenáriorepleto de formas, relações, conflitos, revela-ções e fatos.

A análise efetuada sobre a paisagemde uma área considerada o centro gravitacio-nal de Brasília – o Eixo Monumental – desta-cando sua potencialidade para o desenvol-vimento da atividade turística procura, so-bretudo, contribuir com a discussão sobre aimportância das paisagens urbanas enquan-to atrativo turístico, freqüentemente degrande magnitude, notadamente nas locali-dades em que os atrativos da paisagem na-tural não exercem uma forte atração.

Nesse sentido, são numerosos os exem-plos de cidades, onde a atividade turística éexpressiva e está consolidada, que têm nassuas paisagens urbanas o principal recursode atratividade turística. Enfim, essa discus-são também não pretende ser exaustiva e sim

uma abordagem inicial, própria dos estudosexploratórios, que pode ser retomada ouampliada para outras paisagens urbanas esuas interações com o turismo.

Referências

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Sites:

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