120
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO O PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO NO PROCESSO DO TRABALHO ADRIANA MACIEL MACHADO Itajaí[SC],novembro de 2006

O PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO NO PROCESSO DO TRABALHO …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Maciel Machado.pdf · referente aos procedimentos utilizados no processo do trabalho, pois

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

O PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO NO PROCESSO DO TRABALHO

ADRIANA MACIEL MACHADO

Itajaí[SC],novembro de 2006

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

O PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO NO PROCESSO DO TRABALHO

ADRIANA MACIEL MACHADO

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Msc. Wanderley Godoy Júnior

Itajaí[SC],novembro de 2006

2

MEUS SINCEROS AGRADECIMENTOS:

Primeiramente a Deus que, por me permitir viver,

me concedeu mais esta oportunidade de evolução espiritual, moral e intelectual.

Também àqueles que acreditaram em mim, e mais que isso, se empenharam também na minha luta, e me encorajaram durante estes cinco anos.

Ao meu professor orientador, Wanderley Godoy Júnior, pela orientação prestada, e sua

colaboração na obtenção de conhecimento

jurídico, proporcionado pela elaboração do presente trabalho.

E minha gratidão especial a senhora Ieda Arantes, que com tanta bondade, força e

paciência me ensinou também a ser forte,

paciente e a ter confiança em mim, sempre me dizendo que era possível, bastava eu querer e

acreditar. Eu quis, eu acreditei, aqui estou, e ela é

uma das principais responsáveis por este momento. Muito obrigada!

3

ESTE TRABALHO DEDICO ESPECIALMENTE:

Dedico este trabalho a uma pessoa que

infelizmente, não está mais entre nós, mas que se

estivesse, sei que estaria muito feliz por me ver

chegar até aqui. Foi graças a ele, que um dia me

disse: “minha filha, você deveria estudar Direito”,

que eu comecei a sonhar, já que até então isso

não me fora permitido, pela ausência de

perspectiva em minha vida. E é ao senhor

Abelardo da Costa Arantes que dedico esta

monografia, pois se hoje estou aqui, é porque ele

acreditou em mim, e me fez acreditar que eu era

capaz.

4

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí [SC],novembro de 2006

Adriana Maciel Machado Graduanda

5

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Adriana Maciel Machado, sob o

título O PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO NO PROCESSO DO TRABALHO, foi

submetida em 09/11/2006 à banca examinadora composta pelos seguintes

professores: Wanderley Godoy Junior (Presidente), Eduardo Erivelto Campos e

Rosane Maria Rosa (examinadores) e aprovada com a nota 10,0 (dez).

Itajaí (SC), novembro de 2006.

Msc. Wanderley Godoy Júnior Orientador e Presidente da Banca

Msc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

vii

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Audiência:

Audiência vem do latim audientia, que é o ato de escutar, de atender. A audiência

consiste no ato praticado sob a presidência do juiz a fim de ouvir ou de atender às

alegações das partes. Consiste no ato do juiz de ouvir as partes, suas

testemunhas, e as reivindicações das primeiras.1

Direito do Trabalho:

De maneira sintética, Direito do Trabalho é o ramo do Direito que trata das

relações individuais e coletivas oriundas do vínculo empregatício e de outras

relações especiais de trabalho subordinado, impondo normas de conduta e

oferecendo soluções aos conflitos daí advindos.2

Petição inicial:

O vocábulo “petição” significa ação de pedir, pedido, requerimento. Mas quer

dizer, também, o documento em que o pedido é concretizado. Petição inicial é a

primeira peça do procedimento. Sob o aspecto material é nada mais que uma

folha de requerimento. Sob o prisma essencial, é um pedido elaborado por

escrito, normalmente datilografado, contendo determinados elementos que são

exigidos pela lei. Sob o ângulo do sujeito que a elabora, é uma manifestação de

vontade no sentido de propor uma ação. Sob a perspectiva do órgão jurisdicional,

é a força que impulsiona a sua movimentação.3

Procedimento:

1 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 23 ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 279. 2 LIMA, Francisco Meton Marques de. Elementos de direito do trabalho e processo trabalhista. 11 ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 25 3 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 21 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 385.

viii

Procedimento é a forma, o modo, a maneira como os atos processuais vão se

projetando e se desenvolvendo dentro de uma relação jurídica processual. É o

modus faciendi do processo. É o aspecto exterior do processo4.

Procedimento Ordinário:

É aquele em o juiz decide a lide através da cognição completa, e em que as

partes discutem o litígio amplamente. Nele, o devido processo legal encontra a

mais dilatada de suas formas procedimentais, e aquela que melhor propicia a

reconstituição completa dos fatos, bem como os debates em torno das várias

facetas do litígio5.

Procedimento sumário:

Denomina-se rito sumário aquele que pode ser utilizado, a critério do juiz do

trabalho ou juiz de Direito, nas lides cujo valor econômico não ultrapasse dois

salários mínimos (Lei n. 5.584 de 26-6-1970). Nestes casos o procedimento é

simplificado, visando-se uma imediata solução6.

Procedimento sumaríssimo:

É, em resumo, um rito especial para solução de dissídios individuais de pequeno

valor, no qual a jurisdição é investida de maiores poderes para conduzir o

processo e levá-lo, com maior brevidade, a uma solução7.

Processo:

O processo é o instrumento para a composição dos litígios que emergem da vida

em sociedade. Em sentido estrito, é o conjunto de atos processuais que se

coordenam s se desenvolvem desde o ajuizamento da ação até o trânsito em

julgado da sentença, para que o Estado-juiz cumpra a sua obrigação fundamental,

4 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 3 ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 254. 5 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso prático de processo do trabalho. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 181. 6 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. p. 585. 7 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. P. 595.

ix

que é a de entregar a prestação jurisdicional invocada, solucionando as lides

ocorrentes, com a aplicação do Direito Objetivo8.

Direito Processual do Trabalho:

É o conjunto de princípios, regras e instituições destinado a regular a atividade

dos órgãos jurisdicionais na solução dos dissídios, individuais ou coletivos, entre

trabalhadores e empregador9.

Recurso:

É o poder que se reconhece à parte vencida em qualquer incidente ou no mérito

da demanda de provocar o reexame da questão decidida, pela mesma autoridade

judiciária, ou por outra de hierarquia superior. São os meios que a lei concede ás

partes para obter que uma providencia judicial seja modificada ou tornada sem

efeito. É o direito que a parte vencida ou terceiro possui de, na mesma relação

processual, e atendidos os pressupostos de admissibilidade, submeter a matéria

contida na decisão recorrida ao reexame, pelo mesmo órgão prolator ou por outro

órgão distinto e hierarquicamente superior, com o objetivo de anulá-la, ou de

reformá-la total ou parcialmente10.

Sentença:

A palavra sentença vem do verbo latino sentire. O juiz sente o fato e o direito e faz

incidir o direito sobre o fato. O autor apresenta sua tese; o réu, a antítese. A

síntese é feita pelo juiz na sentença. Trata-se de um comando, de um ato lógico

do juiz, envolvendo um ato de vontade e de inteligência do magistrado, na

afirmação da lei, porém como órgão investido de jurisdição pelo Estado11.

8 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 249. 9 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 50. 10 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. p. 491. 11 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 271 e 273.

SUMÁRIO

RESUMO.......................................................................................... 12

INTRODUÇÃO ................................................................................. 13

CAPÍTULO 1 ................................................................................... 15

DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO ................................ 15 1.1 HISTÓRICO ....................................................................................................15 1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL E NO MUNDO ..................................15 1.3. CONCEITO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO..........................27 1.4. PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO .......................29 1.5 PROCEDIMENTOS NO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO .............38

CAPÍTULO 2 ................................................................................... 45

DOS PROCEDIMENTOS ORDINÁRIO E SUMÁRIO NO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO...................................................... 45 2.1. DO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO ..............................................................45 2.1.1. CONCEITO .................................................................................................45 2.1.2. CARACTERÍSTICAS DO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO.........................45 2.1.3 HIPÓTESES DE CABIMENTO.....................................................................46 2.1.4. A AUDIÊNCIA NO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO....................................55 2.1.5. A SENTENÇA NO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO....................................59 2.1.6. OS RECURSOS NO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO.................................61 2.2. DO PROCEDIMENTO SUMÁRIO..................................................................71 2.2.1 CONCEITO ..................................................................................................71 2.2.2. CARACTERÍSTICAS DO PROCEDIMENTO SUMÁRIO ............................73 2.2.3. HIPÓTESES DE CABIMENTO....................................................................77 2.2.4. A AUDIÊNCIA NO PROCEDIMENTO SUMÁRIO .......................................79 2.2.5. A SENTENÇA NO PROCEDIMENTO SUMÁRIO .......................................80 2.2.6. OS RECURSOS NO PROCEDIMENTO SUMÁRIO ....................................81

CAPÍTULO 3 ................................................................................... 82

DO PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO NO PROCESSO DO TRABALHO...................................................................................... 82 3.1. CONCEITO ....................................................................................................82

xi

3.2. CARACTERÍSTICAS.....................................................................................85 3.3. HIPÓTESES DE CABIMENTO ......................................................................93 3.4. A AUDIÊNCIA NOS MOLDES DA LEI 9.957/2000 .......................................96 3.6. OS RECURSOS NO PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO............................102 3.7. COMPARATIVO ENTRE O RITO SUMARÍSSIMO E OS DEMAIS PROCEDIMENTOS ............................................................................................109

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................ 113

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ........................................ 118

RESUMO

A presente monografia trata do Procedimento Sumaríssimo no Processo do Trabalho. O objetivo é, em um primeiro momento, apresentar o surgimento do Direito Processual do Trabalho no mundo e no Brasil, a evolução histórica da legislação do trabalho no Brasil, os conceitos, suas principais características e os princípios do Direito Processual do Trabalho. A seguir, é desenvolvido um capítulo tratando dos procedimentos ordinário e sumário dentro da Justiça do Trabalho. Para tanto, se apresenta de maneira resumida, seus conceitos, características, hipóteses de cabimento, a forma como se realizam as audiências e como são prolatadas as sentenças e por último quais os recursos cabíveis em cada um destes ritos. O foco principal desta monografia é o estudo do Procedimento Sumaríssimo no Processo do Trabalho. E este estudo foi realizado tratando-se do conceito, das características, das hipóteses de cabimento do rito, da audiência e da sentença dentro deste procedimento, os recursos previstos para suas decisões, e ao final um breve comparativo entre este e os ritos anteriormente estudados. Para uma melhor compreensão do presente trabalho, foram apresentados os conceitos operacionais das seguintes categorias: Audiência, Direito do Trabalho, Petição, Procedimento, Procedimento Ordinário, Procedimento Sumário, Procedimento Sumaríssimo, Processo, Processo Do Trabalho, Recurso e Sentença. O objetivo deste trabalho não é esgotar o assunto referente aos procedimentos utilizados no processo do trabalho, pois o assunto é bastante amplo, mas sim tratar dos três principais ritos utilizados pela Justiça do Trabalho na solução de seus dissídios e de suas principais particularidades.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objeto o Procedimento

Sumaríssimo no Processo do Trabalho.

Como objetivo geral far-se-á uma exposição sucinta dos

principais pontos deste procedimento e sua aplicação no Processo do Trabalho.

Juntamente com esse objetivo busca-se ainda abordar

alguns dos principais aspectos da lei 9.957/2000, que trata da instauração do

procedimento sumaríssimo na Justiça do trabalho.

Para tanto, principiar–se-á, no Capítulo 1, tratando do direito

processual do trabalho de uma forma geral, porém resumida, abordando sua

história, evolução, conceitos, princípios e os procedimentos por ele utilizados.

No Capítulo 2, tratar-se-ão os procedimentos ordinário e

sumário, seus conceitos, suas principais características, as hipóteses de

cabimento de cada um deles, como se procede a audiência e como é prolatada a

sentença e os recursos cabíveis destas decisões.

Por fim, no Capítulo 3, tratar-se-á o procedimento

sumaríssimo propriamente dito, com suas particularidades, e ao final, será feito

um breve comparativo entre os três procedimentos utilizados pela Justiça do

Trabalho na solução de seus litígios.

O presente trabalho se encerrar-se-á com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos e reflexões

sobre o procedimento sumaríssimo no processo do trabalho.

Para o desenvolvimento da presente monografia foram

enfrentados três problemas:

Primeiro problema: O princípio protecionista da justiça do

trabalho tem atendido, nos dias de hoje, a finalidade a que se propõe?

14

Segundo problema: A existência de procedimentos

diferentes dentro do processo do trabalho simplifica ou tumultua o

desenvolvimento das demandas trabalhistas?

Terceiro problema: Qual a importância do procedimento

sumaríssimo para o processo do trabalho e ele pode ou não abranger também as

demandas do rito sumário?

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, e, o Relatório dos Resultados

expresso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliográfica.

15

CAPÍTULO 1

DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

1.1 HISTÓRICO

1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL E NO MUNDO

O trabalho sofreu ao longo do tempo, em todo o mundo,

muitas modificações. Inicialmente ele era atribuição dos escravos e servos, em

um tempo em que os nobres jamais se propunham a realizá-lo.

Precisar a origem do Direito Processual do Trabalho no

plano mundial, não é tarefa fácil, uma vez que seu surgimento se deu em

ocasiões diferentes em cada país.

A Revolução Industrial foi um dos marcos principais no

surgimento de novas condições de trabalho.

Sobre esse tema, temos as palavras de Leite:12

É, pois, com a Revolução Industrial que aparecem os conflitos de interesses entre os proprietários das fábricas e os operários, os quais, em virtude da ideologia do Estado Liberal que era abstencionista e alheio a tais conflitos, geraram os movimentos de paralisação (autodefesa) pelos trabalhadores, geralmente com depredações do patrimônio das empresas.

Com a Revolução Industrial e com o surgimento e utilização

das máquinas na produção, começaram a surgir novas condições de trabalho.

12 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 92.

16

Foi um período marcado por grandes invenções, algumas das quais foram

responsáveis pelo aumento de mão-de-obra disponível ocasionando desemprego

e diminuição dos salários pagos aos trabalhadores.

Sobre o tema Martins13 discorre:

Houve aumento da mão-de-obra disponível, causando, em conseqüência, a diminuição dos salários pagos aos trabalhadores. A partir desse momento, os operários passaram a reunir-se para reivindicar novas condições de trabalho e melhores salários, surgindo os conflitos trabalhistas, principalmente coletivos.

Esses acontecimentos despertaram nos trabalhadores o

anseio por mudanças das suas condições e a busca por garantias que

assegurassem seus salários, surgindo assim os conflitos, principalmente as

greves, que foram usadas como meio para forçar os patrões a atenderem as

reivindicações, quando só então retornavam a seus postos de trabalho. Até então

tudo ocorria sem a intervenção do Estado.

Sobre a greve, Giglio14 destaca:

A greve era um instrumento de luta, mecanismo de autodefesa dos trabalhadores, não obedecendo a nenhuma regulamentação. Imperava a lei do (economicamente) mais forte. A produção ficava paralisada até que uma das partes cedesse e voltassem os grevistas ao trabalho nas mesmas condições anteriores, para sobreviver à fome, ou atendesse o empresário aos pedidos dos trabalhadores, para evitar o prejuízo causado pela ociosidade das máquinas.

Mais tarde é que o Estado abandonou sua posição de

alheamento e constatou a necessidade de intervir para solucionar estes conflitos

trabalhistas, visto a arrecadação de imposto ser menor em conseqüência das

paralisações. Esculpindo ainda, a alegação de que essas agitações, por parte dos

trabalhadores, ocasionavam conturbações sociais e prejudicava a ordem pública.

13 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 33. 14 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 3

17

Sobre a intervenção do Estado nos conflitos, Martins15,

assim descreve:

Num primeiro momento, o Estado ordenava às partes que chegassem a um acordo sobre a volta ao trabalho mediante conciliação obrigatória. Isto não chegou, porém, a produzir os resultados desejados. Passou-se, então, à fase de mediação, em que o Estado designava um seu representante para participar das negociações como mediador. Posteriormente, o Estado, em vez de designar um mediador, passou a indicar um árbitro para julgar a controvérsia existente entre as partes.

Logo após a Revolução Francesa, no inicio do século XIX,

verifica-se a era das codificações, e essa mesma época é marcada pela

especialização ou autonomia do direito processual, pois, junto com os primeiros

códigos de direito substantivo, apareceram, na França, os de procedimento civil e

penal.

A Revolução Francesa, buscando a implantação de um

regime sócio-liberal, consagrando o primado da liberdade individual, rompeu com

o regime político e privilegiado da nobreza, da monarquia e do absolutismo.

Toda revolução traz duas conseqüências básicas: a ruptura

de modo drástico com o passado, buscando inovar no presente e para o futuro; e

outra conseqüência é que influencia com suas idéias outras instituições, mesmo

que não políticas. Desta maneira, ao absolutismo político correspondeu o modelo

processual inquisitivo, tendo maior aplicação penal, ao liberalismo correspondeu o

principio dispositivo.

Silva16, falando sobre essas conseqüências:

Outra conseqüência dos movimentos revolucionários ou reformistas são os excessos, isto é, os exageros ou a radicalidade consagrada às novas idéias, ditados mais por

15 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 33. 16 SILVA, Octacílio Paula. Compêndio de direito processual do trabalho. Obra em Memória de Celso Agrícola Barbi. 3 ed. São Paulo: LTr, 2002. P. 27

18

impulsos emocionais que por manifestações racionais. São sobejamente conhecidos os efeitos dos ideais liberais, instituindo a liberdade individual quase fanática, a ponto de o Estado omitir-se como mero espectador de um quadro tétrico e de uma realidade nua e crua que se instalou e deixou os trabalhadores inermes e impotentes perante a voracidade da classe empresarial, notadamente dos industriais, tudo isso em nome ou a pretexto da liberdade de trabalho.

Contra a passividade gerada pelo processo dispositivo, fruto

do liberalismo surgiu o chamado processo publicista que por sua vez, rompeu

com os princípios básicos do primeiro processo.

O processo publicista pode ser considerado como precursor

do moderno Processo do Trabalho, mas, sua influência começou a ser

evidenciada já no direito processual comum.

Silva17, assim se manifesta acerca do tema:

As idéias publicistas vieram influenciar de forma cabal, também, o aparecimento do denominado direito processual social. Mas este tem como causa mais direta a questão social, surgida como realidade decorrente dos excessos do liberalismo econômico e consequentemente do individualismo jurídico. A denominação direito social do trabalho foi decorrência do direito social, ambos com origens e inspirações únicas. Estas expressões, não vingaram, todavia, por serem mais genéricas, prevalecendo na atualidade, de modo quase geral, as expressões direito do trabalho e direito processual do trabalho.

Apesar de a ação ter sido consagrada pelas teorias

modernas sobre a natureza da ação como um direito autônomo, essa autonomia

é mais relativa ao processo do trabalho.

Dessa forma, nascia, ainda que timidamente, o Direito

Processual do Trabalho, com o objetivo de solucionar os conflitos trabalhistas.

17 SILVA, Octacílio Paula. Compêndio de direito processual do trabalho. p. 28

19

A criação do Direito Processual do Trabalho no Brasil se

confunde com a própria origem da Justiça do Trabalho.

No Brasil os Conselhos Permanentes de Conciliação e

Arbitragem foram os primeiros órgãos que surgiram. Eram previstos pela Lei nº

1.637/1907, tinham composição mista e paritária e, apesar de destinados à

solução de todas as divergências entre o capital e o trabalho, jamais foram

implantados.

Outra experiência, no Brasil, foi a instituição de um órgão

para dirimir conflitos trabalhistas que surgiu em 1922, no Estado de São Paulo

através da Lei estadual nº. 1.869 que instituiu os Tribunais Rurais, compostos

pelo juiz de direito da comarca e de dois outros membros, um designado pelo

empregador (fazendeiro) e outro pelo empregado.

Sobre a origem do direito processual do trabalho no Brasil,

tem-se nas palavras de Martins18 que:

Nosso sistema foi criado copiando-se literalmente, em muitos aspectos, o sistema italiano da carta Del Lavoro, de 1927, de Mussolini, adotando-se o regime corporativista. A outra causa foi o advento das convenções coletivas de trabalho, havia dois órgãos incumbidos de dirimir os conflitos: as Juntas de

Conciliação e Julgamento e as Comissões Mistas de Conciliação.

Ainda no que diz respeito ao surgimento dos primeiros

órgãos no Brasil, o governo de Getúlio Vargas proporcionou grandes mudanças

para as relações de trabalho.

Sobre o governo de Getulio Vargas e a revolução de 1930, a

lição de Giglio19:

A revolução de 1930 prometia uma profunda reforma nas relações de trabalho. Vitorioso, o governo de Getúlio Vargas

18 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 44. 19 GIGLIO, Wagner D.. Direito processual do trabalho. p. 3.

20

promulgou, em pequeno interregno de tempo, grande numero de leis trabalhistas. Em fins de 1932 foram criadas as Juntas de Conciliação e Julgamento e as comissões Mistas de Conciliação.

As Comissões Mistas de Conciliação foram criadas para

conciliar conflitos coletivos, e, para conciliar e julgar os dissídios individuais foram

criadas as Juntas de Conciliação e Julgamento.

Na lição de Giglio20, extrai-se sobre a competência das

Juntas:

As Juntas tinham competência para conhecer e dirimir dissídios individuais relacionadas com o trabalho, mas não tinham poderes para executar suas decisões, o que deveria ser feito na Justiça Comum. Tampouco gozavam de independência para bem julgar, pois seus juízes eram demissíveis ad nutum, e qualquer processo, poderia ser subtraído ao conhecimento das Juntas pelo Ministério do Trabalho, que chamava a si a função decisória, por meio de cartas chamadas “avocatórias”.

As Comissões Mistas de Conciliação, instituídas pelo

Decreto nº 21.364/32, tinham como função dirimir conflitos, principalmente

aqueles decorrentes de interpretação das questões relacionadas às convenções

coletivas, e tinham relevante papel nos municípios onde não existiam sindicatos

de empregados e empregadores.

Martins21, falando sobre o funcionamento das Comissões:

O funcionamento das Comissões era esporádico, pois poucas eram as controvérsias decorrentes de convenções coletivas, funcionando aquelas mais como órgãos arbitrais. Havia a primeira reunião da Comissão no prazo de 48 horas da comunicação do dissídio ao presidente, fazendo proposta de conciliação. Uma segunda reunião era marcada para no máximo três dias depois, na qual era feita nova proposta conciliatória. A comissão podia requisitar toda diligencia que entendesse necessária, inclusive determinando a realização de parecer

20 GIGLIO, Wagner D.. Direito processual do trabalho. p. 8. 21 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 45.

21

técnico em cinco dias. Na audiência de conciliação o presidente propunha às partes a solução pelo juízo arbitral. Se as partes o aceitassem, assinavam o termo de que iriam se submeter á decisão. Os juizes eram escolhidos por sorteio. Enviava-se o laudo arbitral para o Ministério do Trabalho, onde era guardado para cumprimento da decisão. Se as partes se recusassem à solução arbitral, era remetido o processo ao Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio para que proferisse a solução. Se o Ministro conhecesse dos motivos da recusa, poderia nomear uma comissão especial que proferisse laudo sobre o dissídio (art. 15 do Decreto nº 21.396/32. Existindo paralisação do trabalho, o empregador ficava sujeito a pena de multa e o empregado, ao despedimento.

Somente os empregados sindicalizados tinham acesso às

Juntas e Comissões Mistas.

O Conselho Nacional do Trabalho instituído em 1923 pelo

Decreto n. 16.027, que posteriormente foi modificado pelo Decreto n. 24.784/34,

era composto por duas câmaras, uma da Justiça do Trabalho e outra de

Previdência Social. Este órgão proferia decisões irrecorríveis nos casos de

conflitos coletivos, e de último grau de jurisdição, nos dissídios individuais,

quando estes envolviam empregados estáveis ou questão previdenciária.

Funcionava como um tribunal arbitral.

Silva22, a respeito do Conselho Nacional do Trabalho:

O CTN começava a despontar como órgão de segunda instância mas sofria concorrência do ministro do trabalho que continuava com algumas funções de natureza judicante, tais como avocar processos às JCJs para fim de julgamento e dirimir dissídios coletivos não conciliados pelas comissões mistas. O CNT era considerado, porém, órgão da jurisdição trabalhista, até que se instituiu a estrutura atual com a criação do Tribunal Superior do

Trabalho.

22 SILVA, Octacílio Paula. Compêndio de direito processual do trabalho. p. 38.

22

Este órgão passou a ter função administrativa, consultiva e

deliberativa, além de atuar no âmbito trabalhista e previdenciário. Era considerado

um órgão de cúpula da jurisdição trabalhista, até que se instituiu a estrutura atual

com a criação do Tribunal Superior do Trabalho.

O direito do trabalho e o processual do trabalho, ambos

têm caráter tutelar, embora esse aspecto tenha mais ênfase no primeiro, e os dois

tenham origens imediatas comuns, quais sejam, como reação contra os efeitos da

questão social.

A princípio, o procedimento para aplicação das primeiras

normas trabalhistas teria seguido as normas comuns do processo civil. Os

primeiros órgãos especiais criados com essa finalidade, tinham em regra, caráter

administrativo sendo ligados ao Poder Executivo.

A busca pelo aperfeiçoamento tem levado à edição de

códigos ou capítulos especiais dedicados exclusivamente ao processo laboral, por

um lado; e por outro, muitos países têm colocado o processo trabalhista no Poder

Judiciário, de modo mais ou menos completo, ou seja, algumas jurisdições, para

causas de pequeno valor vinculadas ao executivo, geralmente ao Ministério do

Trabalho, vêm mantendo ainda alguns órgãos inferiores.

Tem-se, nesse sentido o entendimento de Silva23:

No terreno do direito coletivo, as primeiras medidas para encaminhamento e solução dos conflitos foram no sentido da autodefesa ou da composição. Aliás, esse caminho natural e lógico é o que se tem mostrado mais eficaz, mesmo hodiernamente. Os exemplos de formas heterocompositivas nesse terreno são hoje exceções: o processo de dissídio coletivo no Brasil, por exemplo, é considerado ultrapassado, embora venha atendendo razoavelmente às nossas necessidades sociais como fator de esvaziamento das greves; a arbitragem, não obstante os seus aspectos positivos como, por exemplo, a sua

23 SILVA, Octacílio Paula. Compêndio de direito processual do trabalho. .p. 29.

23

não onerosidade, tem sido mais um modelo inserto na legislação do que utilizado na prática, o que ocorre não só entre nós.24

No Brasil as primeiras leis laborais de natureza substantiva

chegaram primeiro e as manifestações no sentido de viabilizá-las vieram após, as

quais muitas vezes não passaram de tentativa. As primeiras normas processuais

foram fruto da criação de tribunais ou órgãos algumas vezes de natureza

meramente administrativas.

Conforme Silva25, pode-se considerar que a justiça

trabalhista no Brasil passou por três fases: “a primeira de tentativas isoladas; a

segunda de implantação; e a terceira de consolidação”.

Na primeira fase, leva-se em conta, além do aparecimento

de órgãos, leis e projetos, qualquer outra tentativa no sentido de regulamentação

indiretamente a ele relacionada.

Esta fase que vai até a Revolução de 30, pode ser ainda

considerada civilista, até porque as tentativas de implantação de medidas

trabalhistas mais avançadas foram reprimidas. A sociedade da época ainda

calcada em economia eminentemente rural e com mentalidade individualista, não

estava preparada para uma legislação que fosse modernizadora e tivesse cunho

social.

Nesse sentido Silva26, faz o seguinte comentário:

Na verdade, na referida quadra da nossa historia republicana não havia, ainda, clima para a assimilação de tribunais, órgãos de fiscalização ou leis de caráter trabalhista. Estávamos sob o império de uma Constituição ultraliberal, num país de economia eminentemente rural e possuídos de mentalidade civilista, de modo que as novas idéias intervencionistas que já estavam agitando a Europa, eram simplesmente desconhecidas ou sumariamente rejeitadas.

24 SILVA, Octacílio Paula. Compêndio de direito processual do trabalho. p. 29.

24

A segunda fase trata da implantação no Brasil, da legislação

trabalhista propriamente dita, onde a respectiva jurisdição (especial) apareceu

como conseqüência natural.

Sobre esta fase, Silva27, discorre:

Dois principais fatores influenciaram tal evento, o primeiro de caráter externo, representado pelo influxo das novas idéias sociais provindas da Europa recém saída do primeiro grande conflito mundial deste século: idéias socialistas, movimentos operários e mesmo notícias do aparecimento de novo ramo social do direito, tudo isso num contexto de idéias intervencionistas; o segundo de natureza interna, consubstanciada em movimentos revolucionários sob a liderança de idealistas civis e jovens militares, no sentido da derrocada da República Velha, assim considerada menos pela idade que pelo arcaísmo de práticas e costumes viciados, alicerçados em oligarquias da política tradicional.

Os movimentos a que o autor faz menção desaguaram na

Revolução de 30, que instalando o denominado Governo Provisório, cuidou de

modernizar a legislação brasileira, o que incluiu a implantação de uma legislação

laboral no nível dos modelos europeus da época. O ponto de partida dessa

renovação foi a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, que teve

como seu primeiro ministro Lindolfo Collor.

Os primeiros tribunais trabalhistas implantados no Brasil,

tinham natureza meramente administrativa, com poderes reduzidos.

As Comissões Mistas de Conciliação28, instituídas pelo

Decreto nº 21.396/32, destinavam-se a dirimir dissídios coletivos. Como eram de

natureza conciliatória e arbitral e o arbitramento não era obrigatório, mas

dependia da aquiescência das partes, sua função tornava-se meramente

conciliatória. O procedimento era simples: “proposta a conciliação às partes, e se

25 SILVA, Octacílio Paula. Compêndio de direito processual do trabalho. p. 33 26 SILVA, Octacílio Paula. Compêndio de direito processual do trabalho. p. 35. 27 SILVA, Octacílio Paula. Compêndio de direito processual do trabalho. p. 36. 28 SILVA, Octacílio Paula. Compêndio de direito processual do trabalho. p. 36

25

ambas ou uma delas não concordasse que o feito fosse submetido à arbitragem,

o processo era encaminhado ao ministério para decisão”

A esse respeito, o entendimento de Nascimento:29

Caracterizam-se essas comissões pelo aspecto preponderante

de órgão arbitral não estatal e permanente, criadas em função e

na dependência direta da estrutura sindical, destinadas que foram

ao conhecimento dos conflitos de trabalho, segundo um esquema

básico de livre aceitação das suas decisões pelos conflitantes.

Porém, foram artificiais, funcionando esporadicamente, pois eram

raros os conflitos coletivos na época, tornando-se órgãos pouco

utilizados.

A composição das Comissões Mistas era paritária. Elas

eram organizadas onde existissem sindicatos de ambas as categorias (econômica

e profissional). Presidiam as Comissões componentes de órgãos independentes,

quais sejam, magistrados, advogados ou funcionários públicos.

O Decreto nº 22.132/32, instituiu as Juntas de Conciliação e

Julgamento, que tiveram o mérito de inaugurarem o modelo da cédula básica da

nossa jurisdição laboral. Embora tenham sofrido limitações em algumas

prerrogativas jurisdicionais, elas criaram o tipo da instância primária e básica do

nosso sistema trabalhista: colegiado tripartite, representação paritária,

denominação primitiva e procedimento especial.

O Decreto-lei nº 1.237/37 fez surgir no Brasil como

organismo autônomo em 1º de maio do mesmo ano, os Conselhos Regionais do

Trabalho. Um regulamento aprovado pelo Decreto. 6.596/40, estabeleceu a

Justiça do Trabalho com poderes próprios (notio e imperium), não obstante seus

órgãos não tivessem a garantia da magistratura. Organizou-se ainda a

Procuradoria da Justiça do Trabalho, com funcionamento junto ao Conselho

Nacional do Trabalho, e as Procuradorias Regionais, junto aos Conselhos

29 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 45

26

Regionais do Trabalho, com atribuições para oficiar nos respectivos processos e

requerer medidas geralmente de interesse público.

Em 1º de maio de 1941 era instituída pelo Presidente da

República a Justiça do Trabalho e no dia seguinte já entraram em funcionamento

oito Conselhos Regionais com trinta e seis juntas.

Sobre a instituição da Justiça do Trabalho, Saad30 comenta

que “percebe-se que, depois de várias décadas, a Justiça do Trabalho saiu da

esfera administrativa para integra-se ao Poder Judiciário”.

Sobre a fase de Consolidação, eis as palavras de Silva:31

Esta classificação por que passou a jurisdição laboral é meramente didática. O ciclo ainda não se completou, pois sempre se busca algo novo a fim de atender às exigências hodiernas e resolver os problemas que se vão sucedendo, decorrência inexorável das mutações e pressões sociais.

Um marco importante na evolução da legislação laboral no

Brasil, apesar de suas falhas naturais, foi a criação da Consolidação das Leis

Trabalhistas. A CLT estabelece no art. 769 a subsidiariedade do direito

processual comum para aqueles casos em que ela for omissa, excetuando-se

logicamente, os casos em que houver incompatibilidade entre as normas de um e

de outro.

A Consolidação das Leis do Trabalho traz as regras para

processar uma ação trabalhista a partir do artigo 643 ao 910 e entrou em vigor no

ano de 1943.

Assim, encerra-se este tópico que tratou da evolução

histórica do Processo do Trabalho no Brasil e no mundo.

30 SAAD, Eduardo Gabriel, et al. Direito processual do trabalho. 4 ed. São Paulo:LTr, 2004. P. 63 31 SILVA, Octacílio Paula. Compêndio de direito processual do trabalho. p. 39.

27

1.3. CONCEITO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

O Processo, em si mesmo é um método de debates, e serve

para resolver um conflito de interesses. Ele distingue-se do direito material, que é

constituído pelas normas que disciplinam, diretamente, a conduta dos indivíduos

na sociedade.

Por ser o direito comum, de modo geral, ainda individualista,

e o direito do trabalho, ao contrário, salvaguardeiro da socialização do direito,

nasce o direito processual do trabalho pela necessidade de corrigir injustiças, ou

desajustamentos, que a concepção individualista provocou com o

desenvolvimento da economia capitalista.

Süssekind32, conceituando Processo do Trabalho, traz o

seguinte:

Processo do trabalho é o método segundo o qual os Tribunais da Justiça do Trabalho conciliam e julgam os dissídios individuais e coletivos, bem como as demais controvérsias oriundas das relações de trabalho regidas pelo direito trabalhista. O conjunto das normas que regulam esse processo forma o direito processual do trabalho.

E o mesmo autor ao repetir Couture: 33

[....] o direito processual do trabalho é todo elaborado com o propósito de impedir que o litigante economicamente mais poderoso possa desviar ou retardar os fins da Justiça. Essa preocupação há de ser a constante de um direito que é o instrumento da efetivação das normas de proteção ao trabalho.

O Direito Processual do Trabalho diferencia-se do direito

processual penal e civil, por seu sistema de normas, princípios, regras e

instituições próprias.

32 SUSSEKIND, Arnaldo, [et al]. Instituições de direito do trabalho. vol. 2. 22 ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 1.425. 33 SUSSEKIND, Arnaldo, [et al]. Instituições de direito do trabalho. p. 1.423

28

Alguns autores como Wilson de Souza Campos Batalha,

Carlos Coquejo Costa, Waldemar Ferreira entre outros, entendem que o nome

correto é Direito Judiciário do Trabalho, entretanto se assim fosse chamada, se

estaria tratando tão somente das regras atinentes ao juiz, enquanto que a matéria

tratada como sistema processual trabalhista o juiz está inserido como sendo

apenas mais um ator como tantos outros inseridos neste contexto34.

Martins35, assim conceitua Direito Processual do Trabalho:

“Direito Processual do Trabalho é o conjunto de princípios, regras e instituições,

destinado a regular a atividade dos órgãos jurisdicionais na solução de dissídios,

individuais ou coletivos, entre trabalhadores e empregadores”.

Para Nascimento,36 “o Direito Processual do Trabalho é o

ramo do Direito Processual destinado à solução judicial dos conflitos trabalhistas”.

Como nem sempre o cumprimento das normas jurídicas se

dá de forma espontânea, faz-se necessário buscar perante os tribunais a

satisfação do que se pretende, para que a ordem jurídica não se torne um caos.

Nesse sentido eis o entendimento de Leite37:

Modestamente, conceituamos o direito processual do trabalho como ramo da ciência jurídica, constituído por um sistema de normas, princípios, regras e instituições próprias, que tem por objeto promover a pacificação justa dos conflitos decorrentes das relações de emprego e de trabalho, bem como regular o funcionamento dos órgãos que compõem a Justiça do Trabalho.

A finalidade principal desse ramo do Direito é evitar a

desordem, garantindo aos litigantes o posicionamento do estado no sentido de

resolver as pendências impondo a decisão.

34 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 50 35 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. P. 50. 36 NASCIMENTO, Amauri Mascaram. Curso de direito processual do trabalho. p. 55 37 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direto processual do trabalho. p. 81

29

O objeto do Direito Processual do Trabalho é também

especial, uma vez que repousa na promoção dos conflitos decorrentes das

relações de trabalho.

Outro objeto do Direito Processual do Trabalho, consiste em

formular uma base teórica destinada à regulação sistemática dos diversos órgãos

que compõem a Justiça do Trabalho, buscando a efetiva operacionalização dos

propósitos jurídico, social, ético e político desse setor especializado do Judiciário

Brasileiro.

Assim, o entendimento de Gonçalves38:

O direito processual do trabalho é o ramo da ciência jurídica que estabelece as normas instrumentais para atuação do Direito do Trabalho e disciplina a atividade da justiça do Trabalho e das partes nos processos concernentes à matéria decorrente das relações jurídicas reguladas por aquele ramo do Direito.

O Direito Processual do Trabalho é compreendido pelo

complexo sistemático das normas disciplinadoras da atividade do juiz e das partes

no processo individual ou coletivo do trabalho e tem por conteúdo a jurisdição, a

ação, a defesa e o processo trabalhista.

Dessa forma, foram apresentados alguns conceitos de

Direito Processual do Trabalho segundo o entendimento dos autores citados.

1.4. PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

O princípio constitui-se um ponto de partida, um fundamento.

No direito processual do trabalho equivalem à enumeração de idéias básicas nele

contidas.

Existem princípios que são inerentes tanto ao processo

trabalhista quanto ao comum. Em ambos está presente a jurisdição, a ação e o

30

processo. Assim, aplicam-se à processualística trabalhista os princípios do

processo comum, exceto no que forem incompatíveis em seus fins.

O Direito Processual do Trabalho apesar de ser ramo

específico do Direito, tem seus princípios próprios. Os doutrinadores apresentam

entendimentos diferentes com relação aos princípios do processo do trabalho.

Martins Filho39, por exemplo, traz em sua obra um rol de

dezessete princípios. Destes, serão tratados aqui, somente os previstos na CLT e

súmulas do Tribunal Superior do Trabalho, quais sejam: subsidiariedade (art. 769,

CLT), concentração de recursos (art. 893, § 1º, CLT), oralidade (arts. 847 e 850

CLT), celeridade e economia processual (art. 765, CLT), concentração (art. 849,

CLT), conciliação (art. 846 e 850, CLT), indisponibilidade de direitos (art. 9º, CLT),

e aplicação da lei do local da execução do contrato (Súmula 207 do TST).

O princípio da subsidiariedade é aquele que prevê por força

do art. 769 da CLT a aplicação subsidiária do Direito Processual Civil ao Direito

Processual do Trabalho, desde que haja compatibilidade das normas.

A concentração de recursos, segundo Martins Filho40,

defende a “irrecorribilidade das decisões interlocutórias (que não são terminativas

do feito), devendo o recurso ser interposto apenas quando esgotada a discussão

da matéria nas instâncias inferiores”.

O princípio da oralidade, segundo Saad41, ”é um dos

estágios mais avançados da evolução do processo judicial”.

A oralidade é a leitura da reclamação, da defesa oral, as

quais deverão ser feitas em vinte minutos. A discussão da proposta de

38 GONÇALVES, Emilio. Manual de prática processual trabalhista. 6 ed. São Paulo: LTr, 2001.p. 26 39 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 165. 40 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho. p. 165. 41 SAAD, Eduardo Gabriel. Direito processual do trabalho. 2004. P. 117.

31

conciliação, o interrogatório das partes, o depoimento das testemunhas, poderão

ser realizados oralmente como também a exposição das razões finais, em dez

minutos. Este princípio não impede que sejam feitas algumas concessões à forma

escrita do procedimento.

A celeridade e a economia processual segundo Martins Filho 42 é “o máximo de atuação da lei com o mínimo de atividade processual”. Este

princípio visa combater os expedientes protelatórios da solução final da demanda

através da aplicação de multas, ou ainda, impondo indenizações á parte

prejudicada pela demora. Busca o mínimo de duração de um processo.

O princípio da concentração, de acordo com o art. 849 da

CLT, determina que os atos processuais se concentrem em uma única audiência,

que deverá ser contínua, ou na impossibilidade de concluí-la no mesmo dia,

caberá ao magistrado fixar nova data para seu prosseguimento. Saad43 comenta

que “Na prática, a regra é a audiência não chegar a seu término num mesmo dia,

e, por isso, desdobrar-se em várias sessões”.

A conciliação, conforme Martins Filho44, é “buscada

primordialmente, só se julgando o processo se não for possível compor o litígio

mediante acordo judicial”.

Quando se fala no princípio da conciliação tem que se

considerar o seguinte: embora ele não seja exclusividade do processo laboral, é

aqui que ele se mostra mais evidente, tendo, inclusive, um iter procedimentalis

peculiar, nos termos do art. 764 e seus parágrafos da CLT.

Ainda tem-se a condição intrínseca para a validade da

sentença trabalhista do art. 831 da CLT que estabelece que ela somente “será

proferida depois de rejeitada pelas partes a proposta de conciliação”.

42 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho. p. 165. 43 SAAD, Eduardo Gabriel. Direito processual do trabalho. p. 117. 44 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho. p. 166.

32

O primeiro momento para ser proposta a conciliação está

previsto no art. 846 da CLT e deve ocorrer na abertura da audiência. A segunda

tentativa de conciliação está prevista no art. 850 da CLT, ocorre após o término

da instrução e da apresentação das razões finais pelas partes.

O parágrafo único do art. 831 da CLT equipara o termo de

conciliação à coisa julgada, que valerá como decisão irrecorrível, salvo para a

Previdência Social quanto às contribuições que lhe forem devidas.

Sobre o termo de conciliação, as palavras de Saad:45

Entendeu o Tribunal Superior do Trabalho, pelo Enunciado n. 259 de sua súmula (“Só por ação rescisória é atacável o termo de conciliação previsto no parágrafo único do art.831 da CLT”), que o acordo nos autos não só equivale a uma sentença irrecorrível como também o é a sentença que o tiver homologado.

A conciliação e a transação são dois institutos que não se

distinguem. Ambos resultam de um acordo de vontades mediante concessões

mutuas.

Saad46, sobre o assunto diz que: ”No âmbito trabalhista, a

transação realiza-se entre particulares, enquanto a conciliação materializa-se sob

a supervisão do juiz, embora também resulte de reciprocidade de concessões”.

A indisponibilidade de direitos, determina que não será

admitido a realização de acordo que resulte em prejuízo ao empregado, é a

previsão do art. 9º da CLT, a seguir transcrito:

Art. 9º. Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente consolidação.

O empregado poderá renunciar a seus direitos em juízo, pois

nesse caso, não se poderá dizer que ele esteja sendo coagido a fazê-lo.

45. SAAD, Eduardo Gabriel. Direito processual do trabalho. p. 122.

33

Entretanto se estiver ainda na empresa não poderá se falar em renúncia, pois, a

regra é que seus direitos são irrenunciáveis, pois tal renúncia poderá dar ensejo a

fraudes.

O princípio da indisponibilidade constitui emanação do

princípio da indisponibilidade ou irrenunciabilidade do direito material no campo

do processo do trabalho. Justifica este princípio uma considerável gama de

normas de ordem pública do direito material do trabalho, o que implica a

existência de um interesse social que vai além da vontade dos sujeitos do

processo no seu cumprimento e influencia a própria gênese da prestação

jurisdicional.

Assim entende Leite47: “numa palavra, o processo do

trabalho teria uma função finalística: a busca efetiva do cumprimento dos direitos

indisponíveis dos trabalhadores”.

A aplicação lei do local da execução do contrato é um

princípio que rege a solução de conflitos de leis no espaço. Deverá ser aplicada

não a lei do local em que foi celebrado o contrato de trabalho e sim a do local

onde se deu a prestação do serviço. É nesse sentido a redação da Súmula 207

do Tribunal Superior do Trabalho, que a seguir destaca-se:

Conflitos de leis trabalhistas no espaço. Princípio da lex loci executionis.

207. A relação jurídica trabalhista é regida pelas leis vigentes no

país de prestação de serviço e não por aquelas do local da

contratação.

Geralmente o local da prestação de serviço coincide com o

do local em que está estabelecida a empresa. Caso não haja esta coincidência,

em princípio, prevalece a regra, de que a ação deve ser movida no local em que o

serviço se desenvolveu.

46 SAAD, Eduardo Gabriel. Direito processual do trabalho. p. 121. 47 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 68.

34

Como já citado anteriormente, são várias as a relações de

princípios do processo do trabalho de um para outro autor. Há uma certa

divergência de entendimento quanto a este tema.

O mais importante princípio do processo do trabalho,

embora não presente na relação tratada acima, é sem dúvida é o da proteção.

Em regra, deve-se buscar uma forma de compensar a

superioridade econômica do empregador sobre o empregado, proporcionando a

este último uma superioridade jurídica. E isso somente será possível, se for

conferido ao empregado a proteção que lhe é dispensada por meio da lei.

Para Martins48:

[...] o processo do trabalho tem apenas um princípio, estando nele englobadas diversas peculiaridades. Adotamos, em parte, as lições do professor Wagner Giglio... este autor faz a divisão em princípios (a) reais: protecionista, simplificação dos procedimentos, jurisdição normativa e despersonalização do empregador; (b) ideais: ultra ou extra petição, iniciativa de oficio e coletivização das ações.

E continua:

O verdadeiro princípio do processo do trabalho é o da proteção. Assim como no Direito do Trabalho, as regras são interpretadas mais favoravelmente ao empregado, em caso de dúvida, no processo do trabalho também vale o princípio protecionista, porém analisado sob o aspecto do direito instrumental.

No entendimento de Nascimento49:

A tese da autonomia do direito processual do trabalho perante o comum leva à identificação da unificação dos seus princípios específicos, e, ao contrário, a afirmação da unificação do direito

48 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 72. 49 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. p. 105

35

processual serve de pressuposto para o reconhecimento de princípios também comuns e a inexistência de princípios específicos, apesar das particularidades do processo trabalhista.

O princípio da proteção ou o princípio protetor ou tutelar

busca compensar a desigualdade existente na realidade com uma desigualdade

em sentido oposto.

Leite50, assim se refere ao Princípio da Proteção:

O princípio protetor deriva da própria razão de ser do Direito do Trabalho, pois esta disciplina foi criada justamente para compensar a desigualdade real existente entre patrão e empregado, que são na verdade os mesmos litigantes do processo laboral.

Algumas normas processuais de proteção ao trabalhador,

deixam claro esse princípio protecionista. Tem-se assim a gratuidade do

processo, com a isenção do pagamento de custas e despesas, que aproveita ao

trabalhador, mas não ao patrão; também a assistência judiciária gratuita é

fornecida somente ao empregado; a inversão do ônus da prova por meios de

presunções favorece o trabalhador e nunca ou raramente o empregador. O

impulso processual ex oficio, salvo raras exceções, quem sempre aufere o

proveito da decisão é o empregado.

Sobre este tema, as palavras de Bezerra Leite51:

A desigualdade econômica, o desequilíbrio para a produção de provas, a ausência de um sistema de proteção contra a despedida imotivada, o desemprego estrutural e o desnível cultural entre os sujeitos da lide certamente são realidades que são trasladadas para o processo do trabalho.

Acrescenta-se ainda, que o não comparecimento do autor

(geralmente empregado) à audiência, implica o arquivamento dos autos, ao passo

que a ausência do réu implica na sua confissão ficta e revelia. E ainda neste

50 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 70

36

âmbito, a obrigatoriedade do depósito recursal (CLT, art. 899, § 4º) é exigido

apenas do empregador e nunca do empregado.

Com efeito, a própria idéia de justiça traz que é justo tratar

de forma desigual os desiguais, na mesma proporção em que se desigualam,

sendo o favorecimento qualidade da lei, e não defeito do juiz, que por sua vez

deve aplicá-la com objetividade, sem deixar que seu comportamento seja

influenciado por suas tendências pessoais.

Para Theodoro Junior52 o princípio da finalidade social :

o primeiro e mais importante princípio que informa o processo trabalhista, distinguindo-o do processo civil comum, de cuja observância decorre uma quebra do princípio da isonomia entre as partes, pelo menos em relação à sistemática tradicional do direito formal.

Leite53, desenvolve um comparativo entre estes dois princípios:

A diferença básica entre o princípio da proteção[...] e o da finalidade social é que, no primeiro, a própria lei confere a desigualdade no plano processual; e no segundo, permite-se que o juiz tenha uma atuação mais ativa, na mediada em que auxilia o trabalhador em busca de uma solução justa, até chegar o momento de proferir a sentença. Parece-nos, contudo, que os dois princípios -proteção e finalidade social – se harmonizam e, pelo menos em nosso ordenamento jurídico, permitem que o juiz, na aplicação da lei, possa corrigir uma injustiça da própria lei. É o que prescreve o art. 5º do Decreto-Lei n. 4.657/1942 (LICC), segundo o qual, “na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”.

O princípio da busca da verdade real, também conhecido

como princípio da livre investigação das provas, deriva do princípio material da

primazia da realidade e é aplicado com maior ênfase na processualística

51 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 71 52 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p.72 53 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 73

37

trabalhista que na civil. Nesse sentido, o art. 765 da CLT, confere aos Juízos e

Tribunais do Trabalho ampla liberdade na direção do processo. Para isso, os

magistrados velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar

qualquer diligência que se faça necessária ao esclarecimento delas.

Teodoro Junior54, falando sobre este princípio esclarece que:

É verdade que, devendo o juiz sentenciar apenas com base nos elementos dos autos, pode o julgamento, em alguns casos, afastar-se da verdade, principalmente quando a parte não for feliz na obtenção e produção de suas provas. Isto, porém, não infirma o princípio. Apenas revela as deficiências e imperfeições de toda obra humana. Certo, porém é que o sistema está compromissado com a verdade real e só quando esta não for, de fato praticável, é que se contenta com os mecanismos da presunção (verdade formal).

Este princípio delega aos juízes a determinação da

realização das provas para atingir a verdade real dos fatos e formar o seu

convencimento.

Nesse sentido, eis o entendimento de Bebber55:

Em se tratando de investigação oficial das provas encontramos três correntes distintas. A primeira é formada pelos que atribuem caráter estritamente privado ao processo, de modo a não conferir poder de iniciativa instrutória ao juiz. A segunda corrente compõe-se de países que têm o processo público, admitindo, porém, com restrições, a iniciativa oficial no campo probatório, como, v.g., na Alemanha, Suécia e Colômbia. A terceira corrente é formada pelos adeptos à ampla investigação instrutória do juiz, face o caráter estritamente público do processo, como é o caso, e.g., do Chile, da França, da Argentina, dos países da common law, da Áustria, da Hungria, da Polônia, da Itália, do México, da Rússia e do Brasil.

54 THEODORO JUNIOR, Humberto. Compêndio de direito processual do trabalho. p..57. 55 BEBBER, Julio César. Princípios do processo do trabalho. São Paulo: LTr, 1997. P. 442.

38

Conforme exposto acima e observadas as divergências

entre os doutrinadores sobre quais sejam os princípios específicos do processo

do trabalho, estes são os considerados mais importantes e cuja observância se

faz necessária quando o que se busca é uma efetiva prestação jurisdicional,

levando sempre em conta a finalidade precípua do processo do trabalho, qual

seja, assegurar os direitos do trabalhador.

1.5 PROCEDIMENTOS NO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

O procedimento constitui a formalidade que se deve

observar na prática de um ato do processo; é o modo pelo qual a lei determina

que o ato, ou a atividade processual se realize. É também a ordem que deve ser

obedecida; a marcha dos autos. É fenômeno facilmente perceptível.

Não há como fazer confusão entre os conceitos de

processo e procedimento. O processo é um conjunto de atos processuais que vão

se sucedendo e de forma coordenada dentro da relação processual, até chegar à

coisa julgada.

O procedimento, ou rito, por outro lado é a forma, o modo, a

maneira como os atos processuais se vão desenvolvendo e se projetando dentro

da relação jurídica processual. É o modus faciendi do processo, o seu aspecto

exterior.

Para Saad56 “Processo é uma diretriz, um caminhar rumo à

provisão jurisdicional; procedimento é a forma e o modo dos atos processuais na

ordem seqüencial do processo”.

O processo visa a composição da lide e o procedimento se

preocupa com o aspecto exterior dos atos processuais, com sua forma e com o

modo pelo qual eles se legam e se sucedem, o que constitui a diferença entre

eles.

56 SAAD, Eduardo Gabriel. Direito processual do trabalho. p. 77.

39

O procedimento no processo do trabalho é eminentemente

oral e caracteriza-se pela sua concentração.

No processo do trabalho existem dois tipos de

procedimentos:

a) o procedimento comum, que se divide em ordinário,

sumário e sumaríssimo;

b) o procedimento especial, que é o adotado para as ações

especiais com previsão na própria CLT, como o inquérito para apuração de falta

grave, o dissídio coletivo e a ação de cumprimento.

O procedimento ordinário, que é o mais utilizado dentro do

processo do trabalho, está previsto, embora sem o devido rigor metodológico, nos

arts. 837 a 852 da CLT.

O procedimento ordinário segundo Almeida:57

No processo do trabalho, os processos que não se inserem nos ritos sumário (até dois salários mínimos) e sumaríssimo (até quarenta salários mínimos) submetem-se necessariamente ao procedimento ordinário, excetuadas as ações especiais.

Até o início da década de 70, o rito ordinário era único no

processo do trabalho e sua marca registrada era a concentração dos autos

processuais em um único procedimento.

Com a elevação do número de processos e a complexidade

dos novos conflitos submetidos à prestação jurisdicional desse ramo

especializado do poder judiciário, essa prática deixou de ter eficácia, em função

de seu desuso.

57 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso prático de processo do trabalho. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 181

40

O procedimento sumário no âmbito da Justiça do Trabalho

foi instituído pela lei 5.584/70 cujo objetivo principal era possibilitar maior

celeridade às causas trabalhistas de valor até dois salários mínimos. Esta lei

instituiu, portanto, a chamada “causa de alçada” que na verdade é uma ação que

se submete ao procedimento sumário, que tem sua regulação prevista nos §§ 3º e

4º do art. 2º da referida lei.

Gonçalves58, tratando do procedimento sumário, traz que:

... cumpre acentuar que a adoção do rito sumário não depende de requerimento das partes. O juiz é que determinará, ou não, o rito procedimental, seguindo seu prudente critério, fazendo constar da ata que o processo será instruído segundo o rito sumário.

Por força da lei 9.957/2000, que acrescentou a CLT os

artigos 852-A a 852-I, introduziu-se o procedimento sumaríssimo no processo

trabalhista.

Leite59 entende que:

O novo procedimento sumaríssimo não extinguiu o procedimento sumário previsto na Lei nº 5.584/70, uma vez que, a par de não ter havido revogação expressa na lei nova, inexiste qualquer incompatibilidade entre os dois textos legais da qual se possa inferir a revogação tácita da norma mais antiga.

O procedimento sumaríssimo só tem cabimento nas ações

trabalhistas individuais em que o valor da causa seja maior que dois e não

ultrapasse a quarenta salários mínimos.

No âmbito dos procedimentos especiais o Inquérito para

apuração de Falta Grave é a ação proposta pelo empregador que pretende

comprovar a prática de ato culposo por empregado estável.

58 GONÇALVES, Emilio. Manual de prática processual trabalhista. p. 191. 59 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 258.

41

Alguns empregados, devido a determinadas estabilidades,

só podem ser demitidos se cometerem falta grave, que deverá ser apurada em

inquérito judicial na Justiça do Trabalho.

Lima60, sobre o inquérito para apuração de falta grave:

Não são todos os casos de estabilidade que desafiam a instauração de Inquérito Judicial como condição à despedida do trabalhador. O Inquérito só constitui exigência quando a legislação proteger o empregado contra despedida pelo empregador, “salvo se cometer falta grave”. Deste modo, quando a lei permite a rescisão por prática de simples justa causa ou desde que a dispensa não seja arbitrária, o empregador não precisará ajuizar o Inquérito Judicial; de logo poderá despedir o obreiro, se constatar a prática de justa causa; então, o trabalhador se discordar da atribuição que impingiu o empregador, poderá demandar a Justiça do Trabalho, onde questionará, por meio de ação trabalhista, a razão da dispensa.

Diz o artigo 853 da CLT: “Para a instauração de inquérito

para apuração de falta grave contra o empregado garantido com estabilidade, o

empregador apresentará reclamação por escrito à Vara do Trabalho ou Juízo de

Direito, dentro de 30 dias, contados da data da suspensão do empregado”.

O inquérito para apuração de falta grave diferencia-se do

dissídio individual comum somente em dois pontos: a peça inicial do processo tem

que ser, sempre, escrita, e não se admite que a reclamação seja feita de forma

verbal; e o prazo para a propositura do inquérito é de 30 dias a contar da data da

suspensão do empregado.

No que se refere ao prazo, Saad61 comenta que:

Escoado o prazo de 30 dias, e não tomando o empregador as providências necessárias para que se instaure o respectivo inquérito, está de forma tácita reconhecendo que o deslize atribuído ao empregado não é daqueles que tornam impossível o

60 LIMA, Francisco Gérson Marques de. Direito processual do trabalho (teoria, crítica e prática). 3 ed. São Paulo: MALHEIROS Editores, 2001. p. 235.

42

prosseguimento da relação de emprego.

O dissídio coletivo nasce da luta travada entre os

empregados na busca por melhores salários e o empresários no objetivo de

auferir maiores margens de lucros. O modelo da organização social de nossos

dias se caracteriza pelas intermináveis divergências entre o capital e o trabalho.

Saad 62 expõe que:

Os conflitos coletivos de trabalho podem ser solucionados de três modos: a autodefesa a autocomposição e a heterocomposição.”

O primeiro modo consiste na decisão de as partes resolverem a divergência mediante a greve ou o lockout.

O segundo modelo é o da autocomposição, em que as partes, depois de negociarem as bases da conciliação, celebram uma Convenção ou Acordo Coletivo do Trabalho.

O terceiro modelo – o da heterocomposição - desdobra-se em três: a) a mediação em que alguém se coloca entre as partes e oferece-lhes sugestões que possam levar a um entendimento final; b) a arbitragem em que os litigantes, espontaneamente, designam alguém de sua confiança para solucionar o litígio, mediante o prévio compromisso de se submeterem ao laudo que, a final, lhes for apresentado; c) a solução compulsória da controvérsia por meio de arbitragem ou decisão judicial.

Não há na legislação vigente impedimento a utilização de

qualquer dos modelos acima apontados para por termo a uma controvérsia

coletiva.

O processo coletivo do Trabalho tem uma particularidade:

sua sentença normativa não é executada no tribunal que a proferiu.

61 SAAD, Eduardo Gabriel. Direito processual do trabalho. p. 679. 62 SAAD, Eduardo Gabriel. Direito processual do trabalho. p. 681.

43

Uma vez proferida a sentença normativa ou ocorrendo a

celebração de acordo no processo de dissídio coletivo, deverá ser cumprido o

instrumento normativo.

O remédio jurídico para o descumprimento dessa sentença

ou acordo é a ação de cumprimento, nos termos do art. 872, parágrafo único da

CLT.

Almeida63 ao falar da ação de cumprimento:

As sentenças normativas (declaratórias constitutivas) não são exeqüíveis, já que não são condenatórias. Assim, na eventualidade de os empregadores por ela abrangidos não as cumprirem espontaneamente, poderá o interessado, ou seu sindicato, mover contra eles a chamada ação de cumprimento, prevista no art. 872, parágrafo único, da CLT.

Na ação de cumprimento faz-se necessário a identificação de cada um dos autores.

A competência para conhecer e julgar uma ação de

cumprimento é da Vara do Trabalho, abrindo-se assim, uma exceção ao princípio

processual de que o Juízo competente para promover a execução é aquele que

sentenciou o feito.

Ao empresário, é vedado defender-se na ação de

cumprimento alegando nulidade da sentença, uma vez que a desconstituição

desta só se opera através de ação rescisória.

Saad64, em comentário a essa vedação:

É de se admitir que, numa ação de cumprimento, seja o empregador um revel. Não se apresentou em Juízo para defender-se e, aí, “reputarão verdadeiros os fatos afirmados pelo autor” (art. 319, do CPC).

63 ALMEIDA, Amador Paes de. CLT Comentada. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 457. 64 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 32 ed. São Paulo: LTr, 2000. p. 607.

44

Nesse sentido, Barros65 entende que “na ação de

cumprimento, é vedado questionar sobre matéria de fato e de direito já apreciada

na decisão normativa”.

Assim, são estes os procedimentos utilizados para os

dissídios individuais no Processo do Trabalho, acompanhados de algumas de

suas particularidades.

No próximo capítulo serão tratados os procedimentos

ordinário e sumário no Processo do Trabalho

65 BARROS, Alice Monteiro de. Compêndio de direito processual do trabalho. p. 700.

45

CAPÍTULO 2

DOS PROCEDIMENTOS ORDINÁRIO E SUMÁRIO NO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

2.1. DO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO

2.1.1. CONCEITO

No âmbito do dissídio individual, o direito processual do

trabalho compreende o procedimento sumário (Lei n. 5.584/70), o sumaríssimo

(Lei n. 9.957/2000), e o ordinário, também denominado comum.

Almeida66 citando Frederico Marques, assim conceitua o

Procedimento Ordinário:

Procedimento ordinário ou comum é aquele em que o juiz decide a lide através de cognição completa, e em que as partes discutem o litígio amplamente. Nele, o devido processo legal encontra a mais dilatada de suas formas procedimentais, e aquela que melhor propicia a reconstituição dos fatos, bem como os debates em torno das várias facetas do litígio.

Estabelece-se o procedimento ordinário para as ações cujo

valor ultrapasse o teto de quarenta salários mínimos.

2.1.2. CARACTERÍSTICAS DO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO

O procedimento ordinário caracteriza-se pela observância

de número maior de atos e prazos e segundo Moacyr Amaral Santos, citado por

66 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso prático de processo do trabalho. p. 182.

46

Almeida67, pressupõe necessariamente “as fases lógicas do processo de

conhecimento: fase postulatória, fase probatória e fase decisória”.

No Processo do Trabalho, excetuadas os casos especiais,

submetem-se necessariamente a este procedimento as ações que não se

inserem nos ritos sumário ou sumaríssimo.

2.1.3 HIPÓTESES DE CABIMENTO

Este procedimento é o mais utilizado em matéria trabalhista

e encontra-se regulado nos dispositivos da CLT.

Nos artigos 837 e 838, a CLT trata das formas da

apresentação da reclamação trabalhista.

Eis a redação dos citados artigos:

Art. 837 – Nas localidades em que houver apenas uma Junta de Conciliação e Julgamento, ou um escrivão do Cível, a reclamação será apresentada diretamente à secretaria da Junta, ou ao cartório do Juízo.

Art. 838 – nas localidades em que houver mais de uma Junta ou mais de um Juízo, ou escrivão do cível, a reclamação será, preliminarmente, sujeita a distribuição, na forma do disposto no Capítulo II, Seção II, deste título.

Necessário se faz esclarecer que atualmente não é mais

utilizada a denominação Junta e sim Vara trabalhista.

O que se deve entender destes dispositivos é que nas

localidades em que houver apenas uma Vara do Trabalho, a Reclamação

Trabalhista deverá ser apresentada diretamente à secretaria. Havendo mais de

uma Vara do Trabalho, será a Reclamação apresentada diretamente á

distribuição que irá encaminhá-la à respectiva Vara.

67 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso prático de processo do trabalho. p. 181.

47

O artigo 839 da CLT em suas alíneas a e b traz a forma

como deve ser apresentada a reclamação trabalhista. Assim:

Art. 839 – A reclamação poderá ser apresentada:

a) pelos empregados e empregadores, pessoalmente, ou por seus representantes, e pelos sindicatos de classes;

b) por intermédio das Procuradorias Regionais da Justiça do Trabalho;

Dessa forma, a Reclamação Trabalhista poderá ser

apresentada tanto pelo empregado ou pelo próprio empregador, este último, nas

ações em que for autor, e pelos sindicatos, ou ainda pela Procuradoria da Justiça

do Trabalho, o que ocorre normalmente em reclamações movidas por menores

desassistidos de seus responsáveis legais.

A petição inicial no procedimento ordinário trabalhista segue

os requisitos do art. 840 da CLT §§ 1º e 2º que dispõem o seguinte:

Art. 840 – a reclamação poderá ser escrita ou verbal.

§ 1º - Sendo escrita, a reclamação deverá conter a designação

do Presidente da Junta, ou do Juiz de Direito, a quem for dirigida,

a qualificação do reclamante e do reclamado, uma breve

exposição dos fatos de que resulte o dissídio, o pedido, a data e

a assinatura do reclamante ou de seu representante.

§ 2º -Se verbal, a reclamação será reduzida a termo, em duas

vias datadas e assinadas pelo escrivão ou chefes de secretaria,

observando, no que couber, o disposto no parágrafo anterior.

O que se extrai desse artigo e de seus parágrafos é que

quando a petição for escrita, ela será preparada pela própria parte, ou por seu

procurador e advogado. Nela o interessado deverá expor os fatos e ao final

formular sua pretensão.

48

Sobre a petição inicial escrita, as considerações de

Martins68:

A petição inicial é uma das peças mais importantes do processo. É dela que irão decorrer as demais conseqüências do processo. Por isso, deve ser redigida cuidadosamente, de modo que, não só a parte contrária a entenda perfeitamente, como também o juiz ao proferir a sentença compreenda o que está sendo postulado pelo autor.

E continua dizendo que “... a petição deve obedecer um

encadeamento lógico, se possível histórico e cronológico, dos fatos e

fundamentos, para se chegar na conclusão, onde vai ser feito o pedido, inclusive

com os cálculos dos valores pretendidos”.

Sendo a petição verbal será formulada pelo próprio

interessado, o reclamante, perante um funcionário da secretaria da Vara do

Trabalho ou do Cartório, onde não haja Justiça do Trabalho e o juiz de direito

acumula a jurisdição trabalhista.

No caso de petição verbal, esta só será reduzida a termo

após a distribuição, obedecendo a previsão do art. 786 da CLT:

Art. 786 – a reclamação verbal será distribuída antes de sua redução a termo.

E ainda o parágrafo único do mesmo artigo:

Parágrafo único. Distribuída a reclamação verbal, o reclamante deverá, salvo motivo de força maior, apresentar-se no prazo de cinco dias, ao cartório ou à secretaria, para reduzi-la a termo, sob a pena estabelecida no artigo 731.

A redução a termo será feita na presença do reclamante,

que deverá apresentar-se à secretaria ou cartório no prazo de 05 dias a partir da

data da distribuição, sob pena de não o fazendo, perder pelo prazo de 06 meses,

68 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 257, 258.

49

o direito de reclamar perante a Justiça do Trabalho segundo dispõe o art 731 do

diploma legal supracitado e a seguir transcrito:

Art. 731 – Aquele que, tendo apresentado ao distribuidor reclamação verbal, não se apresentar, no prazo estabelecido no parágrafo único do artigo 786, Junta ou Juízo para fazê-la tomar por termo, incorrerá na pena de perda, pelo prazo de seis meses, do direito de reclamar perante a Justiça do Trabalho.

A exordial de uma reclamação trabalhista deverá conter:

a) a designação do juiz a quem for dirigida, ou seja, o órgão

jurisdicional perante o qual se processará a demanda.

Sobre o assunto, o entendimento de Nascimento 69:

Nas localidades onde existe mais de um órgão judicial com igual competência, da petição não é possível constar a designação do juízo, porque esse elemento só será conhecido após a distribuição. A petição é dirigida deixando-se espaço para posterior colocação pela Justiça do Trabalho do número da vara para onde o processo tiver sido distribuído.

b) a qualificação do autor, isto é, todos os dados que sejam

convenientes à sua identificação.

Martins70, sobre este tema traz o seguinte:

A qualificação do reclamante envolve o nome completo nacionalidade, profissão e estado civil. Deve ser indicado o endereço completo do reclamante, de preferência com CEP, para agilizar eventual notificação. Não há necessidade de indicação da data de nascimento do autor, por falta de previsão legal nesse sentido. É aconselhável que seja mencionado um documento de identificação, como cédula de identidade, CPF, ou numero da CTPS do trabalhador.

69 NASCIMENTO. Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. p. 387 70 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 256.

50

Ainda nesse sentido, o comentário de Nascimento71:

O nome do autor é indispensável, inclusive para estabelecer se tem capacidade processual, além da qualificação da parte é necessária a individualização do representante, que também é mencionado na petição inicial, declarando-se essa sua qualidade. A indicação do domicílio deve ser precisa, para fins de notificação postal. Se não houver distribuição postal na residência do autor, essa circunstância deve ser mencionada, para que a notificação postal dos atos que venham a ocorrer no curso do processo seja feita por diligência do oficial de justiça.

c) A individualização do réu o qual via de regra é uma

empresa.

É prática comum indicar a empresa, na petição inicial, por

seu nome fantasia ou também mencionar a firma ou sua razão social.

Sobre a individualização do réu, as palavras de Martins72:

A qualificação do réu deve ser a mais completa possível, como nome completo. Se for empregador pessoa física, também há necessidade de indicar sua qualificação. Deve ser apontado o endereço completo, de preferência com CEP. Se o empregador tiver, deve ser indicado o CNPJ da empresa.

Ainda no que tange à individualização do réu, Nascimento73

faz algumas considerações:

É errado, no caso de sociedades comerciais, constar o nome dos sócios e não o da sociedade. A ação é movida contra esta e não contra aqueles. Além do nome, é indispensável o domicílio do réu, para fins de citação. Se a ação é movida contra pessoa física, o réu é qualificado, do mesmo modo que o autor. Em se tratando de massa falida, é necessário apontar o síndico que a representará no processo, com os elementos necessários para a sua individualização, inclusive domicílio, para os mesmos fins de citação.

71 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. p. 387. 72 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p. 257. 73 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. p. 387

51

d) A exposição dos fatos que deverá ser breve, clara e

precisa.

A teoria observada pelo nosso direito é a da substanciação,

segundo a qual devem os fatos ser expostos circunstanciadamente. Este sistema,

além de ser superior, tecnicamente falando, é o mais adequado ao processo

trabalhista, cabendo ao juiz a qualificação da ação de acordo com os fatos

trazidos pelo interessado.

Sobre este tema as considerações de Nascimento74:

O processo trabalhista, no entanto, também aqui é simplificado, porque no próprio pedido já está, muitas vezes, contida a sua causa. O pedido de salário é causado pelo atraso do pagamento. O pedido de férias, pela sua concessão etc. se há uma causa específica e não rotineira, deve ser mencionada detalhadamente. Devem ser excluídos os fatos não vinculados diretamente com a demanda: a síntese é um imperativo da época. Somente os fatos que possam influir de algum modo na solução de causa devem ser relacionados.

Martins75, a esse respeito faz o seguinte comentário:

A expressão “breve exposição dos fatos” significa que na petição deveria haver apenas a narração dos fatos. O § 1º do art. 840 da CLT não exige que seja indicado o fundamento jurídico do pedido. Bastaria a parte narrar os fatos e o juiz iria enquadrá-lo dentro do Direito.

A utilização da breve exposição dos fatos é originária da época em que a Justiça do Trabalho era administrativa, além do que não há necessidade de advogado para postular em juízo. Assim, o leigo poderia redigir a petição inicial, fazendo breve exposição dos fatos.

Entretanto, em certos casos não basta apenas a narração dos fatos, mas a causa de pedir e a fundamentação jurídica do pedido, especialmente quando a matéria é de direito.

74 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. p. 388. 75 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 257.

52

e) O pedido, que é a expressão da pretensão do autor.

O pedido é a solicitação de tutela judicial pleiteada pelo

autor ao Estado, em face do réu, com intuito de resgatar ou proteger o interesse

transformado em lide.

O art. 286 do CPC dispõe que o pedido deve ser certo ou

determinado.

Santos, citado por Martins76, menciona que “o pedido

determinado ou certo é o definido ou delimitado em suas qualidades e

quantidades”.

Entretanto poderá o autor formular pedidos genéricos,

quando não for possível quantificar o pedido, mas mesmo nestes casos, terá que

atribuir um valor a este pedido, ainda que por estimativa.

É a providência jurisdicional desejada, e de acordo com a

natureza da ação poderá ser de providência jurisdicional condenatória,

constitutiva, declaratória, cautelar ou executória. Deverá versar sobre o principal e

sobre os acessórios.

Tratando dos pedidos, Nascimento77:

Quanto ao modo de cumprimento da obrigação, o pedido pode ser alternativo, quando de mais de um modo pode ser cumprida a obrigação (ex.: pagamento de salário ou rescisão do contrato de trabalho por despedimento indireto), simples, quando a obrigação pretendida tem de ser cumprida de um só modo (ex.: Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), ou acumulado, que significa a pluralidade de pedidos na mesma ação, muito freqüente no processo trabalhista (ex.: Fundo de Garantia, aviso prévio, décimo terceiro salário, férias, salário-família, horas extras, adicional noturno etc.).

76 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 258. 77 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. p. 388

53

Ainda com relação aos pedidos, estes poderão ser líquidos

ou ilíquidos, conforme a determinação ou indeterminação do valor econômico

pleiteado, e das prestações vencidas ou vincendas.

Será líquido quando o autor explicitar os valores que postula

perante o juízo, título por título. Caso contrário será obviamente ilíquido.

f) A data e assinatura do autor ou representante.

Basta a assinatura do advogado, porém, nada impede que a

parte também assine, com ele, a petição inicial.

g) O valor da causa.

É a determinação da expressão econômica da pretensão,

sendo certo quando todo o pedido é líquido, ou, por estimativa se o pedido

depender de liquidação ou se tratar de obrigação de fazer.

O valor da causa é o correspondente em dinheiro que o

autor atribui à ação, e deve ser indicado logo na petição inicial. É diferente

daquele fixado na condenação e do valor da liquidação. Vejamos em que consiste

essa diferença:

O valor da causa é apontado pelo autor já na inicial, ou

fixado pelo juiz em audiência. O valor da condenação é a quantia indicada na

sentença pelo juiz. E finalmente o da liquidação é apurado na fase de liquidação

de sentença.

Martins78 falando do valor da causa:

O valor da causa no processo do trabalho deve corresponder àquilo que o autor realmente pretende receber do reclamado, incluindo-se a correção monetária e juros, até por força do princípio da lealdade processual e da boa-fé ao se ajuizar uma

78 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 260.

54

ação. Caso o pedido não tenha condições de ser apurado, ou seja indeterminado, o autor deverá atribuir o valor da causa por estimativa, não havendo que se falar em valor da causa para efeitos de alçada ou apenas para efeito de custas, por falta de norma legal dispondo nesse sentido, e por inexistência de valor da causa.

Se a exordial for omissa, o valor será fixado pelo juiz na

audiência logo após a defesa do reclamado.

O artigo 2º da Lei 5.584/70 ainda sobre o valor da causa

dispõe:

Art. 2º. Nos dissídios individuais, proposta a conciliação, a não havendo acordo, o Presidente, da Junta ou o Juiz, antes de passar à instrução da causa, fixar-lhe-á o valor para determinação da alçada, se este for indeterminado no pedido.

Nos pedidos líquidos, o valor da causa será o

correspondente á soma da pretensão material. Nos ilíquidos, assim considerados

aqueles que não estabelecem valores, relegando a apuração do quantum

debeatur para fase posterior, será o valor da causa estabelecido por estimativa.

Nascimento79 acrescenta que “a importância do valor da

causa relaciona-se com a determinação do tipo de procedimento, porque, em se

tratando de ações de valor que não ultrapasse dois salários mínimos, o

procedimento é sumário”.

Ainda no que se refere à petição inicial, ela deverá ser

acompanhada da procuração outorgada pela parte ao advogado, por instrumento

público ou particular. Devem também instruí-la os documentos com os quais o

autor pretende demonstrar os fatos que alega.

A marca registrada deste procedimento era até então a

concentração dos atos processuais em um único procedimento. Porém com a

79 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. p. 389.

55

prática, essa norma deixou de ter eficácia, em função do seu desuso. Isso se deu

tanto em função da elevação do número de processos quanto pela complexidade

dos novos conflitos submetidos à prestação jurisdicional da Justiça do Trabalho.

2.1.4. A AUDIÊNCIA NO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO

No Processo do trabalho, a audiência, em razão do princípio

da concentração, possui algumas peculiaridades, por isso que abrange os atos

mais significativos e de especial relevância.

Na audiência deverão estar presentes o reclamante e o

reclamado.

A audiência é tratada pela CLT do artigo 843 ao 852, e

destes alguns merecem comentários, no assunto ora tratado.

Por força de algumas modificações, a audiência no

procedimento ordinário trabalhista na prática passou a desenvolver-se em três

momentos distintos, quais sejam: a audiência inaugural, a de instrução e a de

julgamento.

Deverão comparecer à audiência as partes,

acompanhadas ou não de seus representantes, entre os quais os advogados. É o

que traz o art. 843 e parágrafos:

Art. 843 – Na audiência de julgamento deverão estar presentes o reclamante e o reclamado, independentemente do comparecimento de seus representantes, salvo nos casos de Reclamatórias Plúrimas ou Ações de Cumprimento, quando os empregados poderão fazer-se representar pelo Sindicato de sua categoria.

§ 1º - É facultado ao empregador fazer-se substituir pelo gerente, ou qualquer outro preposto que tenha conhecimento do fato, e cujas declarações obrigarão o preponente.

56

§ 2º - Se por doença ou qualquer outro motivo poderoso, devidamente comprovado, não for possível ao empregado comparecer pessoalmente, poderá fazer-se representar por outro empregado que pertença à mesma profissão, ou pelo seu Sindicato.

Assim, ao réu assiste a facultatividade de se fazer

representar pelo gerente ou qualquer outro preposto80 que seja conhecedor dos

fatos que estão sendo discutidos, e as declarações prestadas por este último

obrigarão o proponente, ou seja, aquele por ele representado.

Sobre o preposto, a disposição da Súmula 377 do Tribunal

Superior do Trabalho:

Preposto. Exigência ser empregado.

377. Exceto quanto à reclamação de empregado doméstico, o preposto deve ser necessariamente empregado do reclamado. Inteligência do art. 843, § 1º, da CLT. (ex-OJ SDI-1 99) (Res. TST 129/05, DJ, 20.04.05).

Quanto aos autores, na impossibilidade de comparecer à

audiência por motivo comprovadamente relevante, a lei lhes faculta ser

representado pelo sindicato da sua categoria profissional, ou ainda por um outro

empregado que desempenhe profissão idêntica.

O artigo 843 fala de audiência de julgamento, porém a

audiência de julgamento propriamente dita, a rigor, jamais ocorre, pois nela

raramente as partes estarão presentes. Trata-se na verdade de mais um prazo

fixado pelo juiz para a publicação da sentença da qual ficam as partes desde logo

intimadas. Da data desta publicação ou da juntada da ata de audiência contendo

a decisão, é que começa a correr o prazo para interposição de eventual recurso.

80 É o empregado a que se atribuíra poderes de representação para praticar atos ou efetivar negócios concomitantemente à realização dos serviços ou dos trabalhos que lhe são cometidos, como funções e encargos permanentes. De Plácido e Silva.

57

A CLT, no texto do artigo 846 e §§ 1º e 2º, apresenta a

maneira pela qual se desenvolverá à audiência:

Art. 846 – Aberta a audiência, o juiz ou presidente proporá a

conciliação.

Dessa forma, o primeiro procedimento em uma audiência,

depois de verificada a presença das partes, será a proposta de conciliação a ser

feita pelo juiz. O que se busca é a possibilidade de um acordo entre as partes

sobre o direito pleiteado, o que possibilitaria maior celeridade na solução dos

litígios trabalhistas, que é um dos princípios norteadores do Direito do Trabalho.

§ 1º - Se houver acordo lavrar-se-á termo, assinado pelo presidente e pelos litigantes, consignando-se o prazo e demais condições para seu cumprimento.

§ 2º - Entre as condições a que se refere o parágrafo anterior, poderá ser estabelecida a de ficar a parte que não cumprir o acordo obrigada a satisfazer o pedido ou pagar uma indenização convencionada, sem prejuízo do cumprimento do acordo.

Se houver acordo, será lavrado termo assinado pelas

partes, inclusive pelo juiz. Caso contrário, o réu, após leitura do teor da ação, terá

vinte minutos para apresentar sua defesa. Porém, na prática a apresentação da

defesa do réu é escrita, da qual o juiz dá ciência ao autor, que geralmente, terá

dez dias para impugná-la.

Nascimento81 apresenta um conceito de audiência:

Na linguagem processual, audiência, para Pereira e Souza, é o lugar em que os juizes ouvem as partes por si, ou por seus advogados, ou procuradores. Nesse lugar é que as causas devem prosseguir os seus termos, sendo reguladas pelos juízos que a ela presidem. Decidem-se em audiência as questões de fácil expedição.

81 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. p. 401.

58

No processo trabalhista, como conseqüência do princípio da

concentração dos atos do procedimento e da oralidade que o preside, os atos

mais importantes são praticados em audiência: a defesa oral do réu, a tentativa

de conciliação, o saneamento do processo pelo juiz, se for necessário, o

depoimento das partes, a inquirição das testemunhas, a juntada de alguns

documentos, as alegações finais das partes, a proposta final de conciliação, o

debate e julgamento do caso.

Já na inaugural as partes ficam intimadas para a audiência

de instrução.

Para a audiência de Instrução as partes deverão

comparecer sob pena de confissão quanto à matéria de fato.

Nesse sentido o disposto pela Súmula 74 do Tribunal

Superior do Trabalho:

I – Aplica-se a pena de confissão à parte que, expressamente intimada com aquela cominação, não comparecer á audiência em prosseguimento, na qual deveria depor. (ex-Súmula 74) (Res. TST 129/05, DJ 20.04.05).

II – A prova pré-constituída nos autos pode ser levada em conta para confronto com a confissão ficta (art. 4000, I, CPC), não implicando cerceamento de defesa o indeferimento de provas posteriores. (ex-OJ SDI-1 184) (Res. TST 129/05, DJ 20.04.05)

Nesta audiência serão prestados depoimentos pelas partes,

e em nome do princípio da concentração dos atos processuais, serão também

ouvidas as testemunhas.

Tratando da audiência de instrução, a redação do artigo 850

da CLT:

Art. 850 – Terminada a instrução, poderão as partes produzir

razões finais, em prazo não excedente de dez minutos cada uma.

59

Em seguida, o juiz ou o presidente renovará a proposta de

conciliação, e não se realizando esta, será proferida a decisão.

Poderá ainda ser requerida pelas partes a produção de

prova pericial que se for deferida, o processo geralmente ficará suspenso até a

conclusão do trabalho do perito.

Traduzindo a disposição do art. 850, da CLT, ao final da

instrução, as partes terão o prazo máximo de dez minutos, para suas razões

finais. Em seguida, deverá o juiz renovar a proposta de conciliação e restando

esta mais uma inexitosa, será proferida a decisão.

2.1.5. A SENTENÇA NO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO

O art. 831 da CLT fala em decisão, obviamente referindo-se

à sentença.

Assim dispõe o citado artigo:

Art. 831. A decisão será proferida depois de rejeitada pelas

partes a proposta de conciliação.

Assim, antes da decisão final, o juiz renovará a proposta de

conciliação, que se aceita, põe fim ao processo, com a competente homologação,

sentença que imediatamente transita em julgado, motivo pelo qual é insuscetível

de recurso, e dela só podendo ser interposta ação rescisória para o Tribunal

Regional do Trabalho, no prazo de dois anos, desde que ocorra alguma das

situações previstas no art. 485 do CPC.

Almeida82, citando Rezende Filho traz que a sentença

“á a decisão do juiz que põe fim ao processo”, e cita Chiovenda que ensina:

“conceitualmente, sentença é o procedimento, o provimento do juiz que afirma

existente ou inexistente a vontade concreta da lei alegada na lide”.

82 ALMEIDA, Amador Paes de. CLT comentada: legislação, doutrina e jurisprudência. p. 399.

60

Das diversas espécies de sentenças, as mais comuns em

Processo do Trabalho são as definitivas que são as sentenças de mérito, ou seja,

que põe fim ao processo; as terminativas que são aquelas que decidem o

processo, sem, contudo julgar o mérito, e as interlocutórias são as que decidem

os incidentes processuais.

Sobre as espécies mais comuns de sentença, as palavras

de Saad83:

Sentenças terminativas encerram o processo, mas sem entrar no mérito, como ocorre nas hipóteses de procedência da exceção da coisa julgada; que absolve o condenado na instância; que declara a inexistência de pressuposto processual ou condição de ação; que afirma existir o impedimento processual ou pressuposto negativo do litígio; que homologa a desistência da ação (art. 267 e seus incisos do CPC).

Sentenças definitivas ou de mérito ou de fundo também põem fim ao processo, mas decidem o mérito da causa – total ou parcialmente; pronunciam a decadência ou a prescrição (art. 269, incisos do CPC).

Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente (§ 2º do art. 162 do CPC) como, por exemplo, aquela que não acolhe a exceção de coisa julgada ou a litispendência, as argüições de ilegitimidade de parte.

Quanto à sua natureza jurídica, as sentenças são:

declaratórias, quando se limitam a declarar a existência ou não de uma relação

jurídica; constitutivas, quando criam, alteram ou extinguem uma relação jurídica, e

por fim condenatórias quando envolvem obrigação de dar, fazer ou não fazer

alguma coisa, ensejando execução.

Saad84, sobre as sentenças:

Na sentença condenatória, se desobedecido seu comando, converte-se em título executivo judicial a fim de ser executada; a sentença declaratória dissipa dúvida suscitada pelo autor quanto à

83 SAAD, Eduardo Gabriel. Direito processual do trabalho. p. 639.

61

existência ou não de uma relação jurídica e, ainda, quanto à falsidade ou autenticidade de um documento, (art. 3º do CPC); na constitutiva, seus efeitos se resumem na extinção, criação ou modificação de uma situação jurídica.

A sentença, quando condenatória, deverá especificar com

clareza as condições para seu cumprimento.

2.1.6. OS RECURSOS NO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO

A palavra recurso origina do latim recursus, de recurrere,

dando a idéia de regressar, retroagir, recuar, refletir. Recurso é o que tem curso

ao contrário, regressando ao ponto de partida.

Nas palavras de Martins85: “No sentido jurídico, recurso é o

meio processual estabelecido para provocar o reexame de determinada decisão,

visando à obtenção de sua reforma ou modificação”.

Ao tratar dos recursos eis a redação do art. 893, da CLT:

Art. 893. Das decisões são admissíveis os seguintes recursos:

I – embargos;

II – recurso ordinário;

III – recurso de revista;

IV – agravo.

No entanto, Almeida86 entende que este dispositivo é

omisso e não atende à ordem cronológica dos recursos, e o mesmo autor

continua sua exposição afirmando que, no Processo do Trabalho são admissíveis

os seguintes recursos:

84 SAAD, Eduardo Gabriel. Direito processual do trabalho. p. 639. 85 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 398. 86 ALMEIDA, Amador Paes de. CLT comentada: legislação, doutrina e jurisprudência. p. 491.

62

a) Recurso ordinário (art. 895, da CLT), que equivale à

apelação do processo civil.

Art. 895 – Cabe recurso ordinário para a instância superior:

a) Das decisões definitivas das Juntas e Juízos no prazo de

oito dias;

b) Das decisões definitivas dos Tribunais Regionais, em

processos de sua competência originária, no prazo de oito dias,

quer nos dissídios individuais, quer nos dissídios coletivos.

Pode ser interposto das decisões que põe fim ao processo,

julgando ou não o mérito. Diferentemente do que ocorre no processo civil, aqui o

recurso ordinário pode ser interposto da sentença proferida pela vara do Trabalho

(1º grau), ou de decisão do tribunal Regional do Trabalho (2ºgrau), em processos

de sua competência originária.

Cabe também recurso ordinário da decisão que concluir

pelo arquivamento do processo, pela ausência do reclamante.

Cabe ressaltar que o processo do trabalho não admite

recurso contra decisão interlocutória, conforme disposto no art. 893, § 1º da CLT:

Art. 893. (...)

§ 1º. Os incidentes do processo são resolvidos pelo próprio Juízo ou tribunal, admitindo-se a apreciação do merecimento das decisões interlocutórias somente em recursos da decisão definitiva.

b) Recurso adesivo (art. 500 do CPC, aplicação subsidiária).

Art. 500. Cada parte interporá o recurso, independentemente, no

prazo e observadas as exigências legais. Sendo, porém, vencidos

autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir

a outra parte. O recurso adesivo fica subordinado ao recurso

principal e se rege pelas disposições seguintes:

63

(...)

Embora instituído pelo Código de Processo Civil, cabe nas

ações julgadas procedentes em parte, quando os litigantes são ao mesmo tempo

vencedores e vencidos, ou no dizer de Moacyr Amaral Santos, citado por

Almeida87, “reciprocamente sucumbentes”.

O Enunciado 283 do Tribunal Superior do Trabalho

consolida o seguinte:

Recurso adesivo. Pertinência no processo do trabalho.

Correlação de matérias.

283. O recurso adesivo é compatível com o processo do trabalho e cabe, no prazo de 8 (oito) dias, nas hipóteses de interposição de recurso ordinário, se agravo de petição, de revista e de embargos, sendo desnecessário que a matéria nele vinculada esteja relacionada com a do recurso interposto pela parte contrária.

É um recurso acessório ao principal sendo interposto

perante a autoridade competente para admitir este último, no prazo que a parte

dispõe para responder.

Sobre este recurso Almeida88 faz algumas considerações:

...não pode haver recurso adesivo na inexistência do recurso

principal, já que o primeiro está, necessariamente, subordinado ao segundo. Por isso na ocorrência de desistência do recurso principal, sua deserção ou inadmissibilidade, o recurso adesivo não será, igualmente, conhecido... É um recurso privativo das partes, o que leva Moacyr Amaral Santos a observar que não se estende a terceiro prejudicado ou ao Ministério Público, salvo quando este funcione como parte.

87 ALMEIDA, Amador Paes de. CLT comentada: legislação, doutrina e jurisprudência. p. 493. 88 ALMEIDA. Amador Paes de. CLT comentada: legislação, doutrina e jurisprudência. p. 494.

64

Este recurso ao ser interposto pelo empregador, faz-se

necessário o depósito recursal.

c) Recurso de revista (art. 896, da CLT);

Art. 896. Cabe Recurso de Revista para Turma do tribunal

Superior do Trabalho das decisões proferidas em grau de recurso

ordinário, em dissídio individual, pelos Tribunais Regionais do

Trabalho, quando:

a) derem ao mesmo dispositivo de lei federal interpretação

diversa da que lhe houver dado outro Tribunal Regional, no seu

pleno ou Turma, ou a Seção de Dissídios Individuais do tribunal

Superior do Trabalho, ou à Súmula de Jurisprudência Uniforme

dessa Corte;

b) derem ao mesmo dispositivo de lei estadual, Convenção

Coletiva de Trabalho, Acordo Coletivo, Sentença Normativa ou

regulamento empresarial de observância obrigatória em área

territorial que exceda a jurisdição do tribunal prolator da decisão

recorrida, interpretação divergente, na forma da alínea a;

c) proferidas com violação literal de lei federal ou afronta direta á

Constituição Federal.

Este recurso, embora suprimido da legislação processual

civil, subsiste no Processo do Trabalho, é um recurso que objetiva a

uniformização da jurisprudência.

O recurso de revista não admite discussão de questões

fáticas, mas tão-só e exclusivamente, as questões de direito – quaestio júris –,

obviamente vinculadas a casos concretos.

d) Agravo (art. 897, da CLT);

Art. 897. Cabe agravo, no prazo de oito dias:

65

a) De petição, das decisões do juiz ou presidente, nas

execuções;

b) De instrumento, dos despachos que denegarem a

interposição de recursos.

O agravo de petição (art. 897, a,) não subsiste no Código de

Processo Civil, mas continua em vigor na CLT, podendo ser interposto das

decisões do juiz da Vara do Trabalho, ou do juiz de Direito quando investido de

jurisdição trabalhista, nas execuções.

O agravo de instrumento (art. 897, b) é autuado em

separado, e aplica-se para a formação do instrumento, a regra prevista pelos arts.

524 e 525 do CPC, devendo o agravante indicar quais das peças devem ser

trasladadas.

No processo do trabalho, é um recurso em sentido restrito,

por isso que cabe exclusivamente dos despachos que denegarem outros recursos

anteriormente interpostos.

O agravo de instrumento tem efeito tão-somente devolutivo,

embora seja facultado ao juiz recebê-lo, também, no efeito suspensivo.

e) Embargos infringentes e de divergência (Lei n. 7.701/88,

arts. 2º, II, c, e 3º, III, b);

Art. 2º - Compete à seção especializada em dissídios coletivos, ou seção normativa:

(...)

II - em última instância julgar:

(...)

c) os embargos infringentes interpostos contra decisão não unânime proferida em processo de dissídio coletivo de sua competência originária, salvo se a decisão atacada estiver em

66

consonância com procedente jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho ou da Súmula de sua jurisprudência predominante;

(...)

Art. 3º - Compete à Seção de Dissídios Individuais julgar:

(...)

III - em última instância:

(...)

b) os embargos interpostos às decisões divergentes das Turmas, ou destas com decisão da Seção de Dissídios Individuais, ou com enunciado da Súmula e as que violarem literalmente preceito de lei federal ou da Constituição da República;

Os embargos infringentes, no Processo do Trabalho, de

acordo com a doutrina de Almeida89 têm cabimento de decisões não unânimes da

Seção Especializada em Dissídios Coletivos, em sua competência originária, e

das revisões e extensões de suas sentenças normativas. Cabe também das

decisões proferidas nas Seções de Dissídios Individuais, como por exemplo,

Mandado de Segurança.

Os embargos de divergência, também denominados

divergentes, objetivam uniformizar jurisprudência.

São interpostos perante o presidente da respectiva Seção

(individual ou coletiva), no prazo de oito dias a contar da publicação do acórdão.

f) Agravo regimental, previsto na CLT em seu art. 709, § 1º,

no art. 243 do Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho e pela Lei nº.

7.701/88 em seus arts. 2º, II, d, 3º, III, c, e art. 5º, c.

A CLT, em seu artigo 709, § 1º, menciona este tipo de

recurso como cabível das decisões proferidas pelo corregedor.

Art. 709 – (...)

67

§ 1º - Das decisões proferidas pelo Corregedor, nos casos do artigo, caberá o agravo regimental, para o Tribunal Pleno.

O art. 243 do Regimento Interno do Tribunal Superior do

Trabalho assim dispõe:

Art. 243. Cabe agravo regimental, no prazo de 8 (oito) dias, para o Tribunal Pleno, Seção Administrativa, Seções especializadas e Turmas, observada competência dos respectivos órgãos, nas seguintes hipóteses:

I – do despacho do Presidente do tribunal que denegar seguimento aos embargos infringentes:

II – do despacho do Presidente do Tribunal que suspender execução de liminares ou de decisão Concessiva de mandado de segurança;

III – do despacho do Presidente do Tribunal que conceder ou negar suspensão da execução de liminar ou da sentença cautelar;

IV - do despacho do Presidente do Tribunal concessivo de liminar em mandado de segurança ou em ação cautelar;

V - do despacho do Presidente do Tribunal proferido com efeito suspensivo;

VI – das decisões e despachos proferidos pelo Corregedor-Geral;

VII – do despacho do Relator que negar prosseguimento a recurso, exceção feita ao disposto no art. 245;

VIII - do despacho do Relator que indeferir inicial de ação de competência originária do Tribunal; e

IX – do despacho ou da decisão do Presidente do Tribunal, de Presidente de turma, do Corregedor-Geral ou relator que causar prejuízo ao direito da parte, ressalvados aqueles contra os quais

89 ALMEIDA, Amador Paes de. CLT comentada: legislação, doutrina e jurisprudência. p. 501.

68

haja recursos próprios previstos na legislação ou neste Regimento.

A Lei nº. 7.701/88, por sua vez, prevê o agravo regimental

em três situações:

a) da denegação de recursos em dissídio coletivo (art. 2º, II,

d);

b) dos despachos denegatórios dos presidentes das turmas,

em matéria de embargos infringentes e de divergência (art. 3º, III, c,);

c) julgamento pelas turmas, em última instância, dos

agravos nominados (art. 5º, e,).

O agravo regimental salvo quando interposto das decisões

de corregedor, é um recurso em sentido estrito, pois se limita ao exame do

despacho agravado.

É interposto perante aquele que prolatou o despacho

agravado e seu efeito é apenas devolutivo.

g) Recurso de revisão (Lei n. 5584/70, art. 2º, § 2º);

Constitui-se um recurso endereçado ao presidente do

Tribunal Regional do Trabalho e seu objetivo é a revisão da decisão do juiz que

se recusa a acolher a impugnação ao valor da causa por ele fixado.

Art. 2º - Nos dissídios individuais, proposta a conciliação, e, não havendo acordo, o Presidente da Junta, ou o juiz, antes de passar à instrução da causa, fixar-lhe-á o valor para a determinação da alçada, se este for indeterminado no pedido.

(...)

69

§ 2º - O pedido de revisão, que não terá afeito suspensivo, deverá ser instruído com a petição inicial e a Ata da Audiência, em cópia autenticada pela secretaria da Junta, e será julgado em quarenta e oito horas, a partir do seu recebimento pelo Presidente do tribunal Regional.

Este recurso deverá ser interposto no prazo de quarenta e

oito horas contadas da decisão do juiz, e julgado em igual prazo.

Não tem efeito suspensivo e devem acompanhá-lo a petição

inicial e a ata da audiência em cópia autenticada pela secretaria.

h) Embargos declaratórios (art. 897 – A da CLT);

É um recurso cabível quando sentença ou acórdão omitirem

ponto sobre o qual deveriam ter se pronunciado, ou na existência de obscuridade

ou contradição.

Os embargos de declaração por sua natureza vêm a ser um

impedimento à decisão judicial, visando sanar omissão, obscuridade ou

contradição existente na sentença, ou ainda pré-questionar determinada matéria

que será renovada em instância seguinte.

A Lei nº 9.957 acrescentou à CLT o art. 897 – A, com a

seguinte redação:

Art. 897. Caberão embargos de declaração da sentença ou acórdão, no prazo de cinco dias, devendo seu julgamento ocorrer na primeira audiência ou sessão subseqüente a sua apresentação, registrado na certidão, admitido efeito modificativo da decisão nos casos de omissão e contradição no julgado e manifesto equívoco no exame dos pressupostos extrínsecos do recurso.

Uma vez interpostos, os embargos de declaração

interrompem o prazo para interposição de outros recursos por qualquer das

partes.

70

Entretanto, existem autores que não o tratam como recurso,

entre os quais, Martins90. Para este autor “os embargos de declaração

correspondem a incidentes processual e não propriamente a recurso, tendo por

objetivo o aperfeiçoamento da decisão”.

Este mesmo autor, ainda tratando dos embargos de

declaração:

O inciso IV do art. 496 do CPC dispõe que os embargos de declaração são espécie do gênero recurso. O art. 893 da CLT não prevê, porém, os embargos de declaração como espécie de recurso. No entanto, os embargos de declaração vêm apenas corrigir certos aspectos da sentença, e não a reformulá-la ou modificar seu conteúdo, nem devolvem o conhecimento da matéria versada no processo. De outro lado, se tivessem natureza recursal haveria contra-razões, assim como pagamento do depósito recursal e custas, o que inocorre.

Os embargos de declaração são cabíveis tanto nos dissídios individuais como nos coletivos

j) Recurso extraordinário (art. CF/88, art. 102, III);

É o recurso a ser interposto de decisões proferidas em

única ou última instancia, nos casos previstos no art. 102, III, a, b, e c, da

Constituição Federal. É também o recurso previsto para a sentença proferida em

ações processadas sob o rito sumário, quando versar sobre matéria

constitucional.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:

(...)

III – julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida:

a) contrariar dispositivo desta Constituição;

90 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 486.

71

b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;

c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.

Desta forma, nas ocasiões em que as decisões de outros

Tribunais possam ser contrárias às disposições contidas na Constituição Federal

ou na lei federal poderá ser invocado o Supremo Tribunal Federal através de

recurso extraordinário.

k) Correição parcial (art. 682, XI, da CLT);

Correição, do latim, correctio, significa correção, reforma. Já

existia nos tempos dos romanos, e chegou aos portugueses através das

ordenações Filipinas e Manuelinas.

Art. 682. Competem privativamente aos Presidentes dos

Tribunais Regionais, além das que forem conferidas neste título e

das decorrentes do seu cargo, as seguintes atribuições:

(...)

XI – exercer correição, pelo menos uma vez por ano, sobre as

Juntas, ou parcialmente, sempre que se fizer necessário, e

solicitá-la, quando julgar conveniente, ao Presidente do Tribunal

de Justiça, relativamente aos juizes de direito investidos na

administração da Justiça do Trabalho.

Na verdade não é um recurso. É providência de ordem

disciplinar que objetiva impedir andamentos tumultuários dos feitos ou sanar erros

quando leis processuais não dão meios para se chegar a este resultado.

2.2. DO PROCEDIMENTO SUMÁRIO

2.2.1 CONCEITO

O Procedimento Sumário foi introduzido no âmbito do

Processo do Trabalho pela Lei nº 5.584 de 26 de junho de 1970, e seu objetivo

72

fundamental era possibilitar maior celeridade às causas trabalhistas de valor até

dois salários mínimos.

O Procedimento Sumário segundo Almeida91: ”Denomina-se

procedimento sumário aquele observado nas ações cujo valor dado á causa não

ultrapasse dos salários mínimos e do qual não caiba recurso, salvo se versar

sobre matéria constitucional”.

Este procedimento é simplificado, e busca a imediata

solução do litígio.

Saad92 apresenta o conceito de Procedimento Sumário de

alguns autores clássicos como Pereira e Souza, Paula Baptista, Almeida Junior e

Aureliano de Gusmão, conceito este que entende ser irretocável:

É aquele em que a lei, respeitada a ordem natural, simplifica os atos, encurta os prazos e dispensa certas formalidades, dando-lhes assim, uma marcha mais leve e expedita, onde só se observam os atos substanciais, rejeitadas as solenidades que, pela urgência da realização do direito, ou pela modificação do pedido e simplicidade do litígio, nada mais exigem do que a exposição da pretensão do autor, defesa do réu, instrução ou prova e julgamento.

Segundo Leite93: A Lei n. 5.584/70, portanto, instituiu a

chamada “causa de alçada”, que na verdade, é uma ação submetida ao

Procedimento Sumário cuja regulação está prevista nos §§ 3º e 4º do art. 2º da

referida lei.

Os §§ 3º e 4º do art. 2º que o autor menciona dispõem o

seguinte:

§ 3º. Quando o valor fixado para a causa, na forma deste artigo, não exceder de duas vezes o salário-mínimo vigente na sede do

91 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso prático de processo do trabalho. p. 182 92 SAAD, Eduardo Gabriel. Direito processual do trabalho. p. 669. 93 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 256.

73

Juízo, será dispensável o resumo dos depoimentos, devendo constar da Ata a conclusão da Junta quanto à matéria de fato.

§ 4º. Salvo se versarem sobre matéria constitucional, nenhum recurso caberá das sentenças proferidas nos dissídios da alçada a que se refere o parágrafo anterior, considerado, para esse fim, valor do salário mínimo à data do ajuizamento da ação.

Extrai-se assim que as decisões prolatadas neste

procedimento não admitem recursos, salvo em matéria constitucional.

2.2.2. CARACTERÍSTICAS DO PROCEDIMENTO SUMÁRIO

O rito sumário caracteriza-se, especialmente, pela sua

celeridade e ausência de maiores formalidades.

Almeida94, sobre o procedimento sumário: ”Este, o rito

sumário, como abtempera Moacyr Amaral Santos, é aquele que se desenvolve

simpliciter et de plano ac sine striptu, isto é, com simplicidade, de plano e sem

maiores formalidades, sem estrépito”.

Neste procedimento o rito é mais célere do que no comum.

Há uma maior concentração dos atos processuais e limitação à recursividade. É

também chamado de rito oral.

O procedimento da Lei nº 5.584/70 possui ainda outras

características: é o titular da Vara do Trabalho que fixa o valor da causa para

determinação da alçada; valor esse que pode ser impugnado nas razões finais e

ser objeto de pedido de revisão ao Presidente do Tribunal Regional (art. 2º e §§ 1º

e 2º).

Art. 2º. Nos dissídios individuais, proposta a conciliação, e não havendo acordo, o Presidente, da Junta ou o Juiz, antes de passar à instrução da causa, fixar-lhe-á o valor para a determinação da alçada, se este for indeterminado no pedido.

94 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso prático de processo do trabalho. p. 134.

74

§ 1º. Em audiência, ao aduzir razões finais, poderá qualquer das partes, impugnar o valor fixado e, se o Juiz o mantiver, pedir revisão da decisão, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, ao Presidente do Tribunal Regional.

§ 2º. O pedido de revisão, que não terá efeito suspensivo deverá ser instruído com a petição inicial e a Ata da Audiência, em cópia autenticada pela Secretaria da Junta, e será julgado em 48 (quarenta e oito) horas, a partir do seu recebimento pelo Presidente do Tribunal Regional.

A petição inicial no procedimento sumário é endereçada ao

juiz da Vara do Trabalho e deve seguir as regras estabelecidas no art. 840 da

CLT, ou seja, as mesmas da petição utilizada no procedimento ordinário. Será

assinada pela própria parte ou por seu advogado, com procuração para o foro em

geral.

Na prática, são raras as ações trabalhistas que se

processam pelo procedimento sumário.

Diante do surgimento do rito sumaríssimo, a sobrevivência

do rito sumário é questão discutível. Nos Estados do Norte e do Nordeste ele

ainda tem uma certa aplicabilidade.

Não existe incompatibilidade flagrante entre os textos das

leis 5.584/70 e 9.957/2000, que leve a conclusão de o rito sumário tenha sido

tacitamente revogado com o surgimento do procedimento sumaríssimo.

E ainda tem-se que considerar que a lei 9.957/2000 não se

aplica a todos os processos de valor até quarenta salários, mas unicamente

àqueles com valor determinado (art. 852 – B, I) excluindo também de sua

aplicação os processos em que sejam partes entes da administração pública

direta, autárquica e fundacional (art. 852 – A, parágrafo único), os quais serão

comentados quando da análise do Procedimento Sumaríssimo.

75

Giglio95 comentando o tema:

A interpretação das leis se aperfeiçoa somente após algum tempo de sua aplicação prática, com base na sedimentação jurisprudencial. No tempo já decorrido, após a vigência da lei n. 9.957/2000, a tendência é de sobrevivência do rito sumário, que continua a ser aplicado.

A intenção da Lei n. 5.584, de 26 de junho de 1970, se evidencia diante da simples leitura de seu texto: visou dinamizar o procedimento das ações trabalhistas. Acrescentemos, liminarmente, que obteve êxito, pois acelerou algumas etapas, tais como a prova pericial e a execução.

Para os processos submetidos ao rito sumário não cabe

mais nenhum dos recursos anteriormente previstos na CLT, salvo se for discutida

matéria constitucional.

Para Giglio96 “o remédio foi heróico, violentando a tradição

processual pátria ao possibilitar decisão única, irrecorrível, estabelecendo a maior

novidade no campo do direito processual”.

Parte da doutrina defende a possível inconstitucionalidade

da lei n. 5.584/70.

Desde a sua publicação levanta-se a suspeita de que se

eliminados todos os recursos, isso ofenderia o princípio do duplo grau de

jurisdição. Este princípio estaria expresso na carta de 1988, em seu art. 5º, LV:

“aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral

são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela

inerentes”.

A esse respeito, o entendimento de Giglio97:

A nosso ver, este texto estabelece a obrigatoriedade do duplo

95 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 333. 96 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 333. 97 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 334.

76

grau de jurisdição, mas apenas garante a utilização dos recursos próprios e adequados (inerentes) à ampla defesa, nos termos fixados pela legislação ordinária. Não fica o legislador constrangido a prever, sempre, em todos os casos, a possibilidade de recurso. Ao eliminar os recursos nas ações trabalhistas de rito sumário, o legislador não violou nenhum preceito constitucional, portanto.

A esse respeito também o comentário de Leite98:

Não comungamos de tal posição doutrinária, porquanto entendemos que o princípio do duplo grau comporta exceções, entre as quais se encaixa a prevista no preceptivo em causa. A rigor, nosso ordenamento permite a existência de causas decididas em única instância. Aliás, a própria Constituição Federal assim dispõe no seu art. 102, III, ao dispor que compete ao STF julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única instância. Ora, se é possível a existência de causas decididas em única instância é porque nelas não há o duplo grau de jurisdição, máxime se considerarmos que o STF, em sede de recurso extraordinário, não funciona com instância revisora.

Sobre a questão existe ainda a Súmula 356 do Tribunal

Superior do Trabalho confirmando a constitucionalidade da fixação da alçada em

função do salário mínimo.

Eis a redação da súmula:

“o art. 2º § 4º, da Lei n.5.584, de 26-6-1970 foi recepcionado pela CF/88, sendo lícita a fixação do valor da alçada com base no salário mínimo”.

Cumpre reforçar que o salário mínimo que servirá de índice

para a fixação do procedimento será aquele vigente na sede do juízo na data do

ajuizamento da reclamação trabalhista.

98 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 257

77

2.2.3. HIPÓTESES DE CABIMENTO

Serão processadas pelo rito sumário as causas com valor

não superior a dois salários mínimos.

A fixação do valor da causa embora não seja exigido poderá

ser dado pela parte na petição inicial. Nesse caso o valor, salvo se impugnado

pela parte contrária, prevalecerá para determinação do rito processual.

Sobre o valor da causa o comentário de Almeida99:

O valor da causa, em que pese a omissão do art. 840, § 1º, da Consolidação da Leis do Trabalho, é imprescindível, pelo que sustentamos a necessidade da aplicação subsidiária do inciso V do art. 282 do Código de processo civil, pois como observa Amauri Mascaro Nascimento, “a importância do valor da causa relaciona-se com a determinação do tipo de procedimento, porque, em se tratando de ações de valor que não ultrapassar dois salários mínimos, o procedimento será sumário”. Prova eloqüente do que afirmamos é que, se a própria parte não der valor à causa, na petição inicial, indeterminado este, caberá ao juiz fixá-lo.

Se houver impugnação do valor, serão aplicadas

subsidiariamente as regras do direito processual comum, dos artigos 259 a 261

do CPC, por força do art. 769 da CLT.

Art. 769. Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo

em que for incompatível com as normas deste Título.

Desse modo, não havendo incompatibilidade entre os

dispositivos de um e de outro diploma legal, o Código de Processo Civil poderá

suprir as lacunas deixadas pela Consolidação das Leis do Trabalho.

Sobre o tema as palavras de Giglio100:

99 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso prático de processo do trabalho. p.. 133.

78

Decorre da redação dos textos legais, bem como da dos insertos no Código de Processo Civil, segundo a interpretação que lhes é dada por jurisprudência uniforme, a impossibilidade de interferência ex afficio do juízo na fixação do valor da causa se o consignado na inicial não sofrer impugnação (CPC, art. 261, parágrafo único).

Caso o valor da causa não acompanhe a inicial, esta será

fixada pelo juiz, depois de recusada a proposta de conciliação por ele

apresentada. Operando-se conciliação, não há interesse em fixá-la.

O juiz ao fixar o valor da causa, deverá valer-se das normas

do processo comum, aplicando-as subsidiariamente.

O valor da causa quando fixado pelo juiz, poderá ser

impugnado pelas partes nas razões finais, e se mantido, ensejará à parte

inconformada o pedido de revisão ao Tribunal Regional do Trabalho, no prazo de

quarenta e oito horas. E no mesmo prazo será julgado pelo presidente do TRT, o

qual limitar-se-á a manter o valor da causa ou alterá-lo, se eventualmente a

revisão for acolhida, e para essa decisão não há recurso.

O pedido de revisão possui dois pressupostos: que o valor

tenha sido fixado pelo juiz, e que a parte se tenha insurgido contra esse valor em

razoes finais.

O valor da causa deverá reproduzir a realidade e

corresponder ao montante dos benefícios pleiteados e nele será incluído o

principal e a correção monetária vencida até a data da propositura da ação, os

honorários advocatícios, se for o caso. Se houver cumulação de pedidos, o valor

será o equivalente à soma deles. (CPC, art. 259, II).Sendo pedido alternativo será

considerado apenas o valor do maior deles. (idem, inc. III).

Quando o pedido for de prestações vencidas e vincendas,

ambas serão consideradas. As vincendas no valor de uma prestação anual, se a

100 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 335.

79

obrigação for por tempo determinado ou por tempo superior a um ano. Se

estabelecidas por período inferior serão consideradas no valor correspondente à

soma das prestações. (idem, art. 260)

E por último, se o pedido não for feito em quantia certa em

dinheiro, seu valor será estimado (idem, art. 258).

Na prática, entretanto, é conveniente que o juiz indague do

reclamante que valor pretende dar à causa. Uma vez obtido o valor, a reclamada

será consultada, e concordando esta com a estimativa do reclamante, a fixação

terá sido feita pelas partes, evitando-se o pedido de revisão em razões finais.

2.2.4. A AUDIÊNCIA NO PROCEDIMENTO SUMÁRIO

As audiências, em princípio, serão únicas, salvo se houver

determinação em contrário por parte do juiz da Vara do Trabalho.

Iniciados os trabalhos, o juiz que for presidir a audiência

deverá verificar a presença das partes e se estas estão regularmente

representadas.

Feitas essas averiguações, será proposta pelo juiz a

conciliação, que sendo rejeitada, enseja o estabelecimento do contraditório, pelo

reclamado, da defesa que poderá ser escrita ou oral.

Segue-se a ouvida das partes e suas testemunhas, com

dispensa do resumo dos depoimentos, a critério do juiz, na ata da audiência.

Nas causas que se processarem por meio do Procedimento

Sumário, embora os depoimentos das partes e das testemunhas sejam prestados

normalmente, seu resumo em ata é dispensável, a critério do juiz, e deve constar

da ata de audiência a conclusão quanto à matéria de fato. É o que dispõe o art.

2º, § 3º da lei 5.584/70.

80

Art. 2º. Nos dissídios individuais, proposta a conciliação, e, não havendo acordo, o presidente da Junta ou o juiz, antes de passar à instrução da causa, fixar-lhe-á o valor para a determinação da alçada, se este for indeterminado no pedido.

(...)

§ 3º. Quando o valor fixado para a causa, na forma deste artigo, não exceder de duas vezes o salário mínimo vigente na sede do Juízo, será dispensável o resumo dos depoimentos, devendo constar da Ata a conclusão da Junta quanto à matéria de fato.

Importante acentuar que o valor da causa esta diretamente

relacionado com a determinação do tipo de procedimento a ser adotado.

2.2.5. A SENTENÇA NO PROCEDIMENTO SUMÁRIO

Como neste procedimento predomina a oralidade, a

sentença deverá ser redigida no ato da audiência, para que não fuja a conclusão

da memória do juiz, que, no entanto, poderá prolatá-la em até 48 horas, podendo

proceder a anotações para isto.

Da sentença proferida em audiência de procedimento

sumário não cabe recurso, salvo se versar sobre matéria constitucional.

Diante de tal particularidade pode-se concluir que a razão

maior da Lei nº. 5.584/70 é impedir o recurso das sentenças e decisões de

primeiro grau para demandas de valor não superior a 2 salários mínimos, salvo se

versar sobre matéria constitucional. Esta circunstância é que constitui uma das

diferenças entre este procedimento e o sumaríssimo, o qual será tratado no

momento oportuno. No rito sumaríssimo não há limitação da admissibilidade

recursal apenas à matéria constitucional.

81

2.2.6. OS RECURSOS NO PROCEDIMENTO SUMÁRIO

Uma conseqüência do rito sumário é irrecorribilidade das

sentenças, salvo de houver ofensa à Constituição Federal, quando então será

necessário percorrer todas as instâncias.

Nesse sentido Almeida101diz que “o sumário (Lei n.

5.584/70) não admite qualquer recurso, exceto o extraordinário, na eventualidade

de a matéria apreciada versar sobre tema constitucional”.

Havendo discussão de matéria constitucional em processo

de rito sumário, é cabível Recurso Ordinário para o Tribunal Regional do

Trabalho, e permanecendo o vício da inconstitucionalidade, é que caberá Recurso

de revista para o Tribunal Superior do Trabalho, de onde então, persistindo o

mencionado vício, é que será cabível Recurso Extraordinário ao STF.

O peso da responsabilidade do juiz será redobrado ao

proferir uma decisão que sabe imutável, e o cuidado que se deverá instruir o feito

poderá significar gasto excessivo de tempo o que poderá atrasar a apreciação de

outros processos em pauta.

Cumpre ressaltar que não se aplica o procedimento sumário

aos casos em que a sentença é desfavorável a pessoas jurídicas de direito

público, pois neste caso a sentença está sujeita ao duplo grau de jurisdição

obrigatório e não produz efeitos enquanto não for confirmada pelo TRT

correspondente, com competência para apreciar o recurso ordinário voluntário,

ainda que este não tenha sido interposto.

Com estas considerações, encerra-se o capítulo sobre os

procedimentos adotados no Processo do Trabalho, o qual servirá de base para o

comparativo a ser desenvolvido ao final entre estes e o procedimento

sumaríssimo, o qual passa a ser estudado no capítulo que segue.

101 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso prático de processo do trabalho. p. 135.

82

CAPÍTULO 3

DO PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO NO

PROCESSO DO TRABALHO

3.1. CONCEITO

Embora em um primeiro momento a expressão sumaríssimo

possa não ser bem interpretada, o conceito que se encontra para procedimento

sumaríssimo é exaustivo. Significa um procedimento sucinto, despido de maiores

formalidades, rápido, breve e resumido.

O procedimento sumaríssimo tem uma destinação certa,

conforme será visto adiante. É o rito que surgiu após o Procedimento Sumário,

instituído pela Lei 5.584/70, objeto de estudo anterior, o qual possuía aplicação

limitada às causas cujo valor não excedesse a dois salários mínimos.

O principal objetivo do legislador ao criar este procedimento

foi atender ao princípio da celeridade processual, reduzindo as formalidades, e

ampliando a liberdade do juiz na condução do processo. Tudo em busca de uma

solução mais rápida, não obstante a sumariedade natural inerente ao processo do

trabalho.

O procedimento inserido pela Lei 9.957/2000 abrangeu

parcela significativa das ações que tramitam na Justiça do Trabalho.

Sobre o procedimento sumaríssimo as palavras de

Almeida:102

...a instituição do rito sumaríssimo nada tem de estranho ou impróprio, ao revés do que se sucedeu com o Código de

83

Processo Civil, que previa o procedimento sumaríssimo sem que houvesse um procedimento sumário, o que levou o legislador a alterar a denominação para sumário pela lei n. 8.952, de 13-12-1994.

E continua: “Ao revés do que se sucedeu com o

procedimento sumário, que foi instituído por lei especial, (a lei n. 5.584/70), a lei

9.957/2000 compõe-se de aditivos a determinados dispositivos já contemplados

na CLT”.

As disposições do procedimento sumaríssimo passaram a

integrar o regramento processual previsto na CLT e submete-se aos princípios

norteadores do processo do trabalho.

Nascimento103, diz que “é em resumo, um rito especial para

solução de dissídios individuais de pequeno valor, no qual a jurisdição é investida

de maiores poderes para conduzir o processo e levá-lo, com maior brevidade, a

uma solução”.

A lei não fez qualquer menção a respeito, porém, as demais

normas do procedimento ordinário continuam valendo também para o

procedimento sumaríssimo, observando-se o art. 769 da CLT, para os casos de

imissão da lei ou compatibilidade de seus dispositivos. Assim, aplicam-se as

normas do procedimento comum trabalhista, e na necessidade, aplica-se

subsidiariamente o direito processual civil, conforme dispõe o referido artigo.

Existe entendimento doutrinário no sentido de que houve a

revogação pelo menos parcial do procedimento sumário, constante da lei

5584/70.

É o caso de Süssekind104 que faz o seguinte comentário:

102 ALMEIDA, Amador Paes de. CLT Comentada. p. 430. 103 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. p. 595. 104 SÜSSEKINDE, Arnaldo. [et at]. Instituições de direito do trabalho. p.1.474.

84

...Outra questão delicada é a da coexistência ou não do procedimento sumário, da Lei n. 5.584/70, com o sumaríssimo. Em nosso entender, a Lei n. 9.957, de 2000, redispôs integralmente sobre a matéria, revogando o art. 2º, §§ 3º e 4º, da Lei 5.584/70. a diferença apenas nomenclatural, não do procedimento em si, desautoriza a conclusão de que o procedimento sumário remanesce eficaz, a par do sumaríssimo. Até mesmo o resumo da prova testemunhal é previsto tanto no art. 2º, § 3º, da Lei n. 5.584/70 quanto no art. 852-F, evidenciando que a Lei n. 9.957 de 2000, absorveu a disciplina então vigente.

Se observada a redação do art. 852-A, caput, de fato a

conclusão a que se chega é que, se o artigo prevê que todas as causas de valor

até 40 salários mínimos sejam processadas pelo rito sumaríssimo, inseridas neste

valor encontramos as causas de até 2 salários mínimos.

Contudo, existem autores que defendem a permanência da

lei 5.584/70, e ainda, que seria este o verdadeiro rito sumaríssimo, pois permite a

dispensa do resumo de depoimentos e também veda os recursos, a não ser nos

casos de ofensa a CF.

Nascimento105, comentando o tema:

Convenhamos, no entanto, que melhor seria a revogação do rito sumário, como tudo indica que acontecerá, por lei ou por interpretação da jurisprudência. Enquanto tal não ocorrer, se o autor ingressar com processo com o valor fixado para a causa de até duas vezes o salário mínimo, mas com pedido ilíquido, o juiz estará obrigado a processar; se ajuizar reclamação dando à causa o valor de até quarenta vezes o salário mínimo, mas o pedido não for certo, o juiz não poderá processar a ação. Esses aspectos são a nosso ver, significativos no sentido de mostrar que não houve a absorção de um rito pelo outro.

Ainda nesse sentido, tem-se as palavras de Gonçalves106:

105 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. p. 596. 106 GONÇALVES, Emilio. Manual de prática processual trabalhista. p. 191.

85

Este rito, denominado de sumário, não foi revogado pela Lei n. 9.957/2000, que instituiu o rito sumaríssimo, uma vez que aquele não admite recurso da decisão proferida em primeira instância em causa de valor inferior a dois salários mínimos, a não ser que a matéria me discussão seja de natureza constitucional, conforme previsão no § 4° do art. 2º, da Lei 5.584/1970. isso já não acontece com a lei que disciplina o rito sumaríssimo, pois ela permite recurso da decisão de primeiro grau sem se ater ao mencionado limite e pouco importando a natureza da matéria em discussão

Nas ações de cumprimento em que o valor da causa não

exceda a quarenta salários mínimos, também será adotado o procedimento

sumaríssimo, pois não há qualquer distinção na CLT nesse sentido.

3.2. CARACTERÍSTICAS

Para início deste capítulo, o que se deve ter por importante

é que a Justiça do Trabalho constitui-se em uma justiça especializada e que um

dos princípios do processo trabalhista é o da celeridade, sem prejuízo da garantia

das normas consagradas na Constituição Federal (art. 5º, LV, da CF/88).

O processo judicial na Justiça do Trabalho, antes de tudo,

deve ser informal, célere e gratuito, pelo fato das verbas ali discutidas possuírem

natureza alimentar.

Por essa razão, no processo trabalhista uma das

características é a prevalência da oralidade, pelo princípio do inquisitório sobre o

dispositivo, inversão do ônus da prova e celeridade.

Importante frisar que, uma das principais causas do

surgimento de um órgão especializado para o julgamento dos conflitos entre o

trabalhador e o empregador é justamente o fato de que o processo na justiça

comum é geralmente mais formal, lento e oneroso.

86

Os trabalhadores necessitam de um juízo de eqüidade, que

não seja o tradicional. Que seja alternativo e com maior sensibilidade para com os

ideais de uma justiça social. A CLT já apresenta um procedimento bem mais

rápido para as questões trabalhistas. Tanto é verdade que o rito previsto na

Consolidação das Leis Trabalhistas teve grande influência na instituição dos

procedimentos que passaram, mais tarde, a ser adotados também na ação de

alimentos, no rito sumário estabelecido no Código de Processo Civil e também no

rito utilizado pelos Juizados Especiais.

Com o surgimento da Lei nº. 9.957, publicada em 12 de

janeiro de 2000, e entrando em vigor sessenta dias após sua publicação,

estabeleceu-se um procedimento sumaríssimo na Justiça do Trabalho, no que diz

respeito aos dissídios individuais trabalhistas cujo valor não exceda a 40 vezes o

salário mínimo, na data do ajuizamento da ação trabalhista.

Sobre o tema as considerações de Gonçalves107:

Em face das características do procedimento sumaríssimo, o trabalhador, quando vier a juízo postular direitos previstos na legislação trabalhista, deverá discriminar os títulos dos direitos pretendidos e fornecer os respectivos valores dos créditos trabalhistas, citando, como exemplo, aviso prévio de R$ 400,00, férias proporcionais acrescidas de 1/3 de R$ 600,00, assim por diante, de forma que se o total reclamando ultrapassar o limite previsto para o rito sumaríssimo por ele não poderá ser processada a reclamatória.

Esta legislação tem aplicação apenas aos particulares ou

entidades privadas. Se o Ministério Público do Trabalho funcionar no processo,

como, por exemplo, na defesa dos direitos e interesses dos menores, incapazes e

índios, este fato por si só não tem o cunho de excluir a aplicação do procedimento

sumaríssimo, desde que observada a existência de dissídio individual em que o

valor não exceda a 40 vezes o salário mínimo vigente na data do ajuizamento da

reclamação.

107 GONÇALVES, Emilio. Manual de prática processual trabalhista. p. 193.

87

Tratando doutrinariamente das características do

procedimento sumaríssimo, Martins Filho108 entende que as principais são:

- Petição inicial – o pedido deve ser certo e determinado, indicando exatamente o que se pretende devido e no seu montante, com o valor correspondente (ex.: o pedido de horas extras deve indicar exatamente quantas se postulam por dia e com que valor global);

- inexistência de citação por edital – se o endereço estiver errado, a reclamação será arquivada, com custas para o reclamante;

- audiência única – deve ser realizada dentro de 15 dias do ajuizamento da ação, podendo ser o prazo dilatado para a realização de mais de uma audiência, dentro de 30 dias, no caso de ser necessária prova pericial (celeridade processual);

- proposta conciliatória – pode ser feita em qualquer fase da audiência (deve o juiz envidar todos os esforços para consegui-la);

- testemunhas – apenas duas para cada parte, trazidas diretamente para a audiência (somente será intimada se não comparecer quando devidamente convidada pela parte);

- incidentes e exceções – devem ser decididos imediatamente na audiência;

- sentença – proferida na própria audiência, dispensado o relatório (basta o registro em ata, de forma resumida, dos atos, afirmações e informações úteis à solução da causa).

Complementado as palavras do autor é necessário registrar

algumas considerações a respeito destas características.

O pedido no procedimento sumaríssimo deverá ser líquido,

ou seja, deve ser apresentado um valor a cada um dos pedidos, nos moldes do

108 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho. p. 197.

88

art. 852-B, I, da CLT, salvo quando estes não possuírem expressão monetária,

conforme transcreve-se:

Art. 852 – B. Nas reclamações enquadradas no procedimento sumaríssimo:

I. o pedido deverá ser certo ou determinado e indicará o valor correspondente;

O pedido é certo quando define, desde logo, a pretensão do

reclamante, delimitando-lhe a qualidade e quantidade. Será determinado o pedido

que põe em destaque a providência jurisdicional pleiteada.

Sobre o pedido, Giglio109 ensina que “o pedido deve ser

formulado, em qualquer processo, de forma certa e determinada, sob pena de

nulidade, pois o crédito incerto ou indeterminado leva a sentença incerta ou

indeterminada, o que é inconcebível”.

O § 1º do art. 852 – B prevê uma sanção para a

apresentação de pedido incerto ou ilíquido, o que a seguir transcreve-se:

§ 1º. O não atendimento, pelo reclamante, do disposto nos incisos I e II deste artigo importará no arquivamento da reclamação e condenação ao pagamento de custas sobre o valor da causa.

Cumpre ressaltar que a doutrina e a jurisprudência têm

entendido que somente poderá se dar a extinção do processo se houver

deferimento de prazo para emendar a inicial.

Entretanto, o juiz deverá agir com cautela quando da

aplicação da sanção de extinção do processo, uma vez que existe a possibilidade

de o Jus postulandi ser exercido pela parte que desconhece a técnica de calcular

o valor daquilo que busca em juízo, ou ainda, não ser possível indicar o valor do

pedido.

109 GIGLIO, Wagner. Direito processual do trabalho. p. 365.

89

Sobre este tema, as palavras de Saad:110

Pedido certo e determinado, como objeto da ação, é imprescindível à boa defesa do Reclamado. Exigir, porém, do Reclamante que fixe o valor do seu pedido, é colocá-lo em situação pouco confortável no processo, uma vez que nem sempre lhe será possível reunir na petição inicial elementos que, a rigor, vão tornar líquida sua pretensão.

Sobre o pedido no rito sumaríssimo, as considerações de

Almeida111:

Não se admitirá, no sumaríssimo, o denominado pedido genérico, que se refere ao valor da pretensão (quantum debeatur), admitido no CPC e usual nos dissídios individuais trabalhistas, quando não se dispõe, de imediato, dos valores efetivamente devidos, na hipótese de a ação ser acolhida pelo juiz. É o caso, no processo do trabalho, de diferenças de comissões, valores devidos a título do FGTS, que, em princípio, alteram-se dia a dia, por força de juros e correção.

Se o valor do pedido for omitido, caberá ao juiz fixá-lo logo

após a contestação.

No procedimento sumaríssimo não cabe citação por edital.

É a regra do art. 852-B, II, a seguir transcrito:

Art. 852-B. (...)

II – não se fará citação por edital, incumbindo ao autor a correta indicação do nome e endereço do reclamado.

No entanto, na prática, nem sempre é possível a indicação

do endereço correto do reclamado. Sobre este tema, Lima112 faz as seguintes

considerações:

110 SAAD. Eduardo Gabriel. Direito processual do trabalho. p. 670. 111 ALMEIDA, Amador Paes de. CLT Comentada. p. 432. 112 LIMA. Francisco Gerson Marques de. Direito processual do trabalho (teoria, crítica e prática). p. 240.

90

Para superar esta dificuldade, vislumbramos duas medidas, ambas perfeitamente plausíveis: a) ao ajuizar a ação, o autor requer, prejudicialmente, a declaração incidental de inconstitucionalidade da lei, por impossibilitar o seu acesso ao judiciário (art. 5º, XXXV, CF); ou b); na petição inicial, requer ao juiz seja adotado o rito comum, considerando a necessidade de se lhe assegurar o acesso ao judiciário, por isso não trazer nenhum prejuízo processual, por ter sido escolhido um rito mais complexo, por ser o juiz do trabalho competente para apreciar as demandas que envolvam ambos os ritos e porque a competência em razão do valor da causa é relativa, podendo ser prorrogada.

As partes e advogados deverão comunicar suas mudanças

de endereço, e na ausência desta comunicação, serão tidas como eficazes as

intimações enviadas ao local anteriormente indicado. Para isso, não é necessário

demonstrar má - fé da parte. Basta que se verifique o descaso, ou o simples

esquecimento. O art. 39, II do CPC, contém norma similar, que inclusive já vinha

sendo aplicada também ao processo do trabalho.

Com relação à audiência, o art. 852-C da CLT, determina

que esta seja una para as demandas sujeitas ao procedimento sumaríssimo, o

que não é uma novidade, considerando que ela já era assim prevista também

para o procedimento ordinário.

Entretanto, diante da necessidade de prova técnica, como

nos casos de insalubridade e periculosidade, por exemplo, o juiz fatalmente terá

que adiar a audiência.

A conciliação, por força da Emenda Constitucional n.

45/2004, deixou de ser imposição constitucional, uma vez que subsiste na

legislação infraconstitucional e é de manifesto interesse público, como uma forma

de solução conciliatória dos conflitos.

Segundo o entendimento de Almeida113, no procedimento

sumaríssimo, levando-se em consideração a audiência una e a pretendida

113 ALMEIDA, Amador Paes de. CLT Comentada. p. 435.

91

celeridade processual, o juiz poderá formular a qualquer momento a proposta de

conciliação. A rigor, é isso que os juizes já fazem nos demais procedimentos da

Justiça do Trabalho, o que faz desaparecer o formalismo das duas propostas e

respectivos momentos de sua formulação.

De acordo com § 2º do art. 852-H, da CLT cada parte pode

apresentar duas testemunhas, as quais comparecerão à audiência

independentemente de intimação. O princípio é o mesmo do art. 825 da CLT.

A apresentação das testemunhas na audiência é obrigação

das partes, que deverão comparecer à audiência acompanhadas destas. Cabe à

parte verificar a disponibilidade para o comparecimento espontâneo de suas

testemunhas à audiência. As testemunhas do reclamante, se ainda trabalharem

para o mesmo empregador, poderão sentir-se constrangidas, se convidadas a

testemunhar. Por outro lado as testemunhas do empregador, normalmente

cumprirão determinações deste quando comparecerem à audiência.

Almeida114 entende que:

Em qualquer caso, porém, a intimação é o procedimento mais prudente para essas testemunhas, razão por que deve o reclamante, por si ou por seu advogado, requerer a intimação anteriormente à audiência, solicitando condução coercitiva caso

não atendam à determinação judicial.

Não existe no procedimento sumaríssimo, o rol prévio de

testemunhas.

O art. 852-G, da CLT determina que todos os incidentes e

exceções que possam interferir no andamento da audiência e do processo devem

ser decididos de plano.

114 ALMEIDA, Amador Paes de. CLT Comentada. p. 439.

92

Para Almeida115, “incidente, também denominado

circunstância incidental, é toda questão de natureza processual levantada pelas

partes no decorrer do processo”.

Assim, serão considerados incidentes processuais a

impugnação ao valor da causa, a assistência, a habilitação, a falsidade, a

contradita de testemunhas, entre outros.

Exceção, segundo Almeida116, “é uma defesa de natureza

processual que objetiva denunciar os vícios de constituição do processo ou fatos

impeditivos do prosseguimento normal da relação processual”.

São tidas como exceção, de acordo com o CPC, a

incompetência relativa ou absoluta (arts. 112 e 113), o impedimento (art. 134 e

incisos) e a suspeição (art. 135 e incisos). No Processo do Trabalho, a menção

que se faz à exceção é a do art. 799 da CLT.

A sentença proferida na própria audiência, ao dispensar o

relatório e mencionar tão-somente os fatos relevantes ocorridos na audiência,

deixa claro que seu objetivo é agilizar a prestação jurisdicional. A dispensa do

relatório não consignará resumo do pedido, nem da defesa.

Ainda tratando das características deste procedimento, tem-

se que, pelo que dispõe o art. 852-A, da CLT, a adoção do rito sumaríssimo não é

faculdade da parte. De acordo com a redação do caput deste artigo, a parte tem

que submeter a demanda a este rito, conforme destaca-se:

Art. 852-A. Os dissídios individuais cujo valor não exceda a 40 (quarenta) vezes o salário mínimo vigente na data do ajuizamento da reclamação ficam sujeitos ao procedimento sumaríssimo.

Os litigantes não possuem a faculdade de escolher sobre

qual rito procedimental será utilizado para sua ação. E isso porque, a lei é taxativa

115 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso prático de processo do trabalho. p. 153.

93

ao prever que para todos os dissídios individuais de valor até 40 salários mínimos,

na data do ajuizamento da reclamação, será adotado o procedimento

sumaríssimo, excetuando a hipótese de figurar como parte na demanda a

Administração Pública direta, autárquica e fundacional, conforme previsão do

parágrafo único do artigo abaixo citado.

Parágrafo único. Estão excluídas do procedimento sumaríssimo

as demandas em que é parte a Administração Pública direta,

autárquica ou fundacional.

A obrigatoriedade do procedimento vem acompanhada da

seguinte conseqüência: o juiz poderá determinar que um processo seja submetido

tanto a um rito, quanto a outro, desde que, ao avaliar a inicial, conclua que o valor

da causa está incorreto, frente aos pedidos. Tendo em vista que as normas de

processo são de ordem pública, o juiz pode realizar este deslocamento

independente de requerimento do réu.

3.3. HIPÓTESES DE CABIMENTO

As causas que estão sujeitas ao procedimento sumaríssimo

são os dissídios individuais com valor não superior a quarenta vezes o salário

mínimo em vigor na data da reclamação. Porém estão excluídas deste

procedimento, as demandas em que forem partes a Administração Pública direta

(União, Estados e Municípios), autárquica e fundacional. Porém é importante

ressaltar que os órgãos da administração pública indireta que compreendem as

empresas públicas e de economia mista, estão sujeitos ao procedimento

sumaríssimo, uma vez que a lei não os excluiu expressamente.

A edição da lei 9.957/2000 foi uma importante conquista no

que se refere a modernização do Processo do Trabalho.

Esta lei, cujo projeto foi de autoria do Tribunal Superior do

Trabalho, representa um elemento de extrema importância para descongestionar

116 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso prático de processo do trabalho. p. 154.

94

os Tribunais do Trabalho e simplificar o procedimento na primeira instância,

diminuindo o formalismo e dando maior celeridade aos julgamentos.

Somente haverá procedimento sumaríssimo na Justiça do

Trabalho a partir da entrada em vigor da Lei nº. 9.957/2000. Sendo assim, os

processos já em curso não serão recepcionados pela nova legislação. As

reclamações protocoladas após a vigência da lei 9.957/2000 deverão seguir o que

for por ela estabelecido.

Sobre o tema, as palavras de Saad: 117

A Lei n. 9.957, de 13 de janeiro de 2000, fixou novo valor da alçada: quarenta vezes o salário mínimo vigente na data do ajuizamento da reclamação. O art. 852 – A, que acrescentou à CLT, diz em tom imperativo, sujeitarem-se ao procedimento sumaríssimo todas as reclamações, cujo valor não exceda o sobredito limite. Não cabe, portanto, à parte eleger o procedimento sumaríssimo, por um ato de sua estrita vontade; é ele obrigatório desde que se comprove a alçada.

Em decorrência das alterações introduzidas na CLT, por

força da Lei nº. 9.957/2000, a partir de então as reclamações trabalhistas devem

trazer pedido líquido, exatamente para que seja definido o rito sobre o qual será

processada.

De igual modo, todos os acórdãos e sentenças que

contiverem condenação devem ser proferidos em quantia líquida, o que é uma

grande vantagem, uma vez que evita o retardamento do processo na fase de

liquidação ou execução.

Nas ações que se submetem ao procedimento sumaríssimo

não são admitidas nenhuma das modalidades de intervenção de terceiros

elencadas nos artigos 56 a 80 do CPC, por não se harmonizarem com as

peculiaridades deste rito. As matérias que forem opostas a terceiros deverão ser

117 SAAD. Eduardo Gabriel. Direito processual do trabalho. p. 669.

95

objeto de ação apartada para não prejudicar a tramitação e julgamento da ação

sumária a qual segue a celeridade da lei.

Muito embora a lei nada diga a respeito, a doutrina se

posiciona pelo não cabimento na intervenção de terceiros no procedimento

sumaríssimo.

Almeida118 quanto à intervenção de terceiros entende que:

Absolutamente omissa a Lei n. 9.957/2000, a intervenção de terceiros fatalmente ensejará polêmica doutrinária e jurisprudencial. Entendemos lícita a aplicação subsidiária do art. 280 do CPC (do procedimento sumário no cível), por força do art. 769 da CLT. Em tais condições, independentemente da controvérsia quanto ao cabimento no processo do trabalho, não se deve admitir oposição, nomeação à autoria, denunciação à lide e chamamento ao processo no sumaríssimo trabalhista...

No que se refere a um terceiro figurar como assistente no

processo, a doutrina também entende ser cabível este instituto no procedimento

sumaríssimo.

Saad119, sobre a intervenção de terceiros e assistência

completa:

A intervenção de terceiros é vedada no procedimento sumaríssimo trabalhista. Assim, a denunciação a lide é, ao lado do chamamento ao processo, da oposição e da nomeação à autoria, espécie de intervenção de terceiros. A utilização de todas elas está vedada nesse tipo de procedimento, exceto a assistência, regrada pelo art. 50 e seguintes do CPC, e o recurso de terceiro prejudicado, disciplinado pelo art. 499 desse mesmo Código.

Portanto será cabível tanto a assistência simples, do art. 50

do CPC, quanto a litisconsorcial, do art. 54, também do CPC.

118 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso prático de processo do trabalho. p. 144. 119 SAAD, Eduardo Gabriel. Direito processual do trabalho. p. 676 e 677.

96

Porém, sendo a lei omissa, e sendo aceita no procedimento

comum, é possível defender sua aplicação.

A figura do Litisconsórcio tende a ser aceita no

procedimento ora estudado e nesse sentido, manifesta-se Almeida120:

O litisconsórcio, contudo, deverá ser admitido. Com efeito, não raras vezes a pluralidade de reclamantes surge no processo do trabalho, quando presente a afinidade de pretensões, o mesmo ocorrendo com a pluralidade de reclamadas, por força da solidariedade. São os denominados litisconsórcios ativo e passivo.

Quanto ao instituto da Reconvenção, existem

entendimentos doutrinários pelo seu não cabimento.

Viana121, comentando o assunto, diz que:

Para alguns, só seria admissível a reconvenção, no rito sumaríssimo, naquela hipótese mais restrita – quando é idêntica a causa de pedir. A nosso ver, nem assim. É que a lei foi feita em consideração ao crédito alimentar do empregado, e não em atenção ao interesse do empregador. Além disso, procura-se não tanto a economia processual, mas a celeridade.

Mas se a lei é omissa, e normalmente, ela é aceita no

procedimento comum, poder-se-ia também defender sua aplicação.

Da mesma forma como ocorre no procedimento ordinário,

pode também no sumaríssimo, ocorrer a revelia.

3.4. A AUDIÊNCIA NOS MOLDES DA LEI 9.957/2000

A audiência no procedimento sumaríssimo tem algumas

particularidades.

120 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso prático de processo do trabalho. p. 145. 121 VIANA, Marcio Túlio. Compêndio de direito processual do trabalho. p. 967.

97

Estando presentes as partes, o juiz as esclarecerá acerca

das vantagens de uma conciliação, ou seja, quanto aos benefícios derivantes de

uma solução negociada do conflito de interesses, e fará uso dos meios

adequados de persuasão para a solução do litígio através da conciliação. É o que

dispõe a art. 852 – E da CLT, a seguir transcrito:

Art. 852-E. Aberta a sessão, o juiz esclarecerá as partes sobre as vantagens da conciliação e usará os meios adequados de persuasão para a solução conciliatória do litígio, em qualquer fase da audiência.

O que se extrai do artigo citado é que não há um momento

especial para ser proposta a conciliação. Esta pode ocorrer em qualquer fase do

processo.

De acordo com o texto da lei as propostas de conciliação

somente devem ser feitas após a abertura da sessão. Entretanto, na prática, nada

impede que essas propostas sejam formuladas mesmo antes do início da

audiência. De qualquer forma, na Justiça do Trabalho, a abertura da sessão, nos

órgãos de primeiro grau, não é feita de maneira formal. O que ocorre é que o juiz,

simplesmente, inicia os trabalhos, após realizar o pregão das partes. A abertura

formal da sessão é a própria dos Tribunais.

O legislador, no art. 852-B, inciso III, da CLT, determinou

que as causas que forem submetidas ao procedimento sumaríssimo sejam

processadas no prazo máximo de quinze dias.

O prazo para julgamento de acordo com o art. 852-B, III da

CLT, será de 15 dias. Importante ressaltar que deverá ser respeitado o prazo do

art. 841 da CLT, o qual é aplicado subsidiariamente ao procedimento

sumaríssimo, conforme destaca-se a seguir:

Art. 841. Recebida e protocolada a reclamação, o escrivão ou chefe da secretaria, dentro de 48 (quarenta e oito) horas, remeterá a segunda via da petição, ou do termo, ao reclamado, notificando-o ao mesmo tempo, para comparecer à audiência de

98

julgamento, que será a primeira desimpedida, depois de 5 (cinco) dias.

Assim, restam apenas 10 dias para instruir o feito e proferir

sentença.

Na ocorrência de interrupção da audiência, o

prosseguimento e a solução do litígio dar-se-ão no prazo de 30 dias, salvo motivo

relevante justificado nos autos pelo juiz.

O art. 852-H, § 7º, da CLT assim dispõe:

Art. 852 – H. (...)

§ 7º. Interrompida a audiência, o seu prosseguimento e a solução do processo dar-se-ão no prazo máximo de trinta dias, salvo motivo relevante justificado nos autos pelo juiz da causa.

Desta forma, salvo motivo relevante devidamente justificado

nos autos, se somados os dois prazos, a sentença deve ser prolatada no prazo

máximo de 45 dias.

O art. 852-C da CLT determina que as causas sujeitas ao

procedimento sumaríssimo serão instruídas e julgadas em audiência única.

Sendo esta a determinação da lei, pela regra, e em tese,

não poderá ocorrer adiamentos.

Assim, o juiz deverá, logo que encerrada a instrução,

proferir a sentença. A proibição quanto a adiamentos, não fugirá do que já era tido

como regra no art. 844, parágrafo único, da CLT, que dispõe o seguinte:

Art. 844. (...)

Parágrafo único. Ocorrendo, entretanto, motivo relevante, poderá o presidente suspender o julgamento, designando nova audiência.

99

Há que ser observado, entretanto, que sendo o prazo

máximo de trinta dias, não deveria haver exceções, como ocorre na prática.

Embora seja um direito da parte o de obter uma decisão em

um tempo razoavelmente breve, este direito não pode sobrepor-se àquele que o

magistrado tem de permitir-se alguma reflexão a respeito da decisão que irá

tomar, para tanto, levando-se em conta principalmente o interesse da justiça.

O mais razoável, sem dúvida, é a regra que fixa um prazo

razoável, como o de dez dias para que seja proferida a decisão, porém, sem

vedar ao magistrado, no caso deste se sentir pronto para tanto, proferir sua

decisão logo após finda a instrução.

Serão registrados, resumidamente, na ata de audiência os

atos tidos por essenciais, as afirmações fundamentais das partes e as

informações consideradas úteis e relevantes à solução da causa que forem

trazidas ao processo pela prova testemunhal. É esta a previsão literal do art. 852-

F da CLT, que traz a seguinte redação:

Art. 852-F. Na ata de audiência serão registrados resumidamente os atos essenciais, as afirmações fundamentais das partes e as informações úteis à solução da causa trazidas pela prova testemunhal.

Os incidentes e exceções que possam interferir no

prosseguimento da audiência e do processo serão decididos de plano. As demais

questões serão deixadas para serem decididas na sentença.

A regra do art. 852-H, caput, é de que durante a audiência

serão produzidas todas as provas, mesmo as que não foram requeridas

anteriormente, conforme transcreve-se:

Art. 852-H. Todas as provas serão produzidas na audiência de

instrução e julgamento, ainda que não requeridas previamente.

100

Na prática é quase impossível a produção de todas as

provas em audiência, pois algumas, devido a sua própria natureza, só podem ser

praticadas fora desta. Interessante observar que este artigo permite a produção

de provas, ainda que não requeridas anteriormente, o que foi adotado da lei

9.099/95. Dessa maneira, ficam, autor e réu, dispensados de fazer a indicação de

provas em suas petições iniciais. Até porque, no art. 840, § 1º da CLT, não consta

como requisito da inicial, a indicação das provas, como é exigido no cível.

Uma das partes apresentando ou juntando documentos

haverá, sobre estes, manifestação imediata da outra parte, salvo absoluta

impossibilidade, a critério do juiz. É esta a regra do §1º, do art. 852-H da CLT:

§1º. Sobre os documentos apresentados por uma das partes manifestar-se-á imediatamente a parte contrária, sem interrupção da audiência, salvo absoluta impossibilidade, a critério do juiz.

A limitação das provas constitui uma particularidade deste

procedimento, e o juiz na direção do processo, terá liberdade para determiná-las,

o que vem disciplinado pelo artigo 852-D, conforme destaca-se:

Art. 852-D. O juiz dirigirá o processo com liberdade para determinar as provas a serem produzidas, considerando o ônus probatório de cada litigante, podendo limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias, bem como para apreciá-las e dar especial valor às regras de experiência comum ou técnica.

Por regras de experiência comum podem ser entendidas as

que integram o cabedal de cultura do magistrado, e técnicas são aquelas oriundas

de conhecimentos especializados.

Os §§ 2º e 3º do art. 852-H, dispõem sobre o número de

testemunhas que comparecerão independente de intimação e sobre o

deferimento de intimação daquelas que quando comprovadamente convidadas

não comparecerem.

101

§ 2º. As testemunhas, até o máximo de duas para cada parte, comparecerão à audiência de instrução e julgamento independentemente de intimação.

§ 3º. Só será deferida intimação de testemunha que, comprovadamente convidada, deixar de comparecer. Não comparecendo a testemunha intimada, o juiz poderá determinar sua imediata condução coercitiva.

As partes têm um prazo comum de 05 (cinco) dias para

manifestação a respeito do laudo pericial, no caso de ser necessária a realização

de perícia. Este prazo, antes da vigência da lei, era fixado a critério do juiz.

Atualmente é o que está previsto no art. 852-H, §6º.

3.5. A SENTENÇA À LUZ DO PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO

A simplificação da sentença é outra peculiaridade do rito

sumaríssimo.

A sentença, de acordo com o artigo 152, § 1º do CPC,

constitui-se no ato pelo qual o juiz põe fim ao processo, examinando ou não o

mérito. Traduz-se a sentença como o acontecimento mais importante no mundo

processual, e é através dela que ocorre a entrega da prestação jurisdicional pelo

Estado.

Todo e qualquer ato processual praticado durante um litígio

destina-se, direta ou indiretamente, a preparar o provimento final do processo que

é a sentença conforme previsão expressa do art. 852-I da CLT a seguir transcrito:

Art. 852-I. A sentença mencionará os elementos de convicção do juízo, com resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência, dispensando o relatório.

É na fundamentação que o juiz irá expor os motivos de sua

decisão, onde mencionará os elementos que o levaram a tal convencimento. É o

princípio da livre convicção motivada do juiz, expresso no art. 131, do CPC. O juiz

102

fará um resumo dos fatos tidos como relevantes para efeito de fundamentar sua

decisão.

3.6. OS RECURSOS NO PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO

Quanto à questão dos recursos, a Lei nº. 9.957/00 prevê

como cabíveis no procedimento sumaríssimo, os recursos ordinários e de revista.

Martins122, explicando o recurso ordinário no rito

sumaríssimo:

O roteiro do procedimento sumaríssimo no tribunal será diverso do procedimento comum. O processo não irá, em primeiro lugar, para parecer da Procuradoria do Trabalho. Será distribuído de imediato ao relator designado, ao chegar ao Tribunal. O relator deverá liberá-lo para pauta de julgamento no máximo em dez dias contados da distribuição. Não haverá revisor (§ 1º do art. 895 da CLT). Será colocado o processo imediatamente em pauta para julgamento. O parecer do Ministério Público será oral e em sessão, se o procurador entender necessário, ficando registrado na certidão do julgamento. Se o procurador julgar desnecessário o parecer, este não será emitido, nem mesmo oralmente.

No que concerne ao recurso ordinário ocorreram alterações

na CLT nos artigos 895, ao qual a lei acrescentou os §§ 1º e 2º, e ao art. 896

acrescentou o § 6º, conforme verifica-se pela redação a seguir destacada:

Art. 895. Cabe recurso ordinário para a instância superior:

(...)

§ 1º. Nas reclamações sujeitas ao procedimento sumaríssimo, o recurso ordinário:

I- vetado

II- será imediatamente distribuído, uma vez recebido no Tribunal, devendo o relator liberá-lo no prazo máximo de dez

122 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 427.

103

dias, e a Secretaria do Tribunal ou Turma colocá-lo imediatamente em pauta para julgamento, sem revisor;

III- terá parecer oral do representante do Ministério Público presente à sessão de julgamento, se este entender necessário o parecer, com registro na certidão;

IV- terá acórdão consistente unicamente na certidão de julgamento, com a indicação suficiente do processo e parte dispositiva, e das razões de decidir do voto prevalente. Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a certidão de julgamento, registrando tal circunstância, servirá de acórdão;

Uma inovação na questão do recurso ordinário é o que

dispõe o § 2º do artigo ora analisado:

§ 2º. Os Tribunais Regionais divididos em Turmas, poderão designar Turma para o julgamento dos recursos ordinários interpostos das sentenças prolatadas nas demandas sujeitas ao procedimento sumaríssimo.

Conforme o que se pode extrair do texto legal, a designação

para este fim será de uma única Turma, as outras continuarão a julgar as demais

questões.

Tratando-se de recurso ordinário, a lei preferiu atribuir um

ritmo mais célere de sua tramitação e julgamento perante os Tribunais Regionais.

A rapidez empregada no trâmite do recurso vem corroborar

com um dos objetivos do procedimento sumaríssimo. A lei impõe o prazo máximo

de dez dias para que o processo seja liberado pelo relator, devendo ser posto

imediatamente, e sem revisor, em pauta para julgamento. O parecer oral do

Ministério Público será emitido na própria sessão de julgamento, com registro na

certidão, evitando assim a demora na distribuição do processo dentro do próprio

órgão da Procuradoria.

A interposição de um recurso de natureza ordinária é

autorizada pela simples ocorrência da sucumbência. Já para os recursos de

104

natureza extraordinária, é imprescindível que se verifiquem algumas situações

que lhe são próprias, mas que não serão objeto do presente estudo.

Pelo projeto aprovado no Congresso Nacional, nas

reclamações sujeitas ao procedimento sumaríssimo, o recurso ordinário somente

seria cabível por violação literal da lei, contrariedade à súmula de jurisprudência

uniforme do Tribunal Superior do Trabalho ou violação direta da Constituição da

República, não se admitindo recursos adesivos. Todavia, esse dispositivo foi

vetado pelo Presidente da República.

Com o veto do inciso I, do § 1º do art. 895 da CLT, caberá

recurso ordinário na hipótese da alínea a do art. 895 da CLT.

E nas palavras de Martins123:

Não será apenas por violação literal de lei, contrariedade a enunciado do TST ou violação direta da Constituição, mas também para análise de prova, de lei estadual ou municipal, de regulamento de empresa, de convenção, acordo ou dissídio coletivo. Objetiva dar maior celeridade ao procedimento recursal no rito sumaríssimo, que quanto às matérias não existirá.

O recurso de revista nas causas que se processam pelo

procedimento sumaríssimo, somente será admitido nas hipóteses previstas no §

6º do art. 896 da CLT, quais sejam, contrariedade à súmula da jurisprudência

uniforme do Tribunal Superior do Trabalho e violação direta da Constituição

Federal.

No procedimento sumaríssimo não caberá recurso de

revista em caso de violação de lei federal, por divergência jurisprudencial, como

ocorre no processo trabalhista ordinário, ou na hipótese da letra b, do art. 896, da

CLT.

123 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 427.

105

Assim, conclui-se que a súmula de jurisprudência uniforme

do Tribunal Superior do Trabalho, para efeito de recurso de revista, no âmbito do

procedimento sumaríssimo, é considerada hierarquicamente superior à lei.

No procedimento sumaríssimo, cabem ainda embargos

declaratórios nas situações em que se verificar omissão, contradição e

obscuridade no julgamento da causa.

O art. 897-A e seu parágrafo único, acrescentados à CLT

pela Lei 9.957/2000, dispõe sobre as hipóteses de cabimento dos embargos

declaratórios no Processo do Trabalho:

Art. 897-A. Caberão embargos de declaração da sentença ou acórdão, no prazo de 5 (cinco) dias, devendo seu julgamento ocorrer na primeira audiência ou sessão subseqüente a sua apresentação, registrado na certidão, admitido efeito modificativo das decisões nos casos de omissão e contradição no julgado e manifesto equívoco no exame dos pressupostos extrínsecos do recurso.

Parágrafo único. Os erros materiais poderão ser corrigidos de oficio ou a requerimento de qualquer das partes.

Almeida124, sobre o cabimento dos embargos declaratórios:

A sentença há de ser precisa, isto é, situar-se nos limites das questões propostas, devendo ainda cercar-se da necessária clareza. Assim, na ocorrência de obscuridade, contradição ou omissão, deve a parte interessada interpor os chamados embargos declaratórios. A sentença ou acórdão proferidos no rito sumaríssimo podem, igualmente, ressentir-se dos vícios acima enumerados – obscuridade, contradição ou omissão.

Se for dado aos embargos declaratórios efeito modificativo,

deverá o juiz abrir vista aos autos à parte contrária para, querendo, oferecer

contra-razões. Nesse sentido, o entendimento da OJ/SDI/TST n. 142:

124 ALMEIDA, Amador Paes de. CLT Comentada. p. 443.

106

142. Embargos declaratórios. Efeito modificativo. Vista á parte contrária. Em 10-11-1997, a SDI-Plena decidiu, por maioria, que é passível de nulidade decisão que acolhe Embargos Declaratórios com efeito modificativo sem oportunidade para a parte contrária se manifestar.

No procedimento sumaríssimo, por força do art. 897-A da

CLT, os embargos declaratórios deverão ser interpostos no prazo de 5 dias.

Sobre o tema, as palavras de Teixeira Filho125:

Destarte, deve-se dar ao art. 897-A da CLT a mesma interpretação ampliativa que se vem conferindo ao art. 535, inciso I do CPC, de modo a permitir o oferecimento dos embargos declaratórios, mesmo no procedimento sumaríssimo, a outras decisões que o juiz aí proferir, como por exemplo, a que não admitir o recurso ordinário interposto.

Ainda são cabíveis no procedimento sumaríssimo, os

embargos de declaração nas situações em que houver erro na apreciação dos

pressupostos recursais do próprio apelo que estiver em julgamento. Não há

necessidade, neste caso, de interpor novo recurso para a instância superior.

E nesse sentido o entendimento de Teixeira Filho126:

Pela nossa parte, sempre defendemos a possibilidade do uso dos embargos declaratórios pertinentes às decisões pelas quais os Presidentes (ou vice-presidentes) dos Tribunais Regionais examinam os pressupostos de admissibilidade dos recursos de revista. Malgrado esses atos sejam, legalmente (CLT, art. 897, ‘b’), rotulados de despachos, em rigor, de despachos não se trata, até porque os despachos de mero expediente são irrecorríveis (CPC, art. 504), assim como no processo do trabalho, as decisões interlocutórias.

125 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. O procedimento sumaríssimo no processo do trabalho: comentários á lei n. 9.957/2000. 2 ed. São Paulo: LTr, 2000. P. 179. 126 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. O procedimento sumaríssimo no processo do trabalho: comentários á lei n. 9.957/2000. p. 178.

107

Uma vez demonstrado que houve manifesto equívoco no

exame dos pressupostos recursais, relativos ao apelo posto em julgamento, a

parte poderá utilizar-se dos embargos declaratórios para corrigir tal erro. O

fundamento, nesta hipótese, não será a omissão, contradição ou obscuridade, e

sim o manifesto erro de exame dos pressupostos recursais do próprio apelo,

tenha sido este conhecido ou não.

Não caberão embargos de declaração se não for manifesto

o equívoco. Caberá ao recorrente comprovar a ocorrência do erro.

Nos casos de pressupostos da ação, medida ou recurso

principal, não caberá embargos de declaração.

O efeito modificativo, por via de embargos declaratórios,

somente será possível no caso de decisão contendo omissão, contradição ou

manifesto equívoco no exame dos pressupostos extrínsecos do recurso.

Dessa forma, não cabem embargos declaratórios contra um

simples despacho. Consequentemente, não ocorrerá a preclusão caso a parte

deixe de opor embargos de declaração, para imprimir efeito modificativo de

despacho negando seguimento a recurso, sob alegação de que houve omissão,

contradição e equívoco no exame dos pressupostos extrínsecos do apelo.

O litigante, nesse caso, pode socorrer-se do agravo de

instrumento, o qual permite ao juízo a quo, reformar o despacho de trancamento

do recurso, desde que convencido das razões apresentadas pelo agravante.

É sabido que a finalidade do agravo de instrumento dentro

do processo trabalhista é destrancar um outro recurso que teve seu seguimento

negado pela instância inferior. O que ocorre, entretanto, é que, às vezes, as

alegações, nos embargos declaratórios, estão relacionadas aos pressupostos dos

próprios agravos ou do recurso de revista. Para este caso, então, a Lei nº.

9.957/2000 admite o efeito modificativo da decisão, tanto nos casos de omissão e

contradição no julgado, como quando houver manifesto equívoco no exame dos

108

pressupostos extrínsecos do recurso. Porém, se houver obscuridade na decisão

não será admitido o efeito modificativo.

Sobre este tema, Teixeira Filho127 entende que, “se o

acórdão era obscuro, ou seja, ininteligível, não se pode pretender modificar aquilo

cujo conteúdo não se consegue compreender”.

Mesmo que não possuam natureza e finalidade de recursos,

os embargos de declaração em determinadas situações alteram o conteúdo das

decisões. Teixeira Filho128 diz que “essa alteração do julgado não é objetivo

nuclear dos embargos, mas um acidente de percurso, um efeito secundário do

julgamento”.

Os embargos poderão ser oferecidos por ambas as partes.

É o que traz Teixeira Filho129: “Poderão as partes, cada uma por si, oferecer

embargos declaratórios à mesma sentença ou acórdão, seja pelo mesmo

fundamento, seja por fundamentos diversos”.

Ingressando uma das partes com os embargos antes da

outra, o prazo desta última para oferecer os seus embargos não será

interrompido. Estes só interrompem o prazo relativo ao recurso e não aos próprios

embargos.

Os erros materiais poderão ser corrigidos de ofício ou a

requerimento de qualquer das partes, como prevê o art. 833, da CLT a seguir

destacado:

Art. 833. Existindo na decisão evidentes erros ou enganos de escrita, de datilografia ou de cálculo, poderão os mesmos, antes da execução, ser corrigidos, ex officio, ou a requerimento dos interessados ou da Procuradoria da Justiça do Trabalho.

127 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. O procedimento sumaríssimo no processo do trabalho: comentários á lei n. 9.957/2000. p. 187. 128 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. O procedimento sumaríssimo no processo do trabalho: comentários á lei n. 9.957/2000. p. 187.

109

Por determinação da lei 9.957/2000, os embargos deverão

ser julgados na primeira audiência ou seção subseqüente a sua apresentação.

Nas palavras de Teixeira Filho130:

Dizer que os embargos (em primeiro grau de jurisdição) devem ser julgados na primeira audiência corresponde a impor que o julgamento se dê, rigorosamente, no primeiro horário da pauta de audiências do dia seguinte. O que o legislador pretendeu dizer, na verdade, foi que os embargos deverão ser julgados na primeira sessão de audiências que se seguir ao seu oferecimento.

O vocábulo sessões não é privativo dos Tribunais, por estes

realizarem sessões de julgamento. Também existem sessões de audiências em

primeiro grau de jurisdição.

3.7. COMPARATIVO ENTRE O RITO SUMARÍSSIMO E OS DEMAIS

PROCEDIMENTOS

Em síntese, o procedimento sumaríssimo, na Justiça do

Trabalho, em alguns pontos, constitui um avanço sobre o procedimento sumário

da Justiça Comum. Este procedimento trouxe para o processo trabalhista uma

simplificação das formas.

Com relação ao procedimento ordinário, tem-se que o que o

distingue do sumaríssimo é o fato de que o primeiro segue todos os trâmites

previstos, respeita todos os prazos e faz com que se cumpram todos os atos

processuais. O procedimento sumaríssimo por sua vez se dispõe a cumprir a

finalidade da qual o Estado se encarregou para promover a prestação

jurisdicional.

129 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. O procedimento sumaríssimo no processo do trabalho: comentários á lei n. 9.957/2000. p. 185. 130 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. O procedimento sumaríssimo no processo do trabalho: comentários á lei n. 9.957/2000. p. 186.

110

No que tange às diferenças entre os procedimentos sumário

e sumaríssimo as principais são as seguintes:

1 - a adoção do procedimento sumário é facultativa e do

procedimento sumaríssimo é obrigatória.

2 - no rito sumário, o pedido poderá ser genérico. No rito

sumaríssimo, ele terá que ser certo.

3 - a citação, no procedimento sumário, poderá se dar por

todas as formas previstas. No procedimento sumaríssimo é vedada a citação por

edital.

Deverá o autor providenciar a correta indicação do nome e

endereço do reclamado e a citação se dará por carta ou por Mandado. Não sendo

possível precisar o paradeiro do reclamado, a parte autora deverá requerer a

conversão para o procedimento ordinário, sob pena de ser extinto o processo,

mesmo que o valor da causa originariamente não comportasse este último

procedimento.

4 - a produção de provas no rito sumário é mais ampla,

permite até três testemunhas. No sumaríssimo esta produção de provas é mais

restrita, admitindo a ouvida de somente duas testemunhas.

5 - a ata de audiência, no rito sumário conterá o resumo dos

depoimentos, e no sumaríssimo, serão resumidos apenas os atos essenciais, das

afirmações das partes e informações úteis á solução do litígio, trazidas pelas

provas testemunhais.

6 - no sumário, a sentença tem relatório, que é dispensado

no sumaríssimo.

111

7- os recursos para as decisões prolatadas no procedimento

sumário serão admitidos somente em matéria constitucional. No sumaríssimo,

serão admitidos em todas as matérias.

Pela Lei nº. 9.957/2000 para as decisões proferidas no

procedimento sumaríssimo são cabíveis somente dois recursos: o ordinário e o de

revista; além dos embargos de declaração, por força do art. 897-A da CLT, o qual

segundo entendimento majoritário não tem natureza de recurso.

Na Justiça do Trabalho, o recurso interposto em decisão

proferida na ação sujeita ao rito sumaríssimo, é apreciado pelo Tribunal, órgão de

segundo grau de jurisdição; muito embora os Tribunais Regionais do Trabalho,

quando divididos em turmas, poderá designar uma das Turmas para o julgamento

desses recursos.

A legislação que trata do procedimento sumaríssimo, no

Processo do Trabalho, é silente quanto ao cabimento ou não de ação rescisória

neste procedimento.

Diante de tal omissão, sem qualquer proibição expressa,

pode-se entender como cabível a ação rescisória.

Ao ser vetado o inciso I, do § 1º, do art. 895 da CLT,

afastando a possibilidade de interposição de recurso ordinário somente nos casos

de violação de lei, contrariedade à súmula do Tribunal Superior do Trabalho e

ofensa à Constituição Federal, acabou por comprometer a eficácia do rito

sumaríssimo, uma vez que, submetendo a decisão ao segundo grau de jurisdição,

cai por terra a celeridade buscada pela implementação do rito.

Nas causas processadas pelo procedimento sumaríssimo, a

lei prevê que o dissídio deve ser apreciado no prazo máximo de 15 dias, previsão

esta inexistente tanto no procedimento ordinário, quanto no Sumário. Entretanto,

embora só o procedimento da Lei 9.957/2000, disponha sobre tal prazo, o que

112

deverá ser observado, independentemente do rito adotado, é o princípio da

celeridade processual, um dos norteadores do Processo do Trabalho.

Pela previsão do § 2º, do art. 852-I, também vetado pelo

Presidente da República, a sentença, no rito sumaríssimo, deveria ser líquida.

Com o veto, o que ocorreu, mais uma vez, foi o comprometimento da eficácia do

procedimento, uma vez que a fase de liquidação de sentença pode demorar

vários meses e até anos.

Por outro lado, a exigência de liquidez da sentença na

prática, poderá ocasionar certo atraso na prolação das decisões pela necessidade

da elaboração de cálculos que se impõe ao juiz, o que nem sempre é possível de

se realizar na própria audiência.

Levando-se em consideração o caráter das verbas

pleiteadas em uma ação trabalhista, é mais viável proferir uma sentença líquida,

com alguns dias de atraso, a proferir uma decisão condenatória ilíquida, que

dependa de uma longa fase de liquidação, onde surgirão novos debates para

apurar o quantum debeatur.

Finalizando, o procedimento sumaríssimo de uma maneira

bem simples tem procurado cumprir o papel do Estado na prestação jurisdicional.

Para tanto, reduz os prazos, elimina os atos de solenidade, tudo dentro de uma

sistemática própria, e o que é mais importante: sem comprometer a realização da

justiça ou do direito.

113

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho procurou mostrar os principais aspectos dos

procedimentos adotados pelo processo do trabalho.

Esta monografia tratou em seu primeiro capítulo da história

do processo do trabalho, seu surgimento e sua evolução ao longo dos anos. No

Brasil, constata-se que a legislação trabalhista, especialmente a nascida na

década de 40, é ainda a principal a reger até os dias atuais as relações de

emprego e os direitos daí decorrentes. Disso conclui-se que a legislação

trabalhista brasileira foi bem elaborada, não obstante sua aplicação muitas das

vezes, acabe se desviando do fim para a qual foi originariamente criada, o de

garantir um equilíbrio processual entre as parte envolvidas em um litígio de

natureza trabalhista.

Tratou-se ainda dos princípios norteadores do processo do

trabalho, e nesse tópico verificou-se uma divergência de entendimento doutrinário

quanto aos referidos princípios. Os autores se dividem cada qual com um rol

distinto de princípios, elencando o que consideram mais importante e que deva

ser observado como base, como fundamento para o processo trabalhista. Ao final,

analisando o conjunto de princípios nascido destas divergências, conclui-se que

não há uma ordem de importância entre eles. Todos são importantes, pois servem

de alicerce para a aplicação da justiça.

No segundo capítulo foram analisados os procedimentos

ordinário e sumário dentro do processo do trabalho.

O procedimento ordinário, bem mais abrangente por

apresentar menos restrições que o sumário é o mais utilizado. Não existe limite ao

valor da ação neste rito, enquanto que o sumário só pode processar dissídios cujo

valor não exceda a dois salários mínimos. E exatamente por esta razão é pouco

utilizado, pois geralmente as ações possuem valor superior a este teto. Tanto é

que existe uma discussão doutrinária sobre este rito ter sido ou não revogado

114

tacitamente pela lei 9.957/200, cujo procedimento por ela regido foi objeto de

estudo do terceiro capítulo desta monografia.

Ainda no segundo capítulo, além dos conceitos, das

características, das hipóteses de cabimento e das formas como se processam as

demandas sujeitas a estes dois procedimentos, reservou-se um tópico onde se

aborda a questão dos recursos cabíveis a cada um deles.

O procedimento ordinário, pela sua amplitude, admite uma

gama bem maior de recursos, enquanto que o sumário, pela sua própria natureza

limita a interposição de recursos. Inclusive é fácil saber a razão desta limitação.

Se este procedimento se presta a processar causas cujo valor não seja superior a

dois salários mínimos, se admitidos os mesmos recursos previstos para o rito

ordinário, por exemplo, além de restar comprometida a celeridade, que é um dos

princípios do processo do trabalho, de nada adiantaria as verbas trabalhistas

terem natureza alimentar, pois até que fossem julgados todos os recursos

interpostos, a verba pleiteada na ação trabalhista já teria perdido quase que

totalmente sua razão de ser.

No terceiro e último capítulo foi tratado especificamente do

procedimento sumaríssimo no processo do trabalho.

Após analisar neste rito os mesmos tópicos analisados nos

procedimentos ordinário e sumário, traçou-se um comparativo entre os três ritos

objetos desse trabalho. Este tópico serviu para comparar a utilidade e eficiência

destes procedimentos, inclusive no que se refere à real aplicabilidade e

efetividade de cada um, no processamento das demandas a eles submetidas.

A seguir serão transcritos os problemas e apresentadas as

hipóteses apresentadas na introdução deste trabalho com base no resultado da

pesquisa sintetizado nos três capítulos desta monografia.

Primeiro problema: O princípio protecionista da justiça do

trabalho tem atendido, nos dias de hoje, a finalidade a que se propõe?

115

Hipótese: O princípio da proteção, que tem por finalidade

principal proteger o empregado diante da superioridade da força econômica do

empregador. Embora a Justiça do Trabalho se veja às vezes um pouco

atravancada pela grande demanda de processos em tramitação, mesmo assim,

este princípio ainda tem se prestado à sua finalidade original, de proteger a parte

mais vulnerável dos dissídios trabalhistas.

A hipótese restou confirmada, uma vez que o princípio da

proteção mesmo com o significativo aumento do número de demandas

trabalhistas, continua ainda oportunizando aos trabalhadores a possibilidade de

receber em juízo a prestação jurisdicional da qual necessitam para garantia de

seus direitos.

Segundo problema: A existência de três procedimentos

diferentes para os dissídios individuais dentro do processo do trabalho simplifica

ou tumultua o desenvolvimento das demandas trabalhistas?

Hipótese: se a existência de procedimentos distintos vai

tumultuar ou simplificar o processamento destas demandas vai depender de cada

caso. O procedimento ordinário, por ser mais abrangente, de um lado, por

proporcionar uma cognição completa, tende a facilitar o desenvolvimento do

processo para ambas as parte. Por outro lado pelo cabimento de todos os

recursos admissíveis na Justiça do trabalho, poderá acarretar certa morosidade

ao processo, muito embora se busque obedecer ao princípio da celeridade

processual, próprio do processo do trabalho.

Já no que diz respeito aos outros dois procedimentos

utilizados, há que se considerar que, seria perfeitamente possível uma cisão entre

o sumaríssimo e o sumário. É certo que são regidos por leis distintas, com

procedimentos diversos, admitindo ou deixando de admitir, por exemplo, a citação

por edital, ou a interposição de determinados recursos.

Assim, se o valor máximo da causa previsto para o rito

sumário, fica dentro do valor previsto para o processamento pelo rito

sumaríssimo, sendo possível a adequação de um ao outro, a existência do

116

procedimento cujo valor máximo para que a demanda seja a ele submetida é de

dois salários mínimos é de certa forma desnecessária.

Esta hipótese restou confirmada, pois os procedimentos

ordinário e sumaríssimo seriam suficientes para promover o bom andamento dos

processos. Conclui-se assim, que o procedimento sumário, após o advento do rito

da lei 9.957/2000, acabou por tornar-se inócuo, sem aplicabilidade.

Terceiro problema: Qual a importância do procedimento

sumaríssimo para o processo do trabalho e ele pode ou não abranger também as

demandas do rito sumário?

Hipótese: a importância do Procedimento Sumaríssimo no

Processo do Trabalho é verificada por propiciar uma maior agilidade à ação

trabalhista. Este procedimento busca a solução dos litígios primando pela

simplicidade, cerelidade e economia processual. E se o processo trabalhista que

por si só já se orientava por estes princípios, com a edição de uma lei primando

por uma celeridade ainda maior para ações com valor limitado a quarenta

salários, tem-se que ela vem diretamente ao encontro dos objetivos maiores da

justiça do trabalho.

Quanto à possibilidade de o procedimento da Lei

9.957/2000, abranger também as demandas do rito sumário, conforme já exposto

na hipótese anterior, conclui-se ser perfeitamente possível uma adequação entre

estes, uma vez que dois salários cabem dentro de quarenta. Logicamente que as

duas leis possuem pontos divergentes, daí a necessidade de adequação, para

tornar suas determinações compatíveis.

Esta hipótese restou igualmente comprovada, uma vez que

devido a importância do procedimento sumaríssimo para o processo do trabalho,

este poderia sem dúvida, após as devidas adequações, trazer para seu âmbito de

aplicação as causas sujeitas ao procedimento da lei 5.584/70, sem qualquer

prejuízo de cunho processual ou material às partes, pois o direito das partes e o

valor das verbas discutidas não sofreriam nenhuma alteração. O que mudaria

seria tão somente o rito.

117

Esta Monografia venceu o seu propósito investigatório,

analisou cientificamente as hipóteses previstas para os problemas acima

mencionados. Porém, na seqüência do estudo deste tema ficou confirmada a

necessidade de mais pesquisa, análise, sugestões e debates científicos que

visem o aperfeiçoamento do processo do trabalho.

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

ALMEIDA, Amador Paes de. Curso Prático de Processo do Trabalho. 16 ed.

São Paulo: Saraiva, 2005.

ALMEIDA, Amador Paes de. CLT Comentada: legislação, doutrina e

jurisprudência. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

BARROS, Alice Monteiro de. Compêndio de Direito Processual do Trabalho –

Obra em memória de Celso Agrícola Barbi. 2 ed. São Paulo: LTr, 2002.

BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Obra coletiva de autoria da

Editora Saraiva com a colaboração de Antônio Luiz Toledo Pinto, Márcia Cristina

Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 31. ed. atual. e aum. São Paulo:

Saraiva, 2006. 1264p.

BRASIL. Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1.943. Institui a Consolidação das Leis

do Trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, 9 de ago. 1943.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 29. ed. atualizada e

ampliada. São Paulo: Saraiva, 2006. 349p.

COLZANI, Valdir Francisco. Guia para redação do trabalho cientifico. Curitiba:

Juruá, 2001.

CREDICIO, Georgius Luís Argentini Príncipe. Sobre o procedimento

sumaríssimo trabalhista (Lei 9957/00). Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 40,

mar. 2000. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1229>.

Acesso em: 16 out. 2006.

119

FONSECA, Vicente José Malheiros da. Procedimento sumaríssimo na Justiça

do Trabalho. Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 39, fev. 2000. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1228>. Acesso em: 16 out. 2006.

GIGLIO, Wagner de. Direito Processual do Trabalho. 13 ed. São Paulo:

Saraiva, 2003.

GONÇALVES, Emilio. Manual de Prática Processual Trabalhista. 6 ed. São

Paulo: LTr, 2001.

JORGE NETO, Francisco Ferreira. Lei 9957/00: procedimento sumaríssimo na

Justiça do Trabalho. Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 39, fev. 2000. Disponível

em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1227>. Acesso em: 16 out.

2006.

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 3

ed. São Paulo: LTr, 2005.

LIMA, Francisco Meton Marques de. Elementos de direito do trabalho e

processo trabalhista. 11 ed. São Paulo: LTr, 2005.

LIMA, Francisco Gerson Marques de. Direito Processual do Trabalho (teoria,

crítica e prática). 3 ed. São Paulo: Malheiros, 2001.

MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e

processo do trabalho. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 23 ed. São Paulo:

Atlas, 2005.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 21

ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

120

PASOLD, César Luiz. Prática de pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis

para o pesquisador do direito. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2005.

PINTO, José Augusto Rodrigues, PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual da

Conciliação Preventiva e do Procedimento Sumaríssimo Trabalhista. São

Paulo: LTr, 2001.

SÜSSEKIND, Arnaldo. et al . Instituições de Direito do Trabalho. Vol. 2. 22 ed.

São Paulo: LTr, 2005.

SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 32 ed. São Paulo: LTr, 2000.

SSAD, Eduardo Gabriel. Direito Processual do Trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr.

2004.

TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Sistemas dos recursos trabalhistas. 10 ed.

São Paulo: LTr, 2003.

TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. O procedimento sumaríssimo no processo

do trabalho: comentários à lei n. 9.957/2000. 2 ed. São Paulo: LTr, 2000.