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O PROCESSO DE IMPEACHMENT DA PRESIDENTA DILMA VANA ROUSSEFF: UMA VIOLAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL AOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS Tiago Resende Botelho 1 [email protected] - Romero Jucá: Eu ontem fui muito claro (...) Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está, com a situação que está. (...) - Machado: Tem que ter um impeachment - Jucá: Tem que ter impeachment (...) - Machado: Não tem conexão, aí joga pro Moro. (...) Como montar uma estrutura para evitar que eu desça? Se eu descer... (...) - Jucá: – Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar (...) Tem que ser política, advogado não encontra (...) Se é político, como é a política?... Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria. 2 RESUMO: As linhas grafadas têm como objetivo apresentar uma análise jurídica do processo de impeachment desencadeado no ano de 2015, na República Federativa do Brasil e, finalizado, no ano de 2016, com o ilegal afastamento da presidenta Dilma Vana Rousseff. O trabalho se alicerça numa análise processual nas esfera constitucional e internacional. Na esfera constitucional, além de uma análise conjuntural política, será apresentado um estudo pontual da inconstitucionalidade do pedido, principalmente ao que versa a respeito da tese das pedaladas fiscais e dos créditos suplementares. Referente à esfera internacional, o processo infringe não apenas o artigo 85 da Constituição Federal, mas, também, Tratados Internacionais de Direitos Humanos como a Convenção Americana sobre Direitos Humanos e o Protocolo de Ushuaia sobre o Compromisso Democrático do Mercosul. Palavras-chave: Estado de exceção; impeachment; inconstitucionalidade; ruptura democrática; Tratados Internacionais de Direitos Humanos. INTRODUÇÃO No totalitarismo moderno descrito por Giorgio Agamben, há um profundo estado de exceção vigorante nos Estados Democráticos, que se agiganta através de uma guerra civil legal (AGAMBEM, 2004, p. 17). Após a difícil e acirrada batalha eleitoral de 2014, a sociedade brasileira 1 Doutorando em Direito Público pela Universidade de Coimbra, Mestre em Direito Agroambiental pela UFMT, bacharel em Direito pela UEMS, licenciado em História pela UFGD, professor da Faculdade de Direito e Relações Internacionais da Universidade Federal da Grande Dourados e advogado. 2 Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/05/1774018-em-dialogos-gravados-juca-fala-em- pacto-para-deter-avanco-da-lava-jato.shtml> acessado em: 22/08/2016.

O PROCESSO DE IMPEACHMENT DA PRESIDENTA DILMA … · Apenas como exemplo, em fevereiro de 2016, após perder a indicação da liderança da sua bancada, foi programada a votação

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O PROCESSO DE IMPEACHMENT DA PRESIDENTA DILMA VANA ROUSSEFF:

UMA VIOLAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL AOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS

Tiago Resende Botelho1 [email protected]

- Romero Jucá: Eu ontem fui muito claro (...) Eu só acho o seguinte:

com Dilma não dá, com a situação que está, com a situação que está. (...) - Machado: Tem que ter um impeachment

- Jucá: Tem que ter impeachment (...) - Machado: Não tem conexão, aí joga pro Moro. (...) Como

montar uma estrutura para evitar que eu desça? Se eu descer... (...) - Jucá: – Você tem que ver com seu advogado como é que a

gente pode ajudar (...) Tem que ser política, advogado não encontra (...) Se é político, como é a política?...

Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.2

RESUMO: As linhas grafadas têm como objetivo apresentar uma análise jurídica do processo de impeachment desencadeado no ano de 2015, na República Federativa do Brasil e, finalizado, no ano de 2016, com o ilegal afastamento da presidenta Dilma Vana Rousseff. O trabalho se alicerça numa análise processual nas esfera constitucional e internacional. Na esfera constitucional, além de uma análise conjuntural política, será apresentado um estudo pontual da inconstitucionalidade do pedido, principalmente ao que versa a respeito da tese das pedaladas fiscais e dos créditos suplementares. Referente à esfera internacional, o processo infringe não apenas o artigo 85 da Constituição Federal, mas, também, Tratados Internacionais de Direitos Humanos como a Convenção Americana sobre Direitos Humanos e o Protocolo de Ushuaia sobre o Compromisso Democrático do Mercosul. Palavras-chave: Estado de exceção; impeachment; inconstitucionalidade; ruptura democrática; Tratados Internacionais de Direitos Humanos. INTRODUÇÃO

No totalitarismo moderno descrito por Giorgio Agamben, há um profundo estado de

exceção vigorante nos Estados Democráticos, que se agiganta através de uma guerra civil legal

(AGAMBEM, 2004, p. 17). Após a difícil e acirrada batalha eleitoral de 2014, a sociedade brasileira

1 Doutorando em Direito Público pela Universidade de Coimbra, Mestre em Direito Agroambiental pela UFMT, bacharel em Direito pela UEMS, licenciado em História pela UFGD, professor da Faculdade de Direito e Relações Internacionais da Universidade Federal da Grande Dourados e advogado. 2 Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/05/1774018-em-dialogos-gravados-juca-fala-em-pacto-para-deter-avanco-da-lava-jato.shtml> acessado em: 22/08/2016.

que reelege Dilma Vana Rousseff ao cargo de Presidenta passa a vivenciar aguda crise econômica

gestada pelos sucessivos erros do governo, da irresponsabilidade política do Congresso Nacional e da

elite brasileira derrotada nas urnas. De forma incessante, assiste escândalos de corrupção envolvendo integrantes de partidos,

tanto de direita como de esquerda. Buscando coagir o governo, os Deputados Federais opositores

passam a propor pautas bombas3 que tomam conta do cotidiano. Já no final de 2015 e início de 2016,

participa atônita de um festival de operações, delações premiadas confusas, vazamentos seletivos de

informações e documentos sigilosos à imprensa, banalização de prisões temporárias e preventivas com

fundamentos genéricos e meticulosidade nas escolhas dos investigados. Nesse processo de negação do Estado Democrático de Direito e formatação do estado de

exceção, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Federais Eduardo Cunha atualmente preso

(19/10/2016), autoriza (02/12/2015) a abertura do “processo de impeachment” oferecido em 31 de

agosto de 2015 de autoria dos advogados Hélio Pereira Bicudo, Janaina Paschoal4 e, posteriormente,

Miguel Reale Jr. O pedido de impeachment foi apresentado pelos autores, acompanhados

publicamente pelos líderes dos partidos oposicionistas, e por grupos que, atualmente se tomou

conhecimento, recebiam apoio financeiro destes partidos5.

3 A definição de “pautas-bomba”, com o claro objetivo de retaliar ou de desestabilizar o governo foi uma realidade permanente da Presidência de Eduardo Cunha desde o momento da sua declaração de rompimento politico com o governo. Apenas como exemplo, em fevereiro de 2016, após perder a indicação da liderança da sua bancada, foi programada a votação de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) pela qual o governo teria que deixar de destinar um mínimo de 15% da receita corrente para Saúde, para elevar este percentual para 18,7% em cinco anos. O impacto seria de R$ 15 bilhões em 2017 e de R$ 207,1 bilhões até 2022. Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,cunha-programa-pauta-bomba-de-r-207-1- bilhoes,10000018003> aceassado em 22/09/2016 4 Importante destacar que a autora do processo de Impeachment e professora da USP recebeu do PSDB, partido derrotado nas eleições de 2014, a importância de R$ 45.000 (quarenta e cinco mil reais) pela ação que destituiria a presidenta Dilma. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2016/04/analise-do-impeachment-deve-levar-em-conta-lava-jato-diz-janaina.html> acessado em 22/09/2016. 5 a respeito as recentes matérias que se referem a áudios que demonstram que partidos políticos financiaram movimentos que apoiavam o impeachment. Como exemplo, cite-se a material da Folha de São Paulo (28.05.2016) em que se afirma que “o MBL (Movimento Brasil Livre), entidade civil criada em 2014 para combater a corrupção e lutar pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff, recebeu apoio financeiro, como impressão de panfletos, uso de carro de som, de partidos como o PMDB. O movimento negociou também com a juventude do PSDB ajuda financeira, como pagamento de lanches e aluguel de ônibus. (...) Quando fundado o MBL se definia como apartidário. Na internet fazia campanhas para receber financiamento do public. Os coordenadores do movimento, porém, negociaram e pediram ajuda a partidos pelo menos a partir desse ano. Atualmente, o MBL continua com as campanhas de arrecadação, mas se define como ‘suprapartidário’. (...) Já em uma gravação de fevereiro de 2016 a que o UOL teve acesso, Renan dos Santos, coordenador nacional do MBL, diz a um colega que tinha fechado com partidos políticos para divulger os protestos de 13 de marco usando as “máquinas deles também”. (...) Em nota, Renan Santos informa que o comitê do impeachment contava

Tal atitude foi vista como mecanismo de chantagem6, vez que a bancada do PT decidiu

votar pela abertura de processo contra o Presidente da Câmara, no Conselho de Ética7. Meses antes, o

próprio Eduardo Cunha sustentava este posicionamento, rejeitando a tese de que pedaladas fiscais

caracterizavam-se como crime de responsabilidade8. Caminhava ao lado da razão, pois o “processo de impeachment” vergonhosamente

admitido pela Câmara dos Deputados e chancelado pelo Senado é inconstitucional e subtrai o status de

Estado Democrático de Direito. Arremessa brutalmente o País num profundo Estado de Exceção. Tal

situação busca eliminar não apenas fisicamente os adversários políticos de Cunha (Temer, Aécio e as

tradicionais elites), mas também os 54,4 milhões de cidadãos que, por qualquer razão, pareçam

invisíveis ao sistema politico brasileiro. O artigo demonstrará que para além da Constituição Federal a destituição da presidenta

democraticamente eleita, violou Tratados Internacionais de Direitos Humanos como a Convenção

Americana sobre Direitos Humanos e o Protocolo de Ushuaia sobre o Compromisso Democrático do

Mercosul. A escolha de romper com as instituições democráticas é uma prática constante das elites

latino americanas que se cansam de serem vencidas democraticamente nas urnas e criam teses

jurídicas esdruxulas para destituírem presidentes e presidentas. Tal prática, tem como principal meta,

trazer ao poder o grupo político que, historicamente, o dominava. Muito próximo ao golpe brasileiro,

Manuel Zelaya, foi desposto em Honduras (2009) e Fernando Lugo, no Paraguai (2012). Negar a existência de grupos políticos que articulam processos de golpes em Estados

Democráticos é negar a história e, sua construção científica, comprometida com a busca do saber. O

com siglas como DEM, PSDB, SD e PMDB. Ele que foi filiado ao PSDB até 2015, disse que o ‘MBL não criminalize a política nem os políticos. A aproximação com as lideranças foi fundamental para pavimentar o caminho do impeachment” Disponível em: <http://folha.com/no1775543>. Acessado em: 20/07/2016. 6 Na quinta-feira 26 [de novembro], Cunha usou interlocutores para enviar ao governo o seguinte recado: ou terá a garantia dos votos dos três petistas do Conselho de Ética em seu favor, ou colocará o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff para ser apreciado pelo plenário da Câmara. Acessado em: Disponível em: <http://www.istoe.com.br/reportagens/441644_O+VALE+TUDO+DE+CUNHA> acessado em 19/07/2016.

7 A chantagem foi tão inquestionável que a própria imprensa passa a afirmar tal realidade. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/12/eduardo-cunha-informa-que-autorizou- processo-de-impeachment-de-dilma.html> <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,o-brasil-a-merce-de-um-chantagista,1805840> acessado em 18/07/2016. 8Disponíveis em: <http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,eduardo-cunha-rejeita-tese-de-impeachment,1672590> <http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/10/pedaladas-podem-nao-sustentar-processo-de-impeachment-diz-cunha.html> acessados em: 27/07/2016.

estudo tem como principal objetivo político, jurídico e histórico grafar a irresponsável escolha de

destituir os 54 milhões de votos no processo de golpe, vivenciado no ano de 2016 na República

Federativa do Brasil.

1. A RECEPÇÃO DA DENÚNCIA CONTRA A PRESIDENTA DA REPÚBLICA NA

CÂMARA DOS DEPUTADOS

De forma pedagógica, necessário se faz desnudar e entender com clareza que da denuncia

apresentada foram recepcionadas apenas duas acusações: seis decretos autorizadores de créditos

suplementares e as famosas pedaladas fiscais. Importante frisar que estas duas teses foram construídas

e encomendadas pelo PSDB, partido que perdeu a eleição presidencial e, apoiadas, pelo partido que

era vice presidente e queria assumir a presidência. Nessa conjuntura, o ex-presidente da câmara dos

deputados e, atualmente, o preso Eduardo Cunha fundamenta que “Há, portanto, justa causa a

justificar o recebimento desta denúncia. E também há indícios de autoria, considerando a

responsabilidade da Presidente da República pela Lei Orçamentária.” 9 Diferentemente do que tentam vincular e fomentar, à Presidenta eleita Dilma Rousseff

não respondeu por quaisquer atos de corrupção, sonegação de impostos, operações na Lava Jato,

tampouco é citada em listas de pagamento de propinas. A seu respeito não pairam acusações de contas

ilegais no exterior ou gravações telefônicas comprometedoras. Na fundamentação jurídica da denúncia, os denunciantes sustentam o crime de

responsabilidade no Artigo 85 da Constituição Federal e na Lei 1079 de 1950, conhecida como Lei do

Impeachment e, quanto ao pedido, alegam ter a Presidenta, praticado aquilo que denominam de

pedaladas fiscais e decretos não numerados. Às pedaladas fiscais, para a denúncia, teriam violado o Art. 36 da Lei de

Responsabilidade Fiscal, já que o mesmo veda a possibilidade de realização de operação de crédito –

empréstimo – entre instituições financeiras estatais e o ente federado que as controla. Tal crime de

responsabilidade teria sido constituído em consequência do atraso do pagamento do crédito rural –

Plano Safra –, ao longo do ano de 2015.

9Disponível: <http://www2.camara.leg.br/legin/int/dpsn/2015/decisaodapresidencia-57098-2-dezembro-2015-782051-publicacaooriginal-149586-cd-presi.html> Acessado em: 02/08/2016.

O erro da denúncia está na grotesca confusão entre Lei Orçamentária e Lei de

Responsabilidade Fiscal. A Constituição não possui letras vagas e não ousaria dar ao Congresso

Nacional o direito aleatório de destituir um presidente. Portanto, no rol taxativo do Art. 85, o inciso VI

descreve que cometerá crime de responsabilidade aquele que atentar contra a lei orçamentária. A

denúncia, de forma sabidamente equivocada, se apropria da Lei de Responsabilidade Fiscal não

expressa na Constituição. O atraso no repasse das verbas aos bancos públicos são jogos contábeis, não se pode

tentar equiparar retenções temporárias com operação de créditos, como fez a denúncia. O governo não

fez empréstimo, simplesmente atrasou o repasse de dinheiro público aos bancos públicos. No Direito,

utilizar de analogia malam partem é terminantemente proibido, e na intenção claramente política de

atentar contra um governo democraticamente eleito, é inaceitável. Mas, no Estado de exceção que

entrou o Brasil, o que vigora é a exceção dos interesses escusos, antidemocráticos e de uma legalidade

autoritária. Ademais, a Lei do Impeachment exige dolo, vontade e intenção de fraudar causando dano

ao erário público. Num momento de crise econômica internacional e nacional, conhecida por todos (e

todas), o atraso no repasse foi escolha do governo, por entender que os bancos públicos poderiam

esperar, ao contrário da dignidade da pessoa humana, princípio basilar do nosso ordenamento. A

própria Constituição e a Lei do Impeachment afirmam como crime o atentado aos Direitos Sociais.

Ora, se as tais pedaladas foram para não ameaçar políticas públicas – Bolsa Família e Minha Casa,

Minha Vida – que efetivam os Direitos Sociais, não se pode falar em intenção dolosa de fraudar.

Automaticamente, inexiste crime de responsabilidade. É tão verdade que a própria OAB, em sua

denúncia retardada, não encontra crime doloso de responsabilidade e, nas palavras do seu Presidente, a

denúncia está embasada no “conjunto da obra” 10. A Constituição exige dolo e a OAB apresentou o

conjunto da obra. É golpe! No que se refere aos seis créditos suplementares por meio de decreto, editados entre 27 de

julho de julho de 2015 e 20 de agosto do mesmo ano, a Lei Orçamentária garante a possibilidade de

abertura de crédito suplementar desde que tenha cumprido a meta primária. Para os denunciantes a Presidenta cometeu crime de responsabilidade por ter

desrespeitado a meta primária. Tal situação, na visão deles, deu-se pelo atraso entre a abertura dos

créditos e a autorização para alteração da meta primária. Eduardo Cunha sustentou em sua decisão que

“[...] a denúncia oferecida atende aos requisitos mínimos necessários, eis que indicou ao

10 Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/03/160322_oab_impeachment_ms> acessado: 27/04/2016.

menos seis Decretos assinados pela DENUNCIADA no exercício financeiro de 2015 em

desacordo com a LDO e, portanto, sem autorização do Congresso Nacional. A denúncia mais uma vez afasta-se das margens da lei. Em sendo o orçamento uma

previsão anual de despesas e receitas, elaboradas no final do ano anterior, tais expectativas, podem ser

frustradas. Estamos falando de uma previsão orçamentária, principalmente num país com dimensões,

peculiaridades e necessidades tão distintas como o Brasil. A própria Lei Orçamentária, buscando criar formas de reajustar a previsão, permite a

alteração da meta primária e a abertura de créditos suplementares, desde que tenha autorização do

poder legislativo. Mediante a existência de tal possibilidade, a Presidenta abriu os créditos

suplementares e, posteriormente, se valendo do princípio da anualidade, alterou a meta primária com a

autorização do poder legislativo – por meio da aprovação da Lei 13.199, de 03/12/2015 – a

cumprindo plenamente a exigência legal do Art. 4° da Lei Orçamentária anual.

1.1. A TRAMITAÇÃO DA DENÚNCIA NA CÂMARA DOS DEPUTADOS Após recepcionada denúncia, as articulações para o cumprimento do golpe ganham

celeridade. Afinal, um novo projeto político, comandado pelo amigo de Eduardo Cunha, o então Vice-

Presidente da República e atual presidente ilegítimo e sem voto Michel Temer, tomaria o poder e o

traria maior proteção. O próprio Senhor #ForaTemer em pronunciamento demonstra seu forte laço de

cumplicidade e companheirismo ao Eduardo Cunha, sustentando que “[...] suas palavras são

críveis, são acreditáveis. E eu tenho em Eduardo Cunha um auxílio extraordinário na Câmara

Federal. [...] se você quiser dar uma tarefa das mais complicadas para o deputado Eduardo

Cunha, ele as simplifica, porque trabalha muito [...]”11.

É inquestionável o auxílio extraordinário de Cunha à Temer. A partir do instante

em que abre o processo de impeachment, Eduardo Cunha, passa a simplificar e trabalhar

buscando influenciar na escolha do congressita que exerceria as atribuições de presidente e

relator12. A força política de Eduardo Cunha o permite colocar na Comissão seus dois

11 Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=iqPJD3vctj4&feature=youtu.be> acessado: 27/04/2016. 12 Disponível em: < http://www.valor.com.br/politica/4486102/aliados-de-cunha-devem-comandar-comissao-do-impeachment> acessado: 27/04/2016.

aliados: o Deputado Jovair Arantes (PTB), como Relator, e o Deputado Rogério Rosso, como

presidente (PSD).

Sendo assim, o relatório foi uma fabricação de parcialidades dos amigos de

Eduardo Cunha buscando atestar o crime de responsabilidade, ainda que sem dolo contra a

presidenta Dilma Vana Rousseff. É tão verdade que o próprio advogado de Cunha

“assessorava” na fabricação do parecer13.

Buscando finalizar seu plano e de seu partido, Eduardo Cunha passa a convocar

sessões deliberativas às segundas e sextas-feiras buscando dar o máximo de celeridade. O

desejo de destituir Dilma Vana Rousseff e seus 54 milhões de votos era tamanho que a sessão de

votação foi marcada para o domingo do dia 17 de abril de 2016.

Televisionada como final de copa do mundo, o que se viu na Câmara dos Deputados

Federais, na votação de admissibilidade do processo de Impeachment, conduzida pelo réu e

ex-presidente-deputado Eduardo Cunha foi, inquestionavelmente, um show de misogina,

sexismo, patriarcado e machismo.

Parcela expressiva dos Deputados Federais que votaram pelo Impeachment,

utilizaram de argumentos esdrúxulos: “pela paz de Jerusalém”, “por minha esposa Paula”,

“por minha filha que vai nascer e minha sobrinha Helena”, “por minha família e meu estado”,

“por Deus”, “pelos evangélicos”, “pelo aniversário da minha cidade”, “pela defesa do

petróleo”, “pelos agricultores”, “pelo café” e inclusive “pelos vendedores de seguros do

Brasil”. Deixando claro a inexistência de reais motivos para um Impeachment, já que nem

seus votos relacionavam-se ao crime de responsabilidade. Foi e é golpe!

Por fim, não contentes com a baixaria já registrada na história, se despediam de

forma irônica se referindo à presidenta como “querida”, embora não nutram por ela nenhum

tipo de sentimento e respeito, mas um ódio magistral, indigno de qualquer consideração ou

revelia. E isso estava implícito no discurso (longe dos eventuais reais motivos, é claro)

daqueles que se manifestaram favoráveis ao impeachment e que no final bradavam: “Tchau

Querida!”.

Importante lembrar que a linguagem não carrega consigo apenas a função de

comunicar, mas traz em seu mundo semântico sentimentos, afetos, vontades, medos ou ódio –

13 Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/04/1758263-advogado-de-confianca-de-cunha-auxiliou-jovair-no-relatorio.shtml> acessado: 27/04/2016.

ainda que inconscientes. Num cenário político de difícil inserção da mulher, fruto do tripé

capitalista, colonial e patriarcal, o “tchau, querida!” busca deslegitimar, desrespeitar, subtrair

a seriedade e suavizar o estupro verbal que estavam cometendo à Dilma, às mulheres, aos

homens e à Democracia Brasileira.

O que foi visto no plenário foi uma catástrofe, um aborto ideológico, machista,

preconceituoso, que a cada “Tchau Querida!” não ofendia só a presidenta, mas desrespeitava e

feria mulheres e homens que lutam cotidianamente contra todas as práticas que diminuem,

espancam, estupram as muitas formas de ser, fazer e viver Mulhere(s).

Vale lembrar que os Deputados que despediam com o “tchau, querida!” em sua

maioria, nas eleições presidenciais, não apoiaram a mulher Dilma, mas, sim, o homem na

figura de Aécio Neves. Portanto, a ironia vinha daqueles que não souberam respeitar o

democrático resultado das urnas e, como ditadores, passaram a exercer suas tiranias insanas.

Terminar seus votos, despedindo-se da primeira mulher presidenta do Brasil com

“Tchau, querida!” foi uma escolha irônica dos deputados federais. Ainda que a capacidade

intelectiva dos parlamentares não os permita ver a dimensão da agressividade de suas

despedidas, tal escolha atingiu não só Dilma Rousseff, mas as muitas mulheres mães, filhas,

pobres, ricas, camponesas, urbanas, negras, brancas, pardas, indígenas, não indígenas,

quilombolas, transsexuais, gays, heterossexuais que diariamente são esquecidas, violentadas,

estupradas e desrespeitadas de formas distintas pela ironia masculina que diária e

ironicamente se despendem: tchau, queridas!

Como se não bastasse o infeliz “tchau, querida!”, Jair Bolsonaro (PSC – RJ),

político conservador, defensor da família tradicional brasileira e do Regime Militar votou

“Contra o comunismo, pela nossa liberdade, contra o Foro de São Paulo, pela memória do

coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo Exército de Duque

de Caxias, pelas Forças Armadas, o meu voto é sim”

Num país sério, é impensável representantes do povo destituírem um membro do

executivo dedicando seu voto à quem torturou da forma mais perversa seres humanos. Mas,

no país do “tchau, querida!”, votar pelo torturador da ditadura é só mais um requinte da

crueldade do Estado de Exceção que virou esse país. Chocante toda sociedade brasileira ver e

ouvir essa tortura oral e continuar a defender a legalidade de um Impeachment votado

irresponsavelmente por Jair Bolsonaro, Eduardo Cunha, Paulinho da Força, Aécio, Cassio

Cunha Lima.

2. PRELÚDIO DO GOLPE ATRAVÉS DO PROJETO “UMA PONTE PARA O

FUTURO” DO PMDB

Seguindo as normas constitucionais a partir da admissibilidade do impeachment

no Senado e com o afastamento da Presidenta Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel

Temer assume interinamente por até 180 dias enquanto se dá seguimento ao processo.

Situação normal e legalmente prevista no direito brasileiro, senão estivéssemos falando de

um golpe institucional, arquitetado pelo vice-presidente.

Há algumas questões sobre esse novo governo que nasceu no dia 12 de maio de

2016, que precisam ser destacadas. Primeiramente, é preciso lembrar que Temer foi eleito em

uma chapa e com um certo programa de governo que foi apresentado ao escrutínio popular e

que tal chapa e tal programa é que foram vencedores em outubro de 2014.

Quando houve o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello por

crime comprovadamente de responsabilidade o então vice-presidente Itamar Franco, que,

ressalte-se, não arquitetou a queda, ao assumir manteve, em linhas gerais, o direcionamento

da política que já estava sendo feita e eleita: estabilização da moeda, combate à inflação e

redução do tamanho do Estado. Esse havia sido o projeto submetido às urnas e que venceu as

eleições.

No entanto, é fácil notar que o novo governo e seu partido, desde 29 de outubro de

2015, estão anunciando um outro projeto, nominado de Uma Ponte para o Futuro14 em

direção oposta ao que foi escolhido nas urnas, há aí um problema de legitimidade que viola os

preceitos democráticos: o mandato popular não é uma carta em branco e qualquer democracia

minimamente consolidada exige que planos e propostas passem pelo crivo do voto.

Todavia, para o senhor #ForaTemer, o mandato é sim uma carta em branco que

nasce de sua vontade e do seu partido já que, anteriormente à sua posse, algo estranho e

intrigante, através de um propaganda eleitoral do PMDB, veiculado em 2015 em rede

14 Disponível em: <http://pmdb.org.br/wp-content/uploads/2015/10/RELEASE-TEMER_A4-28.10.15-Online.pdf> acessado em 01/05/2016

nacional, apresentaram à sociedade um novo projeto totalmente distinto do referendado nas

últimas eleições e, recentemente, passou a criticar de forma incisiva o projeto vitorioso nas

urnas. Importante destacar que, somado ao projeto que anunciava a traição do PMDB, existe a

tal carta15, um tanto estranha, escrita por Temer, que, segundo o atual “presidente não eleito”,

vazou e, ali, já se anunciava o golpe. Atitude de quem já conspirava pela traição termina

tentando jogar a culpa do seu erro e falta de lealdade à presidenta e aos eleitores que os

elegeram. Temer sustenta que“[..] sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB,

hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção.” 16 Quem rompeu com a

presidenta, o projeto e os eleitores dois anos após a eleição e dias antes ao impeachment

(29/03/2016) foi Temer e seu partido17.

Por tais elementos, pode-se afirmar tranquilamente que o mandato e o projeto de

governo são ilegítimos e nascem de uma conspiração. Mudanças tão radicais das propostas

apresentadas nas eleições de 2014 exigem, no mínimo, sua submissão à escolha popular pelo

voto direto, secreto e universal e, não, através de um golpe arquitetado. Mas, a história

comprova que o PMDB jamais conseguiu eleger um presidente. Sempre chega ao poder

através do vice-presidente, seja no governo de esquerda ou de direita, tanto faz – Sarney,

Itamar e Temer -. Sendo este último, o único que planejou sua posse e golpeou a democracia.

Ademais, o atual projeto – Uma Ponte para o Futuro – até tenta encontrar

legitimidade através de afirmações genéricas e falaciosas, como: “Todas as iniciativas aqui

expostas constituem uma necessidade, e quase um consenso, no país.” 18

Mas, são frases sem efeitos e, principalmente, sem votos. De onde retiraram tal

consenso se não apresentaram esse projeto à população? Por quem e como ele foi escrito?

Esse projeto surge do povo ou da e para elite brasileira? O projeto eleito foi o da presidenta

Dilma Rousseff, todo o resto que nasce de um golpe viola, nega e rompe com a soberania

popular e os muitos Direitos historicamente construídos.

15 Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/12/leia-integra-da-carta-enviada-pelo-vice-michel-temer-dilma.html> acessado em 01/05/2016 16 Idem 17 Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/03/160329_pmdb_historico_ms_if> acessado: 05/05/2016. 18 Uma Ponte para o futuro. p. 4. Disponível em: <http://pmdb.org.br/wp-content/uploads/2015/10/RELEASE-TEMER_A4-28.10.15-Online.pdf> acessado em: 02/05/2016

Ora, muito do que ali está colocado e se apresenta claramente no projeto, diz

respeito a “reformas estruturais” 19 já foi objeto de consulta popular e, pelo menos na última

década, a sociedade brasileira rejeitou nas urnas. Impor isso agora viola a soberania popular

(Art. 1o, Parágrafo Único da Constituição).

A violação à soberania popular é claramente visível, ainda, e principalmente, por

substituir as prioridades sociais do governo Dilma ao setor privado. Na visão do novo

governo “o Estado deve ser funcional” e, para atingir, tal funcionalidade “[...] deve distribuir

os incentivos corretos para a iniciativa privada e administrar de modo racional e equilibrado

os conflitos distributivos que proliferam no interior de qualquer sociedade.” Notem que,

primeiro, vão atender o setor privado, logo após, “[...] os conflitos distributivos que

proliferam no interior de qualquer sociedade”. 20 Será que estão se referindo-se a questões

sociais como conflitos distributivos que proliferam em qualquer sociedade? Se sim, fica claro

como entendem o social nesse governo ilegítimo.

Outra grave e pungente preocupação no projeto Temer e do seu partido é que, para

enfrentarem as dificuldades vividas pelo país terão de “[...] mudar leis e até mesmo normas

constitucionais [...]”.21 Será que um projeto de governo que se propõe a mudar leis e as

normas constitucionais, sem ao menos consultar à sociedade, já que não apresentam a

possibilidade de consulta popular, seria eleito por 51,64 % dos votos? Lá está escrito; mudar

as normas constitucionais, sem tal ação “[...] a crise fiscal voltará sempre, e cada vez mais

intratável, até chegarmos finalmente a uma espécie de colapso.” 22 Será que são as normas

constitucionais que levam o país a uma espécie de colapso? Claro que não! Mas, não podemos

dizer o mesmo de um partido com maior representatividade nas duas casas parlamentares –

PMDB - que se elege propondo uma política e resolver mudar da noite para o dia aliando-se

aos seus opositores da última eleição, em destaque o PSDB.

Indo ao encontro de tantas mudanças antidemocráticas e fora das urnas descrevem

que vão acabar com “[...] as vinculações constitucionais estabelecidas, como no caso dos

gastos com saúde e com educação.”23

19 Ibidem, p.3. 20 Ibidem, p. 4. 21 Ibidem, p. 5. 22 Ibidem, p. 6. 23 Ibidem, p. 9.

É inquestionável que a presidenta Dilma e o ex-presidente Lula foram reeleitos

em grande parte, por terem criado programas como FIES, PROUNI, PRONATEC e Mais

Médicos e ter edificado mais de vinte universidades federais e centenas de institutos técnicos

federais nunca antes existentes neste país. Será que um governo que pretende desvincular e

diminuir investimento em educação e saúde teria o apoio do povo ao ponto de ser eleito?

Importante destacar que, o projeto do governo Temer, eleito pela vontade de uma

parcela expressiva da Câmara dos Deputados Federais e do senado, fala em extinguir “[...] o

fim de todas as indexações, seja para salários, benefícios previdenciários e tudo o mais”. 24 e,

propondo mais cortes, afirma que “[...] a cada ano todos os programas estatais serão avaliados

por um comitê independente, que poderá sugerir a continuação ou o fim do programa, de

acordo com os seus custos e benefícios”. 25 Será que no Nordeste , região afetada

positivamente pelas políticas públicas e parcela expressiva dos que saíram da linha da

pobreza, representados por números consideráveis de eleitores, elegeriam um presidente que

busca apresentar cortes que os afetarão imediatamente? Claro que não! Apenas um governo

fora das urnas e ilegítimo poderia propor tantos retrocessos sociais de forma autoritária.

Como não destacar o retrocesso à violação do Direito Humano à aposentadoria

que, o antidemocrático projeto sustenta: por vivermos mais, “[...] as regras devem se adaptar

aos novos tempos”. 26 e, consecutivamente, “[...] as idades mínimas passaram de 60 anos para

65 e até 67”. 27 para aposentadoria. Oras, como um governo nascido fora da transparência de

projeto ao povo pode vilipendiar o ser humano idoso sem nem dialogar com o mesmo.

Preparem-se, os cortes serão muitos.

Numa leitura atenta ao folhetim e para ponderar o que é importante no projeto

deles, os homens, brancos, cristãos, heterossexuais, urbanos e ricos abstrai-se as seguintes

informações: as palavras mercado e setor privado, são descritas mais de 18 vezes; trabalho é

citado para anunciar o retrocesso dos Direitos Trabalhistas; Mulher é colocada uma única vez

para tentar explicar alterações na previdência; Palavras como criança, idoso, indígena, negro,

24 Ibidem, p. 10. 25 Idem. 26 Ibidem, p. 13. 27 Idem.

deficientes, comunidade LGBT não existem literalmente; mercado e setor privado aparecem

mais de duas dúzias de vezes; A palavra Direito aparece seis vezes e dívida quinze vezes.

3. O SENADO FEDERAL FRENTE AO PROCESSO DE IMPEACHMENT

Com a aprovação do impeachment no fatídico 17 de abril, pela câmara dos

deputados federais, a denúncia seguiu para o senado que poderia instaurar o processo ou

arquivar as investigações, não analisando o mérito viciado e financiado das denúncias. Mas,

tudo fazia parte de um grande acordo nacional para barrar a lava jato. Assim afirmou o

ministro do então governo interino “MACHADO: - É um acordo, botar o Michel, num grande

acordo nacional. JUCÁ: - Com o Supremo, com tudo.” 28 Por fim, Jucá sustentou que “Tem

que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria.” 29

Nenhuma tese jurídica por mais bem fundamentada que fosse, conseguiria barrar

o “grande acordo nacional”, como não conseguiu. Através de um processo

inquestionavelmente repleto de vícios insanáveis, destituiu-se no presidencialismo uma

representante do executivo sem crime doloso, mas, segundo Romero Jucá a ruptura

democrática se deu para “resolver essa porra” e “estancar essa sangria”.

No Senado, como se era sabido, o processo de impeachment foi instaurado e passa

a ter como relator o Ex-governador de Minas Gerais, sucessor de Aécio Never pelo PSDB,

Antonio Anastasia. O relator escolhido, tinha todos os motivos para suspeição, uma vez que

seu partido copiosamente ingressou com ações em inúmeros momentos para a destituição

daquela que teria derrotado seu partido de forma democrática nas urnas. O escárnio foi

tamanho que o candidato derrotado do PSDB, chegou ao ponto de pedir que se auditassem as

urnas eletrônicas, colocando em jogo a forma de se realizar as eleições no Brasil e, depois de

ter sua tentativa frustrada, pediram ao TSE para que no lugar da presidenta eleita, fosse

nomeado o candidato que disputou o pleito e ficou em segundo lugar.

Como desejado por Romero Jucá e seus aliados que hoje estão no poder, mudou-

se o governo e, a presidenta, foi condenada. Segundo eles, por crime de responsabilidade

28 Disponível em: < http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/05/leia-os-trechos-dos-dialogos-entre-romero-juca-e-sergio-machado.html> acessado: 20/08/2016. 29 Idem.

através da sentença, cujos efeitos são materializados por meio da Resolução n. 35/2016 do

Senado Federal

Art. 1º É julgada procedente a denúncia por crimes de responsabilidade, previstos nos art. 85, inciso VI, e art. 167, inciso V, da Constituição Federal, art. 10, itens 4, 6 e 7, e art. 11, itens 2 e 3, da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950. Art. 2º Em consequência do disposto no artigo anterior, é imposta à Senhora Dilma Vana Rousseff, nos termos do art. 52, parágrafo único, da Constituição Federal, a sanção de perda do cargo de Presidente da República, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis, nos termos da sentença lavrada nos autos da Denúncia nº 1, de 2016, que passa a fazer parte desta Resolução. Art. 3º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. 30

Sendo assim, o Senado Federal decidiu por 61 votos, sendo 20 contrários e

nenhuma abstenção pela condenação da Presidenta eleita Dilma Vana Rousseff por crime de

responsabilidade ao contratar operações de créditos – empréstimos - junto à instituição

financeira controlada pela União e editar créditos suplementares sem autorização do

Congresso Nacional. Subsequentemente, o Senado Federal decidiu por não inabilitar a ex-

presidenta ao exercício de cargo público.

Tal decisão nada lógica vai ao encontro da realidade do Congresso Nacional que

“Dentre os 513 deputados da Câmara, segundo a Transparência Brasil, 303 são investigados

por algum crime. No Senado, o número também ultrapassa os 50%: 49 dos 81 senadores estão

envolvidos em investigações.” 31

Notem que a decisão por si só é contraditória e reforça que o processo de

impeachment foi um jogo político que afastou-se brutalmente das exigências legais. Sem dolo

devidamente comprovado, requisito necessário para o crime de responsabilidade, afastaram

uma representante do executivo no presidencialismo sem a inabilitaram ao exercício de cargo

público.

30 http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=250852&norma=270259 31Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/03/160329_latimes_impeachment_rm> acessado: 19/09/2016.

4. O PROCESSO DE IMPEACHMENT E SUA VIOLAÇÃO AOS TRATADOS

INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS O processo de impeachment infringe não apenas o artigo 85 da Constituição Federal, mas

também uma série de documentos e/ou tratados internacionais ratificados pelo Brasil, entre os quais, a

Convenção Americana sobre Direitos Humanos ou Pacto de San José da Costa Rica de 196932, em

especial seus dispositivos ligados a garantias judiciais tais como: a) o artigo 8.2, relativo à presunção

de inocência a toda pessoa acusada de delito “enquanto não se comprove legalmente a sua culpa”; b) o

artigo 25, relacionado à proteção judicial, conferindo a toda pessoa o direito a recursos efetivos capazes de

protegê-la “contra atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela constituição”; c) e o

artigo 29 que garante a aplicação das disposições do direito interno que venham a assegurar ou a ampliar os

níveis de proteção aos direitos fundamentais amparados pelo Pacto de San José. Nesse sentido, a jurisprudência do Sistema Interamericano de Direitos Humanos tem

ampliado o alcance dos dispositivos da Convenção Americana relativos a garantias judiciais, fazendo com

que sejam aplicados não só a processos judiciais em si, mas também aos processos administrativos, ou a

processos jurídico-políticos, tais como os processos de impeachment. É o que se verifica em dois casos

emblemáticos: a) Caso Tribunal Constitucional v. Peru, em que a Corte Interamericana, em decorrência

de violações ao devido processo legal (art. 8°) e às garantias judiciais (art. 25), determinou a anulação de

processo político-administrativo que culminou na destituição de três magistrados da Suprema Corte

Peruana 33; b) e a Petição 3513-13, em que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos analisa

flagrantes violações ao direito à ampla defesa praticadas pelas Casas do Congresso Nacional do Paraguai,

quando da destituição do Presidente da República Fernando Lugo, em um processo sumaríssimo, com

pouco mais de 24 horas de duração e que concedeu ao mandatário cerca de duas horas para apresentação de

sua defesa contra acusações vagas que variavam desde “governar de maneira imprópria, negligente e

irresponsável” a promoção de “constante confrontação e luta de classes sociais” 34.

32Ratificada pelo Brasil em 25/09/1992 e aprovado pelo Decreto Legislativo n° 678, de 06/11/1992, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, por força do art. 5°, § 2°, da Constituição Federal, goza de nível supralegal de proteção no ordenamento jurídico brasileiro. Ver: RE 466-343-SP. STF, 2ª Turma, HC 90.172/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, j. 05.06.2007. GOMES, Luiz Flávio; MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Comentários à Convenção Americana sobre Direitos Humanos: Pacto de San José da Costa Rica, 3ª ed. rev.,atual e ampl. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2010, p. 77. 33 Ver: Corte IDH, Caso del Tribunal Constitucional Vs. Perú Sentencia de 31 de enero de 2001 (Fondo, Reparaciones y Costas), par. 130. 34 Disponível em: <http://www.mre.gov.py/v2/Noticia/3346/respuesta-del-estado-paraguayo-a-la-peticion-de-lugo-fue-entregada-hoy-a-la-cidh-en-washington> acessado em 27/04/2016.

Não por acaso, o Presidente da Corte Interamericana, Sr. Roberto Caldas, em declarações

à imprensa realçou a importância dos Estados-Membros da OEA em cumprirem os dispositivos da

Carta Democrática Interamericana de 2001 relacionados à proteção da democracia representativa

(artigos 1° a 3°, por exemplo)35. Idêntica preocupação foi externada pelo Secretário Geral da OEA, Sr. Luis Almargo, que

em pronunciamento oficial ressaltou que “em um regime presidencialista, como o brasileiro -

prevalente na grande maioria dos países do nosso hemisfério - não pode funcionar como se fosse um

sistema parlamentar, onde a destituição do primeiro mandatário se dá imediatamente, bastando uma

mudança na correlação das forças políticas na coligação governamental” 36. Também em nota oficial, o Secretário Geral da Unasul, Sr. Ernesto Pizano, externou

preocupação com a autorização de abertura do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados

do Brasil, em 17/04/2016, sem que qualquer debate substantivo sobre supostos crimes praticados pela

Presidente da República tivesse sido protagonizado pelos parlamentares37. A ruptura da ordem democrática pelo Brasil por meio de um golpe de Estado travestido

por um processo de impeachment, também implica na violação do Protocolo de Ushuaia sobre

Compromisso Democrático no Mercosul, Bolívia e Chile, de 199838. Desta forma, poderão os Estados-

partes, após consultas ao Estado afetado, mediante consenso, autorizar sanções ao país, que poderão

implicar na suspensão do país do Mercosul (artigos 3° a 6°) e em consequente agravamento da crise

econômica. Ainda que a suspensão do país ao Mercosul não venha a ocorrer – afinal tal decisão

demandaria um difícil consenso dos demais Estados-partes – os sinais dados por governos da América

do Sul indicam a considerável possibilidade do não reconhecimento de um governo brasileiro oriundo

35 “Está na carta democrática americana dispositivo que fala da democracia representativa. O seu afastamento (da Presidente Dilma Rousseff) há de ser feito, claro, dentro da legalidade e da estrita letra da lei”. Roberto Caldas, em entrevista publicada em 05/04/2016. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2016/04/05/presidente-da-corte-interamericana-diz-que-povos-olham-com-medo-para-o-brasil.htm> acessado em 27/04/2016. 36 Disponível em: http://www.oas.org/pt/centro_midia/nota_imprensa.asp?sCodigo=P-044/16 acessao em: 27/04/2016. 37 “La decisión adoptada ayer por la Cámara de Diputados de Brasil (...) sin que haya existido indicio o discusión de fondo durante el debate sobre supuestos delitos, constituye un motivo de seria preocupación para la región. La elección democrática y mayoritaria de Dilma Rousseff como Presidenta Constitucional, no puede ser derogada en un juicio político por una mayoría parlamentaria a menos que exista una prueba que la vincule de manera directa y dolosa con la Comisión de un delito común, hecho que hasta el momento no ha sucedido.” Disponível em: <http://www.unasursg.org/es/node/658> acessado em: 27/04/2016. 38 Ratificado pelo Brasil em 17/01/2002 e aprovado pelo Decreto Legislativo n° 4210, de 24/04/2002.

de um golpe “branco”, o que geraria prejuízos consideráveis às relações internacionais39. No entanto,

um efeito ainda mais devastador esta por vir haja vista que o mau uso do impeachment justamente no

Brasil, país que por razões históricas, territoriais e político-econômicas, é reconhecidamente o país

mais influente da América Latina, sinaliza danos ainda maiores: a abertura ou a intensificação de um

ciclo de instabilidade que poderá se alastrar pelos demais países do continente40.Se a adoção de tal

instituto, por si só, já evidencia intensa crise institucional, a sua aplicação apenas e tão somente por

motivações políticas evidencia um golpe de Estado “branco”, revestido de um pálido verniz de

legalidade, que poderá servir de tenebroso modelo para estados de exceção por toda a América Latina.

CONCLUSÃO

É preciso repensar nossas instituições: não pode ser tido como legítimo o vice em

uma chapa (junto com seu partido) conspirar contra o projeto político e o representante

desestabilizando os preceitos democráticos. Como é possível que um dos membros de uma

chapa e de um projeto referendado nas urnas milite contra o outro e se alie com à oposição?

Esta, por sua vez, que tem um papel muito importante em qualquer democracia – que é fazer o

contraponto à situação –, ao invés de exercer seu papel, atuou, desde o final do 2o turno da

última eleição presidencial para inviabilizar o governo dentro do Congresso Nacional e fora

dele, criando/fomentando questões no sentido da deposição da presidenta. Certo que, apesar

disso, a oposição não teria conseguido obter seu intento se não fosse o PMDB, partido da base

do governo e de um dos membros da Chapa eleita, não tivesse se “debandado” do governo

com o objetivo de retirar, pelo golpe, a presidenta.

39 Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/03/uruguai-bolivia-venezuela-e-equador-manifestam-apoio-dilma-e-lula.html acessado em: 27/04/2016. 40 “Entre 1992 e 2015, sete presidentes democraticamente eleitos na América Latina sofreram impeachment. Além de Collor e Pérez, houve Abdalá Bucaram (1997) e Lucio Gutiérrez (2005) no Equador , Raúl Cubas Grau (1999) e Fernando Lugo (2012) no Paraguai, e Otto Pérez Molina na Guatemala (2015)”. Aníbal Pérez-Linãn, em entrevista publicada em 25/041/2016. Disponível em: http://jornalggn.com.br/tag/blogs/anibal-perez-linan , último acesso em 27/04/2016. Ver também: Ver: PÉREZ-LIÑÁN, Aníbal. Presidential impeachment and the new political instability in Latina America. Cambridge University Press, 2010.

No projeto de execução do golpe – “Uma ponte para o Futuro”, consta que “O

Brasil encontra-se em uma situação de grave risco. Após alguns anos de queda da taxa de

crescimento, chegamos à profunda recessão que se iniciou em 2014 e deve continuar em

2016”. 41 Mas à frente afirma: “Nossa crise é grave e tem muitas causas”. 42

Se já sabiam que o país estava em estado de risco e crise grave por que Michel

Temer e seu partido colocaram-se à reeleição com uma presidenta que, segundo eles, levou o

Brasil a tal risco e crise? Por que o PMDB sitiou o governo com ministérios e cargos no

governo da Dilma? Por que o PMDB só deixa o governo duas semanas antes do processo de

impeachment ser votado na Câmara dos Deputados? Se o Brasil está em “grave risco”, como

descreve o PMDB, teria moral para se isentar da culpa, tendo loteado o primeiro e segundo

mandatos de quem hoje golpeia?

Há algo de muito problemático em um sistema político no qual os partidos, ao se

coligarem, não têm qualquer obrigação de agir em conjunto por um mesmo projeto; ou que a

perda de popularidade leve à queda de um presidente – não estamos no parlamentarismo –, de

tal sorte que, havendo ou não “crime de responsabilidade”, isso é o que, ao fim e ao cabo,

menos importa: um presidente que (man)tiver maioria no Congresso poderá cometer qualquer

um dos crimes da lei 1079/50 que não sofrerá impeachment; ao revés, um presidente que,

eventualmente, não tenha cometido qualquer ilícito, poderá ser afastado por simples vontade

do Congresso.

A ilegitimidade política do governo sem voto ainda possui um outro viés:

membros de partidos de oposição, derrotados nas eleições, integram a administração do

senhor #ForaTemer. Mais uma vez burla-se a vontade popular que havia optado por um e

não por outro projeto.

Juridicamente restou clarividente que pedaladas fiscais e decretos não numerados

não são crimes de responsabilidades e jamais poderiam ter sustentado a destituição de uma

presidenta sem comprovação de ato que atentasse dolosamente contra a Constituição Federal.

Ademais, a escolha em romper com a democracia brasileira desrespeita o Pacto de

San José da Costa Rica de 1969. Relativo à presunção de inocência da Presidenta, uma vez

que ainda que acusada de delito não se comprovou legalmente a culpa; Quanto os recursos

41 Idem, p. 3. 42 Idem, p. 5.

efetivos capazes de proteger a democracia, o projeto político eleito e os eleitores de Dilma restam

comprovados que estão viciados, uma vez que a perseguição politica, chantagem e incapacidade

de aceitar a derrota nas urnas viciaram todo o processo e suas fases; Por fim, direitos

fundamentais amparados pelo Pacto de San José foram desrespeitados por revanchismo político e

falta de comprometimento com o pacto democrático.

Também, o Protocolo de Ushuaia sobre Compromisso Democrático no Mercosul

de 1998 foi deixado de lado para vigorar o total estado de exceção que vem se intensificando

com inúmeros retrocessos sociais e retiradas de direitos.

REFERÊNCIAS AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. SP: Boitempo, 2004. BBC BRASIL. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/03/160322_oab_impeachment_ms> acessado: 27/04/2016. _______. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/03/160329_pmdb_historico_ms_if> acessado: 05/05/2016. CÂMARA FEDERAL. Decisão da Presidência. 2016. Disponível: <http://www2.camara.leg.br/legin/int/dpsn/2015/decisaodapresidencia-57098-2-dezembro-2015-782051-publicacaooriginal-149586-cd-presi.html> Acessado em: 02/08/2016. FOLHA DE SÃO PAULO. Advogados de confianças de Cunha auxiliou Jovair no relatório. 2016. Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/04/1758263-advogado-de-confianca-de-cunha-auxiliou-jovair-no-relatorio.shtml> Acessado em: 27/04/2016. _______. Em diálogos gravados, Jucá fala em pacto para deter avanço na Lava Jato. 2016. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/05/1774018-em-dialogos-gravados-juca-fala-em-pacto-para-deter-avanco-da-lava-jato.shtml> Acessado em: 22/08/2016. G1. Análise do impechment deve levar em conta Lava Jato, diz Janaína. 2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2016/04/analise-do-impeachment-deve-levar-em-conta-lava-jato-diz-janaina.html> Acessado em 22/09/2016. _______. Eduardo Cunha informa que autorizou processo de impeachment de Dilma. 2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/12/eduardo-cunha-informa-que-autorizou- processo-de-impeachment-de-dilma.html> Acessado em 19/07/2016.

_______. Leia íntegra da carta enviada pelo vice Michel Temer à Dilma. 2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/12/leia-integra-da-carta-enviada-pelo-vice-michel-temer-dilma.html> Acessado em 01/05/2016 _______. Leia os trechos dos diálogos entre Romero Jucá e Sergio Machado. 2016. Disponível em: < http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/05/leia-os-trechos-dos-dialogos-entre-romero-juca-e-sergio-machado.html> Acessado: 20/08/2016. _______. Pedaladas podem não sustentar processo de impeachment, diz Cunha<http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/10/pedaladas-podem-nao-sustentar-processo-de-impeachment-diz-cunha.html> acessados em: 27/07/2016. _______. Uruguai, Bolívia, Venezuela e Equador manifestam apoio à Dilma e Lula. 2016. Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/03/uruguai-bolivia-venezuela-e-equador-manifestam-apoio-dilma-e-lula.html Acessado em: 27/04/2016. GOMES, Luiz Flávio; MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Comentários à Convenção Americana sobre Direitos Humanos: Pacto de San José da Costa Rica, 3ª ed. rev.,atual e ampl. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2010. ISTO É. O vale-tudo de Cunha. 2016. Disponível em: <http://www.istoe.com.br/reportagens/441644_O+VALE+TUDO+DE+CUNHA> Acessado em 19/07/2016. MINISTERIO DE RELACIONES EXTERIORES DEL PARAGUAY. Respuesta del estado paraguayo a la peticion de Lugo fue entregada hoy a la CIDH en Washington. 2015. Disponível em: <http://www.mre.gov.py/v2/Noticia/3346/respuesta-del-estado-paraguayo-a-la-peticion-de-lugo-fue-entregada-hoy-a-la-cidh-en-washington> Acessado em 27/04/2016. O ESTADO DE SÃO PAULO. Cubha programa pauta bomba. 2016. Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,cunha-programa-pauta-bomba-de-r-207-1- bilhoes,10000018003> acessado em: 22/09/2016 _______. Eduardo Cunha rejeita tese de impeachment. 2016. Disponíveis em: <http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,eduardo-cunha-rejeita-tese-de-impeachment,1672590> Acessado em 19/10/2016. _______. O Brasil a mercê de um chantagista. 2016. <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,o-brasil-a-merce-de-um-chantagista,1805840> Acessado em 18/07/2016. PÉREZ-LIÑÁN, Aníbal. Presidential impeachment and the new political instability in Latina America. Cambridge University Press, 2010.

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