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1 O PROCESSO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E SUAS IMPLICAÇÕES: DESAFIOS E POSSIBILIDADES Maria Cristina L. P. Lopes – UCDB Arlinda Cantero Dorsa – UCDB Blanca Martín Salvago – UCDB Cláudio Zarate Sanavria – UCDB Jeferson Pistori – UCDB Introdução Para entender a Educação a Distância (EAD) hoje, precisamos conhecer a sua história: sua origem, seu passado, sua evolução, e, por conseqüência, suas implicações, desafios e possibilidades atuais. Portanto, discutimos inicialmente a EAD no Brasil e no mundo nos remontando às datas e aos acontecimentos mais marcantes dessa história: cursos por correspondência, experiências radiofônicas e utilização de programas de televisão em projetos educativos, e a inserção das Tecnologias da Informação e da Comunicação no contexto educacional. Em seguida, focamos a EAD em uma Instituição de Ensino Superior de Mato Grosso do Sul (Universidade Católica Dom Bosco - UCDB): sua história, particularidades e proposta pedagógica. Por fim, centramos nossa discussão nos desafios que a EAD enfrenta: novas formas de enxergar o currículo, a integração da modalidade presencial e a distância, o processo de ensino e de aprendizagem com foco na interação e colaboração e a formação do professor em uma sociedade em processo de digitalização. A EAD no Brasil e no mundo Para entendermos melhor o atual contexto da Educação a Distância, é necessário que analisemos, em princípio, o seu processo histórico de construção e evolução. Segundo Barros (2003), os primeiros indícios de utilização da Educação a Distância remontam ao século XVIII,

O processo histórico da educação a distância e suas implicações

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Page 1: O processo histórico da educação a distância e suas implicações

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O PROCESSO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E SUAS IMPLICAÇÕES: DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Maria Cristina L. P. Lopes – UCDB Arlinda Cantero Dorsa – UCDB Blanca Martín Salvago – UCDB

Cláudio Zarate Sanavria – UCDB Jeferson Pistori – UCDB

Introdução

Para entender a Educação a Distância (EAD) hoje, precisamos conhecer a sua história: sua

origem, seu passado, sua evolução, e, por conseqüência, suas implicações, desafios e

possibilidades atuais.

Portanto, discutimos inicialmente a EAD no Brasil e no mundo nos remontando às datas e

aos acontecimentos mais marcantes dessa história: cursos por correspondência, experiências

radiofônicas e utilização de programas de televisão em projetos educativos, e a inserção das

Tecnologias da Informação e da Comunicação no contexto educacional.

Em seguida, focamos a EAD em uma Instituição de Ensino Superior de Mato Grosso do

Sul (Universidade Católica Dom Bosco - UCDB): sua história, particularidades e proposta

pedagógica.

Por fim, centramos nossa discussão nos desafios que a EAD enfrenta: novas formas de

enxergar o currículo, a integração da modalidade presencial e a distância, o processo de ensino e

de aprendizagem com foco na interação e colaboração e a formação do professor em uma

sociedade em processo de digitalização.

A EAD no Brasil e no mundo

Para entendermos melhor o atual contexto da Educação a Distância, é necessário que

analisemos, em princípio, o seu processo histórico de construção e evolução. Segundo Barros

(2003), os primeiros indícios de utilização da Educação a Distância remontam ao século XVIII,

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quando um curso por correspondência foi oferecido por uma instituição de Boston (EUA). A

partir de então, é possível estabelecermos uma cronologia da evolução da EAD no mundo.

As primeiras experiências com EAD no século XIX, apresentam uma concentração maior

na Europa, com o oferecimento de cursos por correspondência na Suécia, Reino Unido e

Espanha, além dos Estados Unidos. No início do século XX, países como Austrália, Alemanha,

Noruega, Canadá, França e África do Sul começam a vivenciar suas primeiras experiências com

esse tipo de ensino. Entretanto, apenas na segunda metade do século XX é que a EAD começou a

se fortalecer e a se estabelecer como uma importante modalidade de ensino.

Em 1969, na Inglaterra, é autorizada a abertura da British Open University, considerada

como um importante acontecimento dentro da evolução da EAD por trazer inovações nos

instrumentos de comunicação entre professores e alunos, assim como na recepção e envio dos

materiais educativos. Para Barros (2003), esta instituição é pioneira no que hoje entendemos

como ensino superior a distância. Segundo Litwin (2001, p. 15), a Open University “[...] mostrou

ao mundo uma proposta com um desenho complexo, a qual conseguiu, utilizando meios

impressos, televisão e cursos intensivos em períodos de recesso de outras universidades

convencionais, produzir cursos acadêmicos de qualidade. [...] A Open University transformou-se

em um modelo de ensino a distância”.

Litwin (2001) e Barros (2003) também citam a criação da Universidade Nacional de

Educação a Distância, na Espanha, em 1972, que surgiu com idéias atrativas para estudantes de

graduação e pós-graduação do mundo inteiro, com grande parcela de alunos latino-americanos.

Na América Latina, países como Costa Rica, Venezuela, El Salvador, México, Chile,

Argentina, Bolívia e Equador também implementaram programas de Educação a Distância, como

aponta Barros (2003). Litwin (2001) afirma que instituições como a Universidade Aberta da

Venezuela e a Universidade Estatal a Distância da Costa Rica, ambas criadas em 1977, adotaram

o modelo da British Open University de produção e implementação.

No Brasil, o desenvolvimento da EAD tem seu início no século XX, em decorrência do

iminente processo de industrialização cuja trajetória gerou uma demanda por políticas

educacionais que formassem o trabalhador para a ocupação industrial. Dentro desse contexto, a

Educação a Distância surge como uma alternativa para atender à demanda, principalmente

através de meios radiofônicos, o que permitiria a formação dos trabalhadores do meio rural sem a

necessidade de deslocamento para os centros urbanos.

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A história da educação a distância no Brasil esteve sempre ligada à formação profissional,

capacitando pessoas ao exercício de certas atividades ou ao domínio de determinadas habilidades,

sempre motivadas por questões de mercado. A partir dos anos 30, as políticas públicas viram na

Educação a Distância uma forma de atingir uma grande massa de analfabetos sem permitir que

houvesse grandes reflexões sobre questões sociais. Com o estabelecimento do Estado Novo, em

1937, a educação passou a ter o papel de “adestrar” o profissional para o exercício de trabalhos

essenciais à modernização administrativa. Dentro deste contexto de formação profissional,

surgem o Instituto Rádio-Técnico Monitor em 1939, e o Instituto Universal Brasileiro, em 1941,

como aponta Nunes (1992).

Foram várias experiências radiofônicas até a implantação da televisão no Brasil, nos anos

50, que possibilitou o desenvolvimento de idéias relacionadas ao uso deste novo meio de

comunicação na educação. Dessa maneira, nos anos 60, surgem as televisões educativas.

Já na década de 70, a Educação a Distância começa a ser usada na capacitação de

professores através da Associação Brasileira de Teleducação (ABT) e o MEC, através dos

Seminários Brasileiros de Tecnologia Educacional. Ainda no contexto do rádio, é criado em 1973

o Projeto Minerva, que disponibilizou cursos para pessoas com baixo poder aquisitivo. Na mesma

época surge o Projeto Sistema Avançado de Comunicações Interdisciplinares (SACI) que, dentro

de uma perspectiva de uso de satélites, chegou a atender 16.000 alunos entre os anos de 1973 e

1974.

Em 1978 é criado o Telecurso 2º grau, através de uma parceria da Fundação Padre

Anchieta e Fundação Roberto Marinho. Seu foco era a preparação de alunos para exames

supletivos de 2º grau. Já em 1979 temos a criação da Fundação Centro Brasileiro de Televisão

Educativa (FCTVE), utilizando programas de televisão no projeto Movimento Brasileiro de

Alfabetização (MOBRAL). Neste mesmo ano, a Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de

Ensino Superior (CAPES) faz experimentos de formação de professores do interior do país

através da implementação da Pós-Graduação Experimental a Distância.

Já em 1984, em São Paulo, é criado o Projeto Ipê, com o objetivo de aperfeiçoar

professores para o Magistério de 1º e 2º graus. Na década de 90 temos, em 1995, a reformulação

do Telecurso 2º Grau, que passa a se chamar Telecurso 2000, incluindo nesse o curso técnico de

mecânica. Nessa mesma década, surge o projeto “Um Salto para o Futuro” que objetivava o

aperfeiçoamento de professores das séries iniciais.

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Em 1995, também é criada a Secretaria de Educação a Distância (SEED/MEC) que

desenvolveu e implantou, em 2000, um curso a distância vinculado ao Projeto TV Escola,

também objetivando a formação de professores. Ainda nos anos 90, podemos citar a criação do

Canal Futura, uma iniciativa de empresas privadas para a criação de um canal com programas

exclusivamente educativos.

Para Barros (2003), assim como as exigências educacionais sofreram grandes alterações

advindas das mudanças nas relações de trabalho com a Revolução Francesa e a Revolução

Industrial, hoje vivenciamos a revolução das tecnologias, mais especificamente das tecnologias

da informação, que mais uma vez afeta as relações de trabalho, e isso certamente se reflete na

educação.

Duas tendências educacionais se firmaram no Brasil, no contexto da Educação a

Distância, segundo Barros (2003, p. 52): “[...] a universalização das oportunidades e a preparação

para o universo do trabalho”. Autores como Nunes (1992) observam que, em todo o seu processo

histórico, a Educação a Distância sofreu todo um processo de transformação, principalmente no

que diz respeito ao preconceito sofrido por essa modalidade.

Aos poucos, a Educação a Distância está perdendo o estigma de ensino de baixa

qualidade, emergencial e ineficiente na formação do cidadão. Mas, como toda modalidade de

ensino, não se constitui na solução para todos os problemas. Atualmente vivenciamos novos

desafios, principalmente no que diz respeito ao impacto nas novas tecnologias na Educação a

Distância.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA EAD-UCDB: ESTUDO DE CASO

O ano de 1996 foi um marco importante para toda a educação brasileira, mais

precisamente, o dia 20 de dezembro de 1996, no qual a lei 9.394 foi sancionada pelo presidente

da república. Esta lei, que ficou mais conhecida como Lei de Diretrizes e Bases (LDB),

estabeleceu as diretrizes e bases da educação nacional.

Para a Educação a Distância, esta lei teve muita importância, e mesmo não abrangendo

aspectos necessários de regulamentação da modalidade, assinalou que a mesma deveria ser uma

realidade próxima à educação brasileira, inclusive indicando tratamento diferenciado que incluía:

custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de radiodifusão sonora e de sons e

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imagens; concessão de canais com finalidades exclusivamente educativas e reserva de tempo

mínimo, sem ônus para o Poder Público, pelos concessionários de canais comerciais.

Mas de fato, mesmo tendo diversos decretos e portarias emitidas, a consolidação da

regulamentação da EAD veio através do decreto 5.622 de 19 de dezembro de 2005. Há ainda

alguns aspectos que precisam ser reconsiderados, mas já foi possível que as instituições de ensino

pudessem desenvolver seus programas e cursos de maneira mais regulamentada e com alguns

parâmetros de qualidade pré-definidos. Destacamos como ponto positivo deste decreto, a

definição de competências de regulação e a equiparação de validade dos cursos na modalidade

EAD com os cursos presenciais.

Para exemplificar a utilização da EAD no ensino superior, descrevemos a experiência de

quase 10 anos de Educação a Distância na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).

A UCDB desenvolve e propaga conhecimento em todas as grandes áreas da ciência. Ela

oferece atualmente mais de 40 cursos de graduação e vários cursos de pós-graduação presenciais

e a distância. A instituição tem aproximadamente 12.000 estudantes, em três campi e 12 pólos de

apoio presencial no Brasil, contando com mais de 1.000 funcionários, sendo aproximadamente a

metade destes, professores.

A proposta pedagógica da UCDB para o desenvolvimento de cursos na modalidade a

distância é fundamentada no estímulo ao aprendizado interativo, cooperativo e na auto-

aprendizagem, utilizando para isso uma combinação de mídias, priorizando a Internet e

promovendo a autonomia acadêmica de forma responsável e criativa.

Ao longo dos cursos, o aluno deverá estabelecer uma rotina de estudos, mantendo uma

interação constante com o professor, tutor e colegas, para tirar dúvidas, trocar impressões, pedir

orientações, partilhar experiências, visando sempre a construção cooperativa do conhecimento.

No Quadro 1, apresentamos um pouco da história de EAD na UCDB, e vale comentar que

o processo de utilização da EAD se assemelha bastante com as demais universidades do país,

iniciando com a experimentação em laboratório de ensino, ofertando depois cursos de extensão

acadêmica, pós-graduação lato sensu e cursos de graduação, nesta seqüência.

Ano Acontecimento

1998 Um grupo de professores, das áreas de informática e licenciatura em

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matemática, inicia estudos sobre a utilização de novas tecnologias de informação e

comunicação no contexto de sala de aula presencial. Pesquisando, dentre outras

coisas, a utilização de ferramentas de autoria e de apoio ao trabalho cooperativo

para a criação de ambientes multimídias com o uso do computador como

instrumento principal neste contexto. As experiências aconteciam nos laboratórios

de informática da instituição.

2000

Com os estudos e pesquisas caminhando para a descoberta da EAD na

UCDB, neste ano foi constituído um grupo de estudos e de pesquisa denominado

Grupo de Educação a Distância - GEAD, com o objetivo de estudar as

metodologias e ferramentas para uso em cursos a distância. O grupo era composto

pelas pessoas que estudavam as tecnologias de comunicação e informação, mais

alguns professores das áreas de letras e pedagogia.

2001

Neste ano, foi criado o laboratório de educação a distância, onde eram

feitos experimentos com mídias para a construção de cursos on-line. O curso

“Formação do Professor para o Uso das Novas Tecnologias” foi oferecido à

comunidade acadêmica a distância.

2002

Visando o oferecimento de cursos de graduação a distância, foi criada a

Coordenadoria de Educação a Distância, órgão ligado à Pró-reitoria Acadêmica e

aprovado pelo Conselho Universitário (CONSU), que iniciou os trabalhos para a

oferta de cursos superiores a distância. Neste mesmo ano, a UCDB assina

convênio de cooperação e intercâmbio científico e tecnológico com as

universidades que constituem a Comunidade Virtual de Aprendizagem da Rede de

Instituições Católicas de Ensino Superior CVA-RICESU.

2003

A oferta de cursos de extensão acadêmica se fortaleceu e, neste mesmo

ano, foi feita a solicitação ao MEC da autorização para oferta de cursos superiores

na modalidade EAD. Dois projetos pedagógicos de curso foram enviados,

Administração Pública e Administração em Agronegócio, com parte do material

didático a ser utilizado já pronto e testado.

2004 A UCDB recebe a visita da Comissão de Avaliação do MEC para

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credenciamento no oferecimento de cursos superiores a distância

2005

A UCDB é credenciada para ofertar cursos superiores a distância, através

dos convênios firmados com a Missão Salesiana em todo Brasil e a CVA-

RICESU (Portaria Ministerial Nº. 550, de 25 de Fevereiro de 2005).

2006

A Coordenadoria de Educação a Distância é transformada em Diretoria

Acadêmica de Educação a Distância, com representatividade nos Conselhos de

Ensino, Pesquisa e Extensão e Conselho Universitário. E neste mesmo ano, foi

criado o GETED - Grupo de Pesquisa e Estudos em Tecnologia Educacional e

EAD da UCDB, registrado como grupo de pesquisa no Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

2007

Consolidação da utilização de 20% da carga-horária dos currículos dos

cursos presenciais, com a utilização de metodologia a distância. Foi instituída a

utilização de algumas disciplinas nos currículos dos alunos dos cursos presenciais,

utilizando totalmente a EAD.

Quadro 1 - Histórico-descritivo da evolução da EAD na UCDB

Atualmente a Educação a Distância da UCDB atua em cinco áreas de oferta:

Graduação: Os cursos de Graduação na EAD têm como orientação uma aprendizagem

ativa, onde os acadêmicos são o centro do processo de ensino-aprendizagem. O professor tem um

papel fundamental como mediador e motivador, sendo o responsável pelo processo de ensino-

aprendizagem.

Pós-Graduação: Os cursos de Pós-Graduação Lato Sensu em nível de especialização são

voltados às expectativas de aprimoramento acadêmico e técnico-profissional com caráter de

educação continuada.

Extensão/capacitação: A EAD oferece, também, cursos de Extensão para atualização e

qualificação profissional de nível básico, em várias áreas de atuação para a comunidade em geral,

promovendo a difusão dos conhecimentos gerados pela comunidade acadêmica.

Cursos Corporativos: A EAD está aberta para o oferecimento de cursos em convênio

com órgãos públicos e privados, empresas e universidades que tiverem interesse na capacitação e

formação continuada de seus membros colaboradores.

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Apoio ao Ensino Presencial: A EAD oferece apoio logístico e pedagógico para

oferecimento de disciplinas na modalidade a distância e semi-presencial em diferentes cursos da

universidade.

O perfil dos alunos que estudam nos curso de graduação a distância da UCDB é indicado

com a ajuda da Figura 1.

Figura 1 - Perfil dos alunos de EAD na UCDB

Podemos notar que mais de 40% dos alunos estão acima dos 40 anos de idade, não moram

nas capitais e são de predominância masculina. Esta análise foi feita levando em consideração os

cursos de Administração e Ciências Contábeis, motivo pelo qual o perfil indica faixa etária tão

elevada, porém, a média etária nacional está em torno de 30 anos. Isso mostra que a EAD está

diretamente ligada ao aprendizado ao longo da vida e à inclusão social.

O modelo de EAD adotado pela UCDB busca construir uma Comunidade Virtual de

Aprendizagem (CVA). Na figura 2, apresentamos a mudança de paradigma que se faz necessária

para uma educação a distância de qualidade.

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Figura 2 - Construção da Comunidade Virtual de Aprendizagem

Por meio desta breve apresentação, podemos perceber que, se comparado com a história e

a experiência que a instituição tem de ensino presencial, a educação a distância está apenas

começando e, mesmo assim, já mostra indícios de inovações, de novas perspectivas e, também,

desafios. Por isso, a seguir apresentamos os principais desafios que merecem uma maior reflexão

e discussão.

FLEXIBILIDADE NO ENSINAR E NO APRENDER: O PRIMEIRO DESAFIO

Uma das grandes vantagens da EAD é a flexibilidade, característica que faz com que essa

modalidade seja atrativa para os que buscam escapar dos moldes convencionais da educação.

Quando se fala em flexibilidade, pensa-se em primeiro lugar na flexibilidade de tempo e

espaço, pelo fato do aluno poder acessar e estudar no lugar e tempo desejado. Além disso, há a

possibilidade do aluno estabelecer o próprio ritmo de estudo, abreviando ou alongando o tempo

considerado como ideal para os cursos presenciais. É uma abertura real que começa a se

concretizar na vida acadêmica na modalidade a distância.

Outra possibilidade que se abre como desafio para o futuro é a flexibilidade no sentido de

deixar que o aluno possa fazer disciplinas em outras Instituições, com outros professores,

enriquecendo seu currículo com o que tem de melhor na sua área de formação. Estamos a

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caminho de uma educação sem fronteiras mesmo. Talvez seja sonhar, mas, não faz tanto tempo,

poucos sonhavam que seria possível estudar uma graduação sem necessidade de freqüentar as

carteiras de uma Universidade.

Com essa nova flexibilidade, o conceito de grade curricular abre espaço a outros conceitos

mais dinâmicos que permitem uma maior abertura e liberdade ao processo educacional. Se

procurarmos a palavra “matriz” no dicionário Aurélio, vemos que as duas primeiras definições

são: “lugar onde algo se gera ou cria”, “aquilo que é fonte, origem, base, etc.”. Portanto, a palavra

matriz evoca as idéias de “criação” e “geração” que norteiam uma concepção mais abrangente,

flexível e dinâmica de currículo, não devendo ser uma coisa fechada, engessada.

A Matriz Curricular deve ser um referencial que oriente a formação dos acadêmicos de

cada área do conhecimento. Os eixos temáticos e as atividades integradoras e interdisciplinares

permitem uma abertura nesse sentido. Sendo assim, há espaço para contemplar, além das

disciplinas básicas e específicas da profissão, experiências vividas, contextos culturais

diferenciados, necessidades específicas das regiões e dos próprios alunos.

Toda essa abertura traz diversidade e riqueza que não pode permanecer limitada ao

contexto da EAD, pois é possível otimizar o contexto da educação presencial utilizando toda essa

flexibilidade.

E é nesse contexto que a integração da modalidade presencial e a distância se apresenta

como um desafio no sentido de poder alcançar uma educação com qualidade, com foco na

formação integral do indivíduo.

INTEGRAÇÃO DAS DUAS MODALIDADES PRESENCIAL E A DISTÂNCIA: O

SEGUNDO DESAFIO

Quase todos nós conhecemos a educação presencial, mas poucos conhecem a modalidade

a distância. Porém, este panorama está mudando devido à inclusão das TICs (Tecnologias de

Informação e Comunicação) na educação convencional: os alunos dos cursos presenciais estão

tendo a oportunidade de conhecer as possibilidades que oferecem as novas tecnologias no

contexto educacional.

Como afirma Moran,

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Estamos caminhando para uma aproximação sem precedentes entre os cursos presenciais (cada vez mais semi-presenciais) e os a distância. Os presenciais terão disciplinas parcialmente a distância e outras totalmente a distância. [...] Teremos inúmeras possibilidades de aprendizagem que combinarão o melhor do presencial (quando possível) com as facilidades do virtual. Em poucos anos dificilmente teremos um curso totalmente presencial (MORAN, 2005: pp.19-20).

Estamos caminhando para formas de gestão mais flexíveis e menos centralizadas, mesmo

que, como Moran (2006) alerta, o processo de mudança na educação não seja fácil nem uniforme.

Do mesmo jeito que na sociedade a integração das tecnologias acontece de maneira desigual, na

educação também existe desigualdade de possibilidades, pois nem todos têm acesso aos recursos

tecnológicos que poderiam democratizar a informação e a educação.

Por outro lado, temos que dizer que também é difícil se adaptar a novos modelos

educacionais, deixando para trás os velhos paradigmas e padrões conhecidos. E essa resistência

não é só no sentido do preconceito ou do receio que pode se sentir perante o novo, o

desconhecido. A proposta de novos paradigmas educacionais centrados na figura do aluno mais

do que no professor, na aprendizagem mais do que no ensino, ainda provoca desconfiança em

alunos e professores.

Num diálogo entre as duas modalidades, a educação começa a reconfigurar-se e os

envolvidos –alunos e professores- começam a perceber que a aula pode continuar fora do espaço

físico escolar. Por exemplo, o uso de um fórum de discussão pode se configurar como uma sala

de construção de conhecimento. Essa ferramenta propicia um espaço de discussão em que todos

se posicionam, refletem e argumentam, “num fluxo que na modalidade presencial se torna difícil,

pois o tempo de reflexão, leitura e fala é diferente” (SCHERER, s.d.).

A aproximação das duas modalidades fará com que no futuro não se faça mais essa

distinção radical entre cursos a distância e cursos presenciais como modalidades distantes e, às

vezes, até contrárias na metodologia e na proposta educacional. Poderemos falar de híbridos, isto

é, teremos uma nova modalidade que consistirá na integração das duas agora existentes, pegando

o melhor dos modelos atuais. “Os conceitos de presencial e a distância sofrerão tais remodelações

que se tornarão rapidamente obsoletos” (MORAN, s.d.).

O momento atual que estamos vivendo de separação das duas modalidades faz parte de

um processo, mas representa apenas a fase inicial do mesmo. Ainda há muito caminho a trilhar e

a tendência é a convergência e integração: os cursos “presenciais” usarão de momentos virtuais

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para enriquecer e diversificar a aprendizagem, como mais um recurso entre tantos; e os cursos “a

distância” poderão usar de momentos presenciais quando a especificidade do curso assim o

exigir.

Ainda de acordo com Moran,

Com o aumento do acesso dos alunos à Internet, poderemos flexibilizar bem mais o curriculum, combinando momentos de encontro numa sala de aula, com outros de aprendizagem individual e grupal. Aprender a ensinar e a aprender integrando ambientes presenciais e virtuais é um dos grandes desafios que estamos enfrentando atualmente na educação no mundo inteiro (MORAN, s.d.) .

O próprio MEC acredita na integração da educação presencial e a educação a distância,

pois permite que 20% da carga horária total do curso seja a distância, abrindo novas

possibilidades de aumento desse percentual para 50%, minimizando a distinção entre as duas

modalidades. O que na verdade se prioriza é a qualidade da educação, independente da

modalidade que prevaleça.

INTERAÇÃO E COLABORAÇÃO NO ENSINAR E NO APRENDER: O TERCEIRO

DESAFIO

O uso de material impresso ainda é usado como suporte quase que exclusivo na EAD.

Segundo Scherer (s.d.),

a EAD continua reduzida para muitos a um ensino por tutoria utilizando material impresso, apesar das possibilidades de uso das diferentes tecnologias desenvolvidas com o avanço das ciências. Tanto se privilegia o ensino nestas práticas, que fica difícil falar em educação, pois o design dos cursos continua centrado na instrução, na leitura, numa troca restrita a perguntas e repostas entre alunos e professores, numa relação que prioriza o resultado e não o processo.

Quando falamos em educação, independente de onde esta ocorra, é necessário pensarmos

que nossa intenção é educar, educar seres humanos. O que isto significa? Significa que estamos

“dialogando” com seres que pensam, sentem, fazem e são. Seres que já pensavam antes de

entrarem na escola ou no espaço para o qual foram para aprender e ensinar. Como podem eles

ensinar, se foram aprender?

A Educação a Distância pode ocorrer por meio de diferentes modalidades: material

impresso, TV, CD, Internet, entre outros.

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Porém um dos principais fatores de crescimento e aceitação da EAD como forma eficaz de aprendizado é o uso de tecnologia para permitir uma maior interatividade, tanto com o professor quanto com os colegas de uma turma virtual. [...] Por se tratar de um método de ensino em que é outorgado ao aluno um alto grau de autonomia, tem a vantagem de permitir o controle do ritmo e, até certo ponto, do direcionamento do aprendizado. Porém, quando a EAD não conta com ferramentas de comunicação e interatividade eficientes, esta autonomia é acompanhada por um forte efeito de dispersão, onde o aluno se sente sozinho no processo de aprendizado, sem apoio facilitado e sem referência (FARIAS, 2007).

Neste sentido, a Universidade Católica Dom Bosco, oferece Educação a Distância

integrando várias mídias, com o intuito de facilitar a interação: material didático impresso,

ambiente virtual de aprendizagem, aulas audiovisuais, vídeo-aulas, etc.

Figura 3 – Material didático utilizado no processo de ensino-aprendizagem

Um dos maiores desafios da educação é sair de uma aula linear, passiva e individual,

tendo o professor como o detentor do conhecimento e responsável do processo educacional,

trabalhar a motivação dos alunos, não transformar a sala de aula virtual em modelos de conteúdos

feitos para assimilar e repetir. Moran reforça este conceito quando afirma que:

É difícil manter a motivação no presencial e muito mais no virtual, se não envolvermos os alunos em processos participativos, afetivos, que inspirem confiança. Os cursos que se limitam à transmissão de informação, de conteúdo, mesmo que estejam brilhantemente produzidos, correm o risco da desmotivação

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a longo prazo e, principalmente, de que a aprendizagem seja só teórica, insuficiente para dar conta da relação teoria/prática. Em sala de aula, se estivermos atentos, podemos mais facilmente obter feedback dos problemas que acontecem e procurar dialogar ou encontrar novas estratégias pedagógicas. No virtual, o aluno está mais distante, normalmente só acessível por e-mail, que é frio, não imediato, ou por um telefonema eventual, que embora seja mais direto, num curso à distância encarece o custo final (MORAN, s.d.: p.3).

Silva (2006) aborda as exigências da cibercultura referentes à prática docente, à

aprendizagem significativa, à implementação de um conjunto diverso de estratégias para criar e

partilhar on-line soluções que podem ser elaboradas pelos professores com seus alunos.

Na concepção da autora, isto significa sair da velha sala de aula presencial para uma

interface hipertextual, hipermediática e interativa. Outra exigência seria a proposta de construção

do conhecimento com o uso correto da tecnologia de informação e comunicação (TIC), coisa que

não se garante com o simples acesso.

Sendo assim, fica claro que o interesse pelo ambiente de aprendizagem é de suma

importância para a efetivação dos cursos, desde que ele propicie a interação feita por meio de

uma postura de relacionamento entre professor e aluno.

O que é efetivamente esta interação?

A palavra interação acontece na ação realizada entre duas ou mais pessoas ou coisas e que

mesmo realizadas de formas diferentes, possuem a mesma finalidade: comunicar-se.

Já a palavra interatividade contém significações diversas. Por exemplo, Amstel (2003)

classifica a interatividade como “um canal de mão dupla onde um sujeito ajuda o outro para realizar

uma ação conjunta”. Para Silva (s.d.), a “interatividade é um conceito de comunicação e não de

informática”.

Assim como os dois autores citados, Lévy (1999: p. 82) caracteriza a interatividade como “a

necessidade de um novo trabalho de observação, de concepção e avaliação dos modos de

comunicação”.

Esses três autores concordam com o fato de que interatividade implica uma ação e para

que haja essa ação deve ter uma boa comunicação não se limitando às tecnologias digitais.

Silva faz uma crítica à banalização da expressão interatividade quando afirma que:

Há uma crescente utilização do adjetivo “interativo” para qualificar qualquer coisa (computador e derivados, brinquedos eletrônicos, eletrodomésticos, sistema bancário on-line, shows, teatro, estratégias de propaganda e marketing,

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programas de rádio e tv, etc.), cujo funcionamento permite ao usuário-consumidor-espectador-receptor algum nível de participação, de troca de ações e de controle sobre acontecimentos. Podemos dizer então que há uma indústria da interatividade em franco progresso acenando para um futuro interativo. Há, certamente, a banalização decorrente do seu uso indiscriminado como argumento de venda. No entanto, o adjetivo “interativo” qualifica oportunamente a modalidade comunicacional emergente no último quarto do século XX. Qualifica a nova relação emissão-mensagem-recepção, diferente daquela que caracteriza o modelo unidirecional próprio da mídia de massa (rádio, cinema, imprensa e tv) baseado na transmissão.

A interatividade, em cursos a distância, não consiste apenas em trocar informações e/ou

obter conhecimento, mas também em exercer um convício virtual. Notamos que um simples

“Bom dia” e “Obrigada” sempre estimula o aluno a continuar sua caminhada. É por isso que a

interatividade está em todo lugar, de várias formas, mas visando a comunicação entre duas ou

mais coisas e/ou pessoas.

Segundo Lopes & Salvago (2005):

A interatividade assinala muito mais um problema: a necessidade de um novo trabalho de observação, de concepção e de avaliação dos modos de comunicação do que uma característica simples e unívoca atribuível a um sistema específico. Acreditamos que não basta dispor das novas tecnologias para garantir a interatividade e sim de disposição em engajar-se nas atividades propostas, espírito aberto às discussões e envolvimento no curso como um todo.

Moran (s.d.) assinala que as tecnologias interativas, sobretudo, vêm evidenciando, na

educação a distância, o que deveria ser o cerne de qualquer processo de educação: a interação e a

interlocução entre todos os que estão envolvidos nesse processo.

Já Scherer (s.d.) considera

um desafio para os formadores transformarem a ação de ensinar em uma ação de aprender, em criação de possibilidades para a construção do conhecimento, abandonando a transferência deste para os alunos. Ou seja, todos são aprendizes no processo, pois não há docência sem discência, enquanto aprendemos também ensinamos e enquanto ensinamos também aprendemos, apesar das diferenças entre alunos e professores, nenhum se reduz à condição de objeto, um do outro.

Aprender uns com os outros, construir conhecimento juntos e partilhar experiências são

ações que vão ao encontro dos quatro pilares da educação para o século XXI, sugeridos por

Delors et al. (1998): aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver.

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Centrados no aprender a conviver, podemos focar a questão da colaboração. A concepção

colaborativa no ensinar e no aprender mediada pelas tecnologias pode tirar as pessoas do

isolamento. Segundo Kenski (2003: p.112),

a criação de ambientes virtuais tecnologicamente apropriados para a realização de atividades educacionais precisa ser complementada com ações que tirem as pessoas do isolamento e as encaminhem para atividades em grupo, em que possam atuar de forma colaborativa. Com a colaboração de cada um para a realização de atividades de aprendizagem, formam-se laços e identidades sociais. Assim, criam-se grupos que, além dos conteúdos específicos, aprendem regras e formas de convivência e sociabilidade que persistem no plano virtual e fora dele.

Ao contrário do que alguns acreditam, as atividades colaborativas não desconsideram o

individual e sim o somatório das individualidades em que “cada um é um centro” (Lévy: 1999)

que pode contribuir para a construção dos saberes.

Além da construção individual dos saberes, o aprender e viver juntos é uma possibilidade

de colaboração, como diz Scherer (s.d.):

Um dos sentidos da criação e utilização de ambientes virtuais é a oportunidade de respeitar diferentes formas de aprender e viver juntos, possibilitando a criação de comunidades de aprendizagem que possam existir enquanto houver interesse do grupo em aprender juntos. Este aprender juntos envolve colaboração e cooperação entre os sujeitos da comunidade, envolve ume star disposto a viver em um espaço aberto, possibilitando fluxos contínuos entre as suas e as outras histórias, saberes, certezas e dúvidas presentes no grupo ou provocadas por outras pessoas conectadas àquele ambiente. É estar dispostos a desequilibrar-se em suas certezas e contribuir com os equilíbrios cognitivos dos seres do grupo, seja num processo de colaboração ou num processo de cooperação.

Nesse desequilibrar-se, o professor necessita lidar com uma nova forma de ensinar e de aprender,

ou seja, necessita uma formação para exercer posturas pedagógicas que estejam de acordo com a realidade

do contexto atual.

FORMAÇÃO DO PROFESSOR NA ERA TECNOLÓGICA: QUARTO DESAFIO

Estamos vivendo em uma sociedade em processo de digitalização. E, sendo assim, o

professor também está inserido nesse contexto e precisa familiarizar-se com as novidades que o

circundam. Um novo desafio aflora: a formação do professor em plena era tecnológica. As

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tecnologias fazem, cada vez mais, parte de nossas vidas e o desafio passa a ser a implementação

de propostas de ensino e de aprendizagem que integrem muito mais do que simples recursos

tecnológicos, mas que propiciem novas práticas pedagógicas.

Segundo Lopes (2005), é importante que se inclua um componente crítico-reflexivo na

capacitação do docente para que este saiba por quê, para quê, quando e como usar a tecnologia

no processo educacional: uma formação tecnológica. Para a autora, a formação tecnológica deve

ser um processo continuado, com potencial ilimitado de expansão e entendimento,

desenvolvimento, crescimento contínuo, em que se vislumbrem novas formas de interação, de

acesso à informação e de canais de exposição que promovam a construção do conhecimento.

O professor continua tendo papel fundamental no processo ensino-aprendizagem e, por

isso mesmo, torna-se necessário que passe por um processo de formação e desenvolvimento

tecnológico que o leve a pensar de forma mais abrangente, manuseando as novas tecnologias,

interpretando-as, aplicando-as quando for necessário, lidando com novas linguagens e formas de

comunicação, propondo e solucionando problemas também com a mediação de recursos

tecnológicos.

Muito mais do que codificar e decodificar símbolos, a formação tecnológica do professor

requer novas habilidades, novas formas de engajamento e comprometimento, novos processos

para compreender o mundo e nele atuar. Portanto, já não é suficiente saber ler e escrever para se

compreender o mundo; hoje se faz também necessário, ler e escrever digitalmente, conhecer e

saber utilizar as tecnologias que estão inseridas no contexto do nosso dia-a-dia e seus respectivos

códigos.

Um novo paradigma educacional aflora (Moraes, 1997) em que as pessoas precisam estar

preparadas para aprender umas com as outras e ao longo da vida, podendo intervir, adaptar-se e

criar novos cenários, um paradigma em que a visão de fragmentação vem sendo superada pela

concepção de uma sociedade do conhecimento, propondo a totalidade, reassumindo o todo.

Esses são os nossos desafios se almejamos aprimorar e dar qualidade às nossas práticas

educacionais, às nossas inter-relações pessoais e por que não, às nossas vidas em termos gerais

nas suas múltiplas facetas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A maioria dos professores da modalidade a distância já foi professor no ensino presencial

e, quando esse professor inicia sua prática na EAD, traz consigo todas as experiências

acumuladas ao longo dos anos de docência. Isso, em princípio, é muito bom, pois no passado

houve aprendizado que deve ser contemplado no novo contexto. Porém, é necessário lembrar que

não basta repetir as mesmas metodologias, práticas, conceitos, sem se adaptar às características e

especificidades da nova modalidade. Nesse sentido, é fundamental que as instituições mantenham

um programa de capacitação continuada dos professores para oportunizar um espaço de

discussão, reflexão dos novos desafios.

A EAD pode e deve trazer contribuições significativas para a educação em geral a partir

do momento em que começamos a refletir, discutir, repensar e reelaborar nossas práticas

educacionais, nossas experiências, nossos paradigmas, nossas interações e inter-relações

professor e aluno.

As possibilidades que a EAD pode nos propiciar são: a flexibilização de espaço e de

tempo; o acesso a um grande número de informações; a possibilidade de comunicação em tempo

real; a troca de experiências entre pessoas que vivem em espaços físicos diferenciados e

distantes; a chance de uma inclusão educacional, social e digital; a construção do conhecimento

de maneira partilhada; e, o protagonismo dos participantes do processo na história.

É claro que há necessidade de abertura de espírito, envolvimento, responsabilidade,

organização, pesquisa e principalmente criticidade para saber optar pela melhor e mais adequada

maneira de ensinar e de aprender, dependendo do contexto em que nos situamos.

Podemos perceber que a História é fundamental, pois por meio do curso dos

acontecimentos e dos fatos históricos da EAD começamos a entender suas origens e seu

progresso e nos posicionarmos melhor diante das novas possibilidades e dos novos desafios que

ela nos propõe.

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