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O professor enquanto mediador do aprendizado e a necessidade de educação continuada do docente

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Produção individual para o Centro Universitário Senac, em São Paulo, destinada à disciplina de Desenvolvimento Profissional Docente do curso de pós-graduação a distância em Docência no Ensino Superior (2014)

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Page 1: O professor enquanto mediador do aprendizado e a necessidade de educação continuada do docente

CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC

Rafael Motta da Silva

O professor enquanto mediador do aprendizado e a

necessidade de educação continuada do docente

São Paulo

2014

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1 INTRODUÇÃO

Este texto busca relacionar dois pressupostos: o de que o professor é um mediador do

aprendizado por meio da interação entre ele, o aluno e o conhecimento, rumo à construção

conjunta do saber; e o de que o professor necessita de educação continuada para se

atualizar e rever seu conhecimento e seu agir diante das mudanças na sociedade e na

educação. A relação dessas duas suposições prévias será demonstrada naquilo em que se

complementam e no que, eventualmente, se diferenciam.

2 O PROFESSOR NECESSÁRIO

Perfeito, como sabem os que estudaram latim, significa “feito por completo”, “feito por inteiro”, “concluído”. Por isso, cuidado, porque uma universidade envelhece quando os homens e as mulheres que nelas atuam consideram que o que fazem é perfeito (…) e basta reproduzir. (…) [O físico alemão Albert] Einstein dizia: “Tolice é fazer as coisas sempre do mesmo jeito e esperar resultados diferentes”. (…) Nós precisamos afastar, como professores e professoras, do nosso dia a dia, a possibilidade de sermos velhos tolos: nós precisamos ser sábios idosos. (CORTELLA, 2012)

A explanação do filósofo, escritor e educador Mario Sergio Cortella faz lembrar docentes de

cursos superiores criados antes desta época de tecnologias digitais – e, também, alguns

professores contemporâneos. Há aqueles que, em vez de tentar entender novos sistemas de

comunicação e produção e propor aos alunos que analisem criticamente seu uso no

cotidiano profissional, levantam trincheiras diante do que surge. Ao não se educarem de

modo permanente, reproduzem práticas em desuso. Levam o estudante ao equívoco de que

a universidade é um obstáculo a suas pretensões e deve ser abandonada. Envelhecem.

O mesmo ocorre com o professor que parece enxergar sua disciplina como algo isolado e

sem relação prática com outras matérias. Dou, aqui, um exemplo pessoal: em 1997, era

estudante do primeiro ano de Jornalismo em uma faculdade privada. Entre as disciplinas

integrantes da grade curricular, constavam, por exemplo, Teoria e Método de Pesquisa em

Comunicação; Teoria da Comunicação; Ética; Antropologia; Psicologia; Sociologia; Problemas

do Homem Contemporâneo; Língua Portuguesa. Seu conteúdo compõe uma bagagem

inseparável nas “viagens” do jornalista para a construção de reportagens.

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Naquela época, porém, a interdisciplinaridade era rara. Um exercício do gênero poderia ter

sido este: uma pesquisa sobre a expectativa profissional dos alunos do último ano do curso,

complementada com a análise de um sociólogo e transformada em texto jornalístico. Outro:

a aplicação da Teoria Hipodérmica (pela qual do modo que uma agulha penetra a pele sem

dificuldade, o receptor da mensagem não contrapõe o que a mídia informa) no caso do

linchamento de uma dona de casa em Guarujá (SP), após boato, em rede social, de que

usava crianças em magia negra, e a implicação ética de reproduzir algo sem confirmá-lo.

Num parêntese, é óbvio que a evolução tecnológica altera o exercício de incontáveis

profissões. Contudo, ainda neste exemplo, o que se refere à prática jornalística e suas

consequências denota serem pouco úteis, por si sós, técnicas como as de informática e de

reportagem com auxílio do computador. O professor deve enfatizar algo analógico e

atemporal: a obrigação cidadã de ser correto, reflexivo e plural (ouvir diversos lados de uma

questão). É o estímulo ao senso crítico, válido também em outros ramos.

Do contrário, quando a universidade – em tese, o passo final antes da inserção, no mercado

de trabalho e na sociedade, de profissionais qualificados e “cidadãos autênticos” – não

consegue evidenciar a utilidade prática dos conteúdos nela ministrados, acaba por se tornar

uma experiência tão frustrante quanto certas aulas de Matemática que, para o resto da vida,

levam a uma reflexão cômica, mas lamentável:

Figura 1 – Fórmula de Bhaskara

Fonte: Perfil de Rubem Alves na rede social Facebook

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Já se entende e concorda, portanto, que o professor não é mais um simples transmissor de

conhecimentos. Porém, como ser um intermediário na elaboração do saber? Basta, apenas,

descobrir e entender as mais modernas técnicas disponíveis em seu setor de atividade?

Aplicar sua experiência prática e descrever eventuais conflitos de consciência enquanto

profissional de determinada área é o suficiente para transformar alunos em pessoas capazes

de compor mão de obra tão ou mais competente do que a dele?

Há razões para crer que só pode ser mediador quem conhece e reavalia seu próprio saber – e

o dos outros. Interagir com o estudante vai além de ensinar e sugerir a ele que apresente

dúvidas e exponha seus pontos de vista. Analisar o que forma o aluno significa compreender

seu contexto particular: de onde vem, qual realidade o cerca, que necessidades tem o lugar

onde vive, quais as possíveis dúvidas e frustrações por que já passou no exercício de outras

atividades e, mesmo, no da profissão cujos conceitos ainda está apreendendo.

Ao entender o aluno (dentro das naturais limitações de quem lida com uma turma ampla ou

em cursos a distância), o professor poderá intermediar plenamente a construção do

conhecimento. Saberá indicar caminhos mais adequados para que o estudante seja

autônomo na busca por bons elementos de formação profissional e ética e, assim, tenha

uma vida o mais distante possível de frustrações bem mais graves, e nada risíveis, do que

constatar a não utilização da Fórmula de Bhaskara no dia a dia.

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REFERÊNCIAS

ALVES, Rubem. FormulaDeBhaskara.jpg. 2014. Altura: 407 pixels. Largura: 615 pixels. 61 kb.

Formato JPEG. Disponível em: < https://www.facebook.com/rubemalvesoficial/photos/

a.457553201041448.1073741835.187120831418021/465030386960396/?type=1&theater>.

Acesso em: 11 jun. 2014.

CORTELLA, Mario Sergio. Qual a postura ideal do professor? Disponível em: <https://www.

youtube.com/watch?v=seiw4gwsfYA>. Acesso em: 9 jun. 2014.