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ANO XXIII ESPECIAL VILA RESIDENCIAL DA UFRJ 27 DE NOVEMBRO DE 2014 www.sintufrj.org.br [email protected] Por que a Vila Residencial está incomodando à Procuradoria da UFRJ? Quais são as reais razões para a retaliação aos moradores? Como por exemplo, a ameaça de proibição da circulação do ônibus interno na comunidade e durante a noite, na Cidade Universitária, mesmo sabendo que isso afetará também os estudantes do Alojamento? Essa decisão, se concretizada, revelará a mais cruel falta de sensibilidade da UFRJ para com a população da Vila Residencial, formada no passado exclusivamente por trabalhadores da universidade da época da construção do campus e pelos ex- habitantes das ilhas do arquipélago aterrado. Atualmente povoada principalmente por aposentados, pensionistas e centenas de alunos dos cursos de graduação, será que a Vila Residencial está impedindo o Parque Tecnológico do Rio de Janeiro, criado em 1994, de se expandir territorialmente? O empreendimento administrado pela Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Coppe-UFRJ ocupa uma área de 350.000m² e faz divisa com a comunidade. Seus idealizados preveem sua implantação total num prazo de 15 anos reunindo 200 empresas. Ao contrário do prometido, entre os cerca de mil trabalhadores do Parque Tec- nológico é quase nada o número de mão de obra aproveitada da Vila Residencial. De concreto mesmo os moradores contabilizam é o elevado muro de concreto que os separa do “centro de excelência” e a suspeita de que o aterro de mais de dois metros acima do nível da localidade seja a causa principal das enchentes na comunidade. O que querem da Vila? A Vila é de quem?

O que querem da Vila? A Vila é de quem? - sintufrj.org.br · proibição da circulação do ônibus interno na comunidade e durante a noite, na Cidade Universitária, mesmo sabendo

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ANO XXIII ESPECIAL VILA RESIDENCIAL DA UFRJ 27 DE NOVEMBRO DE 2014 www.sintufrj.org.br [email protected]

Por que a Vila Residencial está incomodando à Procuradoria da UFRJ? Quais são as reais razões para a retaliação aos moradores? Como por exemplo, a ameaça de proibição da circulação do ônibus interno na comunidade e durante a noite, na Cidade Universitária, mesmo sabendo que isso afetará também os estudantes do Alojamento?

Essa decisão, se concretizada, revelará a mais cruel falta de sensibilidade da UFRJ para com a população da Vila Residencial, formada no passado exclusivamente por trabalhadores da universidade da época da construção do campus e pelos ex-habitantes das ilhas do arquipélago aterrado.

Atualmente povoada principalmente por aposentados, pensionistas e centenas de alunos dos cursos de graduação, será que a Vila Residencial está impedindo o Parque

Tecnológico do Rio de Janeiro, criado em 1994, de se expandir territorialmente? O empreendimento administrado pela Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Coppe-UFRJ ocupa uma área de 350.000m² e faz divisa com a comunidade. Seus idealizados preveem sua implantação total num prazo de 15 anos reunindo 200 empresas.

Ao contrário do prometido, entre os cerca de mil trabalhadores do Parque Tec-nológico é quase nada o número de mão de obra aproveitada da Vila Residencial. De concreto mesmo os moradores contabilizam é o elevado muro de concreto que os separa do “centro de excelência” e a suspeita de que o aterro de mais de dois metros acima do nível da localidade seja a causa principal das enchentes na comunidade.

O que querem da Vila?A Vila é de quem?

2 – Jornal do Sintufrj ESPECIAL – 27 de novembro de 2014 – www.sintufrj.org.br – [email protected]

Fotos: Renan SIlva

Criada no dia 30 de agosto de 1980, a Amavila é o ponto de partida para tudo na Vila Residencial. Desde as lutas pela regularização fundiária, saneamento e a realização eventos festivos e recreativos. Todas as conquistas da população local foram organizadas pela entidade. Na sede da associação funcionam os programas de inclusão social da UFRJ – projetos de exten-são que envolvem 11 unidades acadêmicas --, em diferentes áreas: saúde (ambulatório de enfermagem, medicina ginecológica com exames preventivos, nutrição, exa-mes preventivos de saúde a cada 15 dias, fonoaudiologia, psicanálise, psicologia, acupuntura); aulas de informática (pela Eco) e em convênio com a Prefeitura do Rio (Rio Digital), alfabetização de jovens e adultos; biologia (educação ambiental); educação física (prevenção de quedas de idosos, aulas de dança, teatro) entre outras prestação de serviços e atividades.

Joana Angélica Pereira, aposentada da UFRJ, é coordenadora da Amavila com tempo integral dedicado à comunidade. “Herdamos o entulho e as casas de madeira do canteiro de obras da ponte Rio - Niterói, em 1974. Muitos moradores são remanescentes das ilhas. Eu cheguei aqui aos 14 anos, com o meu tio Cândido de Oliveira Filho, motorista da universidade, três primos e a minha tia. Viemos de Campo Grande para morar num barraco de madeira na antiga Rua 9, atual

Especial Vila Residencial da UFRJ

O direito legal à moradiaNa sessão do dia 21 de dezembro de

2006, o Conselho Universitário aprovou a resolução favorável de nº 2.200, da Comis-são de Desenvolvimento, de concessão do uso especial para fins de moradia, da Vila Residencial da UFRJ.

A partir dessa vitória, a Amavila deu iní-cio ao processo para regularização fundiária das moradias. Finalmente os habitantes da Vila Residencial da UFRJ seriam proprietá-rios de fato e de direito (?) de suas casas. Mas de lá para cá tem sido um longo processo, feito de muitas etapas – na Secretaria de Patrimônio da União (SPU), no Rio, por exemplo, já foi entregue o Memorial Jus-tificativo da Regularização Sustentável da Vila Residencial (levantamento cadastral e fotográfico das moradias realizado de 2010-2012 pela FAU e a Amavila). A papelada está parada, conforme informou Joana Angélica, segundo ela, por responsabilidade da universidade.

“A própria UFRJ nos informou que para a SPU, no Rio, liberar a área da Vila de 120.000

Amavila é a referência

FACHADA do prédio da associação

JOANA Angélica, na sede da Amavila

Camélia, nº 4, com uma varanda, sala, dois quartos, um banheiro e uma cozinha. Estudei na Escola Municipal Tenente Antô-

nio João como todas as crianças daqui e do entorno. Apesar de todas as dificuldades que enfrentamos ainda hoje este é o melhor lugar

do Rio de Janeiro para se morar. Tem paz, água, esgoto, coleta da Comlurb. Aqui sou feliz”, afirma a líder comunitária.

m², primeiro ela (a universidade) teria que legalizar o campus da Cidade Universitária, o que ainda não foi feito”, explicou a dirigente comunitária.

Diante desse impasse, Joana Angélica, as-sim como os moradores ouvidos pelo Sintufrj (alguns não identificados), não entendem como um “procurador que chegou agora e nem conhece a história da comunidade pode estar querendo criar transtornos para a vida deles, ao proibir a circulação do ônibus internos na Vila, além de suspender o funcionamento da condução durante a noite toda no campus”.

Estudantes antecipam o pior“A gente vai ficar enclausurado nos fins de

semana. Mas o problema maior será à noite, embora ter que andar sob sol quente da Gráfi-ca até a vila não ser nada fácil”, queixou-se a estudante de fonoaudiologia da UFRJ, Isabel Dias, moradora da Vila Residencial.

“Eu vou ter que andar com muito peso até a faculdade e ficar isolada no fim de

semana. Mas os moradores diretos da Vila são os que serão mais prejudicados. Se querem tirar o pessoal daqui deveriam ser mais claros e não ficar fazendo essa pres-são ridícula. O campus é perigoso. Todos precisam de condução”, disse a estudante de biofísica Mariana Lattanzi, hóspede de uma república estudantil.

Ighor Chaves, estudante no CCMN,

estava desolado com a possibilidade de não contar mais com ônibus para chegar à Vila Residencial: “Estou recém operado e tenho hérnia de disco. Mas, como monitor de tur-ma, carrego material de aluno para corrigir. Além disso, como na Vila a internet é ruim, fico até tarde no CT estudando. Sem ônibus. Como vou voltar para casa de madrugada com peso nas costas?”

IGHOR Chaves, na república estudantil. na Vila

Jornal do Sindicato doS trabalhadoreS em educação da uFrJ

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Fotos: Renan Silva

Surge uma pequena cidadeA Vila Residencial da UFRJ nas-

ceu da cessão, em 1969, pela UFRJ, do terreno de 300.000m² da Ilha de Sapucaia ao consórcio Construtor Rio - Niterói (CCRN), responsável pela construção da ponte que ligaria os dois continentes. A área situava-se no extremo sul da Cidade Universi-tária, ocupada por um vazadouro de lixo. Ali foi construída uma pequena cidade operária, que reunia serviços técnicos, 180 residências familiares e individuais, um refeitório e um mercado.

As casas eram de madeira e de diferentes padrões (um, dois, três e quatro quartos, sala, cozinha, ba-nheiro, varanda), distribuídas pela área residencial de acordo com os cargos e a situação social dos seus ocupantes. As residências dos enge-nheiros e técnicos que necessitavam residir com suas famílias próximo à obra foram instaladas numa peque-na vila, com espaços para lazer, em terreno da antiga Ilha de Bom Jesus, vinculada ao canteiro principal.

Em 1971, para agilizar a con-clusão das obras, o governo federal transformou o consórcio CCRN na empresa pública Ecex (Empresa de Construção e Exploração da Ponte Presidente Costa e Silva S.A.), a qual ficaram subordinadas as firmas en-carregadas do projeto e da obra. Após 39 meses, no dia 4 de março de 1974, a segunda maior ponte do mundo, à época, foi inaugurada.

Em 1978, das 180 residências, 60 ainda estavam ocupadas pelos ex-operários da Ecex. Junto com a devolução do terreno, as instalações vazias foram sendo cedidas à UFRJ para que a universidade resolvesse um problema não previsto na con-cepção da Cidade Universitária: onde concentrar os funcionários ainda dispersos pelo novo campus. Entre eles os trabalhadores do ETUB, de-pois ETU, que ainda residiam nos alojamentos funcionais construídos próximos a uma das guaritas. Ou-tro contingente era formado pelos habitantes das antigas ilhas que pas-saram a trabalhar como operários nas obras de construção da Cidade Universitária e que, posteriormente, foram incorporados ao seu corpo técnico-administrativo.

Primeiros moradoresEm 1975, a Prefeitura da UFRJ

propôs que cada família da vila de funcionários do ETU (também co-nhecida como “da guarita”) e das áreas próximas escolhesse uma das residências de madeira construídas pela Ecex na área do antigo vaza-douro. A justificativa era que as an-tigas casas seriam demolidas para dar passagem, entre outros fins, à via

expressa RJ-071 (Linha Vermelha). “Mesmo a contragosto, famílias como a do mestre de obras Oswaldo da Fonseca Almeida e a do chefe de portaria José Ramos da Silva, foram assim transferidas para os antigos alojamentos da Ecex” – registrou Letícia de Luna Freire, no seu livro “Próximo do saber, longe do pro-gresso”

Outros funcionários, entre 1975 e 1978, mudaram-se também para lá, como alguns operários dos barra-cões do ETU que já haviam se fixado no local com suas respectivas famí-lias e ex-habitantes das ilhas que fo-ram aterradas. Foi o caso de Antônio Pereira da Silva, atualmente com 78 anos, morador da Rua Vitória Régia, nº15, desde 1978. Uma das memó-rias vivas da comunidade, homem sagaz, que divide o seu tempo com leituras e caminhadas.

“Sou fundador da UFRJ” “Cheguei aqui no dia 13 de

agosto de 1953, aos 13 anos de idade, vindo de Campina Grande, na Para-íba, para morar com a minha tia e dois primos, numa quitinete, na La-goa, onde meu tio era porteiro. Mas como ficou apertado, o chefe de obra do HU que era conterrâneo e amigo da família me convidou para ir com ele para a vila dos operários, onde hoje fica a Fábrica de Escola. Todos me chamavam de Tuniquinho, e eu ajudava na cantina, limpava a casa do engenheiro do ETUB, fazia mui-tos mandados”, recorda-se hoje seu Tunico. Muito querido por todos, aos

18 anos foi efetivado na UFRJ como servente. O batente pesado durante o dia não o impediu de frequentar a escola à noite. Concluiu o ensino médio e continuou aprendendo mais por conta própria.

Antônio lembra quando a uni-versidade cedeu a área para o en-tão ministro dos Transportes Mário Andreazza. “A Ilha de Sapucaia foi a cabeceira da obra (da ponte), por-que tinha um cais, ficava próxima do Caju, e isso facilitava o transporte de equipamentos”, relembra. Em troca, diz, a UFRJ recebeu uma cida-de planejada: “tinha setor dos operá-rios, encarregados, dos mais e menos graduados”.

Eles chegaram antes da UFRJNa época, os funcionários da

UFRJ moravam dispersos pelo cam-pus: muitos na Ilha do Catalão ou em casas que resistiam às máquinas, grande parte delas ficava nas cerca-nias da Prefeitura Universitária. “Eu me casei e fui morar ali. Era diretor do Alojamento, no Catalão, e cuida-va de 505 alunos e 505 alunas.” Seu Tunico também não esquece, quan-do, em 1978, “no peito” ocupou uma das casas de madeira da Ecex. “Tinha água e luz, mas nenhuma outra benfeitoria garantida pela UFRJ”. Como todos os antigos no bairro, ele conta que foram muitos anos de luta por saneamento, asfal-to, coleta regular de lixo, ilumina-ção pública, entre outros direitos de qualquer morador.

Num misto de tristeza, expectati-va e orgulho do lugar onde escolheu

para viver e criar os filhos, seu Tuni-co conclui: “Aquela geração do iní-cio da universidade quase não existe mais. A maioria é descendente, pa-rente, agregado. Gostaria que a UFRJ fizesse o regimento da comunidade com direitos e deveres, pois a Vila não é de ninguém. Isso aqui é um pedaço do Céu. Durmo de janelas e porta abertas, e o portão sem cade-ado. Aqui não se sabe o que é tráfico de drogas, o que é milícia”.

Rubem Lopes Vianna entrou na construção da UFRJ em 1952, aos 20 anos, e seu irmão, Arnóbio, aos 14 anos. Eles descendem da fa-mília herdeira da Ilha do Catalão,

onde viviam desde que nasceram até 1978, quando foram levados para a Vila Residencial. Como ocorreu com outros jovens e adolescentes do local surpreendidos com as obras de transformação do arquipélago na Cidade Universitária, passaram de agricultores e pescadores a peões da construção civil.

Aos 81 anos, viúvo, Rubem se aposentou como bombeiro hidráu-lico da universidade e conta que, apesar das obras de saneamento, quando chove algumas casas da Vila ainda são invadidas por água de esgoto, como a sua, na Rua das Acácias, nº 2.

RUA das Margaridas

SEU Tuniquinho

Especial Vila Residencial da UFRJ

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“Não fomos jogados aqui por acaso”Wania Lopes Vianna, 47, é filha

de Rubem, nasceu no Catalão e vive na Vila com o pai e o irmão Wagner, desde os 11 anos. Ela conta que co-nheceu algumas pessoas das outras ilhas, como o seu Ari, o Filé, o Milton. No momento, preocupa-se com a ameaça de interrupção da circulação dos ônibus da universidade na Vila e durante à noite, no campus. “Acho que a UFRJ quer tirar o pessoal daqui. Mas ao invés disso, a universidade deveria formar mão de obra para o Parque Tecnológico e criar um estatuto de direitos e deveres para a comunidade”, defendeu.

Essas movimentações vindas da UFRJ contra os moradores da Vila revoltam Wania. Ela considera isso falta de consideração com os traba-lhadores da antiga na universidade, gente que suou a camisa pela insti-tuição, numa época em que ganhava mal e irregularmente. “No tempo do meu pai, ficava até três meses sem salário. Corria-se para agiota. Na década de 1980, com a isonomia, é que melhorou”, disse. Ela também fez questão de frisar que “quem aluga casa na Vila é uma minoria. São pessoas sem laço histórico com a comunidade e que quer sair de lá, já que o salário melhorou e a infraestrutura continua precária, apesar de construírem uma central de esgoto”.

Ato arbitrário A Rua da Camélia, nº 2, abriga

o casal Marta Lourdes de Meireles Dias e Edinaldo Gomes Dias. Ela é filha de Heronildes Soares de Mei-reles, ex-motorista e vigilante na universidade no início do campus do Fundão; ele, motorista da UFRJ, descende de um tio-avô barbeiro da Cidade Universitária que morava em uma das casas onde hoje é o Horto Universitário. Foi removido para a Vila em 1978, pelo coronel Lúcio, prefeito da UFRJ.

“Eu morava em Bangu e vim para a Vila Residencial aos 18 anos. Fomos morar numa casa de madeira comida por cupim”, contou Marta. O tio-avô de Edinaldo, em 1978, também não teve melhor sorte. Ao chegar à Vila, ocupou uma casa cujas telhas de zinco estavam fura-das e parte das paredes de madeira tomadas por cupinzeiro.

“Foi uma arbitrariedade. Ele (o prefeito na época) mandou passar o trator nas casas. E eram construções boas, algumas com piscina, porque pertenciam a pessoas que viviam aqui antes do início da construção do campus. São históricas, porque já estavam antes da universidade”, afirmou o técnico-administrativo.

Trabalhador morar na vila era vantagem para a UFRJ

Um dos argumentos utilizados pela universidade para seduzir os trabalhadores a aderirem à Vila Residencial era a proximidade do local de trabalho e a economia com a passagem de ônibus, aluguel, luz. Para a instituição era ótimo contar com o funcionário dentro do campus, uma vez que os transportes públicos eram ainda mais precários e os que moravam distantes tinham dificuldades de chegar no horário. Mas, segundo Edinaldo Gomes Dias, naquela época só circulavam no campus os ônibus Paranapuan (912) e Ideal (913), que vinham da Portuguesa entravam no Fundão e seguiam somente até Bonsucesso. “O 913 só rodava durante o dia. Das 18h à meia-noite, contávamos com um da casa (UFRJ). A gente vinha a pé lá de fora (até a Vila). Começou com um tratorzinho, depois foi substituído por uma jardineira...”

Braços abertos para os estudantes

Levantamento feito pela Associa-ção de Moradores e Amigos da Vila Residencial (Amavila) revela que atualmente residem na comunidade 4 mil moradores. Destes, 139 são técnicos-administrativos aposenta-dos e pensionistas, 10 são professores (um deles de Minas Gerais) e cerca de mais de 500 são alunos da UFRJ, distribuídos por 67 repúblicas estu-dantis, a maioria improvisada pelos moradores para atender a crescente demanda com o Enem. Assim que a UFRJ for construindo seus alo-jamentos, conforme está previsto no Plano Diretor, a estudantada escasseará novamente da bucólica cidade do interior às margens da Baía de Guanabara. O restante dos

habitantes descende, em grande parte, dos primeiros trabalhadores da universidade.

O recorte da Vila é simples: 18 ruas separam as 615 casas, uma igre-ja católica, a Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos, e duas evangélicas. Há um total de 4 mil moradores. No nº 38 da Rua Margarida, que é

a principal, fica a Amavila, os dois mercados pequenos, uma padaria, um açougue e uma bomboniere. Mas o bairro conta ainda com outra padaria, três restaurantes self-service e oito botequins.

Falta creche, posto de saúde e uma área de lazer para crianças e jovens.

No acordo assinado com a Rei-toria, em outubro, o Sintufrj incluiu a Vila Residencial. O reitor se com-prometeu com a entidade sindical a reconstruir o campo de futebol destruído pela empresa responsável pela urbanização da comunidade e em agilizar a regularização fundiá-ria da área.

Fotos: Renan Silva

ÚNICA igreja católica do lugar UMA das duas igrejas evangélicas

CASAL Marta e Edinaldo Dias

RUA das Acácias

Especial Vila Residencial da UFRJ