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O SEGUNDO SÉCULO E O CÂNONE DO NOVO TESTAMENTO Tarcisio Caixeta de Araujo 1 Resumo: Este artigo trata da formação do Cânone do Novo Testamento. Toma como ponto de partida a numerosa e rica literatura produzida durante o segundo século d.C. Considera os chamados heréticos e textos não normativos como importantes para a discussão, a reflexão e tomada de posição frente a eles, culminando na definição do corpus textual chamado de cânone. Palavras-chave: Cânone, segundo século, ortodoxia, heresia, Novo Testamento. Abstract: This article deals with the formation of the Canon of the New Testament. Takes as its starting point the large and rich literature produced during the second century AD. It takes the so called heretics writers and the non-normative texts as important for discussion, reflection and a way of answer before them, culminating in the definition of the textual corpus called canon. Keywords: Canon, second century, orthodoxy, heresy, New Testament. 1. INTRODUÇÃO Há uma rica produção literária no segundo século da era cristã que contribuiu para a definição do que seria canônico, e, portanto, autoritativo para a igreja cristã. Este artigo se interessa pelas literaturas do segundo século bem como pelos mais variados escritores tanto da ortodoxia cristã quanto daqueles considerados como heréticos. O aparecimento das heresias contribui para a reflexão e aprofundamento sobre as doutrinas essenciais do Cristianismo. Para se entender o desenvolvimento do cânone do Novo Testamento, é importante estudar os escritores e escritos cristãos do segundo século. Faz-se necessário examinar também os Pais Apostólicos e os apologistas, pois eles apresentam uma visão panorâmica do pensamento teológico tanto do ocidente quanto do oriente, visão esta que contribuiu para a ulterior formulação do cânone do Novo Testamento. 1 Tarcisio Caixeta de Araujo é mestre em Teologia pela University of Wales (South Wales Baptist College) com reconhecimento pela PUC-Rio, licenciado em Letras pelo UNI-BH, bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista Mineiro (curso livre), alfabetização Braille pelo Instituto São Rafael, Belo Horizonte-MG. Professor de Hebraico bíblico, Antigo Testamento, Teologia do Antigo Testamento e Exegese na Faculdade Batista de Minas Gerais. Membro da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil (OPBB), do National Association of Professors of Hebrew (NAPH), do Núcleo de Estudos Judaicos da UFMG (NEJ), da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB). Este artigo foi atualizado depois de sua publicação pela extinta Faculdade de Teologia de Belo Horizonte.

O segundo século e o cânone do NT...apresentam uma visão panorâmica do pensamento teológico tanto do ocidente quanto do oriente, visão esta que contribuiu para a ulterior formulação

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O SEGUNDO SÉCULO E O CÂNONE DO NOVO TESTAMENTO

Tarcisio Caixeta de Araujo1

Resumo: Este artigo trata da formação do Cânone do Novo Testamento. Toma como ponto de partida a numerosa e rica literatura produzida durante o segundo século d.C. Considera os chamados heréticos e textos não normativos como importantes para a discussão, a reflexão e tomada de posição frente a eles, culminando na definição do corpus textual chamado de cânone. Palavras-chave: Cânone, segundo século, ortodoxia, heresia, Novo Testamento. Abstract: This article deals with the formation of the Canon of the New Testament. Takes as its starting point the large and rich literature produced during the second century AD. It takes the so called heretics writers and the non-normative texts as important for discussion, reflection and a way of answer before them, culminating in the definition of the textual corpus called canon. Keywords: Canon, second century, orthodoxy, heresy, New Testament.

1. INTRODUÇÃO

Há uma rica produção literária no segundo século da era cristã que contribuiu

para a definição do que seria canônico, e, portanto, autoritativo para a igreja cristã.

Este artigo se interessa pelas literaturas do segundo século bem como pelos mais

variados escritores tanto da ortodoxia cristã quanto daqueles considerados como

heréticos. O aparecimento das heresias contribui para a reflexão e aprofundamento

sobre as doutrinas essenciais do Cristianismo.

Para se entender o desenvolvimento do cânone do Novo Testamento, é

importante estudar os escritores e escritos cristãos do segundo século. Faz-se

necessário examinar também os Pais Apostólicos e os apologistas, pois eles

apresentam uma visão panorâmica do pensamento teológico tanto do ocidente

quanto do oriente, visão esta que contribuiu para a ulterior formulação do cânone do

Novo Testamento.

1 Tarcisio Caixeta de Araujo é mestre em Teologia pela University of Wales (South Wales Baptist College) com reconhecimento pela PUC-Rio, licenciado em Letras pelo UNI-BH, bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista Mineiro (curso livre), alfabetização Braille pelo Instituto São Rafael, Belo Horizonte-MG. Professor de Hebraico bíblico, Antigo Testamento, Teologia do Antigo Testamento e Exegese na Faculdade Batista de Minas Gerais. Membro da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil (OPBB), do National Association of Professors of Hebrew (NAPH), do Núcleo de Estudos Judaicos da UFMG (NEJ), da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB). Este artigo foi atualizado depois de sua publicação pela extinta Faculdade de Teologia de Belo Horizonte.

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Este artigo se norteará pela seguinte questão: Que fatores ocasionaram um

interesse crescente em literatura cristã autoritativa (‘canônica’), no segundo século?

Este será o principal desafio para se entender a formulação do cânone do Novo

Testamento. Naturalmente que não se pode apresentar aqui uma única e definitiva

resposta, i.e, não há somente uma verdade fornecida pelos Pais Apostólicos, pelos

apologistas, ou pelos “estranhos” escritos preservados, por exemplo, no trabalho de

Eusébio.2 Se por um lado, os escritos dos Pais Apostólicos, os que sobreviveram, e

os apologistas são fundamentais para se compreender os escritos do Novo

Testamento como Escrituras, por outro lado, os escritos dos heréticos são também

importantes. Eles ajudam a proporcionar uma compreensão de quais critérios foram

utilizados para se julgar os escritos aceitáveis. À medida do possível, personalidades

tais como Taciano, Marcião, Valentino, Montano. serão considerados neste artigo, a

fim de se ouvir as vozes daqueles cuja visão de escritos autoritativos não triunfou.

O método adotado neste artigo é o da pesquisa bibliográfica. Este se

apresenta em dois capítulos: 1) uma pesquisa sobre o segundo século e, 2) o

desenvolvimento do cânone do Novo Testamento. No primeiro capítulo serão feitas

considerações aos principais centros do pensamento cristão; os principais Pais e

apologistas; Gnosticismo; Marcionismo; a Nova Profecia e alguns dos desafios e

dilemas enfrentados pela cristandade. O segundo capítulo vai direto ao foco deste

artigo, ou seja, a formação do cânone do Novo Testamento no segundo século.

2. O SEGUNDO SÉCULO

O segundo século foi o período mais efervescente do início da história da

Igreja, porque os fundamentos da igreja oficial, a ordem do cânone e definições da

doutrina ortodoxa versus heresia estavam sendo estabelecidas naquele período.

A. As principais fontes no segundo século

Da Segunda metade do primeiro século ao fim do segundo século d.C., um

número considerável de escritos cristãos foi produzido. Entre eles destacam-se:

cinco tratados de Papias de Hierápolis3 intitulados Interpretações dos Oráculos do

2Em sua História Eclesiástica i-iv e v-x. 3Papias foi bispo de Hierápolis na Frígia, “o ouvinte de João e companheiro de Policarpo…” (IRENAEUS In: Ante-Nicene Fathers, 1995, p563).

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Senhor [Logi/wn kuriakw=n e)chgh/sew]; uma carta aos Filipenses de Policarpo;4

uma carta endereçada pela Igreja de Esmirna à Igreja de Filomélia e a igrejas em

outros lugares chamada de O Martírio de Policarpo5 [Marturi/ou Polu/karpou]; as

sete Epístolas de Inácio de Antioquia;6 a Epístola de Barnabé [th/n te Barnaba=];7

a Segunda Epístola de Clemente;8 o Livro do Pastor [Poime/noj bibli/on];9 Sobre

a Páscoa Judaica [Peri\ tou= pa/sxa] e Sobre a Vida Cristã e os Profetas [Peri\

politei/a kai\ prdehtw=n] de Melito,10 bispo de Sardis; o Didache;11 uma carta aos

Romanos [ (Rwmai/ouj e)pistolh\], e uma carta de Crisófora [e)pistolh\ tou=

Xrusofo/r#] de Dionísio,12 bispo de Corinto; Estromas [Strwmate/wn] de

Pantenos;13 Esboços [ (Upotupw/sewn] e a Exortação aos Gregos [pro\ (̀ Ellhna

lo/go o( protreptiko\] de Clemente de Alexandria;14 os Atos dos Mártires

Sicilianos;15 Apocalipse de Pedro;16 Atos de Paulo17 e outros materiais.

Os quatro mais importantes apologistas do segundo século foram Justino

4Policarpo foi bispo de Esmirna, Ásia Menor (EUSEBIUS, 1992, p.281). “A breve Epístola de Policarpo contém proporcionalmente muito mais alusões aos escritos do Novo Testamento do que o que está presente em qualquer outro dos Pais Apostólicos.” Ele sofreu martírio em 155 ou 156 d.C. (METZGER, 1997, p.60ss.). 5HARMER (1898, p.185). 6As Epístolas de Inácio foram escritas circa 110 d.C. (KOESTER, 1990, p.1). O martírio de Inácio ocorreu na época do Imperador Trajano ca. 110 d.C.. 7A epístola é mencionada em Eusebius (1994, p.47) como parte daqueles escritos disputados [ta=j a)ntilegome/naj]. 8Um sermão primitivo cristão, escrito por um autor anônimo. Ele se situa entre 120 e 170 d.C. (METZGER, 1997, p.67). 9O Livro do Pastor era aceito por alguns cristãos como autoritativo para ser lido nas igrejas (EUSEBIUS, 1992, p.193). 10Ele escreveu uma Apologia [] ao Imperador Verus [161-180 d.C]. Além disso, escreveu cerca de vinte outros livros (EUSEBIUS HE iv.xxvi.1 p.387). 11Foi escrito na primeira metade do segundo século, e composto, provavelmente, por mais de um autor (METZGER, 1997, p.50). 12EUSEBIUS (HE iv.xxiii.9,13. p.381ss.). 13Pantenos foi o chefe da escola de Alexandria [fundada por Alexandre, o Grande, em 331 a.C. Alexandria tornou-se a primeira escola de teologia cristã]. O trabalho de Pantenos foi compilado por Clemente de Alexandria (EUSEBIUS, 1994, p.27). 14EUSEBIUS (HE vi.iii.2f. p.43.). 15O mais antigo documento na história da Igreja Latina (ROBINSON, 1927, p.71). Os Atos narram como sete homens e cinco mulheres do vilarejo da Sicília, na Numidia [moderna Tunisia], foram postos em julgamento na câmara-concílio de Cartago, em 17 de Julho de 180. Esperato menciona que ele tinha em sua bolsa “Os livros, e as cartas de um homem justo, um certo Paulo.” (The Acts de the Scillitan Martyrs, 1927, p.72). 16Foi escrito no começo do segundo século (The Apocrypha NT, p.504). 17“Composto por um presbítero da Ásia antes do tempo de Tertuliano: ca. 160-170” (The Apocrypha NT… p.228). Atos de João e Atos de Pedro são também exemplos de Atos escritos no segundo século.

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Mártir,18 [o mais importante deles, de acordo com Maussaux],19 Tertuliano,20 Irineu de

Lion21 e Atenágoras.22 No entanto, Teófilo de Antioquia;23 Aristides;24 Quadratos;

Aristo de Pella e Miltíades25 são também dignos de serem mencionados.

Alexandria, no Egito, de tradição platônica, e Antioquia, na atual Turquia,

eram as igrejas orientais de fala grega. Cartago, na atual Tunísia, era a igreja

ocidental de fala latina, a qual figura somente no fim do segundo século. Roma,

Grécia e Gália também se apresentavam como áreas significativas para o

cristianismo no segundo século.26

B. As principais tendências

Por volta do ano 100-160 d.C., apareceu um grande número de professores,

os quais, mais tarde, foram descritos como “heréticos”. Entre eles estavam

Cerintos,27 Cerdo,28 Marcião29 e também alguns professores do Gnosticismo tais

como Saturnino, Basilides30 e Valentino.31

18Justino disse que era da Palestina (JUSTIN, first apology ii.) e que se tornou um professor cristão em Éfeso depois de 130 d.C. e mudou-se para Roma, onde fundou uma comunidade cristã. Seu trabalho mais famoso foi o Diálogo com Trifo [“... percorrendo 142 capítulos, é provavelmente o livro mais extenso produzido por um escritor cristão ortodoxo.”] (BRUCE, 1991, p.144). 19MASSAUX, Edouard (1993, p.10). 20O grande opositor das ideias Marcionitas. Ele escreveu cinco livros em Latim contra Marcião. Mais tarde “se juntou à seita Montanista, tornando-se líder desse grupo na África.” (METZGER, 1997, p.158). 21Irineu foi um escritor ortodoxo, discípulo de Policarpo, discípulo de João. Ele “tornou-se bispo de Lion em Gaul [Gália], A.D. 180.” (BRUCE, 1991, p.100). 22O cristão filósofo de Atenas. (MASSAUX, 1993, p.120). De acordo com Metzger (1997, p.125), ele refutou as três acusações contra os Cristãos, ou seja, ateísmo, canibalismo e incesto edipiano. 23O sexto bispo de Antioquia e um importante apologista cristão sírio da segunda metade do segundo século. Ele escreveu um tratado contra Marcião, e citou o Apocalipse de João (EUSEBIUS HE iv.xxvi. p.385). 24Um cristão filósofo de Atenas que declarou que somente os cristãos possuem o verdadeiro conhecimento de Deus. (METZGER, 1997, p.127). Ele escreveu uma defesa da fé endereçada a Adriano. (EUSEBIUS HE iv.iii.3. p.309). 25Não há nenhuma relação literária entre aqueles apologistas e os escritos do Novo Testamento em seus poucos e raros fragmentos que sobreviveram (MASSAUX, 1993, p.2) . 26McGRATH (1994, p.5ss.). 27Irineu, citado por Eusébio (iv.xiv.6 p.337s.) chama Cerinto de “o inimigo da verdade”. 28Cerdo foi “quem tomou seu sistema dos seguidores de Simão, e foi viver em Roma no tempo de Higino… Ele ensinava que o Deus proclamado pela lei e os profetas não era o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.” Seu sucessor foi Marcião (IRENAEUS, Against Heresies i.xxvii.1,2). 29Marcião, de Sinope, na província do Ponto, será discutido posteriormente como o primeiro possível criador de um cânone de escritos cristãos. (Ver IRENAEUS, Against Heresis, book i, e Tertullian, Against Marcion.). 30Saturnino, de origem antioquiana, estabeleceu uma escola “de ímpia heresia” [qeomisw=n ai(re/sewn] na Síria. Basilides de Alexandria estabeleceu uma escola semelhante no Egito (EUSEBIUS, HE iv.viii.3 p.315). Ele ensinava que Simão Cirineu foi quem sofreu na cruz no lugar de Jesus (METZGER, 1997, p.79). 31Irineu diz que Valentino é o fundador de uma heresia especial [idia airesew] (Ver Against Heresis ii. p.316, 376-379,406).

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O Encratismo32 emergiu no final daquele período. Isto envolvia uma forma

extremada de ascetismo, que estava se desenvolvendo através do século. Ireneu,33

ao escrever sobre Encratismo, afirma que os encratistas pregavam contra o

casamento, e alguns teriam introduzido a abstinência de carne animal. Ele aponta

Taciano como o primeiro a introduzir as ideias do Encratismo.

De 160 em diante a Nova Profecia34 emerge na Ásia Menor romana. Com o

Gnosticismo35 e o trabalho de Marcião, a Nova Profecia trouxe desafios para as

igrejas católicas36 em desenvolvimento.

As raízes do movimento gnóstico recuam ao helenismo pré-cristão, ao

judaísmo e a religiões orientais. O Gnosticismo tinha um interesse predominante em

cosmologia como tentativa para solucionar o problema do mal.37 Um dos desafios foi

exatamente a questão sobre quais escritos a jovem religião cristã deveria considerar

como autoritativos da igreja primitiva.

Os Pais Apostólicos do segundo século viviam numa verdadeira panela de

pressão. Eram muitos os dilemas com os quais tinham que lidar. Eles tinham que dar

respostas àqueles dilemas greco-romanos mais comuns, tais como: unidade versus

pluralidade, humanidade, paidea (educação-cultura), e a diversidade de religiões.

Aqueles pensamentos e respostas diversas influenciaram o pensamento dos

cristãos do segundo século.

Os temas do segundo século giram em torno de cinco desafios:38 Criador e

criação, natureza humana e destino, identidades de Jesus, o lugar da Igreja no

mundo, os cristãos e a sociedade. Havia uma frustração entre os cristãos, porque

seu Senhor não voltara imediatamente após ascender aos céus.39

O martírio também foi um fator importante na história cristã no segundo

século. Muitos cristãos sofreram por causa de sua fé, contudo, alguns não foram

reputados dignos de sofrerem, devido ao seu ponto de vista sobre o corpo de Cristo

32Taciano foi a figura mais conhecida no encratismo do segundo século. Um antigo discípulo de Justino Mártir e importante personalidade como o criador do Diatessaron [uma harmonia dos Evangelhos]. (Ver EUSEBIUS HE iv.xxviiif. p.395ss.). 33Contra Haereses i.xxvi.i. Tomo I. p.220. 34A Nova Profecia ficou conhecida no quarto século como Montanismo. Eusébio (HE v.iii.4.p.443) afirma que o partido de Montano [a)mfi\ to\n Montano\n] e outros partidos acreditavam que eles também fossem profetas. 35“uma religião sincretista e filosófica que floresceu por cerca de quarto séculos, paralela ao Cristianismo primitivo... gnosis (, ‘conhecimento’) … ” (METZGER, 1997, p.76). 36O termo católico/a, usado neste artigo, refere-se ao cristianismo oficial (ortodoxo). 37LAMPE (1978, p.28). 38WAGNER (1994, p.65). 39WAGNER (1994, p.7).

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e sua cristologia. Plinio,40 o Jovem (c.62-113 d.C.), citado por Bettenson, registrou

seu próprio tratamento dos suspeitos: “Eu lhes pergunto se são cristãos. Se eles

admitem, eu repito a pergunta uma segunda e uma terceira vez, ameaçando-os com

uma punição capital; se eles persistem eu os sentencio à morte. […] outros, que eu

exibo como loucos, reservo para serem enviados a Roma, desde que sejam

cidadãos romanos.” É evidente que perseguições contra cristãos, sejam ortodoxos

ou heréticos, não ocorreram ininterruptamente. De acordo com Alguns atos

autênticos dos primeiros mártires,41 houve épocas de considerável paz, por ocasião

da perseguição romana. A causa principal de perseguição não era generalizada,

mas um sentimento de indisposição contra os cristãos de certas localidades.

Depois de delinear algumas características significativas e tendências da

cristandade do segundo século, a segunda parte deste artigo abordará a

preocupação crescente a respeito da autoridade dos escritos cristãos no segundo

século.

3. O DSENVOLVIMENTO DO CÂNONE DO NOVO TESTAMENTO

O desenvolvimento do cânone do Novo Testamento foi progressivo e de suma

importância para determinar o tipo de literatura autoritativa da igreja cristã primitiva.

A. Definição

A palavra cânone vem do grego kanw/n (kanon) e do hebraico hnq (qanah) e

significa literalmente junco. Num sentido metafórico, como usado por Orígines, por

exemplo, cânone significa regra de fé.42 É este sentido último que será considerado

neste artigo. Os escritores do Novo Testamento não usaram o termo cânone como

este é conhecido hoje em dia. De acordo com Schneemelcher43 há apenas quatro

ocorrências do vocábulo cânone no Novo Testamento, mas não como uma

designação para Bíblia, uma vez que este sentido só pode ser confirmado a partir da

segunda metade do quarto século. No Novo Testamento, o termo cânone ocorre

somente em Gálatas 6:16 [kano/ni],44 e em 2 Coríntios 10:13 [kano/noj], 15

40BETTENSON (1979, p.3). 41Some Authentic Acts de the Early Martyrs. (1927, p.27s.). 42BRUCE (1991, p.86). 43SCHNEEMELCHER (1991, p.10s.). 44The New Testament in Greek.

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[kano/na], 16 [kano/ni]. A Segunda Carta de Pedro 3:16 é, provavelmente, a mais

antiga evidência para uma coleção de Escrituras cristãs,45 apesar da palavra kanw/n

não se aplicar nesse contexto.

Aland46 diz que primeiramente cânone significa “a regula fidei, e em seguida,

as decisões dos concílios, e finalmente, do quarto século em diante, a lista dos livros

das Sagradas Escrituras…”. Aland insiste que a Igreja organizada não criou o

cânone. A Igreja só reconheceu como canônicos os livros que já eram aceitos como

autoritativos. É evidente, portanto, que a autoridade precede a canonicidade.

Vejamos as fontes que influenciaram ou corroboraram para a definição dos

textos canônicos do Novo Testamento.

B. As Fontes

O uso que os Pais Apostólicos fizeram dos textos reputados como canônicos

hoje, não é suficiente para afirmar que aqueles textos estavam disponíveis numa

edição final em seu tempo. Schneemelcher47 escreveu que “Na primeira metade do

segundo século não havia ainda NT como uma coleção canônica.” O debate com o

Gnosticismo provavelmente “compeliu a Igreja a refletir sobre a ‘verdadeira’ e

‘genuína’ tradição”.48

Trevett49 crê que não há citações reais e formais dos escritos do Novo

Testamento nos Pais Apostólicos, mas somente paralelos. Para ilustrar, ela

relaciona as Epístolas de Inácio de Antioquia com o Evangelho de João (Ef. 5:2 com

Jo. 6:33; Ef. 17:1 com Jo. 12:33; Magn. 7:1 com Jo. 5:19,30 e 8:28; Rom. 7:2 com

Jo. 4:10; Rom. 7:3 com Jo. 6:33; Fil. 7:1 com Jo. 3:8). Inácio conhecia as tradições

embasadas nos Evangelhos e também os paralelos de tradições não evangélicas.

Inge50 também afirma que nenhuma das referências de Inácio aos livros do Novo

Testamento é citação direta. Elas podem ser citações de memória; alusões;

adaptações; ecos; semelhança; reminiscência; coincidência. Quando Inge compara

a Carta de Inácio aos Efésios 18:1 com 1 Coríntios 1:18,20, ele diz que: “Inácio está

citando São Paulo, e isto se torna mais certo pelo eco de I Cor.1.18 na sentença

45WILLIAMS (1991, p.83). 46ALAND (1962, p.18). 47SCHNEEMELCHER (1991, p.19). 48SCHNEEMELCHER (1991, p.22). 49TREVETT (2001, in loc.). 50INGE (1905, p.63ss.).

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precedente”. Inge acredita que Inácio alude a todas as Cartas de Paulo, Atos,

Hebreus, 1 Pedro e aos quatro Evangelhos. Ele também sugere que havia uma

tradição cristã comum e outras fontes além dos escritos do Novo Testamento onde

Inácio poderia se basear.51 Apesar da tradição cristã não ser citada nem referida

como Escritura, há evidência de interesse nisso.

C. As Escrituras judaicas e a literatura cristã

Quando o assunto é o cânone do Novo Testamento, a seguinte questão deve

ser respondida: Que fatores suscitaram um interesse crescente em literatura cristã

autoritativa (‘canônica’), no segundo século? Uma questão secundária, em que

critérios foram alguns livros selecionados e alguns rejeitados, também será

considerada neste artigo.

Os dilemas principais do segundo século não incluem diretamente o tema do

cânone. No segundo século as grandes questões da cristandade são embrionárias.

No entanto, como Lampe52 afirma, “os Pais Apostólicos e alguns escritos do Novo

Testamento são imprescindíveis como evidência para a história da doutrina no fim

do primeiro século e na primeira metade do segundo.” Os dilemas que surgiram

levaram as igrejas a refletirem sobre o material escrito em circulação.

Diferentes gêneros de textos tais como: Evangelho, história, sabedoria,

apocalipticismo, apologias, e martiriologias apareceram na segunda metade do

primeiro século e no segundo século. Todos eles foram escritos supostamente para

o benefício da Igreja [compostos dentro de uma variedade de cristandades]. Além

disso, havia “uma enorme e variada provisão de literatura Judaica do período de 300

a.C. a 100 d.C.”,53 e a Apocrypha do Antigo Testamento. Schneemelcher54 diz que “a

palavra ‘apócrifo’ não se apresenta primeiramente em conexão com a história do

cânone, mas no conflito da Igreja com o Gnosticismo e outras heresias,” e nesse

contexto, significa literatura “escondida”.

Segundo Aland,55 a Epístola de Barnabé, a Epístola de Clemente, o Didache e

o Pastor de Hermas foram contados por longo tempo como “canônicos”, nesse

sentido, foram amplamente lidos nas igrejas. Não foram considerados em nenhum

51INGE (1905, p.81ss.). 52LAMPE (1978, p.23). 53BRUCE (1991, p.154s.). 54BRUCE (1991, p.14). 55ALAND (1962, p.26).

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momento como literatura apócrifa. Foi o interesse em apostolicidade que

determinou, finalmente, que esses escritos não se tornassem canônicos. O livro de

Hermas, o Pastor, por exemplo, aparece no Cânone Muratoriano como um trabalho

para ser estudado privativamente. Só não foi considerado apostólico, porque fora

escrito bem mais tarde.56

As Escrituras judaicas não foram fixadas na forma canônica até o fim do

primeiro século. Williams57 diz que somente a Torah estava fixada e aceita como

autoritativa por todos os judeus do tempo de Jesus. Os fariseus usaram tanto a

Torah quanto os outros escritos judaicos, i.e., os Profetas e os outros escritos que

agora são canônicos. Outros (e.g. os Essênios) provavelmente usaram uma

variedade maior de escritos. O cânone judaico foi estabelecido pelos rabinos [de

tradição farisaica], depois da queda de Jerusalém.58

Em paralelo com o fechamento do cânone judaico, um corpo de escritos

cristãos emergiram. Por algumas vezes, nos escritos dos Pais Apostólicos tais como

a Epístola de Inácio aos Filadélfios,59 a Epístola de Clemente, a Epístola de Barnabé

e o Didache, encontra-se o termo Evangelho [Gr. eu)agge/lion e Lat. evangelium =

boas Novas]. Contudo, esses textos “não podem ser usadas como evidência para

um uso primitivo do termo ‘Evangelho’ como uma designação de um documento

escrito.”,60 os Evangelhos se originaram de uma tradição oral.61 Mas os quatro

Evangelhos (agora canônicos) existiam provavelmente antes do ano 100. Além

disso, os Gnósticos reivindicavam ter recebido ensinos secretos do próprio Jesus, de

onde alguns evangelhos adicionais foram compostos.62 Os quatro, junto com os

evangelhos de outros grupos, Atos associados com os apóstolos Paulo e André etc.,

e escritos apocalípticos (e.g. o Apocalipse de Pedro) foram adicionados a um corpo

considerável de escritos cristãos.

O cânone não foi definido aleatoriamente. Levou-se em consideração, além

dos fatos relatados até aqui, importantes critérios para se escolher quais escritos

tinham o caráter de Escritura e quais não tinham.

56HAHNEMAN, Gedefrey Mark. The Muratorian Fragment and the Development of the Canon. Oxford: Clarendon Press, 1992, p. 36s. 57WILLIAMS (1991, p.81s.). 58HALL (1991, p.25). 59Veja capítulos 5.1 [t%= eu)aggeli%=], 5.2 [t%= eu)aggeli/%; t%= eu)aggeli/%], 8.2 [t%= eu)aggeli%], e 9.2 [to\ eu)agge/lion; to\\ de\\ eu)agge/lion] como alguns exemplos do uso do termo Evangelho (p.124ss.). 60KOESTER (1990, p.17). 61GOODSPEED (1966, p.2s.). 62METZGER (1997, p.79).

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D. Critérios de escolha

De acordo com Aland63 a formulação do cânone em sentido real começa

cerca de 150 d.C. e vai até o quarto século e além. O cânone do Novo Testamento

“não deve ser considerado e discutido isoladamente, mas apenas em constante

atenção ao cânone do Antigo Testamento.”64 Para Bruce,65 a lista dos livros do

Antigo Testamento “...redigidos por Melito, bispo de Sardis, ca. 170 A.D...” contém

todos os livros conhecidos hoje como Antigo Testamento, com exceção do livro de

Ester. Melito refere-se a esses escritos como os escritos do “antigo pacto”. Este é o

primeiro uso desta ideia até onde se sabe, e subsequentemente os livros do “novo

pacto” emergiriam. Orígines (185-254 d.C.), citado por Bruce,66 apresenta uma lista

dos livros canônicos do Antigo Testamento como sendo vinte e dois livros:

os cinco livros de Moisés são seguidos por (6) Josué, depois (7) Juízes e Rute ... (8 e 9) os quarto livros dos Reis ... depois (10) Crônicas ... (11) Esdras e Neemias ... (12) Salmos, (13) Provérbios, (14) Eclesiastes, (15) Cântico dos Cânticos; (16) Isaias; (17) Jeremias com Lamentações e a ‘Epístola de Jeremias’ ... (18) Daniel, (19) Ezequiel, (20) Jó, (21) Ester. O livro dos doze Profetas foi omitido da sua lista em decurso de transmissão-acidental, naturalmente...

A Epístola de Jeremias aparece, na lista de Origines, como autoritativa. Listas

similares foram apresentadas por outros escritores.

O Cânone Muratoriano67 [descoberto pelo Cardeal L. A. Muratori – 1672-

1750]68 não menciona Tiago, Hebreus e 1 Pedro como parte dos escritos

autoritativos da cristandade. Entretanto, Hahneman69 afirma que isto “é inconclusivo

devido à probabilidade de defeitos no Fragmento”. A composição desse Fragmento

se deu entre 170 e 220 d.C. E é quase certo que seja um documento romano. A

despeito desta conclusão de Hahneman, o Fragmento Muratoriano continua sendo

uma evidência importante para o desenvolvimento do Cânone do Novo Testamento

no segundo século. O Fragmento pode ser datado no tempo de Pius, bispo de

63ALAND (1962, p.9). 64ALAND (1962, p.2s.). 65BRUCE (1991, p.91). 66Origen In: BRUCE (1991, p.92). 67É o catálogo mais antigo de que se tem notícia. 68SCHNEEMELCHER (1991, p.34). 69HAHNEMAN, Gedefrey Mark (1992, p.32ss.).

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Roma, entre c.140 a 154 d.C. Ele menciona Hermas, irmão de Pius, como um

“temporibus nostris”. Hahneman70 acredita que,

O Fragmento, conforme tradicionalmente datado, é pois uma anomalia em termos de seu conteúdo. Ele seria um dos mais antigos, senão a mais antiga testemunha para a adição das Pastorais à coleção paulina. … Se esses textos [1 Pedro, e talvez Tiago] estão simplesmente faltando no Fragmento, então o Fragmento representaria o mais amplo e mais antigo de tais coleções incluindo Epístolas católicas menores. …O Fragmento Muratoriano claramente representa alguma coisa mais do que uma coleção, é mais amplo que isso. O Fragmento representa um cânone fechado de coleção de escrituras. Isto delineia um grupo específico de escritos que o fragmento expunha como aceitos pela Igreja Católica …

Na lista dos escritos aceitáveis aparece Sabedoria de Salomão71 e o

Apocalipse de Pedro (como disputados). Entretanto, a Carta aos Hebreus, Tiago e

Pedro não aparecem. Escritos tais como a Carta aos Laodicensses, Alexandrinos, e

alguns trabalhos de Ársino, Valentino, e Miltíades aparecem, no Fragmento, como

tendo sido claramente rejeitados pela Igreja Católica. O Pastor é apresentado como

restrito à leitura privada.

Cabe aqui a pergunta: quais foram os principais critérios usados pelos

cristãos primitivos na seleção de alguns livros e rejeição de outros? De acordo com

Bruce,72 para ser parte do cânone um texto tinha que ser reconhecido como

autoritativo em seu uso pelas pessoas, i.e., se o texto tivesse “recebido

reconhecimento geral canônico entre as igrejas em várias partes do mundo cristão

...”. Outro critério importante era se o texto [NT] teria sido escrito por um apóstolo.

Contudo, esse critério não foi radical, “houve uma tendência de dar o benefício da

dúvida a um livro cujo conteúdo conservava a fé dos apóstolos.”73

Muitos outros fatores fizeram a Igreja refletir sobre seu uso particular dos

escritos da sua época e começarem a categorizá-los e a criticá-los. O

questionamento do material judaico por Marcião, por exemplo, fez a Igreja se

proteger contra o anti-judaísmo, e se decidir pelos escritos do Antigo Testamento

como parte de seu próprio cânone. O surgimento de escritos com uma cristologia

70HAHNEMAN (1992, p.130s.). 71Além de Sabedoria de Salomão, a Igreja Católica atual aceita como dêutero-canônicos os livros de Tobias, Judite, I Macabeus, II Macabeus, Eclesiástico, Baruc, e os textos contidos no final de Ester e Daniel, os quais não constam na Bíblia Hebraica. 72BRUCE (1991, p.87). 73BRUCE (1991, p.102).

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questionável tais como o Evangelho dos Ebionitas74 levou o cristianismo ortodoxo

a se decidir por alguns escritos, em detrimento de outros, como parte do processo

de se determinar o que era ensino aceitável e o que não era. O aparecimento de

material pseudonímico ligado aos nomes de apóstolos tais como Atos de Paulo [um

dos bons exemplos rejeitados por Tertuliano], e o Apocalipse de Pedro levantaram

um crescente interesse nos materiais apostólicos para assegurar confiança.

Contudo, isto é uma espada de dois gumes, porque as pessoas poderiam estar

produzindo mais escritos se utilizando do nome dos apóstolos. Alguns grupos tais

como a Nova Profecia tiveram interesse em escritos particulares, o que fez com que

as Igrejas Católicas emergentes suspeitassem de tais escritos e a partir de então,

um processo de defesa ou de crítica àqueles escritos pode ser visto.

No quarto século, Eusébio75 apresenta os escritos autoritativos e não-

autoritativos em quatro categorias. Primeiro, a categoria dos livros reconhecidos [e)n

o(mologoume/noij], i.e., os livros genuínos: Os Evangelhos, Atos, Epístolas de

Paulo, 1 João, Epístola de Pedro e o Apocalipse de João. Segundo, os livros

disputados [tw=n a)ntilegome/nwn]: Tiago, Judas, 2 Pedro, 2 e 3 João. Terceiro, os

não-genuínos: Atos de Paulo, O Pastor, o Apocalipse de Pedro, Carta de Barnabé, o

Didache e o Apocalipse de João [aceito por alguns e rejeitado por outros]. Quarto, os

escritos heréticos [ai(retikw=n]:76 Evangelhos de Pedro, Tomé, Matias; Atos de André

etc.

Irineu77 defende com ardor os quatro antigos Evangelhos como o único e

exato número de Evangelhos para a Igreja. Ele compara seu número com a ordem

correta da natureza.

Descrevemos a seguir o pensamento de alguns dos pais apostólicos que

ajudaram na definição do cânon do Novo Testamento.

74Alguns Evangelhos foram produzidos além dos quarto Evangelhos canônicos, e.g. Evangelho de Filipe, Evangelho de Pedro, Evangelho de Tomé etc. O Evangelho dos ebionitas é entendido como sendo o Evangelho de Mateus, que também era conhecido como Evangelho dos Hebreus. Os ebionitas eram vegetarianos e repudiavam o Apóstolo Paulo, chamando-o de apóstata da lei. (The Apocryphal NT: Begin the Apocryphal Gospels… p.8s.). 75EUSEBIUS (1992, p.257ss.). 76A despeito de muitos dos textos apócrifos serem considerados heréticos, há uma enormidade de evangelhos, apocalipses, comentários bíblicos diversos e outros textos interessantes, esperando para serem lidos. Eles podem oferecer certas interpretações das Escrituras que ajudarão o leitor a compreender melhor certas passagens lacônicas. Os apócrifos podem ser lidos numa edição em português, em quatro volumes, publicada pela Mercuryo. 77Against Heresies iii.xi.11.p.46s.

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E. Melito, Taciano e Marcião

Melito, Taciano e Marcião são escritores do segundo século. O pai apostólico,

Melito de Sardis, é importante para a compreensão do cânone do Novo Testamento.

Melito foi o primeiro a usar o termo “Antigo Testamento”, no contexto de escritos em

discussão, como abordado anteriormente. Isso é significativo, porque Sardis foi a

cidade com uma massiva presença de Judeus.78 Melito,79 em uma Carta a Onésimo,

citado por Eusébio, afirma:

Desde que tu te mostras desejoso, em teu zelo pela verdadeira palavra [pro\j to\n lo/gon xrw/menoj], para ter extratos da Lei e dos Profetas [tou= no/mou kai\ tw=n profhtw=n] concernente ao Salvador ... tu desejas saber acuradamente os fatos a respeito dos antigos escritos [tw=n palaiw=n bibli/wn], quão numerosos são eles, ... os livros do Antigo Testamento [th=j palaia=j diaqh/khj bibli/a] ...”

Após dizer isto, Melito apresenta uma lista de quais livros eram canônicos

para os judeus no segundo século. Ele menciona todos os livros do cânone do

Antigo Testamento conhecidos hoje, com exceção do livro de Neemias

[provavelmente, formando um livro com Esdras], Ester e Lamentações

[provavelmente, formando um livro com Jeremias].

Taciano, um escritor anti-helênico e discípulo de Justino, é também relevante

para a compreensão do desenvolvimento do cânone do Novo Testamento. A

despeito de Taciano ter sido considerado herético, por causa de seu Encratismo do

tipo radical, ele foi também o primeiro a harmonizar os quatro Evangelhos. Ele

“compôs de certa forma uma combinação e uma coleção dos Evangelhos [o(/pw tw=n

eu)aggeli/wn], e deu a isso o nome de O Diatessaron [to dia\ tessa/rwn] ...”.80 O

sírio Taciano fora educado ao estilo helênico. Em Roma, tornou-se um cristão

atuante. Provavelmente, em 172 d.C., após um cisma com a Igreja de Roma

“Taciano retornou ao Oriente, onde se tornou o fundador de uma seita, conhecida

como os Encratistas [‘] (i.e. ‘os auto-disciplinados’).”81

“Harmonias” dos Evangelhos mostram que escritos estavam sendo

produzidos com propósitos didáticos – para tornar as narrativas práticas. Elas

também indicam que a ideia dos 4 Evangelhos, o que em parte teria sido uma

resposta ao Marcionismo, não foi necessariamente a norma. Se uma pessoa

78KRUGER (1897, p.124). 79Melito In: EUSEBIUS (HE iv.xxvi.13,14. p.393). 80EUSEBIUS (HE iv.xxix.6. p.397). Diatessaron é uma palavra grega que significa literalmente por quatro. 81METZGER (1997, p.116).

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quisesse viver uma vida celibatária, e encorajar outros a isso, usaria algum texto do

tipo Atos de Paulo e Tecla, ou mesmo a literatura do Pseudo-Clementino. Eusébio82

afirma que as ideias do blasfemo [th\n blasfhmi/an] Taciano, chamadas de

Encratismo, procede de Saturnino e de Marcião.

Marcião trouxe um novo ensino a Roma circa 140 d.C. Esse novo ensino é

muito importante para o entendimento do cânone, porque Marcião delineou seu

próprio cânone das Escrituras, antes de qualquer outro, e chamou isso de O

Evangelho e O Apóstolo. O bispo de Sinope, pai de Marcião do Ponto [Marcion

Ponticus], o excomungou. Por causa disso, Marcião foi para Roma. Kruger83

apresenta Marcião como um bem-sucedido criador de ovelhas, o qual tinha uma

concepção anti-judaica da cristandade. Para Tertuliano,84 Marcião foi o herético do

Ponto, um “irmão” que se tornou um “apóstata”. Ele foi mais selvagem do que as

bestas feras.85 Antithesis é provavelmente o único trabalho de Marcião.86 Foi escrito,

como Goodspeed87 afirma, mais ou menos na metade do segundo século d.C.

Em organização e escritura, o cristianismo padrão aprendeu muito de Marcião, e sua influência pode ser traçada no esforço posterior de se organizar a cristandade em um grande corpo, e aderir as Cartas de Paulo à sua escritura. Marcião foi o primeiro homem, até onde sabemos, a atentar para essas coisas.

Como Bruce88 aponta, Marcião baseou seu Evangelho em Lucas e “de acordo

com sua crença de que Jesus foi um ser sobrenatural que apareceu de repente

entre os homens com a mera semelhança de humanidade...” ele omitiu das

narrativas lucanas o nascimento, a genealogia, o batismo e a tentação de Jesus, e o

ministério de João Batista. Marcião também rejeitou o Deus de Israel e o Antigo

Testamento. Seguindo essa linha de pensamento, ele omitiu todas as referências ao

Antigo Testamento em seu cânone, O Apóstolo, o qual se baseia nas Cartas de

Paulo. Hall89 afirma que Marcião não rejeitou os escritos do Antigo Testamento. Pelo

contrário, ele aceitou-os como revelação divina, mas interpretou o Antigo

Testamento literalmente [ele condenou o método alegórico de interpretação que era

82EUSEBIUS (HE iv.xxviii,xxix.1ss. p.395). 83KRUGER (1897, p.78). 84Against Marcion. TERTULLIAN In: Ante-Nicene Fathers. (1995, p.271s.). 85TERTULLIAN In: Ante-Nicene Fathers. (1995, p.271s.). 86METZGER (1997, p.91). 87GOODSPEED (1966, p.109). 88BRUCE (1991, p.99s.). 89HALL (1991, p.37s.).

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popular em sua época].90 De acordo com suas interpretações, ele negou o Deus do

Antigo Testamento como o Deus e Pai de Jesus Cristo. Além disso, ele acreditava

que “os livros do nosso Novo Testamento são um falso amálgama do evangelho de

Jesus com os princípios do Criador”. Por alguma razão obscura, Marcião não usou

as Cartas de Paulo a Timóteo e Tito em seu mini cânone. Talvez porque ele não as

conhecesse, ou não as considerasse como Cartas de Paulo. Mais tarde, os

seguidores de Marcião as usaria normalmente.91 Marcião escolheu as Cartas de

Paulo e o Evangelho de Lucas para seu particular cânone, pois encontrou neles

suporte para o seu entendimento de Deus, e sua interpretação a respeito da

natureza de Jesus. É claro que ele teve que omitir algumas partes desses escritos.

Marcião fez “uma distinção entre o Supremo Deus de bondade e um Deus

inferior de justiça, o qual foi o Criador e o Deus dos judeus. Ele reputava Cristo como

o mensageiro do Deus Supremo.”92 Devido aos seus pensamentos, Marcião

poderia ser considerado parte do movimento gnóstico. No entanto, Goodspeed93

acredita que Marcião nunca se tornou um completo gnóstico. Provavelmente, o

melhor lugar para situá-lo seja entre os docetistas. Marcião teve como pano de

fundo a filosofia platônica do criador inferior, i.e., um demiurgo. Ele adotou também a

“abstinência sexual, uma dieta rigorosa, e comprometimento com o martírio quando

diante de perseguição…”.94

Irineu,95 citado por Bettenson, diz que Marcião é um blasfemo, porque ele

insistia que Deus [o Deus do Antigo Testamento] era “um feitor de males que se

deleitava com as guerras, inconstante no julgamento e auto-contraditório.”

Tertuliano, Irineu, Justino e Teófilo de Antioquia, dentre outros, escreveram contra

Marcião.96

Diferente de Marcião, Irineu, por exemplo, reconheceu como canônicos vinte

dos vinte e sete livros do cânone do Novo Testamento conhecido hoje em dia, não

somente onze [mutilados intencionalmente] como Marcião reconhecera.97 Entretanto,

como um precursor na criação de um cânone, Marcião é sempre digno de ser

90GOODSPEED (1966, p.110). 91Marcionismo foi um movimento de pelo menos dois séculos. 92METZGER (1997, p.91ss.). 93GOODSPEED (1966, p.111). 94HALL (1991, p.38). 95Irinaeus. In: BETENSON (1979, p.37). 96GOODSPEED (1966, p.110s.). 97BRUCE (1991, p.100).

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considerado. Williams98 afirma que Marcião “foi o primeiro a propor um especial e

exclusivo Cânone Cristão.” O trabalho de Marcião forçou as igrejas a definirem a

natureza de seus escritos e a refletirem sobre os textos religiosos produzidos desde

o tempo de Moisés.

É praticamente impossível falar do desenvolvimento do cânone das Escrituras

sem falar de ortodoxia e heresia.

F. Ortodoxia e heresia

Bauer,99 citado por Hall, afirma que “heresia precede ortodoxia, no sentido

que desde o início nos deparamos com um grande e diferente número de

organizações e doutrinas frequentemente competitivas.” Ehrman100 diz que: “Não

havia ainda uma ‘ortodoxia estabelecida’, ou seja, nenhum sistema teológico básico

reconhecido pela maioria dos líderes da Igreja e dos leigos. Diferentes igrejas locais

tinham diferentes compreensões da religião, enquanto diferentes entendimentos da

religião estavam presentes inclusive dentro de uma mesma igreja local.” Depois que

a palavra heresia tornou-se claramente distinta da ortodoxia, Simão, o Mágico, o pai

de toda heresia, foi contrastado com Pedro, o pai da proto-ortodoxia,101 e muitas

heresias foram tidas como descendendo dele.

Dionísio de Corinto é um bom exemplo da preocupação dos escritos cristãos

e sua integridade no segundo século. Ele se preocupava com a falsificação de suas

próprias Cartas, e acreditava que os Apóstolos do mal [tou= diabo/lou a)po/stoloi]

“as tinham preenchido [suas próprias Cartas] com joio, por deixarem de fora

algumas coisas e acrescentarem outras. ...”. No entanto, quando Dionísio fala a

respeito das Escrituras do Senhor como tendo sido também alvo de falsificação, não

afirma que os escritos sagrados tenham sido certamente falsificados, mas que isso é

uma possibilidade. Diz ele: “... não é de se admirar que alguns tenham sido capazes

de falsificar até mesmo as escrituras do Senhor...”. Dionísio excluiu seu próprio

trabalho como escrituras.102 Os Apóstolos do mal”, mencionados por Dionísio,

tiveram que ser contrastados com os “Apóstolos do Senhor”. Apostolicidade,

portanto, foi um importante critério na aceitação ou rejeição dos mais diversos

98WILLIAMS (1991, p.85). 99Bauer In: HALL (1991, p.36). 100EHRMAN (1996, p.4). 101EUSEBIUS (HE ii.i.12. p.109). 102EUSEBIUS (HE iv.xxiii.9,13. p.381ss.).

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escritos. Cullmann afirma que o cânone do Novo Testamento se formou não por

adição, mas por eliminação.103

4. CONCLUSÃO

Responder as questões acerca de uma literatura cristã autoritativa

(precursora do cânone) não é uma tarefa simples. À parte do cânone formal, como

Aland104 aponta, há um cânone auto entendido, i.e., um cânone dentro do cânone.

Muitos livros foram escritos no segundo século com as mais variadas

interpretações e discussões de como a cristandade deveria ser e no que os cristãos

deveriam acreditar. Em comparação com os escritos do Novo Testamento, esse tipo

de literatura foi rejeitada como não autoritativa, ou como herética, incluindo aqueles

escritos que afirmam que Jesus era em semelhança de homem (docetismo), e que

não veio em carne, ou que ele era uma emanação ou uma figura redentora que

traria libertação de uma armadilha em que o homem estava inserido (Gnosticismo),

ou que havia dois diferentes deuses etc. Os Cristãos eram contestados pelos judeus

e pelos romanos igualmente. Eles precisavam de uma literatura autoritativa para se

defender contra as acusações que lhes eram feitas. Esses e outros fatores

suscitaram um interesse crescente em literatura cristã autoritativa (‘canônica’), no

segundo século.

O fundador do Cristianismo não escreveu nenhum tipo de literatura, mas

instruiu seus seguidores para espalharem o Evangelho [como boas novas] a toda

parte. Eles pregaram não apenas verbalmente, mas alguns deles também

escreveram o que experienciaram com seu Mestre.

A cristandade do terceiro milênio continua diversificada em muitos e

diferentes modos. Protestantes e católicos, e.g., têm em comum os livros do cânone

hebraico e os livros do Novo Testamento. No entanto, a cristandade do terceiro

milênio não está confinada a protestantes e católicos como dois grandes e únicos

blocos de pensamento. Há uma vasta gama de Denominações cristãs, e ainda,

variados métodos de interpretação das Escrituras. Aland105 afirma que os diferentes

103CULLMANN, Oscar. A formação do novo testamento. Tradução de Bertholdo Weber. São Leopoldo: Sinodal, 1982. p.114. 104ALAND (1962, p.29s.). 105ALAND (1962, p.32).

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caminhos de seleção e interpretação que muitas confissões religiosas utilizam do

cânone formal, de fato produz um cânone dentro do cânone. Além disso,

consequentemente, esses novos cânones produzem diferentes confissões. Lutero,

por exemplo, em sua tradução do Novo Testamento, colocou “a Epístola aos

Hebreus, a Epístola de Tiago, Judas e o Apocalipse como apêndices, explicando

expressamente que eles não pertenciam aos ‘certos, próprios e principais livros do

Novo Testamento’…”.106

Há, sem dúvida, um cânone formal das Escrituras. A Igreja do terceiro milênio

não tem autoridade suficiente para modificar isso. A Igreja pode até criar um cânone

dentro do cânone, mas não deveria negar ou inserir novos escritos como canônicos

hoje.

O trabalho dos escritores do Novo Testamento, e dos Pais Apostólicos do

segundo século e de outras épocas, culmina com os concílios do quarto século,

estabelecendo assim, um cânone formal das Escrituras que não deveria ser

invalidado.

Os critérios de aceitação ou rejeição dos livros que os líderes da cristandade

usaram, não eram fórmulas matemáticas complicadas. Basicamente, um texto

cristão para ser aceito como canônico, tinha que ser reconhecido como autoritativo

em seu uso pelas pessoas, ter sido escrito ou estar relacionado com um apóstolo ou

ter sido produzido na era apostólica.

Aland107 sugere que a formulação do cânone é providentia Dei. Isto significa

que o que está escrito nas Escrituras é o que Deus queria que fosse escrito. Esta é

a crença dos cristãos “ortodoxos”108 do terceiro milênio.

As Escrituras são produto de uma parceria divino-humana. Os humanos

registraram, ao seu modo, conforme sua competência, estilo, debilidades, o que o

divino aprovava. Os textos, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento,

independente de autoria, data, de prováveis acréscimos ou supressões, devem ser

imprescindíveis para se encontrar respostas sempre atualizadas e transformadoras,

seja por parte de um leitor solitário, das igrejas, ou das comunidades nas quais o

cristão está inserido.

106ALAND (1962, p.30) . 107ALAND (1966, p.33). 108O termo ortodoxos está posto como sinônimo de conservadores.

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REFERÊNCIAS

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