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Elcio Prado Martins da Costa O SENTIDO DO TRABALHO VOLUNTÁRIO E O TERCEIRO SETOR: UM ESTUDO DE CASO Taubaté – SP 2005

O SENTIDO DO TRABALHO VOLUNTÁRIO E O TERCEIRO … · Ficha catalográfica elaborada pelo SIBi – Sistema Integrado de Bibliotecas / UNITAU C837s Costa, Elcio Prado Martins da O

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  • Elcio Prado Martins da Costa

    O SENTIDO DO TRABALHO VOLUNTRIO E O TERCEIRO SETOR: UM ESTUDO DE CASO

    Taubat SP

    2005

  • Elcio Prado Martins da Costa

    O SENTIDO DO TRABALHO VOLUNTRIO E O TERCEIRO SETOR: UM ESTUDO DE CASO

    Dissertao apresentada para obteno do Ttulo

    de Mestre pelo Curso de Mestrado em Gesto e

    Desenvolvimento Regional.

    rea de concentrao: Gesto de Recursos

    Socioprodutivos e Pessoas

    Orientadora: Profa. Dra. Edna Maria Querido de

    Oliveira Chamon

    Taubat SP

    2005

  • Ficha catalogrfica elaborada pelo SIBi Sistema Integrado de Bibliotecas / UNITAU

    C837s Costa, Elcio Prado Martins da O sentido do trabalho e o terceiro setor: um estudo de caso /

    Elcio Prado Martins da Costa. - - Taubat: UNITAU, 2004.

    168f. : il.

    Orientadora: Edna Maria Querido de Oliveira Chamon Dissertao (Mestrado) Universidade de Taubat, Departamento de

    Economia, Contabilidade e Administrao, 2004.

    1. Sentido do trabalho. 2. Terceiro setor. 3. Administrao Desempenhohumano. 4. Gesto de recursos socioprodutivos Mestrado. I. Universidade deTaubat, Departamento de Economia, Contabilidade e Administrao. II.Chamon, Edna Maria Querido de Oliveira (orient.). III. Ttulo.

  • ELCIO PRADO MARTINS DA COSTA

    AVALIAO DOS RESULTADOS DO SENTIDO DO TRABALHO

    UNIVERSIDADE DE TAUBAT, TAUBAT, SP

    Data: ___________________________________________

    Resultado: _____________________________________

    COMISSO JULGADORA

    Prof(a). Dr(a).: Edna Maria Querido de Oliveira Chamon

    Assinatura: ______________________________________

    Instituio: UNITAU

    Prof(a). Dr(a).: Elizabeth Moraes Liberato

    Assinatura: _______________________________________

    Instituio: UNIVAP

    Prof. Dr.: Prof Dr. Marilsa de S Rodrigues Tadeucci

    Assinatura: ______________________________________

    Instituio: UNITAU

  • Dedico este trabalho ao meu pai, Jacyl Martins da Costa que, mesmo

    no estando mais neste mundo, foi minha fonte de motivao constante.

  • AGRADECIMENTOS

    A minha esposa, Samira; aos meus filhos, Pedro, Bruno e Maria Jlia pelo

    incentivo, apoio e pacincia.

    A Profa. Dra. Edna Maria de Oliveira Chamon pela dedicao e sabedoria com

    as quais orientou esse trabalho.

    Ao Prof. Dr. Marco Antonio Chamon pelo auxlio na tabulao dos dados.

    Ao Marcelo Franoso Mendes de Andrade pelos valorosos conselhos no que

    tange a anlise de dados.

    A Claudia Hoff pelas orientaes na forma desse trabalho.

    Finalmente agradeo ao Batura, particularmente a Maria Aparecida Barros de

    Queiroz Accioly (Dona Marici) diretora administrativa, por permitir que fosse

    realizado e colaborar com esse trabalho.

    Aos entrevistados e aqueles que responderam o questionrio. Enfim, meus

    agradecimentos a todos que, direta ou indiretamente, auxiliaram-me na

    confeco deste trabalho.

  • COSTA, Elcio. O sentido do trabalho voluntrio e o terceiro setor: um estudo de caso. 2005. 170f. Dissertao. Mestrado em Gesto e Desenvolvimento Regional Economia, Contabilidade e Administrao, Universidade de Taubat, Taubat.

    RESUMO

    O trabalho sempre esteve presente na sociedade. Na Antigidade, era uma ocupao

    servil que exclua seu agente da cidadania. No mundo contemporneo no representa

    o labor, mas sim uma atividade reconhecida como til e remunerada. Essa

    centralidade social do trabalho motivou o grupo Meaning Of Work (MOW, 1998) a

    estudar os sentidos que o trabalhador atribui ao seu trabalho. Devido a vrios fatores,

    como por exemplo a evoluo tecnolgica, a quantidade de postos de trabalho tem

    diminudo, resultando em aumento do auxlio governamental aos desempregados. Os

    governos no conseguiram atender a essa demanda e outros entes sociais

    apareceram, as organizaes do Terceiro Setor que se utilizam, basicamente, do

    trabalho voluntrio. Nesta pesquisa, questiona-se o sentido que o trabalhador

    voluntrio atribui ao seu trabalho. A organizao escolhida como objeto deste estudo

    chama-se BPR - Batura Projeto Renascer. No Projeto Renascer, atualmente,

    trabalham 150 pessoas, dentre elas 6 so remuneradas e as restantes, voluntrias. A

    pesquisa foi dividida em fases: 1.fase exploratria construo do projeto de

    investigao; 2.trabalho de campo foram realizadas entrevistas com 12

    trabalhadores e enviaram-se questionrios aos 150 trabalhadores. Confrontou-se o

    encontrado com o modelo adotado pelo grupo MOW. Encontrou-se que o sentidos

    atribudos ao trabalho pelos trabalhadores da Pesquisa do MOW foram, em parte,

    encontrados nessa pesquisa. Diferenas e semelhanas, principalmente, quanto ao

    tema remunerao foram encontrados.

    Palavras-chave : sent ido, trabalho, trabalho voluntr io, terceiro setor, administrao.

  • COSTA, Elcio. The meaning of voluntary work and third sector: a case study. 2005. 170f. Dissertation. Master in Management and Regional Development. Department of Economics, Accounting and Administration, University of Taubat, Taubat.

    ABSTRACT

    Work has always been part of our society. In late Antiquity working was considered a

    servile occupation which naturally prevented one from its citizenship. In a

    contemporary world, it does not represent labor, but represents an activity recognized

    as utile and paid. This social centrality of work has motivated the Meaning Of Work

    (MOW, 1998) team to study the meaning the workers give to their work. Due to several

    issues, technological evolution for instance, the quantity of vacancies has decreased,

    implying an increase of governmental help to the unemployed. The government could

    not fulfill this demand and therefore other social elements took place, such as the Third

    Sector organizations, that basically uses voluntary work. The question that has been

    made in this paper is what is the meaning that the voluntary worker gives to his work.

    The object of this research was the organization BPR - Batura Projeto Renascer. At

    Projeto Renascer, there are 150 people currently working, being 6 paid workers plus

    voluntaries. The research was divided into phases: 1. exploratory phase, that means

    formulating investigation project; 2. field work consisting of 12 interviews and

    questionnaires that were sent to 150 workers. The results have been compared to the

    MOW model. In this research, the conclusions reached showed that the meaning that

    the workers gave to their work, was very similar to the one expressed by the MOW

    model. Mainly differences and similarities regarding remuneration have been pointed

    out.

    Keywords : meaning, work, voluntary work, third sector, administrat ion.

  • SUMRIO

    RESUMO ............................................................................................................5

    ABSTRACT.........................................................................................................6

    LISTA DE TABELAS...........................................................................................9

    LISTA DE QUADROS.......................................................................................11

    1 INTRODUO ...........................................................................................12 1.1 A Pesquisa..................................................................................................... 17 1.2 Objetivos ........................................................................................................ 17 1.3 Relevncia ..................................................................................................... 18 1.4 Organizao deste trabalho........................................................................... 19

    2 REFERENCIAL TERICO.........................................................................20 2.1 Fases histricas do trabalho .......................................................................... 20 2.1.1 O trabalho ao longo da Histria.................................................................. 20 2.1.2 A Idade Mdia e o Renascimento .............................................................. 23 2.1.3 A Revoluo Industrial................................................................................ 28 2.1.4 A Escola Clssica da Administrao.......................................................... 31 2.1.5 A Escola Burocrtica .................................................................................. 40 2.1.6 Fordismo .................................................................................................... 42 2.1.7 A Escola das Relaes Humanas .............................................................. 43 2.1.8 A Escola Neoclssica da Administrao .................................................... 44 2.2 Terceiro Setor ................................................................................................ 58 2.2.1 O porqu do nome Terceiro Setor.............................................................. 58 2.2.2 O crescimento do Terceiro Setor................................................................ 63 2.2.3 Responsabilidade social e o Terceiro Setor ............................................... 71 2.3 Modelos para os estudos sobre o Sentido do Trabalho................................. 77

    3 METODOLOGIA.........................................................................................88 3.1 Tipo de Pesquisa ........................................................................................... 90 3.2 Lcus da Pesquisa......................................................................................... 91 3.3 Entrevista ....................................................................................................... 94 3.4 Questionrio................................................................................................... 98 3.5 Anlise dos dados.......................................................................................... 99

    4 ANLISE DOS RESULTADOS ................................................................100 4.1 Entrevistas ................................................................................................... 101 4.1.1 Caractersticas sciodemogrficas........................................................... 101

  • 4.1.2 Sentido dado ao trabalho: ser moralmente aceitvel ............................... 104 4.1.3 Sentido dado ao trabalho: ser realizado de forma eficiente e levar a um resultado ................................................................................................................. 106 4.1.4 Sentido dado ao trabalho: ser fonte de experincias de relaes humanas satisfatrias............................................................................................................. 107 4.1.5 Sentido dado ao trabalho: por manter o trabalhador ocupado ................. 109 4.1.6 Sentido dado ao trabalho: ser satisfatrio ................................................ 110 4.1.7 Sentido dado ao trabalho: permite segurana e possibilita ser autnomo113 4.2 Questionrios............................................................................................... 116 4.2.1 Moralmente aceitvel ............................................................................... 120 4.2.2 O trabalho feito de maneira eficiente e gerar resultados.......................... 121 4.2.3 Trabalho como fonte de experincias e relaes humanas satisfatrias. 124 4.2.4 O trabalho como forma de ocupao ....................................................... 126 4.2.5 O trabalho como meio de satisfao........................................................ 131 4.2.6 O sentido dado ao trabalho: garantir a segurana e autonomia do trabalhador.............................................................................................................. 131 4.2.7 Cruzando dados da pesquisa................................................................... 133 4.2.7.1. Formao X Gnero ............................................................................. 133 4.2.7.2. Remunerao X Envolvimento com o trabalho..................................... 133 4.2.7.3. Gnero X Envolvimento com o trabalho ............................................... 134 4.2.7.4. Remunerado X Formao..................................................................... 135

    5 CONCLUSO...........................................................................................136 5.1 O trabalho ocupa um lugar central na sociedade ........................................ 138 5.2 As caractersticas do trabalho...................................................................... 138 5.3 Formao..................................................................................................... 139 5.4 Remunerao .............................................................................................. 139

    REFERNCIAS ..............................................................................................142

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Taxa de desemprego ............................................................ 52

    Tabela 2: Taxa de participao ............................................................. 53

    Tabela 3: Dados estatsticos do Municpio de Jacare .......................... 93

    Tabela 4: Distribuio de voluntrios, assalariados e gnero na

    amostra ............................................................................................... 102

    Tabela 5: Idade ................................................................................... 103

    Tabela 6: Formao escolar ............................................................... 117

    Tabela 7: Gnero ................................................................................ 117

    Tabela 8: Idade ................................................................................... 118

    Tabela 9: Anos de trabalho no Projeto ............................................... 119

    Tabela 10: Quantidade de trabalhadores remunerados ..................... 119

    Tabela 11: Significado e importncia da organizao para o

    trabalhador .......................................................................................... 120

    Tabela 12: Quanto contribui com a sociedade o seu trabalho ........... 121

    Tabela 13: Capacidade de tomada de deciso no trabalho ............... 122

    Tabela 14: Autonomia (voc decide como fazer o seu trabalho) ....... 122

    Tabela 15: Um trabalhador deve pensar melhores caminhos

    para o seu trabalho ............................................................................. 123

    Tabela 16: Um trabalhador deve se envolver

    ativamente no desenvolvimento de melhores mtodos e

    procedimentos do trabalho .................................................................. 124

    Tabela 17: Importncia dos companheiros de trabalho ...................... 125

    Tabela 18: Boas relaes interpessoais com os superiores ............... 125

    Tabela 19: Percepo do trabalhador sobre serem consultados

    sobre mudanas nos mtodos de trabalho ......................................... 126

    Tabela 20: Quanto penso no trabalho ................................................. 127

    Tabela 21: Importncia da minha ocupao ou profisso .................. 128

    Tabela 22: O trabalho deveria ser acessvel a todos que o

    desejassem ......................................................................................... 128

  • Tabela 23: Mesmo se eu ganhasse uma grande quantidade

    de dinheiro eu poderia continuar a

    trabalhar ............................................................................................. 129

    Tabela 24: Ter um trabalho muito importante para mim .................. 130

    Tabela 25: Envolvimento com o trabalho ............................................ 130

    Tabela 26: Aprendizagem no trabalho ................................................ 131

    Tabela 27: Importncia da remunerao ............................................ 132

    Tabela 28: Formao X Gnero ......................................................... 133

    Tabela 29: Remunerao X Envolvimento com o trabalho ................ 134

    Tabela 30: Gnero X Envolvimento com o trabalho ........................... 134

    Tabela 31: Remunerado X Formao ................................................ 135

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Resumo dos sentidos atribudos ao trabalho na pesquisa com

    os administradores ................................................................................ 86

  • 1 INTRODUO

    De forma intuitiva, percebemos que o trabalho conserva um lugar central na

    sociedade contempornea, porm nem sempre foi assim, ao contrrio, na

    Antigidade, era uma ocupao servil que exclua seu agente da cidadania, ou

    seja, impedia a sua participao na Cidade.

    Hoje, o que se chama trabalho, na verdade, no representa o labor, mas sim

    uma atividade reconhecida por outros como til e remunerada. Esse trabalho

    est associado a uma existncia e a uma identidade social (GORZ, 2003,

    p.21).

    Na pesquisa feita por Morin (2002, p. 71) fez-se a seguinte pergunta aos

    entrevistados: Se voc tivesse bastante dinheiro para viver, confortavelmente,

    sem trabalhar, durante o resto de sua vida, o que faria em relao ao seu

    trabalho?

    Mais de 80% dos entrevistados responderam que trabalhariam mesmo assim.

    As principais razes apontadas para este comportamento foram as seguintes:

    a importncia do relacionamento com outras pessoas;

    a necessidade de ter um vnculo com um ambiente de trabalho;

    a procura de algo para fazer;

    a fuga do tdio e a busca de um objetivo para a vida (MORIN, 2002, p.

    71).

    O trabalho, figura central da vida humana, tem gerado grandes conflitos

    sociais, ocasionando mudanas comportamentais tanto no campo como na

    cidade. Naquele, h a procura de terras para plantar, nesta, h a necessidade

    de buscar o trabalho e discutir sobre o tamanho de sua jornada.

    Na dcada de 1970, os pases desenvolvidos e aqueles em processo de

    desenvolvimento enfrentaram e continuam enfrentando mudanas em todos os

    setores da economia, principalmente no que se refere tecnologia,

  • 13

    particularmente, empregada no setor industrial e agrcola, que muito

    influenciaram no ambiente de trabalho.

    A competitividade instalada nesse novo ambiente de trabalho, principalmente

    na indstria, determinou, diretamente, mudanas administrativas nas

    organizaes para fazer frente aos desafios impostos por um mercado, cada

    vez mais exigente, que necessitava de um produto de melhor qualidade, por

    um preo menor, e que atendesse s atuais demandas sociais e econmicas.

    Dentre as demandas econmicas, est a busca incessante pelo lucro - objetivo

    nico do sistema capitalista resultando em um ambiente de trabalho ainda

    mais competitivo, principalmente nas organizaes industriais cujas margens

    de lucro cada vez menores transformaram parte delas em organizaes

    globais.

    Essas organizaes, procurando defender seus objetivos, acabam por exigir

    cada vez mais de seus trabalhadores que, sentindo-se pressionados pela

    necessidade do emprego, aceitam trabalhar mais. A quantidade maior de

    trabalho no se traduz, somente, em um acrscimo de horas efetivamente

    trabalhadas, mas tambm em um esforo intelectual maior para fazer frente s

    demandas do ambiente de trabalho. O novo modelo de trabalho, menos

    manual e mais intelectual, obriga o trabalhador a empreender um determinado

    ritmo que, mesmo no podendo ser medido em horas, resulta em uma carga de

    trabalho efetiva muito maior para ele. (ANTUNES, 2002, p.195-207).

    Como conseqncia dessas transformaes no meio fabril, surgiu o chamado

    toyotismo, modelo de gesto japons, que trouxe para a indstria novos (para

    a poca) sistemas de produo, possibilitando ao trabalhador maior

    participao no processo produtivo mas, ao mesmo tempo, tornou a indstria

    mais automatizada, causando a diminuio da mo-de-obra (ANTUNES, 2002,

    p.195-207).

    Nesse contexto, a automatizao parece ser um processo contnuo, portanto

  • 14

    pode-se pensar que o trabalho est em processo de desaparecimento.

    O trabalho, porm, no est restrito somente indstria, ao contrrio, est

    presente em todas as formas de expresso de movimento. Exemplificando,

    trabalho no se resume somente a atividades desenvolvidas pelos animais,

    como o movimento do castor para fazer diques, mas a mudana do estado

    natural do material utilizado para fazer os diques, de forma a melhorar a sua

    utilidade. A partir desse entendimento mais abrangente de trabalho, pode-se

    concluir que o trabalho no desaparecer, mas estar em constante

    modificao (BRAVERMAN, 1981, p. 49).

    Embora a compra e venda da fora de trabalho tenham origens na Antigidade,

    a Revoluo Industrial foi responsvel por profundas mudanas nos

    paradigmas de produtividade porque aumentou a classe assalariada, tornando-

    a numericamente importante.

    Alguns dados confirmam esse fato: nos Estados Unidos da Amrica, at o

    incio do sculo XIX, 80% das pessoas trabalhavam por conta prpria; por volta

    de 1870, esse nmero atingia apenas 33% deles; em 1940, no havia mais de

    20%; e em 1970, eles eram apenas 10% (50% menor que em 1940). Percebe-

    se que o capitalismo, rapidamente, converteu as iniciativas individuais em

    forma de trabalho assalariado (BRAVERMAN, 1981, p. 55).

    Com a evoluo tecnolgica, a indstria passou a viver um processo de

    reduo na utilizao de mo-de-obra. Em um perodo histrico de

    aproximadamente 100 anos, o capitalismo, ao mesmo tempo em que formava

    massas de trabalhadores nas indstrias, as eliminava poucos anos depois. Por

    isso, a definio de trabalho, normalmente utilizada para estudos sobre esse

    assunto, est baseada nas teorias Marxistas que contrapem o capital ao

    trabalho.

    Marx (1998, p. 108), em seu texto sobre salrio, preo e lucro, apresentou uma

    relao entre eles na qual o valor de uma mercadoria determinado pelo

  • 15

    tempo de trabalho socialmente encerrado na sua elaborao. Como o

    trabalhador no possui os meios de produo (terras, ferramentas etc.), o valor

    de sua fora de trabalho, como o de qualquer mercadoria, determinado pelo

    valor dos artigos de primeira necessidade exigidos para produzir, desenvolver,

    manter e perpetuar a fora de trabalho, ou seja, o total necessrio a sua

    subsistncia (MARX, 1998, p. 108).

    Assim, o trabalhador no vende diretamente o seu trabalho, mas a sua fora de

    trabalho. Partindo-se desse pressuposto, a fora de trabalho teria um valor cuja

    representao seria um salrio suficiente apenas para a manuteno bsica do

    trabalhador. Isso significa que ele estar trabalhando para si parte do dia de

    trabalho, o restante de sua produo diria ser destinado para o patro,

    portanto ele compra o dia todo de trabalho, gerando a mais-valia, ou seja, o

    lucro do empregador - o dono dos meios de produo, essa seria a

    remunerao do capitalista (MARX, 1998, p. 108-111).

    A teoria de Marx para a mais-valia apresenta uma relao capital trabalho para

    o trabalho assalariado. Nessa pesquisa buscou-se ampliar o conceito de

    trabalho para abranger trabalho voluntrio.

    Andr Gorz afirma que a definio de trabalho, como conhecida por todos,

    uma inveno da modernidade (GORZ, 2003, p. 21).

    Sartre apud Kanaane (1995, p.14) refora a amplitude do conceito de trabalho

    dizendo: Por meio do trabalho dominamos o meio. H dispndio de energia,

    ao sobre a natureza, produo, destruio e, portanto, trabalho. Kanaane

    ainda ressalta que o prprio Karl Marx afirmou ser o trabalho um processo

    entre o homem e a prpria natureza e, com isso, ele chegou a uma definio

    muito mais abrangente para trabalho que aquela encontrada em ambiente

    industrial (KANAANE, 1995, p. 13-27).

    Para Marx (1998, p.102) o trabalho parte integrante de uma mercadoria, para

    produzir uma mercadoria, no s se tem de criar um artigo que satisfaa a uma

  • 16

    necessidade social qualquer, como tambm o trabalho nele incorporado dever

    representar uma parte integrante da soma global de trabalho investido pela

    sociedade.

    Baseando-se nesses vrios conceitos, conclui-se que trabalho pode ser

    encontrado em diversas atividades da vida cotidiana e no somente no

    ambiente industrial.

    O fato de a automatizao industrial reduzir a mo-de-obra assalariada em

    contraponto com outros conceitos de trabalho, que consideram qualquer

    dispndio de energia como trabalho, leva concluso de que o trabalho

    continuar sempre presente na sociedade, no necessariamente na indstria.

    A partir da, surge a possibilidade de se estudar as organizaes do chamado

    Terceiro Setor. Cada vez mais presentes na sociedade, ao contrrio da

    indstria, elas esto absorvendo uma grande quantidade de trabalhadores cuja

    mo-de-obra pode ser assalariada ou no.

    A descoberta do sentido dado ao trabalho influencia na identificao das

    necessidades do trabalhador que, por sua vez, implica a motivao que,

    conseqentemente, altera o desempenho. Portanto, serve de parmetro para

    que os administradores avaliem o efeito esperado de suas decises e/ou

    orientaes nas organizaes (MORIN, 2001, p. 9).

    Nesse novo ambiente de diminuio do emprego industrial, o Terceiro Setor

    surge como uma opo de trabalho, mesmo sem remunerao. Essas

    organizaes tambm tm interesse em medir o desempenho dos

    trabalhadores, portanto, busca-se entender qual o sentido do trabalho para

    essas pessoas.

  • 17

    1.1 A Pesquisa

    Neste estudo, procura-se entender o profissional contemporneo e sua relao

    com o trabalho em uma organizao do Terceiro Setor porque nem sempre

    esse tipo de instituio remunera seus funcionrios e sabe-se que, dentro do

    modelo de sentido do trabalho, a remunerao um dos fatores que lhe d

    sentido (MORIN, 2001, p. 8-19)

    Busca-se, dessa forma, identificar o sentido do trabalho para os trabalhadores

    voluntrios de um determinado grupo social.

    Espera-se que esta pesquisa possibilite a compreenso dos contextos sociais

    que motivam os sentidos dados ao trabalho, uma vez que as organizaes

    fazem parte da sociedade, influenciando-a e, ao mesmo tempo, sendo objeto

    de sua influncia.

    1.2 Objetivos

    1.2.1 Objetivo Geral

    O objetivo geral desse estudo identificar os sentidos atribudos ao trabalho

    em uma organizao do Terceiro Setor, analisando a reao do trabalhador

    nessa atividade voluntria.

    1.2.2 Objetivos Especficos

    Fazer um levantamento histrico sobre as mudanas ocorridas no

    trabalho desde a Revoluo Industrial at o incio do sculo XXI.

    Identificar o sentido dado ao trabalho pelo trabalhador voluntrio.

    Identificar as diferenas e as semelhanas entre os sentidos

    atribudos ao trabalho pelo trabalhador voluntrio e o no voluntrio,

  • 18

    comparando os dados da pesquisa com o modelo do Meaning Of

    Work (MOW, 1998).

    1.3 Relevncia

    O ambiente de trabalho modifica-se conforme a evoluo da sociedade. Assim,

    estudar como os trabalhadores percebem sua relao com o trabalho interessa

    s pessoas responsveis pelos processos de transformao dentro das

    organizaes, isto porque o trabalho est intimamente ligado ao indivduo, uma

    vez que assume posio central na sociedade contempornea (Morin, 2001,

    p.9).

    O trabalho representa um valor importante, exerce uma influncia

    considervel sobre a motivao dos trabalhadores e tambm sobre

    sua satisfao. Vale a pena, ento, tentar compreender o sentido do

    trabalho hoje e determinar as caractersticas que ele deveria

    apresentar a fim de que tenha um sentido para aqueles que o

    realizam (MORIN, 2002, p. 71).

    O sentido do trabalho j foi estudado em diversos pases por pesquisadores do

    grupo MOW (1987) e os resultados mostraram que ele pode assumir desde

    uma condio de neutralidade at de centralidade na identidade pessoal e

    social. Particularmente, observou-se que o trabalho essencial na vida das

    pessoas e, aqueles que o executam procuram dar utilidade para suas

    atividades dentro das organizaes e na sociedade. Alm disso, conforme j

    apontado por outros estudiosos, os dados tambm indicaram que valores como

    variedade na natureza das tarefas, aprendizagem, autonomia, reconhecimento,

    bem como a funo de garantir a sobrevivncia e segurana, so fundamentais

    para que o trabalho tenha sentido para as pessoas (MORIN, TONELLI e

    PLIOPLAS, 2004, p. 1).

    No caso particular deste trabalho, ao estudar uma organizao do Terceiro

  • 19

    Setor, alm do interesse de descobrir os sentidos atribudos ao trabalho por

    esse determinado grupo de trabalhadores, o resultado encontrado poder ser

    comparado com aquele de organizaes onde a totalidade dos trabalhadores

    so remunerados, para verificar possveis diferenas e semelhanas.

    1.4 Organizao deste trabalho

    Esta pesquisa foi estruturada em cinco captulos, dentre os quais essa

    Introduo o primeiro deles.

    O segundo captulo apresenta a evoluo do trabalho durante a histria e, a

    partir de reviso da literatura, o referencial terico dos sentidos do trabalho que

    foi utilizado para comparao com os resultados encontrados.

    No captulo terceiro encontra-se a metodologia empregada para se realizar

    esse trabalho.

    O quarto captulo apresenta os resultados e sua anlise.

    Ao final, no captulo sexto, encontram-se as concluses obtidas por essa

    pesquisa, destacando-se remunerao como sentido do trabalho para o

    trabalhador voluntrio.

  • 2 REFERENCIAL TERICO

    2.1 Fases histricas do trabalho

    2.1.1 O trabalho ao longo da Histria

    Segundo o dicionrio (FERREIRA, 1998, p. 642), trabalho significa: aplicao

    das foras e faculdades humanas para alcanar um determinado fim. O

    mesmo dicionrio, tambm, apresenta-o como atividade coordenada, de

    carter fsico e/ou intelectual, necessria realizao de qualquer tarefa,

    servio ou empreendimento. O exerccio dessa atividade como ocupao,

    ofcio, profisso, tambm trabalho.

    No livro Dimensions of Work (HALL, 1986, p. 11, traduo nossa) encontra-se a

    seguinte definio para trabalho: ... uma atividade que produz alguma coisa de

    valor para outras pessoas.

    Hall (1986), porm, no se contenta com esta definio apresentada por

    entender que poderia estar ligada ao emprego formal ou ao grupo social que

    trabalha em uma determinada organizao. Por no consider-la geral, em seu

    texto, procura construir um conceito de trabalho que seja abrangente. Para Hall

    (1986), o ato dele, em casa, ao ler um jornal e encontrar um artigo relacionado

    com sua atividade de professor e resolver recort-lo, j um trabalho. Este

    exemplo destaca o fato de que o ato gerador de valor foi produzido fora do

    ambiente de trabalho.

    Hall conclui que trabalho um fenmeno social construdo como tambm

    uma atividade objetiva. Baseado nesta idia, ele constri uma nova definio

    de trabalho que seria: trabalho o esforo ou atividade de um indivduo

    realizada com a inteno de gerar produtos ou servios de valor para outros,

    tambm considerado como ser trabalho pelo indivduo nele envolvido (HALL,

    1986, p. 11-14, traduo nossa).

  • 21

    Braverman (1981, p. 49 55), tambm buscando uma definio para trabalho,

    inicia definindo-o como as atividades desenvolvidas pelos animais para

    modificar o estado natural de materiais encontrados na natureza para melhorar

    sua utilidade, porm ressalta que o trabalho humano consciente e proposital,

    ao passo que o trabalho dos outros animais instintivo.

    Assim, o trabalho humano como atividade proposital, orientado pela

    inteligncia, produto especial da espcie humana. Mas esta, por

    sua vez, produto especial desta forma de trabalho. Ao agir assim

    sobre o mundo externo e transform-lo, ele ao mesmo tempo modifica

    sua prpria natureza (MARX apud BRAVERMAN, 1981, p. 52).

    Hall (1986), Ferreira (1998) e Braverman (1981) definiram trabalho como

    movimento, atividade no necessariamente vinculados a uma organizao ou a

    um emprego formal.

    Gorz (2003, p. 161), utilizando-se da abrangncia desse conceito, discute o

    trabalho domstico e entende que, com a escassez do emprego formal, os

    homens tendem a invadir o espao da mulher nas atividades domsticas,

    mesmo que dissimulado, apresentando a reivindicao de um salrio o que

    poder levar a sociedade a remunerar esse tipo de trabalho, como j acontece

    em alguns pases desenvolvidos.

    A partir desse conceito de trabalho, pode-se afirmar que a sua origem remonta

    aos primrdios do prprio homem, uma vez que trabalho no est ligado a uma

    certa organizao formal, a um horrio ou a uma remunerao, mas sim a uma

    atividade.

    Os trabalhos domsticos, a caa, as artes plsticas - como os desenhos

    encontrados nas paredes de cavernas ou em reas habitadas pelos primeiros

    seres humanos - tambm so manifestaes de trabalho. Conclui-se que,

    desde sempre, o homem, como ente social, precisou do trabalho para a

    organizao da sociedade.

  • 22

    O trabalho e a prpria existncia do homem se confundem. Assim, a

    administrao ou a gerncia desse trabalho assumiu papel social importante

    muito antes do aparecimento de Taylor e Fayol.

    Por volta de 5.000 a.C. os sumrios j utilizavam organizaes governamentais

    complexas que, alm do trabalho, exigiam administrao (CHIAVENATO, 1999,

    p. 32). Sem gerncia, no existiriam as Pirmides, a Muralha da China, as

    extensas redes de estrada, aquedutos, canais de irrigao, os grandes

    edifcios, arenas, monumentos, catedrais etc. Encontra-se, tambm, uma

    diviso elementar de trabalho nas oficinas que produziam armas para os

    exrcitos romanos (BRAVERMAN, 1981, p. 65).

    verdade que o trabalho nem sempre teve o sentido que adquiriu

    nas sociedades do trabalho. Em particular, ele nem sempre foi uma

    atividade realizada, em vista de sua troca mercantil, na esfera pblica.

    No foi sempre fonte de cidadania para os trabalhadores. Na Grcia

    antiga, ao contrrio, era tido como incompatvel com a cidadania.

    que, ali, a maior parte da produo do necessrio era realizada na

    esfera domstica privada (no oikos) (GORZ, 2003, p. 152).

    Trabalho e administrao sempre estiveram muito ligados. Se trabalho

    atividade, administrar o processo de realizar aes para alcanar algum

    objetivo (MAXIMIANO, 2000, p. 25); ou para Chiavenato (1999, p. 6), a

    administrao constitui a maneira de utilizar os diversos recursos

    organizacionais humanos, materiais, financeiros, de informao e tecnologia

    para alcanar objetivos e atingir elevado desempenho.

    Partindo dessa ligao entre trabalho e administrao, pode-se observar, ao

    longo da Histria, que as mudanas ocorridas nos mtodos administrativos

    geraram, por sua vez, alteraes nas relaes de trabalho.

    Dessa forma, ao se estudar as organizaes e as mudanas administrativas

    pelas quais estas passaram, est se estudando as transformaes ocorridas no

    trabalho ao longo da histria.

  • 23

    A Igreja Catlica, os exrcitos e outras grandes organizaes, assim como as

    civilizaes romana e egpcia, necessitaram de administrao tanto quanto as

    modernas administraes pblicas, civis e militares (MAXIMIANO, 2000, p. 53).

    As mudanas no trabalho e, conseqentemente, na administrao ocorreram

    devido evoluo social. Nas sociedades antigas, baseadas em estruturas

    militares estratificadas, e composta por cidados escravos e livres, o trabalho

    era considerado algo de pouco valor, logo, quem o administrasse ou exercesse

    outros afazeres considerados dirios, provavelmente, no merecia destaque.

    Essa seria uma das possveis razes para a falta de relatos sobre

    administrao na Antigidade.

    A idia contempornea do trabalho s surge com o capitalismo manufatureiro.

    Antes, o trabalho era indigno do cidado livre no porque fosse tarefa para os

    escravos ou para as mulheres, mas por ser considerado uma necessidade de

    sobrevivncia, e um homem livre capaz de conduta moral no poderia sujeitar-

    se necessidade do corpo, ou seja, ao trabalho. Somente o sujeito livre das

    necessidades do corpo seria capaz de conduta moral (GORZ, 2003. p. 22

    24).

    2.1.2 A Idade Mdia e o Renascimento

    Na Europa Ocidental, durante a Idade Mdia, as organizaes humanas eram

    conhecidas como feudos. Trabalhadores exerciam basicamente atividades

    relacionadas lavoura e pecuria. Essas aldeias ou feudos possuam terra

    arvel a sua volta e, na orla mais externa, prados, florestas, bosques e pastos.

    Os prados e pastos eram compartilhados por todos, mas a rea arvel era

    dividida entre uma parte que pertencia ao senhor proprietrio do feudo e

    outra que ficava em poder dos arrendatrios. Os senhores podiam ter muitos

    arrendatrios, dependendo do tamanho do feudo ou at muitos feudos. Alm

  • 24

    da diviso da terra, o feudo tambm se caracterizava pelo fato de o trabalhador

    - o arrendatrio - ter que trabalhar a terra do senhor como forma de pagamento

    pela sua utilizao, ou seja, pelo arrendamento; portanto, a quitao da dvida

    era realizada com o trabalho e no por meio dos resultados conseguidos com o

    uso da terra como se faz atualmente (HUBERMAN, 1974, p.11-25).

    Este fato gerava uma relao particular entre os senhores e os trabalhadores,

    estes chamados de servos, artesos, agricultores ou camponeses porque,

    alm de trabalhar na sua prpria terra, precisavam trabalhar a terra do senhor

    qual deveria ser dada prioridade. Da mesma forma deveriam agir com a

    colheita e com a venda da produo. Quando o trabalhador necessitava moer o

    seu trigo ou esmagar as suas uvas, precisava pagar pela utilizao do moinho

    ou da prensa, os quais, via de regra, pertenciam ao senhor (HUBERMAN,

    1974, p.11-25).

    Estas eram as normas mais utilizadas, porque naquela poca, no havia um

    governo, forte o bastante, para impor as mesmas leis para todos, portanto as

    normas e os costumes entre trabalhadores e senhores feudais eram distintos.

    (HUBERMAN, 1974, p.11-25).

    A relao entre os trabalhadores e os senhores chegava a tal ponto de

    submisso que, em vrios feudos, as mulheres precisavam da permisso do

    senhor para se casar. Apesar disso tudo, na sociedade medieval, eles no

    eram considerados escravos. (HUBERMAN, 1974, p.11-25).

    Da Antigidade at a poca medieval, a relao de trabalho mudou. Naquela

    havia o homem livre e o escravo; e nesta, o senhor feudal e o servo. Apesar da

    mudana na relao de trabalho persistiram em ambos os perodos uma classe

    que no se orgulha do trabalho, e uma outra que realiza as tarefas do dia-a-dia

    (KWASNICKA, 1995, p. 24).

    No feudalismo, a riqueza e o capital eram estticos, ou seja, no se moviam

    entre os mercados buscando lucros. Ficavam nos cofres dos senhores feudais

  • 25

    ou da Igreja porque a maioria dos bens necessrios vida cotidiana era

    produzida localmente, dentro dos prprios feudos. Talvez necessitassem

    comprar apenas um pouco de sal e algum ferro. (HUBERMAN, 1974, p. 25-35).

    O senhor feudal era detentor dos meios de produo. Toda riqueza da poca

    era baseada na terra, pois ela provia todas as necessidades do senhor.

    Contudo, ele precisava dos servos tanto para os trabalhos como para a guerra;

    ento recrutava todos aqueles que aceitassem ser guerreiros e fazer da luta

    uma forma de pagamento pelo uso da terra (HUBERMAN, 1974, p. 25-35).

    O aparecimento das cruzadas fez o comrcio entre oriente e ocidente crescer,

    levou religio crist aos infiis muulmanos e, alm disso, incitou muitos

    senhores feudais a viajar em busca de mais terra ou riqueza (HUBERMAN,

    1974, p. 25-35).

    Quando os senhores feudais, ou cruzados, retornavam dessas viagens traziam

    gostos e hbitos das terras do Oriente. Vrias cidades Europias, na Idade

    Mdia, participaram dessas inovaes, principalmente, as cidades italianas de

    Veneza, Gnova e Pisa que, devido sua posio geogrfica e a seus

    cidados, excelentes comerciantes, souberam aproveitar-se da geografia e da

    situao poltica para fazer fortuna (HUBERMAN, 1974, p. 25-35).

    Com esses novos acontecimentos, o mundo passa a se interligar via as rotas

    martimas, principalmente as do Mediterrneo. O Mar do Norte passa tambm

    a fazer parte do mundo comercial.

    Nas cidades por onde passavam os comerciantes, surgiam feiras que, em

    determinadas pocas do ano, geravam grande movimento de pessoas e

    mercadorias. Esse aumento de feiras tambm promoveu o crescimento das

    cidades que as abrigavam que, normalmente, localizavam-se no centro dos

    feudos.

    A populao das cidades que abrigavam as feiras aumentava, pois os

  • 26

    trabalhadores, que permaneciam ligados aos senhores feudais, buscavam mais

    liberdade, e uma das formas de consegui-la era migrar para as cidades que

    precisavam de mo-de-obra. L, talvez, houvesse a chance de trabalhar em

    uma oficina de um mestre como aprendiz.

    Os comerciantes e os mestres passavam a ter mais poder na sociedade e,

    fortalecidos pelo aumento do comrcio e pela gerao de lucros, logo

    perceberam que se fundassem associaes seus negcios poderiam melhorar.

    Em um primeiro momento, as associaes eram para o pagamento de escolta

    em viagens por terra e mar. Logo depois, elas passaram a pedir iseno de

    certos impostos aos senhores feudais e proteo para que outros

    comerciantes estrangeiros no entrassem em seus mercados. Com a evoluo

    dos negcios, elas j tinham a funo de controlar o novo mercado que, aos

    poucos, passou de artesanal para industrial.

    As mercadorias no eram mais feitas para uso domstico, mas sim para serem

    vendidas. Importante notar que, nessa poca, os artesos profissionais eram

    trabalhadores e donos dos meios de produo, ou seja, das ferramentas e

    insumos.

    A sociedade que estava ligada terra, cuja posse indicava riqueza, passou a

    apresentar outro modelo, no qual os detentores do dinheiro eram considerados

    ricos e poderosos. A partir da, surgiu um novo tipo de trabalhador, ou seja,

    aquele que empresta dinheiro para as atividades comerciais (HUBERMAN,

    1974, p. 25-35).

    Essa oligarquia comercial passou a convergir esforos para modificar o sistema

    feudal. Decidiu apoiar os reis, que j no eram to poderosos, com a inteno

    de unir feudos de regies com afinidades, mas logo perceberam que o maior

    senhor feudal era a Igreja, e ela, tambm, precisaria ser combatida porque

    impedia o avano comercial (HUBERMAN, 1974, p. 25-35).

  • 27

    Com o apoio dos comerciantes, os reis adquiriram financiamentos e novas

    idias para ampliar domnios e fortalecer seu poder.

    Os reis e comerciantes, sentindo-se fortalecidos lanaram-se ao mar para

    buscar alternativas aos meios de transporte conhecidos das mercadorias desde

    os mercados produtores no oriente at os mercados consumidores na Europa.

    Ao procurar rotas alternativas, encontraram novas terras e outras riquezas.

    Assim, ocorreram as descobertas das minas de prata no Peru; de ouro, no

    Mxico, na Colmbia e no Brasil, tornando Portugal e Espanha potncias ricas.

    medida que as terras eram conquistadas, a sua populao passava a

    trabalhar no extrativismo, nas plantaes de tabaco e acar e no comrcio de

    escravos negros vindos da frica.

    A expanso dos mercados para as colnias fez aumentar ainda mais as

    companhias de comrcio e, como conseqncia, as empresas familiares e

    domsticas de artesos. Essas companhias que, at ento, dispunham de

    pequena estrutura, foram se modificando devido grande demanda, fartura

    de dinheiro (ouro e prata das colnias) e disponibilidade de mo-de-obra

    (migrao do homem do campo para as cidades).

    Para o trabalhador, apesar de ser um momento de oferta de emprego, no

    significou, necessariamente, boa remunerao, nem boas condies de

    trabalho. Os pequenos artesos no possuam mais os meios de produo -

    suas ferramentas e o capital para adquirir os insumos e no conseguiam

    competir com as associaes devido ao monoplio de produo. Foram

    obrigados a mudar da posio de servos dos feudos e passaram a ser

    vendedores de sua mo-de-obra para os artesos (HUBERMAN, 1974, p. 121-

    122).

    Esse processo acelerou o surgimento do Renascimento, dando apoio

    mudana da sociedade da Idade Mdia, at ento baseada no misticismo e na

    tradio, para uma valorizao do trabalho.

  • 28

    2.1.3 A Revoluo Industrial

    A Revoluo Industrial surge entre o final do sculo XVIII e incio do sculo

    XIX, apresentando ao homem a organizao industrial e o seu complexo

    ambiente. A produo deixa de ser puramente artesanal e comea, ao utilizar

    mquinas, a se tornar manufatureira (KWASNICKA, 1995, p. 24-25).

    Smith apud Braverman (1981, p. 75) demonstra bem este fato ao exemplificar,

    assim, a fabricao de alfinetes:

    Um homem estica o arame, outro o retifica e um terceiro o corta; um

    quarto faz a ponta e um quinto prepara o topo para receber a cabea;

    a cabea exige duas ou trs operaes distintas: coloc-la uma

    funo peculiar, branquear os alfinetes outra e at alinh-los num

    papel uma coisa separada; e o importante na fabricao de um

    alfinete deste modo dividido em cerca de dezoito operaes que,

    em algumas fbricas, so executadas por mos diferentes, embora

    em outras o mesmo homem s vezes execute duas ou trs delas

    (SMITH apud BRAVERMAN, 1981, p. 75).

    Esse processo muito diferente daquele utilizado at pouco antes, por

    exemplo, por um funileiro que, para fazer um funil, desenhava o traado na

    folha de metal, cortava-o e, depois, enrolava a chapa, soldava e dava

    acabamento (BRAVERMAN, 1981, p. 74).

    O homem que havia migrado do campo para a cidade, devido ao aumento do

    preo do arrendamento da terra, principalmente na Inglaterra, passou da

    posio de arrendatrio a operrio nas novas fbricas surgidas para atender a

    demanda gerada pelas guerras, pela expanso das colnias e pelo aumento da

    populao.

    O trabalho no campo mudou com a introduo de mquinas na agricultura, ou

    seja, o processo produtivo agrcola tambm se transformou.

  • 29

    A migrao do homem do campo para a cidade, devido disperso dos

    dependentes feudais, dissoluo dos mosteiros e ao fechamento da terra

    para ovinocultura, causou um grande aumento na busca pelo trabalho

    assalariado para padres da poca. No final do sculo XV, dizia-se haver

    80.000 mendigos s em Paris. No incio do sculo XVII, calculava-se que um

    quarto da populao de Paris era composta por pessoas como se diria

    atualmente abaixo da linha da pobreza (DOBB, 1965, p. 274-276).

    A Revoluo Francesa, com os conceitos de Liberdade, Igualdade e

    Fraternidade, marca a entrada da burguesia cujo enriquecimento ocorreu

    devido ao mercantilismo na era do capitalismo. Os burgueses foram os que

    mais se beneficiaram com a Revoluo Francesa porque conseguiram manter

    os privilgios adquiridos e eliminar a ameaa da monarquia.

    Nas cidades, comearam aparecer as indstrias e, com elas, o fortalecimento

    do capitalismo que se tornaram base do sistema produtivo (CHIAVENATO,

    1999, p. 32). Isso foi possvel em decorrncia do acmulo de capital

    conseguido com a extrao do ouro e da prata das Amricas e da venda de

    africanos como escravos nas Amricas.

    Dobb (1965, p. 256) demonstra o quanto era o excedente de capital gerado

    pelo comrcio ao afirmar que a Companhia das ndias Orientais Francesas

    comprou mercadorias, em 1691, por 487.000 libras, e as vendeu na Frana,

    por 1.700.000 libras.

    Para ilustrar a dimenso da mudana que estava em curso, um panfleto, do

    sculo XVII, sobre o comrcio de l, afirmava que existiam, na Inglaterra, 5.000

    fabricantes de roupa, cada um com 250 trabalhadores, atingindo um total de

    mais de um milho deles (DOBB, 1965, p. 179).

    Isso ocasionou uma mudana nas relaes de poder porque os antigos

    senhores feudais, que chegaram ao sculo XVIII como reis e rainhas, passam

    a dividir o poder com os novos detentores do capital, a burguesia.

  • 30

    O proletariado, apesar do seu aumento, no se apresentava como importante

    para a poca. Por exemplo, na segunda dcada do sculo XVII, em certas

    regies da Inglaterra, na indstria de l, foi registrado que os salrios no

    haviam sido reajustados nos ltimos quarenta anos apesar de os preos dos

    produtos terem quase dobrado. Havia legislao para impedir o aumento do

    salrio, e acordos entre os trabalhadores no eram permitidos. A punio para

    greves era brutal: aoitamento, priso e deportao. (DOBB, 1965, p. 282-287).

    Na poca da Revoluo Francesa, percebe-se, claramente, o domnio do

    capital sobre os meios de produo. Assim sendo, os capitalistas passaram a

    lutar por maiores mercados e mo-de-obra mais barata.

    Desde aquela poca, j existiam os conflitos entre os pases exportadores e

    importadores de mercadorias; aqueles geradores de tecnologia e os

    fornecedores de mo-de-obra.

    Como as unidades industriais cresceram muito, tornando-se mais complexas,

    houve a necessidade de uma organizao gerencial ou organizao do

    trabalho.

    No livro A Riqueza das Naes, de 1776, Adam Smith, j apresenta esse novo

    ambiente social ao enfatizar que a diviso do trabalho poderia gerar uma

    produo muito maior, como o exemplo da produo dos alfinetes

    (MAXIMIANO, 2000, p. 53).

    Nesse ponto, houve a necessidade de aumentar a produtividade do trabalho.

    Autores como Grew ou Postlethwayt sugeriram que a riqueza estava em

    invenes que causassem uma economia no trabalho dos homens (DOBB,

    1965, p. 270).

    Em meados do sculo XVIII, havia uma urbanizao crescente em Londres, e a

    tonelagem de navios sados dessa cidade era o dobro do que fora no incio do

    sculo. Mas, a grande indstria da poca foi a ferrovia. Em 1860, 10.000 milhas

  • 31

    de ferrovia haviam sido construdas na Gr-Bretanha e na Irlanda, dando

    emprego a 300.000 trabalhadores (DOBB, 1965, p. 358-362).

    A expanso do mercado foi conseqncia do conjunto formado pela maior

    diviso do trabalho, o aumento da produtividade, as novas invenes e o

    crescimento demogrfico. Esse ltimo foi gerado mais pela diminuio da taxa

    de mortalidade, devido a avanos na medicina, do que pelo aumento na taxa

    de natalidade (DOBB, 1965, p. 315).

    No possvel localizar a Revoluo Industrial entre fronteiras ou em um

    perodo determinado, de duas ou trs dcadas, devido s desigualdades de

    desenvolvimento dos pases da poca. Pode-se afirmar que a grande

    revoluo se deu com a mudana no carter de produo com a introduo de

    mquinas movidas por energia no-humana. Uma mquina toma o lugar de um

    implemento. Com isso, o acionamento de um mecanismo executa, com suas

    ferramentas, o mesmo trabalho antes exercido pelo trabalhador com

    ferramentas semelhantes. Essa mudana transformou o trabalho, tornando

    necessria a concentrao dos trabalhadores em um local, na fbrica, alm de

    impor um carter coletivo ao processo de produo (DOBB, 1965, p. 316-317).

    Os primeiros pesquisadores sobre o assunto emergem da necessidade de

    organizao do trabalho e, com eles, as diversas correntes da administrao

    que caracterizam cada fase da moderna evoluo do trabalho.

    2.1.4 A Escola Clssica da Administrao

    O novo momento histrico marcado por guerras cuja tecnologia resultou em

    uma devastao jamais vista; pela migrao do homem para as cidades; e,

    acmulo de capital; acelerou o desenvolvimento da indstria (CHIAVENATO,

    1999, p. 33).

  • 32

    Esse ambiente, apesar de parecer pouco provvel, gerou um perodo

    empresarial estvel e previsvel o que favoreceu o aparecimento das primeiras

    teorias sobre Administrao (CHIAVENATO, 1999, p. 33).

    Criou-se a Administrao Cientfica, cujo objetivo era estudar as tarefas do

    operrio; surgiram tambm a Teoria Clssica e o Modelo Burocrtico que

    abordavam as tarefas dos vrios nveis gerenciais e, a Teoria das Relaes

    Humanas cujo foco principal era o papel das pessoas no ambiente de trabalho

    (CHIAVENATO, 1999, p. 33).

    Em 1906, nos Estados Unidos da Amrica, Frederick Winslow Taylor (1856-

    1915), ento presidente da American Association of Mechanical Engineers,

    torna-se um dos pioneiros no estudo da administrao. Em 1911, publica o livro

    que se consagra como um marco na Era Industrial Clssica: Princpios da

    Administrao Cientfica (CHIAVENATO, 1999, p. 33).

    Taylor ocupava-se dos fundamentos da organizao dos processos

    de trabalho e do controle sobre ele. As escolas posteriores de Hugo

    Mnsterberg, Elton Mayo e outros, ocupavam-se sobretudo com o

    ajustamento do trabalhador ao processo de produo em curso, na

    medida em que o processo era projetado pelo engenheiro industrial

    (BRAVERMAN, 1981, p. 74).

    Taylor (1995), ao tratar da procura de homens eficientes para o trabalho,

    enfatiza a necessidade de treinamento e formao, negando a tese, at ento

    defendida, de que as pessoas certas deveriam ser encontradas para os lugares

    certos.

    A meno a treinamento representa uma mudana na relao de trabalho na

    poca, pois, no incio da Revoluo Industrial, trabalhava-se at quinze horas

    por dia, mas apesar desse ritmo, existiam necessidades de treinamento que

    deveriam ser supridas (TAYLOR, 1995, p. 22).

    O trabalhador procurado por todos era o homem eficiente, j formado: o

  • 33

    homem vindo preparado por outras empresas. Taylor (1995) enfatizava que

    esse procedimento no seria adequado. O caminho correto para a eficincia

    nacional, seria despertar nos administradores o interesse em cooperar,

    sistematicamente, no treinamento e formao dessas pessoas, em vez de tir-

    las de outras firmas que tiveram o cuidado de prepar-las para determinada

    funo.

    No passado, a idia predominante sobre a eficincia do trabalhador era

    expressa nesta frase: Os chefes das indstrias nascem, no se fazem. Da

    surge a teoria de que, tendo sido encontrado o homem adequado para o lugar,

    os mtodos deviam ser, a ele, incondicionalmente confiados. No futuro,

    prevalecer a idia de que nossos lderes devem ser to bem treinados quanto

    bem nascidos (TAYLOR,1995, p. 22, grifo nosso).

    Alm da preocupao com o treinamento, Taylor (1995, p.23), quando

    escreveu sobre os sistemas de organizao disse: No passado, o homem

    estava em primeiro lugar; no futuro, o sistema ter a primazia. Isso, entretanto,

    no significa, absolutamente, que os homens competentes no sejam

    necessrios.

    Taylor usou o termo administrao cientfica em seus escritos porque, para ele,

    a administrao deveria ser estudada cientificamente (CHIAVENATO, 1999, p.

    38).

    Primeiro Para indicar, por meio duma srie de exemplos, a enorme

    perda que o pas vem sofrendo com a ineficincia de quase todos os

    nossos atos dirios. Segundo Para tentar convencer o leitor de que

    o remdio para esta ineficincia est antes na administrao que na

    procura do homem excepcional ou extraordinrio. Terceiro Para

    provar que a melhor administrao uma verdadeira cincia, regida

    por normas, princpios e leis claramente definidos, tal como uma

    instituio. Alm disso, para mostrar que os princpios fundamentais

    da administrao cientfica so aplicveis a todas as espcies de

    atividades humanas, desde nossos atos mais simples at o trabalho

    nas grandes companhias, que reclamava a cooperao mais

  • 34

    apurada. E, em resumo, para convencer o leitor, por meio de uma

    srie de argumentos, de que corretamente aplicados estes princpios,

    os resultados obtidos sero verdadeiramente assombrosos (TAYLOR,

    1995, p.23).

    Daft (1999, p.25) cita Taylor o qual preconizava que as decises baseadas em

    regras de lealdade e tradio deveriam ser substitudas por procedimentos

    desenvolvidos aps estudos sobre os processos do trabalho.

    Taylor tambm trabalhou com outros pesquisadores que, como ele,

    procuravam entender os processos da diviso do trabalho. Entre eles: Henry

    Gantt, Frank B. e Lillian M. Gilbreth. Frank Gilbreth tornou-se conhecido por

    sua procura por one best way (o melhor caminho, traduo nossa) (DAFT,

    1999, p.25).

    O estudo de Gilbreth sobre pedreiros foi utilizado por Taylor no seu livro -

    Principles of Scientific Management - para esclarecer que o aumento da

    produo no pode ser obtido somente pela administrao por iniciativa e

    incentivo. Esse tipo de procedimento consistia em abandonar a soluo do

    problema de administrao das tarefas dirias do operrio, remunerando

    melhor aquele que conseguisse o melhor resultado. Taylor (1995, p.31) afirma

    que a soluo estaria no uso dos quatro elementos que constituem a essncia

    da administrao cientfica que so:

    Primeiro O desenvolvimento (pela direo e no pelo operrio) da

    cincia de assentar tijolos, com normas rgidas para o movimento de

    cada homem, aperfeioamento e padronizao de todas as

    ferramentas e condies de trabalho. Segundo A seleo cuidadosa

    e subseqente treinamento dos pedreiros entre os trabalhadores de

    primeira ordem, com a eliminao de todos os homens que se

    recusam a adotar os novos mtodos, ou so incapazes de segui-los.

    Terceiro Adaptao dos pedreiros de primeira ordem cincia de

    assentar tijolos, pela constante ajuda e vigilncia da direo, que

    pagar, a cada homem, bonificaes dirias pelo trabalho de fazer

    depressa e de acordo com as instrues. Quatro Diviso eqitativa

  • 35

    do trabalho e responsabilidades entre os operrios e a direo...

    No se deve esquecer de que acima de toda essa organizao deve

    estar um chefe otimista, enrgico e esforado que saiba to

    pacientemente esperar quanto trabalhar.

    Estes princpios esto apoiados na teoria de que o trabalhador conhece e

    desenvolve melhores tcnicas de trabalho, mas elas no seriam utilizadas se

    no fossem percebidas por ele mesmo como benefcio. O trabalhador

    guardaria esses conhecimentos para si e no desenvolveria uma cincia para

    transmitir a outros sua experincia de forma a torn-la propriedade pblica.

    Esse seria mais um argumento para reforar a necessidade da gerncia e do

    estudo dos processos de modo a assegurar o controle e o barateamento dos

    trabalhos. Ao capitalista no bastava ser proprietrio do capital, ele queria

    tornar-se proprietrio do trabalho (BRAVERMAN, 1981, p. 106 107).

    Daft (1999, p.26) resume os quatro princpios de Taylor para a implementao

    da administrao cientfica como: padronizao do trabalho; seleo de

    trabalhadores com habilidades para cada atividade; treinamento dos

    trabalhadores nos mtodos padronizados; apoio de planejadores ao trabalho

    buscando eliminar interrupes e incentivos salariais pelo aumento da

    produo.

    Taylor (1995), porm, no reconheceu as diferenas individuais, porque de

    modo geral, considerava os trabalhadores desinformados, com idias e

    sugestes desconsiderveis, como tambm no deu importncia ao contexto

    social do trabalho.

    A adoo generalizada da administrao cientfica poder, no futuro,

    prontamente dobrar a produtividade do homem mdio, empregado no

    trabalho industrial. Avalie-se o que isso significa para todos: aumento

    das coisas necessrias e de luxo, seu uso em todo o pas,

    encurtamento do perodo de trabalho quando isto for desejvel,

    crescentes oportunidades de educao, cultura e recreao que tal

    movimento implica. Enquanto todo o mundo aproveita com este

    aumento de produo, o industrial e o operrio vero crescer seus

  • 36

    benefcios. A administrao cientfica significar, para os patres e

    operrios que a adotarem e particularmente para aqueles que a

    implantaram, em primeiro lugar a eliminao de todas as causas de

    disputa e desentendimento entre si (TAYLOR, 1995, p.102).

    Na Frana, o contemporneo de Taylor, Henri Fayol (1841-1925) tambm

    buscava a eficincia das organizaes, porm, com outro enfoque. Fayol

    pensava a organizao como um todo e considerava que as sees e

    departamentos possuam pessoas como ocupantes de cargos (CHIAVENATO,

    1999, p. 41).

    Enquanto na administrao cientfica de Taylor, o objetivo era a produtividade

    do trabalhador, controlando os mtodos e processos, nos princpios

    administrativos de Fayol, o objetivo era a organizao. Isto est claramente

    demonstrado pela forma como ele se preocupa em definir as necessidades

    administrativas em todos os nveis hierrquicos de uma organizao.

    Fayol desde o comeo de sua carreira na Socit Anonyme de Commentry-

    Four-chambault et Decazeville, empresa que dirigiu entre 1888 a 1918,

    interessava-se por organizar o pessoal, de forma racional. Ele tomava notas

    dirias dos fatos que chamavam a sua ateno, notas essas que se tornaram,

    mais tarde, o livro Administrao Industrial e Geral.

    Com particular cuidado, Fayol definiu a funo direcional, compreendendo a

    necessidade de bons chefes. Com o advento da Primeira Grande Guerra, a

    teoria de Fayol encontrou campo frtil e se popularizou, recebendo o nome de

    fayolismo.

    Mesmo no conhecendo Taylor, Fayol (1994, p. 91, p.94), discute suas idias

    dessa forma:

    Isto no fcil: para alguns a direo do trabalho dos operrios

    baseada no estudo atento e minucioso do tempo e dos movimentos;

    para outros, o processo de corte rpido do ao, so os mtodos de

  • 37

    contabilidade e o de remunerao etc. Provavelmente um pouco de

    tudo isso; mas parece-me que sobretudo o que Taylor chamou a

    organizao cientfica ou administrativa... ...Tal o sistema de

    organizao preconizado por Taylor para a direo das oficinas de

    uma grande empresa de construo mecnica. Ele se baseia nas

    duas idias seguintes: a necessidade de fortalecer os chefes de

    oficina e os contramestres por um estado-maior; a negao do

    princpio da unidade de comando. Assim como a primeira me parece

    boa, parece-me falsa e perigosa a segunda.

    No incio do sculo XX, Fayol (1994, p.65-130) estabeleceu princpios que so

    utilizados, atualmente, tais como: unidade de comando - cada subordinado

    deve receber ordem somente de uma pessoa, se dois ou mais chefes tm

    autoridade sobre o mesmo subordinado, cria-se uma situao de mal-estar;

    unidade de direo - as atividades correlacionadas devem ser agrupadas sob a

    responsabilidade de um gerente, no se deve confundir unidade de direo

    com unidade de comando. Na unidade de direo h um s chefe e somente

    uma direo a ser seguida para todas as atividades correlatas; na unidade de

    comando, existe um s chefe; diviso do trabalho - prega que o gerenciamento

    de tcnicas de trabalho deve ser funo de especialistas porque ao adquirir

    maior conhecimento do trabalho, tendem a faz-lo melhor; hierarquia - escala

    dos chefes dentro da organizao, desde aqueles de menor poder de deciso

    at os de maior escalo. Neste item, Fayol pede respeito hierarquia e

    ressalta que a necessidade de realizar tarefas dirias, com rapidez e eficincia,

    no impede o cumprimento dessa norma.

    Ao contrrio do enfoque adotado por Taylor, que estudou a gerncia de cho

    de fbrica, os escritos de Fayol adotam a mdia e a alta gerncia como

    principais objetos de estudo, uma vez que retira os problemas do executor e os

    leva para um nvel superior. A este procedimento Fayol deu o nome de

    Administrao Clssica.

    Fayol (1994) concentrava sua ateno na direo da organizao, ou seja, nos

    problemas de interesse geral, enquanto Taylor se preocupava com solues

  • 38

    tcnicas para o trabalho, mas ambos, de forma distinta, buscavam solues

    para a fora de trabalho.

    O objetivo principal do estudo de Fayol (1994) sustentar sua tese de que as

    escolas do incio do sculo XX deveriam dar mais nfase administrao.

    Aps conceituar administrao, ele apresenta um mtodo de reflexo para

    demonstrar o quanto ela importante nos vrios nveis hierrquicos de uma

    organizao.

    De acordo com Fayol, os nveis hierrquicos mais baixos exigem maior

    conhecimento tcnico, e quanto mais se chega ao topo da pirmide

    hierrquica, necessita-se de mais conhecimentos administrativos do que

    tcnicos (FAYOL, 1994, p.27).

    Fayol lutou para demonstrar a necessidade do estudo de administrao em

    uma poca onde ela nem figurava no currculo das escolas de engenharia.

    Escreveu:

    necessrio, pois, esforar-se para inculcar as noes

    administrativas em todas as classes sociais. A escola desempenhar,

    evidentemente, papel considervel nesse ensino. O dia em que a

    administrao constituir parte do ensino, os professores das escolas

    superiores sabero, naturalmente, organizar de modo adequado o

    plano desse curso (FAYOL, 1994, p.39).

    Fayol (1994) trouxe um questionamento para discusso: Ser que a

    capacidade administrativa somente se consegue com a prtica?

    muito interessante perceber que mesmo vivendo em diferentes continentes,

    tanto Taylor quanto Fayol identificaram a necessidade de treinamento e

    educao para a evoluo da administrao e, conseqentemente, do trabalho.

    As mudanas no trabalho so evidentes na obra de Fayol quando, por

    exemplo, na segunda parte de seu livro, descreve os princpios da

  • 39

    administrao: Prever, Organizar, Comandar, Coordenar e Controlar. Como o

    objetivo de Fayol era formar o chefe, ele sugere que todo agente que se torne

    incapaz de exercer bem a sua funo deve ser excludo e, mais adiante, ele

    indica que o bom exemplo do chefe em pontualidade e coragem influenciar os

    subordinados a incorporar estas virtudes.

    Braverman, discutindo as mudanas introduzidas no trabalho por Taylor, entre

    elas, a diviso do trabalho e a definio de um timo dia de trabalho, afirma

    que os capitalistas queriam tornar o trabalho parte do capital, e ao dividi-lo e

    definir uma carga horria para o trabalhador, a extremos quase desumanos,

    tornaram-no mais barato, embora isso acarretasse danos sade dele

    (BRAVERMAN, 1981, p. 78 121).

    Esses fatos causaram uma reao dos trabalhadores que foi expressa pelos

    sindicatos da poca dessa forma:

    A destruio dos ofcios durante o perodo de surgimento da gerncia

    cientfica no passou desapercebida aos trabalhadores. Na verdade,

    via de regra os trabalhadores ficam muito mais cnscios de tal perda

    quando ela se d do que depois que aconteceu e que as novas

    condies de produo se tornaram generalizadas. O taylorismo

    desencadeou uma tempestade de oposio entre os sindicatos

    durante os primeiros anos deste sculo; o que mais digno de nota

    sobre esta primeira oposio que ela se concentrava no nos

    acessrios do sistema de Taylor, como a cronometragem e estudo do

    movimento, mas no seu esforo essencial para destituir os

    trabalhadores do conhecimento do ofcio, do controle autnomo, e

    imposio a eles de um processo de trabalho acerebral no qual sua

    funo a de parafusos e alavancas (BRAVERMAN, 1981, p. 121).

    Alm de Taylor, com os mtodos para aumento de produo, e de Fayol, com

    seus ensinamentos para aqueles que recebem a funo de administrar dentro

    das organizaes, Daft (1999, p.25) cita que Weber introduziu a maior parte

    dos conceitos das organizaes burocrticas. Com a teoria de Weber, a

    burocracia passa a ser vista como instrumento da administrao, pois ele

  • 40

    acreditava que a organizao apoiada na autoridade racional seria mais

    eficiente e adaptvel. Tambm a organizao racional seria baseada em regras

    e padres pr-estabelecidos e na impessoalidade, conceitos estes da chamada

    Teoria da Burocracia da administrao.

    2.1.5 A Escola Burocrtica

    Oliveira (1999a, p. 38-49) utiliza as consideraes empricas e tericas de

    Weber para descrever os elementos da estrutura burocrtica das organizaes.

    A burocracia, ao mesmo tempo em que serve para otimizar o dia-a-dia do

    trabalho, ao normatizar as tarefas, ao criar a hierarquia organizacional, ao

    eliminar o posicionamento pessoal das chefias, descrevendo o papel de cada

    funo, tambm reconhece que a rigidez de comportamento impede a

    criatividade e a iniciativa.

    A burocracia e sua anlise funcional apresentam o modo como cada indivduo,

    dentro da organizao, contribui para atingir os objetivos organizacionais.

    Porm, dentro da organizao burocrata, h perturbaes sociais dissimuladas

    que podem apresentar uma integrao que, na verdade, inexistente, ao no

    apresentar os conflitos. A falta da neutralidade dos executivos outra

    perturbao das organizaes produtivas (OLIVEIRA, 1999a, p. 38-49).

    De forma diversa de Fayol e Taylor que, particularmente, estavam

    preocupados em descrever e melhorar os processos na indstria, Weber, como

    socilogo, ao conceber seu modelo, pensou nas organizaes de forma geral.

    Para ele, a burocracia a organizao racional e eficiente (KWASNICKA,

    1995, p. 31).

    Weber (1991, p. 128) no discute a indstria e sim a dominao legtima, ou

    seja, a probabilidade de encontrar obedincia a um determinado mandato que

    pode fundar-se: no puro afeto, no mero costume ou pode residir em

  • 41

    interesses por parte daquele que obedece. A esse tipo de dominao, baseada

    em interesses, Weber chama de legal, porque estaria vinculada a um

    estatuto, por isso seria burocrtico.

    Obedece-se no a pessoa em virtude de seu direito prprio, mas

    regra estatuda, que estabelece ao mesmo tempo a quem e em que

    medida se deve obedecer. Tambm quem ordena obedece, ao emitir

    uma ordem, a uma regra: lei ou regulamento de uma norma

    formalmente abstrata. O tipo daquele que ordena o superior, cujo

    direito de mando est legitimado por uma regra estatuda, no mbito

    de uma competncia concreta, cuja delimitao e especializao se

    baseiam na utilidade objetiva e nas exigncias profissionais

    estipuladas para a atividade do funcionrio (WEBER, 1991, p. 129).

    Para Weber, a burocracia apresentava seis dimenses:

    1. diviso do trabalho: sistemtica diviso do trabalho para permitir

    especializao;

    2. hierarquia do trabalho: organizao e remunerao dos cargos de

    acordo com uma hierarquia;

    3. regulamentao: normas e regras escritas permitiriam

    coordenao e uniformidade dos procedimentos;

    4. comunicaes formalizadas: todas as comunicaes deveriam ser

    escritas;

    5. impessoalidade: nfase colocada nos cargos e no em seus

    ocupantes;

    6. competncia profissional: a carreira deveria ser baseada na

    competncia, a qual poderia ser avaliada atravs de provas

    (CHIAVENATO, 1999, p. 44).

    Tanto Kwasnicka (1995, p. 31) como Chiavenato (1999, p. 44) identificam que,

    novamente, a evoluo dos tempos e o desenvolvimento do ambiente do

    trabalho tomaram o lugar da burocracia na administrao. A falta de

    flexibilidade e a impessoalidade da burocracia no sobreviveram moderna

    economia instvel que, ao contrrio desta teoria, exige dinamismo, inovao,

  • 42

    flexibilidade e criatividade dos seus administradores.

    2.1.6 Fordismo

    Contemporneo de Taylor, Henry Ford (1863-1947) utilizou suas teorias na

    indstria. Enquanto Taylor focou seus estudos no trabalho humano, Ford, como

    empresrio, preocupou-se com a economia de tempo e material, com a diviso

    de trabalho e pesquisou a teoria de Adam Smith.

    Antunes (2000, p. 2146) entende a participao de Ford no trabalho da

    seguinte forma:

    Iniciamos, reiterando que entendemos o fordismo fundamentalmente

    como a forma pela qual a indstria e o processo de trabalho

    consolidaram-se ao longo deste sculo, cujos elementos constitutivos

    bsicos eram dados pela produo em massa, atravs da linha de

    montagem e de produtos mais homogneos; atravs do controle dos

    tempos e dos movimentos pelo cronmetro taylorista e da produo

    em srie fordista; pela existncia do trabalho parcelar e pela

    fragmentao das funes; pela separao entre elaborao e

    execuo no processo de trabalho; pela existncia de unidades fabris

    concentradas e verticalizadas e pela constituio/consolidao do

    operrio-massa, do trabalhador coletivo fabril, entre outras dimenses

    (ANTUNES, 2000, p. 25)

    O fordismo possibilitou grandes mudanas no processo de trabalho como: o

    trabalho em srie, o consumo em massa e o aumento real dos salrios

    mediante o incremento da produo (MARQUES, 1997, p. 22-88).

    Ao mesmo tempo em que o taylorismo/fordismo parecia beneficiar o

    trabalhador, ele o destitua de qualquer participao na organizao do

    processo produtivo, limitando-o a uma atividade repetitiva e sem sentido

    (ANTUNES, 2002, p. 205).

  • 43

    Moreira (2000, p. 1) entende assim o taylorismo:

    O trabalhador, seja sob que circunstncia se encontre, mesmo que

    tenha vivido sob o jugo de uma administrao desptica, nunca

    totalmente extirpado de seu poder criador. Os macetes do ofcio,

    passados de gerao para gerao de trabalhadores, so uma prova

    disto. Atravs deles pode-se prever o que as mquinas no podem

    antecipar. o saber advindo do cotidiano, do concreto, do vivido que

    marca a trajetria histrica da luta dos trabalhadores contra o

    aniquilamento da natureza humana. esse tambm o diferencial que

    faz com que o trabalho mecanizado, repetitivo possa ser suportado.

    2.1.7 A Escola das Relaes Humanas

    A Teoria das Relaes Humanas surgiu no cenrio industrial porque se tornou

    evidente que a administrao e o trabalho no se desenvolveriam se no

    passassem a considerar o homem como um todo e no, apenas, como pea

    humana (MAXIMIANO, 2000, p. 65).

    Essa abordagem surgiu com a experincia de Hawthorne, realizada na

    Companhia Western Electric entre 1930 e 1940. Dois grupos de trabalhadores

    foram selecionados para experimentar o efeito da iluminao na produtividade.

    Em um grupo, chamado de controle, mantiveram o ambiente com uma

    iluminao invarivel; no outro, a iluminao foi aumentada. Como os

    pesquisadores esperavam, o grupo em cujo ambiente a iluminao foi

    intensificada, houve um aumento de produtividade, porm o mesmo resultado

    ocorreu com o grupo de controle. Diminuiu-se, ento, a iluminao do grupo de

    teste, e a produo, novamente, aumentou, ocorrendo o mesmo efeito com o

    grupo de controle onde a iluminao no havia variado (OLIVEIRA, 1999a, p.

    50 57).

    Como a pesquisa no apresentou concluso alguma, contrataram outro

  • 44

    pesquisador, Elton Mayo, de Harvard. Mudaram o grupo e o mtodo de

    pesquisa para tentar chegar a alguma concluso. Novamente, nada foi

    observado no ambiente de trabalho que relacionasse condies fsicas e a

    produtividade. Com isso, passou-se a perceber que o psicolgico e o

    sociolgico do trabalhador, como a influncia do grupo social no qual ele est

    inserido, so decisivos na produtividade (OLIVEIRA, 1999a, p. 50 57).

    Oliveira (1999a, p. 54) assim resume as concluses tiradas desta pesquisa:

    O Inqurito de Hawthorne permitiu pela primeira vez um

    conhecimento mais profundo sobre a organizao do trabalho

    superando o taylorismo, ao mostrar que as relaes que ligam a

    indstria s suas atividades de trabalho envolvem uma complexa

    relao social. Os estudos feitos em Harvard demonstraram que a

    eficincia no trabalho est condicionada pelos setores de natureza

    no apenas econmica, mas tambm por questes de ordem poltica,

    moral, social e de qualidade de vida no trabalho.

    O mundo do trabalho percorreu um caminho evolutivo cuja responsabilidade se

    deve soma de diversas teorias que se iniciaram com a linha de produo de

    Ford, seguindo com a aplicao dos conceitos de Taylor, acrescidos com a

    percepo da necessidade de boas relaes humanas no ambiente de

    trabalho, at chegar ao modelo japons ou toyotismo que possui como foco

    principal a participao dos trabalhadores nos processos da organizao.

    2.1.8 A Escola Neoclssica da Administrao

    Novamente, o mundo do trabalho se transforma a partir das mudanas

    administrativas tais como: as relaes humanas, a anlise das crticas

    burocracia, o desenvolvimento tecnolgico e os estudos do envolvimento do

    ambiente nas organizaes.

    Foram responsveis por essas transformaes: a Teoria Estruturalista - trouxe

  • 45

    a contribuio da sociologia, estudando a organizao formal e, tambm,

    passou a incorporar a organizao informal; a Teoria Neoclssica- trabalhou

    com a descentralizao.

    O principal conceito trazido por essas teorias foi a chamada administrao por

    objetivos que aproveitou todas as contribuies das teorias anteriores

    (CHIAVENATO 1999, p. 48-62).

    Outra contribuio importante desse perodo tem suas razes na psicologia: a

    Teoria Comportamental ou Behaviorismo.

    A Teoria Comportamental indica uma forte influncia da psicologia

    organizacional sobre a teoria administrativa. Ela trouxe novos conceitos sobre

    motivao, liderana, dinmica de grupo, processo decisrio, comportamento

    organizacional entre outros, dando novos rumos teoria administrativa.

    Da Teoria Comportamental surgiu o Desenvolvimento Organizacional (DO),

    que focaliza a mudana cultural como base para a mudana organizacional

    (CHIAVENATO 1999, p. 48-62, p.185).

    A Teoria de Sistemas demonstra que nenhuma organizao tem uma vida

    independente, ao contrrio, ela necessita de outras das quais recebe insumos

    e os transforma em produtos, colocando-os no mercado. J a Teoria da

    Contingncia demonstrou que as organizaes bem-sucedidas eram aquelas

    que conseguiam adaptar-se e ajustar-se, continuamente, s novas demandas

    (CHIAVENATO 1999, p. 48-62).

    O Modelo Japons ou Toyotismo incorporou todas essas teorias, tornando-se

    referncia para o mundo do trabalho.

    O Japo, ps-Segunda Guerra Mundial, estava arrasado. Apenas Kyoto tinha

    escapado da devastao e sua indstria estava em runas. Nesse contexto, em

    1947, o Comando Supremo das Potncias Aliadas resolveu recrutar um

  • 46

    cientista americano, o Sr. W. Edwards Deming1, para ajudar a preparar o censo

    japons de 1951.

    O Dr. Deming, aproveitando esse seu perodo no Japo, passou a freqentar a

    Unio dos Cientistas e Engenheiros Japoneses, um grupo formado por

    engenheiros e cientistas responsveis pela reconstruo do pas.

    As idias de Deming sobre administrao e estatstica serviram como base

    para a mudana na qualidade dos produtos japoneses cuja reputao era

    deplorvel. Naquela poca, ter gravado MADE IN JAPAN em algum produto

    significava que ele era de m qualidade. Mais tarde, Deming denominou esse

    fato de patrimnio lquido negativo.

    A importncia de Deming, no Japo, foi de tal tamanho que, em 1951, foi

    institudo o Prmio Deming. Em 1985, ele foi concedido pela 35 vez, com a

    cerimnia de entrega televisionada (WALTON, 1989, p. 9-22).

    Nesse ambiente japons ps-Segunda Guerra Mundial, o engenheiro Taiichi

    Ohno, na Toyota, desenvolveu o toyotismo com o objetivo de atingir um novo

    mercado consumidor formado no perodo ps-guerra que, embora fosse menor,

    era mais exigente. Pretendia-se fornecer apenas a quantidade que o mercado

    consumia, e no produzir grandes quantidades, estoc-las e depois vend-las

    como era o modelo taylorista/fordista (OHNO, 1997, p. 87-119).

    O toyotismo fundamenta-se no trabalho em equipe e multifuncional, ao invs do

    trabalho individual e nico do modelo Taylor/Ford, na automao e no just-in-

    time (OHNO, 1997, p. 91-94). Segundo Ohno, a idia desse modelo foi

    inspirada nos supermercados norte-americanos, onde os clientes procuravam o 1 William Edwards Deming, nascido em 14/10/1900. Formou-se na Universidade de Wyoming.

    Fez mestrado de fsica e matemtica na Universidade do Colorado e Ph.D. em fsica em Yale.

    Trabalhou no Ministrio da Agricultura dos Estados Unidos, onde criou tcnicas de

    amostragem. Durante a Segunda Guerra Mundial ensinou mtodos de Controle Estatstico de

    Qualidade (CEQ).

  • 47

    produto desejado no momento da necessidade e quase que imediatamente

    esse produto era reposto (OHNO, 1997, p. 44-45).

    Desta idia bsica, criaram-se o just-in-time2 e o kanban3, sistemas que

    possibilitam produzir o que o cliente comprou no tempo da compra.

    Sobre o just-in-time, o Dr. Deming afirma que: muitos fabricantes americanos

    esto tentando comear a adotar a produo just-in-time, sem saber que este

    processo demora anos. o resultado final, antes de mais nada, de coisas

    feitas corretamente (WALTON, 1989, p.80).

    O toyotismo, ao contrrio das empresas verticalizadas do fordismo, adota

    empresas horizontalizadas, ou seja, empresas terceiras que produzem o que

    no especialidade da empresa p