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PADRE ANTÓNIO VIEIRA Sermão de Santo António aos Peixes

O sermão aspetos gerais

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Page 1: O sermão aspetos gerais

PADRE ANTÓNIO VIEIRA

Sermão de Santo António aos Peixes

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Conceito predicável

• É o texto bíblico com sentido figurado que serve de tema e que irá ser desenvolvido, de acordo com a intenção e os objetivos do autor, ao longo do sermão:

–«Vós sois o sal da terra.»

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A partir do conceito

predicável, que ideias

desenvolve o orador

que o levam a chegar

ao cerne do sermão,

isto é, à crítica aos

homens feita por

intermédio dos peixes?

Page 4: O sermão aspetos gerais

No capítulo I

• O orador afirma que, apesar de haver muito sal (muitos pregadores), a terra do Maranhão está cheia de pecadores, portanto a doutrina não está a produzir os seus efeitos.

Page 5: O sermão aspetos gerais

Ainda no capítulo I

• O Padre evoca o episódio de

Santo António em Arimino,

quando, vendo que os homens

não o escutavam por serem,

também, gente pecaminosa,

se dirige aos peixes.

Page 6: O sermão aspetos gerais

A concluir o capítulo I

• Vieira considera que, à

semelhança de Santo António,

deve dirigir a sua prédica aos

peixes, pois também a ele os

homens não ouvem.

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No capítulo II

• O orador expõe ao auditório a estrutura do desenvolvimento do seu sermão:

• Louvores aos peixes; –em geral (Capítulo II)

–em particular (Capítulo III)

• Repreensões aos peixes: –em geral (Capítulo IV)

–em particular (Capítulo V)

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Ainda no capítulo II

• Inicia os elogios, referindo o

carácter benigno dos peixes

e contrastando-o com a

natureza maléfica dos

homens.

Page 9: O sermão aspetos gerais

Que críticas são

feitas aos homens

com o pretexto de

louvar os peixes?

Page 10: O sermão aspetos gerais

Capítulo II

• Se os peixes são quietos,

obedientes e capazes de escutar

a palavra do sacerdote, os

homens são viciosos, violentos,

incapazes de ouvir com

humildade as palavras dos santos

(por exemplo, de Santo António).

Page 11: O sermão aspetos gerais

Capítulo II

• Os peixes são devotos e sensatos, ao passo que os homens são furiosos, obstinados, irracionais, violentos para com aqueles que os chamam à razão, o que é um contrassenso, dado que se autodesignam como «animais racionais».

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Capítulo II

• Jonas é o exemplo bíblico que confirma esta superioridade dos peixes sobre os homens: pois estes lançaram o pregador ao mar, enquanto os peixes o recolheram e voltaram a depositar em terra, para que cumprisse a sua missão de sacerdote.

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Capítulo II

• Segundo Vieira, o homem é tão

nefasto para os outros seres que

o melhor é que os peixes vivam

bem apartados dele, pois o

convívio humano implica

necessariamente subjugação,

exploração, humilhação.

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Capítulo II

• A ilustração bíblica desta crítica

reside no Dilúvio, que fez

perecer todas as espécies

animais exceto os peixes, os

quais, vivendo noutro elemento,

conseguiam escapar à nefasta

influência dos humanos.

Page 15: O sermão aspetos gerais

No Capítulo III

• São tecidos louvores específicos : –ao peixe de Tobias (que cura a

cegueira e afasta os espíritos malignos);

–à rémora (guia espiritual);

–ao torpedo (poderoso alerta moral);

–ao quatro-olhos (clarividência no caminho da virtude e da religião);

–à sardinha (sustento dos pobres).

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Esta secção do

Sermão constitui a

explicitação de

modelos morais para

os homens através

da exemplificação

alegórica dos peixes.

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Capítulo IV

• A principal crítica feita aos

peixes é a de se comerem uns

aos outros.

Page 18: O sermão aspetos gerais

Que críticas aos

homens se extraem

dessa censura e de

que forma

particularmente

sardónica são

tecidos os reparos?

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Capítulo IV

• A forma particularmente sardónica de desferir a crítica consiste no jogo da inversão do sermão: diz o Padre que para criticar os peixes, vai usar como exemplo os homens; mas o único alvo que pretende atingir é sempre e só os humanos, nesta parte de forma mais intensa ainda.

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Capítulo IV

• E através da expansão do campo semântico do verbo «comer», são postas a nu as mais diversas práticas humanas de exploração e abuso.

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Capítulo IV

• A extorsão económica feita a

um «defunto» por toda uma

cadeia de oportunistas, desde

o cangalheiro à mulher do

morto.

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Capítulo IV

• A prepotência e a violência persecutória com que o sistema judicial aflige as vítimas da justiça, que ainda antes de serem sentenciadas já foram privadas de todos os seus recursos, de todos os seus direitos, de toda a sua dignidade.

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Capítulo IV

• A intensificação da crítica é conseguida, ainda, através da caracterização gradativa do modo de «comer»:

–Os grandes comem os pequenos;

–Comem-nos não de forma moderada ou esporádica, mas sistemática e massivamente: todos os dias e em grande quantidade.

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Capítulo IV

• Deduz-se que o Padre António Vieira visa os poderosos do seu tempo, que exploram de uma forma ostensiva, escabrosa e sem escrúpulos os que pertencem a grupos sociopolíticos desfavorecidos.

Page 25: O sermão aspetos gerais

Capítulo IV

• Na perspetiva do Padre António Vieira, os pecados dos peixes/homens seriam escusados, pois no mundo existem condições para que todos possam satisfazer o seu apetite sem ter de lesar o próximo.

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Capítulo IV

• E a prova disso está no episódio bíblico do Dilúvio, durante o qual os animais das mais variadas espécies conviveram uns com os outros sem se comerem, respeitando a natureza alheia.

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Capítulo IV

• Os outros defeitos genéricos atribuídos aos peixes nesta passagem são a cegueira/ignorância e a vaidade, com um exemplo retirado da atividade militar e outro da atividade comercial.

Page 28: O sermão aspetos gerais

Capítulo V

• Particularizam-se as críticas aos peixes, exemplificando com:

–Os roncadores (soberba, vaidade, arrogância, abuso de poder);

–Os pegadores (oportunismo, dependência);

–Os voadores (ambição);

–O polvo (hipocrisia, traição).

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Capítulo VI

• O Padre António Vieira conclui o sermão com um novo paralelismo entre peixes e homens: ambos chegam «mortos» ao altar: os primeiros no sentido literal; os segundos em sentido figurado, simbolizando o estado de pecado das almas humanas.

Page 30: O sermão aspetos gerais

Capítulo VI

• Assumindo uma postura de

humildade, reconhece a

superioridade dos peixes em

relação aos homens e,

concretamente, em relação a

si próprio.

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Capítulo VI

• Termina com um apelo ao seu

auditório para que, com ele,

louve a Deus e reconheça que

a natureza o dotou de muitas

e variadas bênçãos.

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Capítulo VI

• A última frase do sermão pode ser interpretada como mais uma estocada aos homens: «Como não sois capazes de glória, nem de graça, não acaba o vosso sermão em graça e glória.»