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O Trabalho Autônomo e a Política de Inclusão Previdenciária
dos Microempreendedores Individuais – MEI 1
Juliana Bacelar de Araújo
Milena A. P. Prado
Introdução
O desenvolvimento econômico brasileiro notabilizou-se pela incapacidade de o núcleo
mais dinâmico da economia incorporar, de maneira adequada, a maioria da força de trabalho
nacional. Dessa forma, além do assalariamento consolidaram-se, no país, diversas formas de
inserção ocupacional (com destaque para o trabalho por conta própria) em setores
econômicos também bastante diversos em termos de produtividade. São nesses termos que se
pode afirmar que o mercado de trabalho nacional ainda é pouco estruturado e bastante
heterogêneo, configuração que não encontra paralelo no mundo capitalista desenvolvido
(DIEESE, 2011).
Esse estudo traz uma breve análise da inserção ocupacional dos trabalhadores por
conta própria os quais se caracterizam pela não subordinação a um empregador. Essa forma
1 Nota do SOS CORPO - Este Estudo integra o Projeto Desenvolvimento, Trabalho e Autonomia Econômica na
Perspectiva das Mulheres Brasileiras, realizado pelo SOS CORPO – Instituto Feminista para a Democracia, com
o apoio do IDRC – Centro Internacional de Desenvolvimento e Pesquisa do Canadá, e em parceria com o
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA e a Rede de Desenvolvimento Humano – REDEH. O Projeto é
composto por estudos de políticas públicas e de uma pesquisa qualitativa com mulheres inseridas em
trabalhos precários em três contextos no Brasil: Barcarena, Pará; Toritama, Pernambuco; e Região
Metropolitana de São Paulo, São Paulo.
Economista pela UFPE, mestra em desenvolvimento econômico pela
UNICAMP e doutoranda em desenvolvimento econômico - IE/UNICAMP.
Economista pela UFU e mestra em economia pela UFPE.
de inserção possui denominações diferenciadas dependendo das bases metodológicas as quais
se recorrem para investigar esse tipo de fenômeno. Nas pesquisas do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatísticas (IBGE), tais atividades são chamadas de “trabalho por conta própria” e,
na Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), produzida pela Fundação Seade, Dieese e
parceiros regionais, de “trabalho autônomo”. Apesar das diferenças semânticas e até mesmo
metodológicas de apuração das formas de inserção ocupacional nos principais mercados
metropolitanos do país, neste estudo utilizam-se de maneira indistinta, estas terminologias
para se referir aos trabalhadores que tem liberdade de exploração do seu negócio ou ofício,
podendo contar ou não, com a ajuda de terceiros. Com relação a essa definição é preciso
ressaltar dois aspectos importantes. O primeiro refere-se ao fato de que tais negócios ou
ofícios não estão relacionados às atividades compatíveis com a formação universitária dos
trabalhadores que as exercem, cuja situação é compreendida pela condição de profissionais
liberais (médicos, advogados, dentistas, entre outros), os quais podem contar com até dois
empregados remunerados, no exercício da atividade laboral.4
O segundo diz respeito ao próprio segmento dos trabalhadores autônomos,
constituído por pessoas que trabalham sozinhas no próprio negócio ou ofício (para o público
em geral ou para mais de uma empresa), ou seja, sem a separação entre o trabalho direto e a
gestão do negócio, podendo contar com a ajuda de um trabalhador familiar ou,
eventualmente, com algum ajudante remunerado por prazo determinado. Na prática, esse
segmento laboral está relacionado ao trabalhador autônomo mais tradicional, cujas ocupações
geralmente são precárias, devido à combinação de significativas jornadas de trabalho com
baixo padrão de rendimentos e ausência de mecanismos de proteção trabalhista e de
seguridade social.
Para a análise do perfil do trabalho autônomo ou por conta própria, a fonte de
informações aqui utilizada é da Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED, que é realizada
pelo DIEESE em parceria com a Fundação SEADE, MTE/FAT e convênios regionais em algumas
das principais regiões metropolitanas do país – Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife,
Salvador e São Paulo – no período de 2009 e 2013. Os dados da PED mostram que, apesar de
algumas singularidades, o perfil majoritário dos trabalhadores que atuam por conta própria é
4 Conforme metodologia da Pesquisa de Emprego e Desemprego, o profissional liberal que possui mais de
dois empregados subordinados a ele é classificado como empregador, segundo a sua forma de inserção ocupacional
no mercado de trabalho.
de um público com maior participação masculina, com 50 anos ou mais de idade e de
trabalhadores com os mais diferentes níveis de escolarização.
Na primeira parte, faz-se uma caracterização dos autônomos nos mercados de
trabalho metropolitanos. Embora os dados não sejam representativos para toda a realidade
brasileira, destacam-se algumas características observadas e comuns ao conjunto de
importantes regiões metropolitanas do país, entre elas, a maior presença feminina no trabalho
autônomo nas áreas metropolitanas nordestinas, regiões nas quais essa forma de inserção
apresentou maior peso.
A partir dos dados do Sistema PED, constatou-se que o trabalho autônomo é realizado
nos mais diferentes lugares, tanto em lugares fixos, como lojas, salas, galpões, e até mesmo
nas próprias residências dos trabalhadores quanto em lugares indefinidos, como as vias e os
espaços públicos. Uma breve caracterização dessas relações de trabalho mostra que esse
segmento do mercado de trabalho convive com extensas jornadas laborais, menor padrão de
rendimento e baixa proteção social.
Na segunda parte, buscou-se descrever a legislação de criação do programa
Microempreendedor Individual como política pública de inclusão à formalidade dos
trabalhadores autônomos e microempreendedores informais. O MEI envolve diferentes
agendas de governo e trata-se de uma ação de ampliação da proteção social dessa parcela
importante de trabalhadores caracterizados na primeira parte do presente estudo, os conta
própria ou autônomos. Em seguida, faz-se uma descrição da evolução recente das inscrições
no programa e um perfil desses microempreendedores individuais.
Considerando que o advento do Microempreendedor Individual (MEI) possa vir a ser
um passo importante como uma importante ação para equacionar o déficit das políticas
públicas para esse importante e expressivo contingente de trabalhadores, a partir da
experiência do MEI, o estudo busca verificar em que medida essa política pública contribuiu
efetivamente na ampliação da cobertura previdenciária desse segmento de frágil inserção
ocupacional nos mercados de trabalho regionais.
Na terceira e última parte são apresentadas as considerações finais.
1. O Trabalho Autônomo ou Conta Própria no contexto dos mercados de trabalho
metropolitanos
De modo geral, ao longo dos anos 2000, o mercado de trabalho brasileiro vivenciou
um processo intenso e contínuo de incremento do emprego formal. Nesse contexto, as formas
de inserção ocupacional que compõem a informalidade tiveram a participação em relação ao
total de ocupados reduzida, em termos relativos. No entanto, houve crescimento em números
absolutos, evidenciando a inter-relação com a dinâmica mais geral do mercado de trabalho e
as características do próprio processo de desenvolvimento capitalista brasileiro.
Os mercados de trabalho nas regiões acompanhadas pelo Sistema PED convergem
para uma mesma tendência de melhora, tanto para homens quanto para mulheres. Sob a ótica
ocupacional, todas as regiões registraram desempenho positivo no mercado de trabalho entre
2009 e 2013. A expansão do nível ocupacional combinada ao comportamento diferenciado da
População Economicamente Ativa (PEA) contribuiu favoravelmente para a redução do número
de desempregados nas regiões metropolitanas pesquisadas pelo Sistema PED. Entre 2009 e
2013, evidencia-se crescimento da ocupação total no período (8,0%) e redução do número de
desempregados (22,4%).
A melhora no mercado de trabalho, como resposta ao crescimento da economia no
período, verificou-se pelo aumento mais intenso do emprego assalariado, notadamente o
formal – aquele protegido pelo marco legal e que assegura proteção trabalhista e seguridade
social (assalariamento com carteira de trabalho assinada nos setores privado e público, e
estatutário do setor público). As inserções informais cresceram com menor intensidade, mas
ainda de forma significativa.
Considera-se informal a parcela de trabalhadores independentes que explora seu
negócio sozinho ou com a ajuda de familiares, os chamados trabalhadores por conta própria5.
Estes podem ser autônomos para mais de uma empresa, autônomos para o público ou donos
5 “O conceito do trabalhador por conta própria vem sendo delineado como oposição ao de empregado,
tendo em vista que no último caso o trabalhador é alocado em ocupações de empresas formal ou informalmente
constituídas, ou seja, como trabalho assalariado. Assim, o trabalho por conta própria ou autônomo é definido, de
um modo generalizado, como uma situação em que o trabalhador exerce a ocupação com independência, controla
seu processo de produção, é proprietário do capital empregado na produção e recebe uma renda (e não salário).
Essa renda resulta da diferença entre gastos (com a produção e com o consumo próprio) e receitas e não é
determinada anteriormente, pois depende da qualidade e da quantidade do trabalho oferecido e também da
demanda direta do mercado no período” (Anita Kon, 2002).
de negócios familiares. Dada a natureza dessas formas de inserções e o modelo da rede de
proteção social do país, historicamente associado à relação salarial, os mecanismos de
proteção são restritos. Os trabalhadores por conta própria representam um foco relevante da
desproteção social no Brasil.
Uma parcela significativa da população ocupada brasileira empreende por conta
própria sua atividade, auto-organizando seu negócio e estabelecendo relação com uma
determinada clientela ou mercado de atuação. Trabalham diretamente na produção de bens
ou serviços e podem utilizar familiares para a operacionalização de seu trabalho. Os objetivos
de sua produção se prendem mais diretamente à sobrevivência ou à geração de uma renda
apropriada ao consumo familiar, não sendo meta principal a obtenção de acumulação de
capital ou alta rentabilidade, embora possa ser encontradas ocupações com alta produtividade
e que auferem rendas superiores às recebidas por grupos de assalariados nas mesmas funções.
Esse segmento de trabalhadores não se apoia na intermediação de um empregador e tem um
grau de autonomia e controle sobre seu trabalho, não sendo obrigado a cumprir uma jornada
previamente estabelecida e dispensa a regulamentação do ritmo e extensão de seu trabalho
por terceiros.
Em 2013, o contingente de trabalhadores autônomos ou por conta própria atingiu 3,2
milhões no total das seis regiões pesquisadas pelo Sistema PED, enquanto que no mesmo
período, a população ocupada totalizou 18,6 milhões de pessoas.
Em termos do contingente (em milhares) de trabalhadores nessa forma de inserção
ocupacional, houve discreta redução de 0,3% na comparação entre 2013 contra 2009 para o
total das seis regiões metropolitanas. O relativo decréscimo do número de trabalhadores por
conta própria representou uma redução da sua participação na população ocupada,
correspondendo, em 2013, a 17,3% dessa população no total de ocupados das seis regiões
metropolitanas acompanhadas pelo Sistema PED. Esse percentual foi de 18,8% em 2009.
Na análise regional da participação dos autônomos na população ocupada verifica-se o
peso desse segmento ocupacional nesses mercados, especialmente os da Região Nordeste,
que apresentam maior proporção desses trabalhadores (Gráfico 1). Fato, em grande medida,
associado aos desequilíbrios regionais ainda existentes entre as regiões brasileiras e ao
histórico processo de desenvolvimento econômico e de estruturação dos mercados de
trabalhos local e regional.
As ocupações reconhecidas como autônomas, em análise, envolvem boa parcela das
populações ocupadas dos mercados de trabalho, que de alguma maneira executa uma
atividade econômica e laboral como estratégia de sobrevivência, frente às alternativas de
trabalho assalariado. Muitas dessas alternativas estão relacionadas à produção de pequena
escala, baixo nível de organização e pela quase inexistência de separação entre capital e
trabalho, quando se fala em termos de fatores produtivos (MESQUITA, 2014).
A divisão dos trabalhadores autônomos em cada região apresenta características
específicas, que resultam da natureza da oferta de mão de obra de cada espaço e da estrutura
produtiva regional relacionada ao grau de desenvolvimento, que tem impactos sobre a
possibilidade de absorver um contingente maior ou menor de trabalhadores nas empresas.
Entretanto, não se pode deixar de reconhecer que tal situação de procura pelo
trabalho autônomo pode estar também associada ao sentimento individual de busca de
autonomia no modo de empreender, dada a própria possibilidade de definição do padrão de
rendimento e dos horários de trabalho pelo trabalhador, algo mais difícil nas inserções
ocupacionais submetidas aos vínculos de subordinação das relações de trabalho assalariadas.
Como as oportunidades ocupacionais são desigualmente distribuídas, alguns segmentos
populacionais são alocados em posições menos valorizadas econômica e socialmente. Para o
segmento feminino a inserção como conta própria ou autônoma pode possibilitar a
participação no mercado de trabalho com a “conciliação” de jornadas laborais com o trabalho
reprodutivo.
A distribuição da população ocupada nas diversas formas de inserção, segundo sexo,
com relação às demais posições mostra que a participação dos trabalhadores autônomos, para
o conjunto das seis regiões metropolitanas pesquisadas, superou todas as outras, exceto a dos
trabalhadores com carteira assinada no setor privado, os quais corresponderam a 47,1% da
população feminina ocupada e a 55,2% da população masculina ocupada (Tabela 1).
1.1. Perfil dos Trabalhadores Autônomos
O universo do segmento de trabalhadores autônomos ou conta própria é bastante
diversificado, uma vez que existem características extremamente heterogêneas diante da
variedade de atividades desenvolvidas. Nesta seção buscou-se conhecer, através das
(em %)
Sexo e posição na ocupação Total (1)Belo
HorizonteFortaleza Porto Alegre Recife Salvador São Paulo
Mulheres 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Assalariados Total (2) 66,3 70,0 55,1 70,9 60,0 62,0 68,1
Assalariados do Setor Privado 54,5 52,9 46,2 56,2 45,7 51,1 57,9
Com Carteira Assinada 47,1 47,4 36,7 50,3 38,4 43,1 50,3
Sem Carteira Assinada 7,4 5,6 9,5 5,9 7,3 8,0 7,6
Assalariados do Setor Público 11,8 17,0 8,9 14,7 14,3 10,9 10,2
Autônomos 14,1 12,8 25,9 10,0 18,2 17,7 11,9
Autônomos que Trabalham p/ o Público 10,1 10,1 20,6 7,6 14,3 16,6 7,1
Autônomos que Trabalham p/ Empresa 4,0 2,7 5,3 2,4 3,9 1,2 4,8
Empregadores 2,1 2,6 1,9 3,2 1,8 1,8 2,0
Empregados Domésticos 13,9 12,4 14,2 10,7 15,5 16,9 14,0
Trabalhadores Familiares 1,1 (4) 1,9 (4) 3,1 (4) 1,2
Demais (3) 2,5 2,0 0,9 4,9 1,4 1,3 2,8
Homens 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Assalariados Total (2) 71,7 70,5 68,3 71,6 71,0 72,8 72,6
Assalariados do Setor Privado 64,3 59,7 61,1 62,0 60,7 64,4 67,1
Com Carteira Assinada 55,2 54,0 48,5 54,9 51,8 56,8 57,0
Sem Carteira Assinada 9,2 5,8 12,6 7,1 8,9 7,6 10,0
Assalariados do Setor Público 7,4 10,7 7,2 9,6 10,3 8,4 5,5
Autônomos 20,1 21,4 26,0 17,3 20,9 22,0 18,7
Autônomos que Trabalham p/ o Público 14,3 17,0 21,9 12,6 15,6 20,3 11,5
Autônomos que Trabalham p/ Empresa 5,7 4,4 4,1 4,7 5,3 1,7 7,2
Empregadores 4,6 5,4 2,9 5,8 3,6 3,2 4,8
Empregados Domésticos 0,5 (4) 0,9 (4) 0,8 (4) 0,5
Trabalhadores Familiares 0,4 (4) (4) (4) 1,5 (4) (4)
Demais (3) 2,7 2,2 1,4 4,8 2,1 1,3 3,1
Fonte: Convênio DIEESE, SEADE, MTE/FAT e Convênios Regionais. Sistema PED. Pesquisa de Emprego e Desemprego.
(1) Corresponde ao total das Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo.
(2) Inclusive aqueles que não informaram o segmento em que trabalham.
(3) Inclui profissionais universitários autônomos, donos de negócio familiar, etc.
(4) A amostra não comporta a desagregação para esta categoria.
Tabela 1
Distribuição dos ocupados segundo posição na ocupação e sexo
Regiões Metropolitanas - 2013
informações captadas pela Pesquisa de Emprego e Desemprego, algumas características
importantes na construção do perfil desse segmento.
Entre os quase vinte milhões de pessoas que possuíam alguma ocupação nas áreas
metropolitanas investigadas pelo Sistema PED, em 2013, uma parcela expressiva exercia o
trabalho autônomo. Eram 3,2 milhões de pessoas que trabalhavam por conta própria,
correspondendo a 17,3% da população ocupada que fora investigada neste estudo.
Regionalmente, observa-se a maior participação de autônomos nas áreas
metropolitanas do Nordeste, o que sugere maior atenção nacional para que possíveis projetos
pilotos possam ser experimentados nessas metrópoles devido à própria expressão que tais
atividades possuem nessas regiões.
Representatividade dos autônomos segundo gênero
A análise do perfil do trabalhador autônomo segundo o sexo revela que nessas regiões
a presença feminina nesta forma de inserção era mais expressiva em relação às demais áreas
metropolitanas investigadas, sinalizando perspectivas de intervenção pública tanto na questão
regional quanto de gênero. Contudo, as informações da PED atestam existir no conjunto das
regiões metropolitanas pesquisadas mais homens inseridos na condição de autônomos que
mulheres, atingindo quase 63,0% do total dessa categoria ocupacional em 2013 (Tabela 2).
(em %)
Total Mulheres Homens
2009
Metropolitano (2) 100,0 38,5 61,5
Belo Horizonte 100,0 38,0 62,0
Fortaleza 100,0 43,8 56,2
Porto Alegre 100,0 34,9 65,1
Recife 100,0 40,2 59,8
Salvador 100,0 41,5 58,5
São Paulo 100,0 36,9 63,1
2013
Metropolitano (2) 100,0 37,1 62,9
Belo Horizonte 100,0 33,8 66,2
Fortaleza 100,0 44,4 55,6
Porto Alegre 100,0 32,7 67,3
Recife 100,0 41,0 59,0
Salvador 100,0 40,8 59,2
São Paulo 100,0 35,1 64,9
Fonte: Convênio DIEESE, SEADE, MTE/FAT e Convênios Regionais. Sistema PED. Pesquisa de Emprego e Desemprego.
(1) Incluem os autônomos para mais de uma empresa e os autônomos para o público.
(2) Corresponde ao total das Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo.
Regiões MetropolitanasSexo
Tabela 2
Distribuição dos autônomos (1), segundo sexo
Regiões Metropolitanas - 2009 e 2013
Não obstante o predomínio da participação masculina no trabalho por conta própria
observa-se, na Tabela 2, que a presença feminina no segmento é proporcionalmente mais
expressiva nas metrópoles do Nordeste – Fortaleza (44,4%), Recife (41,0%) e Salvador (40,8%)
– o que, em grande medida, sinaliza a importância dessa forma de inserção ocupacional nos
mercados de trabalho que possuem, relativamente, maior vulnerabilidade nas relações de
trabalho.
A ampliação da participação feminina no mercado de trabalho se dá com a reprodução
de segmentações em relação às posições em que as mulheres se inserem comparativamente
aos homens – por setor de atividade, por ocupação e por hierarquia. Observa-se que, apesar
dos avanços da escolaridade das mulheres e da sua crescente participação no mundo do
trabalho, sobretudo a partir dos anos 1970, a maior concentração feminina permanece em
trabalhos precários, vulneráveis e em setores, atividades econômicas e profissões
tradicionalmente por elas ocupadas. Fenômeno associado, em grande parte, ao fato de serem
esses “espaços” vistos como possibilidade para que a mulher concilie seu trabalho, atividade
produtiva, com os cuidados da família, atividade reprodutiva. Esta é uma das expressões da
divisão sexual do trabalho em nossa sociedade.
A composição por idade: Os trabalhadores autônomos tem perfil etário mais avançado
A composição por idade dos trabalhadores autônomos revela que parcela expressiva
dessa força laboral é constituída por pessoas com mais idade, independentemente do recorte
geográfico pesquisado. O exame da distribuição dos ocupados segundo faixas de idade
permite constatar que um em cada três trabalhadores do conjunto metropolitano disse
possuir cinquenta anos ou mais, proporção esta que cresceu ao longo do período investigado –
de 29,6% (2009) para 33,4 % (2013) –, realidade que pode estar associada aos mais diversos
fatores, entre eles, o envelhecimento populacional e, consequentemente, da força laboral,
bem como da própria distribuição da oferta de trabalho de acordo com as características
pessoais dos trabalhadores, dentre eles, o perfil etário.
Os dados disponíveis indicam que a participação de jovens de 16 a 24 anos no exercício
do trabalho autônomo diminuiu, entre os anos de 2009 e 2013, na maioria das regiões
metropolitanas pesquisadas, provavelmente como decorrência de melhores oportunidades de
trabalho.
No que se refere às mulheres trabalhadoras por conta própria os indicadores mostram
um comportamento semelhante em relação ao perfil etário registrado para o segmento
(Tabela 3). Em 2013, em todas as regiões parcela substantiva das mulheres que se encontrava
nessa inserção estava na idade adulta, entre 25 e 39 anos, (33,3%), período de vida no qual a
mulher se encontra em idade reprodutiva e vivencia a infância dos filhos. Nas regiões de Porto
Alegre e Recife, a participação de mulheres autônomas com mais de 50 anos era superior às
demais idades (35,6% e 33,8%, respectivamente).
A maior concentração de trabalhadores autônomos em grupo de idade mais elevada
não significa dizer que este fato esteja necessariamente associado às restrições das empresas
aos trabalhadores “mais velhos”, embora possa haver alguma relação, quando se considera
outras características pessoais associadas, como, por exemplo, a experiência profissional e o
baixo nível de escolaridade de boa parcela desses trabalhadores, que não ultrapassa o ensino
fundamental, o que se traduz em maiores dificuldades para a (re)inserção dessas pessoas no
mercado de trabalho.
O nível de escolaridade: As mulheres trabalhadoras autônomas são mais escolarizadas
(em %)
Total 10 a 15 anos 16 a 24 anos 25 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a59 anos 60 anos e mais
2009
Metropolitano (2) 100,0 0,9 10,4 35,1 25,9 19,5 8,2
Belo Horizonte 100,0 (3) 9,5 32,0 27,0 21,0 9,4
Fortaleza 100,0 (3) 12,0 34,1 26,4 17,6 8,6
Porto Alegre 100,0 (3) 6,9 30,9 28,1 23,9 10,0
Recife 100,0 (3) 9,3 36,1 26,9 19,2 8,1
Salvador 100,0 (3) 9,2 37,7 27,4 18,6 (3)
São Paulo 100,0 (3) 11,1 36,2 24,6 19,2 7,8
2013
Metropolitano (2) 100,0 0,5 7,9 33,3 26,4 21,7 10,2
Belo Horizonte 100,0 (3) 7,5 33,2 26,2 23,0 9,9
Fortaleza 100,0 (3) 8,8 33,9 27,3 19,5 10,0
Porto Alegre 100,0 (3) 7,6 30,6 26,2 25,6 10,0
Recife 100,0 (3) 6,1 30,5 29,4 22,3 11,5
Salvador 100,0 (3) 8,4 34,5 29,7 20,8 (3)
São Paulo 100,0 (3) 8,1 33,8 24,6 21,7 11,0
Fonte: Convênio DIEESE, SEADE, MTE/FAT e Convênios Regionais. Sistema PED. Pesquisa de Emprego e Desemprego.
(1) Incluem os autônomos para mais de uma empresa e os autônomos para o público.
(2) Corresponde ao total das Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo.
(3) A amostra não comporta a desagregação para esta categoria.
Regiões MetropolitanasFaixa Etária
Tabela 3
Distribuição das mulheres autônomas (1), segundo faixa etária
Regiões Metropolitanas - 2009 e 2013
A distribuição do total de autônomos segundo escolaridade (Gráfico 2) denota que
uma proporção elevada de trabalhadores autônomos (38,6%) não completou o ensino
fundamental. Destacam-se as metrópoles do Recife (43,4%) e de Fortaleza (45,7%), que
superam a média metropolitana neste nível de escolarização. No entanto, parcela substantiva
de trabalhadores concluiu, no mínimo, o ensino médio (35,0%), o que retrata um perfil de
escolaridade bem heterogêneo entre os trabalhadores autônomos. Nesse contexto as ações de
apoio ao desenvolvimento das ocupações autônomas deveriam levar em consideração as
particularidades existentes entre esses trabalhadores, como, por exemplo, ações relacionadas
ao apoio técnico e à programas de qualificação profissional, entre outras.
A análise dos diferenciais de escolaridade segundo sexo mostra que as mulheres
inseridas como trabalhadoras autônomas são mais escolarizadas que os homens, padrão que
ocorre para as outras formas de inserção na estrutura ocupacional do mercado de trabalho
independente da região do país (Tabela 4).
Parcela expressiva são chefes de família
Com relação à posição no domicílio, destaca-se o peso dessa forma de inserção
ocupacional não apenas nos mercados de trabalho metropolitanos, mas na própria
sustentabilidade familiar, uma vez que mais da metade desses trabalhadores são chefes de
famílias (58,2%), aqueles que possuem maior responsabilidade com a provisão econômica e
material do domicílio. Nas regiões a presença dos chefes variou entre 53,2%, em Fortaleza, a
64,3%, em Porto Alegre, dos entrevistados, o que sinaliza o peso dessa forma de inserção
ocupacional em boa parcela das famílias metropolitanas (Tabela 5).
(em %)
Total AnalfabetoFundamental
Incompleto (2)
Fundamental
Completo e Médio
Incompleto
Médio Completo e
Superior
Incompleto
Superior
Completo
Mulheres
Metropolitano (3) 100,0 2,9 28,2 20,1 41,3 7,5
Belo Horizonte 100,0 (4) 26,1 21,2 44,0 8,0
Fortaleza 100,0 5,3 32,3 22,1 36,6 (4)
Porto Alegre 100,0 (4) 24,8 23,1 43,4 7,9
Recife 100,0 4,4 31,4 18,0 41,4 4,8
Salvador 100,0 (4) 27,2 19,9 45,1 (4)
São Paulo 100,0 (4) 27,2 19,3 41,1 9,9
Homens
Metropolitano (3) 100,0 4,0 39,0 20,4 31,4 5,2
Belo Horizonte 100,0 (4) 38,0 23,3 32,0 5,0
Fortaleza 100,0 10,6 41,6 19,3 26,5 (4)
Porto Alegre 100,0 (4) 37,9 21,0 35,6 4,7
Recife 100,0 5,8 42,9 18,4 29,5 3,5
Salvador 100,0 (4) 39,4 21,5 32,0 (4)
São Paulo 100,0 3,4 38,0 19,9 31,9 6,8
Fonte: Convênio DIEESE, SEADE, MTE/FAT e Convênios Regionais. Sistema PED. Pesquisa de Emprego e Desemprego.
Elaboração: DIEESE.
(1) Incluem os autônomos para mais de uma empresa e os autônomos para o público.
(2) Inclui alfabetizados sem escolarização.
(3) Corresponde ao total das Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo.
(4) A amostra não comporta a desagregação para esta categoria.
Regiões Metropolitanas
Escolaridade
Tabela 4
Distribuição dos autônomos (1), segundo escolaridade e sexo
Regiões Metropolitanas - 2013
Além da expressiva presença de autônomos na condição de chefes de domicílios,
outros membros da unidade familiar (cônjuge, filhos, dentre outros) também exercem essa
forma de ocupação. A metrópole cearense, entre as regiões pesquisadas, apresentou a maior
proporção de membros não chefes na condição de autônomos (46,8%). Na área metropolitana
de Belo Horizonte os demais membros envolvidos no trabalho por conta própria somavam
44,9% do total. Ressalta-se que independentemente da posição do indivíduo no domicílio, o
trabalho autônomo é uma importante e expressiva forma de inserção ocupacional nos
mercados de trabalho metropolitanos.
1.2. Características da Ocupação: distribuição setorial dos trabalhadores, local de trabalho,
posse dos instrumentos de trabalho e tempo de permanência
Do ponto de vista da análise setorial, constata-se que a Construção Civil era o
segmento da atividade econômica no qual o trabalho exercido por conta própria atingia
maiores proporções em todas as regiões metropolitanas pesquisadas (Gráfico 3), com
percentuais superiores a 40%. A única exceção é a Região Metropolitana de Fortaleza, na qual
a presença desses trabalhadores era de 32,9%. Entre 2009 e 2013, a participação de
(em %)
Total Mulheres Homens Mulheres Homens
Metropolitano (2) 100,0 11,4 46,8 25,7 16,1
Belo Horizonte 100,0 9,4 45,7 24,3 20,5
Fortaleza 100,0 13,6 39,6 30,8 16,0
Porto Alegre 100,0 10,9 53,4 21,8 13,9
Recife 100,0 13,6 43,1 27,5 15,9
Salvador 100,0 13,2 44,8 27,6 14,4
São Paulo 100,0 10,6 49,2 24,6 15,7
Fonte: Convênio DIEESE, SEADE, MTE/FAT e Convênios Regionais. Sistema PED. Pesquisa de Emprego e Desemprego.
(1) Incluem os autônomos para mais de uma empresa e os autônomos para o público.
(2) Corresponde ao total das Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo.
Regiões MetropolitanasChefes Demais Membros
Tabela 5
Distribuição dos autônomos (1), segundo posição no domicílio e sexo
Regiões Metropolitanas - 2013
autônomos na construção civil passou de 15,3%, em 2009, para 42,0% em 2013 6. O setor de
Serviços, que absorvia maior proporção de trabalhadores autônomos em 2009, registrou uma
redução expressiva da sua participação em todas as áreas metropolitanas pesquisadas, no
período analisado, perdendo posição para a construção civil.
O crescimento da participação de autônomos na construção civil no conjunto das
regiões abrangidas pela Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), entre 2009 e 2013, pode
estar associado à própria dinamicidade que esse setor adquiriu nos últimos anos,
especialmente com as políticas de apoio e fomento, entre elas, linhas de financiamento com
subsídios governamentais (Programa Minha Casa, Minha Vida), obras de infraestrutura e
desoneração da carga tributária em produtos vinculados a esse setor, favorecendo a expansão
do setor em termos de ocupação e de atividade econômica.
Entre 2009 e 2013, as regiões metropolitanas de Fortaleza, Recife e Salvador
verificaram reduções expressivas de trabalhadores autônomos no Comércio, passando a
apresentar participações inferiores à média metropolitana nesse setor (20,0%). Setor que
absorve a maior parte dos trabalhadores autônomos com pouca qualificação. Nas demais
áreas metropolitanas acompanhadas pelo Sistema PED, observou-se elevação da proporção
6 A partir desse período, o Sistema PED adotou a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE)
para maior detalhamento da dinâmica setorial, o que possibilita maior comparabilidade entre os dados de 2009
com os de 2013.
desses trabalhadores, superando a média observada para o setor. Comportamento que pode
estar associado à própria mobilidade ocupacional da força de trabalho entre os setores de
atividade econômica, como da própria expansão do emprego formal nos últimos anos
(MESQUITA, 2014).
A indústria de transformação ocupa 11,8% dos trabalhadores autônomos, com
algumas regiões, como Belo Horizonte e Fortaleza, registrando participações superiores à
média metropolitana, 14,3% e 16,7%, respectivamente. Em 2013, um contingente de 380,4 mil
trabalhadores por conta própria do total metropolitano estavam ligados ao setor industrial. Na
região de Fortaleza, a maior presença de autônomos nesse setor pode ser explicada, em parte,
pela dinâmica do ramo da confecção, atividade tradicional e de forte expressão na economia
local.
A distribuição setorial segundo sexo revela que as mulheres autônomas estão mais
presentes no setor de serviços (52,0%) e no comércio (28,4%), enquanto os homens nos
serviços (36,1%) e na construção civil (31,7%) (Tabela 6).
Destaca-se o peso relativo da presença das mulheres autônomas na indústria de
transformação com percentual bastante superior ao verificado para os homens.
Na estrutura setorial analisada para o conjunto dos trabalhadores nessa inserção
ocupacional, os dados indicam que o trabalho autônomo está bem disseminado entre os mais
diferentes setores de atividade econômica. Cabe mencionar que a maior representatividade de
autônomos no setor terciário pode ser atribuída pelos “menores” obstáculos para o ingresso
laboral em suas atividades, no qual geralmente não são exigidas maiores experiências e
qualificações profissionais e de capital financeiro para o início do negócio.
No tocante ao modo como são exercidas essas atividades nos mercados de trabalho
metropolitanos, é importante investigar se tais inserções ocupacionais estão mais relacionadas
às estratégias de subcontratação ou a fraude das leis trabalhistas ou a meras estratégias
pessoais de ingresso no mundo laboral.
Segundo os dados de para quem os autônomos trabalhavam, constata-se que a maior
proporção exercia suas atividades para a população em geral. No recorte por sexo, 71,7% das
mulheres e 71,3% dos homens autônomos trabalhavam para o público (Tabela 7). Nesse
contexto, destaca-se a participação do trabalho por conta própria do tipo mais “tradicional”,
caracterizado pelas mais diferentes formas de sobrevivência, como vendedores ambulantes,
serventes, pedreiros, costureiros, prestadores de serviços simples, entre outros.
(em %)
Setor de AtividadeMetropolitano
(2)
Belo
HorizonteFortaleza Porto Alegre Recife Salvador São Paulo
Mulheres
Autônomos 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Indústria de transformação (4) 18,6 24,5 26,6 12,7 11,4 10,7 18,7
Construção (5) 0,3 (8) (8) (8) (8) (8) (8)
Comércio e reparação de veículos
automotores e motocicletas (6)28,4 19,7 37,5 29,9 41,3 31,2 23,3
Serviços (7) 52,0 54,2 35,5 56,5 46,3 54,4 57,5
Homens
Autônomos 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Indústria de transformação (4) 7,7 9,1 8,8 8,3 6,0 5,6 7,7
Construção (5) 31,7 36,5 28,3 29,5 26,6 29,5 33,0
Comércio e reparação de veículos
automotores e motocicletas (6)22,9 16,6 29,4 23,6 26,2 22,0 22,5
Serviços (7) 36,1 36,4 30,9 36,7 38,9 39,1 36,1
Fonte: Convênio DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênios regionais. PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego.
Elaboração: DIEESE.
(1) Incluem os autônomos para mais de uma empresa e os autônomos para o público.
(2) Corresponde ao total das Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo.
(4) Seção C da CNAE 2.0 domiciliar.
(5) Seção F da CNAE 2.0 domiciliar.
(6) Seção G da CNAE 2.0 domiciliar.
(7) Seções H a T da CNAE 2.0 domiciliar.
(8) A amostra não comporta a desagregação para esta categoria.
Tabela 6
Distribuição dos autônomos (1), segundo setor de atividade econômica e sexo
Regiões Metropolitanas - 2013
O trabalho para uma única empresa ou negócio foi bem expressivo na metrópole
paulistana, o que pode estar associado à própria densidade demográfica e de empresas
existentes na região, tal como exemplo as atividades de representação de firmas ou de
técnicos mais especializados que prestam seus serviços para o segmento empresarial.
Em 2013, verificou-se que a maior parcela dos trabalhadores autônomos residentes
nas áreas metropolitanas desenvolviam as atividades fora da residência (em prédios, salas ou
galpões). Secundariamente, parcela expressiva exercia suas atividades sem ter instalações
fixas, embora usassem equipamentos específicos. De outro lado, um percentual significativo
desses trabalhadores fazia da residência seu local de trabalho, especialmente em cômodo não
adaptado.
No entanto, no recorte por sexo destaca-se o peso relativo de mulheres autônomas
que utilizam sua própria residência como local de trabalho nas regiões de Belo Horizonte
(40,6%), Fortaleza (52,7%), Recife (45,1%) e Salvador (37,0%), sendo as proporções bem mais
elevadas em relação àquelas que exerciam as atividades fora do domicílio (Tabela 8). Ressalta-
se que a maior parcela dessas residências não possui nenhuma adaptação para o exercício da
atividade laboral.
(em %)
Total Para uma empresa
ou negócio
Para mais de uma
empresa ou
negócio
Para a população
em geral
Mulheres
Metropolitano (2) 100,0 22,7 5,5 71,7
Belo Horizonte 100,0 12,9 8,2 79,0
Fortaleza 100,0 18,3 (3) 79,6
Porto Alegre 100,0 18,1 (3) 76,3
Recife 100,0 15,3 6,1 78,6
Salvador 100,0 (3) (3) 93,5
São Paulo 100,0 33,5 6,9 59,7
Homens
Metropolitano (2) 100,0 19,7 8,9 71,3
Belo Horizonte 100,0 10,8 9,7 79,5
Fortaleza 100,0 11,6 4,3 84,1
Porto Alegre 100,0 16,3 11,0 72,7
Recife 100,0 19,8 5,4 74,8
Salvador 100,0 5,6 (3) 92,1
São Paulo 100,0 27,3 11,4 61,3
Fonte: Convênio DIEESE, SEADE, MTE/FAT e Convênios Regionais. Sistema PED. Pesquisa de Emprego e Desemprego.
(1) Incluem os autônomos para mais de uma empresa e os autônomos para o público.
(2) Corresponde ao total das Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo.
(3) A amostra não comporta a desagregação para esta categoria.
Regiões Metropolitanas
Para quem trabalha
Tabela 7
Distribuição dos autônomos (1), segundo para quem trabalha
Regiões Metropolitanas - 2013
Entre os homens, em 2013, expressiva parcela de trabalhadores não dispõe de locais
fixos para o exercício da atividade laboral, mas contam com algum equipamento para
desempenhar suas funções, variando entre 52,6%, em Porto Alegre, a 61,7%, em Salvador.
Esse contexto sinaliza a importância da elaboração de políticas públicas destinadas ao
fomento das auto-ocupações, uma vez que parcela razoável dos trabalhadores desse
segmento afirmou não possuir alguma adaptação em sua residência para o exercício da
atividade laboral. O que, por outro lado, traz enormes desafios para o poder público e para a
sociedade de maneira geral no que diz respeito às ações de fiscalizações por parte das
instituições governamentais no combate às possíveis irregularidades que podem ocorrer no
interior dessas residências.
A condição de vulnerabilidade do exercício do trabalho para esse segmento de
trabalhadores quanto ao local de trabalho, também é evidenciada quando examinamos o
exercício da atividade laboral segundo a posse dos instrumentos de trabalho. O que reafirma a
importância de política pública para o trabalho adequada, considerando que parcela
significativa dos trabalhadores autônomos relatou não possuir equipamentos próprios para o
desempenho de sua atividade (Tabela 9).
(em %)
Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens
Autônomos 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Na residência 38,3 9,4 40,6 9,0 52,7 18,4 31,3 7,7 45,1 13,5 37,0 7,8 32,2 7,1
Em cômodo adaptado 12,7 5,0 18,7 6,1 18,2 10,9 14,2 5,6 13,0 5,9 12,4 (3) 8,9 3,1
Em cômodo não adaptado 25,6 4,4 22,0 (3) 34,5 7,5 17,1 (3) 32,1 7,6 24,6 (3) 23,3 4,0
Fora da residência 40,1 34,3 40,2 30,7 26,9 27,3 45,9 39,2 32,1 30,6 27,0 30,4 49,0 37,6
Em edificações 36,9 31,8 38,3 29,9 23,1 23,5 44,9 38,0 26,1 26,4 20,4 25,1 46,7 35,6
Em bancas ou barracas 3,2 2,5 (3) (3) (3) 3,8 (3) (3) 6,0 4,2 6,6 5,3 (3) (3)
Sem Instalações fixas 21,5 56,0 19,2 60,0 20,3 53,7 22,9 52,6 22,7 55,3 36,0 61,7 18,7 55,2
Com equipamentos 13,6 48,8 18,1 58,4 9,8 42,1 20,8 50,1 10,8 45,5 29,6 55,7 9,7 47,0
Sem equipamentos 7,9 7,3 (3) (3) 10,5 11,6 (3) (3) 11,9 9,8 (3) 6,0 9,1 8,3
Outro 0,1 0,2 (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3)
Fonte: Convênio DIEESE, SEADE, MTE/FAT e Convênios Regionais. Sistema PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego.
(1) Incluem os autônomos para mais de uma empresa e os autônomos para o público.
(2) Corresponde ao total das Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo.
(3) A amostra não comporta a desagregação para esta categoria.
Tabela 8
Distribuição dos autônomos (1), segundo local de trabalho e sexo
Regiões Metropolitanas - 2013
Salvador São PauloLocal de trabalho
Metropolitano (2) Belo Horizonte Fortaleza Porto Alegre Recife
Nos mercados de trabalho metropolitanos, o tempo médio de permanência na
empresa apresenta grande discrepância segundo a modalidade de contratação dos
trabalhadores. Em que pese o trabalho autônomo ser caracterizado por sua heterogeneidade e
carregar o estigma da insegurança e da vulnerabilidade, no que diz respeito à estabilidade da
sua inserção ocupacional, destaca-se o tempo médio de permanência na auto-ocupação (MAIA
E GARCIA, 2012).
Em meio aos trabalhadores autônomos, no que se refere ao tempo médio de
permanência no trabalho, observa-se que há algum tempo esses trabalhadores estão no
exercício da atividade laboral – aproximadamente quatro em cada dez autônomos
entrevistados nessas regiões possui cinco anos ou mais no trabalho atual na maioria dos
mercados metropolitanos monitorados pelo Sistema PED. O que indica maiores resistências
para mudanças mais bruscas na atividade a qual já estão habituados, e pode estar associado a
outras características pessoais, como o baixo nível de escolarização e a idade mais avançada de
boa parcela desse segmento populacional.
(em %)
Total PrópriosDe outra pessoa ou
de uma empresa
Mulheres
Metropolitano (2) 100,0 79,3 20,7
Belo Horizonte 100,0 88,8 11,2
Fortaleza 100,0 85,1 14,9
Porto Alegre 100,0 86,3 13,7
Recife 100,0 79,5 20,5
Salvador 100,0 92,0 8,0
São Paulo 100,0 70,7 29,3
Homens
Metropolitano (2) 100,0 79,6 20,4
Belo Horizonte 100,0 88,3 11,7
Fortaleza 100,0 79,6 20,4
Porto Alegre 100,0 87,4 12,6
Recife 100,0 77,5 22,5
Salvador 100,0 89,4 10,6
São Paulo 100,0 74,6 25,4
Fonte: Convênio DIEESE, SEADE, MTE/FAT e Convênios Regionais. Sistema PED. Pesquisa de Emprego e Desemprego.
(1) Incluem os autônomos para mais de uma empresa e os autônomos para o público.
(2) Corresponde ao total das Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo.
Regiões Metropolitanas
Posse dos instrumentos de trabalho
Tabela 9
Distribuição dos autônomos (1), segundo propriedade dos instrumentos de trabalho e sexo
Regiões Metropolitanas - 2013
O percentual expressivo de trabalhadores autônomos com tempo de trabalho tão
prolongado em todas as regiões metropolitanas, tendo apresentado ainda, entre 2009 e 2013,
crescimento deste contingente, sinaliza o enraizamento desse tipo de inserção ocupacional
nos mercados de trabalhos locais.
Na tabela 10, no recorte por sexo destaca-se a participação das mulheres ocupadas
com mais de dez anos no exercício do trabalho autônomo, 17,4%, enquanto os homens
superavam esse patamar, 24,4%. Os homens apresentam os maiores percentuais na faixa de
tempo de permanência com mais de dez anos, sendo o mais expressivo na região de Belo
Horizonte, enquanto as mulheres concentram-se nas faixas dos que exercem sua atividade
entre dois a cinco anos.
Esse tipo de inserção ocupacional é bastante marcado pelo baixo padrão de
remuneração, na maioria dos casos, especialmente porque opera em pequena escala, com
tecnologias geralmente adaptadas e com qualificação geralmente adquirida no “saber fazer”
se comparada à participação em cursos de qualificação profissional oferecidos por entidades
ou institutos especializados em formação técnica e profissional, tais como as do “Sistema S”
(SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio, SENAI – da Indústria e outros), o
que dificulta, sobremaneira, o próprio aperfeiçoamento da atividade laboral. Sem maiores
alternativas de apoio ou preparo para o exercício desse tipo de modalidade ocupacional, o
trabalhador autônomo prolonga sua atividade até quando é possível (MESQUITA, 2014, p. 40).
1.3. Contribuição à Previdência
Um aspecto relevante e preocupante com relação ao trabalhador autônomo ou por
conta própria é a ausência de proteção previdenciária, considerando que a maior proporção
desses trabalhadores se encontra à margem da proteção social assegurada aos contribuintes
da Previdência.
(em %)
Total Até 6
meses
Mais de 6
a 12 meses
Mais de 1
a 2 anos
Mais de 2
a 5 anos
Mais de 5
a 10 anos
Mais de 10
anos
Mulheres
Metropolitano (2) 100,0 20,6 11,3 13,1 21,2 16,4 17,4
Belo Horizonte 100,0 10,4 10,3 12,3 21,2 20,1 25,6
Fortaleza 100,0 20,6 12,0 13,1 22,1 16,9 15,3
Porto Alegre 100,0 13,8 9,5 13,0 23,1 17,8 22,9
Recife 100,0 18,1 10,5 11,8 21,3 18,5 19,8
Salvador 100,0 18,1 12,1 13,6 22,9 16,7 16,5
São Paulo 100,0 25,4 11,5 13,5 20,2 14,5 14,9
Homens
Metropolitano (2) 100,0 23,3 8,7 11,1 16,6 15,9 24,4
Belo Horizonte 100,0 11,3 9,7 10,3 18,9 17,5 32,3
Fortaleza 100,0 24,1 9,3 9,6 17,3 17,2 22,6
Porto Alegre 100,0 16,4 8,0 10,1 17,1 18,1 30,4
Recife 100,0 32,7 7,5 7,0 13,3 15,5 23,9
Salvador 100,0 21,6 9,1 11,2 18,5 18,0 21,5
São Paulo 100,0 26,1 8,5 12,6 16,1 14,4 22,4
Fonte: Convênio DIEESE, SEADE, MTE/FAT e Convênios Regionais. Sistema PED. Pesquisa de Emprego e Desemprego.
(1) Incluem os autônomos para mais de uma empresa e os autônomos para o público.
(2) Corresponde ao total das Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo.
Regiões Metropolitanas
Tempo de Permanência
Tabela 10
Distribuição dos autônomos (1), segundo faixas de tempo de permanência no trabalho principal e sexo
Regiões Metropolitanas - 2013
A constituição da previdência social no Brasil seguiu a lógica do “seguro social para a
pessoa que contribui. É uma instituição pública que tem como objetivo reconhecer e conceder
direitos aos seus segurados” (PREVIDÊNCIA, 2015). Nesse sentido, a condição do trabalhador
autônomo ou conta própria contém uma relação especial com a previdência social. A
cobertura previdenciária não é um dado como para o trabalhador assalariado, mas decorre de
um ato deliberado do trabalhador no sentido de providenciar sua inserção como contribuinte
autônomo. Para tanto, é necessário a consciência dos benefícios, o conhecimento dos
procedimentos requeridos e, finalmente, a possibilidade de destinar parcela de seus
rendimentos à previdência. Nesse contexto, a prática previdenciária é uma prática restrita.
Nas áreas pesquisadas pelo Sistema PED, constata-se que 74,8% dos trabalhadores
autônomos das regiões metropolitanas não possuem qualquer tipo de contribuição
previdenciária. Na Região Metropolitana de Fortaleza, 89,0% dos trabalhadores autônomos
não recolhiam parte de seus ganhos à previdência social, ou seja, nove em cada dez
trabalhadores (Tabela 11). Tendo a região Nordeste apresentada os maiores percentuais de
desproteção social.
Em termos absolutos, cerca de 2,4 milhões de trabalhadores não tinham qualquer
proteção previdenciária, o que ressalta a vulnerabilidade de milhões de pessoas que
diariamente estão expostas aos riscos de acidentes de trabalho, doenças, desemprego ou de
aposentadoria (invalidez ou tempo de contribuição) e não dispõem de um sistema de proteção
social que os assegure nesses momentos (MESQUITA, 2014).
(em %)
Total Sim Não
2009
Metropolitano (2) 100,0 16,5 83,5
Belo Horizonte 100,0 23,2 76,8
Fortaleza 100,0 6,6 93,4
Porto Alegre 100,0 30,5 69,5
Recife 100,0 9,1 90,9
Salvador 100,0 15,2 84,8
São Paulo 100,0 16,8 83,2
2013
Metropolitano (2) 100,0 25,2 74,8
Belo Horizonte 100,0 36,7 63,3
Fortaleza 100,0 11,0 89,0
Porto Alegre 100,0 44,5 55,5
Recife 100,0 16,8 83,2
Salvador 100,0 24,0 76,0
São Paulo 100,0 25,0 75,0
Fonte: Convênio DIEESE, SEADE, MTE/FAT e Convênios Regionais. Sistema PED. Pesquisa de Emprego e Desemprego.
(1) Incluem os autônomos para mais de uma empresa e os autônomos para o público.
(2) Corresponde ao total das Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e
São Paulo
Regiões MetropolitanasContribuição à Previdência Social
Distribuição dos autônomos (1), segundo contribuição à Previdência Social
Regiões Metropolitanas 2009 e 2013
Tabela 11
Os dados analisados indicam que parcela expressiva de trabalhadores autônomos
encontra-se no exercício da atividade por um tempo prolongado, no conjunto das regiões
pesquisadas, e na ausência de proteção trabalhista e previdenciária. A conjunção desses
fatores denota a gravidade de um problema que historicamente pouco se avançou em termos
de políticas públicas do trabalho.
A contribuição previdenciária é relativamente maior entre os homens que entre as
mulheres (26,2% dos homens contra 23,3% para as mulheres). O percentual contribuinte,
tanto para homens como mulheres inseridos no trabalho autônomo, era muito baixo,
principalmente quando comparado a outras categorias de ocupados. No caso específico das
mulheres, isto dificulta o acesso destas trabalhadoras a direitos básicos como a licença-
maternidade.
Distribuição dos trabalhadores autônomos (1), segundo contribuição à Previdência e sexo
(em %)
Total Sim Não
Mulheres
Metropolitano (2) 100,0 23,3 76,7
Belo Horizonte 100,0 34,2 65,8
Fortaleza 100,0 10,6 89,4
Porto Alegre 100,0 42,5 57,5
Recife 100,0 15,9 84,1
Salvador 100,0 23,5 76,5
São Paulo 100,0 24,0 76,0
Homens
Metropolitano (2) 100,0 26,2 73,8
Belo Horizonte 100,0 38,0 62,0
Fortaleza 100,0 11,3 88,7
Porto Alegre 100,0 45,4 54,6
Recife 100,0 17,4 82,6
Salvador 100,0 24,3 75,7
São Paulo 100,0 25,5 74,5
Fonte: Convênio DIEESE, SEADE, MTE/FAT e Convênios Regionais. Sistema PED. Pesquisa de Emprego e Desemprego.
(1) Incluem os autônomos para mais de uma empresa e os autônomos para o público.
(2) Corresponde ao total das Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e
São Paulo.
Regiões MetropolitanasContribuição à Previdência Social
Tabela 12
Regiões Metropolitanas - 2013
1.4. Rendimentos
Outra característica marcante do trabalho autônomo, além da inexistência de
mecanismos de proteção trabalhista e previdenciária, é o baixo padrão de remuneração e
extensa jornada de trabalho, embora a média de rendimento desses trabalhadores fosse
superior ao valor do salário mínimo de R$ 678, em 2013, em todas as metrópoles pesquisadas
(Tabela 13).
Entre 2009 e 2013 o rendimento médio real cresceu em todas as regiões
metropolitanas, variando de 3,5%, em Salvador, a 44,3%, em Recife. No entanto, os dados
apresentados mostram que há grandes desigualdades no padrão de rendimento desses
trabalhadores, em termos regionais, como é de se esperar, dado que a remuneração dos
autônomos está relacionada ao grau de desenvolvimento da região (KON, 2002). As diferenças
de rendimento eram bastante acentuadas entre os trabalhadores nordestinos e os das demais
áreas metropolitanas.
Em 2013, o rendimento médio real dos trabalhadores autônomos, segundo os dados
do Sistema PED, na região metropolitana de Fortaleza (R$ 842) era, em média,
consideravelmente inferior ao de Porto Alegre (R$ 1.552), praticamente o dobro do valor
observado. Muito embora, a média metropolitana para o conjunto dos trabalhadores
autônomos (R$ 1.268) não ultrapassava 2 salários mínimos, situando-se em nível inferior à
média registrada para o total dos assalariados (R$ 1.637), no mesmo período.
Total Mulheres Homens Total Mulheres Homens Total Mulheres Homens
Metropolitano (3) 1.055 726 1.292 1.268 844 1.550 20,2 16,3 20,0
Belo Horizonte 1.268 832 1.569 1.502 1.038 1.769 18,5 24,8 12,7
Fortaleza 651 477 838 842 621 1.072 29,3 30,2 27,9
Porto Alegre 1.320 939 1.534 1.552 1.097 1.778 17,6 16,8 15,9
Recife 628 432 772 906 615 1.137 44,3 42,4 47,3
Salvador 858 613 1.045 888 632 1.082 3,5 3,1 3,5
São Paulo 1.222 848 1.468 1.483 971 1.776 21,4 14,5 21,0
Fonte: Convênio DIEESE, SEADE, MTE/FAT e Convênios Regionais. Sistema PED. Pesquisa de Emprego e Desemprego.
(1) Inflator utilizado: IPCA/BH/IPEAD; INPC-RMF/IBGE; IPC-IEPE/RS; INPC-RMR/IBGE; IPC-SEI/BA; ICV-DIEESE/SP. Valores em reais de novembro de 2013.
(2) Incluem os autônomos para mais de uma empresa e os autônomos para o público.
(3) Corresponde ao total das Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo.
Variação Relativa (em %)
2013/20092009 2013
Rendimento Médio Real
Regiões Metropolitanas
Tabela 13
Rendimento médio real (1) dos autônomos (2) no trabalho principal, segundo sexo
Regiões Metropolitanas - 2009 e 2013
As diferenças de inserção dos segmentos populacionais no mercado de trabalho
refletem-se em diferenciais de remunerações. Assim, o rendimento dos homens fica em
patamar superior ao da média (R$ 1.550), enquanto o das mulheres correspondia apenas a
66,6% desse indicador (Tabela 13). Se, para o conjunto dos trabalhadores autônomos, a região
Nordeste revelava rendimentos cerca de 30% inferiores à média metropolitana, para as
mulheres essa relação era ainda mais perversa. As trabalhadoras autônomas nordestinas
tinham rendimentos de aproximadamente 50% do valor médio dos ocupados nessa forma de
inserção ocupacional.
Há diferenças também no padrão de rendimento dos trabalhadores por conta própria
quando analisado pelo valor da hora trabalhada. Constata que as mulheres nas auto-
ocupações recebiam em média 65,1% da hora trabalhada pelos homens no desempenho de
suas atividades.
A jornada média total deste segmento ocupacional, considerado apenas o trabalho
principal, era de 41 horas semanais. Em termos regionais, a jornada média mais prolongada foi
na região metropolitana do Recife (43 horas).
A distribuição da jornada de trabalho dos trabalhadores autônomos, na Tabela 14 e
Gráfico 6, apresenta a concentração destes trabalhadores segundo o número de horas
trabalhadas. Para cada faixa ou período de horas separadamente, observa-se que as
68,7
67,1
65,8
70,8
72,6
75,9
72,6
65,1
68,2
65,4
71,4
66,9
77,7
65,6
60,0
65,0
70,0
75,0
80,0
Metropolitano (3)
Belo Horizonte Fortaleza Porto Alegre Recife Salvador São Paulo
2009 2013
Gráfico 5Proporção dos rendimentos médios reais por hora (1) das mulheres trabalhadoras autônomas (2)
em relação aos rendimentos médios reais por hora dos homensRegiões Metropolitanas - 2009 e 2013
Em %
Fonte: DIEESE, SEADE, MTE/FAT e Convênios Regionais. Sistema PED. Pesquisa de Emprego e Desemprego.(1) Inflator utilizado: IPCA/BH/IPEAD; INPC-RMF/IBGE; IPC-IEPE/RS; INPC-RMR/IBGE; IPC-SEI/BA; ICV-DIEESE/SP.(2) Incluem os autônomos para mais de uma empresa e os autônomos para o público.(3) Corresponde ao total das Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e Sãp Paulo.
concentrações de trabalhadores nesta faixa são consideravelmente diferenciadas entre os
gêneros. Entre os que trabalham até 20 horas e de 21 a 30 horas semanais, os homens
apresentam concentrações abaixo da média verificada para as mulheres em todas as regiões.
Para os trabalhadores autônomos que se ocupam em um período de 31 a 40 horas,
ocorre o inverso, os homens revelam proporções superiores ao das mulheres. E para aqueles
que se ocupam na faixa acima de 44 horas por semana verifica-se um distanciamento maior
entre os dois grupos populacionais, de 13,3 pontos percentuais.
No entanto, observa-se que cerca de um terço das mulheres trabalhadoras autônomas
laboravam mais de 44 horas semanais e quase metade dos homens nas auto-ocupações tinha
a mesma jornada extensa de trabalho semanal. No Nordeste encontravam-se as maiores
proporções de homens na jornada acima das 44 horas e das mulheres, mais expressivamente,
em Fortaleza e no Recife, percentuais acima das médias metropolitanas, em 2013.
(em %)
Total Até 20 horasDe 21 a 30
horas
De 31 a 40
horas
De 41 a 44
horas
Mais de 44
horas
Mulheres
Metropolitano (2) 100,0 26,5 16,0 20,1 3,8 33,6
Belo Horizonte 100,0 15,9 18,3 32,5 (3) 31,1
Fortaleza 100,0 25,3 13,7 16,0 5,8 39,2
Porto Alegre 100,0 20,5 16,2 20,4 (3) 38,6
Recife 100,0 27,3 15,0 14,3 4,1 39,3
Salvador 100,0 30,3 17,7 18,7 (3) 30,1
São Paulo 100,0 29,5 16,1 20,1 (3) 30,7
Homens
Metropolitano (2) 100,0 9,7 10,3 28,2 4,9 46,9
Belo Horizonte 100,0 4,4 7,1 42,4 3,5 42,5
Fortaleza 100,0 11,9 10,8 22,1 7,9 47,3
Porto Alegre 100,0 8,9 10,7 28,4 5,4 46,6
Recife 100,0 10,0 8,3 16,9 4,2 60,6
Salvador 100,0 8,2 10,0 22,5 (3) 55,5
São Paulo 100,0 11,0 11,4 29,0 4,9 43,7
Fonte: Convênio DIEESE, SEADE, MTE/FAT e Convênios Regionais. Sistema PED. Pesquisa de Emprego e Desemprego.
(1) Incluem os autônomos para mais de uma empresa e os autônomos para o público.
(2) Corresponde ao total das Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo.
(3) A amostra não comporta a desagregação para esta categoria.
Regiões Metropolitanas
Faixas de horas trabalhadas
Distribuição dos autônomos (1), segundo faixas de horas trabalhadas
Regiões Metropolitanas - 2013
Tabela 14
E
2. O
Trab
alho
Autônomo e a experiência do Microempreendedor Individual – o MEI
O modelo de previdência social adotado no Brasil, com foco voltado para os
trabalhadores formais, tem gerado uma cobertura previdenciária parcial que pode ser
explicada pela configuração heterogênea do mercado de trabalho nacional e de sua relativa
incompatibilidade com o modelo de seguro social, que não consegue incluir os trabalhadores
desempregados, empregados rurais e urbanos sem carteira, assim como praticamente todo o
conjunto de trabalhadores vinculados a atividades autônomas (JACCOUD, 2009).
Os trabalhadores por conta própria, segundo dados da PNAD 2013 somavam
aproximadamente 19,9 milhões de pessoas, convivem, em sua maioria, com a desproteção
previdenciária no país, apresentando nível de proteção inferior até mesmo ao de grupos como
os trabalhadores domésticos. Uma proporção muito pequena desse segmento ocupacional
contribui para a Previdência Social, prevalecendo alto nível de informalidade nessa posição da
ocupação.
Nesse contexto, a ampliação da cobertura previdenciária desses trabalhadores por
conta própria ou autônomos é estratégia necessária e fundamental para a expansão da
proteção social no Brasil. Nesse sentido, várias medidas têm sido tomadas pelo Governo
Federal com o objetivo de ampliar a formalização dos trabalhadores por conta própria, como
por exemplo, o Plano simplificado de Previdência Social para o contribuinte individual (LC nº
123/2006) que reduziu a alíquota de 20% sobre o salário de contribuição para 11% sobre o
salário mínimo, ficando, entretanto, excluído o direito à aposentadoria por tempo de
contribuição, com direito apenas a aposentadoria por idade no valor de um salário mínimo.
Outra iniciativa de política pública de inclusão à formalidade de parcela expressiva de
autônomos e microempreendedores informais foi a Lei Complementar nº 128/2008 que criou
a figura jurídica do Microempreendedor Individual (MEI), estabelecendo o limite, incialmente
de R$ 36 mil de faturamento anual e, posteriormente, ampliado para R$ 60 mil para que os
empreendedores informais tivessem acesso a um conjunto de benefícios da formalização. O
MEI avançou na redução da carga tributária prevista no Simples, eliminando entraves
burocráticos e possibilitando, a partir de 2011, aos optantes do referido sistema, pagar apenas
a contribuição previdenciária de 5% sobre o salário mínimo, conforme determinou a medida
provisória nº 529/2011, mais R$ 5,00 para o município (ISS), quando a atividade for de serviço,
e/ou R$ 1,00 para o Estado (ICMS), quando a atividade envolver produtos comercializados.
A baixa contribuição à Previdência Social e a isenção de impostos federais são uma
tentativa de estimular a formalização por meio de tratamento tributário mais favorável e
compatível com a capacidade contributiva do público-alvo (COSTANZI; BARBOSA; RIBEIRO,
2011).
A rápida expansão do Programa se deve ao processo simplificado e desburocratizado
de inscrição, assim como o estímulo por meio de benefícios da formalização como: crédito
mais barato, emissão de nota fiscal, entre outros. Nesse sentido, pode-se dizer que o advento
do MEI pode ser considerado como uma forma de maior aproximação da realidade objetiva
dos trabalhadores autônomos mais tradicionais com a necessidade subjetiva de constituição
de uma personalidade jurídica – a inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) –
tornando acessível a esses trabalhadores as linhas de financiamento, as iniciativas das compras
governamentais, entre outros benefícios.
2.1 Análise da Legislação para o Microempreendedor Individual
Como destaca os estudos do SEBRAE e BNDES (2013), Oliveira (2013) e Costanzi, Barbosa e
Ribeiro (2011), existe um conjunto de normas constitucionais relativas à criação e ampliação
de microempreendedores individuais e micro e pequenas empresas e a expansão da proteção
social, entre elas:
A Lei 7.254/84 – Primeira legislação elaborada com o objetivo de favorecer as micro e
pequenas empresas do país nos âmbitos: previdenciário, tributário, trabalhista;
A Lei 8.864/94 – Lei que determina os requisitos básicos para enquadramento de uma
empresa como microempresa ou empresa de pequeno porte;
A Emenda Constitucional (EC) nº 06, de 15 de agosto de 1995 – Lei que limita os
benefícios oferecidos às microempresas e empresas de pequeno porte apenas aquelas
com sede e administração no país;
A Lei 9.317/96 – Lei que institui o Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e
Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte – SIMPLES.
Atualmente modificada e incorporada a LC 123/06;
A Lei 9.841/99 – Lei que estabelece o Estatuto da Microempresa e da Empresa de
Pequeno Porte, dispondo sobre o tratamento jurídico diferenciado, simplificado e
favorecido previsto nos artigos 170 e 179 da Constituição Federal;
A Lei 10.460/2002 – Novo código civil que cria o Microempreendedor Individual depois
regulamentado na LC 128/08;
A Lei 10.666/2003 – Lei que modifica a forma de recolhimento dos trabalhadores por
conta própria que prestam serviços às empresas;
A Lei 11.598/2007 – Cria a Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da
Legalização de Empresas e Negócios – REDESIM, e estipula diretrizes e procedimentos
para a simplificação e integração do processo de registro e legalização das micro e
pequenos empresas; e
O Decreto 6.884/2009 – Decreto que concebe um comitê gestor para a REDESIM.
Todavia, as duas principais legislações atuais com foco no Microempreendedor
Individual são as Leis Complementares 123/06 e 128/08. A Lei complementar n⁰ 123 de 14 de
dezembro de 2006 institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno
Porte, definindo normas gerais em relação ao tratamento diferenciado e favorecido para estas
organizações no que se refere a um único regime de arrecadação de impostos e contribuições;
ao cumprimento de obrigações trabalhistas e previdenciárias; ao acesso ao crédito e ao
mercado; e ao cadastro nacional único de contribuintes. Além disso, essa lei complementar
estabeleceu o Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos
pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte - Simples Nacional, um sistema de
simplificação de tributos onde é possível o pagamento de oito tributos (IRPJ, IPI, CSLL, COFINS,
PIS/PASEP, CPP, ICMS e ISS) em apenas uma única guia de recolhimento (BRASIL, 2006; SEBRAE
E BNDES, 2013).
Com o objetivo de ampliar a inclusão previdenciária cria-se o Plano Simplificado de
Previdência Social (PSPS) que reduziu a alíquota de contribuição ao Regime Geral de
Previdência Social (RGPS) “de 20% sobre o salário de contribuição para 11% sobre o salário
mínimo para contribuintes individuais que prestam serviços para pessoas físicas e
contribuintes facultativos, ficando, entretanto, excluído o direito à aposentadoria por tempo
de contribuição, com direito apenas a aposentadoria por idade no valor de um salário mínimo”
(COSTANZI; BARBOSA; RIBEIRO, 2011, p. 388).
A Lei Complementar n⁰ 128 de 19 de dezembro de 2008, por sua vez, altera a Lei Geral
da Micro e Pequena Empresa e cria o Microempreendedor Individual (MEI). Como evidencia
Oliveira (2013), o MEI foi pensado como uma política de inclusão à formalidade para os
trabalhadores autônomos e microempreendedores informais, especialmente àqueles das
áreas urbanas. De acordo com os dados da PNAD, em 2009, quando a lei foi implementada,
havia 19,2 milhões de trabalhadores por conta própria no país, cerca de 20,5% da população
ocupada, dos quais 12,8 milhões eram homens e 6,4 milhões mulheres.
Após atualização do valor7, em 2011, passou-se a considerar MEI, de acordo com a lei,
o empresário individual que tenha auferido receita bruta, no ano-calendário anterior, de até
R$ 60.000,00 mil reais, seja optante pelo Simples Nacional e exerça atividade permitida ao
MEI, de acordo com o art. 966 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil. A partir
desta, possibilitou-se ao MEI contratar apenas um único empregado que receba
exclusivamente 1 (um) salário mínimo ou o piso salarial da categoria profissional. Vale
ressaltar, ainda, que o MEI só pode possuir um único estabelecimento e não lhe é permitido
participar de outra empresa como titular, sócio ou administrador (BRASIL, 2008).
Esse processo de formalização busca fornecer uma série de benefícios para esses
empreendedores individuais, entre eles: o registro no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas,
o que proporciona a emissão de nota fiscal para venda/prestação de serviço para outras
empresas ou para o setor público e a abertura de conta bancária com acesso a crédito mais
barato, além do acesso à aposentadoria e outros direitos previdenciários. O processo de
abertura, registro, alteração e baixa da microempresa e empresa de pequeno porte não
incorre em custos, inclusive prévios, quanto à abertura, à inscrição, ao registro, ao
7 Ver Lei Complementar 139/2011.
funcionamento, ao alvará, à licença, ao cadastro, às alterações e procedimentos de baixa e
encerramento e aos demais itens relativos ao microempreendedor individual.
Como evidenciam Costanzi, Barbosa e Ribeiro (2011), dentro do Simples Nacional, na
verdade a categoria do MEI representa uma nova faixa de menor faturamento, atingindo assim
a base da pirâmide das micro e pequenas empresas. O microempreendedor individual, sendo
enquadrado no Simples Nacional, está isento dos tributos federais (Imposto de Renda – IR;
Programa de Integração Social – PIS; Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social –
COFINS; Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI; e Contribuição Sobre o Lucro Líquido –
CSLL). Além disso, como mostra Oliveira (2013), foi implantado um sistema de registro, por
meio do Portal do Empreendedor, que facilita o processo de registro e baixa do MEI.
Todavia, este deve pagar mensalmente, através de uma guia única e integrada emitida
pela internet, um valor referente: à contribuição previdenciária ao Simples Nacional (que
corresponde a 5% do salário mínimo vigente no ano8); ao Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS); e/ou ao Imposto sobre Serviços de qualquer
Natureza (ISS), conforme o ramo de atividade que está inscrito9. Entretanto, a inscrição no MEI
é permitida para apenas 485 atividades de comércio, indústria e serviços10.
A partir de 2014, a tributação municipal do imposto sobre imóveis prediais urbanos
passou a garantir a aplicação de alíquota menor, seja residencial ou comercial, ao MEI que
realize sua atividade na mesma localidade em que residir (BRASIL, 2014). Porém, a prefeitura
também pode cobrar algumas alíquotas, não no início das atividades como MEI, mas nas
renovações, geralmente um ano após o registro como microempreendedor individual. As
principais taxas são a de Fiscalização de Abastecimento, Fiscalização de Anúncios, Licença de
Funcionamento e Fiscalização Sanitária.
8 A Contribuição previdenciária do MEI, na sua criação, era de 11% do salário mínimo, o que correspondia
ao mesmo valor dos contribuintes individuais e facultativos do Plano Simplificado de Previdência Social (PSPS).
Porém, com a Medida Provisória n⁰ 529, de 07 de abril de 2011, depois transformada na Lei n⁰ 12.470, o valor de
contribuição à previdência do MEI foi reduzido para 5% do salário mínimo (COSTANZI et al., 2011).
9 O valor atual varia de R$ 40,40 a R$ 45,40. Sendo R$ 39,40 para a contribuição previdenciária (o que
representa 5% do salário mínimo de R$ 788,00) acrescido de: R$ 1,00 de ICMS, se a atividade for do comércio ou
indústria; R$ 5,00 de ISS para os prestadores de serviços; ou R$ 6,00 de ICMS e ISS para atividades de comércio e
serviços (PORTAL DO EMPREENDEDOR, 2015).
10 Conforme lista completa disponível em: <http://www.portaldoempreendedor.gov.br/mei-
microempreendedor-individual/atividades-permitidas/lista-completa-de-atividades-permitidas-ao-mei>.
A legislação sobre o MEI não tem por objetivo fragilizar as relações de trabalho
existente, não devendo servir de instrumento para a transformação de um trabalhador em
microempreendedor individual, através de processos de terceirização ou de substituição do
emprego com carteira assinada pela prestação de serviço. Para inibir tal possibilidade, além de
restringir o número de atividades permitidas, o Art. 6º da Resolução nº 58, de 27 de abril de
2009, do Comitê Gestor de Tributação das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte –
CGSN determina que:
“Art. 6º - O MEI não poderá realizar cessão ou locação de mão de obra. § 1º - Cessão ou locação de mão de obra é a colocação à disposição da empresa contratante, em suas dependências ou nas de terceiros, de trabalhadores, inclusive o MEI, que realizem serviços contínuos relacionados ou não com sua atividade fim, quaisquer que sejam a natureza e a forma de contratação. (...)§ 4º - Por colocação à disposição da empresa contratante entende-se a cessão do trabalhador, em caráter não eventual, respeitados os limites do contrato. § 5º - A vedação de que trata o caput não se aplica à prestação de serviços de hidráulica, eletricidade, pintura, alvenaria, carpintaria e de manutenção ou reparo de veículos. § 6º - Na hipótese do § 5 º , a empresa contratante de serviços executados por intermédio do MEI deverá, com relação a esta contratação: recolher a Contribuição Previdenciária Patronal (CPP); prestar as informações de que trata o inciso IV do art. 32 da Lei n º 8.212, de 1991 ; cumprir as demais obrigações acessórias relativas à contratação de contribuinte individual. § 7º - O disposto no § 6 º aplica-se a qualquer forma de contratação, inclusive por empreitada” (RECEITA FEDERAL, 2009).
O MEI, em termos previdenciários, garante também ao microempreendedor uma
cobertura composta pelos seguintes benefícios:
Aposentadoria por idade: mulheres a partir dos 60 anos e homens aos 65 anos.
Também é necessário ter contribuído por, no mínimo, 15 anos;
Aposentadoria por invalidez, onde é necessário um ano de contribuição;
Auxílio-doença, após um ano de contribuição;
Salário-maternidade, a partir de 10 meses de contribuição;
Pensão por morte, logo após o primeiro pagamento em dia; e
Auxílio reclusão.
No que se refere ao auxílio-doença e ao salário-maternidade:
“Em caso de gozo de benefício de auxílio-doença ou de salário-maternidade não é devido o recolhimento da contribuição do MEI relativamente à Previdência Social, desde que o período do benefício englobe o mês inteiro. Caso o início do gozo do auxílio-doença e do salário-maternidade transcorra dentro do mês, será devido o recolhimento da contribuição do MEI relativo àquele mês” (PORTAL DO EMPREENDEDOR, 2015).
O valor dos benefícios concedidos ao microempreendedor individual pela Previdência
Social é de um salário mínimo, não sendo possível que uma maior contribuição ao INSS resulte
em uma aposentadoria de renda maior. Mas, como ressalta Amorim (2015), caso o MEI exerça
outra atividade, pagando uma alíquota de 20% sobre o salário de contribuição dessa atividade,
e complemente com 15% a contribuição de 5% referente ao MEI, “os valores das contribuições
serão somados para compor a base de cálculo para concessão de aposentadoria, inclusive por
tempo de contribuição e Certidão de Tempo de Contribuição – CTC”.
Destaca-se, ainda, que se houver contribuição para a Previdência Social antes da
formalização, este período também será somado para concessão de benefícios para o MEI,
exceto aposentadoria por tempo de contribuição ou Certidão de Tempo de Contribuição – CTC
(AMORIM, 2015).
2.2 Evolução recente
A formalização do MEI teve início em julho de 2009 e tem sido considerada exitosa na
medida em que foram registrados, até 2013, 3.659.781 Microempreendedores Individuais no
país 11. A taxa média de crescimento do quantitativo do MEI no ano de 2013 foi de 37,3%, com
nove estados apresentando taxas superiores à média nacional. Os três estados que mais
cresceram foram Ceará (45,1%), Paraná (41,5%) e Minas Gerais (41,5%). Segundo estudo do
SEBRAE (2013), na análise setorial da distribuição do MEI verifica-se que o Comércio (39,3%)
11 Dados disponíveis na pesquisa Perfil do Microempreendedor Individual 2013. Série Estudos e Pesquisas
do SEBRAE, Dezembro/2013.
concentra a maior proporção de microempreendedores individuais, seguido dos Serviços
(35,8%), Indústria (15,2%) e Construção Civil (8,5%).
O detalhamento da distribuição setorial a partir das atividades mais frequentes entre
os microempreendedores individuais demonstra que as vinte atividades com maior presença
respondem por 58,0% do total. Os MEIs se concentram em atividades que, em geral, tem valor
agregado menor. As três atividades com maior número de MEIs são “Comércio varejista de
artigos do vestuário e acessórios”, com 12,2% do total, “Cabelereiros”, com 8,7% e “Obras de
alvenaria” com 4,3% (Tabela 15). Das vinte atividades com maior percentual de participação no
MEI, oito são de Serviços, seis do Comércio, três da Indústria e três da Construção Civil. As
atividades de serviços, de modo geral, requerem menos investimentos iniciais que as do
comércio. Vale ressaltar que as principais atividades dos setores da indústria e da construção
civil entre os MEIs também estão associadas a menores investimentos iniciais (fornecimento
de alimentos preparados para consumo domiciliar; confecção, sob medida, de peças do
vestuário; obras de alvenaria; instalação e manutenção elétrica; e, serviços de pintura de
edifícios em geral).
Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total
1 Comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios 122.868 397.734 520.602 5,6 19,1 12,2 23,6 76,4 100,0
2 Cabeleireiros 77.864 293.581 371.445 3,5 14,1 8,7 21,0 79,0 100,0
3 Obras de alvenaria 176.843 5.914 182.757 8,0 0,3 4,3 96,8 3,2 100,0
4 Lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares 59.834 78.618 138.452 2,7 3,8 3,2 43,2 56,8 100,0
5Comércio varejista de mercadorias em geral, com predominância de
produtos alimentícios - minimercados, mercearias e armazéns61.533 56.673 118.206 2,8 2,7 2,8 52,1 47,9 100,0
6 Outras atividades de tratamento de beleza 3.795 106.772 110.567 0,2 5,1 2,6 3,4 96,6 100,0
7 Bares e outros estabelecimentos especializados em servir bebidas 57.216 48.839 106.055 2,6 2,3 2,5 53,9 46,1 100,0
8 Instalação e manutenção elétrica 88.423 8.203 96.626 4,0 0,4 2,3 91,5 8,5 100,0
9Fornecimento de alimentos preparados preponderantemente para
consumo domiciliar23.742 72.129 95.871 1,1 3,5 2,2 24,8 75,2 100,0
10Comércio varejista de cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene
pessoal22.779 63.085 85.864 1,0 3,0 2,0 26,5 73,5 100,0
11 Serviços ambulantes de alimentação 45.185 37.350 82.535 2,1 1,8 1,9 54,7 45,3 100,0
12 Comércio varejista de bebidas 47.331 30.239 77.570 2,2 1,5 1,8 61,0 39,0 100,0
13 Serviços de pintura de edifícios em geral 67.840 3.604 71.444 3,1 0,2 1,7 95,0 5,0 100,0
14 Serviços de organização de feiras, congressos, exposições e festas 33.517 35.919 69.436 1,5 1,7 1,6 48,3 51,7 100,0
15 Promoção de vendas 38.587 30.744 69.331 1,8 1,5 1,6 55,7 44,3 100,0
16Reparação e manutenção de computadores e de equipamentos
periféricos58.182 7.998 66.180 2,6 0,4 1,5 87,9 12,1 100,0
17 Confecção, sob medida, de peças do vestuário, exceto roupas íntimas 6.484 54.720 61.204 0,3 2,6 1,4 10,6 89,4 100,0
18Serviços de manutenção e reparação mecânica de veículos
automotores48.960 5.565 54.525 2,2 0,3 1,3 89,8 10,2 100,0
19Comércio varejista de produtos alimentícios em geral ou especializado
em produtos alimentícios não especificados anteriormente25.326 26.614 51.940 1,2 1,3 1,2 48,8 51,2 100,0
20Confecção de peças do vestuário, exceto roupas íntimas e as
confeccionadas sob medida8.833 42.172 51.005 0,4 2,0 1,2 17,3 82,7 100,0
Total das 20 principais CNAEs 1.075.142 1.406.473 2.481.615 48,9 67,6 58,0 43,3 56,7 100,0
2.198.025 2.080.986 4.279.011 100,0 100,0 100,0 51,4 48,6 100,0
Fonte: Portal do Empreendedor - Estatísticas do MEI.
Tabela 15
Ranking Classe CNAE 2.0Optantes MEI
Total de Optantes
Distribuição (%) por sexo
Brasil - Até 2014
Distribuição (%) por sexo
Atividades mais frequentes entre os Optantes pelo SIMEI, por classe CNAE e sexo
Considerando a distribuição do MEI para as vinte atividades com maior participação de
mulheres (Tabela 15), fica evidente a presença mais expressiva nos setores de Serviços e
Comércio. O grupo dessas vinte atividades somava um total de 2.481.615 registros de MEI, das
quais 1.406.473 eram do sexo feminino (56,7% do total) e 1.075.142 do masculino (43,3%).
A participação do sexo feminino na atividade “Outras atividades de tratamento de
beleza” representava 96,6% do total de MEI desse segmento, até 2014. Em seguida
“Confecção, sob medida, de peças do vestuário”, na qual 89,4% dos MEI são mulheres. Duas
atividades tipicamente femininas.
Em relação aos setores com maior participação de MEI do sexo masculino, ficam
evidentes as mudanças tanto nos percentuais de participação quanto nos segmentos de
atividades econômica. Em atividades como “Obras de alvenaria”, os homens respondem por
uma presença de 96,8%, enquanto as mulheres apresentam inclusive a mais baixa proporção
no conjunto de suas participações, 3,2%. Na sequência, as atividades de “Serviços de pintura
de edifícios em geral” e “Instalação e manutenção elétrica” eram exercidas em sua maioria por
homens, 95,0% e 91,5%, respectivamente (Tabela 15).
A predominância masculina entre os inscritos no MEI é uma realidade em todos os
estados da federação, o que pode estar refletindo a maior proporção de homens inseridos
entre os trabalhadores por conta própria. Portanto, o público potencial é em sua maioria do
sexo masculino.
Em relação à faixa etária do universo de microempreendedores, a partir dos dados de
sua constituição a cada ano, em 2013, 50,1% dos MEIs constituídos neste ano tem de 25 a 39
anos, 35% encontravam-se no grupo de 40 ou mais e 14,8% até 24 anos. Entre 2011 e 2013, a
partir dos dados da declaração anual dos MEI, observa-se uma participação cada vez maior de
jovens até 24 anos inscritos e da participação decrescente daqueles acima de 40 anos (SEBRAE,
2013).
Na pesquisa amostral, realizada pelo SEBRAE (2013), os dados sobre a escolaridade dos
MEIs mostram que a maioria tinha nível médio ou técnico completo (44,1%), seguida daqueles
com até o ensino fundamental completo (37,0%) e pelo grupo com ensino superior completo
correspondia a 9,8%. Considerando os resultados do Censo 2010, observa-se que os MEIs são
mais escolarizados que a média nacional da população, uma vez que 50,2% tem, no máximo, o
ensino fundamental (OLIVEIRA, 2013).
O MEI é o resultado da integração de ações de diferentes órgãos federais – Ministério
da Previdência Social, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e a Secretaria da Receita Federal –
e a convergência de interesses desses órgãos em uma determinada política pode ser um
elemento que venha a contribuir com seu sucesso. Assim como, a facilidade do sistema de
registro do MEI através do Portal do Empreendedor, a eliminação de entraves burocráticos
decorrentes da isenção de determinados impostos federais (IR; PIS; Cofins; IPI e Contribuição
sobre o Lucro Líquido) também são elementos que podem contribuir (COSTANZI; BARBOSA;
RIBEIRO, 2011; OLIVEIRA, 2013).
Muito embora o MEI tenha registrado importantes avanços no que diz respeito a
formalização dos trabalhadores por conta própria alguns desafios precisam ser enfrentados, a
saber: se a política do MEI pode estar sendo usada por empregadores para evitar encargos
trabalhistas através da substituição de contratos de trabalho com empregados por contratos
de prestação de serviços com supostos empreendedores individuais.
A partir dos dados das RAIS entre 2006 e 2010 e considerando o início da implantação
da política de formalização do MEI, em 2009, observou-se que um percentual dos indivíduos
que deixaram de ser empregados formais entre 2006 e 2008 (24,3% dos encontrados na Rais),
estava na condição de desempregados ao ingressarem como MEI a partir de 2009. “Assim,
pode-se afirmar que, para estes, a política foi responsável por reinseri-los no mundo formal,
agora na condição de MEIs – inclusive, alguns deles, possivelmente, poderiam estar atuando
como empreendedores informais” (OLIVEIRA, 2013).
Por outro lado, Oliveira (2013) indica que um grupo expressivo de indivíduos
registrados como MEI e encontrados nos dados da Rais 2006 e 2010, segundo motivo do
desligamento, havia sido demitido e feito a transição à condição de microempreendedor
individual. Neste caso, a política pública para ampliar a formalização e cobertura
previdenciária dos trabalhadores por conta própria parece estar sendo utilizada ou desvirtuada
como processo de substituição de contratos trabalhistas por relações de prestações de
serviços. Estudo realizado por Corseuil, Neri e Ulyssea (2013) também aponta na mesma
direção.
Outro desafio relevante, em termos de simplificação, na evolução do MEI refere-se à
necessidade de avançar na simplificação das obrigações impostas ao MEI, semelhantes aquelas
impostas às demais pessoas jurídicas no Brasil. No que diz respeito ao processo de inscrição do
MEI, houve simplificação via o Portal do Empreendedor, como o pagamento unificado dos
impostos mensais (Previdência Social, ICMS e/ou ISS) que passou a ocorrer através da geração
de uma guia única e integrada de DAS (Documento de Arrecadação do Simples Nacional)
emitida no próprio site. No entanto, o fato do MEI ser uma pessoa jurídica, quando da
contratação de um empregado, ele é obrigado a declarar GFIP, RAIS e o Cadastro Geral de
Emprego e Desemprego (Caged), que pode envolver certa operacionalidade, exigindo a
contratação de um contador e elevando o custo da formalização (COSTANZI; BARBOSA;
RIBEIRO, 2011).
Um dos principais atrativos do MEI é seu baixo custo da formalização e de inserção na
proteção previdenciária. Enquanto o Plano Simplificado de Previdência Social (PSPS), criado em
2006-2007, possibilita uma contribuição mensal de 11% do salário mínimo, a contribuição
previdenciária do MEI é 5% do salário a partir de maio de 2011. Essas duas medidas são formas
de inclusão previdenciária através de incentivos econômicos, o que significa que pessoas com
mesmo direito, em termos de benefício previdenciário, possuem contribuições diferenciadas e
isso pode estimular a migração de inscritos no Plano Simplificado para o MEI. Talvez, outro
desafio a ser enfrentado (COSTANZI; BARBOSA; RIBEIRO, 2011).
Nesse sentido, um aspecto bastante relevante, é que a formalização sempre implica
em deixar de pagar zero de impostos e taxas referentes à atividade por conta própria,
tornando a concorrência com a informalidade muito difícil. Nesse contexto, “é fundamental
não apenas uma carga tributária condizente com a capacidade contributiva desses
trabalhadores por conta própria, mas que haja benefícios pela formalização” (COSTANZI;
BARBOSA; RIBEIRO, 2011, p. 394), como a possibilidade de emitir nota fiscal, ampliando o
acesso aos mercados, e as linhas especiais de crédito para o MEI.
2.3 Cobertura Previdenciária
Os dados da PNAD 2013 apontam para um sensível avanço da cobertura previdenciária
para a população ocupada nos últimos dez anos. O principal responsável por essa ampliação na
cobertura foi o emprego com carteira, que verificou forte crescimento no período. O resultado
positivo observado mostra uma trajetória de crescimento em todos os anos de 2003 a 2013. O
aumento da população protegida ocorreu simultaneamente ao crescimento da população
ocupada. Corroborando o entendimento de que o crescimento do número de contribuintes no
período está ligado ao bom desempenho do mercado formal de trabalho, o número de
trabalhadores empregados, com pelo menos uma contribuição no ano para o Regime Geral da
Previdência Social (RGPS), aumentou de 31,5 milhões, em 2003, para 53,8 milhões, em 2012
(COSTANZI, et al, 2014).
Em que pese as distintas visões sobre a informalidade no mercado de trabalho, as
opiniões convergem para o reconhecimento do grave problema de falta de cobertura dos
trabalhadores informais pela Previdência Social. Afinal, o sistema de proteção social a partir da
relação de emprego pressupõe cobertura universal, seja pelas contribuições trabalhador-
empresa, seja pelas contribuições individuais do trabalhador autônomo.
Quando se analisa a cobertura previdenciária pela posição na ocupação na PNAD,
nota-se que três categorias concentram mais de 90% de trabalhadores sem cobertura
previdenciária: trabalhadores domésticos, os por conta própria e outros empregados sem
carteira assinada. Dentre estas, os trabalhadores por conta própria apresentam o menor
percentual de contribuição.
De acordo com os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego utilizados, no
presente texto, para a caracterização do trabalho autônomo no mercado de trabalho
metropolitano, no período de 2009 a 2013, verificou-se baixo nível de cobertura previdenciária
para esse segmento ocupacional. Em 2009, do total de autônomos, 3,2 milhões, nas seis
regiões pesquisadas pelo Sistema PED, 83,5% não contribuíam para a Previdência,
correspondendo a aproximadamente 2,7 milhões de trabalhadores desprotegidos. Em 2013,
ocorreu uma pequena redução do número de autônomos e uma relativa melhora na
proporção de contribuintes, passando de 16,5%, em 2009, para 25,2%, em 2013. De outro
modo, a proporção de não contribuintes reduziu-se para 74,8%, ou 2,4 milhões de
trabalhadores.
Com o objetivo de ampliar a inclusão previdenciária no país e incluir essas categorias, o
governo federal tem implementado uma série de políticas nos últimos anos, como o Plano
Simplificado de Previdência Social e a Lei que cria o Microempreendedor Individual (MEI).
Medidas positivas que apresentam a característica comum de incentivo à inclusão pelo
barateamento da contribuição à Previdência.
Nesse contexto, possivelmente uma ampliação da cobertura previdenciária entre os
trabalhadores nas regiões metropolitanas pesquisadas pelo Sistema PED, pode ter sido
motivada, entre outros fatores, pelas medidas adotadas para ampliar a proteção social. Não se
pode afirmar que o incremento da contribuição previdenciária dos trabalhadores por conta
própria, entre 2009 e 2013, seja diretamente atribuído ao MEI. No entanto, o incremento no
número médio de contribuintes no RGPS incorpora o aumento do número de trabalhadores
por conta própria ou autônomos, denominados legalmente dentro do grupo como
contribuintes individuais. Há, assim, indício de que o MEI pode ter tido impacto positivo.
A figura do MEI, que contabilizava, até 2014, 4,2 milhões de inscritos no país, segundo
os relatórios estatísticos do “Portal do Empreendedor”, pode ter gerado impacto positivo na
ampliação da cobertura previdenciária dos trabalhadores por conta própria. Apesar desse
marco, percebe-se que há quase metade deste universo sem cobertura previdenciária ao levar
em consideração os resultados apurados somente na área de cobertura do Sistema PED, isto é,
em seis áreas metropolitanas (2,4 milhões de pessoas). O que mostra que o bom desempenho
da economia, e decorrente expansão previdenciária, somada as medidas de inclusão adotadas
não foram suficientes para ampliar de maneira efetiva a cobertura, uma vez que parcela
expressiva de trabalhadores ainda está socialmente desprotegida.
Segundo dados do Ministério da Previdência Social, o número de MEIs contribuintes
para a Previdência com pelo menos uma contribuição em 2013 era cerca de 2 milhões (Tabela
16). Entretanto, o total de MEIs registrados na Receita Federal, no mesmo ano, era de 3,6
milhões (Gráfico 7).
Os dados disponibilizados na tabela 16 confrontados os do Gráfico 7 revelam que o
número de MEIs com pelo menos uma contribuição era inferior ao número de MEIs inscritos
no programa no período de 2011 e 2013. Ou seja, as políticas de inclusão previdenciária como
o MEI tiveram resultados relevantes na ampliação da proteção social dos trabalhadores por
conta própria ou autônomos, muito embora uma parcela razoável de contribuintes esteja
2011 2012 2013 2011 2012 2013
1 124.005 115.348 152.562 12,5 7,6 7,4
2 65.027 107.130 145.192 6,5 7,0 7,1
3 76.444 102.899 134.853 7,7 6,8 6,6
4 75.720 85.887 115.257 7,6 5,6 5,6
5 68.448 84.056 108.413 6,9 5,5 5,3
6 67.551 82.150 103.505 6,8 5,4 5,0
7 68.787 69.638 89.487 6,9 4,6 4,4
8 38.319 73.186 92.464 3,9 4,8 4,5
9 41.639 65.080 89.716 4,2 4,3 4,4
10 44.433 75.497 96.047 4,5 5,0 4,7
11 63.764 89.696 141.092 6,4 5,9 6,9
12 261.152 572.564 785.450 26,2 37,6 38,2
Total 995.289 1.523.131 2.054.038 100,0 100,0 100,0
Fonte: MPS - Anuário Estatís tico da Previdência Socia l .
Tabela 16
Brasil - 2011 - 2013
Número de
Contribuições
Contribuintes Distribuição (%)
Número de MEI contribuintes para a Previdência Social e Distribuição por número de contribuições
inadimplente. Mesmo com a medida provisória nº529/2011, que reduziu a contribuição de
11% para 5% do salário mínimo (COSTANZI; BARBOSA; RIBEIRO, 2011).
Diferentemente dos trabalhadores empregados, cuja cobertura previdenciária
depende da formalização das relações patrão e empregado, a cobertura do trabalhador por
conta própria ou autônomo passa pelo seu ato de contribuir para a previdência. Dessa forma
deve-se pensar políticas que estimulem essa contribuição, sob a forma de estímulo financeiro
com alíquotas contributivas mais baixas, mas, também, enfatizar que previdência é mais do
que aposentadoria na velhice. A proteção social se faz diante de acidente ou uma doença que
impossibilite temporária ou permanentemente o trabalho, via auxílio-doença ou
aposentadoria por invalidez (RANGEL, 2014).
Uma dimensão adicional desse desafio é a de gênero. Além de possuírem taxa de
proteção social mais baixa, as mulheres são maioria entre os desprotegidos sem capacidade
contributiva e minoria entre os desprotegidos com capacidade contributiva. Em razão da
estrutura familiar na qual se sustentam a maioria dos domicílios e a boa parte das tradições,
muitas das tarefas associadas ao cuidado dos idosos vão cair sobre as mulheres.
As mulheres enfrentam menores níveis de cobertura por sua menor conexão com o
mercado de trabalho durante sua vida. De 2003 a 2012, o número de mulheres com pelo
menos uma contribuição no ano aumentou e a participação das mulheres no total de
44.188
771.715
1.656.953
2.665.605
3.613.740
0
500.000
1.000.000
1.500.000
2.000.000
2.500.000
3.000.000
3.500.000
4.000.000
dez-2009 dez-2010 dez-2011 dez-2012 dez-2013
Fonte: Receita FederalElaboração: SSPS/MPS
Gráfico 7Número de trabalhadores inscritos no MEI
contribuintes subiu de 39,8% para 43,9%, segundo dados do Ministério da Previdência. Esse
resultado, muito provavelmente, está associado à maior participação e melhoria da inserção
das mulheres no mercado de trabalho formal, no período de 2003 a 2013.
A maior parcela dos trabalhadores autônomos ou conta própria está envolvida em
atividades com baixo padrão de rendimento, especialmente quando se leva em contraste a
duração (média) de suas extensas jornadas trabalho, o que evidencia a necessidade de
aumentar o valor agregado dos serviços prestados por esse segmento de trabalhadores como
forma de elevar não somente o padrão de rendimento obtido com o seu trabalho como
também assegurando maiores possibilidades de formalização de sua atividade econômica e,
portanto, capacidade contributiva. A experiência do MEI, mesmo com os resultados já
alcançados, ainda possui um desempenho muito tímido frente ao universo de trabalhadores
autônomos existentes nos grandes centros urbanos do país, conforme já ilustrado.
Nesse sentido, um programa que proporcionasse uma formação profissional desses
trabalhadores, que basicamente atuam no “saber fazer”, poderia ter mais eficácia nos ganhos
de produtividade e no padrão de rendimento desses trabalhadores, possibilitando, entre
outras coisas, o acesso ao sistema de contribuição previdenciária que ainda é algo muito
distante da realidade da maior parcela desse segmento ocupacional, que, muitas vezes, acaba
sendo coberto por outras ações de seguridade social, especialmente de assistência social, pelo
quadro de pobreza e miséria em que vivem do que pela sua própria capacidade laborativa e
contributiva, devido especialmente pela informalidade de suas relações de trabalho ao longo
de seu ciclo de vida.
3. Considerações Finais
Os trabalhadores autônomos, parcela importante da população ocupada brasileira,
constituem-se num segmento complexo de trabalhadores que empreendem por conta própria
sua atividade produtiva, auto-organizando seu negócio e relação com sua clientela ou mercado
de atuação. O perfil do trabalhador autônomo caracteriza-se pela presença majoritária de
homens, chefes de família e indivíduos de faixas etárias mais elevadas. Essas características
definem, em geral, um conjunto de trabalhadores com responsabilidades por parcela
importante de sustento do domicílio e que sofrem uma pressão maior para permanecerem na
condição de ocupados.
Trabalhadores marcados pela baixa escolaridade, com uma extensa jornada de
trabalho, mais longa que a dos assalariados, enfrentam menores rendimentos e a
imprevisibilidade de recebimento, características inerentes a um trabalho exercido de forma
autônoma. Constatou-se que esse segmento convive com baixa proteção social, uma vez que a
grande maioria não contribui para a Previdência Social.
Uma dimensão adicional desse desafio é gênero. Além de possuírem taxa de proteção
social mais baixa, as mulheres são maioria entre os desprotegidos sem capacidade contributiva
e minoria entre os desprotegidos com capacidade contributiva. As mulheres enfrentam
menores níveis de cobertura por sua menor conexão com o mercado de trabalho durante sua
vida.
A maior parcela desses trabalhadores presta serviços para a população em geral
através da comercialização de diferentes produtos (lanches, refeições, vestuário, dentre
outros), de consertos e reparos (reformas de vestuário ou no segmento da construção civil,
por exemplo), de serviços pessoais de estética (cabeleiras, manicures, esteticistas, dentre
outras) ou de conservação das residências (jardinagem e limpeza, por exemplo).
Em todas as regiões pesquisadas pelo Sistema PED, a presença de trabalhadores que
atuavam em estruturas não adaptadas para a atividade econômica e laboral atingiu patamares
significativos, o que retrata a necessidade de iniciativas que assegurem maiores adaptações
com relação não somente a infraestrutura física dos locais de trabalho, ocorrendo, em muitos
casos, até mesmo em algum cômodo da própria residência, como também para a compra de
equipamentos próprios, uma vez que aproximadamente um em cada cinco trabalhadores não
contava com a propriedade dos equipamentos que utilizava.
Nesse contexto, a ampliação da cobertura previdenciária desses trabalhadores por
conta própria ou autônomos é estratégia necessária e fundamental para a expansão da
proteção social no Brasil. Com o objetivo de ampliar a inclusão previdenciária no país e incluir
essas categorias, o governo federal implementou uma série de políticas nos últimos anos,
como o Plano Simplificado de Previdência Social e a Lei do Microempreendedor Individual
(MEI).
A Lei Complementar nº 128/2008 – criou a figura jurídica do Microempreendedor
Individual (MEI). Com a formalização, o trabalhador teria acesso ao Cadastro Nacional de
Pessoa Jurídica (CNPJ), ao crédito bancário, à cobertura da previdência social, à emissão de
nota fiscal, à dispensa de escrituração fiscal e contábil. O argumento central da inclusão e
ampliação da cobertura da proteção social.
A legislação sobre o MEI não tem por objetivo fragilizar as relações de trabalho
existente, não devendo servir de instrumento para a transformação de um trabalhador em
microempreendedor individual, através de processos de terceirização ou de substituição do
emprego com carteira assinada pela prestação de serviço. No entanto, a política pública para
ampliar a formalização e cobertura previdenciária dos trabalhadores por conta própria parece
estar sendo utilizada ou desvirtuada como processo de substituição de contratos trabalhistas
por relações de prestações de serviços.
Outro aspecto importante refere-se aos níveis de inadimplência que chegam a
patamares expressivos, no caso dos MEIS, em que mais da metade dos trabalhadores inscritos
nessa personalidade jurídica está inadimplente, conforme estatísticas elencadas pelo próprio
governo federal. Na realidade, o elevado nível de inadimplência não deixa de ser um indicativo
da carência de apoio a esse segmento profissional.
A decisão de contribuir para a previdência social envolve uma verdadeira contabilidade
entre custos e ganhos presentes e futuros. A dificuldade de adaptar as regras previdenciárias à
realidade dos trabalhadores que vivem na informalidade se reflete, fundamentalmente, nas
limitações de manter a contribuição em períodos de dificuldade financeira, como também em
períodos de afastamento por doença ou acidente.
As iniciativas de políticas públicas para aqueles que exercem o trabalho autônomo
foram bem residuais. Ainda que o advento do Microempreendedor Individual (MEI) possa ser
considerado um avanço recente na escassez de políticas específicas para esse segmento de
trabalhadores, esta iniciativa possui grandes limitações ao não oferecer um atendimento
integrado ao trabalhador no acesso à informação, no conhecimento técnico especializado e
nos recursos materiais para aperfeiçoamento de sua atividade laboral. A elevada
inadimplência dos trabalhadores inscritos nessa personalidade jurídica é um claro e evidente
indício dessa realidade.
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