17

O USO DE PARÓDIAS COMO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO … · limitada literatura sobre o tema e das reflexões acerca da implementação do projeto desenvolvido no Colégio

Embed Size (px)

Citation preview

O USO DE PARÓDIAS COMO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO EM AULAS SOBRE MEIO AMBIENTE

Autor: GARCIA, Nilson Aparecido1 Orientadora: Cristina Lucia Sant’ana Costa Ayub2

Resumo: Este artigo tem por objetivo analisar a importância da paródia como ferramenta pedagógica na aprendizagem sobre o meio ambiente. A análise foi realizada a partir de uma reflexão em torno de uma limitada literatura sobre o tema e das reflexões acerca da implementação do projeto desenvolvido no Colégio Estadual Presidente Tancredo Neves no município de Imbaú, com alunos do 8º ano, cuja base textual principal estava contida em um caderno pedagógico produzido para esse fim. Na revisão da literatura o trabalho se propõe a discutir o conceito de meio ambiente e analisar a importância desse tema para a educação, e ainda a importância da utilização da paródia como ferramenta pedagógica para esse fim. Em seguida faz-se uma análise dos resultados da implementação do projeto na escola, onde se conclui que houve uma melhoria significativa no interesse dos alunos pelas temáticas abordadas e, consequentemente na aprendizagem dos conteúdos que foram escolhidos levando-se em conta a realidade local. Percebeu-se ainda que o trabalho tende a tornar-se mais efetivo, na medida em que se intensifica o processo de interdisciplinaridade na escola. Palavras-chave: Educação. Meio Ambiente. Paródia. 1 Introdução

A preservação do meio ambiente, a melhoria da qualidade de vida da população

mundial tem sido uma preocupação da sociedade mundial. A educação por sua vez deve

assumir sua responsabilidade no desenvolvimento de ações que possam contribuir para

essa preservação, garantindo assim a sustentabilidade do planeta.

No entanto, observa-se que as ações voltadas ao meio ambiente, apesar da

obrigatoriedade do ensino desse tema nos currículos escolares, não tem atingido o efeito

esperado. Dessa forma, é imprescindível que a escola e os profissionais da educação

desenvolvam estratégias para que a educação ambiental transforme a realidade local,

implicando na mudança de hábitos ou atitudes ambientalmente corretas em nossos

alunos.

Currículos, conteúdos e metodologias convencionais podem dar sua contribuição

para a mudança dessa realidade, porém, essas não têm sido suficientes para impor uma

nova dinâmica ao ensino da educação ambiental nas escolas e por consequência nas

1 Formado em Ciências Biológicas. Professor Rede Estadual de Ensino do Paraná. 2 Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Viçosa (1988), mestrado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa (1991) e doutorado em Biologia Celular e Molecular pela Universidade Federal do Paraná (2006). Professora adjunta da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

diferentes comunidades locais deste país, pois se podem verificar poucas ações

concretas de sustentabilidade.

Sendo assim, pretende-se com esse artigo, demonstrar que atividades lúdicas

como a paródia, podemconstituir-se numa importante ferramenta para o desenvolvimento

de conteúdos relacionados ao meio ambiente, criando condições necessárias a

aprendizagem, ao apresentar- se como uma forma dinâmica de se trabalhar determinados

conteúdos em sala de aula.

O objeto de estudo desse artigo é justamente á temática meio ambiente sendo

trabalhado na sala de aula através da construção coletiva de paródias, uma maneira

atrativa e divertida de se apresentar aos alunos diferentes conteúdos.

Ao analisar o influencia e as experiências vivenciadas dentro dessa perspectiva de

trabalho, na literatura disponível, paralelamente pretendem-se desenvolver atividades

com a paródia com alunos do 8º ano do ensino fundamental do Colégio Estadual Pres.

Tancredo Neves no Município de Imbaú, como intuito de identificar na prática, as

possibilidades e a eficácia dessa metodologia em sala de aula.

Diante da necessidade de se melhorar a qualidade do ensino na escola pública e

de se buscar novas estratégias de aprendizagem, esse estudo é de extrema importância

para o desenvolvimento de uma metodologia que implique na mudança de atitude dos

alunos em relação ao meio ambiente, ao se depararem com formas diferenciadas e

prazerosas de se ensinar e de aprender.

2 Referencial Teórico

É notória na mídia nacional e internacional a grande preocupação com a

preservação do meio ambiente. Organizações Não Governamentais (ONGs), entidade de

classe, sociedade civil, partidos políticos, entre tantas outras instituições, desenvolvem

ações voltadas para a proteção do planeta, assumindo uma luta incansável contra o poder

econômico e contra as ações que tem deteriorado cada vez mais o planeta Terra e por

consequência comprometendo o futuro da humanidade.

Para Travassos (2001), no âmbito das escolas é preciso que fique definido como

objetivo pedagógico, qual tipo de educação ambiental deve ser seguido, uma educação

conservacionista que é aquela cujos ensinamentos conduzem ao uso racional dos

recursos naturais e à manutenção de um nível ótimo de produtividade dos ecossistemas

naturais ou gerenciados pelo homem, ou uma educação voltada para o meio ambiente

que implica em uma profunda mudança de valores, em uma nova visão de mundo, o que

ultrapassa bastante o estado conservacionista.

Obviamente que a educação ambiental voltada para a preservação de

ecossistemas ou voltadas aos problemas do uso dos recursos naturais e dos equilíbrios

dos ecossistemas naturais, são importantes e necessárias, porém, para o

desenvolvimento de uma consciência ambiental, que implique na mudança de

comportamento dos cidadãos, é imprescindível que se considere o meio ambiente

humano. De qualquer forma, a evolução dos conceitos de Educação Ambiental tem sido vinculada ao conceito de meio ambiente e ao modo como este era percebido. “O conceito de meio ambiente reduzido exclusivamente aos seus aspectos naturais não permitia apreciar as interdependências, nem a contribuição das consciências sociais à compreensão e melhoria do meio ambiente humano". (DIAS, apud Travassos, 2001)

A ideia que se faz de meio ambiente tem sido discutida entre as diferentes

áreas do conhecimento humano. A noção de que meio ambiente está restrita à

conservação de rios e florestas apenas, está aos poucos sendo superado. Para se discutir

a questão ambiental é importante que se tenha a noção do conceito de meio ambiente. O termo “meio ambiente” tem sido utilizado para indicar um “espaço” (com seus componentes bióticos e abióticos15 e suas interações) em que um ser vive e se desenvolve, trocando energia e interagindo com ele, sendo transformado e transformando-o. No caso dos seres humanos, ao espaço físico e biológico soma-se o “espaço sociocultural. Interagindo com os elementos do seu ambiente, a humanidade provoca tipos de modificação que se transformam com o passar da história. E, ao transformar o ambiente, os seres humanos também mudam sua própria visão a respeito da natureza e do meio em que vive. (BRASIL, 1998. p.233).

Da mesma forma é necessário que se entenda o que vem a ser educação

ambiental, cujo tema deve superar a visão conteudista, ou seja, de uma disciplina teórica,

aplicada apenas nas aulas de ciências.

A escola, pela sua natureza e função social deve assumir essa condição de

protagonista da educação ambiental ao ter essa temática como proposta curricular

voltada para a interdisciplinaridade. A trajetória da presença da educação ambiental na legislação brasileira apresenta uma tendência em comum, que é a necessidade de universalização dessa prática educativa por toda a sociedade. Já aparecia em 1973, com o Decreto nº 73.030,

que criou a Secretaria Especial do Meio Ambiente explicitando, entre suas atribuições, a promoção do “esclarecimento e educação do povo brasileiro para o uso adequado dos recursos naturais, tendo em vista a conservação do meio ambiente. (BrASIL, 2007. p. 26).

Uma das possibilidades de uma educação ambiental efetiva e concreta na escola é

o trabalho numa perspectiva interdisciplinar de forma a dar um caráter mais coletivo e

dinâmico ao desenvolvimento desse tema na escola, tendo sido destacada em diversos

documentos oficiais, seja na escola pública ou privada como uma importante ferramenta

para a melhoria da qualidade do ensino e também para a compreensão do mundo por

parte dos alunos.

Para Poloni (2009), a interdisciplinaridade, atualmente, está sendo tratada como a

solução para o restabelecimento de uma nova ordem na educação-ensino, no país. O

termo interdisciplinaridade significa uma relação de reciprocidade, de mutualidade, que

pressupõe uma atitude diferente a ser assumida rente ao problema do conhecimento, ou

seja, é a substituição de uma concepção fragmentária para uma concepção unitária de

ser humano.

Para se aplicar uma proposta interdisciplinar é necessário que se compreenda o

que é a interdisciplinaridade no contexto de sala de aula.

A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os diferentes campos de conhecimento produzidos por uma abordagem que não leva em conta a inter-relação e a influência entre eles — questiona a visão compartimentada (disciplinar) da realidade sobre a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se constituiu. Refere-se, portanto, a uma relação entre disciplinas. (BRASIL, 2007. p.235).

Isso evidencia a necessidade de uma prática efetiva de educação ambiental

coletiva, envolvendo não somente algumas que compõem a matriz curricular da escola

pública, mas a participação das instâncias colegiadas e comunidade escolar e a inserção

desse tema no Projeto Político Pedagógico da escola, de forma a constituir-se uma

proposta coletiva e não do professor ou da disciplina de ciências.

O lúdico permite uma maior interação entre os assuntos abordados e quanto mais

intensa for essa interação, maior será o nível de percepções e reestruturações cognitivas

realizadas pelo estudante. O lúdico deve ser considerado na prática pedagógica,

independentemente da série e da faixa etária do estudante, porém, adequando-se a elas

quanto à linguagem, a abordagem, as estratégias e aos recursos utilizados como apoio.

(PARANÀ, 2009).

O uso do lúdico pode ser uma maneira de despertar o interesse do aluno e também

pode funcionar como meio de transformação deste aluno em termos sociais,

direcionando-o a uma vida integrada com a sociedade, comprometidos com os valores

sociais e os princípios de solidariedade. (BARBOSA; JÓFILI, 2004).

Dessa forma pode ser vista ainda como um recurso didático com caráter lúdico

para instaurar um processo significativo e instigador no ensino de Ciências. Aliás, a

utilização da música no contexto curricular pode ir além do divertimento e lazer.

Argumentam que outras funções podem ser acrescidas a esse recurso didático, tais como

“a transformação do aluno em termos sociais, em direção à conquista da cidadania, da

cooperação, do trabalho e de suas funções na sociedade”. (FERREIRA; DIAS, 2010).

A paródia, mais especificamente pode cumprir essa função na educação, a partir

do momento em que possibilita a construção de textos a partir dos conteúdos

relacionados ao meio ambiente, de uma maneira divertida e criativa.

3 Metodologia e Confecção

3.1 Construção de um Caderno Pedagógico

A metodologia utilizada para a implementação do Projeto foi a organização de um

Caderno Pedagógico com oito módulos, construídos como ferramenta de apoio aos

professores para trabalhar temas relacionados ao meio ambiente, com conclusão dos

trabalhos na forma de elaboração de paródias.

As escolhas dos módulos apresentados no Caderno Pedagógico resultaram da

observação de minha prática na escola pública onde muito se fala em educação

ambiental, mas poucas são as mudanças efetivas no que se refere à preservação do

mesmo.

Talvez essa ausência de efetividade na educação ambiental se deva ao ensino

descontextualizado da realidade do aluno, ou seja, não se discute a meio ambiente a

partir da realidade local. O objetivo então, do Caderno Pedagógico, foi trabalhar conteúdo

curricular contextualizando com a realidade local da escola e do município de Imbaú e de

forma lúdica utilizando-se a música e a paródia como ferramenta.

Para atingir esses objetivos o Caderno Pedagógico foi concebido a partir da

organização de oito módulos de forma a abordar o tema meio ambiente, sua relação com

a sustentabilidade e os aspectos locais como a questão do reflorestamento e poluição

decorrente do uso de agrotóxicos, visto que a principal atividade econômica do município

é o reflorestamento e agricultura familiar.

3.2 Implementação na escola

A implementação do projeto deu-se por meio da utilização do Caderno Pedagógico

em 12 aulas, sendo que nas oito primeiras foram desenvolvidos os módulos de acordo

com as atividades propostas em horário normal de aula, contando com a participação dos

professores de arte e geografia, cujos conteúdos foram desenvolvidos com o intuito de se

compor paródias sobre os temas: “O que é meio ambiente”, “Qual o nosso meio

ambiente”, “Ser sustentável”, “Deserto verde e a produção de papel”, “Produzir sem poluir:

é possível”, “Reciclar é preciso”, “Agricultura x Agrotóxicos”, “Recursos didáticos: Paródia

e meio ambiente”.

As atividades foram desenvolvidas com alunos do 8ª ano no período da manhã,

envolvendo um total de 35 alunos.

3.2.1 Como as paródias foram construídas

Após o trabalho com o texto de cada módulo, os alunos foram estimulados a

comporem paródias sobre esses assuntos, a partir do destaque de palavras-chave, pelos

alunos, nos referidos textos.

A criatividade dos alunos contou muito para a confecção das paródias, desde a

escolha das músicas a serem parodiadas, até mesmo a maneira com que o assunto foi

resumido e aplicado a paródia.

Ao final do trabalho foi feito uma apresentação em sala de aula com todas as

paródias e depois para a comunidade escolar em geral na hora do intervalo, foi muito

interessante, pois apareceram alunos que até então se mostravam inibidos para cantarem

suas paródias e no dia da apresentação se destacaram, como grandes músicos e

cantores.

Foi encaminhado aos pais e responsáveis pelos alunos uma autorização,

explicando o trabalho desenvolvido, bem como que a finalização do mesmo seria com a

apresentação de paródias comunidade escolar.

3.3 Resultados e discussão

A implementação do projeto deu-se com a utilização do Caderno Pedagógico

divididos em oito módulos a serem trabalhados em sala de aula.

No módulo I, foi abordado o tema “O que é o meio ambiente” cujo principal objetivo

foi entender o conceito de meio ambiente e que preservá-lo não significa apenas

preservar florestas e animais, pois o ambiente urbano é fundamental para a melhoria da

qualidade de vida das pessoas no campo e na cidade. Após a leitura do texto os alunos

assistiram ao filme “A era da estupidez”, com o objetivo de mostrar a que ponto chegou a

destruição ambiental no mundo e alerta para a responsabilidade de cada indivíduo em

impedir a anunciada catástrofe global. O filme é uma mistura de documentário e ficção.

Após o debate sobre o filme os alunos foram desafiados a elaborar paródias sobre

o tema. A sala foi dividida em cinco equipes de seis alunos para o desenvolvimento dessa

atividade.

Observou-se nesse primeiro módulo o interesse dos alunos em criar paródias no

estilo mais cômico, porém percebe-se em um primeiro momento um aprofundamento em

relação ao tema e sobre a necessidade de mudar a postura em relação ao colégio, o que

ficou evidenciado em algumas paródias.

3.3.1 Paródia da música “As mocinhas da cidade”, de Tonico e Tinoco

O meio ambiente é importante O meio ambiente escolar

Vamos juntos preservar Não é só a sala de aula,

Começando pelo pátio É o pátio o jardim a cantina

De nossa escola a limpar E a quadra de jogar

Na lixeira vamos jogar Vamos todos preservar

Papeis e plásticos, pra reciclar Pra nossa escola melhorar.

Após o término do módulo I, os alunos demonstraram uma grande percepção pelo

tema trabalhado e um grande envolvimento em preservar o meio ambiente começando

pelo espaço escolar.

O módulo II, “Qual o nosso meio ambiente?”, trouxe uma discussão em torno do

entendimento do meio ambiente a partir do micro de cada aluno, sala de aula, colégio,

casa, rua, bairro e cidade, enfatizando as contribuições que cada um pode fazer para

melhorara qualidade de vida de sua comunidade.

O terceiro módulo “ser sustentável” aborda as ações mais simples e possíveis que

podem ser adotadas de forma a contribuir para a sustentabilidade do planeta a partir de

ações locais e ou individuais. Ao se discutir ações de sustentabilidade, ao final do texto

sugeriu-se, por exemplo, a não utilização de sacolas plásticas no mercado, fazer xixi no

banho para evitar descargas, desligar os aparelhos não utilizados das tomadas, desligar o

chuveiro durante o banho,ao ensaboar-se entre outros.

Nesse módulo houve interesse dos alunos em confeccionar cartazes sobre as dez

ações possíveis para contribuir na redução da poluição e na construção de um ambiente

sustentável. Inclusive algumas dessas ações adotadas na própria escola.

Essa intervenção resultou numa atitude destacada por Travassos (2001), quando diz

que no âmbito das escolas é preciso que fique definido como objetivo pedagógico, qual

tipo de educação ambiental deve ser seguido, uma educação conservacionista que é

aquela cujos ensinamentos conduzem ao uso racional dos recursos naturais e à

manutenção de um nível ótimo de produtividade dos ecossistemas naturais ou

gerenciados pelo homem, ou uma educação voltada para o meio ambiente que implica

em uma profunda mudança de valores, em uma nova visão de mundo, o que ultrapassa

bastante o estado conservacionista.

O resultado da aplicação do módulo I e II aponta para essa segunda opção. Nesses

módulos foram construídas as paródias individualmente utilizando as ações possíveis

para buscar um planeta sustentável a partir do cotidiano local, e os alunos apresentaram

na sala de aula em duplas como mostra a figura 01 abaixo.

Figura 01: alunos apresentando paródia sobre reciclagem

Fonte: arquivo pessoal do professor PDE

3.3.2 Parodia da musica “Meu novo mundo”, de Charlie Brown Jr

Fiz essa canção para avisar algumas coisas,

cuide do planeta

a poluição mata as pessoas

prejudica os seres inocentes

cuide do planeta, ele é da gente.

O módulo IV, “deserto verde e a produção de papel”, tratou de uma questão local

visto que a região é um polo de reflorestamento cuja matéria-prima é utilizada na

fabricação de papel. O impacto ambiental dessa atividade é notório não só pela poluição

emitida pela indústria, mas também pela redução na diversidade biológica da região. O

tema é pertinente também em função da redução de espaços para a agricultura familiar,

de extrema importância sócio-econômica num município que possui um dos menores

(IDHs) Índice de Desenvolvimento Humano do Estado do Paraná.

Após a leitura do texto foi realizado um debate com depoimentos de alunos que

moram no meio rural, ficou evidenciado um total desconhecimento dos alunos em relação

ao termo “deserto verde” e sobre o impacto do reflorestamento para a diversidade da flora

e da fauna na região. Isso pode ser evidenciado nas dificuldades que os alunos tiveram

em desenvolver paródias com esse tema.

O módulo V tratou da questão da poluição resultante da produção do papel, e seus

impactos no meio ambiente e na saúde dos trabalhadores da indústria, e na população

que vive no entorno da indústria.

Na sequência, o módulo VI apresentou a solução da redução no consumo e a

reciclagem, não só do papel mas de outros produtos, como estratégia para a redução dos

efeitos da poluição desses materiais.

Na aplicação do sexto módulo foi realizado um concurso interno de paródias

levando em conta a originalidade e a pertinência do tema. Observou-se que os alunos

buscaram se aprofundar mais sobre o tema para identificar o problema e propor soluções.

Essa atitude está evidenciada na fala de Barbosa e Jófoli (2004), que apontam que

o uso do lúdico pode ser uma maneira de despertar o interesse do aluno e também pode

funcionar como meio de transformação deste aluno em termos sociais, direcionando-o a

uma vida integrada com a sociedade, comprometidos com os valores sociais e os

princípios de solidariedade.

Essa integração com a sociedade se evidencia na preocupação dos alunos em

produzir cartazes para a escola de forma espontânea e também está expressa no verso

da paródia abaixo produzido pelos alunos do 8º ano:

3.3.2 Parodia da musica “Meu novo mundo”, de Charlie Brown Jr

A poluição esta acabando com o mundo

eu vou ajudar para construir um novo mundo

a vontade de ajudar já é maior que tudo

não existe poluição no meu novo mundo.

Esse módulo trouxe o maior número de paródias, talvez pelo fato de tratar-se de

um tema mais próximo dos alunos, a reciclagem. A identificação dos jovens com o tema

repercutiu também na facilidade com que as composições surgiram como se observa no

trabalho abaixo.

Música: Ela é Top (Mc Bola )

Ela não joga, ela recicla

Tudo o que ela usa ela recicla 2 x

Ela faz, faz , ela conscientiza

E tudo que ela faz é pro planeta que precisa

Onde ela chega quer ajudar para o mundo melhorar

Mas para isso vamos agora começar a separar

Trabalhadeira de ofício sempre tem um compromisso

Reciclando com jeitinho

Sem ajuda de ninguém ela sabe, vai ser difícil

Reciclagem pro mundo é preocupação

Sustentabilidade e reeducação

Consciência para todos, vou reciclar de montão.

A letra dessa parodia evidencia um alto grau de percepção do conteúdo

trabalhado nesse e nos demais módulos, o que é destacada como positivo nas Diretrizes

Curriculares Estaduais para o ensino de Ciências no Estado do Paraná. (PARANÁ 2009).

O lúdico permite uma maior interação entre os assuntos abordados e, quanto

mais intensa for esta interação, maior será o nível de percepções e reestruturações

cognitivas realizadas pelo estudante. O lúdico deve ser considerado na prática

pedagógica, independentemente da série e da faixa etária do estudante, porém,

adequando-se a elas quanto à linguagem, a abordagem, as estratégias e aos recursos

utilizados como apoio. (PARANÀ, 2009).

O módulo VII “agricultura X agrotóxicos”, também destacou um problema local

que é a alta taxa de contaminação do solo, da água e também os altos índices de

intoxicação de trabalhadores rurais que manuseiam produtos agrícolas, trazendo

prejuízos para a saúde humana. Ao final dos estudos em sala de aula, foi programada

uma palestra com um técnico da EMATER para falar dos riscos pelo uso inadequado de

defensivos agrícolas na agricultura ou no meio urbano.

O modulo VIII, foi produzido para os professores ao trazer uma discussão teórica

acerca da importância da paródia para a aprendizagem de conteúdos relacionados ao

meio ambiente, além de trazer um passo a passo para a construção coletiva das paródias.

Um elemento importante em relação á construção das paródias foi a possibilidade

da ligação com conteúdos de outras disciplinas como arte, geografia e língua portuguesa,

não só enriquecendo o processo de construção mas também evidenciando a importância

da interdisciplinaridade, como forma de internalização do conteúdo.

Ao final da implantação do projeto foi realizado um concurso de paródias em sala

de aula, quando os alunos cantaram as músicas em conjunto, um momento divertido que

antecedeu a realização da atividade avaliativa sobre o tema estudado, no caso da foto

abaixo durante a aplicação do módulo V.

Figura 02: alunos cantando uma paródia sobre reciclagem

Fonte: arquivo pessoal do professor PDE.

Ao final do projeto as melhores paródias foram gravadas na própria escola e

apresentadas aos alunos no horário do intervalo, no pátio da escola. Também ficaram

expostas as letras das paródias no mural do salão da escola para visitação dos pais no

dia de entrega de boletins.

4 Conclusão

O meio ambiente é um conteúdo que pode despertar o interesse dos alunos,

desde que seja devidamente explorado, com temas de interesse, que façam parte do

contexto onde eles vivem e também quando se utiliza uma metodologia interessante.

A princípio o objetivo da implementação do projeto deu-se de forma a trabalhar os

conteúdos em sala com o objetivo de produzir paródias de forma coletiva com os alunos.

No decorrer do processo buscou-se parcerias com outros professores que se

interessaram pelo trabalho criando uma prática transversal.

Nessa perspectiva das transversalidades a Educação Ambiental, de acordo com

os PCNs, (Parâmetros Curriculares Nacionais), deve compor o Currículo juntamente com

outros temas como ética e cidadania, saúde, diversidade, entre outros.

Por tratarem de questões sociais, os Temas Transversais têm natureza diferente

das áreas convencionais. Sua complexidade faz com que nenhuma das áreas,

isoladamente, seja suficiente para abordá-los. Ao contrário, a problemática dos Temas

Transversais atravessa os diferentes campos do conhecimento. Por exemplo, a questão

ambiental não é compreensível apenas a partir das contribuições da Geografia. Necessita

de conhecimentos históricos, das Ciências Naturais, da Sociologia, da Demografia, da

Economia, entre outros. (Brasil, 2007. p. 25). Isso se evidenciou claramente na

implementação do projeto.

Apesar da legislação vigente e toda uma orientação do ponto de vista pedagógico

para que a Educação Ambiental seja trabalhada na escola em uma perspectiva

interdisciplinar, porém, poucas são as práticas efetivas que ocorrem nas escolas dentro

desse princípio. Isso ocorre em função da ausência do diálogo entre as disciplinas e

mesmo na formação acadêmica e na pesquisa.

Outro elemento que auxiliou no atingimento dos objetivos propostos foi o

envolvimento do aluno nos estudos dos textos e na composição das paródias, uma forma

divertida, descontraída, porém efetiva de aprendizagem, o que pode ser evidenciado na

fala espontânea de uma aluna e também evidenciado na figura 01, apesar da timidez de

alguns em participar das atividades.

“achei muito legal essa atividade, se fosse para estudar decorando é mais difícil, fazendo

paródia a gente nem percebe que está aprendendo”.

Essa percepção é compartilhada pelas Diretrizes Curriculares Estaduais para o

ensino de Ciências. O lúdico permite uma maior interação entre os assuntos abordados e,

quanto mais intensa for essa interação, maior será o nível de percepções e

reestruturações cognitivas realizadas pelo estudante. (PARANÁ, 2009).

Outro elemento que ficou evidenciado foi a preferência dos alunos por temas mais

comuns ou que foram trabalhados mais efetivamente como é o caso da reciclagem do

lixo. Observou-se na implementação do projeto que dois terços das paródias compostas

pelos alunos abordaram essa temática. Em tese, essa preferência deu-se em função das

ações da escola e do município em torno do assunto, que já vem sendo trabalhadohá

bastante tempo.

Por outro lado, percebe-se que temas como “O deserto verde”, do módulo VI, não

foi contemplado nas paródias em função do pouco conhecimento dos alunos sobre o

assunto, o qual jamais foi tratado dentro dos conteúdos de geografia ou ciências, apesar

de ser impactante na região, não só pelo aspecto ambiental, ao prejudicar a

biodiversidade da flora e da fauna e também social, em função da concentração de renda

e exclusão social ao limitar o desenvolvimento da agricultura familiar.

O desconhecimento dos alunos sobre o tema nos leva a necessidade de uma

reflexão em torno do currículo, o que se evidencia na fala do aluno a seguir.

“Não fiz música sobre esse deserto verde porque achei que tendo árvore tá bom, não

importa se é pinus ou qualquer outra”.

Essa resposta foi dada após questionados os alunos sobre o motivo que os levou a

escolher o tema para a paródia.

Diante dos resultados da implementação desse projeto e das reflexões em torno da

literatura pesquisada, percebe-se a necessidade de se repensar o currículo a partir da

realidade local, onde muito conhecimento pode ser construído a partir dos problemas

locais e que a disseminação desse conhecimento passa necessariamente pela utilização

de metodologias diferenciadas como a construção de paródias, que torna a relação

professor/aluno mais amistosa e as aulas mais divertidas e atraentes para os alunos.

5 Referencias BARBOSA, R. M. N.; JÓFILI, Z. M. S. Aprendizagem cooperativa e ensino de Química – parceria que dá certo. Ciência & Educação. v. 10, n.1, p. 55-61, 2004. BOVO, M. C. Interdisciplinaridade e Transversalidade como Dimensões da Ação Pedagógica. Revista Urutágua - Revista Acadêmica Multidisciplinar Centro de Estudos Sobre Intolerância - Maurício Tragtenberg Departamento de Ciências Sociais Universidade Estadual de Maringá (UEM). 2005. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: 3º e 4º Ciclos do Ensino Fundamental: introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio ambiente. Ministério da Educação. Brasília, DF/MEC. 1998. BRASIL. Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação ambiental na escola – Brasília: Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental: Ministério do Meio Ambiente/Departamento de Educação Ambiental : UNESCO, 2007. CARVALHO, V. F. O processo de construção de paródias musicais no ensino de biologia na EJA. 2008. Disponível e www.biblioteca.pucminas.br/teses/ EnCiMat_ Carvalho VF _1.pdf. acesso em 10 de maio de 2012. FAZENDA, I. C. A. Práticasinterdisciplinares na escola. São Paulo: Cortez, 1993. ________, Ivani C. A. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. Campinas: Papirus, 1994. FERREIRA, M. O. G. DIAS, I. C. Química encantada: aplicação de uma metodologia alternativa no ensino de química. Disponível em www.uespi.br/.../ QUIMICA%20ENCANTADA%20- Acesso em 08 de maio de 2012. FROTA, A. J. de S. A paródia em conto “Barroco ou Unidade tripartita”. Disponível em www.dacex.ct.utfpr.edu.br/8adolfo.htm. Acesso em 16 de junho de 2012. FURLAN, S. Educação Ambiental na escola. Revista Escola. 2010. Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/coordenador-pedagogico/entre vista-sueli-

furlan-educacao-ambiental-escolas-meio-ambiente-sustentabilidade-5298 70.shtml. Acesso em 25 de maio de 2013. GAINZA, V. H. Estudos de Psicopedagogia Musical. São Paulo: Summus. Novas buscas em educação, 1988. JAPIASSU, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1994. LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL – LDBEN. Lei Nº 9.394 de 20 de Dezembro de 1996, Brasília, 20 dez. 1996. MANOZZO. V. Interdisciplinaridade: Um desafio para a educação. 2011. Disponível em http://miltonborba.org/CD/Interdisciplinaridade/Encontro_Gauc ho_ Ed_ M ate m/cientif icos /CC47.pdf. Acesso em 02 de junho de 2013. MORGENSTERN, L. T. B. FRANCISCHETT, M. N. Educação ambiental: Uma proposta interdisciplinar. 2009. Disponível em http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/182-4.pdf. Acesso em 25 de maio de 2013. NUNES, H. G. L. O desafio da interdisciplinaridade e seu uso por professores de ciências no ensino básico – propondo soluções. XI encontro de iniciação à docência. UFPB. Disponível em http://www.prac.ufpb. br/ana is/xenex_xienid/xi_enid/prolicen/ANAIS/Area4/4CCENDBMPLIC01.pdf. Acesso em 20 de maio de 2013. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da rede pública de educação básica do estado do Paraná. Curitiba: SEED, 2009. PEREIRA, M. A. A importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem significativa na superação do fracasso escolar. Disponível em www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals /pde/arquivos/2233-8.pdf. Acesso em 11 de maio de 2012. POLONI, D. A. Ramos. Integração e interdisciplinaridade: Uma ação pedagógica. 2009. Disponível em http://www.cefetsp.br/edu/eso/delacirinter.html. Acesso em 20 de maio de 2013. SAVISKI, V.; NICOLINI, K. P. Atividade artístico-cultural como ferramenta para o Ensino de Química. XVI Encontro de Química da Região Sul: 2008.

TRAVASSOS, E. G. A educação ambiental nos currículos: dificuldades e desafios. Revista de Biologia e Ciências da Terra. Vol. 1 – Número 2. 2001. Disponível em http://eduep.uepb.edu.br/rbct/sumarios/pdf/educamb.pdf. Acesso em 14 de agosto de 2013.