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Cantado por Bob Dylan, redigido em versos e prosa por José Craveirinha, Luís Bernardo Honwana e Mia Couto, estampado nas técnicas do batik, Moçambique é relem- brado, em Irati, pelo engenheiro florestal, mestre em Ciências Florestais e professor do Colégio Florestal Estadual Presidente Costa e Silva, Alberto Tomo Chirinda. É de lá que Chirinda mostra a contribuição da cultura africana para a educação brasileira, sobretudo para o ensino da matemática, por meio do jogo N'txuva. De acordo com Chirinda, não há idade para começar a aprender a jogar o N'Txuva. Ele sugere que seja partir dos 7 anos, quando a criança está em pleno desenvolvimento das capacidades intelectuais e motoras. "O jogo tem uma natureza guerreira, pois, semelhante ao xadrez, o jogador tem de criar estratégias para vencer os inimigos. A criança fica fascinada com a capacidade que acumula de criar estratégias seguras para resolver problemas reais e atingir seus objetivos, pois todas as habilidades - a memória, a atenção, o raciocínio aritmético - são valorizadas hoje e serão importantes no futuro dela", destaca. O N'txuva é um jogo de tabuleiro milenar espalhado por toda a África e é jogado tanto por crianças como por adultos. O jogo foi pa- tenteado por Chirinda em 2004. Como é afri- cano, mostra a forma de pensar daquele povo e, por isso, já foi comprado por cerca de 40 escolas municipais de São José dos Pinhais. Agora, o tabuleiro está com um professor que faz parte da comissão do Ministério da Educação (MEC) para ser avaliado e, quem sabe, adotado pelo ministério. O professor acredita que o N’Txuva pode contribuir para desmistificar a maneira como o continente africano é abordado nas escolas. "Os professores falam da África de modo equivocado. Muitos não conhecem e não foram ensinados sobre a história do continente africano. A África é um continente com muitas realidades diferenciadas. Eles falam só a historia que conhecem – a fome e miséria - e pensam que estão fazendo sua parte, mas a África não é só o que a mídia transmite”, declara. Veja mais informações e as regras do jogo na página 2. O N’Txuva pode contribuir para desmistificar a maneira como o continente africano é abordado nas escolas. Na foto, alunos do Colégio Estadual Pilar Maturana. N’txuva o xadrez africano Jogado nas aldeias, tanto por crianças como por adultos, o N’txuva revela uma forma de pensar dos africanos Foto: Jane Marcia Madureira Há muito tempo os movimentos sociais, em especial o movimento social negro tem questionado a propo- sital ausência da resistência negra ao processo de escravização ocorrido no país. Até pouco tempo, era predomi- nante na sociedade brasileira, a idéia de que o fim da escravização foi fruto exclusivo da benevolência da Prince- sa Isabel. Só agora, a partir da Lei 10.639/03, começa-se nas escolas o ensino da grande re- sistência dos negros/ as a aquele processo de desumanização. Como a data 13 de maio estava muito embebida pela pri- meira visão, o movimento social negro construiu a data de 20 de novembro para celebrar a resistência e as contri- buições dos negros/ as para a formação da sociedade bra- sileira. Data que se comemora a morte de um símbolo desta resistência: Zumbi dos Palmares. Com a Lei , esse dia foi in- cluído no calendário das escolas, como dia nacional da consciência negra. Assim, para lembrar o 20 de novembro e propiciar algumas contri- buições para a reflexão nas escolas, mais uma vez publicamos o jornal 30 de Agosto Especial: Com raça e classe. Boa leitura! 20 de Novembro: dia da consciência negra! EDITORIAL O movimento social negro construiu a data de 20 de novembro para cele- brar a resistência e as contribuições dos negros/as para a formação da sociedade brasileira. Pela igualdade racial e social!

o xadrez africano - sistema.app.com.brsistema.app.com.br/portalapp/uploads/publicacoes/raca_classe_06_site.pdf · Cantado por Bob Dylan, redigido em versos e prosa por José Craveirinha,

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Cantado por Bob Dylan, redigido em versos e prosa por José Craveirinha, Luís Bernardo Honwana e Mia Couto, estampado nas técnicas do batik, Moçambique é relem-brado, em Irati, pelo engenheiro florestal, mestre em Ciências Florestais e professor do Colégio Florestal Estadual Presidente Costa e Silva, Alberto Tomo Chirinda. É de lá que Chirinda mostra a contribuição da cultura africana para a educação brasileira, sobretudo para o ensino da matemática, por meio do jogo N'txuva.

De acordo com Chirinda, não há idade para começar a aprender a jogar o N'Txuva. Ele sugere que seja partir dos 7 anos, quando a criança está em pleno desenvolvimento das capacidades intelectuais e motoras. "O jogo tem uma natureza guerreira, pois, semelhante ao xadrez, o jogador tem de criar estratégias para vencer os inimigos. A criança fica fascinada com a capacidade que acumula de criar estratégias seguras para resolver problemas reais e atingir seus objetivos, pois todas as habilidades - a memória, a atenção, o raciocínio aritmético - são valorizadas hoje e serão importantes

no futuro dela", destaca.O N'txuva é um jogo de tabuleiro milenar

espalhado por toda a África e é jogado tanto por crianças como por adultos. O jogo foi pa-tenteado por Chirinda em 2004. Como é afri-cano, mostra a forma de pensar daquele povo e, por isso, já foi comprado por cerca de 40 escolas municipais de São José dos Pinhais. Agora, o tabuleiro está com um professor que faz parte da comissão do Ministério da Educação (MEC) para ser avaliado e, quem sabe, adotado pelo ministério.

O professor acredita que o N’Txuva pode contribuir para desmistificar a maneira como o continente africano é abordado nas escolas. "Os professores falam da África de modo equivocado. Muitos não conhecem e não foram ensinados sobre a história do continente africano. A África é um continente com muitas realidades diferenciadas. Eles falam só a historia que conhecem – a fome e miséria - e pensam que estão fazendo sua parte, mas a África não é só o que a mídia transmite”, declara.Veja mais informações e as regras do jogo na página 2.

O N’Txuva pode contribuir para desmistificar a maneira como o continente africano é abordado nas escolas. Na foto, alunos do Colégio Estadual Pilar Maturana.

N’txuvao xadrez africano

Jogado nas aldeias, tanto por crianças como por adultos, o N’txuva revela uma forma de pensar dos africanos

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Há muito tempo os movimentos sociais, em especial o movimento social negro tem questionado a propo-sital ausência da resistência negra ao processo de escravização ocorrido no país. Até pouco tempo, era predomi-nante na sociedade brasileira, a idéia de que o fim da escravização foi fruto exclusivo da benevolência da Prince-sa Isabel. Só agora, a partir da Lei

10.639/03, começa-se nas escolas o ensino da grande re-sistência dos negros/as a aquele processo de desumanização. Como a data 13 de maio estava muito embebida pela pri-meira visão, o movimento social negro construiu a data de 20 de novembro

para celebrar a resistência e as contri-buições dos negros/as para a formação da sociedade bra-sileira. Data que se comemora a morte de um símbolo desta resistência: Zumbi

dos Palmares. Com a Lei , esse dia foi in-cluído no calendário das escolas, como

dia nacional da consciência negra.Assim, para lembrar o 20 de

novembro e propiciar algumas contri-buições para a reflexão nas escolas, mais uma vez publicamos o jornal 30 de Agosto Especial: Com raça e classe.

Boa leitura!

20 de Novembro:dia da consciência negra!

EDITORIAL

O movimento social negro construiu a data de 20 de novembro para cele-brar a resistência e as contribuições dos negros/as para a formação da sociedade brasileira.

Pela igualdade racial e social!

Educação com Raça e Classe

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Regras do Jogo de Tabuleiro N'txuva

Objetivo do Jogo

Como jogar?O presente Jogo de Tabuleiro consiste de 04 fileiras e de 06

colunas de casas. A cada jogador pertencem 02 fileiras e suas respectivas colunas.

As fileiras internas são denominadas de Ataque.As fileiras externas são denominadas de Defesa.As jogadas no Tabuleiro N'txuva são feitas obrigatoriamen-

te no sentido Anti-horário (contra o sentido dos ponteiros do relógio).

O jogo tem 02 fases. Na primeira fase só é permitido iniciar a jogada a partir de casas com mais de uma peça (2, 3 ou mais); na segunda fase, as casas ficam com apenas 01 peça, aí sim poderá movimentar 01 peça por vez, sendo proibido juntar estas peças.

O objetivo do N'txuva é de que a última peça em mãos caia em uma casa vazia da fileira interna do tabuleiro (ataque) eliminando as peças do adversário. Este objetivo é conseguido por meio de cálculos aritméticos simples e pela criação de estratégias.

1 - Preenche-se o tabuleiro com apenas 02 peças em cada casa.2 - Pegam-se todas as peças de uma casa e distribui-se pelas casas imediatamente à esquerda, deixando-se apenas 01 peça em cada casa. A casa inicial fica vazia.3 - Caso a última peça em suas mãos caia em uma casa com alguma(s) peça(s), recolhem-se todas as peças dessa casa e continua-se a distribuição até que a última peça caia em uma casa vazia.4 - Duas situações podem acontecer quando a última peça cair em uma casa vazia:4.1 - se a referida casa estiver na fileira externa (defesa), a jogada termina e é a vez do adversário jogar;4.2 - se a casa vazia estiver na fileira interna (ataque), e:4.2.1 – se houver, pelo menos, uma ou mais peças na casa da fileira interna (ataque) ou nas duas casas na coluna correspon-dente do adversário, eliminam-se essas peças retirando-as para fora do tabuleiro.4.2.2 - se as duas casas da coluna do adversário estiverem vazias ou a casa interna estiver vazia, mesmo que a casa da fileira externa

contenha peças, a jogada termina e é a vez do adversário jogar. 5 - O jogo continua com cada jogador definindo alvos, fazendo cálculos e criando estratégias para tentar eliminar as peças do adversário, sempre obedecendo ao item 4.26 - No N'txuva não há jogadas obrigatórias e é permitida a "fuga" sempre que tivermos as peças ameaçadas pela jogada seguinte do adversário.7 - Depois de seguidas eliminações e retiradas de peças do tabu-leiro, chega-se na 2ª Fase onde as casas ficam com apenas uma peça. Nesta fase as peças são movimentadas individualmente, de casa em casa, eliminando as peças das casas /colunas do adversário que estiverem na sua trajetória.8 - O jogo termina quando um dos jogadores consegue eliminar todas as peças do adversário.Fase Avançada: No início do jogo é possível estabelecer uma regra entre os jogadores para que em cada ataque vitorioso, o jogador tem direito a uma retirada adicional, isto é, o jogador escolhe uma e apenas uma casa e retira as peças nela contidas. Esta retirada funciona como quebra de estratégia do adversário.

Da África para o BrasilAlberto Chirinda faz parte da primeira geração de negros/as

que tiveram acesso à universidade em Moçambique. Formou-se em Engenharia Florestal e veio para o Brasil, em 1990, fazer mestrado em Ciências Florestais na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Sua percepção a respeito da questão racial teve um viés geográfico. "Não havia negros/as na universidade. Eles não estavam no centro da cidade. No final dos anos 90 conheci integrantes do movimento negro do Paraná e percebi que eles ficavam à margem do centro, ou seja, viviam na periferia", relembra.

Para ele, apesar de algumas iniciativas de governos em relação à questão racial, reconhece que no Brasil o preconceito é velado e que ainda é muito presente na escola. Por isso, procura mostrar a contri-buição dos povos africanos para a humanidade. "Organizo eventos na escola que abordam a cultura africana, mostro as esculturas de ébano, as máscaras africanas, o batik, a arte maconde. Em minhas palestras procuro falar sobre as personalidades negras, apontando o continente africano antes da colonização. Destaco os reinos afri-canos mais importantes, como os de Mali, Songhai, Yoruba, Congo, Monomotapa, Zulu, e seus famosos guerreiros como Sundatta Keita e Tchaka Zulu", explica.

Tchaka e outros personagens - Tchaka Zulu (1787-1828) foi um lendário guerreiro sul-africano que unificou várias tribos dis-persas da África do Sul na imponente nação Zulu. As suas táticas militares inovadoras e a alteração que fez no armamento dos seus guerreiros, permitiram criar um exército impressionante, organizado, disciplinado e eficiente. Estrategista, foi resistência nativa numa das mais célebres guerras africanas contra os ingleses e os colonos brancos, os boers.

Na literatura outros personagens que o professor destaca são os poetas José Craveirinha, Marcelino dos Santos (Kalungano), os escritores Mia Couto e Luis Bernardo Honwana. Deste último destaca um conto do best-seller cultuado no continente africano "Nos matamos o cão-tinhoso", chamado ‘As mãos dos Pretos’. “Neste conto, o autor discute a natureza, o mito e os preconceitos que cercam a questão racial no mundo. Então, o Luis Bernardo usa a literatura para mostrar que o trabalho resulta das mãos tanto de brancos quanto de negros", finaliza.

Moçambique – É um país da costa oriental da África Austral, limitado a norte pela Zâmbia, Malawi e Tanzânia, a leste pelo Canal de Moçambique e pelo Oceano Índico, a sul e oeste pela África do Sul, Swazilândia e Zimbabwe. A antiga colônia de Portugal, cuja capital é Maputo, conquistou a independência em 1975. Em 1979 o país entrou em uma guerra civil que terminou em 1992. Hoje os moçambicanos reconstroem o país sob um regime democrático.

Ficou com dúvida? Entre em contato com Alberto Chirinda: (042) 9103 6154/e-mails: [email protected] e [email protected].

Em palestras, o professor destaca os reinos africanos mais importantes, como os de Mali, Songhai, Yoruba, Congo, Mo-nomotapa, Zulu, e seus famosos guerreiros como Sundatta Keita e Tchaka Zulu

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A escola quilombola também deverá se tornar realidade no ano que vem. Naquele encontro, a Seed apresentou uma proposta pedagógica para escolas em territórios quilom-bolas. Para Georgina é um projeto avançado porque está sendo construído a partir da base, isto é, com o aval dos quilombolas, no entanto lembra que o Estado precisa investir na segu-rança das pessoas que vivem naqueles locais. “É preciso investir na educação quilombola, mas não vemos apoio às comunidades vio-lentadas como a do Varzeão, em Cerro Azul. Sabemos que as contradições fazem parte da sociedade, mas é preciso haver também um envolvimento profundo, e não paliativo, para garantir a titularidade das terras dos quilombolas e por fim à violência que ocorre hoje com essas populações”, observa.

Outro trabalho que será desenvolvido em relação à educação quilombola é o diagnóstico da educação nos quilombos brasileiros. Maria Clareth, que faz parte dos consultores que trabalharão neste projeto realizado pelo PNUD em parceria com o MEC/SECAD tem como ob-

Escola quilombola

Diagnóstico da educação quilombola

Livro didático e escola quilombola:conquista das comunidades paranaenses

Maria Clareth Gonçalves Reis, doutora em educação pela Universidade Fluminense, e Georgina Helena Lima Nunes, doutora em educação pela universidade Federal de Pelotas, acompanham no Paraná a implementação da educação quilombola. Juntas participaram no mês passado, em Guarapuava, da formação con-tinuada de professores que atuam em áreas remanescentes de quilombos. Na ocasião, realizaram mais uma oficina de produção de livro didático. São por meio dessas oficinas que a Seed está construindo o Livro de Alfabetização Quilombola, que servirá de apoio para a alfabetização dos quilombolas.

De acordo com Georgina, após contato com aproximadamente 15 comunidades quilombolas paranaenses, nascerá um livro de 180

páginas e ilustrado que irá apresentar os aspectos culturais, a vivên-cia, resistência, identidade e os saberes desta população. Organizado em partes, para garantir a fluidez da obra, servirá como recurso

didático para a Educação de Jovens e Adultos (EJA). “O livro tem essa perspectiva de ouvir as vozes dos sujeitos, relatar vivências, resgatar contos, descrever alegrias e desafetos dos quilombos. Mas como pensar esses temas deslocado de outros elementos? Dialogando. Como há um diálogo identitário, ou seja, foi

construído em oficinas que contava com participação das pessoas, a alfabetização se dará a partir da sua própria vivência cultural, da herança dos seus antepassados e é aí que reside a importância do livro”, explica Georgina sobre a originalidade da obra.

Maria Clareth, doutora em educação pela Universidade Fluminense, e Georgina, doutora em educação pela univer-sidade Federal de Pelotas, acompanham a implantação da educação Quilombola no Paraná.

“É preciso investir na educação quilombola, mas não vemos apoio às comunidades violentadas como a do Varzeão, em Cerro Azul.

jetivo final criar políticas públicas para colocar em prática a educação quilombola.

Para tanto os consultores trabalharão nos estados com maior número de quilom-bos – MG, PE, BA, PA e MA – e coletarão informações que subsidiarão as ações de governo nesta área. “Os consultores, com experiência mínima em educação e relações étnico-racial irão capturar o cotidiano das comunidades com vista à implementação da Lei 10.639/03 também nestes locais. Em três meses visitaremos 17 das mais ou menos cin-co mil comunidades mapeadas pela Fundação Palmares”, conclui.

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Escola: espaço privilegiado para por em prática aeducação das relações étnico-raciais

O Ministério da Educação (MEC), com a intenção de fazer a Lei 10639/03 virar realidade nas escolas, irá lançar ainda este mês o Plano Nacional Implementação da Lei 10639. O plano estabelecerá metas e estratégias. Dentre elas estão a formação continuada, cujo objetivo, até 2009, é fazer com que 30% dos professores e gestores atuantes na rede pública tenham fre-qüentado cursos de formação continuada, com no mínimo 180 horas de duração. A inclusão de conteúdos de Educação para as Relações Étnico-Raciais (ERER) nos concursos para professores e nos vestibulares em pelo menos 20% das universidades públicas e privadas é outra meta para o ano que vem.

A secretária de Gênero e Igualda-de Racial, Lirani Maria Franco da Cruz, lembra que a escola pública deve ser um espaço para superação de construções ideológicas presentes na sociedade que legitimam desigualdades raciais e sociais presentes na sociedade brasileira. “A lei 10.639 está amparada pela Constituição Federal desde 2003, no entanto, as construções ideológicas ainda refletem a falta, o desconhecimento de conteúdos histó-ricos e culturais da contribuição dos negros/as no processo de construção social da humanidade”, declara.

Para ela, é preciso respeitar as origens históricas e ma-nifestações culturais e religiosas das etnias dos alunos pre-sentes no cotidiano escolar, bem como apresentar a história

de resistência dos povos historicamen-te discriminados. “Precisamos refletir diariamente sobre manifestações de racismo no chão da escola fazendo o en-frentamento neces-sário no ambiente espaço escolar para sua superação”, pontua.

É o que faz a professora Tânia Lopes. Enquanto o plano não vem, professores como ela, compromissado com a educação das relações étnico-ra-ciais, realizam ativi-dades para eliminar as práticas racistas e preconceituosas no ambiente esco-

lar. Segundo ela, antes da lei 10.639, já trabalhava na escola as desigualdades de oportunidades. “Apresento dados estatísticos

que mostram as diferenças entre brancos e negros no mercado de trabalho, habitação, saúde, entre outros. Para mim a lei, indife-rente da cor do professor, é instrumento que legitima a nossa prática, legitima ações de combate ao racismo, descriminação racial e preconceito”, declara.

Atividades propostas – Tânia já fez inúmeras atividades que incluíam a questão

racial. Entre tantas já levadas para a escola, resgatou a história dos impérios africanos, en-tre eles Gana de Mali, fazendo com que os alunos pres tas sem atenção nos domínios de tecnologias que os africanos possuíam na época e que foram im-

portantes para construção do Brasil, além de valorizar as diferentes e diversas riquezas do continente africano. “Não há como pensar o Brasil sem os diferentes saberes do continen-te africano”, aponta.

Formação - A educação das relações étnico-raciais precisa começar nas séries iniciais, quando os valores são formados. Por outro lado, a exclusão da temática no ensino superior público e privado deixa despreparados milhares de profissionais da educação no mercado de trabalho.

Essa é a preocupação da professora Soraia Blank. “Minha maior preocupação é com relação à formação dos docentes nas universidades, local onde estas discussões deveriam fazer parte de todas as disciplinas e não apenas em forma de projetos ou pós-graduações específicas. A construção de uma efetiva peda-gogia do anti-preconceito deve estar presente no projeto político pedagógico de todas as instituições de ensino deste país, onde não fiquem no papel, mas sim na prática”, destaca.

Centro Intercultural Capoerê - Soraia é professora de língua espanhola, língua portuguesa e literatura e trabalha com a questão do anti-preconceito há três anos. Em Campo Largo, no bairro de Ferraria, desenvolve o projeto do Centro In-tercultural Capoerê na escola onde trabalha. O projeto funciona aos sábados, das 8h às 17h e atende cerca de 200 crianças e adolescentes.

Neste projeto, que envolve seis professores voluntários, os educandos – crianças e adolescentes - participam de debates sobre o anti-preconceito e de oficina de capoeira. “Percebi que a questão do preconceito existia de fato e pude comprová-la. Fui atrás de formação na UFPR e de outros professores e comecei a trabalhar. Como o estímulo à leitura é minha premissa de tra-balho docente para o desenvolvimento do intelecto cognitivo do educando, apresento lendas e mitos africanos que serviram de base para a construção de boa parte de nosso cinema nacional, da nossa literatura, telenovelas e outros”, declara.

Para ela, o importante foi trabalhar com esta questão em todos os âmbitos da escola: conselho de classe, reunião de pais e sensibilização dos alunos. “Este é um assunto sério e que deve ser trabalhado, em todas as disciplinas, durante o ano todo e não apenas estereotipá-lo em semanas específi-cas ou projetos. O mais importante para mim, enquanto educadora e pesquisadora, é que estou formando seres humanos, que serão lideranças diretas ou indiretas em um futuro próximo”, completa.

APP e relações raciais - O coordena-dor do Coletivo Esta-dual da Promoção da Igualdade Racial da APP-Sindicato, profes-sor Luiz Carlos Paixão, participou nos dias 1 e 2 de julho, em Brasília, do "Encontro Nacional sobre a Implementa-ção das Diretrizes Cur-riculares da Educação das Relações Étnico-Raciais". O evento contou com presença de representantes de todos os estados para aprovar o conjunto de diretrizes, ações e metas para o Plano Nacional.

A lei 10.639 que alterou a LDB está em vigor desde 2003, no entanto, as construções ideológicas ainda refletem a falta, o desconhecimento de conteúdos históricos e culturais da contribuição dos negros/as no processo de construção social da humanidade.

Em sala de aula a professora Tânia apre-senta dados estatísticos que mostram as diferenças entre brancos e negros no mercado de trabalho, habitação, saúde, entre outros

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Lirani Maria Franco da Cruz - diretora da nova Secretaria de Gênero e Igualdade Racial da APP-Sindicato

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Adivinhe quem vem para o jantar?A eleição de Barack Obama foi emocionante. Um desses

momentos em que sentimos o peso da história. A história acontecendo e nós nela. Participando, assistindo, vibrando.

Trata-se, sem dúvida, de um fenômeno o novo presidente americano. Formado em Harvard, o centro de excelência dos EUA, tem o tino da política. Além disso, é um grande orador, inteligente e rápido nas respostas. Do ponto de vista midiá-tico sua imagem é impecável. Et pourtant é negro. O negro que virou presidente. Nesse primeiro momento de euforia a imprensa internacional é só elogios às virtudes do novo homem mais poderoso do mundo.

Mas a profusão de matérias exaltando sua capacidade e retidão tem levado a um exagero, digamos, midiático. Obama está sendo visto como o novo Roosevelt, que vai salvar a economia americana da atual crise. Mais ainda, é visto como uma espécie de novo Kennedy, que vai propor uma nova ordem internacional, ajudando os países pobres da África,

por Mário Theodoro*

restabelecendo a paz no Oriente Médio, resgatando o diálogo com Cuba e Irã, etc. Honestamente, não sei se é correto imputar tantas qualidades e poderes a um simples mortal, mesmo que esse mortal esteja à frente do governo da maior potência econômica e militar. Sua campanha, centrada no resgate da dignidade e dos princípios maiores que nortearam a formação dos EUA, não nos autorizam a vôos interpretativos tão mais ambiciosos.

Essa supervalorização do homem Obama, lembra muito um filme de muito sucesso nos anos 60, cujo título tomei emprestado para este artigo: “Adivinhe quem vem para o jantar?”. É a história de um casal progressista e branco americano, cuja filha se apaixo-na por um negro. O choque inicial – do casal e dos expectadores – é mitigado quando começam a aparecer as informações do namorado indesejado: professor, formado em uma grande univer-sidade, com um currículo profissional invejável, etc. Aos poucos o negro vai se tornando alguém palatável, vai “embranquecendo” aos olhos de todos. Moral da história: o negro tem que ser alguém

acima da média, destacado, excepcional, um super-homem que, só assim, pode ultrapassar a barreira da cor.

Não sei se Obama é isso tudo. Acho que é um homem digno, com princípios, caráter e algumas boas idéias que podem levá-lo a fazer um bom governo, sobretudo para os americanos. Mas a pecha de “extraordinário” não lhe cabe e nem deve lhe caber. É um homem comum e é justamente isso que abrilhanta ainda mais a festa. Mas a mídia não agüenta essa verdade e parece querer nos indicar que um Negro na Casa Branca, só se for fora do comum. Adivinhe quem vem para o jantar? O super-homem.

*Doutor em Economia e diretor de Cooperação e De-senvolvimento Institucional do Ipea. O texto foi publi-cado no site www.irohin.org.br, em 08/11/2008.

Soraia: "o mais importante para mim, enquanto educadora e pesquisadora, é que estou formando seres humanos, que serão lideranças diretas ou indiretas em um futuro próximo”.

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Educação com Raça e Classe

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No início de outubro, educadores/as negros/as se entregaram à chefe de gabinete da Seed, Cinthya Vernizi Adachi de Menezes, a carta-documento do V Encontro de Educadores Negros e Negras do Paraná. No documento elen-cam uma série de prioridades que devem ser atendidas pelo governo estadual para efetivar a construção de uma educação compromissada com o respeito às diferenças étnico-raciais.

Além de estreitar o diálogo e a parceria com a Seed, no Estado, e com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diver-sidade (Secad) /MEC, em nível federal, os/as educadores negros/as querem que o Estado oficialize a realização anual do Encontro de Educadores Negros/as do Paraná, o incentivo ao Fórum Permanente de Educação e Diversidade Étnico-Racial do Esta-do, reconhecido em nível nacional pelas ações desenvolvidas, a consolidação e objetivação dos trabalhos das equipes multidisciplinares das es-colas da rede estadual de educação - atendendo a Deliberação 04/2006 do Conselho Estadual de Educação do Paraná (CCE-PR) – e entre outros, a formação continuada para membros das equipes multidisciplinares,

Os educadores defendem que a educação anti-racista no Paraná precisa ser política públi-ca permanente. De acordo com Nivaldo Arruda, tanto o Fórum como o Encontro são articulações dos/as educadores/as negros/as com a Seed,

movimento negro organizado e movimento sin-dical com o objetivo de implementar, de fato, a Lei 10.639/03 no Paraná e por isso diz que a carta é uma forma de garantir que a parceria com a Seed.

Para Jane Márcia Madureira Arruda, além de ampliar o debate, é preciso reformular os cur-sos de licenciatura e fazer a formação continua-da dos educadores. "A maioria dos professores vem de cursos de graduação sem a discussão da questão racial. O debate precisa ser levado

para as universidades, ou seja, para dentro dos cursos de licenciatura", apontou.

As questões trata-das, segundo a chefe de gabinete serão levadas

para a secretaria Evelyze. Em relação à imple-mentação da Deliberação 04/2006 do CEE-PR, assumiu o compromisso de entrar em contato com Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) para promover a articu-lação com as universidades estaduais nesta dis-cussão. Cinthya também recebeu as solicitações dos educadores quanto à produção de materiais didáticos pedagógicos, estímulos a eventos referentes à temática da história e cultura afri-cana e afro-brasileira e a efetiva incorporação dos conteúdos de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná, como estratégia para implementação dos Artigos 26A e 79B da LDB (Leis 10.639 e 11.645).

Educadores/as negros/as defendem a ampliação dos encontros de formação sobre a educação e relações étnicos raciais

Educadores entregam à Seed várias propostas do último Encontro dos Educadores Negros/as que visam imple-mentar leis para a efetiva "educação das relações étnico-racial" no Paraná

Jornal Educação com Raça e Classe da APP-Sindicato Nº 6 - novembro 2008 - APP-Sindicato - Filiada à CUT e à CNTE - Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná - Rua Voluntários da Pátria, 475, 14º andar, CEP 80.020-926, Curitiba, Paraná - Fone (41) 3026-9822, Fax (41) 3222-5261 www.app.com.br • Sec. Imprensa e Divulgação: Luiz Carlos Paixão da Rocha | Secretaria de Gênero e Igualdade Racial: Lirani Maria Franco da Cruz | Colaboração: Jane Márcia Madureira.

Gestão Independência, Democracia e Luta | 2008 - 2011Marlei Fernandes de Carvalho - Presidente • Isabel Catarina Zöllner - Secretaria Geral • José Rodrigues Lemos - Secretaria de Finanças • Janeslei A. Albuquerque- Secretaria Educacional • José Valdivino de Moraes - Secretaria de Funcionários • Miguel Angel Alvarenga Baez - Secretaria de Políticas Sindicais • Clotilde Santos Vasconcelos - Sec. Adm. e Patrimônio • Edilson Aparecido de Paula - Secretaria de Municipais • Luiz Carlos Paixão da Rocha - Sec. Imprensa e Divulgação • Áurea de Brito Santana - Secretaria de Assuntos Jurídicos • Tomiko Kiyoku Falleiros - Secretaria de Aposentados • Silvana Prestes Rodacoswiski - Secretaria de Políticas Sociais • José Ricardo Corrêa - Secretaria de Organização • Maria Madalena Ames - Sec. de Formação Política Sindical • Mariah Seni Vasconcelos Silva - Secretaria de Sindicalizados • Lirani Maria Franco da Cruz - Sec. Gênero e Igualdade Racial • Idemar Vanderlei Beki - Secretaria de Saúde e Previdência | Jornalistas: Andréa Rosendo (4962-PR) - Projeto Gráfico: Rodrigo Augusto Romani - Impressão: Gráfica World Laser - Tiragem: 5 mil exemplares.

EXPEDIENTE

Coletivo de Promoção da Igualdade Racial da APP-Sindicato

O Coletivo de Promoção da Igualdade Racial da APP-Sindicato participa do Coletivo Nacional Anti-Racismo “Dalvani Lellis” da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) e da Comissão Nacional Contra Discriminação Racial (CNCDR) da CUT. Atualmente a APP tem coletivos regionais em funcionamento em vários núcleos sindicais.

Veja alguns contatos do Coletivo no Estado:APP - Estadual • Luiz Carlos Paixão e Silvana Prestes | Cons. Est. de Educação • Romeu Miranda e Osvaldo Araújo | NS Arapongas • Maria Idalina | NS Apucarana • Neuza Aparecida e Maria de Lourdes VerollaNS de Assis Chateaubriand • Marlete Ferreira | NS Campo Mourão • Neide Rodrigues e Lucia | NS Curitiba Norte • Jane Marcia e Ronaldo Tomaz | NS Curitiba Sul • Tânia Lopes | NS Cascavel • Jomar Vieira Rocha e Rosani Reis | NS Francisco Beltrão • Pedro Ferreira Almeida | NS Guarapuava • Terezinha Daiprai e Pedro Galdino | NS Ivaiporã • Adriana CustódioNS Londrina • Edmundo Novaes | NS Maringá • Aracy Adorno, Cleusa Batista e Vilma | NS/Ctba Metropolitano Norte • Wilma Santos, Marlete Liocinio e Jair Rafael | NS Paranaguá • Ezequias ToledoNS Paranavaí • Celso Santos | NS Ponta Grossa • Vera Rosi, Marisa Camargo e Gledis | NS Toledo • Iracema, João Batista | NS Umuarama • Marisa Braga

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Os educadores defendem que a educação anti-racista no Paraná

precisa ser política públicapermanente.

Participaram da reunião pela APP-Sindicato o secretário de finanças, José Lemos, a secretária de Gênero e Igualdade Racial, Lirani Maria Franco da Cruz e o secretário de imprensa e coordenador do Coletivo de Promoção da Igualdade Racial da APP, Luiz Carlos Paixão. A Seed foi representada pela chefe de gabinete da Seed, Cinthya Vernizi Adachi de Menezes, o Coordenador dos Desafios Educacionais Contemporâneos Diretoria de Políticas e Programas Educacionais (SUED/SEED), Sandro Savoia e a assessora da Diretoria de Políticas e Programas Educacionais, Maria Bethânia de Araújo. Pelo grupo dos educadores/as negros/as compareceram os professores Nivaldo Arruda, Vilma dos Santos, Beatriz Gabardo, Jane Márcia Madureira Arruda, Jomar Vieira Jair Rafael, Willian Barbosa, Jane Márcia Madureira Arruda, Dalzira Maria Aparecida (Iyà Gunã) e Lidia lima.

Novembro - algumas atividades13 e 14/11 – 2ª etapa do 1º Seminário

Étnico Racial de Pinhais com as palestras “Outra Visão sobre o Continente Africano” e “A Religiosidade de Matriz Africana”, com a expo-sição “Arte Negra”, de Jane Márcia Madureira. Promoção do NS Metro Norte.

17 a 21/11 - I Simpósio de História e Cul-tura Afro-brasileira. O evento tem como objetivo discussões e reflexões sobre história e cultura africana e afro-brasileira, bem como resgatar aspectos culturais e históricos africanos e dis-cutir a importância da Lei 10.639/2003 que institui a obrigatoriedade do ensino de História

e Cultura Afro-brasileira em todo o currículo da rede pública e particular de ensino da Educação Básica Nacional. Promoção do Coletivo da Promoção da Igualdade Racial do NS de Londrina

19/11 - Debate sobre a questão racial no Centro Che, às 19horas, em Curitiba.

20/11 - A Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Renda(SETP) promove, das 13h30 às 18h o Seminário Promoção da Igualdade Racial - O mundo do trabalho que queremos!, em Curitiba.

20/11 - Palestra sobre a Lei 10.639/03, às 8h30, no Colégio Pe. Gualter Farias Negrão, em Cruz Maltina. Promoção do NS de Apucarana.

21/11 – Peça teatral “100 Anos de Solano Trindade”, às 20h30, no teatro Guairinha, em Curitiba, com entrada franca.

22/11 – Concurso Beleza de Palmares, às 21 horas, na sociedade Morgenau, em Curitiba.

23/11 – Espetáculo “Da África para o Brasil, uma outra história”, às 15 horas, no teatro Guairi-nha, em Curitiba, com entrada franca.

27/11 - Palestra sobre a Lei 10.639, em Palmital.

28/ 29 e 30/11 - Reunião da Comissão Nacional contra a Discriminação racial da CUT (CNCDR/CUT), em São Paulo. Pautas: História da

África e a luta do povo negro, aprovação do Estatuto da Igualdade Racial na Comissão Es-pecial da Câmara dos Deputados; Fórum Social Mundial; Marcha da Classe Trabalhadora em Brasília; Criação da Secretaria de Combate ao Racismo da CUT; GT's de Trabalho da CNCDR/CUT e outros temas.

Mais informações no site da APP:www.app.com.br