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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA Observadores de Cyberbullying: A adoção de estratégias de enfrentamento e emoções associadas Sónia Patrícia da Silva gomes MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA (Secção de Psicologia da Educação e da orientação) 2016

Observadores de Cyberbullying: A adoção de estratégias de ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33106/1/ulfpie051414_tm_tese.pdf · As definições propostas para o cyberbullying

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

Observadores de Cyberbullying:

A adoção de estratégias de enfrentamento e emoções associadas

Sónia Patrícia da Silva gomes

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA (Secção de Psicologia da Educação e da orientação)

2016

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

Observadores de Cyberbullying:

A adoção de estratégias de enfrentamento e emoções associadas

Sónia Patrícia da Silva gomes

Dissertação orientada pela Professora Doutora Ana Margarida Veiga Simão, apresentada à

Faculdade de Psicologia – Universidade de Lisboa, para obtenção do grau de Mestre em Psicologia

da Educação e Orientação

2016

“Um quadro bom no meio de quadros maus

acaba por se transformar num mau quadro.

E um quadro mau no meio de quadros bons

acaba por se tornar um bom quadro.”

Pablo Picasso

Agradecimentos

À Prof.ª Doutora Ana Margarida Veiga Simão por me ter dado a oportunidade de participar num

projeto de grande relevo em Portugal. Obrigada por todo o trabalho de orientação, incentivo e

partilha de ideias. Um obrigada ainda maior por me ter permitido crescer, enquanto profissional e

por me ter permitido participar de todo o trabalho desenvolvido por uma equipa de investigação

fantástica! Quero deixar expresso os meus sinceros agradecimentos por ter contribuído, e por tudo

ter feito, para que eu quisesse ir mais além e continuar os meus estudos, algo que sem o incentivo e

o apoio da Professora talvez não acontecesse. Muito obrigada!

À equipa de investigação do Projeto Cyberbullying por todo o carinho e apoio e por permitirem

que me sentisse parte integrante do grupo, equipa à qual, de seguida, agradecerei individualmente.

À Doutora Paula da Costa Ferreira por todo o trabalho de apoio, profissionalismo demonstrado,

incentivo, boa disposição e empenho. Um obrigada por todo o ensinamento que com certeza irá ser-

me útil no futuro. Um especial agradecimento por ter estado sempre disponível para me ajudar

sempre que foi preciso e sempre com empenho e interesse. Os meus sinceros agradecimentos,

Paula!

À Doutora Paula Paulino igualmente pelo apoio e partilha de ideias que contribuíram para a

construção deste trabalho. Um obrigada especial pela disponibilidade demonstrada!

Ao Doutor Sidclay Souza pela partilha de conhecimento, pela troca de ideias, pela disponibilidade

e pelo bom humor sempre demonstrado!

Aos meus pais por todo o apoio que me têm dado ao longo da vida, por me apoiarem sempre nas

decisões que tomo e por me incentivarem desde sempre. Sem eles nada disto teria sido possível.

Um obrigada muito especial por serem quem são.

Ao Pedro por ter contribuído igualmente para que este trabalho fosse possível. Agradeço aqui o

apoio, incentivo e compreensão nos momentos mais difíceis.

À Andreia Machado, minha irmã do coração, por me ter incentivado a ir mais longe, sempre com

a sua boa disposição transformou os momentos difíceis e de indecisão em resoluções e ideias.

À Faculdade de Psicologia por me ter acolhido pela segunda vez, pelo profissionalismo e bom

desempenho dos seus profissionais que fazem com que volte sempre a esta casa. Bem hajam!

ii

Resumo

O crescente desenvolvimento das tecnologias de informação e da comunicação (TIC) é um

acontecimento muito significativo para o mundo científico e que permite a toda a população ter

acesso à Internet em qualquer local, através de um dispositivo móvel. Para os jovens, a crescente

utilização das TIC pode constituir uma ameaça, no sentido em que uma má utilização da Internet

pode conduzir ao cyberbullying. O cyberbullying traz consequências negativas para a saúde dos

jovens, consequências essas que podem ser reduzidas pela intervenção de quem observa o

fenómeno.

Assim, inserido no projeto aprovado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), registado

com o título, Cyberbullying: A regulação do comportamento através da linguagem e com a

referência TDC/MHCPED/3297/2014, o presente estudo pretende analisar o comportamento dos

observadores adolescentes, através do estudo das estratégias de enfrentamentopor si utilizadas, bem

como das emoções por eles sentidas após adotarem uma estratégia de enfrentamento. Para além

disso, procura compreender a influência que experiências como observador cybervítima e

observador cyberagressor têm nas estratégias de enfrentamento e nas emoções associadas. Para isso,

aplicou-se o Inventário de Incidentes Observador de Cyberbullying (IIOC) num colégio privado da

região de Lisboa (N = 529). Este estudo revelou que as estratégias de enfrentamento de suporte

social e as de evitamento são as mais utilizadas pelos observadores, bem como as emoções

negativas são predominantes após agirem. Não se encontrou diferenças significativas na adoção de

estratégias de enfrentamento e emoções associadas nos observadores cybervítimas e nos

observadores cyberagressores, embora este estudo tenha revelado a ocorrência da sobreposição de

papéis, mais frequente no cyberbullying. A prevenção e intervenção devem ter em conta as

especificidades do cyberbullying e a sobreposição de papéis que este fenómeno permite.

Palavras-Chave:Cyberbullying; Observadores; Estratégias de enfrentamento, Emoções

iii

Abstract

The growing development of information and communication technologies (ICT) is a very 6ignify-

cant contribution to the scientific world and that allows the entire population to have access to the

Internet anywhere through a mobile device. For young people, the growing use of ICT may consti-

tute a threat, in the sense that a misuse of the Internet can lead to cyberbullying. Cyberbullying

brings negative consequences for the health of young people, which may be reduced by the inter-

vention of those who observe the phenomenon. Thus, as part of the project approved by the Foun-

dation for Science and Technology (FCT), registered with the title, Cyberbullying: The regulation

of behavior through language, with the reference: TDC/MHCPED/3297/2014, the present study intends to

analyze the behavior of bystanders by examining the intervention strategies they use, as well as the

emotions they experience after adopting an intervention strategy. In addition, this study seeks to

understand whether there is a difference in bystander behavior and the emotions associated with this

behavior, depending on whether they have been a cybervictim or a cyberagressor. Therefore,

the Inventory of Observed Cyberbullying Incidents (IIOC) was applied in a private

school in Lisbon (N = 529).

This study revealed that social support and avoidance intervention strategies are more used by bys-

tanders. Also, negative emotions are predominant in relation to how the bystanders behaved. We

did not find signitifacnt differences regarding the strategies used and the emotions felt between bys-

tanders who had had a previous experience as cybervictims and those who had a previous expe-

rience as cyberaggressors. Nontheless, this study has revealed how overlapping may occur regard-

ing the experiences bystanders may have had as cybervictims and cyberaggressors. Prevention and

intervention should consider these specificities, as well as the overlapping of roles.

Keywords: Cyberbullying; Bystanders; Intervention strategies, Emotions.

iv

Índice Geral

Introdução ............................................................................................................................................ 1

Capítulo I – Enquadramento Teórico ................................................................................................... 5

1. O conceito de Cyberbullying e suas principais características ................................................. 5

2. Cyberbullying nos adolescentes: Porquê? ................................................................................. 7

3. A Atuação dos Observadores no Cyberbullying ..................................................................... 10

4. As estratégias de enfrentamento dos observadores no cyberbullying ..................................... 14

5. As Emoções e o coping ........................................................................................................... 17

Capítulo II – Metodologia de investigação ........................................................................................ 22

1.Objetivos da investigação e Questões de Investigação ............................................................... 22

2. Caracterização da Amostra ........................................................................................................ 23

3.Procedimento .............................................................................................................................. 24

4.O Instrumento ............................................................................................................................. 25

5.Análise de dados ......................................................................................................................... 25

Capítulo III – Análise e discussão dos resultados .............................................................................. 27

1Análise das qualidades psicométricas do IIOC ............................................................................ 27

2.Estatística Descritiva e Correlações ............................................................................................ 28

3. Discussão dos Resultados .......................................................................................................... 35

Conclusão ....................................................................................................................................... 40

Limitações do Estudo ................................................................................................................. 41

Implicações e estudos futuras .................................................................................................... 41

Referências Bibliográficas ................................................................................................................. 43

v

Índice de tabelas e quadros

Tabela 2.1. Distribuição dos alunos por género e idade (n= 529).................................................................................23

Tabela 3.1. Coeficientes alfa de Cronbach para as subescalas de estratégias de enfrentamento do IIOC (n=529)...27

Tabela 3.2. Coeficientes alfa de Cronbach para as subescalas das emoções do IIOC (n=529)...................................28

Tabela 3.3. Médias e Desvios-padrão das variáveis (n = 529).......................................................................................29

Tabela 3.4. Correlações das variáveis do estudo (coeficiente de Spearman)................................................................29

Tabela 35. Estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores perante um incidente de cyberbullying..........33

(n= 529)

Tabela 3.6.Emoções sentidas pelos observadores após a adoção de uma estratégia de Enfrentamento (n = 529)...........34

vi

Lista de Anexos

ANEXO II - CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO

Anexo II.1 - Distribuição dos alunos por género e por ano de escolaridade (n=529).

Anexo II.2. - Distribuição da utilização do computador como forma de acesso à Internet (n = 529)

Anexo II.3 - Distribuição da utilização do telemóvel como forma de acesso à Internet (n = 529)

Anexo II.4 - Distribuição da utilização do tablet como forma de acesso à Internet (n = 529)

Anexo II.5 - Distribuição da utilização de consola de jogos como forma de acesso à Internet (n = 529)

Anexo II.6 - Distribuição dos alunos por género e tempo de acesso à Internet (n= 529)

ANEXO III - ANÁLISE DO IIOC E ANÁLISE ESTTÍSTICA

Anexo III.1 – Análise e distribuição dos itens da escala de estratégias de enfrentamento (n = 529)

Anexo III.2 – Análise e distribuição dos itens da escala de emoções sentidas após adoção de estratégia

de enfrentamento (n = 529)

Anexo III.3 - Estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores cyberagressores (n=303)

Anexo III.4 - Estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores cybervítimas (n=378)

Anexo III.5 -Correlação entre as variáveis do estudo e a variável observador cyberagressor (n=303).

Anexo III.6 - Correlação entre as variáveis do estudo e a variável observador cyberagressor

n=378).

Vii

1

Introdução

Nas últimas duas décadas, o crescente desenvolvimento das novas tecnologias de informação e

de comunicação (TIC) conduziu à utilização massiva de vários dispositivos eletrónicos, tais como,

telemóveis, tablets, computadores, consolas de jogos, etc., a partir dos quais é possível aceder-se à

Internet. Há cerca de alguns anos atrás, este acesso era feito quase exclusivamente a partir de casa,

enquanto que atualmente pode ser realizado através de qualquer dispositivo móvel, fora de casa, o

que traz algumas implicações negativas. Para o mundo científico, o desenvolvimento das TIC é de

grande importância e constitui uma verdadeira revolução para a comunicação social, porém, o

problema surge quando uma grande parte dos utilizadores são crianças e jovens adolescentes ainda

sem a maturidade emocional necessária para lidar com os conteúdos a que podem ter acesso.

(Kowalski, Limber, & Agatston, 2012). Assim, é urgente um controlo mais efetivo aos conteúdos

de acesso dos jovens, embora, a partir do momento em que a Internet pode ser acedida fora de casa

e fora da escola este controlo perde-se. Sem vigilância por parte de adultos significativos é muito

fácil aos jovens fazerem uma má utilização da Internet. São eles que mais utilizam aplicativos como

o Facebook, Instagram, Twitter, Snapchat, por exemplo, e utilizam ainda o recurso ao envio de

SMS através do telemóvel (Kowalski, Limber, & Agatston, 2012). Estes aplicativos e SMS podem

ser utilizados para maltratar, injuriar, fazer-se passar por outra pessoa, espalhar rumores falsos,

entre outros exemplos de má utilização da Internet. Este fenómeno é conhecido por Cyberbulliyng.

As definições propostas para o cyberbullying são várias, embora aquela que mais se destaca na

literatura é a que incorpora os conceitos chave definidos por Olweus (1993) para a definição de

bullying, que são: praticar ações agressivas, com repetição ao longo do tempo e intenção de magoar,

com superioridade de poder de um ou um grupo sobre um ou vários indivíduos. Smith, Mahdavi,

Carvalho, Fisher, Russell e Tippett (2008), definem cyberbullying como sendo um ato agressivo,

intencional, levado a cabo por um grupo ou por um indivíduo, com recurso à utilização de

2

dispositivos eletrónicos, repetidamente ao longo do tempo contra uma vítima, ou várias, que não se

conseguem defender facilmente.

O Cyberbullying tem sido alvo de estudos exaustivos por todo o mundo (Ang, 2015; Burton,

Florell & Wigant, 2012; Dooley & Cross, 2009; Francisco, Veiga Simão, Costa Ferreira & Martins,

2014; Gahagan, &Vaterlaus, 2015; Pabian, Vandebosch, Poels, Cleemput &Bastiaensens, 2016;

Vandebosch, Cleemput & Desmet, 2013) considerando as consequências negativas a si associadas,

como por exemplo, o baixo rendimento académico, o elevado nível de absentismo escolar e as

várias consequências negativas para a saúde pública (e.g. tristeza, ansiedade, depressão, ideação

suicida e mesmo o suicídio) (Raskauskas & Stols, 2007). As emoções sentidas pelas vítimas e pelos

agressores de cyberbullying têm sido investigadas (Caetano, Freire, Veiga Simão, Martins &

Pessoa, 2016; Gualdo, Hunter, Durkin, Arnaiz & Maquillón, 2014), contudo, poucos estudos

existem sobre as emoções sentidas pelos observadores, embora também eles sejam protagonistas e

também eles experenciem emoções após observarem incidentes de cyberbullying, (Desmet,

Veldeman, Poels, Bastiaensens, Cleemput, Vandebosch & Bourdeaudhiuj, 2014). Lazarus e

Folkman (1968) consideravam importante a relação entre aquilo que se sente numa situação

desagradável e aquilo que se faz para reduzir as consequências negativas associadas a essa situação.

Ou seja, as estratégias utilizadas para lidar com situações adversas (e.g. cyberbullying) estão

relacionadas com a avaliação das emoções sentidas pelos indivíduos. Isto remete para a importância

que as emoções e as estratégias de enfrentamento têm perante um acontecimento adverso (Lazarus

& Folkman, 1968). Estudos (Raskauskas, & Amanda Huynh, 2015), mostram que de entre as

várias estratégias de coping utilizadas pelas vítimas para reduzir as consequências negativas do

cyberbullying, a procura de suporte social (e.g. professor, pais, amigos ou colegas de escola) é a

mais utilizada. Outro protagonista que pode oferecer suporte social são os observadores e se se

considerar o elevado número destes intervenientes no cyberbullying (Francisco, Veiga Simão,

Ferreira & Martins, 2014), muitos são aqueles que podem providenciar ajuda e contribuir para a

redução das consequências negativas associadas a este fenómeno (Desmet, Bastiaensens, Cleemput,

3

Poels, Vandebosch, Cardon & Bordeaudhuij, 2015; Quirk & Campbell, 2014). Apesar da

importante contribuição que estes protagonistas podem fornecer, pouca investigação existe sobre as

suas estratégias de atuação. Para além disso, considerando-se as características do cyberbullying é

possível ocorrer sobreposição de papéis, ou seja, é possível que uma vítima se transforme num

agressor ou vice-versa ou até mesmo que um observador se torne vítima ou agressor e, pouca

investigação existe igualmente sobre este tema. Assim, torna-se importante não só compreender as

formas de atuação dos observadores num incidente de cyberbullying como também a influência que

outras experiências (e.g.como vítima ou agressor de cyberbullying), podem ter na adoção das

estratégias de enfrentamento e nas emoções sentidas após atuarem. Ao longo deste trabalho utilizar-

se-á o conceito estratégias de coping sempre que se faça referência às estratégias adotadas pelas

vítimas face ao cyberbullying, ao passo que para os observadores irá adotar-se o termo

“enfrentamento”, por se considerar que o acontecimento observado não constitui uma ameaça tão

forte para o self do indivíduo observador quanto constitui para a vítima. Para além disso, este

trabalho não avalia o grau de perturbação que a observação do cyberbullying causa no observadores

para que se possa utilizar o conceito de coping.

Com a presente investigação, pretende-se analisar a dinâmica que envolve a atuação ou a não

atuação dos observadores perante um incidente de cyberbullying. Assim, este estudo tem como

principais objetivos identificar as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de

cyberbullying e as emoções por eles sentidas após a adoção dessas estratégias, em jovens com

idades compreendidas entre os 11 e os 18 anos de idade. Para além disso, procura analisar a

influência que a sobreposição de papéis pode ter na seleção das estratégias de enfrentamento e nas

emoções associadas. Este estudo revela-se importante, na medida em que procura contribuir para a

compreensão da atuação dos adolescentes observadores de cyberbullying, ainda pouco investigado

na literatura. Para além disso, revela-se um estudo inovador no sentido em que procura estudar as

emoções sentidas pelos observadores após enfrentarem um acontecimento de cyberbullying, não

existindo referências na literatura sobre este assunto. Outra inovação prende-se com a análise da

4

influência que experiências como cybervítima ou cyberagressor podem ter na seleção de estratégias

de enfrentamento e nas emoções posteriormente sentidas, enquanto observadores de cyberbullying.

5

Capítulo I – Enquadramento Teórico

1. O conceito de Cyberbullying e suas principais características

As TIC fizeram emergir uma nova expressão de violência, onde o cyberbullying é considerado

como um subtipo do bullying (Cuadrado-Gordillo & Fernandez-Antelo, 2015; Moore, Nakano,

Enomoto e Suda, 2012), porém, existem grandes diferenças que o separam do bullying tradicional,

principalmente pelo contexto em que este tipo de violência ocorre (O bullying acontece num

contexto offline enquanto que o cyberbullying acontece num contexto online). Existem algumas

particularidades que são específicas do cyberbullying, como por exemplo, a difículdade em

identificar o agressor, o aumento significativo de observadores, o facto de ser possível uma inversão

de papéis, onde uma vítima se pode tornar agressor e vice-versa (sobreposição de papéis), assim

como a inexistência de feedback verbal (Casas, Del Rey, & Ortega, 2013; Cross, Papageorgiou, &

Lester, 2015; Santos, 2015). A sobreposição de papéis é mais frequente no cyberbullying pelas

características próprias deste fenómeno. No mundo virtual, o anonimato é um fator crucial e que

marca a diferença face ao bullying. A vítima, cansada de repetidos ataques e motivada por

sentimentos de raiva ou comportamentos de vingança, apercebe-se de que facilmente pode assumir

o papel de agressor, seja contra o(s) seu(s) agressor(es), seja contra outras vítimas e assim

percepcionar que tem algum poder sobre o outro e “mascarar” o seu sofrimento (Carmodeca,

Gossens, Schuerge & Terwogt, 2003; Vandebosch & Cleemput, 2008). O anonimato cria uma

desinibição que se manifesta por perda de autocontrolo e falta de retraimento na interação social

(Barlinska, Szuster, & Winiewski, 2013), o que facilita a ocorrência de formas de atuação

desajustadas. A literatura, ainda sem grande consenso, admite a existência de três critérios para a

definição do cyberbullying, nomeadamente, a repetição, a intencionalidade e a ocorrência entre

pares. No cyberbullying, a repetição está relacionada com o facto de um indivíduo poder postar

informação agressiva ou fotografias embaraçosas sobre alguém e, esse conteúdo, poder ser

repetidamente publicado (upload) por outras pessoas ao longo do tempo, humilhando e

ridicularizando a vítima. Ainda assim, há autores (Slonje & Smith, 2008) que contestam este

6

conceito por considerarem ser de difícil operacionalização, no sentido em que é mais fácil

compreender o conceito através de um ataque via SMS ou por e-mail pela repetição das mensagens

enviadas, do que através do envio de uma única mensagem maliciosa para um Website (Leishman,

2005). Assim, as consequências são também amplificadas, uma vez que as agressões podem

difundir-se rapidamente, mantendo-se infinitamente presentes no espaço virtual originando

consequências rápidas e a longo prazo (Willard, 2004). A superioridade de poder assenta em fontes

de poder associadas a competências no domínio tecnológico e na dificuldade da vítima em sair da

situação (Slonje & Smith, 2008). Estas particularidades trazem novos problemas para as vítimas e

novos desafios para aqueles que investigam o cyberbullying. O anonimato que este tipo de agressão

permite tem sido reconhecido como facilitador no desenvolvimento de comportamentos anti-sociais

e na diminuição dos comportamentos de ajuda por parte dos observadores (Dooley & Cross, 2009).

A distância física, entre o agressor e a vítima, que o espaço virtual permite faz com que o agressor

não tenha consciência das consequências dos seus atos e os perpetue. O agressor não vê o medo que

desencadeia nas vítimas e como tal não interpreta negativamente as suas consequências, assim

como quem está a observar tem mais dificuldade em interpretar e distinguir uma brincadeira de um

ato deliberado e intencional com o objetivo de causar dano a alguém e, pode não intervir. Sem

represálias, o agressor tem poder para perpetuar a agressão (Moore, Nakano, Enomoto & Suda,

2012; Slonje & Smith, 2008). A vítima tem menor possibilidade de se defender e evitar a

continuação da agressão e, muitas vezes, remete-se ao silêncio sofrendo sozinha as consequências

dos atos maldosos de que foi objeto. Considerando as características acima mencionadas, não é

difícil compreender que existem inúmeras consequências negativas associada a este fenómeno,

inclusivamente, existem autores que referem que as consequências negativas do cyberbullying são

mais severas do que as do bullying (Desmet et al., 2014). Em suma, as características específicas do

cyberbullying permitem que ocorram consequências muito severas para os adolescentes o que torna

pertinente o estudo desta temática também em observadores. A análise da influência da

sobreposição de papéis é importante para compreender-se como se comporta um observador que já

7

foi ou é cybervítima ou um observador que já foi ou é cyberagressor, perante um incidente de

cyberbullying, e este estudo procura dar esse contributo.

2. Cyberbullying nos adolescentes: Porquê?

O termo adolescente deriva da palavra que em latim significa “tornar-se adulto”. Segundo o

paradigma biomédico, a adolescência é uma fase do desenvolvimento humano de transição entre a

infância e a vida adulta que é caracterizada por transformações biológicas e por momentos de

definição de identidade sexual, profissional e de valores (Gleitman, 1993). É uma fase

desenvolvimental na qual o sujeito está particularmente vulnerável e onde a família perde

importância para dar lugar à maior influência que o grupo de pares vai assumindo junto dos jovens

(Ang, 2015; Bastiaensens, Vandebosch, Poels, Cleemput, Desmet & Bourdeudhuij, 2013). Assim, a

adolescência é caracterizada por inúmeras mudanças que estão relacionadas com a perceção do

adolescente acerca de si próprio, da sua vida familiar e do seu ambiente sociocultural. Esta fase

vivencial é marcada por crescentes sentimentos de autonomia, fundamentais ao desenvolvimento do

adolescente e que marcam a separação entre si e o mundo dos pais. Nesta fase desenvolvimentista,

os adolescentes apresentam um pensamento mais egocêntrico, onde vão explorando filosofias

alternativas, comportamentos e estilos de vida, aliando isto à menor supervisão parental, à urgência

em reforçar a individuação recentemente conquistada e de afirmar a capacidade de pensar pela sua

própria cabeça, origina-se espaço para a criação de segredos (Gleitman, 1993). A teoria social

ecológica de Brofenbrenner (1977) tem sido particularmente utilizada na compreensão das formas

tradicionais do bullying, embora autores a utilizem igualmente na compreensão do cyberbullying

(Cross et al., 2015). Esta teoria afirma que os comportamentos de risco adotados pelos jovens

resultam de interações complexas entre os seus contextos individuais e os contextos em que vivem

(Cross et al., 2015. Em cada um dos contextos existem fatores protetores e fatores de risco que

moderam a necessidade do adolescente se adaptar a novos contextos relacionais, incluindo os

contextos relacionais online (microssistemas).

8

No nível mais imediato, o microssistema, os jovens estabelecem interações diretas com os

seus ambientes mais próximos (família, escola, grupo de pares) que influenciam e reforçam certas

atitudes e comportamentos. A família, a escola e o grupo de pares afetam o desenvolvimento do

adolescente ao influenciarem-se uns aos outros no nível conhecido como mesossistema (e.g. a

família interage com a escola e com os professores e esta interação pode ter um impacto nos

jovens). Os sistemas mais afastados também influenciam os jovens (exossistema) e incluem

contextos com os quais o adolescente não tem contacto imediato mas que ainda assim afetam a sua

vida, tais como o ambiente de trabalho dos pais, os diretores escolares e as infra-estruturas

escolares. O macrossistema compreende as ideologias sociais, culturais, políticas e económicas que

afetam igualmente o jovem. A adaptação do adolescente a estas interações pode originar

desequilíbrios que embora sendo naturais poderão ampliar fragilidades prévias, por eles percebidas,

comprometendo ou não o seu bem - estar e o seu desenvolvimento pessoal. Face às exigências deste

processo, o recurso a comportamentos agressivos (cyberbullying) poderá funcionar como uma

forma de lidar com acontecimentos adversos ao reduzir os níveis de ansiedade que advém das

fragilidades por si percepcionadas. Os comportamentos agressivos podem ser utilizados como

forma de adaptação às novas exigências nos vários contextos (familiar, individual, social, etc.)

(Cross et al., 2015).

Assim, por considerar-se que a adolescência é um período de desenvolvimento crítico dada a

vulnerabilidade pessoal e social dos jovens, é nesta fase onde o cyberbullying mais se manifesta

(Cross, D., et al., 2015). A vulnerabilidade social dos jovens está relacionada com a necessidade de

afirmação e de popularidade junto dos pares, essencial para o seu bem-estar e, através das TIC, é

fácil estar em contacto com os outros mesmo para aqueles que revelam uma personalidade mais

introvertida (Cross, D., et al., 2015).

A Internet tem um impacto significativo na forma como os adolescentes comunicam,

trabalham, aprendem, se entretêm e interagem socialmente. Com o crescente acesso aos

computadores e à internet móvel, as ferramentas de comunicação, como por exemplo, as redes

9

sociais (e.g. Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat) foram finalmente estabelecidas como uma

ferramenta social de comunicação online (Khan, Gagné, Yang & Shapka, 2015). Os jovens

partilham notícias, rumores, histórias via Internet ligados a dispositivos móveis, como por exemplo,

computadores e smartphones (Machácková, H., Dedkova, L., Sevcikova & Cerna, A., 2013). O

problema surge quando os rumores e as histórias são direcionadas para um indivíduo ou um grupo

de indivíduos com o objetivo de lhe(s) causar mau estar e sofrimento e que pode conduzir a

medidas extremas para a vítima, como o suicídio (e.g., Megan Meyers cometeu o suicídio depois de

ter sido vítima de cyberbullying, assim como Amanda Todd) (Gibb, Z., & Devereaux, 2014).

Constata-se que o cyberbullying tem repercussões negativas que se manifestam ao nível académico

(e.g. elevados níveis de absentismo escolar, baixo rendimento académico), social (e.g. dificuldades

ao nível do relacionamento interpessoal, abuso de substâncias, deliquência) e ao nível da saúde

mental (e.g. angústia, depressão, ansiedade, baixa autoestima, ideação suicida, entre outros) (Davis,

et al., 2016; Dehue & Jacobs, 2013; Hinduja & Patchin, 2010; Molho et al., 2009; Na, Darcy &

Park, 2015; Vollink, Bolman; Raskausks & Huynh, 2015). A depressão e a ideação suicida têm

revelado maior expressão no cyberbullying (Hinduja & Patchin, 2010), o que reforça a importância

de investigar este fenómeno e encontrar soluções para terminar com este flagelo. Muitos estudos

têm constatado que estas consequências negativas estão presentes em todos os contextos e culturas.

Em 2013, 95% dos adolescentes americanos usavam Internet e 74% desses jovens utilizavam-na

através de um dispositivo móvel (Tablet, Smartphone) (Machácková, Dedkova, Sevcikova, &

Cerna, 2013). Também em Portugal, 70% dos jovens utilizava Internet e 85,6% destes usavam-na

regularmente (Cardoso, Espanha, & Lapa, 2007 citado por Souza, Veiga Simão, & Paula Caetano,

2013).

Em suma, a crescente presença de adolescentes online aliada à necessidade de serem bem

sucedidos socialmente pode conduzir a comportamentos de cyberbullying (Machácková, Dedkova,

Sevcikova, & Cerna, 2013), por percecionarem que ao magoar outros isso lhes trará maior poder e

aceitação social, razão pela qual este estudo procura investigar a temática do cyberbullying em

10

adolescentes. Mais, a crescente presença de adolescentes online traduz-se igualmente num elevado

número daqueles que observam os comportamentos de outros no espaço virtual e que podem

intervir no fenómeno de cyberbullying. Desta forma, é fácil constatar-se a importância que o papel

dos observadores tem ganho junto da comunidade científica, não só porque há pouca investigação

sobre os fatores que predizem o seu comportamento enquanto agentes de intervenção do

cyberbullying, como há autores (Desmet et al., 2015; Quirk & Campbell, 2014; Wong – Lo, &

Bullock, 2014) que referem que estes podem ter um papel decisivo na resolução do problema e na

minimização das consequências negativas para as vítimas.

Este estudo, procura trazer um contributo relevante para a temática do cyberbullying, ao

identificar as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores e abrir caminho para futuras

intervenções nas escolas.

3. A Atuação dos Observadores no Cyberbullying

Os principais protagonistas do cyberbullying são os agressores (aquele que comete o ato

agressivo sobre um ou outros), as vítimas (aquele que sofre a atuação do agressor) e os

observadores (aquele que observa as situações de cyberbullying). Em Portugal, num estudo

realizado por Francisco, Veiga Simão, Ferreira e Dores Martins (2014), os resultados revelaram que

27,94% dos estudantes já foram vítimas de cyberbullying em algum momento das suas vidas,

coincidentes com os resultados encontrados noutros estudos (Jacobs, Dehue, Vollink, & Lechner,

2014), apenas 8% se identificou como agressor, enquanto que 64% se identificou como observador.

Pode ainda ocorrer sobreposição de papéis, ou seja, um observador pode tornar-se agressor ou

vítima ou apenas observador ou mesmo uma vítima pode transformar-se em agressor e vice-versa,

facto pouco estudado na literatura. A sobreposição de papéis pode ser motivada pelo anonimato que

o cyberbullying permite. Para muitos autores, os comportamentos agressivos podem emergir de

contextos situacionais como forma de retaliação pelo sujeito já ter sido vítima de bullying numa

situação anterior (Carmodeca, Gossens, Schuerge, & Terwogt, 2003; Vandebosch, & Van

11

Cleemput, 2008). Inclusivamente, Vandebosch e Van Cleemput (2008), reportam que os estudantes

indicam que a vingança por terem sido vítimas num contexto offline, é a principal motivação para

se tornarem bullies no espaço virtual. Da mesma forma, Raskauskan e Stoltz (2008) identificaram

que 25% dos agressores de cyberbullying envolvem-se neste tipo de comportamento para se

vingarem de alguém com quem estão zangados e 40% afirma fazê-lo por considerar ser divertido

(Dooley, & Cross, 2009). Tendo em conta que o cyberbullying tem particularidades muito

específicas, o comportamento das vítimas e dos agressores tem sido muito estudado, porém,

escassos estudos existem sobre a atuação dos observadores (Schacter, Greenberg, & Juvonen,

2015), embora no bullying, a literatura existente nos dê muita informação sobre quem observa este

fenómeno. No bullying tradicional o suporte social oferecido às vítimas, pelos observadores (e.g.

professores, colegas de turma, amigos e pais), foi apontado pelas vítimas como um fator

determinante na redução das consequências negativas deste incidente (Desmet, et al., 2014;

Fontaine, & Auzoult, 2014; Quirk, & Campbell, 2014). Tendo em conta que no cyberbullying o

número de observadores é significativamente superior ao do bullying, estes podem desempenhar

igualmente um papel crucial no combate a este flagelo mundial ao intervir junto das vítimas

(Desmet, et al., 2014; Moore, Nakano, Enomoto & Suda, 2012; Pepler, Craig, & O´Connell, 2010;

Schacter, Greenberg, & Juvonen, 2015).

Os estudos existentes sobre a atuação dos observadores indicam-nos que estes podem adotar

comportamentos positivos (e.g. defender a vítima, confrontar o bully e dar suporte ou conforto à

vítima), comportamentos negativos (reforçar o bully, juntar-se ao bully, rir-se da vítima em posts

ou partilhar o texto ou fotografia com outros) ou não agir de todo ao adotar uma atitude passiva ou

comportamento passivo (Shultz, Heilman, &.Hart, 2014). Há algumas explicações possíveis para a

atuação ou não atuação dos observadores e Batstiaensens, Vandebosch, Van Cleemput e Desmet

(2013) relacionam a intervenção ou a não intervenção dos observadores com características

próprias suas (e.g. personalidade, medo de sofrer retaliações ou receio de juízos de valor por parte

dos outros). Outros autores (Holfeld, 2014), mencionam o modelo atribucional de Weiner (1993)

12

como modelo explicativo da intervenção dos observadores, em que fatores como a percepção do

controlo, a atribuição da responsabilidade e da culpa podiam influenciar a atuação dos

observadores. Por exemplo, vítimas pouco atraentes ou pouco populares justificavam a atuação do

agressor, assim como aquelas que ignoravam os agressores eram percecionadas pelos observadores

como vítimas que tinham a situação controlada. Este comportamento pode ainda ser explicado pelo

Modelo da Intervenção do Observador (Latané & Darley, 1970), que impera há já quase quatro

décadas. O MIB, procura justificar as condições pelas quais os observadores escolhem ou não

ajudar outros em situações de emergência. O modelo inclui cinco etapas, que são, 1) detectar o

acontecimento; 2) interpretar o acontecimento como emergência; 3) assumir responsabilidade

pessoal por intervir; 4) determinar quais as ações necessárias para intervir e 5) providenciar ajuda

(Dillon, & Bushman, 2014). Exemplificamos a seguir o que acontece numa situação de

cyberbullying de acordo com este modelo. Primeiro, o observador deteta que algo está a acontecer,

depois de detectar o acontecimento avaliará a gravidade da situação. Caso a interprete como uma

emergência passa para a etapa seguinte, onde assume que tem responsabilidade por intervir. Ao

assumir a sua responsabilidade em enfrentar a situação, irá determinar quais as ações mais eficazes

para si e que acredita porem termo ao acontecimento. Por fim, coloca em prática as ações

previamente selecionadas. Quando o observador atua deixa de ser um observador passivo para

transformar-se num agente ativo, que Power (2003) designa por upstander. A partir do momento

em que os observadores intervém junto das vítimas, dos agressores ou sobre o foco que

desencadeou o incidente de cyberbullying deixam de ser apenas observadores para desempenharem

um papel importante na prevenção ou exacerbação do fenómeno (Barlinska et al., 2013; Latané &

Darley, 1970; Poyhonen et al., 2012; Wong-Lo, & Bullock, 2014). A não intervenção do

observador pode estar relacionada com fatores, como por exemplo, a percepção de ausência de

respostas eficazes para colocar termo ao fenómeno (auto-eficácia) (Desmet et al., 2014), ou

emoções, como por exemplo, o medo (Baroncelli, & Ciucci, 2014). Estes são alguns exemplos de

fatores que podem contribuir para a não intervenção do observador, mas existem outros, Latané e

13

Darley (1968) e Bandura (2001) falam do conceito de difusão de responsabilidade para justificar a

não atuação dos observadores. Latané e Darley (1968), concluíram que perante uma situação de

emergência os observadores avaliam sempre os custos e os benefícios da sua não atuação. Quando o

indivíduo está na presença de outros assume que a responsabilidade por intervir é de todos e

acontece aquilo a que se chama de difusão da responsabilidade. Quando o indivíduo está sozinho a

responsabilidade por intervir é somente sua. Se não atuar, a responsabilidade e a culpa serão

atribuídas somente a si enquanto que se outros estiverem presentes a responsabilidade e os

sentimentos de culpa e vergonha serão distribuídos por todos. (Latané & Darley, 1968). Bandura

(2001) na perspetiva da Teoria Social Cognitiva (1977) considera que a difusão da responsabilidade

é parte integrante de um conjunto de comportamentos adotados pelos indivíduos que servem para

justificar os seus atos antissociais sem se sentirem culpados ou se censurarem ao “desligar” os seus

padrões morais (Bandura, 2001; Bessey, Fitzpatrick, & Raman, 2015) a que ele define como

comportamentos de desengajamento moral. Estes dois conceitos podem justificar igualmente, a não

atuação dos observadores.

É importante referir que este estudo não pretende analisar o comportamento dos observadores

nas cinco etapas do Modelo de Intervenção do Observador (Latané & Darley, 1970), pois, um dos

objetivos deste estudo consiste em estudar as estratégias de enfrentamento por eles adotadas, que

cocorre na etapa cinco e, assim, o estudo cinge-se apenas à etapa cinco do modelo. Este estudo,

acrescenta valor ao modelo porque para além de analisar-se o comportamento dos observadores,

pretende-se estudar o que os observadores sentem após atuarem ou não, constituindo-se uma

novidade na literatura.

Em suma, para que o observador se transforme num upstander é importante compreender quais

as estratégias de enfrentamento por ele utilizadas, bem como as emoções associadas à sua atuação,

para que se possam desenvolver estratégias que aumentem os seus comportamentos prossociais e,

consequentemente, adquiram estratégias de enfrentamento adequadas, sendo isso a que este estudo

se propõe.

14

4. As estratégias de enfrentamento dos observadores no cyberbullying

A estratégias de enfrentamento poderão ser descritas como os comportamentos adotados pelos

observadores com o intuito de atuar ou não atuar sobre um incidente de cyberbullying observado.

Na literatura, (Desmet et al, 2014) os autores utilizam o conceito de coping para descrever os

comportamentos adotados pelas vítimas de cyberbullying. Neste estudo, utilizaremos o termo

estratégia de enfrentamento para descrever a forma como os observadores enfrentam o

cyberbullying, já que este estudo não avalia o grau de impacto que a observação do fenómeno

provoca no observador. Ainda assim, considera-se importante definir o conceito de coping, uma vez

que este estudo procura igualmente analisar a influência da sobreposição de papéis (observadores

cybervítimas e observadores cyberagressores) na forma como enfrentam o acontecimento

observado e ainda as emoções associadas à sua intervenção. Assim, o Coping, é definido pelas

estratégias cognitivas e comportamentais adotadas pelos indivíduos, com a intenção de reduzir as

respostas negativas provocadas por um acontecimento aversivo (Lazarus & Folkman, 1987). Do

ponto de vista histórico, embora os estudos sobre coping tenham tido início em adultos, as

estratégias de coping adotadas pelos adolescentes rapidamente ganharam importância. Autores (Na,

Dancy, & Park, 2015), recorrem ao Modelo Transacional de Stress e Coping (TMSC) ou

abordagem transacional de coping, para explicar a forma como as vítimas cooperam com o

cyberbullying. O TMSC foca-se em dois conceitos chave fundamentais que são a avaliação

cognitiva e o coping (Lazarus & Folkman, 1987). Num breve resumo, a avaliação cognitiva é

definida pela forma como as vítimas de cyberbullying interpretam o agente stressor (estímulo ou

acontecimento externo ao indivíduo como é o caso do cyberbullying) e são importantes no sentido

em que “selecionam” as estratégias de coping que consideram mais adequadas para lidar com o

problema (Raskauskas, & Huynh, 2015). Este estudo, não analisa as estratégias de coping mas sim

as estratégias utilizadas pelos observadores para enfrentar uma situação de cyberbullying observada.

No coping, existem vários tipos de estratégias: as estratégias de coping focadas no problema e as

estratégias de coping focadas na emoção. Também neste estudo, as estratégias de enfrentamento

15

adotadas pelos observadores podem ser variadas e este estudo procurará analisá-las . Assim, poder-

se-á encontrar estratégias de enfrentamento voltadas para a resolução da situação ou estratégias de

enfrentamento relacionadas com a não resolução da situação. No coping, as estratégias de coping

focadas no problema são aquelas utilizadas pelos indivíduos que procuram o confronto e a procura

de soluções para o problema (Na, Dancy, & Park, 2015; Sticca, Ruggieri, Alsaker, & Perren, 2015)

e que inclui as estratégias de resolução do problema e a procura de suporte social (Parris, Varjan,

Meyers, & Cutts, 2012; Na, Dancy, & Park, 2015). As Estratégias de coping focadas nas emoções

têm como objetivo regular as emoções relacionadas com a situação. Englobadas nas estratégias de

coping focadas nas emoções, Terry e Kynes (1998) consideram a existência de duas formas de

reagir, e são elas, as estratégias de aproximação e de evitamento. Um exemplo de uma estratégia de

evitamento consiste em não fazer nada relativamente ao problema ou evitar pensar nele e, inclui,

distanciamento cognitivo, internalização das emoções ou externalização das emoções. Neste estudo,

os observadores, poderão adotar estratégias de enfrentamento que não resolvem o problema e entre

elas, estratégias de evitamento. Na literatura, poucos estudos existem sobre as estratégias de atuação

dos observadores, pelo que este estudo irá referir algumas estratégias de coping, adotadas pelas

vítimas de cyberbullying, que contribuam para a compreensão das várias estratégias de

enfrentamento que podem ser adotadas pelos observadores.

Jacobs, Dehue, Vollink e Lechner (2014), por considerarem o impacto que o cyberbullying tem

nas vítimas adolescentes e, por atribuírem importância às estratégias de coping como forma de

redução do stress imediato e de prevenir as consequências a longo prazo, identificaram os fatores

que influenciavam a adoção de estratégias de coping mais eficazes e menos eficazes para lidar com

o cyberbullying. Os determinantes que influenciavam as estratégias de coping ineficazes foram os

determinantes ambientais (e.g. fraca supervisão parental e supervisão na escola), determinantes

psicológicos (e.g. estratégias de coping focadas nas emoções, falta de conhecimento sobre

estratégias de coping), determinantes pessoais e comportamentais (e.g. fracas competências sociais,

limitações nas competências de resolução de conflitos, estilo de comunicação desadequado,

16

isolamento e experiência anterior de vitimização). Para os determinantes preditores de estratégias de

coping eficazes os autores referem as dimensões psicológicas (e.g. expetativas de resultados

positivos, elevada autoestima, e autoeficácia, conhecimento sobre as formas de reportar o

cyberbullying e assertividade), dimensão ambiental (e.g. suporte social dos pais, pares e

professores, influência social positiva) e dimensões pessoal e comportamental (e.g. boa saúde

mental, elevadas competências sociais).

Na sequência do estudo anterior, no presente estudo, procura-se identificar as estratégias de

enfrentamento mais utilizadas pelos observadores o que facilita a identificação daquelas mais

adequadas e menos adequadas.

Em observadores, autores (Desmet, et. al., 2015) referem como fatores que prediziam a

atuação dos observadores no cyberbullying a influência de experiências passadas como cybervítima

ou como cyberagressor, emoções e estados de espírito, a cultura, a personalidade e o tipo de

exposição. Dos resultados obtidos, verificou-se que a maioria dos observadores adotou um

comportamento passivo (55%) e outros ofereceram suporte social à vítima (48,7%). Dos

observadores que decidiram atuar, a vítima era sua conhecida ou eles próprios já tinham sido

vítimas de cyberbullying. No presente estudo, serão analisadas também as emoções experenciadas

pelos observadores, porém, pretende-se analisar as emoções sentidas pelos observadores após a

adoção de uma estratégia de enfrentamento e não antes, como foi investigado no estudo de Desmet

et al., (2015). Para além disso, o estudo anterior, verificou que dos observadores que atuaram no

fenómeno, alguns já tinham sido vítimas antes. Com este estudo, pretende-se acrescentar valor ao

analisar-se a influência que já ter sido cybervítima ou cyberagressor tem na adoção de uma

estratégia de coping e nas emoções sentidas após a atuação dos observadores. Assim, este estudo

procura trazer um contributo importante, para que no futuro se possa desenvolver nos observadores,

quer sejam cyberagressores ou cybervítimas, comportamentos prossociais para a adoção de

estratégias de enfrentamento adequadas. Em Portugal, num estudo exploratório e descritivo dirigido

a uma população de jovens adultos foi-lhes solicitado que se lembrassem de situações de

17

cyberbullying que tivessem experenciado ou observado enquanto adolescentes (Souza, Veiga

Simão, & Caetano, 2014). Das estratégias de enfrentamento referidas pelos jovens, as mais

frequentes foram as estratégias de ajuda direta (61%) e as estratégias de ajuda indireta (19,4%).

A presente investigação procura dar um contributo importante ao analisar as estratégias de

enfrentamento adotadas pelos jovens adolescentes. Embora já existam alguns estudos sobre forma

como os observadores lidam com o cyberbullhying, a investigação nesta área é ainda escassa

quando comparada com os estudos que analisam as estratégias de coping adotadas pelas vítimas.

De acordo com o acima exposto, com o presente estudo pretende-se analisar as estratégias de

enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying, bem como analisar as emoções

associadas às estratégias de enfrentamento por eles utilizadas.

5. As Emoções e o coping

Os Estudos sobre as emoções não são recentes e já Lazarus e Folkman (1984) no seu modelo

transacional de stress e coping relatam a sua importância. A Emoção pode ser definida como uma

“reacao subjetiva a um evento saliente, caracterizada por mudancas fisiologicas, experienciais e

comportamentais. É melhor compreendida como um processo dinamico e um sistema organizado

em volta de componentes interdependentes que vao originar diferencas individuais na forma de

experienciar as emocoes ao longo do desenvolvimento (Sroufe, 1995).

No modelo transacional de stress e coping, as emoções são variáveis importantes na

determinação das estratégias de coping e influenciam as avaliações cognitivas primárias e

secundárias dos sujeitos. As emoções influenciam as respostas do indivíduo e existem emoções

antecipatórias de ameaça ou de desafio (antes das avaliações cognitivas) e emoções para avaliar os

danos e os benefícios após a execução da estratégia de coping (Lazarus & Folkman, 1987). No

modelo de Lazarus e Folkman (1984), a emoção era considerada como moderadora das estratégias

de coping e existia uma relação unidirecional entre emoção e coping. Contudo, em 1988, os autores

verificaram que não existia uma relação unidirecional entre a emoção e o coping mas sim uma

18

relação bidirecional, ou seja, a emoção influenciava as estratégias de coping e as estratégias de

coping modificavam as emoções experenciadas anteriormente. Os mesmos autores identificaram

quatro tipos de emoções num processo de coping, com base nas avaliações cognitivas de um

sujeito: as avaliações antecipatórias de ameaça que podem ser, por exemplo, avaliações feitas antes

de um exame ou antes de utilizarem uma determinada estratégia de coping no cyberbullying (e.g.

medo e preocupação), as avaliações de desafio (e.g. confiança), avaliação de danos (e.g. raiva e

desgosto) e avaliações de benefício (e.g. alívio e felicidade). Este modelo é muito semelhante àquilo

que acontece no modelo de intervenção do observador de Latané e Darley (1970), em que primeiro

o sujeito deteta que algo está a acontecer, numa segunda etapa interpreta o acontecimento como

sendo emergência ou não e numa terceira etapa assume responsabilidade por intervir, ou não. Para

isso, é necessário que processos psicológicos e processos cognitivos estejam envolvidos nesta

avaliação. Numa quarta fase, o indivíduo seleciona as estratégia de atuação que considera mais

adequadas (avaliação cognitiva) e numa quinta fase aciona essas estratégias. Ao longo deste

processo, tal como acontece na abordagem transacional de coping as emoções são mediadoras das

respostas do indivíduo, existindo emoções antecipatórias de ameaça ou de desafio (antes das

avaliações cognitivas) e emoções para avaliar os danos e os benefícios após a execução da

estratégia de coping. Há emoções que podem influenciar a atuação do observador ou não, na etapa

cinco do modelo. Emoções como o medo de poder vir a ser o próximo a sofrer retaliações ou vir a

ser julgado pelos outros observadores, medo de perder privilégios relacionados com as novas

tecnologias, ou insegurança e confusão sobre a forma como colocar em prática os seus atos, podem

justificar a não intervenção das ações. A emoção medo não necessita ser exclusiva à etapa cinco, ela

pode estar presente em qualquer uma das etapas anteriores e justificar igualmente a não intervenção

do observador. Aqueles que não atuam e possuem baixos níveis de desengajamento moral podem

experenciar sentimentos de culpa, ou seja, os observadores que têm um elevado nível de valores

morais e experenciam emoções positivas podem sentir mais culpa e vergonha por não ajudarem

outros e vão utilizar como mecanismo de defesa o desengajamento moral (Desmet et al., 2014).

19

Ainda Lazarus e Folkman (1987), identificaram quatro tipos de estratégias de coping capazes de

produzir mudanças nas emoções: as estratégias de coping de resolução do problema, as estratégias

de reavaliação positiva, o coping de confronto e o distanciamento. Enquanto que as estratégias de

coping focadas na resolução de problemas e a reavaliação positiva melhoravam as emoções sentidas

pelos sujeitos, as estratégias de confronto e de distanciamento pioravam. Estudos recentes

concluíram que as vítimas de cyberbullying que utilizavam estratégias de coping de evitamento

tinham maior probabilidade de sofrer de depressão (Vollink, Bolman, Dehue, & Jacobs, 2013) do

que aquelas que utilizavam as estratégias de coping mais voltadas para a ação. Este resultado,

reforça a importância deste estudo e a relevância de dotar os observadores de estratégias de

enfrentamento que lhes permitam atuar junto das vítimas ou do foco que desencadeou o

cyberbullying e reduzir as consequências negativas. Existem vários estudos (Baroncelli, & Ciucci,

2014; Caetano, Freire, Veiga Simão, Martins, & Pessoa, 2016; Caravita, Colombo, Stefanelli, &

Zigliani, 2016) que procuram identificar as emoções sentidas pela vítima, pelo agressor depois de

terem sido maltratadas ou maltratarem alguém, respetivamente, e escassos estudos sobre as

emoções sentidas pelos observadores após observarem um incidente de cyberbullying. Nesse

sentido, numa tentativa de investigar as emoções sentidas pelos observadores de cyberbullying,

Caravita, Colombo, Stefanelli e Zigliani (2016) procuraram identificar as emoções por eles sentidas

e constataram que após a apresentação de um vídeo com conteúdos de cyberbullying surgiram

emoções como raiva, medo, vergonha e nojo, principalmente em observadores que já tinham sido

vítimas de bullying e de cyberbullying. Em Portugal, Caetano, Freire, Veiga Simão, Martins e

Pessoa (2016), identificaram as emoções sentidas pelas vítimas e agressores de cyberbullying e

constataram que as vítimas tendem a sentir emoções como a tristeza, vontade de vingança e o medo,

enquanto os agressores tendem a sentir satisfação, indiferença, alívio e prazer. As emoções sentidas

pelos agressores pode estar relacionada com as especificidades relacionadas com o fenómeno do

cyberbullying. Ortega (2009), refere que a emoção é um processo complexo e que depende em

muito da interação social, da comunicação e, que as emoções regulam-se mediante um sistema

20

sofisticado de autocontrolo e de controlo externo, em que a percepção da reação dos outros ao nosso

comportamento tem um papel importante. Quem nos observa atua como moderador e mediador do

nosso comportamento e das emoções sentidas.

Torna-se assim importante definir regulação emocional, e Gross (2001) inclui na sua definição

todas as estratégias conscientes e inconscientes que se utiliza para aumentar, manter ou reduzir um

ou mais componentes de uma resposta emocional. Estes componentes são os sentimentos,

comportamentos e respostas psicológicas. Já no modelo de stress e coping os indivíduos fazem

recurso à regulação emocional quando utilizam estratégias de coping focadas nas emoções. Os

valores sociais desempenham um papel importante na regulação emocional, pois não magoamos os

outros porque é socialmente sancionatório (Ortega, 2009). Contudo, Baroncelli e Ciucci (2014)

reportam que a perceção de dificuldades na regulação emocional é preditor de cyberbullying e não

de bullying, parecendo ser mais fácil alguém se tornar agressor no cyberbullying, o que justifica a

maior prevalência de sobreposição de papéis no cyberbullying, ao que este estudo procura

contribuir ao identificar as emoções sentidas por observadores cybervítimas e observadores

cyberagressores após a adoção de uma estratégia de enfrentamento.

Na literatura, existe investigação sobre as emoções sentidas pelas vítimas (Caetano, Freire,

Veiga Simão, Martins, & Pessoa, 2016), agressores (Baroncelli, & Ciucci, 2014; Caetano, Freire,

Veiga Simão, Martins, & Pessoa, 2016) e observadores (Caravita, Colombo, Stefanelli, & Zigliani,

2016), embora todos os estudos se debrucem sobre as emoções sentidas sobre o cyberbullying e não

sobre as emoções sentidas após a adoção de um comportamento. Na literatura não existem

evidências de estudos sobre as emoções sentidas pelos observadores após terem adotado uma

estratégia de enfrentamento, ao que este estudo procura dar um contributo importante nessa área,

uma vez que há autores (Lazarus & Folkman, 1988) que relatam a importância que as emoções têm

ao longo de todo o processo de coping, neste estudo, estratégias de enfrentamento. Para isso, neste

estudo, as emoções são classificadas como positivas ou negativas (Ekman, 2003) e considera-se que

que se os observadores experenciarem emoções positivas após agirem, a probabilidade de voltarem

21

a agir em situações de cyberbullying pode ser grande, contudo, se os observadores após

experenciarem emoções negativas, a probabilidade de agirem noutras situações de cyberbullying

pode ser reduzida e o que se pretende é que desenvolvam atitudes prossociais.

Assim, o observador numa situação de cyberbullying, ao utilizar uma determinada estratégia de

enfrentamento, poderá experienciar emoções que poderão ser positivas ou negativas, consoante a

estratégia adotada (Ortega, 2009). No presente estudo, pretende-se analisar as emoções sentidas

pelos observadores após adotarem uma estratégia de enfrentamento e se estas estratégias estão

relacionadas com emoções positivas e/ou negativas, por se considerar que as emoções por eles

sentidas após agirem pode influenciar a sua atuação como observadores em situações futuras de

cyberbullying.

22

Capítulo II – Metodologia de investigação

1.Objetivos da investigação e Questões de Investigação

Este é um estudo exploratório e descritivo do comportamento dos observadores de

cyberbullying numa amostra por conveniência de estudantes do 3º Ciclo e Secundário do Ensino

Privado de uma escola da região de Lisboa. O presente estudo utiliza uma metodologia quantitativa

operacionalizada por um questionário designado por “Inventário de Incidentes Observados de

Cyberbullying (I.I.O.C.). Este estudo insere-se no âmbito de dois projetos de investigação

aprovados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT)1 (objeto de RAPI, com aprovação a

dia 18 fevereiro de 2016) e tem como objetivo geral analisar o comportamento dos observadores de

cyberbullying e as emoções associadas após a adoção de um comportamento. Pretende-se ainda

averiguar nos observadores, a influência que experiências como cybervítima ou cyberagressor têm

no seu comportamento e emoções associadas ao mesmo. Desta forma, foram delineados quatro

objetivos, a partir dos quais foram lançadas algumas questões de investigação, que se apresentam

em seguida:

Objetivo 1: Analisar as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying.

Questão de Investigação 1: Quais as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de

cyberbullying?

Objetivo 2: Investigar as emoções sentidas pelos observadores de cyberbullying depois de terem

adotado uma estratégia de enfrentamento.

Questão de Investigação 2: Quais a emoções sentidas pelos observadores de cyberbullying

relativamente à adoção de uma estratégia de enfrentamento?

1 Este estudo insere-se em dois projetos aprovados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), um deles registado com o

título: Cyberbullying: A regulação do comportamento através da linguagem, e com a referência: TDC/MHCPED/3297/2014,

desenvolvido em parceria e com a colaboração do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Investigação e

Desenvolvimento em Lisboa (INESC ID/INESC/IST/Ulisboa e a Altice Labs, S. A.) e o outro, registado com o título: The Bystander

effect in cyberbullying - taking responsibility and interventive decision making through the regulation of behavior e, com a

referência: SFRH/BPD/110695/2015.

23

Objetivo 3: Analisar a influência que já ter sido cybervítima ou cyberagressor tem na adoção de

uma estratégia de enfrentamento adotada pelos observadores.

Questão de Investigação 3: A experiência como vítima ou agressor de cyberbullying influencia as

estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying?

Objetivo 4: Investigar a influência que já ter sido cybervítima ou cyberagressor tem nas emoções

sentidas pelos observadores após a adoção de uma estratégia de enfrentamento.

Questão de Investigação 4: A experiência como vítima ou agressor de cyberbullying influencia as

emoções associadas às estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying?

Neste estudo, de acordo com a literatura revista, vamos analisar as estratégias de

enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying, bem como as emoções associadas, de

acordo com o Modelo de Intervenção do Observador (Latané & Darley, 1970). A par, iremos

investigar a influência que as experiências anteriores podem ter na seleção de estratégias de

enfrentamento e nas emoções associadas.

2. Caracterização da Amostra

Do total da amostra deste estudo salienta-se que 248 participantes são do sexo feminino

(53.7%) e 214 participantes são do sexo masculino (46,3%). Salienta-se que 67 dos adolescentes

não responderam a esta questão. Na amostra total, quanto à idade e ao género, a maior percentagem

de participantes situa-se nos 13 anos de idade (125 participantes, 25,6%) (ver tabela 2.1).

Tabela 2.1. Distribuição dos alunos por género e idade (n= 529).

____________________________________________________________ 11 12 13 14 15 16 17 18 Total

____________________________________________________________

Feminino 1 77 70 31 28 44 29 0 248

Masculino 4 35 55 29 32 35 26 1 214

Total 577 125 60 60 79 55 1 462

________________________________________________________________________________

Quanto à distribuição dos alunos por género e ano de escolaridade, 130 dos inquiridos

frequentam o 7º ano de escolaridade correspondendo a 26,6% do total da amostra. Salienta-se que

2,1% dos participantes (11) não responderam a esta questão (Anexo II.1).

24

Quanto ao acesso à Internet 96,2% disseram ter acesso à Internet a partir de qualquer

dispositivo eletrónico enquanto que 3,8% referiu não ter acesso à Internet. Dos participantes que

utilizaram Internet, o dispositivo eletrónico mais utilizado por eles para aceder à Internet foi o

telemóvel (98,3%) (Anexo II.2, Anexo II.3, Anexo, II.4 e Anexo II.5).

Relativamente ao número de horas dispendido na Internet verificou-se que 43,9% (232) do total

da amostra, gastam, na sua maioria, entre uma a duas horas do seu tempo diário. Verificou-se que

tanto as raparigas como os rapazes dedicam entre uma a duas horas à Internet (105 participantes do

sexo feminino e 90 sujeitos do sexo masculino) (Anexo II.6).

3.Procedimento

Para a recolha dos dados, a direção de um estabelecimento de ensino privado foi contactada de

forma a apurar o seu interesse no presente estudo. Neste primeiro contacto foi enviada uma

informação de apresentação/explicação do estudo, bem como dos seus objetivos para aprovação da

direção da escola. Após a aprovação da escola, todos os Encarregados de Educação dos jovens, com

as idades pretendidas, foram convidados a permitir a participação dos seus educandos no projeto,

através de um consentimento informado, com a informação relativa ao estudo, onde comunicaram a

sua decisão. No documento, para além de ser descrito o estudo, era assegurada a confidencialidade,

a presença de um psicólogo clínico sempre que solicitado pelos alunos, e dada a informação de que

os participantes poderiam desistir a qualquer momento do estudo. Após terem sido recebidas as

autorizações dos Encarregados de Educação procedeu-se à recolha dos dados. Os Inventários foram

preenchidos individualmente e entregues aos adolescentes pela psicóloga escolar do estabelecimento

de ensino. O instrumento de avaliação foi acompanhado de uma folha com um texto de

apresentação, onde constavam os objetivos essenciais do estudo, a importância da participação, bem

como as questões relacionadas com o anonimato e confidencialidade das respostas, o caráter

voluntário da participação, a possibilidade de desistência em qualquer momento do preenchimento

do instrumento e a possibilidade para solicitarem o apoio de um psicólogo clínico se considerassem

25

necessário. A cada um dos questionários foi atribuído um código com o propósito de facilitar toda a

identificação contida. Após a recolha dos dados, estes foram introduzidos no programa estatístico

SPSS através da plataforma TELEFORM.

4.O Instrumento

Para a recolha dos dados, foi pedida a colaboração da Direção escolar, dos Encarregados de

Educação e dos participantes da investigação para que estes últimos respondessem ao Inventário de

de Incidentes Observados de Cyberbullying (I.I.O.C.). O IIOC é constituído por 150 itens

distribuídos por 10 escalas com perguntas de resposta aberta e fechada e tem como objetivo analisar

o comportamento dos observadores perante um incidente de cyberbullying. Algumas das escalas do

IIOC ainda se encontram numa fase de estudo. Para este estudo, utilizaram-se as escalas quatro e

cinco do IIOC. A escala quatro analisa as estratégias de coping adotadas pelos observadores

(“Decidi intervir na situação”; “Contei aos pais da(s) vítima(s)”) e as respostas foram registadas

numa escala de 5 pontos em que 1 significa “Nunca” e 5 significa “Sempre”. A escala cinco analisa

15 emoções sentidas pelos observadores após terem adotado uma estratégia de enfrentamento

(“Senti-me revoltado(a)”) e as respostas foram registadas numa escala de 5 pontos em que 1

significa “Nada” e 5 significa “Muito”.

5.Análise de dados

Os dados foram introduzidos e analisados estatísticamente utilizando-se o programa estatístico

SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 23.0 e o programa Factor Analysis versão

10.3.01. Para analisar os dados obtidos utilizaram-se vários métodos de análise exploratória de

dados, a análise fatorial, a análise de correlação de variáveis e a análise de regressão linear simples.

Para o estudo da estrutura fatorial do instrumento de medida, recorreu-se a uma análise fatorial

exploratória, que foi apoiada pelos valores obtidos nos testes KMO (Kaiser-Meyer-Okin) e de

Esfericidade de Bartlett. A estrutura fatorial foi estudada através da análise fatorial exploratória

pelo programa Factor Analysis. A precisão do instrumento utilizado foi avaliada através de uma

26

análise de consistência interna (Cálculo do Alfa de Cronbach) e das correlações entre as subescalas

do instrumento. As correlações entre as escalas do instrumento de medida foram calculadas através

do coeficiente de Pearson, tendo sido considerado os níveis de significâncias de .01 e .05. Para

analisar a predição de variáveis foi utilizada uma regressão linear simples.

27

Capítulo III – Análise e discussão dos resultados Neste capítulo, será apresentada uma breve análise das qualidades psicométricas do

instrumento utilizado (IIOC) e as estatísticas descritivas consideradas relevantes para o estudo em

causa.

1Análise das qualidades psicométricas do IIOC

O IIOC, foi adaptado do Questionário de Cyberbullying no Ensino Superior (QCES)

(Francisco, Veiga Simão, Ferreira, & Martins, 2015; Ferreira, Veiga Simão, Ferreira, Souza, &

Francisco, 2016), nomeadamente, da escala dos observadores das vítimas. Para testar a validade do

construto, o QCES foi sujeito a análise exploratória e confirmatória para a população portuguesa e

revelou uma boa consistência interna na escala dos observadores das vítimas (alfa de Cronbach de

0.97).

No presente estudo, num primeiro momento, efetuou-se uma análise fatorial dos itens da escala

quatro que mede as estratégias de enfrentamento e da escala cinco que mede as emoções sentidas

após a adoção de uma estratégia de atuação. Para a escala de estratégias de enfrentamento, a

estrutura relacional dos vários tipos de estratégias face ao cyberbullying é explicada por quatro

fatores. Após a análise fatorial foram confirmados os fatores: Estratégias de enfrentamento

agressivo, estratégias de enfrentamento de denúncia, estratégias de enfrentamento de suporte social

e estratégias de enfrentamento de evitamento. Foram excluídos os itens 3, 13, 21 e 23 dado que não

obtiveram peso fatorial em nenhum dos quatro fatores (Anexo III.1) Pode verificar-se que as quatro

subescalas apresentam uma boa consistência interna (ver tabela 3.1).

Tabela 3.1. Coeficientes alfa de Cronbach para as subescalas de estratégias de enfrentamento

do IIOC (n=529)

_______________________________________________________________________________

Tipos de Estratégias de enfrentamento Alfa de Cronbach ((α) Estratégia de enfrentamento agressivo .84

Estratégia de enfrentamento de denúncia .82

Estratégia de enfrentamento de suporte social .91

Estratégia de enfrentamento de evitamento .78

______________________________________________________________________________

28

Em segundo lugar, foi efetuado o mesmo procedimento par a escala cinco que mede as

emoções. A estrutura relacional que mede as emoções sentidas face à adoção de uma estratégia de

enfrentamento no cyberbullying é explicada por dois fatores (Anexo III.2). Pode verificar-se que as

as duas subescalas apresentam uma boa consistência interna (ver tabela 3.2).

Foram excluídos os itens 6, 9 e 14 dado que não obtiveram peso fatorial em nenhum dos dois

fatores.

Tabela 3.2. Coeficientes alfa de Cronbach para as subescalas das emoções do IIOC (n=529)

_______________________________________________________________________________

Tipos de emoções Alfa de Cronbach ((α) Emoções positivas .84

Enoções negativas .87

________________________________________________________________________________

2.Estatística Descritiva e Correlações

Os sujeitos desta investigação apresentam uma média, no que diz respeito às emoções

positivas, a rondar o ponto 2 (“um pouco”), o que significa que perante uma determinada ação sua,

para a amostra total, em média os sujeitos sentem um pouco sensação de bem-estar. A média das

emoções negativas ronda o ponto 2 (“um pouco”), o que significa que perante uma determinada

ação levada a cabo pelos sujeitos, estes sentem um pouco emoções desagradáveis perante uma ação

ou a inação face a um acontecimento de cyberbullying.

Para o total da amostra, em média, os sujeitos, utilizam poucas vezes estratégias de

enfrentamento de evitamento (a rondar o ponto 2). As estratégias de evitamento de suporte rondam

o ponto 3 (“algumas vezes”), o que significa que perante uma situação de cyberbullying, em média,

os sujeitos utilizam estratégias de suporte para com a vítima, algumas vezes. As estratégias de

enfrentamento de denúncia e as estratégias de enfrentamento agressivo são utilizadas, em média,

poucas vezes (ponto 2). Os resultados permitem-nos concluir que os jovens utilizam mais, em

média, as estratégias de enfrentamento de suporte face às outras, perante uma situação de

cyberbullying, assim como, tanto sentem um pouco emoções positivas quanto negativas após uma

ação ou inação (ver tabela 3.3.)

29

Tabela 3.3. Médias e Desvios-padrão das variáveis (n = 529)

________________________________________________________________________________ Média Desvio-Padrão Emoções Pos. 1.6 0.91

Emoções Neg. 1.9 0.72

Enfrentamento de Evitamento 2.3 1.03

Enfrentamento de Suporte 3 0.91

Enfrentamento de Denúncia 1.4 0.61

Enfrentamento Agressivo 1.2 0.42

____________________________________________________________ As correlações entre as variáveis em estudo podem ser observadas no Quadro 1. De acordo

com os resultados apresentados no quadro 1, é de salientar a existência de uma correlação positiva

entre as estratégias de enfrentamento agressivas e as emoções positivas, embora fraca, o que

significa que após a adoção de uma estratégia de enfrentamento agressiva os observadores de

cyberbullying experienciam emoções de bem-estar. A variável estratégias de enfrentamento de

denúncia apresenta uma correlação positiva, moderada, com as estratégias de enfrentamento de

suporte, pois ao denunciar os observadores estão a providenciar a resolução do problema. Existe

uma correlação igualmente positiva entre as estratégias de enfrentamento de denúncia e as emoções

positivas e emoções negativas, embora fraca, para ambas. As estratégias de enfrentamento de

suporte estão correlacionadas positivamente com as emoções positivas e com as emoções negativas,

sendo que existe uma correlação moderada com as emoções negativas e uma correlação fraca com

as emoções positivas.

30

Tabela 3.4. Correlações das variáveis do estudo (coeficiente de Spearman)

_______________________________________________________________________________ Enfrent. Agressivo Enfrent. Denúncia Enfrent. Suporte Enfrent. Evitamento Emoções Pos. Emoções Neg

__________________________________________________________________________________________________________

.

Enfrent.

Agressivo -

Enfrent.

Denúncia 0,073 - Enfrent. 0,062 0,493(**) - Suporte

Enfrent.

Evitamento 0,051 -0,235 (**) -0,215 (**) -

Emoções Pos. 0.308(**) 0,275(**) 0,300(**) -0,174(**) -

Emoções Neg. 0,041 0,240(**) 0,438(**) -0,064 0,020 -

_______________________________________________________________________________________________ N= 529

** valores significativos para p<0.01

Em resposta à Questão de Investigação 1, na tabela 3.4 apresentam-se as distribuições das

frequências das respostas dadas pelos observadores referente às diferentes estratégias de enfren

tamento adotadas face uma situação de cyberbullying. Em destacado (em negrito) estão as

estratégias de enfrentamento mais utilizadas pelos observadores.

Pode aqui concluir-se que as estratégias de enfrentamento mais utilizadas são as estratégias de

suporte social, seguidas das estratégias de evitamento, seguem-se as estratégias de denúncia e por

último as estratégias agressivas.

A estratégia de enfrentamento mais utilizada pelos observadores é em 90% do total da amostra

(468) “Apoiei a(s) vítima(s) tal como outra(s) pessoa(s) que viu/viram o mesmo que eu”. 88,3% dos

jovens (459) reparou que existiam outras pessoas a ver o mesmo que eles e 87,1% (451) decidiu

ajudar as vítimas. 78,4% dos jovens (409) contou a alguém da sua confiança. Todas estas

estratégias de enfrentamento são estratégias de suporte social e que providenciam suporte às

vítimas, tão importante como já referido por vários autores (Desmet et al., 2015; Quirk & Campbell,

2014) que consideram a sua relevância na minimização das consequências negativas do

cyberbullying, para as vítimas. Os jovens observadores adotam em 78,3% (407) estratégias de

evitamento, como por exemplo, ignorar o acontecimento assim como outros que viram o fizeram.

31

Esta situação já foi descrita noutros estudos (Batstiaensens, Vandebosch, Cleemput & Desmet,

2013) e justificam que a não atuação dos jovens por evitamento pode ser devida a características

próprias suas, como é o caso da personalidade, medo de sofrer retaliações ou receio de sofrer juízos

de valor por parte dos outros.

Em resposta à questão de Investigação dois, relativamente às emoções sentidas pelos

observadores após a adoção de uma estratégia de enfrentamento, podemos observar na tabela 3.5,

que as emoções por eles mais sentidas são a revolta (77,3%), a tristeza (65.2%), a confusão (54%),

sentirem-se indefesos (43.1%), a insegurança (39.5%) e o medo (37.6%). Daqui podemos concluir

que todas pertencem à dimensão das emoções negativas.

Da dimensão das emoções positivas aquela que é por eles mais exeperenciada é o orgulho

(34%). Em resposta à Questão de Investigação 3, ter uma experiência como cyberagressor ou como

cybervítima não influencia as estratégias de enfrentamento, pois tanto os observadores

cyberagressores como os observadores cybervítimas utilizam com mais frequência a estratégia de

suporte social, seguida da estratégia de evitamento, estratégia de denúncia e por último o

enfrentamento agressivo (Anexo III.3 e Anexo III.4).

Em resposta à Questão de Investigação 4, os resultados indicam que os observadores que já

foram cyberagressores adotam como estratégias de enfrentamento, as estratégias agressivas, as de

denúncia, as de suporte social e de evitamento, com correlação positiva com as emoções positivas.

Existe uma correlação positiva moderada entre o enfrentamento agressivo e as emoções positivas e

o enfrentamento de suporte social e as emoções positivas. O enfrentamento de suporte social e o

enfrentamento de denúncia estão correlacionados positivamente com as emoções negativas (Anexo

III.5). Os resultados indicam que os observadores que já foram cybervítima adotam como

estratégias o enfrentamento agressivo, o enfrentamento de denúncia, o enfrentamento de suporte

social e o enfrentamento de evitamento (Anexo III.6). Existe uma correlação positiva fraca entre o

enfrentamento agressivo, o enfrentamento de denúncia, o enfrentamento de suporte social e as

emoções positivas. Sendo que a correlação entre o enfrentamento agressivo e as emoções positivas

32

é mais elevada nos observadores cyberagressores. A correlação entre o enfrentamento de suporte

social e o enfrentamento de denúncia é mais elevada nos observadores cybervítimas. Existe uma

correlação positiva entre o enfrentamento de denúncia e uma correlação positiva para o

enfrentamento de suporte social e as emoções negativas, embora fraca para o enfrentamento de

denúncia e moderada para o enfrentamento de suporte social, sem diferenças significativas entre os

observadores cyberagressores e cybervítimas. A significância dos diferentes preditores sobre o

efeito dos observadores que já foram vítimas e agressores de cyberbullying foi avaliada com um

modelo de regressão linear simples implementado no SPSS Statistics (v. 23, SPSS Inc, Chicago,

IL). Verificaram-se as condições de aplicação do modelo por recurso à análise gráfica dos resíduos

estandardizados, à estatística de Durbin- Watsone e à estatística VIF. Consideraram-se efeitos

significativos aqueles com p<0.0.5.

O modelo de regressão linear simples em função das estratégias de enfrentamento agressivo, de

enfrentamento de denúncia, enfrentamento de suporte social e enfrentamento de evitamento e a

variável observadores cybervítimas revelou-se estatísticamente significativo (F(4.370) = 21.451;

R2a = 0.179; p=0.000) para a variável dependente emoções positivas e revelou-se estatísticamente

significativo (F(4,370) = 19,301; R2a = 0.164; p = 0.000) para a variável dependente emoções

negativas. A análise dos coeficientes de regressão e da sua significância estatística revelou que dos

4 preditores considerados apenas as estratégias de enfrentamento agressivo (β = 0.289, t(370) =

6.133; p=0.000) e as estratégias de suporte social (β = 0.258, t(370) = 3.999; p=0.000) são

preditores significativos das emoções positivas.

Para a variável dependente emoções negativas, a análise dos coeficientes de regressão e da sua

significância estatística revelou que dos 4 preditores considerados apenas as estratégias de

enfrentamento de suporte social (β = 0.409, t(370) = 3.7,548; p=0.000) é preditora significativa das

emoções negativas. O modelo de regressão linear simples em função das estratégias de

enfrentamento agressivo, de enfrentamento de denúncia, enfrentamento de suporte social e

enfrentamento de evitamento e a variável observadores cyberagressores revelou-se estatísticamente

33

significativo (F(4.295) = 17.635;R2a = 0.182; p=0.000) para a variável dependente emoções

positivas e revelou-se estatísticamente significativo (F(4,295) = 15,421; R2a = 0.162; p = 0.000)

para a variável dependente emoções negativas. Contudo, a análise dos coeficientes de regressão e

da sua significância estatística revelou que dos 4 preditores considerados apenas o enfrentamento

agressivo (β = 0.361, t(295)= 6.855; p=0.001) e o enfrentamento de suporte social (β = 0.143,

t(295)= 2.437; p=0.000) são preditores significativos das emoções positivas, enquanto que a análise

dos coeficientes de regressão e da sua sugnificância estatística revelou que dos 4 preditores

consierados apenas o enfrentamento de suporte social (β = 0.361, t(295)= 6.070; p=0.000) é

preditor de emoções negativas.

Assim, ter tido uma experiência anterior como cybervítima ou como cyberagressor não parece

influenciar as estratégias de enfrentamento adotadas bem como as emoções associadas.

34

Tabela 3.5. Estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores perante um incidente de cyberbullying (n= 529)

________________________________________________________________________________________________

Estratégias de enfrentamento

Estratégia adotada Estratégia não adotada

_______________________________________________________________________________________

N (%) N (%)

Enfrent.

Agressivo “Também agredi as vítimas” 51 9.8% 472 90.2%

“Decidi agir como o(s) agressor(es)” 56 10.7% 468 89.3%

“Agredi a(s) vítima(s) tal como outra(s)

pessoas(s) que viu/viram o mesmo que eu” 26 5% 496 95%

“Decidi fazer o mesmo ao(s) agressor(es)” 109 21% 409 79%

“Fiz o mesmo aos agressores” 134 25.6% 389 74,4%

Enfrent.

de Denúncia

“Contactei os responsáveis pelos serviços” 90 18% 434 82%

“Ccontei aos pais da(s) vítima(s)” 96 18.3% 428 81.7%

“Denunciei o(s) agressor(es)” 274 53.6% 240 46.4%

“Contei aos pais do(s) agressor(es)” 90 17.8% 434 82.8%

“Contactei as autoridades” 320 64.3% 183 35.7% Enfrent.

suporte social

“Estive atento(a) à(s) outra(s) pessoa(s) 400 76.5% 123 23.5%

que viu/viram o mesmo que eu”

“Apoiei a(s) vítima(s) tal como outra(s) pessoa(s) 462 89.2% 56 10.8%

que viu/viram o mesmo que eu”

“Decidi ajudar a(s) vítima(s)” 451 87.1% 67 12.9%

"Contei a alguém da minha confiança” 409 78.4% 113 21.6%

“Aconselhei a(s) vítima(s)

a contar a alguém de confiança” 383 73.4% 139 26.6%

“Apoiei a(s) vítima(s)” 468 90.2% 51 9.8%

“Decidi agir como a(s) outra(s) pessoa(s)

que viu/viram o mesmo que eu” 362 70% 155 30%

“Reparei que havia(m) outra(s) pessoa(s)

que viu/viram o mesmo que eu” 459 88.3% 61 11.7% Enfrent.

de evitamento

“Ignorei tal como outra(s) pessoa(s)

que viu/viram o mesmo que eu” 407 78,3% 113 21.7%

“Decidi ignorar a situação” 330 64.3% 183 35.7%

_______________________________________________________________________________________

35

Tabela 3.6.Emoções sentidas pelos observadores após a adoção de uma estratégia de Enfrentamento (n = 529)

_____________________________________________________________________________________________

Emoções Emoção sentida Emoção não sentida

_____________________________________________________________________________________

Emoções positivas

N (%) N (%)

“Senti-me feliz” 158 30.5% 360 69.5

“Senti prazer” 103 19.3% 419 80.7

“Senti-me orgulhoso” 177 34% 344 66

Emoções negativas

“Senti-me triste” 339 65.2% 181 34.8%

“Senti-me revoltado” 402 77.3% 118 22.7%

“Senti-me indefeso” 223 43.1% 295 56.9%

“Senti-me culpado” 159 30.6% 360 69,4%

“Senti medo” 196 37.6% 325 62.4%

“Senti-me inseguro” 205 39.5% 314 60,5%

“Senti-me confuso” 281 54% 239 46%

“Senti-me sozinho” 133 25% 387 74.4%

_______________________________________________________________________________________

3. Discussão dos Resultados

Nesta investigação tinha-se como objetivos analisar o comportamento dos observadores de

cyberbullying e as emoções associadas após a adoção de um comportamento. Pretendia-se ainda,

averiguar a influência que observadores de cyberbullying com experiências como cybervítima ou

como cyberagressor, tinham no seu comportamento e nas emoções associadas ao comportamento

adotado. Estes objetivos foram cumpridos e permitiram testar as questões desta investigação. Este

estudo permitiu trazer um contributo relevante ao investigar temas pouco estudados, como por

exemplo, os observadores de cyberbullying e o papel dos observadores cybervítimas e dos

observadores cyberagressores na seleção das estratégias de enfrentamento. Um contributo inovador

prendeu-se com o estudo das emoções sentidas pelos observadores após a adoção de uma estratégia

de enfrentamento.

36

2.1. Questão de Investigação 1: “Quais as estratégias de enfrentamento adotadas pelos

observadores de cyberbullying?”

Verificou-se que estes utilizam, com mais frequência, estratégias de suporte social à vítima

seguido de estratégias de evitamento e com menos frequência, estratégias de denúncia e estratégias

agressivas. Embora estas duas últimas estratégias sejam utilizadas com menos frequência, ainda

assim, acontecem, sendo importante averiguar em que situações podem ocorrer. Das estratégias de

enfrentamento de suporte social as mais utilizadas por eles são as “estratégias de apoio às vítimas

tal como outras pessoas o fizeram”,”reparar que existiam outras pessoas a ver o mesmo que eles”,

“contar a alguém de confiança” ou “ajudar as vítimas”. Estes resultados são semelhantes aos

encontrados noutros estudos (Souza, Veiga Simão, & Caetano, 2014; Desmet et al., 2015). As

características próprias do cyberbullying, como por exemplo, a possibilidade de existir o anonimato,

a distância física entre o observador e a vítima e o observador e o agressor, pode facilitar a

ocorrência do suporte social à vítima por meio de mensagens privadas, por exemplo, e ao contrário

daquilo que foi mencionado noutros estudos (Gahagan & Vaterlauss, 2015; Schacter, Greenberg &

Juvonen, 2015), estes jovens adotam mais comportamentos positivos do que comportamentos

negativos, o que se considera de extrema importância para a redução das consequências negativas

do cyberbullying. Embora os resultados nos indiquem que os o observadores adotam

maioritariamente estratégias de enfrentamento adequadas, ainda assim, recorrem muito às

estratégias de evitamento, como por exemplo, “ignorar o acontecimento tal como outros que viram

o mesmo que eles”. Uma explicação para esta ocorrência pode estar relacionada com o facto dos

jovens terem receio de sofrer retaliações por parte dos agressores ou mesmo por parte de outras

pessoas que estão a observar, já que se constata que muitos jovens referem estar atentos ao que

outros observadores fazem (Batstiaensens, Vandebosch, Cleemput, & Desmet, 2013). Esta situação

é de relevar e os psicólogos educacionais devem atuar juntos deste tipo de protagonistas que

escolhe não atuar.

37

2.2. Questão de Investigação 2: Quais a emoções sentidas pelos observadores de cyberbullying

relativamente à adoção de uma estratégia de enfrentamento?

A segunda questão de investigação, procura dar resposta às emoções experenciadas pelos

observadores de cyberbullying após a adoção de uma estratégia de enfrentamento. Os jovens

observadores após adotarem uma estratégia de enfrentamento, experenciam, com mais frequência,

emoções como a revolta, a tristeza, a confusão, o sentir-se inseguro, indefeso e o medo. Estas

emoções fazem parte da subescala das emoções negativas, o que significa que após a adoção de

uma estratégia de enfrentamento os observadores sentem, maioritariamente, emoções negativas.

Baroncelli e Ciucci (2014), falavam em emoções como o medo, a confusão e a insegurança como

forma de justificar os comportamentos de evitamento dos observadores, afirmando que aqueles que

percepcionam dificuldade em regular as suas emoções não atuam. Este resultado vai ao encontro

dos resultados encontrados, uma vez que, uma das estratégias de enfrentamento mais utilizadas

pelos observadores são as estratégias de evitamento que podem justificar as emoções negativas

experenciadas pelos observadores.

Para uma melhor compreensão dos resultados obtidos, considerou-se importante analisar quais

as emoções associadas às diferentes estratégias de enfrentamento. Daqui resultou que as estratégias

de denúncia estão associadas a emoções positivas e negativas. Após denunciarem o incidente de

cyberbullying os observadores tanto podem sentir-se orgulhosos (pode estar relacionado com uma

boa autoestima ou uma alta autoeficácia) como podem sentir medo de ser a próxima vítima e o facto

de não controlarem a situação após a denúncia pode gerar confusão e insegurança. A adoção de

estratégias de enfrentamento de suporte social relacionam-se com emoções positivas e negativas,

sendo estas últimas correlativamente mais significativas, o que nos pode levar a sugerir que após a

adoção da estratégia de suporte social, os sujeitos podem experenciar medo de serem as próximas

vítimas. Também a ausência de feedback sobre a sua atuação e a não controlabilidade da situação

pode causar-lhes sensações de mau-estar. Por outro lado, este resultado, poderá estar relacionado

com a sobreposição de papéis, característico do cyberbullying. Por exemplo, um observador que já

38

foi vítima de cyberbullying pode identificar-se mais facilmente com a vítima e oferecer-lhe suporte

social. Embora o observador atue, este pode desenvolver emoções negativas pela recordação do

momento anteriormente vivenciado por si. Por último, as estratégias agressivas estão

correlacionadas com emoções positivas. Alguns autores (Nishina, & Juvonen, 2005; Vandebosch, &

Cleemput, 2008) falam-nos da relação entre sujeitos que anteriormente foram vítimas de bullying e

se tornaram cyberagressores utilizando como justificativa para as suas ações a vingança.

Se um observador foi alvo de bullying ou cyberbullying é possível que ao adotar um

comportamento agressivo para com outra pessoa, experencie emoções positivas. No bullying, os

agressores apresentam estratégias desajustadas para lidar com as situações e, consequentemente,

dificuldades ao nível do relacionamento social, situação que parece ocorrer igualmente no

cyberbullying e, enquanto observadores, juntam-se ao agressor e aproveitam a oportunidade para se

destacarem, podendo assumir que esse comportamento irá trazer benefícios para si em termos de

maior aceitação social, por exemplo (Nishina & Juvonen, 2005; Salmivalli, 2010; Poskiparta, 2011;

Pozzoli, & Gini, 2013).

Os resultados alcançados sugerem-nos a importância de incluir nas escolas, atividades que

promovam, não só a adoção de estratégias de enfrentamento adequadas como também atividades

que promovam a regulação emocional nos observadores de cyberbullying. Ou seja, é importante que

os observadores adquiram estratégias adequadas para lidar com o cyberbullying mas também que

aprendam a regular as suas emoções após agirem, para que não experienciem emoções como o

medo, a insegurança e a confusão e se potencie emoções positivas como a felicidade e o orgulho.

2.3. Questão de Investigação 3: A experiência como vítima ou agressor de cyberbullying

influencia as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying?

Os resultados alcançados indicaram que a experiência como cybervítima ou como

cyberagressor não influenciou as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de

cyberbullying. Ou seja, não existem diferenças estatísticamente significativas que indiquem que as

estratégias de enfrentamento utilizadas por um observador cybervítima sejam diferentes das

39

estratégias de enfrentamento adotadas por um observador cyberagressor. Estes resultados podem

estar relacionados com a sobreposição de papéis, ou seja, o observador pode ser observador, vítima

e agressor ao mesmo tempo e que pode ser uma característica somente do cyberbullying. Este

resultado vem reforçar a importância da intervenção junto dos observadores, uma vez que estes não

são apenas, observadores, apenas vítimas ou apenas agressores. Assim, é importante dotar os

observadores de estratégias de enfrentamento adequadas para intervir no cyberbullying, para

intervir junto das vítimas de cyberbullying e para ajudarem-se a si próprios.

2.4. Questão de Investigação 4: A experiência como vítima ou agressor de cyberbullying

influencia as emoções associadas às estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de

cyberbullying?

Os resultados alcançados indicaram que a experiência como cybervítima ou como

cyberagressor não influenciou as emoções associadas às estratégias de enfrentamento adotadas

pelos observadores de cyberbullying. Ou seja, não existem diferenças estatísticamente significativas

que indiquem que as emoções sentidas por um observador cybervítima após a adoção de uma

estratégia de enfrentamento sejam diferentes das emoções sentidas por um observador

cyberagressor após a adoção de uma estratégia de enfrentamento. Estes resultados podem estar

relacionados com a sobreposição de papéis acima mencionada.

40

Conclusão

O cyberbullying é um fenómeno complexo que envolve características muito específicas, é algo

que ocorre por todo o mundo, com consequências negativas devastadoras que têm contribuído para

que na literatura comece a existir informação sobre a compreensão deste fenómeno. Nesse sentido,

este estudo procurou dar um contributo relevante ao investigar-se conceitos ainda pouco estudados

na literatura, como por exemplo, o papel dos observadores no cyberbullying e o papel dos

observadores cybervítimas e dos observadores cyberagressores. Constituiu uma inovação ao

acrescentar ao modelo de Latané & Darley (1970) o estudo das emoções sentidas pelos

observadores após a adoção de uma estratégia de enfrentamento. Para além disso, permitiu o

desenvolvimento do inventário de Incidentes Observados de Cyberbullying (IIOC), instrumento

inovador em Portugal, destinado à população adolescente, ainda em desenvolvimento. Posto isto,

foram elencados alguns objetivos para este estudo e que foram alcançados. Dos resultados obtidos

concluiu-se que as estratégias de enfrentamento mais utilizadas pelos observadores são as

estratégias de suporte social e as estratégias de evitamento. Este resultado é significativo e

consistente com outros estudos que indicam que é necessário que os observadores desenvolvam

comportamentos prossociais e não de evitamento face ao cyberbullying (Batstiaensens,

Vandebosch, Cleemput, & Desmet, 2013). As emoções por eles sentidas são, maioritariamente,

negativas podendo estar relacionadas com o medo de sofrer retaliações por parte do agressor ou dos

outros observadores (Batstiaensens, Vandebosch, Van Cleemput, & Desmet, 2013). Não se

verificou uma influência significativa das experiências como observador cybervítima ou como

observador cyberagressor nas estratégias de enfrentamento e nas emoções por eles sentidas

posteriormente, porque o observador que foi cybervítima também foi cyberagressor e vice-versa.

Este estudo é importante no sentido em que revelou a importância que a sobreposição de papéis

assume no cyberbullying e alerta-se para que em estudos futuros esta variável seja considerada.

Nas escolas, o psicólogo deverá intervir não só nas cybervítimas ou nos cyberagressores mas sim

41

nos observadores, pois este estudo permitiu concluir que os observadores podem ser igualmente

cybervítimas e cyberagressores.

Limitações do Estudo

Esta investigação tem algumas limitações que devem ser reconhecidas. Em primeiro lugar, a

amostra é constituída por indivíduos pertencentes a um colégio privado do Distrito de Lisboa,

considerando-se importante que em estudos futuros sejam incluídos participantes do Ensino

Público. Em segundo lugar, a amostra é homogénea, em futuros estudos, dever-se-á ter em conta

uma amostra constituída por participantes de várias regiões de Portugal.

Em terceiro lugar, o número de itens que compôs as emoções positivas e negativas não foi

equivalente. Existiram mais itens pertencentes a emoções negativas do que positivas o que poderá

ter enviesado os resultados. Por último, os observadores cybervítimas e os observadores

cyberagressores mostraram-se não ser “puros”, ou seja, uma grande parte dos participantes eram

observadores cybervítimas e cyberagressores ao mesmo tempo, o que pode ter influenciado os resul

Implicações e estudos futuras

Estes resultados reforçam a importância dos psicólogos educacionais intervirem junto dos

observadores, com atividades que promovam estratégias de enfrentamento ajustadas e promovam a

regulação emocional, uma vez que são dois conceitos interdependentes e que interferem na atuação

ou não dos observadores e nas emoções por eles sentidas. De acordo com os resultados, nem

sempre um observador é um simples observador, podendo igualmente assumir o papel de

cyberagressor ou cybervítima ou ambos, sendo importante que o psicólogo consiga despistar

situações e contribua para que o indivíduo modifique o seu comportamento. Este resultado veio

trazer um contributo importante e contribuiu para o reconhecimento da importância de se estudar

melhor o fenómeno da sobreposição de papéis no cyberbullying e, não há referência na literatura

sobre este fenómeno.

42

Em estudos futuros, mostrou-se importante averiguar nos observadores que utilizam estratégias

de evitamento e estratégias agressivas, as crenças subjacentes ao seu comportamento. Sugere-se

ainda, o estudo da influência que o feedback das estratégias de enfrentamento adotadas pelos

observadores pode ter nas emoções por eles sentidas após a adoção da estratégia de enfrentamento.

Por último, investigar a sobreposição de papéis e a sua influência no cyberbullying.

43

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