8
Copyright 2004 by CornissaoMaranhense de: Folclore O s c once itos e mi tid ose m art igos a ssi nados sao de intei ra respo nsabi lidad e p a s autores ANAIS Comi ssao Edito ri al: M un di ca rr no Fe rr et ti ~ Coor den ad ora R oz a M ar ia S an to s S er gi o F ig ue ir e do F er re tt i Zeli nda Machado.de Castro e Lima Capa: Roda de Hoi ~Nhozinho (Acervo do CCPDVF) Design: Cla udio V a s co n ce h )s ·e Naza Alm.eida Fob Edgar Rocha Conl5[CSSO Br a si le ir o de Folcl or e ( 7: 2 00 2: S ao L ui S, MA ) Anai sdo 10° Congresso Bra si le iro de Folc lore , - Recife: Comi ssa o N ac io na l d e Fo ld or e; S ao L ui s: C om is sa o M ar an he ns e d e F ol cl or e, 2 00 4, 44:fp. L Fo lc lore - Congressos, confer en cias.vet c> B ra si l. 2. Turismo - B ra si l. 3 . "I ra di ca c e M od er ni da de .L C om is sa o N ac io na l d e F ol cl or e. n Comissao Maranhense d e F ol cl or e, I II . T it ul o. c:pI): 398.0(181 CDU: 398 :'061.3 (8J) Tiragem:1000 exernplares SUMARIO PREFACIO DA CNF Roberto B njamIn, , ,..,..,·.,· , ,..,,, ,;,.,,""",, ,, , , 9 PREFACIO DA eMF Sergio Ferretti ,'" , , " , :, : -: ".." ,."." .." 11 APRESENTACAO Maria Mic:hol P. de Carvalho, Mundicarmd.Ferretti ; ,., " }3 CONFERENCI AS (CONF) C el so M ag al ha es .p io nei ro d os e st ud osde cu lt ur a p op ul ar no Brasil c , , , , , , , 17 ]3raulio d o N a sc im en to . .O N '] ? Folclore, turisrno.e midia - tradicaoe modernidade , , , ,3 6 E ste r M ar qu es -UFMA Evolucaodo conceito de folclore e culturapopular , , , , 48 M aria de Cascia Frade - CNYIBEGC/UNESCO Feltoa mao: uma discus sao sobre artcsanato e arte popular 62 Gilmar de CarValho' UFC MESASREDONDAS R el ac fi o e nt re F ol cl or e e T ur is mo (lYIROl) Relacaoentre fo clore e turismo , , , 67 Maria do Socorro A r at fi o - eMF Midia e Fol clore (MR02) A s f es ta sf ol cl ori c as .c om o a co nt ec i me n to mi di a ti co: reinventando a cultura nordestina , , , , 72 Osvaldo J\leira T ri gu eu o -CPF Nlidia e folclore> 'urna relacao de conflito , , , , ,.81 LenaFrias· O FF E sp e tacul ar iz ac ao c ia c u lt ur a e r ef un c! omi l id ad €: d os grupos f.oltl6ri(:os " , ; ,.., ,.., 89 R o be r to Beniatnin- CNF

OCampoeasRepres

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: OCampoeasRepres

8/3/2019 OCampoeasRepres

http://slidepdf.com/reader/full/ocampoeasrepres 1/8

Copyright 2004 by CornissaoMaranhense d e : Folclore

Os conce itos emi tidosem art igos assinados sao de

inteira responsabilidade p a s autores

ANAIS

Comissao Editorial:

Mundicarrno Ferretti ~ Coordenadora

Mar ia Miche l Pinho de Carva lho

Roza Maria Santos

Sergio Figueiredo Ferretti

Zelinda Machado.de Castroe Lima

Capa:Roda de Hoi ~Nhozinho

(Acervo do CCPDVF)

Design: Claudio Vas co n ceh )s ·e Naza A lm .e id a

Fob Edgar Rocha

Conl5[CSSO Brasileiro de Folclore (7: 2002: Sao LuiS,MA)

Anaisdo 10° Congresso Brasi le iro de Folc lore , - Rec ife: Comissao

Nacional de Foldore; Sao Luis: Comissao Maranhense de Folclore, 2004,

44:fp.

L Folclore - Congressos, conferencias.vetc> Brasil. 2 . Turismo -

Brasil. 3 ."Iradicac e Modernidade.L Comissao Nacional de Folclore. nComissao Maranhense de Folclore, III. Titulo.

c:pI): 3 9 8 . 0 ( 1 8 1

CDU: 398:'061.3 (8J)

Tiragem:1000 exernplares

SUMARIO

PREFACIO DA CNFRoberto BenjamIn, , ,..,..,·.,· , ,..,,, ,;,.,,""",, ,, , , 9

PREFACIO DAeMF

Sergio Ferretti ,'" , , " ; , :, : -: " .." ,."." .. " 11

APRESENTACAOMaria Mic:hol P . de C arvalho, M undicarmd.Ferretti ; ,., " }3

CONFERENCIAS (CONF)Celso Magalhaes.pioneiro dos estudosdecultura

popular no Brasi l c , , , , , , , 17

]3raulio d o Na sc im en to . .O N '] ?

Folclore, turisrno.e midia - tradicaoe modernidade , , , ,3 6

E ste r M ar qu es - U FM A

Evolucaodo conceito de folclore e culturapopular , , , , 48

M aria de Cascia Frade - CNYIBEGC/UNESCOFeltoa mao: uma discus sao sobre artcsanato e arte popular 62

Gilmar de C a rV a lh o ' U F C

MESASREDONDAS

Relacfio entre Folclore e Turismo ( lYIROl)

Relacaoentre folclore e turismo , , , 67

Maria do Socorro A r at fi o - eMF

M id ia e Folclore (MR02)

As festasfolcloricas.como acontecimento midiatico:

reinventando a cultura nordestina , , , , 72

Osvaldo J\leira T ri gu eu o - C P F

Nlidia e folclore> 'urna relacao de conflito , , , , ,.81

LenaFrias· O FF

Espetacularizacao ciacultura e refunc!omilidad€: dosgrupos

f.o ltl6ri(:os " , ; ,.. , ,.. , 89

Ro be r to B e ni at ni n- CNF

Page 2: OCampoeasRepres

8/3/2019 OCampoeasRepres

http://slidepdf.com/reader/full/ocampoeasrepres 2/8

Milene B . B rito - CT - FSL, Samme Sraya - CT -FSL,

T er ez in ha C am po s - F SL (O rien t.)

Urna experienc ia de uti li zacao da cul tura popula r como

ins trumento de pedagogia no ens ino univers itar io 342

Jo se E ra sm o C am pello - U FM A

Oralidade e transmissiio do saber (GT09)

Oralidade e transmissao do saber 35 5

R rau lio do N ascim en to - C NF

G~s~ao cultu~al e novas politicas de bens imateriais (GTIO ell)

Praticas coletivas na gestae da cultura _ 363

Te re zin ha M ore ir a L im a - U E M A

Ocampo e as representacoes de brineantes do

Burnba-meu-boi 371

A rin ald o M ar tin s - C CS -U FM A

o Inventario Nacional de Referencias Culturais :

a experiencia com a Bumba-meu-boi do Maranhao 381

Luc iana G. d e C ar va lh o - F U NA RT E

Comunicaeoes livres (GT12)

Mario de Andrade - 0 fo1clore e 0 Brasil - 391

C ecilia de M en do w;a - C CS-U FR N

Festa da Corea - rnani festacao eaboda espontanea do povo

cear:nse - elementos de potencialidade tunstica religiosa 398

M a na d e L ou rd es !vI. F il ha - U N IF O R- CE

o conf1ito e pela tradicao? Representacao do tradicional

de sarnbistas da Escola de Samba Turma do Quinto 412

R ob son Pereira - C CS- U FM A

o folcJore como patrimonio cultural: 0processo de

construcao ou 0tempo do folclore na era do descartavel 419

R ose M arie R eis A grifo glio - C G F

Vidbade folclorista : Mario Souto Maier, urn cabra da peste ,.426

Ru ia L assio - Pq -F JN

ANEXOS:

Cornissoes Brasi lei ras de Folclore em 2002 439

Lista de Autores 442

PREFAclO DA CNF

Ao terrnino do 9" C o ng re ss o B ra si le ir o d e F o lc lo re , realizado em Porto

Alegre (RS), num memento cri tico de passagem da antiga estrutura oficial para

;1 cstrutura legal de urna soeiedade civil de direi to privado, a Comissdo Nacional

(Ie Folc lore contou com a sol ida riedade da Comissao Maranhense no sentido

de reali zar, na cidade de Sao Luis, 0 10 ° Congresso Biasileirc. d e F o lc l or e .

Os presentes Anais demons tram a dedicacao e a eficiencia dos organiza-

dores maranhenses que tornaram possivel a realizacao de urn even to nacional

de grande porte, superando todas as expectativas.

A presenca de brincantes do bumba-meu-boi, do tambor-de-criou la, do

cacuria e de lideres rel igiosos, pela primeira vez em even to da C omi ss ao N a ci o-

n a l d e F o lc lo re , perrnit iu perceber a forca ciaresistencia cultural que mantern

viva a tradicao do folclore brasileiro, ao mesmo tempo em que comprova adinarnica deSS3 tradicao que se ajusta a eontemporaneidade . Par autro lado,

vale destacar 0alto nivel da reflexao te6rica das conferencias e par ticipacoes em

mesas redondas de pcsquisadores de var ias par tes do Brasi l. A participacao em

f~rupas de trabalho - em qualidade e quantidade - foi tao abundante que <lea-

I)OLl par criar dif iculdades para a selecao do material desta publicacao.

Tudo isso nao teria sido possive l sem 0apoio do Governo do Esiado do

Mdranhdo, nao apenas pelo apoio economico, como pe la dedicacao da equipe

do C en tro d e C ultu re P op ula r D om in go s V ie ira F il ho , da Fundacao Cultura l do

Maranhao, atual Secretaria d e E sta do d a Culiura. Tambern temos de agradecer

;1 P r ef ei tu r a d e S (W Luis , a Un iv e rs id a d e F e d er a l do Maranhdo e aos profissionais

(LIS empresasExito e Portal .

Roberto Benjamin

Presidente da Comissao N acional de Folclore

Page 3: OCampoeasRepres

8/3/2019 OCampoeasRepres

http://slidepdf.com/reader/full/ocampoeasrepres 3/8

37 0 A NA IS D O 1 0" B R A S IL EI R O D E F01 . C LO R E : G RU P O S D F . TRA I lt d .11\I

REFERENCIAS

ALVAREZ, Sonia E. , DACNINO, Evelina e ESCOBAR, Arturo. (arg. ). Culiut«

e Politica nos M o vim en to s S oc ia is Latino-ameiicanos: Novas Leituras. ~ Bolo

Horizonte : Editora UFMG, 2000.

CARVALHO, Maria Michal Pinho de. M atracas que desaiiam a tem po: {_ .I.

bumba-rneu-boi do Maranhao: Urn estudo da t radicao/rnodemidade na cultu

ra popular. Sao Luis: [s.n.], 1995.

CARVALHO, Jose Antonio R. de. P ro je to V iv a M a dr e D eu s: Cestao Publica d('

Politic» Cultural. ~ Sao Luis : UEMA, 2000. Dissertacao de Mest rado. UFS< :,

2001.

DAGNINO, Evelina. (org.). Anos 90 P ol itic a e S oc ie da de n o B ra sil . - Sao Paulo:

Brasiliense, 1994.

FERRETTI, Sergio. Querebentan de Zomadonu: e tnogra fia da Casa das f V 1 1

nns. Sao Luis: UFMA, 1985 . (Colecao Ciencias Sociais, Ser ie Antropologi.r,

n.1). (2.ed.revista e atualizada, EDUFMA, 1996).

FERRETTI, Mundicarmo. Desceu na Guma : 0 caboclo do Tambor de Minn

em urn terrciro de Sao Luis. 2 .ed.ver.e atual , ~ Sao Luis: EDUFIVIA, 2000.

LIl'vIA, Terezinha )\'1. Descentralizacao e controle social. In: R e vi st a d e P o li li

c as Pub l ic as , vA, n.1I2, 2000.

MARQUES, Frunc isca Ester de Sa. Sa o Luis. Sao Luis.: Imprensa Universit.i

ria, 1999.

PETRAS, James. Intelectuais: uma cri tica marxis ta aos pos-marxistas. In: 1 . / 1

t as S o c ia i s 1 .Revista do NEILS-PUC/SP. Sao Paulo: Editora Xama, 1996.

III F 6r um M un ic ip al d e C ultu ra Os (des) caminhos e as naves Forum da Cultu

fa. 20 a 22 de seternbro de 2001. Relat6rio elaboraclo por Nataniel Silva I,'

Monte iro, Terezinha M. Lima, Franklene de A. Pinhei ro e Nadia F . Montci« • .

Sao Luis, 2001.

OCAMPO E AS REPRESENTA<;OES DE

BRINCANTES DO BUMBA-MEU-BOI

Arinaldo Martins'

Amuitos leitores rnaranhenses, ou mesmo de outros Iugares, talvez naopareca novidade ouvir alguern falar ou ler alga que alguem escrevcu sabre

obumba-meu-boi, manifestacao cultural conhecida no Maranhao pela beleza e

pelas suas particulariclades. Acostumarno-nos a assistir os espetaculos produzi-

dos pelos chamados brincantes'" enos deliciamos com isso. E algo bastante

normal ass is tir a urna apreseri tacao de um bumba-meu-boi conhecido, dancar,

cantar, tocar as chamadas mairacas ' l" e louvar as qua lidades de uma Festa tao

bonita. Tao normal quanta isso e ler 0 que se diz a respeito do assunto e

entender que existe uma grande diversidade dos chamados estilos Oll soiaques'"

produzindo 0espetaculo. Naquilo que se convencionou chamar de arraial120,

asgrupos sucedem-se urn ap6s outro, cada urn a sua maneira, com suas roupas,

personagens, cantigas, ins trumentos musicais etc.

Acostumamo-nos tambern a atribuir a producao disso tudo as comuni-

dades de origem dos grupos, pressupondo que 0bumba-meu-boi depende ex-

clusivamente das pessoas que diretamente 0 celebram!" para existir. Talvez por

tal entendimento muitos estudos enfat iza rn as carac teri st icas de cada grupo

de bumba-meu-boi como inser idas em urn contexto socio-histor ico especif ico

(a saber, as cidades de onde provavelmente te riam surgido os ditos sotaques) e

muitas das vezes fecham a anali se nestas caracte risticas que os di ferenc iam

sern procurar enfocar aqui lo que os torna iguai s, 0 fato de serem produzidos

ta rnbern em urn mesmo contexto soc io-historico, a cidade de Sao Luis. Assim

Arinaklo Mar+ins de Sousa; sociologo; aluno do Program" de ! 'os·graduowCio em Ciencius Sociais e l f ! Universidadc

Federal do Maranhf io . Apresentado no CT10: Gestiio Cultural, coordenado por r o s e Antonio de Carvalho-

UEMA e [oaozinho Ribeiro.

u: Categoria usada pelos rnaranhcnses para designar todos aqueles que dancam e cclobrarn bumba-rncu-boi, deriva

ciaexpressao "brinrar boi", 1 1 1 \ i t o usada pclos proprios charnadcs brincantes.J t s; Ins trumento mus ic al que se const itui deda is per la cos demade ir a que produze rn urn sam agudo aoscrem bat idcs

11mcontra 0 outro. E utilizado por urn tipo especifico de humba-rneu-ooi, 0 chamado b oi d e s o io qu e d e mair<1crJ.

11') Classificacso adorada para rcferir-se <lOS t ip oscspecificos de bumba-rneu-boi que sodcsenvolveram lim feste jos

iuninos de SJo Luis it par ti r das prime ir as decadas do seculo XX. Em geral , t encle- se a ident if ic ar c inco des se s

chamados sotaques: ho i de maimea Oll l l ha , h o i d e z a bu m ba 011G11imariies. h o i d e orqlles'ira, h o i d o b o i xn d a, h o i

d e c a st el d e m< la a u Cururuou,

1 : : 1 - ' Catcgoria usarl» em Sao Luis para design.ir oscspacos p(rblicos, distribuldos pelos bairros, nos qunis seaprcsentam

as chamadas nldn.ifesi,u;6es f o l c / o n e " , . Rcccntemenre, a lguns clox chnrnados <lrra;a;"Iorarn obieto de politic",

infraestruturais por parte de Covcmus estaduais , passando aserconhecidos pela categoria Vivas. C;eralmellt(; siio

co nh c ci r lo s p e l" c o rn b in a cao d c st a c a te gor i c c om (J n om e d o bairro em q u e s e e n co nt rum , r ai s c om o : V i va Ma d re

Deus, V iva RC11","en~d, Viva Liberdade etc.

I' I P o r ( )c as iJ o do t ra ba lh o r ca li za do n o c on cl us co d o c u rs od e C i en c ia s S o ci ai s n o U n iv e rs id a de F ed er al d o) .l m :a nh £ io p as se i

a uulizar acategona celebracao pam refcrir-meao bumba-meu-boi, em contormidade COIH 0 modo CO1l00 Invenlario

Nac io n al d e Re f er e nc i as Cu l tu r a is , r e al iz a do p e lo Ministeri» cia Cultura em parceria COrn outras imlilui~'6cs (Museu do

Folclore Erison Carneiro, Centro deCultura Papillar Domingos Vieira Filho) screfere ,\man ifestacao,

Page 4: OCampoeasRepres

8/3/2019 OCampoeasRepres

http://slidepdf.com/reader/full/ocampoeasrepres 4/8

37 2 ANAISDOlO" GlV\SILE!RODE fOLCLORb: GRUPOSDfTRABAlll1 , o CA:VIPOE AS EEPI~ESE~T!\q)F.':; DF IlRll\'CANTES DO BU"lBA-MEL-llOI 37 3

sendo, ao mudar 0 foco daquilo que di ferenc ia para aquila que torna igual, ;1

producao do bumba-rneu-boi adquire urn novo contorno, passa a conternplar iI

campo em que os grupos sao agentes ( BO U RlJ IE U, 1 98 9), (BOURDIEU, 1t)%),

inf luenciam-se rnutuarnente e sao influenciados por outros agentes (or iundos

do campo intelectual , polit ico-burocratico, tur ist ico, art is tico etc.) , Dis to dc

corre uma outra ideia, a de que tal manifestacao cultural nao (; produzidu

somente pelos que cliretamente a celebram, havendo a rcapropriacao por parlr-

dos agentes estatais, intelectuais, bem como pelo publico (CANCLINI, 19(JK),

Nesse campo de influencias hibridas, os brincanies, alern de produzir ('

espetaculo, produzern ta rnbem representacoes, discursos que servem COil J( I

marcas identitarias dos grupos perante as influencias dos outros e tambcm

como instrumentos de legitimacao e coriqui sta de status elevado numa disj >II

ta pelo capital s imb6lico da legit imidade. Tais representacoes tambern sofrc-m

influenc ias de outros agentes, e e exatamente por i sso que estarnos tra tando d['

urn campo multideterrninado de relacoes sociais , Ass im sendo, poder iamos, .J

partir de uma anal ise da configuracno socio-historica (ELIAS, 1994) que pn'

duziu 0bumba-rneu-boi tal como 0 conhecemos apreendcr tam bern as repro

sentacoes dos brincantes como produtos desta configuracao!" _Sendo "I~~I

criado coletivamente, 0 entendirnento que uso para tratar as categorias (I,I~,

brincantes, entendidas tambern como algo dete rminado pelo campo no qual SI'

movern e agem osgrupos, e a de representacoes colet ivas.

DURKHEHvI (1970) nos oferece a concepcao classica do que s er in ( '

sistema de representacoes coletivas: urn produto da vida em, sociedade, estaiul.

re lac ionadas a cada tipo de cul tura em part icula r. 0 autor possui urn interesse

bastante perceptivel pelas religioes, em especial as que ele denomina primitivns.

j ustamente pelo fa to de encontrare rn-se nebs os primeiros sistemas de repi ,.

sentacoes produzidos pelos homens a respeito do mundo e de si mesmos. Logi I,

o estudo das rel igi6es possibili ta discutir problemas que s6 ter iam sido delia II

dos por filosofos, e que dizem respe ito dire tarnente ao ser humano.

o interesse pelas re li gi oes , segundo eIe, primitivas, se da por questoes (I,·

metoda. Nao se trata de apreender as origens ou 0 funcionamento das rel igl

oes , mas, s im por entender a rel igiao, ia que, segundo 0autor, e uma instituir.i«

exi stente em toc las as sociedades, como possuinrlo a mesma funcao em ( '; 11 1 ;1

urna delas (responder a deterrninados problemas humanos).

Partindo do pressuposto de que as religioes forneeeram os primcuo-

sistemas de representacoes que os hom ens produziram do mundo e de si llIn

mos, Durkheirn nos diz que existem determinaclas nocoes que sao dadas p ( ' 1 . 1

l:1 Um,1-on+at.va de cornpreendcra citada configuracao csta ser-rlo re,aliz ilda pur lTI1H no t raba lho rnonogr .u« ~uh

conclusao do curse de Cicncias Sociais eli] Universidarlc Federal do 'vlar.lI1hao ondc procure enfocar quco t 'III. 'II

dirnento que scpos sui a ce rc a do ser do burnba-meu-boi do Maranhao ~ f ruto dedi scur sos produvidos por ")'! , , , I, 'socia isdelentores do rnonopolio dorepresentacao legitirna . Aeste respcito, vide SOUSA, Arinaldo 1 \ 1 : 1 1 1 iu.",

Da nd o n o me s (lOs hois: 0 bumba-meu-boi maranhensc c o mo a r+ e fa to p o li ti co ,

sociedade, e somente por ela, servindo para organizar a propria nocao que 0

individuo tern do mundo a sua volta e da sociedade. Neste sentido, estamos

tratando de categorias produzidas socialmente, tais como a de espaco e tempo,

que sao diferentes de sociedade para sociedade. Isto quer dizer que 0tempo e 0

espaco sao construcocs sociais, refer indo-se ao modo pelo qual os homens clas-

sificarn suas atividades e os elementos eonstantes ern Sua sociedade.

A esse respeito, DURKHFJlVI & rvIAUSS (1981), jcl em "Algumas formas

primitivas de classificacao", escrito em 1903, nos eliz que relacionada a religiao

esta a forma pela qual oshornens sedividem espacialrnente e como se dis tr ibu-

em na sociedade, divididos em clas, cada qua l com 0 seu totem. Isto se re fere,

porem, ao fato de que nas soe iec lac les di tas simples a rel igiao nao se encontra

apartada do res to do corpo social; nao ha diferenciacao Com relacao ao dominic

econornico, por exemplo, Dctcrrninadas teorias que procuram explicar as ma-

nifes tacoes rel igiosas a par tir do campo econornico nno sao efieientes quando

estamos tratando desse tipo de sociedade. Com relacao a natureza das categori-

as rel igiosas, sao sociais por serem produto do pensarnento colet ivo,

Assim ocorre com outras catcgorias, produtos de um processo de classifica-

<;aoe hierarquizacao realizados pelos homens. Resumindo, aseategorias tem urna

origem social. Todas as nocoes de genero, forc;a, personalidade, beleza, distincao

entre dircita e esquerda, e (Jutras, sao nocoes cliferenciadas entre sic dizcm respei-to a forma pela qual oshomens estao organizaclos, 0 que deterrnina, segundo os

autores, a visao dernundo de cada grupo social. Asvariacoes nao sedao sornente de

um grupo para 0outro, mas var iarn tambem com ()correr do tempo,

Neste sentido, as representacoes sociais sao fruto de uma longa serie de

experiencias acumuladas par geracoes. Elas ultrapassarn 0alcance do'sconheci-

mentos c rnpiricos que se liga rn aos estados individua is, ao que os individuos

sentem ao se defrontarern com os obietos, Por outro laclo, nao sao tambem

devidas a uma vi rtu de misteriosa , mas ,1 organizacao social. ' Irata-sc de rcpre-

sentacoes que sao produto de uma imensa mul tidao de espiri tos diversos assn-

c iados na mistura e combinacao de ide ias c scntimentos, }:neste sent iclo que 0

"social se explica pelo social" e 0 todo 11.10 seexplica s implesmente pela soma das

partes, mas par sua combinacao.

No que diz respeito ao bumba-meu-boi parece haver urna tendcncia

general izacla, tanto entre os btincames quanta entre outros agentes, a ligar a

tradicao a urn passaclo e a modernidade a algo fugiclio, que incorpora modifica-

coes, corrompendo 0 ant igo . E muitos grupos assumern no seu discurso a refe -

rencia a tradicao como sua caracteristica mais marcante, rcservando-se assim 0

di reito de receber mais incentives estata is do que outros por conta disso. 'lam-

bern atr ibuern a esse fato a razao cleserern poueo apreciados pelos que ass is tem

as apresentacoes, Assim sen do, tais grupos internalizam Ulll habitus (BOUR-

DIEU: 1989) de grupo pouco apreciado por conta de sua Iigacao com a tradi-

cao, isto e , dadas ascondicoes objet ivas ciaconcorrencia peIo prest igio junto ao

publico pelos grupos de bumba-meu-boi, alguns grupos assumem como discur-

Page 5: OCampoeasRepres

8/3/2019 OCampoeasRepres

http://slidepdf.com/reader/full/ocampoeasrepres 5/8

374 OCAMPO E AS REPRFSFNTA(OFS OF llRINCA:\JTES DO BU:vlBA-,,\EU-~[)1 375\NAIS DO 10" BRASILEIRODErOLCLORE: GRUl'05 DETJ\ABAI.l]( I

so e como pratica 0 habitus de ser tradicional. It 0 que parece ocorrer com ox

grupos enquadrados no chamado s o ta q ue d e z a bu m ba .

Decerto, os grupos do bo i d e z a bumb a, tides como os mais iiadicionaix.

realizam tambern dicotornias corn relacao aos grupos de crquestia e de matraCd.

Dizem eles que estes dois t ipos de bumbc-nieu-boi possuern prestigio muito mats

pOI eonta de estrategias que atraem 0 publico. Para 0 ho i de mairaca e atribuido 11

fato de possui r centenas de brincantes nao fantasiados. A este respeito eles eslu

belecern um sinal diacritico dizendo que nao aceitarn a entrada de lambiuk»(pessoas nao fantasiadas) para bt incar no h oi au tocar instrumentos, Para os < 1 ( '

orquesira, enfatizarn a rnusiealidade facil, que contagia 0 publico a dancar, ell

quanto a musical idade dos grupos de zabumba e considerada rnais dificiL

" .A.choque isso e urn dos motives que a brincadei ra do boi de Zaburnba , L\

vendo? Entao ta se apagando, Porque hoje a brincadcira 6 do boi ill'

matraca, que tem 20 pessoa pronto e tem 500, 600 a paisana, so tocaml«

matraca, te vendo? E 0 boi de sotaoue de Cuimardee e um boi que lent

dcsbesa, 0 grupo de Cuimaraes e um boi que tem muita dcspcsa. v o c e , vi'

que e tuclo no canutilho, desdc 0 boi, vaqueiro, pandeireiro, tudo (. 110

brilho, e s6 no canutilho puro. E canutilho, quanto e que ta custando 0

canutilho? Entao, se apron tar 40, 50,60 pessoas s6 na base do canutilh«,

faca a conta c vc qua nto t~que vai l E a Cultura'?", ta vendo? nao da tuu.i

condicao pra daru-n arliantarnento.t'[Cte.: 17105/01) .

o info rrnante chama a atencao para aspectos rela tivos aos recursox II

nance iros exigidos para esses g rupos se rnantcr em enquanto tal . A roupa dO'.

hois de zabumba , segundo a inforrnante, tern que ser usada par todos os inti-

grantes do grupo, enquanto que osg rupos de outros sotaques, como 0 de ma/III

ca, nao apresentarn essa exigencia, Sendo ass im, 0 informante esta chamam Ie I

a atencao para a necessidade de subsidio do Estado, 0 que, segundo ele, ll,lc I

acontccc. Neste sentido, e a05 grupos de seu sotaque , par ser 0 que preris.:

cornpra r as roupas dos btincantes e nao aos grupos de tnaitaca, que deveria SC'I

concedido 0maior volume de recurso. Afirmar que seu grupo de burnba-l» II(0

t radicional enquanto exi stern l inguagens que desviarn disso me pareee 11111,1

estrategia discurs iva para tentar estabelecer urna diferenca com algo que agri4ic '

ao seu sentimento de identif icacao.

E neste scntido que mui tos au tores consideram que as imposicocx III

f ronteiras sao discursos criados para dernarcar uma diferenca, muito ernboru iI

di ferenca n30 estej a de imedia to perceptive]. E com relacao ao fato de CjW' II,

crit erio s de c lassi ficacao, au a imposicao de frontei ras, sao cr iadas cold i v . 1

mente] F OU CA UL T (2 00 2, p. XV-XVI) nos diz:

adquirirmos 0 habi to de dist ribu ir tantas coisa s c li fe rentes e parecida s?

Que ccerencia e essa - que se ve logo nao ser nem determinaua por urn

cncadearnento D prior i e nece ssaria, nem irnposta pO T couteudos imedia-

tarnente sens ive is? ( .. . ); nada ma is tarean te , nada ma is e rnp irico ( 0 1 0 me-

nos na aparencia] que a instauracao de uma ordem entre as coisas: nada

que exija um olhar mais atento, uma Iinguagern mais fiel e mnis hem

modulada; nada que requeira com maior insistencia que se deixe condu-

zir pela prolifcracao das qualidades e das formas. (. ..): de fato nao ha,

mesrno pa ra a ma is ingenua experiencia , nenhuma simil itude , nenhuma

distincao que nao r esu lte de urna operacao pre cisa e da aplicacao deUIl1

c ri te rio previo, Um 'sistema' dos e lementos - urna de finicao dos segrnen-

tos sobre". as quais poderao aparccer as semelha ncas cas difcrcncas, os

tip os de variacao de que Esses scgmcntos poderilo ser afetados, 0 limiar,

enfim, acima c loqua l have ra di fe rcnya c aba ixo do qua l have ru s imi li tude

- e indispensavel para 0 estabelecimento cia mais simples ordern."

Ou seja , a ordem e instituida segundo criterios previamente estabeleci-

dos pe la comunidade humana que disp6e, segundo sua propria visao de mun-

do, os objetos . A ardem e ass im produto de representacces, Logo, 0 s is tema de

representacoes estaria 1igado tambem a urn sistema de significacao especffico o l

cornunidade humana que 0produziu, t em haver com aordern do simbol ico, do

s ignificado que determinados objetos ou seres possuem para osgrupos sociais ,Sob uma situacao de existencia de inurneras comunidades hurnanas 110

mundo, a quantidade de ordens existentes tam b er n e diversa, e osseres e osobjetos

sao dispostos sob pontos de vista distintos, de tal modo que nao sepode estabelecer

urn solo cornum. E, ao contrar io de Durkheim, Foucault nao atr ibui ascategorias

coletivas ao consenso. It exatamente at que ele se torna interessante, pois nisso

prop6e que a irnposicao de frontei ras pode ser LImdiscurso que , co rnu poder,

pretende criar coisas. 0autor propoe assim que nas sociedades 0poder encontra-

se disseminado entre as varias relacoes estabelecidas pelos individuos.

" (. .. ), uma das primc ira s coisa s a compreender t' que 0 pc tlcr do estac lo

nao esta localizado no aparelho do Estado e que nada mudara na socierla-

de se os mecanisrnos do poder que funcionam fora, a baixo, ao laclo dos

aparelhos de estado a urn nive! muito mais elernentar, quotidiano, nanforem modif icados." (FOUCAULT, 2001, p.150).

Refere -se ao fa to de que as prat icas di scursivas ou ideologicas sao llTll

poder tao eficaz quanta as praticas coercivas , Talve« tais discursos dos grupos

de que e preciso va loriza r a t radicao prcsente 110S grupos de ho i de zabumba

exista para responder a uma necessidade dos grupos de afirmarcm-sc em um

campo on de preeisam concorrer com outros, a que lhes irnpoe 0 estabeleci-

mento de urn j ogo de cornpeticao que rnuitas vexes assume proporcoes injus-

tas por conta ciapreferencia do publico por determinados grupos que parecem

mais atraentes . Es ta diferenciacao dos gru{Jos de zabumba com re lacao ao sota-

qu e de matraca assume tambern a caracterlstica de urn sinal diacr it ico no intui-

"Quando instauramos urna classif icacao rcf lc tida , ( .. . ), qual e , pois, II~,,,I,,a partir do qual podcmos cstabelece-io com inteira certeza? Em qu(' '1;1

hua', segundo qual cspaco de idcntidades, de similitudes, de analor.i.t-.,

.:'., Refen~nd(1 ~1()SlJrg;los estutnis que lid.un COTIl a cultura.

Page 6: OCampoeasRepres

8/3/2019 OCampoeasRepres

http://slidepdf.com/reader/full/ocampoeasrepres 6/8

376 AN A IS DO 1D"BR A~ ] LE!RO DE FOTCLORE: Gg U POS DE TRAllAU 1(1OCAMPO F. ASRF.PRFSEKTA(OES DE BRINCAN IES 00 B\JlvlBA-MEU-BOr

to de dernarcar uma diferenca e enfocar urn sentimento de que eles nao estao

se sent indo conternplados pela acao do poder publica instituido.

Uma outra dist incao, fei ta com relacao 30 sotaque de orquestra:

"E 0 boi de musica ... , quan to toea, des comccarn aquele movimcnto. I::

mais quem se remexe, e coisa e till. E no boi de zabumba, ele nao pock

fazcr aquilo, des tern vcrgonha. E ai, se esse aqui en tr ar a pai sano e ll tir«

elc de la." (Cto: 17/05/01).

E perceptivel uma diferenca de preferencia do publico em relacao ;1

determinados grupos. Es ta diferenca pode scr percebida 30visi tar-se oscham!

dos arta.ais [unincs de S a o L uis e observar a reacao do publico a entrada de cad:r

grupo. On de ha deterrninados grupos considerados famosos, sendo muitos

deles de orquesi ia e de rnatraca , ,I quantidade de peSS03Sao rcdor e muito gnu 1

de, onde ha grupos de zabumba, pode-se notar algurn des intcresse. Me pare.«-

haver muito mais urn campo de disputas em que os grupos procuram estabek-

eer as dist incoes, tentando entender porque cleterminados grupos parecem

esta r sendo rnai s ace itos do que out ros. For este rnesmo mot ivo digo que el l'S

adotam deterrninadas caracterlst icas em seu discurso dizcndo quem seria rnc:

recedor dos incentives estatais. Nes te sentido, ao adotar como caracterist icu iI

tradicao, 0 boi de zabumba procura enfocar nis to 0 seu habitus no intuito <1<,

elevar seu cap i ta l s imbo li co , ass im como parece estar nas inovacoes 0 habitusdos grupos charnados alternatives, nas mairacas 0do h o i d e m a tr ac a, e n3 m!I.~1

calidade facil 0do ho i de orcuestra .

No que diz respeito a s representacoes dos grupos charnados alternal,

vas. Algumas de suas representacoes enfatizam que, de fato, as inovacoes aSS!1

mern 0 carater de constituicao de ur n habitus social. Isso preconiza qut- ,I

tradicao do grupo al ternat ive e inovar. No que diz respeito a isso:

"A gcnte la, 0 Roizinho Incantado e so taque nha e Pin dare , mas, a ,;( 'ulo '

nao leva .. .Tudo bern, a nossa tradicao e sotaque Pindar c, mas a genii' lid"

leva 0 tradicional, 0 que eo Pindare, () velho sotaque do Pindare, porqu« ,)

genie tern sempie qu e inovar , mas, a gcn te nao vai levar pro terr eiro ... 'I;'!I!

t an tos tradicionai s, ; \ gente procura levar LUna coi sa a mais, uma novid"d,'

Exist e chapeu t racli cional do P indarc , mas, a genie inova c cada uma "01',,1,

c ada ana a genie v a i i n ov a n do outra coisa, vai fazcnrlo. Por exemplo, (').;):.1111

- 1180 era ha muito tcmpo - nao existia 0 bo rda do do hoi micanga e l ' ;1111111

lho: cra co lado. Chegou urn cam, comecnu a fazcr 0 bcrdado do boi r Ili,. .u I

ga e canutilho. Ent ik : a cada (/110 a genie l eva unw nov idade. Nao (. (jl W "

gente va ficar todo tempo no tradicional. A genie sempre brocunu! 1111111

novulade, sabe? A gente tem qu e ter (f modemidade. (D.F.: IS/OS/Ol).

Por que sen] tao importantc, COlllO cles dizem, ter a moderniclad<'l' I '.II!

razao de que estes grupos prec isa rn adot3r como suas caracterfstieas () 1;1I1)j I,·

adotarem sempre as inovac;:oes?Pareee-me Jl1uito mais urn sinal diacrihl '0. I'.Ii I

e rnais urn fator que evidencia 0 fato destes grupos estarern inclufdos ( 'l ll !111I

campo de clisputas pelo prest igio, tanto entre os agentes estatais que ](' ;r l, /dl ll

aspolit icas , quanto entre a populacao que ass is te a s apresentacoes. E como se

esses grupos adotassern como sua tradicao 0ato de opor-se aos que des enten-

dem como a tradicao existents nos outros grupos.

Sendo ~ssim, os out ros grupos sao out ra coisa, di st inta , enquanto que

des preci sam mcorpora r novidades. Trata-se de urn crite ri a que tern de term i-

na~o va lor para estes. individuos e e respeitado por todos os grupos que se

defmem enquanto bOIS modernos, ou, como se quer charnar, aliernativos. Nes-

te sentido, ser ia esse 0 cri teria s imbolico adotado pOI estes indivlduos pois aoL . , ,

raze r i sto, estao reali zando urna cornunicacao que Ihes c propria . A ideia de

grupos queprecisam .inovar eo fato de serern reconheeidos enquanto tais pode

se~entendido como instrurnentos na disputa pe lo prestigio. Isto parece estar

evidente nesta outra rcpresentacao, rea lizada por este outro brincante :

"(. .. ): quando eu diz ia ainda agora que 0Barrica tern 0merito de ter t irado

dos guetos 0 bumba-bo i e colocado no salao, se voce vai analisar a evolu-

('80 do burnba-boi de 10 anos pra ca, e urn neg6cio fantastico, percebe?

Ha 10anos eu criei u rn bo i ( ... ), la 0Boi de Palha, ne? E eu conheci lim cam

com urn talcnto f~nhistieo, urn cara que tava Ijno fundo do bau, que

tmha c~lsas maravilhosas. i . .. ). Conhec i Da F e ja um pouco mais recente .

Qucr dizcr , quan tas pessoas comecar am a mostrar 0 seu t raba lho a par ti r

dISso? ltnag ina se nao [osse permitido essa evolucdo ai, e ssa coisa que td

acontecendo. 0 fato do Barrica ... 0 fato do Pi ri lampo ta vendendo 15000

copias vai cnar na cabeca de todo mundo a necessidade de produzir urn

dISCOrne lhor . Olha! No pas sado, no passado, os bo is tr ad icionais iam

gravar no estudio, nao tinha arraniador, nao tinha produtor, nao t inha

nada, rigorosarnente nada. 0 cara ehegava la ... s~voce vai olhar os

discos de 15 anus atds, pra tras, 0 cantor, ninguern S8bia 0 ljut: 0 cantor

e:n tava. Vai ouvir 11mboi de zaburnba, par exernplo, ate hoje, que ainda

nao tem essa atividadc, que tu nan ouve, t11 ]1,10sabe 0 que e que 0 earn

tj canta ndo. "(R. D.; 18/(5/01).

Esse mesrno responsavel pur urn desses grupos realiza uma interpreta-

t;:ao que enfoca a oposicao com () que e entendido como tradicional:

"N6s rcspeitamos 0 t radicional ; e ll sou l igac lo ao Eoi de Maracana, gosto

do SOl de Maracana SOilligado a tam DOl de crioula e tal. M a s, n os ruiote mo s n en hu ma p re ie ns do d e im ita -l os. Nos n30 terno s nenhuma preten-

s50 de fazer igual a eles, No s ndo temos nenhuma bretensdo de [azer amirabalho oareculo com 0 deles. No s ieirios a ptetensdo de [azet um trabalho

batecido com a btetensdo da genie, co m a p r op o :; ta p e d ag o g ic a , c u l tu r al da

genie. E a IJrof)osta da genie e d if er en te d a d el e« . Agora , como os burnha-

b O I S , urn e . .. , sao diferentes ent re e res. Como 0 sotaque,t ao dizendo que

o B oi de Igualba tem 15 0 anos, niio sei se algucm viu no jomal. Ur n

pesquisado r dcscobriu que Soi de Iguaiba e 0 mais veIho, tem 1 5 0 anos.

o so taque da l lha tocado hd 150 (ln08, seguTamente, n < I O era igua/ a agora.

Eu to no bumba-boi ha muitos anos eo sotaque Costa de Mao aqui, quem

~3 h~ POllCf.) tempo, nao deve ta quatro anos que aparcceu par aqui, nao

e? Nilo deve ter qUatro anos que clc apareceu por aqui. Nao quero dizer

377

I

Page 7: OCampoeasRepres

8/3/2019 OCampoeasRepres

http://slidepdf.com/reader/full/ocampoeasrepres 7/8

378 C\NAj ~ DO 10" B l{ASILEl I{O DEFOLCLORE : GRUPOS DE TRABALl I ) OCAMPO E A5 REPRESENTAC;( )FS OF BR1~CAN jES DO BUlYmA-ME li -BCl l \'':'1

que ele nao existia h i em Cururupu, Nao to dizendo isso.Mas, nao ta COlli

quatro anos que ele apareceu par aqui, entao, mas de diz que (: tradicio

nal. Nos nao t.ernos comprornisso com isso, (. .. ) . Por que e a evoluca«

natural das coisas: ell vi Humberto gravando, agora, ao vivo, a Boi d"

Maracana, ao vivo. Isto nao e uma grande evolucao? Nao e aproveitar lllil

instrurnentodeleituramoderna?"(R. D.: IRl05/01).

A par tir do que e le di sse, apenas sob urn dctc rminado pon to de vista iuu

bo i e considerado tradicional , ou seja, 0que define um grupo como tradicionalseria a existencia de deterrninadas caracteristicas reconhecidas par determinn

dos agentes , pois, segundo esse depoimento, ospr6prios grupos ditos tradicio

nai s mudam. Urn ho i assurniria urn determinado status a par tir do habi tus que

se adequa aos interesses de determinaclos agentes que valor izam esse habitus,

Por isso e que se constitui como urn campo onde varies agentes atuam, cHI;1

qual agindo e dispu tando com outros a i rnposicao de seus cri ter ios, Em surnn.

o b o i d e z ab um ba , de habitus tradicional, c valor izado par determinados tip: IS

de agentes, enquanto 0alternative e valorizado par outros.

Tra ta -se , insisto, de urn campo onde nfioha uma sobreposicao bern dcf

nida de quem detem 0maior poder , pois isso depende das relacoes socia isque

sao estabelecidas , Para alguns agentes (entenda-se que trato de agentes tanto dlI

campo politico-estatal, quanto de outros campos, pais trato de urn campoonde se rnovern os grupos de bumba-rneu-boi - de mult iplas influenc ias) os

cri terios valor izados, os mesrnos que definem 0entendimento da categori.i

t radicional , ser iam a antiguidade dos grupos e sua inscr icao cornunitaria, bcm

como a cornprovacao disso tudo a parti r de pesquisas. Para ou tros, os cri teriox

sao a assimilacao do publico e a interacao, as recUTSOSmais morlernos etc.

a informante ac ima c itado afi rrna sua iden tidade pe la di ferenca, S:-II

dife rent .es, sao outra coi sa . Ha em seu discurso urna clara di ferenciacao entn:

o que ele entende como n6s e 0 que e le entende como eles. Ao rnesmo ternp«,

apela para 0 coneeito de evolucao, ou seja, de insercao dos bois tides COlliII

t radicionuis, em urn mercado fonografico, de recursos tecnol6gicus, perrnit in

do assim aos grupos uti li zare rn-se de inst rumentos de Ie itura moderna. ;\1I

fazer isto, parece reivindicar 0direi to de ser uma Iinguagem diferente pelo hll I

de adotar como sua caracterfst ica essa diferenca, reivindicando ainda 0 fato d('

estar em urn rnesrno rnercado que 0 dito tradicional , par usar osmesmos reel II

sos e esta r inser iclo em uma mesrna rede de relacoes.

Eles se autodenominam uma l inguagern di ferente, mas, a firrnam que II~

proprios grupos tidos como tradicionais ut ili za rn instrumentos de leitura 1111

dcrna. Entao, sob urn discurso de que nao e sua proposta fazer algo tradicion.il

estes grupos apresentarn uma l inguagern di stinta do bumba-meu-bo i .

Para conclui r poderia re ferir- rne a uma discnssao sobre t radicao Qll1'

ainda nao esta bern forrnulada em razao clos contornos deste problema na«

estarern ainda bern nit idos no campo das apresentacoes dos grupos de bUIllI) ;1

meu-boi , mas que talvez possa a judar no debate sobre 0t radicional e 0mo: It'I

no. Se tomar rnos um texto do seculo XIX referindo-se ao boi , VI'IiI j( 'IIIII"~, 11"1

janaquela epoca exist ia a preocupacao com a inovacao:

"Int roduzir an: na fo lganca deste anna urn repinicado dt, 111;111;11;".1III

acompanharnento de 1111S gritos estolidos e dissonantcs, q1le ;[11<'1'1.1\,11"

as carnes ao ouvil-os, sern a minima lembranca de que 01111"11'111;111/;1",,,'111

de taes cousas as figuras do boi. No canto notei sensivcl lIil"I('III,,1 1

sernpre para peor: (.. .J . (Semanario Maranhense: 5 de ju lho de ISf )" )

AU se ja , aqu ila que hoje e considerado lim dos e lemen tos mais II)111\ ,I.I

iradicao do bumba-rneu-boi maranhense, quando surgiu, considcrav. I ~I' 11111.1

inovacao e p a ra o io r. A esse respcito:

"Muitas vezes, 'tradicces' que parecern Oll sao consideradas dill il:;j~. ',,111

bastante reccntes, quando nao sao inventadas.( ...).

o termo tradicao inventac1a e usado nurn sentido a rnp lo, mas 1111111I

indefinic1o. Inclui tanto as ' tradicoes' rcalmente inventadas, couxl uu.l.r

e formalmente institucionalizadas, quanto as que surgirarn de 111;111,')1.1

mais difici. de localizar num periodo limitado e determinado de klllJ '"

as vezes coisa de poucos anos apenas - e se estabeleceram COJ'll ,'11"11111

rapidez." (HOBSBAWN In; HOBSBAWN & RANGER, 1997, pOI)).

a conceito, por tanto, refere-se tanto a s tradicoes em que nan St' I""I"

precisar a sua ins ti tuicao quanta asque surgem com poueo tempo. a que ilill)11)

ta e que as t radicoes possuern um cara ter de a lgo instituido , acei to COIIII)L d

Neste sent ido, no depoimcnto acima , a introducao daqui lo que a inform.m!-

esta classificando como novidade pode sc transformar tarnbem numa t rad ic .« ' .

"Po, 't radicao inventada' eutende-sc urn con junto de praticas, umm.rl

mente reguladas por regras tacita au abertamcnte aceitas; tais pI:11' ',1:',de natureza ritual ou simbolica, visam inculcar certos valores e norur.r-, III'

cornportamentos atravcs e l i ! repeticao, 0 que irnplica, autornaticanu-nt«.

uma continuidade em relacao ao passadc. Alias, sempre que PII"IVI·I .

tcnta-se estabdecer continuidade com urn passado his t6rico apWiliLI

do." (HU8SBAWN In; HOBSBAWN & RANGER: op, CIt., p.D))).

a autor estabelece u rna dife renca ent re a tradicao e0cos tume, rcfci i ll

clo-se ser 0 objet ivo das tradieoes a tendencia a invar iabilidade, enqu.mt IIIIcostume nao teria este traco.Jsto enfoca a ideia, comurnente aceita pelux P I '~ ,

soas, da t radicao enquanto a lgo insti tuido, que visa impr imi r valores Ill( 11:1i~.

aos individuos, Exatamente por causa des te carater de moralidade existent r :II ;I

tradicao que os brincanies do bo i e a te mesrno agentes que l idam com as 111:1111

festacoes culturais no Maranhao realizam esta distincao entre os bois ['111111)

urn fato folcl6r ico e estes grupos como alga dist into.

Ora, para os tipos e as caracterist icas das tradicoes:

"Elas parecem classificar-se em tres categorias superpostas: a) ,](111,-1;1"

que estabelecern all s imbolizam a coesao social au as condicocx dl' ;111

missao de urn grupo Oll de comunidades reais e artificiais: b)aqucl.rx 'ill"

Page 8: OCampoeasRepres

8/3/2019 OCampoeasRepres

http://slidepdf.com/reader/full/ocampoeasrepres 8/8

38 0 ANAfS D O 10' BRASf LEfR O D E f OLCLOR E: G RU PO S D ET RAll AI J I( I

estabelecem au legitimam instituicces, status ou relacoes de autoridadr,

e c) aquelas cujo proposito principal e a socializacao, a inculcacao ck

ide ia s, s is temas de va lore s e padr6es de cornpor tamento." (HOBSBAWN

In: I-IOBSBAWN & RANGER: op. c it ., p .17) .

Isso quer dizer que as t radicoes tambern sao representacoes sociais t'

estao direcionadas a algum fim especif ico, ditado pOI pessoas em sociedade. As

ca tegorias ci tadas expressam a carater normativo da tradicao, enquanto urn

sistema de valores, que institucionaliza uma determinada visao de mundo.

Ass im tcmos que 0campo onde os grupos de bumba-meu-boi agem esta permo

ado de disputas e de representacoes que visam conquistar a legitimidade. ( )

importante disso tudo e que eles ainda disputarn, preocupante e seuma repro

sentacao se irnpoe sabre a outra.

Deve oleitor levarem consideracao que 0recorte deste artigo visar abarcu

apenas urn dos aspectos da problernatica ciaacao das manifestacoes culturais no

Maranhao. A outros que ficaram de fora e que tambem merecern ser discutidos.

Espero que tenbamos oportunidade de faze- lo em outra oportunidade,

o INVENTARIO NACIONAL DE REFERENCIAS

CULTURAIS: A EXPERIENCIA COM 0 BUMBA-

MEU-BOI DO MARANHAo

Luciana Concalves de Carvalho"

o INRC NO MARANHAo

REFERENCIAS

Este trabalbo e fruto do Pro jeto C ele bra co es e S ab ete s d a C uliu ra Po pu la r,

iniciado em 2001 pelo C en tr o N ac io na l d e F ol cl ote e C ul iu ra P op ul ar I FU -

NARTE, com 0 apoio e recursos da Secretaria de Pa trimonio, Museus e Artes

Plast icas do Ministerio da Cultura. 0 proj eto esta integrado ao P to g ram a N a c i-

ona l d e P a ir im im io lmaietial, que tern por objet ivo regularnentar , aplicar e aper-

feicoar 0 Decre to Presidenc ia l 3551 (04/08/2000), que institui 0 t eg is tr o d e

bens culiurais de natureza imatetial, como Celebracoes, Sabcrcs, Forrnas de

Expressao, Oficios e Lugares , ern Livros especif icos do lnsiituio do Patrunonio

Hist6rico e Artistico Nacional-IPHAN. 0 programs preve tarnbern acoes de

identif icacao e docurnentacao desses bens culturais, corn base nurna mctoclo-

logia que tern como ins trumento 0lnvenidr io Nacional de Re fe renc ias Cultu-

rais, 0INRC. Este secornpoe de urn con junto de f ichas formuladas especif ica-

mente para 0 regis tro de inforrnacoes sobrc divers osaspectos relacionados aos

b e n s c u lt ur a is em processo de inventario.

Antes de prosseguir, cabe uma breve observacao sobre a utilizacao da

nocao de ben t para referir LIll universo ample e heterogeneo de manifestacoes,

praticas, expressoes e representacoes de distintas naturezas: no INRC a nocao

e aplicada a "produtos his toricos dinarnicos e mutaveis" de natureza nao-mate-

ri al , mas "sobre as quai s se pode conversar ... pr escnc iar, que se sabe 0 quanto

dura, que se sabe como por em ac;Jo, e tc. ", mais do que a "configuracoes [ixas e

cristalizadas" (2000, p,9).

o objetivo principal do documento c consti tuir urn instrumento e l1I11

roteiro de pesquisa que permi ts parti r das "unidades concre tas de cornporta -mento organizado" , expressas em "dimensoes concretamente apreens tveis da

cultura" para, enf im, alcancar os "scntidos enraizados nas praticas humanas",

assim como "os valores e as significacoes ... quc adcmais de intangiveis ou

imateriais muitas vezes nao chegam a ser expl ic itados ou nem rncsmo aflo ram

a consciencia dos atores socia is" (p.S) .0INRC pretende, ainda, fornecer lUTI

padrao de armazenarnen to e t ratamento das informacoes refe rentes aos bens

inventariados nurn grande banco de dados sobre a cultura irnater ial brasi leira,

BOURDIEU, Pierre. 0 Pode r S imb6 li co . Lisboa: DIFEL, 1989.____ .A e co no mic d as trocas l inguis t icas: 0 que falar quer dizer , Silo Paulo:

EDUSP, 1996,

CANCLINI, Nestor Garcia. Cultures hibiidas: estra teg ias para en trar e sa ir da

modern idade. 2n ed. Sao Paulo: EDUSP, 1998.

DURKHEIM. "Representacoes individuais e representacoes coletivas", in: Soc!

alogia e Filosofia. Rio de Janeiro: Forense Universi taria, 1970, p 15-49.

DURKHEIlv'l, Emile. I'vIAUSS,Marcel, ' 'Algumas forrnar prirnitivas de classifica

cao - contribuicao ao estudo das representacoes coletivas", in: I\,fAUSS, Marcel.

E n sa io » d e soc iologia. Sao Paulo: Ed, Perspectiva, 1981.

ELIAS, Norbert . A soc iedade dos i nd iv i duos . Rio de Janeiro: Zahar Editores,1994.

FOUCAULT: Michel . As b al av ra s e a s c ois as : uma arqueo logia das ciencinshumanas. Sao Paulo: Mart ins Fontes, 2002.

____ . Microfisica do pode: 6i~ed. Rio de Janeiro: Edicoes Graal, 2001,

HOBSBAWN, Eric. Introducao: A Invencao das Tradicoes, in: HOBSBAWN,

Eric, RANGER, T. A inven9ao das t iad i coes . Sao Paulo: Paz e elena, 1997.

SACRAMENTO, [oao Domingos Pereira do. Chronica Interna. In: SEMANARl()

MARANHENSE . ANNO I,N45. San'Luiz, 5de julho de 1868. p.7-8. (Disponivel

no acervo ciaBiblioteca Publica Eenedito Leite de Sao Luis - MA - BPBLIMA)

SOUSA, Arinaldo Martins de. " Da nd o n am es a os b ois ": 0burnba-rneu-boi rnar.i

nhense como artefato politico. (monografia - versao preliminar). Sao Luis, 2002.

Fesquisadora n o CNI'CP edoutoranda em Animpologi:1 pelo fFCS/UFRJ. .vtuou no pn iir+o deInvcnt.uio doCom-

plexo Cultural do Burnba-meu- !lui do i\LmlrlhJojuntocuIII CUSG,,·oPachem. doutonmdo rrn Antropologia polo i\lN/

UFIZJ.Aprescntado no C l l l : ,"'ow,, 'Po/dierls de Be m lmatrri(Ji, · . coorderudo pOTEliomar 1\ [; l/oL\·O -CESr.