Oficina de Produção de Texto Poético-literária

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Como escrever textos inspiradores.

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Oficina de produo de texto potico-literria

Oficina de produo de texto potico-literria

E Deus disse: Que haja luz. Ento houve luz.Gnesis 1:3. Prof. Me. Luciana UhrenO que texto?Vem do latim texere (construir, tecer), cujo particpio passado textus tambm era usado como substantivo, e significava 'maneira de tecer', ou 'coisa tecida', e ainda mais tarde, 'estrutura'. Foi s l pelo sculo XIV que a evoluo semntica da palavra atingiu o sentido de "tecelagem ou estruturao de palavras", ou 'composio literria', e passou a ser usado em ingls, proveniente do francs antigo texte.Um texto um todo organizado de sentido, ou seja, um conjunto formado de partes solidrias cujo sentido de uma depende das outras.Caractersticas do texto:Ele tem coerncia de sentido. Isso quer dizer que no um amontoado de frases porque as frases no esto pura e simplesmente dispostas umas aps as outras, mas esto relacionadas entre si. O sentido de uma depende do sentido das demais com que se relaciona; delimitado por dois brancos. Se o texto um todo organizado de sentido, ele pode ser verbal (um conto, por exemplo), visual (um quadro), verbal e visual (um filme) etc. Mas, em todos esses casos, ser delimitado por dois espaos de no sentido, dois brancos, um antes de comear o texto e outro depois;O texto produzido por um sujeito num dado tempo e num determinado espao. Esse sujeito, por pertencer a um grupo social num tempo e num espao, expe em seus textos as ideias, os anseios, as expectativas de seu tempo e de seu grupo social. Todo texto tem um carter histrico, porque revela os ideais e as concepes de um grupo social numa determinada poca.

H vozes presentes no texto:Todo texto produto de uma criao coletiva: a voz do seu produtor se manifesta ao lado de um coro de outras vozes que j trataram do mesmo tema;Os textos so atravessados, ocupados, habitados pelo discurso do outro. Um texto remete a duas concepes diferentes: aquela que ele defende e aquela em oposio qual ele se constri. Sob as palavras de um discurso, h outras palavras, outro discurso, outro ponto de vista social; Quando lemos um texto a favor da abolio da escravatura, percebemos que ele s pode ter surgido numa formao social em que h discursos a favor da escravatura; um discurso antirracista s pode constituir-se numa sociedade em que existe um discurso racista. Esses pontos de vista so sociais e, como uma sociedade sempre dividida em grupos sociais com interesses divergentes, no h uma perspectiva nica sobre uma dada questo.Oralidade: Primria e imediata no comporta nenhum contato com a escritura. Ela se encontra apenas nas sociedades desprovidas de todo sistema de simbolizao grfica, ou nos grupos sociais isolados e analfabetos; Segunda quando se recompe com base na escritura num meio onde esta tende a esgotar os valores da voz no uso e no imaginrio. proveniente de uma-cultura letrada (na qual toda expresso marcada mais ou menos pela presena da escrita); Mista quando a influncia do escrito permanece externa, parcial e atrasada. Procede da existncia de uma cultura escrita (no sentido de possuidora de uma escritura).Tradio oral: Contos de origem (da vida, do dia e da noite, de alimentos): Aedos na Grcia Antiga; Trovadores, jograis e menestris medievais; Cantigas populares; Repentistas e cordelistas.

Ai flores, ai flores do verde pino,se sabedes novas do meu amigo?Ai Deus, e u ?Ai flores, ai flores do verde ramo,se sabedes novas do meu amado?Ai Deus, e u ?Se sabedes novas do meu amigo,aquel que mentiu do que ps conmigo?Ai Deus, e u ?Se sabedes novas do meu amado,aquel que mentiu do que mi h jurado?Ai Deus, e u ?- Vs me preguntades polo voss'amigoe eu bem vos digo que san'e vivo.Ai Deus, e u ?- Vs me preguntades polo voss'amadoe eu bem vos digo que viv'e sano.Ai Deus, e u ?- E eu bem vos digo que san'e vivoe ser vosco ant'o prazo sado.Ai Deus, e u ?- E eu bem vos digo que viv'e sanoe ser vosc[o] ant'o prazo passado.Ai Deus, e u ?D. DinisPerformance:Quando a comunicao e a recepo (assim como, de maneira excepcional, a produo) coincidem no tempo, temos uma situao de performance.Quando um poeta ou seu intrprete canta ou recita (seja o texto improvisado, seja memorizado), sua voz, por si s, lhe confere autoridade. O prestgio da tradio, certamente, contribui para valoriz-lo; mas o que o integra nessa tradio a ao da voz; Se o poeta ou intrprete, ao contrrio, l num livro o que os ouvintes escutam, a autoridade provm do livro como tal, objeto visualmente percebido no centro do espetculo performtico; No canto ou na recitao, mesmo se o texto declamado foi composto por escrito, a escritura permanece escondida.A cada momento de vocalizao dessa obra acontece uma atualizao, pois a percepo do contador e do ouvinte muda a cada contato com a obra. Assim, o texto oral nunca se encontra saturado, pois regido pela circunstancialidade o espao e o tempo em que acontece a performance;A performance da obra exerce no ouvinte e no contador uma ao de reminiscncia corporal profunda. O corpo mobilizado pela memria e h a ligao entre essas duas existncias emissor e ouvinte. A voz no descreve, ela age, deixando para o gesto a responsabilidade de designar as circunstancias.

Escritura e oralidade:Trs elementos constitutivos de toda Literatura:1. Um grupo de produtores de texto, fabricando objetos que se poderia qualificar poticos ou literrios;2. Conjunto de textos que sejam socialmente considerados como tendo um valor em si prprios;3. A participao de um pblico recebendo esses textos como tal.

Em cada um desses pontos articula-se um elemento ritual: textos identificados como tal, produtores assim identificados, pblico iniciado.Recepo (catarse): Wolfgang Iser: a maneira pela qual lido o texto literrio que lhe confere seu estatuto esttico, a leitura se define, ao mesmo tempo, como absoro e criao, processos de trocas dinmicas que constituem a obra na conscincia do leitor; Toda leitura gera um prazer, pois evoca um conjunto de percepes sensoriais que so produzidas em circunstncia de performance ou leitura; Catarse: comunicar, num texto literrio, no consiste somente em fazer passar uma informao; tentar mudar aquele a quem se dirige; receber uma comunicao necessariamente sofrer uma transformao; Para Aristteles, a catarse (do grego , ktharsis, purificao, derivado de purificar) refere-se purificao das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um drama. Contos da meia noite: Um aplogo brasileiro sem vu de alegoria de Alcntara Machado com Matheus NachtergaeleE os contadores de histrias?O contador de histrias um todo orgnico que se expressa pela voz, pelo corpo e pelas expresses faciais, como resultado de um estmulo que tem sua raiz no texto contado, mas previamente elaborado em termos de imagens, ritmo, movimentos, memria, emoo, silncios e treinamentos. Sem deixar de levar em conta os acontecimentos fortuitos do ato de contar, a performance do contador em uma histria deve ser resultado da sua leitura em profundidade, seu estudo e preparao para trazer a pblico da forma mais expressiva possvel e mais plurissignificativa.( SISTO, 2012, p. 65)Estratgias de seduo:1. Fase da escolha: Escolher uma histria adequada ao pblico-alvo, relacionada com o que eles esto vivendo ou gostariam de viver; Escolher uma histria que seja bem construda e que apresente caractersticas que a tornem um texto literrio; Escolher histrias com conflitos bem delineados e solues que proporcionem a identificao, uma outra maneira de resolver a questo, a abertura para um questionamento, uma reflexo ou um debate, ainda que interno. Para escolher bem o texto:Paixo;Conflitos intrigantes;Personagens bem delineados;Estrutura narrativa bem armada;Linguagem bem construda;Durao entre cinco e dez minutos;Apresentar possibilidades de interpretao nas entrelinhas (no ser muito mastigado);Possibilitar a passagem da modalidade escrita para a oral;No ser bvio, nem didtico, nem moralista, nem doutrinrio, nem preconceituoso;Ser capaz de cativar o ouvinte e suscitar o desejo de novas histrias;Ser capaz de suscitar o prazer.2. Fase da preparao: Gostar muito do texto que voc vai contar; Ler muitas vexes o texto, at ter tomado conscincia de seus detalhes essenciais e das suas mltiplas possibilidades de leitura; Ficar atento ao estilo do autor do texto para no transformar o texto do autor num texto qualquer, com um vocabulrio cotidiano que, na maior parte das vezes, empobrece o trabalho da linguagem literria; Reconhecer as parte que formam o texto (introduo, desenvolvimento, clmax e desfecho) para saber dar a cada uma delas o ritmo, o clima, as pausas necessrias para uma maior fruio do texto e para no correr o rico de fazer uma narrao com ritmo nico do comeo ao fim; Usar uma movimentao corporal e gestual que possa contribuir para enriquecer o sentido do que est sendo contado; Explorar as possibilidades vocais para tornar a narrao mais atraente; No enchera narrao com perguntas no meio para no correr o risco de a histria virar aula.3. Fase da contao: Preparar o local para torna-lo acolhedor e gerar uma proximidade entre quem conta, quem ouve e o que se conta; No explicar a histria antes mesmo de t-la contado. Uma histria no precisa ser explicada, pois ela deve falar por si mesma; No se sinta obrigado a facilitar a linguagem com medo de que os ouvintes no a entendam. No extremamente importante entender palavra por palavra do que o texto diz. O que vale mais o sentido geral. Para contar melhor:Emoo;Texto;Adequao;Corpo;Voz;Olhar;Espontaneidade e naturalidade;

Ritmo;Clima;Memria;Credibilidade;Pausas e silncio;O elemento esttico.Recomendvel No-recomendvelOlhar para a plateiaFingir que olha, olhar para o cho, para o teto, por cima das cabeasDistribuir o olhar igualmente por toda a audinciaFixar-se num lado ou numa pessoaLinguagem de acordo com a plateiaInfantilizar a linguagem, exagerar nos diminutivosLinguagem fluidaVcios de linguagem: a, n, ento...No denunciar o erro, troca de palavra ou esquecimento de algoExpressar o erro pedindo desculpas, fazendo comentrios acerca do erroVisualizar a histria enquanto narra, criar roteiro visual e verbalCuspir o texto, falar mecanicamente, no sentir o poder e a fora das palavrasUsar gestos expressivos que acrescentam algo ao entendimento da histriaUsar gestos apenas para ilustrar o que a palavra j dizMovimentar-se s quando a histria exigir Andar sem parar, de um lado para o outro, em crculos...No explicar a histriaTransformar a histria e aula com desenvolvimento didtico e necessidade de explicao de cada coisa narradaRecomendvel No-recomendvel Preparar a histria antes: ensaiar sempreContar s baseando-se no improvisoNo prender qualquer parte do corpo enquanto est contandoContar sentado, imobilizando metade do corpo ou apoiar-se em muletas como caneta na mo ou algo para ficar mexendoEvitar movimentos repetitivosCabelo solto, franja no rosto, cordes e roupas chamativas toda e qualquer coisa que desvie a ateno da histria e chame a ateno sobre o contadorQue o tom de contar seja diferente do tom de bate-papoNarrar como se estivesse declamando de forma empolada e exageradaProjetar a voz em direo ao espaoContar toda a histria no mesmo tomUsar diversos ritmos no decorrer da narraoUsar o mesmo ritmo do incio ao fimAcreditar na histria que est sendo contadaFingir que acredita na histriaUsar pausas durante a histria, explorar o silncio, o movimento sem palavrasFalar ininterruptamenteDar apresentao um tratamento de espetculo

Ignorar que toda e qualquer apresentao pblica de histria envolve uma preparao esttica(SISTO, 2012, p. 85-86)4. O depois: No cobrar da plateia (ou alunos) a repetio de dados da narrativa; Mostrar o livro depois da contao sempre bom, porque contar uma histria uma maneira de encantar o aluno para faz-lo chegar ao livro; Fazer relaes do que se contou com outros textos que abordam a mesma temtica; Trabalhar com a variedade, buscar, sempre que possvel, outras linguagens, como, por exemplo, a msica, o videoclipe, o filme etc.; Trocar a cobrana formal (na escola) por exerccios do tipo texto vira outra forma de arte, em que os alunos possam apresentar suas leituras e releituras com outros tipos de manifestaes artsticas.

Referncias:LACOMBE, Ana Lusa de Mattos Masset (org.). Teias de experincias: reflexes sobre a formao de contadores de histrias. So Paulo: CSMB, 2013. SAVIOLI, Francisco Plato; FIORIN, Jos Luiz. Lies de texto: leitura e redao. So Paulo: tica, 2011.SISTO, Celso. Textos e paratextos: sobre a arte de contar histrias. Belo Horizonte: Aletria, 2012.ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz: a literatura medieval. Trad. Amlio Pinheiro, Jerusa Pires Ferreira. So Paulo: Cia das Letras, 1993.____. Performance, recepo, leitura. Trad. Jerusa Pires Ferreira, Suely Fenerich. So Paulo: Cosac Naify, 2007.