11
Revista de Políticas Públicas ISSN: 0104-8740 [email protected] Universidade Federal do Maranhão Brasil Myszczuk, Ana Paula; Bueno Wandscheer, Clarissa; Rocha dos Santos, Roseli ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS E REPARAÇAO DE DANOS AO MEIO AMBIENTE: breves considerações sobre a legislação aplicável. Revista de Políticas Públicas, vol. 15, núm. 1, enero-junio, 2011, pp. 43-52 Universidade Federal do Maranhão São Luís, Maranhão, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=321129112005 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS E REPARAÇAO DE DANOS AO MEIO · Em seguida, discute a responsabilidade do Estado em caso de danos ao meio ambiente causados por OGM que foram

Embed Size (px)

Citation preview

Revista de Políticas Públicas

ISSN: 0104-8740

[email protected]

Universidade Federal do Maranhão

Brasil

Myszczuk, Ana Paula; Bueno Wandscheer, Clarissa; Rocha dos Santos, Roseli

ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS E REPARAÇAO DE DANOS AO MEIO

AMBIENTE: breves considerações sobre a legislação aplicável.

Revista de Políticas Públicas, vol. 15, núm. 1, enero-junio, 2011, pp. 43-52

Universidade Federal do Maranhão

São Luís, Maranhão, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=321129112005

Como citar este artigo

Número completo

Mais artigos

Home da revista no Redalyc

Sistema de Informação Científica

Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS E REPARA<;:AO DE DANOS AOMEIO AMBIENTE: breves consideracóes sobre a leqislacáo aplicável.

Ana Paula MyszczukFaculdade Metropolitana de Curitiba (FAMEC)

Clarissa Bueno WandscheerFaculdade Metropolitana de Curitiba (FAMEC)

Roseli Rocha dos SantosFaculdade Metropolitana de Curitiba (FAMEC)

ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS E REPARACAO DE DANOS AO MEIO AMBIENTE: brevesconsíderacóes sobre a leqislacác aplicávetResumo: O presente artigo discute a questáo dos Organismos Geneticamente modificados (OGM), 50b o aspecto jurídicoe as possibilidades de responsabilizacáo em razáo de eventuais danos causados ao meio ambiente por estes. Para tantoanalisa os requisitos gerais para a responsabilizacáo civil. Em seguida, discute a responsabilidade do Estado em caso dedanos ao meio ambiente causados por OGM que foram liberados pelos órgáos ambientais ou para os quais foi concedidoIicenciamento ambiental. Posteriormente, destaca a problemática da quantificac;áo do dano e de seu valor reparatório;além de realizar uma relacáo entre dano ambiental e dano patrimonial. Por fim, aponta as dificuldades em se identificar ocausador do dano ao meio ambiente e efetivar sua responsabilizacáo. Em conclusáo destaca a falta de parámetros clarosexistentes na leqislacác sobre o tema da reparacác de danos ao meto ambiente.Palavras-chave: OGM, meto ambiente, dano ambiental.

GENETICALLY MODIFIED ORGANISMS AND THEIR DEMAGE REPAlR TO THE ENVIRONMENT: brief cbservaticnson the lawAbstract: This article discusses the issue of Genetically Modified Organisms (GMOs) considering the legal aspects thatsurrcunds this matter. It also explores the pctential liability due to the damage caused to the environment because ofgenetically modified organisms. Towards the objective we analyzed the general requirements for civil Iiability. The articlealso discusses the State's liability for damage to the environment caused by GMOs that were released by environmentalagencies or for which they were granted with an environmental license. Afterwards the article highlights the problemof quantifying the damage and the reparative value that these issues might involve; it also accomplishes to highligth arelationship between environmental damage and damage to property. Finally, it indicates the difficulties in identifying thecause of damage to the environment and enforces accountability. The article's final conclusion underscores the lack ofclear benchmarks in the legislation on the issue of compensation environmental demage.Keywords: GMO, environment, environmental damage.

Recebido em:06.10.2010. Aprovado em: 09.04.2011.

R. PoI. ea». Sao Luís, v 15, n.t, p. 43-52, jan./jun. 2011

43

44 Ana Paula Myszczuk, Clarissa BuenoWandscheere Roseli Rocha dos Santos

1 INTRODUCAo

A discussáo proposta neste trabalho foioriginada no Grupo de Pesquisa QUIS (Grupo dePesquisa em Qualidade, lnovacao e Sustentabilidadeda UNIBRASIL, no projeto CO-Extra - Gm and non­Gm supply chaíns.Their co-existence and traceability- patrocinado pelo Parlamento Europeu e com aparticipacáo de dezesseis centros de pesquisa daEuropa, um da Argentina e um do Brasil. Comoresultado de parte das discussóes, apresenta­se o presente trabalho. Importante destacar queo resultado oficial da pesquisa foi composto naforma de questionário, para o Centro Europeu deResponsabilidade Civil e Seguros e aqui se apresentana forma de artigo, com as adaptacóes necessárias.Destaca-se que muitas das questóes apresentadaspara o debate ainda nao possuem precedentes noBrasil, de modo que foram utilizadas como pontode partida a leqlslacáo atual e o posicionamentojurisprudencial sobre a questáo ambiental em geral.

1.1 Aspectos gerais da responsabilidade

Um ponto que chama a atsncao no que serefere á contarninacáo ou ao dano causado pororganismo geneticamente modificado (OGM) é aauséncia de lei específica sobre o tema. Ou seja,o aplicador do Direito, em caso de dano, terá queprocurar respostas na leqlslacáo ambiental geraLNote-se que a Lei de Biosseguranya (11.105/2005)nao prevé formas de recornposicáo ambiental emcaso de dano ao meio ambiente e nem a MedidaProvisória 131/2003,que autorizou a liberacao da sojatransgénica. Portanto, neste caso, para identificara responsabilidade de recornposicáo ambiental épreciso analisar um conjunto de dispositivos legaisde protecáo do meio ambiente.

Asslm, inicia-se pela Constituicáo FederalBrasileira de 1988que, em seu artigo 225, estabelecea possibilidade de uma tri piice responsabilidade(administrativa, civil e penal) em matéria de danoao meio ambiente. Ainda, o § 3° do mesmo artigodispóe que as "condutas e atividades consideradaslesivas ao meio ambiente suieitaráo os infratores,pessoas físicas ou jurídicas, a sancóes penáis eadministrativas, independentemente da obriqacáode reparar os danos". Portanto, o

sistema de responsabilizacáo ambientalé múltiplo e deve serarticulado conjuntae sistematicamente. Lembre-se,assim, que o descumprimento de umaobriqacáo ou de um dever, ainda queredundante deumfatoouatoúnico poderesultar em varías espécies, na formade cumulacác de responsabilidades, emvirtude das diversas sancóes previstasno ordenamento jurídico (LEITE, 2003.p. 114).

R. PoI. Públ. SaoLuis, V.15, n.t, p. 43-52, jan.ljun. 2011

Depreende-se, também, doartigoconstitucionalsupracitado, que qualquer pessoa física ou jurídicapode ser responsabilizada por danos causados aomeio ambiente.

Corroborando com o entendimentoconstitucional a Lei 6.938/1981, que instituiu aPolítica Nacional de Meio Ambiente, estabelece aresponsabilidade civil em matéria ambiental comoobjetiva, ou seja, a culpa do agente é presumidae é necessária apenas a demonstracáo de nexocausal para a identificacáo do responsável. Nestecontexto, o § 10 do artigo 14 estabelece que "semobstar a aplicacáo das penalidades previstas nesteartigo, é o poluidor obrigado, independentemente deexistencia de culpa, a indenizar ou reparar os danoscausados ao meio ambiente e a terceiros, afetadospor sua atividade". O Ministério Público da Uniáo edos Estados teráo legitimidade para propor acáo deresponsabilidade civil e criminal por danos causadosao meio ambiente.

E no mesmo sentido está o artigo 20 da Leide Biosseguranya (Lei 11.105/2005) que dispóeque "sem prejuízo da aplicacáo das penas previstasnesta Lei, os responsáveis pelos danos ao meioambiente e a terceiros responderáo, solidariamente,por sua indenizacáo ou reparacáo integral,independentemente da existéncia de culpa." Emmatéria administrativa haverá a possibilidade deresponsabilizacáo sempre que o agente, pessoafísica ou jurídica, atuar em desconformidadecom a autorízacao concedida pelo Poder Público(neste caso a Corníssáo Técnica Nacional deBiosseguranya - CTNBio) responsável pela anuénciano desenvolvimento de atividades potencialmentepoluidoras relacionadas á OGM. Por seu turno,a responsabilidade civil no Brasil está dispostano Código Civil em seus artigos 43 e 927, queseguern:

Art. 43. As pessoas jurídicas dedireito público interno sao civilmentereeponeáveís porates dosseusagentesque nessa qualidade causem danos aterceiros, respaldado direito regressivocontra os causadores do cano, sehouver, porparte destes, culpa ou dolo.Art. 927. Aquele que, por ato ilícito,causar dano a outrem, fica obrigado arapará-le.Parágrafo único. Haverá obríqacáo dereparar o cano, Indepenoentemente deculpa, nos casos especificados em lei,ou quando a atividade normalmentedesenvolvida pelo autor do danoimplicar,por sua natureza, risco para os direitosde outrem."(grifo nosso)

Da análise dos artigos supracitados pode-seobservar que a responsabilidade civil em matériaambiental nao exige a ocorréncia de ato ilícito, cornona responsabilidade civil clássica. Ao contrário, a

ORGANISMOS GENETlCAMENTE MODIFICADOS E REPARAr;AO DE DANOS AO MEIO AMBIENTE: brevesconsideraq6es sobrea legislaqao aplicável.

45

atividade lesiva pode até ser estar autorizada peloPoder Público, ou seja, o agente - pessoa físicaou jurídica - pode estar de posse da autorízacaopara liberacáo no meio ambiente de OGM noentanto, em ocorrendo danos este nao se eximeda responsabilidade, qual seja de recomposicáo doambiente ao status quo ante. Vide, também, a Lei6.938/81.

Outra diferenya que se deve notar é que naresponsabilidade civil clássica o dano advém deuma relacáo entre particulares; enquanto que naresponsabilidade civil ambiental o dano se dá naesfera dos direitos difusos e coletivos, como é ocaso do direito ao meio ambiente ecologicamenteequilibrado previsto no caput do artigo 225 daConstituicáo Federal. Nas palavras de Leite (2003,p.113), "A finalidade concreta desta responsabilidadegenérica (civil clássica) é punir e fazer com queo causador repare o dano, bem como evitar quenovos danos venham a acorrer'. Por sua vez, aresponsabilidade civil em matéria ambiental adota ateoria do risco, que traz a "ideia de responsabilidadecivil como decorréncia da atividade do própriocausador do dano. [E desse modo] Estabelecemao agente o dever de indenizar pelo exercício decerto empreendimento, ou de certa conduta por eledesenvolvida" (VIANNA, 2006, p.101). Ou ainda,"0 exercício desta atividade de risco pressupóe abusca de um determinado proveito, em geral denatureza econ6mica, que surge como decorrénciada própria atividade potencialmente danosa [risco­proveito]" (GAGLlANO, 2003). Destaca-se, ainda,que a responsabilidade civil objetiva exige umarelacáo de causalidade, ou seja, "diante da atividadedesenvolvida pelo sujeito potencial agressor domeio ambiente, impóe-se-Ihe o dever de indenizareventuais danos nesse ámbito como forma deatender aos interesses sociais em desate". (VIANNA,2006, P 107)

É de se mencionar que parte da doutrinaentende que a responsabilidade civil em matériaambiental estaría excluída nas situacóes de casofortuito, torca maior e fato de terceiro', em virludeda interpretacáo do arligo 37, §6' da ConstituicáoFederal Brasileira de 1988, que entende ser aresponsabilidade civil do Poder Público maisrestrita do que a prevista no artigo 14 da Lei daPolítica Nacional do Meio Ambiente. Conformeposicionamento de Toshio Mukai (2009, p.s):

asemelhanc;a do que acorre no ámbitoda responsabilidade objetiva do Estado,é que, no Direito positivo pátrio, aresponsabilidade objetiva por danosambientais é o da modaíldade do riscocriado (admitindo as excludentes daculpa da vítima ou terceiros, da torcamalor de do caso fortuito) e nao a dorisco integral (que inadmite excludentes),nos exatos e expressos termos do §l' do art. 14 da Lei n." 6.938/81, que,

como vimos, somente empenha aresponsabilidade de alguém por danosambientais, se ficar comprovada a acáoefetiva (atividade) desse alguém, dlretaou indiretamente na causacáo dodano.

E para Barros (2009):

quando a deqradacáo se dá por atoclandestino do degradador nao existea responsabilidade da Adrmmstracáo.No caso de acidente ecológicoa Adrmrustracáo só deverá serresponsabilizada seocorrer culpa grave.Nocaso de torca malor a Adrmntstracaonao deve responder, mas nahipótese decaso fortuito, este se coloca como riscodoservlco.

No entanto, nem sernpre os fenómenosda natureza poderáo ser alegados para eximir oagente - pessoa física ou jurídica - da obriqacáo dereparacáo de danos ao meio ambiente. Em rnuitoscasos, esses fenómenos sao de fácil previsáo epossuem mecanismos de prevencáodisponíveis nomercado. Por exernplo, sistemas de protecáo contradescargas atmosféricas, lagoas de contencáo deresiduos antes da ernissáo em leitos de ríos etcPorlanto, para Vianna (2006, p.109), "nao bast~ po;si só que se trate de fato da natureza para se excluiro dever indenizatório. Em relacáo a esses fatos, naidentificacáo do nexo causal, deve-se avaliar se oevento da natureza em concurso com a atividadedesenvolvida pelo homem foi a causa do dano",Por exemplo: "0 raio que atinge o paiol é causa daexplosáo e dos danos consequentes. A existenciado paiol foi a condicáo do evento. Se o galpaoestivesse vazio, nao haveria explosáo, nem danos."(PASQUALOnO, 1993, p444-470) Nesse sentidofoi a decisáo do Tribunal de Justica do Paraná (TJPR- EDclCív 0450460-9101 - 9' C.Cív. - Rel. Desemb.Edvino Bochnia - DJ 30.01.2009) que se manifestouno sentido de nao afastar a responsabilidade nahipótese de torca rnaior.

Os danos advindos de atuacáo de terceirostambém nao excluem, em qualquer hipótese,a responsabilidade de recuperacáo dos danoscausados ao meio ambiente. Uma vez que algunssao perfeitamente evitáveis e, porlanto, os custoscom a implernentacáo de mecanismos preventivosdevem ser internalizados pelos agentes. Nessescasos pode-se identificar o caso fortuito externo e ointerno. O primeiro vem a ser aquele episódio que serelaciona com os riscos da atividade desenvolvida. Osegundo, por sua vez, nao guarda qualquer conexaocom tal atividade. Este é, pois, fato estranho, que,por si só, deflagra o evento danoso, sem qualquercontribuicáo, direta ou indireta, próxima ou remota,do titu lar da atividade. So mente nesta úItima hipótesenao haverá qualquer resquício de nexo causal,hábil a afastar o dever de indenizar.(VIANNA, 2006,p.110).

R. PoI. Públ. Sao Luís, v 15, n.1, p. 43-52, jan./jun. 2011

46 Ana Paula Myszczuk, Clarissa Bueno Wandscheere Roseli Rocha dos Santos

Do exposto, conclui-se que a maior parte dadoutrina adota a teoria do risco integral em matériaambiental, porque ofundamento da responsabilidadecivil é o risco da atividade e nao a culpa. O quenao acorre na responsabilidade civil clássica. Masnao se pode deixar de destacar que outros autorespreferem a teoria do risco criado e reparacáointegrale entendem:

de direito público e as de direito privadoprestadoras de servíccs públicosreeponderác pelos danos causadosque seus agentes, nessa qualidade,causarem a terceiros, assegurado odireito de regresso contra o responsávelnos casos de dolo ou culpa. (grifonosso).

Por risco criado, os produzidos poratividades e bens dos agentes quemultiplicam, aumentam ou potencializamum dano ambiental. O risco criado temlugar quando uma pessoa faz uso demecanismos, instrumentos ou de merosque aumentam o perigo de dano. Nestashipóteses, as pessoas que causaramdano respondem pela lesáo praticada,devido a crtacác de risco ou perigo,e nao pela culpa.A reperacác integralsignifica que o dano ambiental deve serrecomposto na sua integridade, e naolimitadamente, trazendo uma protecaomais efetiva ao bem ambiental. (LEITE,2003. p.129).

Podem-se identificar várias outras normasno ordenamento jurídico brasileiro que tambémestabelecem a responsabilidade objetiva. Dentreelas: lei 7.092/1983, sobre danos decorrentes detransporte rodoviário de produtos perigosos; lei7.542/1986, sobre a responsabilidade de danos ásequranca de naveqacóes, a terceiros e ao meioambiente; lei 7.661/1988, sobre danos aos recursosnaturais e culturais da zona costeira; lei 7.802/1989,por danos á saúde das pessoas e do meioambiente, decorrentes de atividades relacionadascom agrotóxicos e afins; lei 7.805/1989, sobredanos causados ao meio ambiente, decorrentesde atividades mineradoras; lei 8.171/1991, sobredanos causados ao meio ambiente, decorrentes deatividades agrícolas; lei 8.974/1995, sobre atividadesdecorrentes da biogenética; e, lei 10.308/2001, sobrerejeitos radioativos.

2 RESPONSABILIDADE DO ESTADO

Tampouco há legisla,ao específica sobre aresponsabilidade do Estado nos casos de danos aomeio ambiente ou á populacáo causados por OGM.Por isso, há que se analisar a regra geral. Nasrelacoes em que o Estado' é parte nao se aplica aresponsabilidade civil clássica, pois a ConstituicáoBrasileira estabelece em seu artigo 37 que:

AAdministrayáo pública dlreta e indiretae qualquer dos Poderes da Uniáo,dos Estados, do Distrito Federal e dosMunicipios obedecerá aos principios dalegalidade, impessoalidade, moralidade,publicidade e eficiencia e, também, aoseguinte: [...] §Go As pessoas jurídicas

R. PoI. PÚbl. Sao Luis, v.15, n.t, p. 43-52, jan.ljun. 2011

1550 quer dizer que a responsabilidade estatalé objetiva, aqui incluído a Uniáo, os Estados, osMunicípios e do Distrito Federal, sobre os atasde seus agentes que, no exercício da tuncaopública, acarretar danos a terceiros. De modo quequalquer uma das entidades federadas poderáser responsabilizada, também, por danos ao meioambiente decorrente de atividades omissivas ecomissivas (fiscalizar ou nao, e conceder licencasambientais ou nao).

Além dlsso, pode-se ainda, fundamentar aresponsabilidade do Estado com base no artigo 3°,IV da lei 6.938/1981, da Política Nacional de MeioAmbiente, que estabelece: "Art. 3' - Para os finsprevistos nesta Lei,entende-se por: "[...] IV- poluidor,a pessoa física ou jurídica, de direito público ouprivado, responsável, direta ou indiretamente, poratividade causadora de deqradacáo ambiental."(grifonosso). Dessa forma, tem-se que "todo aquele que,por razóes múltiplas, se encontrar envolvido com aconduta causadora do dano ambiental será abrigado,por torca da regra de solidariedade, a responder pelaindenizacáo." (VIANNA, 2006. p.111). No mesmosentido Machado (2008, p.1 050-1 051), pois

há solidariedade, quando na mesmacbríqacác concorre mals de um credor,ou mals de um devedor, como um comolretto, ou obrigado, a dívida toda. [...].O art. 20 da le! 11.105/2005, ao colocarno plural o termo 'responsáveis', indicaa possibilidade de se procurar mals deum responsável. Pode ocorrer urna co­partlclpacác seriada na manlpulacácgenética, sendo que a solidariedade aninguém excluí, nem os responsáveis- empresas ou instituic;óes privadas oupúblicas - como os servidores públicosque integram a cadeia decisória ­CTNBio, CNBS [Conselho Nacional deBiosseguranc;a] e Ministérios e órgáospúblicos.

Ve-se assim que as entidades federadasestáo incluídas entre as pessoas que podem serresponsabilizadas. O mesmo entendimento estámanifestado em várias decisóes do Superior Tribunalde Justica, que reconheceu a responsabilidadeestatal em face da obriqacáo da fiscalizar apreservacáo do meio ambiente. Um exemplo é oRecurso Especial - 604725/PR, Segunda turma.DJU: 22/0812005. p. 202, que teve como relator oMinistro Castro Meira. Outro é a decisáo do Recurso

47

o Estado, com fincas no Principio doPoder-Dever, é responsável quandodelxa de cumprir urna disposicáo legalou se omite nas suas atrtbuicóes, emoecorrénca de seu Poder de Policia,como, por exernpto, um acidente emdecorréncia de animal abandonado napista. Em materia ambiental é grandea impcrtáncia da responsabilidade porornissáo, poisquem tem o deverde evitaro oano, por urna acáo de vigiláncia oude tiscalizacáo, por exemplo, e se omitefica responsável civilmente. Náo bastao Estado náo fazer o que náo deve, eleé obrigado também a fazer o que deve.(SÉGUIN, 2000, p.300).

1) Se nao houve EIAlRIMA, estando oórgáo público convencido do RAlAS[relatóric de impacto ambientalsimplificado]: o Poder Público seráresponsável, na medida em que existenexo causal entre seu ato e o danoacorrido, lsto é, ele concorreu para aprática do resultado oanoso.2) SehouveEIA/RIMA,eestefoifavorável(totalmente), tendo sido concedida aücenca inexiste a responsabilidade doEstado, pois a licenca neste caso tratou­se de mero ato vinculado.3) Se houve EIA/RIMA, e este foidesfavorável (no todo ou em parte),tendo sido concedida a ücenca háresponsabilidade solidária do Estadoporquanto resta configurado o nexode causalidade entre o seu ato deconcossáo da ñcenca e o oeno causadoao meto ambiente.4) Se houve EIA/RIMA, e este foidesfavorável, nao tendo sido concedidaa Hcenca: inexiste como regra aresponsabilidade do Estado, exceto serestar provado que ele se quedou inerte,e, por conta de sua omlssáo, o danoambiental ocorreu.

A responsabilidade á qual se refere oautor é a responsabilidade solidaria. ou seja, apossibilidade do Estado (Uniáo, Estado, Municipiose Distrito Federal) ser acionado judicialmente como autor do dano (pessoa física ou jurídica) para arecornposicáo do bem ambiental. Se da condutaornissiva da Adrninistracáo Pública advier danoao rneio ambiente, a Adrninistracáo Publica deveresponder solidariamente pelos resultados adversos.1550 significa que

Especial - 467212/RJ - PRIMEIRA TURAM, DJU15/12/2003, p.193. Relator: Ministro Luiz Fux,ande o mesmo Tribunal afirmou que no caso dedano ambiental a competencia da Capitanía dosPortas nao excluí, mas complementa a legitimidadefiscalizatória e sancionadora dos órqáos estaduaisde protecáo ambiental.

Como visto o Estado Brasileiro poderá seracionado para responder pelos danos causadospor atividades que dependem de licenciamentoambiental3, pois o artigo 14 da Lei da PolíticaNacional do Meio Ambiente (6.938/81) determinaque sejam responsáveis os que contribuíram diretaou indiretamente para o dano/poluicáo ambiental.Ressalta-se que a liberacáo de OGM no meioambiente só é permitida com o parecer favorávelda CTNBio e com a autorizacáo/licenca ambientaldo órqáo competente, Instituto Brasileiro de MeioAmbiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA),quando for o caso, já que a necessidade de Estudosde Impacto Ambiental dependem da solicitacáo daCTNBio.

A liberacáo comercial de OGM e seusderivados segue as normas da Resoluyao Normativan o 05, de 12 de Margo de 2008 e nao dispensa aexigéncia do cumprimento de outras obrlqacóeslegais aplicáveis ao caso. A autorizacáo para olivre cornércio pode ser suspensa ou revogada pelaCTNBio, a qualquer momento; se funda em efeitosnegativos sobre o meio ambiente, saúde humana eanimal decorrentes dos resultados conhecidos dalibertacáo de acompanhamento pos-comercial. oupela prava de novasconhecimentos científicos.

Para submeter uma proposta de líberacáocomercial de OGM, o requerente deverá formular umpedido por escrito á CTNBio, datado e assinado pelorepresentante legal do requerente e anexar: cópia doparecer técnico sobre a propostada CorníssáoIntemade Biosseguranya (CIBIO), declaracáo deveracidadedas informacóes, assinado pelo responsável legal;resumo da proposta, as ínforrnacóes sobre os OGM,avaliacáo de riscos para a saúde humana, animal eambiental e plano de rnonitorarnento pós-líberacáocomercial. Uma vez aprovada proposta, seuacornpanharnento deve ser fe ita pelo candidato, corno objetivo de monitorar os efeitos de sua líberacáono rneio ambiente, saúde humana e animal. Istodeve ser feito no estrito curnprirnento do principioda precaucáo, da transparéncia e independénciacientífica. O requerente deve apresentar umplano de monitoramento que, uma vez aprovado,deve ser enviado pela CTNBio aos órqáos eentidades de registro e fiscalizacáo, de informacáoe monitoramento. Deve, também apresentar umrelatório de rnonitorarnento pós-líberacáo anual,durante o período mínimo de 5 (cinco) anos, e urnrelatório final após o término do acompanhamento,que deve ser remetido para a Autoridade.

ORGANISMOS GENETlCAMENTE MODIFICADOS E REPARAr;AO DE DANOS Aa MEla AMBIENTE: brevesconsideraq6es sobrea legislaqao aplicável.

No que se refere ao IBAMA, para a concessaoda licenca este é abrigado a considerar 0 3

, dentro domacrozoneamento previsto para o respectivo OGM.

Fiorillo (2009, p.143-144) expóe quatrosituacóes ern que é possível analisara coparticipacáodo Estado em caso de dano ao meio ambiente deatividades que dependiam de autorizacáo/licenca doPoder Público:

R. PoI. ea». Sao Luis, v 15, n.t, p. 43-52, jan./jun. 2011

48 Ana Paula Myszczuk, Clarissa BuenoWandscheere Roseli Rocha dos Santos

Nao sendo o caso da responsabllldadesolidária em que o Poder Público (Uniáo, Estado,Munlcíplo ou Distrito Federal) responde em conjuntocom o causador dlreto do dano, ainda resta apossibllidade da responsabllldade subsldlária, umavez que, por torca do artlgo 225 da ConstituicáoFederal Brasllelra, o melo ambiente constituí umdlrelto das presentes e futuras gera,óes sendoobriqacáo de todos á garantla da sua existencia.Portanto, se o causador dlreto do dano nao possuírrneios para a restauracáo/recornposícáo do meloambiente degradado o Poder Público será obrlgadoa fazé-lo, para dar efetlvldade ao dlrelto coletlvo aomelo ambiente ecologlcamente equilibrado bem deuso comum do povo para as presentes e futurasgera,óes.

3 CANO AMBIENTAL: criterios de recuperacáo domelo ambiente

É Importante destacar que no Brasil alndanao existe um posicionamento técníco legalmenteadmitido e que estabeleca os criterios que devamser utilizados para diagnosticar a existencia dedano ambiental. Em face disso, se tem algumasalternativas para a recuperacáo do bern ambientalque foi vítima de dano ou para evitar que se causedano a determinado ambiente ameacado.

A partir destas conslderacóes e possívelverificar que, com base na Constituicáo daRepubllca Federativa do Brasil (art.225 §2') e naslels amblentals complementares (Lel 6938/81, art,4°, VI), ern havendo urn dano ambiental, deverá serfe Ita a respectiva restauracáo do melo ambienteao status qua antes, ou seja, recuperacáo de suascondicoes oriqinais. Reconhece-se, entretanto, queesta modalldade de recuperacáo e extremamentedifícil e complicada de ser efetlvada a contento. Outrapossibllidade de recuperacáo e a cornpensacáoambiental, ou seja, a deqradacáo de urna áreadeve corresponder á recuperacáo de outra área,de preferencia em condicóes similares (localizacáo,dlversldade, clima, etc.). A cornpensacáo ambientalpode ocorrer em quatro modalidades, segundoLelte (2003, p.212-214): jurisdicional, extrajudicial,preestabeleclda e fundos autónomos.

A cornpensacáo ecol6glca jurisdlclonalconsiste em irnposicóes estabelecldas através desentencas judiciais transitadas em julgado, queobriqarn o degradador a substituir o bern lesado porum equivalente ou a pagar quantla em dinheiro. Éurna cornpensacáo Imposta pelo Poder Judiciario,originaria de urna IIde ambiental. A cornpensacáoextrajudicial, por sua vez, acorre através do termode ajustamento de conduta, que estabeleceurn ajuste entre os órqáos públicos legitimadose os potenclals poluldores, que se obrlgam aatender as exigencias leqais. (.... ) o mecanismode cornpensacáo preestabeleclda pode serentendido como aquele formulado pelo legislador,

R. PoI. Públ. Sao Luis, V.15, n.t, p. 43-52, jan.ljun. 2011

Independente das irnputacóes jurisdiclonais (civil epenal) e administrativas, e que tem como flnalldadecompensar os Impactos negativos ao melo ambiente,oriundos da socledade de risco. A quarta e últimacornpensacáo ecol6glca sao os fundos autónomosde cornpensacáo ecolóqlca, tarnbérn chamada deformas alternativas de solucao de Indenlzar o bemambiental. Separados da responsabilizacáo civil,tais fundos sao financiados por potenciáis agentespoluldores que pagam quotas de flnanclamento paraa reparacáo.

Por flm, parte da doutrlna que entende quea melhor forma de recuperacáo e a substituicáo dobem ambiental danlflcado por um valor arbitradomonetariamente, ouseja, uma indenizacáo pecuniária,sendo os valores recebldos repassados para fundosde protecao ambiental. De fato, no que se refere aotipo de recuperacáo do melo ambiente, e necessárlaa avaliacáo caso a caso, uma vez que no Brasilainda nao há declsóes administrativas ou judiciariasabrigando a recuperacáo de áreas em razao decontarninacao por OGM e diferentes consequénciaspara o melo ambiente que podem resultar destacontarninacáo. De acordo com rnanitestacáo deCooperativas" a contarninacáo pode ocorrer, rnaiscomumente, por uso de equipamentos sem a devidalimpeza, armazenamento de produtosconvencionaiscom GM, vale dlzer, pelo descumprlmento dosprocedirnentos de seqreqacáodo produto/semente.

4 CANO AMBIENTAL E CANO PATRIMONIAL

De outro lado, os danos econ6micos saoconsiderados classlcamente como danos privados epoderáo ser indenizados, caso a caso. No entanto,cumpre destacar que o dano ao meio ambiente,enquanto bem coletlvo de tltularldade difusa, e dedifícil rnensuracáo puramente económicae, portanto,de difícil quantificacáo.

Para os danos privados aplica-se a regra geraldo DIrelto Civil, estabeleclda no art, 942 do CódigoCivil Brasllelro, que obrlga aquele que causa dano,realizarsua reparacáo. Para evitaros possíveisdanospuramente económicos da contamínacáo com OGMe que a leglsla,ao brasllelra exige, para a liberacaocomercial de OGM, estucos e respectivo relatórlosobre o Impacto ambiental, que serao realizadosperante o IBAMA Concluído o procedlmento, eencamlnhado o pedido para a CTNBlo para decidirdefinitivamente sobre a liberacao ou nao do OGMem questáo. Asslm, por exemplo, em caso de havercontarninacáo de graos convencionais ou orgánicoscom graos genetlcamente modificados (GM), emuma determinada área ou determinado lote, oresponsável ou os responsáveis pelo dano seráoobrlgados a indenizar

AInda, e de se destacar que determinadasempresas, como a IMCOPA, que exportam graosconvencionais com Identldade preservada jáestabelecem previamente, em seus contratos com os

ORGANISMOS GENETlCAMENTE MODIFICADOS E REPARAr;AO DE DANOS Aa MEla AMBIENTE: breves 49consideraq6es sobrea legislaqao aplicável.

produtores rurais, valores de indenizacáo em caso de para a recuperacáo/restauracáo do dano. Noentregade graos fora das especificacóes contratadas aspecto individual é possível pleitear indenizacáoe que causem prejuízos a empresa, em caso desta por lucros cessantes, ou seja, indenizacáonao poder curnprir seus contratos com os seus quantificada pelo tempo em que nao poderá exercercompradores europeus". Pode-se destacar, também, a atividade em decorréncia do dano ambiental, maiso caso de determinada empresa exportadora de soja especificamente da contarninacao/poluicáo da área.certificada que, por algum motivo, deixa de certificar Amaiordificuldade é a comprovacáo da quantiñcacáodeterminado lote, que posteriormente é contaminado e extensáodo dano sofrido. Em uma decisáorecentecom graos GM e vendida como convencional para sobre a quantificacáo do dano o Poder Judiciáriodeterminado importador. Caso seja verificada a arbitrou em um salario mínimo por um período decontarninacáo, a certificadora poderá arcar com os seis meses com fundamento na teoria do riscoprejuízos causados á importadora. (TJPR - AC 0479369-9 - 10' CCív - Rel. Desemb.

Ressalta-se, que o dano acima mencionado Marcos de Luca Fanchin - DJ 19.01.2009).é aquele que pode ser medido e/ou percebido Mas, ainda assim, nao há regra especifica paramonetariamente, de forma concreta. Quer dizer sao os danoscausados por OGMs. Por exemplo, emcasoperdas que podem ser reduzidas a um montante em de liberacáono meio ambiente, de contamínacáo oudinheiro, já que nao se admite no Direito Brasileiro de danos á saúde humana, sao utilizadas as regrasa indenizacáo por simples suspeita de dano efetivo gerais da responsabilizacáo civil ou consumerista.ou arneaca de dano. Em regra, é necessária a Assim, em havendo perdas, devem ser aplicadascomprovacáo do dano para que se possa exigir uma as regras gerais expostas anteriormente, ou seia,indenizacáo. Para Antunes (2008. p.237): as de responsabilidade solidária entre todos os

O posicionamento predominante em nossos responsáveis direta ou indiretamente pelo dano.Tribunais é o de que os danos ambientais devem O Código Brasileiro de Defesa do Consumidorser atuais e concretos. Ou seia, a atuacáojudicial é - CDC - (Lei n ' . 8.078/1990) foi elaborado comfundamentalmente a posteriori ao dano causado. A base no principio da defesa do consumidor, comosimples burla de formas legais, como por exemplo determinado pelo texto constitucional (artigo 170,normas de zoneamento, nao é suficiente para V). É um instrumento para a protecao jurídica doque, judicialmente, caracterize-se o dando ao consumidor contra os fornecedores. Esta defesameio ambiente, (...). O próprio risco, no qual se corneca a partir da atribuicáo de uma qualidadefunda a responsabilidade arnbiental, nao é rnuito intrínseca e indissociável de todos aqueles queconsiderado, pois, ao que parece, é necessário que sao colocados na posicáo de consumidor: suao risco se materialize em um 'acidente' para que seja vulnerabilidade. Uma consequéncia efetiva desteefetivarnente reparado. principio é o dever de ínforrnacáo do consurnidor

No entanto é possível encontrar sobre produtos com intorrnacoes suficientes,posicionarnento jurisprudencial concedendo a precisas e claras (artigo 6 o inciso 111). Nestesterrnos,protecáo ern caso de arneaca de dano ao rneio que os fornecedores nao devem comercializarambiente, em que pese nao haver no Brasil nenhum quaisquer produtos que possam causar riscos paracaso de questionamento de ameaca de dano por a saúde do consumidor ou de sequranca, excetoliberacao ou pesquisa de OGM. Assim, a simples aqueles que sao conhecidos por ser assim e quearneaca de dano ou contarninacao ambiental que os consumidores cornprarn por sua própria cantapossa ser desencadeada por deterrninado OGM é e risco e, rnesrno assirn, o fabricante deve forneceradmitida apenas enquanto excecáo, geralmente necessárias e adequadas informacoes sobre oligada a falta de requisitos, como a apresentacáo produto e seus possíveis riscos, o que é necessáriode relatório de impacto ambiental, quando da no caso de OGM (artigo 8). Da mesma forma, orequisicáo da liberacao do OGM junto a CTNBio. artigo 9 estabelece claramente que o fornecedorExemplo desta é a decisáo que determinou a de produtos potencialrnente perigosos ou nocivos esuspensáo da autorízacao dada pela CTNBio para a de servicos devern inforrnar clararnente sobre estescomercializacáo da soja roundup ready, sem que se aspectos de seus produtos, sem prejuízo da adocáoinciuísse no processo de autorizacáo estudo prévio de quaisquer outras medidas aplicáveis em cadade impacto ambiental TRF1' R. - Ac 01000146611 - caso concreto. Mais uma vez, a preocupacáo doProc. 2000.010.00.14661-1 - DF - Segunda Turma - legislador pode ser vista ern relacáo a informacóesrel. Juíza Assusete Magalhaes - DJ data: 14.032001 claras sobre as questóes de seguranya que devemPg.84. ser disponibilizados para o consumidor.

É importante destacar quanto aos parámetros A atual redacáo da Lei de Biosseguranya (ndo montante de indenizacáo que no aspecto o 11105/2005), no entanto, tarnbérn prevé, ern seucoletivo, os danos arnbientais coletivos/difusos artigo40, queos alimentos e ingredientesalimentaressao irnensuráveis, portanto, ern regra, os valores destinados ao consumo hurnano ou anirnal devernestaráo relacionados corn as multas adrninistrativas conter informacóes sobre a presenca ou ausenciaprevistas ern lei, inclusive seus lirnites, e no aspecto de OGM. No entanto, estabelece que a rotulagemcivil a valoracáo se dá a partir do valor necessario será objeto de reqularnentacáo posterior. Ern grande

R. PoI. Públ. Sao Lu/s, v 15, n.t, p. 43-52, jan./jun. 2011

50 Ana Paula Myszczuk, Clarissa BuenoWandscheere Roseli Rocha dos Santos

medida, de fato, a ausencia de regras de rotulagemnao exime o fornecedor a fornecer as ínforrnacóesmais completas e adequadas sobre os ingredientesde seus produtos. Note, por exemplo, que o CDCestabelece a obriqacáo de fornecer ínforrnacóescomo principio fundamental da Política Nacionaldo Consumidor (art. 4 o IV) e como direito básicodo consumidor (artigo 6 o 111). Sobre este últimoponto, allás, o dispositivo e suficientemente amplopara permitir supor que esta obriqacáo abrange osalimentos produzidos a partir de OGM. Parece claro,portanto, que, sob qualquer análise o fornecedordeve fornecer as inforrnacóes necessárias.

O CDC preve, ainda, que o fornecedor devemanter (e uma interpretacáo sistémica sobre) osdados técnicos e científicos para apoiar os veículosde publicidade (art. 36, parágrafo único). É certo,tarnbérn, que qualquer publicidade ou propagandasilenciosa pode ser considerada enganosa (artigo 37,§ 1 e 3). O artigo 30 preve que qualquer informacáoou publicidade sobre um produto em qualquer formados meios de cornunicacáo devem ser precisas eque o fabricante deve estar preparado para manteresta informacáo quando o contrato e realizado. Noartigo 31 estabelece-se que todas as informacoessobre produtos ou servicos e suas características.qualidade, quantidade, cornposicáo, preco, garantia,prazos de validade e origem devem ser claras,carretas e precisas, e este é também o caso quandose trata de consumidor saúde e sequranca. Juntocom as consequéncias civis, por exemplo, umaindenizacáo por danos ou por violacáo do deverde boa-fe (objetiva, ligada á lntorrnacáo), mesmoporque o Código preve sancóes administrativas paratal ornissáo (multas e proibicáo de cornercializacáo)e penalidades (art. 66 , detencáoe multa).

É o Decreto 4680/2003 que regulamenta odireito do consumidor de ser informado como egarantido pelo CDC O decreto torna obrigatória arotulagem de alimentos geneticamente modificados.Portanto, e necessário deixar claro que a rotulagemdos OGM nao deve ser confundida com sequranca.No Brasil, se os OGM nao foram consideradosseguros para o consumo, nao seráo autorizados paracomercializacao. Portanto, a rotulagem e parte dodireito do consumidor de ser devidamente informadoe manter a sua liberdade de escolha. O artigo 2',afirma que, quando e o alimento comercializado elou ingredientes alimentares destinados ao consumohumano ou animal que contenham ou sejamproduzidos a partir de OGM, que representam maisde um por cento do produto, o consumidor deve serinformado sobre a natureza da GM deste produto.O Decreto tarnbém estabelece que o consumidordeve ser informado sobre o tipo de gene usadopara criar os OGM, que deve ser incluido na lista deingredientes. Quanto aos alimentos e ingredientesproduzidos a partirde animáis que foram alimentadoscom racao que contenha ingredientes geneticamentemodificados, estes devem ser incluidos na parteprincipal do rótulo, e deve atender aos requisitos de

R. PoI. PÚbl.. Sao Luis, V.15, n.t, p. 43-52, jan.ljun. 2011

tamanho e destaque previstos no artigo 2 o assim:"(nome do animal) alimentado com racáo contendoingrediente transcénico "ou" (nome do ingrediente)produzido a partir de animáis alimentados comracao contendo ingredientes transqénicos ". Quantoaos alimentos e ingredientes alimentares que naocontenham OGM ou nao foram produzidos a partirde OGM, o rótulo afirma que "(nome do produto ouingrediente) está livre de transqénicos", desde queexista um produto similar transqénico no mercadobrasileiro.

5RESPONSABILIZAc;:AO:identificagao do causadordo dano

Nas observacóes feitas anteriormente sobre aquestáo do dano, se discorresobre o posicionamentopredominante do Judiciário em materia de danoambiental em se manifestar somente com aocorréncia do prejuízo. No entanto, resta refletirsobre o dano causado pela própria vítima. Comonos casos de violacáo das regras de boas práticasagricolas e as regras de seqreqacáo de sementesgeneticamente modificadas e as nao modificadas.No Direito Brasileiro, acerca de danos ambientaiscausados em razao de acóes praticadas pela vitima,cumpre destacar que existem duas regras distintaspara o caso, a da leqlslacáo consumerista e dasrelacoes civis e empresariais. Note-se que nenhumadelas se dirige ás questóes ambientais diretamente,mas por uma questáo de ausencia legal se utiliza daanalogia.

No que se refere á relacáo de consumo,que segue a regra da responsabilizacáo objetiva,as atitudes tomadas pela vitima só elidem aresponsabilidade do fornecedor em caso de queestas determinem a culpa exclusiva da vitima.Quer dizer, no caso em que a atitude tomadapela vitima seja a causa única e exclusiva para aocorréncia do dano. Para os casos em que existaculpa concorrente, ou seja, em que as causas dosdanos decorram parte por atitudes tomadas pelavitima e parte pelo fornecedor, subsiste a culpadeste. Já, quando se está tratando de uma relacáocivil elou empresarial, em que se segue a regra daresponsabilizacáo subjetiva, onde a culpa do agentee as atitudes tomadas pela vitima sao levadas emconta para a verificacáo do nexo de causalidade, apossibilidade de existencia de culpa concorrente ea consequente nao responsabilizacáo do agente eanalisada no momento da responsabilizacáo pelosdanos arnbientais.

No que se refere aos cenários em que naoseja determinável exatamente onde ocorreu, porexernplo, a contarninacáo de um lote de graosconvencionais com graos GM, também se verificaduas possibilidades de responsabilizacáo civil.Quando se está em face de uma relacáo deconsumo, tem-se a responsabilizacáo solidária detoda a cadeia produtiva. Assim, no que se refereaos danos sofridos pelo consumidor, nao interessa

51

REFERENCIAS

ORGANISMOS GENETlCAMENTE MODIFICADOS E REPARAr;AO DE DANOS Aa MEla AMBIENTE: brevesconsideraq6es sobrea legislaqao aplicável.

advém de uma relacao entre particulares; enquantoque na responsabilidade civil ambiental o dano se dána esfera dos direitos difusos e coletivos; e que osdanos advindos de atuacáode terceiros também naoexcluem, em qualquer hipótese, a responsabilidadede recuperacáo dos danos causados ao meioambiente.

Acrescente-se que no ámbito Estatal aresponsabilidade é objetiva. Desse modo, todasas entidades federativas, a Unláo, os Estados, osMunicípios e o Distrito Federal sao responsáveispelos atos de seus agentes que, no exercício dafuncáo pública, acarretem danos a terceiros e aomeio ambiente decorrente de atividades omissivase comissivas (fiscalizar ou nao, e concederlicencas ambientais ou nao). Assim é necessária aavatiacáo caso a caso para a recuperacáo de danosambientais, uma vez que no Brasil ainda nao hádecisóes administrativas ou judiciárias obrigando arecuperacáo de áreas em razao de contarninacáopor OGM e diferentes consequéncias para o meioambiente que pode m resultar desta contarninacáo.

Extrai-se da pesquisa que os danoseconómicos sao considerados danos particulares epoderáo ser indenizados, caso a caso. No entanto,cumpre destacar que o dano ao meio ambiente,enquanto bem coletivo de titularidade difusa, é dedifícil rnensuracáo puramente económica e, portanto,de difícil quantiñcacáo. E que no aspecto individualé possível pleitear indenizacáo por lucros cessantes,ou seja, indenizacáo quantificada pelo tempo emque nao poderá exercer a atividade em decorrénciado dano ambiental, mais especificamente dacontarninacáo/poluicáo da área. A maior dificuldadeé a comprovacáo da quantificacáo e extensáo dodano sofrido.

Por fim, que resta a dificuldade em seidentificar o causador do dano com exatidáo, paraque este possa ser responsabilizado pelos danos,sejam individuais ou coletivos, para que nao venhaa recair a responsabilidade da recuperacáo sobre oEstado (em qualquer de suas entidades federativas),mas sim sobre os verdadeiros responsáveis peladeqradacáo ambiental e pelos prejuízos individuais.

onde na cadeia produtiva ocorreu o dano, sendorelevante apenas a existencia deste e a ausenciade culpa exclusiva da vítima. Cumpre observar que,nos casos em que um agente da cadeia produtivatenha suportado danos que foram causados poroutro agente pode, via acáo in rem verso, buscar arecornposicáo das perdas que sofreu, caso em quese sequiráo as regras da responsabilizacáo subjetiva.Do mesmo modo, quando se está tratando de umarelacáo empresarial ou civil, a responsabilidade dosagentes da cadeia produtiva será determinada apartir das regras da responsabilizacáo individual esubjetiva.

Mas a questáo de identificar o respcnsávelainda é complexa no país como se observa nestahipótese: um produtor de alimentos cornprou omilho a partir de vários produtores em diferentesquantidades, e nao fica claro qual foi o lotecontaminado. Quem deverá ser responsabilizado?

Desse modo, se conclui que no Brasil naoexistem regras especiais para a responsabilizacáocivil em caso de haver uma cadeia produtiva de bens.Nestes casos a responsabilizacáo do causador dedanos é bastante complicada, pois se utiliza a regraclássica da responsabilizacáo subjetiva. O que podemudar este cenário é o tipo de contrato feito entreos agentes, que pode estabelecer obriqacoes deresultado. Podemos usar como exemplo o caso deuma indústria produtora de alimentos que adquiregraos convencionais de vários produtores. Em seuscontratos esta pcde estabelecer que só irá aceitar deseus contratados a entrega de graos convencionaiscertificados, com identidade preservada ou nao.Assim, a empresa nao receberá qualquer outro tipode grao e nem interessará ao contrato o porqué denao terem sido entregues os graos acordados.

Do mesmo modo, a indústria de alimentospode contratar com determinado comprador avenda de produtos convencionais. Em caso de naoentregar tais produtos, será responsável pelo dano,mesmo que a contarninacao tenho acorrido antes damatéria prima chegar á sua fábrica. Entretanto, noscasos em que o contrato nao estabeleya a entregade produto com determinadas qualidades, aplicar­se-á a regra da responsabilizacáo subjetiva, sendoque, em caso de nao se poder determinar que m foio causador do dano, o proprietário da coisa é quemarcará com os prejuízos, aplicando-se o princípio"res perit dominus".

6CONCLusAoANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. Riode Janeiro: Lúmen Júris, 2008.

Desse modo, conclui-se que a legislayaonacional nao possui parámetros claros para areparacáo do dano ambiental, seja causado porOGM ou nao; que a responsabilidade civil em matériaambiental nao exige a ocorréncia de ato ilícito, comona responsabilidade civil clássica. Ao contrario, aatividade pcde ser autorizada pelo Poder Público. E,ainda, que na responsabilidade civil clássica o dano

BARROS, Adriano Celestino Ribeiro. Quebrandotabus em relacao aresponsabilidade civil causadapelos danos nucleares no Brasil. Disponívelem :<http://www.artigonal.com/di reito-a rtigoslque bra ndo-tabus-em-re lacao-a- res pon sabi Iida de­civil-causado-pelos-danos-nucleares-no-brasil­345042.html>. Acesso: 01 ju!. 2009.

R. Po/. Púb/. Sao Luis, v 15, n.1, p. 43-52, jan./jun. 2011

52 Ana Paula Myszczuk, Clarissa Bueno Wandscheere Roseli Rocha dos Santos

FIORILLO, CelsoAntonio Pacheco. Curso de direitoambiental brasileiro. Sao Paulo: Saraiva, 2009.

GAG llANO, Pablo Stolze. A responsabilidadeextracontratual no novo Código Civil e osurpreendente trata mento da atividade de risco.Jus navigandi, Teresina, ano 7,n. 64, abr. 2003.Dispon Ivel em:<http://jus2. u01. cam.br/doutrina/texl.asp?id=4003>. Acesso em: 25 jun. 2009.

LEITE, José Rubens Morato. Dano ambiental: doindividual ao coletivo extrapatrimonial. Sao Paulo:Editora Revista dos Tribunais, 2003

MACHADO, Paulo Alonso Leme. Direito ambientalbrasileiro. Sao Paulo: Malheiros Editores, 2008.

MUKAI, Toshio. Responsabilidade civil objetivapor dano ambiental com base no risco criado. 8p. Disponlvel em: http://wvwv.oab.org.br/comissoes/coda/liles/artigos/%7B2A131 C28-7CA 1-4DF 1­8A5D-5FD2A6E457 BO%7 O_Responsabi Iidade%20civil%200bjetiva%20por%20dano%20ambienta1%20com%20base%20no%20risco%20criado. pdlAcesso em: 30 jun. 2009.

PASQUALOTTO, Adalberlo. Responsabilidadecivil por dano ambiental: conslderacóes de ordemmaterial e processual. In: BENJAMIM, AntonioHerman V (Coord.). Dano ambiental: prevencáo,reparacáo e repressáo. Sao Paulo: Editora Revistados Tribunais, 1993. p. 444-470.

que se inverta imediatamente o ónus da prova, paraque imediatamente se produza a presuncáo daresponsabilidade, reservando, portante, para o eventualacionado o ónus de procurar excluir sua lmputacáo.

2. Com excecáo das empresas públicas e sociedades deeconomia mista que embora sejam criadas pela Uniáo,a elas nao se apüoaráo as regras de direito público esim das próprias da iniciativa privada.

3. O ñcenclamento ambiental é responsabilidade dosórgáos amblentals teoerals, estaduale, municipais edistrital. Com competencia definida na lei 6.938/1981e Resolucáo n° 237 do Conselho Nacional de MeioAmbiente - Conama.

4. Várias Cooperativas que se dedicam a área do soja foramvisitadas, quando da realizacáo do projeto e, medianteentrevistas e cessáo de documentos, relataran suasexperiencias com o plantio, colheita e cornercializacaode GM e non-GM.

s.vioe cláusula 16 do contrato de compra e venda de gráode soja:Clausula16- O inadimplemento pelaVENDEDORA, dequaisquer obrigac;óes e das condicóes previstas paraentrega caracteriza a mora independentemente deprevia e expressa Interpelacác ensejando a rescisáoimediata do contrato a critério da COMPRADORA, esujeitando a VENDEDORA ao pagamento imediato demulta moratória de 10% (dez porcento) sobre o valordocontrato correspondente ao inadimplemento, honoráriosadvocatícios de 20% (vinte por cento), previamentefixada, a qual apenas por cálculo matemático se tomalíquida certa e exigível, além de indenizacáo por perdase danos.

SÉGUIN, Elida. O direito ambiental: nossa casaplanetaria. Forense, 2000.

SILVA, José Alonso da.Constitucional. Sao Paulo:2004.

Direito AmbientalMalheiros Editora,

Ana Paula MyszczukDoutoranda em Direito Económico e Socioambiental pelaPontífica Universidade Católica do Paraná - PUCPR.Professora do Curso de Direito da Faculdade Metropolitanade Curitiba - FAMECE-mail: [email protected].

VIANNA, José Ricardo Alvarez. Responsabilidadecivil por danos ao meio ambiente. Curitiba: JuruáEditora, 2006.

NOTAS

1. Posicionamento diferente é o de José Afonso da Silva(2004, p. 313) que com base na afirmacáo de SérgioFerraz aduz que: "conseqüéncías da adocáo daresponsabilidade objetiva nesse campo: a) irrelevánciada intencáo danosa (basta um simples prejulzo);b) irreleváncia da mensuracáo do subjetivismo (oimportante é que, no nexo de causalidade, alguémtenha participado, e, tendo participado, de alguma sorte,deve ser apanhado nas tramas da responsabilidadeobjetiva; e) Inversáo do ónus da preva: d) irrelevánciada ilicitude da atividade: e) atenuacáo do relevo donexo causal - basta que potencialmente a atividadedo agente possa acarretar prejuízo ecológico para

R. PoI. PÚbl. Sao Luis, v.15, n.t, p. 43-52, jan.ljun. 2011

Clarissa Bueno WandscheerDoutora em Direito Económico e Socioambiental pelaPontífica Universidade Católica do Paraná - PUCPR.Professora do Curso de Direito da Faculdade Metropolitanade Curitiba - FAMEC.E-mail: [email protected]

Roseli Rocha dos SantosDoutora em Sociologia pela Université de Paris XProfessora da Facutdade Metropolitana de CuritibaFAMECE-mail: [email protected]

Faculdade Metropolitana de Curitiba - FAMECAv. Rui Barbosa, 5881 - Afonso Pena,CEP: 83040-550 - Sao José dos Pinhais- PR.