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Gramática Textual do Português http://www.fcsh.unl.pt/cadeiras/gtp/ Maria Antónia Coutinho ([email protected] ) Página 1 de 11 Sobre organizadores textuais 1. O que são organizadores textuais? São conhecidos os sete parâmetros da textualidade, propostos em Beaugrande 1980 e desenvolvidos em Beaugrande & Dressler 1981: por um lado, um conjunto de parâmetros associados a circunstâncias de produção e de recepção dos textos (intencionalidade, aceitabilidade, informatividade, situacionalidade e intertextualidade); por outro, coesão e coerência, entendidas como propriedades centradas no próprio texto 1 . Esta perspectiva – que constituiu, inequivocamente, um contributo fundamental para a descrição linguística dos textos – pode hoje ser retomada e desenvolvida em função de aspectos que têm entretanto sido sublinhados por outros autores. É o caso da noção de plano de texto, desenvolvida nomeadamente por Jean-Michel Adam 2 : recuperando e actualizando a dispositio da retórica antiga, a noção de plano de texto põe em evidência factores de organização global, que envolvem a constituição (e o reconhecimento) de blocos hierarquizados, ou unidades, que dispõem de unidade temática e assumem funções específicas na configuração global do texto. Para além dos fenómenos de coesão frásica e interfrásica – vistos numa perspectiva de sequencialidade linear – haverá assim a considerar mecanismos de organização textual global, responsáveis pela tarefa de dar a ver, ou sublinhar, o plano de texto. São esses mecanismos, que designamos como organizadores textuais (ou marcadores de organização textual), que constituem objecto das páginas que se seguem. A expressão organizadores textuais é proposta em 1989 por uma equipa de linguistas suíços (Schneuwly, B., Rosat, M.-C. & Dolz, J. 1989), no intuito de dar conta de aspectos da organização textual que, segundo os autores, o termo “conector” não permitia evidenciar: Les organisateurs textuels sont considérés comme étant la trace privilégiée de certaines opérations langagières dépendant de la planification textuelle; il s’agit non seulement d’opérations de connexion, c’est-à-dire d’enchaînements de structures propositionnelles comme le suggère le terme "connecteurs", mais aussi d’opérations de segmentation du texte fonctionnant à différents niveaux du texte. (Schneuwly, Rosat & Dolz, 1989: 40) 3 Como se pode ver, os autores referidos consideram os conectores fundamentalmente associados a operações de conexão, enquanto os organizadores textuais assinalam operações de planificação textual, de conexão e de segmentação. Dez anos mais tarde, Jean-Michel Adam 4 contribui para esta problemática assumindo que a conexão pode ser assegurada por organizadores e conectores. As duas categorias partilham a função de delimitar unidades que podem ter dimensões variáveis: Ils [organisateurs et connecteurs] délimitent des unités en ouvrant ou en fermant des portions de textes depuis le niveau intrapropositionnel (dans le 1 Cf. Beaugrande 1980 : 16-22 2 Cf. Adam 2002. 3 “Os organizadores textuais são considerados como marcas privilegiadas de determinadas operações da actividade da linguagem que dependem da planificação textual; não se trata apenas de operações de conexão, quer dizer, de encadeamento de estruturas proposicionais, como sugere o termo “conectores”, mas também de operações de segmentação que funcionam a diferentes níveis do texto” (traduzido de Schneuwly, Rosat & Dolz, 1989: 40). 4 Cf. Adam 1999: 58-59

Organizadores textuais

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    Sobre organizadores textuais

    1. O que so organizadores textuais?

    So conhecidos os sete parmetros da textualidade, propostos em Beaugrande 1980 e desenvolvidos em Beaugrande & Dressler 1981: por um lado, um conjunto de parmetros associados a circunstncias de produo e de recepo dos textos (intencionalidade, aceitabilidade, informatividade, situacionalidade e intertextualidade); por outro, coeso e coerncia, entendidas como propriedades centradas no prprio texto1.

    Esta perspectiva que constituiu, inequivocamente, um contributo fundamental para a descrio lingustica dos textos pode hoje ser retomada e desenvolvida em funo de aspectos que tm entretanto sido sublinhados por outros autores. o caso da noo de plano de texto, desenvolvida nomeadamente por Jean-Michel Adam2: recuperando e actualizando a dispositio da retrica antiga, a noo de plano de texto pe em evidncia factores de organizao global, que envolvem a constituio (e o reconhecimento) de blocos hierarquizados, ou unidades, que dispem de unidade temtica e assumem funes especficas na configurao global do texto. Para alm dos fenmenos de coeso frsica e interfrsica vistos numa perspectiva de sequencialidade linear haver assim a considerar mecanismos de organizao textual global, responsveis pela tarefa de dar a ver, ou sublinhar, o plano de texto. So esses mecanismos, que designamos como organizadores textuais (ou marcadores de organizao textual), que constituem objecto das pginas que se seguem.

    A expresso organizadores textuais proposta em 1989 por uma equipa de linguistas suos (Schneuwly, B., Rosat, M.-C. & Dolz, J. 1989), no intuito de dar conta de aspectos da organizao textual que, segundo os autores, o termo conector no permitia evidenciar:

    Les organisateurs textuels sont considrs comme tant la trace privilgie de certaines oprations langagires dpendant de la planification textuelle; il sagit non seulement doprations de connexion, cest--dire denchanements de structures propositionnelles comme le suggre le terme "connecteurs", mais aussi doprations de segmentation du texte fonctionnant diffrents niveaux du texte. (Schneuwly, Rosat & Dolz, 1989: 40)3

    Como se pode ver, os autores referidos consideram os conectores fundamentalmente associados a operaes de conexo, enquanto os organizadores textuais assinalam operaes de planificao textual, de conexo e de segmentao. Dez anos mais tarde, Jean-Michel Adam4 contribui para esta problemtica assumindo que a conexo pode ser assegurada por organizadores e conectores. As duas categorias partilham a funo de delimitar unidades que podem ter dimenses variveis:

    Ils [organisateurs et connecteurs] dlimitent des units en ouvrant ou en fermant des portions de textes depuis le niveau intrapropositionnel (dans le

    1 Cf. Beaugrande 1980 : 16-22

    2 Cf. Adam 2002.

    3 Os organizadores textuais so considerados como marcas privilegiadas de determinadas

    operaes da actividade da linguagem que dependem da planificao textual; no se trata apenas de operaes de conexo, quer dizer, de encadeamento de estruturas proposicionais, como sugere o termo conectores, mas tambm de operaes de segmentao que funcionam a diferentes nveis do texto (traduzido de Schneuwly, Rosat & Dolz, 1989: 40). 4 Cf. Adam 1999: 58-59

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    groupe nominal) jusquaux niveaux interpropositionnel (segmenter et lier des propositions) et textuel (segmenter et lier des pans de texte). (Adam 1999: 59)5

    Para Jean-Michel Adam os conectores tm a particularidade, relativamente aos outros organizadores textuais, de marcarem uma orientao argumentativa questo que ser retomada frente. De momento interessa sublinhar que falamos aqui de organizadores textuais como expresso hiperonmica relativamente a diferentes categorias de organizadores (incluindo os conectores); trata-se, em todos os casos, de processos que, segmentando unidades textuais e/ou indicando o tipo de relao a estabelecer entre diferentes unidades textuais, assinalam, de forma mais ou menos ostensiva, a organizao global, ou plano do texto (que pode ser mais ou menos convencional).

    2. Categorias de organizadores textuais

    2.1. Organizadores enumerativos

    2.1. Aditivos

    Dentro da categoria geral dos organizadores enumerativos, os aditivos constituem unidades e subunidades textuais, sem aplicar qualquer princpio de ordem (como o caso dos marcadores de integrao linear. So exemplos de aditivos: e, ou, tambm, igualmente.

    2.2. Marcadores de integrao linear

    Tal como aparecem definidos em Turco & Coltier 1988, os chamados marcadores de integrao linear constituem sobretudo um factor de organizao linear (como sugere a prpria designao): eles asseguram a abertura, continuidade e fecho de uma srie.

    () dautres [morphmes] enfin (dabord, ensuite, enfin) accompagnent lnumration sans fournir de prcision autre que le fait que le segment discursif quils introduisent est intgrer de faon linaire dans la srie.(). (Turco & Coltier 1988 : 57)6

    Esta funo pode ver-se desdobrada em funo das trs possibilidades de origem semntica, identificadas pelos autores: enumerao, lugar e tempo.

    Colocando-se explicitamente na sequncia de Turco e Coltier, Adam e Revaz7 (num trabalho centrado sobre a sequncia descritiva) salientam o que corresponde, em ltima anlise, funo de marcador de organizao textual desempenhado pelos marcadores de integrao linear: a capacidade de criar unidades textuais e de as relacionar hierarquicamente. Dizem os autores:

    (), il semble bien que les M.I.L. [marqueurs dintgration linaire] servent mettre de lordre dans un ensemble en segmentant le texte

    5 Eles [os organizadores textuais e os conectores] delimitam unidades abrindo ou fechando

    pores de texto desde o nvel intraproposicional (no grupo nominal) at aos nveis interproposicional (segmentar e ligar proposies) e textual (segmentar e ligar blocos de texto)." (traduzido de Adam 1999: 59) 6 "() por fim, outros [morfemas] (em primeiro lugar, em seguida, por fim) acompanham a

    enumerao indicando apenas que o segmento discursivo que introduzem deve ser integrado de forma linear numa srie ()." (traduzido de Turco & Coltier 1988 : 57). 7 Cf. Adam & Revaz 1989

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    en PARTIES et en introduisant parfois, au-del du linaire, des niveaux hirarchiques. (Adam & Revaz 1989: 66)8

    2.2. Introdutores de universo de discurso

    A noo de introdutores de universo de discurso tem sido trabalhada por Michel Charolles em particular Charolles 1988 e Charolles 1994. Trata-se de expresses que condicionam a validade de uma proposio, ou de um conjunto de proposies, explicitando as condies em que ela pode ser tomada como verdadeira. Na perspectiva do autor, os introdutores de universo de discurso (em Frana,..., no sculo XII,..., para os gregos,...) so um dos processos que configuram domnios isto , pores de texto condicionadas a um determinado quadro, ou espao, de interpretao; para alm das expresses temporais e espaciais, o autor aponta, como exemplos de expresses que iniciam domnios, frmulas que delegam a responsabilidade enunciativa (segundo Y,...), construes com verbos de opinio (achar, pensar, considerar, etc.) e predicados criadores de mundo (sonhar, etc.).

    2.3. A anfora

    2.3.1. Expresses decticas e expresses anafricas

    Numa perspectiva semntica, considera-se que deixis e anfora constituem duas formas de construo de referncia. No primeiro caso, a referncia estabelece-se em funo das coordenadas de pessoa, espao e tempo que definem a situao de enunciao respectivamente eu-tu, aqui e agora. Um ttulo como Estudantes do superior fazem hoje greve nacional ser sempre interpretvel em funo do presente de enunciao marcado pelos decticos em ocorrncia (advrbio de tempo e morfema de tempo integrado na flexo da forma verbal). No caso da anfora, a referncia estabelece-se por retoma de uma expresso j introduzida no texto, que constitui o antecedente da expresso anafrica (ou termo anafrico, ou anfora). Um caso particular de anfora aquele em que o termo anafrico precede o antecedente a que se d o nome de catfora. Na configurao anafrica tpica, o termo anafrico no tem autonomia referencial (isto , depende do termo antecedente para estabelecer referncia); e o termo anafrico e o termo antecedente (qualquer que seja a posio em que ocorre) so correferenciais. Sem qualquer exaustividade sobre a descrio semntica do fenmeno anafrico, interessa aqui sublinhar um caso particular de anfora pelo rendimento particular que lhe cabe, em termos textuais; trata-se da anfora conceptual ou anfora-resumo (em francs, anfora rsomptive) sobretudo apontada como nominal, mas que tambm pode ocorrer sob forma pronominal): elle condense et rsume le contenu dune phrase, dun paragraphe ou de tout un fragment de texte antrieur. (Riegel, Pellat & Rioul 1994: 614)9.

    2.3.2. Podero as expresses decticas e anafricas ser consideradas como organizadores textuais?

    2.3.2.1. Organizadores temporais e espaciais de carcter dectico e anafrico

    A questo colocada poder ser respondida afirmativamente. Como se sabe, a categoria geral dos organizadores textuais inclui organizadores temporais e espaciais.

    8 (...) parece que os M.I.L. [marcadores de integrao linear] servem para pr ordem num

    conjunto segmentando o texto em PARTES e introduzindo por vezes, para alm do linear, nveis hierrquicos. (traduzido de Adam & Revaz 1989: 66, sublinhado meu). 9 "ela condensa e resume o contedo de uma frase, de um pargrafo ou de todo um fragmento

    de texto anterior" (traduzido de Riegel, Pellat & Rioul 1994: 614)

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    Em funo do exposto anteriormente, compreender-se- que uns e outros possam ter carcter dectico ou anafrico para alm, ainda, do carcter autnomo.

    2.3.2.2. O caso particular da anfora

    Um dos critrios associados noo de organizadores textuais, na perspectiva de Schneuwly, Rosat & Dolz, 1989, o de no fazerem parte integrante das estruturas proposicionais a que esto associados, ou que conectam. Deste ponto de vista, a resposta questo atrs colocada ser negativa. Com efeito, a anfora no normalmente includa na categoria dos organizadores textuais sendo sempre referida, no entanto, como um dos mecanismos que contribuem para a organizao textual, na medida em que assegura a continuidade temtica ou referencial. Importa a este propsito lembrar que os mesmos autores que definem o critrio atrs referido consideram que a designao organizadores textuais tem vantagem relativamente de conectores porque permite dar conta de operaes de segmentao do texto (para alm das operaes de conexo mais evidenciadas pelo termo conectores). deste ponto de vista que parece necessrio, em ltima anlise, reconhecer que a anfora se pode comportar tambm como marcador de organizao textual: ao mesmo tempo que assegura a coeso referencial (a retoma de objectos de discurso j introduzidos no texto), ela liga e segmenta unidades (e/ou subunidades) textuais, permitindo simultaneamente a progresso temtica atravs de operaes de resumo e reformulao da informao.

    2.4. Marcadores de sequencializao

    Estes organizadores textuais so referidos por quase todos os autores embora de forma dispersa e sob designaes diferentes. Schneuwly, Rosat & Dolz 1989 identificam um conjunto de organizadores que funcionam segundo princpios de estruturao do texto. Outros autores incluem nos marcadores de integrao linear conclusivos ou nos marcadores de reformulao organizadores como em resumo, para acabar, etc. Michel Charolles d um contributo significativo nesta matria, atravs da noo de sequncia, explicitamente relacionada com questes de segmentao textual:

    Les squences rsultent du dcoupage du matriau discursif. Il y a cration d'une squence lorsque le sujet, par exemple crivant, indique comment il fractionne son texte. (Charolles 1988:9)10

    Na sequncia deste mesmo ponto de vista, postula-se, em Coutinho 2003, um plano de organizao textual de ordem retrica (disposicional) que ser recupervel atravs de marcas, ou organizadores textuais. Consideraremos como marcadores de sequencializao (ou organizadores configuracionais) os organizadores textuais que explicitam a estruturao do texto anunciando o princpio ou o fim de uma unidade, identificando-a pelo nome, reclassificando-a (por exemplo, Esta introduo, Para concluir, Em resumo)

    10 As sequncias resultam do recorte do material discursivo. H criao de uma sequncia

    quando o sujeito que escreve, por exemplo, indica como fracciona o seu texto. (traduzido de Charolles 1988:9)

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    2.5. Pontuao e outros mecanismos de segmentao grfica

    Poder a pontuao ser tomada como marcador de organizao textual no caso de textos realizados na modalidade escrita?11 Em primeiro lugar, interessa sublinhar duas concepes de pontuao:

    - a pontuao como processo de reconstituio, na modalidade escrita, dos fenmenos de entoao, na modalidade oral;

    - a pontuao como processo que permite gerir a relao entre as representaes cognitivas e a linearidade do texto.

    Interessa-nos, em particular a segunda perspectiva que pode ainda subdividir-se em duas possibilidades:

    - pontuao sintagmtica (que actua sobre o eixo horizontal): inclui a vrgula, o ponto, o ponto e vrgula, os dois pontos; constitui um meio de combater a disposio linear do texto, agrupando e/ou separando contedos, de acordo com a representao cognitiva que deles se tem;

    - pontuao polifnica: inclui sinais de desdobramento enunciativo (dcrochage nonciatif), como as aspas, os travesses e os parnteses, e sinais que marcam modulaes, como o ponto de exclamao, o ponto de interrogao e as reticncias

    Compreender-se- certamente que os sinais de pontuao sintagmtica constituam organizadores susceptveis de delimitarem unidades e sub-unidades textuais (no sentido de pores de texto dotadas de unidade temtica). Note-se que, lista de sinais de tipo sintagmtico, convir acrescentar o pargrafo e a alnea. Mas tambm os sinais de tipo polifnico (ou, pelo menos, alguns deles, em algumas circunstncias) podem assumir essa mesma funo de delimitao de unidades textuais: se os parnteses e os travesses permitem fazer ouvir outras vozes, essas vozes so muitas vezes comentrios ou pontos de vista do produtor do texto, textualmente organizadas como (sub)unidades e dotadas de valores argumentativos especficos, mesmo na ausncia de conectores como valores de explicao ou de justificao, de exemplificao ou de particularizao12.

    Em concluso, podemos assumir que a pontuao assume claramente uma funo de organizao textual, tal como a sintetiza Adam:

    Des plus bas niveaux jusquaux bornes du pritexte, elle [la ponctuation] fournit des instructions pour la construction du sens par dcoupage et regroupement dunits de complexit variable. (Adam 2002: 523, sublinhado meu)13

    Aos sinais convencionais de pontuao, interessa ainda acrescentar outros processos de segmentao grfica como ttulos e interttulos, numeraes, espaos em branco, etc. que correspondem igualmente a processos de delimitao de unidades.

    11 Para os textos realizados na modalidade oral, sero os fenmenos prosdicos que podero

    assumir funes de organizao textual. 12

    Antecipando sobre a descrio do funcionamento argumentativo, que ser feita no ponto seguinte, poderemos dizer que os valores de exemplificao e particularizao correspondem, frequentemente, apresentao de mais um argumento, isto , ao reforo de uma mesma orientao argumentativa. 13

    Dos nveis mais baixos at aos limites do peritexto, [a pontuao] fornece instrues para a construo do sentido por recorte e agrupamento de unidades de complexidade varivel. (traduzido de Adam 2002: 523, sublinhado meu)

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    2.6. Conectores

    2.6.1. Dos conectores lgicos aos conectores das lnguas naturais

    A noo de conector releva, em primeiro lugar, do mbito da lgica especificamente, das lgicas clssicas de primeira ordem (lgica dos predicados e lgica das proposies). Foram identificados, neste contexto, os conectores de conjuno (&), disjuno (V), condicionalidade () e bicondicionalidade ()14. So estes comportamentos fixos que definem a operacionalidade dos conectores, em termos de clculo proposicional: trata-se, ento, de determinar o valor de verdade de uma proposio complexa a partir dos valores de verdade ou de falsidade das proposies simples conectadas15.

    2.6.2. Conectores argumentativos

    2.6.2.1. Caracterizao geral

    A tradio gramatical tambm identificou a funo de ligao entre frases (ou entre proposies expressas por frases) que atribuiu s conjunes16. Mas a descrio dos conectores numa perspectiva especificamente lingustica desenvolveu-se sobretudo a partir de trabalhos de Oswald Ducrot (e da equipa a ele ligada) podendo destacar-se, nesta matria, a publicao de Les mots du discours, que data de 198017. No primeiro captulo significativamente intitulado Analyse de textes et linguistique de lnonciation Ducrot lembra que os conectores lgicos articulam sempre dois segmentos que correspondem, tambm sempre, a proposies (imediatamente esquerda e direita do conector); a partir daqui, o autor mostra que em lngua, pelo contrrio, a relao de conexo no automaticamente recupervel:

    - as entidades semnticas conectadas podem ser de natureza diferente, isto , podem corresponder a segmentos materiais do texto, a enunciaes, a contedos implcitos ou, mesmo, a factos extralingusticos;

    - um mesmo movimento de conexo pode envolver mais do que duas entidades (por exemplo, a estrutura p MAS q envolve, alm dos argumentos p e q, as concluses implcitas que lhes esto associadas (respectivamente r e no-r);

    - quando o conector articular segmentos materiais do texto, no garantido que esses segmentos ocorram imediatamente esquerda ou direita do conector (no exemplo O Pedro j chegou. De facto, o carro dele est ali estacionado. Mas no tens

    14 Condicionalidade e bicondicionalidade podem tambm ser referidas como implicao e

    equivalncia, respectivamente. 15

    Cf. Lyons 1977 16

    Na Gramtica da Lngua Portuguesa de Joo de Barros, editada pela primeira vez em 1539-1540, pode ler-se: Bsta saber que temos duas conjunes mis comuns. A a chamam copulativa, que quer dizer ajuntador, porque ajunta as partes antre si; e a outra, disjuntiva, a qual, mis prpriamente, se deve chamar disjunm que conjunm, porque divide as prtes. 355 (sublinhado meu). Sculos depois, dizem os autores da Nova Gramtica do Portugus Contemporneo: Conjunes so os vocbulos gramaticais que servem para relacionar duas oraes ou dois termos semelhantes da mesma orao. As conjunes que relacionam termos ou oraes de idntica funo gramatical tm o nome de coordenativas. () Denominam-se subordinativas as conjunes que ligam duas oraes, uma das quais determina ou completa o sentido da outra. CUNHA & CINTRA 1984: 575 17

    Cf. Ducrot et alii 1980.

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    nada a ver com isso, o antecedente do conector mas no o segmento que o precede imediatamente, mas o que ocorre mais esquerda18);

    - a dimenso dos segmentos textuais conectados no previsvel partida: como sublinha o prprio Ducrot, um conector pode articular pargrafos inteiros19.

    Esclarecida esta questo, interessa sublinhar que o trabalho de Ducrot sobre conectores (lingusticos) se insere na perspectiva de argumentao na lngua que o mesmo autor desenvolveu, fundamentalmente, com Jean-.Claude Anscombre20. Ao contrrio de uma concepo largamente dominante, segundo a qual a informao seria a funo principal da comunicao, a teoria da argumentao na lngua assume a argumentao como actividade fundamental. Para se compreender este ponto de vista, ajudar lembrar que argumentar diferente de provar (demonstrar a verdade de uma assero) e de deduzir (recorrendo deduo lgica como processo de validao): argumentar equivale a apresentar razes para uma determinada concluso (sendo que, uma vez enunciadas, as razes constituem argumentos). Uma argumentao consiste, portanto, na relao entre um (ou mais) argumento(s) e uma concluso. Vejam-se os termos dos prprios autores:

    Pour nous en effet, un locuteur fait une argumentation lorsquil prsente un nonc E1 (ou un ensemble dnoncs) comme destin en faire admettre un autre (ou un ensemble dautres) E2. 21

    Neste sentido, o carcter informativo de um enunciado como, por exemplo, Est calor ser subordinado a uma inteno argumentativa: o enunciado em causa apresentado como argumento para uma concluso implcita (do tipo Ficamos em casa, ou No precisas de levar casaco, ou outra22). A percepo de que as lnguas dispem de morfemas especializados no estabelecimento e encadeamento de relaes argumentativas foi ponto de partida para o desenvolvimento da teoria da argumentao na lngua que viria no entanto a assumir, de forma mais radical, que a argumentatividade est associada ao prprio lxico. Este ltimo aspecto excede j o mbito em que nos situamos pelo que nos limitaremos aqui a expor algumas das noes fundamentais para a descrio dos conectores argumentativos entendidos como morfemas (do tipo conjuno de coordenao ou de subordinao, advrbio, locuo adverbial, etc.) que articulam dois ou mais enunciados, envolvidos numa mesma relao argumentativa23.

    Como j atrs ficou dito, existe relao argumentativa entre dois enunciados quando um deles apresentado como destinado a fazer admitir, ou justificar, o outro, o primeiro ser argumento, o segundo concluso. A relao argumentativa no se estabelece necessariamente entre enunciados: a concluso pode estar implcita e pode haver recurso a argumentos de natureza no lingustica. Por essa razo, a relao

    18 Exemplo adaptado de Ducrot 1980: 17.

    19 Cf. Ducrot 1980: 17.

    20 Cf. Anscombre & Ducrot 1983.

    21 Para ns, com efeito, um locutor realiza uma argumentao quando apresenta um

    enunciado E1 (ou um conjunto de enunciados) como destinado a fazer admitir um outro (ou um conjunto de outros) E2. Cf. Anscombre & Ducrot 1983: 8 22

    Em Moeschler 1985, postula-se o princpio de acessibilidade da concluso: quando implcita, a concluso deve ser acessvel, isto , deve poder ser re-estabelecida pelo interlocutor atravs de elementos disponveis no cotexto e/ou no contexto. 23

    Seguimos aqui de perto Moeschler 1985: 46-67. No daremos destaque distino entre conectores argumentativos e operadores argumentativos (uma vez que s os primeiros sero aqui objecto de anlise); registe-se, no entanto, que um operador argumentativo corresponde a um morfema que, aplicado a um contedo, limita as possibilidades argumentativas desse mesmo contedo. (Exemplos: (1) J so 11 horas. Despacha-te (1) J so 11 horas. ?Temos tempo. (2) So s 11 horas. Temos tempo. (2) So s 11 horas. ?Despacha-te. )

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    argumentativa no pode ser formulada em termos de enunciados, mas deve articular entidades mais abstractas:

    valor de argumento variveis p, q valor de concluso varivel r p,q, r designam contedos semnticos associados a enunciados, a implcitos e a elementos do contexto

    Uma anlise sistemtica dos conectores passar pela identificao de regularidades de funcionamento, tendo em conta dois critrios:

    - a funo argumentativa do enunciado introduzido pelo conector sendo de distinguir conectores introdutores de argumento e conectores introdutores de concluso;

    - o nmero de constituintes envolvidos estando em causa saber se h ou no interferncia de um terceiro constituinte implcito (com funo de argumento ou de concluso).

    Na medida em que serve uma determinada concluso, um argumento possui uma orientao argumentativa. O valor de argumento de um enunciado (isto , o facto de dever ser interpretado como argumento para uma concluso), determinado pela sua orientao argumentativa podendo distinguir-se:

    - argumentos co-orientados: quando so destinados a servir a mesma concluso; argumentos anti-orientados: quando so destinados a servir concluses inversas. Para alm da orientao, h ainda a considerar a fora argumentativa: como

    veremos a seguir, dois enunciados anti-orientados apresentaro uma fora argumentativa diferente, de modo a que um deles se sobreponha e faa valer, portanto, a concluso que serve.

    Tendo em conta o enquadramento terico que acaba de ser exposto, prope-se em seguida a descrio de alguns conectores do portugus.

    2.6.2.2. Descrio de alguns conectores argumentativos

    Como j atrs ficou dito, a funo de conector argumentativo pode estar associada a diferentes categorias gramaticais conjunes de coordenao, conjunes de subordinao, advrbios, expresses adverbiais e preposicionais. Note-se que, na recente edio da Gramtica da Lngua Portuguesa24, e na sequncia do que vem sendo assumido por outros autores, tanto para o portugus como para outras lnguas, Gabriela Matos distingue conjunes de coordenao e conectores de coordenao: as primeiras correspondem s conjunes copulativas (e, nem), disjuntivas (ou, ouou, nemnem, oraora, querquer) e adversativas (mas, seno); os segundos compreendem conectores contrastivos (porm, todavia, contudo, entretanto, no entanto), explicativos (pois, que, porque, porquanto) e conclusivos (logo, pois quando posposto, assim, portanto, por isso, por conseguinte, por consequncia)25. A distino estabelecida tem a ver com o facto de os (agora chamados) conectores de coordenao no manifestarem todas as propriedades formais atribudas s conjunes26 levando a anlise efectuada, em cada um dos casos, reconsiderao da categoria gramatical:

    24 Cf. Mateus et al. 2003.

    25 Cf. Matos 2003: 565-574 (in Mateus et al 2003). Para que melhor se possa acompanhar esta

    questo, incluram-se, no Anexo 1, quadros comparativos das classificaes propostas em Cunha & Cintra 1984 e Mateus et al. 2003. 26

    Assim, os chamados conectores contrastivos e conclusivos no ocorrem obrigatoriamente no incio do termo coordenado e podem co-ocorrer com uma conjuno; alm disso, os conectores contrastivos podem ocorrer no interior de uma frase subordinada, independentemente de

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    Tendo em vista todas as propriedades que acabmos de referir, devemos concluir que os conectores contrastivos no so conjunes adversativas mas apenas advrbios de valor contrastivo (pg. 572, sublinhado meu);

    As propriedades acima assinaladas sugerem que os conectores explicativos devem ser caracterizados como complementadores, que introduzem frases subordinadas causais finitas. (pg. 573, sublinhado meu);

    Assim, os conectores conclusivos devem ser caracterizados no como conjunes mas como expresses adverbiais ou preposicionais que funcionam como adjuntos frsicos ou verbais com valor conclusivo. (pg. 574, sublinhado meu).

    A reclassificao categorial que mostram as passagens citadas aparece, no entanto, subordinada classe dos conectores (conectores de coordenao, por oposio s conjunes de coordenao). A escolha do termo revela certamente a sensibilidade a questes que extravasam o mbito da sintaxe, como atesta, de resto, o captulo dedicado organizao textual (da responsabilidade de Ins Duarte)27 embora este mesmo captulo no especifique a noo de conector argumentativo.

    Na perspectiva que temos vindo a assumir, interessa sublinhar, uma vez mais, que a funo de conector argumentativo pode ser realizada por diferentes categorias gramaticais. Inversamente, poderemos tambm dizer que uma mesma categoria gramatical tanto pode conter conectores como outras formas para as quais esse funcionamento no relevante: por exemplo, a conjuno coordenativa adversativa mas um conector argumentativo enquanto a conjuno coordenativa aditiva e como se ver frente um marcador de organizao textual de tipo enumerativo aditivo (mas no um conector argumentativo). Deste ponto de vista, no se estranhar o carcter selectivo da descrio a seguir proposta que no pretende ser exaustiva relativamente s categorias gramaticais envolvidas no funcionamento dos conectores, privilegiando-se antes o reconhecimento do funcionamento do conector (em funo dos critrios atrs referidos) e a identificao de alguns dos valores mais frequentes, associados funo de argumento: valores de causa (ou explicao), de justificao28, de oposio (contraste e concesso) e de confirmao.

    Neste quadro, p e q so variveis para argumentos, r para concluso; os parnteses rectos assinalam contedos implcitos. O Lus atrasou-se porque perdeu o autocarro

    r PORQUE (POIS/J QUE/ VISTO QUE/ ) p

    Introdutor de argumento com valor causal (ou explicativo)

    O Lus atrasou-se pois no est c o carro dele r POIS (PORQUE/) p

    Introdutor de argumento com valor de justificao

    O Lus atrasou-se portanto vai perder o avio p PORTANTO (POR CONSEGUINTE/ POR

    ISSO/LOGO/ASSIM/) r

    Introdutor de concluso A Ana estuda mas muito distrada

    p MAS (PORM/ CONTUDO/TODAVIA/NO ENTANTO/)

    q

    qualquer funo de coordenao. Os conectores explicativos, que tm um comportamento equivalente ao dos complementadores em construes de subordinao, s podem conectar frases e s so compatveis com frases finitas. Cf. Duarte 2003: 565-574 27

    Cf. Duarte 2003 28

    Para a distino entre os valores de causa e de justificao, consulte-se o Anexo 2.

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    [r] [no r ]

    Introdutor de argumento anti-orientado com valor de oposio - contraste

    Estava a chover, no entanto o Lus foi ao cinema p

    NO ENTANTO (PORM/CONTUDO/TODAVIA/MAS /)

    no r

    [r]

    Introdutor de concluso

    Apesar de Embora

    estar a chover, chovesse, o Lus foi ao cinema

    APESAR DE EMBORA

    p , no r

    [r] Introdutor de argumento anti-orientado com valor de oposio concesso

    Estou muito cansada. De facto, trabalhei todo o dia. r EFECTIVAMENTE,

    (DE FACTO, / COM EFEITO, ) p

    Introdutor de argumento com valor de confirmao

    3. Em vez de concluso: um exerccio de anlise

    Qualquer concluso provisria: mais haveria a dizer sobre a questo dos organizadores textuais. Mas tudo tem o seu espao e o seu tempo. Vamos ento partir para o que agora importa: a anlise prtica.

    Tendo em conta o texto que a seguir se apresenta29, proponha uma anlise orientada em funo da ocorrncia de organizadores textuais : identifique os organizadores mais relevantes (admitindo que a anlise no ser exaustiva), refira a categoria a que pertencem, descreva o seu comportamento. Bom trabalho!

    29 Por favor, no tenha em conta os sublinhados devem-se apenas a uma dificuldade tcnica!

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