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Rio de Janeiro e Natal agitam nefrologia brasileira em 2000 EDITORIAL E ste número do SBN Informa traz matérias sobre os eventos científicos da Sociedade Brasileira de Nefrologia e temas de interesse geral. Cabe observar, entretanto, que o volume de assuntos oriundos da área médica veiculados pela mídia chega a ser torrencial. No campo específico da nefrologia, há a publicação da nova portaria regulamentadora da prestação de serviços de diálise, que por si só geraria uma edição extra sob a forma de fórum de debates – objetivo de futuro próximo. A CPI dos medicamentos vem chegando às casas dos telespectadores que possuem TV a cabo, de maneira viva, permitindo o debate e a formação de opinião. As dificuldades para a implantação dos medicamentos genéricos têm gerado cenas dignas de espetáculo circense, assistido de pé pela “galera” pedindo bis. Desnudam-se ao vivo e em cores relações incestuosas praticadas por setores da área médica com laboratórios farmacêuticos e indústrias de equipamentos, e destes com o poder institucional. Por outro lado, ameaças de surtos de febre amarela, dengue e leptospirose não saem das páginas dos noticiários. Em quase todos os Estados do país, os inúmeros processos impetrados pelo Ministério Público revelam a inquietação dos pacientes com o tipo de atendimento que vêm recebendo do SUS e dos convênios. Em nenhum momento, entretanto, observam-se providências efetivas para a melhora da gestão e do financiamento dos procedimentos de saúde. Ao largo, a população – cujos dramas são banalizados pela mídia – a tudo assiste impotente, mas em franca acumulação de forças. A organização das forças vivas da sociedade, embora custosa e árdua, parece ser a única alternativa para refletir sobre saídas e soluções para o momento. Questões para o momento Maurício Younes-Ibrahim e José Bruno de Almeida, presidentes dos congressos do Rio de Janeiro e de Natal D ois eventos importantes marcam este ano para a nefrologia brasileira: o XX Congresso Brasileiro de Nefrologia, de 24 a 27 de setembro, em Natal, e o 2 o Congresso Latino-americano de Insuficiência Renal Aguda, de 17 a 19 de maio, no Rio de Janeiro. A programação do congresso brasileiro traz novidades, como simpósios clínico-fisiopatológicos. O Prêmio Oswaldo Ramos, em sua primeira edição, será entregue a um jovem cientista que tenha con- tribuído para o avanço da pesquisa científica em nefrologia. O Congresso Latino-americano de Insuficiência Renal Aguda tratará os diversos aspectos dessa síndrome clínica. Segundo Maurício Younes-Ibrahim, presidente do congresso, “a insuficiência renal aguda representa um grande segmento das doenças renais e é o que mais cresce no mundo” O prazo para entrega de abstracts foi prorrogado até o dia 20 de março. Confira os detalhes da programação dos eventos e as expectativas dos responsáveis pela organização. Págs. 4 e 5 Júlio Vilela Entidade quita pagamento de nova sede e otimiza seus gastos Presidente da ASN comenta relações entre a nefrologia e a indústria A dívida referente à compra da nova sede da SBN está paga, o número de sócios aumentou, os bens estão sendo patrimoniados e os dados digitalizados. Essas e outras informações estão na entrevista com Daniel Rinaldi dos Santos, tesoureiro da SBN desde 1997. Pág. 3 William Bennet, presidente da Sociedade Americana de Nefrologia, fez suas críticas às relações atuais entre a nefrologia e a indústria de medicamentos e equipamentos, na 52 a reunião anual da entidade. Confira uma parte do seu discurso nesta edição. Pág. 7 SBN INFORMA Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Nefrologia edição de janeiro/fevereiro de 2000 SBNInf_1.p65 07/02/01, 15:00 1

Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Nefrologia edição ... · eventos científicos da Sociedade Brasileira de Nefrologia e temas de interesse geral. Cabe observar, entretanto,

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Rio de Janeiro e Natal agitamnefrologia brasileira em 2000

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E ste número do SBN Informa traz matérias sobre oseventos científicos da Sociedade Brasileira de Nefrologiae temas de interesse geral. Cabe observar, entretanto, que

o volume de assuntos oriundos da área médica veiculados pelamídia chega a ser torrencial.

No campo específico da nefrologia, há a publicação da novaportaria regulamentadora da prestação de serviços de diálise,que por si só geraria uma edição extra sob a forma de fórum dedebates – objetivo de futuro próximo.

A CPI dos medicamentos vem chegando às casas dostelespectadores que possuem TV a cabo, de maneira viva,permitindo o debate e a formação de opinião. As dificuldadespara a implantação dos medicamentos genéricos têm geradocenas dignas de espetáculo circense, assistido de pé pela “galera”pedindo bis. Desnudam-se ao vivo e em cores relaçõesincestuosas praticadas por setores da área médica comlaboratórios farmacêuticos e indústrias de equipamentos, e destescom o poder institucional.

Por outro lado, ameaças de surtos de febre amarela, denguee leptospirose não saem das páginas dos noticiários. Em quasetodos os Estados do país, os inúmeros processos impetradospelo Ministério Público revelam a inquietação dos pacientescom o tipo de atendimento que vêm recebendo do SUS e dosconvênios.

Em nenhum momento, entretanto, observam-se providênciasefetivas para a melhora da gestão e do financiamento dosprocedimentos de saúde. Ao largo, a população – cujos dramassão banalizados pela mídia – a tudo assiste impotente, mas emfranca acumulação de forças. A organização das forças vivasda sociedade, embora custosa e árdua, parece ser a únicaalternativa para refletir sobre saídas e soluções para o momento.

Questões para o momento

Maurício Younes-Ibrahim e José Bruno de Almeida, presidentesdos congressos do Rio de Janeiro e de Natal

Dois eventos importantesmarcam este ano para anefrologia brasileira: o XX

Congresso Brasileiro de Nefrologia,de 24 a 27 de setembro, em Natal,e o 2o Congresso Latino-americanode Insuficiência Renal Aguda, de 17a 19 de maio, no Rio de Janeiro.

A programação do congressobrasileiro traz novidades, comosimpósios clínico-fisiopatológicos.O Prêmio Oswaldo Ramos, em suaprimeira edição, será entregue a umjovem cientista que tenha con-tribuído para o avanço da pesquisacientífica em nefrologia.

O Congresso Latino-americanode Insuficiência Renal Agudatratará os diversos aspectos dessasíndrome clínica. Segundo MaurícioYounes-Ibrahim, presidente docongresso, “a insuficiência renalaguda representa um grandesegmento das doenças renais e éo que mais cresce no mundo”

O prazo para entrega deabstracts foi prorrogado até o dia20 de março. Confira os detalhesda programação dos eventos e asexpectativas dos responsáveispela organização.

Págs. 4 e 5

Júlio Vilela

Entidade quita pagamento de novasede e otimiza seus gastos

Presidente da ASN comenta relaçõesentre a nefrologia e a indústria

A dívida referente à compra da nova sede da SBN está paga, onúmero de sócios aumentou, os bens estão sendo patrimoniados eos dados digitalizados.

Essas e outras informações estão na entrevista com Daniel Rinaldidos Santos, tesoureiro da SBN desde 1997.

Pág. 3

William Bennet, presidente da Sociedade Americana deNefrologia, fez suas críticas às relações atuais entre a nefrologiae a indústria de medicamentos e equipamentos, na 52a reuniãoanual da entidade.

Confira uma parte do seu discurso nesta edição.Pág. 7

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SBNInf_1.p65 07/02/01, 15:001

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Os documentos necessários paracadastro na Furp (Fundação para oRemédio Popular) variam conformea instituição que queira comprar osremédios produzidos pela fundação.

As instituições particulares quequeiram se cadastrar devemapresentar: 1) requerimento aosuperintendente da Furp solicitandoo cadastro; 2) endereço completopara faturamento, cobrança eentrega dos medicamentos; 3) cópiado cartão do CNPJ atualizado (nãoé válido o carimbo); 4) nome etelefone da pessoa responsável pelosetor de pagamento e compras; 5)telefax e telefones; 6) no mínimo 5referências de fornecedores (nome,endereço, cep, telefone e fax); 7)cópia do balanço do último exercício;8) cópia do ato legislativo quedeclara a instituição de utilidadepública; 9) cópia do alvará sanitárioemitido e assinado pela VigilânciaSanitária, ou licença de funciona-mento municipal, estadual ou federal;10) cópia do termo de res-ponsabilidade técnica, emitido pelaautoridade sanitária competente.

Para as prefeituras que queiramobter o cadastro, são solicitadosainda os nomes do prefeito e dosecretário municipal de saúde. Adeclaração de isenção pode substi-tuir a cópia do alvará sanitário. Nãosão necessários os itens 6 ,7 e 8.

Outros órgãos públicos tambémnão precisam apresentar os itens 6,7 e 8 e estão autorizados a entregara declaração de isenção. Alémdisso, é preciso enviar o estatuto oulei instituidora, no caso de fundomunicipal de saúde (se não tiverCGC próprio, utilizar o mesmo daprefeitura, acompanhado de auto-rização do prefeito).

Dos sindicatos com intenção de secadastrar são exigidos os mesmosdocumentos que das instituiçõesparticulares, mais cópia da cartasindical. O material deve ser enviadopara Rua Endres, 1800, CEP 07043-902, Guarulhos, SP, fax: (0xx11)6421-3570, a/c Dilma.

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Furp divulgadocumentos para

cadastro

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“Sou nefrologista com título hámais de 10 anos e gostaria detrabalhar numa capital doNordeste. Tel: (0xx47) 222-0264,email: [email protected]

Elpídio Marcos

No último dia 2 de fevereiro,desembarcou na praça maisuma portaria regulamentandoa prática dos serviços de diáliseno Brasil (do Oiapoque aoChuí). Alcunhada de portariaMedina, por ter sido organi-zada pelo nefrologista JoséMedina na qualidade de asses-sor do Ministério da Saúde, aportaria no 82, de 3 de janeirode 2000, é apenas mais umaportaria com erros e acertos emseus artigos e alíneas.

Em quase nada diferente daantiga Portaria 2.042, editadahá somente quatro anos, a atualapenas abre caminho para a

Nova portaria sobre diálise não traznovidades, afirma direção da SBN

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implantação das unidades deCAPD, ainda a serem regula-mentadas, sem apontar alterna-tivas de custeio para as exigên-cias cobradas, segundo váriosnefrologistas consultados.

A regulamentação publicadaestá a exigir estudo mais apro-fundado do Departamento deDiálise e Transplante da Socie-dade Brasileira de Nefrologia ,que não participou de sua con-fecção. O recente trabalhopublicado pela nefrologistagaúcha Beatriz Kotek Selistrena revista Med on Line( w w w. m e d o n l i n e . c o m . b r )permanece, portanto, atual.

SBN INFORMA

EDITOR

Ruy A. Barata

EDIÇÃO EXECUTIVA

Publishing Solutions

SECRETÁRIA

Rosalina Soares

SOCIEDADE BRASILEIRA DENEFROLOGIARua Machado Bittencourt, 2055o andar, conj. 53, V. ClementinoCEP 04044-000, São Paulo, SPFONES: (0xx11) 570-1242 e

(0xx11) 5080-3630FAX: (0xx11) 573-6000EMAIL: [email protected]: http://www.sbn.org.br

DIRETORIA

PRESIDENTE

João Cezar Mendes Moreira

VICE-PRESIDENTEWagner Moura Barbosa

SECRETÁRIA GERAL

Maria Almerinda Alves

1O SECRETÁRIO

Antonio Américo Alves

TESOUREIRO

Daniel Rinaldi dos Santos

DEPARTAMENTOS

DEFESA PROFISSIONAL

Ruy A. Barata

DIÁLISE E TRANSPLANTE

Hugo Abensur

ENSINO, RECICLAGEM E TITULAÇÃO

Nestor Schor

FISIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA RE-NAL

Luis Yu

HIPERTENSÃO ARTERIAL

José Nery Praxedes

INFORMÁTICA EM SAÚDE

Daniel Sigulem

NEFROLOGIA CLÍNICA

Rui Toledo Barros

NEFROLOGIA PEDIÁTRICA

Júlio Toporoviski

PROJETO GRÁFICO, EDITORAÇÃO

ELETRÔNICA E ARTE-FINAL

Publishing Solutionsemail: [email protected]

PUBLICIDADE

Marcelo GonçalvesTelefone: (0xx11)214-2681Fax: (0xx11) 3159-0620

Os artigos assinados não refletem necessa-riamente a opinião do jornal.

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A medicina brasileira perdeu um de seus grandes nomes com ofalecimento, em 17 de janeiro, do cardiologista e pneumologista MarioRigatto, aos 71 anos, em Porto Alegre, onde atuava como professortitular no Hospital de Clínicas e no Departamento de Medicina Internada Faculdade de Medicina da UFRGS. Rigatto foi também pesquisadordo CNPq e membro titular da Academia Nacional de Medicina.

Faleceu no dia 31 de janeiro, aos 56 anos, o nefrologista Patrício StavaleMalheiro. Cumpre destacar que a atuação de Patrício Stavale honrou eengrandeceu a nefrologia basileira.

Nascido em 29 de agosto de 1943, descobriu sua vocação ao lado do pai,também médico, a quem ajudava em seu laboratório de patologia clínica.Aos 21 anos, ingressou na Faculdade de Medicina da USP, onde se graduouem 1969. Iniciou a residência médica na Disciplina de Clínica Médica e aseguir na Disciplina de Nefrologia, atraído pelos avanços na área e influenciadopelos professores José de Barros Magaldi, Emil Sabbaga, MarcelloMarcondes e Gerhard Malnic. Terminada a residência, iniciou a pós-graduação no Instituto de Biociências da USP, na área de fisiologia renal,passando a integrar o corpo docente da USP. Ministrou propedêutica e clínicamédica durante 11 anos.

Em 1980 completou o doutorado. Ingressou como membro-fundador naLiga de Hipertensão Arterial do HC em 1981. Em 1986 consolidou o Grupode Insuficiência Renal Aguda, que percorria as diversas unidades do chamadoComplexo HC, avaliando e seguindo os pacientes, orientando as equipes eensinando internos, residentes e pós-graduandos.

Em 1987, criou a Unidade de Terapia Intensiva da Disciplina de Nefrologia,que passou a dar suporte aos casos críticos de insuficiência renal aguda nasdiversas unidades do HC.

Patrício participou intensamente das atividades científicas da SBN. Oseu falecimento deixa em todos nós um grande sentimento de perda,consternação e pesar.

José Nery PraxedesDiretor de Hipertensão Arterial da SBN

UTI da Nefrologia da USPperde seu fundador

Cardiologista e pneumologistaMário Rigatto morre aos 71 anos

SBNInf_1.p65 07/02/01, 15:002

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Qual é a atual situaçãofinanceira da SBN? Como elaestava quando o sr. iniciou a suagestão, em 1997?

Daniel Rinaldi dos Santos – Umponto básico que devemos destacaré que assumimos a diretoria da SBNcom uma dívida de R$ 115.500,18,referente à aquisição de nossa sedeprópria. Nós sanamos essa dívida,aumentamos o número de sócios ediminuímos a porcentagem de sóciosinadimplentes.

Conseguimos isso princi-palmente devido a uma racio-nalização dos gastos, o que nos dáuma certa folga financeira e não nosdeixa tão dependentes do paga-mento da anuidade e da renda doCongresso Brasileiro. Com certezadeixaremos para a próxima gestãouma situação muito mais con-fortável do que a que encontramos.

SBN equilibra suas contas etermina pagamento da nova sede

O ano 2000 começa bem financeiramente para a SBN. Já está paga a dívida referente à sedeprópria, que começa a ser mobiliada. Nesta entrevista ao SBN Informa, Daniel Rinaldi dos

Santos, tesoureiro da entidade pelo segundo mandato consecutivo, apresenta a situação financeirada sociedade e revela as prioridades para o ano que começa.

E quais são as prioridades pa-ra a utilização desses recursosem 2000?

Rinaldi – Temos algumasprioridades, que já estão sendoconduzidas. Todas visam a umaprofissionalização da administraçãoda SBN. Ainformatizaçãoé um pontoi m p o r t a n t e .Estamos fa-zendo um ca-dastro digita-lizado dos só-cios, como for-ma de criar umhistórico dainstituição. O registro das movimen-tações financeiras hoje é caseiro, equeremos deixar também isso infor-matizado para a nova diretoria. Alémdisso, estamos refazendo a nossa

Júlio

Vile

la

Daniel Rinaldi dos Santos,tesoureiro da SBN desde 1997

O Conselho Regional deMedicina de São Paulo (Cremesp)publicou, em 8 de novembro do anopassado, desagravo público dirigidoao nefrologista Pedro HenriqueMasjuan Torrecillas, que em 1987foi acusado de praticar eutanásiae comercialização de órgãos paratransplante no Hospital-escola daFaculdade de Medicina deTaubaté.

O processo começou quando o

diretor da faculdade enviou aoCremesp relatório questionando oslaudos de morte encefálica dospacientes doadores dos órgãos.Pedro Torrecillas era entãoresponsável pelo serviço denefrologia do hospital. Junto com ourologista Rui Sacramento e oneurologista Mariano Fiore Jr., quetambém foram acusados, elemontou um serviço de diáliseacoplado a um programa de

transplante renal. A equipe já tinharealizado 13 transplantes.

“As conseqüências dessasacusações injustas foram terríveis,pessoal e profissionalmente. Hojeo Vale do Paraíba não realiza maistransplantes renais, e eu deixei defazer o que mais sei. Mas nãoperdi as esperanças de trazer oserviço de volta para o Vale”,afirma o nefrologista.

“Estamos respondendo a um pro-

Conselho Regional publica desagravo aonefrologista Pedro Henrique Torrecilla

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cesso civil por homicídiodoloso, sendoprovável queestejamos di-ante do júri pa-ra finalmenteprovarmosn o s s ainocên-cia”, dis-se o mé-dico.

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1997 2000No de sócios 1.630 2.024

Dívida da sede R$ 115.500,18 –––

Disponibilidade bancária R$ 76.859,36 R$ 100.018,84

Pedro H.Torrecilla

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homepage e comprando novasmáquinas e softwares.

Além da informatização, queáreas terão investimentos?

Rinaldi – A área de comunica-ção está recebendo grandes inves-timentos. Já profissionalizamos

nosso boletim, oSBN Informa,e o JornalBrasileiro deNefrologia.Além disso,agora que asede está pa-ga, precisamosacabar de mo-biliá-la. Esta-

mos também patrimoniando nossospertences, tudo terá plaquinhas coma nossa identificação.

Em entrevista ao SBN Informade novembro do ano passado,João Cezar Moreira afirmou que,atualmente, os congressos esimpósios geralmente trazemprejuízos para a SBN, e colocou oagrupamento das regionais comopossibilidade de mudança dessasituação. Como isso poderiaacontecer?

Daniel Rinaldi – Hoje temosmuitos encontros em um curtoespaço de tempo, o que dificultaprincipalmente o acesso daspessoas. O agrupamento dasregionais abriria a possibilidade deuma unificação da programação, oque seria mais adequado e comcerteza aumentaria a participaçãoem todos os eventos.

InformatizaçãoR$ 17.641,50

Sede nova R$ 42.903,11

*jan/1997 a fev/2000

Despesas principais*

SBNInf_1.p65 07/02/01, 15:003

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SBN comemora seus 40 anos Dois eventos marcam este ano

brasileira: o XX Congresso Brasileiroa 27 de setembro em Natal, e o 2o

americano de Insuficiência Renal Agmaio no Rio de Jan

A programação do congresso brascomo simpósios clínico-fisiopatol

Oswaldo Ramos será entregue, em sum jovem cientist

O Congresso Latino-americano deAguda tratará os diversos aspecto

clínica. O prazo para entrega de absaté o dia 20 de ma

Natal recebe de 24 a 27 desetembro de 2000 osparticipantes do XX

Congresso Brasileiro de Nefrologia.O evento, que engloba o X CongressoBrasileiro de Enfermagem emNefrologia, também é conhecidocomo Nefro 2000.

A programação traz algumasnovidades. Segundo José Bruno deAlmeida, presidente do congresso,elas são devidas principalmente àsnovas tecnologias, em especial àInternet. “Tradicionalmente, boa partedos médicos vinha aos congressospara uma atualização. Isso já não émais suficiente. As informaçõesmédicas mais atualizadas podem serconseguidas rapidamente e muitasvezes em tempo real. Por essa razão,temos de criar outros atrativos paraos nossos congressos”, afirma.

O tema “nefrologia em doençasinfecciosas”, importante para médi-cos que trabalham em um país tropi-cal como o nosso, voltará a ser abor-

dado. Haverá também um debate so-bre o exercício da profissão, comparticipação de David Himmelstein,especialista em políticas de saúdepública da Harvard Medical School.As conferências abordarão novosespaços de atuação para os nefrolo-gistas nas unidades de terapia inten-siva e temas atuais de assuntos cujosespaços já conquistados precisam sermantidos. Além disso, serão introdu-zidos simpósios clínico-fisiopa-tológicos, para integrar a nefrologiabásica com a nefrologia clínica.

As inscrições podem ser feitas pelocorreio ou na secretaria executiva até25 de agosto, ou no local do evento apartir das 10h do dia 23 de setembro.A data final para entrega dosabstracts é 20 de abril. Mas, devidoà proximidade com o 2o CongressoLatino-americano de InsuficiênciaRenal Aguda, que será realizado emmaio, provavelmente haverá umaprorrogação de duas semanas (a serdivulgada na segunda circular).

O XX Congresso Brasileiro de Nefrologia será aberto comum histórico dos 50 anos da nefrologia brasileira e com aapresentação da Campanha Nacional de Prevenção de DoençasRenais. A idéia do projeto é instituir um dia nacional deesclarecimento sobre prevenção de doenças renais.

No dia 27 de maio, coincidindo com o término do evento, seráencerrada a campanha “Semana Nacional de Doação deÓrgãos”, criada no ano passado pela Associação Brasileira deTransplante de Órgãos (ABTO) e pelo Ministério da Saúde. Opresidente da ABTO, Henry Campos, participa da ComissãoCientífica do Nefro 2000. Será entregue também o PrêmioOswaldo Ramos, criado em homenagem ao fundador e ex-presidente da SBN, que faleceu em maio de 1999. A idéia épromover uma premiação por contribuição científica expressivaà nefrologia brasileira. As regras estão sendo elaboradas peloDepartamento de Ensino, Titulação e Reciclagem da SBN.

Encontro lançará campanha para prevenção

Secretaria executivaEventus SystemRua Oito de Dezembro, 54740150-000 Salvador, BATel: (0xx71) 264-3477Fax: (0xx71) 264-0508Email: [email protected]

Agência de viagens oficialEventus TurismoRua Oito de Dezembro, 54740150-000, Salvador, BATel: (0xx71) 264-3847Fax: (0xx71) 264-0779Email: [email protected]

Maiores informações sobre aprova para oTítulo de EspecialistaSociedade Brasileira deNefrologiaRua Machado Bittencourt, 205,Conj. 53, Vila Clementino04044-000, São Paulo, SPTel: (0xx11) 570-1242 e (0xx11) 5080-3630Fax: (0xx11) 573-6000Website: www.sbn.org.br

XX Congresso Brasileiro deNefrologia

• Sociedade de Nefrologia doEstado do Rio Grande do Norte• Sociedade Brasileira deNefrologia

José Bruno de Almeida,presidente do evento

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Júlio Vilela

SBNInf_1.p65 07/02/01, 15:004

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O 2o Congresso Latino-americano de InsuficiênciaRenal Aguda acontece

este ano de 17 a 19 de maio, no Riode Janeiro. O evento é promovidopela Sociedade de Nefrologia doEstado do Rio de Janeiro (Sonerj)com apoio da Sociedade Brasileirade Nefrologia (SBN), Sociedade La-tino-americana de Nefrologia eHipertensão (SLANH), Sociedadede Nefrologia do Estado de SãoPaulo (Sonesp) e SociedadeInternacional de Nefrologia e serárealizado no Centro de Convençõesdo hotel Rio Othon Palace.

“A insuficiência renal aguda (IRA)representa um grande segmento danefrologia. Apesar do avanço tecno-lógico, é um dos que mais crescemno mundo, representando quase 50%das mortes ligadas a segmentosrenais”, destaca o presidente docongresso, o nefrologista MaurícioYounes-Ibrahim. “Devemos reunir amaior parte dos especialistas quetrabalham nessa área, aproveitando

nos com dois grandes eventos

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rcam este ano para a nefrologiaesso Brasileiro de Nefrologia, de 24m Natal, e o 2o Congresso Latino-iência Renal Aguda, de 17 a 19 deno Rio de Janeiro.

congresso brasileiro traz novidades,línico-fisiopatológicos. O Prêmioentregue, em sua primeira edição, a

m jovem cientista.o-americano de Insuficiência Renalversos aspectos dessa síndromeentrega de abstracts foi prorrogado

o dia 20 de março.

suas diferentes experiências. Anefrologia brasileira tem contribuídode maneira importante para oconhecimento da fisiopatologia e dotratamento da IRA.”

A América-latina apresenta umquadro particular no que diz respeitoàs causas da IRA, e esse congressorepresenta um momento importantepara uma aproximação entre asdiversas entidades. “Além das causaspresentes no Primeiro Mundo, temostambém que enfrentar as causas deorigem infecciosa, que acompanhamcatástrofes naturais e condições dehigiene precárias”, diz o nefrologista.Isso coloca para os nefrologistaslatino-americanos uma granderesponsabilidade pela organização deiniciativas que tragam melhorcompreensão da IRA e melhoratendimento aos pacientes.

Durante o congresso haverá umareunião, patrocinada pela SociedadeInternacional de Nefrologia, para aformação de uma força-tarefa emIRA na América Latina.

Secretaria executivaExcellence EventosCaixa Postal 9214825741-970 Itaipava, Petrópolis, RJTel/Fax: (0xx24) 222-3365Email: [email protected]

Agência de viagens oficialHavas Creative ToursRua Visconde de Pirajá, 623, grupo 80522410-003 Rio de Janeiro, RJTel: (0xx21) 511-1100Fax: (0xx21) 511-2323

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2o Congresso Latino-americanode Insuficiência Renal Aguda

• Sociedade de Nefrologia do Estadodo Rio de Janeiro• Sociedade Brasileira de Nefrologia• Sociedade Latino-americana deNefrologia e Hipertensão•Sociedade Internacional deNefrologia

O prazo para entrega dosabstracts para o 2o CongressoLatino-americano de InsuficiênciaRenal Aguda foi prorrogado até odia 20 de março.

Para reforçar a afirmação de queo conteúdo do congresso geraráinformações importantes, MaurícioYounes-Ibrahim, presidente docongresso, lista alguns dosencaminhamentos já previstos: “Osabstracts serão publicados noJornal Brasileiro de Nefrologia,os “proceedings” na Renal Failure,e já está sendo negociado umsuplemento da Nephrology, Dialyzeand Transplantation. Estamos emnegociação também para que ocongresso seja credenciado junto à

Abstracts podem ser enviados até 20 de marçoAssociação Médica Americana,para que seja reconhecido comoparte dos eventos que contamcréditos para a prova de especialistanos Estados Unidos”.

As vagas para o congresso sãolimitadas (700), e por isso a comissãoorganizadora pede que as inscriçõessejam feitas o mais cedo possível.Já estão programados dois cursospré-congresso, com o tema“Métodos de depuração extrarenalna insuficiência renal aguda”. Um édirigido a nefrologistas, clínicos,médicos de terapia intensiva,residentes e estudantes em geral, eo outro aos profissionais deenfermagem e de outras áreas dasaúde, cada um com 200 vagas.

Maurício Younes-Ibrahim,presidente do evento

Júlio Vilela

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Evento sobre IRA noRio será em maio

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Produtos para HemodiáiseEvolução Constante

A marca FARMARIN é sinônimo de qualidade,com tradição de uma década a serviço da saúdegarantindo segurança absoluta para o paciente

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“Quando paramos para refletirsobre o século vindouro e olhamospara o que passou, vemos que osavanços em nossa disciplina foramverdadeiramente notáveis. Pensandona nefrologia de 35 anos atrás, ocontraste com o momento atual égrande. Parapodermos olharnosso progres-so atual damelhor pers-pectiva, bastaolhar os índicesde mortalidadepor idade nosEstados Unidos nos últimos 40 a 50anos. Embora a maioria de nossospacientes ainda morra de doençascardíacas, a queda nos índices demortalidade devida a essa causaaconteceu, do meu ponto de vista,principalmente devido aos avanços notratamento médico, incluindo otratamento da hipertensão. Por isso,quando olhamos para o futuro,podemos ficar orgulhosos dasconquistas científicas e profissionaisem prol dos pacientes que servimos.O futuro científico é deslumbrante eas possibilidades ilimitadas.

Ainda assim, quando olho para ofuturo, meu entusiasmo é embaçadopor dois problemas potencialmenteimensos em suas implicações, e quenão são reconhecidos por muitos: acrescente influência da indústria e daeconomia na nefrologia e o númerodecrescente de clínicos-cientistas.

Em grande parte por causa deconsiderações econômicas, houveuma mudança significativa na ofertade assistência médica. Os médicosnão são mais considerados pelopúblico, e talvez até por si mesmos,defensores dos próprios pacientes.Sob o meu ponto de vista, a

profissão pode estar prestes aabdicar do seu direito natural, atradicional relação médico-pa-ciente. Tudo parece ser guiado pe-la idéia e percepção, não provadas,de que o alvo máximo do empre-endimento em assistência médica

é a economia de di-nheiro pela da ma-nutenção da saúdedos indivíduos. Osdoentes são consi-derados fracassos.Os médicos, paramuitos, são poucomais que técnicos

substituíveis cujos serviços sãocomprados e comercializados co-mo outras comodidades quaisquer.

Na nefrologia, a comercialização ea corporatização da prática médicaforam dramáticas. Empresas comacionistas anônimos estão interes-sadas nos preços das ações, não nodesempenho a longo prazo da compa-nhia ou do empreendimento em assis-tência médica. Sob o meu ponto devista, a profissão foi cúmplice silen-ciosa dessa mudança intensa ocor-rida nos últimos dez anos. Centrosde saúde acadêmicos ou sem finslucrativos estão enfrentando pro-blemas financeiros ao tentaremcumprir suas missões. Uma forma deresolver isso é fa-zendo parceriascom a indústria.Muitos praticantesautônomos, cen-tros universitáriose hospitais semfins lucrativos denefrologia venderam sua operaçãopara companhias de capital aberto deWall Street. Nos Estados Unidos,unidades de diálise vêm sendocompradas a uma base de 40 mil a

60 mil dólares por paciente. Seo preço da ação em Wall Streetcai, ou ocorre qualquer outroameaça ao reembolso, irá aindústria permanecer engajadaou desaparecer? Isso deixariaa responsabilidade pelos pa-cientes para o governo, institui-ções públicas e clínicos autô-nomos. Por que, afinal, WallStreet e os provedores de diáli-se estariam interessados nessa área,na qual existem reembolsos capita-lizados virtualmente que não sãomodificados desde os anos 70? Elespodem estar interessados por causada habilidade de explorar vantagensno transporte de produtos farmacêu-ticos, mercadosinternacionais eda oportunidade,para as compa-nhias integradasverticalmente,de vender seusoutros produtos,incluindo dialisadores, equipamentose serviços de enfermagem e técnicos.Quando a fase de consolidação tiverterminado, acredito que os provedo-res de diálise, para permanecer nonegócio, devam controlar seu customáximo variável. Isso está relacio-nado aos médicos e seu compor-

tamento. Dessamaneira, as fron-teiras éticas e arealidade das rela-ções entre a ne-frologia e a indús-tria foram obscu-recidas.

Como ilustração da influência daindústria no comportamento domédico, permitam-me utilizar oexemplo simples da eritropoeitina, quemudou a vida de tantos de nossos

pacientes. Quando era poucolucrativo para os provedores usarmais eritropoietina, as dosagens erambaixas, apesar de hematócritos sub-ótimos. Quando, devido a mudançasna política de reembolso, o uso degrandes quantidades se tornou

lucrativo, dosescrescentes segui-ram rapidamente.As prescrições e-ram feitas baseadasnão na melhor prá-tica médica, massim na política de

reembolso.Desde 1989, sob regulamentação

decretada pelo Congresso, propostapelo congressista Pete Stark, da Cali-fórnia, foi proibida a indicação de pa-cientes para entidades como labora-tórios clínicos nos quais os médicos ouseus parentes têm investimentos.Unidades de diálise são uma exceçãoespecífica e, no meu ponto de vista,lógica sob a regulamentação de Stark.De qualquer maneira, o escrutínio fei-to pelo inspetor geral vem crescendo,como se essa exceção fosse usadapara aumentar a recompensa domédico, pela ligação entre a funçãode diretor médico da unidade e ovolume de pacientes a quem éoferecida a oportunidade da diálise. Seisso for verdade, a ética médica e a leiestarão seriamente comprometidas.”

Presidente da Sociedade Americana de Nefrologiacritica relação entre a carreira e a indústria

A s relações da nefrologia com a indústria e o declínio do número de médicos-cientistas nosEUA são os temas abordados por William Bennet, presidente da Sociedade Americana deNefrologia, em seu discurso na abertura da 32a reunião anual da sociedade, realizada em novembro

de 1999 em Miami Beach. Confira aqui um resumo da primeira parte do discurso. A segunda será publicadaem uma próxima edição.

“Os avanços emnossa disciplina foramnotáveis. Podemosficar orgulhosos dasconquistas”

William Bennet

“As prescrições eramfeitas baseadas não namelhor prática médica,mas sim na política dereembolso”

“As fronteiras éticas ea realidade dasrelações entre anefrologia e a indústriaforam obscurecidas”

Divulgação

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Há pouco Luzia esturricavaao Sol. Desde os primei-ros raios do dia, estivera

sentada num banco de madeira àsportas de um hospital da cidade deSão Paulo. Trazia um pedaço depapel amarfanhado pelos dedostrêmulos, que recebera como se-nha para atendimento. Lá dentro,um permanente entra e sai. Uni-formes brancos em passos apres-sados desfilavam a seus olhos en-sombrecidos pelo mormaço. As si-renes de ambulâncias que chega-vam a curtos intervalos trazendopacientes ememergência se-quer alteravamsua fisionomiaresignada e so-nolenta. Ao seulado, outros pa-cientes tagare-lavam. Reclamavam dos seus ma-les e da massacrante espera. Vá-rias vezes supôs que poderia le-vantar-se e retornar para casa, masque casa? A de Itaquaquecetuba,na periferia de São Paulo, ou a deIlhéus, na Bahia? O espectro dainfância feliz no cacaueiro nave-gava em sua visão embaçada. Àsvezes catava uma carteira econtemplava fotografias desbo-tadas encobertas pelo plástico arra-nhado. Luzia sobrevivia a seu paté-tico momento. Vez por outra levavaa mão à boca e esvaziava o pul-mão, em prolongados acessos detosse. Uma sonolência leve veiochegando. Luzia pendeu a cabeçae mergulhou no sono. Os roncos eo hálito que exalava expeliram seuscompanheiros de banco para outrolugar.

– Isto lá é lugar pra mulher bê-bada vir curar ressaca? – protes-tou uma irritada senhora apoiadanas muletas.

Uma golfada de vômito espessobrotou do canto da boca de Luzia.

– Desse jeito nesse banco ninguémmais vai poder sentar! – reclamavaoutro senhor, de ralos cabelosgrisalhos, enquanto aguardava maisuma sessão de quimioterapia.

De repente, Luzia começou a tre-mer. Primeiro os braços, depois aspernas e a seguir a cabeça. Tragadapor um terremoto brotado de suasentranhas, Luzia tremia toda e babavacomo se fosse quebrar-se ao meio.

Eram cinco horas da tarde quandoela, em convulsão, foi levada às pres-

sas para o centro deemergência. Umtubo lhe foi im-plantado goela a-baixo e um cateterpara veia profundaperfurou-lhe a re-gião infraclavicular.

Frascos de soro começaram a pingarrapidamente pela conexão estabele-cida. Sua pele seca e frágil foi, porvárias vezes, espetada por agulhasque buscavam artérias e veias paracoleta do sangue. Uma sonda grossapenetrou-lhe a uretra à caça de uri-na para exames. Exames para inves-tigação da oxigenação do sangue, daglicose e da função hepática e renalforam feitos em caráter de urgência.

Enquanto Luzia dormia profun-damente pela ação dos 10 mg de dia-zepan que lhe acalmaram a tem-pestade convulsiva, o respirador me-canicamente marcava o ritmo emsopradas cadenciadas, que se fun-diam ao ruído dos bips dos monitores,qual metrônomo regendo estranhasinfonia. Para Luzia, nua em baixode finos lençóis, o tempo escoava.

O resultado dos exames foi taxa-tivo: insuficiência renal crônica.Uremia, como diziam os antigos.

– Precisa fazer hemodiálise agora,senão vai morrer. Com 8 de potássio

e 500 de uréia não se pode correr orisco de deixar a diálise para amanhã– gritou, excitado, o médico residente.

– Como é que ninguém viu essa mu-lher desde a manhã sentada aí? – ex-clamou, irritada, a enfermeira-chefeao se deparar com o número da senha.

O nefrologista foi chamado. A dra.Rita chegou às 2h30 da manhã, depoisde percorrer 30 quilômetros, desde suacasa até o hospital. Luzia ressonavaem coma profundo. Sonhava comIlhéus, com Mário, o marido (ondeandará?), e com os caroços de cacauque lambia, em época de colheita, nafazenda onde passou a infância.

A sessão de hemodiálise começouquando o relógio marcava 3h10. Adra. Rita conduzia o processo defiltragem do sangue numa com-plicada máquina cheia de botões eluzes verdes e vermelhas. O sanguecorria velozmente nas tubulações,impulsionado por uma bombarotativa, enquanto Luzia atravessavaa profundeza abissal.

Às 6h da manhã Luzia começou adar sinais de vida consciente. É re-tirada do respirador mecânico. Zeca,Donizete e Bruno são nomes que,agora, ela balbucia a cada momento.São seus filhos que ficaram em casa.

Trinta e oito anos foram vividos porLuzia até esse momento. Seus do-cumentos dizem que nasceu em 24de dezembro de 1961, na cidade deIlhéus, na Bahia, eatualmente moraem Itaquaquece-tuba, em São Paulo.

O serviço socialdo hospital, aciona-do para uma visitadomiciliar, cons-tatou que Luzia mora numa casa dedois cômodos com Mário, o maridoalcoólatra, desempregado, e três filhos,sendo que Bruno, de seis anos, éportador de leucemia e faz tratamento

no Hospital A. C. Camargo. Luziatrabalha como empregada domésticanuma casa do Jardim Europa.

O Sol já ia alto quando Luzia foiconduzida para a enfermaria de ne-frologia, depois de prolongadasessão de hemodiálise. Dormia fun-do e respirava calmamente. A dra.Rita manteve-se atenta, a cadamomento examinando os sinaisvitais da paciente. Os examesdenunciavam que dali em dianteLuzia passaria a depender de hemo-diálise, pois a doença silenciosa etraiçoeira tinha exaurido todas asreservas funcionais dos rins.

Às 8h30 da noite, Luzia abriu osolhos. Contemplando a imagem deMaria Santíssima na parede doquarto, exclamou:

– Oh minha Mãe, será que jácheguei no céu?!

Da televisão do corredor ouvia-se o Jornal Nacional, transmitindouma entrevista com o ministro daSaúde: “As críticas sem fundamentonada constroem. Servem apenaspara confundir e estabelecer o pâ-nico onde não há. De 1994 até hojeo orçamento da Saúde simples-mente dobrou. Os programas deatendimento domiciliar estão emfranco andamento, procurandomais prevenir do que remediar, oque é muito melhor. Conseguimostambém democratizar o trans-

plante renal, pormeio da filaúnica. Só nesteano dobramos onúmero total detransplantes”.

Extenuada ecom os olhos

vermelhos, a dra. Rita pegou a bol-sa. Desceu em direção ao seu carro,que a conduziria de volta para casa,depois de mais um encontro com arealidade.

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Ruy A. Barata������������������������������

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