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250 ORNITOLOGIA BRASILEIRA há pouco como espécie independente, . lem- bra quanto ao colorido o gavião-de-penacho, (v. este e Introdução). De ocorrência local; pou- co conhecido. Ocorre do norte da América do Sul a Bolí- via e Argenhna; Brasil amazônico e centro-meridional, in- clusive no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. GAVIÃO-MIúDo, Fig. 73 30cm. Espécie pequena (o macho tem somente o porte de um sabiá), excepcionalmente delgada, tendo a cauda e dedos muito longos e o corpo delicado. Flancos e cal- ções ferrugíneos uniformes. Caça pequenas aves. O ali- mento de um nos EUA constitui-se em 97,7% de aves e 2,3% de mamíferos (Storer 1966). Embo- ra geralmente mantenha-se oculto na mata fechada, oca- sionalmente voa abertamente de uma mata a outra exi- bindo então as partes inferiores barradas; também fre- qüenta as cercanias de habitações. Ocorre da América do Norte à Argentina; Brasil central e merídio-oriental (inclusive o ex-Estado da Guanabara) até o Rio Grande Fig.73.Gavião-miúdo, fêmea imatura. do Sul. [Foi proposto recentemente tratar . s como superespécie composta de quatro aloespécies, cuja for- ma . seria a única ocorrente no Brasil (Sibley & Monroe 1990). O seu encontro recente no sul do Ceará estende ao Nordeste sua área de dispersão (Pacheco & Whitney 1995).] ÁGUIA-CHILENA, noleucus 66cm, envergadura de quase dois metros. Espécie me- ridional de grande porte tendo a cauda tão curta que, em vôo, mal sobressai do contorno.posterior das asas que são muito largas; cabeça bastante protusa. Partes superiores ardósias, as coberteiras superiores das asas formam larga área cinza-esbranquiçada: partes inferio- res brancas, papo pardacento. Imaturo estria do apresen- tando a cauda mais longa. São citados como presa: pe- quenos mamíferos, répteis e aves. Encontramo-lo comen- do carniça; foi visto quebrar um ninho de joão-de-barro .para tirar-lhe os filhotes. Grande planador. Vive em re- giões campestres e montanhosas. Ocorre da Terra do Fogo pelos Andes até a Colômbia e Venezuela; também chega ao Brasil no Rio Grande do Sul (nidificando), Santa Catarina, Paraná e, ocasionalmente, por exemplo em São Paulo, Minas Gerais (Caraça, julho de 1974 e Serra do Cipó), noroeste da Bahia (agosto de 1976), Piauí (Sick 1979), Rio Grande do Norte (nidificando, outubro) e Maranhão. GAVIÃO-DE-RABO-BRANCO, Pr. 9, 6 55cm. Espécie campestre grande relativamente co- mum em lugares abertos. De asas compridas e largas e cauda curta, branca com faixa negra subterminal; gran- de mancha ferrugínea nas escapulares. O branco das partes inferiores por vezes estende-se até o mento. Há indivíduos totalmente negros mas com a cauda branca; imaturo de cauda cinzenta finamente barra da de preto e ventre manchado. "gliii klia-klia-klia", "güli ..." sen- do este último grito emitido durante seus imponentes vôos nupciais. Come grandes insetos, sapos (p. ex. dos quais retira apenas as pernas), ratos, gambás e cobras; apanha após a chuva minhocões Glossoscole gig nteus (Oligochaeta) que podem atingir mais de um metro (Itatiaia, Rio de Janeiro). Plana muito. Habita re- giões campestres, cerrado, buritizais, campos de altitu- de (p. ex. no Itatiaia). Ocorre do México à Argentina; na Amazônia apenas em algumas áreas campestres (Marajó, Amapá e Roraima). Amplia sua ocorrência no leste do Brasil favorecido pelo desmatamento; pode aparecer dentro de um grande centro urbano (cidade do Rio de Janeiro). "Gavião-fumaça". V. (que tem cauda semelhante) e "Cavião-de-cau- da-branca=", GAVIÃO-DE-RABO-BARRADO, SOcm.Em vôo imita quase perfeitamente um urubu- de-cabeça-vermelha, distinguindo-se pela cabeça emplumada de negro e não glabra e "seca" como a do e pela cauda mais retangular atravessada por três marcantes faixas cinzentas; lado inferior das asas com o padrão típico de duas cores distintas exatamente como em C es. Ima turo de cauda finamente barrada. Lança-se sobre pequenos animais terrícolas (v. Introdu- ção). Vive nas paisagens abertas, por exemplo, na caa-

Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-02

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250 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

há pouco como espécie independente,. lem-bra quanto ao colorido o gavião-de-penacho,

(v. este e Introdução). De ocorrência local; pou-co conhecido. Ocorre do norte da América do Sul a Bolí-via e Argenhna; Brasil amazônico e centro-meridional, in-clusive no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.

GAVIÃO-MIúDo, Fig. 73

30cm. Espécie pequena (o macho tem somente o portede um sabiá), excepcionalmente delgada, tendo a caudae dedos muito longos e o corpo delicado. Flancos e cal-ções ferrugíneos uniformes. Caça pequenas aves. O ali-mento de um nos EUA constitui-se em97,7% de aves e 2,3% de mamíferos (Storer 1966). Embo-ra geralmente mantenha-se oculto na mata fechada, oca-sionalmente voa abertamente de uma mata a outra exi-bindo então as partes inferiores barradas; também fre-qüenta as cercanias de habitações. Ocorre da Américado Norte à Argentina; Brasil central e merídio-oriental(inclusive o ex-Estado da Guanabara) até o Rio Grande

Fig.73.Gavião-miúdo,fêmea imatura.

do Sul. [Foiproposto recentemente tratar. s comosuperespécie composta de quatro aloespécies, cuja for-ma . seria a única ocorrente no Brasil(Sibley & Monroe 1990). O seu encontro recente no suldo Ceará estende ao Nordeste sua área de dispersão(Pacheco& Whitney 1995).]

ÁGUIA-CHILENA, noleucus

66cm, envergadura de quase dois metros. Espécie me-ridional de grande porte tendo a cauda tão curta que,

em vôo, mal sobressai do contorno.posterior das asasque são muito largas; cabeça bastante protusa. Partessuperiores ardósias, as coberteiras superiores das asasformam larga área cinza-esbranquiçada: partes inferio-res brancas, papo pardacento. Imaturo estria do apresen-tando a cauda mais longa. São citados como presa: pe-quenos mamíferos, répteis e aves. Encontramo-lo comen-do carniça; foi visto quebrar um ninho de joão-de-barro

.para tirar-lhe os filhotes. Grande planador. Vive em re-giões campestres e montanhosas. Ocorre da Terra doFogo pelos Andes até a Colômbia e Venezuela; tambémchega ao Brasil no Rio Grande do Sul (nidificando), SantaCatarina, Paraná e, ocasionalmente, por exemplo em SãoPaulo, Minas Gerais (Caraça, julho de 1974 e Serra doCipó), noroeste da Bahia (agosto de 1976), Piauí (Sick1979), Rio Grande do Norte (nidificando, outubro) eMaranhão.

GAVIÃO-DE-RABO-BRANCO,

Pr. 9, 6

55cm. Espécie campestre grande relativamente co-mum em lugares abertos. De asas compridas e largas ecauda curta, branca com faixa negra subterminal; gran-de mancha ferrugínea nas escapulares. O branco daspartes inferiores por vezes estende-se até o mento. Háindivíduos totalmente negros mas com a cauda branca;imaturo de cauda cinzenta finamente barra da de preto eventre manchado. "gliii klia-klia-klia", "güli ..." sen-do este último grito emitido durante seus imponentesvôos nupciais. Come grandes insetos, sapos (p. ex.

dos quais retira apenas as pernas), ratos, gambáse cobras; apanha após a chuva minhocõesGlossoscolegig nteus (Oligochaeta) que podem atingir mais de ummetro (Itatiaia, Rio de Janeiro). Plana muito. Habita re-giões campestres, cerrado, buritizais, campos de altitu-de (p. ex. no Itatiaia). Ocorre do MéxicoàArgentina; naAmazônia apenas em algumas áreas campestres(Marajó,

Amapá e Roraima). Amplia sua ocorrência no leste doBrasil favorecido pelo desmatamento; pode aparecerdentro de um grande centro urbano (cidade do Rio deJaneiro). "Gavião-fumaça". V. (que tem caudasemelhante) e "Cavião-de-cau-da-branca=",

GAVIÃO-DE-RABO-BARRADO,

SOcm.Em vôo imita quase perfeitamente um urubu-de-cabeça-vermelha, distinguindo-se pela cabeçaemplumada de negro e não glabra e "seca" como a do

e pela cauda mais retangular atravessada portrês marcantes faixas cinzentas; lado inferior das asascom o padrão típico de duas cores distintas exatamentecomo emC es. Ima turo de cauda finamente barrada.Lança-se sobre pequenos animais terrícolas (v. Introdu-ção). Vive nas paisagens abertas, por exemplo, na caa-

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tinga, ao lado de [Freqüenta igualmente a MataAtlântica nordestina e as matas de "brejo" das serrasnordestinas, onde patrulha a copa das florestas]. Ocorreda Califórnia ao Paraguai e, esparsamente, no Brasil. [EmRoraima (Moskovitzet . 1985), Marajó (Pará), Nordes-te, onde é relativamente freqüente, Minas Gerais (Mattoset 1991), Espírito Santo (C.E.S. Carvalho), Rio de Ja-neiro (Luigi & Nacinovic 1991),Paraná, Distrito Federal(Negretet 1984) e Goiás, P. N. Emas(J. F.Pacheco, C.Bauer). "Gavião-caçador*".]

GAVIÃO-PAPA-GAFANHOTO, VN

50cm. Migrante setentrional relativamente grandee de asas largas. No Brasil predominam imaturos, quese distinguem por um desenho anegrado no papo, gar-ganta branca realçada de preto. Sociável. Insetívoro. Fa-moso por aparecer em massa na América Central en-quanto migra rumo ao sul, o que faz já no outono se-tentrional; inverna principalmente no pampa argenti-no, onde dá caça a gafanhotos ("langostero", Argenti-na). Em novembro de 1974 apareceram alguns indiví-duos em plena São Paulo (Campos Elíseos), em ocor-rência inesperada (Sick 1979); referências também doAcre (fevereiro, um exemplar anilhado em Oklahoma,EUA), Pará (Serra do Cachimbo, agosto),Maranhão,Mato Grosso (rio das Mortes, conteúdo estomacal, ga-fanhotos), Paraná (janeiro) e Rio Grande do Sul (novem-bro de 1977, anilhado como filhote em Alberta, Cana-dá, em julho do mesmo ano).

GAVIÃO-DE-ASA-LARGA, VN

[34-41cm] Migrante setentrional. Referências do no-roeste do Amazonas (dezembro) e sudoeste do MatoGrosso. [Outros registros recentes para osarredores-deManaus e Rondônia (Willis 1977, Stotzet 1992).

GAVIÃO-DE-SOBRE-BRANCO,

35cm. Pequena espécie florestal preta fuliginosa comcoberteiras superiores e inferiores da cauda brancas ecalções ferrugíneos. Espreita suas presas (p. ex. ratinhos)na mata; pousado sacode a cauda. Voaacima da florestaem círculos. Ocorre do Rio de Janeiro (nas montanhas)até o Rio Grande do Sul, Argentina e Paraguai; tambémnos Andes.

GAviÃo-DE-CAUDA-CURTA *,

48cm. De cauda curta, partes superiores e lados dacabeça pretos no adulto e pardos no imaturo, parfes in-feriores branco-puras; existe uma fase anegrada. Ocorredo Méxicoà Argentina, em todo o Brasil, inclusive noRio de Janeiro.

GAVIÃO-PEDRÊS,

43cm. Partes superiores cinza-claras, partes inferiorfinamente barradas de cinzento e branco; cauda atraves-sada por faixa branca anteapicallarga de 2cm. Imaturode bases das primárias amareladas. semelhanteàde , mas ainda mais prolongada.Vive à beira de campo. Ocorre dos EUAà Argentina eBrasil setentrional e este-meridional [até São Paulo(Willis & Oniki 1993)].

. GAVIÃO-CARIJÓ,

Pr. 7, 2 e 8, 1 .

36cm. O gavião mais abundante do Brasil, chega atéa metrópoles desde quehaja-arborização suficiente. In-confundível pela área ferrugínea da base das primárias,sendo esta menos acentuada que em ima-turos de ventre estriado. Chama a atenção por circularem casais, até sobre cidades, interrompendo o planarcom batidas rápidas, gritando. (correspon-dente ao canto), "at-at-gi, gi, gi". Caça grandes insetos,lagartixas, pequenas cobras e pássaros tais como rolas epardais; apanha morcegos em seus pousos diurnos. Umindivíduo, ao tentar retirar os filhotes de joão-de-barrodo ninho pagou com a vida a tentativa pois, ao quererdesvencilhar-se, ficou preso pela cabeça, perecendo. Voano aberto, aos casais, batendo rapidamente as asas edecrevendo círculos chamando a atenção pela caracte-rística gritaria que produzem. Aparecem até em áreascampestres desprovidas de qualquer arborização (RioGrande do Sul). Ocorrem do Méxicoà Argentina e emtodo o Brasil."Indaié", "Gavião-pega-pinto", "Gavião-indaié*". Difere notavelmente dos outros representan-tes do gênero que conhecemos; pela área alarferrugínea lembra da África. sdistingue-se dos verdadeiros o pela muda das pri-márias (Stresemann& Stresemann 1960). V go.

GAVIÃO-ASA-DE-TELHA, unicincius

48cm. Pardo-anegrado de escapulares e calções cas-tanhos, base e ponta da cauda branca; cera e pés amare-los. Consta que captura pássaros e roedores. Regiõescampestres com vegetação arbórea esparsa. Do sul dosEUA à Bolívia, Argentina e Uruguai; Brasil oriental,meridional e central. [A pouca informação recente dis-ponível sobre a presença da espécie no Brasil foi sinteti-zada (Pacheco 1994).]

GAVIÃO-POMBO-DA-AMAZÓNIA,

49cm. De tamanho meão; branco com dorso mancha-do de negro; asas largas negras, tendo nas coberteiras eterciárias a ponta branca; cauda curta negra de base elarga faixa terminal brancas; cera plúmbea, pernas ama-

., I

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relo-claras, assobio fino e prolongado,"jüíie". Caçapequenos mamíferos, répteis, anfíbios e grandes inse-tos; foi visto devorando um tucano-de-peito-amarelo(Amapá). Pousa abertamente na beira da mata, freqüen-temente patrulha em vôos circulantes, chamando aten-ção por sua brancura. Do Méxicoà Bolívia e Brasil ama-zônico até o Mato Grosso (rio das Mortes) e norte doMaranhão. "Cavião-branco?".

GAVIÃO-POMBO-GRANDE,

Am

52cm. Espécie de porte avantajado, semelhanteà des-crita a seguir quantoà plumagem; cauda branca combase negra:Imaturo de cabeça e pescoço superior rajados.

seqüência de assobios finos"bibibi.;" "bní-e", caçano solo aves e lagartixas; na região do [equitinhonha,Minas Gerais, mocós G. T. Mattos).Plana a pouca altura sobre a floresta alta. De Alagoas aoRio Grande do Sul, Misiones e Paraguài. Às vezes namesma região que No Rio de [a-ne.ro apenas em regiões montanhosas (Serra dos Órgãos,Itatiaia). V.

GAVIÃO-POMBA;

En Am Pr. 7,3

43cm, envergadura 96cm. De asas largas e cauda cur-ta; partes inferiores brancas tendo algum desenho ne-gro na face ventral das asas. Cauda branca com base efaixa estreita anteapical negras. Imaturo com o alto dacabeça estriado e costas manchadas de branco; caudacom mais desenho negro. Por causa da sua cor branca-pura (v. também outros ressalta-se a dis-tância quando empoleirado na orla da mata ou circu-lando em vôo baixo sobre as florestas da Serra do Mar,onde freqüenta principalmente os vales. Apanha besou-ros, aranhas, pequenas cobras, etc., no solo.É restrito aoBrasil oriental, [vive da Paraíba (Pacheco& Whitney1995)]Alagoas a Santa Catarina (inclusive no ex-estadoda Guanabara). [Mais ameaçado que L. por ha-bitar as florestas de baixa altitude que, indiscutivelmen-te, estão em situação ambiental mais delicada (Caliaret

1992). "Gavião-pombo-pequeno":"]

GAVIÃ0-DE-CARA-PRETA *,

[38-41,5cm] Representante pequeno de coloraçãoalvinegra, relativamente raro e restrito as florestas aonorte do Amazonas (fig. 74).

GAVIÃO-VAQUEIRO,

[37-40cm] De cera e pernas cor-de-laranja, restrito naAmazônia as florestas ao sul do Amazonas (fig. 74). For-

ma coma espécie anterior e. a superespécieL. . "Cavião-de-sobrancelha=".

GAVIÃO-AZUL,

46cm. Cinza-ardósia uniforme, cauda com uma fai-xa branca; cera e pernas laranjas. Espreita rãs, carangue-jos, peixes, cobras d'água, etc. Habita as beiras sombri-as de rios e lagos. Ocorre da Venezuelaà Bolívia, Ama-zonas, Pará (rio Guamá), Maranhão e Amapá. V.

.

GAVIÃO-BELO,

51cm. Espécie muito original; de asas longas e lar-gas ao contrário da cauda, que é extremamente curta.De cabeça branca, resto do corpo ferrugíneo; uma man-cha no papo, primárias e retrizes negras. Imaturo comas partes inferiores e cabeça amareladas e estriadas.um tossir bissilábico, "ha-iiii", lembrando um anu-co-roa ou jacu; assobios nasais. Pesca, seus dedos têm a faceplantar espiguilhada sendo provido de unhas longas erecurvas, próprias para segurar peixes, lembrando

come também insetos e moluscos aquáticos.Plana por horas a fio. Ocorre do Méxicoà Argentina,em quase todo o Brasil, onde houver extensos pântanos,banhados, campos inundados e manguezais, por exem-plo, no Mato Grosso e na parte oriental da Ilha de Marajó(Pará); também no Rio de Janeiro. "Gavião-lavadeira"(Mato Grosso), "Gavião-velho>", ["Gavião-panema","Gavião-balaio" (dois últimos no Solimões,J. F.Pacheco)]. V.as duas espécies que se seguem.

GAVIÃO-CABOCLO,

Pr. 9,4

55cm. Grande espécie campestre relativamente co-mum. Quase inteiramente ferrugíneo, com asas longase largas, lembrando uma águia, vivamente avermelha-das exceto nas pontas de todas as rêmiges (que são ne-gras) e em parte das coberteiras superiores (pardas); re-trizes negras atravessadas medianamente por faixa bran-ca e com a ponta esbranquiçada; partesinferíores aver-melhadas tão finamente barradas de negro que este éimpercetível à distância. Imaturo pardo-escuro apenascom as asas e calções ferrugíneos; faixa supra ocular epartes inferiores branco-amareladas sendo, estas últimasestriadas; cauda preta e cinzenta. assobio prolon-gado - , Espreita anfíbios, grandes insetos, caran-guejos, lagartos (p. ex. e , cobras, ocasio-

""nalmente aves, p. ex. procura queimadas, caçan-do a poucos metros das chamas andando vagarosamen-te pelo solo. Pousa ereto sobre cercas ou montes de ter-ra. Habita campos, beira de brejos, manguezais e o cer-rado. Ocorre do PanamáàArgentina, todo o Brasil, sen-do restrito na Amazônia. "Casaca-de-couro", "Gavião-

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telha" (São Paulo), "Gavião-fumaça" (Mato Grosso),",Gavião-tinga" (Pará). O imaturo pode lembrar um jo-vem de s . V. a espécie anterior e a seguinte.

CARANGUEJEIRO, e

44cm. O gavião mais típico dos manguezais. Lem-bra eog , de asas, cauda e pernas me-

nos longas. Cabeça, pescoço e partes superiores pardo-anegrados:lado superior das asas com ponta e bordasnegras e uma grande área ferrugínea; partes inferioresferrugíneas barra das de negro, cauda anegrada com aponta e estreita faixa transversal esbranquiçadas; regiãoperioftálmica amarela. Alimenta-se exclusivamente decaranguejos; circula voando a grande altura. Habita osmanguezais. Ocorre da Venezuela e Guianas ao Brasil,

L.me/anops

1

',I/acernulata

Fig. 74. Distribuição de q~a.troespécies de: (seg. Haffer 1987a).As três espécies brasileiras podem serconsideradas raças geograhcas oualoespécies. EnquantoL. está isolado na Mata Atlântica,L. melanops eL.

li estão separados pelo Amazonas.

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da foz do Oiapoque até São Paulo e Paraná (Paranaguá);não assinalado em Santa Catarina, embora os mangue-zais estendam-se até lá. "Gavião-do-mangue". Vs.

GAVIÃO-PRETO, e

63cm. De silhueta aquilina porém com dedos curtose pernas um tanto altas. Negro com as secundárias bar-radas de cinzento e base da cauda branca; cera e pernasamarelas uteog u. ubit a raça sul-america-na). Imaturo pardo-escuro estriado. bastante loquaz,emite seqüências prolongadas de rápidos "bi, bi, bi ...",Caça, na beira da mata e nos brejos, rãs (inclusive gran-des C , dos quais aproveita apenas as grandespernas traseiras), lagartixas, cobras (inclusive peçonhen-tas), ratos e insetos; apanha filhotes caídos ao solo emninhais de garças e colhereiros; não despreza carniça(Mato Grosso); pesca bem. Gosta de frutas (p: ex. docajá-mirim, pondi s lute . Ocorre do Méxicoà Argentina,todo o Brasil; não é raro. "Gavião-caipira", "Gavião-caripira" (Pará; c = agarrador, po = peixe),"Urubutinga", "Tauató-preto", "Gavião-fumaça","Cauã" (Minas Gerais). V etus t l1us (imaturo).

ÁGUIA-CINZENTA, Am

66cm, 2950 g. Espécie meridional de grande portecom característico topete nucal, asas largas, cauda cur-ta, pernas relativamente longas e dedos curtos. Cinzen-ta-escura quase uniforme, um pouco mais clara nas par-tes inferiores; cauda com ponta e uma faixa transversalbranca; cera e pernas amarelas. Imaturo com faixasuperciliar creme e partes inferiores com estrias esbran-quiçadas. longas seqüências de "gli, gli, gli...", Deíndole preguiçosa, pousa em postes, estacas ou no solo;espreita, por exemplo, tatus. E meio crepuscular. Habitaregiões campestres, como o Pantanal, ocorre da Argen-tina à Bolívia e Brasil extra-amazônico, com ocorrênciasmais regulares no Brasil central. [Uma síntese porme-norizada de sua distribuição e seusi ius de conserva-ção está compilada em Collaret . 1992.] V a anterior ea águia-chilena.

UlRAÇU-FALSO, g ensis Arn

85cm. Semelhante ao imaturo de sendo po-rém, nitidamente menos robusto, aparecendo até esbel-to, tendo os tarsos mais longos e.finos, os dedos menosgrossos, o penacho tampouco é bipartido em dois cor-nos e a cauda é mais longa e cheia. Em uma certa fase deplumagem apresenta faixas transversais negras no ven-tre (M. ius do alto Amazonas), mas nunca apre- .senta o papo negro como o do gavião-real. Embaixo defruteiras espreita, por exemplo, jacus e jacamins. Vivena mata virgem. Ocorre da Guatemalaà Bolívia e Ar-gentina (Misiones); antigamente em grande parte do

Brasil, meridionalmente até Mato Grosso (Chapada dosParecis, Juruena) e Rio Grande do Sul, tornou-se bas-tante raro atualmente, sobretudo fora da Amazônia."Gavião-de-penacho", "Gavião-real*".

GAVIÃO-REAL, UlRAÇU-VERDADEIRO, piAm Pr. 9, 7

105cm, altura 57cm (macho) a 90cm (fêmea), enver-gadura até 2 metros, peso 4,8kg (macho), de 7,6kg a 9kg(fêmea). Majestosa, de porte e força inigualáveis, é o maispossante rapineiro do Globo, não éo-maior. Asas largase redondas, relativamente curtas; pernas curtas e gros-sas, tarsos e dedos extremamente fortes; garras enormes(a unha dohallux mede 7cm!), bico de robustez incom-parável. Cabeça e olhos relativamente pequenos, estesdirigidos para a frente, face com esboço de disco lem-brando corujas (servindo para melhorar a audição). Acabeça cinzenta é provida de longo e macio topetebipartido em dois cornos negros, contudo as penas dotopete pendem freqüentemente, ficando visíveis até dafrente. Manto e papo negros; peito, barriga e face ven-tral das asas brancas, sendo esta última e os calções lis-trados de negro; cauda com três faixas cinzentas; íris cin-za-clara. Imaturo, quando abandona o ninho, de partesinferiores branco-imaculado;.necessita de mais de qua-tro anos para completar a plumagem adulta. asso-bio estridente e prolongado í-

i t , Espreita na alta mata primária, nabeira de rios encachoeirados (Amapá) e nas proximida-des de barreiros, onde acorrem todo tipo de animais afim de lamber a terra salina (Mato Grosso, Pará). Dentresuas presas alinham-se a preguiça-real, jpus

(Ama pá; rio Tocantis e rio Cururu, Pará);mutuns, C lecto (Amapá) eC iol (Cururu,Pará; Goiás); coatás, ies sp., e macacos-prego,Cebussp. (Cururu, Pará, e Xingu.Mato Grosso, respectivamen-te); filhotes de veados (Goiás, inclusive de veado-catingueiro, l Minas Gerais); araras-azuis, inthinus. Seriemas e tatus(Goiás), cachorro-do-ma to (Itatiaia, RJ).A captura de ummacho adulto de um bugio( t seniculus,peso decerca de 6,5 kg no Acre, Brasil, Peres 1990) deve estarperto.do máximo que a fêmea de harpia pode dominar.É rápido e possante em suas investidas, sendo capaz decarregar consigo para a copa de uma árvore uma cutiaou um jovem Caititu; presas muito pesadas, como umagrande preguiça, são arrastadas para um tronco caído.Despedaça suas presas, inclusive aquelas de couro emusculatura comprovadarnente tão rijas como a de pre-guiças; vimo-Ia noAmapá arrancando a pele de umadestas em lascas de 2cm de largura, mas apenas conse-guiu arranhar, malgrado seus dotes de bico e garras, ostegumentos da cabeça da presa. Não se aflige com osespinhos do ouriço,Coendou parte cobras de diâmetrorazoável (Scm) em dois para devorá-Ia a seguir. Em10-

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cais habitados ataca cães, galinhas, bezerros e cabritos(Goiás, Espírito Santo, o Grande do Sul); dão-lhe caçade imediato se por acaso aparece em uma fazenda, poisos moradores temem que ataque crianças, o que é muitopouco provável. Consta que perto do ninho pode pôrem fuga seres humanos, tal como fazem, por exemplo,certas araras. Voa com rápidas batidas de asa planandoem seguida; nas horas quentes do dia circula sobre afloresta e campos adjacentes.

Seu ninho consiste em pilha de galhos osquais recompõe e retoca a cada vez que o utiliza. NaAmazônia localiza-o sobre árvores altaneiras comosumaumeiras castanheirase el ou tucoaris gigantescos, que dominam a matacircundante, permitindo-lhe descortinar todo o horizonte ..ao redor; todavia, pode tambémocultá-Io entre os den-sos brotos de uma copa partida ou nos penachos de uma

em regiões de extensos buritizais. Os reprodu-tores aproximam-se do ninho ocultando-se na mata su-bindo apenas quando chegam à árvore certa; põe doisovos entre setembro e novembro (Goiás), mas somenteum filhote sobrevive (Mato Grosso, v. Introdução).

e uti Sempre foi troféu cobiçadoquer por índios quer por caçadores. Encontramos noXingu (Mato Grosso), entre 1947 e 1957, as gaiolas("apuin") nas quais os caciques conservavam estas avesa fim de cortar-lhes (e não arrancar-lhes) periodicamen-te as rêmiges e retrizes de largura ímpar. Estes prisio-neiros (que haviam sido retirados do ninho ainda filho-tes) são considerados a personificação do cacique e quan-do seu dono morre ou são mortos ou sucumbem à fome(Carvalho 1949).A foi freqüentemente tratada namitologia indígena (Zerries 1962). Figurando como sím-bolo nacional v. Introdução. O gavião-real é Ave Nacio-nal do Panamá.

ç , declínio Ocorre do México à Bolívia e Ar-gentina, grande parte do Brasil. Atualmente autênticararidade nas regiões pouco ermas; mais encontradiçona Amazônia, tornou-se bastante escasso no Brasilmerídio-oriental; por volta de 1960 ocorria ainda regu-larmente ao norte do rio Doce e, em 1937, nidificou emPontal, perto de Cola tina (Espírito Santo); um casal foiobservado durante alguns meses no alto Itatiaia (Rio deJaneiro, 1973);ocorria em Guaramirim e Mafra entre 1948e1~50 e no rio do Peixe em 1968 (Santa Catarina). Tam-bém no rio Gravataí, Rio Grande do Sul; sendo que nes-te estado, até pelo menos 1958, apareciam durante o ve-rão exemplares migrantes. "Cavião-de-penacho","Guiraçu" , g = ave, = grande). V a espécieanterior eSpizaeius. "Harpia", "Uiraçu?".

GAVIÃO-PATO,

56cm. A menor das espécies possuidoras de penacho;tarsos longos e totalmente emplumados, unhas formi-dáveis. Branco-níveo (inclusive os calções) com peque-

na máscara, topete e manto negros; base do bico, íris etarsos amarelos. Caça sapos e aves (p. ex. japus); empo-leira sobre árvores altas, gosta de planar. Habita a matae campo adjacenteà beira de rios. Ocorre do México àArgentina; no Brasil em ocorrências esparsas, sendo en-contrado inclusive nas porções merídio-orientais do país."Apacanim-branco" .

GAVIÃO-DE-PENACHO, etus AmPr. 9,1

67cm, envergadura 140cm.Ave esbelta e possante,de tarsos densamente emplumados até a base dos de-dos; asas curtas e redondas; cauda, pernas e garras ex-cepcionalmente longas. Longo topete inteiro, não sendobipartido como em que freqüentemente ergueverticalmente tal corno uma ponta de lança sobressain-do da cabeça. Imaturo com a cabeça e partes inferioresbranco uniforme, apenas os calções são barrados de ne-gro; penacho pardavasco. assobios finos, acompa-nhados por um tremular de asas, enquanto circula so-bre as matas durante a reprodução. Caça, dentro da flo-resta alta, aves, pequenos mamíferos e répteis que apa-nha tanto no solo quanto nos galhos. Ocorre do Méxicoà Argentina e em todo o Brasil; nas encostas da Serra doMar (Riode Janeiro) às vezes ao lado de ius iiptmnus;tornou-se escasso. "Apacanim". V tanto o imaturo dotauató-pintado como o deo phn v.também t .O gênero etus não é restrito às Américas.

GAVIÃO-PEGA-MACACO,

Pr. 9, 2

72cm. Negro com abdômen e calções finamente sal-picados de branco; penacho mais curto e mais expandi-do que o da espécie anterior. Imaturo de cabeça esbran-quiçada e partes inferiores estria das. Em vôo suas asastêm silhueta quase elíptica, não sendo tão largas como ada espécie anterior, da qual difere também por manter acauda longa menos aberta em leque. melodiososassobios altos,iii-e-i, i, i, i, i", "ü-õ", chamando atençãoquando os emite enquanto circula sobre a mata. Caçamais mamíferos que aves; afirma-se que habitualmentecome prima tas, entre eles provavelmente sagüis; emconteúdos estomacais da espécie por várias vezes assi-nalaram-se morcegos( eus i censisi que devemter sido apanhados em seus pousos diurnos, talvez emfolhas enroladas (H. F. Berla). Ocorre do México à Ar-gentina, todo o Brasil, menos escasso que o anterior .."Papa-mico", "Papa-macaco" (Rio de ' Janeiro),"Apacanim". V o gavião-preto.

GAVIÃO-DO-MANGUE, cus buffoni Pr. 7, 5

50cm. Graciosa espécie paludícola, inconfundívelpelas asas e cauda extraordinariamente longas e estrei-

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256 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

tas; disco facial bem marcado (linhas claras sobre fundoescuro) lembrando o de uma coruja. Colorido muitovariável exceto o padrão das asas e cauda; macho departes superiores ardósias, fronte e sobrancelhas bran-cas, rêmiges, coberteiras e cauda cinza-claras barradasde negro, uropígio e barriga branca, sendo a última pon-tilhada de negro. Fêmea e imaturo marrom-escurosestriados nas partes inferiores, calções ferrugíneos. Háuma mutação negra ou marrom-escura (polimorfismo;em ambos os sexos), sendo que o padrão das asas e cau-da permanece inalterado. Fêmea maior que o macho.Caça rãs, preás e outros pequenos animais. Pousa nosolo. Voa rasante e elegantemente sobre a vegetação dosbrejos planando com suaves inclinações da direita paraa esquerda, lembrando , peneira. Ocorre daVenezuela e Guiana à Argentina e Chile; localmente noBrasil oriental (p. ex.:Amapá, Pará (Marajó), EspíritoSanto, Rio de Janeiro), onde é raro, e central (p. ex.: MatoGrosso, oeste de São Paulo); mais freqüente no sul dopaís (Paraná, Rio Grande do Sul). "Tartaranhão-do-bre-jo*". V. designado tambémcomo "Gavião-do-mangue".

TARTARANHÃO-CINZA ".

[41,5-50cm] Mais rara e menor, cujas partes inferio-res são faixadas transversalmente de ferrugíneo. Repre-sentante andino-meridional que chega ao Rio Grandedo Sul, Santa Catarina e Paraná. Pode ser consideradorepresentante de eus, espécie norte-america-na e do Velho Mundo. [Embora classificado como visi-tante meridional (Sick1993,Belton 1994)foi recenternen-

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GAVIÃO-PERNILONGO,

Pr. 9,5

46cm. Gavião de proporções singulares, corpofranzino, asas largas, cauda longa, pernas excessivamen-te compridas, ultrapassando a cauda durante o vôo, dedoexterno muito curto e articulação intertarsal com gran-de mobilidade, adaptações especiais para inspecionarcavidades sobretudo extrair pererecas dentro de brorné-lias, tateando com os pés por entre as folhas (Bokermann1978). Na Amazônia quase uniformemente cinza-azulada lembrando o gavião-azul,e schistsendo porém mais delgada e de outros hábitos. Comduas faixas brancas na cauda e uma terceira, larga e damesma cor, na face ventral da base das primárias; pésvermelhos, não possui amarelo na base do bico.nocrepúsculo emite estranho "waao". Apanha baratas, rãs,lagartixas, morcegos, etc., tirando-os de buracos de ár-vores, gravatás e outra vegetação epífita densa, a qualexamina em parte voando e em parte grimpando e an-dando, equilibrando-se com as asas e cauda abertas; tam-bém saqueia ninhos de pássaros apossando-se dos fi-lhotes. Pode apresentar um forte cheiro na plumagemdo pescoço, talvez relacionado ao seu hábito de comercertas pererecas que mostram cheiro semelhante. Circu-la sobre a floresta. Habita as matas permeadas de cam-pos, às vezes no alto das árvores, beira de brejos, man-guezais. Ocorre do México àArgentina, todas as regiõesdo Brasil, de ocorrência local.

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.'258 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

ÁGUIA-PESCADORA: FAMÍLIAS PANDIONIDAE (1)

Única espécie, quase cosmopolita; fóssil do Pliocenoda Flórida (10 milhões de anos). Outras espécies fósseisconhecidas do Oligoceno (Egito). Na América do Sul ape-nas corno ave de arribação. Distingue-se por várioscaracteres anatômicos, sendo bastante aparentada aosAccipitridae. Sem dimorfismo sexual; imaturo semelhan-te ao adulto.

ÁGUIA-PESCADORA, VNPr. 6,6

57cm, 1.226 g macho. Espécie grande, de bico vigo-roso, que quase nunca se afasta de vastas extensões deágua. Inconfundível, de longas asas angulosas, penas danuca eriçadas; cabeça e partes inferiores brancas, urnalarga faixa negra atrás do olho que prossegue até as par-tes superiores do corpo, as quais são pardo-anegradas;peito com desenho escuro; durante o vôo destaca-se urnamancha negra perto do encontro na face inferior das asas.

assobios finos e repetidos., h bitos Piscívora, não faltando, contudo,

observações brasileiras que indicam que a águia-pesca-dora captura ocasionalmente urna ave ou um mamífe-ro. Pesca freqüentemente após peneirar algum tempo, oque chama muito a atenção devido a sua envergadura;precipita-se a 80 km/h sobre o peixe que estiver pertoda superfície com os pés esticados para diante, chocan-do-se com violência e batendo as asas verticalmente;graças a planta dos pés modificada (munidas deespículos) e as garras bem recurvadas consegue segurara presa lisa e viscosa ainda mais que seu dedo externo éreversível tal qual o das corujas, voltando-se para trás,auxiliando o hálux no ato da captura. Pode mergulhar aum metro e meio; após a captura do peixe com ambosos pés, muda a posição dos mesmos, mantendo a cabe-ça do peixe virada para a frente, resultando um aspectodiferente de outros gaviões segurando a presa. O suces-so das investidas costuma ser grande, foram calculados20 a 80% ou mais. Vive em lagos, grandes rios, estuári-os, também no mar perto da costa. Suas pescarias sãofacilitadas em águas bem transparentes e calmas. Pega,p. ex., o parati gil, São Paulo, Martuscelli 1990).Oco i Migra da América do Norte até a Argentinae Chile. Ocorre isoladamente em todas as regiões doBrasil exceto Nordeste, onde faltam observações. [Constaque urna anilha foi recuperada na Paraíba (Lara-Resende& Leal 1982) e outros indivíduos foram observados nolitoral do Rio Grande do Norte (Andradeet i. 1988) eno de Alagoas em 1991 (M. C. Souza)"].Foram assinala-dos no Amazonas (28 indivíduos anilha dos nos EUA),Pará (17 indivíduos anilhados), Amapá, Bahia, MinasGerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro (inclusive no ex-Estado da Guanabara), São Paulo, Paraná, Mato Gros-

so, Goiás e Rio Grande do Sul, sendo a maioria das ocor-rências anotadas na Amazônia, Brasil central e Rio Gran-de do Sul; são mais numerosos pelo fim e começo deano, porém podendo ser vistos durante qualquer época(ternos no Brasil registros em todos os meses) razão pelaqual passa por espécie que aqui se reproduz, o que atéhoje não foi provado; na maior parte dos casos trata-sede indivíduos jovens, ainda incapazes de se reproduzi-rem, ou de adultos no período de descanso reprodutivo.

ion torna-se maduro somente com 2"3 anos, regres-sando então a sua pátria a fim de nidificar, mas continua avir periodicamente fugindo do inverno setentrional.

Nas listas do Centro americano de anilhamento, Lau-rel, Maryland, constam 58 recuperados no Bra-sil entre 1937 e 1987, em certos anos três, quatro e atécinco exemplares; 47 foram mortos a tiro. Um deles, co-letado em Ilhéus (Bahia) em agosto, fora anilhado aindafilhote perto de Nova Iorque, em junho do ano anterior;um segundo, capturado no rio Pacas (Mato Grosso) emsetembro, e um terceiro, procedente do rio Madeira(Amazonas) em outubro, haviam sido anilha dos aindafilhotes em Maryland (julho) sendo que um no mesmoano, 85 dias antes de sua captura no Brasil. Um indiví-duo, anilhado em 28 de junho de 1959, foi morto em 28de dezembro de 1975, tendo portanto uma idade de 16anos. Ocupam aqui um "território" onde permanecemdurante semanas e até meses, para pernoitar pousamem morros rochosos (ex-Estado da Guanabara). Já apa-receram 4 indivíduos na mesma lagoa em dezembro noRio de Janeiro (Magnanini& Coimbra Filho 1964). Pou-sado pode lembrar um l pela cabeça branca, po-rém estão sempre de nuca arrepiada e sua faixa ocular émaior. Também possuem um imponente porte aquilino."Gavião-caipira", "Guincho", "Gavião-do-mar", "Águia-pesqueira*", ["Caripira" (SolimõesJ. F. Pacheco )].Oeclín Nos EUA ameaçado pela poluição das águascom biocidas corno, sobretudo, o DDT, cuja percenta-gem eleva-se a mais de 100%ao longo da cadeia tróficana qual ndion é o elo derradeiro. Desta maneira, en-quanto o fitoplâncton apresenta um índice de DDT de0,04 ppm, o peixe o tem acrescido a 0,10-0,17 ppm. Poralimentar-se de presas "enriqueci das" com o poluente,

põe ovos que apresentam 13,8ppm de DDT, oque implica em insuficiência de calcificação do ovo nooviduto; conseqüentemente os ovos são bastante sus-ceptíveis de se quebrarem durante a incubação, comperda total do conteúdo. Consta que em Maine (EUA),as cascas dos ovos de ion eram 31% mais delgadasque o normal e que em Connecticut não eclodiram 81%de 185 ovos. (Peterson, em Hickey, 1969). A proibiçãodo uso de DDT nos EUA tornou-se benéfica para as avespiscívoras, corno a águia-pescadora e a águia-de-cabe-ça-branca,H l tus leucoceph lus, ave nacional dos EUA.No Brasil continua o uso desses venenos, em larga escala.

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Page 10: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-02

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PANDIONIDAE 259

Bibliografia Pandionidae(Veja também a Bibliografia Geral)

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......

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260. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

ACAUÃ, GAVIÃO-MATEIRO, GRALHÃO, CARRAPATEIRO, CARACARÁ, FALCÕES e afins:FAM1LIA FALCONIDAE (16)

Aves de rapina separadas dos Accipitridae não sópor caracteres anatômicos como também pela maneiraque efetuam a muda, dados bioquímicos (análise eletro-forética) e comportamento. Apresentam certas semelhan-ças com as corujas, o que poderia ser tributado a umaconvergência. Fósseis do Eo-oligoceno da França (37mi-lhões de anos) e Mioceno Inferior da Argentina (20 mi-lhões de anos).

Família tão pouco homogênea como a dosAccipitridae; enquanto o gralhão tem aspecto galiná-ceo, os falcões são os voadores mais elegantes que sepode imaginar. Bico e pés fracos em e

enquanto que em o bico é afiado comoum alicate de fio, apresentando um grande dente namaxila: A perfeição da vista dos Falconiformes se atri-bui sobretudo à existência de duas se-melhante aos Alcedinidae e Apodidae. Um caráterosteológico interessante é uma fusão na coluna, firman- .do o tronco (podendo amortecer o choque no embatede apanhar uma ave em vôo): algumas vértebras sãofundidas formando o . Por falta dessa caracte-rística anatômica foi transferido aosAccipitridae embora e

também não apresentem essa fusão (Storer1982).

e com face nua vivamente colori-da. Dimorfismo sexual quanto ao tamanho, passível deser muito acentuado em (fêmea consideravelmen-te maior que o macho). Em há dimorfis-mo sexual quanto ao colorido.

Sobre a muda v. sob Accipitridae. Os Falconidae sãoaves de rapina com a forma mais aerodinâmica que seconhece. Suas asas são estreitas e pontudas, menos ade-quadas para planar do que as dos acipitrídeos.

Mais variada que a dos Accipitridae; ecertos são notáveis pela emissão de elabora-dos cantos e por sua loquacidade (podem vocalizar du-rante 10 ou mais minutos a fio); nota-se um aumentoprogressivo da estrofe, acrescentando. eventualmentecada vez mais notas. Em geral duetam aos casais; gri-tam apenas no crepúsculo. No caso de espécies gêmeascomo e M. a voz serve per-feitamente para a diagnose específica, o que facilita gran-demente uma vez que ambos podem ocorrer na mesmamata (Amazônia).

O gralhão, um dos gaviões mais barulhentos queexiste, extasia-se em veementes coros que podem recor-dar a gritaria coletiva dos aracuãs; àsvezes também canta em coro. no auge de seucantar rouco, atira a cabeça para as costas, gesto expres-sivo demonstrado ocasionalmente pelos

de

No capítulo dos Accipitridae já nos referimos às táti-cas de caça das aves de rapina em geral. Entre os maio-res representantes dos Falconidae estão os mais possan-tes voadores de todas as aves; pe atinge emvôo de cruzeiro, desapressado, 40 a 50 km/h e constaque, quando arremete quase verticalmente com as asassemifechadas em pique sobre a presa, alcança 75 m Zseg.(270 km/h); entretanto, quando dá caça a um pombo(que voa a 90km/h ou pouco mais) não é sempre bem-sucedido. O sucesso de na caçada de aves(vários tamanhos) é calculado, na Europa, no máximoem 22%; pode ser bem mais baixo, p. ex., 10-12%.Atri-bui-se-lhe a capacidade de avistar um pombo que comeno solo 1,0-1,5 km de distância, atacando-o, mas nor-malmente não realiza investidas tão longas. Na maioriadas vezes abate aves em pleno vôo ("levanta" freqüen-temente voláteis pousados para colhê-los a seguir empleno ar), podendo deixá-Ias cair ao solo para apanhá-Ias em seguida; também é capaz de capturar presasterrícolas, agarrando-as durante um sobrevôo e carre-gando-as consigo; nunca as "prega" contra o solo comofaz É mais atraído por aves que tenham algumbranco na plumagem.

Utiliza-se somente das garras para a captura da víti-ma, a qual é rapidamente morta com o auxílio de umgolpe do terrível dente afiado que lhe secciona a espi-nha dorsal. Devora-lhe primeiro a cabeça e depois a mus-culatura peitoral, segurando-a com uma das garras;quando termina a refeição, as asas dapresa costumam estar ainda unidas pela cinturaescapülar: ao contráriô" de outros gaviões, o falcão nãodespoja das rêmiges a sua presa.

Sobre a ração diária das aves de rapina há muita pre-leçãô exagerada; o fato é que um falcão macho de 600 gnecessita de cerca de 100 g de carne, o que correspondea cerca de duas rolinhas. A fêmea, de 1000 g, requ~ de150 g a 180 g diárias; se por acaso consumir um pombo(que pesa cerca de 300 g) ela jejuará no dia seguinte oucontentar-se-á com uma presa miúda.

Os gaviões-mateiros,Micrastur, são verdadeiros acro-batas quando caçam dentro da mata cerrada, à seme-lhança dos sua presença freqüentemente sur-preende o caçador mais experiente, podendo arrebatar

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Ti

F ALCONlDAE 261

um inhambu chumbado antes que o atirador consiga al-. cançar a ave que atingiu; um apanhouuma codorna levantada por um cachorro (Minas Gerais).Os seguem as formigas-de-correição que es-pantam animalejos de todos os tamanhos e atraem mui-tos pássaros; aproveitam-se também de pássaros presosem redes usadas em anilhamento.É surpreendente queo caçando em mata densa, e omantido em cativeiro, locomova-se no solo desembara-çadamente sem ser de maneira alguma adaptados a umavida terrícola. tem um tarso curto, umtarso mais longo. desloca-se muito bem nosolo, P: ex., durante a aragem dos campos, procurandoanimais expostos.

espécie rara, evoluiu ummododiferente, mas eficiente de caçar: pousado baixo na matafechada ele emite séries de tons ventríloquos que atra-em aves - semelhante ao que acontece quando umacoruja é descoberta pela passarinhada (v.sobO gavião tem então facilidade de apanhar um dentre osvários pássaros curiosos que aparecem, entre eles, àsvezes, alguns migrantes do hemisfério norte que não co-nhecem os perigos da mata tropicaL .

Nas praias da Amazônia procura pelosovos das tartarugas etracajás.

tem fama de comer morcegos e cobras;caça as cobras corais, de cor vermelho-intensa, tanto ascorais "falsas" e

como as verdadeiras, peçonhentastodas três encontradas no estômago de um

indivíduo deacauã,procedente de Goiás (Sazima &Abe1991).Uma outra coral falsa e um

tornaram-se vítimas de um femoralis, euma terceira coral falsa de um Pos-sivelmente as cobras foram apanhados por ocasião dachuva ou lides agrícolas (aragem do terreno, v. acima)ou mesmo já mortas. go limpa o gado de pragas;

(provavelmente também tira àsvezes carrapatos e bernes de animais silvestres, o que édo mais alto interesse, pois mostra a situação original-mente existente antes da introdução de animais domés-ticos no continente.

índios afirmam que existe uma curiosa relação entre.. a anta começaria a piar

quando ouvisse o grito do "pinhé": este logo atenderiaao "chamado" da anta, uma vez que gosta de lhe comeros carrapatos; a anta se deitaria, oferecendo a barrigapara que a ave retire os 'parasitos.

e são onívoros, comendotambém frutas, detritos e cadáveres frescos; procuramqueimadas. No Pantanal de Mato Grosso a populaçãode está aumentando devido ao exces-so de cadáveres de jacarés etc., tornando-se então oscaracarás um perigo para os filhotes de aves, como 'oscolhereiros (A. Sucksdorff). desfazninhos dos marimbondos mais agressivos para comeras suculentas larvas. Entre os falconídeos insetívoros

estão e F [emoralis. Observamos que um[emotalis, usando os pés nacaçada de cupins em

revoada, às vezes tentou apanhar os insetos diretamen-te com o bico, largamente aberto. Esta última técnica,estranha para um gavião, foi contudo a única que vi-mos usar durante uma revoada do gran-de cupim-vermelho (Sick 1989).

possui notável aptidão para aproveitar-se denovas fontes de alimento, podendo assim desempenharo papel tráfico de várias outras espécies e tornar~se fa-cilmente sinântropo; ocasionalmente saqueia ninhos depássaros, assim como e Algumasespécies, como, por exemplo, , e

às vezes também sãopropensas a caçarem no crepúsculo a fim de apanharemmorcegos.

Pormenor curioso é o dos Falconidae pousados so-bre o ninho, deixarem cair suas fezes perpendicularmen-te, enquanto que os acipitrídeos, em sua maioria, as ati-ram para longe. Gostam de banhar-se na chuva, comovimos por exemplo emsacode a cauda à feição de outras rapineiras pequenascomo e . go e

são gregários, o primeiro associa-seàs centenas para pernoitar em brejais, reunindo-se antesno campo, pousando no chão (Rio Grande do Sul).

vive constantemente em pequenosbandos. e mostram-se bastantesinântropos, sendo beneficiados pela expansão de no-vas áreas agropecuárias.

Vimos certa vez, na Bahia, um co "diver-tir-se" em perseguir, sem tentar capturar, um grupo dePasseres que congregava um bando de , vá-rios g ,

e um rara documentaçãode um "divertimento" de uma ave (v. também sob an-dorinhas e suiriri). Observamos a mesma coisa para

em relação a maçaricos.

Em sua maioria não constrõem ninhos, ocupando osjá feitos por outras aves; assim, go usacomo plataforma a pilha de gravetos de e de

Há tendência de nidificarem em locais ele-vados e até os gaviões de mata, côllis e M.g ollis, que caçam nos estratos inferiores e médios,instalam-se à boa altura; um · ocupouum buraco espaçoso em um velho pinheiro, cujo acessoera dado através de pequeno orifício a cerca de seismetros de altura (Itatiaia, Rio de Janeiro, 1973, E.Gouvêa); consta que um no Peru,fez um ninho situado a descoberto na periferia da copa

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262' ORNITOLOGIA BRASILEIRA

*'1de uma árvore alta, parecendo-nos provável ter sido omesmo confeccionado por outra espécie.

e nidificam regular-mente em ocos de árvores, inclusive em buracos de pica-paus; o primeiro aproveita-se ainda de cavidades empostes, em edificações (p. ex. em pontes de concreto,paredões, ou em barrancos e cupinzeiros terrestres uti-lizando um ninho de e, quando não encontranada mais adequado, aproveita-se do ninho abandona-do de (Rio Grande do Sul). Também

segundo dizem, fora do Brasil, elege ocos deárvores para criar enquanto que [emoralis utiliza-se de qualquer plataforma existente (p. ex. o ninho deoutra ave) na ramagem, o que, excepcionalmente,

também faz. cria em grandesburacos de árvores ou buracos em escarpas rochosas(Raso da Catarina, Bahia), sem forrar a toca.faz tosca construção de ramos sobre árvores ou, na faltadestas, diretamente no solo. Encontramos

num cesto profundo, estofado de lã, aparente-mente sua construção; pode utilizar-se de ninhos deoutras aves como base, ou se instala no solo. Os ovosdos :::<alconidae costumam ser densamente manchadosà feição daqueles dos Accipitridae, mas sua casca, quan-do vista de encontro à luz, apresenta-se parda-clara, ama-rela ou branca e nunca verde. Os ovos de(postura de três, registro brasileiro) podem ser marronsquase uniformes.

A incubação é de 28 dias em e 29 a 30 diasem Como em muitos Falconiformes, éo macho, em que obtém toda a comidapara os seus dois ou três filhotes enquanto a fêmea vi-gia o ninho; em foram registrados trêsfilhotes (dois machos e uma fêmea, Rio de Janeiro). Aprole abandona o ninho com 35-40 dias conforme regis-tros feitos em outros países.

O falcão norte-americano, é visitan-te regular do Brasil durante o inverno do hemisfério nor-te, ao passo que outra espécie setentrional,

foi registrada. Durante o inverno do hemis--fério sul há, nas porções mais meridionais do país, mo-vimentos migratórios de femoralis. Ao mesmo tem-po indivíduos isolados de migram bemao norte da sua costumeira áreade nidificação. Ocor-rem deslocamentos do chimango no crepúsculo.

São freqüentemente parasitados por hipoboscídeosassim como os Accipitridae. Apanhamos sobre

, eo por exemplo, e

o o hospedam e

Há poucas aves esteticamente tão valiosas como osrapineiros, sobretudo os falcões. Deixemos que abatamalgumas pombas cujo número lhes é mil vezes superiore tenhamos sempre em mente que os rapineiros caçampara se alimentar e não "roubam". A utilidade de

é óbvia a todos; sua a existência é favorecidapela pecuária. É absurdo listar-se uma espécie com ocaracará, , como ave nociva prevendo quedevido ao limitado conhecimento dos caçadores, se-rão sacrificados outros rapineirospor engano. NoNordeste as aves de rapina são consideradas comopeça de caça.

dosde espécies

1 - Representantes unicamente neotropicais, consi-derados como grupo ancestral das aves de rapina:

1.1 - Espécies campestres ou de orla de ma ta:(l ), (2), go (2) e

(1).1.2 - Espécies florestais: (4).2 - Gênero cosmopolita (6), todos caçadores de

campo aberto, sendo que acima da mataalta; apenas três , F. e F.

encontradas com mais freqüência em nossopaís.

ACAUÃ, Pr. 8, 3

47cm. Espécie facilmente reconhecível e bastante co-nhecida. Cabeçuda, lembra a coruja; partes claras de coramarelo-creme ou esbranquiçada destacando-se as re-giões perioftálmicas negras, as quais continuam em umcolar nucal da mesma cor. Cauda negra densamentebarrada de branco; durante o vôo chama a atenção umaárea clara anterior à ponta da asa.

, Notável pelo dueto do casal, de seqüênciaininterrupta que pode prolongar-se por nove minutosou mais, desenvolvendo-se tal estrofe em tom quase que"dramático": um cacarejar baixo "gogogo ..." como in-trodução, segue-se uma seqüência de fortes "kua" a qualse alonga, por exemplo, por quatro minutos e, finalmen-te, entoam gritos trissilábicos: .. "a-cua-ã" durante qua-se o mesmo tempo, sendo esta a parte mais impressio-nante. Registramos que um indivíduo emitiu longa .se-qüência horizontal de gritos bissilábicos, enquanto o

. companheiro, ao mesmo tempo, emitiu estrofe ascen-dente de gritos uníssonos, mudando, finalmente, para"a-eua-à". Existem transcrições augurais da voz, como"Deus quer um". Cantam de preferência no crepúsculoe ao alvorecer e, às vezes, mesmo em plena noite.É curi-osa a crendice, que reflete bem a fascinação que o cantodo acauã inspira, ao dizer que aquele que ouvisse sua

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FALCONlDAE 263

voz sentir-se-ia magnetizado de tal maneira que, toma-do por estranha manifestação nervosa, sentir-se-ia im-pelido a imitar o canto da ave.

Comem répteis, tendo grande fama(já transmitida pelos índios e renovada pelos curandei-ros) de exterminarem cobras, o que efetivamente fazem,tratando-se porém na maioria dos casos de espécies ino-fensivas como a cobra-cipó, por exemplo s e

se acontece de levar consigo uma delas aindaviva, o réptil estica-se horizontalmente formando umalinha ondulada de meio metro, desfraldada atrás da aveem vôo. Foi comprovado que também apanha espéciespeçonhentas, por exemplo, a coral-verdadeira. Em cer-tos locais (Minas Gerais, Bahia), caçam preferencialmen-te morcegos, ficando à espreita em frente a paredões;'ao que parece ainda não foi obtida prova de que aba-tam vampiros, De s (v. sob corujas). Habita a orlade mata, cerrado, beira de rios, árvores isoladas, ondefica imóvel por horas a fio. Ocorre do México à Argen-tina. Local e temporariamente em todo o Brasil, inclu-sive no Rio de Janeiro e no ex-Estado da Guanabara."Macauá", "Acanã". [Datam dos anos 40 os primeirosregistros da espécie para a bem investigada região daMata Atlântica do sudeste brasileiro (Hellmayr&Conover 1949, Pinto 1964). Dessa maneira a presençado acauã nas florestas dos estados oriento-meridionaisdeve ser produto de expansão relativamente recente(Pacheco 1993).]

GAVIÃO-RELóGIO, u sePr. 8, 6

53cm. Espécie grande, rabilonga e incomum. Caudae pernas bem longas, chamando ainda mais a atençãodo que nos seus congêneres. De colorido muito variá-vel é, porém, sempre reconhecível pela presença de umcolar, ferrugíneo ou branco, e de uma escura manchaem forma de crescente na região auricular lembrando odisco facial de umCi cus há tantos indivíduos com aspartes inferiores branco-puras como ferrugíneas unifor-mes; cauda geralmente com três barras brancas es-treitas visíveis, sendo a ponta também branca.lembra a do acauã, porém as seqüências costumamcarecer de intensa gradação. Os cantos podem. pro-longar-se por dez ou vinte minutos ou mais, até alémdo crepúsculo; macho freqüentemente dueta com afêmea, a qual canta mais alto. Um grito forte isolado

e repetido com intervalos de 3 a 4 segundos.Como os seus congêneres, é mais ativo no crepúscu-lo (possui olhos grandes); voa, corre e pula na galhadae no solo com enorme agilidade enquanto persegueaves, pequenos mamíferos, lagartixas e grandes in-setos. Habita a orla de' mata, mata baixa, rala e seca.Ocorre do México à Argentina.iocorrências dissemi-nadas por todo o Brasil. "Gavião-mateiro", "Tem-tem", "Falcão-relógio*".

GAVIÃO-CABURÉ, tu icollis Pr. 8, 5

36cm. Espécie esbelta e pouco conhecida, embora nãoseja rara em matas densas, secundárias, encontra-se àsvezes perto e até dentro de cidades. Quanto à silhuetalembra um ccipite mas tem as asas ainda mais redon-das e a cauda mais longa (157-187mm). No Brasil ocor-rem duas raças geográficas, uma parda e meridional

ic t . jicollis, v. prancha) e outra amazônicai t concent icus) de cor cinza-escura nas partes

superiores, sendo branco listrado de negro por baixo enão apresentando nenhumaárea ruiva, ao que se asse-melha à espécie descrita a segúir. Ambas as raças têm aíris marrom, a face nua e os pés amarelo-laranjas; regis-tramos contudo a coloração amarelo-esverdeada na re-gião perioftálmica da forma típica, cujos machos costu-mam ser mais barrados que as fêmeas, o que já se notaquando os filhotes abandonam o ninho. emitida nocrepúsculo, pela madrugada ou em dias chuvosos, con-siste em um monótono e agudo "kjak" repetido incan-savelmente por tempo considerável a intervalos de apro-ximadamente dois segundos; às vezes entoa de 4 a 6"kjak" consecutivos; uma outravocalização, o máximoque a espécie pode produzir, é um conjunto de algumassílabas mais variadas o qual pode classificar-se comocanto:"kjo-kjõ-kjó ko 1<0 ko", às vezes acompanhado poruma estrofe ascendente do companheiro. Vive extrema-mente oculto na densa mata, traindo sua presença ape-nas pelavoz, Nas partes inferiores, mais sombrias, dafloresta, caça insetos (p. ex. grandes besouros), passari-nhos, lagartixas e cobrinhas, aproveita-se das formigas-de-correição como batedores (v. também Introdução).Ocorre do México à Argentina. e Bolívia; Brasil amazô-nico, centro-meridional e oriental, inclusive em MatoGrosso (alto rio Xingu, M. Rio de Janeiro(ex-Estado da Guanabara) e Rio Grande do Sul

collis). "Gavião-mateiro", "Gavião-rasteiro", "Falcão-caburé*". V a espécie a seguir.

GAVIÃO-MATEIRO, st gi icollis

34cm. Espécie gêmea da anterior, distinguindo-sepela ausência do colorido ruivo, pela asa relativamentelonga (165-198 mm)"e pela cauda'curta (85-161 mm);coberteiras da cauda inferiores freqüentemente brancas,não listradas; íris branca, face nua e pés cor de laranja.

o rner.os aguda, um chorado , grito isolado, re-petido a intervalos, ou dois gritos consecutivosotambém repetido a intervalos (diagnóstico..não existenada parecido em M. i existe um canto padrãosemelhante ao da espécie anterior. Habita a Amazônia,meridionalmente até Mato Grosso (Teles Pires), Bahia enorte do Espírito Santo (rio Doce). "Tauató-i" (Kamaiurá,Mato Grosso);"To-to-i" (Kaiabi, Mato Grosso). Podeocorrer na mesma área que icollis (Bahia,Espírito Santo).

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264. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

-,.

rada de "ga ..." passando para um"ka-ka-kà" (qüe lem-bra o cacarejar da galinha) e culminando em gritos chei-os e fortes "ka-o", do timbre do papagaio ou até da ara-ra, que são repetidos pelo bando inclusive durante o vôo;cantam mais pela manhã e pela tarde, quando voam paraa dormida coletiva. Comem larvas de marimbondos quetiram dos vespeiros os quais desmancham nas árvores,descendo depois ao solo para continuar a obra, sendoindiferentes às picadas das cabas mais temíveis. Apa-nham também marimbondos, abelhas, cupins, semen-tes e frutas. Vôo pesado, passeiam pelas copas da matae cerrado. Ocorre na Amazônia, setentrionalmente até oMéxico e meridionalmente até oPíauí, Mato Grosso eParaná. "Alma-de-tapuio" (Maranhão), "Cã-cã","Caracará-preto", "Cacão" "Cancão-grande*".É consi-derado pelo povo como parente das gralhas, poderialembrar também um insólito jacu. Os Wayampi (Ama-pá) incluem o "Ka-kã" nos tucanos.

~,I!

TANATAU*, ei

[40-4Scm] Espécie rara amazônica que lembracc adulto mas, obviamente com a silhueta

de um semelhante à deio ius. Também no norte do Espírito Santo e sul

da Bahia. V.Introdução, métodos de caça.

GAVIÃO-DE-ANTA,

41cm. Negro, base da cauda branca, garganta nua,amarela, pernas laranjas. Imaturo com algumas faixasbrancas na cauda, cara nua e alaranjada. semelhan-te a do carrapateiro ao qual se assemelha em quase todoo comportamento. Onívoro, come larvas de grandes be-souros (Cerambycidae), tanajuras, anfíbios, répteis, fi-lhotes de pássaros, pequenos mamíferos e peixes; tiracarrapatos da anta e dos veados (v. Introdução); gostade cocos de buriti e de dendê(El ) além defrutos outros; procura queimadas. Beira de rio, clarei-ras na mata; aproxima-se de ranchos. Norte da Américado Sul, meridionalmente até o Maranhão, Mato Grossoe Bolívia. "Caracará-i", "Ka-ka-zi" (Kamaiurá, MatoGrosso), "Kai-a-nó-na" (Waurá, Mato Grosso),"Cã-cã"(Amazonas) "Cancão-de-anta *". V. In trod ução,"simbiose" com a anta.

GRALliÃO, Fig. 75

SOcm.Espécie vistosa e peculiar; alvinegra, de asaslargas e cauda longa; face e garganta nuas e vermelhasassim corno as pernas, bico amarelo; unhas fracas.ave ruidosa, seu cantar consiste numa seqüência acele-

Fig. 75. Cralhão, ius e i us. .

CARRAPATEIRO, go c Pr. 6,5,.Pr. 7, 8

40cm, envergadura 74cm. Provavelmente o mais co-nhecido gavião do país; associado à pecuária, no sul ésubstituído pelo chimango. Cabeça, pescoço e partesin-feriores branco-amareladas; urna curta fã~negrapostocular; face nua e alaranjada: asas longas com níti-da área branca. Imaturo pardo, cabeça e partes inferi0-

res.estriadas de branco, colar nucal amarelo, padrão dodesenho da asa tão típico corno o do adulto. assovi-ado "krliâ ", emitido constantemente em vôo; -

tzére" enquanto briga. A voz do carrapateiro é uma dasvozes mais típicas das fazendas de criação de gado. Fre-qüenta pastos e currais tanto de bois quanto de cavalos,tirando dos mesmos carrapatos e bernes. Pode tornar-se "viciado" querendo aproveitar-se de um boi feridonas costas, para comer-lhe alguns pedaços de carne,pousando sobre o desventurado animal como faz quan-do no ato de arrancar-lhe carrapatos. Quando não en-contra gado come lagartas (inclusive as mais cabeludas),pesca, caça cupins em revoada, patrulha estradas e praias(quer de água doce ou salgada) à procura de cadáveres;come detritos, fezes e frutas, saqueia ninhos depássa .ros; foi visto capturar uma falsa coral,E t l s

scul ii (Mato Grosso), e predar a lagarta da borboletapraga do pinheiro-do-Paraná (São

Paulo; Vila& Carvalho 1972).Ocorre da América Central ao norte do Uruguai e

Argentina setentrional; todo o Brasil inclusive no Rió'Grande do Sul (exceto a parte mais meridional) onde se

.. encontra com o chimango, ali podendo. aparecer, porexemplo, um único carrapateiro no meio de vintechimangos. Voando lembra o caracará; tem vôo "mole"bem característico. V. também acauã e águia-pescadora."Pinhé" (São Paulo), "Cara-pinhé", "Caracará-i" (Ama-zonas), "Caracará-branco" (Rio Grande do Sul),

'-4'

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FALCONIDAE 265

"Chímango-branco" (idem), "Papa-bicheira" (Ilha deMarajó, Pará). O imaturo desta espécie pode ,len:.braraquele do caramujeiro assemelhando-se tambem a es-pécie que se segue.

CHIMANGO,

38cm. Representante meridional semelhante ao an-terior; totalmente pardo com a cabeça e partes inferio-res providas de desenho um pouco mais claro; cobertei-ras superiores da cauda e área na asa brancas. Imaturosemelhante, mais escuro do que um carrapateiro imatu-ro. assobio prolongado, típico, freqüentemente se-guido por chamados roucos:iii-e a-tchá tchá tchá","chiã-kiâ, kiâ, kiã" que se distingue perfeitamente davoz do carrapateiro; em geral é menos loquaz do queeste. Alguns cantam às vezes juntos, lembrando o corodo gralhão.

i en ç o, h bitos Particularmente vivaz, é capaz deadaptar-se à alimentação mais variada; faz, por exem-plo, tanto o papel do carrapateiro, tirando parasito dogado, como o do urubu, comendo carniça e competindocom o caracará, p. ex., ao lado de rodovias. Aprende atirar os ovos da tartaruga, seude do bigni (Rio Gran-de do Sul), surpreendendo o réptil no ato de pôr. Procu-ra queimadas, onde se encontra com o gavião-caboclo,e segue os arados, afluindo às centenas para as terraslavradas; também vai para perto da costa, sendo encon-trado junto com gaivotas( s ipennis) e quero-queros (Rio Grande do Sul). Tira ninhegos e chega a ata-car aves adultas.

Ao contrário do carrapateiro tem vôo firme, lembran-do de certo modo um representante dó gêneroco.Agressivo para com outras rapineiras, vimo-lo atacar,por exemplo, s, Hei ospi i , Ge o etus eC tes b . Associa-se no crepúsculo em gran-des bandos no chão, p. ex., numa área arada. Habita re-giões campestres, campos de cultura, beira do mar empraias, em qualquer paisagem aberta. Ocorre da Terrado Fogo ao Paraguai, Rio Grande do Sul e Santa Catari-na; encontramo-l o também em Minas Gerais (Juiz deFora, junho; Serra da Canastra, fevereiro). [Estende suaaparição para o norte atingindo Mato Grosso do Sul (Pin-to 1964), Goiás (J.L. Albuquerque), São Paulo (Willis&

Oniki 1993) e Rio de Janeiro (Pachecoet i. 1994).] Muitopopular no Rio Grande do Sul (onde "chimango" é ape-lido; "não gastar pólvora com chimango", etc.), regiãona qual é abundante, substituindo, até certo ponto, ocarrapateiro.

CARACARÁ, Pr. 6,4

56cm, envergadura 123cm. Espécie grande muito co-nhecida; alvinegra, de face (nua) e cera amarela ou ver-melha; um penacho nucal dá à cabeça forma caracterís-tica; pernas altas, tarsos amarelados; desenho da asa se-

melhante ao do carrapateiro, espécie bem menos pos-sante. Imaturo pardo, de peito estriado, cara violáceaou amarelo-clara e pernas amareladas ou esbranquiça-das; distingue-se logo como um caracará pela formamarcante da cabeça. A cor da face passa de vermelhopara amarelo quando a ave se excita, não sendo portan-to um dimorfismo sexual.

baixo profundo "rrak"; o canto consiste em umaestrofe composta, um rosnante "rak, rak, rak-ráa"; jogaa cabeça veementemente para trás durante a última parte.

li bitos Onívoro, come tanto animais mor-tos como vivos e de toda a qualidade; encontra-se fre-qüen+emente nas estradas e queimadas, também à bei-ra-mar, às vezes em grupo; não rejeita nem mesmo osmiriápodes mais caústicos, gosta de lagartixas, cobras,anfíbios e caracóis; saqueia ninhos de garças e colhereiros(Pantanal, Mato Grosso) e até de seu "primo" l .Anda pelo chão como uma galinha, pula, suja-se no pe-gajoso capim-gordura, besunta-se de cinza. Esgravata osolo com os pés à procura de amendoim e feijão, colheos frutos de dendê; ataca cordeiros recém-nascidos, va-lendo por isso, localmente, como animal daninho. Se-gue tratores que aram os campos para tirar minhocas,inclusive o minhocuçu (v. Accipitrae).

olcl Considerado por certos índios como ave de mauagouro é, porém, apreciado fornecedor de penas pelossilvícolas do alto Xingu (Mato Grosso). No folclore bra-sileiro o carancho é símbolo de pessoa triste, intrusa, etambém de pessoa atrevida, rapineira, como bem per-sonifica a famosa cantiga, dentre as muitas que dele tra-tam, que diz "Carcará, lá no sertão ...". Os cabocloscearenses dizem que o caracará leva galhos ardentes quedeixa cri r para incendiar os campos secos, lenda exis-tente ta~bém em outros continentes com regiões extre-mamen e secas como, por exemplo, a Austrália, tendocomo p \sonagem outras aves rapineiras.

Habità ~alquer região aberta, onde é freqüentemen-te o único gavião que aparece. Ocorre da Flórida à Terrado Fogo, todo o Brasil. "Carancho", "Caracarai" (Marajó,Pará), "Gavião-de-queimada". A população do norte doAmazonas gradativamente passa para a forma setentri-onal da espécie, ol de dorso bai-xo uniformemente preto.

FALCÃO-PEREGRINO, lco eg VN AmFig. 76 Pr. 7, 6

37-47cm. É o maior representante do gênero no Bra-sil, espécie quase. cosmopolita; surge no Brasp apenascomo ave de arribação vinda da América do Norte. Par-tes superiores cinza-azuladas claras, faixa malar ("lágri-ma") bem destacada, negra. Partes inferiores brancas,barradas de preto (às vezes muito pouco) no adulto eestriadas no imaturo. Pés amarelo-enxofre. Fêmea niti-damente maior que o macho (p. ex. medidas de três exem-plares apanhados no Brasil: dois machos asa 30-33cm,

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266 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

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Fig.76.Falcão-peregrino, logotipodoThePeregrineFund Inc.

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Fig.77.Falcão, perseguindo umamarreca (seg.Sick1960).

cauda 13-15cm, comprimento total 380cm, peso 600g;fêmea asa 36cm, cauda 16cm, total 46,3cm, peso 950g).Asas longas, pontiagudas, cauda de comprimentomé-dia. Em vôo lembra um pombo, mas suas batidas deasas são mais firmes e menos acentuadas, interrompen-do-se de vez em quando por planeios; nunca desliza deasas enviesadas em V como o columbídeo e tem a caudamais cuneiforme e a cabeça menos aguda, mais redon-

da. Voz. "zücke-zücke-zücke". observada quando doisindivíduos se encontram, sendo mais ouvida com a apro-ximação da primavera setentrional e durante a repro-dução no distante norte. Ocorre em paisagens abertas,aparece em cidades, o que se explica pelo seu hábito denidificar, em sua terra, sobre rochas e até arranha-céus.

migrante setentrional, foi registrado emtodo o Brasil,P: ex.: Amazonas (dezembro), Pará, Per-nambuco (fevereiro), Bahia (março), Minas Gerais Qa-neiro, março, abril), Paraná (abril), Santa Catarina (no-vembro), São Paulo, Mato Grosso, Rio Grande do Sul(outubro, novembro, março, abril) e Rio de Janeiro (ex-Estado da Guanabara, veja abaixo). Mais dados sobre adistribuição, inclusive recuperação de indivíduos ani-lhados na América do Norte, v. abaixo.

Alimenta-se de aves que apanha no vôo.Introdução); o macho, menor, contenta-se com rolas epássaros de tamanho razoável mas a fêmea apanha so-bretudo pombas ou aves do porte de um frango d'água,

(ex-Estado da Guanabara) ou de umbatuiruçu, (Mato Grosso). Na Amazô-nia foi visto caçar periquitos g sp.). Vimos noRio, ao crepúsculo, dar caça a morcegose ao grande' cupim-vermelho em revoada,apanhando os insetos diretamente com o bico largamenteaberto/v. Introdução. Num ambiente de praias e lagosno Rio Grande do Sul o cardápio do falcão pode serriquíssimo em aves daquele ambiente aquático comoregistrado por A.J. Witeck, Rio Grande. Em três anos(1985 a 1987) foram coletadas como vítimas do falcão 11espécies de Charadriiformes, 7 ralídeos, 2 mergulhões,um l b us, uma e duas marrecas. Esse tipode dieta é~uito semelhante àquela de falcões vivendonum ambiente correspondente em outros pontos do glo-bo. Parece que o falcão não caça mamíferos no solo (ex-periência euiopéia), as aves pousadas no chão são le-vantadas antes ~erseguição.O do Rio de e O falcão-peregrinoestá presente no Rio entre o começo de outubro (o maiscedo que registramos foi 4 de outubro) e fins de abril.Foi observado em geral com mais freqüência em feve-reiro no centro da cidade, em Santa Teresa, Laranjeiras,São Cristóvão, Méier, etc. O local predileto dos falcõesno Rio foi, durante alguns anos atorre'da Mesbla, ondeos observamos regularmente desde 1950, geralmenteindivíduos solitários que ali estabeleceram seu "ponto";em certos anos durante semanas a fio, o falcão notabili-zou-se como o "gavião da Mesbla", em 1959 chegandomesmo à primeira página dos jornais (Sick 1960). ..

De 1977 em diante foi observado um falcão na Cida-de Universitária, Ilha do Fundão. Pousando sempre nomesmo lugar, no Hospital Universitário, foi capturadoe anilhado em abril de 1983 sendo recapturado 5 mesese meio depois (Coelhoet 1987), tempo no qual o fal-cão deve ter retomado e reproduzido no Canadá ouAlasca. Foi recapturado mais duas vezes e continuou aaparecer no mesmo local até abril de 1989, mais um bom

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FALCONIDAE 267

exemplo da fidelidade de aves de arribação a certos lo-cais durante suas migrações. No fim de 1989 e em 1990o falcão do Fundão, não apareceu mais no seu "ponto";estava sob o nosso controle há 12 anos. A longevidadede falcões norte-americanos p. foi avaliadapara algo entre 10 a 20 anos. Em São Paulo, Capital, ealgumas outras cidades, o falcão é registrado tambémregularmente. Aumentam os registros da ave em distri-tos rurais (v. abaixo), depois que a espécie se tornou co-nhecida, a começar com as nossas observações no Rio.

Enquanto o falcão antes de 1950era praticamente des-conhecido no Brasil (Pinto 1938) algum tempo depoistornava-se tão popular que qualquer gavião que surgiaem ambiente urbano (como go, , s

etc.) era designado como falcão-peregrino,inclusive alguns . st soni que surpreenderam ocentro de São Paulo (Sick 1979).iste dist , e Como foi esclarecido

apenas recentemente (White 1968) pode-se distinguiruma população setentrional, t ,procedente da tundra, nas regiões subárticas e árticas(Canadá, Alasca, Groenlândia), e uma população meri-dional, nus procedente do sul daAmérica do Norte, extinta na década de 1970.O declínioe conseqüente extinção foi provocado sobretudo pelaingestão de aves intoxicadas por biocidas organoclora-dos, provocando o enfraquecimento da calcificação dosovos que se quebravam no ninho durante a incubação;afirmou-se que em 1967 as cascas eram de 15% a 20%mais finas do que as anteriores a 1947 (Hickey 1969).Depois a situação melhorou nos EUA. O problema éagora o uso maciço de biocidas nos países em que osfalcões permanecem durante suas migrações.

Como é a regra, as populações mais setentrionais,até árticas, penetram durante suas migrações mais aosul, na região próxima à Antártica. Ida e volta represen-tam para o falcão no mínimo 22.000 km, se ele voar emlinha reta, o que provavelmente faz, guiado pelo instin-to. Várias outras aves migratórias têm um itineráriomuito semelhante (v.maça ricos, trinta-réis e o .

g prossegue viagem, chegandoaté.o Chile; um exemplar anilhado no Canadá foi captu-rado quatro meses depois na Argentina, deve encontrar-se com seu substituto meridional,.F,..p. residenteno extremo sul do continente, migrando durante o in-verno austral até a Colômbia, acompanhando os Andes.Indivíduos encontrados reproduzindo na Colômbia e noEquador durante o verão austral (dezembro a fevereiro)devem pertencer a uma população andina relacionadacom cassini. O estudo da recuperação de falcões anilha-dos na América do Norte revelou que não apenas indi-víduos, vindo da área de , penetram muito nosul, mas também . Podem, portanto, aparecer noBrasil ambas as raças geográficas durante suas migra-ções. Dos 37 falcões anilhados na América do Norte en-tre 1973 e 1985, foram recuperados 19 no Brasil. Um de-les, p. ex., anilhad.o em 18 de agosto em Yukon, Canadá,

não longe do círculo polar, foi recuperado em 25 de de-zembro do mesmo ano em Foz do Iguaçu, Paraná. Umoutro, anilhado no Alasca, foi encontrado na região dorio Madeira, Amazonas (7°10' Sul) e outro, anilhado noTexas, foi registrado em Minas Gerais (20°20'Sul) e umterceiro, anilhado naCalifórnia, foi encontrado em San-ta Catarina (28°30'Sul); todos os espécimens haviam sidomarcados ainda como filhotes em seus ninhos.

Após a extinção deanaium e o repovoamento daque-la área com indivíduos criados em cativeiro, de descen-dência muito diversa (em parte até do Velho Mundo, foiusada também inseminação artificial); o instinto natu-ral de migrar dos falcões ficou prejudicado.

Os falcões mais setentrionais ius) são menorese mais claros que os deEp. tu . O tamanho reduzidode Ep.lundrius é uma evolução em resposta ao fato deque essa população boreal passa muito mais tempo emregiões de clima ameno ou quente, migrando, do queno clima frio de sua pátria. Desta maneira "escapa", porassim dizer, da regra que postula um tamanho maiordos representantes boreais ou antárticos (antiga "Regrade Bergmann", hoje modificada).

FALCÃO-DE-PEITO-VERMELHO,

Arn

35cm; macho cerca de 30cm, fêmea ao redor dos 40cm;a grande diferença de tamanho dos sexos é a mesma queno anterior. Espécie robusta, da estatura de um peque-no falcão-peregrino e semelhante ao g isquanto à coloração, tendo porém, quando adulto, o pei-to anterior avermelhado ao invés de preto barrado debranco; peito posterior, flancos e faces inferiores das asasnegros com bordas e manchas redondas amareladas.Imaturo com peito anterior creme ferrugíneo, estriadode negro. "aczik, aczik", correspondendo à voz de

pe g (Suriname, Haverschmidt 1963) ou seme-lhante àquela do g (Equador, Guatemala,Ienny & Cade 1986). Caça pombinhas , noEquador e Guatemala apanha periquitos( eandorinhões e e, em quantidade, Jenny&Cade 1986), geralmente acima das copas da mata alta,em pleno vôo. Habita o cerrado, regiões meio campes-tres e orla de mata. Ocorre do México à Argentina e Bo-lívia e em quase tódas as regiões do Brasil, sendo contu-do raro; não se conhecem, segundo parece, dados sobresua reprodução no país. Registrado nas cercanias da ci-dade de Amapá (Amapá), Santarém, Ilha deMarajó eSerra do Cachimbo (Pará); Piauí; Bahia; Serra do Cipó(Minas Gerais); Cantagalo (Rio de Janeiro); [São Paulo(Pacheco 1992)] Paraná; Santa Catarina; Rio Grande doSul; Cuiabá e rio São Lourenço (Mato Grosso); rio Claro(Goiás).Pode ser confundido com um espécirnen gran-de de gul , mas quando tem-se o exemplar emmãos logo se observa a potência dos pés (dedo médio 4-Sem, no cauré atingindo apenas 3-3,5cm), muito maio-

., I

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268 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

res e mais grossos assemelhando-se àqueles de F, o qual aliás substitui na América tropical, fato

bastante surpreendente sugerido por E. Stresemann jáem 1924."Palcão-de-peito-laranja?".

CAURÉ, Pr. 8, 9

26cm; 120 g (macho) e 200 g (fêmea). Espécie bempequena, negra, de peito e barriga listrados de branco;garganta, papo e lados do pescoço amarelos ferrugíne-os ou brancos; abdômen e calções castanhos. Imaturocom coberteiras inferiores da cauda amareladas e barra-das de negro. "gi, gi, gi ...", "tzrii-i", "kit", podendolembrar o trinta-réis. Tem fama de ser hábil caçador; nocrepúsculo 'apanha morcegos e mariposas rente às co-pas da mata alta, capturando de dia libélulas, gafanho-tos e aves, ocasionalmente até andorinhões (Apodidae)e aves maiores como araçaris; também caça ratinhos elagartixas, os quais preda no solo. O casal empoleira-sealto, sobre galhos mortos em roçados na beira de rios ena mata. Na Amazônia passa como símbolo da felicida-de e acredita-se ser ele o construtor do' grande ninho defeltro do andorinhão Ocorre doMéxico à Bolívia e norte da Argentina, todo o Brasilexceto Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde querque haja florestas; ocorre inclusive no Rio de Janeiro(também no ex-Estado da Guanabara) e em São Paulo,não sendo comum em nenhum lugar. "Coleirinha","Tem-tenzinho". V. a espécie anterior, que à primeiravista parece ser-lhe a réplica maior. O cauré representa,na América, subbuieo do Velho Mundo.

FALCÃO-DE-COLElRA, Pr. 8, 7

36cm. Espécie campestre peculiar, de fácil identifica-Çã0;esbelta, de asas e cauda bastante longas; abdômenmenos vermelho que o de F. largas faixas su-pra-oculares brancas ligando-se na nuca, faixa malardistinta; na asa aberta nota-se orla posterior nitidamen-te esbranquiçada, secundárias com larga ponta branca,o que é bem pronunciado em vôo, ao contrário de

e F . Imaturo com as partes infe-riores brancas, estriado. "i-i-i". Caça rente ao soloem campos e restingas; às vezes peneira; 'come insetos,também cupins em revoada, lagartixas, morcegos

e ocasionalmente pássaros e até cobraspeçonhentas como a jararaca: procura queimadas. Deum modo geral não é raro. Vive periodicamente em pe-quenos bandos migrantes (restinga, Rio de Janeiro, agos-to). Ocorre dos EUA à Terra do Fogo, todo o Brasil. V.F.de e F imaturo. "Gavião-pombo" (São .Pa ulo).

ESMERILHÃO,

[27-33cm]. Um único indivíduo, apanhado em umnavio holandês a pouca distância da costa da Bahia (no-vembro de 1963), aparentemente procedia da regiãopaleártica (Islândia, Baars-Klinkenberg& Wattel 1964).[Recentemente assinalado em mais duas oportunidades:Manaus, 21 de outubro de 1990 (Stotzet 1992)e barrado rio Jaú, 2 de dezembro de 1993e 16 de janeiro de 1994(Pacheco& Carvalhaes 1994).]

Mencionamos por curiosidade que Diogo FernandesFerreira (1616) na sua e de ç de e mencionaum "Girfalco branco, tão alvo como uma pomba ... to-mado em uma nau na altura do Brasil, atravessando omar': (Sick, 1960). Tratar-se-ia de co usticolus, espé-cie circumpolar, senão talvez um albino de qualqueroutra ave de rapina.

QUIRIQUIRI, Pr. 8, 8

25cm. Junto com o cauré o menor representante dafamília. Inconfundível pelo desenho característico e es-tranho que ostenta na cabeça, duas faixas verticais late-rais e duas nódoas nucais negras, lembrando olhos ("faceoccipital", muito menos convincente do que no caburé,Gl . Dimorfismo sexual acentuado,manifestando-se já nos filhotes prestes a abandonar oninho; macho de cauda e costas uniformemente ferrugí-neas, retrizes com larga faixa negra anteapical e pontabranca, asas cinzentas; fêmea com asas ferrugíneas comoas costas, manchadas de negro e de cauda com numero-sas listras negras. "gli-gli-gli", "i-i, i, i, i". COITle la-

gartixas (p. ex. e grandes insetos como gafanho-tos; às vezes também apanha camundongos e pequenascobras; no crepúsculo tenta capturar morcegos, o quenem sempre consegue, embora possa especializar-se nis-to. Empoleira em postes e fios telegráficos; sacode a cau-da; ocasionalmente, voando pode lembrar uma grandeandorinha. Ao contrário do "peneireiro"tinnunculus do Velho Mundo (ao qual se assemelha umtanto no aspecto geral, sendo às vezes considerado seusubstituto geográfico), adapta-se menos à vida nas ci-dades; ocorre por exemplo dentro do Rio de Janeiro e dePorto Alegre (Rio Grande do Sul). Vimos um quiriquirientrar por baixo de um telhado para dormir (Foz doIguaçu, PR). Habita em regiões campestres e quase de-sérticas, onde pode ser comum; contenta-se com ummínimo de vegetação. Ocorre do norte do Alasca àTerrado Fogo, em todo o Brasil, exceto em florestas. Conside-rar o um parente próximo de Fiinnunculus

é contrariado por razões osteológicas: o último possuium (4 vértebras soldadas) ao contrário de F.

us (v. Morfologia).

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FALCONlDAE 269

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ORDEM GALLIFORMES

ARACUÃS, JACUS, JACUTINGAS, MUTUNS: FAMÍLIA CRACIDAE (24)

Abarca os mais importantes galináceos da Américado Sul, ao passo que existem, no neotrópico, poucos ele-mentos de outras famílias desta ordem, a qual seria eco-logicamente "complernentada" ou antes, substituída, poroutro táxon como, por exemplo, os inhambus(Tinamidae) e os jacamins (Psophiídae), adicionando-seainda a cigana (Opisthocomidae)" no caso da Amazô-nia (ver também Anhimidae). Os cracídeos são um gru-po irmão dos fasianídeos e dos megapodídeos (da Aus-trália). Sibley et . (1988) propuseram uma OrdemCraciformes, composta de duas Subordens: Craci(Cracidae) e Megapodii (Megapodiidae).

Fig. 78.Quadro comparativo das proporções detinamídeos e cracídeos. nchotus . escens (1),C u. (2), lis c. c nicollis (3),

elope o. (4), ipile sis (5) eo se/ te (6) (seg. Krieg& Schuhmancher1936).

Pertencem à avifauna mais antiga deste hemisfério;há vários fósseis do Terciário (p. ex. Eoceno, 50 milhõesde anos) da América do Norte e do Pleistoceno do Brasil(Minas Gerais, 20.000 anos); distribuem-se atualmentedo sul dos EUA (Texas) ao Uruguai e norte da Argenti-na.

, espec , o

São os únicos Galliformes arborícolas; seu porte va-ria desde aquele de um anu-coroca até o de um peru.Embora as espécies brasileirasê' se apresentem em qua-tro biotipos bem distintos (aracuãs, jacus, jacutingas emutuns) são de aspecto basicamente bem homogêneo;freqüentemente apresentam um penacho ou uma crista(mais destacado nas jacutingas e mutuns) e a gargantanua, nos jacus e jacutingas com barbeia vivamente colo-rida que chama a atenção no escuro da mata. Mutunscom base do bico e cera vermelha ou amarela (ocorreaté azul e verde), sendo a base do primeiro freqüente-mente expandida o que amplia ainda mais a área bri-lhantemente colorida. As intumescências do bico desão carnosas e incham durante a reprodução, ao contrá-rio de cujo bico intumescido é sólido.

Existe na literatura muita confusão na descrição dascores da cera e dos apêndices, pois os autores freqüente-mente apenas conheciam exemplares pouco desenvol-vidos ou peles de museu, onde a cera e os apêndices(carúncula e barbeias) encontram-se deformados e des-coloridos; ninguém estava ciente da grande variaçãocondicionada pela idade dos indivíduos e pela épocado ano. Os cientistas, trabalhando na Europa, dependen-tes dos lotes de aves importadas vivas, receberam, àsvezes, indivíduos de várias localidades, sem saber; reu-niram então casais, compostos de duas espécies, proce-dentes de lugares diferentes, errando na identificaçãodas aves em questão. As partes nuas da cabeça são damaior importância para a classificação de representan-tes de e e. Cicatrizes que examinamos em ma-chos de globulos e C. o , têm a cor da cera domesmo indivíduo: vermelha ou amarela, respectivamen-

22 A cigana,Opisthoco ho ,foi incluída freqüentemente nos Galliformes; separamo-Ia numa ordemà parte.23 Os representantes extra-brasileiros,O oph is, enel eC peies, são tipos diferentes.

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CRACID,4 271

te. As cores berrantes do bico dos mutuns, assinalandode longe as aves, ressaltam incrivelmente na penumbrada mata onde a plumagem negra se confunde por com-pleto com o ambiente.

A plumagem também apresenta problemas, sobre-tudo no grupo de e Em existem àsvezes várias fases das fêmeas, como em C. (extra-brasileiro). Há tendência da fêmea variar mais do que omacho (heteroginia, v. sob Formicariidae), v. p. ex. asraças geográficas de Apontamos (Teixeira& Sick 1981, 1986) certa variação no colorido dosadultos: (1) o abdômen amarelado em vez de branco, (2)a ponta branca da cauda pode ser ausente (sem estargasta, C. ou pode aparecer p. ex. em C.

e (3) marrnoreação das asas na fêmea de C.

Hoje a publicação do livro muito bem ilustradode autoria de [ean Delacour

e Dean Amadon (1973) facilita muito a orientação. Au-toridade mundial nos cracídeos é o Dr. Jesus EstudilloLopez, México.

Pescoço e cauda longos, asas grandes; levantam vôoimediatamente quando surpreendidos; sua musculatu-ra peitoral é bem desenvolvida embora a capacidade devôo seja, na maioria, reduzida, servindo contudo muitobem para auxiliar a ave a fugir entre qualquer ramariasubindo assim até as copas; as jacutingas voam relativa-mente bem.

Pernas altas e fortes, mais longas nos mutuns os quaistambém têm a bacia mais comprida e estreita sendo detodos os mais terrícolas; andam a passos largos na matalimpa em uma atitude majestosa. Quando, p. ex., ojacuaçu deseja alcançar, sob condições naturais, umcapão de mata mais distante, atravessa o campo inter-calado a pé, desta maneira despertando muito menos aatenção de possíveis inimigos do que se voasse, desajei-tado como é. As pernas são mais curtas nas jacutingas,as quais são as mais arborícolas de toda a grei; quandocorrem pelos galhos podem lembrar macacos, mas nãofazem o mínimo ruído. Seus dedos são longos sendo ohálux bem desenvolvido e situado no mesmo plano queos dedos anteriores, o que possibilita que até o pesadomutum segure-se com a maior habilidade em galhos fi-nos, abarcando freqüentemente vários galhos ou cipósjuntos. Chegando à copa escondem-se atrás das folhasou voam, planando silenciosamente, escapando assimdo mais acurado observador.

Sexos semelhantes a não ser nos mutuns do gênerocom exceção de C. Os machos possuem ór-

gão intromissor, conforme vimos no mutum-cavalo ecujubi. Há dimorfismo sexual na cor da Íris. Nospe a íris do macho é vermelha, da fêmea acasta-nhada, o que é bem diferenciado já no primeiro ano devida, sendo o mesmo válido para certos outrospe,comoP. P. emP. existetal diferença. Em a íris do macho é cas-tanha, da fêmea adulta vermelha, da fêmea nova pardo-

amarelada. Existe também dimorfismo sexual na cor dotarso sendo que a coloração da perna pode tam-bém ser caráter específico A barbela de

e é maior e mais vivamente colorida nomacho adulto, sobretudo durante a época de reprodu-ção, depois torna-se pouco vistosa.

A plumagem do imaturo é semelhante senão igual àdo adulto; o macho novo de P: ex.,que acompanha ainda a mãe, parece uma réplica redu-zida do pai, fato que levou às vezes pesquisadores anti-gos a considerar um jovem em plumagem perfeita deadulto como outra espécie. Com menos de meio ano deidade alcançam o tamanho dos pais mas ainda não oseu peso. Notamos, que a crista (topete) dos imaturosde C. (ambos os sexos) é mais alta do que ados adultos, as penas são menos encurvadas no jovem.Existem, na literatura, informações errôneas sobre umaplumagem parda de cracídeos imaturos devido ao oca-sional aparecimento de algumas penas pardas no meioda plumagem negra de certos indivíduos de e(esquízocroísmo). Criando jacus em cativeiro fica evi-dente que, em ocorrem algumas mu-das até 6 meses de idade; o filhote de 40 dias, ainda bemmenor que o pai, se apresenta numa plumagem juvenildiferente de rápida transição: o desenho da cabeça e dopescoço lembrao do pinto (a garganta é branca), a plu-magem do corpo é pálida, sem as marcações brancas doadulto; com 90 dias é quase igual aos pais.É notávelque o macho de das montanhas da AméricaCentral adquira a plumagem preta definitiva apenas nosegundo ano de vida, sendo antes marrom como a fê-mea.

Interessanteé o estudo da coloração dos pintos, co-bertos de penugem, hoje muito facilitado pela freqüentecriação das mais variadas espécies em cativeiro. Regis-tramos dimorfismo sexual dos pintinhos de

a faixa superciliar do macho é branca ou es-branquiçada, aquela da fêmea pardacenta-clara, comoaprendemos em 1974 com U. Schadrack em Blumenau,Santa Catarina. G. Scheres (1985)observou o mesmo emP pipile e comunica que uma situação semelhantehá nos pintos de várias espécies de criadas na Bél-gica, p. ex. C. C. e C. O sexode pintos mais velhos, de C. é indicado pelasrêmiges em crescimento: pretas uniformes no macho,fasciadas na fêmea. Há vestígio de pênis já empintainhos.

Geralmente bem semelhante nas espécies aparenta-das mas muito diversas nos quatro grandes grupos:aracuãs, jacus, jacutingas e mutuns. A vocalização dosaracuãs consiste em um cacarejar altamente rítmico, ven-tríloquo e de duríssimo timbre; só com muita atençãopercebe-se tratar do dueto de um casal, situação que setorna ainda menos clara quando acontece de vários in-

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272 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

divíduos de um bando ou de casais vizinhos cantaremsimultaneamente (veja também uru, Phasianidae). Ocanto do grande pode ser ouvido a maisde dois quilômetros. A traquéia dos machos é alongada,formando uma grande "alça" na região do peito (fig. 79),parecendo que tão notável disposição serve mais paraabaixar a voz do que para ampliá-Ia; as vozes dos ma-chos são uma oitava abaixo daquelas das fêmeas. JáHercules Florence em 1829 notou que o casal do aracuã'canta alternadamente, a fêmea mais alto. Pode-se pro-vocar o vozerio destas aves tocando um sino.

Os jacus impressionam pela força e rouquidão quan-do manifestam-se alarmados; têm a traquéia dobradaàsemelhança dos aracuãs. A traquéia pode ser apalpadana ave viva. A existência ou falta da alça da traquéia emcertas espécies de dificulta as conclusões so-bre o significado dessa transformação. Dentro da espé-cie não há muita variação e assim a forma da traquéiaserve bem para a classificação e conclusões sobre o pa-rentesco das espécies. A voz do jacuaçu lembra o gritode um grande mamífero como um asno, no que diferetotalmente do cujubi e da jacutinga, cujos piados altos efinos lembram a vocalização de uma espécie pequenade papa-formigas amazônico; os possuem a tra-quéia normal, sem qualquer dobramento.

Finalmente os mutuns e têm

Fig.79.Traquéiadojacu-açu, ,fêmea,mostrando a alçada traquéia e sua entrada(X)

no tórax.C,coluna vertebral,E, esôfago,. Varjãode Guaratuba, SãoPaulo,outubro

1969.

canto ventríloquo baixo e profundo, semelhante ao ru-.ído obtido com o soprar em uma garrafa; dizem os ca-çadores que a ave está "gemendo". Trata-se de uma dasmais baixas vocalizações que se conhece em nossa avi-fauna; as estrofes são bi ou tripartidas e bem acentua-damente, por exemplo, "hm-hrn-húm hm-hm-húm"

ou "hrn-hm-húm hm-hm-hm-hull".. .

Ao lançar seus gemidos, chii primeirolança o pescoço para diante mantendo o bico aberto easpirando, em seguida recolhe e fecha o mesmo, abai-xando a cabeça, dirigindo o bico para o peito e começa acantar, de bico e olhos fechados; a traquéia, repleta de aré fechada em sua porção anterior, serve de caixa de res-sonância durante o ato de vozear. Os machos de mutumtêm-na transformadaà feição diferente dos aracuãs ejacus, distinguindo-se sobretudo pela forte compressãolateral (e conseqüente alteração da largura) apresenta-da. Durante o "gemer" as asas apertam o corpo e a cau-da se abaixa. Os mutuns cantam, durante a reprodução,de preferência pela madrugada ouà noite estando ins-talados em seus poleiros.É muito difícil localizar o ge-mido do mutum, tanto mais na mata onde a vocalizaçãopoderia vir de dois machos em lugares diferentes (osmutuns são extremamente territoriais). O gemido de ummutum ao nosso lado (em cativeiro) pode ser quaseinaudível para nós - mas a fêmea ouve de longe. Apósgemer, em presença da fêmea, o macho freqüentementese ergue e bate fortemente com as asas. Certas espécies,como e C. (extra-brasileiro),parecem nunca gemer. O sinal de advertência ou alarmeé o tossir seguido de um assobio; o alarme de

é surpreendentemente suave.

q'"'-;

Jacutingas e jacus são notáveis pelo ruído esquisito,fortíssimo que produzem com as asas enquanto voampassando de uma copa de árvore a outra distante, p. ex.,aproximadamente cinqüenta metros. Durante o começoda reprodução as evoluções são praticadas com maisênfase. A ave decola do galho, plana uns instantes, pro-duz o ruído e plana novamente seguindo em vôo nor-mal para empoleirar num outro galho geralmente umpouco mais baixo do que aquele de onde decolou.

Os caçadores utilizam os termos "rasgar" ou "riscarasas" para o ruído produzido pelas jacutingas e "rufaras asas" para o jacu, o que caracteriza muito bem as di-ferenças entre os sons emitidos; o;~rasgar" das ja~}!ti?gas.lembra bastante o ruído obtido quando se rasga um panogrosso ou o barulho produzido por uma árvore grandecaindo, enquanto que o dos jacus assemelha-se ao rufarde um tambor; em quaisquer dos dois casos é semprebipartido, sendo, nos cujubins, notada uma fraca notadiatônica "dak", É muito difícil observar pormenores.pois tal música é entoada quase que exclusivamente noescuro, ao anoitecer, pela madrugada e mesmo em noi-tes de luar, como verificamos no alto Xingu, ao obser-var cujubins.

É certo que as primárias mais externas, que apresen-tam brusco adelgaçamento em sua porção terminal fun-cionam como rêmiges sonoras (fig. 80), sendo tal adap-

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CRACIDAE 273

tação muito menos evidente nos jacus que nas jacutingas;ao que parece certas espécies de (p, ex. ojacupemba) apenas excepcionalmente rufam as asas en-quanto que o grande da Amazônia eseu substituto meridional desenvolvemtal ato em uma intensidade comparável à das Oalcance do "rasgar" de chega a um quilômetro oumais, dependendo das condições físicas do local. A fê-mea de mesma transformação das primá-rias mas parece não executar qualquer ruído.

A impossibilidade de observação precisa durante ascerimônias levou caçadores a assegurar que tais ruídosseriam produzidos pelo friccionamento das asas nostarsos estando a ave pousada e o estreitamento das pri-márias nada mais seria que o produto do desgaste dovexilo contra as suas unhas. Consta que em cativeiro.

executa um "rasgar" voando do poleiro ao solo.

Fig.80.Asa de um cujubi,Pipile pipile naitereri, macho.A terceira e quarta primárias externas são rêmigessonoras (seg. H. Sick1965).

Frutas, folhas e brotos, no caso dos jacus, por exem-plo 'os do murici e da caneleira; o aracuã aprecia omandiocão e vimos um jacuaçu comendofrutos do (Campos de[ordão, São Paulo).Acompanham a frutificação de certas palmeiras como opalmito edulis) e o licuri agarrada aocacho de palmito, a jacutinga engole grande número defrutos dos quais retira apolpa no papo regurgitando emseguida os duros coquinhos sobrantes que metralham afolhagem do sub-bosque, despertando a atenção do ca-çador; devem ter papel relevante na disseminação devárias espécies de vegetais; dizem os matutos sulistasque o jacu "planta" a erva-mate. Descem oportunamen-te ao solo para apanhar frutas caídas. Gostam de comerflores de árvores. "[acu" (Tupi) significa: o que comegrãos.

Caçam moluscos, gafanhotos, pererecas e outrosanimalejos; não rejeita nem mesmo

centopéias grandes e aranhas perigosas comoConsta que se entope de lagartas, peri-odicamente. Os cracídeos procuram barreiros para en-golir terra salobra (Mato Grosso, v. sob Psittacidae). Nosseus estômagos sempre se acham pedrinhas.

Bebem na beira dos rios. O ato de beber dos cracídeosse assemelha ao dos pombos, é um processo de sugar,com o bico mantido dentro d'água, notando-se a ingestãodo líquido pelo movimento rítmico da garganta.

O sinal de excitação, sobretudo, nos jacus e mutuns,é o abrir e fechar impetuoso da cauda, cerimônia aindamais notável quando as retrizes têm a ponta branca (v.

Todos os Cracidae têm o tique de sacudir a cabe-ça, o que se nota já nos pintainhos, intensificado quan-do as aves tornam-se excitadas; cogitamos, no começo,que este nervosismo talvez fosse ligado à ocorrência denematódeos instalados em suas pálpebras. Na presençado homem o tique aumenta. Esse movimento muito tí-pico é executado em duas maneiras: sacode a cabe-ça lateralmente, de frente para trás. Qualquer exci-tação reflete-se também em movimentos das penas dopíleo, sendo estes mais impressionantes nos gêneros quepossuem penacho (p, ex. mutuns), efeito ainda realçadopelo desenho branco transversal das fêmeas de certasespécies. Osaracuãs, jacucacas, jacutingas e mutunsespojam-se na poeira e apreciam banhos de sol. Oscracídeos não esgravatam o solo procurando comida,ao contrário de outros galináceos. A jacucaca, surpreen-dida comendo no solo, se abaixa na areia da caatinga,esperando assim escapar à descoberta (Reiser 1925).Àtardinha, antes de ernpoleirar-se, tornam-se muito in-quietos, no que lembram os sabiás (v. Turdidae), sendotal nervosismo - aparentemente ansiedade para acharum bom lugar de dormida-r-r- registrado por nós em jacuse jacutingas. Pousam sempre no mesmo ponto para dor-mir, lugar que pode ser traído por um monte de fezes,acumulado durante meses, quando existe outro galhopor baixo do poleiro Em noitesenluaradas, mutuns scio tornam-se muitoinquietos no pol~i,ro, até abandoná-Ia, pousando depoisem outro lugar perto. --'< '--

Monógamos, ao contrário dos Tinamidae. Os machosdão comida à sua fêmea, virando e abaixando gentil-mente a cabeça, como os pais alimentam os filhos (v.abaixo). O casal acaricia-se na cabeça (p. ex. , Omacho de e chii persegue a fêmea no soloexibindo seu crisso branco (oveiro) e "varrendo" o solocom a cauda; aliás a exibição do crisso e abdômen (quese torna visível por detrás quando a ave ergue verticalmentea cauda) é observado a toda hora em C. ,

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274' ORNITOLOGIA BRASILEIRA

inclusive nas fêmeas quando arrumam a plumagem.Conhece-se pouco sobre as cerimôniasnupciais doscracídeos brasileiros (v.Vocalização e Música instrumen-tal). Consta que um casal de mutum exige um territóriode dois ;;t três quilômetros de diâmetroe sai briga feiaquando aparece um intruso da mesma espécie. As avesestão em constante movimentação na sua área, prefe-rindo certos trechos, passando da galhada ao solo e vice-versa. Os territórios de espécies de dois gêneros, comop. ex., e podem se sobrepor.Seria interessante aplicar a rádio-telemetria para acom-panhar os movimentos diários das aves, como já foi fei-to com no Texas, EUA.

O par faz um ninho pequeno nos cipoais, às vezesno alto das árvores ou em ramos sobre a água ou aindaem troncos caídos; aproveitam-se também de ninhosabandonados de outras aves. A jacutinga pode pôr so-bre galhos grossos, ramificações de troncos e rochasquase sem material de construção; ocasionalmentenelope nidifica também sobre rochas dentroda mata (Espírito Santo); pode instalar-se sobre um galho entre gravatás cujas folhas ela pisa,obtendo assim um ninho. Os aracuãs, que vivem o tem-po todo em pequenos bandos que defendem seu territó-rio contra bandos vizinhos, tendem a nidificar em gru-po.

Ovos grandes, uniformemente brancos podendo fre-qüentemente encardir-se com a sujeira, tornando-seamarelados. Os ovos do mutum lembram os da anhuma,mas possuem a casca bastante áspera (sobretudo os de

não sendo lisos como os daquela outra; podemvariar bastante de tamanho e de forma, inclusive aque-les postos por uma mesma fêmea (p. ex.Os ovos de são lisos. Consta o período de incu-bação de 21 dias para 24 dias parapipile, 28 dias para

e 30 dias para ede 30 a 32 dias para O jacuaçu faz duasposturas anuais (Rio de Janeiro).

As ninhadas são de dois a três filhotes (quando sãodois filhotes são de sexos opostos, como registramos emindivíduos selvagens de C. no Espírito San-to), que já nascem de olhos abertos e que, desde logo,

.,podem mover-se livremente. Nos primeiros dias andamsob a grande cauda materna sendo chamados a voltarquando se afastam . Neste períodoquase não comem, vivendo à custa das reservas graxas;depois retiram ativamente comida (p. ex. larvas de inse-tos, cupins e frutas) que lhes é exibida pela mãe, a qualabaixa o bico; o-butim pode constituir-se de uma pelotaregurgitada, a qual é apresentada da mesma maneira(aracuã, jacuaçu). Os filhotes de C. sãoinseparáveis da mãe ainda com quatro meses.

Já nos primeiros dias de vida as rêmiges dospintainhos de aracuã, alcançam doiscentímetros de comprimento e a avezinha, toda cobertade penugem, utiliza-se das asas quando se movimenta

dentre a galhada, balançando sobre. o.s ral!l0s; os filho-tes, de uma maneira geral, são muito hábeis em execu-tarem saltos longos e altos, subindo com a maior facili-dade pela ramaria. Dormem sob as asas da mãe (mutum)ou de ambos os pais (aracuã) empoleirados; inclusivequando já estão crescidos dormem encostados nos adul-tos. Acompanham os pais alguns meses

e por esta razão muitos dos"casais" abatidos consistem de uma fêmea adulta e umindivíduo novo (macho ou fêmea); os imaturos já inde-pendentes unem-se em bandos separados dos adultos

As recentes revisões taxonômicas (Vuilleumier 1965;Vaurie 1968; Delacour & Amadon 1973) proporciona-ram uma melhor compreensão do parentesco e da dis-tribuição dos Cracidae. Aparentemente todos os repre-sentantes de um gênero, como os e os têmdistribuição alopátrica, excluindo-se ou substituindo-segeograficamente, o que sugere sua reunião em superes-pécies. Mas várias espécies, uma de cada gênero, po-dem viver na mesma mata, por exemplo,

e no alto Xingu, MatoGrosso. No Vaupés, Colômbia,

e sãosintópicos. Assim sendo a coexistência, a simpatria deespécies de e é prova eloqüente que não sepode incluir em como foi feito por Delacour& Amadon (1973).

Os integrantes do gênero substituem-se tam-bém geograficamente embora pareça existir a possibili-dade de cruzamento em natureza quando dois deles se.encontram, o que acontece em Mato Grosso com a for-ma setentrional p. em relação à meridional Pp. podemos considerar todos os como raçasgeográficas de uma espécie. Não há necessidade de su-primir o nome genérico de em favor de(Delacour &Amadon 1973). As espécies de de lar-ga distribuição neste continente, constituem uma uni-dade muito diferente de gênero monotí-pico restrito aos Andes da Venezuela ao Peru.Má Seme-lhança de e na forma' da asa. As nossasconclusões nomenclaturais são as mesmas daquelassugeridas pelo II Simpósio Internacional sobre Cracidaeem Caracas, Venezuela, em fevereiro/março de 1988.

Também os aracuãs, se excluem, não haven-do duas espécies no mesmo local; todas as espéciesbra-sileiras (exceto podem ser considera-das aloespécies que compõem uma superespécie; pode-se pensar até em raças geográficas de uma só espécie.

Simpatria é às vezes simulada quando ocorre umaexclusão ecológica (também altitudinal) como acontecenos . A jacupemba, elope supe i is, pareceser simpátrica, localmente, com cinco espécies grandes

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-CRACIDAE 275

do mesmo gênero: P c c P' pilê , P , P.e P P. vive na Serra dos Ór-

gãos onde P não penetra, mas ambos en-contram-se freqüentando certas fruteiras nas encostasda Serra do Mar (Rio de Janeiro); consta que ambos ocor-rem juntos no litoral paulista. No Espírito Santo ajacupemba vive tanto nas baixadas quentes (rio Doce)como nas montanhas (Limoeiro, Jatiboca), ondepe parece não existir. [No Espírito Santo, Pobs-

está confirmado apenas para o Caparaó (Vaurie1966).]No Brasil Central e na Amazôniae P. vivem dentro da mata alta enquanto P

vive na mesma região na beira da mata e nocerrado. P. se encontra com P nacaatinga do Piauí.

Conclui-se que cerca de 75% dos Cracidae podem serconsiderados membros de superespécies; tão alta per-centagem é observada igualmente em Galbulidae, sen-do ainda maior em Ramphastidae (Haffer 1974b).

Fora da época de reprodução os mutuns podem for-mar pequenos bandos só de machos ou só de fêmeas.Os cujubis do Mato Grosso efetuam migrações locais,seguindo rio abaixo ou rio acima. No Rio Grande doSul, no fim do século passado, as jacutingas foram re-gistradas como aves de arribação; apareciam em maio/junho (inverno) em bando de quatro a dezesseis indiví-duos, nidificavam e sumiam em dezembro (verão). EmSanta Catarina foram registradas verdadeiras invasõesde jacutingas, em invernos frios; ocorreram em SantaCatarina normalmente deslocamentos de jacutingas du-rante a frutificação do pindaúba, em março/abril, apa-recendo bandos de 10 a 15 indivíduos (v. sob tucanos).Bandos de cracídeos vistos por nós em várias regiõeseram compostos sempre por uma única espécie.

É comum encontrar, sob a membrana nictitante doscracídeos, nematóides (Spiruroidea); no olho depe vive , no olho de vive

Como parece nada constar acerca daorigem destes vermes, os quais costumam ter um ciclointeressante, citamos o que se sabe sobre

que ocorre no saco conjunctival da galinha do-méstica (Phasianidae) e que possui importância veteri-nária, sendo o causador da O ovo ernbrio-nado do parasito é incapaz de desenvolver-se no olhodo hospedeiro, sendo necessária sua passagem por umhospedeiro intermediário o qual, no caso, é uma bara-ta, que, comida ocasionalmen-te pela galinha, vai infectá-Ia; as larvas abandonam oinseto no papo da ave e, através da boca e do canal naso-lacrimal, alcançam-lheQ. olho.

Os cracídeos empoleirados para dormir estão amea-çados por morcegos hematófagos, vampiros, como

(Phyllostomidae) que assalta tambémas galinhas que não dormem no galinheiro. O morcego,acomodando-se sob a ave por baixo da sua rica pluma-gem arrepiada, corta a pele dos dedos, do calcanhar, dotarso e ao redor da cloaca (Sazima& Uieda 1980).

Encontramos pencas de carrapatos na face domuturn-cavalo (Xingu, Mato Grosso).

declínio,

Os cracídeos constituem um dos grupos de aves maisameaça das da América Latina. Mais de um terço dasespécies estão em perigo de extinção devido à destrui-ção das florestas tropicais e também à caça ilegal. Mui-tas espécies mais estarão ameaça das se medidas rápi-das não forem tomadas.

No simpósio de Caracas em 1988 foram indicadoscomo candidatos ao o , livro vermelho dasespécies em extinção, as seguintes sete espécies brasi-leiras: P. e P. (todostrês insuficientemente conhecidos), g

(extinto na natureza), glob uloso e C.chii.

Pertencem às mais importantes aves cinegéticas, con-tinuando a ser relevantes na alimentação da população

Fig.81.Distribuiçãode mutuns do gêneroC , ctosensu incluindo quatro espéciesbrasileiras(1-4): 1.

blu enb hii, 2. fasciolata, 3. C globui 4.ecto 5. d ubentoni, 6. C lbe , 7. C .

Essessete representantes podem ser consideradosmembros de umasuperespécis, . O mapa dáapenas uma idéia da distribuição (seg.Vaurie1968).Além dessas espéciesde mutum existemainda osmutuns dos gêneros e ihoc .

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276. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

rural da Amazônia, apesar de terem a carne algo escura.O atrativo maior para caçar jacutingas no Sudeste é uti-lizar sua gordura que durante a principal frutificaçãona mata (maio a agosto) acumula em notável quantida-de.

As penas de mutum são largamente utilizadas pelosíndios na guarnição de flechas, confecção de tangas, etc.Os mutuns são procurados principalmente no comérciode aves vivas, aparecendo em viveiros dos aficcionadosneste país mesmo espécies extra-brasileiras.

3

Fig.82. Distribuiçãode espéciesde aracuã,superespécieO. e suas6 aloespécies:IaO.

t i, lb O. , lc O.supe , ld o.le O. squ , lf. O. 2. 3

lis (extra-brasileira)(seg.Delacour&Amadon 1973).

No Brasil merídio-oriental o desmatamento e a caçaindiscriminada reduziram drasticamente as populaçõesde Cracidae como, por exemplo, o jacuaçu, obs-

on , em São Paulo. Consta, porém, que -pe o. é freqüente em matas secundárias no norteda Argentina (Scott& Brooke 1985). A jacutinga,

, escasseou em toda sua área de dispersão; noParaná a jacutinga foi sacrifica da durante o processo decolonização do norte daquele estado, que acabou portornar-se importante zona cafeeira. Há fotografias tira-das entre 1930 e 1940 que mostram caçadores ladeadospor uma pirâmide de jacutingas abatidas na região deLondrina, onde a espécie atualmente já não mais ocorre;naquele. tempo jacutingas chegaram a ser vendidas emfeiras livres de Porto Alegre, Rio Grande do Sul'(Sick1969).

A incrível abundância e mansidão da jacutinga nopassado depreende-se de um relato de Fritz MüIler aCharles Darwin, escrito emItajaí, Santa Catarina, em 9

'de setembro de 1868: "Eu mesmo vi como meia dúziade jacutingas foram mortas, uma após outra, na mesmaárvore. Um vizinho contou-me que, há dois anos, abate-ra cerca de 100jacutingas em um único pé de guarajuva.No inverno frio de 1866 apareceram tantas jacutingasnas baixadas do rio Itajaí que, em poucas semanas, fo-ram mortas aproximadamente 50.000".

O mais atingido foi o mutum-do-nordeste, ítu ,este sendo uma das primeiras aves do Brasil a seremdescritas e extintas. O mais resistente as alteraçõesambientais é oaracuã, que não é florestal.

É necessário aproveitar-se da boa potencialidade dereprodução dos Cracidae em cativeiro para se obterespécimens a serem utilizados em programas derepovoamentos. Os hábitos migratórios da jacutingadificultam a sua preservação em áreas pequenas; elaexige palmitais.

Embora domestiquem-se rapidamente, a criação deCracidae em cativeiro raras vezes tem sido praticada,até há pouco. Apesar de não ter existido (como aindanão existe hoje em dia) aldeia de índio sem qualquerespécie desta família comoxerimbabo,não houve umadomesticação real nem mesmo pelas culturas pré-colom-bianas mais desenvolvidas. Hojeé praxe dar-se ovos dejacu ou qualquer outra espécie a uma galinha (não exis-tente em tempos pré-colombianos) para que ela os cho-que; a criação de aracuãs e jacus é designada como "mui-to fácil" (Nogueira Neto 1973), sendo questão apenasde alimentação e viveiros adequados; comu uso de cho-cadeiras têm-se obtido quatro posturas anuais deene-lope obscu . J. Estudillo Lopez do México considera oscracídeos resistentes contra doenças mas não agüentamo frio. Destacam-se no Brasil na criação de Cracidae aZôo-Botânica Mario Nardelli de Pedro Nardelli, Rio deJaneiro e a CRAX - Sociedade de Pesquisa do Manejo eda Reprodução da Fauna Silvestre de Roberto M. A.Azeredo, Belo Horizonte, a última iniciando em dezem-bro de 1990 uma reintrodução de bl i, emflorestas do leste de Minas Gerais.

O aracuã do Pantanal de Mato Grosso é,à feição dosquero-queros do Sul e dos jacamins da Amazônia, apre-ciado como sentinela, acusando qualquer acontecimen-to inusitado na fazenda. Em cativeiro obtêm-se cruza-mentos, por exemplo, de vários mutuns e até cruzamen-tos intergenéricos, como scio x enelope sp., e

ipile pipile ensis x ico/lis. Taismestiçagens, restritas ao ambiente da catividade, vêmcomprovar a idéia de um parentesco próximo dosCracidae entre si. A mestiçagem, adorada pelos avicul-tores, é profundamente indesejável sob o ponto de vistaconservacionista; tanto mais que 'os híbridos são, aomenos parcialmente, férteis. Não constam a nós provasconcretas de se terem conseguido hibridações doaracuãcom galinhas domésticas, "para obter-se melhores ga-los de briga" (sic fala-se de híbridos de Cracidae comgalinhas-d'angola (Numididae): parece ser difícil talmestiçagem. O híbrido apresentado por Ruschi&

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CRACIDAE 277

Amadon (1959) deve ter sido um cruzamento de gali-nha d' Angola x galinha doméstica conforme sugeridopelo segundo autor pessoalmente em 1973.

[ARACUÃ-PINTADO] Pr. 10,6

48cm. Como outros representantes do gênero de gar-ganta nua vermelha, mas emplumada ao longo da linhamediana e por isso parecendo, na ave viva, ser toda em-penada; sem barbela pronunciada. Retrizes laterais fer-rugíneas. Colorido mais semelhante ao O.uccanto penetrante e rítmico, pode lembrar o da galinha-d'angola, é de quatro sílabas "ha-ga-gá-gogok", repeti-do apressadamente ("aracuã", onomatopéico). Em pe-quenos bandos. Matas baixas,capões,palmeirais. AltoAmazonas, até o lado esquerdo do baixo Tapajós e aoalto Xingu, Mato Grosso (não consta na figo82).

ARACUÃ-PEQUENO*,

Saem, SOOg(macho). De cabeça castanha.o "cha-cha-Iá" (três sílabas). Do baixo rio Negro (Manaus) atéVenezuela, Guianas e Amapá.

[ARACUÃ-DE-CABEÇA-AVERMELHADA],

En

43cm. Semelhante ao precedente, menor. Baixos Ta-pajós (lado direito) e Xingu até o Araguaia.

[ARACUÃ-DE-SOBRANCELHAS], O t lissupe i En

42cm. Colorido mais semelhante aode O.$l , po-rém com faixa superciliar clara, o peito não apresentamanchas transversais semilunares brancacentas. Ocor-re de Belém até o Piauí e norte de Tocantins.

[ARACUÃ-DE-BARRIGA-BRANCA],

En

Semelhante ao O. , mas.de.barriga branca (emvez de parda). Voz:"rãtoko", Ocorre em Pernarnbuco,Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo.

[ARACUÃ-ESCAMOSO], En

Saem. Relativamente grande, colorido mais seme-lhante ao O. , mas de barriga cinzenta. Ocorreno sudeste de Mato Grosso do Sul, São Paulo,Paraná,Santa Catarina, Rio Grande do Sul. [Recentemente, Sibley& Monroe (1990)consideraram dentre essas seis últimasformas de aracuã mencionadas apenas O.o oi, O.gutt t e O. i ao nível de espécie.]

ARACUÃ-DO-PANTANAL ", O s c nicollis

54cm, 600g. Quase do tamanho de um jacupemba;de cabeça e pescoço cinzentos. "hára-kaka", "tororo-tãrãrà", fortíssimo vozear interpretado pelos locais como"quero casar pelo natal" ou "quero matar ...": gritos maisbaixos "hége, ge, ge, ge" emitidos de bico aberto; gritosventríloquos, emitidos obviamente de bico fechado,"w u ik" (advertência), "sch a-ka , ka. ka" (susto,combatividade). Pouco desce ao solo; habita a mata ciliar,mata secundária e palmais. Ocorre da Bolívia à Argenti-na e no Brasil apenas no sudoeste do Mato Grosso e oes-te de Mato Grosso do Sul. "Arancuã", "[acu-anão".

JACUPEMBA, e eupe s Pr. 10,5

55cm, 850g.É ao sul do Amazonas a espécie de dis-tribuição mais vasta; menor representante do gênero. Debarbeia nua e vermelha, mais proeminente (triangular)no macho; apresenta um rudimentar topete; asas comlargas bordas ferrugíneas bem distintas; peito corri.de-senho esbranquiçado; íris vermelha em ambos os sexos.

i st so voz rouca "hãco ", "gago","hahaha=rrufa as asas (v. Introdução). Habita a beira demata, capoeira, capeões de mata no cerrado, caatinga, abeira de rios e lagos; às vezes é simpátrico com uma dasespécies grandes do gênero. 'Ocorre do sul do Amazo-nas e Madeira, pelo Brasil central, Nordeste e Brasilmerídio-oriental, até o Paraguai e Rio Grande do Sul."[acucaca" (Rio de Janeiro) "[acupeba?".É consideradosubstituto geográfico de P. l.

,t'!...

JACUGUAÇU, JACUAÇU, enelope obsc Pr. 10,4

73cm, 1.200g. Espécie meridional de tamanho avan-tajado. Verde-bronze bem escura, quase sem faixa.superciliar esbranquiçada e sem qualquer desenhoferrugíneo na asa; manto, pescoço e peito finamenteestriados de branco; pernas anegradas, ao contrário dosoutros jacus. ções sono grito fortíssimo e rou-co, c o seqüência melodiosa e ascendente, o, o, o, o,o..."; fortíssimo tossir ou latir,"wáu", g (alarma).Rufar das asas, "pat, pat, pat...", toque forte e grosseirointerrompido no meio da seqüência por uma pausa.Habita a mata alta; ocorre no Rio de Janeiro nas monta-nhas (p. ex. Itatiaia e Serra dos Órgãos); onde costumaser a única espécie do gênero. Em São Paulo na Serra doMar e no litoral, tendo-se tornado muito escassa; às ve-zes ao lado da jacutinga. Vivem no Sudeste e Sul do Bra-sil, de Minas Gerais e Rio de Janeiro até o Rio Grandedo Sul; Uruguai, Paraguai, Argentina e Bolívia.É subs-tituto da espécie que segue (fig. 83). . I

JACU-DE-SPIX, enelope q66-76cm. Grande e escuro, porém, com a faixa

superciliar clara e partes inferiores intensamente casta-

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278 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

nhas; pernas avermelhadas. Área nua ao redor dos olhosde cor azul, barbela vermelha como em vários jacus.

i um assobio "píu" que, se arreme-dado pelo caçador, serve para atraí-Io; pio longo ascen-dente, de bico fechado (alarme). "Rufa as asas" à seme-lhança do anterior. Ocorre do alto Amazonas até o rioTapajós (Mato Grosso), Bolívia, Colômbia, margem es-querda do rio Negro e Guiana. O zoólogo J. B. von Spix,companheiro de viagem de C. F.P.von Martius, nomeou-a "jacuaçu" aproveitando-se corretamente da denomi-nação indígena dada à espécie, sendo a grafia "jacquacu"posteriormente adotada pelos cientistas, baseada em umerro de grafia no texto da obra do supracitado zoólogo,ocorrida na época, devido ao escasso conhecimento da

. língua em jogo por parte dos europeus. "Jacuaçú*". Con-siderado substituto geográfico de obs possui, po-rém morfologia diferente da traquéia.

JACUMIRIM*, enelope

[63-68cm] Plumagem com nítidos reflexos verdes. Otarso curto é uma adaptação à vida arbórea. Ocorre do

Amapá à Itacoatiara (Amazonas) ao norte do Amazo-nas, Guianas e Venezuela. V.enelope i is.

JACUCACA, elope cuc En

73cm. Espécie grande, de cor de canela bem escura,com riscos brancos e topete negro, largas áreassuperciliares brancas as quais unem-se na fronte. Habí-

.ta a caatinga; bastante terrícola. Maranhão,Piauí, Cea-rá, Paraíba, Alagoas e Bahia. Forma junto com P.

te e pil uma superespécie.

JACU-DE-BARRIGA-CASTANHA, enelopeEn

77cm. Espécie bem grande, de topete pardo-averme-lhado e faixa superciliar esbranquiçada contrastante coma sobrancelha negra a qual se alonga em uma listra aoredor da região auricular e garganta, disposição que tam-bém existe em P.i e P pile abdômen castanho-vivo. Vive na mata entremeada de campos. Ocorre do

P. oo cen« _

P. tscouscu0P (J!]

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P suoe otttsns rnP.marad 00

O IOOOkm

Fig. 83.Distribuição de algumasespécies de jacu,enelope(seg.Haffer 1987).As duas espéciespequenas orientais P. /

l formam umasuperespécie e estão, em parte,simpátricas com uma das 5grandes espécies que formamoutra superespécie. No espaçobranco (nordeste doBrasi) ocorreP. vivendo em parte aolado de P. is.

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CRACIDAE 279

oeste de Minas Gerais e Goiás ao Mato Grosso (rio dasMortes, Poconé). "Jacupoi*".

JACU-DE-COCURUTO-BRANCO, En

[75-82cm] Inconfundível pelo topete branco e revol-to e pela cor castanha carregada do pescoço e partes in-feriores; manto verde. Ocorre do baixo Madeira ao Xingu(Gorotire e Altamira) até o leste do Pará (Ourém),Mara-nhão (rio Grajaú) e Tocantins (rio Caiapó em 1989, H. F.Alvarenga). "Jacupiranga*".-

JACUTINGA, e ting Am Pr. 10,7

74cm; de 1,lkg a l,4kg. Espécie típica do Sudeste,negra brilhante e branca; penas do pileo bastantealonga das, face emplumada de negro; base do bico azul-esbranquiçada reluzente, região perioftálmica nua ebranco-gesso. Barbeia larga, parcamente emplumadacolorida de vermelho em sua porção posterior, sendo aanterior dividida em uma área lilás superior e outra azulbrilhante inferior; macho mais robusto e de bico e barbeiamais exuberantemente coloridos, sendo sua barbelamaior e mais arredondada. Como já foi exposto, a barbela"típica" somente existe durante a época de reprodução,depois encolhe e descora. i est s sono assobiofino prolongado descendente "i-ü", lembrando

uncus (Cotingidae). Sobre música instrumental v.Introdução. Habita a mata alta, abundante em palmitos(Eu pe edulis) cujos frutos são seu alimento predileto,realiza migrações altitudinais na Serra do Mar (São Pau-lo) seguindo a frutificação desta palmeira, cujos frutosamadurecem mais cedo em altitudes inferiores. Operiodismo de suas aparições foi observado no Paranáe Rio Grande do Sul (v.Migrações).Dis ibuiç o, declínio Era encontrada na região da Serrado Mar em qualquer altitude, em locais acidentados,semeados de rochas e cobertos por mata espessa, ondenidificava; atualmente ainda aí existe mas em númeromuito reduzido. Na região do atual Parque Nacional daSerra dos Órgãos (Rio de Janeiro) era comum no come-ço do século (1915-1917, R. Vieira); ao norte do rio Doce(Espírito Santo) ocorria regularmente, na pujante mata.quente de baixada, ao lado do mutum local,

enb hii em 1939, existia ria Reserva de Sooretama(Espírito Santo) até 1953 e provavelmente ainda hojeestando, porém, rara; também localizamo-Ia no sul daBahia (Parque Nacional do Monte Pascoal, 1977); exis-tia na região serrana do Espírito Santo (em altitudes decerca de 1.000m), na década de 40. Desapareceu da maio-ria dos lugares onde era comum, inclusive dos vales dosgrandes rios paulistas e paranaenses, onde era encon-trada em qualquer mata (v. Introdução: Caça, declínio,preservação); ocorre esporadicamente ao redor de Fozdo Iguaçu (Paraná, 1977, 1979), São Paulo (Ilha de S. Se-bastião e Parque Estadual de Carlos Botelho), ltatiaia (Rio

de Janeiro, 1978) e Santa Catarina (1979). Originalmenteocorria desde o sul da Bahia até o Rio Grande do Sul,norte da Argentina e Paraguai.

No resto da América do Sul cisandina é substituídapor um grupo de formas muito aparentadas que se subs-tituem geograficamente, sendo todas englobadas em

e pipile cuja forma típica, Ppipile pipile, é exclusivade Trinidad, na costa da Venezuela. Tais formas distin-guem-se tanto pela cor da cara nua como pelo formatoda barbeIa, além de apresentarem diversidade na exten-são da cor branca nas asas, na forma das penas do pena-cho e no brilho das partes negras da plumagem.

CUJUBI, ipile pipile

74cm, 1,1kg a 1,3kg.É comum em uma vasta áreaque se estende do alto Araguaia e rio das Almas (Goiás)ao alto Xingu (Mato Grosso), altos Guaporé e Paraguai,Rondônia, Madeira e Purus (Amazonas) e Tapajós (Pará)(? p. Ao contrário da jacutinga possui a facebranca, totalmente nua; barbela triangular, maior nomacho, semelhanteà da jacutinga quanto ao coloridomas sem qualquer emplumação: porção anterior azul(falta o lilás) sendo o resto vermelho. t sono-

vários assobios, "uit" (chamada), "quiiu", "bak-bak"advertência); seq~ência ascendente de vários "uii" quese assemelha muito ao canto do formicarídeo amazôni-co H loph poecilinot Música instrumental: "rasgarde asas", v. Introdução.É sociável, em bandos de até 30ou mais indivíduos. Habita a mata ribeirinha.

Substituído na margem meridional doAmazonas poripile pipile cujubi, que se distingue pela menor área bran-

~~na a~a e no topete. Ocorre do Madeira e baixos Tapa-JOse Xmgu ao leste do Pará e Maranhão. "Jacubim""Jacutinga". '

. !,!o r~ntanal matogrossense acha-se substituído poripile pipile bem caracterizada pela barbeia filifor-

me de cor branca-pura, sem vermelho algum. Atinge aregião ~o rio Piquiri (Mato Grosso), área de Ppipilen ite Ocorre também no Paraguai, Bolívia e Sul doPeJ;U.

No n~roeste e extremo norte existeipile pipilecu ensis,de larga barbela triangular inteiramente pre-ta ou azul; alto rio Negro e Solimões até o Peru, Colôm-bia e as Guianas. . ...~. .

.1 'I'., .

Fig.84.Trêsrepresentantes brasileirosdeipileJacutinga,ipile EspíritoSanto),Cujubi,

le pipile n t i alto Xingu,Mato Grosso)eCujubi-de-barbela-fina, pipile (C, Pantanal,MatoGrosso).OriginalH. Sick.

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280 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

[O contato (possivelmente secundário) de represen-tantes desse gênero, especialmente no sul da Amazônia,exerceu influência em tratar todas as formas como inte-grantes de uma única espécie. Sibley& Monroe (1990)separou.estecomplexo em três aloespécies:pile pipile(restrita a Trinidad), e c nsis e cujubi.

MU"fL!M-DE-PENACHO, ciol t Pr. 10, 3

83cm, 2,7kg (fêmea) a 2,8kg (macho). Representanteinteriorano de ampla distribuição; geralmente o maisconhecido dos mutuns, sendo encontrado na maioria dosJardins Zoológicos. O macho é negro com abdômen bran-co (o que aliás ocorre em todos os representantes do gê-nero) ponta da cauda branca, no que difere de todos osoutros C brasileiros (v. variações, sob Morfologia),bico e cera amarelo-enxofre; única espécie de mutum queapresenta a região perioftálmica (que é negra) nua; per-nas anegradas. Fêmea de plumagem ricamentetransfaciada de branco; base da mandíbula amarelada epernas avermelhadas. Macho jovem com amarelo na pelenua da região subocular. ,

Notam-se algumas diferenças de colorido na formaamazônica, sciol t p En, Am. Macho com abase da maxila mais intumescida e avermelhada, topetemais denso, ponta branca das retrizes mais extensa etarsos arroxeados. Fêmea com a fasciação branca maisfina e menos aparente do que a da forma típica que des-crevemos acima; topete negro manchado de branco (enão o inverso como ocorre em f scio

fino assobio "psiiü" do timbre do de uma viuvinha,Colonia, Tyrannidae (irritado); late um "kwoa","wãâu",

"u-ú" (susto, advertência); um forte rosnar, emitido apósos "wãu" (assustado no poleiro, à noite). Sobre o cantov. Introdução. Habita a mata ciliar, orla de mata; à tardee pela manhã circula pelas praias locais. Ocorre do suldo Amazonas, do Tapajós ao Maranhão e, através doBrasil central, até o oeste de São Paulo, Paraná e MinasGerais, Paraguai, Argentina e Bolívia. No Maranhão eleste do Pará a raçaC l t pin (v.acima) ocor-re ainda em razoável número nas matas do rio Pindaré(Maranhão, 1977)ao lado do mutum-cavalo, vive tambémno leste do Pará (Ourém, 1978);é encontrado em coleçõesde amadores no Pará e Rio deTaneiro (1977 e 1978).Nosudeste do Pará o nome "mutum-pinima" é aplicado àsfêmeas de C. l ("pinima" = cheio de pintas).

MUTUM-FAVA, globulo Fig. 85

82cm. Espécie oeste-amazônica, caracterizada, no.sexo masculino, pelo grande desenvolvimento de umacar úncula globulosa vermelha na base da maxila (docúlmen) e dois lobos da mesma cor na base da mandí-bula; as pernas cinzentas. A fêmea de bico "normal",vermelho; calções e abdômen ferrugíneos (não brancoscomo os do macho); ocorrem fêmeas de asas barra das,

muito parecidas às de C.blu aparece, às vezes,também um pouco de branco na crista da fêmea deC.

. tossir forte terminando por um assobiodescendente semelhante ao de outros mutuns; trinadosuave, longo e descendente "u, u, u, ..." que poderia pas-sar pela voz de um Passeriforme (voz de alerta), vocali-zação muito diferente da deC. e outrosmutuns que conhecemos. Nunca ouvimos "gemer" estemutum (v.Vocalização). Habita o alto Amazonas, do rioSolimões até Manaus (Amazonas) e rios Madeira eGuaporé; ocorre também na Bolívia e Colômbia."Mutum-açu", ["Mutum-piurí", médio Solimões, J. F.Pacheco]. V. que pode ser bastante se-melhante, parece que são substitutos geográficos. --

Fig.85.Mutum-fava; gloou

MUTUM-DO-SUDESTE, C ii EnAm

84cm, 3,5kg. Restrito ao Sudeste do Brasil. O machoé semelhante àquele do rnutum-fava, também sem bran-co na ponta da cauda; com a base do bico vermelha,porém sem carúncula maxilar (do qual podem existirvestígios durante a reprodução, mas nunca chegandoao grande desenvolvimento da carúncula de C.glob durante' a reprodução os machos apresentamum esboço de um par de lobos na base da mandíbula e,às vezes, pequenas carúnculas vermelhas suboculares;abdômen branco; pernas pretas. A fêmea é semelhanteàde C.gl porém com os calções e asas densamen-te vermiculados de ferrugíneo e o topete grande rica-mente barra do de branco; abdômen ferrugíneo; bicocin-zento com a base negra, pernas vermelhas. A crista doimaturo é maior (v. Introdução). Aos quatro meses ain-da de tamanho mais reduzido mas da mesma cor de suamãe. A íris do macho adulto é castanha, a da fêmea ver-melho-alaranjada .. canto (v. Introdução); baixinho"wup" enquanto procura' tranqüilamente alimento'110

solo, passando para um pioii- quando desconfiadode algo; cacareja para brigar e quando assustado, deco-la do solo entoando um"õk-õk-ôk": emite mais vozes.Habita a mata primária alta, em regiões quentes e úmi-das. Ocorreu primitivamente da Bahia a Minas Gerais eRio de Janeiro, por exemplo no vale do Paraíba do Sul,sendo. sua anterior presença atestada também por no-

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CRACIDAE 281

mes de várias vilas ou acidentes geográficos (córrego MUTUM-CAVALO, Pr. 10,1ou rio Mutum, vargem do Mutum) no nordeste do Riode Janeiro. Atualmente está restrito a pouquíssimas áre- .. 89cm, peso até 3,8kg. Freqüente nas matas da Ama-as do sul da Bahia (inclusive no Parque Nacional de zônia meridional; é o maior dos mutuns brasileiros. AsMonte Pascoa!, 1977) e norte do Espírito Santo (reserva penas do topete são lisas e planas, sem o encrespamentode Sooretama e reserva da Cia. Vale Rio Doce) onde existe de cúlmen elevado formando uma alta crista, sen-uma boa população silvestre (Collar& Gonzaga 1988). do a base do bico bastante intumescida, ranfoteca ver-Torna-se às vezes difícil distinguir [em cativeiro ou em melha. O abdômen é castanho em ambos os sexos, nãopeles sem procedência] os machos bem desenvolvidos havendo dimorfismo sexual quanto ao colorido; o ma-de C. de machos pouco desenvolvidos de cho é algo maior. Retrizes laterais com distinta faixa bran-C. também as fêmeas dos dois, podem ser bas- ca, a qual já se faz mostrar plenamente em exemplarestante similares urna vez que a deC. ostenta às de dois meses de idade. "uá" tossido, "kuwik" (ad-vezes também asas barradas. vertência); canto baixo, ventríloquo, de timbre idêntico

ao de e otho um trissilábico "húm-hm-hmhúm-hm-hm hú" caracterizado principalmente pela notaterminal fortemente acentuada. Ao sul do Amazonasdo oeste do Maranhão ao leste do Peru e também Bolí~via, Mato Grosso (Guaporé, Tapajós e Xingu). "Mutum-de-várzea", "Mutum-piri", "Mutum-etê".

o 500 1000km

Fig. 86.Distribuição dos mutuns da superespécieu(figurado o e dos seus substitutos ao norte

do Amazonas (seg. Haffer 1985):C= Codajás, Brasil;N= Puerto Narifio, Colômbia; CA= região de Caquetá,Colômbia; M= região de Macarena, Colômbia.

MUTUM-PORANGA,

[85-95cm] Peso 3,2 a 3,6kg. Substitui C. namaior parte da área ao norte do Amazonas (ao leste dorio Negro). Macho com plumagem semelhante à de C.

igualmente sem branco na ponta da cauda. Bicosem carúnculas, com base um pouco intumescida e ama-rela passando para o laranja ou vermelho na forma maisocidental, e plumagem negra comrefl~xos violáceos e não-esverdeados; penas do topetemais crespas que nos C. distintivo maismarcante da espécie; tarsos cor de chifre-esverdeadodedos cinzentos. A fêmea quase idêntica ao macho, apre~sentando vestígios de branco nas penas negras da cris-ta. Ocorre doAmapá ao rio Negro, Colômbia, Venezuelae Guianas.

MUTUM-DO-NORDESTE, En AmFig.87

.Extinta na natureza. Substituía a precedente nas ma-tas residuais do Nordeste, de porte mais reduzido, bicode tamanho moderado (não intumescido e de corbranquicenta na metade anterior), zona auricular nua ecauda toda negra, ou as retrizes laterais apresentandourna fímbria terminal pardo-brancacenta. Mencionadojá na primeira obra científica de vulto sobre a fauna bra-sileira (Marcgrave 1648), corno procedente de Pernam-buco; sua existência foi bem documentada através deurna boa aquarela contemporânea, não publicada. Aexistência real desta forrna independente foi por rrmitote~~o. po~ta em questão até a sua redescoberta porOlivério Pinto, em 1951, em Alagoas. Os únicos exem-plares em cativeiro estão na Coleção Zoobotânica Ma-rio Nardelli, Nilópolís, Rio de Janeiro, obtidos por PedroNardelli em Alagoas de 1976 em diante. Só pode ter sua

Fig. 87.Mutum-do-nordeste, A cabeçamostrando a zona auricular nua e o cúlmen nãointumescido, a base do bico é cor-de-rosa, a metadeanterior do bico é esbranquiçada.É a primeira fêmeada coleção de P Nardelli, adquirida e estudada em1976(seg. Sick 1980,figura alterada).

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282 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

sobrevivência assegurada pela reprodução em cativei-ro. "Mitu", "Mutu" (Marcgrave, Pemambuco).Mitupode ser considerado uma superespécie que inclui M.tube como aloespécie.

MUTUM-DO-NORTE,

84cm. Substitui M.tube no norte do Amazonas.Não possui topete nem intumescimento no bico verme-lho. A cauda com larga faixa terminal castanha tal qualO abdômen. Mata de galeria. Do alto rio Negro e rio Bran-co à Guiana, Venezuela e Colômbia. "Mutum-cianat".

URUMUTUM, Pr. 10, 2

58cm.É espécie pequena, do porte de uma galinhadoméstica grande. Penas do vértice "deitadas", poden-

g i cid ebé bli Ge )

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PHASIANIDAE 283

URUS e afins: FAMíLIA PHASIANIDAE (4)

É o grupo de maior importância no Velho Mundo,escassamente representado neste continente porém jácom fósseis do Terciário (Oligoceno, 30 milhões de anos)do Canadá e do Pleistoceno (22000anos) do Brasil; a elepertencem a galinha doméstica (v. apêndice), o pavão-da-índia e os faisões, os quais deram onome à família; foram trazidos para o Brasil com a colo-nização, sendo que a galinha doméstica e a galinhad'angola (família Numididae) o foram pelos portugue-ses desde o início, vindo da Europa e África, respectiva-mente. São praticamente substituídos naAmérica do Sulpelos Cracidae e Tinamidae.

Exclusivamente pertencentes à subfamíliaOdontophorinae, gêneros e Colinus, am-bos pequenas aves terrícolas de bico alto e duro com asbordas da mandíbula serrilhadas, pernas curtas e ro-bustas, dedos fortes; cauda bem desenvolvida sendo,porém, bem mais curta que a dos Cracidae; cabeça comum penacho não assentável, tudo ao contrário dosinambus, as únicas aves locais que a eles se assemelham.

Ocorre dueto do casal Ciscam à von-tade no chão (o que os Tinamidae não fazem), comendopequenos artrópodes, moluscos, bagas e sementes. Sãoespécies cinegéticas apreciadas; caem facilmente emarapucas.

O uru-do-campo, Colinus é ave campestresetentrional imigrada mais recentemente da América doNorte; teve sua dispersão detida pela hiléia e, ao queparece, somente em nossos dias alcançou as margensdo Amazonas (Amapá).

Os urus diversas espécies bem seme-lhantes) são bem conhecidos em todo o Brasil; lembrama "galinha-serrana", (Tetraonidae), da Eu-ropa. Ocupam largamente as regiões florestadas da zonasubtropícal e tropical do Novo Mundo, indo da Améri-ca Central ao Paraguai.

URU-DO-CAMPO, Colinus Fig:. 88

21cm.É um pequeno galináceo campestre restrito,na América do Sul, a sua porção mais setentrional. Par-do, sendoo pescoçoe as partes inferiores manchadasde nódoas brancas, negras e ferrugíneas; topetudo, sen-do o mesmo cor de palha no macho e pardo-escuro nafêmea. o canto, entoado durante a época de repro-dução (setembro em diante), consiste em estrofe estri-dente di ou trissilábica,"ü-ü-kuáit": às vezes dueto docasal estando o macho pousado freqüentem ente em lo-cal mais sobranceiro (monte de terra, etc.); a voz se as-semelha muito à do "bob-white" (nome onomatopéico)

dos americanos,Colinus , o qual é seu paren-te próximo. É terrícola, e vive em bandos de 3 a 6, "pas-tando", alimenta-se de pequenas sementes (como p. ex.o carrapicho) e de insetos (como p. ex. formigas). Quan-do perseguido, o bando se dispersa, de preferência cor-rendo, para reunir-se a seguir com seus componentespiando como pintos.

Fig. 88. Uru-do-carnpo, Coiinus sonnini,macho cantartdo

Em o macho distingue-se por seu porte mais ere-to. Dormem no solo sob o capim dobrado. Substitui ti-namídeos meridionais (como a codorna e o perdigão)nas regiões campestres ao norte do rio Amazonas; o qualage como um divisor de fauna, barrando o avanço doprimeiro rumo ao sul e o do segundo rumo ao norte.[No Amapá (campos de Ferreira Gomes, 1994) encon-tramos ao alcance da voz deColinus, preferindo entretanto o primeiro o campo maissujo. A ocorrênçia de C. o ao norte do Amazo-nas é inéditaa. F.Pacheco).] Atravessam as estradas, in-vadem derrubadas e roças, vêm perto de habitações,onde se aproveitam de restos de comida; tornam-semesmo sinântropos. Ocorre da América Central às Gui-anas, Venezuela e Brasil ao longo do Braço Norte (Ama-pá) até a margem norte do rio Amazonas e Roraima.

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284. ORNITOLOGIABRASILEIRA

- --.---r-r

Sintópico com o Icterinae terrícola 0_qualtambém imigrou do norte. Na beira da capoeira encon-tra-se como Aracuã, o "Perdiz", "Uru".

URU, CAPOEIRA,

Pr. 10,8

24cm. É um pequeno galináceo florestal tope tudo ecomum; sexos semelhantes, macho algo mais robusto;imaturo de bico avermelhado e partes inferiores man-chadas de esbranquiçado e não uniformemente cinzen-tas como no adulto. o canto é uma vigorosa e sono-ra seqüência de pios bissilábicos, "urú-urú-urú" que che-ga a alongar-se por alguns minutos sendo ligeiramenteondulada e às vezes tão desacelerada que parece quaseparar; é emitida durante a época de reprodução, mor-mente ao crepúsculo (e mesmo em noites enluaradas),pela ave empoleirada para dormir. O casal canta emdueto; em casos controlados verificamos que o machoinicia a cantoria e logo a fêmea a ele se une, emitindocontra ponto semelhante de pios monossilábicos,"kló-kló-kló", corno se percebe distintamente, ocasionalmen-te, quando a fêmea canta isoladamente. O restante dobando não se intromete nas vocalizações do casal; as-sim que o primeiro par se cala outro começa as manifes-tações vocais por seu turno. Há outras vozes, sobretu-do pios fracos e trêmulos,"bü, bü, bü ...", que lembramo pipilar de pintos e que servem para contactar os com-ponentes do bando que vagueiam pelo solo e são profe-ridos antes de empoleirar para dormir; assobios maisfortes, "uit, uit, uit ... (alarme). Pintos pertos dos paissoltam uma seqüência de rápidas "pie ...",

Andam em grupos pelosolo de matas e capoeiras sombrias, podendo ser o mes-mo composto, por exemplo, por alguns casais ou famí-lias (pais e filhotes crescidos da última ninhada). Taisfalanges, que defendem seus territórios de outras vizi-nhas, continuam unidas mesmo quando uma fêmea cho-ca. Preferem escapar correndo, evitam voar; conforme asituação deitam-se no solo para se esconder. Quandopousam juntinhos esquentam-se e arrumam mutuamen-te as penas. Têm especial predileção pelas suculentasbagas do caruru, No século passa-do, segundo relatos de Fritz Müller, era possível apa-nhar os urus com laço. Em Itatíaia, bicando pinhões ca-ídos ao solo da mata, os urus voltavam sempre ao mes-mo local mesmo quando espantados repetidas vezes (L.P. Gonzaga).

Aparentemente são monógamos, segundoobservações de campo e de cativeiro, quando se repro-duzem, o que, no sudeste, ocorre de agosto a novem-bro. Nidificam no solo, às vezes dentro de um buraco(p. ex. de tatu), confeccionando, em todo o caso, umaconstrução de folhas secas que se apresenta como umatoca de entrada lateral de sólido teto. Observamos, emcativeiro, 'um macho construir seu ninho: no solo cober-

.ro de folhas secas, a ave jogou as folhas para atrás de sie depois empurrou a massa empílhada. fixando-a, semtrazer material. Uma fêmea não estava presente.McDonald & Winnet-Murray (1989), que acharam naCosta Rica um ninho acabado de O. obser-varam exatamente a mesma técnica registrada por nós.Os ovos são brancos que se tornam logo amarelados ouaté avermelhados em conseqüência da sujeira; pareceacontecer que mais de uma fêmea deposita ovos nomesmo ninho, há posturas de mais de 12 unidades. Paraa incubação constam aproximadamente 26 dias para O.

na Costa Rica e apenas 18~19 dias para O.apenas a fêmea choca e encarrega-se da ninha-

da, cujo colorido é, de maneira geral, anegrado e de difí-cil definição; os filhotes são nidífugos, escondem-se emcavidades e até em buracos no solo.

Ocorre do Ceará ao Rio Grande do Sul e sudeste deMato Grosso do Sul; Paraguai e Argentina (Misiones)."Uru" nome dado como onomatopáico, significa "ave"em guarani, e mais especificamente "pequeno galináceo".

CORCOVADO,

[24-29cm] De lado inferior pardo-arruívado, regiãoperioftálmica nua cor de laranja (em yez de vermelha,como em O. Toda a Amazônia, incluindo oMaranhão, Mato Grosso e Amapá. A vocalização de O.

é semelhante a do representante meridional,porém menos apressada e mais baixa; registramos o can-to do macho, no norte de Mato Grosso, como um gú-guru, gú-guru, ...", portanto trissilábico. o que é simbo-lizado onomatopeicamente pelos locais através do nome"corcovado" que lhe é atribuído; "ko, ko, ko ...(contra-ponto da fêmea). "Uru-corcovado?", "Uru-í" (Kaiabi,Mato Grosso).

URU-DE-TOPETE*,

[24-26cm] De lado inferior castanho. Amazônia oci-dental, até o noroeste de Mato Grosso.

GALINHA-DOMÉSTICA,

As "galinhas" citadas pelos cronistas, da primeirametade do século XVI em diante, como encontradas nasaldeias indígenas, só podem ser Cracidae, uma vez quea chegada de tais elementos ao poder destas nações foiposterior; nem mesmo em 1947 a galinha doméstica erabem difundida no Brasil central, sendo que os índios,que a conheceram através das expedições da FundaçãoBrasil-Central, apreciaram mais o canto do galo que osovos ou carne que é um paralelo interessante à afeiçãodos japoneses para com o grito da codorna doméstica

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PHASIANIDAE 285

(v. abaixo). Relatou Léry (1578) que os tupinambás daregião do Rio de Janeiro criavam as galinhas que rece-beram dos portugueses mais em vista das penas bran-cas do que da carne; não havia necessidade de animaisdomésticos, a caça era muito fácil e farta (v. sobDomesticação).

A galinha doméstica, trazida pela comitiva de Cabralno primeiro desembarque autêntico de europeus em 22de abril de 1500 na Bahia é descendente da galinha-bankiva, , procedente de Sumatra (regiãozoogeográfica oriental).

Há uma variedade da galinha doméstica chamadade "galinha-araucana", "galinha-chilena" ou "galinha-crioula", "galinha-pré-hispânica" ou

tomada erroneamente como híbrido entrea galinha doméstica e o macuco, Aaraucana é desprovida de cauda ("sura", "anuropigídeo",faltam as vértebras coxígeas, o pigostilo), tem algunsenfeites de penas na cabeça e possui pernas verdes; põeovos de cor azul-clara, azul-turquesada ou azul-esver-deada; destaca-se pela índole combativa.É considera-da, geralmente, uma criação dos índios araucanos doChile. Tudo leva a crer, porém, que a araucana foiintroduzida, naquele país, procedente de ilhas do Pací-fico.

CODORNA DOMÉSTICA,

Também chamada "codorna caseira" ou "codorniz";de 18,5cm, espécie do porte de uma "codorna"(Tinamidae) pequena e de bico forte e curto (0,8cm).

De alguns anos para cá vem sendo utilizada comoverdadeira fábrica de ovos, como já o era há tempos nomundo oriental, de onde foi importada; já era criada há600 anos no Japão, em apreçoà voz do macho. Inicia apostura aos 38 dias de idade pondo intensamente du-rante 18 meses, muitas vezes mais de 300 ovos por ano,sendo os mesmos maculados, no que diferem daquelesdas nossas "codornas" do gênero Pode ser uti-lizada como cobaia em testes de toxicidade de inseticidas.

ibli ni( e é g Ge )

Maia, J. L.S. 1986. s os III Cong . oo/. b 567. (faisõescriados com finalidade cinegótica)

McDonald, D. & K. Winnet-Murray. 1989.Condo(Odontopho leuco e s,nidificação)*

Não ocorre em liberdade em nosso país; as tentati-vas de utilizá-Ia para o povoamento de, por exemplo,uma região de Minas Gerais, com o intuito de introdu-zir uma nova ave cinegética, estavam destinadas ao fra-casso, uma vez que em conseqüência da domesticação,atrofiaram-se as asas dessas aves e seu instintoincubatório enfraqueceu-se; há de considerar tambémque a ação predatória de gaviões e pequenos carnívoroscontribuiu, no caso citado, para a sua extinção.

Cogitou-se também a introdução de mestiços deC.com a européiaC. , que

é maior, de vôo com rápido arranque e instintos mater-nais não alterados; a nosso ver, porém, tal medida nãoseria aconselhável pois poderia haver competição e pre-juízo das populações de nossas "codornas" nativas.

Considerando o declínio de aves cinegéticas nacio-nais em regiões de pecuária e agricultura intensivas, seriarazoável pensar na introdução do faisão-de-colar,

colchicus , originário da Ásia e quefoi bem estabelecido há muito, por exemplo, na Europae na América do Norte como ave de caça; poder-se-iacriá-Ia em fazendas eIíbertá-lo em seguida como se fezem vários países da América do Sul. Temos a impressãode que sua introdução não implicaria em prejuízo paraaves nacionais.

Já houve tentativas nesse sentido, por exemplo, emSanta Catarina, as quais falharam em virtude da açãopredatória de carnívoros como gambás e ratos,à seme-lhança do que foi observado em outros países sul-ame-ricanos. Mais sucesso houve em ilhas, p. ex., na costa doChile. Houve uma iniciativa recente de criar faisões comfinalidades cinegéticas em São Paulo (Maia 1986).

Duvidosa parece-nos a introdução do colim-arneri-cano,Colinus que facilmente poderia compe-tir com o uru-do-campo e com as "codornas" (Tmamidae).

Parece que o colim-da-califórnia, o, estabelecido no Chile eArgentina, ainda não

foi introduzido no Brasil.

Skutch, A. F. 1947.Condo 49:217-32.(Odontopho s, hábitos)Wilhelm, O. 1963. Chi/. Hist. t. 55:93-107. (a galinha dos

Araucana, Chile)

., ,c ,

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286 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

GALINHAS-D' ANGOLA: FAMíLIA NUMIDIDAE

GALINHA-D' ANGOLA, eGalináceo campestre africano, introduzido e domes-

ticado em muitos países de clima quente ou ameno; nocaso brasileiro foi utilizado el l ,procedente do arquipélago de Cabo Verde, costa ociden-tal da África, sendo a mesma trazida pelos portugueseslogo no início da colonização como consta no "Bestiário"de Zacharias Wagener do tempo nassoviano, 1637a 1644.Marcgrave (1648) menciona também a galinha-d' Angola-de-topete, Gutte puche da África ociden-tal. Característico pelacabeça nua vivamente colorida,encimada por um casquete; barbelas na base da mandí-bula; plumagem cinzenta pintalgada de branco. Sexossemelhantes, macho adulto de casquete e barbelas mai-ores sendo tais caracteres, contudo, dependentes da ida-de. o fortíssimo "tô-fraca, tô-fraca" unicamente dafêmea, sendo que o macho emite outro vozeirão, diver-so e pouco conhecido por todos, estando pousado emlugar elevado. .

Vivem em bandos. Os ovos são pequenos e pontu-dos, pardacentos de casca duríssima, as posturas podemser grandes, uma vintena ou mais, falando-se mesmo

de até 100 ovos em um mesmo ninho quando muitasfêmeas põem juntas.

Embora goste de afastar-se das habitações para nidi-ficar no mato, geralmente não consegue furtar-se da aten-ção do caboclo que recolhe os ovos, desta maneira evi-tando sua volta ao estado selvagem; caso fuja cai vítimade carnívoros. .

Introduzida em 1960 na Ilha da Trindade, sua exis-tência é facilitada pela ausência de predadores como,por exemplo, raposas e em virtude de existirem porcosdomésticos O. Becker) que, ao que parece, eliminaramos ratos que haviam sido introduzidos anteriormente.Não consideramos a galinha-d'Angola na lista de Avesdo Brasil. "Galinhola", "Conquém", "Galinha-d'áfrica","Galinha-da-índia", "Galinha-da-numídia", "Galinha-da-guiné", "Angolinha", "Capote", "Cocar", "Picota"."Pintada"; na Bahia é utilizado o nome "Sacuê", deriva-do de um dialeto africano. Há variedades obtidas porcriadores como, por exemplo, as "arlequins", brancas,etc.; há ainda outras espécies da família, por exemplo, a"galinha-d' angola-vulturina", ll inútu quesão mantidas em viveiros de amadores.

.-....

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,ORDEM OPISTHOCOMIFORMES

CIGANA: FAMíLIA OPISTHOCOMIDAE (1)

Uma única espécie, habitante restrita à vegetaçãoarbórea de terrenos alagadiços da Amazônia, o frutomais notável da gênese de aves deste sistema fluvial (in-cluindo o sistema do Orinoco), o maior do mundo, po-bre em endemismos de aves palustres e aquáticas. Háum fóssil, oides g e do Terciário (Mioceno,há 18 milhões de anos), da Colômbia, sugerindo afini-dades com os Cracidae (Miller 1953).

As unhas nas asas dos filhotes da cigana, muito pro-vavelmente uma adaptação secundária, lembra-nos aexistência clássica de tais unhas nas aves jurássicas

c e , v. Aves Fósseis). Contudo é muito pro-vável que provida de três possantes gar-ras, tivesse tido técnica semelhante de se apoiar com asasas na galhada da mata, quando trepava e para evitarque a cabeça e o corpo pendessem para a frente. Nãosabemos, porém, quase nada sobre o hábitat de

ch Certo é que ele possuía penas altamentedesenvolvidas, muito semelhantes às das aves moder-nas, indicando que era capaz de voar.

Na maioria das vezes a cigana tem sido incluída en-tre os Galliformes, próxima aos Cracidae, o que nos pa-rece razoável, avaliando-se a impressão causada pela aveviva. Análises imunológicas sugerem 'afinidade com osGalliformes. O mesmo indica a e~trutura microscópicada pena (semelhança com os Cracidae). Fala-se decaracteres que lembram os Cariamidae. A análise ele-troforética das proteínas da clara do ovo da cigana indi-ca um resultado essencialmente diferente encontrado nosGalliformes, mas se enquadram bem no padrão dos anus(Crotophaginae, Cuculidae) Considero essa conclusãoainda prematura. Bem familiarizados com a cigana emnatureza, nunca nos ocorreu a idéia de uma semelhançaentre e o anu-branco, (Cuculidae);tese advogada pelos descobridores da suposta afinida-de bioquímica das duas famílias (Sibley &Ahquist 1973).

Os opistocomídeos devem ter passado por uma lon-ga evolução independente. Por um lado conservaramparte da organização primitiva dos seus antecessores.P~r outro lado desenvolveram novos caracteres especi-alizados, ASSim sua apreciação filogenética tornou-sedifícil. Sendo uma ave de organização tão peculiar, pa-rece prudente colocá-Ia numa ordem própria, como fi-zeram Stresemann (1934) e Stegmann (1978), não e re-forçando t;ma ou outra tendência. O parentesco da ciga-na para nos continua a ser enigmático.

,

"Entre os caracteres anatômic'os mais notáveis da ci-

gana figura o papo extra-torácico duplo (há também doispapos intra-torácicos) que reprime a fúrcula e a parteanterior da quilha esternal, desalojando a musculaturade vôo. Este sistema de papos, 50 vezes maior do que oestômago, representa 13% do peso total da ave, fato únicona classe Aves, e serve para digerir a folhagem dura,c~ustica de aráceas etc., daquele mundo anfíbio que acigana conquistou. Na digestão da massa de folhasengolidas contribuem bactérias sirnbióticas, lembrandoa situação similar encontrada nos mamíferos-ruminan-tes. C?utr~ part.e muito peculiar é a estrutura dass

, divergindo tanto dos Galliformes como dosCuculiformes (Bang 1971). As garras nas asas dão ao fi-lhote uma aparência arcaica.

CIGANA, in Pr. 10,9

62cm, 816 g. macho. Inconfundível, lembra um jacuestranho enfeitado de rígida crista alta, sempre todo eri-çada; região perioftálmica azul-reluzente, contrastandocom as cores berrantes da plumagem ("cigana"= vesti-da de roupa extravagante). Destacam-se pestanas. Bico

A B

Fig: 89.Esqueleto e papo (pontilhado) da cigana,oco h in (A), em comparação como o

po~bo, Colu li d ti (B).O papo volumosoda cigana desceu ao tórax, alterando profundamente aorganização do último (seg.Bõker 1937).

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288 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

alto e curto. Corpo pequeno, escondido, quando vistodelado, pelas asas largas que a ave mantém sempre sol-tas e meio caídas, simulando uma ave corpulenta. Cau-da longa e larga, negra, com larga faixa terminal cor decreme, contraste que impressiona na face inferior da cau-da, mantida pendurada verticalmente. Sexos parec~,fêmea de topete mais curto. baixa e rouca, séries~"ga-ga-ga ...", periodicamente em coro durante algunsminutos, às vezes um ou alguns "chs", mais prolonga-dos. O resultado é uma grande algazarra. Quando osbandos vizinhos entoam seu canto ao mesmo tempo,estas estrofes, de que consiste o canto, lembram o mur-murar do anu-coroca, que ocorre nos mesmos lugares ecujo crocitar forte (advertência) se assemelha a outrosgritos da cigana. Na defesa do ninho a cigana sibila comocobra. Há mais detalhes sobre a vocalização.H bi t, os, e Habitam nos aningais,turiazaís, manguezais e outras matas alagadas da Ama-zônia. Vivem aos casais que integram pequenos bandos.Pousam em qualquer galho, fino, grosso ou inclinado;tentam segurar-se com os dedos em vários pequenosramos ao mesmo tempo como o fazem os cracídeos, massem a firmeza destes; deitam com o peito na galhada,apoiadas por um calo formado no ponto livre do esterno(st n l pe que funciona como "bequilha". Paraintimidar inimigos ou assustada, a cigana levanta bemalto as asas, abrindo-as e produzindo um' sussurro comas penas duras e ásperas, exibindo as rêmiges de corcastanha muito viva, contranstando com uma grandemancha preta orla da de branco, simulando um olhosuperdimensional, no lado inferior das secundárias, açãoque repete, a curtos intervalos e que lembra de certomodo o nervosismo dos jacamins.É desajeitada suamaneira de movimentar-se através da ramagem, que-bram penas no esforço de se agarrarem aos galhos comas asas abertas. Os pés, apesar de grandes, falham fre-qüentemente; caem às vezes na água. Vôo pesado e rui-doso.

A despeito de sua índole fleugmática, a cigana estádia e noite em atividade. Durante o dia, sobretudo noauge do calor, descansa. Sua gritaria costuma despertarmais a atenção à noite; torna-se espetacular em noitesde luar. Pastam também à noite. Alimentam-se de fo-lhas novas, flores. e frutas da arácea aninga

nt da verbenácea siriúba abun-dante nos manguezais, da imbaúba(Ce de sietc., também do aguapé(Eich ) e de capim novo, quealcançam dos galhos mais baixos do matagal. A grandemassa vegetal deglutida, depositada no papo, sofrendo

ogt bliog Ge l)

Bang, B. 1971. . ppl. 58:1-76. (fossa nasal)

Barnikol, A. 1953. /. . Syst. o/. 81:487-526. (anatomiacomparada do papo)

Beebe, W. 1909. 1:45-66. (hábitos)

fermentação, gera o cheiro caractetístico da cigana(stin ing d). ._

e A reprodução ocorre durante as chuvas, co-meçando no início dessa época. O casal se destaca, nomeio do bando, porque os companheiros sempre pou-sam juntinhas. Nidific.e preferência nos turiazais(maio-junho, Marajó, PA). Fazem pequeno ninho chatode grave tos sobre galhos que poderiam ser obra do socoí.Dois ovos (excepcio~almente três) muito peculiares:oblongos, co~e creme a rosadas, ricamente mancha-dos de lilás e~, fazendo pensar em ovos de certassaracuras. O período de choco é aproximadamente 30dias. Filhote de penugem unicolor parda. Tem o pole-gar e o indicador providos de unha afiada, movida pormusculatura adequada, possibilitando à avezinha agar-rar-se muito bem com os dedos, trepando através dadensa ramagem tal qual um lagarto arborícola; segura-se também encostando o mento e o bico nos galhos comoo fazem igualmente anus jovens e papagaios. Perde asunhas quando muda para a plumagem definitiva. Acha-mos em exemplares taxidermizados, emplumados comoadultos, as ditas unhas, escondidas sob as penas. Espan-tado, o filhote pula na água e até mergulha, nada comasas e pés, sendo nestes momentos, ameaçado por pre-dadores aquáticas, dependendo da profundidade daágua. Parece que não regressam ao ninho. Quando osfilhotes não foram ameaçados no ninho, abandonamsomente o mesmo apenas com duas a três semanas ca-bendo-lhe portanto mais a classificação de "nidícola" doque de"nidífugo". Anus pequenos comportam-se de ma-neira semelhante, embora não possuam os ganchos nasasas e vivam em terreno seco. Os pais alimentam os fi-lhotes com a mass~ odorífera que enche o papo, hábitoque nos lembra os pombos. O ninho é atendido por umgrupo, filhotes de crias anteriores. Em vista de um rivalsão executadas cópulas simuladas do casal e até de ou-tros membros do grupo, demonstração impressionantedo "dono" efetivo. Há às vezes dois ninhos a poucosmetros um do outro.Dist i , declínio Antigamente a cigana eraa ave mais abundante dos aningais, comum nas beirasde rios, lagos eigarapés do grande sistema fluvial doAmazonas e Orinoco; para o sul até o baixo rio dasMortes (São Domingos, MT), alto rio Paraguai e Bolí-via. Nas Guianas e na Venezuela. Embora não seja conesiderada ave de caça, seus ovos são apreciados e a carnenão é rejeitada, sendo bastante procurada como isca. Suaspenas são usadas na confecção de leques. Hoje perto dasgrandes cidades da Amazônia já não se encontra mais.

~(

(

I1-.. '

Brush, A. 1979. c st. Eco/.7:160. (dados imunológicos)

Bühler, P. 1986. f. 127:487-507. ( c eopte recentesconcl usões)

Goeldi, E. A. 1894. i. s. se1:167-184. (hábitos)

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OPISTHOCOMIDÀE 21S~

Grimmer, J. L. 1962. t. Geog . 122:391-400. (hábitos)Guimarães, L. R. 1940. . . S. ulo 1:283-318. (malófagos)Miller, A. H. 1953. 70:484-89. (fóssil)Pinto, R. M. & D. C. Gomes. 1985. . lnsi. O. Cruz 13-18.

(Nematoda)Queiroz, K. & D. A. Good. 1988. 105:29-35. (anatomia)Rutschke, E. 1970. i Wiss. l. 181:331-52.(estrutura da pena)

Sibley, C. G. &J.E.Ahlquist. 1 90:1-3. (análise eletroforética)Sick, H. 1985. Hoatzin Pp. 284-85. In: Dict (B.

Campbell & E. Lack, eds). Calton: T &A D Poyser e Vermillion:Buteo Books.

Strahl, S. D. 1988.Ibis 130:483-502. (organização social)Vanderwerf, G. A. & S. D. Strahl. 1990. 107:626-28.(nidificação

colonial)'

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ORDEM GRUIFORMES

CARÃO: FAMÍLIA ARAMIDAE (1)

Aves pernaltas malacófagas; uma única espécie viva,havendo fósseis do Terciário Médio (Oligoceno Inferior,30 milhões de anos) da Argentina. Faltam atualmentena América do Sul os verdadeiros grous (Gruidae) em-bora existam na América do Norte onde foram encon-trados também fósseis bem antigos (Terciário, Eoceno),inclusive de formas inaptas pará o vôo, demonstrandoestar a ordem bem estabelecida no Novo Mundo.

,

São de proporções que lembram a dos íbis. A tra-quéia do macho adulto, enrolada em algumas curvas ser-vindo à ampliação do volume da voz mostra disposiçãosemelhante à encontrada nos grous (fig. 90). Análiseseletroforéticas apontam para uma maior afinidade comGruidae que Rallidae. O hálux longo, a plumagem ne-gra do pintainho sugerem parentesco com as saracuras.Os malófagos de não apresentam afinidade comos Rallidae mas apontam para um parentesco com osThreskiornithidae.

CARÃO, Pr. 3, 9

70cm. Parece-se um pouco com o tapicurue o corocoró mas seu porte é mais ro-busto e seu bico quase reto. Pardo-escuro com a gargan-ta branca e riscas da cabeça e pescoço também brancas;à distância parece todo negro. Pernas negras, base da

Fig.90.Atraquéia do carão, s g macho.Parteexpandida,siringe (seg.Maynard,exRüppeIl1933).

mandíbula amarela. Sexos parecidos, fêmea menor.forte e cheia, um grito longo freqüentemente seguidopor 3-4 gritos curtos, por exemplo, "krào-ke", "karáu"(daí "carão"): no crepúsculo e à noite com demoradasrepetições.

Seu alimento básico são os aruás,(= e o , gastrópo-des aquáticos que constituem também a comida típicado gavião-caramujeiro, us cuja técnica de ex-trair a carne das presas é totalmente diversa da do carão,o qual coloca firmemente na lama o aruá capturado, aoque parece sem segurá-lo com os dedos, martelando-o aseguir com o bico afiado e ligeiramente curvo; a seguirlevanta o molusco e sacode-o, finalmente jogando ao arpedaços da carne ou toda a carne extraída, apanhandoos bocados, que engole, e deixando cair a concha, quecostuma estar ligeiramente partida nos bordos, mas queàs vezes é perfurada em cheio. Ao contrário do

é capaz de capturar tais presas na vegeta-ção densa tirando-as até mesmo do fundo dos lagos casoa água dê-lhe vau; chega mesmo a nadar um curto tre-ch o: consta que em outras regiões aproveita-se de

moluscos terrestres e lagartixas. Acrescentamos serpresa apreciada pelo pato-do-mato.

Decola com facilidade, voando de pescoço epernas esticados, ambos um tanto abaixados; tem umritmo particular de bater as asas. Vive nos pântanos ecampos alagados, onde caminha abertamente, entrandocom freqüência na água até o ventre; graças aos seuslongos dedosé capaz de passar sobre plantas flutuan-tes. Quando espantado agita a cauda para baixo abrin-do ligeiramente as retrizes, em gesto diverso daqueleque se observa em saracuras, e faz movimentos bruscoscom o pescoço. Às vezes empoleira sobreárvores altas.Após a reprodução reúne-se em bandos, Emigra duran-te o período seco para retornar com o começo das chu-vas; é uma das aves que mais se vê quando sobrevoampântanos extensos a baixa altura.

Vive aos casais; faz ninhos grandes, à feiçãode um cesto profundo, sobre a vegetação alta dentrodobrejo;' os ovos são cremes ricamente manchados, lem-brando os dos grous (Gruidae). Filhote nidífugo, de pe:nugem anegrada, recordando aqueles das saracuras.Quando começa a cantar indica para os habitantes daAmazônia que o nível das águas dos rios não mais subirá.

Ocorre da Flórida e México à Bolívia e Argentina; eem todo o Brasil. V. eg (quanto ao nome).

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ARAMIDAE 291

li

Eichler, W. 1949. 1949.Pp, 249-52. In: biologische28 ige s 60. onErunn

n (E. Mayr & E. Schüz, eds.). Heidelberg: Carl Winter.

(Mallophaga)

Palmer, R. S. 1985. Limpkin Pp. 328-29. In: (B.

Campbell & E. Lack, eds). Calton: T& A O Poyser e Vermillion:Buteo Books."

Rüppell, W. 1933.J. 81:3. (acústica da siringe)

Snyder, N. F. R.& H. A. Snyder 1969. he ing -224.(hábitos)

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292 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

JACAMINS: FAMíLIA PSOPHIIDAE (3)

Aves de aparência galinácea típicas da Amazônia.Suas relações filogenéticas são ainda discutidas, haven-do semelhanças tanto com os Galliformes quanto comos Gruiformes; as análises eletroforéticas da clara dosovos confirmaram parentesco com as saracuras. A téc-nica de hibridação do DNA parece indicar mais paren-tesco com os grous. Não se conhecem fósseis até o mo-mento. O caráter dos ovos é tão peculiar que também aoologia não pode esclarecer o parentesco.

De porte singularmente ereto e de cabeça pequena("jacamim" em tupi significa "o que tem a cabeça pe-quena"), pescoço curvo, coberto de penas tão curtas quelhe dão aparência veludosa. Bico forte e curvo; as asaslargas e descaídas unidasà plumagem longa e franjadado manto dão ao corpo um aspecto reforçado, contribu-indo para sua aparência corcunda. Cauda curta e mole;pernas altas e dedos curtos, sendo ambos, contudo, for-tes. Sexos semelhantes; macho um pouco menor.

São ventríloquos, produzindo tal efeito mediante avibração de um volume de ar comprimido em dois sa-cos aéreos torácicos ligadosà traquéia,cujo enchimentovê-se durante um resmungar baixo que serve de intro-dução ao canto propriamente dito, o qual é uma seqüên-cia "peitoral" surda, emitida de bico fechado: "u-u-u ..."que diminui gradativamente de intensidade, terminan-do em uma sílaba prolongada e descendente; pode-seimitar este ruído soprando-se em uma garrafa. Empo-leirando à tardinha, conversando francamente; cantamno poleiro noturno, contribuindoà sinfonia peculiar daAmazônia, no escuro.

Sua voz de alarme lembra a gritaria aguda das gali-nhas-d'angola misturada ao grunhir dos porcos. Comu-nicam-se através de um murmurar monossilábico "wup"enquanto perambulam pelo solo.

,

Comem insetos (cupins, formigas etc.), centopéias,sementes, bagas etc., sendo suas atividades reveladaspor locais onde a serrapilheira é revolvida ficando ex-posta à terra. Aceitam carniça ("urubu-do-chão", "uru-bu-da-terra", alto rio Curuá, Pará). Dizem que perse-guem cobras.

Caminham tranqüilamente em bandos pelas matassombrias (de preferência de terra firme) mexendo ritmi-camente com as asas e ziguezagueando por trilhas de-

terminadas; são guiados por certo indivíduo, provavel-mente o mais experiente. Se espantados voam para osgalhos próximos, em seguida subindo a alturas consi-deráveis, pulando, voando e gritando.

Para intimidar rivais, durante os cortejos ou simples-mente por estarem excitados, correm e pulam em rodapelo chão; baixam o pescoço e levantam as asas jogandoo "manto" (asas e plumagem dorsal) verticalmente paracima, sinal de nervosismo, em uma cerimônia impressi-onante devido às prolongadas e coloridas plumas desta.região, principal caráter específico; tais movimentospodem lembrar as famosas danças dos grous. Os com-panheiros acariciam-se na cabeça. No crepúsculo tor-nam-se inquietos até empoleirar para dormir, lembran-do outras aves como, por exemplo, os jacus.

Um jacarnim-de-costa-cinzenta foi observado esfre-gando a plumagem com um miriápode, beneficiando-se, assim, da secreção cáustica, em atividade correspon-dente à chamada nting ("formicar-se").

Consta que se instalam em buracos espaçosos de ár-vores ocas em boa altura, dentro da mata. Os ovos sãoarredondados, brancos, de casca áspera. O período dechoco é de 27 dias (R.M.A. Azeredo). Os pintos são cas-tanho-claros manchados de cinzento e se assemelhamaos de cracídeos (p.ex, sp.), mas têm pernas maiscompridas. Consta queOs pintos ainda pequenos se dei-xam cair de qualquer altura ao chão, semelhante aos fi-lhotes de certos Anseriformes.

os, utili ç o

Por debaixo das pálpebras, sob a membrana nicti-tante, frequentemente assinalamos a presença de nerna-tóides.

Podem ser perfeitamente amansados; vivendo em re-gime de setnidomesticação, são utilizados pelos índioscomo sentinelas e pelos civilizados como xerimbabos.

, ç

Apresentam-se atualmente em três formas bem dis-tintas (fig. 91) que se excluem geograficamente; descen-dentes deum mesmo ancestral (monofiléticos), evoluí-ram em refúgios flórestais de uma hiléia semidesfeita ereduzida durante épocas mais secas. As três espéciescontemporâneas podem ser, portanto, consideradascomo aloespécies que compõem uma superespécie,fi-cando separadas pelas partes mais largas dos grandesrios após uma nova reunião da Amazônia como nos

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PSOPHIIDAE 293

Fig. 91.Distribuição dos três representantes dejacamim,Psophia, que se excluem geograficamente epodem ser considerados membros de umasuperespécie pi s (seg. Haffer, 1974b).

moldes atuais; desta maneira o Madeira e o Amazonasconstituem barreiras das mais radicais entre as popula-ções de jacarnim-de-costa-verde e as das outras duasformas. Nas cabeceiras dos tributários meridionais doAmazonas onde os rios, menos largos, não constituiri-am obstáculo intransponível, permitindo, assim, umpossível contato, não encontramos jacamins em virtudede modificações ecológicas incompatíveis com estas avesexclusivas da floresta equatorial úmida; esta é a razão

ibliogt og Ge l)

Haverschrnidt,F. 1963.- . o104:443. phi t ovos)Haverschmidt,F. 1985.Trumpeter Pp. 611-12.In: Dict

i s (B.Campbell& E. Lack,eds). Calton: T& A O Poyser eVermillion:ButeoBooks.

Peres,C.A.1996.ilson ull. 108:170-75.(associaçãocomunguladosna Amazônia)'

pela qual as populações habitantes de ambos os ladosdo méc!io e baixo Tapajós e em. suas cabeceiras não en-tram em éontacto.

JACAMIM-DE-COSTA-CINZENTA, e s

[45-52cm] Mais aparentado com a espécie mencio-nada a seguir; partes posteriores do manto cinza-mes-clado com ocre. Ocorre ao norte dos rios Amazonas eNegro à Venezuela, Guianas e Amapá; também ao nortedo rio Solimões à Colômbia e Peru. "}acamim-cinza*".

JACAMIM-DE-COSTA-BRANCA,sophi leucopie

[45-52cm] Partes posteriores do manto brancas(P. I.leucopte da margem ocidental do Madeira ao Peru eBolívia) ou ocrácea leucopte och t entre os bai-xos Solimões e Negro) sendo que a segunda forma podeser considerada raça de. ns, em cuja área naAmazônia setentrional enquadra-se melhor(v. figo 91)."I acamim -branco*".

JACAMIM-DE-COSTA-VERDE,s EnPr. 11,1

49cm, altura 46cm, 1071g (fêmea). O mais conhecidodos jacamins brasileiros; costas olíváceas-pardas ou efe-tivamente verdes. Ocorre do Madeira a Belém (Pará),Maranhão e norte de Mato Grosso; forma duas raçasgeográficas distintas, separadas pelo baixo Tapajós. Namargem esquerda, soph idis disde manto viva-mente verde, coberteiras superiores das asas com a por-ção terminal azul reluzente, bico e pés claros, amarela-dos; na margem oposta. i dis d s,de manto mui tomais escuro, faltando quase totalmente o verde e azul,bico e pernas negras. "Jacamim-verde*".

Sick,H. 1969.Trumpetervõgel,Pp. 121-23.In: e s/ eben vol.8(B.Grzimek,W.Meise,G.Niethammer& J.Steinbacher,orgs.).Zurich:KindlerVerlag.

WilIis,E. O. 1983. . . ! 43:19-22.(seguidoresde formigasdecorreição)" .

4.l."t

., ,

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294 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

SARACURAS, FRANGOS-O' ÁGUA, CARQUEJAS: FAMíLIA RALLIOAE (30)

Grupo cosmopolita muito peculiar. Fósseis conheci-dos do Velho e do Novo Mundo, inclusive o Brasil. Ori-gem provavelmente nos trópicos do Velho Mundo.

Porte variável, indo desde aquele de um pinto até ode uma galinha. Pernas e dedos longos sem membranasnatatórias, à exceção das carquejas, que possuemlobos natatórios laterais em adaptação ao nado, no quelembram a picaparra, cauda curta; o compri-mento considerável do bico, pescoço e pernas muitasvezes torna a indicação do "tamanho total" vaga oumesmo ilusória, tal como nos Ciconiiformes eCharadriiformes.

Pela aparência externa podem ser divididos em doisgrandes grupos: as saracuras, que se movimentam so-bretudo andando, embora saibam nadar; e os frangos-d'água, que se vêem geralmente nadar embora andemmuito bem. Parece que a vida silvícola (p. ex.

pode ser considerada oestágio originário, enquanto a adaptação aquática

e seria umaespecialização secundária (Olson 1973b).

São muito bem camuflados pela cor e pelo padrãoda plumagem. O desenho branco nos flancos e por bai-xo da cauda deGallinula faz um admirável efeitodisruptivo.

Bicos e pés vivamente coloridos sendo o primeirofreqüentemente esverdeado, às vezes com sinais carac-terísticos de outras cores berrantes: pés freqüentementeaverrnelhados". Durante o repouso sexual as cores vi-vas se perdem. Os frangos-d'água portam um escudofrontal mais desenvolvido nos machos, sendo que esse,nos diminui após a época de reprodu-ção. e apresentam um anel vi-vamente colorido sobre o tíbio-tarso logo abaixo dos"calções", sendo esta "liga" ou "perneira" visível ape-nas em certas posições.

?s sexos são geralmente sernelhantes.jo.rnacho ge-ralmente maior, com o bico mais longo e de forma ligei-ramente diferente; dimorfismo sexual esboçado (dese-nho da cabeça) nos Imaturo com bico menore de colorido pouco distinto, sua plumagem pode serdiversa daquela do adulto como, por exemplo, os

R. , etambém

Os dedos (o que se vê pelo hálux) tornam-se bastan-te longos nas espécies mais paludícolas, facilitando-lhesa passagem sobre plantas flutuantes; o corpo compri-

mido lateralmente e a plumagem sedosa concorrem parauma extraordinária capacidade de esgueirar-se atravésdo tabual mais emaranhado, sendo tal faculdade nadaacentuada nos frangos-d'água. Empoleiram, por exem-plo, ,

Rio de Janeiro, J. F. Pacheco].Voam bem, embora tenham a tendência de não o fa-

zer durante o dia; chegou mesmo na vidadiária a incapacitar-se quase por completo lembrandoos tinamídeos pequenos como não obstanteaparecem longe da área "normal" deocorrên-cia. Em ilhas oceânicas evoluíram as saracuras não-voa-doras que chegaram a reduzir suas asas a rudimentosinvisíveis sob um manto de penas piliformes

. Existe até u!lla que se tornou despro-vida de vôo, nas Ilhas de Gough, no meio do Atlântico.

Há uma muda "em blocoH das rêmiges (v.marrecas)nas paludícolas: , , ,(exceto nas L. viridis), e sen-do que a muda sucessiva ocorre com os

e , espécies campes-tres ou silvícolas; só aves que se ocultamem-pântanospodem' permitir-se a uma muda simultânea de todas' asrêmiges, pois a mesma implica total perda da capacida-de de vôo (umaFulica durante três a quatro semanas),tendo a vantagem de processar-se mais rapidamente quea muda sucessiva.

Quando espantados, seu vôo é curto, desajeitado ede pernas pendentes; a particularidade das carquejasé

a de voar rente à água, como se corressem sobre a su-perfície, exibindo o "espelho" branco da asa (caso o pos-sua) e a "liga". mergulha, embora com algum es-forço.

Várias espécies, como por exemplovivem na região de água salobra litorânea, em manguese ecossistemas correlatos; são desenvolvidas suas glân-dulas interorbitais (glândulas nasais), cuja função é aexcreção dos excessos de sal (v.gaivotas). Há, no Brasil,dois casos flagrantes de adaptação à vida em terrenoseco, a saber a siricora-mirim, que alémdisso não é crepuscular e sim diurna, cantando nas ho-ras mais quentes do dia, e a maxalalagá,i

Devido à vida retirada e crepuscular dessas aves, équase indispensável conhecer-lhes asvocalizações, asquais às vezes são emitidas em coros impressionantes(p. ex., e durante

24 No texto específico não mencionaremos a coloração do tarso da espécie tratada caso o mesmo seja vermelho.

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RALLIDAE 295

todo o ano, mais à tardinha, de madrugada e quandochove (segundo a crendice popular anunciam a chuva).Há também duetos (p. ex.

e as estrofes do macho e dafêmea podem ser diferentes; cantam freqüentemente casosejam espantados por um ruído forte como um tiro. Asvozes de advertência diferem nos sexosservindo bem para distinguir machos de fêmeas. A faltado conhecimento da vocalização de

impediu até há pouco chegar a uma noção so-bre a distribuição e a freqüência da espécie.

No Brasil central os índios tupi queriam nos ensinarque a gritaria da três-potes, não eraapenas uma confusão de vozes, havendo também acom-panhamento por ruídos oriundos da expulsão de gasespela cloaca! Referências a tão pitoresca lenda já encon-tramos no e gente do de FernãoCardim, que aqui chegou em1583,que ao falar sobre ostupis do litoral diz o seguinte sobre o fato: "Tem umcantar estranho, porque quem o ouve cuida de ser umpássaro muito grande, sendo ele pequeno, porque cantacom a boca e juntamente com a traseira faz um outrosom sonoro, rijo e forte, ainda pouco cheiroso, que é paraespantar": esse "outro tom" pode corresponder a umventríloquo "bo, bo, bo ..." que ouvimos às vezes de pou-ca distância, sendo um contra ponto discreto acompa-nhando os fortes "três-potes". Quanto à

registramos, junto aos fortíssimos "báik", umsom rouco fraco independente, produzido indubitavel-mente na traquéia. O dueto de. é tão perfeita-mente sincronizado que exige toda atenção para desco-brir que são vozes de dois indivíduos. Tanto mais inte-ressante que Cardim, não tendo conhecimento do due-to, escreveu: "Curiosíssirna faculdade permitir-lhe (àsaracura) emitir duas notas ao mesmo tempo". Assaracuras podem vocalizar com meia-voz.

O grasnar e piar de anfíbios às vezes fazem suportratar-se de saracuras, havendo-se de abstrair tambémos assobios da capivara e da anta além dos roncos dosjacarés e da voz nasal do ratão-da-banhadono extremo sul. '

São onívoros, gostam tanto de capim e brotos demilho quanto de pequenas cobras-d'água como asHelicops (encontradas nos estômagos dee R. tiram insetos e larvas do estrumedo gado depositado perto de brejos; caem em arapucase ratoeiras cevadas com milho ou aveia.

As espécies grandes pilham ovos de ou-tras aves aquáticas; as carquejas apanham plantas nofundo dos lagos rasos, trabalho provavelmente facilita-do pelo tamanho das unhas as quais podem ser enor-mes (p. ex. sendo as mesmas utiliza-das também como armas nas pugnas entre rivais. Asplantas retiradas do fundo das lagoas pelas carquejas

podem atrair marrecas que tentam roubar-lhes a comi-da cobiçada (Cleptoparasitismo), na América do Norteacontece freqüentemente o contrário: carquejas rouban-do alimento das marrecas. Os ralídeos cospem pelotas.

Todos os Rallidae são de índole inquieta, demons-trando seu nervosismo pela agitação quase constante dacauda curta que é levantada verticalmente (ao contráriodos inhambus), efeito especialmente conspícuo nos quepossuem um "farol traseiro" branco como por exemploos frangos-d'água e as saracuras e R.

são exibidos, desta maneira, caracteres im-portantes específicos (v. sob . Os pintinhoscujas retrizes estão apenas nascendo, já executam essemovimento da cauda.

Embora certas espécies, como por exemplo o pinto-d'água, , sejam abundantes e vi-vam nas proximidades de habitações humanas, su~ pre-sença usualmente passa despercebida em virtude dehabitarem lugares ocultos. Traem-se apenas pela voz.

leucopifrrhus, e outros têm o hábitode molhar a comida antes de engoli-Ia. Vários represen-tantes furam a lama com o bico, lembrando as narcejas,deixando na sua passagemséries de pequenos buracos.

Sobre as cerimôniaspré-nupciais de saracuras sabe-mos muito pouco; existem alguns registros feitos em ca-tiveiro. Macho e fêmea acarinham-se mutuamente nacabeça e dormem juntos no ninho onde o macho dá co-mida à fêmea le Ninhos grandes,resistentes, confeccionados de folhas, em parte cobertose com pequeno acesso lateral, situados sobre arbustos ecipoais, às vezes em buracos ocasionalmen-te distantes d'água. e provavelmenteoutros, constrõem nas proximidades do ninho de incu-bação, um ninho criadeira, usado cerca de um mês pe-los pais e os filhotes (Teixeira1981). constróium ninho esférico 200 x 140 x 170 mrn, feito totalmentede capim, com entrada bem pequena no lado superior;o ninho está escondido entre o <capim-do campo, temdois ovos brancos brilhantes 24 mm x19,3mm (Negret& Teixeira 1984).

Ovos (até 7 em , Minas Gerais) de cor bemvariada, de campo amarelado, rosado ou branco, sendomanchados à exceção de e L. sos quais os têm branco-puro. Incubação de16'a 17dias,

(ex-Estado da Guanabara),15a 16dias(Maranhão) e de 21 a 25 dias

e leuc . Os filhotes são cornumente co-bertos por plumas negras, em várias espécies com umsinal vermelho na base do bico; os pintos de

são negros com a cabeça avermelhada; os de

r" ,

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296. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

:z;

têm um diminuto escudo frontal encarnado,maior no macho e a pele supra-ocular azul; permane-cem no ninho durante quatro dias, embora já possamandar bem com dois dias de idade. Os pais, que nestaépoca são extremamente agressivos, cevam os filhotes,bastante ariscos, durante vinte dias; estes retiram o ali-mento da ponta do bico dos pais; às vezes, os filhotes daninhada anterior ajudam o casal na criação de seus ir-mãos mais jovens.

A mãe ocasionalmente carrega um pintinho pegan-do-o pelo pescoço /lus o polegar dos filhotes de al-gumas espécies possui uma unha que presta serviços napassagem através da vegetação mais emaranhada. Exis-tem chamadas (Ioc on ll) de jovens orientando seus

. pais sobre sua localização( des).

Dist ibuiç o, g ões, es

Gêneros como us, o e u sãolargamente distribuídos pelo mundo;Fulica penetra nosAndes e no hemisfério norte, mas no Brasil é gêneromeridional; opus é cosmopolita.

A tendência acentuada dos Rallidae de dispersarem-se torna-se evidente em seus vôos noturnos; em noiteschuvosas sobrevoam cidades como o Rio de [arteiro tra-indo-se então pela voz (p. ex. nig , e

l s e des ne pode acontecer de es-borracharem-se de encontro a janelas iluminadas; um

ides gle voou à noite contra o Hotel Simon, noItatiaia, Rio de Janeiro, um eoc e e ops foi encon-trado no Parque do Museu de História Natural de BeloHorizonte.

Uma distribuição disjunta pode ser simulada porfalta de ambiente adequado ou por simples falta de re-gistro de aves tão dificilmente visíveis (v. Vocalização);a fixação de pequenas populações isoladas pode resul-tar em um albinismo parcial, conseqüência de cruzamen-tos consangüíneos, conforme vimos no Espírito Santoem 1940 com llus l nop

Há espécies migratórias em grande escala, sobretu-do frangos-d'água como , nie as Fulica; duas primeiras aventuram-se mesmo a so-

.'. brevoar o Atlântico sendo que é a única aveneotropical a realizar "regularmente" vôos transatlânti-cos; tudo leva a crer que tais façanhas são ínvoluntárias,sendo as aves carreadas pelos ventos sobre o Atlânticomeridional; o frango-d'água azul deve ser capaz de des-cansar sobre uma superfície do mar calmo; de 12 exem-plares capturados na costa africana, 10 eram imaturos.Um llus ul ius foi encontrado a 500km ao largo dacosta do Espírito Santo (setembro, J. T. Nichols).

Em 1973 foi descoberta uma saracura Fóssil (Quater-nário) de tamanho médio, de asas atrofiadas, emFernando de Noronha, ao que parece distinta dassaracuras do continente sul-americano (Olson 1977).

sitos

ides hospeda o pupíparoholo , o qual é encontrado também no perdigão,

rufescens. Em pântanos do Rio Grande do Sulencontramos sanguessugas se alimentando dos dedosde es .

Utili , noci e supos

Os frangos-d'água têm valor cinegético, sobretudono nordeste do país onde s i é caça im-portante, fornecendo à população as proteínas necessá-rias; neste caso a destruição de ovos e aves é quase total.

e são às vezes acu-sadas de destruir plantações de arroz quando as plantasestão nascendo.

inopse dos e silei

1. Saracuras pequenas e multicoloridas:l lus (7) (v. Pr. 11), i (1) eCotu nicops (1), sendo a primeira e as duas últimassalpica das de branco nas partes superiores.

2. Saracuras de porte médio: (4), sendo llus

rajado de branco; lbicollis (v. Pr. 11),li (1), (1) e ol n (1).

3. Sara curas de grande porte: ides (5) (v. Pr. 11).4. Frangos-d'água: (1), (1) (v. Pr.

11), o h (2) Pr. 11) e (3).

SANÃ, llus lentus

30cm. Muito parecido com a espécie seguinte, mascom a base da maxila azul brilhante e a-base da mandí-bula escarlate assim como as pernas; imaturo pardo,mais claro nas partes inferiores, asas com algumas man-chas pretas, de bico e pernas negras sendo o primeiromais curto que aquele do adulto. canto ü it,züwit... quase sempre em coro ao cair da noite;um piado rouco e forte semelhante ao das galinhas-d'angola (advertência). Vive nos brejos extensos; braçosde rios abandonados, cobertos de plantas aquáticas. Es-pécie merídio-andina,da Terra do Fogo a~ Rio de Janei-ro. "Saracura-do-banhado".

25 Número de espécies entre parênteses; veja também a picaparra(Helio s), o pavãozinho-do-pará a jaçanã e ossocós o es, l e e lus. ·

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RALLIDAE 297

SARACURA-SANÃ,

31cm. De porte meão, é, nas regiões onde habita,uma das saracuras mais abundantes; coloração idên-tica à de (que é sensivelmente mai-or) porém com o bico verde uniforme mais compri-do e curvo. assobio agudo "tirit", "kirk", "píu",muito parecido ao grito de (ad-vertência); o canto consiste em uma estrofe compos-ta, iniciada com uma série de grunhidos suínos as-cendentes, "kuik ...", bramidos ao fundo e terminadacom um tremular claro e descendente. Vive em qual-quer brejo; freqüentemente perto de casas e ao ladode . Ocorre da Colômbia aoBrasil (da Paraíba ao Rio Grande do Sul, Goiás, MatoGrosso e Distrito Federal), Paraguai e Argentina(Misiones). Sua semelhança com guinolentussugeriria um parentesco próximo que é desmentidopela disparidade entre as respectivas vozes."Saracura-preta*".

SARACURA-CARIJÓ,

27cm. Pardo anegrado inteiramente mosqueado debranco; "farol-de-ré" branco. Bico verde de base encar-nada. "píu" e roncos baixos. Habita os brejos bemúmidos, buritizais. Ocorre do México à Argentina; tam-bém no Brasil setentrional e merídio-oriental (até o RioGrande do Sul). V.

SARACURA-SANÃ-DOS-MANGUES,

31cm. Espécie relativamente grande, de bico longo,a lar anja d o e um tanto curvo. Plumagem pardaacinzentada; peito ferrugíneo, lados do abdômentransfasciados de branco e pardo; "farol-de-ré" branco.

fortíssimo matraquear "kek-kek-kek". Vive restritoao litoral em manguezais. Ocorre dos EUA à Américado Sul, inclusive Brasil, do Pará (Marajó) a Santa Cata-rina. "Saracura-matraca?".

SARACURINHA-DA-MATA,

23cm. Singular em seu coloridocastanho-ferrugíneoescuro quase uniforme; íris e pernas vermelhas, bicoverde. seqüência de meia dúzia de pios "tui", osprimeiros mais fortes. Habita córregos r<l.SOS,claros eladeados de palmeiras dentro da mata alta e sombria(norte do rio Doce, Espírito Santo); mata baixa paludosa(Rio de Janeiro, L. P Gonzaga). Ocorre do México àAmazônia e ao Brasil Oriental, em ocorrências esparsas,até Espírito Santo, São Paulo [e, recentemente, Paraná(Raposoet aI. 1994)].

SARACURA-DA-PRAIA, En Pr. 44, 9

32cm. Semelhante à espécie descrita a seguir, tendoporém porte menor, bico mais curto e o pescoço anteri-or sem cinzento algum; logo após a garganta (branca)começa o ferrugíneo do lado inferior, o qual é pálidonos imaturos. Bico verde de base vermelha. Vive naspraias lodosas com mangues e matas adjacentes. Ocorreno Brasil este-meridional, de Belém (Pará, Novaes 1981)e Maranhão ao Rio de Janeiro. ltatiaia, setembro de 1959(v. Migrações). [Recentemente registrada para o litoralde São Paulo (Willis& Oniki 1985) eParaná (Scherer-Neto & Straube 1995)]. "Saracura-do-mangue".

TRÊS-POTES, Pr. 11, 3

39cm. Geralmente a sara curamais conhecida nestepaís; de porte grande e pelo seu canto forte, muito po-pular. Cabeça e pescoço cinzentos, o resto das partes in-feriores evexilo interno das rêmiges (o que é visível emvôo) ferrugíneos; coberteiras inferiores das asas amare-lo-ferrugíneas barradas de preto; abdômen negro; bicoverde. estrofe bem acentuada em síncopes"téres-

pot téres-pot téres-pot pot pot" (daí o onomatopaico"três-potes"), freqüentemente em dueto ou coro com in-divíduos mais distantes, o dueto pode demorar váriosminutos, canto fortíssimo impressionante; agudo "wett"(advertência). Vive nos pântanos com vegetação alta;manguezais; margens de rios, lagos e igarapés; mataúmida e alta, às vezes distante da água; plantações decana ete. Também próximo a cidades. Ocorre do Méxicoà Bolívia e Argentina; e em todo o Brasil. "Sericóia" (Es-

pírito Santo), "Chiricote", "Saracura-três-potest".

SARACURAÇU,

46cm.É a maior das saracuras brasileiras; semelhan-te à anterior sendo contudo nitidamente maior e apenascom o pescoço anterior cinzento; peito e flancos de umaestranha cor rosada; barriga cinzenta clara: uropígio ecauda negros, o que chama a atenção quando a ave le-vanta a cauda ou voa. extremamente forte e dura,uJJ1bissilábico "kjo-báike ..." repetido meia dúzia de ve-zes; motivos de mais sílabas seguidas, de vez em quan-do, por um gemido baixo:"bái-kare, bái-kare, bái-karekóa", seqüência iniciada com uma série de simples"kjõ,kjõ, kjo..." que lembram os gritos de um on Viveà beira de banhado. Ocorre localmente no Brasil este-setentrional e Central: Maranhão, Piauí, Bahia, MinasGerais e Mato Grosso; mais abundante no Sul: Rio Gran-de do Sul, Paraguai, Uruguai, Argentina.

SARACURA-DO-MATO,

34cm. Igual à anterior quanto à cor do manto e à es-tatura, difere pelas partes inferiores totalmente cinza-

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298 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

escuras exceto pela garganta branca e pelo crisso negro.série de fortes gritos roucos e monótonos, "báik-

báik-báik, ..", quando começa "kü ...", "ko // (canto, v.também Introdução); fortíssimos "kí.ki, kí // (alarme);"wét, wét, wét.;.". Habita os pântanos orlados de mata,floresta de terrenos acidentados; atravessa longos tre-chos de mata desprovida de água. Ocorre do EspíritoSanto (região serrana) e Rio de Janeiro (inclusive no ex-Estado da Guanabara) ao Rio Grande do Sul, Argentina(Misiones) e Paraguai. Pode parecer uma réplica, emtamanho grande, de o qual nos brejos,às vezes é seu vizinho.

SARACURA-DE-ASA-VERMELHA,

[31-33cm] No alto Juruá e ao norte de Manaus (Ama-zonas) (Stotz & Bierregaard 1989). Estende-se até o Equa-dor.

SANÃ-CARlJÓ, Pr. 11, 2

27cm. Espécie relativamente pequena, comum noBrasil oriental. Partes superiores malhadas de negro, per-nas pardacentas ou esverdeadas e bico sem vermelhoalgum. "bürüt" (chamada), "keá" (advertência); ocanto do macho consiste em um zunir melodioso termi-nado por uma típica sílaba cheia e prolongada,"grrrrrriiiiiio", ao passo que a fêmea "late" constantemen-te um "Kârre ...". Habita os juncais e pântanos abertos.Ocorre das Guianas e Venezuela até a Bolívia e Argenti-na; do Brasil setentrional (Óbidos, Pará) ao Brasil meri-dional (Rio Grande do Sul) e central. "Franguinho-d'água" (Rio Grande do Sul), "Saracura-sanã*".

SANÃ-AMARELA ".

14cm. De partes superiores pintalgadas de branco,faixa superciliar epartes inferiores amareladas e flancosrajados de negro. Assemelha-se a representantes de

foi proposto colocar a espécie nogênero da região australiana (Olson 1970).Ocorre das Guianas à Argentina, Brasil setentrional (lo-calmente) e merídio-oriental (p. ex.: Rio de Janeiro, SãoPaulo).

SANÃ-DE-CABEÇA-CASTANHA,

19-21,Scm. Espécie florestal da Alta Amazônia quelembra no padrão do colorido.Com registros para as baixadas a leste dos Andes da Co-lômbia, Equador e Peru foi encontrada por T.A. Parkerna floresta ribeirinha do lado brasileiro do rio Abunã,Rondônia em 11 de julho de 1992 (Pacheco 1996).

-AçANÃ-PRETA,

15cm. Uma fêmea foi encontrada pela manhã do dia3 de novembro de 1994, após ter possivelmente se cho-cado contra uma janela iluminada de um prédio doCampus de Pesquisa do Museu Goeldi, Belém, Pará. Esteprimeiro registro para o Brasil, dados sobre o exemplarinédito e uma discussão sobre o achado encontram-seem Novaes & Lima (1996).

PINTO-D' ÁGUA,

17cm. Parecido com a segunda espécie a seguir, masde pescoço posterior castanho e lado inferior sem tintasferrugíneas; peito cinzento; coberteiras inferiores da cau-da pretas, transfasciadas de branco; pernas marrom-cla-ras. Vive no capinzal perto d'água. Ocorre da AméricaCentral à Amazônia, e localmente ainda p. ex.: Pernam-buco (Igaraçu), Mato Grosso (Porto Quebracho) e Para-guai. Do Pleistoceno da Flórida, EUA. Inclui um exem-plar da Paraíba, 1980, identificado como

espécie endêrnica da Venezuela. "Sanã-do-ca-pim*".

SANÃ-DE-CARA-RUIVA *,

18,5cm. Semelhante a L. porém de co-berteiras superiores das asas fortemente barradas debranco, peito cor creme, coberteiras inferiores da caudapretas; bico cinzento, pernas cinzento-esverdeadas. Viveno capinzal denso, em parte alagado (A. Negret). Regis-trado no Brasil apenas para a região de Brasília. Ocorretambém no Paraguai.

PINTO-D' ÁGUA-COMUM,

Pr. 11,4

17,5cm. Ralídeo de porte reduzido, abundante; plu-magem contrastante, ferrugínea e branca pura; ferrugí-neas são também as coberteiras inferiores da cauda (aocontrário dos dois anteriores e'aoseg~inte); pernas es-verdeadas. pio fino "züp-zip" (chamado, semelhan-te ao de um pinto, daí o nome);"psiã" (advertência);um trinado prolongado (p. ex. 6 segundos) e forte,"zürrr ...// (canto), mais cheio do que o do furnarídeo

que vive freqüeil.temente nos mesmos luga-res; um grito curto, suavee repetido "zürrr", emitidoinclusive à noite, em vôo, enquanto migra. Habita ospântanos bem alagados. Em alguns brejos pequenoshá a tendência de desenvolver-se o albinismo (Espí-rito Santo). Ocorre da Amética Central à Bolívia eArgentina; Brasil setentrional e oriental até o RioGrande do Sul. "Açanã", "Frango-d'água", "Sanã-parda?". V. o seguinte.

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RALLIDAE 299

PINTO-O' ÁGUA-AVERMELHADO,

17,5cm. Representante meridional parecido ao an-terior mas com o vértice e pescoço posterior casta-nho (e não oliváceo), coberteiras inferiores das asasbrancas (e não listradas de negro) e as subcaudaisalvinegras (fêmea) ou brancas (macho) mas nuncafer-rugíneas como nos pernasvermelhas (ao contrário dos três precedentes).trinado ressonante terminalmente descendente. Ha-bita da Argentina ao Rio de Janeiro e sul de MinasGerais onde pode ocorrer ao lado da espécie anteri-or. "Sanã-vermelha?".

SANÃ-ZEBRADA, [asciaius

18cm, de cabeça, pescoço e peito castanhos, mantoverde-escuro e barriga ferrugínea clara riscada de ne-gro. Ocorre nos rios Solimões e Purus [por exemplo: nasilhas devegetação pioneira do baixo[apurá, Amazonas,ao lado deL. G. F. Pacheco)] até o Equador, Peru eColômbia V. .

SIRICORA-MIRIM,

18cm. Espécie singular por sua adaptação a ambi-entes secos. Partes superiores pardo-oliváceas, alto dacabeça e partes inferiores ferrugem, lados da cabeça cin-zentos; pernas vermelhas. trinado ainda mais pro-longado do que o de do timbredo de um canário-belga, no começo como que "engas-gado", em seguida fluindo livremente, sem parar, des-cendo para depois continuar sem ondulações e finali-zando com pios espaçados;"kürr" (alarme). Camposde sapé e ma cega totalmente secos; capoeira rala e seca;freqüentemente longe de qualquer fonte de água (p. ex.nas encostas do "Pão-de-Açúcar", ex-Estado da Gua-nabara), Das Guianas e Venezuela ao Rio de Janeiro [SãoPaulo (Willis & Oniki 1985)] e Mato Grosso. Foi pro-posto colocá-Ia em um gêneroà parte, con-siderando-se sua maneira particular de realizar amuda e o colorido de seus ovos (v. Introdução). Podeser incluído no gênero de junto com[asciatus. V. a espécie seguinte, que também vive dis-tante da água.

MAXALALAGÁ,

18cm. Minúscula, apenas do porte de um tico-tico.De bico curto, plumagem das partes superiores pardapintada de branco e debruada de negro; partes inferio-res amarelas ferrugíneas clara, abdômen branco, bicoazul-esverdeado. "prrrssss", como o estridular deum gafanhoto. Campos secos de capim alto. Agacha-sequando perseguida, mas não voa mal. Aparece nas bor-

das de campos queimados, expulso do seu hábitat e in-toxicado pela fumaça, tornando-se presa fácil de

como vimos em Brasília. Da América CentralàVenezuela; localmente também no Brasil central (Goiás,Mato Grosso) e oriental (Bahia. São Paulo). Ao contrá-rio do ínambu-carapé, seu vizinho eventual no Brasilcentral, mantém a cauda levantada, tendo também ostarsos avermelhados e bem mais altos. "Perdigão""Sa nã-oce lad a" ". Pode ser incluído no gênero

. V. (TInamidae).

PINTO-O' ÁGUA-CARIJÓ,

12,7cm. Espécie miúda; de pernas e dedos curtos,plumagem pardo-anegrada, nas partes superiorespintalgada de branco e preto, pescoço anteriorestriado de branco, resto das partes inferiores trans-versalmente fasciadas de branco.o trissilábico"kcowee-cack". emitido à noite (Teixeira & Puga1984). Em plantações de arroz, localmente da Argen-tina e Uruguai à Venezuela e Guianas; também noBrasil em São Paulo, inclusive recentemente emTaubaté (H. F. Alvarenga) e Rio Grande do Sul. [Lo-calizado recentemente em 1995 nos arredores dePelotas (R.A. Dias, G. N. Maurício).] V. também

.

'.TURUTURU,

18cm. De compleição robusta malgrado o portepequeno. Bico curto de base vermelha viva; partessuperiores pardo-oliváceas uniforme; partes inferio-res cinza ardósia, garganta branca, flancos listradosde preto e branco: imaturo com o bico ainda maiscurto e sem vermelho; pernas vermelhas. trinodescendente terminando com algumas notas ásperas.Vive na orla da mata. Ocorre da Venezuela e Colôm-bia à Argentina e Paraguai; encontrado no Brasil,P:ex.: no Pará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais (BeloHorizonte), Espírito Santo, São Paulo, Mato Grosso(alto Xingu, setembro). "Sanâ-de-bico-vermelho"". v.

FRANGO-O' ÁGUA-CARIJÓ,

25cm. Como uma pequena nada "cabece-ando", caracterizando-se de pronto por este tique. Bicoe estreito escudo verde-claro contrastando com a plu-magem denegrida da face; costas tingidas de castanhovivo; flancos salpicados de grandes nódoas brancas e'redondas. Imaturo com cabeça castanha ao invés de cin-zenta e com bochechas mais claras. uma seqüênciaacelerada (canto); geralmente mantém-se silencioso. Viveem lagos e lagoas com abundante vegetação flutuante.Ocorre da Argentina e Chile ao Brasil (do Rio Grandedo Sul ao Ceará); localmente nos Andes.

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300. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

FRANGO-O' ÁGUA-COMUM, chlo!Pr. 11,6

87cm.Amplamente distribuída, existe na América doNorte e no Velho Mundo; ao contrário da espécie men-cionada a seguir, tem o escudo escarlate, faixas brancasnos flancos, grande "farol traseiro" dividido em dois epernas verdes com uma "perneira" vermelha. Imaturopardo-anegrado com abdôm~n meio branqui~;n~~, bi~~,escudo e pernas sem cores vivas. agudo kurrrk.,estridulante "ki-ki". Nada cabeceando, de bico meioabaixado; quando caminha mostra a "liga" vermelha.Freqüenta inclusive lagunas salobras. No inverno au-menta de número no sul do Brasil devido à imigraçãode contingentes mais meridionais. Ocorre na maior par-te do continente e em todo o Brasil. Alcança o arquipéla-go de Tristão da Cunha; auxiliada pelos ventos de oeste(v. também a próxima espécie). "Jaçanã-galo" (Nordes-te), "Peituda" (Rio de Janeiro), "Galinha-d'água". Fós-seis do gênero já são conhecidos do Plioceno Superiorda América do Norte. V. a carqueja-de-escudo-roxo,

FRANGO-O' ÁGUA-AZUL,

Pr. 11,5

35cm. Geralmente o frango d'água mais conhecidodo país; ao contrário do anterior, tem escudo chato e azulesbranquiçado, pernas amarelas e "farol de ré" branconão bipartido. Imaturo parecido com o da espécie ante-rior, mas de cor parda-amarelada, podendo lembrar ummaçarico ou uma jaçanã jovem. agudo "te-te-te","tik-tik-tik", baixinho "dog"; notas ou frases soandocomo murmúrios ou guinchos. Empoleira em estacas,agarra-se a moitas de à feição de s socoís.Voa bem, mantendo as pernas estica das para trás, uni-das, e os pés cruzados.

e o no No estado em questão surge,em quantidade, no começo das chuvas (janeiro-feverei-ro), aí nidificando de abril a junho, quando as condiçõesatmosféricas são normais (não havendo seca), e perma-necendo até novembro. De março em diante são inten-samente caçados, aproveitando-se igualmente os ovos(4 a 8 por postura) e abatendo-se os adultos os quais, apartir de julho, estão gordos e impossibilitados de voar(" desasados") pela muda simultânea das rêmiges. O"arroz de jaçanã" chega a ser o prato regional mais apre-ciado, sendo oferecido de março a novembro. Recomen-dar-se-ia a proibição da caça de abril a junho (Aguirre1962). .Dis uiç o, ções De vasta distribuição, existe ondequer que haja brejos e banhados. Ocorre do sul dos EUAà Argentina, e em todo o Brasil. Migratório, no sul doBrasil desaparece por completo no inverno. Aparece emnavios no alto-mar, para descansar, a cem quilômetrosou mais da costa (março). Freqüentemente atravessa oAtlântico, sendo anualmente encontrado no arquipéla-

go de Tristão da Cunha, 3.200km dist,ante das costasamericanas, e na costa meridional da Africa Ocidental(Winterbottom 1965); aparece também em Santa Helenae Ascensão, talvez vindo de Tristão da Cunha ou arras-tado pelos ventos de oeste que sopram por sobre osalíseos de leste; foi registrado até mesmo no arquipéla-go dos Açores (v. Introdução). "[açanã" (Maranhão),"Tauá-tauá-azul" (Amapá). V. a seguinte.

FRANG0-0'ÁGUA-PEQUENO,

27cm. Assemelha-se ao imaturo do anterior sendo,porém, bem mais delgado, de cauda mais longa, ladosda cabeça, pescoço e peito cinza-azulados, bico e escu-do verde-amarelados; pernas amarelo-acre. Vive nos bre-jos bem úmidos com vegetação alta, buritizais, às vezesao lado da anterior; há poucos dados sobre a espécie,que freqüentemente é confundida com P Ocor-re das Guianas à Argentina; Brasil amazônico, centro-meridional. "Tauá-tauá-branco" (Amapá).

CARQUEJA-OE-BICO-MANCHAOO, ul ll tFig.92

47cm. O maior frango-d'água pesando um quilogra-ma. No Brasil ocorre apenas no sul. Plumagem fuligem-ardósia, cabeça e pescoço negros-lustrosos, asas sembranco algum, "farol-de-ré" branco menos vistoso queo de ul , "liga" vermelha; bico e escudo amarelos(sendo este mais claro que aquele), o primeiro com de-senhos vermelhos que variam conforme a idade e a épocado ano; indivíduos migrantes que aqui aparecem pos-suem, usualmente, apenas uma linha escarlate separan-do o bico do escudo; podem apresentar também umamancha vermelha na base da mandíbula. A "perneira"vermelha torna-se visível quando a ave recua com vi-gor ou estica a perna para trás quando se coça, descansaou pousa à beira d'água. agudo "pit": "cuit, cuit.cuit"(macho); "terr-terr-terr" (fêmea); este dimorfismo sexu-al nota-se ao menos durante a reprodução (Navas 1956).Mergulha com algum esforço. Vive nos lagos orladosde vegetação aquática. Ocorre da Terra do Fogo e Chileao Bra.~\lmeridional, no inverno chegando até São Pau-

Fig. 92.Carqueja-de-bico-manchado, l

Page 52: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-02

RALLlDAE 301

10 (junho) e Rio de Janeiro (ex-Estado da Guanabara,agosto; Cabo Frio, fevereiro, março e junho, Aristides P.Leão). A designação "carqueja" deriva de uma plantado mesmo nome, s, que possui caules alados querecordam os dedos deulic "Galinha-d'água" (RioGrande doSul), "Gallareta de ligas rejas" (Argentina).Àdistância pode ser difícil discerni-la da espécie que tra-tamos a seguir.

CARQUEJA-DE-BICO-AMARELO, i leucopie

42cm. Semelhanteà anterior, porém com a ponta dassecundárias internas brancas, o que dá na vista quandovoa; lado inferior (negro) da cauda com um V invertidobranco; bico esbranquiçado ou amarelo-claro, escudoamarelo-enxofre ou limão ou cor de rosa. "kjõ, kjõ,kjõ...", Vive nos banhados abertos de pouca profundi-dade. Ocorre da Terra do Fogo e norte do Chileà Bolí-

eibli G

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CARQUEJA-DE-ESCUDO-ROXO, VS

46cm. Distingue-se pelo escudo roxo, bico amarelocom a base roxa; sem branco nenhum na asa, sem "liga" (aqual falta também na espécie anterior); de cauda maislonga que as duas carquejas precedentes, revela um gran-de "farol traseiro" branco e bipartido quando decola eabre a cauda em leque. Vive nos banhados com densavegetação, onde nada vigorosamente, "cabeceando";pode parecer umaG i . Ocorre da Terra do Fogo eChile ao Uruguai e Brasil merídio-oriental, no Rio Gran-de do Sul, em Santa Catarina (provavelmente nidifican-do), Paraná e São Paulo (junho).

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'. ,

Page 53: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-02

ORNITOLOGIA BRASILEIRA

,PATINBO-D' ÁGUA: FAMÍLIA HELIORNITHIDAE (1)

Aves aquáticas delicadas, remotamente semelhantesquanto ao aspecto geral, a um mergulhão,além da espécie neotropical existe uma segunda na Áfri-ca e uma terceira na Ásia. Não se conhecem fósseis. Apa-rentados, ao que parece, aos frangos-d'água tendo, po-rém, um aspecto bem característico. A faunadi'malófagos é semelhante à dos Rallidae, o biótopo emcomum porém pode facilitar a transferência de tais pa-rasitos.

De pescoço fino, bico ponteagudo, asas longas, cau-da longa e larga e pernas curtas e fortes; dedos lobadosà semelhança das carquejas. Tórax fortemente compri-mido, dorso-ventralmente (e não lateralmente como odas saracuras) o que resulta em uma forma peculiar,chata, do corpo. Muda das primárias em bloco, ficandoas aves incapacitadas de voar,

PICAPARRA, c Fig. 93

28cm. Com um desenho alvinegro bem destacado nacabeça e no pescoço; manto pardo, partes inferiores cin-za-amareladas, bico vermelho (daí o nome"marrequinha-de-bico-roxo"): na fêmea, durante a repro-dução, as bochechas tingem-se de canela (o que é ape-nas esboçado no macho) e as pálpebras de vermelho.Pés amarelos, dedos com anéis negros, grito forte echeio, "ok", repetido de 3 a 10 vezes, lembrando a vozdo mergulhão, o .li , h bitos Apanha besouros, formigas caídas

n'água, libélulas, aranhas, pequenos caranguejos etc.Locomove-se nadando velozmente perto da margem,onde facilmente passa despercebido; pousa em troncosou galhos a pouca altura da água, alcança o poleiro tre-pando pelos obstáculos, quando então destaca-se a corviva dos pés. Pernoita empoleírado, escondido dentre ocipoal, sempre sobre a água na qual, quando algo o per-turba ou assusta, deixa-se cair sem o menor ruído. Mer-gulha muito bem; mas faz pouco uso desta habilidadese não é perseguido (v. sob Hábitat). Decola com facili-dade, voa rente à água. Acontecem durante á noite cho-

Fig. 93. Picaparra,H [ulica.

ques contra paredes (Lagoa [uturnaiba, Rio de Janeiro),indicando disposição de voar para longe, semelhante àssaracuras.

ç No período próprio nadam em círculos,mantendo o pescoço esticado horizontalmente renteàágua e as asas meio levantadas. Seu ninho consiste emuma plataforma mal-arrumada de galhos na ramagemsobre a água; dois ovos oblongos branco-amareladosfinamente manchados de canela. Incúbação extremamen-te curta (11dias); o filhote nasce muito pouco desenvol-vido, quase em "estado embrionário", sendo abrigadopelo pai, que é o mais ativo nos cuidadosà prole, emuma concavidade, protegida por penas, localizada soba asa. Consta que os filhotes são assim levados pelo pai,até nadando e em vôo. Esta disposição, única na classeAves, foi descoberta já há 150 anos pelo PríncipeMaximiliano de Wied no Brasil, mas só recentementefoi documentada com mais detalhes, no México (Alvarezdel Toro 1971). Os filhotes mais crescidos cavalgam ascostas paternas que os levam inclusive em seus mergu-lhos, à feição dos Podicipedidae. Não se pode designaros filhotes como nidí~ugos, como pretende Ruschi (1979).

Fig.94.Filhoterecém-nascidoda Pícaparra,H[ulica, abrigadonuma concavidadesoba asa do pai(seg.Alvarezde!Tara1971,adaptado).

H bit t e dist ui Habita pequenos rios, profundos,sombreados, de águas calmas, destituídos de vegefaçãoaquática, ladeados de barrancos sobre os quais se incli-nam raízes e cipós; ocorrem em matas de baixadas, ondesubstituem os mergulhões. NaAmazônia é encontradonos igarapés, rios maiores e lagos orla dos de vegetaçãoflutuante (onde se encontra com o mergulhãozinho,

ius é capaz de sobreviver em poçasd' água represada e bem ensolaradas, ao longo das ro-

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HELIORNITHIDAE 303

dovias (Maranhão, Pará).É às vezes apanhado emtarrafas e redes durante pescarias noturnas, provavel-mente tratando-se de indivíduos expulsos do poleiro.Ocorre do México à Bolívia e Argentina; todo o Brasil

l HelGe

Alvarez dei Toro,M. 1971. e ing 10:79-88 (reprodução)Elliott, H. F. 1.1985. Finfoot Pp.215-16. In: Dietio (B.

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Buteo Books'Sick, H. & L.A. R. Bege.1984. oe. iog . no5:3-6. (He/io s

fulica, Santa Catarina)"

,.. .

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304 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

PAVÁOZINHO-DO-PARA: FAMÍLIA EURYPYGIDAE (1)

Família monotípica, uma das aves maiscaracterísti-cas da Amazônia sem ser endêmica. Mais aparentadaaos grous do que às saracuras. Não se conhecem fósseis.

De silhueta delgada, delicada e elegante, recordamum pouco uma pequena garça; pescoço excepcionalmen-te fino, graciosamente encurvado em S;bico longo, retoe pontudo; pernas delgadas; asas desproporcionalmen-te grandes e largas. Sexos parecidos.

PAVÃOZINHO-DO-PARÁ, g Pr. 11,7

45cm. Os admiráveis desenhos alares, completados.pela cauda, são amiúde ostentados quando a ave estáirritada (v.prancha). Isto se nota já nos filhotes de duassemanas que se exibem desta maneira, executando pi-ruetas dentro do ninho. Grandes manchas em forma deum olho, berrantemente coloridas, de súbito apresenta-das, estão entre os meios mais eficazes para assustarpossíveis predadores, inclusive o homem. Tais sinais a-terradores acham-se em muitos insetos como borbole-tas.

pni es sono Trinado melancólico, "rrrrrrü" ou"iu-rrrrrü", de timbre parecido ao do assobio doinhambu-preto, ptu /lus cine s, o qual habita asmesmas regiões; possui várias outras vozes, p. ex. umforte "ia", um "tschrrrrra" estranho sibilar, um crocitare um estalo, "klak".

e ç , h bito Pousa em galhos ou troncos caídos

iblio Eun gid( t ibliog G l)

Coimbra-Filho, A. F. 1965. o/. 25:149-56. (reprodução)Frith, C. B. 1978. icult. 84:150-57. (cerimônias)Lyon, B.E.& M. P.L. Fogden. 1989.u 106:503-7. (reprodução)

na água, em pedras ou mesmo no chão, à beira de rios eigarapés onde espreita insetos, rãs, peixinhos, carangue-jos etc., que apanha aproximando-se lentamente. Costu-ma efetuar um suave movimento de vaivém lateral,umas vezes com o corpo inteiro, outras apenas com aspartes posteriores, enquanto que a cabeça e as pernaspermanecem fixas; já o filhote começa a ensaiar taismovimentos peculiares que podem lembrar, até um cer-to ponto, outros da garça-vaqueira e doarapapá. Vôomacio como o de uma ave noturna, executado à poucaaltura. Solitário ou aos casais.

uç O ninho é uma tigela rasa, às vezes acimade uma base alta, feita de fibras; folhas e raízes previa-mente mergulhadas na lama, colocada na ramagem aci-ma ou próxima da água. Um a dois ovos grandes, ama-relados com pintas acastanhadas e cinzentas, chocadospelos pais durante 26 a 27 dias, cada um chocando seminterrupção dois dias, lembrando o modo de certas avesmarinhas. Os pais tentam afastar os intrusos do ninhofingindo estarem feridos ou voltando-se contra o inimi-go levantando e esticando as asas e a cauda, o que lhesconfere um aspecto. imponente, ao mesmo tempo quesibilam como cobras. Os filhotes tiram ativamente o ali-mento do bico dos pais; permanecem no ninho de 21 a25 dias apesar de nascerem espertos e tipicamenteemplumados como nidífugos, assemelhando-se aos fi-lhotes de uma batuíra.Do esiic o e ç São fáceis de amansar, viven-do então em regime semidoméstico. Ocorre do Méxicoà Bolívia e Brasil; toda a Amazônia para o sul até MatoGrosso (no norte do Pantanal), Goiás e Piauí. "Pavão-papa-moscas".

Ríggs, C. D. 1948. 60:75-80. (geral)Skutch,A. F. 1947. lson . 59:38. (ninho)Wennrich, G. 1981.G ied. 105:145-50, 167-72. (hábitos em

cativeiro)

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CARIAMIDAE 305

SERIEMAS: FAMíLIA CARIAMIDAE (1)

Aves pernaltas de aparência arcaica e porte avanta-jado; restritas ao hemisfério ocidental. Vá:ios fós.seis deantecessores. do Terciário (Oligoceno Infenor e Mioceno,30 milhões de anos) da Argentina e também da Américado Norte (atribuídos à subordem Cariamae), entretantoo ancestral mais antigo procede do Paleoceno do Brasil(55 milhões de anos); os gigantescos Phorusrhacidaesulamericanos eram aparentados com as seriernas, masnão ancestrais diretos. Foi urna surpresa encontrarPhorusrhacidae no Terciário da França (Mourer-Chauviré 1981).

Grupo de descendência discutida, sua inclusão nosGruiformes é provisória; há relações com os jacarnins,

h . As duas espécies atuais (a extra-brasileira ébu menor, sem tufo de penas na cabe-

ça, pernas negras, silvícola; Paraguai e norte da Argen-tina) estão entre os testemunhos que apontam a existên-cia de antiqüíssimas (remontam do começo do Terciário)paisagens meio abertas, precursoras do atual cerrado,na América do Sul. Urna origem silvícola deave terrícola, se pode concluir pelo fato de nidificar so-bre árvores. Convergência com aves de rapina v. sobReprodução.

SERIEMA, C i Fig. 95

90cm, 1.400g. De asas largas e "duras", cauda longa.Plumagem cinzenta com ligeira tonalidade parda ouamarelada; na base do bico, o qual é forte e vermelhocorno as pernas, cresce um feixe de penas eriçadas paraadiante, o que lhe dá urna expressão marcial; tem o olharameaçador, lembrando o cuculídeo phus. É urnadas poucas aves munidas de pestanas. Sexos semelhantes.

O canto é urna estrofe longa, composta degritos estridentes, de longe melodiosos, que têm um al-cance superior a 1km; soam corno um"glo", destacadosno início mas acelerando-se no decorrer do canto até aum clímax para depois diminuírem sucessivamente,podendo contudo logo serem recomeçados. Procura urnaelevação no solo e canta de bico bem aberto, jogando acabeça para trás quando no auge do seu cantar ..~o iní-.cio da reprodução vocaliza já antes de clarear o dia; quan-do começa de manhã emite as notas tão separadamenteque o leigo nem percebe ser urna seriema que está pre-parando suas clarinadas, as quaissãoconhecidasportodos e constituem-se na vocalização mais importanteque há em regiões campestres, sobretudo o cerrado. Háoutras vozes: quando está irritado, 'querendo p. ex., de-vorar uma presa maior, deixa ouvir um rosnar. Durante ogalanteio, e, às vezes, quando descansa, emite um ranger.

Fig. 95. Seriema,

i Come gafanhotos e outros artrópo-des, roedores, calangos e outros animais pequenos in-clusive, ocasionalmente, ofídios. Goza da reputação dedevorar "grande quantidade" de cobras, o que aparen-temente é exagerado; o dito "onde tem seriema não temcobra" tem, portanto, reduzido valor. Não é imune aoveneno ofídico. Mata urna presa maior, por exemplo umratinho, apanhando-a com o bico e batendo-a violenta-mente de encontro ao solo. Pisa sobre o animal apanha-do; seus dedos, contudo, adaptados a urna locomoçãodas mais velozes, são curtos demais para agarrar qual-quer coisa, entretanto utiliza-se da unha do dedo inter-no na carnagem de urna presa, p. ex. um camundongo(fornecido em cativeiro) com o bico e, após firmar ospés em posição mais segura, levanta a cabeça o maisque pode e, ao abaixá-Ia, solta a presa atirando-a comtoda a força ao solo, matando-a após sucessivos golpes.Presa menor, como urna lagartixa, engole inteira, de umarola arranca as asas, urna cobra rasga em pedaços. Nãogosta de bicho morto. Começa sempre a comer a vítimapela cabeça. Dedica-se mais à caça de pequenos insetosque procura com dedicação no chão ou na vegetaçãobaixa, andando lentamente, a cabeça abaixada. Gosta debeber. .'

Quando defeca, arrepia toda a plumagem, sobretu-do as penas do pescoço, tornando-se então a ave umgrande chumaço de penas, desfigurando completamen-

26 Em 1980 foi encontrado em mãos de trabalhadores no acampamento de Itaipu, Paraná, um indivíduo de"seriema-de-canela-preta": épossível que a ave tenha sido apanhada no ladoparaguaio(Clodoaldo Abreu Filho).

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306 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

te seu hábito normal. Executa também posições grotes-cas quando se defende.

Trepa através da ramaria rala das árvores do cerra-do, dando pulos de um metro de altura ajudada por umbater de asas; agarra-se firmemente na casca grossa comas unhas muito afiadas, prestando serviço a grande unhado segundo dedo. Empoleira no alto das árvores parapernoitar; agacha-se no ramo, dormindo de pescoço en-colhido e a cabeça para frente e não escondida entre asescapulares.

Andam aos casais ou pequenos bandos. Se perse-guida por um automóvel chega a atingir 40 e mesmo70km/h antes de levantar vôo, o que só faz quando étenazmente seguida ou quer alcançar um poleiro. Du-rante o dia repousa deitada, sobre os tarsos, no solo; àsvezes se locomovem um pouco nesta posição, corres-pondendo ao nosso "andar" nos joelhos.

Toma banho de poeira e de sol; no último caso deitaprimeiro DO tarso, depois de barriga e, finalmente, rolao corpo para o lado, levantando a asa livre, aparecendocomo morto. Oculta-se atrás de troncos caídos, deitan-do no chão; para enfrentar um perigo imediato, inc1ina-se para frente, abrindo as asas e a cauda, exibindo o de-senho impressionante das mesmas, sobretudo da cauda(v. Reprodução), e arrepia a plumagem da cabeça e dopescoço; conserva, se for o caso, cuidadosamente suaposição por detrás de um tronco deárvoré a fim de fu-gir da observação do suposto inimigo. Empoleira sobreestacas para aumentar seu horizonte visual.

ep ç No período reprodutivo o macho, para inti-midar mais ou para impor-se à fêmea, estica as asas la-teralmente, virando-as para frente e exibindo o desenhocontrastante das rêmiges cujo padrão lembra o de cer-tas aves de rapina com as quais existem ainda outrassemelhanças externas longínquas, especialmente quan-to ao secretário gitt s, Sagittariidae) da savana afri-cana, representante de posiçãoince sedisna sistemá-tica.

Durante o galanteio as seriemas andam de passosgraves e esticam o pescoço ao máximo para cima, masabaixam o bico verticalmente, e apertam a plumagemtoda, esticando a crina do pescoço levemente para o lado.

iibli Ge

Almeida, A.C. C. 1988. esu Cong . . tib 497.(reprodução)

Burmeister, H.1937. e . . 23:91-152. (história natural,tradução do artigo de1853-4)

Frieling, H. 1936. Z. h. /. ie e30. (adaptações ecológicas)Gonzaga,L. P.1996. Pp. 234-239. In: db ojthe the /d.

/. 3.Ho in to s. G. dei Hoyo, A. Elliot & J. Sargatal, eds).Barcelona: Lynx Editions. (monografia)"

No cerrado nidifica sobre as árvores, construindo umninho, de porte razoável, com gravetos e galhos frágeis,forrando o fundo com estrume de gado, barro ou folhassecas; a árvore tem de ser tal que permita a ascensão daave, em saltos auxiliados por curtas esvoaçadas, até oninho, o qual pode estar a 4-5 metros do solo. Põe geral-mente dois ovos brancos, ligeiramente rosados, macu-lados de castanho; estas manchas podem estar encober-tas pela crosta externa da casca, tornando-se visíveis,por transparência, nos casos de encontro à luz; as carac-terísticas oológicas são um tanto semelhantes às dassaracuras. O casal reveza-se no choco, que dura 26-29dias; o filhote (se cria um filhote só) é coberto por longapenugem filiforme parda pálida com manchas pardas etem o bico pardo-escuro, pés cinzento-escuros, poden-do lembrar um jovem urubu ou rapineiro. Abandona oninho com 12 dias de idade, já nesta época emite umtoque de gritos do timbre do canto dos adultos, emboranão passem de uns poucos assobios fracos, para chamarsobre si a atenção dos pais.

it Nos olhos vivem vermes nematóides(Spiruroidea), por exemplo,O cole-tado por Natterer já em 1824, e O. nsis.H t, d i Vive no cerrado, campos sujos, tam-bém nos planaltos descampados do sudeste do Brasil(Itatiaia). O desmatamento progressivo contribui paraexpandir seus domínios na medida em que lhe propor-ciona novas áreas de hábitat favorável; faltava, por exem-plo, no vale do rio Paraíba (Rio de Janeiro) ainda no co-meço do século; de alguns anos para cá começou a pe-netrar na baixada fluminense e na Amazônia aprovei-tando-se da devastação ilimitada decorrente da"Belém-Brasílía".

Ocorre da Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia aoBrasil central e oriental até o oeste de Mato Grosso(Chapada dos Parecis), sul do Pará (localmente na serrado Cachimbo); faltava, por exemplo, nos campos do rioCururu (altoTapajós, Pará), em 1957, e na Serra Norte(Município de Marabá, Pará), em 1969; ainda não alcan-çou o rio Amazonas (1973). Ocorre no Maranhão (Barrada Corda, Imperatriz). "Sarierna" (Ceará), "Serierna-de-pé-vermelho?" .

.. r ....'

Heinroth, O. 1924.J. 77:119-24. (ontogenia)Miranda-Ribeiro, A. 1937. us. s 23 35-90.

(monografia)'Mourer-Chauviré, C. 1981.Geobios14:637-47. (Phorusrhacidaeria

América do Sul)Rodrigues, H.O. 1962. s. o/.22:371-76. (Nematoda)Schneider,K. M. 1957. e . og 5:168-83. (vocalizacão)Vanzolini, P. E. 1948. io/. 8:377-400. (ofiofagia)

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ORDEM CHARADRIIFORMES

A ordem Charadriiformes pode ser dividida em duassubordens, contendo as seguintes famílias, ocorrendo noBrasil:

1.Charadrii:[acanídae,Rostratulidae, Haematopodidae,

JAÇANÃS: FAMÍLIA JACANIDAE (1)

Aves aquáticas esbeltas de corpo muito leve; ocor-rem também na África e Ásia. Fósseis do Plioceno (5 mi-lhões de anos) e Pleistoceno do Brasil, e.ainda possivel-mente do Oligoceno do Egito (30 milhões de an~s).

,

Lembram os frangos-d'água embora não nadem; aoque parece não são aparentadas com os Rallidae, apro-ximando-se, sim, dos Rostratulidae.

Pernas muito altas, dedos excessivamente longos edelicados; unhas elásticas e afiladas como agulhas, a dohálux, que é encurvada para cima, mede mais do dobrodaquelas dos dedos anteriores (4,5cm contra 2cm, nafêmea). Tal morfologia é uma adaptação mais própria àvida dentre tapetes de vegetação flutuante onde não sepode nadar e até m.esm.oum.a saracura se atoIa; por pou-co a jaçanã andando no meio seco, não tropeça em seuspróprios dedos.

JAÇANÃ, PIAÇOCA, Fig.96

23cm. Provavelmente a paludícola brasileira mais co-mum. Negra de manto castanho, bico amarelo e lobosmembranosos frontais e laterais vermelhos; rêmigesverde-amareladas, sendo exibidas amiúde. Encontro comum esporão afiado, de cor amarelada, servindo comoarma à feição do q~ero-quero.

Sexos de cores bem semelhantes, porém fêmea deporte bem maior (159g contra 69g do macho). Imaturolembra o do frango-d'água-azul ou mesmo um maçarico,sendo mais facilmente reconhecível pelas asas, iguais àsdo adulto. forte e estridente"wôt-wõt", levanta asasas ao emiti-I o (alarme).

Caminha a passos largos sobre os aguapés, salvíniase outras plantas flutuantes à cata de insetos (p. ex. be-souros), moluscos, peixinhos (p. ex. quando um pula e

Charadriidae, Scolopacidae, Recurvirostridae,Phalaropodidae, Burhinidae, Glareolidae, Thinocoridaee Chionididae.

2. Lari: Stercorariidae, Laridae e Rynchopidae.

cai sobre uma folha) e sementes. Permanece freqüente-mente de asas levantadas, comportamento típico já nofilhote e que recorda vários maçaricos. Funciona comosentinela dos lugares onde habita, alertando para qual-quer alteração na sua área, semelhante ao quero-quero.

e u

Em estudos realizados durante três anos no Rio deJaneiro, numa população toda marcada de anéis colori-dos, foi confirmado o comportamento poliândrico, comoconhecido de outras espécies do gênero (Ferreira 1983).O território da fêmea inclui 2 a 3 territórios de machos.Uma fêmea realizou duas posturas sucessivas, incuba-das por dois machos: 21 a 28 dias. O macho expulsa afêmea dos arredores do ninho, instalado sobre folhas deninféias. Os ovos, castanho-amarelados, densamentemanchados, postos pela mesma fêmea, diminuíramgradativamente no seu tamanho. Para engodar possí-veis inimigos, a fim de afastá-Ios do ninho ou dos filho-

Fig.96.]açanã, j. na posição típica deasas levantadas; ao lado um filhotão.

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308. ORNlTOLOGlA BRASlLElRA

tes. utiliza-se da mesma técnica dos Charadriidae, ouseja, fingem estar com uma perna quebrada debatendo-se como se não pudessem voar (despistamento).

Os filhotes são nidífugos, logo após a eclosão saempor sobre as plantas aquáticas; já nesta idade são extre-mamente pernilongos e sabem mergulhar; em face aoperigo o pai foge correndo às vezes levando ospintainhos sob as asas, destes apenas sobressaindo oscaniços pendentes das pernas.

Ocorrem lutas ferrenhas entre duas fêmeas em dis-puta do mesmo macho. Se a fêmea intrusa consegue ex-pulsar a fêmea "legítima", a intrusa torna-se agressivacontra a prole existente e embora bem defendida pelopai chega a matar filhotes. O resultado é que o machodepois se dedica melhor a postura feita pela fêmeausurpadora (Emlenet aI. 1989).

ogt Ge )

Emlen,S. T., N.J. Demong&D.J. .1989. u 1 1-7. (infantiádio)

Ferreira, L 1984. ento odutioo Jacana jacanaes, d e) no Es do do o de nei o.Tese

de Mestrado: UFRJ

Hayman, P.,J. Marchant & T. Prater. 1986.ho b ident tion

H , o

Vive nos banhados, também em pequenos brejos, porexemplo aqueles formados por escavações ao lado dasrodovias. Fora da época de reprodução são migratórios,associando-se em bandos; aparecem transitoriamente,p. ex., em regiões serranas onde não nidificarn, pousamsobre lajes fluviais. Na Amazônia são vitimados pelopirarucu. Ocorre na maior parte da América tropicalcisandina; em todo o Brasil. "Cafezinho", "Menininho-do-banhado" (Rio Grande do Sul), "Enxofre", "Casaca-de-couro" (Minas Gerais), "Marrequinha" (Bahia),"[açanã-preta"". Representada na A~érica Central, Mé-xico e Antilhas por spi , parente próximo que,por exemplo, não possui os lobos laterais da base dobico.

Guide. London: Christopher Helm.

[enni, D. A. & C. Collier, 1972. u 89:743-65. (hábitos)

Osborne, D. R. & G. R. Bourne.1977. C 9 -105. (reprodução,alimentação)

Silva, F. 1971.Estudos eopoldenses18:331-43. (hábitos)

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ROSTRATULIDAE 309

NARCEJAS-DE-BICO-TORTO: FAMíLIA ROSTRATULIDAE (1)

Aves paludícolas pouco conhecidas no Brasil até adécada de 1960. Assemelham-se superficialmente às nar-cejas. Ocorrem também na África, Ásia e Austrália. Nãose conhecem fósseis.

NARCEJA -DE-BICO-TORTO,

Fig. 97

20cm, 65,5g (macho). Espécie meridional de bico bemmais curto e grosso do que o da narceja-comum, com aparte apical cor-de-rosa e tátil, curvada para baixo e ex-pandida lateralmente. Cauda curta, estreita e mole, pa-recendo faltar no indivíduo vivo; asas bem grandes comnotáveis nódoas brancas contrastantes, não existentesna narceja comum; a base do pescoço com placa brancavistosa que se alonga pelas costas em uma faixa amare-lada em forma de V Sexos parecidos. Imaturo distin-guível da narceja comum pela forma do bico.

s, uiç o, e ç Marisca na água rasadescrevendo meio círculos com o bico, cuja ponta man-tém submersa, enquanto empreende rápidos movimen-tos de abrir e fechar as mandíbulas. De índole mais cal-ma do que a da narceja, "levanta" sem gritar (daí o nome"narceja-muda"); voa lentamente e em linha reta, nãoziguezagueando, não sobe tanto como a narceja, ao in-vés, logo desce com as pernas pendentes.

Assustado "congela-se" em pé inclinando-se em di-reção do suposto perigo, o bico quase tocando o solo eexibe todo lado superior, rasgado por faixas amarelas ebrancas que cortamQ corpo em vários pedaços longitu-dinais, efeito críptico singular ("somatólise").

g iulid eibli Ge

Bomschein, M. R., B. L. Reinert& M. Pichcirim. 1993. IIICon o elot 26. litoral do Paraná)"

Hayman, P.,J.Marchant & T.Prater. 1986. n ident c tionGuide. London: Christopher Helm.

Hiihn, E. O. 1975. 92:566-75. cticNacinovic, J. B.& r. M. Schloemp. 1991. su I Con . . O

Fig.97. Narceja-de-bico-torto,

Não conhecemos rituais de acasalamento, a caudamole não serve para produzir barulho (v.G liScolopacidae).

Ovos oblongos, não em forma de pião como os dasnarcejas, quase inteiramente cobertos de manchas escu-ras. Vive nos banhados, arrozais. Ocorre no Rio de Ja-neiro (inclusive no ex-Estado da Guanabara), onde pro-cria (maio), São Paulo, Paraná, Santa Catarina e RioGrande do Sul, até o Paraguai, Argentina e Chile. [Umaconcentração pós-reprodutiva de algumas centenasde indivíduos numa área limitada, dominada porciperáceas, da lagoa de Maricá, litoral do Rio de Ja-neiro foi surpreendida quando caminhávamos pela ve-getação 'alagada em 4 de janeiro de 1986. (J. F. Pacheco,C. E. S.Carvalho).]

. lí 25. tic ninhos e ovos)'Neithammer, G. 1966.J. 107:201-4 (anatomia)Richford, A. S. 1985: Painted Snipe. Pp. 425-26. In:Dict

s (B. CampbelI & E. Lack, eds). Calton: T& A O Poyser eVermillion: Buteo Books.

Sick, H. 1962.J. 103:102-7. (ocorrência, hábitos)

Page 61: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-02

310. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

PIRU-PIRUS: FAMíLIA HAEMATOPODIDAE (1)

Aves marinhas cosmopolitas. Fósseis do Plioceno daAmérica do Norte (S milhões de anos). De bico duro ereto, mais alto do que largo, lembrando uma lâmina decinzel. Sexos semelhantes. Põe na areia, seus ovos asse-melham-se aos dos maça ricos e gaivotas.

PIRU-PIRU, Pr. 12, 4

46cm. Ave pernilonga robusta, de bico e pálpebrasescarlates; íris amarela e pernas cor-de-rosa. Larga faixana asa e uropígio brancos. estridente "quip ...", "klrt","piru-píru": um t.rinado ascendente no início e descen-

iog i H odidt bé ibliog G l)

Escalante, R. 1958.Condo 60:191-92 (taxonomia)Hayman, P.,J. Marchant & T. Prater.1986. ident n

Guide. London: Christopher Helm.Lima, P.c,S.S.Santos, R. C. F.R. Lima, C. L. S.Sampaio,J.O. Castro

dente no fim (canto).Come lamelibrânquios, cracas, gastrópodes etc.; Cor-

ta a musculatura dos primeiros usando o bico como ali-cate e abrindo, a seguir, as valvas "espaçando" (v.

e Icterinae) ou quebrando-as com o auxílio dobico, que é utilizado como um cinzel.É restrito à beira-mar, rochedos expostos à arrebentação e praias. Ocorreda América do Norte ao sul da América do Sul; toda acosta brasileira, onde nidifica (p. ex. Rio Grande do Sul,novembro). Muito aparentado aH ostdo Velho Mundo. "baiacu", "Batuíra-do-mar-grosso","Bejaquí" (Rio Grande do Sul), "Cã-cã-da-praía" (RioGrande do sul), "Ostraceiro-pirupiru+",

& F. P. Neto. 1996. u Cong . o 56.(reprodução na Bahia)*

Soares, M.&A. F. Schiefler.1994. I . .67. (nidificação em Santa Catarina)"

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CHARADRIIDAE 311

QUERO-QUERO, BATUlRAS e afins: FAMÍLIA CHARADRIIDAE (10)

Aves aquáticas cosmopolitas; fósseis do Terciário daAmérica do Norte e Europa e do Pleistoceno do Brasil(20 mil anos), em Minas Gerais. A aparência e o com-portamento dos Charadriidae são freqüentemente seme-lhantes a representantes da família Scolopacidae. Poressa razão tratamos a seção "Espécies visitantes, identi-ficação, hábitos e migrações em larga escala" para asduas famílias juntas neste capítulo Charadriidae e numaseção" Adaptações do bico e tarso " no capítuloScolopacidae.

-

Espécies

Chamamos a atenção que é conveniente usar batuírapara os Charadriidae, reservandomaçaríco" para osScolopacidae.

São o quero-quero chilensis), o batuíra-de-esporão e o batuíra-de-coleira

acrescentando, recentemente,ius [alkiandicus no extremo sul e C. da

costa norte. O primeiro é uma das aves mais popularesdo Brasil. Sexos semelhantes. Alimentação predominan-temente animal (v.Introdução de Scolopacidae). Em bus-ca de alimento na água rasa os costumamtremular com os pés sobre a areia, afugentando destamaneira animalejos escondidos como pequenos crus-táceos.

Nidificam em uma cavidade esgravatada no solo; osovos têm formato de pião ou pêra, forma adequada pararolarem ao redor de seu próprio eixo e não lateralmen-te, sendo manchados, confundindo-se perfeitamente como solo. Quando os adultos são espantados no ninho fin-gem-se de feridos a fim de desviar dali o inimigo. Os

rolam às vezes os seus ovos a um lugar vizi-nho no intuito de salvá-Ias quando o ninho foi desce-berto por alguém. O macho do quero-quero, contudo,torna-se agressivo até mesmo a um homem. Nas fazen-das se sabe que a vigilância do quero-quero é maior quea dos cachorros: o quero-quero é que chama a atençãodos cachorros. Filhotes nidífugos.

Na Amazônia os maça ricos e batuíras são expulsosperiodicamente pelas enchentes que inundam seu hábitat(praias fluviais e banhados rasos); as migrações resul-tantes não correspondem a uma fuga irregular, sendosim movimentos periódicos repetidos anualmente; asaves deslocadas gozam, enquanto isto, de um descanso.reprodutivo. Quando a água torna a abaixar regressamàs praias e aos pântanos pátrias, iniciando-se imediata-

mente a reprodução; o mesmo ocorre com outras avespraieiras como as trinta-réis e as marrecas. Cinco dasespécies brasileiras geralmente não se associam aos ban-dos dos visitantes.

Espécies es

Cinco entre os dez Charadriidae registrados no Bra-sil são visitantes, sendo quatro procedentes da Américado Norte e

se e duas da região meridio-andina e o estas úl-timas são relativamente raras no Brasil, atingido apenaso extremo sul durante o inverno austral, sobretudo emjulho/agosto. Dos 24 Scolopacidae, 22 são visitantes. To-dos eles são voadores exímios. São às vezes desviadosde seus "caminhos" de migração tradicionais por tem-pestades, aparecendo então p. ex. em Fernando de No-ronha ..

Não costuma ser fácil a identificação de maçaricosmigrantes, isto porque durante a época que aparecem.no Brasil (inverno boreal) estão em uma plumagemmodesta de descanso reprodutivo, semelhante na maio-ria das espécies (plumagem de eclipse, v. ,Scolopacidae, e marrecas) e assemelhando-se, concomi-tantemente, à plumagem dos imaturos que são maisnumerosos. Os primeiros indivíduos que nos chegamcostumam portar ainda restos da bela plumagem denúpcias, freqüentemente negra (p. ex., em ambos os

e ferrugínea viva (p. ex. os scolopacídeosc s e C. , que recuperam de fevereiro

em diante, antes de regressarem ao hemisfério norte parase reproduzirem; encontramos um C.c nuius em plu-magem completa de reprodução em 29 de março, no RioGrande do Sul. Esses trajes muito vistosos servem à per-feita camuflagem dessas aves na tundra boreal, no ve-rão local.

Entre os caracteres mais importantes para a diagnoseestão, além do comprimento total, a altura e cor das per-nas, comprimento, forma e ~or do bico (esta-última àsvezes pouco nítida por causa da lama) e a presença dedesenho branco nas asas ou na cauda (o queé reveladoem vôo). Em muitos casos a comparação entre espéciesassociadas contribui para facilitar a identificação; mui-to do que foi dito acerca dos Charadriidae aplica-se tam-bém aos maça ricos da família Scolopacidae. Pode cau-sar confusão o fato de indivíduos da mesma espécie di-

27 Existeaindao"maçarico-preto" ou tapicuru, dis chihi, parentedo curicaca,famíliaThreskiomithidae,ordemCiconiiformes.Quando se falano RioGrande do Sulde "rnaçaricos",subentende-semuitas vezes osis.

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312 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

ferirem consideravelmente quanto ao tamanho (p. ex.os Scolopacidae i s e e

outros pormenores poderão ser encontra-dos nos guias de campo de aves norte-americanas.

É comum que os maça ricos migrantes mostrem-semansos, quer seja por tratarem-se de imaturos inexperi-entes, quer por serem procedentes de remotas regiõespolares onde não se confrontam com o perigo de armas

de fogo.

P. ca [ ] á ea ~rocJução .

P. dominica /grupo fulva} {na de reprodução

eas ein a

Fig.98.Migraçõesdo batuiruçu, s Apopulação oriental, i s d. do c ,migra do NEdo Canadánon-stopatravés doAtlânticosetentrionalàcostada Venezuela,ao Brasilcentral eArgentina;voltanum rumo ocidental.O indivíduo figurado estánaplumagem reprodutiva que/no Brasil,se vê apenas nocomeçoe no fim da invernada dessas aves de arriba-ção (seg.Lincoln1950).

Já os setentrionais, fugitivos do inverno boreal, sãocomuns chegando ao nosso país em maior número a par-tir de fins de agosto; freqüentemente prosseguem via-gem até a Argentina, assim como as vinte espécies deScolopacidae; migram de dia e de noite ao contrário, porexemplo, das andorinhas. Não se reproduzem no Bra-sil, do mesmo modo que as três espécies meridionais.Podem, porém, ocupar no lugar de veraneio, como nes-

te país, pequenos territórios onde se alimentam (v.p. ex.do i. Regressam à América do Norte em

março/abril, na primavera setentrional, a fim denidificarem de maio em diante; alguns exemplares, ge-ralmente imaturos, permanecem nos trópicos durante oano todo. No auge da migração reúnem-se à beira-mar,"aves da praia", às centenas e mesmo aos milhares, emparticular no caso do ScolopacidaeC l is Formamfreqüentemente bandos mistos; gostam de voar em for-mações cerradas sendo impressionante como todo o con-junto manobra de maneira perfeitamente sincronizadapara entrar nas curvas sem jamais se chocarem (v. tam-bém andorinhas). O censo de bandos de maçaricos temque ser feito estimativamente: faz-se uma avaliação so-bre o número total; depois uma segunda contagem é efe-tuada calculando-se uma ou mais partes do bando eextrapolando-se o resultado parcial para o todo.

Desde 1974 o e e e o no etObs o ss., EUA, realizam um censo inter-

nacional de maçaricos árticos ("ISS") para reunir maisdados sobre a distribuição e as migrações dessas aves.O censo é executado na América do Sul em dois perío-dós, ou seja, entre 21 de agosto e 20 de novembro (che-gada dos migrantes), e entre 11 de março e 31 de maio(regresso). Em janeiro de 1986 foram executadossobrevôos do litoral maranhense/paraense, em helicóp-tero biturbinado da CVRD, para realizar censos de avescosteiras, como parte do censo internacional menciona-do (fig. 99). Além de levantamentos específicos, como p.ex. sobre is foram estabelecidos censos agru-pando os maçaricos e batuíras por tamanho: pequeno,médio e grande. No Maranhão se calculou os "peque-nos" em 40.000 indivíduos, a maioria provavelmenteC lid s pus . Somando todos os maça ricos e batuíraschegou-se até 60.000. Foram feitos cálculos de densida-de de indivíduos (também na praia de Cassino, Rio Gran-de do Sul) revelando valores de até 149 indivíduos de

nutus por quilômetro em abril de 1983; emmaio diminuindo para 31 indivíduos por quilômetro,antes de desaparecer totalmente.

As distâncias vencidas por estas aves estão entre asmaiores que se conhecem em aves migratórias; oScolopacidae , por exemplo, uma das espé-cies mais abundantes no Brasil, cuja pátria está situadanos hiperbóreos de além do Círculo Polar, tem de voarcerca de 20.000km para chegar ao Rio de Janeiro e mais5.000km adicionais para atingir a Terra do Fogo. Poucotempo depois percorrem a mesma distância para regres-sar ao Ártico; não têm pressa, gastam semanas viajan-do, estacionando para comer e descansar. Na volta .cos-tumam parar menos. UmC li is tus (Scolopacidae),anilhado na lagoa do Peixe, Rio Grande do Sul, foi iden-tificado pela bandeirola colorida e algumas penas pin-tadas artificialmente, após 13 dias na baía de Delaware,EUA, 7.600km distante. Para executar suas migrações àgrandes distâncias, tantas vezes de continente a conti-nente, as aves precisam acumular grandes reservas de

-

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CHARADRIIDAE 313

Fig. 99.Os principais limites norte (esquerda) e sul (direita) dos corredores de migração de aves limícolas nas Américassão mostrados esquematicamente, sobrepostos aos mapas da Rede Hemisférica de Reservas para AvesLimícolas,

o o (WHSRN). Estabelecida por um consórcio internacional de organizações públicas eprivadas, esta rede congrega atualmente mais de 90 unidades (áreas) divididas em duas categorias: reservas hernisféricas(círculos) que recebem contingentes superiores a250.000aves ou pelo menos30% da população da espécie em trânsitoatravés do corredor de migração; reservas regionais (ponto) que recebem contingentes superiores a20.000aves ou5% dapopulação migrante, tal qual definido por um grupo internacional de biologistas (seg. Myerset . 1987).

gordura (o combustível), indicadas claramente pelo pesoaumentado. Em 935 p. ex., apanhadoscom no litoral de Pernambuco (ilha de Itama-racá, Coroa do Avião), o ganho de peso para migraçãode retorno ao Ártico iniciou-se em meados de março.Enquanto o peso "normal" da espécie é de aproximada-mente 15 gramas, no final de março o peso atingiu 28gramas, chegando em agosto, tempo mais próximo doregresso" a 35,6 e até 44 gramas.

Espécies como (Scolopacidae) podem cobrir800km em um só dia, vencendo a maior parte durante anoite; foi vista de dia a 30 milhas ao largo do litoral deRecife (outubro) e a 100 milhas distante da costa (apro-ximadamente 100 Sul) voando rumo ao Sul, enfrentandoo alto-mar. Certas espécies, como , ge-ralmente não acompanham a costa atlântica, como fa-

zem por exemplo e(Scolopacidae), e sim voam diretamente da Colômbia eda Venezuela para o alto Amazonas e daí para o BrasilCentral, atingindopor fim oParagíiai e o interior da Ar-gentina (fig. 98); alcançam, em parte, o litoral brasileiroapenas no extremo sul do Brasil, o mesmo fazem osPhalaropodidae e certos Scolopacidae, por exemplo

, , e). Há representantes que optam por tra-

jetos diferentes para ida e volta, como cque, na ida, vai direto .da Nova Escócia (Canadá) àVenezuela; na volta acompanha os Andes e atravessa oGolfo do México. Assim, no Brasil, pode acontecer igual-mente de uma espécie aparecer numa região apenasdurante a sua vinda ou volta, dependendo do caso.Éimportante prestar atenção em indivíduos anilha dos.

. 1,..

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314' ORNITOLOGIA BRASILEIRA

46"

100o O"

km

Oceano AtlânticoN = 326.059

l'

PARA2'

MARANHAo

1-1000 1001-5000 .5001-10000 10001-15000e 15001-20000

.20001-30000 30001-40000 -50000 50001-60000

44'

Fig. 100.Todos os maçaricos e batuíras observados durante censos aéreos em janeiro de 1986na costa do Pará e Mara-Mão (seg.Morríson et i. 1986).

o de c e es do o

A marcação de Charadriidae e Scolopacidae com ani-lhas coloridas foi organizada pelo i node ç icos (PASP), por iniciativa deJ.P. Myers da Aca-demia de Ciências Naturais da Philadelphia, e financia-do pelo WWF/US em 1984. O sistema busca padroni-zar, a nível hemisférico. a marcação das aves, associan-do às tradicionais anilhas coloridas e de metal umabandeirola, a ser colocada notarso-metatarsodas aves.A bandeirola é feita do mesmo material das anilhas co-loridas, ficando uma sobra como um rabo, visível delonge pelo observador de campo. Tem que ser aindamelhor estudado se a marcação colorida não tem efeitosperturbadores para as aves, na sua vida social. Foi veri-ficado que fêmeas da gaivota norte-americana usdel ensis MO conseguiram se acasalar (Kinkel 1989).Os códigos para os vários países foram divulgados noperiódico e g n° 1: 16-21, posteriormen-te aperfeiçoado em e g ó o n" 3 como se-gue:

CanadáEstados UnidosAmérica Central

MéxicoHondurasCosta RicaGuatemalaNicarágua

BrancoVerde escuro

Vermelho sobre amareloVermelho sobre cinzaVermelho sobre negroVermelho sobre laranjaVermelho sobre verdeescuroVermelho sobre verdeclaroVermelho sobre azulVermelho sobre branco

Belize

EI SalvadorPanamá'

Ilhas do CaribeHaitiPorto Rico

Amarelo sobre verrnelhoAmarelo sobre verdeescuroAmarelo sobre brancoNegroVerde claro

República DominicanaVenezuelaSuriname

Norte da América do SulColômbiaEquador

Verde claro sobre amareloVerde claro sobre vermelho

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CHARADRlIDAE 315

Guiana Verde claro sobre verdeescuroVerde claro sobre azulAmareloAzul

Guiana FrancesaPeruBrasil

Centro da América do SulBolíviaParaguaiUruguaiArgentinaChile

Laranja sobre vermelhoLaranja sobre amareloLaranha sobre azulLaranhaVermelho

-de

de

No interior de Santa Catarina foi achada uma planti-nha (Retzius) Ostenfeld,Caryophyllaceae por R. Reitz em janeiro de 1946em cam-po limpo nativo úmido do morro da Igreja, cerca de1800m. Ventilamos a possibilidade de que a sementedessa planta tenha sido transportada por uma das oitoespécies de maçaricos ou batuíras que reproduzem nasmesmas regiões da planta. As sementesminúsculas(O,7mm) podem ser transportadas .no aparelho digesti-vo ou outro qualquer mecanismo de aderência, comonos pés das aves. As espécies mais prováveis como res- .ponsáveis por essa transferência parecem ser

e .

declinio,

Alguns representantes, como elo (Scolopacidae) têm ou tinham inte-

resse cinegético, tendo sido vendidos no mercado. Tam-bém este recurso não é inesgotável, como evidencia cla-ramente o caso domaçarico-esquimó,(Scolopacidae). No Ceará maçaricos e trinta-réissão apanhados na praia com anzol iscado(1. C. Marigo).

Os Charadriiformes servem como biornonitores, acu-mulando-se nos manguezais e áreas estuarinas ainda nãopoluídas de onde extraem seus alimentos, como peque-nos crustáceos e poliquetas.

QUERO-QUERO, chilensis Pr. 13,'2

37cm.É uma das aves mais estimadas nas fazendas.É inconfundível pelo topete nucal, por uma grande áreaalar (vista na asa aberta) e pela base da cauda branca;provido, no encontro, de um esporão que permaneceoculto sob a plumagem tal como na espécie descrita aseguir e na jaçanã; os esporões são vermelhos sendo exi-bidos a rivais ouinimigos com um alçar de asa ou du-rante o vôo, quando se destacam bastante. "tero-tere", emitida dia e noite. Adota às vezes tática de pes-car semelhante à de certas garças, espantando larvas deinsetos e peixinhos ocultos na lama mexendo rapida-

;.

mente um pé. Vive em banhados e pastagens onde tam-bém nidifica, no solo; é visto em estradas, freqüentemen-te longe d'água; em certos lugares é bem comum, porexemplo no Rio Grande do Sul onde seus contingentessofrem o acréscimo, durante o inverno, de imigrantes.Ocorre da América Central até a Terra do Fogo e emtodo o Brasil."Téu-téu". "Espanta-boiada" (Minas Ge-rais), "Chiqueira. V. téu-téu-da-savana", , e oseguinte.

BATUÍRA-DE-ESPORÃO,

Pr. 13,3 .

22cm. Ave inconfundível, esbelta, brilhantemente co-lorida de preto, branco e pardo, sem topete; esporão dasasas, pálpebras e pernas vermelhas, bico preto.piobissilábico, "tuit-tuit" (chamada); trinado fino "tütütü ..."(canto). Habita as praias arenosas dos grandes rios, prin-cipalmente da Amazônia, nidifica ao lado dastrinta-réis,

também na orla marítima e margens lodosasdos lagos. Ocorre da América do Sul tropical para o sulaté a Bolívia, Paraguai e Argentina (Misiones) e Brasil(Paraná e Mato Grosso do Sul). "Mexeriqueira?",

BATUIRUÇU-DE-AXILA-PRETA, .VN

30cm. Visitante de distribuição circumpolar seme-lhante à da espécie mencionada a seguir, dela diferindopelas axilares negras que se destacam em vôo.trissilábico e estridente"tli-ü-i". Vive nas praias e emtoda a costa atlântica do Brasil, inclusive no Rio de Ja-neiro (outubro, junho), no ex-Estado da Guanabara(agosto), São Paulo e Rio Grande do Sul; ocorre até aArgentina. Não penetra no interior do continente. Ocor-re também no Velho Mundo. "Batuira-cinzenta?".

BATUIRUÇU, VN Pr. 13, 1

26cm. Maçarico grande, procedente do Ártico. Osadultos chegam-nos ainda com restos da plumagem re-produtiva (lado inferior negro, setembro) a qual se asse-melha à da espécie anterior. baixinho "tlüit", etc.Vive nos lugares secos com grama curta, por exemplo,campos de aviação e de futebol; desce em quantidadenos desertos de terra nua rasgados pela "Transarnazô-nica" no seio da hiléia (setembro/ outubro). Abundanteno Brasil central até o fim de fevereiro. Suas migraçõesestendem-se até a Argentina e Chile; quase não apareceno litoral setentrional e oriental de nosso país (Bahia,novembro; Espírito Santo, outubro) onde, porém, nosúltimos anos foi visto quase regularmente (Rio de Janei-ro, Pacheco 1988). No sul (Rio Grande do Sul) não é raronas praias marítimas, associado às vezes a

e Ocorre também noVelhoMundo. "Maçarico-do-campo", Baruíra-do-campo".

'I'-f

ll

, t,t,

r

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316 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

BATUÍRA-DE-BANDO,

VN Pr.13, 5

18cm. Visitante norte-americano comum, com um ní-tido colar branco nucal; bico bem curto, de base amarela;pernas amarelas, cores pouco vistosas nos imaturos. Ocor-re nas praias lodosas ou arenosas do litoral; toda a costabrasileira até aArgentina. Dois indivíduos anilhados, cap-turados no estuário do rio Tocantins (Pará; janeiro e abril),haviam sido marcados respectivamente em Ontario e NewJersey. Pode. ser considerado coespecífico a

do Velho Mundo, o qual alcança ocasionalmentea América como migrante (Trinidad, costa da Venezuela)."Pinga-pinga" (Rio Grande do Sul).É nitidamente maisrobusto que .

BATUÍRA-PE-COLElRA-DUPLA,

19cm. Com um duplo colar negro ou enegrecido atra-vessando o peito branco. Vive nas praias; nidifica nosul da América do Sul; desloca-se em pequeno númeroaté Rio Grande do Sul. Foi recentemente encontrado re-produzindo na Lagoa do Peixe (Lara-Resende&Leeuwenberg 1989). [Willis& Oniki (1993) relataram aocorrência dessa batuíra no litoral sul de São Paulo emjulho de 1983.] "Maçarico-da-patagônia".

BATUÍRA-DE-COLEIRA,

Pr. 13,415cm. Graciosa espécie brasileira com as partes su-

periores cambiantes para um ferrugíneo (o que falta emC. s sem branco na nuca; coleira negra fre-qüentemente estreitada na parte mediana; bico preto,pernas bem altas e rósea-claras. "tilip", "türü", etc.Andam aos casais durante todo o ano. Demonstra seunervosismo por uma genuflexão. Habita lugares comareia ou lama, às vezes longe d'água; onde coloca tam-bém seus ovos, no aberto! sem fazer o mínimo esforçopara preparar um ninho; mais freqüente no interior doque nas cercanias de água salgada; gosta de dunas e zo-nas de vegetação pioneira. Ocorre do México à Bolívia,Argentina e Chile, todo o Brasil. "Batuíra-da-costa",

(

Alves, V.S.,A. B.A. Soares, A. B. B. Ribeiro, M.A. Efe& G. S. Couto.1992. II . e . i lissqu Abrolhos)"

Andrade, M. A., R. Otoch, D: M. Hassett& Scherer-Neto, P. 1988.

17. (aves migratórias nas Salinas deMacau,RN)

Antas, P. T. Z., Azevedo-Junior, S. M.& r. L. S. Nascimento. 1990.

su os s 73. (dinâmica de muda e pesos naCoroa do Avião, PE)*

__ BATUlRA-BICUDA,

[16,5-19cm] Parecido com C. porém como bico mais grosso e negro. Ocorre na costa brasileira doPará até a Bahia. [Um grupo de ornitólogos estrangei-ros observou essa batuíra na Ilha Comprida, São Pauloem 16 de dezembro de 1993 (D. Dalcol). Indicações desua reprodução no litoral do Maranhão (Rodrigues&

Lopes 1992) e Rio Grande do NorteO. F. Pacheco), res-pectivamente para os meses de maio e abril, excluemesta espécie da condição de exclusiva visitante do Nor-te.]

BATUÍRA-DE-PEITO-TIJOLO, sVS

19cm. Visitante meridional de plumagem invernal,imatura parda com faixa superciliar e abdômen bran-cos; em plumagem nupcial tem peito avermelhado pos-teriormente orlado de negro. Vive nas praias lacustresou litorâneas. Ocorre no extremo sul do continente, che-ga em migração ao Rio Grande do Sul, onde. se tornarelativamente comum (abril, maio, julho), e, excepcio-nalmente, até São Paulo (maio) [e Rio de Janeiro (junho,Nacinovic 1993)].

BATUÍRA-DE-PAPO-FERRUGÍNEO,

VS

27cm. Visitante meridional raro e distinguível de to-dos os outros. Quanto ao aspecto assemelha-se a um pe-

queno quero-quero tendo o porte de um u sdo porém com o bico mais longo e fino, pernasaltas e dedos curtos; costas cinzentas ou pardacentas,rajadas de negro e amarelo, garganta canela-viva, barri-ga amarelo-pálida com uma área negra na parte media-na; nas asas abertas destacam-se 'as raques e as basesbrancas das primárias. "drüde-lüdel-lüdel": duranteas migrações é geralmente silencioso. Aparece nos cam-pos eplantações de arroz. Ocorre no sul do continente,migrando chega até o Equador e extremo sul do Brasil,no Rio Grande do Sul entre maio e julho, às vezes embandos grandes (Belton 1984). "Batuíra-ferrugem'".

Belton, W. 1973. 90:94-99. (Eud ujicollis, primeiro registropara o Brasil)

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Page 68: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-02

CHARADRIIDAE 317

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:"

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318. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

MAÇARICOS/.N~RCEJAS: FAMÍLIA SCOLOPACIDAE (24)

São aves aquáticas cosmopolitas, aparentadas aosCharadriidae; de vasta documentação fóssil, desde oEoceno Superior da França (40 milhões de anos), comfósseis também no Brasil (Pleistoceno - 20 mil anos), em

Minas Gerais.Registradas apenas duas espécies residentes em nos-

so país (o narcejão e a narceja), ambas paludícolas e apre-ciadas como caça e famosas pelo ruído que produzem("música instrumental") durante seus vôos nupciais cre-pusculares.

do bico e do de e.

Nota-se grande variação do feitio do bico segundo oalimento específico e a estratégia empregada para obtê-10. Pode-se reconhecer dois tipos principais (incluímostambém representantes das outras famílias desta ordem):

1. Ranfoteca dura, ponta do bico sem diferenciações.especiais: gêneros

e A presa é localiza-da visual ou acusticamente, sendo apanhada à flord'águas rasas ou da lama (p. ex. na zona intertidal).

e capturam animais virando pedras,utilizando-se do bico como alavanca e "compassando"(v. Icterinae); é, às vezes, necrófaga e escava aareia. São capazes de apanhar presas velozes,

por exemplo, caça às vezes cupins emrevoad as, captura ocasionalmente marirn-bondos (Nordeste), se aproveita da terra recém-revolvi-da por arados para capturar animalejos, oportunidadena qual pode competir com o caracaráÉ comum que maçaricos como entremna água até o ventre, chegando mesmo a nadar um pou-co, apesar de não possuírem nadadeiras.

2. Ranfoteca elástica, ponta do bico sensível: gênerose localizam as pre-

sas predominantemente pelo tato, as quais consistem deanimalejos de locomoção lenta e, em parte, de hábitossubterrâneos. captura larvas de besou-ros aquáticos e matéria vegetal (leste do Pará). A narcejaenfia o bico (que se assemelha ao do Kiwi daNova Zelândia) até a base na vasa, abrindo-o apenas naponta para apanhar uma minhoca; suas narinas situam-se renteà plumagem da fronte. Por esta razão as narcejas,aveslimícolas, exigem solos fofos, profundamenteúmi-dos a fim de tirar toda a vantagem de seu bico peculiar;suas atividades traem-se por furos que permanecem nasuperfície da lama, caso esta não esteja muito mole. Taladaptação não impede que a narceja cace, oportunamen-te, insetos pousados sobre folhas ou no solo; não rejeitade todo substâncias vegetais como faz também o quero-quero; que esporadicamente ingere pequenas sementes

e bagas talvez em função da escassez de alimento ani-mal. Aproveitam-se dos bancos de areia ou lama recémdescobertos pela maré baixa. Coletam insetos atraídosànoite por iluminação forte, na beira d'água.

Os maçaricos podem transferir plantas de um conti-nente ao outro por intermédio de sementes vivas nassuas dejeções, como, seguramente, fazem muitas outrasaves de arribação.

A galinhola apanha rãs enquan-to que o maçaricão cava a vasa li-torânea à cata de pequenos caranguejos, para tal mer-gulhando o longo bico até a metade.

A altura do tarso-metatarso pode ser, em parte, umaadaptação ecológica, no sentido de que um tarso maisalto denunciaria uma permanência mais freqüente emvegetação mais alta ej ou em água mais profunda.

Regurgitam pelotas, que contêm a qui tina do exoes-queleto dos artrópodes ingeridos, enquanto, por exem-plo, descansam nas praias.

-" 1

Espécies

Os vinte e dois Scolopacidae visitantes vêm-nos to-dos das regiões hiperbóreas; quinze são restritos ao NovoMundo, dois e C. estendemsua pátria à Sibéria, enquanto os cinco restantes

C. etêm distribuição circumpolar ou

holártica. Em três casos, dentre Scolopacidae norte-ame-ricanos que para aqui arribam, estão representantes ge-ográficos de formas do Velho Mundo, como aliás logodenuncia a voz, que é praticamente idêntica; v. sob

T. e Todoseles chegam mudando para a plumagem deeclipse (plu-magem do período não reprodutivo) assemelhando-seentão aos imaturos que estão em número superior (v.Charadriidae).

Tem ocorrido do maçaricão norte-americano,hudsonicus encontrar-se, em terras

brasileiras (Fernando de Noronha), com o maçaricão doVelho Mundo, p.

O maçaricão-esquimó, que aindano século passado era visitante freqüente do pampa ar-gentino, tendo ocorrido também no Brasil, está atual-mente quase extinto.

Incluímos algumas observações sobre mígraçõesetc..dos Scolopacidae

ena parte introd utória da famíliaCharadriidae:todas asespécies são tratadas por extenso nos livros sobre as avesda América do Norte.

Geralmente não há competição entre os migrantes eas aves locais residentes; mas uma tal é possível como

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SCOLOPACIDAE 319

se notou no Peru entre en inte s e o furnarídeoCinclodes nig (Atkins 1980).

-

VIRA-PEDRAS, e int es VN Fig. 101

22cm. Maçarico ártico robusto de bico curto e forte,pernas relativamente baixas e alaranjadas. Apresentauma faixa branca na asa, outra atravessando o baixodorso e uma terceira através da base da cauda, forman-do um desenho marcante em vôo; partes inferiores bran-cas, imaturo de peito marrom. "kiã, kikiki". Comeàs vezes animais mortos (restos de peixes etc.). Não éraro na orla marítima rochosa, beliscando as pedras co-bertas de algas à cata de moluscos e pequenos crustáce-os; sobre métodos de caça v. Introdução. Ocorre ocasio-nalmente no interior: Petrópolis, Nova Friburgo, Rio deJaneiro, também Mato Grosso; todo o litoral brasileiro,até a Argentina. Sobre migrações v. Introdução. "Aga-chada".

Fig.101. Vira-pedras, inte es,em plumagemimatura.

MAÇARICO-SOLITÁRlO, VN

18cm. Como visitante solitário, ocorre em todas asregiões do Brasil; vive à beira d'água, inclusive entreárvores e escavações alagadas, biótopos dificilmente pro-curados por outros maçaricos. Ladosuperior da asa ne-gro uniforme, ao contrário de a qual oscila a par-te posterior do corpo ao passo que. so/it balança ocorpo anterior para cima. Substitui geograficamenteoch opus do Velho Mundo, à qual se assemelha muitosob qualquer ponto de vista, inclusive pela límpidoassobio "dluid-dluid" e pelas exigências ecológicas.

MAÇARICO-DE-PERNA - AMÃRELA, ipesVN Pr.12,2

26cm.É um dos pernaltas visitantes mais abundan-tes nas regiões mais úmidas tanto do interior como lito-râneas. Uropígio e cauda esbranquiçados, asa sem bran-co, pernas amarelo-vivo. Habita as praias lamacentas e

abertas de lagos e rios. Ocorre em todo o Brasil (inclusi-ve no interior), a.té a Terra do Fogo. Um exemplar apa-nhado na costa de São Paulo (novembro) havia sidoanilhado três meses antes em Massachusetts, EUA. V.aseguinte; com a qual está freqüentemente associada."Batuíra", "Maçarico-da-praia".

MAÇARICO-GRANDE-DE-PERNA-AMARELA, inge VN

35cm. Muito parecido ao anterior, sendo porém niti-damente maior e de bico bem comprido, levemente ten-dente a encurvar-se para cima (ao contrário daquele doanterior, que é reto). forte, do timbre de um pica-pau-do-campo, "tjü-tjü-tjü (tjü)". Habita praias e cam-pos alagados; ocorre provavelmente em todo o Brasil,também no Brasil central e na Amazônia, até a Terra doFogo. Menos numeroso do que o anterior. "Chirolito"(Rio Grande do Sul). V. É o substituto geográfi-co de do Velho Mundo, ao qual se asse-melha, inclusive na voz. "Maçarico-tititiu"".

MAÇARICO-piNTADO, itis VNPr. 12,5

19cm. De porte delgado, quase único pelo tique debalançaro corpo enquanto anda (v.in soli e pelasbatidas das asas de curta amplitude, lembrando um pou-co O lado superior das asas com uma linhabranca (v. n so/it i sendo o lado inferior negrocom uma área branca mediana; nódoas escuras(anegradas) no peito, característica notável ausente du-rante o período de descanso reprodutivo. "pit","dlüid" (canto, lembra . . Vive nas margenspedregosas e lodosas dos rios, quase sempre entre a ve-getação, freqüentemente nos manguezais onde empo- .leira em raízes e galhos para pernoitar. Ocorre na maiorparte do Brasil, na Amazônia é periodicamente muitoativo (setembro, em plumagem reprodutiva, cantando)como que nidificando. "Rapazinho" (RioGrande do Sul),"Maçariquinho". Substi tu to geográfico de ish po/eucos do Velho Mundo, pode ser considerada ape-nas uma raça geográfica deste último. O gênerotitispode ser incluído em in .

MAÇARICO-DE-ASA-BRANCA, C tse tus VN

38cm. Vi~itante pouco comum, grande, de aspectomuito distinto quando em vôo. Partes superiores cinza-claras, partes inferiores brancas, destaca-se uma largafaixa da mesma cor sobre a asa aberta, cuja borda poste-rior énegra; uropígio branco; pernas escuras (azuladas,ao contrário de e noleuc ). Habita o litoral. Ocorredo Pará ao Rio Grande do Sul (dezembro) (Belton 1973).Reproduz na costa da Venezuela (maio). "Willet" (EUA).

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320 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

MAÇARICO-OE-PAPO-VERMELHO,

VN

26cm. Visitante procedente do Ártico que freqüentanosso litoral (fig. 102). Ocorre do Pará a Bahia, Rio deJaneiro (novembro), São Paulo ao Rio Grande do Sul.Aparece nas nossas costas tanto como migrante quantocomo ave residente de inverno. Sua principal área deinvernada está na Terra do Fogo. Sobre as distâncias e arapidez do seu retorno ao Ártico v. sob Charadriidae,migrações em larga escala. "Ruiva?".

MAÇARIQUINHO, VN

18,5cm. Espécie ártica minúscula que, ao contráriode C. tem o bico mais fino, pernas verde-amare-ladas, manto com mais pardo e peito estriado. pro-longado "trruit". Visitante abundante no litoral seten-trional do Brasil, sendo comum tambémà beira d'águadoce e nos banhados salobres. Alimentação, v. introdu-ção. Ocorre em Pernambuco de setembro a março, me-ridionalmente até a Bahia e excepcionalmente, no RioGrande do Sul. [Assinalado também pontualmente paraMinas Gerais e Rio de Janeiro (Pacheco 1988).]

MAÇARICO-OE-BICO-FINO, VN

17,8cm. Registrado pela primeira vez no Brasil emTorres, Rio Grande do Sul (setembro de 1975, Belton1978); semelhante a C. porém com as pernasnegras e não amarelas. Visitante comum no Chile e naregião andina. V.C. e C.

Fig.102.Amigração de , através dacostados continentes (seg.Rappoleet 1983).

Fig.103.Amigração de penetra nocontinente (seg.Rappoleel 1983) ..

MAÇARICO-OE-SOBRE-BRANCO,

VN

18cm. De uropígio branco. Voz:"tzri, tzri", fino Comoum morcego. Visitante em todas as regiões do Brasil (fig.103). Vive em lodaçais, pastos, alagados e praias, fre-qüentemente distante da água.

MAÇARlCO-OE-COLETE, VN

22cm. Visitante tanto do interior como do litoral, atéo Rio Grande do Sul. Pastos, alagados. Apresenta notá-vel variação de tamanho (v.

MAÇARlCO-RASTEIRINHO, VNPr. 13,7

15cin .Espécie bem pequena, porém encorpada, debico grosso, negro como as pernas, e de ponta alargadaà semelhança de vários congêneres (exceto C.dil).

curto e rouco"prrüt". Anda regularmente em com-panhia de Procedente do Árti-co, reproduzindo no Canadá e Alasca em junho e julho.Examinando 458 indivíduos capturados e anilhados noPará (14), Maranhão (74), Ceará (47), Pemambuco (270)e Rio Grande do Sul (53) foi verificado muda (eclipse epenas de vôo) da maioria na sua chegada em setembro/outubro. Já em janeiro os adultos começaram a readquirira plumagem reprodutiva. Dois exemplares anilhadosnos EUA e Canadá foram recapturados no estuário do

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SCOLOPACIDAE 321

Amazonas (janeiro e abril). Atinge a Argentina e o Chi-le. "Maçarico-miúdo'". V. e C. .

MAÇARICO-BRANCO, l VNPr. 12,6

20cm. Geralmente o mais encontradiço dos maçari-cos árticos que freqüentam nossas praias. Parece-se com

. ao qual freqüentemente se associa, sen-do contudo nitidamente maior e tendo uma cor brancamuito pura, com larga faixa da mesma cor na asa; man-to cinza-pálido. "plit". Acompanha o vaivém dasondas sobre a praia, movimentando as perninhas comextraordinária velocidade. Ocorre em todo o litoral bra-sileiro; pequenos bandos freqüentam até mesmo as prai-as dentro de cidades como o Rio de Janeiro (Copacabana;à noite); perto de Recife (Pernambuco) no fim de agostoaté meados de maio; ainda na última semana de abrilforam registrados no litoral do Rio Grande do Sul exem-plares em plumagem reprodutiva; a reprodução inicia-se em junho acima do Círculo Polar Ártico; já nos mea-dos de agosto os adultos começam a surgir de novo nascostas brasileiras. Portanto essas aves passam um tem-po muito limitado na sua pátria no Ártico, depois vêmao hemisfério sul, atravessando regiões subtrópicas etrópicas (v. Concentram-se em certoslugares (p. ex. no Rio Grande do Sul, novembro) às cen-tenas. Até a Terra do Fogo.

MAÇARICO-PERNlLONGO, lVN

20cm. Visitante pouco comum. Vive nas praias e nosrios. Ocorre no Brasil setentrional, central (Araguaia,Aragarças; Goiás, outubro) e meridional (Rio Grandedo Sul); é parente próximo de is ferruginea do Ve-lho Mundo.

[COMBATENTE], l VN

23-29cm (macho). Maçarico de vasta distribuição noVelho Mundo, comum na Europa. Aparece casualmentenas Américas. Rio Grande do Sul:TIHIri, 30. outubro' de1985,1. A. Parker. Famoso pela variação da plumagemnupcial dos machos e suas brigas entre rivais.

MAÇAR)CO-AC~ELAOO, sub VN

21cm. De cabeça pequena, bico curto, pescoço fino,pernas amarelas; lado inferior acanelado, contrastandoem vôo com o branco puro do lado inferior das asas.Lembra uma diminuta, associa-se a udo Vive em campo seco e aberto, revestido de ca-pim curto. Ocorre no Amazonas (outubro), Maranhão(Roth & Scott 1987), Rondônia, São Paulo [Paraná

(Scherer-Neto & Straube 1995)] e Rio Grande do Sul (no-vembro, janeiro).

MAÇARICO-DO-CAMPO, Bartramia longi VN

80cm. Espécie de aspecto singular, cabeça pequena ecolumbídea, bico e pescoço finos, cauda longa, tudo istoem oposição ao observável em cujacompanhia às vezes aparece. Plumagem pardo-amare-lada, lado inferior das asas (que mostra freqüentemen-te, levantando-as) com faixas transversais pretas, per-nas amarelas. Campos secos ou inundados, queimadas,currais de gado; no sul pode aparecer ao lado da ema;pousa habitualmente sobre estacas ou mesmo em árvo-res. Roraima (outubro), [Amapá (janeiro, J. F. Pacheco)],Pará (fevereiro), Maranhão (Roth & Scott 1987) Bahia,Minas Gerais ao Rio Grande do Sul, Mato Grosso (se-tembro) e Goiás (setembro). Um exemplar anilha do noCanadá foi recapturado no interior do Ceará. "Batuíra-do-campo".

MAçARIcÃo, VN Pr. 13, 6

42cm. Facilmente destacável pelo tamanho (o machochega aos 350g) e pelo bico longo e recurvado, um tantoparecido com o do guará, ao qual às vezes está associa-do. Asa e uropígio sem desenho branco algum. as-sobio melodioso "ü-ü-ü", Visitante do Ártico. Mangue-zais na zona intertidal, relativamente abundante no nortedo país: Amapá (janeiro-fevereiro), Maranhão (julho),Piauí (setembro), Pernambuco (fim de setembro em di-ante), Rio Grande do Sul (novembro-abril); a costa cen-tral norte do país é a mais importante área de invernadada espécie: está tornando-se um tanto escasso no sul(Cabo Frio; Rio de Janeiro, novembro); até a Terra doFogo, que seguramente alcança seguindo a costa pacífi-ca, onde é numeroso (Peru, Chile). Na ilha de Femandode Noronha foram encontrados representantes norte-ame-ricanos, enius s hudsonicus, associados a re-presentantes europeus, nius p. opus, este de uro-pígio branco (julho 1973, Olson 1981). "Maçarico-real","Maria rita" (Maranhão), "Maçarico-galego*".

MAçARICO-ESQUIMÓ, u VN Am

33cm. Espécie canadense que no passado era visi-tante comum no interior de nosso país; de algum tempopara cá escasseou tanto que pode ser considerado quaseextinto. Quanto ao porte, não excede o de um i lis

tem o bico mais fino, menos curvo e menor doque o de . ph p vexilo interno das rêmiges unifor-memente escuro sem ser recortado por faixas claras.Registrado em meados do século passado em pequenosbandos no pampa argentino, ao lado dee i longi , de setembro a fevereiro; documen-tado também no Brasil (no Amazonas, Mato Grosso e

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322' ORNITOLOGIA BRASILEIRA

--------------~~~..m.~

São Paulo de setembro a novembro). Natterer coletou -entre 1819 e 1830,9 exemplares, a maioria em Ipanema,São Paulo. Na coleção do Museu Nacional de Ja-neiro) existe um exemplar bem montado mas sem indi:cação de procedência, talvez seja do Brasil. Entre os últi-mos registros da espécie estão um de Louisiana e outrode Massachusetts, ambos durante a migração do ano de1970; em 1976 em[ames BayOntário, Canadá. Em 1981foram contados no Texas 23 indivíduos, dando nova es-perança para a sobrevivência da espécie (Gollopet1981). No norte da Rússia substituído por N.que migra para Austrália.

MAÇARICÃO-DE-BICO-VlRADO,

VN

38cm. Visitante pouco comum; lembra um poucouma ing noleuc , sendo ainda" maior e de bico ni-tidamente recurvado para cima; uropígio branco con-trastando com a cauda preta. Vive nos lagos e estuáriosna água rasa de salinidade alta (v. flamingo). Ocorre p.ex.: no Rio de Janeiro (novembro), São Paulo, Paraná(agosto), Santa Catarina (outubro), Grande do Sul(outubro), Mato Grosso e Rondônia. Sua invernada prin-cipal está situada na Patagônia. [Indivíduos isolados fo-ram observados recentemente na Amazônia central(Stotz et .

FUSELo*, VN

[37-41cm] Espécie procedente da tundra do Velho edo Novo Mundo (Alaska). Um exemplar observado emFernando de Noronha em 16 de dezembro de 1988 e doisexemplares no Atol das Rocas em fevereiro/março de1990 (Antas et . 1992).

NARCEJA-DE-COSTAS-BRANCAS,

gnseus VN

29cm. Visitante pouco comum: Geralmente no líto- -ral: registrado na costa do Pará, Pernambuco, Bahia,de Janeiro e Rio Grande do Sul (Belton 1984). "Maçarico-de-costa branca?". [Dois registros do interior da Ama-zônia (que se acredita pertencer a essa espécie) sãoLetícia, Colômbia, 17 de novembro de 1979 (Hilty&Brown 1986) e Mamirauá, Amazonas, 16 de setembro de1993 (J. F. Pacheco).]

NARCEJA, BATUÍRA, gu Fig.l04

30cm, 115-123g. Um dos dois representantes brasi-leiros da família. De bico muito longo e reto, tarsos rela-tivamente curtos, dedos longos. Vive escondido em bre-jos e banhados, nidificando no capim, só levanta vôo seacossado muito de perto, v. a espécie adiante descrita.

Fig. 104.Narceja,G Il go gu i .

est s Voando emite um "atch" poucosonoro; voa velozmente, de bico meio abaixado, zigue-zagueando, sobe freqüentemente à boa altura. Durantea reprodução chama a atenção por seus impetuosos vôospicados, praticados à tardinha e em noites de luar; fazentão ouvir forte ruído que recorda o balir de uma ca-bra "0-0-0 ...", estrofe ascendente, de um a dois segun-dos. A origem deste rumor está nas rijas e encurvadasretrizes externas (manobradas por forte musculatura)que permanecem esticadas lateralmente. A ave, descen-do em vôo rapidíssimo, se joga ao lado e deixa-se cair10 a 15 metros, enquanto a corrente de ar, canalizada, éconduzida pelas asas à cauda que funciona como uminstrumento musical vibrando; curtos movimentos ala-res (11 por segundo) tomam possível até modulaçõesdo som. Tal "balido" não é, portanto, uma voz; podeproduzi-Ia mesmo durante descidas curtas. Um balidodura dois segundos e pode ser produzido cada 6 a 8 se-gundos. Pousado no solo, o macho grita, no auge da re-produção, um "ke-ke-ke ..." ou bissilábico "pi-kjér, pi-kjér ...". Fora do período reprodutivo é migratório, apa-recendo em lodaçais abertos ao lado de espécies visi-tantes, inclusive à margem de' águas salobras; no Sul seuscontingentes aumentam acrescidos de imigrantes vin-dos dos países adjacentes. Nidifica em toda a Américado Sul. "Bico-rasteiro", "Corta-vento", "Narceja-co-mum*". V a narceja-de-bico-torto, e a es-pécie seguinte.

---

NARCEJÃO, GALINHOLA, G lin undul t

47cm. Seu bico, muito grosso na base, pode excederos 13cm de comprimento; peso de 420g a 500 g, sendo amaior narceja do mundo; réplica gigantesca da anterior,pesa de três a quatro vezes mais, sendo apenas supera-da, dentro dos Charadriiformes nacionais, pelotéu-téu-

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SCOLOPACIDAE 323

da-savana. De índole preguiçosa, é difícil fazê-Ia levan-tar vôo; agacha-se ou foge caminhando devagar a lon-ga~ passadas;é ainda mais noturna que a espécie anteri-or. s ções sono De madrugada (menospronunciadamente no crepúsculo) e à noite voa alto aci-ma de seu território deixando ouvir sua voz originalcomposta de dois a cinco gritos sonoros como "hó-go,go" ou "gága, ga" de timbre humano, sendo "traduzi-

11 /I /I /I Ido" pelos matutos como agua-so, o-rapaz ou ro a- .pau". A seqüência de tais gritos descai tornando-se su-cessivamente mais suave; enquanto que os primeiros sãotrissilábicos, o último (que é fraco) tem apenas uma sí-laba. Fora disso emite forte zunido "sch", de aproxima-damente quatro segundos de duração, que pode com-parar-se ao barulho de um caminhão encalhado ou aozumbir de um grande enxame de abelhas, por conse-guinte um ruído completamente diverso do "balidocapríno" da espécie anterior. Supomos que este baru-lho, o qual pode ser um pouco modulado (provavelmen-te por movimentos das asas) e costuma preceder a voca-lização, seja produzido em um vôo picado; é muito difí-cil observar esta ave em atividade durante à noite; àsvezes ouvimos o zumbido e a voz concomitantemente.Em outras n go, as retrizes externas são as respon-sáveis por tal "música instrumental", as quais na C.un não são nem estreitas nem rígidas; a cauda, nestaespécie, é muito curta, escondida entre as coberteiras,mas tem um número grande de retrizes (14).

Executa seus vôos musicais durante quase o ano in-teiro, por exemplo no Rio de Janeiro, conforme nossosregistros, tais ocorrem em todos os meses exceto julho eagosto; outros registros de vocalização são: Bahia, Goiás,Distrito Federal (dezembro, janeiro); São Paulo (de no-vembro a janeiro). Vocaliza mais em noites quentes echuvosas. Vive em varjões, tremedais.pouco praticáveis,também em pequenos brejos com rica vegetação. Nidificaem setembro no capim, tem dois a quatro ovos de corbruno-clara, com manchas escuras. O pinto é preto,finamente manchado de branco - totalmente diversodo pinto de l g que possui um padrãocastanho arruivado, com desenho negro e branco. Ocor-re tanto nas baixadas ex-Estado da Guanabara e LagoaFeia, Rio de Janeiro como em regiões serranas (Rio deJaneiro, Minas Gerais), existe em reduzido número emmuitos.lugares. contudo sua presença só é percebida porquem lhe conhece a voz, pois só voa de dia se efetiva-mente pisarem-lhe em cima, hábito muito protetor; tan-

l i colop ej i G l)

Alves, V.S.,A. B.A. Soares, A. B. B.Ribeiro, M. A. Efe& G. S. Couto.1992. u II C . nde i iusph eopus,Abrolhos)"

Antas. P.T. Z.& L L. S. Nascimento. 1990. I E , ec 6-12. l is pusil , anilhamento)*

,

o 15mm~

Fig. 105. Narcejão, undul cauda expandi-da; as coberteiras são removidas (seg. H. Seebohm,1886) .:

Fig. 106. Narcejão, ll undul i gi t filhoterecém-nascido; distribuição aproximada no Brasil (seg.Teixeira et 1983).

to mais que quando voa dificilmente escapa do tiro cer-teiro que lhe envia o narcejeiro treinado, ao contrário doque ocorre com a narceja comum, bem mais difícil deabater; freqüentemente sintópica comC go l/e às vezes, p. ex. no Rio de Janeiro, também com a narceja-de-bico-torto, t se s (Rostratulidae).Vive também em locais mais secos onde não existemoutras narcejas. Ocorre do norte da América do Sul aoParaguai e Uruguai; no Brasil oriental e central a subes-pécie l/i go und ni O ornitólogo E.V.Kozlova de Leningrado relatou-me em 1965, que possi->velmente ;,gigont prove ser uma espécieàparte. "Água-só", "O-rapaz" (ambosonomatopéicos), "Batuirão".

Antas, P.T. Z., A. Filippini & Azevedo-Junior, S. M. 1992.E eloi 79-80.( os l pponic , primeiro registro para asAméricas)"

Atkins, N. 1980. Condo 82:107-8. (competição entreCinclodesnig oju us e en )

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324. ORNITOLOGIABRASILEIRA

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São Paulo)'

.-"

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RECURVIROSTRIDAE/PHALAROPODIDAAE 325

PERNILONGOS: FAMÍLIA RECURVIROSTRIDAE (1)

De pernas longuíssimas, representados também emzonas temperadas de outros continentes e nos Andes emaltitudes consideráveis. Fóssil do Eo-oligoceno da Françae outros discutíveis fósseis do Terciário Inferior da Amé-rica do Norte; [unciiarsus (Olson & Feduccia 1980) doEoceno Médio da América do Norte (45milhões de anos)apresenta características intermediárias entreRecurvirostridae e flamingos (V.Phoenicopteridae).

PERNlLONGO, Pr. 12,1

38cm. O tarso e a tíbia exposta medem, juntos, 16cm.É inconfundível. A extensão do branco na cabeça e nodorso varia conforme a idade, período do ano e regiãogeográfica; atraem sempre a atenção suas grandes asas

og i ec o s

b og G )

Conder.PJ. & H. Bub. 1985. [Stilt] Pp. 31-32. In: Diction njoj i s(B.Campbell &E.Lack,eds), Calton: T &A O Poyser e Vermillion:Buteo Books."

Hamilton, R. B. 1975. Comparative behaviour of the American

totalmente negras. Imaturo pardo. variada, forte,parecendo um latido "káu" ou um suave "wett" quepode lembrar uma gaivota ou trinta-réis. Vive nas mar-gens lodosas de lagos, banhados, manguezais e arrozais.Nidifica nos brejos, ovos parecidos aos do quero-quero.Ocorre dos EUA até a porção setentrional da Américado Sul (H. ntopus nus) e daí (no centro-oeste esul do Brasil até a Argentina e Chile) em diante,H.

l u com uma área branca entre a basedo pescoço e a região interescapular Não é raro em cer-tos locais, por exemplo no Rio Grande do Sul, estuárioamazônico e baixada de Campos (Rio de Janeiro)."Maçaricão", "Quero-quero-da-praia" (Rio Grande doSul), "Pernalonga", "Cachorrinho" (Rio Grande do Sul),"Pernalonga -comum*".

Avocet and Black-necked Stilt (Recurvirostridae). Lawrence:A.O.U. (Omith. Monogr.,17).

Hayrnan, P,J. Marchant &T.Prater. 1986. AI1

Cuide. London: ChristopherHelm,

PISA-N' ÁGUA, FALAROPOS: FAMÍLIA PHALAROPODIOAE (2)

Aves setentrionais; fósseis do Pleistoceno (50.000anos) da América do Norte. Notáveis pela conformaçãodos dedos, os quais são orlados por uma membrananatatória dividida em lobos. As fêmeas são maiores e,no tempo da reprodução (que não ocorre no Brasil) maisvistosa mente coloridas; o papel dos sexos durante ogalanteio é invertido, sendo a fêmea mais ativa.

PISA-N' ÁGUA, VNPr. 12,3

21cm. De aparência muito delicada, sem semelhan-tes; pescoço fino, bico afilado como uma agulha; atrásdos olhos uma faixa negra muito destacada; pernasesverdeadas. o fraca e baixa, chama pouco a atenção.De índole inquieta, corre pelas margens lamacentas,desce em campos alagados; é o único "maçarico" quefreqüentemente nada, cabeceando nervosamente; bóia

Biblioerafia ide ibliog Ge l)

Harrison, P 1983. ds, n identi tion guide. London & Sidney:Croom Helm. (guia de campo)

Ridley, M. W.1980.1bis 122:210-226. opus [ulicarius, hábitos)'Sick, H. 1979. uli. B.O. C. 99:115-20. l pus [ulicarius, primeiro

leve como cortiça, com as asas e cauda obliquamentelevantadas como uma pequena gaivota; corre velozmen-te em pequenos círculos na água rasa enquanto debi-cando aqui e ali apanhando minúsculos animais(plâncton) (Rio Grande do Sul). Vindos da América doNorte, vão até a Terra do Fogo; Mato Grosso (agosto),[Paraná (dezembro, Scherer-Neto& Straube 1995)] RioGrande do Sul (novembro, janeiro).

.FALAROPO-OE-BICO-GROSSO*,

lic VN

19cm. Pode lembrarC li is porém tem umamancha pós-ocular negra e amarelo na base do bico (oqual não é fino como em5 s). Aripuanã (MatoGrosso, março, 1979, P Roth). Procedente do Ártico,migra mais pela costa do Pacífico da América do Sulonde é, em boa parte,pélágico, pousando sobre o mar.

registro para o Brasil)

Wynne-Edwards, V.C. 1985. Phalarope Pp.456-57. In:i (B. Campbell & E. Lack, eds). Calton: T& A O Poyser e

Vermillion: Buteo Books."

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326 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

TÉU-TÉU-DA-SAVANA: FAMÍLIA BURHINIDAE (1)

Aves pernaltas de vasta distribuição no Globo;bem diversas, na aparência, do resto dos represen-tantes da ordem. Fóssil do Mioceno Inferior da Amé-rica do Norte e do Pleistoceno do Kansas e Bahamas:ao que parece aparentadas a um tipo primitivo deCharadriiformes do Cretáceo Superior da América doN arte. A característica dessas aves é o calcanhar gros-so, designado erroneamente como joelho ("Thick-knee").

TÉU-TÉU-DA-SAVANA, hinus bi i tus Fig. 107

43cm, 700g (macho). De porte avantajado, bico e de-dos curtos, olhos grandes e amarelos (denunciadores dehábitos crepusculares) que quando iluminados à noitedão fortes reflexos avermelhados. Partes superioresestriadas cor de terra, alta da cabeça anegrado, barriga efaixa alar brancas. lembra a de um quero-quero, fa-zendo-se ouvir apenas à noite.

Voa bem. Andam aos casais, em campos limpos esecos; aparecem junto de estradas de terra sendo confia-dos ao ponto de serem atropelados. De dia escondem-seno capim deitados nos tarsos (termorregulação?). Nota-se sua presença pelos rastros na areia. Quando perse-guido agacha-se chegando mesmo a deitar a cabeça nosolo. Insetívoro, muitas vezes come saúvas. Põe no chão,de preferência no meio de pedaços de estrume.

j é l)

Preese, C. H. 1975.C 77:353-54. (nidificação)*

Hayman, P.,J. Marchant & T. Prater. 1986. o n identi onGuide. London: Christopher Helm. .

Registrado apenas ao norte do rio Amazonas, ondeé

localmente comum. Ocorre do Amapá e Roraima até aVenezuela, Colômbia e México. [No Amapá vive juntoas grandes monoculturas dePinus procurando as terrasrecém-aradas G. F. Pacheco).] Aparece excepcionalmen-te fora da sua área, p. ex. um casal no aeroporto de Belérn,Pará (novembro, D. C. Oren) e outro no Ceará (R. Otoch).Pode ser amansado nas fazendas, semelhante ao quero-quero. "Maçaricão", "Pintão" (Amapá). Parente próximode representante, do mesmo gênero, do Velho Mundo.

Fig. 107. Téu-téu-da-savana, inus so

Morgan, R. A. 1985. Thickknee Pp. 590-91. In: Dictio j(B. Campbell & E. Lack, eds). Calton: T &A D Poyser e Vermillion:Buteo Books."

Page 78: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-02

GLAREOLIDAE/THINOCORIDAE 327

ANDORINHAS-DO-DESERTO: FAMÍLIA GLAREOLIDAE (1)

Pequenas aves crepusculares lembrando remotamen-te um trinta-réis pela cauda profundamente bifurcada(preta, de base branca). De vasta distribuição nas partesquentes do Velho Mundo, p. ex. sul da Espanha.

og o e( ej t é bliog i Ge

Antas, P.T. Z., A. Filippini & Azevedo-Iunior, S. M. 1992.n IE elot 79-80.( eo incol primeiro registro paraas Américas)'

Ha yman, P.,J. Marchant & T.Pra ter. 1986. ds iden t onGuide. London: Christopher Helm.

PUCO-PUCOS: FAMÍLIA THINOCORIDAE (1)

Aves predominantemente andinas (ocorrem tambémna Patagônia), do tamanho de uma pombinha mas defeitio mais "redondo", pescoço e bico grossos, pernascurtas.'As asas são fortes, seu vôo rápido e sua locomoçãono solo indicam seu parentesco com os Charadriiformes.Plumagem escura, de garganta e barriga brancas

og c e( ibliog l)

-- Antas, P. T. Z. 1992. is E elot 80-81. i usiciuo s, primeiro registro para o Brasil)"

Hayman, P.,J.Marchant & T.Prater. 1986.ho ebi iGuide.London: ~hristopher Helm.

PERDIZ-DO-MAR*, p VN23cm. Um indivíduo noAtol das Rocas em 9 de mar-

ço de 1990. Família não registrada anteriormente nasAméricas (Antaset 1992).

Maclean, G. L. 1985. Pratincole Pp. 484-85. In:D s(B.Campbell &E. Lack, eds). Calton: T &A D Poyser e Vermillion:Buteo Books."

Sterbetz, I. 1974.Die . Wittenberg-Lutherstadt:A.Ziemsen-Verlag (Neue Brehm-Bücherei no. 462)

monografia)"

PUCO-PUCO-MENOR, c cioo us VS

[16-19cm] Um exemplar em campos úmidos entre aformação de dunas, Lagoa do Peixe, Rio Grande do Sul,26 de abril de 1990. Visita inesperada (Antas 1992)."Agachadeira-mirirrr'" .

MacLean, G. L. 1969.he i ing 8:33-80. (monografia)"Macl.ean, G. L. 1985. Seedsnipe P.529. In:Dict ds (B.

Campbell & E. Lack, eds). Calton: T & A D Poyser e Vermillion:Buteo Books."

Page 79: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-02

328 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

_.-.----~

POMBA-ANTÁRTICA: FAMíLIA CHIONIDIDAE (1)

Estranhas aves marinhas do antártico. Não se conhe-cem fósseis. Bico curto e alto, base da maxila cobertapor um domo suplementar que lembraà distância aranfoteca composta dos Procellariiformes, com os quaisnão é relacionado. Parece ser aparentada aos Laridae.

POMBA-ANTÁRTICA, Chionis lb

39cm. Visitante excepcional que, quanto ao aspecto,lembra um pombo. Imaculadamente branco com a pelenua da face e algumas carúnculas rosadas claro na basedo bico; bico esverdeado de ponta preta; pés cinzentos.

o crocitante, normalmente calada. Voacomo um pom-bo. Sociável. Viveà beira-mar, anda e pula na praia esobre rochas expostasà arrebentação onde há rica faunae flora; come pequenos animais, mortos ou vivos, e de-tritos. Na Patagônia, vimos vasculhar regularmente ascolônias de aves marinhas, como gaivotas e pingüins,àprocura de ovos quebrados, etc., funcionando como li-xeiro. Pousa no mar, nada bem embora desprovido demembranas. Nidifica no Antártico, de lá migrando aoextremo sul do continente e, ocasionalmente, até o Rio

l i Chiibli i Ge

Belton, W. 1974. u 91:820. (primeiro registro para o Brasil)Farias, G. B.,M. T. Brito, G. L Pacheco, W. R. Telino-Junior& R. M.

de LNeves. 1994. e os I C O no e 70.(Pernambuco )*

Harrison, P.1983. b ds, tion guide.London & Sidney:Croom Helm. (guia de campo)

Interaminense, L J.L, L B.Almeida& c s.Hortêncio. 1996.O el 43. (arquipélago dos Abrolhos, Bahia)"

Fig.108.Pomba-antártica,Chionis l .

Grande do Sul (praia do Cassino, Rio Grande, maio 1973;Belton 1974). Também no Paraná, maio (Scherer-Neto1985). [Recentemente foi relatado uma ocorrência excep-cional para o litoral de Pernambuco (Fariaset 1994)."Bico-de-bainha-branco?",

Moraes, V.S.& R. Krul. 1994. C . o 45.(segundo registro noParaná)"

Scherer-Neto, P. 1985.n. ul . 6:19-20. (ocorrênciano Paraná)

Soares, M. &A. F.Schiefler. 1994. I no86 (Santa Catarina)"

Vooren, C. M. & A. Chiaradia. 1990. o t 1 -24.(ocorrências na praia do Cassino, RS)*

Page 80: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-02

STERCORARIlDAE 329

GAIVOTAS-RAPINEIRAS: FAMÍLIA STERCORARIIDAE (4)

Aves oceânicas e polares aparentadas às gaivotas, ten-do, como estas, pernas curtas e membranas natatórias.Fósseis do Pleistoceno da América do Norte.

De costumes rapineiros, possuem o bico recurvado,ranfoteca da maxila composta, unhas longas e pontia-gudas; a fêmea costuma ser de maior porte. Voam ligei-ro e rente ao mar, apanham animais flutuantes, peixesmortos e detritos, ameaçam outras aves marinhas, comoos trinta-réis. forçando-os a vomitar o alimento ingeri-do e apanhando-o em pleno ar como fazem os tesourões(cleptoparasitismo); na sua área de reprodução são maisagressivos ainda: pegam umaave na ponta da asa ou dacauda ou forçam uma ave terrestre avoar sobre o maronde é mais facilmente vitimada.

Vimos uma ci u perseguir até umdo i mas sem sucesso (Baía de Guanabara,de Janeiro); os maçaricos ficam alarmados com a pre-sença da gaivota-rapineira.

Os imaturos das diferentes espécies percorrem regi-ões tropicais durante anos a fio, chegando, por isto, com.certa freqüência às costas sul-americanas; parte deles re-gressa à pátria após 31 meses de ausência, no que se as-semelham a certos trinta-réis.

GAIVOTA-RP.,.PINEIRA-GRANDE, ct sVS VN

60cm, do porte de um gaivotão, porém com as asasbem mais largas, abobadadas. Totalmente pardo-escu-ro, freqüentemente arruivado com manchas canela; áreabranca na base das primárias, sendo esta ainda mais ní-tida que a de e costuma maisalto do que este, desce às a pique' sobre a superfí-cie do mar. Na costa brasileira podem aparecer tanto re-presentantes austrais da espécie (C.s nt i C. s.

i , C. s. to gi e, sobretudo, C. s.boreais (C. s. o que se

através de espécimens anilhados procedentes: a) daAntártida (S.Orkney, Graham Land) sendo encontradoum exemplar em Santa Catarina (julho 1963), um outrono Ceará (dezembro, 1974) e dois em Pernambuco (ou-tubro, dezembro) procedente de Tristão da Cunha eCormorant Island; b) da Escócia, um exemplar no Ma-ranhão (fevereiro, 1974), outro no Ceará (março, 1970), eum terceiro no Piauí (março 1974, anilhado emReykjavik, Islândia, em julho 1973). Na Baía de Guana-bara registramos quase regularmente a presença deespécimens solitários (maio, junho); supomos tratarem-se de formas oriundas de regiões meridionais, onde se

reproduzem em novembro (Patagônia). A identificaçãodos vários representantes (considerados em parte espé-cies independentes) sobretudo, dos imaturos que apare-cem com mais facilidade, é difícil. Há cruzamentos

cco x lonnbe gi. "Mandrião-grande?", "Moleiro-grande*", "Dizimeiro-grande?".

[O tratamento de como espécie úni-ca, conforme apresentado por Sick, não concorda como tratamento encontrado na literatura mais recente.Brooke (1978) considerou a existência de quatro espéci-es no gênero s monotípico; chilensis,monotípico, "Mandrião-chileno*"; cco ic mono-típico, "Mandríão-do-sul+" e n ciic com trêssubespécies, "Mandrião-antártico". Esse tratamento foiadotado por Harrison (1983). Sibley& Monroe (1990)considera o tratamento de aloespécies adequado parao grupo e expande para cinco o número de espécies coma adoção de C.lo gi, antes raça de ctic . A pro-blemática na identificação dos diversoscoletados e avistados na costa brasileira encontra difi-culdades devido a similitude das formas envolvidas nocomplexo e a existência de variação individual epolimorfismo.]

.~,

GAIVOTA RAPINEIRA-POMARINA, o iuspomarinus VN

51cm. Menor do que C th c , maior do que S,p siii plumagem do imaturo muito semelhanteàdo último, prolongamento da cauda arredondado. Visi-tante setentrional que se desloca até o litoral uruguaio eargentino; registrado no estuário do Tapajós, Pará, emmaio de 1960 "Mandrião-pomarino+". [Outras mençõespara essa espécie provenientes do litoral sul do país: SãoPaulo e Rio Grande do Sul, são hipotéticas (Willis&Oniki 1985, Belton 1984).]

",

GAIVOTA - RAPINEIRA -COMUM, 5 syN Pr. 14, 1

47cm. Pardo-escura lembrando mais um gavião doque uma gaivota; de asas relativamente estreitas e an-gulosas, retrizes centrais alongadas em ponta, pouco procnunciada em indivíduos imaturos, Partes inferiores epescoço branco-amarelados em extensão variável, des-tacando-se freqüentemente um nítido desenho d~ faixastransversais. Ocorrem indivíduos inteiramente escuros.Pousa com freqüência na água, aprecia descansar sobreum pedaço de madeira flutuante. Procedente do hemis-fério setentrional, é visitante regular da costa brasileira,por exemplo na Baía de Guanabara (entre o Rio de Ja-neiro e a ilha de Paquetá), em janeiro (maior número),

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330. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

de março a maio e de setembro a dezembro; em 2 dejunho de 1970 capturou-se um indivíduo, na Ilha do Go-vernador, que havia sido anilhado emFógló, Finlândia,ainda como filhote; um segundo, anilhado na Escócia,foi capturado perto de Maceió (Alagoas), em maio. As-socia-se às concentrações dee spp. em migração.Sobe ocasionalmente o Amazonas e mesmo o rio Negro(barra do rio Branco, Roraírna, agosto); até a Terra doFogo. "Bandido", "Rabo-de-junco", "Dizimeiro", "Man-drião-parasítico'".V.pardelas, Puffinus, e as duas espé-cies anteriores.

ibliog e co ej bé ibliog G l)

Brooke, R. K. 1978. Du n . 11:295-308. (C t ttaxonornia)"

Escalante, R. 1972. 89:663-65. ( iusocorrência)

Harrison, P. 1983. e ds, n identi c on guide.London & Sidney:Croom Helm. (guia de campo)

Moraes, V. S.& R. Krul. 1994. s s Cong o eci

RABO-DE-JUNCO-PRETO, s long s~ .-

[41-49cm] Procedente dos hiperbóreos, é registradano Uruguai e na Argentina. Há uma observação de ja-neiro de 1979 na Baía da Guanabara M. Grugan). Émuito distinto pela forma da cauda: as retrizes centraissobressaem o resto da cauda por IOcm; lado inferiorbranco puro, boné preto.É pelãgíco, atingindo o Atlân-tico meridional por alto-mar. [Registrado recentementepara o Rio Grande do Sul (Vooren& Chiaradia 1990).]

-

151. iC t t e , Paraná)*

Vooren, C. M. & A. Chiaradia. 1989. 77:233-35. cos eS. no sul do Brasil)'

Vooren, C. M. & A. Chiaradia. 1990. 9-24.( te ocorrência na praia do Cassino, RS)'

Willis, E. O. & Y. Oniki. 1993. B. O. C. 113:23-34.c i i, São Paulo)'

"'.\'

Page 82: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-02

LARIDAE 331

GAIVOTAS, TRINTA-RÉIS: FAMÍLIA LARIDAE (26)

Aves aquáticas cosmopolitas, de antiga documenta-ção fóssil; Terciário Inferior (Eo-oligoceno da França -37 milhões de anos) e Mioceno da América do Norte.

Aves de asas longas, pernas curtas e dedos unidospor uma membrana natatória completa (palmípedes),reduzida em . Sexos semelhantes, macho freqüen-temente mais robusto.

A plumagem dos trinta-réis apresenta duas fases dis-tintas, uma sexual (caracterizada pela cor negra da fron-te, é de duração muito curta) e outra invernal ou de re-pouso sexual, adquiridas por uma muda pré-nupcial euma pós-nupcial, respectivamente; a aparência de ambasas fases é muito diversa nos trinta-réis do gênero ,principal grupo dos nossos Laridae, que tornam-se, du-rante o descanso, mais brancos e de píleo (na pluma-gem nupcial negro) manchado da mesma cor, os bicos epés "descoram-se"; esta vestimenta de repouso asserne-lha-se à dos imaturos (v. sob Háportanto grande variação de colorido dentro da mesmaespécie, dependendo o mesmo da idade ou da fase dociclo reprodutivo em que se encontra o indivíduo; a au-sência de uma plumagem reprodutiva completa é fre-qüente no Brasil em indivíduos que aqui se reproduzem.A situação pode tornar-se ainda mais complexa quandoduas populações (uma meridional e outra setentrional,que procriam em diferentes épocas do ano) de uma mes-ma espéciesuperpõern-seperiodicamente, como pareceocorrer em S.

O belo matiz argênteo das primárias de várias espé-cies de trinta-réis provém da refração da luz na estrutu-ra microscópica da pena que, neste lugar, não possui pig-mentação. E curioso notar que a grazina, de plu-magem imaculadamente branca, tenha a pele negracomo carvão enquanto que a andorinha-do-mar-negra,

, tem-na branca, provavelmente também por ra-zões de termorregulação. Consta que uma ave de plu-magem branca absorve apenas 16% da energia solar, umaave preta 33%. A cor preta da pele facilita a absorção decalor solar. .

Pode-se dividir os Laridae brasileiros em dois grupos:1. Gaivotas: de cauda arredondada e bico recurvado;

há no Brasil apenas três espécies residentesL. e L. três visi-

tantes setentrionais (L. L. e L.e um visitante meridiom\l (L. Concen-

tram-se no litoral do Brasil oriental. V. também gaivo-tas-rapineiras, cortá-água, albatrozes 'e pardelas.

2. Trinta-reis (nome dado pela abundância dessasaves em certas épocas): de cauda bifurcada (exceto os

, asas mais estreitas e bico mais reto, pontiagudo,

sendo dirigido para baixo durante o vôo. Registradasonze espécies residentes e oito visitantes; das primeirasapenas duas são relativamente numerosas na costa

e S. g enquanto que nointerior e e sú c sãoencontradiças nas margens de grandes rios como oAmazonas e tributários. Quatro espécies. , sstolidus, . e gis são residentes em ilhasoceânicas (Trindade, etc.) não havendo quase oportuni-dade de vê-Ias no litoral. V. também ethon e os .

Para a identificação das várias espécies de trinta-réis,como p. ex. o e S. dis , necessita-se deuma documentação científica completa como a existen-te nos tratados norte-americanos. Só com muita experi-ênciaépossível a diagnose destas aves "no campo", ain-da mais que são, na maioria, semelhantes no porte; alémdisso há de considerar-se que uma classificação é difi-cultada pelas periódicas alterações do colorido da plu-magem e da cor do bico, a qual está entre os caracteresmais distintivos durante a época de reprodução. As di-ferentes espécies visitantes costumam apresentar-se ape-nas na fase menos característica, istoé, a da plumagempós-nupcíal: aparecem freqüentemente exemplares ima-turos os quais oferecem a mesma dificuldade na identi-ficação que os adultos durante o descanso sexual.

As gaivotas são geralmente onívoras sendo atraídasna costa por peixes mortos, atiradosà praia ouà água,por bichos atropelados nas estradas e por depósitos delixo; é periodicamente insetívora,adaptando-seà agricultura e aproveitando-se da aragemdas terras (Rio Grande do Sul), tal como seu represen-tante europeu, un dus O gaivotão, L.

, é uma das espécíes de aves que deixam cairovos roubados para quebrá-los. As gaivotas e trinta-réisproduzem pelotas permitindo a investigação de sua ali-mentação; as pelotas das gaivotas lembram aquelas dascorujas.

Os trinta-réis, em sua maioria, descem a pique comímpeto para capturar peixes ou crustáceos que nadem apouca profundidade. Voam a velocidade reduzida en-quanto patrulham em busca de presas e, em um dadomomento, pairam batendo as asas com rapidez, "penei-rando" com o corpo vertical ao mesmo tempo em que acabeça é mantida para baixo, em ângulo reto com o cor-po, observando a água; em seguida precipitam-se sobrea presa escolhida, submergindo (quando muito afundamum metro) por um instante. Acompanham cardumes dealevinos que sobemà tona perseguidos por peixes mai-ores, ou pescam na arrebentação, onde os peixes são jo-gados à superfície. apanha filhotes de tartaru-

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332 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

ga . e hi e e às vezesapanham cupins em revoada:Gelochelidon habitualmentecaça sobre o solo seco, apanhando insetos pousados nasfolhas de capim ou emVÔOi ocasionalmente tambémpesca como as outras trinta-réis, sem contudo mergu-lhar, técnica utilizada igualmente por s e e[uscaia; a última sendo mestre em vôos planados.[uscaia é o único trinta-réis que se encharca rapidamen-te, mas consegue levantar vôo embora com dificuldade.

O contato constante das aves marinhas com a águasalgada cria um interessante problema fisiológico na me-dida em que seus rins são incapazes de eliminar teorestão altos de cloreto de sódio; para uma gaivota serianecessário excretar dois litros de urina para eliminar os

. sais ingeridos em um litro de água do mar. Sendo assimdesenvolveu-se um mecanismo especial (fig. 109) paraque tal problema fosse contornado, o qual consiste natransformação das g!ândulas supra-orbitais (que normal-mente serviriam como glândulas olfativas) em glându-las secretoras de sal: desta maneira é possível a elimina-ção do excesso de sais sem que se comprometa o balan-ço hídrico do organismo. Tal excreção é tão intensa quese pode mesmo ver o excreta (que corresponde a umasolução altamente concentrada de cloreto de sódio, sen-do mais salgada do que a água do mar), pingar do bicode um gaivotão à distância, aproximadamente 15 minu-tos após ele ter bebido. Esse mecanismo extra-renal daexcreção do cloreto de sódio é semelhante ao de répteismarinhos. Livram-se do calor do sol, ao qual estão ex-tremamente expostos, mostrando os grandes pés e ofe-gando.

O colorido branco ou cinzento da maioria das espé-cies facilita a associação destas aves, por. si gregárias,em um hábitat aberto que permite a percepção de obje-tos clarosà distância: isto serve como orientação tantodurante a busca de alimento como quando confluempara repousar ou para formarem colônias para nidifi-caro

Sd

Fig.109.Aexcreçãode sal de urna gaivota.As"glândulas de sal"(Sd) segregamum líquido contendomais de 5%de cloretode sódio que passa pela mucosadas narinas epinga da ponta do bico(St) (seg.Kaben& Schwartz 1970).

ep

Sobre a nidificação das nossas espécies pouco se sabe.O fato é que às vezes nem procriam regularmente emdeterminados lugares conforme verificado com

, o que dificulta as pesquisas nesse sentido.No Rio de Janeiro reproduzem no inverno (julho, agos-to). A trinta-réis-grande, e a trinta-réis-anã.5t l is, nidificam na Amazônia logo após ~primeiro aparecimento das praias, depois de terminar acheia anual, analogamente ao corta-água. Coisa pareci-da ocorre com a trinta-réis-de-bico-preto,Gelochelidon.A reprodução em colônias pode ser considerada, atécerto ponto, uma adaptação antipredatória.

As trinta-réis são agressivas perto do ninho, atacan-do os intrusos em vôos rasantes e a pique, "bombarde-ando" o intruso com as suas fezes. Reproduzem no solo,nas praias ou no meio de vegetação rasteira em lugaresplanos (p. ex. s il , 5. e te/ou em costões abruptos de ilhas rochosas (5.

i. G põe freqüentemente sobre galhos, oque, ui di vale também para inuius,que pode construir outrossim sobre escarpamentos, fa-zendo uma consola cimentada com guano, enquantoA.stolidus faz um ninho rudimentar sobre lajes (Penedosde S. Pedro e S. Paulo). Ovos semelhantes aos dosCharadriidae e Scolopacidae, sendo mais oblongos emenos brilhantes: enquanto o peso de um de, porexemplo, e não ultrapassa 14% do peso damãe, o deG é bem maior, perfazendo cerca de 34%do peso de uma ave adulta. Os filhotes nidífugos sãoalimentados ainda pela mãe quando já estão longe dolocal onde nasceram e quando já são capazes de pescar(5t n h . O filhote da grazina permanece du-rante algumas semanas no local onde nasceu, firmementeagarrado a um galho nu com suas unhas fortes e longas.

As próprias gaivotas são freqüentemente os inimi-gos mais perigosos para as gaivotas vizinhas, canibali-zando ovos e filhotes delas. Por essa razão, e para nãoexpor demais o ninho ao sol, permanecem muito tempoem seus ninhos.

As colônias de trinta-réis contam, nas ilhas oceâni-cas, com centenas ou milhares de casais (p. ex.fuscaia que é provavelmente a ave marinha mais abun-dante de toda a zona tropical do globo): consta que osfilhotes (p. ex. de i icensis) reconhecem seuspais pela voz individual destes, facilitando o reencon-tIO"no seio de uma colônia onde um ninho está ao ladodo outro. Os casais dos trinta-réis costumam permane-cer juntos, até durante as migrações..,

......

Dist i ,Nas espécies marinhas observa-se o mesmo fenôme-

no que se dá com outras aves de mesmos hábitos ouoceânicas (p. ex. Procellariiformes e Pelecaniformes), ouseja, são menos numerosas em mares subtropicais e tro-

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LARIDAE 333

picais do que nos de latitudes mais altas; por esta razãoos láridos não são abundantes nas costas brasileiras. Nazona dominada pela corrente do Brasil (que vem da re-gião equatorial) não há condições que favoreçam excep-cionalmente a vida de microrganismos que sustentam amaioria dos peixes que, por sua vez, irão ser o alimentopor excelência das aves marinhas. Só mesmo ao redorde ilhas oceânicas, como Trindade e Fernando de Noro-nha, onde a influência da corrente fria das Falkland émais acentuada, existem condições melhores, isto é,fauna mais rica.É estranha a pobreza da Amazônia emláridos, sobretudo de gaivotas, fenômeno patente tam-bém em outras aves aquáticas, como anatídeos.

O número de gaivotas e trinta-réis residentes aumen-ta periodicamente, quer seja em conseqüência de imi-grações de, p. ex., contingentes meridionais

e 5. quer seja em conseqüênciade enchentes que, sobretudo na Amazônia, expulsam asaves ribeirinhas (p. ex., eespécies marinhas, como por exemplo , aparecemperiodicamente nas respectivas ilhas apenas para repro-duzir-se, desaparecendo a seguir. e deveter imigrado, em época não muito distante, da África.Caso semelhante é o de us As gaivotassão, no Brasil, sobretudo aves costeiras.

Fig. 110.Mi~rações do trinta-reis, . Apopulação da América do,Norte oriental migraà costaatlântica da Europa e daÁfrica. depois se espalha noAtlântico meridional, atingindo as costas da Américado Sul e a Antártica onde está a zona da sua invernada(seg. Lincoln1950).

Entre os visitantes estáe e , de vasta dis-tribuição no hemisfério setentrional, uma das aves queexecutam as migrações mais extensas e mais demora-das que se conhece; voa do Ártico ao Antártico à feiçãode vários maça ricos, faz um de 35.000 quilô-metros (fig. 110). Por meio de anilhamento foi demons-trado que após a época de reprodução pais e filhos detrinta-réis setentrionais" embarcam" juntos rumo ao sul;quase todos detêm-se na zona tropical onde os imaturospermanecem algum tempo; até dois anos e meio, comofazem as gaivotas rapineiras, só depois regressando àpátria para se reproduzirem, tendo substituído sucessi-vamente a plumagem juvenil pela nupcial, A prática doanilhamento e estudos meticulosos em peças taxidermi-zadas (pesquisas sobre a muda) permitiram acumulardados sobre o destino e o desenvolvimento de algumasdestas aves. Entre nós tem sido de máxima utilidade oanilhamento feito na América do Norte, já tendo sidoregistra dos centenas detrinta-réis, anilha dos nos EUAe no Canadá, que foram apanhados em nosso país, so-bretudo hi o (Lara-Resende & Leal 1982). Po-dem aparecer indivíduos com anéis coloridos.

,

Os ovos são utilizados em larga escala pelos pesca-dores. No estuário do Amazonas (ilha Mexiana, Pará)os deGelochelidon ni em Santa Catarina os de5te

e e no Rio Grande do Sul os de ssão colhidos pela população local. Nos

Abrolhos os ovos de siolidus servem de alimentoaos moradores.

A presença humana na área dos ninhais durante operíodo reprodutivo, principalmente antes do nascimen-to dos filhotes, causa grande perturbação nas colôniaspara sorte dos predadores (gaivotões, urubus ecaracarás), o mesmo ocorrendo nos ninhais de garças etesourões.

Durante um vendaval uma 5. se chocoucom um pilar da ponte Rio-Niterói, baía de Guanabarae fraturou o crânio (N. C. Maciel).

GAIVOTA-DE-RABO-PRETO*, VS

49,5-56cm. Encontrada ocasionalmente no litoral doRio Grande do Sul (Belton 1984, Vooren& Chiaradia1990). A forma L. b. cus, visitante no Brasil e Uru-guai reproduzindo na costa da Argentina, foi conside-rada espécie à parte e merecedora de atençãoconserva-cionista em vista da vulnerabilidade de suas colôniasconhecidas (Collaret I. 1992).

GAIVOTA-DE-DELAWARE, us del nsis VN

47cm. Visitante setentrional excepcional; distinguívelpor um anel negro em tomo da ponta do bico. Um indi-

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334. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

víduo, no meio de outras "gaivotas" diferentes, foi apa-nhado perto de Tefé (Amazonas, novembro de 1968);fora anilhado cinco meses antes na fronteira Canadá-EUA; parece ser o primeiro registro da espécie naAmé-rica do Sul (Sick 1979). [Acumulam-se depois do regis-tro brasileiro novas ocorrências para outros países sul-americanos como,P: ex.: Colômbia (Hilty& Brown 1986)e Equador (Udvardy& Siill1987).]

G us Fig.l11 Pr. 14,3

58cm. Única gaivota de porte; branca, de dorso ne-gro e face superior das asas também negra, secundáriasde pontas brancas; na plumagem adulta, adquirida ape-nas durante o quarto ano de vida, se destaca uma nódoabranca subterminal da primária mais externa, o que dána vista de longe. Bico amarelo com uma mancha ante-apical vermelha na mandíbula, desbotando durante aépoca de descanso, pálpebras vermelhas, íris esbranqui-çada,pernas esverdeadas. Imaturo pardo manchado, debico e pés cinzento-escuros ou pardo-enegrecidos, mui-to variável, íris pardo-escura. "Kâ-oo" "kjo-kjo-kjo...". Vive na costa do Brasil, setentrionalmente ape-nas até o Espírito Santo e Rio de Janeiro. Nidifica no in-verno em pequeno número em ilhas perto do continen-

. te, por exemplo: Cabo Frio, Rio de Janeiro. Torna-se maiscomum em porções mais austrais, reproduz-se na regiãodo rio da Prata em agosto/setembro. Geralmente a úni-ca gaivota na Baía da Guanabara, embora não seja fre-qüente; há concentrações de bandos migrantes (p. ex.em Santos, São Paulo; abril) que ultrapassam cem indi-víduos. Não se afasta da costa. Ocorre até a Terra doFogo, também no litoral pacífico da América do Sul,África e Nova Zelândia. Considerado o substituto de

da América do Norte e da Europa, o qualtem as pernas cor de carne bem clara. "Cau-cau",

Fig.111.Caivotão, i s, imaturo.

GAIVOTA-ALEGRE*, VN

41cm. Espécie pequena, de manto cinzento-escuro,primárias externas negras uniformes e secundárias deponta branca; registrado no estuário do Amazonas até oMaranhão; um exemplar apanhado na Lagoa do Peixe,Rio Grande do Sul em julho de 1985 (S.M. Lara-Resende).

GAIVOTA-DE-CABEÇA-CINZA, us ci eph lus

43cm. Parecida com a espécie descrita a seguir, po-rém maior e com menos branco, de manto mais escuro ecom a cabeça cinzenta-clara (em reprodução, novembro);as duas primárias externas com uma área limitada (2 a4cm) branca anteapical. Bico pardo, pálpebras e pés ver-melhos, íris amarela. Durante a plumagem de descansoapenas com vestígios de cinzento na cabeça. Há poucasindicações certas de sua ocorrência no Brasil. Ocorre noRio de Janeiro (Lagoa de Araruama, maio, julho, novem-bro) e esporadicamente em outros locais, noMaranhão,sul de Mato Grosso do Sul, Santa Catarina (maio) e RioGrande do Sul; também no Paraguai, Bolívia, Uruguai,Argentina, na costa pacífica da América do Sul e na Áfri-ca de onde imigrou. "Tiribique" (Rio de Janeiro). [Ob-servações mensais durante os anos de 1993-94na Lagoade Araruama, Cabo Frio demonstraram a residência con-tinuada no local entre os meses de novembro e maio (J.F. Pacheco, C. Bauer).]

GAIVOTA-DE-FRANKLIN*, n VN

34-38cm. Visitante extraordinário procedente do in-terior da América do Norte que geralmente costuma mi-grar ao longo da costa pacífica. Um adulto observadoem 16 de maio de 1988 no aeroporto de Fernando deNoronha (Antaset . 1990). [Um indivíduo em pluma-gem de inverno foi observado no baixo [apurá, Amazo-nas em 15 de março de 1994 (Pacheco 1995). Este regis-tro interiorano, aparentemente inusitado, foi precedidopor dois outros provenientes da Amazônia peruana(Schulenberg 1980, Cardiff 1983). Vários registros dessagaivota norte-americana na costa da Guiana Francesalevaram Tostain& Dujardin (1989) advogar a idéia deque esta espécie estaria estabelecendo novas áreas deinvernada na América do Sul.]

GAIVOTA-MARIA-VELHA, lipennis

42ém. De tamanho médio, partes superiores cinza-claras, partes inferiores brancas; cabeça parda (períodoreprodutivo) ou branca com uma mancha negra atrásdas bochechas (descanso); bico, pálpebras epés verme-lhos, íris marrom; primárias externas com uma grandeárea e ponta brancas, sendo ambas separadas por umafaixa negra anteapical; há muita variação do padrão dasrêmiges, conforme a época do ano e a idade do indiví-duo; em vôo apresenta mais branco nas rêmiges do queL. ci Imaturo de coberteiras eterciárias par-das; uma nódoa pós-ocular e uma outra anteocularenegrecidas como o cauda com uma barra fuli-ginosa apical.É comum no leste do Rio Grande do Sul;vive nas margens de rios e lagos, pega insetos em vôo,também em campos arados, onde procura larvas de in-setos etc., às vezes ao lado do chimango; ocorre também

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LARIDAE 335

no litoral. Nidifica nas partes austrais da América doSul, inclusive nos banhados sul-rio-grandenses (novem-bro); registrado ocasionalmente nos estados de SantaCatarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Alagoas eoeste de Mato Grosso. Substitui do Ve-lho Mundo com o qual se parece muito, inclusive na voze em exigências ecológicas. V. a espécie anterior.

TRINTA-RÉIS-NEGRO*, · VN

[23-25,5cm] Delgada trinta-réis de vasta distribuiçãono hemisfério setentrional, registrada 1986/88 na Lagoado Peixe, Rio Grande do Sul (S. M. Lara-Resende),Maricá, Rio de Janeiro (Teixeiraet aI. 1988) e Pernambu-co (Teixeira et aI. 1989). Um indivíduo anilhado emBerlim, Alemanha, em 1984, foi recuperado em Macau,Rio Ç;rande do Norte, em setembro de 1986.

TRINTA-RÉI;;-GRANDE, Pr. 14,2

43cm. Inconfundível pelo desenho das asas e peloconsiderável tamanho do bico amarelo-limão; pele nuada face e garganta vermelha, pés amarelos. Imaturo devértice pardacento e bico mais curto. bissilãbica=gãgâ", "ga-gaa", pode lembrar o corta-água. Vivenas praias de rios e lagos, onde nidificá em colônia jun-to com os trinta-réis-anões e corta-água; é comum naAmazônia; seus filhotes são estimados pelos índios doalto Xingu como xerimbabos (setembro). Ocorre meri-dionalmente até o Uruguai e Argentina; fora da épocareprodutiva também nos estuários e na costa. "Gaivo-ta", "Alâ" (juruna, Mato Grosso). V. e

TRINTA-RÉIS-DE-BICO-PRETO, Gelochelidon

36cm. Com aparência de um pequeno pelo bicocurto, possui porém a cauda bifurcada; alto da cabeça ebico negros, partes superiores cinzentas relativamenteescuras. Voa rente aos campos por trás das dunas.Insetívora, às vezes pesca como as outras trinta-réisembora não mergulhe apanhando a presa em vôo ra-sante. Nidifica em descampados barrentos logo apósterem secado depois de inundados durante as chuvas(estuário do Amazonas, agosto). Ocorre na costa atlân-tica da América do Sul, das Guianas à Argentina (inclu-sive Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul), também nosEstados Unidos e Velho Mundo.

TRINTA-RÉIS-DE-BICO-VERMELHO,

Pr. 14, 5

41cm. Espécie marinha meridional e comum, de bicoe pés escarlates, fora da época de reprodução com a fron-te branca; são comuns indivíduos de testa mesclada;

imaturo de partes superiores manchadas de pardo e biconegro; juvenis recém-saídos do ninho ostentam uma fai-xa pardacenta sobre a asa anterior e um desenho damesma cor nas terciárias e mesmo algumas manchasescuras no dorso; o vexilo externo de suas rêmiges e re-trizes é cinza-escuro e não claro. "tchirrik", "kizrrr".Ocorre da Terra do Fogo à Bahia; nidifica, por exemplo,no arquipélago deMacaé. Rio de Janeiro, em compa-nhia de (julho) e na ilha das Cagarras(ex-Estado da Guanabara); em 1986 existiam 17 áreas naBaía da Guanabara onde S. nidificou; a prin-cipal área foi a ponte Rio-Niteróí. (Maciel 1987). Ocorretambém na costa do Pacífico. "Gaivota". Mais robustaque e S. V.também S.

TRINTA-RÉIS-BOREAL, . VN

36cm. Visitante regular, de bico vermelho mais finodo que o do anterior; cabeça anterior branca durante odescanso reprodutivo, período no qual aparece no Bra-sil; penetra no interior do país subindo grandes rioscomo o Tocantins, o Araguaia (apanhamos um exem-plar perto de Aragarças, entre Goiás e Mato Grosso, emoutubro) ou o São Francisco (dois exemplares encontra-dos perto de Pirapora, Minas Gerais; ambos anilhadosnos EUA). Foram registrados no Brasil, de 1927 a 1987, .330 exemplares da espécie anilha dos nos EUA; 110 de-les foram capturados na Lagoa do Peixe desde 1984. Amaioria aparece entre novembro e fevereiro; havendoregistros contudo em todos os meses do ano; um exem-plar apanhado na Ilha das Flores, baía de Guanabara,em 01.IV1950, fora anilhado dezesseis anos antes emWeepecket Island, Massachusetts, EUA. Um indivíduoanilhado como filhote em 17 de junho de 1972 emSchleswig-Holstein, Alemanha, foi encontrado na praiada Cidreira, Rio Grande do Sul, em 10 de dezembro de1977. Nos últimos anos grandes concentrações de.5.

foram registradas na Lagoa do Peixe, avalian-do-se até 12.000 indivíduos que usaram a lagoa parapernoitar. Entre 1985 e 1987 foram lá anilhados 839 S.

descobrindo depois que a maioria era procedenteda costa leste dos EUA, entre Virgínia e Massachusetts.V a seguinte.

. ~.. .

TRINTA-RÉIS-ÁRTICO, VN

88cm. Visitante setentrional ao que parece pouco co-mum; extremamente semelhante à anterior mas de bico,tarsos (15,6 mm em vez de 18,9 mm) e dedos mais cur-tos, pés bem pequenos; cauda mais profundamente en-talhada nos indivíduos adultos. Mais pelágica que aanterior, parece não penetrar no continente em suas lon-gas migrações (v. figo 110). Dois exemplares anilhadosnos Estados Unidos foram apanhados no Rio de Janeiro(março) e em Santa Catarina (novembro); obtido no RioGrande do Sul (dezembro, março).

.1:.1

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336 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

-TRINTA-RÉIS-ANTÁRTICO, VS

38cm. Visitante subantártico raro; semelhante ao ante-rior mas com o lado inferior cinzento (não branco); regis-trado nas costas do Brasil apenas em plumagem de des-canso (com a fronte branca), durante o inverno austral;dois velhos registros para Santa Catarina e Rio de Janeiro.

TRINTA-RÉIS-DE-COROA-BRANCA,

35cm. Espécie meridional facilmente distinguível poruma larga faixa negra atrás dos olhos; lado inferior cin-zento, bico cor de laranja-rosada com banda preta sub-terminal; no subadulto o bico é negro de ponta amarela-da. "kit-kit", "kírit ...", É comum no RioGrande do Sul à beira-mar e nos banhados onde se re-produz (novembro), às vezes ao lado de usmaculipennis; excepcionalmente até o Rio de Janeiro.

TRINTA-RÉIS-DE-FORSTER*, e st i VN

[35,S-38,Scm]Do porte de S.hi undo com uma man-cha preta ocular. [Acidental, o único registro para o Bra-sil provém de um exemplar capturado em alto-mar, aolargo da costa de Pernambuco no século passado e de-positado no Museu Britânico (Sclater& Salvin 1871).]

TRINTA-RÉIS-RÓSEO*, e VN

[36,S-40cm] Do porte aproximado de S.hi undo. As-sinalado meridionalmente até a Bahia. Dezessete exem-plares anilha dos provenientes da América do Norte fo-ram recuperados no Pará e nordeste do país: Maranhão,Píauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernam-buco (Lara-Resende& Leal 1982).

TRINTA-RÉIS-DAS-ROCAS, e. . I

40cm. Espécie de ilhas oceânicas, único trinta-réis departes superiores negras, lembrando o talha-mar; frontee partes inferiores brancas; filhote cor de fuligempintalgado de branco. Forma grandes colônias no atoldas Rocas, Fernando de Noronha, Trindade, etc. NasRocas uma estimativa feita em março de 1982 situava apopulação reprodutiva em tomo de 120.000 aves (Antas1986).Ocorre acidentalmente na foz doAmazonas (Pará)."Trinta-réis-marinho=".

TRINTA-RÉIS-ANÃO, supe cili is Pr. 14,6

2Scm. O menor dos trinta-reis nacionais; durante areprodução de bico inteiramente amarelo; as 3", 4" e S"primárias externas anegradas, o que chama a atençãodurante oVÔO; no período de descanso com o vérticecinzento estriado de negro; imaturo com uma barra algo

anegrada sobre a asa, com a base e a ponta do bicoenegrecidas; os exemplares novos surgem com manchaspardas sobre a asa. "kit-kit" "uã-tetete". Nidificanas praias de rios caudalosos e de lagos, freqüentemen-te associada a t vive na Amazônia ao lado dobacurau-da-praia, Cho eiles pes isao qual se asseme-lha; ocasionalmente e durante as migrações (imaturos eadultos em plumagem invernal) atinge a costa, aí tam-bém reproduzindo no Rio Grande do Sul (Belton 1984):Ocorre dasCuiànas à Argentina, Bolívia e Colômbia;encontra-se às vezes com a espécie descrita abaixo (ex-Estado da Guanabara, dezembro)."Te-ne-nígu" (juruna,Mato Grosso).

TRINTA-RÉIS-MIÚDO*, n ill VN

[21-23cm] Bastante semelhante à anterior mas com obico curto e fino (29 a 34mm contra 3S a 40mm), sendo amandíbula totalmente negra durante o descanso repro-dutivo, período durante o qual vem ao Brasil. Apenasas duas primárias externas cinza-anegradas; imaturocom barras negras contrastantes sobre a asa e de biconegro. Restrito ao litoral; ocorre no Pará, Maranhão (ju-lho), Piauí, raras vezes até o Rio de Janeiro. Substitui

sup cil is na América do Norte e nas Antilhas.Antes considerada como subespécie de S.

TRINTA-RÉIS-REAL, n i Pr. 14,4

49cm. O maior dos trinta-réis; de penas nu cais arre-piadas, bicovermelho-alaranjadobem grosso e pés ne-gros; imaturo de vértice estriado, manto manchado, bicoe pés amarelados. Vive em pequenos bandos sobre asrochas costeiras (p. ex. Rio de Janeiro, julho); em pluma-gem de descanso com a cabeça anterior branca (perto deCabo Frio, Rio de Janeiro, em quase todos os meses doano (A. P.Leão). Ocorre no hemisfério setentrional (ondeprocria) até a Argentina. Indivíduos em plumagem re-produtiva (alto da cabeça negro) e jovens observados noUruguai (setembro / outubro) sugeriram haver nidificaçãonão muito longe. [O registro recente de nidificação da es-pécie na Laje de Santos, Sp,em 1993,confirma a esperadaatividade reprodutiva em litoral brasileiro (Neves 1994).]

TRINTA-RÉIS-DE-BICO-AMARELO, e gn

41cm. Espécie grande de bico amarelo, pés negrosde sola amarelada; alto da cabeça (incluindo a fronte,durante a reprodução) negro, plumagem nucal prolon-gada e arrepiada. Durante o descanso reprodutivo, queé muito extenso" com toda a parte supericr da cabeçabranca permanecendo o negro apenas ao redor dos olhos,no topete e em uma área que "liga" a ambos; o bico per-de a cor amarela viva. Imaturo e subadulto semelhan-tes, mas apenas com o píleo anterior branco e com umdesenho negro nas terciárias; bico de colorido muito

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.

LARIDAE 337

variável, tanto podendo ser amarelo manchado de ne-gro quanto negro de ponta amarela. Juvenis com dese-nho anegrado nas coberteiras superiores das asas.Nidifica desde as pequenas Antilhas até a Patagônia. Nacosta brasileira é comum da Bahia ao Rio Grande doSul, com poucas indicações sobre sua nidificação. Abun-dante no litoral meridional, achamos uma colônia daespécie (associada ae í e ) na ilha dos Pa-pagaios, em frente à Macaé (Rio de Janeiro), em julho de1963. Uma pequena colônia na Baía da Guanabara(Maciel1987) e uma grande no litoral do Espírito Santo,mista com . h undin , cujo número de ovos foi ava-liado em um milhar (Moureet l. 1985). O número deexemplares errantes aumenta periodicamente (Rio deJaneiro, Rio Grande do Sul), provavelmente por imigra-ção das populações uruguaias e argentinas (as quais têmbico mais longo) que se reproduzem entre setembro e ja-neiro. É o substituto austral de e s ndoicensis,espécieamplamente distribuída na América do Norte e na Euro-pa. [A maioria dos autores recentes preferem incluir.eu g como subespécie de sua representante boreal.]

TRINTA-RÉIS-DE-:-BANDO*, n icensis VN

[32-35cm] De bico menor (negro de ponta amarela)q.ue a anterior; um indivíduo anilhado no extremo suldos EUA (costa do Mississippi, julho de 1964) foi captu-rado no Rio Grande do Norte (agosto de 1966). Recente-mente coletados 4 espécimens na Baía da Guanabara emabril, maio, julho e setembro (Teixeiraet l. 1988). Sobreos espécimens citados na literatura para o Rio de Janei-ro (Pelzeln 1871), São Paulo (Pinto 1938) e Uruguai(Escalante 1973) provou-se serem os mesmos f>ertencen-tes a e gn e não à norte-americanas nd sís acufunnda.

ANDORINHA-DO-MAR-PRETA, nous siolidus

38cm. Ave de ilhas oceânicas e, ao contrário das trin-ta-réis, de cauda não bifurcada. Plumagem cor de fuli-

ibl et blio

Antas, P.T. Z. 1988. s III E l!, S. opol 95. ( hi undo,anílhamento)

Antas, P. T. Z., A. Filippini & Azevedo-Iunior, S. M. 1990. Il!, lot 13-17. us pi , primeiro registro para o

Brasil)"

Azevedo [unior,S. M., W. R. Telino Junior &.R M. de L. Neves. 1994.

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gem escura, vértice cinzento, fronte branca. Ocorre nos.Abrolhos. Fernando de Noronha, Atol das Rocas, Trin-dade, também Penedos de S. Pedro e S. Paulo, onde são,junto com A. ius e Sula l as únicas avesque reproduzem. Um exemplar morto na Barra da Tijuca,Rio de Janeiro, maio de 1987 (Teixeiraet . 1988). [Ou-tras aparições junto a costa foram relatadas por Souza(1993),Azevedo Junioret i. (1994), Moraes & Krul (1996)e Pacheco& Rajão (1995).] "Benedito" (Abrolhos) "Trin-ta-réis-escuro*". V pardelas, andorinhão-das-tormentase a espécie seguinte.

TRINTA-RÉIS-PRETO, nous inuius

[35-39cm] Menor que a anterior, vértice todo esbran-quiçado. Ocorre em Fernando de Noronha, Penedos deSão Pedra e-São Paulo, Trindade. Geralmente conside-rada como subespécie deA. t t .

GRAZINA, gis b

33cm. Única trinta-réis inteiramente branca-pura;mas de pele preta (v. Introdução: morfologia): bico ex-traordinariamente pontiagudo e negro, olhos grandes eescuros. nasal"rrãt, rrãt", "ga, ga, ga". Apanha pe-quenos peixes na superfície do mar, não se precipitandocomo outras espécies; pesca mais ao crespúsculo. Põeseu ovo sobre rochas, areia e, freqüentemente, naforquilha de um galho fino (devem se perder muitosdesses ovos), sem usar qualquer material de construção.O ovo é relativamente muito grande, pesa 34% dapoedeira (o ovo de pesa apenas 14%). Ofilhote tem longas garras fortíssimas e assim consegueficar agarrado tranquilamente durante algumas sema-nas no galhinho onde nasceu.É tão mansa que se deixapegar com a mão. Distribuição circun-equatorial, nosoceanos Atlântico, Índice e Pacífico. Ocorre em Fernandode Noronha e Trindade (onde o "pico das grazinas" jáconsta em mapas antigos). Abrolhos (de passagem)"Trínta-réis-branco't". V .

Cardiff, S. W. 1983. e G 73:185-92. , amazôniaperuana)'

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Page 89: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-02

338 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

I

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... -' '.

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RYNCHOPIDAE 339

CORTÁ-ÁGUAS: FAMíLIA RYNCHOPIDAE (1)

Aves aquáticas singulares, aparentadas aos Laridae;ocorrem também na África e na India (uma espécie dife-rente em cada uma das regiões). Não se conhecem fós-seis. Foi proposto recentemente incluir os Rynchopidaenos Laridae.

, espec

Bico de forma excepcional, único em toda a classe,sendo fortemente comprimido na lateral; a mandíbula émuito mais longa que a maxila, a qual possui um sulcopara o encaixe conveniente da primeira que se reduziua uma lâmina elástica, como um abridor de cartas,sulcada obliquamente. Supõe-se que os sulcos seriamum dispositivo para evitar movimentos laterais dafiníssima ranfoteca inferior submersa, oscilações provo-cadas pela pressão da água, à semelhança das superfíci-es de estabilização de asas de aviões. A maxila, porém,apresenta sulcos semelhantes, menos distintos e orien-tados em sentido diverso. O bico é bem abastecido deirrigação sanguínea e de nervos, o que possibilita a ori-entação tátil nas suas pescarias e facilita a regeneraçãoda ponta da mandíbula que às vezes quebra. Em cati-veiro a mandíbula cresce excessivamente demonstran-do como é intensa a pressão da água contra a ranfoteca.

A deformação natural do bico é de tal ordem que otalha-mar é incapaz de apanhar alimento no solo se nãovirar a cabeça de lado, mas pode apanhar pequenos ob-jetos à flor d'águaà feição dos trinta-réis. O ninhego teminicialmente o bico "normal", tirando a comida do bicodos pais ou apanhando-a no solo.

nchops é a única ave que possui uma pupila emforma de fenda, lembrando um gato - caráter sistemá-tico importante mas é difícil reconhecer a "utilidade":na pesçaria noturna que é guiada pelo tato do bico, ounas praias ensolaradas. Os olhos são pequenos, ao con-trário das corujas. Pés desproporcionalrnente pequenos,nadadeiras moderadamente desenvolvidas, quase nãosendo utilizadas. Macho maior que a fêmea.

CORTA-ÁGUA, TALHA-MAR, nigeFig. 112

SOem.Lembra uma gaivota, porém tem as asas maislongas e mais estreitas; cauda bifurcada. Partes superio-res preto-fuliginosas, fronte, margem posterior das asase partes inferiores brancas; o branco da ponta das se-cundárias é bem mais extenso nos espécimens meridio-nais (R.nige inte cedens que, setentrionalmente, chegamaté o rio das Mortes, Mato Grosso); bico e pés verme- .lhos, sendo a parte terminal do primeiro negra. Imaturode partes superiores fuliginosas, colar branco. "ga-a", monossilábica, ao contrário de ius gritam prin-

cipalmente à noite, sendo mais loquazes de madruga-da. Passam o dia na praia, de preferência em ilhas tran-qüilas de grandes rios, dormindo de bico abaixado, as-sumindo feitio único.

Fig.112.Corta-água, , "arando" a água.O esquema acimamostra a aproximaçãoà uma presasubmersa e, conseqüentemente,o abaixarda cabeçano ato de apanhar a presa (esquema segoZusi1962).

t , h bitos Quando quer pescar voa renteà água. mantendo o bico constantemente aberto, mergulhandode um a dois terços da mandíbula como se "arasse" aágua; o vôo tem de ser firme e absolutamente horizon-tal, para manter o bico em posição correta, e as batidasde asa de pouca amplitude para que as pontas das mes-mas não toquem a água. Desta maneira procura peixesmiúdos e camarões que apareçam logo abaixo da super-fície;quando a mandíbula toca em algo a ave frena, abrin-do a cauda, e fecha o bico abaixando a maxila; em atocontínuo costuma virar a cabeça para baixo e até paratrás por baixo dos flancos; logo depois estica o pescoçooutra vez para diante e engole a presa, sempre continu-ando em vôo. Sua eficiência na pescaria pode ser muitogrande: pegou p. ex. um peixinho a cada três segundos,durante seis minutos (Zusi 1959, no Texas). Nunca mer-gulha a sua cabeça em perseguição a um peixe.

Às vezes desce em espirais, de alguns metros de al-tura, a fim de capturar um peixe avistado de longe; nãodá pique como as trinta-réis, aproxima-se da presa emtrajetória horizontal e não vertical. Seu vôo é notavel-mente elegante e mais rápido do que o de uma gaivota.

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340 ORNITOLOGIA BRASÚ.EIRA

Pesca de' preferência ao crepúsculo e à noite tanto emáguas claras como turvas, profundas ou rasas, e às ve-

,- zes tão rasas que a mandíbula quase toca o fundo lodo-so ou arenoso. Não pesca entre plantas flutuantes, masaproveita poços pequenos, ~asos, em áreas inundadas(Pantanal, Mato Grosso). Afirma-se que bate o bico naágua para fazer com que peixinhos se mostrem, à feiçãoda pesca de promombó. Não tem fundamento a alega-ção de que a alimentação do consiste emplâncton. Nas praias do rio Trombetas, Pará, um

perseguiu um filhote recém-nascido de tarta-ruga como que se quisesse apanhá-lo - provavelmenteum ato de brincadeira.

Põe de dois a três ovos, densamente man-chados, em uma boa escavação na areia; vários casaisnidificam próximos, freqüentemente nas imediações deuma colônia de trinta-réis e, como estas, co-

Bibliografia Rynchopidae(Veja também a Bibliografia Geral)

Harrison, P. 1983. guide. London & Sidney:Croom Helm. (guia de campo)"

Pacheco,J. F. 1988. . 23:104-20. na baía deGuanabara)*

meçam a pôr logo que a praia natal esteja livre da en-chente anual (Amazônia). Quando um homem se apro-xima, numa canoa, da praia onde estão a nidificar, oscorta-água vêm logo ao seu encontro voando renteàágua em linha reta, para inspecionar a situação, ao con-trário das trinta-réis que sobem alto, voando em círcu-los, e se precipitam com ímpeto contra o intruso quan-do este se acerca dos ninhos ou dos filhotes, o que o ta-lha-mar geralmente não faz. Desta maneira os trinta-réisseriam uma "proteção" para os .

Vive nos grandes rios e lagos doBrasil; durante as migrações ocorre também na costa,pelo menos nos estuários (p. ex. no Espírito Santo, Riode Janeiro, São Paulo e Amapá); acidentalmente até aTerra do Fogo; também na América do Norte, onde ocor-re no litoral. "Bico-rasteiro", "Corta-mar", "Ga-gãnha"(Waurá, Mato Grosso), "Paaguaçu", "Talha-mar-preto'".

Schildmacher, H.1931. . 39:37-41. (morfologia do bico)Zusi, R. L.1959. 61:298. (eficiência de pesca)Zusi, R. L. 1962. the ín the

nig . Cambridge, Mass.: NuttallOrnith. Club. (Publ. 3)

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ORDEM COLUMBIFORMES

POMBAS, ROLAS, JURITIS e afins: FAMÍLIA COLUMBIDAE (23)

De vasta distribuição no planeta, provavelmente ori-ginaram-se na região tropical do Velho Mundo, tendoimigrado cedo para as Américas; estão muito bem representadas no Novo Mundo. Poucos registros fósseissendo o mais antigo do Mioceno Inferior da França (20milhões de anos); formas gigantes e não voadoras (Dodos)extintas há cerca de 300 anos das ilhas Mascarenhas (Oce-ano Índico a leste de Madagascar) atribuídos até agoraaos Columbiformes, aguardam uma nova classificação.

Os Columbidae constituem um grupo não artificialcujo parentesco com outras ordens ainda não foi esclare-cido; existem remotas semelhanças com os Psittaciformese com os Charadriiformes.

Homogênea e singular: cabeça pequena e redonda;bico fraco, na base coberto pela "cera" a qual é intumes-cida no pombo. Corpo pesado; plumagem cheia e ma-cia sendo rica em pó que mantém elástica a estruturamicroscópica da pena, substituindo assim a secreção daglândula uropigiana, a qual freqüentemente está ausen-te. Quando pombos tomam banho, a superfície da águalogo se cobre com o pó das suas penas (v. Tínamidae).As penas desprendem-se ao menor impacto.

Pernas e dedos moles e geralmente vermelhos; háluxbem desenvolvido, em adaptação à vida arbórea. Sexosusualmente semelhantes, macho de cor mais viva; di-morfismo sexual acentuado eme .

Possuem um desenho pronunciado na asa, designa-do como "espelho"; o pescoço às vezes destaca-se porapresentar belíssimos reflexos metálicos, sobretudo nopombo doméstico. Ocorre uma mutação canela("einamomo"), por exemplo em ambos os sexos de

.A popularidade de pombas e rolas resultou em uma

profusão de nomes regionais que criam autêntica con-fusão na medida em que chegam mesmo a se contradi-zer mutuamente quanto a seu significado.

As das espécies brasileiras comfreqüência reduzem-sequase que exclusivamente 'ao canto territorial o qualé esquernatizàdo e baixo, sendo emitido de bico fecha-do. Vozes de espécies do mesmo gênero são muito se-

melhantes, discernindo pelo timbre, ritmo e flexão; pe-culiares são as de e às vezes há dife-renças entre a voz dos sexos (p.ex, e Em

uma voz de alerta"chama aatenção,

O canto é entoado repetidamente durante o períodoreprodutivo, que costuma ser longã; no auge do acasa-lamento chegáa emiti-l o em plenanoite e de madrugada (noroeste da Bahia, agosto);Em-quanto que os machos das pombas silvestres vocalizam

. com freqüência na ausência de sua parceira para chamá-Ia, o pombo doméstico o faz mais quando a sua, ou qual-quer outra fêmea, se aproxima. Ocorrem rufar e baterde asas (v.Hábitos).

Normalmente granívoros e frugívoros, quase todosdescem ao solo para comer; com um rápido movimentodo bico viram as folhas mortas para descobrir sementese frutos caídos, sendo tal movimento (que é generaliza-.do, não observando uma determinada situação) utiliza-do também na extração de sementes caídas em uma fen-da, jogando assim os grãos ao plano para apanhá-losem seguida. Ingerem os grãos inteiros, sem quebrá-los,enchendo o papo onde se dá a digestão; desta maneiraos columbídeos tornam-se importantes díspersores deplantas uma vez que não trituram as sementes no estô-mago muito pequeno. São por isso facilmente envene-nados por sementes tratadas com inseticidas.

Dentre suas frutas prediletas estão as da canela-murici (Rio de Janeiro) e o aturiá estuá-rio 'do Amazonas, Pará); a pomba-galega aprecia o mar-melo e a asa-branca o feijão (Nordeste);

é atraída pela frutificação da taquara; é vozcorrente que a ingestão de erva-de-passarinho em quan-tidade torna amargosa a carne deColumba plumbea. Aavoante colhe, durante a reprodução, moluscos(Gastropoda) e diplópodes, aparentemente para satisfa-zer suas necessidades de cálcio; ambas as gon, alémde frutas e sementes, comem alguns insetos ..e outrosanimalejos. .

Acorrem em larga escala aos locais de terra "salina",os "barreiros" (Brasil Central, Paraná); no Nordeste fala-se de "lambedores", os quais são procurados pelas avo-antes e pombas-de-espelho. As paredes do inglúvio deuma coletada enquanto marisca em uma des-sas áreas, podem estar completamente revestidas de uma

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342 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

tênue camada de terra silicosa.São ávidos por beber procura mananciais

distantes até 30km - 40km), afluindo às margens dos rios,lagos e cacimbas; "sugam" a água sem levantar a cabe-ça ao contrário da maioria das aves, processo mais rápi-do e eficiente. Sugando executam uma peristáltica doesôfago, bombeando a água com o bicosubmerso.,Tinamidae, Psittacidae e aves netarívoras como beija-flores e certos Passeriformes como e usamuma técnica semelhante, também o bico-de-lacre

e os Coliidae da África. No altoXingu, Mato Grosso, entre 12 espécies de pombas (5 es-pécies de apenas C. veio regular-mente beber na beira do rio, de manhã e à tarde.

Voam bem, sendo o próprio pombo considerado ex-celente neste mister (v.sob falcão). temvôo rasante. Produzem um ruído sibilante, em parte pelapresença de rêmiges sonoras (p. ex. e

, que vive escondido nos estratos inferiores damata, tem vôo silencioso. Sobre bater de asas v. Repro-dução.

Movem-se no solo andando com passinhos miúdose rápidos; param a cabeça a cada passo dado, duranteum instante, a fim de observarem melhor as cercanias,no que se assemelham às galinhas; não saltitam nunca."Bocejam", como papagaios, beija-flores etc., sem inalarprofundamente, ao contrário de mamíferos. Não escon-dem a cabeça entre as penas do dorso para dormir. Gos-tam de tomar banho. E surpreendente em pombos, queapós o macho ter galado a fêmea, a fêmea amiúde" gala"o macho. .

trai seu nervosismo levantandouma ou ambas as asas. Quando o adversário é conside-rado mais fraco, a asa que se levanta é aquela voltadapara ele, em claro intuito de golpear, no caso contrário aasa acionada é a do lado oposto, sinal de submissão; noauge da excitação confusa, levanta as duas asas. Com-portamento semelhante se nota eme . Também os pombos chocam-se fustigan-do-se a golpes de asas. As juritis mostram ner-vosismo através do balançar da cauda.

As espécies pequenas florestais que são terrícolas,como e escapamfreqüentemente à observação. Qualquer columbídeo so-fre facilmente a indesejada "muda de susto" quando, p.ex. é capturada; caem asrêmiges e outras penas.

Durante o cortejo o macho faz reverências diante dafêmea etc.); osparceiros acariciam-se na cabeça alimentando-se mutu-amente com uma massa regurgitada do papo (sobretu-

. do momentos antes da cópula). Quando querem atrair aatenção enquanto voam batem o.slados dorsais das asaspor sobre o dorso (pombo, ambos os sexos, sendo talmais violento no macho); também a juriti bate as asas,intercalando os golpes entre os costumeiros gemidos.Há vôos de exibição, por exemplo emColu

ensis, C. e a primeiranão se cansa de voar ao redor de buritizais e matas degaleria (Bahia), freqüentemente deslizando com as asasenviesadas para cima tal como o pombo doméstico.

Os casais são inseparáveis. Fazem ninhos tão ralosque, olhando-se por debaixo, vêem-se os ovos atravésdo fundo. Neste caso a falta de.higiene torna-se útil namedida em que os dejetos dos ninhegos acumulam-sena plataforma de galhos dando maior estabilidade aoconjunto. gon mantém seu ninho limpo, engolin-do cascas de ovos e fezes dos filhotes.

Às vezes utilizam-se de ninhos abandonados de ou-tras aves; i e C. t , Geot n e

põem no solo (nem sempre), à feiçãodo que faz em parte de sua área de distribuição;esta última aprecia congregar-se em grupos que podemser enormes.É possível que aninhar no solo seja caráterprimordial da família.É o macho 'da d e que trazo material de ninho (Lordello 1954).

Põem geralmente dois ovos equipolares, de cor bran-ca-pura, sendo que speci C. culo , C.c e C. (Amazonas) põem apenas um;a postura deGe é pardacenta-clara ou rósea, ex-cepcionalmente branca. O casal choca com dedicação;cobrir os ovos ~ uma necessidade visto a falta de umacoloração protetora dos mesmos. Exceção éGeo goncujo colorido do ovo não cai na vista, permitindo umafastamento freqüente do casal. Simulam estarem feri-dos a fim de despistar um predador do ninho (p. ex.

, e Geo n cos-tume difundido entre espécies que nidificam ou que ti-veram antepassados que nidificavam no solo.

O período de incubação é de 16 a 19 dias para a(17 dias, C.li 14 dias as id u ,

c e e 12 a 13 dias aCo ine apenas 11dias a oni (que deve

estar perto do mínimo absoluto conhecido em matériade incubação). O macho de e choca desde dofinal da manhã até 16/17 horas quando é substituído .">.'.'pela fêmea.

Os nordestinos afirmam com insistência que o cho-co de processa-se pelo calor do ambiente, à re-velia dos pais, crendice curiosa mencionada já em 1877pelo escritor A. B. Menezes.

Os filhotes sãonidícolas," sendo alimentados pelospais com o "leite de papo", massa queijosa compostapelo epitélio digestivo do papo, que é fortemente de-senvolvido em ambos os sexos durante a época de cria-ção. Este "leite", regurgitado para ser recolhido pelosninhegos no bico dos pais, é rico em matéria gorda (25%a 30%), proteínas (10% a 15%) e lecitina (5%);não apre-

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COLUMBIDAE 343

sentando carboidratos; desta maneira o abastecimentoprotéico, absolutamente necessário p~r<l:os.iovens, égarantido, malgrado seus pais consumam exclusiva-mente matéria vegetal (v. também Alimentação). Leitede papo é produzido também pelos flamingos e pelomacho do pingüim-imperador. Outras aves substituemo leite por insetos.À medida que osninhegos vão cres-cendo são adicionadas sementes em tamanho crescente,conforme foi registrado na avoante (Bucher & Nores1973); abandonam o ninho com .quinze dias de idade

e Scardafella

com apenas 10 a 11dias. Certas espécies (p. ex.Columbinaprocriam durante o ano todo; usam às vezes o

mesmo ninho para posturas consecutivas. Em Brasíliaforam registrados durante 12 meses sete ciclosreprodutivos deCo (Couto 1985).

H

A maioria das espécies brasileiras, geralmente as me-nores, vive em regiões campestres, sendo beneficiadaspelo desmatamento e expansão das culturas; desta ma-neira formas do cerrado e da caatinga (como a avoante,a fogo-apagou e a picuí) começaram a invadir, por exem-plo, o Espírito Santo em face à "caatinguização" que aliocorre.

As rolinhas são as aves que mais se vê nas caatingas;em uma mesma área podem ocorrer oito espécies; algu-mas delas se adaptam perfeitamente à vida nas cidades,como é o exemplo de que se tornou ovolátil mais abundante em metrópoles como o Rio deJaneiro, superando mesmo o pardal.começa se aproveitar de áreas urbanas. V. também opombo domésticoea rola-de-coleira, iexótica. Espécies florestais corno C. e C.

vivem na mesma área mas são mutuamenteexclusivas quanto ao território.

Após a reprodução, a maioria associa-se em bandos,o que é mais acentuado em espécies campestres ou meiocampestres como, por exemplo, e C.

Anilhamento de C. em Poconé, MatoGrosso, revelou uma migração regular para o Chacoparaguaio (Yamashita& Valle 1985).

No sul do país as migrações coincidem com o outo-no e o inverno austrais; aparecem então em regiões ondenão são vistas em outros meses. 'Relata O. Pinto (1954)que aparece às vezes em grande abun-dância nas vizinhanças do Itatiaia. O mesmo consta para

no Espírito Santoa. F.Pacheco) e MatoGrosso (Yamashita& Valle 1985) e, naAmazônia com do qual são encon-trados migrantes perdidos nos arredores de Manaus (A.Whittaker). Ocorrem migrações verticais em serras como

. o Itatiaia A avoante é uma das pou-cas aves terrestres que colonizaram a ilha Fernando deNoronha. Fenômeno singular são as migrações periódi-cas de no nordeste do Brasil.

São com freqüência hospedeiros de pupíparos(Hippoboscidae), as chamadas "almas-de-pombo".

ennensise por exemplo, hospe-dam ,c e .. So-

bre a ocorrência de hemoparasitos e importância sani-tária v.pombo-doméstico. A red ução drástica da

na Argentina e Chile há 30 anos foi causadapor doença de e e infecção cutânea virótica(Cubillos et l. 1979, Casas& Pena 1987).

e suposto,declinio

Caem freqüentemente, vítimas de mamíferos carní-'voros e aves de rapina; as rolas (p. ex.

são apanhadas, enquanto dormem, pelo "fal-so-vampiro", , que devora toda apresa, começando pela cabeça (Peracchi &Alb.uquerque1976).

Os temporais podem causar mortandade entre aspombinhas foram encontradas, por exemplo, oito rolasmortas em um pequeno bambuzal após uma chuva degranizo (Nova Friburgo, Rio de Janeiro); outros pássa-ros haviam sido atingidos, a saber o joão-de-barro, acarnbaxirra, o sabiá, o coleiro e o tico-tico, porém emmenores proporções.Co , Geot gone outras pom-bas estão entre as aves que regularmente chocam-secontra paredes brancas de casas construídas nas ma-tas.

As pombas grandes são muito apreciadas como caça/a média em 1955 de uma família do Cariri (Ceará), decinco filhos entre 12 e 20 anos, é de 80 a 100 pombas e120 rolinhas por ano além de codornas e numerosos ro-edoresa. Moojen), O aparecimento em massa da avoan-te no Nordeste torna-se um valioso fator econômico; éentão a principal fonte de proteína dos habitantes,. ins-talando-se uma verdadeira "indústria" em sua explora-ção, com divisão de trabalho bem pronunciada, haven-do caçadores, depenadores e salgadores.

São perseguidas as espécies silvestres que causamprejuízos nas plantações novas, bem como os.po~bosdomésticos que provocam estragas nas cidades (SãoPaulo e Paraná). São envenenados porpestícidasao in-gerir sementes tratadas.

Entre as espécies silvestres que estão a escassear, estáis gode . O declínio de u , no

Nordeste, foi comparado com a extinção da pomba-mi-gratória, Ectopistes.A avoante é espécie sinântropa, con-

1.

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344 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

síderada praga na Argentina. O escasseamento da avo-ante no Nordeste é um problema local.

A reprodução em cativeiro de columbídeos nacio-nais, como a asa-branca, é promissora; era realizada tam-bém por índios do leste do Mato Grosso (Tapirapé). Aavoante, ave gregária acostumada a viver em grandesconcentrações, é uma das espécies menos exigentes paraa criação em ambiente confinado.

dosde espécies nteses)

As 23 espécies podem ser dispostas em oito conjun-tos diversos entre si, cada um representando um certotipo. Algumas formas do mesmo gênero assemelham-se de uma tal maneira ("espécies gêmeas") que seudiscernimento é difícil; por exemplo é o caso deti e L. e C. sub

e C. e G.para complicar ainda mais, às vezes, ambos os

membros de cada "par" vivem nas mesmas matas, po-dendo portanto ser simpátricos e sintópicos.

1.Espécies grandes: (8)2. Espécies médias:2.1 - (2)2.2 - (2)2.3 - (3)2.4 - (1)

8. Espécies pequenas:3.1 - (1)3.2 - (1)3.3 - Columbina (5)

POMBO, POMBO-DOMÉSTICO,

38cm. Introduzido no país já no século XVI como avedoméstica, continuou como tal tornando-se, entretanto,parcialmente selvagem, arisco e independente de cui-dados humanos, o que justifica sua inclusão na lista deaves do Brasil*.ISeria interessante verificar se em nossopaís haveria lugares onde nidificassem em rochas, dis-tante de moradias humanas. Vimos pombos apenas ex-cepcionalmente pousar em velhas pedreiras (Rio de Ja-neiro).

O pombo-doméstico, criado já há 5.000 anos pelosasiáticos, é descendente do pombo-bravo, li ,do Mediterrâneo europeu, de quem herdou o hábito deaninhar em rochedos, encontrando nas construções ci-

tadinas simulacro ideal dos mesmos. Hoje em dia, pou-sando no parapeito de janelas e esvoaçando nos pátiosentre os arranha-céus das grandes cidades, são essespombos as únicas aves a nos darem a alegria de sua pre-sença.

Ébem verdade que começam a cri-ar problemas, inclusive no Brasil, com a sujeira que fa-zem e com a possibilidade de transmitirem doenças.Estão sujeitos à doença de e, virose corrente emgalinheiros. Em um total de 455 indivíduos examinadosem São Paulo, 68 (ou seja, 14%) mostraram estar infecci-onados pelo protozoário l gondii há poucasreferências da toxoplasmose em aves do Brasil (p. ex. nagalinha-doméstica, no pardal e na saíra-beija-flor

es (Bueno et 1962, Bueno 1~68). Sãoatacados, tal como outras aves domésticas (galinhas,perus e patos), pela ornitose, enfermidade estreitamen-te relacionada com a psitacose, causada por uma

iEntre seus ectoparasitos são bem conhecidas as "al-

mas-de-pombo", hipobóscidos que atraem a atençãojsãodípteros do porte de uma mosca comum, achatados dor-so-ventralmente; existem em muitas aves (p. ex. atobáse rapineirosjj'deslizam ligeiramente sobre a plumagempara logo imiscuírem-se novamente entre a massa daspenas ou voarem para outro pombo; sugamexclusiva-,mente o sangue das aves.

A legítima "alma-de-pombo", nas Américas, éol nchi c , transmissora do hematozoárioo co o qual é designado como "para-

sito perfeito" na medida em que não prejudica seu hos-pedeiro/no Rio de Janeiro encontramos o pombo hos-pedando outro hippoboscidae: c pus As-sinalamos que o pombo inquieta-se quando um inseto,tal como uma mosca, esvoaça ao seu redor, como sepressentisse um mau agouro; o mesmo notamos noscracídeos.

O controle populacional deste columbídeo (e de ou-tros vertebrados tidos como pragas, inclusive os ratos)pode ser realizado atualmente pelo método menos bru-tal de administração de anticoncepcionais; tornam-seestéreis até mesmo filhotes "aleitados" por pais medi-camentados \~Sturtevant 1970; v. também pardal).

As origens da Columbofilia perdem-se notempo. Uma de suas atividades é a criação de raças or-namentais, passatempo sofisticado e caro; há cerca de140 raças oriundas de processos seletivos artificiais, to-dos sobre o pombo caseiro. Destacam-se, por exemplo,os "pombo-peruca", os "papos-de-vento", e os "rabo-de-leque", criados inclusive no Brasil. Há uma.Federa-ção Columbófila Internacional sediada na Bélgica.

O pombo-correio, um dos numerosos descendentesdo pombo-doméstico, foi usadojá na Anti9üidade como

Em cativeiroé freqüentemente criada a rola-de-coleira,eptopel dec octo,do Velho Mundo, a qual às vezes escapole ereproduz-se em liberdade, por exemplo em ilhas da de Guanabara (Rio de Janeiro).v. sob id icut .

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COLUMBIDAE 345

mensa:geiro. Os Fenícios, 1000 a.c., se aproveitaram dospombos-correio como bússola: o instinto dessas aves deregressar irriediãl:amente ao lugar da sua procedência,indicou aos navegadores, explorando mares desconhe-cidos, o rumo da pátria com mais precisão do que o sole as estrelas.

A função de mensageiro do pombo-correio é explo-rada até os nossos dias, como na última guerra mundi-al. É notável que atualmente em metrópoles da Europacom um trânsito intenso de veículo são mandadas amos-tras de sangue dentro de poucos minutos ao respectivolaboratório central por pombos-correio que possuem seupombal de criação naquele laboratório. A amostra desangue segue dentro de um tubinho preso no tarso dopombo.

Treinado para competição o pombo-correio vence800-1.000km por dia, desafiando os fisiologistas a expli-carem sua capacidade de orientação, problema bási-co também no caso das aves migratórias (v. p. ex.Charadriiformes). Ao contrário do que se poderia ima-ginar, chega-se hoje à conclusão que a visão desempe-nha papel insignificante em suas navegações aéreas, poisexemplares de pombo-correio têm regressado ocasional-mente à noite e até mesmo quando munidos de lentesde contato pouco transparentes; o fato é que o mecanis-mo de orientação do pombo-correio permanece desco-nhecido. A teoria que indica ser o campo magnético daterra o referencial no qual as aves se baseiam, até o mo-mento não foi bem explicada.

Os pombos-correio voam em média 50km/h, poden-do alcançar 66km/h. No Brasil registrou-se um recordeem 1972: o pombo "Jacuí" e outros dois realizaram vôosde Teresina (Piauí) a Belo Horizonte (Minas Gerais), dis-tantes 1.700km em linha reta e possivelmente 3.000kmem linha de vôo; para cobrir tal itinerário "Jacuí" gas-tou duas semanas, morrendo pouco depois. Outro re-corde foi um percurso efetuado de Corumbá (Mato Gros-so) a Porto Alegre o Grande do Sul), distantes1.500kmem linha reta, pelo pombo "ltati", que desperideu 34horas em tal tarefa. Recorde absoluto conseguiu"Charlie", procedente de Guernsey, Inglaterra, que em1986 atravessou o Atlântico (5.700 milhas) e pousou emFortaleza, Ceará, em boas condições físicas. Um pom-bo-correio procedente das Ilhas Canárias situadas nolitoral da África setentrional, foi capturado na costa doEspírito Santo, em 1990. Foi ventilado na época que aave havia "pegado carona" em navios. Esses vôos transa-tlânticos documentaram casos em que pombos-correio.se extraviaram.

As competições de tiro ao pombo têm provocado atri-tos entre os praticantes e os "ecologistas"; foram váriasvezes canceladas por proibição de autoridades locais.

Durante a edificação de Brasília foi construído em1961 um grande pombal na Esplanada dos Ministérios." Os e~cr,;men~os dos pombos, designados porcolumbina .consistem em adubo muito rico, semelhan-

te ao guano.

POMBA-TROCAL, Colu b speci Pr. 15,5

30cm. Uma das maiores espécies brasileiras, incon-"fundível pelo bico vermelho e pela aparência escamosade todo o pescoço; fêmea de dorso pardo-escuro em con-traste com o chocolate da cabeça. canto partido emcinco frases, alternando sílabas prolongadas com cur-tas: gelu glu-glú glu-gú glu-gú gu-glu-ú". Vive na mata,nas copas, embora aninhe na ramagem baixa. Ocorre doMéxico à Argentina e regiões quentes de todo o Brasil,com exceção do Rio Grande do Sul e de extensa porçãodo Nordeste. "Pomba-carijó", "Pomba-divina", "Pom-ba-pedrês". V as duas seguintes,

POMBA-DE-COLElRA-BRANCA *, Columba s

[33cm) Assinalada no Brasil, pela primeira vez noCerro Uei-tepui (Phelps & Phelps 1962). Região dosAndes, para o sul até a Argentina.

AsA-BRANCA, POMBÃO, Colu b p o

34cm. Maior dos columbídeos do Brasil, do porte dopombo~doméstico. Lado superior da asa atravessado poruma faixa branca mais visível em vôo; semicolar esca-moso restrito ao pescoço superior (ao contrário da ante-rior); anel perioftálmico com algum vermelho. can-to baixo, profundo e rouco, de três a quatro sílabas: "gu-gu-gúu", "gúu-gu-gu-gu". Vive nos capões, mata de ga-leria, caatinga; freqüentemente no solo; é migratória,como tantas outras pombas, estende seus domíniosa.companhando os desmatamentos aparecendo em quan-tidade. Ocorre do Nordeste ao Rio Grande do Sul, Goiás,Mato Grosso, Bolívia e Argentina; nas partes meridionaisdo país, é freqüentemente a única espécie de porte. ''Pom-ba-trocal", "Pomba-trocaz", "Pomba-carijó" (Rio Gran-de do Sul), "Pomba-verdadeira", "Pomba-asa-branca* .

POMBA-DO-0RVALHO,

_3.8cm. Grande, cinzento-escuro, asa cor de fuligemsalpicada de branco. Durante migrações associa-se comC. pi o. Espécie merídio-ocidental. Ocorre do sul doPeru à Argentina, Uruguai e Brasil no Rio Grande doSul (Parque Espinilho, nidificando, outubro). [Ocorrên-cia para o centro-leste do Paraná foi comunica da recen-temente (Anjos& Graf 1993).] "Pombão".

POMBA:GALEGA, Colu ennensis .

32cm. Geralmente a mais comum das espécies deporte nas baixadas quentes. Alto da cabeça, pescoço,manto e peito vináceos, resto da plumagem cinza-azulado, nuca com reflexos metálicos; pontas das retri-zes pardo-claras, ressaltando-se em vôo. semelhan-te à de C.speci porém mais alta e mais acelerada: "gu

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gúk-gúk~ Vive na orla da mata, pousa sobre árvo-res isoladas, por exemplo embaúbas, nas margens dosrios. Ocorre do México à Argentina e Uruguai; todo oBrasil. Associa-se em bandos fora da época de reprodu-ção. "Pomba-legítima", "Picuçaroba", "Pomba-mineira","Pocaçu", "Caçaroba", "Pomba-do-ar".

POMBA-AMARGOSA-DA-AMAZÔNIA,

22,8cm. Muito parecida com a descrita logo a seguir,sendo porém menor, de um vináceo intenso, com o man-to pardacento; vexilo interno das primárias castanho.

o ku-ú, ku-ú, u, ku-u, semelhante à de C. dosul, apenas mais alto e suave (é de porte menor), dife-rente da simpátrica C.p. . Vive na mata alta.Ocorre do Panamá à Bolívia e Brasil amazônico, inclusi-ve Mato Grosso (alto Xingu) e Maranhão. "Pomba-do-vinagre", "Pomba-botafogo*".

POMBA-AMARGOSA,

34cm, 231g. De tamanho avantajado e cauda bem lon-ga e larga; colorido cinza-plúmbeo quase uniforme, compequenas manchas claras e apagadas na base do pesco-ço posterior. canto forte de quatro sílabas distintas,"ku kú-ku ku" ("um só ficou"), com uma nota diatônica,proferido a cada cinco segundos; um gemer unissilábicorouco "rru" (advertência); v. a precedente. No auge daépoca de reprodução eleva-se acima das matas em vôode exibição; sobe bem a prumo descendo a seguir emespirais, deslizando, para empoleirar-se em outro ga-lho. Vive oculta nas copas frondosas da mata alta tantode locais frios (Serra do Mar e da Mantiqueira etc.) comoem quentes (p. ex. rio São Francisco, Minas Gerais). Ocor-re do Rio Grande do Sul à Bahia e por toda a Amazônia,onde encontra-se com a espécie gêmea, C. (v.sob Hábitat). "Picaçu", "Caçaroba", "Pomba-verdadei-ra", "Guaçuroba", "Was kost'die Kuh" {"quanto custa avaca?", colonos alemães no Espírito Santo).

AVOANTE, POMBA-DE-BANDO,

Pr. 15,3

21cm. Espécie campestre de formas delgadas que aovoar pode lembrar um maçarico. Duas faixas negrasquase horizontais nos lados da cabeça e algumas man-chas da mesma cor nas asas; retrizes (particularmenteas laterais) com amplo ápice branco, realçado por faixanegra ante-apical, que dá muito na vista quando a avepousa. Imaturo de cerca de três semanas de vida comcabeça, pescoço e asas triangularmente riscados de bran-co ou amarelado e uma grande nódoa branca no loro.

estrofe de quatro assobios baixos, sendo os doismedianos unidos: ú-ú u".

Vive no campo, inclusive o quase destituído de ve-getação mais alta; cerrado, caatinga, campos de culturae de pastoreio. Ocorre das Antilhas à Terra do Fogo;descontinuamente por todo o Brasil, inclusive a ilhaFernando de Noronha, onde é abundante; atingiu recen-temente o nordeste do Espírito Santo aproveitando-sedo desmatamento. "Ribaçã" (Rio Grande do Norte),"Pararé" (Mato Grosso), "Guaçuroba-pequena","Arribaçã", "Pomba-do-meio" (Rio Grande do Sul) emuitos outros nomes. Substitui meridionalmenten

da. América do Norte. e c, subespécie descrita da Ilha de Fernando de

Noronha, ocorre também no Nordeste, até Maranhão eBahia. V picui, que é menor e tem branco naasa. O nicho ecológico de é semelhan-te ao ocupado no Velho Mundo por espécies de

, v. sob pombo-doméstico.no este, g e A intervalos de

dois a três anos torna-se numerosíssima no Nordeste(Píauí, Ceará, Rio Grande dó Norte), surgindo de abril ajunho aos milhares e formando bandos compactos cujaafluência figura entre as mais espetaculares migraçõesde aves em todo mundo. Ao que parece são atraídas pelaabundante frutificação de marmelo oton sp.),ocorrente após as pesadas chuvas caídas usualmenteentre novembro e março, conforme foi verificado por A.Aguirre a quem devemos as primeiras melhores infor-mações acerca da espécie.

O padrão de recuperação de 26.000 avo antes anilha-dos mostrou uma movimentação dentro da caatinga damesma forma que as chuvas (Antas 1987). Foi o primei-ro caso de migração evidenciada pelo uso de anilhas noBrasil. A caatinga, situada na faixa pluviométrica anualmédia de 550 a 750mm, possui um padrão estacional dechuvas movendo-se do centro-oeste até o Rio Grandedo Norte. O trimestre mais chuvoso vai lentamente di-rigindo-se de sudoeste para nordeste. A chuva leva acaatinga a rebrotar, florescer, frutificar.É quando as se-mentes maturam e caem que inicia o período ideal paraa avoante, uma granívora de solo. Todas as recupera-ções de anilhados ocorreram dentro dos domínios dacaatinga.

A raça local no a "arribaçã",é a única a participar de tais migrações, cobre apenas oNordeste (Maranhão, Piauí, Ceará, Pernambuco, Bahiae Fernando de Noronha); ocorrem outras raças no estu-ário do Amazonas (Marajó, Mexiana), no Oeste (cam-pos de Santarém, etc.) e no Brasil meridional (da Bahiapara o Sul).

Na região acredita-se que a "arribação" vem daÁfrica de ultramar, e que" quanto mais se mata. maisaparece"; aos olhos dos matutos tal suposição é am-plamente confirmada pelo ocasional acúmulo decorpos de avoantes mortos lançados às praias. Foiavistado um casal deen i distante uns 50km deFernando de Noronha voando na direção da costanordestina (Oren 1984).

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COLUMBIDAE 347

..... .

Distinguem-se "pombais de comida", "pombais debebida" e "pombais de postura"; nestes últimos é quenidificam, no meio de macambiras, xique-xiques etc., noperíodo de março-junho. Um destes ajuntamentos podealongar-se por uma área de lkm x Skm (tamanho mé-dio), calculando-se de 60 a 70 dias o período de sua "ati-vidade". Os sertanejos perseguem as avoantes por to-dos os meios até mesmo à noite ("fachear"), principal-mente nos "pombais de bebida", que podem ser cacim-bas feitas na hora a fim de atraí-Ias. O cúmulo da bruta-lidade é que os "caçadores" costumam envenenar' a águadas cacimbas, usando um veneno que apenas atinge aspombas quando bebem, não as pessoas. Outro local ondeacorrem são os"lambedores" (v. sob Alimentação).

No Ceará um pombal "fraco", explorado no ano de1959, forneceu cerca de 100.000 peças em uma semana eao redor de 300.000 em vinte e um dias, total do tempoem que foi explorado; na Paraíba foi registrado, em 1953,que um único homem logrou abater 400 aves em umaúnica noite enquanto que um segundo, na mesma oca-sião, duplicou tal cifra. As avo antes, depois de salgadase secas (cada uma pesa então 60g), são enfardadas emvolumes de SOkg, 100.000 delas carregando um cami-nhão com capacidade de seis toneladas; os ovos são ven-didos aos litros. Conseqüentemente.fdurante certos pe-ríodos, estas pombas são um importante fator na alimen-tação e economia das populações locais. Há de citar-seigualmente o rico butim que representam para mamífe-ros, aves e répteis predadores que acorrem ao local.

i Enquanto no Nordeste aninham na areia,protegidas pela vegetação espinhosa ou em alturas des-de 0,20 m até 3 m, em Fernando de Noronha põem sobrelajes entre aves marinhas (atobás, andorinhas-do-mar-pretas, stolidus), fato que despertou a atenção jádos primeiros exploradores como por exemplo, Clauded' Abbeville; no estuário do Amazonas (ilha Mexiana)aninham também no chão entre a macega. Há regiõesonde constroem ninhos quer nas árvores quer no solo(p. ex. no Equador); no Rio Grande do Sul (1971) encon-tramos ninhos nas árvores; podemos dizer o mesmo paraSão Paulo (1949), Argentina e Venezpela. Pode ser quemodifique seus hábitos adaptando-se às alteraçõesambientais (desmatamento); segundo informações recen-tes, também põe ovos no solo em São Paulo e Paraná.Na Paraíba havia 6 ou 7 ninhos por metro quadrado (v.Ihering 1968). --

ci possí el declinio, É notável que noNordeste, apesar de suas concentrações, não tenha atéagora se tornado prejudicial, pois não há plantaçõescomo aquelas de soja. Come sementes de plantas bro-tando. Quando seu hábitat natural for alterado pela agri-cultura, é quase certo que venha a ser praga tal comoocorreu na Colômbia (em relação à soja) e na Argentina(Córdoba), para monoculturas como p. ex. a do sorgo;nesta área 85% de sua alimentaçãoé composta de grãoscultivados, sobretudo sorgo, trigo e painço (Bucher1970), sendo as aves sempre abundantes, havendo pom-

-

bais de um a cinco milhões de indivíduos. Acredita-seque não haveria uma implantação radical de monocul-turas no Nordeste, o que daria margem paraentornar-se um problema como está começando em plan-tações de soja no Paraná.A área favorável aos pombais no Nordeste brasileirodeve estar reduzida atualmente à metade da existenteno começo do século, quando quase todo o "polígonodas secas" lhe era propício à reprodução (Aguirre 1976).É necessário proteger certos ajuntamentos através deReservas a fim de perpetuar-se o espetáculo tipicamen-te nordestino da dinâmica das populações da avoante.É fenômeno local único que recorda os ajuntamentos dafamosa pomba migratória americana, Ectopistes

g ius, a qual assemelhava-se à nossa d e que,embora tenha sido uma das aves mais numerosas daTerra, foi extinta no começo deste século, sendo, apa-rentemente, dependente do efeito de grupos muito gran-des, que a simples redução de suas populações a algu-mas centenas já não bastasse para assegurar a sua so-brevivência. O caso da avo ante é diferente (v. Introdu-ção, Declínio). Propôs-se a criação de três reservas paraa proteção da arribação no Nordeste, compensando as-sim o fato de não haverem posturas todos os anos nosmesmos pombais (Aguirre 1976).

ROLINHA-DO-PLANALTO, nopisEn Am Pr. 44, 10

lS,Scm. Espécie rara do Brasil central; parecida àC.lp oii, porém com a cabeça castanha, coberteiras su-

periores da asa com nódoas azuis e coberteiras inferio-res das asas canela. Campo descoberto; no solo,à feiçãodas rolas comuns. Conhecida apenas através de poucosespécimens de museus. Mato Grosso (Cuiabá), sul deGoiás (Rio Verde) e Oeste de São Paulo (ltapura). [Umaresenha' de registros recentes e consideraçõesconservacionistas encontram-seem Collar et I. 1992."Pombinha-olho-azul", "Rolinha-brasileira "",

ROLINHA-CINZENTA,

lScm. Cabeça, pescoço e peito escamados de negro;rêmiges com cor de canela, tal como a espécie mencio-nada a seguir, sendo porém ainda mais terrícola, Locaiscampestres bem abertos, podendo portanto invadir ci-dades, por exemplo. Belém (Pará). Do sul dos EUA aonorte do Brasil, meridionalmente até a Bahia. .

ROLINHA-DE-ASA-CANELA,

14cm. Mais clara que C. c face inferior da asae base das rêmiges cor-de-canela, chamando a atençãoquando voa. Assustada agacha-se no solo. Localmentenos campos, restingas e caatingas, onde pode ser a I

I,

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pombinha mais comum; gosta de vegetação densa e bai-xa, ao contráriodaanterior, Parece não invadir cidades(p. ex. Rio de Janeiro). Do México ao Paraguai e Brasilmeridional e central. "Rolinha-cambute" (Rio Grandedo Sul), "Rolinha-caxexa" (Nordeste).

ROLA, ROLINHA, Pr. 15,2

17cm. Usualmente a mais conhecida das pombinhasbrasileiras. Macho de cabeça cinza-clara contrastante; ascoberteiras inferiores das asas são .exibidas amiúde,quando a ave ameaça ou se vê ameaça da (v. sob Hábi-tos). Imaturo com manchas amareladas na asa.can-to monótono seguido "u", "u-ut", séries de 6 a 16 pios,quase durante o ano inteiro. Vive em qualquer paisa-gem meio aberta, cafezais, brejos. Apesar de procuraralimento normalmente no solo, adapta-se perfeitamen-te à vida nas cidades, até mesmoà crescente verticaliza-ção das construções; explora os balcões e .as coberturas(plantados ou não), vasculha parapeitos, áreas de servi-ço e até o interior de salas de edifícios em qualquer altu-ra à procura de comida (é ignorado pelos pombos), ecomeça até a emitir ali seu canto territorial; voa do altode um edificio ao outro em vez de regressar ao solo, seuhábitat original; para lá deixa-se cair como de para-que-das, o que também é uma nova adaptação; nidifica nacidade (Rio) sobre vigas debaixo das telhas, em cober-turas de edifícios e em galpões; sucede que coloca seuninho num buraco de onde foi retirado um aparelho dear-condicionado. Tornou-se a ave mais abundante demetrópoles como o Rio de Janeiro. Encontra-se com ospombos no alto dos edifícios, mas menos com os par-dais que não vão a grandes alturas. Batem-se furiosa-mente entre si tentando tirar a comida umas das outras(v.sob Hábitos). Ocorre do México à Bolívia, Paraguai eArgentina; todo o Brasil. "Rola-caldo-de-feijão","Rolinha-comum", "Rola-cabocla" (paraíba), "Rolinha-roxa?",

ROLINHA-BRANCA, picui

16cm. Caracterizada de maneira inconfundível poruma grande área na asa e partes laterais da cauda bran-cas; alto da asa atravessada por uma faixa azul-negrabrilhante. canto bem típico, meia dúzia debissilábicos "gulú". Vive no campo com árvores esparsase também nas cidades; em certas regiões (p. ex. em Mi-nas Gerais) é abundante, sobretudo na caatinga. Ampliasua área de ocorrência seguindo o desmatamento; imi-grou assim há poucos anos para o noroeste do EspíritoSanto. Em regiões meridionais (Argentina, Rosário) tor-na-se praga, mas nem de longe é tão abundante tomo

. da Colômbiaà Bolívia, Chile; Argentinae Uruguai; Brasil ocidente-meridional e nor-oriental."Rolinha-pajeú" (Paraíba), "Rolinha-pintada", "Rolinha-picuí*".

POMBA DE-ESPELHO,

19cm. Nitidamente maior que as rolinhas anteriores.Macho cinza-azulado, com nódoas na asa e lados da cau-da negros; fêmea parda com as manchas alares casta-nhas e bico amarelado. canto - série de"ú ..." baixose simples. Vive à beira da mata, restinga etc.; tambémperto de habitações. Ocorre do México àArgentina, todoo Brasil. "Rola-azul", "Rola-vermelha" (respectivamen-te macho e fêmea; Nordeste), "Pararu-azult".

_ ":t ~

P ARARU, Am

23,5cm. Parecida com a anterior, sendo porém bemmaior. Macho com duas largas faixas alares transver-sais cúpreo-castanhas e lados da cauda brancos; fêmeaparda com as faixas da asa sépia-violáceas. cantocheio, "u-út". Vive escondida em matas fechadas,taquarais etc. no solo. Na região do Rio de Janeiro pre-dominantemente nas montanhas (Serra dos Orgãos,Itatiaia, etc.). Há meio século apresentava-se, nos arre-dores de Teresópolis (Rio de Janeiro), em bandos de 50 a100 indivíduos em novembro-dezembro quando otaquaruçu, a taquara e a criciúma carregavam-se de se-mentes, permanecendo até o outono. Nesses últimostempos vem escasseando sensivelmente embora tenhareaparecido em 1975, talvez devido ao ciclo da taquara.Ocorre do sul da Bahia a Santa Catarina (anteriormenteinclusive em taquarais do ex-Estado da Guanabara),Argentina (Misiones) e Paraguai. [Collaret . 1992sumarizam sua situação como espécie ameaçada.] "Pom-ba-espelho", "Pararu-espelho?".

ROLA-VAQUEIRA, Pr. 15,4

17cm. Perfeitamente caracterizada pela cauda longae graduada, de pontas brancas, pés e pálpebras amare-lo-enxofre. canto "wá-u ...", ao longe soando como"tü" ... " lembrando aquele de(Rhinocryptidae), sintópico. Ocorre em campos do Bra-sil central até oAmapá, Marajó, Nordeste, oeste de Mi-nas Gerais e Bolívia; anda pelo solo de rabo levantado(ao contrário de C. . "Rolinha-vaqueira'".

FOGO-APAGOU, Fig. 113

19,5cm. Particularíssima pela aparência escamosa;rêmiges com rufescente, bem visível em vôo, no que lem-bra C. lados da cauda brancosà feição de C.picui. canto característico, umtrissilábico "u gú-gú" ("fogo-apagou"). Emite um fortebarulho com as asas, o qual soa como chocalhado"prrrr(o)-tztztz" (daí o nome "rola-cascavel"). Vive nocampo seco, cerrado e jardins. Ocorre da Venezuela aoParaguai, Argentina (Misiones) e Brasil do Nordeste eBrasil Central a São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul;

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COLUMBIDAE 349

imigrou por volta de 1928 na região de Colatina (Espíri-to Santo). "Rolinha-carijó", "Pogo-pagô", "Rola-pedrês","Felix-cafofo" (Paraíba), "Paruru",

Fig. 113. Fogo-apagou, c d e s.squ

JURITI, ue e Pr. 15, 1

26,5cm. Espécie das mais conhecidas, é gêmea àque-la que descreveremos a seguir; em vôo destacam-se aspontas brancas das retrizes laterais e o acanelado da faceinferior das asas. o canto melancólico, bissilábico eascendente, soando tal qual uma pergunta:"u-zi" (ma-cho); prr-prr-prr-é" (fêmea). Vive em locais quen-tes; capoeiras (de onde incursiona ao campo), beira damata, cerrado; está ausente no alto da Serra do Mar (Riode Janeiro). Ocorre do sul dos EUA até a Bolívia e Ar-gentina, quase todo o Brasil."Pu-pú" (Rio Grande doSul), "[uriti-pupu=", V a seguinte.

GEMEDElRA,

[25cm] Extremamente parecidacom a anterior, sen-do localmente algo maior; fronte mais distintamentebranca, íris escura sem o anel alaranjado da anterior;pescoço posteriorazulado tendendo ao violáceo (e nãoverde-metálico como emL. e peito arroxeado.

seu canto consiste em um profundo gemido des-cendente: uu Vive em interior da mata secundária ou

og Colu bid eiog Ge l)

Aguirre,A. C. 1964. ntes do o este.Rio de Janeiro: Min.Agric.

Aguirre, A. C. 1975. sil o 24:59-68 ( n conteúdogástrico)'

primária, quer de baixadas quentes quer serranas, sen-do que nestas primeiras (p. ex. no ex-Estado da Guana-

:c bara) ao lado da espécie anterior. Ocorre da VenezuelaàBolívia, Argentina e Uruguai; e em grande parte do Bra-sil. "[uriti", "[uriti-gernedeira?".

PARIRI, Geot n nt n

24cm. Representante terrícola relativamente comum;gêmeo àquele descrito adiante. Conspícuo dimorfismosexual; macho ruivo-purpurino escuro nas partes supe-riores, lados da cabeça com linha horizontal esbranquí-çadas acima de uma segundaescura,partes inferioresocráceas e cauda castanha; fêmea pardo-olivácea.semelhante à deL. ill descendente, mais grave,baixo profundo, e mais prolongado lembrandoum apito de navio dentre a cerração; pode proferir essepio a cada três segundos, durante um minuto ou mais.Vive no interior da mata ou capoeirão; anda de bico umtanto abaixado, levanta vôo silenciosamente, empoleirabaixo; no solo lembra um uru ou um tinamídeo, facil-mente passando desapercebido. Ocorre do México àBolívia, Argentina e Paraguai; quase todo o Norte, Leste

. e Sul do Brasil. "Pomba-cabocla", "[uriti-vermelho","[uriti-píranga". V a seguinte.

JURITI-VERMELHA, gon uio

[23cm] Parecida com a anterior mas com a fronte es-branquiçada (à semelhança deL. ll ) e sem dese-nho contrastante na face; alto dorso intensamentevioláceo-purpurino (macho); barriga branca (vistosa nafêmea). Ocorre da América Central à Bolívia e Argenti-na (Misiones); Brasil oriental (de Alagoas ao Paraná),também no Pará (Belém); às vezes nas mesmas matasem que vive G. (p. ex. no norte do rio Doce,Espírito Santo), sendo bem menos conhecida que aque-la. [Registros para o alto Xingu (Pacheco& Bauer 1993)e Rondônia (D. F.Stotz) indicam uma distribuição ama-zônica mais ampla do que admitida atualmente.] "[uriti-da-mata", "Cabocla-violeta", "[uriti-roxa?".

JURITI-SAFlRA *, Geot gon

[24cm] Assinalado em Benjamin Constant, Amazo-nas (Willis 1987). Ocorre no Peru, Equador e Colômbia.

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ORDEM PSITTACIFORMES

ARARAS, MARACANÃS, PERIQUITOS, PAPAGAIOS e afins: FAMíLIA PSITTACIDAE (72)

Aves distribuídas pela zona tropical do globo, deonde se irradiaram a áreas subtropicais e até frias comoa Patagônia. Fósseis do Terciário (Mioceno, 25 milhõesde anos) da França e dos EUA e do Pleistoceno (20.000anos) do Brasil (Lagoa Santa, Minas Gerais); constituemfamília tão antiga que as especulações sobre sua filogeniatornam-se vagas; há certas relações com as pombas, con-clusão substanciada por recentes análises eletroforéti-cas da clara e das cascas de ovos dos respectivos gru-pos.

O Brasil é o país mais rico do mundo em Psittacidae,vivendo aqui inclusive seus maiores representantes, asararas. Nos primeiros mapas, de 1500 em diante, esta

. riqueza já era plenamente evidenciada, sendo nosso paísdesignado como "Terra dos Papagaios" si e te

g o .

Poucas são as ordens tão características, sendo suadiagnose possível de imediato, embora variem extrema-mente de tamanho, oscilando o peso dos representantesbrasileiros entre 25g (tuim) e l,5kg (araras). Contudo, secomparados aos Psittacidae da região australiana, osnossos são bastante homogêneos; isto se deve, parcial-mente, ao fato de a América do Sul, a qual permaneceuisolada por muito tempo, ser algo uniforme geografica-mente. No Brasil fogem do padrão o anacã e o papa-gaio-urubu. Sobre a uniformidade dos representantesneotropicais v. também Ectoparasitos.

Têm bico alto e recurvado lembrando o das rapinei-ras, tendo inclusive uma cera na base. Impressiona o pesoda cabeça de uma arara devido ao tamanho colossal dobico que, p. ex. numa arara de 940g atinge 180g (19% dopeso total da ave). Numa galinha-caipira de 1.220g a ca-beça pesa apenas cerca de 3%. Os papagaios são defini-dos como aves de "bico redondo". Maxila bem móvel,articulada ao crânio através de uma "dobradiça" quepossibilita movimentos extras que aumentam a potên-'cia do bico (a maxila de todas as Carinata é móvel atéum certo grau, que é usado para partirsementes duras; em representantes de porte, como

e pode formar-se um entalhe,maior ou menor, no meio dos tômios das mandíbulas;as variações desta incisão podem ser interpretadas comoum caráter individual quanto a uma decorrência da ida-de, alimentação ou mesmo sexo (no macho o entalhe

seria mais profundo). Ranfoteca da maxila pregueadainternamente, portanto com excrescências transversaisque prestam serviço natrituração de sementes na medi-da em que a língua, grossa, sensível e riquíssima empapilas gustativas, aperta o alimento de encontro às ra-nhuras, fixando-o e manobrando-o jeitosamente a fimde facilitar a ação da mandíbula ou do bico como umtodo em um trincar de uma peça mais dura. A mandí-bula pode executar um movimento horizontal, como umtrenó. A morfologia funcional do bico e da língua, anali-sando também o modo de beber, desperta um especialinteresse sistemático (Homberger 1980b).

2II,,I\\\\\\ \\ \, \

..Fig.114.Cinéticacraniana de uma arara.1. quadrado,2.barra jugal, 3.pterigóide,4. palatino. Linhatracejada:prolongamento do maxilar (pterigóideepalatino omitidos) (seg.Starck,ex.Peters 1987).

Papo grande, usado para armazenar durante horas aceva que será dada aos filhotes. P Roth concluiu que opapo de C.sp deve ser relativamente pequeno, umavez que a freqüência dos pais trazendo comida para osfilhotes é grande. Os Psitacídeos têm uma vista apura-da, possuem na retina duas fóveas para focalizar.. Tarso muito curto, com o quarto dedo (dedo exter-

no) deslocado para trás junto ao primeiro ("hálux"), emum pé zigodáctilo como p. ex., o dos pica-paus e tuca-nos. A grande habilidade dos dedos é controlada poruma musculatura peculiar (Berman 1984).

Asas compridas e fortes; a ararinha azul,C tsp i, é única no comprimento das asas e da cauda. Plu-magem curta, dura e rica em pó (v. o "moleiro"); glân-dula uropigiana tendendo a atrofiar-se e até a desapare-cer por completo (v.pombas). Exalam um cheiro típicoe forte, nas araras perceptível a mais de dois metros, po-dendo lembrar cheiro de mel, variando nos vários gêne-

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ros. O cheiro das cacatuas australianas é diferente. Cer-tos representantes, como desenvolvem pe-riodicamente um típico cheiro, ligado provavelmen-te ao ciclo reprodutivo; v. também sob alimentação:percepção de certos cheiros. Quanto ao colorido, nosrepresentantes brasileiros predomina o verde, havendofreqüentemente "sinais" vermelhos nas rêmiges, retri-zes, no encontro e! ou na borda das asas ou ainda nascoberteiras (sobretudo nas inferiores, v. p. ex.

causando notável efeito quando revela-das em vôo ou em cortejos nupciais. Fala-se ainda deum "espelho" alar constituído pelas secundárias (papa-gaios) ou pelas coberteiras superiores da asa (tuipara).Sobre indivíduos amarelos ou azuis v. "Alterações docolorido". Não há espécies brasileiras que desenvolve-ram um topete (a exemplo das cacatuas australianas).Mas há a tendência de formar um cocar, como aquelepresente em .

Região perioftálmica nua em extensão variada; ape-nas um círculo estreito freqüentemente destacado porcolorido vivo (p. ex. em , ,

e que pode ser realçadoainda mais por um segundo de plumas vivamente colo-ridas a região perioftálmica nua podeestender-se ao loro ou a toda a face emesmo à base da mandíbula. A faixa nua de pele intu-mescida que orla a base do bico (principalmente a man-díbula) é a principal característica dos .Na face nua freqüentemente restam linhas paralelas oucirculares de pequenas penas; a pele das partes glabrasgeralmente é branca (maioria das e

podendo ser amarela ,e mesmo denegrida ,

leucotis ehá diferenças na região perioftálmica em função do sexo(v.adiante). A pálpebra pode ter uma cor distintamentedestacável daquela do anel periocular

Reconhecemos para o Brasil seisespécies de ararasverdadeiras: três e

e três e v. Siste-mática.

do e

Os sexos são usualmente semelhantes, porém o ma-cho costuma ser mais robusto, principalmente no queconcerne ao bico, e com a cabeça mais quadrada, dife-renças mais apreciáveis em um casal adulto que estejalado a lado. Nas espécies rabilongas, sobretudo nasararas, o macho tem a cauda mais comprida (não con-fundir com araras novas, de cauda curta, voando, geral-mente, com os pais). Em o macho temo azul mais profundo e o mesmo observa se no verde de

cujo macho possui uma mancha de cor lilás nopeito. Diferença pronunciada na plumagem observa-setambém cujo macho tem um "cha-

péu vermelho" e no iue o qual, casomacho, desenvolve já como ninhego o uropígio azul queo caracterizará. Veja também os

É surpreendente que na América Central e no Méxi-co, possua dimorfismo sexual acen-tuado: onde apenas o macho apresenta vermelho na asa,situação esta ideal para levantamentos de campo.

Em indivíduos adultos a largurainterpúbíca. facil-mente palpável na ave viva pode ser diagnóstica: nomacho é estreita e na fêmea mais larga. Essas propor-ções anatômicas diferentes pode se ver às vezes até emindivíduos empoleirados: a distância dos pés é menorno macho. Servindo comocorrelação, o sexo nas codor-nas é diagnosticável através da morfometriada pelve óssea.

A identificação do sexo de papagaios sempre des-pertou o maior interesse entre criadores, pois os machossão tidos como melhores faladores. Chegamos a acredi-tar que tínhamos achado a chave para esse problemaperguntando aos índios - mas uma esiidesignada como macho pelos Iaulapiti do Xingu, doisanos mais tarde começou a pôr ovos. Existem hoje trêsmétodos seguros para identificar o sexo de uma ave semdimorfismo sexual externo: análises fecais, análises san-güíneas e laparoscopia ou endoscopia.

Aparentemente há dimorfismo sexual na variação dacor da íris em estudos realizados comdiversos exemplares mostraram que o macho possuiuma íris amarelo-alaranjada, enquanto na fêmea a írisassume uma coloração vermelho-alaranjada. Não se sabeainda, se este tipo de dimorfismo se estende às outrasespécies do gênero . Aqui somente poderemoster maior certeza se forem feitos exames laparoscópicosem representantes das diversas espécies. Não se trata,porém, de uma hipótese impossível, uma vez que emdiversas espécies dos Cacatuini australianos, o dimor-fismo sexual está justamente na diferença da coloraçãoda íris: os machos possuem uma íris negra, as fêmeasuma íris marrom-averrnelhada,

Para caracterizar, porém, a diversidade da coloraçãoda íris como dimorfismo sexual, temos que levar em con-sideração que esta pode estar relacionada com a idade;os exemplares do gênero e jovens, p.ex. têm a íris marrom passando a vermelho ou amarelo-alaranjado quando adultos. se tem a íris mar-rom-escuraatéa idade de meio ano, depois passa a ama-rela. Um canindé logo após ter superado a penugem doninhego é, quanto à plumagem, idêntico aos pais, pos-suindo contudo bordas escuras nas coberteitas das asase a íris marrom e não branca. Não é possível, contudo,generalizar a idade na qual a íris dos Psíttacídae recebesua coloração definitiva. Este processo diverge de gêne-ro para gênero, sendo que em alguns gêneros de indiví-duo para indivíduo. Em os indivíduos comcerca de 8 meses já apresentam a coloração definitiva daíris. Todos os imaturos da família Psittacidae têm a plu-magem menos vivamente colorida que a dos adultos.

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PSITTACIDAE 353

A variação de colorido da cabeça em papagaios.é individual, independente do sexo, sendo tal a

diversidade que não se encontram dois indivíduosiguais; note-se que o flavismo pode interferir. A colora-ção pode, contudo, variar até a ave alcançar a maturida-de sexualrumexemplar de pode ter umafaixa amarela na cabeça mais acentuada após a primei-ra muda, assim como a presença ou não de vermelho nobaixo dorso de está relacionada com aidade; a primeira plumagem dos filhotes da última nãoapresenta vermelho, sendo que com aproximadamenteum ano de vida começam a aparecer as primeiras penasvermelhas.

e do

A cor verde de vários Psittacidae brasileirosé às ve-zes substituída por um belo amarelo-rubro. A incidên-cia da luz na melanina reflete uma cor estrutural azulque sobreposta ao lipocromo amarelo, dá a impressãoda pena possuir uma coloração verde. O segundo efeitoaflora com a eliminação da melanina; tais indivíduos sãochamados "contrafeitos", termo citado já por Marcgraveem 1648.

Este fenômeno, cientificamente denominado de es-quizocroísrno e que provoca tanto o xantocroísmo(Meyer 1882) ou flavismo (eliminação parcial da mela-nina) como o luteinismo (eliminação total da melanina),ocorre tanto em natureza como em cativeiro; às vezesum irmão pode ser "normal" ao passo que o outro éamarelo, conforme registramos em re-tirados do ninho (Belém, Pará); por outro lado, observa-mos em um bando de trinta um indiví-duo amarelo com o habitual desenho vermelho, que seintegrava normalmente a seus congêneres e era seguidopor um jovem de colorido "normal" que pedinchava(Serra da Mantiqueira, Município de Camanducaia, sulde Minas Gerais, fevereiro de 1953). No.xantocroísmoou flavismo, as aves têm uma coloração arnarelo-esver-deada, chamada de canela pelos criadores, sendo que aíris possui a cor normal. No luteinismo, a ave possuiuma cor amarelo ouro, o tom das penas vermelhas se.intensifica e a írisé vermelha, lembrando o albinismo.Não é raro que, depois de alguns anos de cativeiro, cer-tos psitacídeos maculem-se de amarelo; outrossim aspenas amarelas porventura existentes em espécimes ca-tivos podem ser substituídas por outras normais namuda subseqüente. Este fenômeno está ligado a umaalimentação excessivamente gordurosa, que favorece aaspiração de maior quantidade de lipocromos pela penaem crescimento. Uma vez que a alimentação da ave émelhor balanceada, as penas voltam à sua coloraçãonormal verde.

Observamos xantocroísmo, por exemplo, g. frontalis, ieucotis,

(em cativeiro), sp.,

, hueiii. , .. , . . [arinosa e , sendo qua'0 mesmo ocorre também em araras Exemplaresluteinísticos foram às vezes considerados novas espé-cies, P: ex. . O esquizocroísmo ébem conhecido no periquito-australianov. apêndice) do qual criou-se uma raça amarela há tem-pos, e no canário-do-reino.

Tem sido verificado que o "cianismo" (cor estrutu-ral azul aparecendo através da incidência da luz naspenas) ocorre, p. ex. em uma população selvagem de

(alto da Serra de Cubatão, São Paulo) daqual os exemplares capturados-reproduziram-se em ca-tiveiro; a mesma mutação ocorreu na descendência deum casal "normal" da mesma espécie, no Zoológico deMunique, no começo do século. Observou-se ainda estetipo de mutação e ,

, , e _Também existem periquitos aus-

tralianos azuis. A eliminação parcial do pigmento ("azul-pastel") já foi observada em e

. Ocorrem mutantes pálidos p. ex. em(o azul e o verde tomam-se muito

claros ao passo que o vermelho não sofre qualquer alte-ração) e em Nesses estudos contamos com acolaboração de Frauke Allmenroeder, Rio de Janeiro.

Antigos exploradores corno Gabriel Soares de Sou-za, séc. XVI, La Condamine, séc. XVIII e Spix e Martius(1823) mencionam uma técnica, conhecida pelo nomede "tapiragem", que seria utilizada pelos indígenas, prin-cipalmente da Amazônia (há também um registro paraSanta Catarina, Pemetty, séc. XVIII), para provocar arti-ficialmente a coloração amarela, adorada pelos silvÍcolas.Relataram os viajantes que o processo consistia em ar-rancar as penas da asa e da cauda de papagaios na épo-ca da muda, friccionando-se fortemente o local commateriais ricos em carotenóides; uns referem-se a gor-dura e ao sangue de rãs (provavelmente

, usados pelos tupinambás, enquanto ou-tros citam a "banha" de peixes como a pirarara,

í , substância vermelha utili-zada pelas tribos do Araguaia; fala-se também em apli-cações de gordura do boto Dizem que aspenas nasceriam amarelas depois de algum tempo detratamento sendo então, por sua vez, arrancadas; as pe-nas seguintes nasceriam também amarelas sem que hou-vesse necessidade de intervenção. Assinalam tambémque efeito similar seria obtido com matéria vegetal(raízes e frutos) dadas como alimento. Não é sempre cla-ro se essas informações provêm de observações pessoaisdos autores ou se estes apenas citaram outros naturalis-tas viajantes ou os próprios índios; sabe-se, porém, queestes últimos costumam manter segredo de certas técni-cas. A. R. Wallace (1853, 1864), que descreveu a tapiragemdos índios Uaupés, registrou mais tarde o mesmo fenô-meno provocado por aborígenes das ilhas Molucas, re-gião oriental, em papagaios locais.

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354 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

o tópico foi pesquisado por G. G. Villela (1968); astentativas de reproduzir alterações do colorido atravésdessa técnica, sob condições controladas cientificamen-te, falharam, o que veio reforçar a conclusão a que che-garam muitos de que a "tapiragem" nem mesmo che-gou'a existir. Contudo podemos afirmar, por experiên-cia própria com material museológico, que parece ha-ver mais materialluteinístico nas coleções de plumáriado que seria de esperar em condições naturais; as penasem questão são mais comumente rêmiges e retrizes depapagaios embora tenhamos visto tambémretrizes de arara inteiramente amarelas; o vermelho, cornatural nestas aves (p. ex. nódoas das caudais dos papa-gaios), é conservado ou até realçado nos indivíduos con-trafeitos, por exemplo nas bordas de penas dorsais

Deve-se dizer que os pigmentos, quer ama-relos quer vermelhos, dos psitacídeos são ainda mal co-nhecidos.

Concluímos que os índios possuíram, e ainda possu-em, uma técnica correspondente à clássica tapiragem,ou seja, uma fonte controlada de produção de penasamarelas que, ao lado das vermelhas, foram sempre asmais cobiçadas, objetos de posse ou permuta dos maiscotados. Emboraa ocorrência de plumas alteradas sejamais freqüente em coleções antigas, tivemos oportuni-dade de encontrar material recente que bem poderia serproduto de modificações cromáticas artificiais.

É difícil imaginar como alterar a coloração de umapena sem introduzir um pigmento por via oral, antes damuda. Os criadores misturam carotenóides à alirp-enta-ção dos guarás, canários etc. para intensificar a colora-ção das penas. Outro processo usado é dar azeite dedendê à ave, causando uma coloração amarela intensamas provocando lesões hepáticas sérias. Os pigmentosingeridos são depositados pelo sangue na pena em cres-cimento. .

Existe um processo largamente divulgado entre oscomerciantes ilegais de aves silvestres: as penas, já to-talmente desenvolvidas, são descoradas, provavelmen-te com água oxigenada. É comum ver indivíduo de

totalmente descorados, apenascom as rêmiges na cor original verde, que são então ven-didos como filhotes de ararajuba, demaior valor comercial. Logo após a primeira muda, con-tudo, as penas nascem na cor original e, até' que a mudase complete, a ave apresenta uma plumagem mescladade verde e amarelo.É comum, também ver indivíduosde nobilis com o rabo cortado e a testa desco-rada, para serem vendidos como filhotes de

(C. E; S. Carvalho).

Os Psittacidae americanos passam por serem muitobarulhentos; entre as vozes mais fortes estão, além dasararas, o grito de Distinguir os gritos das

diversas espécies de periquitos, papagaios e araras re-quer prática longa e constante; certas vozes de cada es-pécie servem à diagnose, sobretudo aquelas emitidasdurante o vôo. Geralmente é possível reconhecer os gê-neros, caso estes exprimam um parentesco real, isto é,não sejam "artificiais" comoP: ex. atualmente o gênero

no qual foram incluídos representantes comoeP

e nobilis, aves de vocalização inteiramentediversa das araras, assemelhando-se mais às(v. abaixo, Sistemática). A vocalização das araras verda-deiras é única e impressionante, tal qual formulada porJoão Guimarães Rosa: "Avista-se o grito das araras".Éevidente que nem a voz nem o comportamento confir-mam a inclusão do guaruba no gênero g , comohoje geralmente aceito. O tipo de vocalização chamaatenção de que necessitamos de mais pesquisas paraesclarecer a posição sistemática desses representantes.O repertório natural de uma é rico; foramregistrados P: ex. de . do México, mais de 25gritos diferentes (Levinson 1980).

Há duetos do casal (p. ex. do is, etambém do canindé). As estrofes do sabiacica lembramo canto do sabiá. Um canindé de quatorze meses aindanão é capaz de pronunciar o vigoroso "arara" dos adul-tos. Os papagaios desenvolvem maior .atividade palra-tória e cantora nos dormitórios coletivos onde culmi-nam em estonteante gritaria; em cativeiro estimulam-secom qualquer ruído, por exemplo o da água caindo deum chuveiro; "maitaca" ou "maritaca" é alcunha de umapessoa que fala demais; fala como uma "maritaca" (Mi-nas Gerais).

A disposição de imitar sons quaisquer manifesta-seraras vezes em indivíduos selvagens; ouvimos umamaitaca, imitando o crocitar dos tuca-nos, embora em volume mais fraco que o modelo (Xingu,Mato Grosso, em 1951), e um fazendo omesmo, só que com perfeição, em relação ao anu-preto(norte do rio Doce, Espírito Santo, em 1954). Uma

semi-domesticada surpreendeu-nos com aimitação perfeita de um vivendo nosarredores. Um sob as mesmas condições, imi-tou as várias vocalizações de um bentevi no quintal. Pa-pagaios selvagens não aprendem a imitar tanto comoxerimbabos uma vez que falta a 'eles a reiteração inces-sante da respectiva vocalização estranha, aplicada aosindivíduos em cativeiro. Prova indireta disso foi umpapagaio "falador", entregue por algum tempo a umveterinário que não falou com ele: o papagaio deixoude falar. Em Trinidad foram registra dos, no canto dacurica, dialetos peculiares a certas populações, impli-cando vasta imitação em natureza (Nottebohm&Nottebohm 1969). Existem poucas vozes de susto e alar- .me (p. ex. O pedinchar dos filhotes é caracte-rístico. (v.

Diversas espécies e sobretudo certos indivíduos,aprendem a pronunciar palavras, imitar músicas, latir,

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PSITTACIDAE 355

tossir, rir, etc., com perfeição, (assinalamos essa facul-dade também no alma-de-gato, Cuculidae), e que Ihes-granjeiam a posição de companheiros favoritos do ho-mem, tanto mais que se amansam perfeitamente. O me-lhor falador dentre os psitacídeos nacionais é o papa-gaio-verdadeiro, estiu ,treinado desde peque-no; continuam, contudo, a aprender por vários anos ha-vendo também no sucesso ou fracasso na habilidade aparcela de capacidade individual. Há bons faladorestambém em outras espécies, comoP: ex.nobilis, etambém as araras, periquitos (p. ex. ,

e o anacã e outros aprendem a profe-rir palavras. "Compreendem" também a situação de umatal maneira que parecem agir com lógica, embora seufalar geralmente não passe de puro arremedo. Devemos,enfatizar que os psitacídeos estão aptos ao "arremedocondicionado". Esta habilidade pode ser comprovadaquando o papagaio grita "alô" ao tocar o telefone ougrita "gostoso" ao esperar um alimento pelo qual temespecial preferência ou ainda gritar "entra" ao ouvir acampainha tocar. Chegam a causar escândalo ao pronun-ciarem frases obscenas e palavrões; no alto Amazonasfreiras Salesianas ensinaram a um papagaio a rezar ohino religioso "13 de maio". Coisa deveras impressio-nante é quando papagaios "falam" em língua desconhe-cida;o conde Maurício de Nassau, em Pernambuco (sé-culo XVII) chegou a empregar um intérprete para en-tender um que falava em tupi, enquanto que Alexandervon Humboldt conta acerca de um outro que proferiapalavras em língua de uma tribo já extinta.

Não há dúvida que estão entre as aves mais "inteli-gentes" do mundo. A "cerebralização", a complexidadedo encéfalo, de uma arara (peso dos hemisférios cere-brais/peso do tronco cerebral) é, segundo Portmann(1947) de 28,07 (índice intracerebral); alcançando o ní-vel mais alto da classe, superando mesmo aquele dosCorvidae (Passeriformes). O índice mais baixo apuradoé o da galinha (2,9) enquanto que uma ave de rapinaatinge 8,3. Estão sendo feitas pesquisas a fim de testaras faculdades mentais dos papagaios; um

, por exemplo, aprendeu, experimentalmente, adiscernir sete figuras e números de pontos para conse-guir um petisco escondido em uma vasilha tampada;até mesmo um indivíduo de mais de 40 anos mostrou-se ainda altamente capaz nestes experimentos, embora:não tivesse alcançado o êxito de um exemplar jovem damesma espécie.

As vozes dos papagaios e araras são fortíssimas eacontece na cidade que moradores se queixamà políciade que um papagaio "emite sons selvagens antes de 6horas da manhã, perturbando o sossego público."

,

Procuram seu alimento tanto nas copas das árvoresmais altas, p. ex. sapucaieiras, como em certos arbustos

.frutíferos. Trepando na ramaria utilizam o bico comoum terceiro pé; usam as patas para segurar a comida,levando-a à boca; sobre "canhotos" v. sob Hábitos.

Gostam das sementes e não da polpa das frutas, che-gando até mesmo a desprezar esta última, modo profu-so de comer; g n e .comem a polpa do caju. São atraídos por árvores frutífe-ras como mangueiras, jaboticabeiras, goiabeiras, laran-jeiras e mamoeiros; é admirável como certas fruteirasisoladas são freqüentadas, na frutificação, por anos a fio,exigindo uma boa orientação dos seus "fregueses". Talfonte temporária exige às vezes extensos deslocamen-tos. Desta maneira certas espécies aparecem apenas pe-riodicamente e, após se fartarem, somem para regiõesdesconhecidas onde irão reproduzir-se. Observamos nonordeste do Brasil que, durante as chuvas, quando hámais fontes de alimentação, as araras encontram-se.maisespalhadas.

Os cocos de muitas palmeiras, sobretudo do buritii mas também o tucum bocaiúva

spp.), carandá (Co e acuri, cons-tituem sua alimentação predileta, sendo apanhados àsvezes até mesmo no solo, quer tombados pelo fogo, querpor estare.m maduros. A arara-azul-grande coire pelosolo para apanhar os cocos de palmeiras acaules como acatolé , uma piaçaba ou eum tucum arbustivo o dentre o cerrado nasimediações dos buritizais (Bahia). No Pantanal, MatoGrosso, desce ao solo paracolher os coquinhos da acurí cheele e ,regurgitados pelo gado (A.P. Leão). Tornou-se evidenteque . tem o costume de abrir os cocos damacaúba, oco spp., palmeira de vastíssima distri-buição no Brasil Central, pátria dessa arara, usando umpedaço de madeira como instrumento, fixando-o namaxila (Hohenstein 1987). Tivemos a oportunidade deobservar de bem perto esse procedimento original. Vá-rios indivíduos dessa arara, mantidos em cativeiro emdiferentes lugares da Europa, confrontados com os men-cionados cocos, procederam, independentemente, damesma maneira. Na caatingano chus colheos cocos da licuri , também no chão.Diversas espécies procuram os coquinhos do palmito

edulis), e apreciam as sementes do dendezeiroguineensis) e do jaracatiá

aprecia os cocos de bacuri oni insignis)e frutos de combaru, jatobá e e mando vi e, so-bretudo, do pequi(C ensis), árvore típica doBrasil Central e do maior valor para os indígenas; afir-mam os caçadores experimentados que os frutos procu-rados pelos Psittacidae são saudáveis também para ohomem. Entretanto,foi observado em Frias (Argentina)

comendo frutos deos quais são-citados, na bibliografia especializada, comovenenosos. Gostam de frutos muito amargos para nós.Os Psitacídeos trituram os caroços, destruindo as semen-tes, tornando-se "predadores"; não contribuindoà dis-

. ~

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356 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

pe~ão das pJ..an1âs.e outros, procuram os frutos da

imbaúba.Também as espécies de bico mais possante gostam

de caroços ainda moles, verdoengos, p. ex. das sapucaiase das castanhas-da-pará; figura entre ospsitacíd eos mais constantemente presentes noscastanhais Ela leva o grande frutoredondo (de até dois quilogramas) a alguns galhos hori-zontais onde segura o "ouriço" com os possantes pés eabre um buraco redondo na casca, chegando finalmenteas sementes que estão se formando, são moles ainda, etira-os em pedaços, com o longo bico. Abrir certos caro-ços duríssimos com uma técnica perfeita é a arte demuitos psitacídeos. Em cativeiro, uma

arrebentou cocos-da-baía segurando-os nasplacas de germinação e batendo-os com toda a força deencontro ao chão cimentado; sobre o uso do bico v. tam-bém em Morfologia.

As eentre outros, comem brotos, flores e folhas tenras, in-clusive as de coqueiro. Procuram milharais, bananais,cafezais e cacauais; vem aos arrozais, visita-dos na Amazônia por maitacas (Pionus e P.fuscusi. vem aos capinzais. ecostumam comer no solo, correndo habilmente sobre aterra recém-arada, tal qual pombinhas, à busca de ali-mento; também vai ao solo para comersementes de certas plantas baixas do cerrado.

come os cones de elliottii e gosta, comotantas outras aves, da pimenta-malagueta

foi visto roer as pontasdos altos eucaliptos, reduzindo-os a situação de aparentedecrepitude (Pinto 1947). No sul os pinhões e as fruti-nhas do pinho-bravo constituemapreciável atrativo, p. ex. para e .

corta a ponta de ramos carre-gadinhos de frutinhas das spp. (Myrsinaceae)e os leva até o bico com um dos pés. A mesma técnicaadotam [ront etambém para comer flores. A posição terminal dosfrutos nos galhos é uma estratégia da planta paraatrair os dispersares das sementes como aves;psitacídeos são destruidores, sob o ponto de vista da -,dispersão.

No alto rio Negro (rioUaupés, Amazonas), descembandos de papagaios nas cachoeiras no meio dos rios afim de se aproveitarem dos muitos animalejos que seacham nas Podostemonaceae, crescendo sobre rochascobertas por fina camada de água corrente; gostam tam-bém dos minúsculos frutinhos dessas plantas muito pe-culiares. O mesmo vimos fazer [rontalis, nascataratas do Iguaçu (Paraná). No rio Aripuanã (altoMadeira, Mato Grosso) chrfsopierus pesca al-gas e caramujos aquáticos (Roth 1982) e há ainda maisobservações sobre a ingestão de moluscos, vermes e lar-

vas de besouros. Assim sendo nãoé de admirar que pa-pagaios em cativeiro mostrem grande atração pela lar-va de carne e ossos, nem desprezandocarne podre. Consta que, no interior do país, em temposantigos, filhotes de papagaios foram alimentados comsangue. Lembramos que o Kea, da NovaZelândia é de fato carnívoro. No cerrado de Minas Ge-rais um bando de apanhou no substratocupins alados saindo de um cupinzeiro terrestre;é pos-sível que os periquitos já tinham entrado em contato comcupins quando escavaram seu ninho num cupinzeiroarbóreo (Sazima 1989).

Acorrem em quantidade aos "barreiras", situados namata, os barrancos ribeirinhos salobres (durante a seca)para comer terra, quer periquitos, quer papagaios ouararas (Mato Grosso, Amazonas, Pará; v. também pom-bos); é muito divertido vê-Ias andar tronchamente pelosolo com suas pernas extremamente curtas e pés gran-des virados para dentro ("periquitar" - andar com péspara dentro). Nos barrancos salobres ficam agarradosna superfície vertical, se apoiando pela cauda, dandoum espetáculo sem igual em lugares ensolarados, princi-palmente araras vermelhas; podem se encontrar ali

e . A análise da terra de umbarreira no rio das Mortes, Mato Grosso, chama a aten-ção pelo teor elevado de sódio (Na) e magnésio (Mg),não contendo cloretos. No Pantanal, MT, araras azuisprocuram coxos com sal (NaCl) para o gado.É vital paraqualquer Psittacidae ingerir pedrinhas.

Os Psittacidae possuem as papilas gustativas maisnumerosas (300 a 400) e as mais diferenciadas de to-das as aves; os pombos chegam apenas a 50-75 delas,sendo contudo quase tão sensíveis quanto os papa-gaios; a maioria das aves tem cerca de 100-200 papilas(Rensch& Neunzig 1925). Os Psittacidae repudiam o"gosto" amargo ao contrário, p. ex., dos Emberizidae;seja aqui dito que as aves discernem as mesmas qua-lidades gustativas que nós, ou seja, salgado, azedo,amargo e doce, sendo-lhes este último quase sempreatrativo. Existe boa evidência de que papagaios

localizam um alimento cobiçado escondido apouca distância, farejando. Os bulbos olfatórios deum são pequenos (Bang&Cobb 1968).

Descem de manhã e à tarde à margem de lagos parabeber, vindos às vezes de longe (p. ex. be-bem a água da chuva depositada em ocos de árvores e

chega mesmo a ingerir água salgadana beira do mar. Os psitacídeos bebem sugando-bombe-ando o líquido (v.Columbidae).

Ocorrem deslocamentos estacionais na procura dealimento em quase todas as espécies por rações alimen-tícias. Ocuiú-cuiú, , aparece em julho,em certo número, nas matas das montanhas do Itatiaia,Rio de Janeiro, onde a espécie é rara no verão (Pinto1954); no Paraná são registradas migrações regularesdesta espécie (Scherer-Neto& Müller 1984).

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PSITTACIDAE 357

As espécies grandes têm um vôo um tanto pesado, .lembrando um pato quanto ao ritmo de batidas de asa;são porém capazes de descrever curvas fechadas e dei-xar-se cair perpendicularmente voltando-se de lado paraalcançar um poleiro em uma copa de árvore. Os peri-quitos deslocam-se velozmente, às vezes intercalam en-tre séries de rápidas batidas um vôo de asas fechadas

tem um modo peculiar de manter-seno ar, bate as asas levando-as mais abaixo do corpo quequalquer outro psitacídeo; dentro da mata, a curta dis-tância voa sem fazer o menor ruído ao passo que

emite forte rumor com as asas enquantopassa de um galho a outro na mesma árvore. Entre ospapagaios macho e fêmea voam tão juntos'um do outro que o casal parece ser uma grande e fabu-losa ave de quatro asas, o que se observa inclusive quan-do estão em bando.

A melhor defesa que possuem é ficarem imóveis ecalados; um indivíduo que acaba de pousar ou que estáassustado imobiliza-se, fixando com os olhos o perigoque supõe existir; confunde-se então de tal maneira comos arredores que parece ter-se magicamente evaporado, -mesmo que esteja a descoberto e que se trate de urnaespécie berrantemente colorida. ameaçadospor algum perigo ficam às vezes pendurados em umgalno, de- ponta-cabeça; cessada a ameaça saemirrompendo em gritos29

; o tuim pode permanecer longotempo dependurado por um ou ambos os pés, chegan-do até a arrumar a plumagem em tão exótica posição.Os movimentos lentos que assumem ao andarem, tre-parem ou comerem parecem ser prudentemente calcu-lados servindo também para se ocultarem ainda melhor;na mata traem-se mais pelo barulho de frutos que fa-zem cair ao solo.

Sinal de satisfação e tranqüilidade é transmitido pelaave, no poleiro, através de um estalo produzido pelaraspagem da mandíbula contra as ondulações da super-fície do "palato". Este processo é utilizado para retirarresíduos de alimentos que se acham depositados entreas ranhuras , , Pio nus, etc.). Em cativeiro osinal de alerta é um sacudir vigoroso de toda a pluma-gem (p. ex. , usado também comouma espécie de "cumprimento" quando se aproximauma pessoa que lhe é familiar. Após a limpeza das pe-nas, permanecem resíduos de folículos que são retira-dos com auxílio do bico; estes resíduos se assemelham auma caspa e ficam sobre a plumagem. Assim, após alimpeza, os psitacídeos sacodem as penas, para retiraros resíduos remanescentes, bem como ajustar a posiçãodas penas, que durante o processo de limpeza ficamdesalinhadas.

Os sinais de emoção são muitos.A facejá rosada de

um canindé jovem torna-se ainda mais vermelha quan-do o mimamos (como se ele "ruborizasse" como nós);os canindés adultos, de face branca-pura, também têm-na ligeiramente avermelhada quando zangados, ao mes-mo tempo que se altera o tamanho da pupila que se fe-cha reduzindo-se a um pontinho. Observamos o mes-mo fenômeno em irritados ou submetidos aum grande esforço físico (no caso representado pelo atode "falar"); em indivíduos excitados as pupilas abrem-se e fecham-se quase constantemente.

Levantar lentamente o pé, comportamento muito tí-pico de papagaios e araras, é..agonístico. O sibilar comocobra é outro sinal de irritação, v.De o us sob Repro-dução. A fita amarela estreita em torno do bico de

o us cinthinus, escondida sob as penas ar-repiadas, durante o repouso, torna-se sinal berrante apre-sentado em situação agonística. O amarelo muda perio-dicamente a intensidade.De s e on cearrepiam amiúde o cocar. O mesmo ocorre em outrospsitacídeos neotropicais que não têm penas prolonga-das na nuca, p. ex. outros n e ing Freqüen-te é um arrepiar das bochechas e da garganta. A reaçãoagonística mais forte se revela em avançar o bico, sibi-lando ou elevando e abaixando o corpo(etc.).

Tanto a curica como o papagaio-verdadeiro são, fre-qüenternente, "canhotos", razão pela qual o pé esquer-do é melhor desenvolvido; acontece que estes indivíduossão quase incapazes de pousar com o pé esquerdo, in-teiramente adaptado à função preensora de objetos quelevam à boca, sendo capazes de se fixarem firmementeapenas com o pé direito. Não sabemos se a figuração da

odo (a nossa prancha 17), usando o pédireito para levar comida ao bico, se baseia numa obser-vação própria do artista. De um total de56

pe da Venezuela, a metade era composta de canho-tos (Mc Neil et l. 1971). De 18 indivíduos de13 espéciesneotropicais , ting , otog is), manti-dos em cativeiro e testados20 vezes, três quartos eramcanhotos; g e eram geralmente100% canho-tos. Nunca se observou passar um objeto de um pé aooutro (Friedmann & Davis 1938). Os psitacídeos austra-lianos são também predominantemente canhotos. O grauda "footedness" dessas avt;s equivale muitas .vezes àscondições humanas (Rogers1980). Poderia ser o "canho-tismo" o desenvolvimento maior de um dos lados docérebro e da musculatura do lado esquerdo? Oanatomista S. L. Berman (1984) que dissecou a extremi-dade posterior de seis ons perdeu a opor-tunidade de fazer um estudo quantitativo, cômparandoos dois lados. O canhotismo costuma ser predominantetambém em gaviões. Certas espécies de psi tacídeos quasenão usam os pés para comer ou não o usam de todo(p.ex. ouii ).

29"Varamo ar caturritas:explosãode verde e gritos,periquitos" (GuimarãesRosa).

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358. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Gost~m de banhar-se na chuva, às vezes pendura-dos de cabeça para baixo no meio da folhagem molha-da. Em cativeiro ocorre também banho da poeira (p. ex.

Não hesitam em fazer diariamentelongos vôos para alcançar um lugar de banho e estepode ser perto de um barreiro. Durante a seca, os peri-quitos do gênero se reúnem em muitas cente-nas no lugar de banho, pousando na beira da água, res-pingando, cobrindo certos trechos de rios pedregosos,como o Curuá, Pará, como que um tapete verde (AdolfoKindel).

Os papagaios bocejam como outras aves.A maioria dos psitacídeos neotropicais coça a cabeça es-ticando a perna sob a asa; já o tuim faz o inverso. O es-preguiçar-se pode ter um efeito "contagioso"; quandopor exemplo um estende sua asa e per-na esquerdas, um pousado ao seulado direito pode, por seu turno, estender a asa e a per-na direitas, acompanhando o papagaio.

Para dormir reúnem-se em bandos. Essas migraçõescircadianas de araras vermelhas e certos papagaios cons-tituem fenômeno realmente espetacular na Amazônia.Os bandos segregam-se,pão se associando a outros gru-pos, nem mesmo aos da própria espécie. Na Amazônia,araras e papagaios preferem pernoitar em pequenasmatas de galeria separadas da mataria contínua ondepermanecem durante o dia. Procuram ilhas, inundadasdurante a cheia, no meio dos grandes rios, pousando nascopas das árvores e não se incomando com a água embai-xo. O tuim às vezes pernoita aos bandos em copas poucodensas de pequenas árvores isoladas nos pastos; certa vezcontamos 34 indivíduos em uma única arvorezinha (Riode Janeiro). Damos no texto específico mais pormenoressobre dormitórios coletivos de espéciemeridional. Pequenos bandos de periquitospodem dormir juntos num buraco de árvore.

Em cativeiro vê-se como uma se acomodano poleiro para dormir; pousa numa perna só, escon-dendo o outro pé (geralmente aquele que usam para le-var a comida ao bico) na plumagem da barriga. Constaque certos indivíduos podem dormir apoiados pelasduas pernas. A cabeça é totalmente virada para trás erecolhida entre a plumagem, como em tantas outras aves.Um anacã, querendo dormir, enfiou-se por baixo de umpano ou jornal onde deitou-se esticando a barriga, mos-trando o instinto de pernoitar protegido num oco. Tam-bém em cativeiro pode-se observar que espécies de

que costumam dormir não empoleiradas massim agarradas procuram uma tela vertical ou substratosemelhante, de cabeça para cima. Papagaiosfazem-nos suspeitar de atividades de sonhos, semelhanteàquelas que observamos em ranfastídeos. Certas espé-cies (ou apenas indivíduos?) não evacuam durante anoite (higiene do ninho).

As habilidades dos psitacídeos são largamente ex-ploradas, p. ex. pelo na Flórida e pelo

em Tenerife. Lá podemos ver araras andando debicicleta, respondendo a perguntas, achando, por exem-plo um cubo vermelho entre vários de diversas cores, .etc. Tais exercícios são adestrados. Ocorrem também ati-vidades lúdicas. Vimos araras e papagaios mansos dei-tarem de costas e "brincarem" com pedrinhas q~e segu-ravam nos pés, quase como uma criança. Uma

se divertiu com um grande parafuso e não can-sou de coloca, e tirar a respectiva porca (Deckert& Deckert1982). Há também brincadeiras do casal, p. ex. um em-purrando o outro. Acontece que um bando de periquitospousa na copa de uma árvore carregadinha de flores,P:ex. um ipê-amarelo, e logo começa a cortar as flores à toa,não aproveitando nada para comer - é pura brincadeira.Keller (1975) fez uma análise detalhada das atividadeslúdicas do Kea, da Nova Zelãndia .

--

-

.....~ ..,

Fig.115.Algumas posições típicasde um papagaio ,do México).Esquerda superior':levantar do pé como sinalagonístico contra um indivíduo queestá se aproximando; direitasuperior: o casal brincando, ummordendo o pé do outro;.esquerdainferior: o macho(à esquerda)passa comida regurgitadaà fêmeaabaixada; direita inferior:copulação, o machoà esquerda(Levinson1980).

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PSITTACIDAE 359

-

, Ocorre também o uso de instrumentos, Uma arara-vermelha mansa utilizou-se de um pedaço de madeiraou um objeto semelhante como "palito", segurando-oentre a língua e as ranhuras do palatino para limpar aespaçosa mandíbula.

Vimos uma exibição muito estranha de um anacã,vivendo sozinho em cativeiro: movia-se com rápidos elongos pulos "enérgicos", os pés juntinhos, produzindoum forte barulho sobre a chapa do viveiro.

No comportamento, o detalhe mais interessante é omodo de copular dos psitacídeos americanos, inteira-mente diferente do dos psitacídeos do resto do mundo.Enquanto lá ocorre a monta, isto é, o macho durante acópula trepa sobre a fêmea, tal qual a regra geral emaves, o mesmo não ocorre com os psitacídeos neotropi-cais. O macho de uma p. ex. permanece o tem-po todo ao lado (geralmente esquerdo) da fêmea, agar-rado firmemente com um pé no poleiro, colocando ooutro pé e a asa sobre a fêmea, ambos então friccionandoas cloacas (fig. 115).As araras. levantam às vezes as lon-gas caudas verticalmente, espetáculo bastante curioso.

Brereton (1963), baseando-se em psitacídeos austra-lianos, propôs um "índice social" com dez categorias desociabilidade, chegando até a conclusões taxonômicas.

,

Vivem rigorosamente aos casais que, ao que se sabe,permanecem unidos por toda a vida, pelo menos nasespécies grandes. Os consortes são assíduos em seusgalanteios, arrumando mutuamente a plumagem e, àsvezes, acariciando-se enquanto permanecem de ponta-cabeça sob um galho O casal deararas chega a lamber a face do companheiro, recipro-camente. O macho regurgita comida para a fêmea; cor-teja-a andando-lhe adiante com a cauda aberta, exibin-do as belas nódoas vermelhas ouas grandes áreas amarelas das retrizes

invisíveis estando o rabo fechado; os belosefeitos obtidos podem ser ainda mais realçados quandose vêem as aves empoleiradas nas árvores contra a luz.O casal de empreende demorados vôosindo e vindo sobre seu território, permanecendo sem-pre juntos e intercalando, às vezes, piques quase ~.e~ti-cais. O anacã se exibe num vôo ondulado, alternandobatidas de asa com deslizar. Os guarubas continuam aser sociáveis durante a reprodução. Sobre a copulaçãotão diferente da maioria das aves v. sob Hábitos.

O par freqüentemente permanece junto dentro do ni-nho, mesmo de dia; em suas cercanias mostram-se cau-telosos ao extremo, escapando da mais perspicaz obser-vação, razão pela qual se sabe tão pouco acerca de suareprodução; gostam de alcançar oninho trepando sobrecipós. Quando ouvem ruído estranho põem meio corpopara fora do buraco, inspecionando os arredores e, seassustados, saem um depois do outro, sem emitir o me-

nor som; um pode ficar horas a fio naentrada do seu ninho, expondo unicamente a cabeça epermanecendo absolutamente imóvel enquanto espio-na os arredores; já chus s, que ha-bita regiões abertas, mostra-se francamente agressiva,até mesmo para o homem; tiribas e catorras perseguemurubus e gaviões que atravessam seu território, o anacãdefende-se no ninho com um sibilar serpentino e eri-çando sua magnífica gola ao mesmo tempo que executaum estranho oscilar lateral com o corpo.

Nidificam em troncos ocos de palmeiras (p. ex.,buritis) e outras árvores; aproveitam-se de fendas for-madas pela decomposiçãocorno foi p. ex. indicado paraa sabiá-cica, (Camargo 1976). Ocorre competi-ção com outros psitacídeos, pica-paus, araçaris eFalco

. Instalam-se, às vezes, em penachos de pal-meiras; tentam cavar buracos em troncos .mortos oumesmo verdes que apresentem áreas mortas. Embora tãoligado ao pinheiral, . parece não nidificar empinheiros, pois estes geralmente não têm buracos. A fal-ta de ocos utilizáveis pode ser fator limitante para ospsitacídeos; muitos dos buracos existentes são ocupa-dos por abelhas, marimbondos e formigas, havendocompetição também com pequenos vertebrados comogambás e sagüis. Periquitos roem um ninho em formade retorta em cupinzeiros arbóreos cujo interior ofereceum ambiente favorável (microclima) considerando tem-peratura e umidade constantes. g aurea escava seuninho sobretudo em cupinzeiros de ictote s

g e . s prefere ninhos decuja textura é menos resistente (A. Negret).aproveita-se de postes no campo ou de pal-

meiras. Araras e e sinthinus) e maracanãs g

nidificam às vezes em paredões rochosos. Na regiãocárstica de Minas Gerais , g

e . reproduzem regularmente emburacos da rocha erodida, às vezes, também em barran-cos. o , das Ilhas Bahamas, nidificaem buracos no solo. n chus le e

nidificam nos "canyons" do Raso da Cata-rina, Bahia, buracos na rocha erodida. No Mato Grossodo Sul, . se instala em troncos ocos. Aomesmo tempo se nota uma diferença na época de repro-dução: enquanto na caatinga. e . re-produzem de dezembro a maio,' e .

cinthinus reproduzem de final de agosto ao início de. janeiro no Pantanal de Mato Grosso (C. Yamashita,J. K.Hart). A cauda de uma arara que esteja no ninho podeaparecer na entrada conforme verificamos com a arara-azul-grande que, tanto na região do Panhlnal como nado rio das Mortes (Mato Grosso), pode nidificar em ga-

. lhos ocos, pouco espaçosos, de grandes árvores; a per-manência prolongada em um ninho apertado desgasta-ria a cauda das araras, indicando assim que o indivíduoestaria a reproduzir-se; geralmente situam o orifício daentrada de tal maneira que é difícilvê-lo do solo. Em

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I

360 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

cativeiro, o canindé chega até a roer buracos no solo afim de procriar.

O tuim é inquilino regular do joão-de-barro, cujosninhos velhos costuma ocupar, pondo sobre o colchãojá existente confeccionado pelo antigo "senhorio" ou porum canário-da-terra que havia chegado antes; consta queele mesmo pode levar alguns grave tos e folhas para oninho. Pode acontecer também de um casal de tuinsapossar-se à força de um ninho de ainda ocu-pado pelo seu construtor e por seus filhotes jáemplumados. Vimos um tuim se aproveitar de um bu-raco antes ocupado por uma (Tyrannidae); ins-tala-se em mourões ocos.

Papagaios e araras afofam o fundo de suas cavida-des com madeira triturada, raspando as paredes, o quefacilita a secagem do fundo banhado pelas fezes líqui-das. A catorra, opsi on chus,constrói ~m grandeninho de gravetos nas' ramagens das árvores, caso úni-co nos Psittacidae; associam-se alguns casais, mas cadaqual tem seu próprio ninho; estabelecem-se às vezes nabase de um ninho de jabiru ou de um gavião.

Ovos arredondados, brancos e relativamente peque-nos, sendo chocados principalmente pela fêmea que évisitada e alimentada pelo macho na câmara incubado-ra; a postura de et i é de 3-4 ovos; registrou-se em pequenos bandos atraídos pela frutificação do pi-nho-bravo uma proporção de dois adultos para três acinco filhotes (W. Voss, F. Silva). A postura de. stie . u é de 4, a de s de 5 a 8 e a dotuim de 3 a 5; enquanto um ovo deste último é menordo que o de um gaudério; o de uma chlo e che-ga a 50 x 35,5mm.

Quanto ao período de incubação constam 30 diaspara Ara opi 29 dias para , 25 a 28 diaspara o , 26 dias para g solstiti e

otoge s , 25-26 dias para e, 24 dias para s , 22-23 dias tes

e oce e apenas 18 dias para o tuim. Os pais ce-vam os filhotes regurgitando-Ihes comida (não conten-do elementos produzidos pelas próprias aves, ao con-trário do "leite de papo" das pombas) que pode ser qua-se líquida, sendo o pai mais ativo em tal mister; a man-díbula do ninhego é, como .uma concha, muito larga nabase facilitando a recepção do "mingau". O papo bemcheio dos pais torna-se visível de longe indicando que oindivíduo está na eminência de alimentar a prole. Ascrias de duas espécies tão semelhantes comoonamazonica e . têm voz diversa; o pedinchar de

novas lembra o balir de cabritos. Num grupode 3 machos e 3 fêmeas de guaruba (criadouro E. Béraut,.Rio de Janeiro) todos indistintamente atenderam os 14filhotes nascidos durante poucos dias. A mãe tenta lim-par a cavidade do ninho empurrando a sujeira absorvi-da pela "serragem" no fundo do mesmo, que assim nãovai aderir à plumagem dos filhotes; estes freqüentementesofrem a ação parasitária de "bernes de passarinhos",podendo até morrer.

Os filhotes da tiriba abandonam o ninho com um mêse meio, os do tuim com cinco semanas, enquanto que osde o fazem depois de dois meses, os de canindécom 13 semanas e os de uma arara-vermelha com 103dias.

Vimos 4 filhotes em on oin , 4 ovos em .e e . nihops e até 8 em pus nthopte qgius

(descendentes de duas fêmeas?). Em cativeiro uma fê-mea de us pôs 7 ovos. O número dos filhotes podeser estimado por observação do casal voando, seguidopela prole; os filhotes se separam dos pais apenas quan-do estes começam de novo a cruzar. Os filhotes de umaninhada maior opsi até 9 ovos!) são bem diferen-tes no tamanho, visto que entre a eclosão do primeiro edo último ovo pode haver diferença de vários dias, poisos pais chocam do primeiro ovo em diante. Os filhotesmenores alcançam os maiores em 10 dias.

As espécies maiores começam a reproduzir-se tarde,p. ex. no seu terceiro ou quarto ano de vida.Consta que nodo h chus gt ucus, em liberdade, fariaduas posturas de um par de ovos por ano; já o tuim ca-tivo pode produzir cinco posturas no mesmo período;na Bahia espécies de on nidificam de setembro emdiante .:

A reprodução não inibe totalmente o contato socialcom o bando; os casais mantêm-se, é certo, mais segre-

. gados durante a incubação, mas parece que mesmo nes-sa época o macho do papagaio continua a integrar umpouso coletivo, regressando porém ao ninho com o cla-rear do dia, a fim de cuidar da família. Os bandos que seencontram durante a época de reprodução devem secompor geralmente de indivíduos imaturos. Seria inte-ressante trabalhar com a telemetria em araras e papa-gaios para saber mais sobre o itinerário dos indivíduos.A telemetria tem sido aplicada no Kakapo,ih pb optilus, raro papagaio terrestre de hábitos notur-nos da Nova Zelândia. .

Para os psitacídeos neotropicais são, ao lado de ma-cacos, iraras( b b ) e cobras (p. ex. a caninana,pilotes sp.), tucanos um grande perigo, estes com seu

grande bico que freqüentemente pode alcançar ovos efilhotes. Razão pela qual as aves preferem buracos bemprofundos que ainda são cavados mais um pouco. Emburitizais de Goiás, a arara-azul-grande foi "muito per-seguida" pelo gavião-real (Neiva&- Penna 1916). Um

ono ndi foi capturado por um tu icollis (Roth 1983).Periquitos são apanhados porlco

pe inus em migração. Ocorre a morte de uma ninha-da toda pela ocupação da 'cavidade do ninho por abe-lhas africanas.

nidíco deMyiopsitta; po nci, psit cose

Os ninhos de grave tos da caturrita costumam abri-gar em seu interior vários artrópodes que ali encontram

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PSITTACIDAE 361

microclima favorável, semelhante àquele existente nasconstruções dos furnarídeos. A situação mostra-se mes-mo ideal dada a estabilidade, uso contínuo e agrupa-mento das construções em colônias, garantindo a conti-nuidade para várias gerações de inquilinos que, em par-te, sugam os filhotes implumes; após estes abandona-rem o ninho, os pais não limpam a câmara incubatóriamas simplesmente colocam um novo forro sobre o anti-go. Aí vivem, por exemplo, o barbeiro es

(Reduviidae, Triatominae; na Argentina, Para-guai e Bi-asil) e o percevejo (na Argen-tina). Outros barbeiros, às vezes presentes em ninhos dacaturrita, são delpontei e , am-bos infectados naturalmente por i queproduz a doença de Chagas. V também Ciconiidae eFurnariidae. As edificações da caturrita ocasionalmentesão ocupadas por vários mamíferos trepadores e algu-mas outras aves, tal qual o chimango, uma rnarreca e acuricaca .

A psitacose, uma espécie de ornitose, doença adqui-rida pelo contato com Psittacidae e algumas outras aves(p. ex. pombas), contaminados com ci

haematotis

P.pyrilia

(agente etiológico que tem uma posição intermediáriaentre uma bactéria e um vírus) não possui, em nossopaís. o mesmo aspecto grave apresentado naqueles dohemisfério norte; o mal manifesta-se como uma pneu-monia atípica ou uma gripe; podendo ser curados comderivados da tetracicIina. Uma psitacose humana noBrasil praticamente não se conhece. Psitacídeos aparen-temente sadios podem ser portadores desta afecção queparece ser bastante difundida entre araras, periquitos,papagaios e até outras aves; uma ornitose foi achada jáem mais de 130 espécies de aves, mas não ainda no Brasil.

de Myiopsitta detos

Em áreas de ocorrência da caturrita, o ori-ginalmente apenas no extremo sul, os seus ninhos degrave tos (podem usar até ararnel), às vezes gregários,atingindo consideráveis dimensões, ocasionam curto-cir-cuitos entre fases e mesmo incêndios, quando coloca-dos sobre postes da rede de distribuição elétrica rural.V também sob Furnariidae .

..,

~Fig. 116~Distribuição de onops c e aliados (seg. Haffer 1970). Círculos abertos e tracejado horizontal:círculos fechados e barras verticais:. i triãngulos abertos e pontilhado: P.uu círculos semi-cheios etraceja~~ vertical: P. íll quadrados cheios e sombreado:. pul quadrados abertos e tracejado horizontal densona ~menca Central: P.h (somente os registros mais a leste foram plotados), símbolos denotam localidades deregistro.

, ,

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362 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

A existência de mais de100 espécies de Psittacidaena América do Sul dá a este continente, com larga mar-gem, o primeiro lugar no mundo na matéria; o Brasildestaca-se com suas 72 espécies, sendo seguido pela Co-lômbia (51 espécies) e pela Venezuela(49 espécies); emcomparação citamos gue a Austrália possui52 espécies,a Nova Guiné46 e a Africa (inclusive Madagascar) ape-nas35; o total dos psitacídeos do mundo é de344 espé-cies. A região australiana brilha pela variação de tiposdiferentes e representantes esplendidamente coloridos,entre eles as cacatuas. Devemos ao australiano JosephM. Forshaw, e seu ilustrador William1. Cooper; umamagnífica monografia dos psitacídeos do Mundo, cujaprimeira edição foi publicada em1973.

No Brasil, a Amazônia é a região mais rica quer emindivíduos quer em espécies de Psittacidae, periquitoscomo estão entre as aves maisabundantes da hiléia; singular concentração de araras,papagaios e outros psitacídeos existe nos "Gerais" e re-giões adjacentes (Nordeste), áreas ricas em buritizais.

A diversidade de Psittacidae na Amazônia (tanto deespécies como de subespécies) foi incentivada por umesfacelamento periódico da hiléia durante o Pleistoceno;houve então uma reclusão da fauna silvestre em "refú-gios" florestais, o que levou à evolução de formas bemdiversas que consideramos aloespécies componentes deuma superespécie; tal ocorre por exemplo com os

com o grupo dos (incluindo Eucinetuse figo 116) e com e .

. No grupo das a evolução de diferen-ças marcantes na cabeça mascarou o parentesco estreitode várias espéciescujas relações profundas são documen-tadas pelo padrão similar de colorido de asas e cauda;quase não conhecemos, até o momento, casos' de transi-ção entre os respectivos representantes. .

A dispersão da campestre substi-tuto setentrional deA. caciorum, sugere a existência deuma secular ligação de paisagens abertas entre o norte eo sul, da Amazônia, durante os áridos períodos pleisto-cênicos. '

Evoluíram raças geográficas, p. ex. em espécies dee Às vezes tais populações (p. ex.

e mostram dentro do Brasilum progressivo aumento(cline) de tamanho no sentidonorte-sul, acompanhando um decréscimo da temperatu-ra ambiental (antiga Lei de Bergmann, hoje modificada).Uma substituição geográfica de formas bem diferentesocorre em e .

Os psitacídeos estão entre as poucas avesidentificadas em sítios arqueológicos. Num sambaquido Rio de Janeiro, de uma idade de 3 a 4 mil anos, foiachado uma arara (provavelmente. H. F.

Alvarenga). Em desenhos rupestres pré-históricos cons-ta, às vezes, um papagaio de asas abertas.

A sistemática dos psitacídeos é ainda poucoesclarecida. Certo é que os psitacídeos do Novo Mundosão nitidamente separados dos do Velho Mundo, tantona morfologia como na etologia.

Os psitacídeos americanos foram reunidos nasubfamília Arinae. Na grande semelhança de numero-sos representantes ocorre muita convergência, como, p.ex., na estrutura do crânio (Smith1975).Semelhança nemsempre prova parentesco, e nítidas diferenças não sig-nificam sempre maior distância filogenética. As va-riações morfológícas dos psitacídeos americanos sãomaiores do que se nota à primeira vista.

A real proximidade, às vezes não esperada, de cer-tos representantes, é comprovada por cruzamentos inter-genéricos em cativeiro (não há hibridação em nature-za). Cruzam, p. ex., todas as araras, inclusive

. Cruza escom . Aqui não é o lu-

gar para discutir a sistemática e a nomenclatura. Cha-mamos apenas a atenção para o caso das araras, ospsitacídeos mais notáveis do mundo. O problema é queo bonito nome genérico Lacépede, 1799,sob o qualse entende modernamente as verdadeiras araras não-azuis, foi aplicado posteriormente(já no século passa-do, mas também na literatura atual) a várias outras es-pécies de cara nua, os maracanãs, que não são absoluta-mente araras. As verdadeiras araras brasileirassão: o canindé, as duas araras vermelhas:

e , e as três araras azuis:. e . glaucus. se-

o maracanã-guaçu, não fica muito longe. Aararinha-azul, não é uma arara.

Foram incluídas erroneamente em quatro espé-cies de cara nua, caráter atraente para os sistema tas degabinete mas não prestando para a classificação:

e nobilis (Sick1990).De acordo com o Código Internacional de Nomen-clatura .não podemos fazer no momento outra coisa se-não revalidar os nomes usados anteriormente para asquatroespêcíes, osmesmos nomes utilizados por O. Pin-to (1938): ,

e nobilis, os nossosmaracanãsê",Ao grupo dos maracanãs parece pertencertambém couloni.

É interessante que qualquer pessoa no interjor do Bra-sil, conhecedor da fauna local, chama as quatro espéciescitadas de maracanã, achando um absurdo aplicar onome "arara". Felizmente constam no o Dicion

.....

30Onomemaracanãcontém"maracá", um instrumentochocalhantemuito barulhentodos indios.Onome Maracanãdo famo-so estádiode futeboldo Riode Janeiroderiva-sedo pequeno rio dessenome,atravessando a cidade.

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PSlTTACIDAE 363

(1986), sob osnomes antigos de ebaseados no Catálogo de Olivério Pinto.

Sabemos que o nome científico é apenas uma fórmu-la (p. ex. ensis!). Isto se torna problemano caso do nome genérico baseado no nome indí-gena onomatopáico larara"31, conhecidíssimo no Bra-sil, de conceito muito restrito, aplicado exclusivamenteàs seis espécies citadas acima. Resulta que qualquer umneste país que descubra o nome nos livros se sintaautorizado a concluir que a ave em questão seja umaarara - o que é contraditório no caso das maracanãs.Assim, junta-seànecessidade científica a vantagem prá-tica no Brasil de abandonar o nome (ou emInglês) para as quatro maracanãs para não provocar umaconfusão com as araras.

O que trai imediatamente as maracanãs é sua voz:gritos semelhantes aos de representantes genuínos de

. é outro gênero artificial ao qual foiatribuído erroneamente a ararajuba ou guaruba. No re-pertório dos maracanãs não existe ou "arara",marca registrada das araras. A importância que aetologia tem na classificação dos psitacídeos torna-semais sugestiva pela particularidade. surpreendente queo modo de copular dos psitacídeos do Novo e do restodo Mundo é essencialmente diferente (v. sob Hábitos).

O estudo dos malófagos sugere que algumas subfa-mílias possam ser admitidas, entre elas os Psittacinae(ou Arinae), que englobariam todos os psitacídeos ame-ricanos, os quais teriam sua segregação perante os ou-tros Psittacidae do mundo confirmada por tais estudos.

Nos Psittacinae americanos ocorre um único gênerode malófagos com quatro linhasevolutivas que acompanhariam a evolução dos própriosPsittacidae; quantoà sua ocorrência nos diversos gêne-ros, podemos dizer que uma primeira linha aparece nos

e , uma segunda só nojunto com a anterior, uma terceira nos ,

g e e a quarta nose , junto com a anterior (L.R.

Guimarães). Um tratado no Rio com. laxante, evacuou grande quantidade de vermes,

,

Uma lenda muito citada diz que a descoberta destecontinente deveu-se a um bando de papagaios que amarinhagem de Colombo seguiu, o que dificilmente se-

ria possível sem que as embarcações estivessem bemperto da terra, pois papagaios não se aventuram sobre omar a não ser entre a costa e ilhas pouco distantes. Taislendas há também sobre outras aves.

Já da primeira viagem(!492) Colombo trouxe papa-gaios vivos o sp.) das Antilhas. Na segunda vi-agem, em 1493, encontrou também araras, emGuadalupe (agora não existem mais araras nas Antilhas).Dizia-se, naquele tempo, que a presença de papagaiosassinalava ouro. Araras foram conduzidas como passa-tempo em navios de piratas.

Papagaios e periquitos sempre foram as aves de esti-mação mais cotadas no Brasil,. tendo a simpatia de to-dos devido a sua habilidade em imitar a voz humana.Um papagaio considera seu dono um companheiro,hostilizando outras pessoas; sua afeição revela-se no atode regurgitar o conteúdo do papo, o que, em natureza,serviria para cevar o seu cônjuge ou os seus filhotes. Dãopreferência indistintamente a pessoas de ambos os se-xos, sendo sua orientação mais acústica que visual. Sen-tem-se "ofendidos" se não forem atendidos ou preferi-dos; são muito ciumentos para com outros animais deestimação. Podem tornar-se bem velhos em cativeiro,p. ex. uma tiriba e uma sabiacica atingiram27 anos, umpapagaio-verdadeiro 42 anos, um papagaio-campeiromais de50 anos e uma arara-vermelha o) maisde 64 anos. Fala-se de até80 anos de idade, em papagai-os (referindo-se, provavelmente, a uma cacatua, da NovaGuiné), registro que lembra os grous que são citadoscomo as aves que se tornam mais velhas. Houve um certopapagaio que perdurou através de quatro gerações deuma família.

O grande apreço gozado pelos psitacídeos america-nos desde a descoberta do Novo Mundo transparece pelofato de servirem de motivos artísticos. Já cinqüenta anosapós o descobrimento da América figuravam papagai-os do gênero e araras em gobelinos, tecidosflamengos, para o castelo de Wawel, do rei SigismundoAugusto daCracóvia, atual Polônia. Já muito cedo a In-glaterra havia importado araras (mencionadas porConrado Gesner1555). Entre as pinturas feitas porLazarus Roting, entre1600e 1614,em Nuremberg, Ale-manha (Stresemann1923),constam duas espécies brasi-leiras, uma e uma , que figu-ram igualmente na obra de Marcgrave(1648). .sefoi cientificamente 'registrada, por Linnaeus, em1758'aopasso que o foi apenas em1788, porGmelin. No famoso altar de H. Burgkmair, em Muni-que, pintado em1518, consta uma c nobilis épossível, porém, que esse maracanã tenha sido acres-centado ao quadro por volta de1600 (Sick 1981). Numquadro de Lucas Cranach, pintado em1502/3 em Vie-na, Áustria, consta uma arara-vermelha, , es-

31 "Ara"pode ser alteraçãode"guirá" = pássaro,e "arara"pode exprimirpássarogrande. ErnAymará"arára" significafalador(Garcia1913).

- ~> I

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364. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

pécie que, na cartografia, apareceu já em 1500. No VelhoMundo conhece-sebelíssimas pinturas de papagaios emalabastros de terracota de 625 a 600 a.c.

Os psitacídeos, a começar pelas araras, são utiliza-dos na alimentação da população local, sendo caçadosaté mesmo representantes pequenos como oscons-ta que e podem ser tão poucoariscos que deixam-se laçar com facilidade. (F. Müller1868 em A.Mõller 1915-21). Uma das primeiras espé-cies citadas na literatura como caça é

hoje, segundo parece, já extinta; continua-se aabater . para alimentação p. ex. na Trans-amazônica. As curicas eram, antigamente, vendidas emquantidade no mercado.

Já falamos sobre o valor decorativo que suas penaspossuem para os aborígenes; no Brasil colonial foramutilizadas rêmiges de araras-vermelhas para escrever,substituindo as penas do ganso doméstico.

,

Relatou Hercules Florence, no começo do século pas-sado, que havia cerca de 80 araras numa aldeia apiacáde 80 habitantes, no rio Arinos, no Brasil central. NoBrasil colonial os Psittacidae eram tão abundantes queuma antiga crônica recomendava "pôr' todo o cuidadoem extinguir uns pássaros que comem a quarta parte dopão de uma capitania inteira"(J. Arouche ToledoRendonas, séc. XVIII). ainda em 1948/1949, foi incontestavelmente uma praga nos milharaisde Barra de S. Francisco, Espírito Santo (G. T. Mattos). Adefesa dos agricultores na época foi virar o pé de milhode cabeça para baixo, quebrando o colmo ao meio.

Algumas espécies ainda hoje procuram os milharais,pom~res, etc., como fazem p. ex. , ,

, . e também tiribas (p. ex.as araras roem os brotos das bocaiúvas

matando-as, por isso abate-seem Mato Grosso, pois esta palmeira dá boa

madeira para mourões; soubemos que 'essa arara ésacrificada por vaqueiros sob a acusação de espantar ogado, dificultando seu recolhimento. Isto lembra umrelatório não muito antigo do interior do Ceará onde sequeix~m da ~l.gazarra dos papagaios ernpoleirados parapernoitar, dificultando o trabalho dos vaqueiros. EmGoiás, que não é apreciado comoxerimbabo, faz alguns estragos na lavoura. Na Transa-mazônica bandos de se aproveitam depl~ntações de arroz desde que possam encontrar caiçarascaldas que suportem seu peso. é consideradapraga, freqüentando em bandos as lavouras de milho esorgo e sendo beneficiada pela formação de campos d~cultura e pelo plantio de eucalipto (que usa para nidifi-'car), _começando a multiplicar-se explosivamente emfunçao da abundância de alimento e da paulatina dimi-nuição de predadores.

tendê sin s

Consta que, na época do descobrimento do Brasil,um Psi ttacidae de nome" anapuru" (designação que valetambém para o andorinhão s) repro-duzia-se nas casas de indígenas do litoral. A reprodu-ção de espécies nacionais em cativeiro só é realizadaexcepcionalmente e por amadores, mas com bom êxito.Sob condições adequadas o tuim chega mesmo afazê-locom muita facilidade; até araras podem fazer uma pos-tura após a outra quando os filhotes lhes são retirados ecriados artificialmente; um casal de n , no Riode Janeiro, completou, em cinco meses, duas posturas(uma de três e outra de quatro ovos) das quais vinga-ram quatro filhotes. Quando não se tira os ovos e filho-tes, araras reproduzem apenas uma vez em dois anos; étambém o problema da longa dependência dos filhotesdoslai~. Freqüentemente sob:evive a~en~s um filhote.

evidente que a reproduçao de psitacídeos em cati-veiro pode ser muitíssimo mais eficiente e rápida queem liberdade, funcionando porém apenas durante algu-mas gerações, devido aos efeitos da endogamia ouconsangüinidade - problema geral na criação em cati-veiro.

Das 69 espécies brasileiras, N. Kawall (1976) indica39 como já criadas em cativeiro (pouco mais da meta-de), baseando-se em resultados próprios e de outroscriadouros conhecidos (geralmente fora do país) e emindicaçõ~s bibliográficas. As espécies rabilongas (ara-ras, , etc.) são mais fáceis de criar que as de rabocurto ( , e es, p. ex.). Necessitamosprovidenciar centros oficiais de reprodução de represen-tantes rarefeitos, esperando poder realizar mais tarderepovoamentos- mas como? Quando se consegue umaquantidade razoável para que possa fazer o repovoa-mento, não se encontra mais área segura: é certo que asaves soltas vão ser caçadas. Este seria atualmente o casoda ararinha-azul, o criada na década de1960 por A. R. Carvalhães, Santos, durante alguns anos,quando obteve 15 filhotes saudáveis. Precisamos nestecaso de reservas bem vigiadas ..

A caturrita torna-se freqüentemente sinântropa. EmSanta Catarina casais soltos da tiriba,se instalaram debaixo de um telhado; roeram um sarrafopara facilitar a entrada (R. Reitz).

o, declínio, e n o e c

No Brasil os grandes psitacídeos desaparecem dascercanias de centros mais populosos e rodovias ...Sãotransportados de caminhão clandestinamente centenasde papagaios, da Bahia para os mercados do sul, entreabril e junho. Consta que em 1982 saíram ilegalmentedo Brasil 1.000 . us. Em 1979 um único co-merciante na Alemanha Ocidental tinha em "estoque"200 o chus ,seguramente todas pro-cedentes do Brasil. Em 1980 foram importados na Ale-

'-

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PSITTACIDAE 365

manhaocidental 7.438 . Em 1986encon-tramos num único transporte da Argentina paraLon-dresjSingapura 600 Argen-tina é o maior exportador de papagaios. Já na década de1920foram negociados entre3.000 e 6.000papagaios dogênero (sobretudo . e de 20.000 a30.000 psitacídeos sul-americanos de cauda longa(Neunzig 1930).

Já mencionamos que os primeiros mapas do Brasilforam decorados com araras vermelhas. Tal estimaçãomáxima dos psitacídeos naquele tempo correspondeexatamenteà situação atual,500 anos mais tarde: os re-presentantes da família dos papagaios continuam a seras aves mais atrativas no mundo inteiro,procuradíssi-mos como xerimbabos. Fala-se de uma verdadeiraParrot

nos EUA32. A grande maioria dos amadores con-

sidera seus papagaios como cachorrinhos, para não di-zer brinquedos e objetos de exibição, não se interessan-do de maneira nenhuma pelas condições naturais nasquais essas aves vivem. Os papagaios tornam-se"humanizados". No Brasil o caso mais freqüente, pode-se dizer "normal" é que os psitacídeos em cativeiro sãode descendência selvagem. Isto significa que não podemser tratados como certos psitacídeos exóticos domesti-cados (como o periquito-da-Austrália, v. apêndicePsittacidae), situação muito diferente.

Quantas dezenas de milhares de aves tiveram de sercapturadas e de perecer para que tal quantidade che-gasse a ser vendida? Ainda mais que se perdem ovos emuitos filhotes morrem no ato de retirá-Ias dos respec-tivos ninhos, pois freqüentemente derruba-se a árvorepara atingir tal fim, o que elimina os locais favoráveisàreprodução; palmeiras velhas, que são uns dos melho-res locais para procriação destas aves, estão entre as pri-meiras árvores a serem derrubadas por serem facilmen-te removíveis. Os índios cuidam muito bem de árvoresescolhidas por papagaios para reproduzir. As árvoresse tornam propriedde do descobridor, dando um bomlucro durante muitos anos. A existência de cupinzeirosarbóreos, tão freqüentes nos cerrados e caatingas e quesão utilizados por periquitos como refugio, podem ser,até certo ponto, um substituto adequado de ocos de ár-vores maiores em matas degradadas.

Finalmente destacaríamos que a falta de comida parapsitacídeos decorrente da eliminação das fruteiras, podetornar-se um problema: assim, p. ex., é com o pau-rosa,

e (Lauraceas), grande fru-teira da mata primária, procuradíssima por araras, pa-pagaios e outras aves frugívoras como tucanos e cotin-

gídeos, que atualmente está bastante diminuída em vas-. fas áreas dahiléia. em virtude de uma exploraçãodes-

regrada(produz uma essência que serveà fixação deperfumes, antigamente um dos produtos mais impor-tantes da Amazônia); há de ressaltar-se ainda que o pau-rosa jamais foi comum.

Entre as mais ameaçadas estão espécies grandes e flo-restais do Brasil Oriental, como por exemplo o papa-gaio-de-cara-roxa, mas também .

. e . . A ararajuba está de-saparecendo na parte oriental da sua área. Já menciona-mos C. e temos que relacionar oCogita-se outrossim, se está ex-tinta. A família é a que maior número de formas apre-senta em nossa lista de espécies ameaçadas. A situaçãoagrava-se rapidamente pela total destruição ambiental.V p. ex. a quase extinção de numa certaárea e a perseguição desenfreada das espécies mais in-teressantes, mais cotadas no comércio ilegal. Uma dasprimeiras tentativas bem-sucedidas para preservar-seativamente uma de nossas espécies foi a criação de umaestação ecológica na região de Esmeralda (Rio Grandedo Sul), em1975,por parte da SEMA (Secretaria Espe-cial do MeioAmbiente), para a proteção dos "conclaves"do charão,

de espéciesde espécies

O estudo dos psitacídeos, incluindo todas as espé-cies nacionais, é facilitado pela existência de váriasmonografias, sobretudo a deJ. M. Forshaw & W. T.Cooper (1973). [Existe disponível uma terceira ediçãorevisada: Forshaw& Cooper (1989).]

1. Segundo a cauda:1.1 - Cauda longa, pontiaguda ou cuneiforme:

(3), (1), (5),(7), (1), (10), (1),

, · e . . Osinaracanãs: (2), (1),

(1) e (1); a acrescentare couloni.1.2 - Cauda longa e látga:'Tric1aria(1) e (1)1.3 - Cauda curta, truncada, arredondada oucuneiforme: (4), onites (2), onopei (4, in-clui (1), (3),

(11), , B. , B.

32 No período de outubro de1979a junho de1980 foram importados, pelos EUA,mais de200.000psitacídeos (o total de avesimportadas era442.000),procedendo94.000da Américado Sul,70.000da região do Pacíficoe37.000da região afro-asiática(RoetetaI. 1980). Na reunião de Delhi1981 foram incluídos todos ospsitacídeos do mundo, na lista de espécies protegidas pela CITES,apêndice Il, excetooperiquíto-da-austrãlíae mais duas espéciesdomesticadas da região australiana. O Relatórioanual de1988doICBP(ConselhoInt:r~acional para Preservação das Aves)afirma:anualmente dezenas de milhares de psitacídeos saem da Argen-tina,yenezuela eMéxico: c_om~nada menos que (possivelmentemenos de2.500exemplaresdevempersistir em liberdade) estao ainda sendo contrabandeadas para fora do Brasila cada ano.

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366. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

e (3).2. Segundo o colorido:2.1- Azul: quatro espécies de porte razoável:

. . espixii. Também couloni.

2.2 - Azul e amarelo: uma única espécie grande,

2.3 - Vermelhas predominantemente: duas espéciesgrandes, e2.4 - Amarelas ou alaranjadas (predominantemente):

e O amareloaparece mais ou menos extenso também nos indiví-duos chamados "contrafeitos" (luteinísticos).2.5 - Verdes: na multidão das espécies desta cor há aseparação pelo comprimento da cauda; os gêneros

, edestacam-se por diversos caracteres embora não sejasempre fácil discernir as espécies dentro dos gêne-ros. Entre as espécies restantes, exigem atenção pe-culiar oS maracanãs (antigamente incluídos no gê-nero couloni (azulado),

e P. ,e nobilis. O gênero em

seu atual conceito, é heterogêneo.

Deve-se atentar bem para o colorido das secundá-. rias ("espelho") e das retrizes, que em geral permanece

oculto, mas que se destacaà distância, por exemploquando a ave, pousada em uma copa de árvore, arrumaas penas ou quando o macho saúda a fêmea; o vermelhodo encontro, na orla alar, nas secundárias e nas cober-teiras inferiores das asas sãoaté bicolores, escarlates e amarelas)é bem visível emvôo.

A cor das partes anteriores da cabeça, da regiãoperioftálmica nua e do bico, tem importância para adiagnose, sobressaindo freqüentemente durante ovôo; este último chama bastante a atenção quando éav,ermelhado, p. ex. em (maxilarosa), e alguns (base damaxila vermelha). As populações setentrional e me-ridional de nobi/is distinguem-se pela cordo bico.

Os imaturos nem sempre apresentam as cores carac-terísticas, quer da plumagem quer das partes nuas.

3. Como espécies brasileiras peculiares destacaría-mos:

e . Ver também os (4espécies) ePionus fuscus.

ARARA-AZUL-GRANDE,

Pr. 16, 3

98cm, retrizes centrais 55cm, peso l,5kg. Gigante en-tre as araras, é o maior Psittacidae do mundo. Bico des-mesurado, parecendo ser maior que o próprio crânio, e

sem dente na maxila (ao contrário de mascom entalhe mais ou menos, pronunciado na mandíbu-la. Plumagem totalmente azul-cobalto, tão escura queao longe parece preta, que é a cor da face inferior dasrêmiges e retrizes. Anel perioftálmico, pálpebras e umafita em torno da base da mandíbula amarelos, esta tantopode parecer uma meia-lua quanto pode desaparecer sobas penas adjacentes, quando a ave descansa de bico fe-chado. Notamos, às vezes, cor amarela da pele do ladoinferior das asas de certos indivíduos acasalados em vôo(dimorfismo sexual?). Existe uma tarja longitudinalamarela nos lados da língua, que é negra, em ambos ossexos. fortíssimo crocitar "krsc", "ara"; "trára, trára"(advertência); kraa ... ... (um parceiro) e"rraaka, rraaka ..." (outro parceiro); na região do rio dasMortes (Mato Grosso) observamos um crocitar diferen-te terminado em "i", um p.enetrante trarrrí-arrí".

Vive nos buritizais, matas ciliares e cerrado adjacen-te. Nidifica em buritizeiros e outras árvores ocas, naBahia, no Piauí e Minas Gerais em escarpas. Ocorre emMato Grosso (Pantanal, rio das Mortes), Goiás (sobretu-do no norte do estado, área do rio Tocantins), MinasGerais (médio rio São Francisco), Bahia (alto rio Preto,Barreiras), sul do Piauí (Correntes) e do Maranhão, e noPará (na Transamazônica, a leste e a oeste de Altarnira),rios Capim e Cupari (Bates 1863); registrada por Goeldi1897 também na margem setentrional do baixo Amazo-nas, p. ex. Amapá. Aparentemente também na Bolíviaoriental. Com freqüência ao lado do canindé. Emboranão seja rara atualmente, pode se tornar ameaçada, numfuturo próximo, em conseqüência do tremendo comér-cio ilegal, v. sob Comércio. A população total silvestrefoi avaliada em 1988 em apenas 2.500 indivíduos. Inclu-ímos a espécie em 1987 no Apêndice I da CITES: "espé-cie ameaçada, suacomercialização é proibida sem licençaespecial". "Arara-preta" (Mato Grosso), "Arara-una"(sendo "una", negTo em Tupi), "Arara-hiacinta". V. astrês espécies descritas a seguir.

ARARA-AZUL-DE-LEAR,

En Am Pr. 16, 1

71cm, retrizes centrais 40cm, peso 940g. Muito se-melhante à anterior, sendo porém nitidamente menor, ...de porte mais franzino, malgrado o bico possante e tam-bém sem "dente". Cabeça e pescoço azul-esverdeados.barriga azul-desbotado, apenas as costas e lado superi-or das. asas e cauda azul-escuras (cobalto). Anel periof-tálmico amarelo relativamente claro, pálpebra azul-cla-ra, branca ou levemente azulada (e não negra como em. íris castanha igualà da espécie ante-

rior.O distintivo mais importante que evidencia.

da precedente está na barbeia que forma uma grande"nódoa" amarela-enxofre' clara, mais pálida que o anelperioftálmico, quase triangular, situada de cada lado da

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PSITTACIDAE 367

base da mandíbula. A barbela é saliente na ave viva,dando muito na vista e nunca desaparece abaixo da plu-magem (ao contrário da faixa estreita mandibular de.

c quando observamos a ave de frente, abarbela apresenta-se como dois bojos superpostos, se-parados por uma prega a qual desaparece quando o bicoé aberto. Na ave morta a barbela é plana e pouco im-pressionante. A barbela é delimitada inferiormente poruma porção de penas dirigidas para diante, as quaisocultam por completo uma faixa amarela bem estreitaque orla a base da mandíbula. A borda superior da ma-xila, meio escondida pelas penas frontais, pode ser tam-bém amarela como na supracitada espécie. Interior daboca negro, lados e base da língua extensamente amare-los, aparecendo como uma continuação das barbelasquando a ave abre o bico, à feiçãode . inthinus.

rouco "ara-ara", "trrára", relativamente alto.Descrita por Bonaparte em 1856,. era apenas

conhecida através de exemplares de procedência igno-rada ("Brasil"), mantidos em coleções de aves vivas ondevalem como grande raridade. Em 1938, O. Pinto escre-veu: "Faltam indicações precisas: Brasil?" Finalmente foiproposta adotar a região .de [uazeiro, norte daBahía,como provável pátria de. ,baseando-se num indi-víduo comprado nessa cidade (Pinto 1950). Não sendopossível achar . em natureza, Voous (1965) venti-lou considerar . le produto 'híbrido entre .

cinthinus e . gl ucus. Isto é impossível tanto por ra-zões morfológicas como distributivas. A barbela deA.le i aponta unicamente parentesco de. le com .g cus na plumagem, . é de fato intermediáriaentre . e . .

Localizamos, junto com Dante M. Teixeira e Luiz P.Gonzaga, a pátria de. le no Raso da Catarina, nor-deste da Bahia (dezembro de 1978) o que foi realmenteuma descoberta, não uma redescoberta.É a única araradaquela região. Utiliza-se, como moradia, de locas depedras situadas nas mais íngremes paredes de"canyons". Sua alimentação predileta são os cocos dolicuri g s co o )que procura no solo. Parte dasua área está dentro da "EstaçãoEcológica do Raso daCatarina", criada em 1975 pela SEMA. A preservaçãoda espécie é precária, sua população foi estimada por C.Yamashita em 1985/86 em cerca de 60 indivíduos, vi-vendo em duas colônias, no Raso, mostrando sinais decarência: barras falhadas nas penas e provávelendogamia ("cauda cruzada"). Além das penas muitogastas pela ação mecânica contra os arenitos,foram acha-das penas quebradas ainda não totalmente saídas docanhão. Talvez . le esteja em processo de decadênciacomo supomos ter ocorrido com. g cus. J.K. Hart,Houston, Texas, contou no local, em maio de 1986,.22 e30 aves nas duas colônias, respectivamente.. l i éum substituto geográfico de. glaucus, ambos, consti-tuindo populações relitas e sendo largamente separa-das por . cinthinus, formam uma superespécie. "Ara-ra-azul-pequena*" .

ARARA-AZUL-PEQUENA, gl ucusAm

68cm, retrizes centrais 39,5cm. Menor das ararasazuis (não contando a ararinha-azul, opsitt spcom bico muito grande e grosso. Assemelha-se à ante-rior, possuindo o mesmo tipo debarbela, Abaixo dabarbela existe a mesma disposição de penas orientadaspara frente, ocultando uma faixa amarela estreita quedesce pela borda lateral da mandíbula. A plumagem éainda mais clara do que a de. l cabeça, pescoço,costas, asas, cauda e barriga são .de um azul desbotadoesverdeado; a garganta é anegrada.

Vivia nas baixadas com palmeiras (tucum,mucujá),margem de rio, escavava seus ninhos nos barrancos al-tos do rio Paraguai, nidificando também em ocos de ár-vores (Sanchez Labrador 1767,Azara 1802-05;ex Goeldi1894). No começo do século passado era comum ao lon-go do rio Paraná, perto de Corrientes, Argentina; constaque a tripulação do antropólogo A. d'Orbigny, navegan-

. do ali em 1837, utilizou-se da carne desta arara ("tãocoriácea que não pôde comê-Ia", d'Orbigny, 1835-47),es-pécie quiçá hoje extinta naquela região; não achamos umregistro desta arara na parte brasileira do rioParaná.Contudo uma comunicação de F. Sellow (Stresemann1948) diz que em dezembro/janeiro de 1823-24 uma ara-ra azul nidificou em paredões perto de Caçapava (RioGrande do Sul), o que só pode referir-se a. glaucus.Saint-Hilaire (1936a), em 1820, assinalava, em Santa Ca-tarina, uma arara, espécie relativamente pequena, "mui-to comum", de plumagem azul-esverdeada com um cír-culo amarelo ao redor do olho; que devia ter sido tam-bém nod hus gl No nordeste da Argentina,já no fim do século passado, . glaucus era designadacomo "muito rara" (Holmberg 1895), também no Uru-guai (Zotta 1944). O desaparecimento dessa arara, já notempo em que as respectivas áreas eram pouco atingi-das pela civilização, permite-nos suspeitar de uma de-cadência natural, um esgotamento genético da espécie(v. também . l i) e talvez até de uma catástrofe natu-ral provocada por uma epizootia, como pode ter ocorri-do com o periquito-da-carolina Conu sis linensis(Ridgely 1980).

Não conseguimos localizar nem indivíduos viven-do atualmente em cativeiro nem exemplares de.glaucus recentemente vistos ou coletados na natureza; aespécie é ainda mais rara que. l em coleções seria-das. Examinamos pessoalmente amaior parte do mate-rial existente de . glaucus. Os dois únicos exemplaresdo American Museum of Natural History são proceden-tes do Paraguai, tendo sido recebidos pelo Jardim Zoo-lógico de Londres, em 1886 e 1898; o último morreu em1912. Os dois exemplares do Museu Britânico procedemigualmente do Paraguai, enquanto que o único exem-plar do Museu de Paris é oriundo de Corrientes (Argen-tina).

No Zoológico de Arnsterdan, que tradicionalmente

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ORNITOLOGIA BRASILEIRA

possuía esta arara, são registrados três espécimens, umque morreu em 1862, outro que foi adquirido em 1863 eque morreu em 1867 e um terceiro que chegou em 1868,não sendo mencionado posteriormente; não houve in-dicações acerca da procedência destas aves (K. H. Voous).No Zoológico de Berlim existia um exemplar em 1892(Neunzig 1921). [ean Delacour informou-nos em 1974ter encontrado, entre 1895 e 1905, um indivíduo no"[ardin d' Acclimation", Paris, onde a ave viveu duran-te muitos anos; este foi o único exemplar vivo da espé-cie, visto em toda a sua vida pelo ilustre ornitólogo fran-cês, falecido em 1985.É possível que alguns espécimensde A. g cus tenham sido negociados em círculos deamadores e que outros não tenham sido reconhecidos,passando por . le ou . cinthinus. O balanço feitoacima, totalmente negativo, parece indicar que a espé-cie esteja realmente extinta. . gl us é representantegeográfico de . le . "Arara-celeste*".

ARARINHA-AZUL, En Am

Pr. 16,2

57cm. Pouco mais da metade do tamanho da arara-azul-grande, com a cauda proporcionalmente ainda bemmais longa e asas muito longas e estreitas (caracteresúnicos da espécie), tipo muito diferente de todos os ou-tros psitacídeos neotropicais, inclusive as araras. De biconegro franzino, porém provido de um grande dentemaxilar. Plumagem azul, asas e cauda mais escuras, la-dos da cabeça por baixo do olho cinzento bem claros,íris amarelo mostarda. O jovem com face e cúlmenesbranquiçados,íris pardo-escura. "krã", "krrã-krrã", "kra-ark" (P.Roth). O vôo da ararinha-azul se des-taca por batidas lentas. Gostam de empoleirar sobre aspontas de galhos secos altos. Ocorre no extremo norteda Bahia ao sul do rio São Francisco (Juazeiro, Spix 1824).Como P. Roth verificou em 1985/88 o hábitat típico daespécie perto de Curaçá, Bahia, é a caatinga seca, atra-vessada por vales de pequenos tributários do Rio SãoFrancisco. Ao longo desses riachos temporários se de-senvolve uma mata ciliar aberta, árvores bem mais al-tas do que a caatinga ao redor, predominando caraibeiras

bebu que a ararinha usa para nidificar, apro-veitando-se de grandes buracos nos troncos. Come fru-tas e sementes sobretudo de Euphorbiaceae como

oph e Cnidoscolus, Durante migrações locais apare-.ce também em buritizais (Formosa do Rio Preto, Bahia,em 25 de dezembro de 1974, sete exemplares sobrevo-ando, observação própria), formação muito diferente dohábitat típico da espécie, comprovando que as ararinhaspodem se afastar periodicamente para longe do localcostumeiro. Escreveu P. Roth que as aves às vezes desa- '.pareceram do seu ponto até durante algumas semanas.É espécie extremamente reduzida pela pressão do co-mércio ilega!. Em junho/julho de 1990, uma expediçãocusteada pelo Conselho Internacional para a Preserva-

ção das Aves, achou em Curaçá, BA, onde P. Roth tinhafeito suas observações, uma ararinha-azul associada aum grupo de maracanãs( (Juniper& Yamashita 1991). Um vídeo feito por F.B.Pontual mos-tra como um indivíduo do bando de sete maracanãs (por-tanto três casais e um isolado, provavelmente uma fê-mea) procura a ararinha (provavelmente um macho) oqual demonstra reserva. Teria sido mesmo o últimoexemplar des vivendo em liberdade, como conclu-íram os expedicionários? Não queremos acreditar nisto.O extermínio da ararinha é conseqüência do tremendotráfico ilegal de aves raras.

ARARA-DE-BARRIGA-AMARELA, CANINDÉ,

ararauna Pr. 16, 6

80cm. De partes superiores azuis e partes inferioresamarelas; garganta e fileiras de penas faciais negras.mais típico é um penetrante qü Várzeas comburitizais, babaçuais, etc., beira de mata. Da AméricaCentral ao Brasil, até São Paulo e, antigamente, SantaCatarina (L. Choris, 1822, ex-Berger 1979), Bolívia e Pa-raguai. "Arara -amarela", "Arara -canindé*". A denomi-nação "ararauna" dada por Linnaeus em 1758, que des-conhecia o significado do termo, de origem indígena(v. sob hus h é imprópria, tendo,porém, de prevalecer por razões de prioridade nomen-clatura!.

Próximo ao anterior é l , de cabeça ebico menos possantes, garganta e peninhas na cara azuisem vez de negras. Bolívia; não foi comprovado para oBrasil.

ARARA-CANGA,

89cm. Semelhante à espécie descrita a seguir, sendo,porém, menos. robusta e com grande área amarela naasa; face branca inteiramente nua, não sendo atravessa-da por fileiras de penas vermelhas como a dechlo p voz, outrossim, menos forte. Mata, beira derio. Do México à Amazônia até o norte de Mato Grosso,sudeste do Pará (Gorotire, rio Fresco), Maranhão e Bolí-via. Arara-piranga", "Arara-vermelha-pequena". Estaarara consta como ornamento já-no primeiro m.apa doBrasil, confecionado em 1502.Os descobridores devem terencontrado . já na última década do séculoXv,

em 1498, na desembocadura do Orinoco.

ARARA-VERMELHA-GRANDE, chlo optePr. 16,7

90cm, 1,5kg. Parecida à anterior, sem o amarelo naasa. prolongado "á-ra, á-ra" enquanto voa; "arátarát". Antigamente comum nos rios costeiros margeadosde florestas do Brasil oriental, chegando originalmente

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PSITTACIDAE 369

até o Espírito Santo, o Estado do Rio de Janeiro e inte-rior do Paraná; ainda é freqüente na Amazônia, onde àsvezes aparece ao lado da espécie precedente, com a qualindivíduos imaturos, que mostram algum verde-ama-relado nas coberteiras superiores da asa, têm certa se-melhança. Mata,capões. Da América Central (Panamá)ao Paraguai e norte da Argentina. "Arara-verde", "Ara-ra-vermelhat",

MARACANÃ-GUAÇU,

SOcm.Hábito de maracanã, maior representante destegrupo. Semelhante aos outros maracanãs; face brancaatravessada por linhas de penínhas pretas, lembrando opadrão de e bico negro; calções, encontroe lado inferior da asa e da cauda vermelhos, chamandomuita atenção durante o vôo; fronte castanha. "áarra,áarra, pousada, semelhante à vocalização docanindé: possui outras vozes diferentes, p. ex. "ga", vo-ando. Vive na mata ciliar, buritizais. Ocorre do Panamáà Bolívia e no Brasil da Amazônia ao norte de Mato Gros-so, historicamente no litoral sul da Bahia. "Ararinha-de-fronte-castanha". Espécie amazônica que, no Brasil, apa-rece pouco em cativeiro.

MARACANÃ-DE-CABEÇA-AZUL *, couloni

41cm. Verde, a cabeça e as rêrniges azuis; não tembranco na cara; lado superior da cauda avermelhado.Voz de maracanã. Não é uma verdadeira arara. Beira demata. Endêmica do Peru até ser encontrada no norte daBolívia e em dois pontos do Estado do Acre (Parker&Remsen 1987).

MARACANÃ-DO-BURITI,

41cm. De fronte vermelha, parte do dorso e da barri-ga também vermelhos; base superior da caudaferrugínea; cara nua amarela-pálida, ao redor dos olhosbranca; bico negro; jovens se assemelham aos dese-

. "gâ": "krã krã krâ", semelhante à vocalizaçãodos outros maracanãs e t Vive à beira da mata,buritizais e outros palmais. Ocorre da Argentina e Para-gua iao Maranhão (inclusive no Rio de Janeiro)."Ararinha", "Maracanâ-verdadeira?".

MARACANÃ-DE-COLAR,

41cm. No aspecto geral é parecida com os outrosmaracanãs, sendo porém facilmente discernível por umacoleira amarela (avermelhada no imaturo) sobre a basedo lado dorsal do pescoço; face nua amarelo-pálido, nãobranco-gesso. Sua vocalizaçãoé semelhante àquela dosoutros maracanãs, não das araras. Vive nos capões e namata de galeria. Ocorre do Mato Grosso (Pantanal) [e

baixo Araguaia (Pinto 1978)] ao Paraguai, Bolívia e Ar-gentina. Alguns autores a incluem em obviamentenão é uma arara.

MARACANÃ-DE-CARA-AMARELA,

Pr. 16,4

44cm. De face nua amarela-viva, peito acinzentadoescamado; abdômen rubro, bico negro. lembra a da

leucophthaímus. Vive na mata ciliar, buritizais.Ocorre da Venezuela ao Brasil (Amazônia, Mato Gros-so, Goiás, Piauí e oeste da Bahia e Minas Gerais). [Re-centemente assinalada no extremo nordeste de São Pau-lo (Wiliis & Oniki 1993)] "Maracanã-do-buriti","Arararana" (Mato Grosso). A inclusão das maracanãs -

i , c e nobilis - no gênero não satis-faz; elas não são araras, são mais aparentadas ao grupodas g , tanto no hábito como na vocalização.

MARACANÃ-NOBRE. D nobilis Pr. 16,5

3Scm. De fronte azul; encontro e coberteiras inferio-res das asas escarlates; face inferior das rêmiges amare-lada; cara branca. A população do norte do rio Amazo-nas (O. n. nobilis) é de bico todo negro ao passo que asdo sul (O. nobilis nensis e inclusive a forma maismeridional, O. nobilis longipennis) têm a maxila esbran-quiçada. O porte da espécie cresce sensível e progressi-vamente à medida que nos deslocamos do norte para osul. semelhante à de Vive no cerrado,palmais (buritizais), beira da mata. Ocorre da Venezuelae Suriname ao Brasil em Mato Grosso, Goiás, São Pauloe estados do Nordeste, também, historicamente, no Riode Janeiro. [Começa a se estabilizar como aveintroduzida no coração da metrópole do Rio de Janeiro(Pacheco 1994)]. "Maracanã-pequena+", V. gleuco e a anterior.

GUARUBA, En AmPr. 16, 8 e 44, 7

34cm. Do porte de um papagaio mas com a caudacomprida muito diferente de uma g Único emseu colorido dourado, rêmiges verdes, raques das retri-zes brancas (adulto). Filhotes de penas amarelas comraque e marmoreações verdes, sendo suas retrizes intei-ramente desta cor. "grã, grã, grâ", mais suave doque a da g durante o acasalamento, estrofes pro-longadas e estridentes"cüo ...". O compor-tamento daguaruba é distinto do das aratingas, p. ex.: o par, silen-cioso, se divertindo numa copa alta, segura-se pelo bico,um pousado enquanto o outro pendura-se por debaixodo poleiro e bate as asas. Muitos dados biológicos, in-clusive a vocalização(v. Introdução) sugerem não in-cluir a guaruba no gênero g Sua etologia pode

, r. ~

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370. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

lembrar a das araras (a "ararajuba" = arara amarela).Seu alimento predileto são os cocos do açaí(Eute sp.).São muito sociáveis, até durante a reprodução. Eles sereúnem em grupos de4 a 10 na mata alta. Em Rondônia,p. ex., um grupinho de seis usou, durante uma semanade observação em outubro/novembro um buraco a 20mde altura numa árvore emergente como refúgio quandoeram assustados pelo barulho de carro (Yamashita &França 1991). Reproduzem em buracos situados altos,grandes que, sucessivamente, alargam ainda mais. Emcativeiro três casais produziram 20 ovos, e, numa outraoportunidade, 14 filhotes (E. Béraut, Rio de Janeiro).Caçadores no Pará reportam 9 filhotes por ninho.

Ocorre do Maranhão ao oeste do Pará (onde hojeestá ameaçado de extinção), através dos baixos Tocan-tins e Tapajós; Parque Nacional do Tapajós, Transama-zônica, Pará (fig. 117) e Rondônia. Foi mencionado jápor Fernão Cardim na Bahia em fins do século XVI comoave preciosíssima trazida do Maranhão, de valor co-mercial correspondendo a dois escravos. A guarubaconstou também na coleção de Alexandre RodriguesFerreira. "Ararajuba" (Tucano, Maranhão), "Tanajuba":o nome "guaruba" deriva do tupi: Guará=pássaro,yuba=amarelo. Como um dos mais belos endemismosbrasileiros, é a melhor alternativa paraia AVE NACIO-NAL pois tem inclusive as cores do Brasil, verde-ama-relo, coincidência única em aves nacionais do mundo.V sob sabia-laranjeira. Compare indivíduos amarelosde e a jandaia.

PERIQUITÃO, g

33cm. Verde com a parte anterior da cabeça azul; sóapresenta vermelho no vexilo interno das retrizes, o quechama atenção quando abre a cauda ao pousar; regiãoperioftálmica nua e branca; maxila cor-de-rosa ou par-da-clara, mandíbula negra; pés amarelos, pardacentosou alaranjados. crocitante e baixa. Habita os cam-pos com árvores esparsas, caatinga, buritizais (Bahia).Ocorre da Venezuela à Bolívia, Paraguai e Argentina;abundante no norte da Bahia; no Pantanal mato-gros-

Fig. 117.Distribuição deg oub Círculos cheios: materialconservado em Museus. Asteriscos:observações recentes. Pontilhado:área de ocorrência antiga (seg.Oren& Novaes1986, adaptado).

sense ao lado de d us. "Maracanã", "Periquito-de-pé-rosa", Periquito-de-bico-rosa", "Aratinga-de-testa-azul?".

PERIQUITÃ0-MARACANÃ, tin

32cm. Possui forma "oval" de cabeça; verde (inclusi-ve os loros), com os lados da cabeça e pescoço com al-gumas penas vermelhas; apenas as coberteiras inferiorespequenas da asa são encarnadas, sendo as grandes infe-riores amarelas, chamando muito a atenção em vôo; re-gião perioftálmica nua e branca, íris laranja, bico cor dechifre clara. o característico "tschirrri". Vive na orlada mata, comum em muitos lugares; às vezes nidificaem grutas calcárias (Mato Grosso). Ocorre das GuianasàArgentina, quase todo o Brasil. "Araguari", "Maricatã"(Minas Gerais), "Aratinga-de-bando=",

JANDAIA, Araiingd sols Pr. 17, 8

31cm. Bem mais franzina que a guaruba; bico negro.Três raças geográficas bem distintas (serni-espécies), asaber:

1- [andaia-amarela, tin s.solstit lis, de intensacor laranja, apenas com as rêmiges e algumas cobertei-ras da asa e da cauda verde-azuladas: ocorre das Guia-nas a Roraima e à margem sul do Amazonas: Santarém,Coatá, Pará (Silva & Willis 1986). "[and a ia-sol ","Cacaoé".

2 - [andaia-verdadeira, ti solstiti lis ,apenas com a cabeça e partes inferiores laranjas, sendoo manto verde. Ocorre no Brasil, do sudeste do Pará eMaranhão a Pernambuco e leste de Goiás.

3 - [andaia-de-testa-verrnelha, ti su pi , verde-escura, somente com a parte anterior

da cabeça e abdômen lavados de vermelho.forte "kri-krü-kri". Vive na orla da mata, mata se-

cundária, regiões cultivadas, carnaubais, etc.; comumP:ex. em Minas Gerais. "Periquito-de-cabeça-vermelha",

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PSITTACIDAE 371

"Cara-suja" (Minas Gerais), "[andaia-sol". V.. [Os mais recentes autores (Forshaw & Cooper 1989,

Sibley & Monroe 1990, Collarei aI. 1992) preferem trataros representantes deste complexo como espécies autô-nomas.]

PERIQUITO-DE-CABEÇA-SUJA,

[28cm. Encontrado nas florestas de várzea, beiras derio e matas alaga das do oeste amazônico. No Brasil, es-pecialmente ao longo dos tributários meridionais doSolimões para leste até a região do Madeira, incluindosua alta porção no noroeste de Mato Grosso e Rondônia.Também na margem esquerda do Solimões, embora maisrestrito, em Tabatinga (Forrester 1993) e Estação Ecoló-gica Mamirauá (Pacheco 1995a). Adicionalmente na Co-lômbia, Equador, Peru e Bolívia. "Aratinga-de-cabeça-suja*".]

PERIQUITO-DE-BOCHECHA-PARDA,

25cm. Semelhante à espécie descrita abaixo tendo,porém, a região perioftálrnica emplumada de amarelo(lembrando . e as bochechas sépias e não ver-des. Vive no campo. Ocorre do Panamá e Antilhas, lo-calmente, até Suriname e Brasil (Roraima; alto rio Ne-gro; sul do Pará, rio Cururu); deve ocorrer em outrasáreas campestres da Amazônia. Forma muitas raçasgeográficas; é o representante setentrional deA.com a qual forma uma superespécie. "Aratinga-de-bo-checha-parda -:

PERIQUITO-DA-CAATINGA,

En

25cm. Verde de peito amarelado, o que lhe é bem ca-racterístico, e abdômen amarelo-alaranjado. "cri, cri,cri..." bem típico. Abundante nas caatingas e cerradosdo Nordeste ..V. a anterior e sob Evolução.

PERIQUITO-REI, PERIQUITO-ESTRELA,

Pr. 17, 9

27cm, 84g. Um dos nossos mais conhecidos e abun-dantes psitacídeos. De testa e região perioftálmicaemplumados de amarelo-vivo. Vive no cerrado, matasecundária, campos de cultura, também nos mangue-zais. Ocorre da margem direita do Amazonas à Bolívia,Paraguai e Argentina; em quase todo o Brasil para o sulaté o Paraná; localizadamente ao norte do Amazonas (p.ex. Faro, Pará e no Suriname)."[andaia", "Ararinha","Maracanã-de-testa-amarela" (Amapá). V. g

e

PERIQUITO-DE-CABEÇA-PRETA,

Fig.118,

32cm. Verde, de máscara e lado inferior das asas (oque se vê durante o vôo) negros, calções vermelhos."krã ...", Vive no campo, freqüentemente andando pelosolo, às vezes ao lado de . Ocorre da Argenti-na à Bolívia, Paraguai e Brasil (até o sudoeste de Mato

.Grosso, onde localmente pode ser o psitacídeo mais co-mum, aparecendo em bandos de mais de cem indivídu-os). "Maracanã", "Príncipe-negro".

Fig. 118. Periquito-da-cabeça-preta, n

FURA-MATO, En Am

29cm. Espécie relativamente grande, verde-escura devértice e nuca anegrados, loros e bochechas avermelha- .dos; destaca-se uma área amarelo-ferrugínea nos ladosdo pescoço superior; peito azulado, encontro, abdômene face inferior da cauda vermelhos (sendo este últimocaracterístico às várias espécies do gênero). Vive no in-terior da mata alta, escondido entre as copas. Ocorre dazona litorânea do sul da Bahia ao Rio de Janeiro, local-mente não raro; foram re-introduzidos no Parque Naci-onal da Tijuca (ex-Estado da Guanabar.a), em 1969/1970,utilizando-se de exemplares apreendidos no mercado.[Tal iniciativa não resultou em estabilização de umapopulação dessa espécie no aludido parque (Pacheco1988).] "Cara-suja", "Tiriba", "Tiriba-grande*".

TiRIBA-FOGO*,

27cm. De encontro e coberteiras inferiores das asasvermelhas e amarelas, pode ser considerada substitutade j Matas secas do oeste de Mato Grosso doSul, Bolívia e Paraguai.

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372. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

7r!'

I4rJ'

\

-O'

-10'

Pyrrhura p. perlata (ine!. P. rhodogaster)

,O Pyrrhura p. anerythra

20"-

J

[[]] Pyrrhura p. lepida

Fig.119.As raças geográfi- C2J Pyrrhura p. coerulescens ;y:f'-

cas de pe 15

p. (incluindo~ P. p. lepida x P. p. coeruluscensodog 2. p.

, 3. p. , 4.p. escens.5. área detransição entre 3 e 4. Mapa ro- 60' 50" 4rJ'

originalde P.Roth.

TIRIBA-DE-CARA-SUJA*,

27cm. Sem vermelho na fronte, no' alto da cabeçapardo e face superior da cauda vermelha. Vive nas ma-tas secas, mesmo secundárias. Com distribuição maisampla que a espécie anterior, atingindo além do oestede Mato Grosso do Sul áreas do sudoeste de Mato Gros-so. Também na Bolívia, Paraguai e Argentina.

, oriunda de Corumbá não passa de uma.mutação lutínica de P. e.

TiRIBA-DE-TESTA-VERMEÜ:lA,

Pr. 17, 10

27cm.É no Sudeste do Brasil freqüentemente o peri-quito florestal mais comum, voa em pequenos bandosbem coesos. Verde (inclusive as bochechas), com a zonaauricular pardacenta; fronte, abdômen e face inferior dacauda vermelhos; região perioftálrnica branca assimcomo a cara. "tzã, tzã, tzâ " enquanto voa;"tschírrra" (canto). Vive na orla da mata e pomares. Ocor-re da Bahia ao Rio Grande do Sul, sul de Mato Grossodo Sul, Uruguai, Paraguai e Argentina. No Rio de Janei-ro, nas montanhas. "Tiriva", "Cara-suja".

-2f1'

TIRIBA-PÉROLA, p l t

24cm. Verde, de encontro e coberteiras inferiores dasasas vermelhas; bochechas verdes, pescoço anteriormarrom-escamoso, flancos azuis; o adulto apenas da raçanominal, residente no interior da Amazônia, criacarmíneo na barriga e foi descrito comohodo st . Este nome entra na sinonímia de P.l

pe uma vez que o tipo da espécie era um imaturosem vermelho encontrado por Spix em cativeiro (Arndt& Roth 1986). São reconhecidas mais três raças no Ma-ranhão e Pará (fig. 119) que não desenvolvem vermelhona barriga. ti "kri-tiü", confirmando que os qua-tro representantes geográficos pertencemà mesma es-pécie. [Antes considerado endêmico do Brasil, foi recen-temente encontrado na Bolívia (Bateset l. 1989).]

JIt,.

TIRIBA-DE-ORELHA-BRANCA, leucotisPr. 17, 11

21cm. Um dos menores periquitos de cauda longa,sendo o menor do gênero. Face marrom escura contras-tando com a nódoa auricular esbranquiçada (que faltaàpopulação do Brasil central; Goiás, leucotis

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PSITTAClDAE 373

. "ki-ki-ki:". Orla de mata. Norte daVenezuela: do Ceará ao Rio de Janeiro e Goiás; foi ten-tada a sua re-introdução no ex-Estado da Guanabara(v. sob P. "Querequetê" (Espírito Santo),"Fura-ma to-pequeno","Tiriba-pequenat".V.a seguin-te. [Foi proposto tratar as quatro formas geográficas re-conhecidas como alo-espécies (Silva 1989):

(vão do Paraná, Goiás), Pleucotis (sul da Bahíae leste de Minas Gerais ao Rio. de Janeiro), P(norte da Venezuela) e P A população dasmontanhas florestadas do Nordeste (Serra de Baturité,Ceará; Serra Negra, Pernambuco; Murici, Alagoas) an-tes conhecidas como P1. deve ser denomi-nada P. por questões de prioridade nomenclatural(Teixeira 1991).A distribuição restrita desse contingentede alo-espécies confere as populações, assim tratadas,o de espécies ameaçadas de extinção. Sofrem par-ticular ameaça de desaparecimento as populações en-dêmicas do Nordeste (J. F. Pacheco, B. M. Whitney) eas das matas secas do leste de Goiás (P.Martuscelli, F.Olmos) pela perda substancial de hábitat nos últimos,anos por desmatamento.]

TIRIBA-DE-TESTA-AZUL,

23,5cm. Semelhante à anterior, possuindo uma nó-doa auricular, só que amarela; fronte azul, penas do pei-to com a porção central negra. A população do altoAma-zonas (Juruá, Purus e Madeira) de máscara vermelha("Ararinha-de-cabeça-encarnada", P e"Tiriba-do juruá", P Matas de beira derios. Das Guianas e Colômbia ao norte de Mato Grossoe Tocantins, Maranhão. "Marrequém-do-igapó","Tiriba-pintada*".

TIRIBA-DE-CAUDA-ROXA *,

[25cm. Endemismo dos tepuis orientais venezuela-nos. Registrado para o Brasil no Cerro Uei-Tepui, Ro-raima (Phelps& Phelps 1962).]

TIRIBA-FURA-MATA ".

[24cm] De face inferior da cauda pardo-anegrada.Distingue-se por um "espelho" laranja, que lembra

[No Brasil confinada a regiãonoro-ocidental da Amazônia, na região de drenagemdo Negro ao norte do Solimões. Também na Venezuela,Colômbia, Equador e Peru.]

TIRIBA-RUPESTRE*,

[25cm. Restrito às florestas das baixadas úmidas dosudeste do Peru e norte da Bolívia estendendo-se até osopé dos Andes. Assinalada para o Brasil pela primeiravez através de uma pele coletada em Rio Branco, Acre

em 1968 (Sick 1979). Observada recentemente em Pláci-do de Castro, Acre em 1989 (Forrester 1993).]

CATURRITA,

30cm. Periquito robusto de cauda longa; verde, semvermelho nenhum, rêmiges azuis, cabeça e pescoço an-

.. terior acinzentados, peito com faixas transversais bran-cas, bico amarelo. Voando pode lembrar um pequenogavião.

No Rio Grande do Sul faz seu ninho prefe-rencialmente em eucaliptos a urna altura média de 10m,situando-o tanto na ponta do galho quanto encostadoao tronco;' acomoda-se também p. ex. em postes tele-gráficos e torres de alta tensão. Tem a entrada do ninhoatravés de uma chaminé dirigida oblíqua ou vertical-mente para baixo; constroem-no com galhos secos e es-pinhentos, de ramificação lateral, que dá muita resistên-cia, com galhos verdes da Buganvília etc., que levam nobico, segurando-os pela ponta mais grossa. Macho e fê-mea edificam, porém, independentemente, constroemunicamente com o bico não utilizando-se dos pés; arru-mam o material da parte superior obliquamente suge-rindo um teto, disposição que recorda um pouco os ni-nhos coletivos de certos tecelões africanos, nos quaisaliás também as entradas estão por baixo. Preparam umcolchão triturando galhos e cascas secas; continuam aretocar o ninho enquanto estão ausá-lo.

Vários casais costumam reunir-se e construir a pou-ca distância uns dos outros, na mesma árvore, forman-do uma colônia. Podem instalar-se um ao lado do outro,o que resulta em um ninho "composto", com 4 a 8 bo-cas, uma para cada casal; desta maneira a "bola" torna-se grande podendo atingir um metro de altura e maisde 10kg (constam até 200kg), por vezes chegando a par-tir o galho que o suporta. Qualquer criatura de maiorporte que se acerque da colônia tem sua presença de-nunciada por um grande alarido; uma caturrita, deita-da sobre a barriga na boca de um ninho, invisível à dis-tância, serve de sentinela.

Fotografias tiradas do solo causaram uma noção er-rônea, perpetuada em várias ilustrações, acerca de suaconstrução, como se esta consistisse em' um ninho re-dondo de entrada lateral, quando na realidade seu for-mate é muito variável e a entrada costuma ser mais oumenos inferior. V.também Reprodução e Fauna nidícola.Utili o const uções c i pOs ninhos abandonados que oferecem uma câmara bemprotegida são utilizados por ratos-do-mato (Cricetidae)e marsupiais (p. ex. ocasionalmente-outrasaves também deles se servem, comoP: ex. a marreca

, o quiri-quiri e o pardal. Vi-mos uma saíra, g ec levar material à partesuperior de um ninho (Rio Grande do Sul). O chimangoe o caracará utilizam o ninho como plataforma para pôrseus ovos. Os ninhos pequenos podem ser confundidoscom os de ius (Furnariidae), sendo cons-

,"

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374 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

truídos com o mesmo material mas diferenciando-se pelalocalização da entrada (superior no caso doPasseriforme) .

Vive nos campos, necessitando po-rém de árvores para nidificar; a substituição da paisa-gem natural (principalmente mata baixa) por capões ouárvores isoladas e altas, como os eucaliptos, proporcio-nam ótimos locais para as caturritas se abrigarem. Abun-da no Sul e Sudoeste do Rio Grande do Sul, também nosul de Mato Grosso, Bolívia, Paraguai, Uruguai e certaspartes da Argentina. Subespontâneo no Rio de Janeirona ilha das Enxadas da Marinha (reproduzindo em co-queiros desde 1969 (Churchil C. Maia). Nidificou em1986 nas ilhas do Fundão e Governadora. F. Pacheco).A explosão populacional da caturrita está relacionada àalteração ambiental criada pelo homem, como desma-tamento, eliminação dos animais predadores, cultivo deeucalipto e principalmente a facilidade das fontes dealimentação. A caturrita prefere nidificar em árvores al-tas, razão pela qual os fazendeiros cortam os eucaliptoscom cinco a sete anos (idade em que também rebrotam)e não os deixam crescer até os 10 anos para não se tor-nar atraentes ainda mais para as caturritas (Rio Grandedo Sul). Pelo seu ninho bem acabado que usa durante oano todo é pré-adaptado para viver também em regiõestemperadas como, p. ex. nos EUA (p. ex. New York), naAlemanha (Berlim) e na Áustria onde surgem notíciassobre sua introdução. "Papo-branco" (Mato Grosso),"Catorra", "Periquito-do-pantanal".

É considerada praga de combate obrigatóriono Uruguai e Argentina, sendo sua incidência ligada àdisponibilidade de cultivos como, p. ex., milho, giras-sol, sorgo, trigo, cevada, painço e frutas; em zonas depecuária e de agropecuária, onde a agricultura não éexpressiva, sua "infestação" é significativamente menor.São recomendáveis, combates mecânicos como a des-truição dos ninhos (desmanchar, fogo). O ideal é sem-pre combater a praga sem buscar a extinção da espécie.Não usando métodos químicos em hipótese alguma.

TUIM, Pr. 17, 12

12cm, pesa apenas 26g,é o menor psitaddeo do Bra-sil. Macho com grande área azul na asa e no baixo dor-so; fêmea totalmente verde quase que uniforme, sendoamarelada na cabeça e nos flancos. muito distinta- "wiss-wiss"; "zílip-zipzip-zílip-zipzip" (canto). Viveà beira da mata. Cria em ninhos de joão-de-barro (v. In-trodução), em ocos de cupinzeiros e, excepcionalmente,em ninhos de guaxe, Ocorre no nor-deste, leste e sul do Brasil até o Paraguai e Bolívia; tam-bém no alto Amazonas até o Peru e a Colômbia; há di-versas raças geográficas;é migratório como outros pe-riquitos. "Tapa-cu", "Quilim", "Tuim-de-asa-azul*".Ocorre uma mutação azul e outra amarela, ambas pro-cedentes, dentre outras regiões, da Bahia.

TUIM-SANTO*,

12cm~ De distribuição setentrional ocorre, segundoparece, parcialmente nas mesmas regiões dos tuins deuropígio azul. Ocorre das Guianas ao Brasil (Roraima,Amazonas, Pará eAmapá). "Periquito-do-espírito-santo".

TUIM-DE-BICO-ESCURO,

12cm. Verde bem escuro com a asa e o baixo dorsovioláceo-azulado, escuros; maxila (cúlmen) enegrecido.Restrito ao âmago da Amazônia, de Belém (Pará) à Bolí-via e Colômbia. V. h que tem quaseo mesmo porte. .

PERIQUITO-RICO, En

24,5cm. Rabilongo, totalmente verde, de rêmiges eretrizes centrais azuladas. Vive à beira da mata, parquese jardins, p. ex. dentro de cidades como o Rio de Janeiroe São Paulo. Ocorre no Brasil oriental, de Alagoas e daBahia ao Rio Grande do Sul. No litoral paulista constater aparecido uma mutação azul.

PERIQUTID-DE-ASA-BRANCA, s

21,5cm. Representante amazônico verde com todasas secundárias e respectivas coberteiras amarelo-esbran-quiçadas. Vive na mata em beira de rio, campinas; abun-dante no delta amazônico (Belém), sendo ali o psitacídeomais numeroso, escutando-se sua algazarra de qualquerparte. Ocorre doAmapá e Pará ao Peru e Colômbia. "Pe-riquito-da-campina" ["Periquito-de-asa-amarela" (Ama-pá), "Periquito-das-ilhas" (médio Solimões,J. F.Pacheco)]. Representa setentrionalmente a espécie se-guinte. Introduzido na Califórnia, EUA, Costa Rica, etc.

PERIQUITO-DE-ENCONTRO-AMARELO,

Pr. 17, 13

Forma do Brasil central, passível de serCOn-

siderada coespecífica à precedente. Verde com um gran-de espelho amarelo-enxofre; difere da anterior pelosloros mais ricamente emplumados. "tchiri", "tchi-ri-ri". Vive no cerrado, mata de galeria, etc.rcomum nointerior. Ocorre de Mato Grosso e Goiás ao sul do Pará(Serra do Cachimbo, agosto e outubro), Maranhão, Bahia,Minas Gerais e São Paulo e Paraná. [Introduzido e esta-bilizado na cidade do Rio de Janeiro, e não visitante(Pacheco 1994)] Bolívia, Paraguai, Argentina. "Periqui-to-de-asa-amarelat" V. .

TUIPARA-DE-ASA-AZUL,

20cm. De mento abóbora e face inferior das asas azuis.

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PSITTACIDAE 375

Registrado apenas no alto Amazonas, rios Negro e Purus(até Bolívia e Venezuela). "Periquito-de-asa-azul?".

TUIPARA-DE-ASA-LARANJA,

-Pr. 16, 11

18,Scm.Espécie amazônica atarracada, sua cauda nãoatinge nem a metade do comprimento daquela deB.

espelho (formado pelas coberteiras das primárias)cor-de-abóbora. Vive na mata baixa; localmente comum.Ocorre da Venezuela a Amazônia, excluindo, como pa-rece, as cabeceiras dos afluentes meridionais do Ama-zonas; até o Maranhão. "Tuipara-de-asa-dourada'". In-clui . e . . V. e (quetem cauda longa e peito escamado).

TUIPARA-ESTRELINHA,

17cm. Apenas um pouco maior que um tuim, possuia cauda curta, porém ponteaguda. Verde com as partesanteriores da cabeça e uma faixa encurvada por detrásdo olho amarelas. Ocorre ao longo do Amazonas, doAmapá e de Belém ao Peru; localmente abundante."Estrelinha-do-Pará", "Periquito-testinha" (Amapá),"Tuim" (Amapá) ["Periquito-brasileiro" (médioSolimões, J. F. Pacheco)].

PERIQUITO-DO-TEPUI*,

[14cm. Pequeno representante montícola de dis-tribuição venezuelana predominante. Grandes ban-dos observados no norte de Roraima, próximo aomarco de fronteira Brasil/Venezuela em setembro de1987 são possivelmente relacionados a essa espécie(D. F. Stotz). Ocorre provavelmente também na faixabrasileira fronteiriça da região do Pico da Neblina,Amazonas.]

ApUIM-DE-COSTA-AZUL,

17cm. De aparência de um papagaio em miniatura;verde-escuro, escapulares sépia, uropígio azul, retrizes(exceto as centrais) intensamente vermelhas. Fêmea: re-trizes terminais verde-anegradas. Vive na mata. Ocorredo leste do Pará (Belém) às Guianas, Venezuela e Co-lômbia.

ApUIM-DE-CAUDA-VERMELHAi

En Am

16cm. Ao contrário do anterior, com o dorso europí-gio sépia. bem característico "türü-türü" chocalhan-do, (voando, o timbre pode lembrar o do canto de

nchus g . Vive na mata alta da Serra do

Mar; ocorre do sul da Bahia a São Paulo, ocasionalmen-te também no ex-Estado da Guanabara e em Itatiaia (Riode Janeiro); ainda em 1946/48 relativamente comumperto de Xerém, Rio de Janeiro. "Apuim-de-costas-es-curas", "Papagainho", "Apuim-de-costa-pretat".

APUIM-DE-ASA-VERMELHA, huetii

16cm. Diverso dos dois anteriores: sem sépia naspartes superiores; bochechas e áreas na asa azuis, co-berteiras inferiores das asas vermelhas. Fêmea: retrizeslaterais verde-amareladas em vez de vermelhas.estridente "kluit" (voando). Vive em mata alta, geral-mente nas copas. Ocorre do Maranhão e Pará (rioCururu, Serra do Cachimbo, Marabá e Belém) até aVenezuela, Equador e Peru. "Curiquinha", "Apuim-de-encontro-vermelhot" .

ApUIM-DE-CAUDA-AMARELA,

En Am Pr. 16, 10

16cm. Verde com a cara amarelada, escapulares sé-pia e retrizes douradas. Vive à beira da mata. Ocorre daParaíba ao Espírito Santo e São Paulo; tanto na serra (Es-pírito Santo, Rio de Janeiro) quanto nas baixadas (Riode Janeiro, Cabo Frio, 1970 A. P. Leão). "Papagainho","Periqui tinha", "Periquito". V.T. purpurata e T.

.

MAruANINHA -DA -CABEÇA-PRETA,

23cm. Substituto setentrional da espécie menciona-da a seguir; de boné negro, loros verdes, no macho o.amarelo do colar é mais intenso; pés e região nua peri-oftálmica plúmbeos. Ocorre das Guianas e Venezuela atéo rio Amazonas; também na Colômbia e Peru. "Periqui-to-de-cabeça-preta".

MARIANINHA, Pr. 16, 9

23cm. Espécie sul-amazônica; de cabeça amarela,ventre branco,calções-verdes (P leuco le tebaixo Amazonas) ou amarelos (Pleucog ee P 1. , alto Amazonas), pele nua ao redor doolho esbranquiçada (baixo Amazonas) ou pardo (alto A-mazonas). Há uma população intermédia entre P1.

e P I. na região dos alto Xingu eTapajós (Novaes 1981). estridente, prolongado e tre-mulante "zrrrri-zrrrri", quanto ao timbre podendo lem-brar o chamado da anta, de onde provém o nome de"Periquito-d/anta". Vive na mata ao longo dos rios. Ocor-re ao sul do Amazonas eda Bolívia, norte de Mato Gros-so (alto Xingu), sul (Serra do Cachimbo), leste do Pará(Belém) e Maranhão. Substituto meridional da anterior

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376 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

com a qual parece ocorrer algum cruzamento na divisacom Peru (Haffer 1977). "Maríaninha-de-cabeça-amare-Ia""".

CUIÚ-CUIÚ,

21cm. Com aspecto de uma maitaca muito pequena,seu colorido é inconfundível quando adulto; macho ver-de com alto da cabeça vermelho, fêmea verde uniformecom a fronte azul; ambos com o encontro e a caudaazulados, bico cinzento-escuro. "tchi, tchi", "chilõ,chilõ", "klu-luí, klu-Iuí ..." (voando, unissilábica, lem-brando a voz de otog is ii ic às vezes seu vizinho).Não se reúne em bandos maiores. Gosta de frutos de

e de cambuí (São Paulo). Vive na mata altada Serra da Mantiqueira (Itatiaia, Campos do Jordão) eda Serra do 'Mar (Bocaina, Serra dos Órgãos) e das mon-tanhas do Espírito Santo. Reproduz no planaltoparanaense no verão e se desloca no inverno para a mataatlântica no litoral (Scherer-Neto ScMüIler 1984). Ocor-re do sul da Bahia ao Rio Grande do Sul, Argentina(Misiones) e Paraguai. Ainda em bom número no Paranábem como em estados adjacentes. "Maitaca-da-cabeça-vermelha" (Bahia),"Curica-cuiú".

CURICA-DE-BOCHECHA-LARANJA,

24cm. Mesmo aspecto que o anterior; multicolorido,cabeça e pescoço negros, bochecha e borda anterior daasa laranja, encontro e coberteiras inferiores da asa es-carlates. Vive na mata em beira de rio. Ocorre no altoAmazonas, do sul da Venezuela e rio Negro até o rioMadeira e norte de Mato Grosso.

CURICA-CAICA *,23cm. Substitui a espécie anterior ao norte do Ama-

zonas (Manaus eAmapá). De cabeça uniformemente ne-gra, colar amarelo escamas o e asas sem vermelho algum,ao contrário da seguinte e da precedente. estriden-te "ülit" (pousada). "Papagainho", "Curica".

CURICA-UR,UBU, EnPr. 17,6

22cm. Única pela cabeça pelada e negra, realçada poruma coleira amarelo-enxofre; coberteiras inferiores daasa vermelhas como em P da qual pode serconsiderada um substituto geográfico. Imaturos com acabeça alaranjada ou abóbora, que é a cor da pele, a qualé coberta esparsamente de "pêlos" pretos invisíveisàdistância; ao imaturo falta o colar de penas amarelas enegras; formam bandos à parte dos adultos. Jovem comcabeça coberta de penas verdes de base amarela.

"iz-teret-teret", "tre-tréâ ..." (voando). Restrito ao sul dobaixo Amazonas, do Maranhão e do leste do Pará ao rioMadeira e, meridionalmente, até a Serra do Cachimbo(sul do Pará). "Urubu-paraguá", "Pirí-pirí", "Periquitod'anta".

CURICA-VERDE,

22cm. Representante amazônico singular, de caudacurta e bico pesado; verde com a base da asa cor-de-vi-nho (o que não se vê na ave pousada dado às penasdorsais); base das retrizes averrnelhadas. suave"kurik", seqüência de estridentes' "kia, kia, kia ...". Vivena mata nas margens de rios e lagos; nas copas das ár-vores; localmente abundante. Ocorre do Amapá aos riosSolimões e Juruá, Peru e Colômbia. "Curiquinha",Curica-pequena", "Papagainho-verde*".

MAITACA-DE-CABEÇA-AZUL, SUIA,

27cm. Muito semelhante à espécie adiante descrita,mas de cores mais vivas; cabeça, pescoço e peito de umazul-cobalto intenso, que chama atenção mesmo duran-te o vôo, região auricular anegrada, bico negro com abase da maxila vermelha; no meio da garganta freqüen-temente aparecem algumas tintas vermelhas; imaturosem azul nenhum, sendo pálido o seu vermelho, testaàs vezes avermelhada. "kscht-kscht", "kari-karitz"(como o nome que lhe dão em tupi em Mato Grosso);"téret" filhote pedinchando. Ocorre da Costa Rica à Bo-lívia, Mato Grosso, Goiás e Espírito Santo; em certas re-giões (p. ex. baixo rio Doce, Espírito Santo)' simpátricacom a seguinte. "Curica", "Maitaca-de-barriga-azulada".

Fig. 120.Maitaca, ionus i liuni, mostrando abatida baixa característica das asas.

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PSITTAClDAE 377

MAITACA-DE-MAXIMILIANO,

Fig. 120 Pr. 17, 7

27cm. Robusto, de cauda curta, hábito, bem pareci-do ao do anterior, comum no Brasil oriental. Cabeça ver-de um tanto anegrada, quase sem azul; bico amarelo debase denegrida, coberteiras inferiores da cauda encar-nada como na anterior, parte das retrizes com base ver-melha. "krãk, ..", "maitac-maitac". Voa de maneirapeculiar, levando as asas muito abaixo do corpo. Vivena mata alta, também em pinheirais e matas ciliares.Ocorre do nordeste (Maranhão, Piauí, Pernambuco,Alagoas) e leste (inclusive no ex-Estado da Guanabara)até o sul do Brasil (incluindo o Rio Grande do Sul), Goiáse Mato Grosso; também na Bolívia, Paraguai e Argenti-na. "Baitaca", "Maitaca-verde*".

MAITACA-ROXA, [uscus

27cm. Notável pelo colorido com matizes sépias; re-gião auricular realçada posteriormente por desenhobranco marcante, base do bico amarela, lado inferior daasa azul (e não verde como nas espécies anteriores); co-berteiras inferiores da cauda carmíneas tal como nos seuscongêneres. Do Brasil (Maranhão, Pará e Amazonas) àColômbia e Venezuela. "Curica" (Amazonas),"Papagainho-roxo".

PAPAGAI0-DA-SERRA, Am

32,5cm. Pequena espécie meridional, esplendidamen-te colorida pela máscara, encontro, álula, coberteiras su-periores das primárias e calções escarlates; base da ma-xila alaranjada. Exemplares "verdes" (encontro e mar-gem metacarpal e coberteiras superiores das primáriascom pouco ou nenhum vermelho), controlados em cati-veiro, eram fêmeas, lembrando a doscontrafortes andinos. "splíã-krã-klão", "quero que-ro", gritos cheios entremeados de assobios estridenteslembrando uma mistura de maitacas e periquitos. Res-trito à zona de principal ocorrência do pinheiro-do-paraná, alimenta-se, preferencial-mente, das sementes desta conífera (pinhões). Visto olento amadurecimento dos pinhões estender-se pormuitos meses, esse alimento garante, durante boa partedo ano, o sustento das aves. Outra fonte importante dealimento para . são os frutos do pinho-bravo,

sp., que amadurecem antes dos pinhões, nocomeço do ano (janeiro, fevereiro). Originalmente ocor-rendo de São Paulo ao norte da Argentina é registradohoje apenas ao Rio Grande do Sul (talvez estendendo-se

.a Santa Ca tarina), onde foi observado por William Beltonde 1970 a 1983 (Belton 1984). [São Paulo, seu limite nor-te histórico admitido de distribuição é carente de evi-dência concreta não passando de um erro repetido semcontestação (C. Yamashita).]

, Como ou-tros papagaios torna-se extremamente discreto durantea reprodução que ocorre pelo fim do ano (v. Introdu-ção). No outono começam a congregar-se em bandos quechamam a atenção, tanto mais quando demandam aber-tamente a matas distantes; chegam a fazer migraçõesregulares, descritas pela primeira vez já no século pas-sado para a região de Taquara (Rio Grande do Sul), onde

. não nidificou, ocorrendo em março-abril (Berlepsch&Ihering 1885).

Foi possível em maio de 1971 localizar um pinheiralna área de Esmeralda para o qual os charões confluíramem grande número. O local foi eql1974 oficializado comoEstação Ecológica da SEMA baseado numa proposta deW. Belton. Tivemos em maio de 1972 a oportunidade deassistir a grande reunião dos charões em Esmeralda,notando detalhes interessantes que devem se repetir. Ospapagaios ocupavam inteiramente certos galhos e co-pas, mostrando-se muito agitados, mudando repentina-mente de lugar, "conversando" ininterruptamente fazen-do uma algazarra fortíssima.À medida que o crepúscu-lo avançou, a massa dos charões alçou vôo subitamen-te, aumentando ainda mais sua gritaria que se transfor-mou em uma zoada constante; em bandos, que ora sedispersavam e ora se condensavam, circulavam sobre opinheiral, descrevendo largos círculos; de vez em quan-do se afastavam um pouco mas não demoravam a vol-tar; após 15-30 minutós de tais vôos circulares (duranteos quais às vezes intercalavam um curto pouso na copados pinheiros mais altos) estavam prontos para se reco-lherem definitivamente; ao cair da noite pousaram nasárvores que escolheram para pernoitar. Calculamos naocasião a presença de alguns milhares. Nos grupos quese dirigem à tardinha para dormir e também nos ban-dos que mais tarde esvoaçam sobre a mata, se destaca-vam duas categorias: (1) casais que voavam muito tran-qüilamente e (2) indivíduos que voavam em pequenosgrupos (de dois a quatro), perseguindo-se tenazmente;neste último caso parece tratar-se em boa parte de exem-plares novos, mas também de adultos.

As reuniões de tal pouso coletivo ocorrem de abril ameados de julho, coincidindo portanto com o amadure-cimento dos pinhões. Depois de tais conclaves os charõesdesaparecem, permanecendo apenas um ou outro casala nidificar.

Censos feitos pelo Clube de Observadores de Aves- Rio Grande do Sul nos meses de maio e junho deramem 1987 e 1988 aproximadamente 8.000 indivíduos e em1989 até 10.000. Foi então muito preocupante que em1990 aparecessem apenas 31 papagaios. Deve se tratarde uma mudança da área de reunião - fatobastanteestranho que leva logo a suspeitar numa redução drás-tica dos papagaios, afetando sua sobrevivência. A des-truição das pousadas tradicionais, onde se reúne umaparcela importante da população, torna essa espéciemuito vulnerável. "Serrano", "Charã", "Charão" (RioGrande do Sul), "Maragato".

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378 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

CAVACUÉ,

37cm. Espécie grande do Noroeste do país; cabeçaanterior, loro e espelho encarnados, vértice lilás-azulado.Entre o rio Negro e Solimões

até Venezuela, Equador e México, periodica-mente comum perto de Manaus (Floresta da ReservaDucke). "Papagaio-diadema".

P APAGAIO-DE-CARA-ROXA,

En Am Pr. 44,436cm. Representante meridional muito local; verde,

testa e loros vermelhos (sem cor de laranja), vértice egarganta arroxeados, lados da cabeça azuis, orla alar en-carnada; sem espelho vermelho; coberteiras superiorese terciárias chamam a atenção por serem orladas de ama-relo; retrizes com a ponta amarelo-esverdeada, sendo asexternas com larga faixa subterrninal vermelha; bico cor-de-chifre, sem vermelho. voando "kli-kli"; "kãlik": "kréo" (semelhante à .Mata. Originalmente de São Paulo ao Rio Grande do Sul,hoje restrito, ao que parece, ao sudeste do litoral paulista(município de Pariquera-açu, Camargo 1962) e Paraná.Nidifica em ilhas floresta das na baía de Paranaguá,Paraná (Scherer-Neto 1989). Pode ser considerado subs-tituto geográfico do seguinte.

CHAUÁ, En Am Pr. 17,4

37cm. Típica das florestas do Brasil oriental. Cabeçaanterior intensamente vermelha assim como a base damaxila, loro (também garganta: Alagoas) laranja, espe-lho alar e nódoas anteapicais da cauda vermelhas, orlaalar verde. bem típica e cheia "koiók-koiók", "kau-au", "noát-noát" (daí o nome); "alo, alo, aio ...";"krã-o"(em vôo). Mata alta, tanto na Serra do Mar e regiões al-tas do interior (leste de Minas Gerais), como nas baixa-das litorâneas. De Alagoas ao Rio de Janeiro -Marambaia, 1986 (L. A. Rosário), Ilha Grande, Poço dasAntas, 1968 e Silva Jardim [e extremo norte de São Pau-lo (Collar et 1994)]; substituto geográfico da anteriore de das Guianas. "Jauá".

PAPAGAI0-DE-BOCHECHA-AZUL,

34cm. Endemismo do escudo guianense (Wege &Collar 1991) cuja evidência de ocorrência na porção fron-teiriça do Amapá, rio Oiapoque foi apresentada porCollar (1995).

P APA-CACAU,

35cm. Representante setentrional verde de fronte eloros ferrugíneo-sangüíneo-escuros tendo atrás do olho

um pouco de azul; baixo dorso vermelho, caráter ex-cepcional no gênero e que atrai a atenção durante o vôo;tal mancha falta no imaturo. Não possui espelho.cheia "kjã-au", "kjâ-lo", repetida. Ocorre, ao norte doAmazonas, da ilha de Mexiana e Amapá ao noroeste doBrasil, Colômbia e Guiana, também do oeste do rio Ma-deira ao Peru; abundante localmente (alto Amazonas);procura plantações de cacau; em Roraima às vezes aolado de . . "Papagaio-da-várzea*".

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1

~

PAPAGAI<fGALEGO,

26,5cm. Não é maior que uma maitaca, sendo típicoàs porções secas do Brasil central e do Meio-Norte, decaracteres diferentes das demais espécies de onCabeça e barriga amarelas, lados do corpo alaranjados(às vezes também as bochechas), havendo muita varia-ção, talvez duas fases, os machos são mais vivamentecoloridos, borda das penas verde-escuro formando umpadrão escamoso; bico róseo-claro: imaturo e certos in-divíduos adultos de barriga verde. , krüe ...","griio-griio-totototoll (voando). Vive no cerrado, caatin-ga, mata de galeria; localmente comum. Ocorre do inte-rior do Maranhão e Piauí à Bahia, Minas Gerais, Goiás eMato Grosso (rio Araguaia) e até o oeste de São Paulo(rio Paraná). [Citado como endêrnico do Brasil a despei-to de seu registro na Bolívia (Remsenet . 1986).] "Pa-pagaio-goiaba ". "Papagaio-de-barriga-amarela"."Curau" (Brasília). V. ao qual seassemelha pela cabeça amarela e pela ecologia.

PAPAGAIO-VERDADEIRO, Pr. 17,1

85cm, 400g. O mais procurado dos papagaios paraservir de xerimbabo, tendo fama de ser o melhor "fala-dor" (v. Introdução). Fronte e loros azuis, o amarelo dacabeça estende-se por cima e por detrás dos olhos con-tornando-os por conseguinte, ao contrário do que se dáem Espelho, encontro e bases dasretrizes (normalmente não visíveis) escarlates; bico ne-gro (macho adulto). Há indivíduos predominantementeamarelos (v. Introdução). Imaturos podem ter a cabeçatoda verde. Existem duas raças geográficas:.com encontro da asa vermelho (Brasil oriental)e . .

com encontro, coberteiras pequenas supe-riores e a cabeça amarelas, a última lembrando .

, mas a testa é azul (Bolívia, Argentina, Bra-sil ocidental é muito negociado, v. Introdução); no Pan-tanal, Mato Grosso, há uma região de transição (encon-tro misto vermelho e amarelo). Acor da íris dos adultosé amarelo-laranja (macho) ou vermelho-laranja (fêmea,destacando-se um fino anel externo vermelho), os ima-turos têm íris marrom uniforme (v. Introdução)."krik-kiakrik-krík-krik", "kréo" (bem típico), "rak-áu"(voando); canto melodioso, p. ex. "driio druo-druo-druo

dü"; pedinchar do filhote "ga, ga, ga, ga",lem-

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PSITTACIDAE 379

brando a pega, (Corvidae), do hemisfério se-tentrional.

Vive na mata úmida ou seca, palmais, beira de rio.Encontrado no interior do país freqüentemente ao ladode espécie que muito se lhe asseme-lha. Ocorre do Nordeste (piauí, Pernambuco, Bahia), peloB~asil central (Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso), aoRio Grande do Sul, Paraguai, norte da Argentina e Bolí-via; ausente nas áreas litorâneas ao contrário de .

"Papagaio-de-fronte-azul", "Curau", "Pa-pagaio-grego", "Papagaio-comum", "Ajuru-etê", "Papa-gaio-curau*", "Trombeteiro" (Mato Grosso), "Louro"(como aliás são chamados todos os papagaios domesti-cados em nosso país; tal nome generaliza-se ainda maisem castelhano, sendo aplicável a vários Psittacidae). Vo seguinte.

-

P APAGAI0-CAMPEIRO,

38cm. Grande espécie setentrional, meio campestre,de cabeça, pescoço e calções amarelos, encontro, espe-lho e nódoas caudais escarlates; a coloração da cabeçapode variar, sendo entremeada de verde e azul. Bicocin-zento-claro, maxila às vezes de base vermelha; imaturoquase sem amarelo. Vive nas matas decíduas secas à beirade campo. Ocorre do México ao norte da América doSul (onde é comum) e daí até o Pará (Marajó, rio Tapa-jós), Amazonas, Acre, Rondônia e norte de Mato Gros-so. "Papagaio-de-suriname". V aoqual corresponde a um certo grau ecologicamente, e .

este de fronte azul.

CURICA, P APAGAIO-DO-MANGUE,

Pr. 17,3

34cm. Muito parecido com a. sendo umpouco menor e de encontro não vermelho (verde ouamarelado); espelho e nódoas caudais abóboras (e nãoescarlates), o que é a característica mais segura paradiferenciá-Ia do papagaio-verdadeiro, sendo bem visí-vel em vôo, mesmo quando se tem uma visão lateral ouventral; azul da cabeça mais concentrado supra-ocular-mente que na testa; parte anterior das bochechas amare-la, freqüentemente também a fronte; não costuma terpenas amarelas ao redor dos olhos (no que difere de .

"kurik-kurik" ("curica", daí o nome), "kíro-kíro-kíro dlo-dlo-dlo", etc.; pedinchar do filhote "ga, ga,gã, gã". Vive na mata, comum na Amazônia; no litoralatlântico chega aos manguezais (come frutas de certasespécies chegando mesmo a nidificar nos, troncos maio-res); voa para ilhas cobertas de mata para pernoitar e,provavelmente, para nidificar quando as ilhas são maisseguras contra a predação humana do que o continentepróximo (p. ex. Rio de Janeiro). Ocorre da Colômbia,Venezuela e Guianas até o Paraná, oeste de São Paulo eRio de Janeiro. "Aiuru-curuca" e "kuritzaká" (Kamaiurá,

Mato Grosso), "Curau" (Mato Grosso), "Papagaio-gre-go*". Sua área de distribuição, muito grande, sobrepõe-se a quase toda aquela de de ocorrên-cia mais limitada.

PAPAGAIO-MOLEIRO,

40cm. Maior espécie brasileira do gênero (o que des-perta atenção), de cauda relativamente longa; verde comtoda a plumagem coberta por um pó branco (daí o nome,reflexão produzida pelo pó cria um aspecto vaporosobonito; um partícula deste pó medel/LODO milímetroou menos), principalmente a parte posterior do pesco-ço;occipui violeta-anegrado, vértice freqüentemente comalgum amarelo, azul e vermelho; bico e anel perioftál-mico brancos; espelho e orla alar escarlates, retrizes deampla ponta verde-clara, às vezes vermelha na porçãobasal. forte e melodiosa"króõk ...", "kuriík"; umafrase típica que se repete em suas estrofes é"tchóp, tchóp,tchóp". Vive na mata alta e extensa. Ocorre do México àBolívia, norte de Mato Grosso, leste do Pará e Maranhão;também no Brasil oriental, da Bahia ao leste de MinasGerais e a São Paulo. "Júru", "Juru-açu", "Curica".

PAPAGAIO-DOS-GARBES*, En

Descrita recentemente (Grantsau& Camargo 1989),com base em cinco exemplares provenientes do altoJuruá, Amazonas e Santarém, Pará. Difere de.(cuja distribuição se sobrepõe) no colorido do bico e daspartes nuas, pelo porte algo menor e especialmente pelapresença de vermelho na retriz lateral externa e por umalarga prega cutânea branca, junto a base do bico, na aveviva. A validade do táxon depende de um estudo maisamplo sobre a variaçãomorfológíca existente em .

e por isso foi considerado comospeciesna revisão de novas espécies de aves descritas no mun-do para o período 1981-90 (Vuilleumieret 1992).Umgrupo de papagaios, com características concordantescom essa nova espécie, foi observado na borda da flo-resta de terra firme, 5km ao sul de Tefé, Amazonas nodia 30 de junho de 1993. Dois indivíduos que se aparta-ram do grupo e pousaram numa árvore emergente fo-ram documentados através de gravação. Outra evidên-cia da existência dessa forma na região de Tefédeve-se alocalização e fotografia de um exemplar cativo, captu-rado nos arredores (J. F. Pacheco, P. Lonergan, P.Auricchio).

PAPAGAIO-DE-PEITO-ROXO,

Pr. 17,2

35cm. Bela espécie meridional cujo padrão escamo-so arroxeado-vináceo (mais intenso no macho) do peitolembra o anacã, ainda mais que também possui uma golade penas alongadas que freqüentemente arrepia tal qual

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380 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Loros, fronte, base do bico, mento, encontro,espelho e base das retrizes externas vermelhas. No co-mércio aparecem indivíduos maiores, mais coloridos, emenores menos vistosos, correspondendo a uma popu-lação meridional e setentrional, respectivamente."téo-téo", "krâo-krâo ..." Vive nas matas secas interiora-nas, pinheirais, orla de capões de mata entre campos;Na década de 1970 ainda relativamente comum em San-ta Catarina e Minas Gerais. Conforme um levantamen-to feito no norte do Espírito Santo no final da década de1970 e início dos anos 80, houve um decréscimo tremen-do da espécie. Saiu de uma certa área, sucessivamentedesmatada pelas fazendas existentes, o seguinte núme-ro de filhotes em quatro anos consecutivos: 80, 38, 12 e 5filhotes. O extermínio do papagaio na respectiva áreafoi previsto em 1983 (Duze Fortaleza); em setembro de1990 D. Fortaleza setenciava: "não mais existe o crau-crauno [norte do] Espírito Santo". Ocorre do sul da Bahiaao Rio Grande do Sul, Paraguai e norte da Argentina,"Jurueba", "Quero-quero", "Téu-téu", "Curraleiro","Crau-crau" (Espírito Santo).

ANACÃ, Pr. 17,5

35cm. Representante amazônico notável pelo gran-de cocar de penas eréteis, encarnadas, com larga tarjamarginal azul; na Amazônia setentrional de fronte es-branquiçada (D. v. prancha). Fê-mea maior. estridente latido "quiá-quiã-quiá-gui-gui-gui", "hía-hía-hia ...". Vive na mata, beira da mata.Ocorre das Guianas ao sul do Pará (Serra do Cachimbo,nidificando), norte de Mato Grosso (alto rio Xingu, rioTapajós), Amazonas (rio Madeira) e Rondônia, Mara-nhão, Colômbia e nordeste do Peru. Tem vôo mais rápi-do do que o de um papagaio, apresentando silhuetarabilonga; pode ser tomado por um estranho gavião."Hia", "Curica-bacabal" (Maranhão).

SABIÁ-CICA, Pr. 44, 5

29cm. Espécie meridional singular, de cauda relati-vamente longa e larga. Verde profundo de matiz diver-

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O periquito-australiano, doqual se criam muitas variedades no Brasil, parece inca-paz de sobreviver sem interferência humana neste país.Não faltam tentativas de introduzí-Io para que sereproduza em semi-selvageria(ex-Estadoda Guanaba-ra, Minas Gerais, Santa Catarina). A população mundialdo periquito da Austrália em cativeiro foi calculada em1983-em 500 milhões.

O psitacídeo mais indicado como ave de estimaçãoem ambiente de cidade é outro australiano: s

. É fácil de adquirir e manter em cativeiro,torna-se logo manso e se cria a vontade; ocorrem muta-ções interessantes.

Outros psitacídeos excelentes para se criar legalmenteem cativeiro no Brasil são as várias espécies do gêneroasiático / africano ("ringnack" no Brasil). Final-mente temos os pequenos inseparáveis, , ge-ralmente procedentes da África, ótimos companheirosde casa.

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~I

Page 134: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-02

ORDEM CUCULIFORMES

ALMAS-DE-GATO, ANUS, SACI e afins: FAMÍLIA CUCULIDAE (20)

-

Família cosmopolita, originária provavelmente de re-giões tropicais do Velho Mundo, de onde emigrou des-de muito para o hemisfério ocidental onde é hoje bas-tante diferenciada. Fósseis escassamente representadosno Terciário Inferior da Europa e América do Norte etambém do Pleistoceno do Brasil (Minas Gerais). Existeuma proposta de incluir a cigana, nosCuculiformes.

,

Corpo franzino, cauda comprida e graduada confor-me se vê claramente na alma-de-gato e nos anus, avesdas mais conhecidas deste país; nos a cau-da é extraordinariamente longa, larga e macia; nessescasos as coberteiras superiores alcançam, por vezes, aponta das retrizes. Bico forte e curvo; pé zigodáctilo (doisdedos para diante, dois paratrásj.menos especializadodo que o dos pica-paus. Pele do corpo negra, às vezesem surpreendente contraste com uma plumagem bran-ca. Íris freqüentemente vermelha, pelo menos nos adul-tos. Sexos semelhantes. O cheiro do corpo é forte e ca-racterístico, sobretudo em , perceptível paranós a vários metros (tanto mais quando se associam emgrupos, à noite), capaz de atrair morcegos hematófagose carnívoros.

Tem grande habilidade em pular e correr pela rama-gem; o anu-branco anda como que às furta delas atravésda galhada. A maioria vem ao solo para comer, onde cor-rem mantendo a cauda levantada, com notável agilida-de, chegando mesmo a enfiar-se sob oespécie florestal, é autenticamente terrícola. A potênciade vôo varia muito pois enquanto lembra uma"pipa", jogada ao sabor dos ventos pelos campos

desce das copas planando, os etêm uni.vôo rasante quase semelhante ao

dos pombos, pelo menos a curta distância. Em lugaresserranos, bandos de mostram a maior habilidadequando aproveitam-se de fortes correntezas de ar parase deslocar a maiores distâncias, com as asas enviesadasem "V", subindo e descendo, sem uma única batidade asa.

O interior da boca dos ninhegos dos anus é marcadocom vários sinais brancos berrantes, destacando-se ad-miravelmentedo fundo vermelho (fig. 121). Tais sinaisfacilitam aos adultos a colocação certa da comida na bocados filhotes, sobretudo, em ninhos escuros. Há dois gru-

pos de marcas, um no céu da boca (1, 2) e outro ao redorda língua (3,4). Entre 2 e 3 se abre o esôfago. Qualquerobjeto, posto no meio dessas marcas, provoca o reflexode engolir. Os sinais são um tanto diferentes nos

e . Uma disposição parecida na bocapossuem também os ninhegos de alguns outroscuculídeos,como espécies de e o

(Novo Mundo) e (Madagascar, Appert 1970).Sejam lembrados também os Estrildidae, Passeriformesda África, etc. (v.sob bico-de-lacre, espécie introduzidano Brasil), cujos ninhegos desenvolveram uma armaçãoda boca um tanto diferente, às vezes até comofosforescente, muito eficiente nos ninhos fechados, es-curos, onde são criados. Não há dúvida que a imagemgrotesca da boca aberta decorada dos cuculídeos men-cionados poderia servir também para atemorizar pre-dadores, sobretudo quando os sinais têm a forma degrandes olhos e tratando-se de um ninho aberto comoum vaso dos nossos anus e os de Madagascar.

Fig.121.Bocaaberta de um ninhego do anu-pretog mostrando os sinais esbranquiçados:1-

2no céu da boca,3-4ao redor da língua; ponta dalíngua preta. Maisexplicaçõesno texto.

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384' ORNITOLOGIA BRASILEIRA

O anu-preto possui mais de uma dúzia de vozes di-ferentes (Davis 1940a). Tem dois pios de alarme: a umcerto grito todos os componentes do bando se empolei-ram em pontos bem visíveis, examinando a situação;outro grito, emitido quando um gavião se aproxima, fazdesaparecer num instante no matagal todo o grupo; tam-bém o anu-branco que tem um canto fortíssimo impres-sionante é dotado de rico repertório. O crocitar dos anuspode lembrar as gralhas, enquanto o arrulhar de

e lembra os pombos. etêm pios finos, assobiando periodicamen-

te por horas a fio, não parando à noite. O canto do sacivaria em certas regiões (dialeto). A alma -de-ga to, no augeda quadra da reprodução, é extremamente loquaz; emi-te seu pio territorial 96 vezes por minuto e quase nãopára durante horas; em certas ocasiões imita vozes deoutras aves, fenômeno excepcional entre não-Passerifor-mes. O anu-preto se diverte cavaqueando baixinho, demodo bem variado, causando às vezes a impressão deestar tentando imitar a voz de outra ave ou até gente;esse palrar lembra as conversas à meia voz de corvídeoscomo e O anu-coroca canta em coro.

sabe ranger, de bico aberto, lembrando o rosnardo tucanuçu, toco, que é vocal. Alguns esta-

.lam com o bico, principalmente que inten-sifica o estalar em fortíssimo matraquear. Em

registramos uma voz "dupla" produzidaaparentemente pelos dois brônquios independentementeao mesmo tempo (v. Cotingidae).

São essencialmente carnívoros, comendo gafanhotos,percevejos, aranhas, miriápodes, etc.; apa-nha até mesmo escolopendras de llcm de comprimen-to. Predam também grandes lagartas peludas e urtican-tes, lagartixas e camundongos. Consta que são capazesde se desfazer do revestimento interno do seu grandeestômago, expelindo-o quando está impregnado de pe-los de lagartas urticantes. Cospem pelotas

O anu-preto alimenta-se sobretudo de ortópteros (ga-fanhotos) que apanha acompanhando o gado.É umacrença de que os anus seriam grandes come dores de car-rapatos. De 98 estômagos controlados do anu-preto ape-nas um continha carrapatos (Kôster 1971). Quando nãohá reses no pasto executa, às vezes, caçadas coletivas nocampo. Vimo-l o espreitar animais fugidos de um incên-dio em arbustos e capim, pousado calmamente a doismetros de chamas altas. Às vezes apanha insetos em ple-no vôo, capturando também pequenas cobras e rãs; sa-queia ocasionalmente ninhos de pássaros, tirando, P: ex.,filhotes de pardal ou furando o teto e os lados do ninhoesférico da para alcançar o conteúdo; às vezesapenas mata os pássaros e não os come, como registra-mos em que jogou do ninho dois filhotes

pequenos do bigodinho sem comê-los. O anu-preto de-vasta inclusive os ninhos do joão-de-barro, por mais di-fícil que lhe seja entrar naqueles fornos; também segueos tratores que aram os campos. Aproveita-se ocasio-nalmente das formigas-de-correição como "batedores",fato dos mais importantes para que ali pegafacilmente gafanhotos, baratas, opiliões, grandesquilópodes e formigas que poderiam estar aderidas aalgum pássaro. Vimos também atraídopela correição. O consumo de grandes opilionídeostransmite o cheiro cáustico desses aracnídeos à pluma-gem de . segue bandos de por-cos-do-mato, pega também pequenas cobras. Os trêsanus pescam na água rasa; periodicamente comem fru-tas, bagas, coquinhos e sementes, sobretudo na épocaseca quando há escassez de artrópodes.

'No alto Amazonas macacos-de-cheiro, acom-panham os grandes bandos de (150 in-divíduos ou mais) que afugentam muitos insetos (Ayres1985).

Gostam de apanhar sol e banhar-se na poeira (p. ex., e ficando a plumagem às vezes

fortemente tingida com a cor da terra do local ou de cin-za e carvão, sobretudo se os anus correm antes pelo ca-pim melado e suas penas se tornam pegajosas. Pela ma-nhã e após as chuvas pousam de asas abertas para en-xugar-se. Os anus são bastante sensíveis a umidade. Comchuva forte a sua plumagem encharca, problema maiorpara o indivíduo que choca e não se pode abrigar porbaixo de grandes folhas. À noite, para se esquentar, oanu-branco e anu-preto juntam-se em filas apertadas ouaglomeram-se em montões desordenados; acontece deum correr sobre as costas dos outros, que formam a fila,para forçar sua penetração entre os companheiros. Pro-curam moitas de taquara para pernoitar, às vezes emcompanhia de icteríneos; morre de frio no inver-no. Os anus arrumam-se reciprocamente a plumagem.Um anu-preto, apanhado por nós, se fez de morto, fu-gindo então inesperadamente. torna-se agressivopara com um gavião (p. ex. queaparece no seu território. .

É fato muito conhecido ser o cuco, ave da Europa,que deu nome a esta família, um notório parasita: põeseus ovos nos ninhos de outras aves para que estas oschoquem. Em Portugal chama-se "cuco" o marido aquem a mulher é infiel. No Brasil, são três os Cuculidaeparasitos: o saci e os dois peixes-fritos; os outros repre-sentantes nacionais da família não são parasitos, masocorrem várias irregularidades na reprodução.

Os ovos dos anus são relativamente muito grandes,

--

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CUCULIDAE 385

os de o g perfazem 14% do peso da poedeíra,os de g o 20,8% a 36,7% e os de17 a 25%.Já os ovos deCocc us e são "normais",enquanto, no outro extremo, se encontram ovos peque-nos entre as espécies parasitas, que chegam a ter 3,2% a8,3% do peso da respectiva ave (espécies do Velho Mun-do), adaptação notável de um parasito relativamentegrande que põe ovos no ninho de uma ave pequena. Osovos de um sabiá de 70g, pesam 6 a 7g, portan-to 10% da poedeira. .

Colorido dos ovos de algumas espécies é o seguinte:(1) verde uniforme: COCCt us u(2) branco, às vezes manchado pela clorofila de fo-

lhas frescas trazidas pelas aves ao interior do ninho:C us e n

(3) azul-esverdeado, coberto por uma crosta calcárea,raspada sucessivamente pelo processo de virar os ovosdurante a incubação: oto i e o ovo deGu ébem maior e de campo verde-marinho com umarede branca calcária em alto relevo que se espalha sobretoda a superfície;

(4)branco, esverdeado ou azulado puro:e(5) branco, finamente salpicado de marrom:

o(6)branco-amarelado uniforme: s geo i.

-

Espécies

Existe no mundo, sobretudo na região Paleártica, umaboa quantidade de Cuculidae que não são parasitas.

O macho dá comida à fêmea, mais comumente quan-do chega com a intenção de galar. O macho da alma-de-gato, entrega à fêmea uma lagarta, depoiscopula. O anu-preto costuma trazer comida quando vi-sita a fêmea no ninho; quando galam, o macho continuaa segurar o presente nupcial (uma lagarta, aranha,frutinha etc.) até terminar o ato e pode acontecer quedepois, ele mesmo engula o presente.

Os casais deCocc us ecriam num ninho pequeno, feito por eles, que pode lem-brar ninho de pomba; às vezes uma fêmea desova emninho alheio. Aos cuculídeos que criam normalmentepertence também o jacu-estalo, o , espécie ter-rícola florestal solitária.

Por causa das muitas irregularidades torna-se difícilapreciar o padrão de reprodução dos anus, aves extre-mamente sociáveis. O anu-preto, oto apesarde formar casais, vive em bandos, ocupando territórioscoletivos durante o ano todo. Consta que chegam atématar um indivíduo de outro grupo que se aproxime doseu ninho coletivo. Dentro do grupo ocorre. ameaça en-tre indivíduos, indicando urna hierarquia.

Os casais, embora em parte possuam ninhos irldivi-duais, se associam mais freqüentemente a um ou doiscasais do seu bando para construir ninho coletivo, pôrovos e criar a prole juntas, tendo a cooperação de ma-chos e filhotes crescidos de posturas anteriores. Seus

ninhos são grandes e profundos. Pode acontecer de umninho ser atendido por 6 ou 10 aves, e conter 10,20 e atérnaís ovos que jazem em várias camadas. A postura deuma fêmea é calculada em 4 a 7 ovos. As aves que vêmao ninho, trazem regularmente uma folha verde, comooutros Cuculidae, enchendo desta maneira o interior doninho, dificultando o controle sobre os ovos frescos. Asfolhas não são usadas para cobrir os ovos como foi ven-tilado erroneamente; às vezes as folhas são colocadasbem por baixo dos ovos. Podem assim ser" enterrados"ovos frescos no fundo do ninho onde escapam à incuba-ção normal e não eclodern, reunindo-se às vezes a ou-tros ovos podres provenientes de posturas anteriores.Contando .esses ovos abandonados, num ninho usadovárias vezes podem caber 50 ovos ou mais.

Entender tal confusão é possível apenas quando semarcam todos os indivíduos e os ovos, como fizeramKõster (1971) com oioph ni e Vehrencamp (1977)com C.sulci A fêmea dominante joga muitos ovospara fora do ninho. A participação do macho na incuba-ção é grande, incuba também sempre à noite.

Com o anu-branco ocorre coisa parecida. Tanto háninhos individuais, como ninhos coletivos. A fêmea, queconstruiu um ninho e ainda não começou a pôr, joga foraovos postos ali por outras fêmeas. Caem também ovosao solo quando a fêmea poedeira encontra o ninho ondequer pôr, ocupado por outra ave, de modo semelhanteao que acontece com o anu-preto. Os adultos nem sem-pre zelam bem pelos ninhos com ovos, abandonando-os. Ambos os sexos têm placa de incubação. Consta quena Argentina anus-brancos põem ocasionalmente seusovos em ninhos de outras aves. Pode tratar-se de purodesleixo, mas também pode ser um incipienteparasitismo. No Paraguai foi observado (o mesmo re-gistramos no Espírito Santo) que anus-brancos põem emninhos de anus-pretos e participam da incubação, con-tribuindo para a balbúrdia reinante nestes ninhos. As-sim, parece que a alteração do instinto nidificador dosanus é governada mais pela intensa sociabilidade des-tas aves, não se tratando de um incipiente parasitismo.Em baixo de árvores onde dormem anus-brancos,acham-se também ovos perdidos. No anu-coroca encon-tramos condições semelhantes.

O macho deGui dança em torno da fêmea, no solo,de asas abertas. Vimos a cópula de um casal deGuicorrendo no solo: o macho pisou veementemente na cau-da da fêmea, apertando-a ao chão, subiu às suas costasmas logo depois pulou ao lado da fêmea e executou acópula - pousado no solo, batendo as asas, cobrindo afêmea com a asa direita. Portanto não ocorreu a monta(devido à posição no solo?), lembrando acópula de pa-pagaios ( , v. Psittacidae). Durante todo o ato omacho bicava a cabeça da fêmea.

A incubação é curta, dura de 13 a 16 dias no anu-preto, e 15 dias no anu-branco. Filhotes que nem têmuma semana de idade saíem do ninho com o menor dis-túrbio mas voltam para ser esquentados pelos pais (com-

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386 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

portarnento que lembra o da cigana, . Comdez dias os filhotes já pousam fora do ninho; abando-nam o mesmo definitivamente com oito semanas(Kõster1971).

São criados com sucesso meia dúzia de filhotes, porvez. A boca aberta vermelha do filhote do anu-preto émarcada por três sinais amarelos esbranquiçados. O gru-po todo defende ninho e filhotes pequenos contra os in-trusos e a ajuda na alimentação da prole. Encontram-seàs vezes grupos de ninhos de anus-pretos. A total faltade esforço em esconder os ninhos e a balbúrdia geraldurante todo o dia leva freqüentemente à perda de ovose filhotes dos anus por predadores que são assim per-manentemente atraídos.

II.

I,

Espécies

. O instinto nidificador perdeu-se inteiramente no sacie peixe-frito estes tornaram-se

legítimos parasitas, não fazem mais ninho e põem todosos seus ovos em ninhos de certos Passeriformes. Sabe-mos ainda muito pouco sobre os pormenores desseparasitismo. Os ovos desses parasitas são de tamanhoreduzido, adaptando-se aos hospedeiros. Assim o ovodo saci é quase igual ao ovo do joão-teneném, pássaroque não tem nem a metade do tamanho do cuculídeo.Éo fenômeno de mime tismo agressivo. A discrepânciaentre parasita e hospedeiro é ainda maior no caso deD O ovo do parasita tem casca mais resisten-te e seu período de incubação é mais curto do que o dohospedeiro, o que garante sua eclosão antes do nasci-mento dos seus pseudo-irrnãos. Existem muitas especu-lações sobre a evolução do parasitismo dos Cuculídeos(v.Reichholf 1982-83).

O parasitismo dos cuculídeos americanos desenvol-veu-se independentemente daquele que ocorre entre osdo Velho Mundo e tomou outros rumos. As conclusõesa que levaram os estudos dos hábitos do cuco europeunão podem ser aplicadas a cuculídeos neotropicais. NoBrasil tal parasitísrno existe também entre icteríneos(v.p. ex. gaudério, eAnatídae (v. .O gregarismo corrente nos anus não pode ser tomadocomo. simples estágio que leva ao parasitismo.

Os filhotes, tanto dos parasitas como dos não-para-sitas, deixam o ninho antes de poder voar, com a caudacurta, e são alimentados ainda durante algumas sema-nas pelos padrastos ou pelos país. Os filhotes aindapequenos do anu-preto são facilmente espantados e fo-gem para todos os lados sobre os galhos em torno doninho, mas costumam regressar ao mesmo quando operigo passou; v. também comportamento dos filhotesda cigana. Sobre o desenho do interior da boca de anus-ninhegos. v. sob Morfologia.

Temos a impressão que o papa-lagarta,Coc usemigra durante os meses frios (Rio de Ja-

neiro). [No Estado do Rio de Janeiro durante os anos1978-89 os registros concentraram-se de fato entre outu-bro e fevereiroG. F. Pacheco), mesmo intervalo encon-trado para o Rio Grande do Sul (Belton 1984).] O repre-sentante norte-americano é ave de

.. arribação em grande escala.[É lícito afirmar que todosos representantes do gênero s fazem migraçõesem menor ou maior escala.]

Nos olhos de cuculídeos se encontram às vezes ver-mes nematóides (Spiruroidea). Foi descritoO spi

do anu-coroca, da Serra do Cachimbo, PA.Achamos sobre c o pupíparo l ti ies(Mato Grosso).

de cuculideos

As espécies como e são re-conhecidas como possíveis inimigos, como as corujas, esão atacadas por outras aves, p. ex., o suiriri; as rolas seassustam com o aparecimento de anus-brancos. O anu-branco por sua vez enxota gaviões (v. sob Hábitos).

de

Os grandes ninhos dos anus, de concavidade pro-funda, quando abandonados, são às vezes aproveita-dos por pássaros como e e jlaoeota,

incapazes de construir sem certas facilidades. Peque-nos mamíferos, sobretudo marsupiais, e cobras, seinstalam nesses ninhos, às vezes após ter depredadoseu conteúdo.

, declínio

. Os anus, o preto e o branco, até certo ponto tambémos Coccfzus, são beneficiados pelo desaparecimento damata alta. Imigram para regiões onde antigamente eramdesconhecidos e tornam-se as aves mais comuns ao lon-go das estradas.

Devido ao seu vôo lerdo e fraco, são freqüente-mente atropelados nas estradas. São arrastados aomar por fortes ventos. Encontramos dois anus-bran-cos na ilha Cagarra Grande, RI, 5,5km distante do con-tinente; dois anus-pretos apareceram numailhota aolargo da costa do Espírito Santo, 10km de Guarapari(A. Aguirre).

Os anus são atingidos pela ação funesta dos insetici-das, fato tanto mais lamentável por serem muito úteis àlavoura,

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CUCULlDAE 387

o jacu-estalo. representante sensível demata primária, é ameaçado pela transformação da pai-sagem natural, sobretudo no Brasil oriental.

Na mitologia indígena figura o"saci-pererê", o"matinta-pereira" etc., que têm relação com o saci.

Contribuem para isso os hábitos desta ave e dospeixes-fritos, que se ouvem e não se vêem,pois vivem sempre ocultos e que por isso a fantasia po-pular cercou-os de uma auréola de lendas e de mistério.À carne doanu-pretoé atribuído valor curativo em doen-ças venéreas e asma, para dar um exemplo das crendi-ces absurdas que circulam entre os matutos.

dos cuculídeosSubfamília Phaenicophaeinae

eu i

Subfamília Crotophaginae

Subfamília Neomorphinae

PAPA-LAGARTA, Pr. 15,8

28,3cm. Ave rabilonga, um pouco maior do que osabiá-branco Quando saem do ninho os filho-tes têm as partes inferiores brancas. ventríloqua "ga_ga-ga-go-go": seqüência decrescente de oito "goa", bu-fando (canto); rosnar monossilábico, vocaliza também ànoite. Vive escondido em matas e capoeiras espessas,vegetação ribeirinha no estrato médio. Parece emigrarno inverno (Rio de Janeiro). Ocorre no norte da Américado Sul até Bolívia, Paraguai e Argentina, todo Brasil, re-lativamente comum. (Rio Grande do Sul), "Papa-lagarta -acanelado*".

PAPA-LAGARTA-CINZENTO,

24cm. Cinzento, região perioftálmica e olhos verme-lhos, cauda relativamente curta, não graduada, de pon-ta branca. Vive no cerrado entremeado de campos, ecapoeira. Ocorre da Argentina para o norte até MatoGrosso, Goiás e Bahia. [Na Amazônia brasileira algunsregistros recentes foram feitos, provavelmente, a partir

.. de migrantes austrais: Cachoeira Nazaré, Rondônia, ju-lho 1986 (D. F. Stotz); Lago Tefé: Amazonas, julho 1989(Forres ter 1993) e Estação EcológicaMamirauá, Amazo-nas, julho i993 (Pacheco 1993).]

PAPA- LAGARTA -DE-BICO- PRETO,

VN

25cm. Observado em Cruzeiro do Sul, Acre em 1992por A. Whittaker (Forrester 1993; 2: 26-31, 1994).Esse migrante foi assinalado também para Venezuela,Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Paraguai e Argenti-na.

P APA-LAGARTA-NORTE-AMERICANO,

VN

[25cm] Parecido com o C. tendo poréma mandíbula amarela e partes inferiores brancas; rêmigescom grande área cor de ferrugem visível na ave de asasabertas. É visitante regular da América do Norte, vemao nosso país durante o inverno setentrional; viaja ànoite, chocando-se às vezes contra paredes fortementeiluminadas. Apanhado, p. ex.: no Piauí (dezembro), Riode Janeiro (janeiro. março), Minas Gerais, São Paulo, RioGrande do Sul (fevereiro), Mato Grosso, até Argentina.É a raça da América do Norte oriental

que emigra para o Brasil, caso correspon-dente ao do icteríneo . "Papa-lagarta-de-asa-vermelha?".

. PAPA-LAGARTA-DE-EuLER,

[23cm] É semelhante ao anterior pelo colorido damandíbula e do lado inferior, faltando-lhe a corferrugínea na asa'.' ventríloqua: "kjoa ...". Vive nacapoeira. Ocorre da Venezuela até a Argentina, Rio deJaneiro, Paraná, Mato Grosso, ete.; em nenhuma parteécomum.

. P APA-LAGARTA-DO-MANGUE,

[28cm] Parecido com o C. mas de man-díbula amarela. Vive nos manguezais das costas do Mé-xico até o estuário do Amazonas.

33 Cuculus do VelhoMundo, mencionado no texto, pertence aos Cuculinae que não ocorrem nas Américas.

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388 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

PAPA-LAGARTA-DE-PAPO-FERRUGEM,

pumilus

21cm. Foi observado em Maracá, Roraima, gargantae papo ferrugíneos contrastando com a cabeça e pesco-ço superiores cinzentos (Whittaker 1995).

ALMA-DE-GATO, Pr. 15,6

47cm. Ave das mais vistosas, pode lembrar umcaxinguelê quando desliza pela ramagem. Imaturo me-nos rabilongo, bico e arredores dos olhos cinzentos enão verdes; olhos marrons. forte: "pí-qua"; "ki-ki-ki" (advertência); "ha-gogo" (ventríloquo); seqüênciaprolongada de "wüp wüp wüp ...", de, p. ex., 16 pios em10 segundos, o que equivale a 96 pios por minuto (mar-cação de território). Tagarelando imita às vezes outrasaves, p. ex., o bem-te-vi, razão pela qual a alma-de-gatoé tido pelo povo como gozador. Ranger duríssimo"rrrrrr" (v. Introdução). Anda em casais. Vive na mata eà beira da mata (mais nas copas), cerrado e cerradão.Ocorre do México à Argentina, todo o Brasil (6 raças geo-gráficas). "Rabo-de-palha", "Chincoã". Há na Amazôniamais duas espécies semelhantes. Veja as duas seguintes.

CHINCOÃ-DE-BICO-VERMELHO, e

36cm. De bico escarlate, alto da cabeça cinzento.estridente, "pi". Vive nas copas, às vezes nas mesmasmatas que a anterior. Ocorre no Pará, Amazonas, Rorai-ma, Rondônia até Mato Grosso.

CHINCOÃ-PEQUENO,

28cm. É como uma miniatura escura de nque ocorre às vezes ao seu. lado (beira do rio). "tzã",lembra uma perereca, melodiosa ki-ô. Levanta e abaixaa cauda suavemente. Vive na beira de mata densa; local-mente (p.ex. Amapá) abundante. Ocorre das Guianas eColômbia até o Maranhão, Goiás, Mato, Grosso e Bolívia.

ANU-PRETO, i Fig. 122

36cm. É uma das aves que mais se vêem em regiõescultivadas; sempre em bandos. Preto uniforme, de bicosurpreendentemente alto. o assobio melodioso"tülid", "ani", lembrando um maçaricão,üii seqüência lenta de "glü ..." (canto); possui mais

vozes ventríloquas, v. Introdução.Aproveita-se regularmente. do gado para espantar

insetos (como gafanhotos), facilidade que poderia ter to-mado vulto somente após a introdução de animais do-mésticos pelos colonizadores.Senão há bois, porcos, etc.,o bando de anus às vezes espalha-se no chão, em semi-círculo, ficando afastados uns .dos outros por dois outrês metros. Permanecem assim imóveis e atentos e quan-

do aparece um inseto, a ave mais próxima salta e o apa-nha. De tempos a tempos o bando avança. Até agoranão foi possível comprovar a opinião, generalizada, se-gundo a qual o anu é um grande devorador de carrapa-tos. Em centenas de conteúdos estomacais, pesquisadospor vários cientistas (sobretudoJ. Moojen, em MinasGerais e Mato Grosso), não apareceu nenhum carrapatonem em casos nos quais um anu foi visto picar a pelede.um animal. Quando um anu pula, p. ex., à perna de umanimal, é provável que apanhe uma mutuca (dípterosda família Tabanidae), e não um carrapato. Quando pou-sam sobre o dorso dos bois geralmente o fazem apenaspara ampliar seu campo visual. É, porém, bem possívelque certos indivíduos ou até populações inteiras de anus,se acostumem de fato a comer carrapatos, hipótese ad-mitida também no caso de otoph sulc espé-cie aparentada, não brasileira. Um ou outro carrapatoencontrado na moela do anu, pode ter sido apanhadono chão ou na vegetação (v. codorna). A relação anu-gado é semelhante à 'existente entre este e a garça-vaqueira.

Vive nas paisagens abertas com moitas e capões en-tre pastos e jardins; ao longo das rodovias costuma serquase a única ave que sempre se vê em pequenos gru-pos, como habitante mais comum das zonas de lavou-ras abandonadas. Prefere lugares úmidos (ao contráriodo anu-branco). Voador fraco, mal resiste à brisa, qual-'quer vento mais forte o leva para longe. Ocorre daFlórida à Argentina e todo o Brasil. "Anu-pequeno","Anum" (Pará). V a seguinte.

Fig. 122.Anu-preto, toph ni.

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..CUCULIDAE 389

ANU-COROCA,

46cm. É nitidamente maior do que o anterior, com acrista da maxila mais curta (faltando de todo nos imatu-ros); plumagem de lustro verde (menos azul) e íris bran-co-esverdeada (adulto). profundo "oak", melodio-so "kü-õrre: seqüência monótona "wáu, wáu, wáu ...",estrofe prolongada bem sincronizada (uníssona come- .çando logo com toda força, não há aumento, apenas umaleve oscilação), como voz de anfíbio, canto emitido emcoro que cessa como que a um comando. Andam aosbandos de pelo menos 3 a 4 casais. Ninhos individuaisou coletivos, estes às vezes com 20 ou mais ovos. Viveperto de água ou lugares alagados, mata densa em beirade rio, pântanos e manguezais; na Amazônia torna-sevizinho da cigana; geralmente distante de habitaçõeshumanas. Ocorre do Panamá à Argentina, todo o Brasil,em lugares adequados. "Anu-peixe". V Alimentação.

Fig. 123.Anu-branco, g .

ANU-BRANCO, Fig. 123

38cm. No Sul é quase tão conhecido como o anu-pre-to. As penas do alto da cabeça estão constantemente eri-çadas.É branco-amarelado, bico cor de laranja (imaturocinzento), cauda com fita preta. alta e estridente:"ia, ia, ia" (chamada e grito durante o vôo); "i-i-i-i" (ad-vertência); "kuít" forte, anunciando um gavião; seqüên-cia fortemente descendente e decrescendo de melodio-sos "glüü" (canto); cacarejar baixo, lembrando a cigana.Foram registra dos 15 "chamados básicos" (Marifio 1989).Quando empoleira arrebita a cauda e joga-a até as cos-tas. Anda sempre em bandos.

Antigamente restrito às regiões campestres secas ecerrado (v. ànu-preto) do interior, nos últimos 100 anospenetrando nos campos antropogêneos das. áreasdesmatadas; era, p. ex., desconhecido na região deCantagalo, RJ, ainda por volta de 1870; já no tempo deMaximiliano de Wied, no começo do século passado,houve comentários de que estaria imigrando ape-nas recentemente para o Brasil oriental; desaparece quan-

do uma área campestre torna-se florestal. Ocorre do su-deste do Amapá e do estuário amazônico (ilhas cam-pestres como Mexiana e a parte oriental de Marajó)àBolívia, Argentina e Uruguai; falta na região de flores-tas da Amazônia. "Anu-galego", "Alma-de-gato", "Gra-lha" (Rio Grande do Sul). "Guira" do Tupi= pássaro."Quiriru" (Ama pá), "Piririguá" (Maranhão, Piauí).

SACI, Pr. 15, 7

29cm: É bem conhecido pela voz e muito difícil de sever. As álulas negras sempre se' destacam quando a aveestá em movimento. Os filhotes emplumados têm gran-des nódoas amarelas no lado superior; pescoço anteriore peito vermiculados de negro,' mesmo que a cauda jáesteja crescida e a ave se tenha tornado independente.

assobio forte bissilábico "ü i", é a voz mais comum,repetida, periodicamente, sem fim (no sul de Minas Ge-rais, p. ex., entre julho e janeiro) até de noite, do poleiro;em certas regiões (p. ex. Nordeste) este assobio é apenasmonossilábico, em outras é trissilábico (dialetos). O al-cance desta chamada é quase de meio quilômetro. Ou-tras vozes são: escala ascendente de cinco silvos, comfinal descendente: "ci ci ci cíci": pio ascendente, singeloe pungente. Ávido por apanhar petiscos no chão, abreas asas e projeta as grandes álulas negras para a frente,causando então a impressão de um animal de três cabe-ças ou quatro asas ("tico-tico-de-três-cabeças", SC,[our

ínged veja também us solta opor-tunamente a álula sem estender a asa. Tal demonstraçãoé feita também pelo filhote assustado.

ç Parasita. No Brasil seus ovos são encontra-dos nos ninhos grandes, fechados, de grave tos, defurnarídeos como escens, guj nensiseo ons,

e e g ophil ,Como "hospedeiros" podem ser designados apenas osrepresentantes como e que foramobservados criar o sacio O ovo de é apenas poucomaior do que o do joão-teneném e é mais redondo, p.ex.:ovo de 21,3 x 16,9mm, peso 3,4g; ovo deg ensís 20,4 x 14,4mm, peso 2,5g. A fêmea de saci pesa4 7g, a de 18g. Ao que parece etambém põe nos ninhos fechados, globulosos, de algunstiranídeos etetes, . Em certas regiõesgrande parte dos ninhos de ll e Ce is sãomolestados pelo saci. Acham-se um a dois ovos do pa-rasita em cada ninho. Consta que a incubação do ovodo saci é mais curta do que a do ovo do hospedeiro, seufilhote nasce primeiro, após 15 dias, ao passo que o de

g necessita de 18 dias para nascer. Osacizinho toma rapidamente a dianteira. A ponta do seubico é um alicate afiado (fig. 125) qlle seria instrumento'próprio para dar cabo de seus pseudo-irmãos (Sick 1981),fato confirmado entretanto por Morton & Farabaugh(1979) e Salvador (1982). A situação lembra o caso dos

. ,!.

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390' ORNITOLOGIA BRASILEIRA

filhotes dos Indicatoridae (Piciformes) da África, etc., p.ex., cujos filhotes nascem com um gan-cho afiado na ponta da maxila e da mandíbula, armapoderosa com a qual matam os pseudo-irmãos. Ospseudo-irmãos do saci desaparecem pouco depois donascimento do saci, não sendo geralmente achados mor-tos por baixo do ninho, levados para fora do mesmo,pelos próprios pais. Desaparecem também os ovos queestão no ninho no qual nasceu um saci, incluindo ou-tros ovos de e se tivessem sido postos. Faltam ain-da observações diretas sobre a introdução do ovo pelosacioA entrada e anexa galeria do ninho de s,etc., são muito estreitas. Achamos ninhos deCeabertos na altura da câmara de incubação, que devemser obra do saci, para pôr seu ovo. Os donos do ninhologo começam a consertar um tal dano do mesmo, não oabandonam. O sacizinho se defende no ninho sibilandocomo cobra e dando até "botes"(s e displ ), pulandopara a frente e agitando as grandes álulas pretas. O jo-vem saci abandona o ninho cedo (com 18 dias de idade),ainda incapaz de voar, mas corre, ligeiro, e continua aser alimentado pelos padrastos.H , , c Habita os campos com ar-bustos e brejos, tanto nas baixadas como em montanhas(p. ex. Mantiqueira, MG, até 1400 m). Ocorre do Méxicoaté Bolívia e Argentina, todo o Brasil. "Sem-fim","Peitica", "Tempo-quente", "Peixe-frito" (Bahia),"Pitica" (Pará), "Peixe-frito-seu-veríssimo" (nomeaplicado a indivíduos que usam a estrofe prolongada).

Fig.124.Saci, e i , saltitando no chão eestendendo asálulas, causando.a impressão de umaave de três cabeçasou quatro asas (seg.Sick1953).

t o

A B

Fig.125. n Bicodo ninhego (A)e do adulto(B).Aponta do bico do ninhego tem a forma de umalicatepróprio para dar mordeduras fatais a outrosfilhotespresentes; filhotecoletadoe estudado peloautor em11de novembro de1941,Linhares,EspíritoSanto.

A denominação "Saci", embora possa ser consideradaonomatopéica, mais nos sugere haver vínculos com oSaci-Pererê do folclore, sabidamente "enganador", poisa dita ave, com o timbre muito alto de sua voz, ilude-nos acerca da sua localização.

PEIXE-FRITO-PAVONINO, p oninusPr. 15,9

28,5cm. Ave silvestre, que se oculta, traindo-se ape-nas pela voz, de madrugada eà noite. De cauda e cober-teiras superiores da cauda extremamente longas. Pesco-ço anterior de cor ferrugínea, sem manchas escuras (v.aespécie seguinte). um assobio do timbre do saci, dequatro a cinco sílabas: "ü i üü". "ü-i ü-i i"; bíssilãbico.

como o do saci, emitido como resposta. Parasita, põeseus ovos nos ninhos em forma de bolsa de tiranídeospequeninos, como odi pl beiceps,

icul s e He ccus, e em ninhos abertos deformicarídeos ith t lis). É impossível opeixe-frito entrar no ninho de umod ost deve in-troduzir o ovo com o bico ou desovar agarrado fora doninho, "atirando" o ovoà câmara incubatória. Enquan-to o D.· uoninus adulto pesa 48g, o odi ip eiceps pesa apenas 5,9g. Habita a orla da mataemaranhada e densas matas secundárias. Ocorre na re-gião setentrional da América do Sul, em sentido meridi-onal até o Paraguai e Argentina, no Brasil é encontradona Amazônia, Mato Grosso, Goiás, Rio de Janeiro, SãoPaulo e Paraná. "Saci-pavão*". V a seguinte. [Na Ama-zônia é encontrado localmente, a partir de sua vocaliza-ção nas formações de taquara, p. ex., Serra dos Carajás,Pará (B. M. Whitney,J. F. Pacheco).]

PEIXE-FRITO-VERDADEIRO,

eilus

36cm.É parecido com a espécie anterior, porém mai-or, garganta e peito com manchas anegradas sobre fun-

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CUCULlDAE 391

Fig. 126.Filhote do peíxe-frito-pavoníno, ococcinus, alimentado por um pequenotiranídeo,

odi p beiceps(seg. NeunteufeI1954).

do esbranquiçado. semelhante à do 'anterior, porémmais baixa e terminando num trêmulo:ii irrrü"; o trê-mulo é substituído por assovios simples em seqüênciaascendente se a ave estiver mais excitada:ü ii dü-rü"podendo então assemelhar-se muito à voz da espécieanterior. Canta de madrugada e à noite.

É parasita, seus ovos são encontrados em ninhos fe-chados de tiranídeos uic pi e ninhosabertos de formicarídeos do ). Habi-ta a mata fechada, a pouca altura sobre o solo, como oanterior. Ocorre do México à Bolívia e Argentina, local-mente em todo Brasil, da Amazônia ao Rio Grànde doSul, também Rio de Janeiro e São Paulo. "Tâzin"(Kamaiurá, Mato Grosso), "Tchimina" (Juruna, MatoGrosso), "Saci-faisão?",

JACU-ESTALO, phus Pr. 15, 10

51cm. Ave terrícola, arisca, do tamanho de um pe-queno jacu, com largo topete que é levantado vertical-mente à menor excitação; pernas longas, dedos relativa-mente curtos; atrás do olho há uma zona azul triangu-lar, coberta de penas quando a ave está tranqüila; juve-nil de cauda curta, plumagem anegrada, mas já com osinal azul ao lado da cabeça. pio baixo monossilá-bico descendente timbre da rola-azul, isp iio , os pios se seguem em intervalos de 3 a 4 segun-dos, durante vários minutos, é o canto da espécie, cujotimbre baixo pode lembrar o "gemer" dos mutuns. In-quieto, e produz forte estalo ou até matra-queia, batendo as mandíbulas, lembrando o bater dosdentes possantes do porco-da-mato (queixada).H bitos Apesar de ser essencialmente terrícola, empo-leira regularmente para ampliar seu horizonte, para des-cansar (deixa cair as asas no galho), para arrumar a plu-magem e para dormir à noite, no último caso deitandono galho tal qual uma galinha. Quando está em plenomovimento, pousa até em brotos verticais; levanta a cau-da a 45°. Correndo no solo pode lembrar umcaxinguelê.É freguês permanente das colunas de formigas-de-correição (Eciton) consta que procura também aglome-

.rações de formigas-de-fogo olenopsis).Inspeciona mon-tes de galhos secos, buracos de tatus e cupinzeiros ter-restres ocos.

e oduç Observamos em 1941, no Espírito Santo, umcasal zelando por um filhote, prova eloqüente de que aprópria ave cria sua prole, não parasitando outras aves.Um ninho achado em setembro de 1977 por P. Roth(Aripuanã, Mato Grosso) era uma pequena composição

.. de galhos grossos, forrado de folhas verdes, situado adois metros e meio acima do solo; continha um ovo bran-co-amarelado, sem manchas (Roth 1981). Soubemos, re-centemente, que Castelnau (1855) se refere à reprodu-ção de phus puche nii,mencionando dois ovosque o casal choca (provavelmente informação de índio).Existem ovos de phus ipennis em coleçõesoológicas.

Vive na mata virgem alta, ocorre da América Centralà Bolívia, Mato Grosso, Tocantins, Minas Gerais, Espíri-to Santo ao norte do rio Doce, ponto avançado da faunaamazônica. [Historicamente também no norte do Esta-do do Rio de Janeiro.] No sul da sua área tornou-se mui-to escasso em conseqüência do desmatamento e do de-sassossego reinante nas matas restantes. "[acu-porco","[acu-queixada", 11 Aracuã-da-mata", "[acu-estalo-de-bico-verde?", "Acanati-de-bico-verde*". A designação"[acu-taquara", usada para a juruva, hthengus

us, dá margem a confusão comeo phus.

UACU-ESTALO-ESCAMOSO], phussqu En

[43cm. Descrita do baixo Tapajós, distinguível dasoutras formas pelo estilo geral de coloração' e pela me-nor extensão da área nua da face (Todd 1925). Tratadaalgumas vezes como subespécie de N. i, cuja dis-tribuição margeia na sua limitada área de ocorrência.Coletado e pesado (340g) na região do baixo Xingu, novolimite leste (Graves & Zusi 1990).]

. JACU-ESTALO-DE-BICO-VERMELHO*, eo phuspuche

\

[43cm] De bico e partes nuas da face avermelhadas.[Vive no solo das florestas de terra firme da Alta Ama- .zônia brasileira para leste até o Purus; limitadamentena margem esquerda do Solimões (Todd 1925). Assina-lado também para o Equador e Peru.]

IliI'

I

JACU-ESTALO-DE-ASA-VERMELHA *, eo phusennis

[43cm. De distribuição limitada a região compreendi-da pelo sul da Venezuela, oeste da Guiana e Estado deRoraima, Brasil. Encontrado em março de 1994 perto deSão Gabriel da Cachoeira, Amazonas (B. M. Whitney).]

Ir

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392. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

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ORDEM STRIGIFORMES

- SUINDARAS: FAMfuA TYTONIDAE (1)

São corujas cosmopolitas, mais difundidas nas re-giões quentes. Fósseis numerosos no Terciário Superiore Pleistoceno (inclusive do Brasil), sendo que o mais an-tigo registro (Og go , do Paleoceno da América doNorte, apresenta características intermediárias entreTytonidae e Strigidae.

Embora separadas das outras corujas por várias ra-zões (p. ex. a estrutura da siringe e a posição das per-nas) as suindaras e os Strigidae parecem ser monofiléti-coso Poderia-se. admitir para uma tribo ou umasubfamília dentro de Strigidae. Isto é corroborado pornovos dados bioquímicos e um cruzamento deo com

em cativeiro, duas corujas bem diferentes,mas de tamanho semelhante.

São aves esbeltas, de "cara" comprida e disco facial(v.Strigidae) em forma de coração, ao contrário das ou-tras corujas que o possuem redondo. Os olhos dasuindara desaparecem numa fenda longitudinal de pe-nas se a ave for intimidada de dia. Sobre as grandes par-ticularidades morfológicas do olho e do ouvido dasuindara v. sob Strigidae. Pernilongas e cambaias. De-dos cobertos por cerdas. Tem a unha do dedo médiopectinada, semelhante à das garças e bacuraus. Fêmeamaior.

Seperturbadas, balançam o corpo lateralmente. Ame-drontadas e sem poder fugir, jogam-se de barriga paracima, enfrentando o perigo com as poderosas garras quelançam para a frente. Embora seja: bem noturna, asuindara já foi observada caçando lagartixas sob o solquente (Haverschmidt 1970).

SUINDARA, CORUJA-DA-IGREJA, l Fig. 127

37cm. Inconfundível pela estatura delgada eÇ> colo-rido bem.claro, lado inferior branco assim como a face("coruja-branca").

Grito fortíssimo, "chraich" ("rasga-mortalha"),emitido freqüentemente durante o vôo; é comum ouvir-se este grito à noite sobre as cidades (p. ex. Rio de Janei-ro). Um roncar, igualzinho ao roncar de um homem,

. emitido no período de acasalarnento, entoado em duetopelo casal, a fêmea respondendo nos intervalos que omacho intercala; semelhante roncar é proferido amiúde

pelos filhotes que se traem assim no ninho. Um sibilarrítmico, emitido no lugar de dormida diária. Desafia umaseqüência de "tic-tic-tic. ..", durante o vôo à noite; estaúltima manifestação sonora não é conhecida em toda aárea da suindara, mas foi registrada por nós em váriaspartes do Brasil e na Argentina, ocorrendo também noSuriname e nas Antilhas (Jamaica), lembra os ruídosproduzidos por certos morcegos quando voam caçan-do; este "tic" não consta do levantamento de Bühler&Epple (1980) que registra 18 vocalizações diferentes de

o na Alemanha. Quando assustada de dia ou quandoquer amedrontar, bufa fortemente podendo estalar como bico como outras corujas.

n ç Come pequenos vertebrados: roedores,marsupiais, morcegos, anfíbios, répteis e pequenas aves;geralmente não ataca os pombos e andorinhas nos for-ros vizinhos. Os levantamentos de ossadas espalhadasnas cavernas de Lagoa Santa, Minas Gerais, depósitosconsiderados como oriundos principalmente de restosde pelotas ou bolos alimentares da suindara (v. tambémsob Strigidae), revelaram 87% de ratos (em primeiro pla-no te odon sulcidens), 10% de marsupiais, 2% de avese 1% de morcegos (Valle& Carnevalli 1973). Os examesdo conteúdo estomacal feitos no Espírito Santo demons-traram um teor de mais de 90% de ratos. Em cidadescomo o Rio de Janeiro a suindara vive de ratos-de-casa

ttus ttus), ratazanas s no ieus) e camundon-gos ( us sculusi, conforme verificamos na área doMuseu Nacional, Quinta da Boa Vista; as respectivaspelotas mediram 50 x 34 x 27mm, às vezes apenas 35 x32 x 21mm. Em pelotas examinadas no Espírito Santoforam encontrados os seguintes morcegos, todosinsetívoros: olossus rufus (Molossidae), otis nig ns(Vespertilionidae), siliensis, onehoglosec (Phyllostomatidae) e opt otis(Emballonuridae). Constituem exceção as provas de te-rem as suindaras apanhado morcegos hematófagos,embora elas às vezes coabitem cavernas onde estes ocor-rem (Pernambuco). J. Moojen achou em pelo tas dasuindara em Salvador, Bahia, dois vampiros odus).Quando suindaras e vampiros(D dus e Di /l fo-ram postos juntos num viveiro, estes atacaram as coru-jas, que deles não se aproveitaram como alimento(Ruschi 1953). Não faltam no cardápio insetos (besou-ros) e entre as aves constam pardais.

Nas proximidades de habitações humanas caçamratos à noite, com afinco ("ratoeira voadora"). Afirmam

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394 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

que a suindara, embora tenha metade do peso de umcorujão consome a mesma quantida-de de roedores ou até mais do que este último. Estão,portanto, entre as aves mais "úteis" do mundo, no quese refere à economia do homem.

A sazonalidade do alimento da suindara foi eviden-ciada através do exame de 90 pelotas de dois indivídu-os, vivendo num bosque de São Carlos, Sp, que conti-nham no verão (dezembro a fevereiro) 90,5% de gafa-nhotos e besouros e 7% de roedores, e no inverno (junhoa agosto) 89,8% de roedores e 7,2% de gafanhotos (Motta-[unior 1988). Assim a abundância de insetos, de fácilobtenção no verão em clima subtropical, toma-se evi-dente.

Em lugares abrigados, como cavernas, os restos ós-seos das pelotas de suindaras que ali penetram, conser-vam-se por longo tempo; p~nas e pêlos, porém, sãodestruidos por larvas de insetos, integrando-se mais ra-pidamente à terra. Ocorre fossilização de pelotas emcavernas (comprovada na África), o que nos proporcio-na o meio de saber que, há milhões de anos, as corujascomeram animais hoje desaparecidos. Boa parte do co-nhecimento dos vertebrados (em parte já extintos) p. ex.das Antilhas se deve ao exame de pelotas da suindara.No Brasil central, o rato e don sulcidens descrito porLund em 1841 de Lagoa Santa, Minas Gerais, era conhe-cido durante muito tempo só através de restos encon-trados em pelotas da suindara.

ep oduç Ovos compridos, ovais (ao contrário de ou-tras corujas), branco puro, postos diretamente nosubstrato ou numa camada de pelotas em partedesagregadas. Incubação de 30 a 34 dias, realizada pre-dominantemente pela fêmea queé alimentada pelo ma-cho. Consta (estatística feita fora do Brasil) que os paiscevam os filhotes em duas fases, como fazem váriosmamíferos noturnos: (1) do crepúsculo até à meia-noitee (2) à madrugada. O pai caça e a mãe alimenta os filho-tes que podem ser de tamanho bem diverso; os maioresrecebem ratinhos inteiros, os pequenos apenas pedaci-nhos. Filhotes crescidos podem ajudar na alimentação

g ej t b g )

Bühler, P. 1972.Inst. f leichte iiche e, Un . tg t, itt.4:39-50. (estrutura óssea)

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Motta-Junior, J. C.1988. is . eg. Ecol., . C os 5 57-64.

l' I

Fig. 127. Suindara, o , mostrando a típicaposição das pernas, "cambaia". Original Paul Bühler.

de irmãos pequenos mas chegam a devorar os últimosquando falta alimento. No escuro completo o filhote fa-minto procura ativamente o bico da mãe que chama ofilhote; não existe pedinchar (Bühler 1981). Os filhotesabandonam o ninho com aproximadamente dois mesesde idade. Mesmo em clima ameno reproduzem durantequase todo o ano, desde que haja fartura de alimenta-ção.H , dis ibui Prefere nidificar em sótãos de casasvelhas, forros e torres de igrejas, pombais e grutas; dedia dorme, às vezes em palmeiras. Adaptou-se rapida-mente às edificações da nova capital,Brasília, vivendohoje sob os telhados dos prédios das superquadras. Atraia atenção em paisagens cultivadas. Ocorre da Américado Sul até a Terra do Fogo, todo o Brasil: "Tuidara" (doTupi: "o que não come, segundo a tradição"), "Coruja-católica", "Mocho-das-cavernas" (Minas Gerais). Nas trêsAméricas são reconhecidas 13 raças geográficas deto

mostrando asedentariedade desta coruja após ter-sedifundido durante séculos por quase todo o mundo.

(diferença sazonal na alimentação)Motta-Junior, J. C.1994. os Cong . Om. c e 147.

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STRIGIDAE 395

CORUJAS, MOCHOS, CABURÉS: FAMÍLIA STRIGIDAE (19)

São distribuídas por todos os continentes exceto aAntártica, provavelmente originárias do Velho Mundo.Já existiam corujas no Terciário Inferior (Eoceno,Protostrigidae) da América do Norte, estando osStrigidae representados desde o Terciário nos EUA; do .Pleistoceno do Brasil (Minas Gerais) e uma espécie de .porte grande, destituída de vôo, do Pleistoceno de Cuba.

As semelhanças tanto com bacuraus como com ga-viões podem ser interpretadas em parte como analogi-as, relacionadas à vida noturna ou ao modo de caçar.V.também a família precedente. Ainda não se achou umparentesco com outras ordens de aves.

O tamanho varia consideravelmente; um corujão,pesa 20 vezes mais do que um caburé,

Plumagem extremamente macia. Vôo silencioso, em umaadaptação à vida crepuscular-noturna, possibilitado pelaestrutura das penas (fig. 129) a qual elimina componen-tes ultra-sônicos que tanto poderiam trair a coruja emsuas caçadas como atrapalhar a orientação acústica daprópria ave (Thorpe& Griffin 1962). Espécies de costu-mes diurnos como e e as coru-jas piscívoras e da Ásia e da África,respectivamente, têm vôo mais "duro", o mesmo acon-tecendo com indivíduos de espécies noturnas que têmpenas (rêmiges) gastas.

Os laros são providos de cerdas ou vibrissas cuja baseé cercada de células sensitivas, provavelmente gustativas(corpúsculos de Herbst). Destaca-se um "disco facial"

Fig.128.Ouvido externo do murucututu,As penas mais longas, atrás da abertura

auricular, ajudam na localização de ruídos, correspon-dendo a um microfone direcional (seg.Bõker 1937).

de penas (estudado sobretudo na suindara, v.Tytonidae)que desempenha importante papel de refletor sonoro:movendo-se sob a ação de dobras da pele, amplia o vo-lume do som e facilita a localização da presa pelo ouvi-do. O ouvido da coruja parece funcionar como um mi-crofone de radar colocado no foco de uma parábola; osom seria captado pelo disco facial (que agiria como aparábola), sendo então transmitido ao ouvido (o "mi-crofone") cuja abertura externa (fig. 128), inclusive, estásituada em frente ao foco do disco e é dirigida para trás,talo microfone de um radar, devido a uma carnuda do-bra; tais dobras, aliás, são móveis permitindo uma me-lhor canalização do som para o ouvido (Bühler 1989).As penas que cobrem o ouvido têm uma estrutura ralapeculiar, permitindo a penetração do som, organizaçãoexistente em todas as aves. A assimetria dos ouvidosexternos, outra particularidade das corujas, parece co-laborar na focalização, o lado esquerdo focaliza parabaixo, o lado direito para cima. Existe outra assimetria,a da siringe. A grande largura do crânio das corujas evo-luiu também em função da audição aperfeiçoada. As"orelhas de penas", típicas para determinadas corujas efaltando em outras, não têm ligação nenhuma com o ou-vido.

tl\ I~.

A 8 cFig. 129.Borda do vexilo externo da primária maisexterna de uma coruja funereus, A, B) e deum andorinhão , C).A "dentadura"(Z) da coruja, ampliada emB, reduz ou elimina oruído de vôo.Dr, barbicelas anteriores;Rm, ramo (seg.Sick1937).

O ouvido interno ou labirinto das corujas é muitobem desenvolvido. Algumas delas, entre as quais asuindara, são capazes de apanhar um rato vivo em es-curidão absoluta, guiadas unicamente pelo ouvido(Payne 1971). Um filme infravermelho revelou que asuindara até mesmo fecha os olhos no instante de apa-nhar um camundongo. Consta que um [unereus

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396 ORNITOLOGIA BRASILÉIRA

da Europa-localizou um ratinho a uma distância de 48metros, em mata aberta (Kuhk 1966). A coruja localizaum animal em movimento apenas por intermédio deuma parte do amplo espectro de freqüências que com-põem o ruído produzido e sua habilidade em percebersons extremamente fracos é talvez ainda mais impor-tante do que o registro de freqüências altas (Konishi1973). Consta que a suindara reage sobretudo a freqüên-cias entre 3.000 e 9.000Hz. A capacidade do ouvido dascorujas parece para nós tão milagrosa como a eficiênciado olfato de mamíferos macrosmáticos como os cães.Novas pesquisas pretendem provar que a audição dascorujas é semelhanteà nossa (Martin 1986).

É admirável como as corujas sabem discernir na mul-tidão de ruídos aqueles que lhes são vitais, como o leverumor de um camundongo andando no solo. Certos re-presentantes, como e

além de são apontadas como as coru-jas de ouvido melhor desenvolvido. O disco facial é pou-co nítido no caburé, que caça de dia.É interessante no-tar serem os discos faciais esboçados em gaviões quesão crepusculares (como ou espécies como

que caçam semelhante a voando baixinho. sobre capinzais e brejos abertos.

Olhos grandes, présbitos, quase imóveis, de formatelescópica (ao contrário dos gaviões), resultando umcampo visual muito limitado - desvantagem compen-sada pela extrema agilidade da cabeça que tem um cir-cuito de 270°.Sua capacidade visual não é inferioràacús-tica. De noite a pupila se abre, deixando entrar toda aluz disponível; o mesmo se observa na morte, tanto queneste caso quase não é possível registrar a cor da íris. Ocontrário acontece de dia e também quando a ave estáinquieta, pois a íris se fecha e a pupila diminui, reduzin-do-se a um pontinho; enxergam bem de dia. A cor daíris é muitas vezes importante para a diagnose da espé-cie, embora apareça pouco no escuro, pelo menos paranós. Existe mais variação intra-específica da cor da írisque se esperava até agora; até irmãos podem ter cor com-pletamente diversa (v. abaixo sobOtus, Oliveira 1984).Ao contrário do que se dá nos bacuraus, os olhos damaioria das nossas corujas não dão reflexo luminosoquando atingidos pela luz forte de uma lâmpada.

Olhando com atenção, balançam a cabeça lateralmen-te o que deve ajustar a paralaxe. O nervosismo se mani-festa num rápido descer e subir das pálpebras superio-res, enquanto a coruja tranqüila fecha o olho puxandolentamente a pálpebra inferior para cima, como a maio-ria das aves.

O dedo externo (quarto) pode virar voluntariamen-te para trás, reforçando o hálux para segurar a presa(fig. 130) pois o eixo da presa é dirigido para a frente,não transversalmente em relação ao corpo do caçador(v. águia-pescadora). Diversamente dos gaviões, as co-rujas têm divertículos intestinais, cada um comparávela um ceco, produzindo um tipo diferente de fezes, pre-tas e fétidas. Não têm papo.

A plumagem altamente críptica, semelhanteà debacurause urutaus, esconde as corujas no pouso diur-no, função vital que aproxima o colorido e o desenho damaioria das espécies e dificulta sua identificação atra-vés dos caracteres externos. Ocorre muita variação in-dividual, não costumando haver no mesmo local doisexemplares iguais da mesma espécie. Muitas corujas têmuma variação ("fase") de cor ferrugínea, talvez incenti-vada por condições ecológicas (adaptação ao ambienteou efeito de umidade). Acontece que o ferrugíneo podedominar apenas no lado superior ou no lado inferior docorpo. O material de museu torna-se avermelhado como tempo. Em espécimens bem frescos pode haver umafluorescência rosada por baixo das asas, provocada porporfirinas (p. ex.Otus e A mudadas retrizes pode ser quase simultânea Umacuriosidade do padrão de coloração das corujas é a "faceoccipital" dos caburés, desenho semelhantemostra o quiriquiri, ,

Os sexos se parecem, a fêmea àsvezes é maior. Umaparticularidade das corujas é a penugem natal ser subs-tituída por uma segunda geração de plumas, asseme-lhando-se a uma lanugem, a qual ainda existe quando ofilhote abandona o ninho. Essas plumas cobrem o corpoquando rêmiges e retrizes já se assemelhamà pluma-gem definitiva, habilitando a ave a voar. Em e

a penugem é amarelada ou esbranquiçada,contrastando com o disco facial negro, o que resultanuma vestimenta bem vistosa.

No Brasil existem morcegos que são maiores do querepresentantes deOius e podem ser confundidos dentroda mata com corujas; na silhueta de vôo o morcego sedestaca pela falta da cauda, expondo em substituição ospés esticados para trás. O morcego hasiaius,espécie carnívora (come até pássaros), ocorrendo emquase todo Brasil, tem envergadura quase igual a deOiusou até maior (65cm). Entretanto os morcegos têm umvôo mais rasante do que corujas e bacuraus.

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Fig. 130.Pé esquerdo de um corujão,o i s,no instante de apanhar uma presa. Note a disposiçãoradial dos dedos. Original,H. Sick.

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STRIGIDAE 397

É errôneo pensar que para aves noturnas, como co-rujas e bacuraus, a importância da comunicação acústi-ca, tanto intra-específica quanto inter-específica, sejamaior do que para aves diurnas, concluindo da nossaincompetência visual no escuro.O "canto", emitido comfreqüência ou exclusivamente durante a reprodução,é .para nós o melhor meio para a identificação específica.Contudo não é fácil dar uma idéia da vocalização poruma descrição em palavras.

Temos, inicialmente, que aprender bem a sinfonia en-toada pela rica fauna neotrópica ativa no lusco-fusco e ànoite, pois as vozes de certas corujas (comoOtus) e ba-curaus podem assemelhar-se à vocalização de anfíbios.No Espírito Santo deparamos com a voz fortíssima (au-dível a SOOmdistante da mata) de

vivendo em gravatás arborícolas(Bromeliaceae) das copas altas da mata virgem, cantan-do no crepúsculo. Também mamíferos podem concor-rer para a confusão do coro crepuscular e noturno, comoverificamos no Brasil central, onde o berrar dorato-toróou Ke-re-ruá (Kamaiurá, Mato Grosso), armaius,animal arborícola que vive nas matas ribeirinhas, podeser tomado pela voz de um corujão.O mesmo pode acon-tecer com otoró,(Echimyidae), ao norte do Amazonas (rio Trombetas),ratão arborícola noturno cujo grito é um bissilábico"kórro-kórro". Surpreende na Amazônia também a vozdo macaco-da-noite, sp., um profundohut-tzt, atri-buível a uma coruja, lembrando um automóvel de crian-ça. Alexander von Humboldt que descreveu essemacaquinho, explicou como a mata tropical noturnaé

barulhenta - ao contrário do quase silêncio que reinadurante o dia. Na identificação das vozes das saracurasencontramos problemas semelhantes.

Referimo-nos aqui mais à parte da vocalização dascorujas que corresponde .ao canto de outras aves. Nasespécies muito semelhantes deOtus a vocalização tor-na-se decisiva na classificação. Além do canto existe mui-tos outros tipos de vocalização nas corujas, alguns deidentificação difícil.

Ambos os sexos cantam.O casal de várias corujas,p. ex., canta em dueto ou diálogo e asestrofes diferem, até certo ponto, conforme' o sexo; a dafêmea pode ser um pouco diferente, p. ex., mais alta erouca (p. ex. Oius , o, s e Gl idiu

pode-se desenrolar uma intensa conversaentre dois machos vizinhos(Otus). A voz mais alta dafêmea (esta mais pesada que o macho) se explica pelotamanho menor da siringe da fêmea (Miller 1934). Nãoabrem o bico quando gritam. A atividade canora de co-rujas é grande no sudeste do Brasil, em agosto/setem-bro; especialmente nas noites quentes e calmas. Vocali-zação singular é o "chocalhar" dos filhotes da buraqueira,um caso de mimetismo agressivo. Já os filhotes de caburé

emitem um "zisi, si, si", lembrando o alarme

do furnarídeo Todas as corujas, mesmo os filho-tes, estalam com o bico, batendo as mandíbulas. .

O melhor conhecimento da vocalização das corujasvai revelar a existência de espécies ainda não descritasP: ex. no gênero

Na alimentação dos representantes brasileiros pre-dominam geralmente insetos (gafanhotos, besouros,baratas, etc.) e até mesmo uma coruja grande como

é, em boa parte, insetívora.O acúmulo de es-trume ao redor da entrada da galeria do ninho daburaqueira atrai besouros (Scarabaeidae) que servem dealimento à coruja, Espécies de porte maior e mais pos-santes apanham roedores, marsupiais (gambás), morce-gos (inclusive vampiros, registrados como alimento de

lagartos e rãs, Também s e siogius caçam morcegos,

É evidente, ecologicamente, que a caça bem-sucedi-da aos ratos-do-mato implique em sub-bosque de vege-tação rala expondo o solo, cidi .levaàs vezes um pássaro (pode ser um pardal) para a densarama ria onde come-lhe a cabeça e abandona o resto que,ali suspenso, apodrece, Sabemos que a espécie européiade Gl (que vive portanto em clima temperadoe, sobretudo, de rigoroso inverno)é muito propensa aguardar comida, P: ex. um ratinho que deposita sobre agalhada e mais tarde aproveita, tem a táticaperfeita de se disfarçar pela "face occipital", aprovei-tando-se desta durante as caçadas,eo pode saque-ar ninhos de codorna; come, casualmente, escorpiões.Quando formigas-de-correição estão ativasà noite, co-rujas comoOtus aproveitam-se dos animais espantados,

Há, como em gaviões, especializações individuaisque obscurecem .diferenças interespecíficas; i

P: ex" aprende a se alimentar de carangue-jos na beira de rio (Guiana), um ocasionalmenteapanha galinhas no poleiro e umGiaucidium não hesitaem arrancar um passarinho da gaiola, em pleno dia, NoBrasil central os corujões freqüentam os barreiros paracaçar, Consta que a ração diária de um corujão,o

, corresponde aproximadamente a 10% dopeso da ave,

A maior atividade caçadora das espécies noturnasdesenvolve-se no crepúsculo e no começo da noite, atéaproximadamente às 21 horas, Porém deve haver umamodificação deste horário pela existência de lua, me-lhorando a visibilidade e agindo na produção de som-bras; conforme o exposto sob"Morfologia",' a orienta-ção dascorujas costuma ser mais acústica do que visu-al, ao contrário dos bacuraus,

Em cativeiro uma buraqueira, saciada no apetite, for-çou um camundongo dentro do viveiro a se refugiar numburaco onde, mais tarde, pode capturá-I o com facilidade,

Quando se examina o estômago de uma coruja dedia, o mesmo geralmente está vazio, Tanto mais impor-

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398 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

tante é o controle da alimentação pela possibilidade deexaminar as pelotas ou bolotas regurgitadas, as quaiscontêm os crânios, etc., dos mamíferos (às vezes de ele-vado interesse para o registro de espécies raras de roe-dores silvestres), bico, pés e unhas das aves e as partesqui tinos as dos artrópodes. Foram identificados empelotas de corujas na Europa até os ossos de musaranhos,minúsculos mamíferos de um comprimento total de71rnrn (VogelI970; v. também sob beija-flores), cujos crâ-nios aparecem freqüentemente quebrados, mas os den-tes (urna série dentária maxilar mal mede 6mm) são con-clusivos. É admirável corno os sucos digestivos das co-rujas limpam os ossos mais delicados de carne e ten-dões. Ficam inalterados também pêlos, penas e esca-mas. Os vegetais contidos nas pelotas provêm do con-teúdo intestinal dos roedores devorados. As pelotas va-riam conforme a espécie da coruja e sua alimentação; asda suindara, p. ex., são mais compactas do que as deoutras corujas. Vários animais pequenos devorados pro-vocam pelotas maiores e mais numerosas do que umúnico animal grande engolido. Consta que a pelota deum corujão, bo u gini nus, embora formada dentrode 8 a 10 horas no estômago' (controlado por raioX), éexpelida apenas após 16 horas: pode medir 45 x 25mm.As pelotas são encontradas abaixo dos poleiros diurnose em torno do ninho.

O suco gástrico de gaviões, inversamente; digere omaterial ósseo. Ao contrário dos gaviões, as corujasmuitas vezes devoram a presa inteira, sem limpá-Ia.Quando preparam urna ave, costumam cortar-lhe o bicoe os pés, que não engolem. Quando as pelotas são con-troladas por vários anos consecutivos, podem se reve-lar ciclos periódicos de roedores daninhos (Wendland1975).

Hábitos noturnos em aves são raros, atribuíveis a me-nos de 5% da classe. A buraqueira e sãodiurnas, também Glaucidium até certo grau. Na suamaioria as corujas são crepusculares tal qual os bacu-raus. No escuro absoluto se deslocam apenas o guácharo,

e , e as andorinhões da Ásia; ambosevoluíram a ecolocação. Não faltam registros de O.cho se aproveitando da iluminação artificial para ca-çar besouros.

As corujas gostam de banhar-se na chuva. Ai

buraqueira torna banho de poeira, corre corri rapidezpelo chão.

Criam em ninhos abandonados de outras aves.e ubo põem às vezes no meio do capim, no

solo; Cicc , Otus e , em árvores ocas,o último também em buracos feitos por pica-paus. No

cerrado Otus cholib pode ocupar um cupinzeiroarbó-reo furado por periquitos. No Pantanal, Mato Grosso,

o usa às vezes os grandes ninhos do tuiuiú constru-ídos no alto de árvores desfolhadas - não obstante aplena luz do dia e o calor extremo da região. Quandofaltam árvores, uc l pode ocupar umburaco num cupinzeiro terrícola (Pantanal, Mato Gros-s ) na Argentina foi até encontrado a pôr ovos num ni-nho de joão-de-barro. A buraqueira se instala em bura-cos no chão, é atraído por tocas de tatu e buracos nabase de cupinzeiros terrícolas que o casal, se revezando,alarga; cava larga galeria mais ou -rnenos horizontal,usando ambos os pés e (menos) o bico; forra a cavidadedo ninho com esterco ou capim seco. I cons-trói o ninho no solo, aproveitando-se em primeiro pla-no do capim que cresce em torno do lugar escolhido;seu ninho lembra o do gavião-do-mangue( quepode ser seu vizinho.

Os ovos, freqüentemente três, são quase redondos,às. vezes ovais, cuja forma varia muito, até dentro damesma postura (buraqueira). A cor dos ovos é brancapura, embora os da buraqueira quando frescos, tenhamurna leve tonalidade rosada. A incubação da buraqueiraé de 23 a 24 dias, a desio 27 a 28 dias e a docorujão ( ubo) 4 semanas. A fêmea costuma começar achocar após ter posto o primeiro ovo, o que resulta emum tempo diferente da eclosão e tamanho bem diversodos filhotes, diferenças ainda patentes quando a proleabandona o ninho, com 3 a 5 semanas. Sobre a pluma-gem dos filhotes v. sob "Morfologia".

Dis , h

Sete dos onze gêneros que ocorrem no Brasil(Otus,bo, Gl ucidi , Cicc , e lius) são en-

contrados também fora das Américas;sio I s éurna espécie cosmopolita. Dos quatro restantes, que sãoamericanos, três ophost i ul i e sãoneotropicais, um eot to) acha-se difundido da Terrado Fogo ao Canadá. ophos parece ser aparentado a

e ao gênero africano bul .C pode serconsiderado neotropical, mas compreende urna espéciede larga distribuição na África.

Certas espécies, cornoOtus choli evivem também dentro de cidades, desde que hajaarborização suficiente (p. ex. certos bairros do Riode Janeiro). A buraqueira, espécie campestre, se apro-veita do desmatamento, ocupou p. ex., logo a:área deBrasília.

itos

Corno certas outras aves (v. p. ex. Cracidae). sofrema ação de nematóides que vivem sob a membrananictitante (olho), conforme verificamos no Brasil central.Foi encontrada, p. ex., p l em Oius

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STRIGIDAE 399

Ocorrem também pupíparos (Hippoboscidae),p. ex., e nig sobre e , e

s sobre (Rio de Janeiro).Encontramos sobre (MatoGrosso).

de

A presença de uma coruja, descoberta no seu escon-derijo diurno, irrita certas aves, sobretudo Passerifor-mes, cujos gritos de advertência chamam vizinhos e re-velam a presença da coruja inclusive ao homem. Ape-nas certas espécies de aves denunciam as corujas, entreelas os beija-flores, e até mesmo os pequenos gaviões,como que chegam até a apanharuma coruja, presa fácil durante o dia. Quando apassarada começa a molestá-Ia, a coruja a atura com in-diferença durante algum tempo mas acaba por sair aprocura de outro esconderijo. Também a vocalização dascorujas alarma outras aves, como acontece com o caburé,Glaucidium, notório caçador de pássaros. Podemos usara imitação de umGlaucidium para testar se esta corujaexiste numa certa área; se não existe, a passarinhada ig-nora a voz imitada. Há séculos caçadores em diversoscontinentes costumam atrair pássaros expondo umacoruja mansa amarrada, ou imitando o ulular destasaves.

As corujas merecem nossa proteção integral. Todaselas proporcionam benefício ao homem pela destruiçãoincessante de insetos e roedores. Não hesitamos, nessecaso, em frisar o ponto de vista utilitarista. Temos quecombater o preconceito contra essas aves, crendicesdifamatórias traz idas em parte da' Europa, onde tam-bém carecem de fundamento. Tais mentiras geram e di-fundem a antipatia a essas criaturas tão interessantes,cuja vida noturna as torna misteriosas e temidas, dan-do-lhes a fama de agourentas.É sinal de mentalidadeatrasada falar dos pios "agoureiros" das corujas. O gran-de poeta J. Guimarães Rosa formulou: "A coruja nãoagoura: o que ela faz é saber os segredos da noite". Osíndios adoram as corujas, enquanto os matutos atribu-em ao caburé o dom de dar boa sorte. A curiosa faceoccipital dos caburés é interpretada pelos índios comotendo a ave quatro olhos, detectando assim qualquerperigo de imediato. Fala-se de "corujar" quando alguémfaz plantão noturno. Para os gregos da Antiguidade ascorujas, por causa de seus grandes olhos, eram o símbo-lo da sabedoria.

Com o aumento do tráfego nas rodovias, aumenta operigo de serem atropeladas certas corujas, como

, [lammeus, e o (v. tambémbacuraus). Devido a sua dieta insetívora as corujas sãoameaçadas pelo uso maciço de praguicidas.

o Otus

No Brasil são registradas quatro espécies de Otus cujaseparação pela morfologia é difícil, mas geralmente pos-sível pela vocalização.

1. observando essas corujinhas no cam-po, à noite, iluminando-as a curta distância com umalanterna forte, é quase impossível reconhecer as espé-cies. O mesmo vale para uma observação de dia.

As diferenças do tamanho são pequenas, as medidasdas espécies podem se sobrepor. Apenas os extremos sãonítidos: Otus da Amazônia é "pequena" e O.

do Sul é "grande", as outras são inter-mediárias. A comumOtus pode ter tamanho pró-ximode O. ou de O. e l en-quanto Otus tem medidas próximas de O.

. Em coleções de museu O.pode parecer "enorme" ao lado das outras. As diferen-ças reais do tamanho podem ser bem avaliadas atravésde medidas comparativas dos pés e bico. Dimorfismosexual (fêmea maior como em geral nas corujas) é pou-co pronunciado em Oius. Espécimens coletados preci-sam ser pesados para posterior análise.

Um diagnóstico importante é a cor da íris. A diferen-ça básica é: íris amarela-clara ou íris pardo-escura. A va-lidade desse caráter também não é absoluta; foram en-contrados irmãos deOtus cholib um de íris amarela, ooutro de íris parda. Coletamos no Rio Grande do SulOtus c in e com íris parda - a cor típica desterepresentante é amarela. Duas horas após a morte não émais possível notar a íris que encolhe. A cor da íris podeestar ligada às respectivas fases da plumagem: íris par-do-escura na fase escura, íris amarela na fase vermelhaG. T. Marshall).

Ocorre uma tremenda variação no desenho da plu-magem que tem que ser preferencialmente ilustrada parademonstrar essa amplitude. Não existem dois indivídu-os iguais. Problema adicional, freqüente na maioria dascorujas e bacuraus, é a existência de polimorfismo: plu-magem cinzenta ou fase "vermelha" ("fase" no sentido:aparência constante do indivíduo). Influi também se aplumagem é fresca ou gasta, dependendo da época dareprodução. Imaturos podem ser ligeiramente diferen-tes.

Existe a seguinte diferença no padrão das rêmiges:_ em Oius os vexilos internos das primárias mos

tram largas faixas claras enquanto estaparté nas penasde O. é quase uniformemente escura. O vexilointerno do O. ct c é quase tão escuro comoo de s (fig. 131).

É possível que ocorram cruzamentos o que seria es-perado devido a proximidade das formas, às vezes tra-tadas como raças geográficas. Em museus a plumagemtorna-se mais pálida. Todas as tentativas de esclarecer a .sistemática do gênero Otus baseando-se unicamente naplumagem, não esclareceram as reais afinidades. O pa-rentesco dos Otus é problema taxonômico difícil cujos

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400. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Fig.131.Lado inferiorda quintaprimária de (a)Otus (b)Otus

(c) OtusTamanhoreal.OriginalF.B.Pontual.

resultados devem aguardar métodos de análise moder-nos: dados bioquímicas associados e estudo amplo dabioacústica do grupo. OsOius são localmente freqüen-tes, a coleta limitada para esses estudos não violaria apreservação das espécies.

2. o canto territorial dosOtus brasileiroscostuma indicar a identidade específica do indivíduo(existe certa variação geográfica). Dúvidas podem sur-gir no caso de e no caso deatrícapillusfsanctaecaíarinae. Influi o tamanho do indiví-duo, sendo a voz do maior mais forte e mais baixa. Avoz da fêmea (que vocaliza menos) é um pouco maisalta, exceto O. cuja fêmea tem um ga-guejar extraordinário. OsOius cantam em noites quen-tes com falta absoluta de vento, no sudeste do Brasil seintensificando em setembro. Fora do canto territorial,tratado aqui por extenso, existem outras vozes ..

3. , há a tendência de que váriasformas deOtus se substituam geograficamente. Isto le-vou ao tratamento de certas espécies como representan-tes geográficos. Pode se testar geralmente essas conclu-sões pela vocalização. Sendo assim, O.g e pode-ria ser considerado apenas subespecificamente diferen-te de Oius Não temos provas sobre a exis-tência de O. ao lado deG. e noRio Grande do Sul.

Faltam ainda estudos ecológicos comparativos paradefinir os hábitats das várias espécies e representantesgeográficos. Kõnig & Straneck (1989) forneceu algunsdesses dados. A perfeição da adaptação da cor e do de-senho da plumagemà aparência da casca e galhada ondeas corujas permanecem de dia, é um dos exemplos maisadmiráveis de evolução críptica.

J.T. Marshall, maior autoridade atual no gêneroOtus,separa a grandeOtus e da menor O.

i como boas espécies; considera O.gu ie euma raça geográfica deOtus s uma vez que elereconhece existir cruzamentos na região da Bolívia.Marshall afirma que não existe cruzamento de O.

nct e e O. no Paraguai e Misiones.[Opinião, em parte divergente, acerca da taxonomia dogêneroOius foi apresentada, depois da morte de H. Sick,por Marshall et (1991).

CORUJINHA-DO-MATO, Otus Pr. 18;'2

22cm, envergadura 54cm, asa 160-173mm, peso 97-134g. Geralmente a espécie mais comum, com "orelhas"curtas que dificilmente se vêem no lusco-fusco. Íris ama-rela, com excessões (v. introdução).o seqüência as-cendente e acelerada, "gur go-go-go-go" ou"gurrrrrkukú" (canto); "ke-ke-ke""quia", gua", etc. Vive

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STRIGIDAE 401

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Fig.132.Sonograma da voz da Corujinha-sapo,Otus c pillus.OriginalJ. C. R.Magalhães.

na orla de mata, cerrado, chácaras e também dentro decidades onde ocasionamente apanha grandes insetosatraídos pelas lâmpadas das ruas. Ocorre da Costa Ricaà Bolívia, Paraguai e Argentina, todo o Brasil."Corujinha-orelhuda", "Piré-cuí" (Kajabi, Mato Grosso),"Corujinha-de-orelha*". Ocorre ao lado deO. illuse O. .

CORUJINHA-SAPO,Otus24cm, asa 176-186mm, peso 114-123,8g. Alto da ca-

beça preto (com algum desenho ferrugíneo) se desta-cando bem das costas menos escura~, ricas em desenhoferrugíneo, "orelhas" de penas compridas, vexilo ex-terno destas penas preto uniforme. A cor da íris varia:pardo escura ("típica"), amarelo-escura ou pardo-amarelada na fase vermelha da plumagem. es-trofe absolutamente horizontal e homogênea (fig. 132)suave, melodiosa, à distância igual a um trêmulo"rrrrrru" (de perto soa "uuu ...."), sem ou com cres-cendo, a última nota mais baixa (fim abrupto). Essaestrofe pode lembrar o gargarejar do grande sapo

nus icie cus e alcançar, p. ex. 5 a 14 segundos;irritada por pl b c a ave produz estrofes mais lon-gas de notas mais ásperas, assemelhando-se ao tim-bre da voz da fêmea, o "u" passando quase para"«:Na última situação a voz de ic pillus aproxima-seà voz de e. Para ter certeza de que apopulação em questão é mesmot i llus e não

c e, é bom esperar se não ocorre a vozdiferente da fêmea da última.

A localização deO. atricapillus pelo autor na Fazen-da Barreiro de propriedade deJ. C. R. Magalhães,Anhembi, São Paulo, em boa mata mesófila semidecídua,560m, em novembro de 1969, reabriu o estudo desta es-pécie, conhecida até aquela data apenas através de pou-co material taxidermizado, não relacionado com avo-calização (que era desconhecida).J.C. R. Magalhães, sobminha orientação, providenciou as primeiras gravaçõesda espécie, tornando-as disponíveis para análise. Pro-vado que O. pillus não é sinônimo da forma maiorO. s ct c e as indicações sobre a distribuição dasduas espécies têm que ser revisadas. O.i llus ocor-re também no Paraguai (M. S. Foster). No Museu deZoologia da USP, São Paulo examinamos 4'espécimensde illus provenientes de São Paulo. A vocalizaçãode O.atricapitlus é bem semelhanteà de O. l etambém à de O. h (Kõnig & Straneck 1989) do norteda Argentina. Experimento depl c de Otus

i na área de O. i lus em São Paulo (Fa-zenda Barreiro Rico) provocou prontamente a respostade O. t llus. [Marshall et i. (1991) considerouOtus

i e O. i e coespecíficas de O.baseando-se para isso na similaridade de seus repertó-rios vocais. No Brasil O.. ilius ocorreria da Bahiae Goiás até São Paulo. O. o i endêmica dos tepuisvenezuelanos, foi assinalado na faixa fronteiriça da Ser-ra de Parima (Phelps 1972) e Cerro Urutani (Dickerman

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ORNITOLOGIA BRASILEIRA

& Phelps 1982), ambos em Roraima. O das popu-lações paraenses do complexo(J. F. Pacheco, B. M.Whitney) e os limites meridionais (na faixa de contatocom O. de permanecem in-definidos. ]

CORUJINHA-DO-SUL, Otus

[26,3ém] Asa 180-202mm, peso 155-211g. Espécie me-ridional maior, confundida até os nossos dias com a pre-cedente. O caso foi esclarecido pelas coleções e grava-ções de W. Belton no Rio Grande do Sul, de 1970 a 1983.De longas e largas orelhas de penas. Íris amarela (típi-ca), amarelo-laranja ou parda. trino parecido ao daespécie precedente, mais forte (o que não sempre ressal-ta; a ave é maior!); pode ser ligeiramente ascendente oudescendente (flu tuações que não ánotamos em

e pode passar para notas mais ásperas. Afêmea produz um fortíssimo "bababa ...", baixo e rouco,completamente diferente de vozes de outrosOtus brasi-leiros. Encontrado em bom número nas matas do RioGrande do Sul, às vezes ao lado de O. (Belton1984), parece não ocorrer ao lado de O. NoMuseu Nacional, Rio de Janeiro, existe material proce-dente de Santa Catarina (1928), Paraná (1948) e Uruguai(Arrojo La Mina, perto da divisa com o Brasil, 1969). NoMuseu de Zoologia da USP, São Paulo examinamos uinexemplar de Santa Catarina e um do Paraná.

CORUJINHA-GRELHUDA, Otus

22cm, asa 167, 168mm, peso 115g. Espécie pequenade "orelhas" compridas e largas cujo vexilo exterior e ovértice são negros. Íris castanha ou, excepcionalmente,amarela. No Brasil central (Mato Grosso) há com fre-qüência uma fase ferrugínea. baixa e cheia, o cantocomeçando com notas longas horizontais, passa paranotas mais aceleradas descendentes e termina num tri-nado baixo (Otus a voz é bem diferenteda voz dos outrosOtus brasileiros. Vive no interior damata amazônica (alto Xingu), inajais dentro da mata (riodas Mortes, Mato Grosso). Ocorre da Venezuela à Bolí-via, Mato Grosso, Pará, Amapá. "Urukú-reá" (Kajabi,MatoGrosso), "Koro-koeá" (Kamaiurá, Mato Grosso),"Ko-ko-koi" (juruna, Mato Grosso), "Bubú" (Waura,Mato Grosso), "Corujinha-amazônica*".

CORUJA-DE-CARAPUÇA,

39,Scm. É a única pelas longas e macias "orelhas"cujo colorido, em parte branco, nascê num V facial tam-bém branco; partes inferiores com finíssima vermicula-ção; em plumagem juvenil de penugem branca, discofacial negro semelhante a mas com orelhas de

penas. baixa, descendente, "rrrru". Vive na mata enas copas. Ocorre da Venezuela à Bolívia, norte de MatoGrosso, e Pará. "Coruja-de-crista*".

CORUJÃO-üRELHUDO, JACURUfU,

52cm, peso ultrapassando 1kg.É a maior coruja docontinente; tem o tamanho de um caracará mas parecemais volumosa. "Orelhas" largas e eretas, sempre visí-veis, partes inferiores densamente cobertas com linhastransversais, garganta de cor branca pura. canto pro-fundo de 4 a 5 sílabas iguais, a segunda ou terceira acen-tuada, 'depois da quarta podendo haver um intervalotípico, "u u ú u algumas vezes estrofes de apenasduas ou três sílabas; a voz do macho e a da fêmea sãobem semelhantes mas a da fêmea mais alta. Vive à beirada mata, capões e no campo, geralmente perto de água.Ocorre da América do Norte à Terra do Fogo, localmen-te na Amazônia, Centro-Oeste (p. ex. sul de Mato Gros-so, onde não é raro), Nordeste e Leste. "Mocho-orelhu-do", "Jucurutu*".

MURUCUTUTU,

48cm. Corujão sem "orelhas", face com desenho bran-co puro (ao contrário da espécie adiante referida), peitocom uma fita parda, barriga uniforme, branca ou ama-rela; íris alaranjada ou amarela. Filhote de penugembranca, disco facial preto (v. Introdução). seqüênciadescendente de ventríloquos "ko-ko-ko ...", pelo fim ace-lerada e enfraquecendo, bem simbolizado pelo nome"murucututu". Vive na mata alta. Ocorre do MéxicoàBolívia, Paraguai e Argentina; provavelmente todo oBrasil, não é raro na Amazônia. No sul parece' às vezessubstituir nas baixadas quentes."Corujão", "Mocho-mateiro", "Cojuja-de-garganta-pre-ta*". V. a seguinte e .

MURUCUfUTU-DE-BARRIGA-AMARELA,

Pr. 18,334

44cm. É semelhante à anterior, menor, ressaltando-se bico e pés; face com desenho amarelado (larga sobran-celha), barriga amarela com apagadas barras acaneladas;íris castanha. Filhote parecido com o da espécie prece-dente. estrofe baixa, do timbre da anterior, "brrr brrrbrrr brrr" ou "ut út ut ut ut". A fêmea responde pronta-mente em freqüência mais alta. A voz é muito parecidaàquela de P. . Vive na mata alta.É típico doSudeste, montanhas do Espírito Santo, Rio de Janeiro(também no ex-Estado da Guanabara) e Minas Gerais,até Santa Catarina, Paraguai e Misiones (Argentina)."Coruja-de-garganta-branca *".

34 O exemplar pintado porP. Barruel, emprestado ao artista pelo Museu de Paris (não visto pelo autor), nãoébem típico;mostrapouco amarelo, assemelhando-se assim a .

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STRIGIDAE 403

-

CABURÉ-MIUDINHO,

I:.km. Tem apenas o tamanho de um pardal. Seme-lhante a G. , tendo porém o vértice pontilha-do (e não estriado) de branco; cauda com 3 a 4 (em vezde 6 a 8) faixas claras. bi - a trissilábica -

às vezes mais sílabas, descendo, de timbre evigor semelhantes aos pios de umOtus, vocalização in-teiramente diferente de que podeocorrer no mesmo local. Mata, de ocorrência muito lo-cal. Ocorre da Bahia aoParaná,Goiás e Mato Grosso eParaguai. [As populações andinas e centro-americanas,antes enfeixadas em G. foram recentemen-te desmembradas em 4 espécies distribuídas entre o Mé-xico e o Peru (Howell& Robbins 1995).]

CABURÉ-DA-AMAZÔNIA*,

Parecido a G. cauda mais curta (até52mm), vocalização inteiramente diferente: mo-nótono. Nas copas. Amazônia e mata atlântica do Nor-deste (Vielliard 1989).

CABURÉ, Pr. 18, 5

16,5cm, envergadura 31cm. O gênero compreende osmenores representantes da família, o peso médio de 63gde um G. corresponde a menos da metadedo peso de um dos nossosOius. O macho é bem menordo que a fêmea. Tem a cabeça e os olhos pequenos secomparados com o de outras corujas (exceto

Nuca com duas nódoas negras lembrandoolhos, realça das às vezes por uma larga "sobrancelha"branca, formando a "face occipital". Apresentam umafase ferrugínea na qual a cauda costuma não ter faixasclaras. seqüência horizontal de 10 ou mais piosmonótonos em ritmo mais lento ou mais apressado, "ta-to-to ...", "uit, uit, uit" às vezes seguida de sílabas rou-cas como "churrup-churrup", "turr, turr, turr"; a voz dafêmea é bem mais alta. Canta freqüentemente de dia,pousada em lugar aberto, desafiando a passarada aoredor.

Sua falsa face occipital é mais vistosa doque a verdadeira, que não se destaca do padrão carijóda plumagem. Assim o caburé engana perfeitamentetanto um pássaro quanto um homem. Provavelmente opássaro que se aproxima evita a amedrontadora faceoccípital e se aproxima frontalmente, pensando estarsurpreendendo o inimigo por trás, quando na realidadeestá indo diretamente à "boca do lobo". Nesse momen-to o caburé avança, em um vôo; e captura o mais ousa-do. Nós mesmos tivemos oportunidade de confirmar oefeito altamente perturbador da face occipital dessa co-ruja, na natureza. O fato da cara occipital tornar-se visí-vel apenas quando a ave eriça as penas, é a razão pelaqual este desenho geralmente não é notado nos exern-

plares taxidermizados, nos quais a plumagem é alisada.e ç o, h bitos Apanha aves como pardais e

sanhaços, ocasionalmente também beija-flores; comeprimeiro a cabeça das presas. Embora haja depoimen-tos exagerados sobre a valentia do caburé, já foram tes-temunhados, ataques a aves relativamente grandes, comporte duas vezes superior ao seu; um c gn ,p. ex., capturou uma "codorna", ,

- _nos EUA. Pega rãs, lagartixas e até pequenas cobras nosolo, durante as horas mais claras e quentes do dia, sobpleno sol tropical. Vôo rápido e ágil, sussurrante, lem-brando um minúsculo gavião. Seu nervosismo se refle-te em movimentos da cauda para cima e para os lados.É ativo dia e noite. Vive na orla 'de mata, cerrado, arvo-redos. Ocorre do Arizona e México à Argentina e nortedo Chile, todo o Brasil. "Caburé-do-Sol", "Caburé-fer-rugem*". V.a precedente.

BURAQUElRA, CORUJA-DO-CAMPO, eFig. 133

23cm. Corujinha terrícola, pernilonga e inconfundí-vel; possui hábitos diurnos. Plumagem freqüentementecom traços cor de terra, p. ex., avermelhado. múlti-pla, sobretudo um grito forte e rouco que lembra a vozdo carrapateíro, ao qual adiciona estridentes"kit-kit",Os filhotes ameaçam intrusos com um chocalhar que seassemelha bastante ao matraquear da cascavel, o quepode realmente amedrontar um caçador ou mateiroquando vem do interior de uma toca (mimetismo agres-sivo sonoro); bufa, pousa ereta, ao contrário dos bacu-raus, sobre cupinzeiros, estacas e fios, inclusive à beirade estradas, genufletindo seguidamente e movimentan-do a cabeça para os lados. "Peneira", tal como faz o quiri-quiri; caça, ao que parece, também à noite. Um indiví-duo pode ocupar várias tocas, indo de uma a outra cor-rendo. Refugia-se na sua toca quando aparece um pre-dador maior.É atacado de dia pela tesourinha ls

, como se fosse um gavião. Vive nos campos, pas-tos e restingas; expande-se devido à destruição ilimita-da da paisagem florestal. Ocupa morros pelados dentrode cidades como o Rio de Janeiro, está colonizando asextensas áreas abertas em Brasília. Exemplares atrope-lados dão certa impressão da sua freqüência local. Ocorredo Canadá à Terra do Fogo e quase todo o Brasil, local-mente comum "Coruja-buraqueira".

"

CORUJA-PRETA,

35cm .Sem "orelhas", negra, toda listrada de branco,bico e pés amarelos. o estrofe forte,"ãt-ãt-ât-qusa".Vive localmente em mata alta, no Sul em pinhais. Ocor-re da Venezuela ao Paraguai e Argentina, Amazônia,Meio-Norte, Minas Gerais e Rio de Janeiro à Santa Cata-rina, Goiás e Mato Grosso. "Mocho-negro".

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404. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Fig. 133. Buraqueíra, o cunicul g l i .

CORUJA-DO-MATO, C

34cm. Sem "orelhas", lado inferior nitidamenteestriado. Vive na mata alta; ocorre da Venezuela à Bolí-via e Argentina; Amazônia (onde é mais comum), Bahiaao Rio Grande do Sul. V . "Mocho-carijó","Coruja-de-bigodes"" .

CORUJA-LISTRADA, l Pr. 18, 1

35cm. Inconfundível pelas listras bruno-negras mui-to nítidas do lado inferior. "rrrrro" bem baixinho;seqüência descendente rítmica, "gu gu gu gu gu u, u, u,u", do timbre do jacuaçu; ocorrem duetos; grito prolon-gado )-ü-ii . Vive à beira da mata.É comum nas monta-nhas do Sudeste. Ocorre do Espírito Santo e Minas Ge-rais até o Rio Grande do Sul, Paraguai e Argentina.

CORUJA-0RELHUDA, cPr. 18,4

37cm.É relativamente grande, de "orelhas" bem des-tacadas e desenho longitudinal contrastante. muitovariada; seqüência prolongada de "áut-áut-áut... quenada tem de parecida com a voz de quaisquer outrascorujas brasileiras; gritos fortes, "i-i", "kjii-ii" e outrasvozes. Foram registradas pelotas com ossos de roedoresmaiores e de quirópteros, inclusive crânios do vampiro

(Serra do Timóteo, Pernambuco, A.

G. M. Coelho). É relativamente comum em paisagensabertas com arvoredos, cerrado, caatinga, até dentro decidades (Rio de Janeiro, p. ex., em Laranjeiras). Ocorreda Venezuela à Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai,todo o Brasil com exceção das áreas florestais da Ama-zônia. "Coruja-gato" (Pernambuco), "Mocho-orelhudo".V. a seguinte.

MOCHG--DIABO,

38cm. Pelas grandes" orelhas" e pelo padrão estriadodas partes inf~iores lembra a precede~te, mas tem aspartes superiores e o disco facial"anegrados; escudo cla-ro na testa; íris amarela. Vive no cerrado, no pinheiral eaté em bosques artificiais de s sp., às vezes ao ladoda anterior mas é bem mais rara (Mato Grosso). Ocorrelocalmente do México e das Antilhas ao Paraguai e Ar-gentina, na Amazônia, no Centro-Oeste, sudeste e sul."Coruja-diabo?". [Desde ~992, vem sendo observadoregularmente em áreas arborizadas da 'região metropo-litana de Belo Horizonte, MG (T.Pi.. MeIo [unior, L. F.Silveira). ]

MOCHG--DOS-BANHADOS, j

37cm. Espécie delgada, de asas longas e"orelhas"curtas, quase invisíveis; as partes inferiores sãofinamente estriadas.É inconfundível pelos seus costu-mes; vivendo em amplos banhados caça abertamenteem pleno dia, sobrevoando os pântanos a pouca altura;lembra nos seus movimentos um gavião-do-mangue

pousa no solo e peneira. Sendo migratório,aparece então em qualquer paisagem campestre, associ-ando-se em bandos (Chile). Veio da América do Norte,pela América Andina, até a Terra do Fogo; ocorre de Mi-nas Gerais e São Paulo ao Rio Grande do Sul, parecenão existir no resto do Brasil; é muito espalhado nas re-giões setentrionais do Velho Mundo. Há poucas aves quetêm uma distribuição tão ampla e complexa no globo

. . "Coruja-dos-campos", "Coruja-do-ba-nhado*". V. o corucão, ge .

---I

CABURÉ-ACANELADO, lius

20cm.É espécie pequena, pouco conhecida, sem" ore-lhas". As partes superiores anegradas, testa, disco faciale lado inferior de intensa cor amarela uniforme; pelapresença de nódoas brancas muito nítidas na asa e cau-da lembra, até certo ponto a buraqueira; íris amarela.

seqüência horizontal extensa (p. ex. durante 8, 10ou 15 segundos), de apressados"ú" que podem tornar-se mais vigorosos. Vive na mata rala e cerrado. Ocorreno Planalto Central (Goiás, 1.000 m; Brasília), Nordeste(Ceará, Pernambuco, Alagoas), São Paulo ao Rio Gran-de do Sul, Argentina e Uruguai; também nos Andes(Venezuela, etc.). "Caburé-canela*".

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STRIGIDAE 405

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Page 157: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-02

ORDEM CAPRIMULGIFORMES

GUÁCHARO: FAMíLIA STEATORNITHIDAE (1)

Aves noturnas, gregárias, cavernícolas dos Andes emontanhas do escudo guianense, aparentadas aosurutaus, Nyctibiidae, também endêmicas da região neo-tropical, e mais remotamente aos Podargidae eAegothelidae da Austrália e Nova Guiné. Existe umaúnica espécie de . (família monotípica). [Fós-seis do Eoceno do Wyoming, Estados Unidos (Olson1987).]

GUACHARO,

43cm. Marrom ferrugíneo, pintalgado de branco, so-bretudo as asas. Sexos semelhantes. A aparência não su-gere imediatamente uma ave noturna. Cabeça pequenacom bico forte adunco (lembrando o de uma coruja),rodeado de cerdas: olhos pequenos, ao contrário de co-rujas e bacuraus, com reflexo vermelho quando ilumi-nados por um farol. Asas bem longas e estreitas, enver-gadura de um metro e pouco. A cauda é também bas-tante longa e graduada. O vôo não é rápido mas a avetem grande habilidade no espaço limitado das grutas. Asilhueta em vôo, contra o céu noturno, lembra a de umfalcão imaginário. As pernas são curtas e fracas, os péspequenos. Pousa sobre a barriga na rocha, tomando umaposição meio caída para a frente (fig. 134). Não é capazde se agarrar em paredes verticais, ao contrário de an-dorinhões. Sua plumagem não é macia como a de ou-tras aves noturnas.

Gritos fortíssimos "gra", voandodentro da gruta, resultando um barulho estrondoso,quando muitos gritam juntos, comoé sempre o caso.Um gutural "karr-karr", voando fora da caverna. Naprofundidade das grutas, onde reina uma escuridão ab-soluta, emitem um alto "kli ..." (as freqüências chegam a12kHz), que serve à orientação por eco, corresponden-do ao nosso sonar (ecolocação). Esse tipo de orientação

Fig.134.Guácharo, OriginalM.Wemeckde Castro.

acústica ocorre em morcegos insetívoros (comodo Brasil Central) e certos andori-

nhões dá região indo-pacífica. O núcleo au-ditivo de" são os maiores conhecidos, talvezdevido à ecolocação, assemelhando-se aos dos(Cobb 1968). A siringe de é figurada emVanTyne & Berger (1959). O "sonar" dos morcegos émuito mais eficiente que o dos guácharos, possibilitan-do a localização de insetos em vôo para capturá-Ios.

Única ave noturna frugívora. Os guácharosse alimentam de frutas de várias árvores da mata (p. ex.Lauraceae) e de palmeiras, voando 50 ou mais quilôme-tros para achar a sua comida, orientando-se pela vista etambém, provavelmente, pelo faro. Arrancam as frutascom o bico, em vôo librado. Engolem as frutas inteiras,regurgitando depois os caroços nas grutas onde passamo dia.

As colônias estão instaladas apenas em gru-tas profundas, p. ex. 650m distante da entrada comouma famosa "Cueva dei Guácharo" perto de Caripe,Venezuela, de onde Humboldt descreveu a ave em 1817(e onde realizamos nossas observações). Os guácharospousam e constroem seus ninhos sobre saliências da ro-cha numa altura de p. ex. 30 a 40m, perto do teto dosalão. Como material de ninho servem os caroços

Fig.135.O guácharo,e o sis,adulto eninhego. DesenhodeAlexander von Humboldt,executadoem 18de setembro de 1799na gruta doguácharona Venezuela,de onde Humboldt descreveua espécie.O desenho foi aperfeiçoadopor um artista.

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STEATORNITHIDAE 407

regurgítados, colados no substrato com as fezes das aves.A fêmea põe de dois a quatro ovos, incubados pelo ca-sal por aproximadamente 33 dias. O desenvolvimetnodos filhotes é lentíssimo, durando quatro meses e nesteperíodo ocorre uma acumulação incrível de gordura, demaneira que os ninhegos tornam-se muito mais pesa-dos que os pais, mas emagrecem antes de voar. Os mo-radores matam os filhotes para extrair-Ihes um óleo pre-cioso (origem do nome inglês "Oílbird").Di ibuiç Ocorre da Guiana e Venezuela (também

ibl tot b ibl Ge l)

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Trinidad) à Roraima (Brasil), Equador, Colômbia, Perue Bolívia, também Panamá, em altitudes de 7 a 3.500m.Na Venezuela se conhecem muitas colônias deguácharos. De espeleologistas venezuelanos recebemos,de 1978 em diante, indicações sobre colônias deguácharos na fronteira VenezuelajBrasil, como as dascuevas de Urutaní cujas entradas estão em territórioVenezuelano, numa altitude de 1.300 metros, enquantoseu término, distante 228 metros da entrada, fica porbaixo de território brasileiro em Roraima.

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408. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

MÃES--DA-LUA, URUTAUS: FAMÍLIA NYCTIBIIDAE (5)

Aves noturnas restritas às regiões mais quentes doNovo Mundo; conhece-se um fóssil dedo Pleistoceno (há 20.000 anos) da Lapa da Escrivani-nha, Lagoa Santa, Minas Gerais. Aparentados com osbacuraus (Caprímulgidae). guácharos (Steatornitidae) eboca-de-rã (Podargidae, da Australásia).

.;

Grupo bem definido, constituído de apenas um gê-nero, com poucas espécies, estão entre as criaturas maisbizarras deste continente. Cabeça chata e larga, ocupa-da em grande parte pelos olhos e a boca descomunais.Quando fecha os olhos notam-se, em sua pálpebra su-perior, duas incisões (fig. 136) que atribuímos, em 1940,a um mecanismo de recobrimento do bulbo ocular o qualé muito saliente e . g Em1952, porém, chegamos à conclusão que tais incisões sãofendas pelas quais a ave é capaz de observar os arredo-res de "olhos fechados", isto é, sem abrir as pálpebras;têm, pois, o efeito de um "olho mágico", o que foi dedu-zido recentemente também porJ. I. Borrero (1974). Asincisões na pálpebra superior são visíveis como peque-nos entalhes no olho aberto. De dia o grande olho deuma ave noturna chama muito a atenção (v. tambémbacuraus). por isso as aves logo fecham os olhos quan-do se tornam desconfiadas. Os urutaus nesta situaçãose aproveitam do seu "olho mágico", adaptação única.em aves. O olho, iluminado de noite por um farol, pro-duz reflexo avermelhado ou cor-de-laranja, visívelàgrande distância (v. também bacuraus).

A boca lembra a de um sapo gigantesco. Ponta dobico adunca, maxila provida de um dente, mandíbulaelástica. No interior da cavidade bucal das espécies gran-

. .,

Fig.136. "Olho mágico" dourutau, s g seus.Apálpebra superioréprovida de duas incisões(1), cadauma correspondendo a um "olho mágico", permitindoà ave observar os arredores de olho fechado; ao lado,uma das incisões ampliada. O bulbo saliente do olho ee arrumação compactadaspenas acima do olhopermitem a visão para cima e para trás, sem mexer acabeça. OriginalH. Sick, Xingu, Mato Grosso, feverei-ro 1952.

des cabe o punho de um homem. A pele da boca é rica-mente vascularizada e serve à termorregulação quandoa ave está sob pleno sol no poleiro diurno, o que aconte-ce freqüentemente; nessas ocasiões a ave, com o bico

. constantemente um pouco aberto, ofega descarregandoo calor excessivo pela grande superfície do sistemavascular da garganta. Tal hábito já se nota no filhote no"ninho". Cérebro bem pequeno. Asas e cauda longas eduras, tendopertanto plumagem menos macia do que adas corujas e bacuraus, ainda que rica em pó o qual éproduzido pelas "plumas de pó" que estão concentra-das numa área a cada lado do uropígio. Existe uma gran-de glândula de uropígio. A acumulação de gordura noabdômen pode ser de uma espessura de 5mm emN.

s.Os urutaus não possuem cerdas rictais ou vibrissas

(ao contrário dos bacuraus) - exceto o pequenoibius s da Amazônia. Isto deve ter um fun-

do ecológico:N. c caça no interior da mata ama-zônica (Cohn-Haft 1989) enquanto os outros urutaus ca-çam na beira ou acima da mata e até no campo. Surgementão as mesmas especulações sobre a função das cerdascomo nos bacuraus. . c verdadeiramente nãopossui cerdas rictais comoás demais urutaus, as cerdasse destacam das demais espécies por serem apenas mai-ores (M. Cohn-Haft).]

Os tarsos são bem curtos, os dedos compridos, lar-gos e carnudos na base, formando uma grande superfí-cie plantar como uma mão o que constitui adaptaçãoespecial à permanência prolongada em absoluta imobi-lidade durante o dia. Ao contrário dos bacuraus não têmuma unha pectinada. Sexos parecidos.

,

A voz de iseus, vocalização das mais im-pressionantes dentre as aves deste país, lembra um la-mento humano e é em geral atribuída erroneamente atodos os congêneres. O filhote que nem sabe voar já can-ta um pouco, baixinho. Tivemos raras vezes a oportuni-dade de registrar outra. vocalização além do canto: umgrito de alarme e gritinhos do filhote. Prendem-se aocanto de g várias lendas indígenas. Paraos matutos da Amazônia, as rêmiges e retrizes do urutauteriam o condão de proteger a castidade das meninas.Para tanto, a mãe varre debaixo das redes das filhas comuma vassoura confeccionada desta penas.

e

Caçam insetos (grandes mariposas e besouros) aomodo dos bacuraus e papa-moscas (voltando de ondesaíram), ou perseguem a presa em pleno vôo, como as

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NYCTIBIIDAE 409

andorinhas. Voam de bico fechado, apanhando os inse-tos um por um. O dente na maxila deve prestar serviçocortando as asas das mariposas (quando se acham taisasas quebradas espalhadas na mata costumam ser res-tos de comida de morcegos). As histórias de que espe-ram a refeição sentados e de bico aberto, usando a bocacomo armadilha (o que ocorre também para o "boca-de-rã", o , da Ásia), não passam de lendas.

farta-se nas revoadas de cupins provavelmenteapanhando vários por vez. Pegam um percevejo ou ou-tro inseto que pousa numa folha. Aproveitam-se assimda incrível abundância de insetos noturnos nas regiõesde matas neotropicais, fonte alimentar inesgotável tam-bém dos numerosos bacuraus e corujas. Os urutauscostumam ser muito gordurosos, tanto adultos comofilhotes. Exploram tocos podres, pois foram encontra-dos em estômagos de urutaus larvas de besouros quevivem em troncos mortos e pedaços de madeira em de-composição.

Nunca pousam no solo como os bacuraus e perma-necem eretos quando pousam em tocos e galhos. Se sãoperturbados durante o dia esticam-se mais ainda e le-vantam a cabeça até o bico dirigir-se verticalmente paracima e a cauda tocar no tronco - processo muito lento,controlado pela ave que observa o perigo através dasfendas nas pálpebras ("olho mágico"). Confundem-seassim com uma ponta de galho seco, prolongamento de

3

A B cFig.137. Pédireito (visto da sola) da pomba-amargosa(A, Col b ), do urutau (B, ctibius g seus) edo marfim-pescador (C;Chlo ocenj!e en ). Evoluçãode uma sola larga e bem estofada no urutau e nomartim-pescador (menor no martim). O tamanhomaior da pomba faz parecer sua sola relativamentemais estofada do queé (seg.Bõker 1935).

uma folha quebrada de palmeira, uma estaca, etc., emuma camuflagem tão eficiente que a ave permite umaboa aproximação, certa de que passará despercebida.Com sua "camuflagem de galho" ocupam um nicho li-vre não tomado por qualquer outra ave nesta região.Quando se sente à vontade, o urutau abaixa a cabeça,dormitando, e o seu bico se dirige para frente ou até um

_ .pouco para baixo enquanto a cauda pende frouxamentena vertical. O lado inferior das retrizes é às vezes im-pregnado de um filme verde, que presumimos ser algas(ou fungos?), obtido pelo contato íntimo com a cascaúmida; lembramos o caso das preguiças (Mammalia,Bradypcdidae), conhecido há tempos (v. pica-paus,Picidae). Os urutaus mantêm alguns poleiros diurnospreferidos dentro do seu território, os quais são usadosdurante anos a fio.

Outra adaptação notável ao pouso fixo onde a avepermanece a metade clara do dia, 12 horas nos trópicos,é que ela não deixa cair as fezes mas atira-as para longe,como f.azem os Accipitridae. Assim o poleiro fica limpo,as fezes secas brancas não traem a presença da ave.

De noite pousam em galhos expostos (como os deimbaúba), ficando em sentido transversal. Voam alto,com firmeza, muitas vezes planando o que sugeriu aMaximiliano de Wied o nome pitoresco "aethereus":podem então lembrar um estranho gavião, um guácharoou um bacurau muito grande. Exemplares capturadosprocuram atemorizar o inimigo abrindo silenciosamen-te a boca, contudo não bicam e nem poderiam bicar; v.bacuraus.

e u

Põem umovo salpicado, numa cavidade natural doextremo de um tronco de árvore quebrada ou galho, apoucos metros acima do solo. O ovo está ali tão segura-mente encaixado que, num certo caso, nem um tiro foisuficiente para derrubá-lo; isso deu-se quando coleta-mos uma ave (N. seus) que chocava (o que não sabía-mos) e o chumbo chegou até a furara parte superior doovo; o ovo nem se mexeu.

Choca em posição ereta; só encontramos machos in-cubando de dia; supomos que a fêmea choca à noite. Aposição vertical é assumida também quando a ave adultacobre um filhote pequeno ou pelo próprio filhote quepermanece sozinho no galho e.percebe qualquer movi-mento perto da sua árvore; o instinto de 'adotar a atitu-de aprumada manifesta-se, portanto, cedo e o filhoteagarra-se tenazmente à madeira. Os adultos cevam a criapor meio de regurgitação. Permanecendo os filh~tes setesemanas (constam 51 dias-contados emctibius g seus)"no ninho" e calculando o tempo de incubação em 33dias, temos um total de 84 dias, portanto um dos perío-dos de desenvolvimento mais prolongados que conhe-cemos para aves deste continente, mais uma prova elo-qüente pa a a extraordinária eficiência da camuflagem

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410. ORNITOLOGIA BRÁSILEIRA

dos urntaus, pois isso atesta que conseguem sobreviverbem em condições de vida tão singulares. A penugembranca do filhote, empurrada pelas penas definitivas,conserva-se ainda por algum tempo, como uma franja,na ponta das retrizes definitivas da ave já apta a voar.

MÃE-DA-LUA-GIGANTE,

54cm, 'envergadura 1m, peso entre 360g e 600g. Dotamanho de 'um corujão, é, no colorido, semelhante a

, apresentando-se freqüentemente es-branquiçado; íris parda. fortíssimo grito monossi-lábico, "groaa", repetido a intervalos de aproximada-mente 12 segundos numa série consecutiva de, p. ex., 28gritos (canto); um latir "wáu". Inquietado, por ser foca-lizado com uma lanterna forte, um macho emitiu isola-das" grúk". Gosta de pousar em árvores de copas altase de casca branca a qual se parece perfeitamente comsua vestimenta clara. Ocorre localmente do México e daGuatemala a Mato Grosso, São Paulo e Rio de Janeiro.Achamos num grande pequizeiro da mata um machochocando a 12 metros de altura; o ovo estava deposita-do sobre um galho grosso horizontal, bem distante dotronco (alto Xingu, Mato Grosso, julho 1949). "Urutau","Chora-lua", "Urutau-grande*". Às vezes ao lado de

ctibius (Mato Grosso).

.t-IlÃE-DA-LUA-PARDA,

Quase do tamanho da espécie anterior, peso de 434 a447g, envergadura 98cm. Colorido de pardo bem escu-ro; íris marrom-esverdeada ou cinzento-azulada. umgrito brando, melodioso com um forte acento no meio"au-ú-uh" (Peru, Hardy et . 1989).Pousa freqüentemen-te a pouca altura do chão, até sobre estacas, em localinteiramente aberto também de dia. Localmente do sulda Venezuela ao Paraguai; Brasil no leste da Bahia até oParaná. Inclui da Amazônia. Àsvezes ao lado de (Espírito Santo)"Urutau-Pardo*". Provavelmente ameaçado.

URUTAU, Pr. 18, 6

37cm, envergadura 85cm, peso entre 159 e 187g (ma-cho).É a espécie mais comum. Como em outros urutausdestaca-se, em frente ao olho, um chumaço de penas quelembra as "orelhas de penas" de certas corujas; esta sali-ência típica desaparece quando o olho se abre. Colorido

og )

Bierregaard,R. O., . 1988. . s. o/. 48:169-78. ( ctibius, primeiraregistronoBrasil)"

Borrero H., J.L 1970. 9:257-63. (hábitos)

'variável, ou mais marrom ou mais cinzento, peito comdesenho negro compacto. Íris amarelo-âmbar. can-to melancólico (que parece vir de uma ave maior, dis-tante, ou de um ser humano): 5 a 7 gritos conseçutivos echeios, que começam roucos, em uma seqüência descen-dente, enfraquecendo terminalmente, "po-o o o o o";chamado "rak" (voando). Um macho bem emplumadomas ainda não voando deixou ouvir notas fracas (pe-

. dinchar?) e já começou a cantar, baixinho, 4 notas (R. B.Pineschi). Orla de mata, paisagens meio abertas compalmeiras e outras árvores esparsas, cerrado. Ocorrên-cia pouco regular, consta que dois urutaus reproduzema uma distândia de 500 metros um do outro, separadosporuma área predominantemente campestre. Escapamfacilmente de serem descobertos. Costa Rica à Bolívia,Argentina e Uruguai, todo o Brasil, às vezes dentro decidades (Rio de Janeiro)."Mãe-da-lua", "kuá-kuá"(Juruna, Mato Grosso), "Urutavi" (Kamaiurá, MatoGrossi). Urutau: do Tupi= ave-fantasma.

URUTAU-DE-ASA-BRANCA *,

Pr.44,l

30cm (asa 209mm). Nitidamente menor que a prece-dente, com uma grande área branca nas coberteiras su-periores das asas formando um vistoso V nas costas. Des-crito por Wied em 1821 de Vitória da Conquista (não deCaravelas), Bahia. Depois nunca mais mencionado. Umurutau registrado recentemente perto de Manaus, atra-indo a atenção pela sua voz lembrando a do pavãozinho-do-Pará, foi identificado como N.leucopie .

. culosus, antes relacionado, dos Andes é outra es-pécie (Schulenbergei 1984). [Aprimeira descrição dasvocalizações, hábitos e dieta alimentar da populaçãoredescoberta nas florestas ao norte de Manaus, Amazo-nas foram apresentados por Cohn-Haft (1993). Simulta-nearnente, a espécie antes endêmica do Brasil, foi encon-trada no sudoeste da Guiana Inglesa (parkeret al. 1993).]

URUTAU-FERRUGEM*, c

23cm. Menor espécie, com cerdas relativamente mai-ores. Plumagem ferrugínea-viva, com manchas brancasmuito destacadas. "bububu ..." descendente, lem-brando uma corujinha(Otus ou da A-mazônia, M. Cohn-Haft). Vive dentro da mata. Regis-trado ao norte de Manaus, Amazônia, na área do Proje-to Dinâmica de Fragmentos Florestais. Ocorre na Guiana,Colômbia, Equador e Peru. .

Borrero H.,J. L 1974. Con 76:210-12. (olhos)Cohn-Haft,M. 1989. su os I Cong . s. ool. o es 145-

46. bius cte s,reprodução,hábitos)"

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NYCTIBIIDAE 411

Cohn-Haft, M. 1993. 110:391-94. leucopte us,Manaus)"

Goeldi, E. A. 1896 oI. s. se 3:210-217. ( ius g seus,

nidificação)

Goeldi, E. A. 1904. (1903):513-519. ctibius eus)*Hardy, J. W.,B. B. Coffey, Jr.& G. C. Reynard, 1989. oices the

. ghtj s. Gainesville: ARA Records.

Parker, T.A.,Ill, R. B. Foster, L. H. Emmons, P.Freed, A.B. Forsyth, B.Hoffman & B. D. Gil!. 1993. g pe 5.

leucopte s, G~iana)'

Schulenberg, T. 5., 5. E. Allen, D. F. Stotz& D. A. Wiedenfeld. 1984.

eGerfaui 74:57-70. (separação de ctibius leucopi us, culosuseg seus)

5ick, H. 1951. gel elt 72:40-43. (ovos)

Sick, H. 1953. ilson 65:203. ibius ndis, vocalização)

Skutch, A. F. 1970. e ing 265-80.Wetmore, A. 1919. oc. U. . . . 54:577-86. (anatomia)

Whittaker, A., A. M. P. Carvalhaes &J. F. Pacheco. 1994. es os ICong . . . 85. ( tibius leuco s no Parque Nacionaldo [aú, Amazonas)'

i :

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It

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412' ORNITOLOGIA BRASILEIRA

BAéuRAUS, CURIANGOS: FAMÍLIA CAPRIMULGIDAE (24)

Aves noturnas cosmopolitas, encontradas sobretudoem regiões quentes. Fósseis do Terciário (Eo-oligoceno)ria França; existem restos de e op lisdo Pleistoceno (há 20.000 anos) da Lagoa Santa, MinasGerais. A região neotropical é particularmente rica em .espécies, o que sugere terem-se originado nesta parteda Terra. No Brasil central vive urna meia dúzia de es-pécies. As relações filogenéticas dos Caprimulgiformescom os Strigiformes são apontadas também pelas pro-teínas do ovo. A família dos Aegothelidae (O let

og11l0llth)da Austrália parece indicar urna relação evi-dente entre Caprimulgidae e Strigidae. OsAegothelidaenidificam em ocos de pau.

es espe

Os bacuraus, denominação geralpará membros des-ta família, aproximam-se aos mães-da-lua pela transfor-mação do bico numa boca muito larga. A boca dos ba-curaus pode ampliar-se consideravelmente, tanto alar-gando-se lateralmente (de 2,5cm para 4cm) cornoescancarando-se na vertical. A mandíbula é altamenteelástica, tendo até urna articulação mediana, denomina-da "articulação sindesmótica intramandibular". Destamaneira são providos de um grande saco gular ricamen-te vascularizado e sensível, que funciona corno rede paracapturar insetos. O crânio (fig. 138) é largo em funçãoda boca (o cérebro é bem pequeno) e esponjoso, seme-lhante ao das corujas (estruturas de "Sandwich" parareduzir o peso, mais conhecidas na construção de aviões.Crânio de umC ulgus, mede 53 x 33rnrn e pesa coma mandíbula apenas 0,45g (Bühler 1972). Enquanto o ta-manho da boca é sempre grande, o comprimento do bicovaria consideravelmente, podendo ser tão curto que ficaescondido na plumagem (p. ex.cti ogne). Procuran-do caráteres diagnósticos para bacuraus africanos,Jackson (1985) chegou a conclusão de que tem mais va-lor a medida da tômia do que a do cúlmen em se tratan-do de medida do bico.

Bico cercado de cerdas (vibrissas,b istles) penas de"contorno alteradas, de raque forteedesprovidas de bar-ba (exceto na base), sendo ligadas a urna musculaturaespecial que as movimenta (fig. 139). A ponta dasvibrissas é larga e delgada, assemelhando-se, ao micros-cópio, a um botão que está desabrochando. A pele emtorno das vibrissas é rica em corpúsculos de Herbst. Asvibrissas poderiam ser órgãos táteis (não foi provado),correspondendo aos pêlos sensoriais de gatos e roedo-

. res. As vibrissas ampliam a extensão da boca 'abertadurante o ato de caçar e poderiam prestar serviço nacaptura de insetos; suspeitou-se também que elas teriamfunção gustativa químico-receptória. Os Caprirnulgífor-mes possuem um bulbo olfativo relativamente grande

(Bang & Cobb 1968) que poderia servir naseleção dosinsetos capturados. Seria também possível que as cerdasservissem na proteção do grande olho exposto, contrachoques de insetos durante as caçadas. ulguslongi is tem cerdas muito compridas; ele não caçadentro damata, Compare tibius t tambémpossuidor de grandes cerdas.Ch deiles e ti ogne,bacuraus cujos modos de vida não são essencialmentediferentes, são desprovidos de cerdas proeminentes.

Fig. 138.O crânio extremamente largo deum bacurauéa base para a abertura descomunal da boca (seg.Bühler1970)

Olhos grandes, móveis, dispostos lateralmente e tãoaltos que permitem um campo visual deslocado paracima e até um pouco para trás, muito ao contrário dascorujas, erri.urna defesa contra ataques e ampliando avista nas caçadas. Os olhos, providos de umi petulucid refletem fortemente a luz, à semelhança dos deNyctibiidae, com .um.brilho geralmente,\'ermelho, queporém pode variar (verde, cor-de-laranja, branco, etc.)conforme o ângulo da observação e a distância. A visãoé o sentido mais apurado dos bacuraus. Diversamentedas corujas,não têm disco facial (cuja função é acústi-ca), embora também tenham ouvido muito bom. Possu-em unha pectinada corno nas suindaras e em algumasoutras aves e pés bem pequenos.

A plumagem críptica aproxima as várias espécies nocolorido e no desenho, dificultando sua identificação.Mais berrantes são os sinais brancos na asa e/ou na cau-da, e também urna mancha guIar a qual tem, freqüente-mente, a forma de um V cujo ângulo aponta para a fren-te, revelado em todo o seu tamanho quando a ave grita.

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CAPRIMULGIDAE 413

Esses sinãis brancos, mais desenvolvidos no sexo mas-culino, são importantes para uma ave noturna, pois obranco destaca-se vivamente no lusco-fusco, servindo àexibição dos machos na medida em que aparecem du-

Fig. 139. As cerdas ao redor do bico do bacurau-de-telha,gus Original H. Sick.

rante O vôo ou são expostos, deliberadamente, num rá-pido abrir e fechar das asas e cauda pela ave pousada(p. ex. emCaprimulgus . A existência de bran-co tanto na extremidade anterior como posterior, em

tem efeito desorientador eficazpois, quando a ave está pousada, mal se reconhece ondefica a cabeça ou a ponta da cauda. O efeito das partesbrancas, fortemente reluzente, é aumentado pela estru-tura microscópica da pena, à feição do que se dá com asrêmiges prateadas dos trinta-réis. Plumagem e pele de-licadas. O corpo exala forte cheiro típico.

O grau de obscuridade da plumagem indica o ambi-ente onde vivem. e p. ex., con-fundem-se perfeitamente com as folhas caídas no solo.

gus adaptou-se ao colorido de lajesnegras, à areia amarela dacaatinga clara, fortemente insolada,que habita praias fluviais abertas, tornou-se semelhanteaos trinta-réis, no colorido e até na voz e nos modos devida, o que constitui um dos produtos mais interessan-tes da evolução da avifauna amazônica. Há ainda ou-tros bacuraus que têm por hábitat as margens dos rios,como e que, evoluindo adquiri-ram colorido bem branco. Ocorre variação individuale/ou regional do colorido da plumagem, lembrando as"fases" ferrugíneas (p.. ex. e cin-zentas de corujas. O tamanho das espécies, p. ex.

e diminui proceden-do em direção ao equador.

Os Caprimulgidae podem cair num sono tórpido, àsemelhança dos beija-flores e andorinhões para passarhoras de frio e falta de alimento, situação mais freqüen-te em clima temperado; um bacurau norte-americanochegou a 4 dias em estado de torpor, em cativeiro(Marshall 1955). .

Para orientar-se bem sobre a ocorrência das diversasespécies num certo local e sobre a densidade da popula-ção é indispensável o conhecimento da voz dessas aves.Os assobios amiúde citados como de "bacurau" e"curiango" são produzidos exclusivamente por

são a vocalização mais conheci-da de aves noturnas neste país. Estas vozes deram ori-gem às denominações onomatopéicas "ba~urau" e"curiango", que portanto se refere corretamente apenasao As vozes da maioria das outras espé-cies são inteiramente diferentes. Sobre a importância dacomunicação acústica entre aves noturnas v. também sobcorujas. Algumas espécies dispõem de uma série de vo-zes diferentes (v. eiles pusi/lus e C. ,

Podem ser admitidos certos tipos de vo-calização de bacuraus deste país:

1) Gargarejar ou roncar, lembrando um anfíbio:es e C. ennis, g

s rufus, C. oulus eC. nig Voz deste tipo e do tipo seguinte é a de

eiles pusillus.2) Assobiar estridente: , gus

lon C. s e C. c um assobiomais ressonante é o deCaprimulgus e

pusillus.3) Cricrilar como grilo: i4) Gritos "bacurau" e "curiango": . Tim-

bre de gne e gus

A atividade vocal dos Caprimulgidae, que periodi-camente (tempo de reprodução) torna-se muito intensa,é maior à hora do crepúsculo equando há luar; repetementão as estrofes com intervalos de um a poucos segun-dos. Marcam seu território voando de um pouso ao ou-tro, cantando. Irritados por um emitem umasnotas baixas "aborrecidas" ( , gus

.Não sabemos ainda se a atividade de cantar no outo-

no e no inverno que registramos no Rio (ex-Guanabara)para , é ligada a atividadesreprodutivas. Para cantar pousam perto do chão, sobreum toco ou tronco caído, ou então em galhos .Alguns ( c nus, gus u cantam sem-pre pousados no alto, em árvores na mata. s eCh deiles pusillus assobiam regularmente em vôo. Gri-tam de boca quase fechada, aumentandó o caráter ven-tríloquo da voz. O canto de é tãofino que facilmente passa despercebido.

No Rio de Janeiro (município) registramos-váriasvezes que as espécies residentes e

lo , que não cantavam há meses,tornavam-se altamente loquazes após o término de umachuva forte.

Embora sua plumagem seja extremamente macia eseu vôo tão silencioso que estas aves são como uma som-

I~I

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414 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

bra que passa, várias espécies produzem estalos ou ou-tros ruídos com as asas, voando durante o cortejo ou emdefesa do território, p. ex., gus

e Estes ruídos são pro-vav.elmente produzidos pelas primárias a modo de umabandeira esvoaçando ou de um guardanapo batido comviolência. Presume-se também o bater de uma asa con-tra a outra, acima do corpo, tal como o fazem as pom-bas. Há vários tipos de rumores produzidos possivel-mente por meios diversos (v. No escuro éimpossível ver bem o que está acontecendo. Ocorremtambém batidas das asas contra o substrato, levadas aefeito pela ave pousada (v. sob Hábitos).

Insetívoros. e outros caçamdecolando do solo e voltando.É evidente que se apro-veitam da claridade do céu noturno para perseguir osinsetos. O tamanho descomunal da boca dosCaprimulgidae facilita na captura de insetos em luz de-ficiente, não sendo uma adaptação para pegar grandesinsetos. A caçada principal dos bacuraus, baseada napercepção visual, é restrita ao crepúsculo ou às noitesde luar. Pousam no substrato e localizam os insetos con-tra o céu claro como fazem também em vôo. OsCaprimulgidae não têm a capacidade de localizar os in-setos por ecolocação como os morcegos, nem pelo aper-feiçoamento da percepção acústica como as corujas,ambos funcionando no escuro completo, como demons-trado por Bühler (1987). No Brasil central várias espé-cies de bacurau caçam ao redor de queimadas,até de dia, encontrando-se com andorinhões. Os insetosapanhados grudam na boca, formando uma massa es-pessa, como se vê numa ave apanhada durante as suascaçadas, mostrando que os insetos não são engolidosindividualmente. Uma moela cheia de bacurau podeconter muitas centenas de insetos, como formigas ala-das. No estômago de um indivíduo de gforam encontrados, no-Uruguai, 238 insetos, pertencen-do a 8 ordens, 9 farrulias e 16 espécies diferentes, predo-minando os hemípteros (percevejos, 138 exemplares,grande parte pentatomídeos prejudiciais às culturas de, _arroz) e ortópteros (62 exemplares). Um ,examinado nos EUA, tinha 2.175 insetos no estômago,quase a metade formigas (rainhas), apanhadas durantea revoada destes hímenópteros. Foi calculado que o pesodo alimento retirado do estômago de dois outros indi-víduos deste bacurau era 24,6 a 25,4% do peso da ave(de moela esvaziada). A grande capacidade do estôma-go dos caprimulgídeoscompensa a falta do papo.. Bacu-raus costumam ser muito gordos. Estão ameaçados pelouso ilimitado de inseticidas.

Verificamos que apanham às vezes pedrinhas e pe-daços de madeira carbonizada, talvez devido ao seuteor salitrado.

Ao contrário das mães-da-lua, pousam em posiçãoabaixada, deitando na barriga, a maioria no solo. Emgalhos pousam geralmente em sentido longitudinal, oque é facilitado pela redução de segmentos (falanges)dos dedos (o externo tem apenas 4 artículos, em vez de 5),posição que, ao mesmo tempo, tem excelentes efeitos.miméticos. o pousa em boa altura, P: ex., 14m,sobre um galho grosso para dormir de dia. op lis eCho deilespousam às vezes transversalmente. Duranteas enchentes es is, que no tempo da nidi-fícação freqüenta unicamente as praias, pousa sem difi-culdade sobre galhos.

No seu pouso diurno um bacurau não dorme, só tiraum "cochilo". Percebe qualquer alteração nos arredo-res, observando por uma fenda bem estreita entre aspálpebras; não tem o "olho mágico" dos urutaus que é asolução mais sofisticada para não precisar expor o bul-bo reluzente do olho, única parte não camuflada do seucorpo que chama muito a atenção em plena luz do dia.Os bàcuraus vêem tão bem de dia como as corujas; ànoite ambos enxergam tão bem como de. dia.

Inquietados, levantam e abaixam a cabeça ou movi-mentam o corpo lateralmente, ou então esticam as asascomo preparando a fuga, ou batem com as asas no chãoou nos galhos, P: ex., , C p t us , C.long e s , à maneira dos andorinhões

. Voam muito bem, são verdadeiros acrobatasno ar, combinando o vôo rasante dos andorinhões como vôo balanceado do quero-quero. Sabem pairar no artal qual um beija-flor, quando querem apanhar, p. ex.,insetos atraídos por uma lâmpada. "Peneiram" perfei-tamente. Gostam de caçar sobre áreas abertas como cam-pos de aviação. Aconteceu que um foi sugadopor uma das turbinas de um avião que acabou caindo.No substrato andam a passos pequeninos, mas rápidos,seja ao longo de um galho antes de "deitar", seja no solopara apanhar terra.

Vários caprimulgídeos pousam nas estradas, voan-do em frente dos veículos ("mede-léguas"). Procuram.as rodovias asfaltadas que conservam o calor do soldurante a noite atraindo igualmente os insetos. São fre-qüentemente atropelados e pôde ser assim descobertauma espécie rara comoEle epius lus infelizmen-te, onde o tráfego é intenso os cadáveres destas avesdelicadas são completamente esmagadosem pouco tem-po sob as rodas dos carros, desaparecendo de uma vez.Verificamos, oportunamente, que a maioria dos bacu-raus atropelados são indivíduos novos inexperientes.

O grande saco guiar serve bem para a terrnorregula-ção, o que se nota numa espécie comoC gusnig , que fica exposta ao sol cáustico sobre lajes.Bebem às vezes na superfície de lagos e rios, em vôorasteiro (p. ex. eiles). Tomam banho de poeira.

Quando não fazem ouvir sua voz e nem aparecemnas estradas, o~ bacuraus bem pouco despertam a aten-

-

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CAPRIMULGIDAE 415

Fig. 140. O macho em duas fasesde exibição; em cima ereto, em baixo deitado, rioTrombetas, Pará, setembro de 1979.Original, H. Sick.

.ção. Embora abundantes em regiões como o Brasil cen-tral e a Amazônia, são quase desconhecidos do grandepúblico. A ocorrência de várias espécies no mesmo lo-cal, no neotrópico, sugere (ao lado da abundância geralde comida) certas adaptações ecológicas e tróficas.

Umas poucas, como esaem do esconderijo à tarde, antes do pôr-do-

sol, caçando em bandos, voando a grande altura por cimadas águas e dos campos, explorando estratos bem dife-rentes. é diurno. Pode acontecer queandorinhas, reunidas num poleiro antes do crepúsculose assustem com a passagem em vôo rasante de umbacurau que inicia suas atividades por essa 'hora, pro-vavelmente por confundirem sua silhuetacom a de uma ave de rapina (Carajás, Pará 1984, L.p.Gonzaga).

Os hábitos noturnos da maioria dessas aves levou opovo a apelidar de "bacurau" um indivíduo que só cos-tuma sair à noite. "Bacurau" é alcunha dada aos negros(Rio de Janeiro). Tornar-se "curiango" significa na gíria"pegar serviço noturno", p. ex., um motorista de ôni-bus. A denominação de é dada por umac~ença européia que dizia que essas aves, de boca des-comunalmente larga, vinham mamar o leite de cabras.

Fica ainda para esclarecer .::omo a atividade repro-dutiva é sincronizada com o ciclo da lua, uma vez que amaior claridade garante o período ótimo de alimenta-ção, facilitando a criação da prole.

São muito aferrados ao seu território, sendo atraí-dos como que por uma força magnética quando ouvema voz da sua espécie arremedada no lugar que habitam.

As cerimônias pré-nupciais são de difícil observa-ção, exceto em única espécie de há-bitos diurnos, que pode facilmente ser avistada nas prai-as da Amazônia. O macho de cortejaa fêmea esticando o pescoço bem na vertical, gingandoda direita para a esquerda ao andar. A garganta é mantidamuito inflada e a cauda toda aberta, exibindo-se o brancode ambas as partes (fig. 140). Em seguida o macho deita~ estica-se na horizontal, tocando o solo com a gargantaintumescida (que quase oblitera o bico), mantendo aposição da cauda .

Os bacuraus não fazem ninho. Põem diretamentesobre a terra, areja ou pedras, sobre um galholargo,.p. ex. a 10'metros de altura. Põem em geral doisovos, eiípticos (equipolares) e fortemente salpicados, al-tamente crípticos; os ovos de são de corbranca, ligeiramente rosada, pólo rombo com pintasfiníssimas vermelhas (Teles Pires, Mato Grosso). Ovosbrancos ocorrem em e

espécieamazônica, põe um ovo só (Mato Grosso, Pará), tam-

em certas regiões (p. ex. Belém, Pará) e. Verifica-se que, em geral, o núme-

ro de ovos por postura diminui à medida que nos apro-ximamos das regiões equatoriais. A postura de

consiste de dois ovos, tanto nas montanhasdo Espírito Santo como no norte de Mato Grosso.

Quando os ovos ficam expostos ao sol, como é co-mum acontecer com os de e

o cobrimento dos ovos pela avedeve significar mais proteção contra calor excessivo doque incubação. Consta que um embrião de galinha su-porta até 42,2°C.

Nota-se de vez em quando a tendência de reprodu-zir em grupos paruulus,Adultos espantados quando estão com ovos ou filhotes,fingem estar feridos; quando não podem fugir (postos,p. ex., numa gaiola) amedrontam com bico aberto.

O casal se reveza. A incubação é de 18 a 19 dias emda América do Norte. Os pais são mui-

to sensíveis contra distúrbios e mudam para um outrolugar, puxando <;lsovos, andando de marcha-a-ré algunsmetros, e até transportam filhotes 'recém-nascidos vo-ando (como registrado em Rio' deJaneiro); é muito difícil ver como a ave carrega o filhote,supomos com os pés. Um provávelobservado voando, deixou cair um filhote após ser as-sustado; o filhote se desprendeu da parte posterior dobacurau, portanto dos pés. Transporte de filhotes é raro.ern aves, ocorre em aves aquáticas e saracuras.

Assustado por alguém, o filhote procura meter medo,abrindo o bico, mostrando a bocarra vermelha e sibi-landocomo cobra, e mais: exibem uma ligeira oscilaçãoda cabeça que lembra os mesmos movimentos exe-cutados por certas cobras venenosas antes de dar o bote(o mesmo bote é executado pelo filhote do saci,

Cuculidae). O efeito amedrontador para o suposto

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416 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

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predador pode ser ainda maior quando o filhote abre asasas simulando um tamanho maior.

Os pais cevam a prole regurgitando um bolo deinsetos aglomerados pela saliva, queé muito pegajo-so. O filhote recebe a comida introduzindo a cabeçano bico dos pais até a testa (os pais não enfiam seubico no bico dos filhotes). Já com poucos dias os fi-lhotes são muito ágeis, andando ao redor do lugaronde nasceram a depositando as fezes brancas umtanto distante "para" não chamar a atenção dos pre-dadores de sua presença.

Filhotes pequenos de cti us aproximam-se deum homem que fala baixinho; aparentemente confun-dem a voz humana com a chamada por meio da qual ospais os fazem abandonar o ninho em caso de perigo.Consta que os filhotes de gus scensaban-donam o "ninho" com 16 a'18 dias.

..~,

endê

i gus Iong ostns, espécie austral-andina, típi-ca das regiões de clima subtropical e temperado, adap-tou-se recentemente ao nível do mar, no Rio de [áneiro,onde vive nos telhados (também"nidifícando") lembran-do Cho eiles dos EUA, que já há tempos habituou-se ao ambiente urbano. começa,também a revelar tal plasticidade ecológica. Enquantoo é um imigrante no meio urbano, o

ops é um remanescente da fauna primitiva.

, i ções

No Brasil central vimos certas espécies, sobretudoCho deiles est is,C. cutipennis e C.pusillus, efetua-rem à hora do pôr-do-sol deslocamentos coletivos, diri-gindo-se em massa para o leste, como que querendoapressar a chegada do crepúsculo, fugindo do poenteainda claro; regressam logo depois, no escuro. Isto acon-tece durante a época da reprodução (Sick 1950a).Ch deiles es é periodicamente expulso pelas en-chentes regulares na Amazônia e reúne-se em bandos("bacurau-de-bando") pouco depois de seus filhotes setornarem independentes; pode ser visto em bandos de250, caçando, p. ex. sobre o rio Madeira, Amazonas, du-rante a cheia quando não existe praias.

Há muitos casos de migrações em larga escala, pro-vocadas pelo inverno austral. Cho eilescutipennis, C.pusillus e gus uulus aparecem

então em bandos, depois somem por completo, comose nota no Brasil central e meridional (Mato Grosso,Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo). A raça meridionalgrande de o n. n u foi encontrada em julho(inverno austral) na Colômbia, ao lado do residente

n. (Wetmore 1968).C iles vemda América do Norte, durante o inverno setentrional(fig. 141).

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tos

Achamos freqüentemente pupíparos (Hippoboscidae)sobre bacuraus (Mato Grosso).Cho eiles cutipennis,

o ge e op lis b il n 'hospedam aseudol e s sili tambémseudol nc nig .

Ide

Entre as numerosas espécies brasileiras se destacampelo' aspecto geral as "tesouras" (H e

. p (is), e o corucão( Os dois gêneros debacurau-tesoura distinguem-se pela configuração dasretrizes centrais: emH ops is são prolongadas, for-mando uma lança no meio das duas lanças externas; em

o falta a lança central. O corucão pode lem-brar um quero-quero; é surpreendente como o brancopuro da barriga de , espécie que começa a voarcedo,à tardinha, passa para cor-de-rosa durante o pôr-do-sol. O mais popular é o bacurau ou curiango,

i us, de aparência diferente de outros caprimul-gídeos. A identificação da maioria dos caprimulgídeos,principalmente fêmeas, requer bastante prática e litera-tura especializada.

O grande morcego piscívoro, octilio lepo us, deasas longas e estreitas, mas quase sem cauda, pode pas-sar por um bacurau que caça insetos sobre lagos, rios ebaías do litoral; ocorre localmente em quase todo Brasil,também no leste (p. ex., Cabo Frio, Rio de Janeiro).

Fig.141.C área de reprodução listrada eárea de invernada (pontilhada). (Seg.Rappoleet i.1983).

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CAPRIMULGIDAE 417

TUJu~

27cm. Espécie robusta, florestal, notável Relo com-primento das asas (21-22cm) e pela rigidez das mesmas(sem faixa branca), cauda curta de ponta extrema es-branquiçada; terciárias e escapulares marmoreadas debranco; abdômen canela, barrado de preto. chamaa atenção por forte assobio "tuit", sobrevoando a mata eaté cidades comoO Rio de Janeiro, vem imediatamenteao ouvir a imitação do seu pio. Pousa nas copas de ár-vores altas, deitando longitudinalmente sobre galhosgrossos onde põe também seu ovo. Ocorre do Panamá àArgentina. Provavelmente todo o Brasil até o Rio Gran-de do Sul. "Curiango-coleiro" (Rio Grande do Sul).

BACURAUZINHO, pusillus

16,Scm, envergadura 38cm.É uma dasespéciesme-nores, tons pardos muito variáveis da plumagem; beiraposterior da asa nitidamente esbranquiçada, bem visí-vel em vôo; ambos os sexos com uma faixa branca sobreas primárias; retrizes com uma manchinha terminalbranca (macho). freqüentemente emitida em vôo;"bit-bit" (fraquinho); "korrüt", "kü, kü, kü-kerrüt" (res-sonante); gargarejar monótono, cheio, lembrando umsapo; "üt-üt-ío" (melodioso); mais vozes ainda. Vive nocampo sujo, começa a caçar já um pouco antes do pôr-do-sol, às vezes ao lado de . Emmigração torna-se abundante no meio dos pastos. Ocor-re da Venezuela e Colômbia até Mato Grosso, MinasGerais e o Nordeste. [Para o sul até o oeste de São Paulo(Willis & Oniki 1993). "Bacurau-pequeno*".]

Fig. 142.Bacurau-da-praia, esvoando ao lado de umatrinta-réis, supepousado na praia. (Seg.Sick1950)0.

BACURAU-DA-PRAIA, eiles Pr.14,7

19cm. Extraordinariamente semelhante à trinta-réisem cuja companhia vive nas praias

da Amazônia, onde nidifica e esvoaça em pleno dia, di-ferindo de pela cabeça redonda e pelo bico curto(fig. 142). "rob-rob", "quóa", etc., "griiii" (lembran-do voz de e , "rrrrrr-wo-wo-wo" (canto, que emite

.. pousado ou em vôo). Aparece também em ilhas rocho-sas dentro dos rios; caça às vezes cupins em revoada aolado da tesoura s . Durante as enchentesque cobrem as praias e ilhas fluviais, se reúne em ban-dos de centenas, pousam ao lado um do outro, em ga-lhos.debruçadossobre os rios. Migrações crepuscularese para evadir-se de enchentes, v. Introdução. Ocorre daVenezuela ao alto Amazonas até o Xingu (Mato Grosso)e Bolívia. "Bacurau-branco", "Bacurau-de-bando".

BACURAU-DE-ASA-FINA,

Pr. 19,2

21,Scm, envergadura SOem. Espécie geralmente co-mum, de tamanho médio, fácil de observar quando caçaà tarde, muitas vezes voandoà grande altura. Asas lon-gas, estreitas, com faixa branca e um V da mesma cor nagarganta, desenho este apenas esboçado na fêmea; ma-cho com uma faixa branca ante-terminal sobre a cauda

"chrop", "chrop-gogogogogo" (voando); um ron-ronar melodioso lembrando um sapo (canto, pousado).Costuma pousar sobre galhos. Habita as paisagens aber-tas, campo, cerrado e restinga. Ocorre da Califórnia àBolívia e Argentina, quase todo o Brasil, também leste,Sul (Rio de Janeiro, São Paulo) e Centro-Oeste."A-ku-kú" (Iuruna, Mato Grosso).

BACURAU-NORTEAMERICANO,

VN

23cm. Muito parecida com a precedente e mais ro-busta. A faixa branca sobre as primárias é situada maispróxima à base das penas, o que chama a atenção quan-dose conheceC. . O bacurau-norteamericanovoa freqüentemente de dia, pousa sobre galhos horizon-tais para dormir durante o dia, p. ex., a 4m de alturanum capoeirão. Registrado, p. ex.: em Minas Gerais (fe-vereiro), Rio de Janeiro(janeiro, dezembro), São Paulo,Mato Grosso, Rio Grande do Sul, São Leopoldo, outu-bro a março, num dia chuvoso 20 indivíduos caçandojuntos (Tampson 1987). No rumo sul nidifica até a Nica-rágua. "Bacurau-americano=".

17,3cm. Descrito recentemente do vale do rio SãoFrancisco, Bahia (Lencioni-Neto 1994).]

[BACURAU-DO-SÃO- FRANCISCO, esEn " i

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418 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

BACURAU-cAUDA -BARRADA,

19cm. Espécie delgada setentrional, bem escura, sempintas brancas nas asas, tendo porém a cauda atraves-sada no meio por uma faixa branca. "glok, glok,glok ...", sem pressa, às vezes bissilábico "gole-quak".[Gregário, caça abertamente no crepúsculo acima doslagos erios, especialmente naqueles de águas pretas(I ..F.Pacheco).] Ocorre da Amazônia até Mato Grosso (altoXingu) e Piauí, Guiana Francesa e Colômbia. "Bacuraud'água*".

CORUCÃO, ge und

29,5cm, envergadura 71cm, peso 205g.É a espéciemais robusta, de cauda curta, inconfundível pelo tama-nho e o branco puro da barriga, área branca na gargantaposterior e larga faixa branca sobre as primárias; nomacho também a ponta da cauda é branca. "pro-pro-pro ..."; "t-rro ttt-rro" ou "prrr-du" (canto, como umsapo, seqüências prolongadas). Voa em pleno dia, pou-sa sobre estacas, periodicamente em bandos (Mato Gros-so, Rio Grande do Sul). Caça sobre cidades na ilumina-ção urbana (Cuiabá, Mato Grosso) e nas lâmpadas deaeroportos (p. ex. Belo Horizonte, Minas Gerais, Distri-to Federal). Paisagens abertas, cerrado. Durante as mi-grações dorme nos campos limpos, "invisíveis" até le-vantar vôo aos nossos pés. Da Venezuela e Colômbia àBolívia e Argentina, todo o Brasil. A silhueta de vôo as-semelha-se à do mocho-dos-banhados,pelo branco vistoso pode lembrar um quero-quero, a cujolado às vezes voa de dia, principalmente durante asmigrações (p. ex. dezembro/janeiro, Espírito Santo), ouaté uma maria-branca, cine . "Tabaco-borrr'".

CURIANGO, BACURAU,

Pr. 18, 7

30cm, A espécie mais citada neste país. Existe umafase vermelha e uma cinzenta. De cauda longa mas nãobifurcada. A faixa da asa, no macho, também as grandesmanchas longitudinais nas retrizes são brancas, estasmanchas sendo exibidas ocasionalmente em curtos vôosverticais, tomando-se então muito vistosas, até em ple-na noite. "ba-bacurau" (chamado); "dog", o-g (advertência); "go-bi-u", "gril-wu", "coriangú" (can-to). Orla de mata, capoeira aberta, no solo. Sul dos EUA

. e México até a Bolívia, Paraguai e Misiones, todo o Bra-sil onde haja florestas ou capoeiras, inclusive no Rio Gran-de do Sul. "[u-jau", "Ibijau" (Kamaiurá, Mato Grosso), "A-ku-kúfjuruna, Mato Grosso), "Curiangc-comum?".

BACURAU-üCELADO,

21cm. Espécie singular, delgada, rigorosamente flo-restal, cor marrom-anegrada, caracterizada pela presença

de ocelos brancos na barriga, que nenhuma outra espé-cie tem. rouca, "brãu" (canto). Interior da mata, pou-sa em galhos altos para cantar, mas nidifica no chão,como outros bacuraus (v. Introdução). Da Colômbia atéa Argentina, localmente em todas as regiões do Brasil,inclusive Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo,Paranã e Mato Grosso.

JOÃO-CORTA-PAU, Caprimulgus rufus

28cIn. ~epresentante robusto, de longa cauda larga,as três retrizes externas do macho com grandes nódoasbranco-amareladas subterminais, geralmente visíveisapenas quando a cauda é expandida; sem faixa brancana asa; papo com desenho escamoso amarelo; fêmea coma ponta da cauda amarela. "djuk-bakbak-bráo"("joão-corta-pau"). Vive à beira da mata onde pousa so-bre galhos para cantar. Ocorre da Costa Rica até Bolíviae Argentina, quase todo o Brasil, incluindo a Amazônia,leste, Sul e o Centro-Oeste. "Maria-faz-angu"(Pará). v.a seguinte.

BACURAU-RABO-DE-SEDA ".

[25cm]Ao contrário da precedente de cauda mais gra-duada, no macho as três retrizes externas com larga fai-xa terminal branca (não-amarelada) sobre ambas as bar-bas, estreitando-se para dentro, enfeite visível tambémde cauda fechada; barbas internas das primárias de cornegra uniforme (não-transfasciadas de canela, no quedifere da precedente). trissilábico "do-diü-lüd", tim-bre de cti us, seqüências extensas de três minu-tos ou mais, sem a mínima modulação e intervalo, pou-sado em galho baixo (R. Straneck, Iguazu, Misiones,agosto). Ocorre no Pará (Santarém), Espírito Santo (Vi-tória, setembro), São Paulo, Paraná (Curitiba), Paraguai,Argentina e leste do Peru.

BACURAU-DA-TELHA, C lo s

~3cm. As primárias têm larga faixa branca (na fêmea,amarela), as retrizes 3 e 4 externas de cada lado com gran-de mancha terminal branca e uma a duas faixas meno-res basais (fig. 143), uma mancha branca na orla alar,dando na vista quando a ave pousada mexe as asas, ador-nos estes mal esboçados na fêmea. assobio fino,"biluít"(canto), emitido a intervalos de um a três segun-dos. Ocorre nos Andes da Colômbia (onde o encontra-mos a uma altitude de 3.300 m, nos páramos), Chile esul da Argentina. Tepuis da Venezue1a e Rorairna.

edescobe no sil, .in d cid do o de nNo Brasil redescoberto por nós em 1941 após 117 anosde desaparecimento, nos campos de altitude do Sudes-te: Serra do Caparaó, leste de Minas Gerais (1941), Serrados Órgãos e Itatiaia, Rio de Janeiro, e na Mantiqueira,

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CAPRIMULGIDAE 419

BFig.143. Retrizes (do lado direito, vista de cima) dedois bacuraus:A, gus I. long os (Rio deJaneiro);B, gus (Xingu, MatoGrosso).

sul de Minas Gerais, acima de 1.300m (1956); Rio Gran-de do Sul (1972); Espírito Santo (jatiboca, 1940) e Bahia(Raso da Catarina, 1979); também Santa Catarina (1979).Tudo nos leva a crer que se reproduzem na maioria des-ses locais. A falta quase completa de registro da espécieno Brasil, até há pouco, deve explicar-se pela falta deatenção dos omitólogos e o total desconhecimento davocalização dessas aves. Imigrou, ao que parece, emépoca posterior a 1955 para a ex-Guanabara (cidade doRio de Janeiro), onde vive atualmente em muitos bair-ros (Santa Teresa, Laranjeiras, Urca, Copacabana, Leblon,etc.), pousa sobre telhados e muros, que lhe substituempedras e lajeados; trai-se pela voz, mais na madrugada,voa quase sempre só depois do anoitecer. Pousa sobreedifícios, p. ex., em Laranjeiras, Copacabana e Leblon,pode apanhar cupins caídos no peitoril de janelas fecha-das iluminadas, p. ex., num 15° andar, onde foi visto tam-bém cantando. Pode-se vê-lo, embora raras vezes, ca-çando cupins em revoada em tomo das lâmpadas darua. Às vezes, combina a vida no ambiente original, nasmontanhas, com a vida recentemente adotada, entreconstruções humanas, como vimos acontecer no Caraça,Minas Gerais, a 1.450m de altitude, onde pousa regular-mente sobre o portão da igreja 'para apanhar insetos atra-ídos pela luz elétrica do colégio. No Rio de Janeiro can-ta quase durante o ano todo, mas pára às vezesdurantesemanas inteiras. Encontramos urna postura de dois ovossobre um velho casarão em Santa Teresa, cidade do Riode Janeiro (setembro, 1973); cremos que nidificou sobreo telhado do Museu Nacional, Quinta da Boa Vista(1969). Na Arger:tina (clima diferente) penetra às vezes

também em cidades (BuenosAires, durante migrações?).[Uma raça dos tepuis venezuelanos alcança o Brasil nafaixa limítrofe de Roraima (Phelps& Phelps 1962).] V.C ulgus c dus. "Bacurau-rupestre'".

BACURAU-DE-CAUDA-BRANCA *,ensis

[21cm] O macho com mais branco ainda do que aprecedente, barriga branca. pio penetrante, "sibie" .

. Vive nos ambientes campestres. Ocorre em Roraima eAmapá, nas.Cuíanas e Costa Rica; v. C.ndi .

BACURAU-DE-TEPUI, ulgus hitel i

[20cm] Endemismo pouco conhecido dos tepuis ve-nezuelanos. Assinalado para a fronteira brasileira, noCerro Urutani, Roraima (Dickerman& Phelps 1982).

BACURAU-RABO-BRANCO, ulgus n s

23cm. Lembra, as duas precedentes; faixa na asa, ab~dômen e retrizes laterais brancos; foi encontrado no sé-culo passado em Orissanga, São Paulo e Cuiabá, MatoGrosso; Parque Nacional das Emas, Goiás, agosto (T. A.Parker, A. Negret); Paraguai.

BACURAU-RABO-MACULADO, lgusc

. 19,5cm. É espécie campestre de vasta distribuiçãolocal; franzino, retrizes laterais com 4 nódoas redondase a ponta branca, asas sem sinal. ni es ções sono"bitzéwit", "ziwit", lembrando lgus long ost s.Estala com as rêmiges em vôo. Vive em campos úmi-dos, p. ex. buritizais. Habita do México à Bolívia; pou-cas ocorrências conhecidas em quase todo o Brasil, p.ex.: Mato Grosso (Xingu, 1948), meridionalmente atéEspírito Santo (Unhares, 1976), Rio de Janeiro (BaixadaFluminense, P: ex., área do Instituto Oswaldo Cruz, 1951;Itaguaí, 1962; Poço das Antas, 1981) e São Paulo; local-mente comum, p. ex., Marajó, Pará. "Bacurau-pitui'"',

Fig. 144. Bacurau-pequeno,C lgus lus.

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420. ORNITOLOGIA BRASILEIRA -BACURAU-PEQUENO,

Fig.144

20cm.É abundante em campos sujos; garganta, faixasobre as primárias externas e nódoas na ponta das retri-zes brancas; papo com nódoas negras e algum desenhotransversal branco; fêmea sem os sinais brancos."drui-dro-dro-dro-dro-dro-dro-dro", timbre de xilofone,pousa sobre tocos para cantar. Migratório, então, apare-ce em quantidade, P: ex., em outubro (Minas Gerais).Ocorre da Venezuela à Bolívia e Argentina, todo o Brasilaté o Rio Grande do Sul. V. s e

.

BACURAU-DE-LAJEADO,

19,5cm.É espécie amazônica bem escura; a manchabranca lateral na garganta e a ponta branca da caudatomam difícil distinguir a extremidade dianteira da tra-seira quando se vê a ave' pousada; fêmea sem quais-quer partes brancas. "bit-bit": "rad", (can-to). Vive nas lajes negras entre vegetação rala. Ocorredas Guianas e Venezuela à Bolívia,norte de Mato Gros-so, Pará e Maranhão. "Bacurau-negro*". V.pusillus.

BACURAUZINHO-DA -CAATINGA,

En

16,5cm.É tão pequeno como pusillus, par-do bem claro, possui perfeita adaptação ao ambienteensolarado da caatinga. Faixa na asa e ponta das duasretrizes externas brancas; fêmea sem sinais brancos.unissilábico "wíe", às vezes mais cheio; curta estrofeconfusa do timbre de . Pousa sobre areiaou lajes. Restrito ao Nordeste. "Bacurau-da-caatinga*".V. ennis e [Umasubespécie foi descrita recentemente dos lajedos negrosda região de Cola tina, norte do Espírito Santo: C.h.

e (Ribon 1995).]

ACURANA,

28cm. Bacurau-tesoura da Amazônia, uma versãohileiana de H. faixa na asa, lado inferior docorpo e a cauda quase todos brancos. "krip-krip"(chamado). Vive à beira de rio, ilhas fluviais onde pou-sa freqüentemente sobre galhos. Ocorre da Venezuela àBolívia, Acre, norte de Mato Grosso e Pará (Tocantins).

BACURAU-TESOURA,PLl~l .

40cm (macho adulto), cauda tomando mais de 2/3do total; macho imaturo apenas a metade, fêmea 27,5cm.

Em ambos os sexos falta uma faixa branca na asa; no Sul(sul de Mato Grosso, Rio Grande do Sul) colar na nucaamarelado (H. no norte da sua área amesma faixaémarrom-avermelhada, o tamanho da aveé menor (H. .

finíssimo "tzig" (voando), parecendo a voz de umgrilo ou morcego; o canto é uma seqüência prolongadade "zip ...", um pio por segundo, às vezes minutos a fio{p, ex. três minutos, após um intervalo, de alguns se-gundos, continua), empoleirado transversalmente sobreum galho fino ou outro substrato, às vezes também emvôo. Produz vários tipos de ruídos com as asas: umabatida surda ém vôo ou quando pousa, um rufo ("bo,bo, bo, bo ..."), subindo com velocidade ou descendoem perseguição de um outro indivíduo; após pousar nosolo, o macho produz às vezes um abafado "bo, bo, bo,bo, bo", possivelmente por bater as asas contra o chão.

Vive na orla da mata, cerrado, campo sujo, parques e. no solo. No Rio de Janeiro revela certa tendência de adap-

tar-se à permanência na cidade; em Laranjeiras registra-mos, no Convento N. S. Cenáculo (sopé de um morrocoberto de capoeira), no crepúsculo e na madrugada,que pousa regularmente sobre os telhados para cantar,onde também caça, partindo e retomando ao telhado,semelhante ao ulgus lo que existe nomesmo local. Ocorre ao sul do Amazonas até Bolívia,Paraguai, Argentina e Uruguai, inclusive todo o leste esul do Brasil. "Curiango-tesoura". V. a precedente e aseguinte.

BACURAU-TESOURA-GIGANTE, e gPr. 18,8

76cm (macho), a cauda tomando 3/4 do total; umaretriz lateral pode medir 61cm (Bocaina, Rio de Janeiro),retrizes centrais apenas 5cm; fêmea 32cm total, chama aatenção pelo padrão de grandes manchas amareladasno papo. Nitidamente mais robusto do que sb i asas e cauda mais largas, alto da cabeça pon-tilhado (não-estriado) de preto. Geralmente calado.Mata, caça bem no escuro à beira de caminhos que atra-vessam a floresta, semelhante a o . Ocorre doEspírito Santo a São Paulo (Guaratuba, Santos), Paraná,Santa Catarina, Rio Grande do Sul (Torres) e Misiones:no norte da sua área (Espírito Santo, Rio de Janeiro) ape-nas nas montanhas, p. ex., Serra dos Órgãos e Itatiaia.Parece ter baixa densidade populacional, é ameaçadopelo desmatamento ao longo de sua área de ocorrência.É de descendência andina, rigorosamente florestal; é umadas espécies mais escuras. "Cur iango-teso ura","Curiango-tesourão*" .

CURIANGO-DO:-BANHADO, Ele eptus

20cm. Espécie pequena mas robusta, macho com asascurtas, de forma singular: primárias recurvadas como

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CAPRIMULGIDAE 421

sabres, de pontas brancas, devem servir para a produ-ção de um ruído forte durante os vôos de exibição; pes-coço anterior tipicamente estria do e salpicado de bran-co-amarelado; retrizes externas de ponta esbranquiça-

o C gidt ,bliog Ge l)

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pusillus, São Paulo)'

, :

I:

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ORDEM APODIFORMES

ANDORINHÕES: FAMíLIA ApODIDAE (16)

De vasta distribuição na Terra, estão muito bem re-presentados na região neotropical, onde também se en-contram as maiores espécies O nome"andorinhão" aplica-se tanto às espécies grandes comoàs pequenas. Fósseis conhecidos do Mioceno Inferior daFrança (20 milhões de anos) e do Pleistoceno do Brasil(20 mil anos).

A reunião dos andorinhões e beija-flores numa mes-ma ordem é discutível, como também um parentescopróximo com os "pico-passeriformes". A estrutura do

splenius semelhante em Apodidae eTrochilidae, que facilita movimentos do pescoço duran-te a caçada de insetos em vôo rápido, pode ser interpre-tada como uma evolução convergente (Zusi& Bentz1982).Parecem existir relações com os Caprimulgiformes.

O povo não conhece"andorinhões", seriam todos"andorinhas". Assim nomes geográficos como "grutadas andorinhas" e "cachoeira das andorinhas" se refe- ,rem com certeza aos andorinhões ou

O leigo os confunde com as andorinhas, às quais seassemelham superficialmente, em particular pelo pes-coço curto e pelo bico de larga base que serve a ambospara a captura, em vôo, de insetos (v.também bacuraus).

As asas dos andorinhões, aves essencialmente aerí-colas, são notavelmente longas, estreitas eduras."(v. figo129), longas, pelo grande comprimento das pri-márias, em número de 9 ou 10, e estreitas pelo reduzidocomprimento das secundárias, em número de 8 a Ll.A primária mais longa de um andorinhão é três vezesmais comprida que uma secundária; numa andorinhaessa primária chega apenas ao dobro de uma secundá-ria. Embora reforçados, o úmero e o cúbito são curtos,ao passo que os ossos damão são extremamente lon-gos. A indicação do comprimento total (medido da pontado bico à ponta da cauda) engana sobre o tamanho dosandorinhões, pois neles as asas fechadas estendem-semuito além da ponta da cauda, exceto nas espécies deretrizes Iongas.xlos gêneros e (v.sob

e C. .

Só excepcionalmente possuem mais de dez retrizes(no que diferem das andorinhas, que as possuem em umadúzia), as quals no gênero apresentam-se comaraque prolongada além do vexilo, formando como queum espinho rígido; neste gênero a cauda, com sua sériede pequenos espinhos, é contudo tão curta que às vezesparece faltar, o que jamais ocorre com as andorinhas.

Os pés são muito pequenos ("apodis", literalmente"sem pés") e os dedos são incapazes de se firmarem emgalhos ou fios (ao contrário tanto dos Hirundinidae comodos Trochilidae). Ohálux, que é relativamente curto,pode estar dirigido para a planta do pé ou para a frente;em P: ex., todos os quatro dedos são muitoclaramente orientados para frente (pamprodãciilo). O pédos recém-nascidos é, porém, zigodáctilo (dois dedospara frente e dois para trás). O calo no metatarso, adap-tação para se apoiar em superfícies cortantes, correspon-de aos dos ninhegos de Piciformes. Existe umaconvergência interessante da morfologia do pé dos an-dorinhões (Apodidae) com os camaleões (Reptilia) e oKoala Mammalia, da Austrália)(Collins 1983).

Repousam agarrados a superfícies verticais ásperas,com as fortes unhas, curvas e afiadas, nelas firmementefincadas e o corpo apoiado sobre a calosidade mencio-nada e sobre a cauda rígida (fig. 145; por isto a pluma-gem, embora bastante resistente, sofre grande desgasteno que se refere às retrizes e às primárias externas; aque-las em perdem em poucos meses o contor-no sinuoso de sua extremidade. Os "espinhos" termi-nais das retrizes podem ser gastos por completo, geral-mente um sinal seguro de que o indivíduo está repro-duzindo devido a longa permanência sobre a rocha ás-pera ao redor do ninho.

Há uma boa:c'éinver'gência do campo visual dos olhos(v.Vôo). As penas do loro são abaixadas para não impe-dir a visão.

As glândulas salivares são bem desenvolvidas e, pe-riodicamente, durante a reprodução tornam-se bem mai-ores, servindo na confecção do ninho, lembrando os bei-ja-flores. A função básica digestiva da saliva-torna-semínima.

Adaptação rara em aves é a capacidade dos andori-nhões para cair em torpor, adquirindo completa imobi-

'- '

35 O nome aba-ndonadoda ordeméMachrochires,ou seja,"os de mãos gra-ndes".

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ApODlDAE 423

lidade' no local de pouso. (v. também beija-flores). Veri-ficamos na Serra do Mar, acima de 800m, que

em dias frios e chuvosos, não saem das suas cha-minés, permanecendo num estado meio sonolento.Exemplares devidamente pesquisa dos mostram reduçãoda respiração e da temperatura do corpo.- Pele resistente, lembrando a dos beija-flores. Sexos

muito semelhantes. Em pode existirum nítido dimorfismo sexual, aparecendo apenas no ma-, .cho a cor vermelha do pescoço inferior.

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D E

Fig.145.Modo do andorinhão se agarrar numaparede. pé esquerdo, disposi-ção dos dedos.A, fincado numa aresta,B, agarrado nomeio de uma parede áspera vertical. -

pé direito.C, fincado numa aresta, dedoexterno (4)e tarso, vistos de lado; note o calo no tarso(flecha),apoiando-se na parede, dando contrapesoàunha fincada, D, o mesmo pé, solto, mostrando o calo.E, trêsS. dormindo agarrados numa parede,atrás de uma cascata. Original H. Sick.

Suas vocalizações são simples, sendo o canto urnaestrofe algo mais elaborada. Os gritam àtardinha em coro (v. Reprodução). (sobretudoC. se inquietadas em seu pouso, quer ao lado doninho quer associadas em bandos, batem fortemente comas asas de encontro ao substrato, de maneira ameaçado-

-'~.'. - ra: o ruído produzido é diverso daquele produzido pe-los pombos ao baterem uma asa de encontro à outra.

Apanham todo seu alimento em vôo; calculou-se queda Europa, do porte das nossas voa-

ria mil quilômetros diários apenas para alimentar-se;podem deslocar-se, portanto, para longe em 'busca decomida, o que é atestado, p. ex., por pesquisa dos deje-tos de andorinhões da' Serra do Bico da Arara

Rio Grande do Norte), a qualmostrou a ocorrência destacada de restos de insetos (p.ex. tanajuras) desconhecidos na região.

Os Apodidae vivem em contínuo movimento, estan-do entre as mais dinâmicas aves do planeta, competin-do com os beija-flores. Com seu vôo rasante e pereneigualam-se aos gaviões mais ligeiros sp), sobretu-do, os Chaeturinae. A velocidade normal de um

da Europa foi de 103km/h, medida por um pilotovoando ao lado. Em vôo a pique alcançam 150km quepodemos admitir em geral para as espécies grandescomo Os andorinhões, portanto, superamde muito a '{elocidade das andorinhas. Os andorinhõessão velozes' por natureza, não havendo "necessidade"de um voar tão rápido, ao contrário, p. ex., de um falcãoque tem de ser mais veloz que a presa que quer captu-rar. Um sólido anteparo de penas que a ave pode abai-xar por músculos, protege os olhos dosandorinhôes dapressão das correntes de ar criadas no deslocamento; deresto tudo obedece ao aerodinamismo. A tais velocida-des o menor choque (p. ex. de encontro a um fio elétri-co) é fatal. Colocado no solo tem em geral as maioresdificuldades de levantar vôo .

Apanham insetos bem pequenos; nos estômagos detrês foram encontradas 400 formi-gas em um dos exemplares, e 300 formigas além de nu-merosos insetos miúdos nos outros dois; na Venezuelachegou-se a registrar como conteúdo estomacal de umafêmea da mesma espécie 800 formigas aladas do gênero

.Voam de bico fechado, capturando individualmente

suas presas como fazem outras aves (p. ex. as andori-nhas). São présbitas, estando entre as aves que podemfocalizar tanto mono como binocularmente, para tal pos-suindo duas fóveas, uma central e outra lateral.

Aproveitam-se das queimadas quando miríades deartrópodes, mesmo os não voadores, como pequenasaranhas, são arrastados pelas fortes massas de ar ascen-dente; colhem insetos à flor d'água (onde também be-bem) ou besourinhos que andem sobre folhas queporventura sobrevoem. Vimos como alguns e

capturam grandes içás (rainhas) na saída do.sauveiro; no próprio ato de colher o inseto seccionam-lhe o abdômen gordo deixando cair o cefalotórax ma-gro. Em e a freqüência de pequenasformigas e cupins foi calculada em cerca de 90%; captu-ram tanto machos como fêmeas das formigas-Tambémfigura no cardápio dos Apodidae o chamado "plânctonaéreo" que, carregado ao sabor dos ventos, não exigevoador ligeiro para capturá-Ia, o que é feito pelos ando-riríhões apenas voando contra o vento tal como fazemas andorinhas."

Possuem certa habilidade em reduzir abruptamentesua velocidade, passando a librar-se no ar à feição dosbeija-flores, p. ex., quando exploram um enxame estaci-onário de pequenos himenópteros ou de cupins quevoam lentamente. As movem-se dentro de uma

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424. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

chaminé, descendo e subindo perpendicularmente; amesma técnica é utilizada pelos e pelos.

quando trocam de pouso no paredão ondedormem.

Notamos que na Serra do Mar (Rio de Janeiro), quan-do há cerração baixa e chuva, as caçam renteao solo ou sobem acima das nuvens; os andorinhões cos-tumam voar em geral mais alto do que as andorinhas,sendo vistos amiúde sobre a mata alta onde estas últi-mas dificilmente aparecem; certos representantes, comoos são os mais propensos a caçar em gran-des alturas; apenas sob certas condições atmosféricas,que retêm os insetos em estratos inferiores, todos' elesvão caçar a baixa altura sobre o solo, quando se encon-tram com as andorinhas, sendo esta a melhor oportuni-dade para observar-se bem o colorido da plumagem.Voam ainda no crepúsculo ao caçarem cupins emrevoada, elevando-se a boa altura quando não há vento;podem então ser confundidos com morcegos, especial-mente uma espécie de cauda muito curta como

Sobre vôos extensos à frente de temporais, (v.Migrações). Se em tempo chuvoso e frio faltar alimento,permanecem o dia inteiro no pouso. Isto já é o começodo torpe ~que ajuda o organismo a superar melhor pe-ríodos de frio e escassez de alimento.

Na região indo-pacífica andorinhões foram observa-dos caçando com luz artificial. Vimos cuspirpelotas embora as fezes dos andorinhões contenhamqui tina. Andorinhões tomam banho voando, na chuva.

Durante o período reprodutivo exibem-se adotandomodo diferente de voar

entre outros, voa freqüente-mente em grupos de três, em elegantes voltei os man-tendo as asas quase imóveis e arqueadas, intercalandoàs vezes rápidas batidas.

Os que, como os são os maisgregários, reúnem-se em grandes bandos que, voandoem círculos; entoam seus gritos a certos intervalos comoque obedecendo a um comando. Independentementedisso certos indivíduos voam silenciosamente, em on-duladas evoluções, perto de seus companheiros; sobemabruptamente, descendoIogo a seguir ao flproximaremas asas do corpo; dirigem o bico meio para baixo, aoque parece para exibir o mais possível a área nucal bran-ca, a qual é separada do colar anterior em

pormenor visível de longe nestas ocasiões. Vi-mos ensaios de copulação em vôo, tanto emcomo em .

A nidificação dos Apodidae é um caso evolutivo dosmais interessantes; estudamo-lo em representantes bra-sileiros desde 1941.Não obstante a enorme variação doscostumes de nidificação nesta família, há alguns elemen-tos básicos radicados inclusive em adaptações morfo-lógicas. Possuem, p, ex. glândulas salivares cuja exten-

são e capacidade produtiva aumentam muito durante aquadra reprodutiva, sendo que a saliva tem comoserventia aglutinar o material do ninho, por mais diver-so que este possa ser em diferentes espécies; o extremode tal caso está nas salanganas sobretudo[uciphaga da Região Oriental que constroem exclusiva-mente com saliva, produzindo os famosos ninhos co-

. mestíveis.As edificam um ninho de ramúsculos res-

secados que quebram das copas das árvores voandorente aos galhos; colam este material com saliva den-tro de ocosde árvores, chaminés, forros de casas eoutras cavidades em edificações, mesmo em tubossubterrâneos de canalização urbana e nas paredes depoços sua saliva endurece comocola de marceneiro.

A adoção de chaminés residenciais (fig. 146b), emsubstituição às árvores, para o pouso ou para a nidifica-ção só foi observado por nós após 1945, tendo desdeentão tomado vulto e C.Antigamente, quando a mata permanecia pujante, as

procuravam árvores para nidificar; quandosurgiram progressivamente mais e mais habitações de

. alvenaria descobriram nas chaminés lugares conveni-entes para se instalarem pois, no Brasil meridional mui-tas lareiras das casas residenciais (casas de veraneio) nãosão usadas na época quente, que é precisamente quan-do estas aves aparecem e se reproduzem. O número deandorinhões "caseiros", um casal por chaminé, deveráaumentar à medida que crescer cada vez mais o númerode casas (e chaminés) e as matas diminuírem, e na medi-da em que existirem andorinhões já criados em tais abri-gos artificiais. O presente casoé uma das raras situa-ções em que uma ave silvestre de exigências especiaisconseguiu substituí-Ias vantajosamente à medida que seuambiente natural degradou-se. Na Amaz6nia (Belém,Pará) o uso de chaminés de casas residenciais foi regis-trado em 1960. A adoção de chaminés por

já foi observada na década de 30 em Trinidad.A maioria das espécies se trai no pouso por seupipilar ou gorjear quase constante, quase não inter-rompido à noite.

e colocam seu ninho demusgo e outro material macio, amalgamado firmemen-te de saliva, forrando-o de fragmentos de vegetais, ge-ralmente em locais' úmidos como paredões e escarpasde pedra, ao redor de cascatas e em grutas gotejantes eescuras (fig. 146a). constrói seu sólido

. "trono", nos arredores de cascatas, também em paredõesinteiramente expostos à luz do dia (p. ex. Iguaçu,Paraná),o que é incomum para um Apodidae. Ambos os gênerosapreciam serem borrifados por pingos d'água. Nomesgeográficos como "Saltos dos Dardanelos eAndorinhas"(rio Aripuanã, Mato Grosso), se r.eferem a esses an-dorinhões. No litoral sul, fre-qüenta grutas abertas para o lado do mar e fendasem ilhas rochosas.

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ApODIDAE 425

o ninhego de desenvolve uma rica pe-nugem que o protege contra o frio e a umidade do seuninho. Para chegar ao seu ninho ou ao seu pouso notur-no essas aves têm às vezes que atravessar quedasd' águas; vimos um ser arrastado pelacascata conseguindo, porém, livrar-se da água rio abai-xo, levantando vôo (Serra do Cachimbo, Pará); fomosinformados .de que as aves às vezes morrem, em tais si-tuações. Acontece que o volume d'água durante a cheiaaumenta tanto que os não alcançam mais osseus ninhos. Na Ásia e na Região Oriental vivem váriosandorinhões (p. ex. e -Swift) sob as mesmas condições.

Já foram vistos andorinhões fazendo seu ninho noesteio de uma roda d'água em funcionamento (A.Ruschi); no caso, tal local estrambótico foi utilizado pri-meiro por um e dois anos mais tarde por um

. Os nidificam com freqüência,próximos uns dos outros.

Outras espécies brasileiras são susceptíveis à umi-dade; e constroem no secocom paina e penas macias que apanham em pleno vôo.O primeiro faz seu ninho dentro de fendas de rocha ouem canos verticais; e substituem ca-vidades e cavernas por uma câmara incubadora bem aca-bada, de confecção própria, e dentro da qual procriamno escuro; .a saliência que recebe os ovos faz parte da

TI\ \fl~.:~c

A 1 81

Fig.146.Tiposde nidificaçãodeandorinhõesbrasileiros,situaçãogeral(1), ampliação(2). A,pequenoressaltoposto numaescarpa,ao lado de uma quedad'água.tigelafeitaderamúsculos,coladaàparede dentro deárvoreocaou chaminé.C,

bolsa depenas, coladadentro do vão deuma folhadeburiti. D,

grandetubo de feltro,coladosobreumtronco(seg.Sick1948,1955,1958).

A2

parede frontal, não sendo fixada independentemente aosuporte total do ninho como ocorre com a tigela de

. O ninho de é bem abrigado pelo le-que de uma folha pendente de palmeira (fig. 146c), aopasso que o de suspenso, é totalmente-expos-to (fig. 146d), sendo completa a independência da espé-cie em relação a abrigos. Enquanto que a edificação de

suficientemente protegida das intempériespela folha, é fofa, em surge a necessidade deprovidenciar-se uma construção efetiva contra a chuvae as tempestades o que foi resolvido por um acabamen-to cujo aperfeiçoamento pode corresponder a umafeltragem do material: a construção do ninho, na qual ocasar não se apressa, demora pouco mais de um mêspodendo contudo passar de dois meses.

inicia a construção do ninho colando sepa-radamente peninha por peninha ao longo da nervurada folha, como se.delimitasse o local a construir. Edificaprimeiro a parte mediana, anelar, depois completandoa parte superior e, finalmente, a de baixo, sendo a "con-cha do porta-ovos" a última fase (Carvalho 1962). Fixaas penas encostando o bico ao substrato e vibrando acabeça, ato que deve facilitar o expelimento da sali-va; demora normalmente mais de trinta dias paracompletar seu ninho, embora haja casos de menos deum mês e de mais de três meses. O casal reveza-senos trabalhos.

82 C2

D2C1

Sem.

D2

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426 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Os ovos são bem alongados e brancos (amareladosem os minúsculos três ovos deassemelham-se aos dos beija-flores, tendo um tom róseodevido à transparência da casca. No início, às vezes, osovos desta espécie podem achar-se colados às penas queformam o substrato, o que aparentemente se dá por oca-sião da postura e não de um ato específico da ave; nodecorrer da incubação descolam-se virando livremente,o que é indispensável para que sejam convenientemen-te incubados; acontece até mesmo dos ovos dacaírem do ninho em conseqüência de movimentos aza-rados dos pais ou da folha-suporte agitada pelo vento.

põe de três a quatro ovos e .aF:nas um ou dois.

A incubação é de 19 dias em média parae de 21 dias em . Os filhotes

nascem nus, desprovidos mesmo de plumas neóptilas;os de contudo, em menos de duas semanasdesenvolvem denso manto de longas semiplumas cin-zentas, importante adaptação ao ambiente extremamenteúmido do ninho. Os recém-nascidos são cegos, abrindoos olhos no quinto ou sexto dia de vida ouapenas duas semanas depois

Os ninhegos agarram-se fortemente ao ninho, o queparece ser fundamental no caso de cujo ninhofica bastante exposto à agitação eólica. Já os recém-nas-cidos de desenvolvem forte instinto de trepar'um' pouco na parede à qual seu ninho é afixado. Os fi-lhotes costumam permanecer três semanas no ninho emais duas semanas dependurados nas paredes ao redordo mesmo . São alimentados pelospais com minúsculos insetos, em parte ainda vivos, con-glomerados às Centenas em bolas trazidas no saco guIar.Um único ninho freqüentementé é atendido por 3 ou 4adultos, participando provavelmente também imaturosque cooperam no choco e na ceva dos novos filhotes; .cada casal requer toda uma chaminé de casa residencialpara si ei, C. . Em um ninho'encontrado com nove filhotes provavelmente ocorreu aparticipação de mais de uma fêmea. O período de nidi-ficação coincide com aquele das chuvas, onde é maior aabundância de insetos.

e silos de

Os juntam-se em certas grutas para per-noitar, locais tradicionais provavelmente há séculos,podendo congregar-se centenas e até milhares de indi-víduos. Estudamos tais grutas ocupadas por

no Itatiaia, Rio de Janeiro, e na Ser-.ra do Caraça, Minas Gerais. Todas elas eram bem úmi-das. No promontório de Torres, Rio Grande do Sul, sãoimpressionantes as revoadas dos andorinhões-de-coleira que ali confluem ao entardecer para pernoita-rem aos milhares em grutas rochosas, banhadas pelomar (w. Voss).

No Rio Grande do Norte, na Serra do Bico da Arara(Fazenda Ingá de Luís G. M. Bezerra), há uma grandeconcentração de ocne As dejeções epelotas dos andorinhões amontoam-se ali no piso dagruta, formando um adubo orgânico, de cheiro insupor-tável, o qual é vendido no próprio local; a produção atin-'giu, em 1975,50 toneladas, sendo tal substância aplica-da na agricultura das várzeas do Seridó e consideradamais eficiente que o similar oriundo do gado e que osfertilizantes químicos (Luís G. M. Bezerra). A análisedeste guano permitiu classificá-lo como um valioso com-posto nítrogenado ainda que seja pobre em fósforos e

-potássio, Uma análise feita para nós em 1973, atravésdo Centro de Tecnologia do Ministério de Agricultura(Rio de Janeiro), mostra as seguintes percentagens: umi-dade 13,16%; cinzas 5,48%; nitrogênio orgânico 9,64%;nitrogênio amoniacal 2,50%; óxido de fósforo 1,4% eóxido de potássio 0,10%. O guano de aves insetívoras(caso em tela) difere daquele "clássico" de aves mari-nhas (v. atobá) que são ictiófagas; seria interessantecompará-I o àquele de morcegos insetívoros, existente emcertos locais, o "fosfato das cavernas" tEisentraut 1938).

No Suriname, em chaminés ocupadas por grandesbandos de c , que dormiam juntos, seformou uma "camada impenetrável" de guano'(Haverschmidt 1958b). Por outro lado, em geral, a acu-mulação de fezes, etc. (biodeposição) em grutas onde osandorinhões reproduzem, é pequena.

Num silo de fazenda em Minas Gerais (Passa Tem-po) se reúne um bom grupo de durantevários meses (Andrade & Freitas 1987). Não se poderiafalar de uma "colônia" uma vez que os andorinhões sóafluíam para o silo apenas para dormir juntos: em outu-bro de 1985, 127 indivíduos, novembro 250, dezembro420, janeiro 542; a partir de fevereiro o número de indi-víduos foi decrescendo até a total ausência em abril de1986. Amostras coletadas revelaram que os membros do"clube" possuíam gônadas pequenas e uma plumagemperfeita, sem muda, que provavelmente indicava queeram jovens antes da reprodução. No inverno o grupotodo emigrou como o resto da população daquela re-gião. Anilhamento em larga escala iria esclarecer taiscasos. No Surinarne, Haverschmidt (1958b), registroudois similares "clubes", um deles de 1000 indivíduos.Vinte'i~di~íduos coletados estavam em muda total e ti-nham gônadas pequenas, sugerindo provavelmente quehaviam acabado de reproduzir. Sobre os ciclos dos an-dorinhões no Suriname não há informações suficientespara conclusões adicionais. Vos "clubes" da andorinha

elidon .Sua grande capacidade de vôo possibilita-lhas fugir

das áreas de mau tempo; deixam-se empurrar pelas tem-pestades para logo depois regressarem, aproveitando-se de suas inigualáveis habilidades. Desta maneira apa-recem em grupos, maiores ou menores e de caráter tran-sitório, em regiões onde normalmente não vivem, antes

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I!

j

1-

ApODIDAE 427

ou depois da passagem de uma frente fria ("andorinhão-do-temporal"), como observamos com freqüência,P:ex.,no ex-Estado da Guanabara.

A ocorrência de de andorinhões e cer-tas andorinhas é conhecida no mundo inteiro, refletin-do a grande sensibilidade dessas aves para com corren-tes de ar adversárias que deslocam o plâncton aéreo, seualimento (Voipio 1970).

Os vôos noturnos a grande altura, como foramregistrados na Europa, caso dos , com o auxí-lio de radares, ainda não foram registra dos nas espéciesbrasileiras; contudo vale ressaltar que em Rancho Gran-de, Venezuela, em noites de vento forte e chuva ou ne-voeiro espesso, chocaram-se de encontro às janelas ilu-minadas indivíduos (Beebe1949).

Após a reprodução tomam-se realmente migratórios.desaparece de quase todo Brasil meri-

dional embora não faltem registros de bandos migran-tes durante o inverno (Rio de Janeiro, Sick 1958a). Re-presentantes meridionais desta mesma espécie

aparecem durante o inverno australna Colômbia e até no Panamá. Reúnem-se durante estaépoca às centenas para dormir em certas chaminés, che-gando aparentemente de longe, às vezes por cima dasnuvens, conforme verificamos na Serra ao Mar (Rio deJaneiro); agarram-se às paredes da chaminé, juntinhos,esquentando-se mutuamente, formando como que umdenso tapete, recordando os morcegos em seus pousosdiurnos. No Rio Grande do Sulusa durante o inverno determinadas chaminés amplas,para o pouso noturno, coletivo. Essas chaminés são ocu-padas noite após noite por bandos que podem contarcom várias centenas de indivíduos (Novo Hamburgo,São Leopoldo, W. Voss). se notaregularmente durante todo o inverno no Sudeste. Apro-cedência de indivíduos migrantes de e

pode ser deduzida através da identifica-ção da raça geográfica a que pertencem. No Brasil este-meridional as que regressam em agosto(ex-Estado da Guanabara e Rio de Janeiro) são tidas comoprecursoras da primavera.

As migrações da que fizemosconhecer, vão ser esclarecidas pela morfologia diferente(apenas agora identificada) das populações setentrionaise meridionais e por anilhamento sistemático. Anilha-

, mento vai tornar compreensível também o caso de "clu-bes" de se desloca dentro da Amazô-nia; o dos americanos,vem durante o inverno setentrional à América do Sulocidental; sua entrada no Brasil ainda não foi compro-vada adequadamente. As longas migrações desta espé-cie, que provavelmente já existia no Terciário Superior,na América do Norte oriental, devem ter sido causadaspor modificações climáticas pleistocênicas como tantasoutras migrações, induzindo uma passagem de um con-tinente a outro. As maiores migrações conhecidas de avesterrestres são executadas por andorinhões:

,I~

c. que reproduz no norte da Sibéria e invernano sul da Austrália e na Tasmânia (Mees 1985).

Os perigos para os andorinhões são evidentes du-rantea nidificação. Deve ocorrer predação de

por cobras em buritizeiros em Mato Grosso (v.sob Icterinae). Quando esse andorinhão se instala emchaminés, pode morrer asfixiado ou queimado; encon-tramos ovos, filhotes e ninhos (estes colados de saliva,derretidos pelo ,calor) no fundo de chaminés.

Nas cataratas do Iguaçu, Paraná, foi visto umperseguindo um es (W.

Andersen, outubro de 1982).Uma rara documentação foi a seguinte: após um tem-

poral noturno achamos na orla da mata algumas árvo-res caídas; um galho tinha batido contra um tronco so-bre o qual um andorinhão, tinhafixado seu ninho de feltro; o ninho que abrigava o casale um filhote, foi amassado (Ilha Grande, Rio de Janeiro,novembro 1944).

Lembramos a colisão de um andorinhão com umavião.

Temos a impressão que osandorinhões estãodimi-nuindo tal qual as andorinhas e bacuraus, vítimas doemprego ilimitado de biocidas.

Dexter (1979) acompanhou os destinos de umaanilha da nos EUA, durante 14 anos;

não se soube para onde a ave foi durante o inverno lo-cal, provavelmente migrou para a América do Sul.

A maior parte das espécies sul-americanas pertenceà subfamília dos Chaeturinae, a qual abrange os gêne-ros e

ocorre também em regiões quentes do VelhoMundo enquanto que é restrito à região orien-tal/ australiana; (Java, etc.) assemelha-semuito ao nosso o que é claro inclusive peloninho, caráter importante na difícil avaliação do paren-tesco nesta família (Becking 1971).

A dependência de certos Chaeturinae sul-america-nos aos ocos de árvores é ou era fator limitante em suadispersão, continuando a ser a principal razão pela qualos andorinhões são mais vistos em regiões florestais.

contudo, por adaptar-se ao uso de tron-cos ocos de palmeiras como o buriticonquistou a vasta região campestre do Brasil central;as mesmas palmeiras, tornaram o ambiente por exce-lência para . Sobre adaptaçõesà vida em chaminés v. Reproduçãc.

As duas espécies de são bem diversasna adaptação ao ambiente: S. gosta da umidade,S. do seco.

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428 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Iden

A Identificação das pode ser difícil mesmoem gabinete, exigindo uma documentação científicacompleta. Há espécies gêmeas também nos outros gê-neros e S.e C. há poucos anos foi descoberta uma novaespécie de na Colômbia.

No campo a velocidade do vôo, a exposição contraum céu claro e associação de diversas espécies dificul-tam a identificação da maioria dos andorinhões; esteúltimo problema, contudo, tanto pode prejudicar comoauxiliar, na medida em que propicia uma comparação;igualmente problemática é a coleta dessas aves, o quemuitas vezes é indispensável a uma diagnose específi-ca. Ressaltamos ocorrer no Brasil uma andorinha flores-tal, semelhante às O me-lhor indicador para identificação costuma ser a voz, quecontudo exige muita prática para seu discernimento.

Os gêneros e estão res-tritos à América e pertencem aos Apodinae; seu reco-nhecimento é fácil e sua separação de representanteseuropeus da mesma subfamília é óbvia tanto pelo pa-drão de colorido da plumagem quanto pelos costumesde nidificação.

ANDORINHÃO-DE-COLEIRA, TAPERUÇU,

Pr. 19, 4

21,2cm, envergadura 53cm, peso 122-134g.É a maiorespécie brasileira, caracterizada por uma coleira brancacontínua (que não é contínua ou pouco visível em ima-turos, v. a espécie que segue). um trissarestridente; "tchz ... ", "kliã ...", amiúde emitido como can-to, principalmente no início da reprodução (julho em

.diante, ex-Estado da Guanabara) quando o bando (de50 a 100, e às vezes mesmo 500, indivíduos) descreve àtardinha círculos ou espirais a grande altura, atraindo aatenção do observador. Esse canto coletivo pode coinci-dir com as primeiras revoadas de cupim, atraído pelaluz elétrica. Após ter feito Suas evoluções durante al-gum tempo nas alturas, o bando afasta-se em linha reta,ou quando segue, de dia, em vôo rasante algum rio cau-daloso que atravessa a mata, conforme observamos naSerra do Mar. .

Pousam coletivamente em paredões juritoa quedasd'água, freqüentemente associados ao ,contando centenas ou milhares, ou em grutas escuras eúmidas ao lado de córregos dentro da mata; ficamenganchados de cabeça para cima, inclinanda"-a para adireita ou para a esquerda, olhando os arredores. Oscasais segregam-se até um certo ponto do bando quan-do se reproduzem (v.Introdução). Habitam do México àBolívia e Argentina; ocorrem em todo o Brasil, faltandoem extensas regiões planas(p. ex., certos trechos daAmazônia), pois necessitam de grutas e paredões paradormir e nidificar. Em áreas campestres do Paraná (Mu-

nicípios de Palmares, etc.), por falta de paredões rocho-sos, tais aves aproveitam-se de fendas no arenito, exis-tentes abaixo da superfície dos campos. Durante o diaafastam-se muito do pouso, voando em bandos, mas taisvôos nada têm a ver com as migrações. Existem váriasraças geográficas distinguíveis pelo tamanho e largurado colar. "Andorinhão-foguete", "Gaivota" (Minas Ge-rais). "Iaperuçu-de-coleira-branca>". V. a seguinte e as

-ANDORINHÃü-DE-COLEIRA-FALHA,

20,8cm. Menos conhecida; possui coleira branca, in-terrompida lateralmente em falhas de 1,5a 2,5cm; a man-cha branca no pescoço anterior tem a tendência de for-mar um losango em vez de uma faixa (v.S. frontee loros pardo-claros, mento e garganta com penas bran-cas, de bordas pardas e raques negras. Reproduz emMinas Gerais (Parque Estadual do Ibitipoca, 1.600m,Lima Duarte) nos meses de outubro a dezembro em gru-tas secas (M.A. Andrade). No Rio Grande do Norte, Mu-nicípio de Acari na região de Seridó, Serra do Bico daArara existe uma "gruta de andorinhas" onde esta es-pécie repousa (sem reproduzir) em grande número, en-tre fevereiro e outubro; foram calculados em agosto de1986: 8.000 a 10.000 indivíduos que entraram na fuma,em agosto de 1987 de 90.000 a 100.000. O depósito deguano (v.Introdução), existente é comercializado há vá-rias gerações por membros da família Bezerra; acredita-se no local serem tais aves procedentes de Dakar, Áfricasetentrional (v. também avoante e frango-d'água-azul).De fato ainda não sabemos (fevereiro de1989) onde osandorinhões do Seridó reproduziriam: é uma outra po-pulação (de medidas menores, descrevemo-Ia como S.

Sick 1991) que aquela de Ibitipoca(que pertence à conhecida S.b. Sclater 1865cujolocal de veraneio é ainda também desconhecido. Ani-lhamento em grande escala irá revelar o destino das duasformas. Embora repousando em fumas secas, aparececaçando ao redor de cascatas, como em Itaimbezinho,Rio Grande do Sul, onde se encontra com S. e

. É largamente distribuído no Bra-sil oriental, do Nordeste (Piauí, Ceará) a Argentina(Misiones), inclusive Rio de Janeiro: Serra dos Órgãos(agosto) e Itatiaia (dezembro, janeiro). "Taperuçu-de-coleira -falha "",

ANDoRINHÃ0-VELH0-DA-CASCATA,

18cm. Representante grande, cor de fuligem, com ca-beça e desenho no encontro mais claros; bordas de vári-as penas esbranquiçacias; a cabeça pode dar a falsa idéiade ser branca, principalmente na fronte; cauda medecerca de 63mm, imaturo com orlas claras na maioria daspenas. inteiramente diferente da de

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ApODIDAE 429

sendo um "ti-ti-ti" seguido por um zunir "tirr-tschzrr" (canto); o ranger terminal pode lembrar a ad-vertência de uma cambaxirra. Vivem às centenas juntodas quedas d'água ("Cachoeiras de andorinhas") sobreas quais voejam, assemelhando-se à distância a um en-xame de mosquitos; durante o dia caçam voando altosobre 'as matas. Sobre sua nidificação v. Introdução. O-correm do alto Madeira (Aripuanã, Dardanelos, MatoGrosso) e da Serra do Cachimbo (pará) a São Paulo (Sal-to do Itapura) eParaná (Iguaçu) até o Paraguai e Argen-tina (Misiones), associado com . Va espécie seguinte que, sob certas condições de ilumina-ção, pode ser muito semelhante. Sobre semelhanças com

e a colisão com um avião v. Introdução."Taperuçu-velho?".

ANDORINHÃO-PRETO-DA-CASCATA,

lScm. Espécie meridional que aparenta ser quase queuma grande inteiramente cor de fuligem escu-ra; cauda com cerca de 48mm. Imaturo com desenhobranco e escamoso na barriga; menor do quee/oides

pode pesar apenas a metade (44g em vez de 60-98g), tem pé delgado. Vive perto de cascatas no litoral. Voaem grupos de 3 a 6 e ocasionalmente associa-se a umbando de . Ocorre no Brasil oriento-meri-dional (Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul) e norte daArgentina. "Andorinha-das-tormentas" (Rio Grande doSul), "Taperuçu-preto'".

TAPERUÇU-DO-TEPUI*, phelpsi

14,Scm; cor de fuligem, com colar e peito averrne-lhados; a cauda relativamente longa, mole e bifurcada;ocorre nos tepuis-venezuelanos. [Coletado no CerroUrutani, fronteira brasileira (Dickerman& Phelps 1982)e observado no lado brasileiro do posto de fronteira BV-8, Roraima (D. F. Stotz).]

[T APERUÇU-DE-COLElRA -CASTANHA l,

[14cm] Observado algumas vezes em Brasília(A.Negret), muito parecido a C.phelpsi. De vasta distribui-ção nos Andes e no norte do continente, até o México.[Esse registro devido a sua singularidade distribucionale importância intrínseca no conhecimento dos pa-drões de distribuição do gênero carece de documen-tação adequada.]

ANDORINHÃO-DE-CHAPMAN,

12,Scm.Representante robusto, de plúmagem negro-azulada; cauda larga e negra, ao eontrário de C.c

que às vezes é seu vizinho à beira da mata, Ocorre dasGuianas à Colômbia e ao Brasil setentrional noAmapá,Pará (Belém), Amazonas, Mato Grosso e Acre. Talvezforme uma aloespécie com a espécie seguinte."Taperá -escura "",

ANDORINHÃO-MIGRANTE, VN

O fato que a presença desta espécie no Brasil aindanão é adequadamente comprovada (embora aguarda-da) exige sua manutenção provisória na lista de aves doBrasil.

13cm. Semelhante ao anterior e a C. , diferindodo primeiro por possuir as rêmiges mais estreitas, ospés menores, e o colorido do lado superior mais unifor-me cor de fuligem, apenas com as asas negras. Visitanteda América do Norte, vem durante o inverno setentrio-nal à América do Sul. Há vários registros de indivíduosanilha dos nos EUA, recuperados na Amazônia peruanae na Colômbia mas nenhum no Brasil (até 1987); umaobservação feita por E.T. Gilliard em Manaus, Amazo-nas, em março de 1943, com centenas de per-noitando dentro de uma chaminé, poderia tratar-se deandorinhões nacionais, provavelmente C. ei, emmigração e não de'pe g , como constou no respectivorelato. pe é espécie que se adaptou há tem-pos em aproveitar-se de edificações humanas

v. sob .. é semelhante a de C.um repetido "zrrruit" que lembra o chamado do

tiranídeo Acompanha durante asmigrações, em grande número, o litoral do Pacífico daAmérica do Sul até o Chile, onde é a única espécie de

(muito ao contrário do que se dá no Brasil), oque lá facilita seu reconhecimento.

" ,',

ANDoRINHÃO-DE-SOBRE-CINZENTO,

ll,Scm. De asas bem mais curtas que C. , pos-sui as partes superiores negras, à exceção do uropígioque é extensamente cinzento-claro (v.C.spinic gar-ganta esbranquiçada; cauda relativamente grande (aocontrário de C. c e de C. . rouco edistinto "tchri-tchri-tchri". Vive na mata; procura cha-minés para dormir e paranídificar, à semelhança de C.

freqüenta usualmente<1$ v;tesma.sáreas desta es-pécie no Brasil meridional, sendo que C. ei não évista, como a presente, em pequeno número regularmen-te no inverno (Rio de Janeiro, ex-Estado da Guanabara).Ocorre da América Central ao alto Amazonas (Madeira,Acre); leste e Sul (inclusive no Rio Grande do Súl) e Ar-gentina (Misiones). "Iaperã-de-barriga-cinza=".

T APERÃ-DE-GARGANTA-BRANCA ". e eg

[llcm] Talvez seja substituto da anterior, de costas

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430 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

bronzeadas (em vez de azuladas) e uropígio esbranqui-çado; ocorre no Acre (setembro), norte de Mato Grosso(Serra do Roncador, agosto/setembro), Peru e Bolívia.

ANDORINHÃO-DE-SOBRE-BRANCO,

lI,7cm. Espécie amazônica de asas bem mais curtas(102-106mm) do que as deC. que pode serseu vizinho em orla de mata; a cauda é relativamentegrande, dando a impressão de um talhe maior que o deC. as partes superiores negras (inclusive a cau-da), à exceção do uropígio que é atravessado por umanítida e estreita cinta esbranquiçada. "sri-sri-sri"lembrando maisC. c que C. . Vive namata, clareiras. Ocorre da Costa Rica ao norte da Amé-rica do Sul até o rio Purus (Amazonas), Serra do Ca-chimbo (sul do Pará), Belém (este do Pará, onde é fre-qüente), Amapá, Maranhão, Alagoas e Bahia. "Taperá-de-sobre-branco?" ..

ANDORINHÃO-DO-TEMPORAL,

Pr. 19,3

lI,5cm. Fora da Amazônia, é geralmente a espéciemais comum; de cauda curta, plumagem cor de fuligemescura, garganta, uropígio e cauda mais claros. "tiptip tip", acrescentando como canto um "tli-ti-tid", Voasobre matas e cidades, nidifica em árvores ocas (p.ex.,palmeiras, Mato Grosso e Goiás), chaminés (Brasil ori-ental e meridional); seu ninho era desconhecido até 1946(v. figo147). De março em dtanteé migratória, pernoitacoletivamente em chaminés res ide nciais (p. ex.,Teresópolís, Rio de Janeiro, foi visto em bandos de até700 exemplares, Sick 1958); v. também Migrações. Acha-mos em Parati, Rio de Janeiro, um pernoite coletivo deC. dentro de uma parede de "pau-a-pique" (feitode varas de bambu e barro), aproveitando um espaçolivre no interior da construção.

.A raça austral, maior e mais pálida eiocorre da Argentina e Paraguai ao Brasil

central (Mato Grosso, onde nidifica em outubro/novem-bro), meridional, ocidental (Rio de Janeiro, ex-Estado daCuanabara, onde nidifica de fins de agosto a janeiro) enorte-ocidental; em suas migrações ultrapassa o Equa-dor chegando a Roraima (maio), Suriname (agosto), nor-te da Venezuela (setembro), Colômbia (agosto) e Pana-má (agosto). "Taperá-do-temporal'"',

ANooRINHÃG-DE-RABG-CURTO,

1O,Scm.Espécie amazônica delicada, de asas amplas(115-120mmr e cauda extremamente curta, de onde re-sulta um porte menor do qúe o de C.spinic . Pluma-gem negra inclusive nas partes inferiores, porém com a

Fig.147.Andorinhão-do-temporal,o ao lado do seu ninho numa chaminé,

Teresópolís,Riode Janeiro".

cauda e uropígio pardo-claros. "zü-zü-züdülüdel",

lembrando C. que não costuma ocorrer na mes-ma região, exceto em migrações. Nidifica em canos deesgoto, poços, chaminés, etc.É comum em paisagensabertas setentrionais (savana e beira de mata), voa re-gularmente sobre cidades como Belém e Macapá. Ocor-re das Guianas, Venezuela e Colômbia ao Peru, MatoGrosso, Pará e Maranhão. Pode ser vizinha de C.

e de C. "Taperá-de-cauda-curta'".

ANDORINHÃO-SERRANO, gus

llcm. É espécie das serras fronteiriçasà Venezuela;garganta, pescoço anterior e uma faixa abdominal bran-cos. "zirrrrr", lembrando um suiriri (Tyrannidae).Vive na mata; dorme e nidifica em fendas rochosas.Ocorre nos Andes e tepuis venezuelanos para o sul atéos altiplanos da Bolívia. [Assinalado no Brasil para aSerra de Imeri, Amazonas (Friedmann 1948) e CerroUrutani, Roraima (Dickerman& Phelps 1982). "Taperá-serrano*" .]

ANDORINHÃO-ESTOFAOOR, ensis

13cm. Representante pequeno, mas robusto, de cau-da bifurca da que é, porém, comumente mantida fecha-da. A plumagem é negro-azulada, com garganta e coleirabrancas assim como uma mancha no loro e uma outraao lado do uropígio, sendo que esta última' destaca-sebem em vôo. bissilábica "gch-gch", "sbit-sbit", "bs-bsiu" e um trinado. É solitário, caça geralmente sobre amata alta; vive no sul ao lado de C. ei s e nonorte de C.spinic da qual difere pelo vôo mais im-petuoso. Ninho grande, de "feltro" (paina aglutinada, ograu da feltragem varia muito, individualmente). O ni-nho tem entrada por baixo, é colado em árvores altas de

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ApODIDAE 431

casca lisa ou na face interior de saliências de tetos; nasua forma assemelha-se a uma meia de lã aderida à sola,cujo grau de feltragem ou amalgamação alcança seu má-ximo na porção superior que adquire a aparência de lamasolidificada. Tal é a quantidade de saliva ali empregadapela ave, que se torna quase impermeável. O suporteinterno, estreito, onde jazem dois ovos, lembra uma pra-teleira, sendo confeccionado posteriormente; a parte in-ferior do ninho (abaixo do "porta-ovos") apresenta-secomo um espaçoso tubo pendente em que a ave que nãoestá chocando se acomoda. Esta seção assemelha-se, emmuitos casos, a um tecido fino quase transparente querasga com um vento mais forte, sendo posteriormenteconsertado. Há ninhos mais longos e mais curtos (de 30a 100cm); amarelos ou esbranquiçados conforme o ma-terial empregado (paina e poucas penas); o pássaro de-pende na sua construção de certa 'paina, p. ex., sementesde s (Apocynaceae), i (Bromeliaceae)e Ceib pent a samaúma (Bombacaceae), que con-segue apenas em certas regiões e épocas( Sick 1947).Noaspecto do ninho influi bastante a idade e a exposiçãodo mesmo, os mais recentes e melhor protegidos (p. ex.dentro de uma casa) são mais flocosos e menos espes-sos, tomando-se mais tarde, sob a ação da feltragem edas intempéries, mais escuros. O ninho pode ser coladoao suporte em toda sua extensão. Quanto ao uso do ni-nho podemos afirmar que é usado temporadas segui-das, provavelmente pelo mesmo casal, mas as aves nãodormem sempre no ninho.

Soubemos noTapajós,Pará, que não é raro cair ovosou filhotes pequenos do ninho quando este é abaladopela entrada dos adultos.

Habita do México ao norte de Mato Grosso (rioXingu) e Maranhão; de Pernambuco eAlagoas a São Pau-lo, sempre em locais quentes. Ocorre na Amazônia, ondeé relativamente comum, e é confundido pela populaçãolocal, com o cauré o gul que passa como oconstrutor de seu ninho; os pedaços deste último sãocobiçados pelos matutos como um poderoso amuletoque dará boa sorte, pois o citado gavião é consideradocomo criatura, por excelência, feliz. "Anapuru" (sul doPará), "Taperã-tesoura'".

ibliog ol liog l)

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TESOURINHA,

13cm, llg. Espécie bem delgada, de cauda longa,profundamente bifurca da, a qual é geralmente mantidafechada durante o vôo, tomando formato de lança. Par-tes superiores enegrecidas, de brilho verdoengo, sen-do as penas marginadas de creme; partes inferioresbranco-acinzentadas. rouco e finíssimo "gs-gs"bem distinto.

Depende totalmente de palmeiras que possuam fo-lhas em leque, na borda das quais passa a noite e nidifica;procura sobretudo o buriti( ni , no Brasilcentral, e o rniriti . e os , na Amazônia; sem dúvi-da acompanha toda a área de ocorrência de taispalmáceas. Aproveita-se também da carnaúba

nici e de palmeiras exóticas que tenham o mes-mo tipo de palma (p. ex. is . Utiliza tanto folhasvelhas e pendentes verticalmente quanto as verdes equase horizontais; situa o ninho junto à raque das mes-mas, sendo que este consiste em um chumaço de penasmacias e frouxas; mais estreito em cima e largo e abertona parte inferior onde situa-se o acesso; é fixado lateral-mente, por saliva, às nervuras da superfície do suporte.O porta-ovos é como uma reforçada dobra da paredeoposta à folha-suporte, tendo a forma de uma conchamais ampla e côncava do que a de , o que dámaior segurança ao conteúdo do ninho, que vive a ba-louçar. As paredes internas do mesmo recebem mais sa-liva, perdendo a aparência flocosa do exterior; é comumdois ou mais casais instalarem-se em uma só palmeira.

Em cidades do Nordeste (p. ex. Crato, Ceará) mora-dores se queixam da sujeira produzida pelaseque nidificam e dormem nas folhas pendentes de pal-meiras (em parte exóticas) plantadas nas praças - casoque lembra a polêmica contra os bandos de andorinhasrnigrantes que pernoitam nas árvores de praças do inte-rior de São Paulo. Ocorre das Guianas e Venezuela aoMato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Bahia, São Paulo eParaná: em parte de sua áreaémigratória, desaparecen-do a partir de março e ressurgindo em novembro (Borba,rio Madeira.Amazonas). "Poruti" (Amazonas)."Taperá-do-buriti=".

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Page 184: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-02

TROCHILIDAE 433

. ... BEIJA-FLORES: FAMÍLIA TROCHILIDAE (78)

,...., .

É uma das maiores e mais interessantes famílias daclasse, cóngregam nas três Américas o total de mais de320 espécies. Sua maior concentração ocorre perto doequador na região dos Andes. Assim a Colômbia tem143 e o Brasil menos de 80 espécies de beija-flores. Toda-via temos p. ex. na região do município do Rio de Janei-ro 28 espécies registradas. Foi deduzido da maior fre-qüência dos beija-flores nos Andes que essas aves prefe-rem temperaturas mais amenas. Assim se explicaria onúmero reduzido de beija-flores no Brasil tropical.

Os beija-flores são exclusivamente americanos. Háum fóssil do Pleistoceno (há 20.000 anos) de Minas Ge-rais. São aves muito peculiares, com poucas afinidadesmarcantes com outras famílias. Sua reunião com os an-dorinhões (Apodidae) numa ordem "Machrochires" jáfoi advogada por Fürbringer (1888). V. Apodidae. Hácertas relações dos beija-flores com os Passeriformes. Suasemelhança com os nectarinídeos da África, Ásia e Aus-trália (Passeriformes) não passa de analogia; osnectarinídeos têm dificuldade de adejar diante das flo-res quando querem chupar o néctar; são portanto me-nos especializados do que os beija-flores; preferem pou-sar na carola, semelhante aos coerebíneos. Há tambémsemelhança muito superficial' com os bico-de-agulhas,Galbulidae os quais por isso são designados pelo povocomo "beija-flor-grande".

Entre os beija-flores temos os menores vertebradoshomotérmicos do mundo". As menor-es espécies brasi-leiras sãoEopho nis 1,5-2,8 g,Heli tin 1,8-2 g,

h etho s ube 1,8-2,5g eC lliphl 2,3-2,8g. Represen-tantes como cotho (6,7 g) e Eupeio e (9,2 g)já passam por "grandes", sendo maiores do que algunscaga-sebos (Tyrannidae). O comprimento relativamentelongo de diversas espécies provém da extensão do bicoe da cauda, que freqüentemente excede o comprimentodo corpo. As maiores espécies do Brasil são pell(13 a 18 g) e odon eoius (9 a 10 g), enquanto quea maior espécie dafamília, t gi (21 g, tama-nho de umaandorínfiâ), vive nos Andes. Todos os beija-flores têm pele grossa e penas resistentes.

De bico longo e fino, boca estreita, porém podendoabrir-se bastante (v.parada mipcial deetho ube .Alguns, como on, ucis, Colib i e ,têm a parte terminal da maxila serrilhada, sugerindo a

atividade de serrar ou vantagem em segurar objetosli-sos. A serrilha pode estender-seà mandíbula e o bicopode tomar a forma de um compasso de toque (p. ex.certos indivíduos deCo s i t ). O bico deHelioth tem a forma de uma sovela, um aperfeiçoa-mento que permite furar coro Ias de flores. Compare tam-bém a morfologia diferente do bico de imaturos. Dimor-fismo sexual d bico existe em n bico reto, ter-minando num gancho (macho), ou bico suavemente cur-vo (fêmea), sugerindo, sem dúvida; uma diferença naalimentação. As fêmeas de t nis costumam ter umbico mais curto e mais curvo. Língua (fig. 148) muitocomprida e extensível, é bífida e capilar na ponta. O bico

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Fig. 148.Língua de beija-flor, l is. A,vista geral, mostrando a ponta bipartida da língua,provida de franjas. B,corte transversal do bico e dalíngua, perto da ponta do bico, formam-se dois tubos.C, corte no meio do bico, onde a maxila sobrepõelargamente a mandíbula formando um vácuo, comouma bomba aspirante (seg.H.Bõker 1937). -

36 Os menores mamíferos do mundo, os rnusaranhos, pertencendo aos soricídeos (Insectivora), têm peso semelhante:da região mediterrânea da Europa, pesa 1,8a2g. ho i, daAméricado Norte setentrional, pesa 2,3g.Aosmusaranhos

aproxima~seo minúsculo marsupialic odidelph so do BrasiLEm 1974foi descoberto na Tailândia um morcegode apenas 3cmde compnmento e 2g de peso. Como ser voador o morcego é ainda mais apropriado para a comparação com os beija-flores.

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434 . ORNITOLOGIA BRASILEIRA

pode medir 15mm, a língua do mesmo indivíduo 30mm.O comprimento do bico é adaptado à profundidade doscálices explorados: Os hióides, que sustentam a base dalíngua, contornam o crânio e alcançam a testa por baixoda pele, lembrando, o caso dos pica-paus. Pescoço, comprido e móvel. Possuem uma mus-culatura singular da nuca, o splenis (v.Apodidae).

A asa é longa. A mão é maior que o braço ou igual aeste, que é extremamente curto. O esterno é relativamen-te muito grande. A musculatura de vôo perfaz um quar-to ou até um terço do peso total do beija-flor, Sobre ovôo v. abaixo. Possuem 10 primárias grandes mas ape"nas 6 a 7 secundárias; já o albatroz-migrante,

mestre em vôo planado, tem 37 secundárias.Entre os aspectos mais notáveis que distinguem os

beija-flores e constituem mesmo a base para sua extre-ma atividade, está o tamanho relativamente muito gran-de do seu coração (fig. 149), que perfaz 1,9% a 2,5% dopeso total do corpo (2,4g a 5g); ao passo que num pardal(27g) o coração representa 1,39%, e, no homem apenas0,5% do peso total do corpo. O tamanho relativo do co-ração dos beija-flores é o maior conhecido em aves; omenor coração em aves têm. os tinamídeos. Beija-florespequenos têm um coração relativamente maior que bei-ja-flores grandes. Os pulmões são grandes e de estrutu-ra simples, facilitando a alta freqüência da respiração;não existem válvulâs. O volume do pulmão e dos sacosaéreos, ligados entre si, perfazem 14 a 22% do peso totaldo beija-flor, resultando numa superfície permeávelmuito grande que beneficia a troca de oxigênio. Sobre atemperatura do corpo v. sob "hibernação". A freqüênciarespiratória em repouso do beija-flor é de 260 inspira-ções por minuto (do pombo 29). Calcula-se que o cora-ção do beija-flor em vôo movimenta o sangue 100 vezesmais depressa do que o do homem.

Pés pequenos com dedos muito fortes e unhas lon-gas afiadas em gancho; agarram-se bem a galhos finosmas não servem para andar (exceto uma espécie andina

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3.0

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'Oo 10>~~o~ 05c,

Outras espécies

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Peso do corpo, 9

Fig.149. O peso relativo do coração de beija-flores(à

esquerda) e não-beija-flores(à direita). Um beija-florde 8g tem um coração queé 11% mais pesado que deum não-beija-flor do mesmo peso (Bergeret .1979), .

40 60 '. 100

que se movimenta pulando). As asas é que servem pata.os mínimos deslocamentos. Alguns beija-flores usam ospés para segurar-se nas' folhas da flor que visitam, aomesmo tempo que continuam a bater as asas. .Deve ha-ver um motivo funcional que explique os três dedos an-teriores ligados dos

As esplêndidas cores iridescentes de tons metálicos.. que distinguem os beija-flores resultam da difração e re-

flexão da luz pela microestrutura das penas, variandoportanto com a direção da entrada dos raios solares, àfeição do que acontece com o diamante e uma gota deóleo; o estudo da: pena do beija-flor com o microscópioeletrônico está abrindo novos horizontes.

A produção de vários efeitos cromáticos das penascom luz incidente de ângulos diferentes e luz transpa-rente, está subordinada à ação individual do pássaro: obeija-flor movimenta certas áreas da plumagem,P: ex.,o topete e os tufos laterais do pescoço, ou gira o corpopara conseguir os resultados mais surpreendentes -tudo isto em vôo de libração, exibindo-se diante da fê-mea. A evolução alcançou os efeitos mais admiráveis. v.p. ex. sob A denominação "colibri", mais usa-da em francês e alemão, deriva-se da língua caraíba esignifica "área resplandescente". Para o nome tupi"guainumbí", há diversas derivações, entre elas "guirá-mimbig" = pássaro cintilante.

As espécies 'que vivem na sombra da mata,("eremita" = de hábito de monge), têm plu-

magem pouco vistosa. Às vezes, há um sinal berrante,como a ponta branca da longa cauda, que a ave pousa-da balança, chamando a atenção de longe.

Os machos novos costumam assemelhar-se às fême-as (v. abaixo). O macho de adqui-re as primeiras penas verde-brilhantes, do lado infe-rior, a partir dos 50 dias, e já no quarto mês a máculavermelha da' garganta está bem visível; sua pluma-gem nupcial estará completa aos 8 ou 9 meses.

conserva sua plumagem subadulta,muito diferente do adulto, durante 18 meses. Jovens de

epossuem também vestimenta distinta. Imaturos podemdiferir de adultos pela superfície rugada (em vez de lisa)dos lados da maxila (Ortiz-Crespo 1972).

é e H. apresentam duasmudas normais por ano, ao contrário da maioria dasaves: a nupcial (muda básica para todas as aves) e a pós-nupcial. Através da muda pós-nupcial (a partir de ju-lho) adquirem uma plumagem de descanso reproduti-vo ou "eclipse", pela qual perdem o azul do vértice e overmelho da garganta, tornando-se semelhantes às fê-meas (v. Anatidae). Readquirem a plumagem nupcial apartir de outubro. Uma plumagem de descanso ocorretambém em vários machos adultos, mantidosem cativeiro na Europa, tiveram durante um período de6 a 8 semanas (a partir do outono local) as reluzentespenas da garganta substituídas por penas brancas e cin-zentas.

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TROCHILlDAE 435

l'

IAs fêmeas da maioria dos beija-flores são modesta-mente coloridas; fêmeas velhas podem adquirir uma plu-

.magem progressiva que lembra o traje bonito do machoadulto, p. ex., . As fêmeas de

n lus e Col são semelhantes aos seus ma-chos vistosos. As fêmeas de espécies pouco vistosas flo-restais, como h e sãosemelhantes aos machos.

Alguns beija-flores apenas conhecidos pelos "exem-plares-tipo" que serviram à sua descrição e outros deprocedência duvidosa, constituem provavelmente, omais das vezes, híbridos. A esta conclusão chegou-se,p.ex., nas "espécies" de e os quais setratam talvez de híbridos entre eOs cruzamentos entre as espécies diferentes de beija-flo-res que, segundo parece, ocorrem com maior freqüênciado que anteriormente se acreditava, podem resultar dafalta de convívio do casal (v.sob reprodução). O mesmoacontece com outras aves polígamas que não formamcasais fixos durante a reprodução, p. ex., aves-do-para-íso e piprídeos. Recentemente são registrados não pou-cos híbridos em cativeiro. A. Ruschí-observou nos seusviveiros cópulas de espécies diferentes, p. ex.

x ilus [uscus. Encontram-sehermafroditas.

A maioria dos beija-flores tem voz aguda, lembran-do a de insetos ou de morcegos. Às vezes, a vocalizaçãoé quase inaudível para nós, embora fique evidenciadapelos movimentos da cabeça ou das penas de gargantacomo registramos, p. ex., em l , portantoespécie relativamente grande mas com voz altíssima,chegando além de12 kHz a. Vielliard). Às vezes os mo-

vimentos das mandíbulas denunciam que a ave canta(v.P: ex. oc ). Possuem vozes diferentespara expressar ataque,~rrnareteiTfre'l-i@t-e-ment~~_toadas emôõ - s e , p. ex.,são es-péciesaê~v6Z-fôrte. Voz forte possuem também diver- -sos beija-floresque vivem ocultos na mata e têm colori-do modesto, como s, e e

Os cantos das várias espécies de beija-flores são bemdiferentes, mas as freqüências altas dificultam uma apre-ciação. Os sonogramas são indispensáveis, revelammuitas particularidades. As espécies que cantam emgrupo;; (v. acasalamento) mantêm seu território coleti-vo durante anos: Isso possibilita o desenvolvimento dediferenças locais da fraseologia, registra das, p. ex., em

s long em Trinidad, implicando emaprendizagem dos indivíduos. A atividade canora des-ses beija-flores é a maior que se pode imaginar. Constaque um o longue eus, representante flores-tal bem pequeno, emitiu seu canto em média a cada doissegundos, havendo poucas interrupções no dia em quefoi feita a estatística, o que resultou em um total de12.000

cantos por dia (Snow 1968). Ocorre no canto de certosbeija-flores a emissão simultânea de doissons indepen-dentes, produzidos nos dois brõnquios. Assim

itus emite um inconfundível "tli,tli,t (fig. 150). Compare também Cotingidae.

Entre os beija-flores campestres,Co s eos são cantadores incansáveis.e

s tem dois tipos de canto, como aparentementetambém ocorre em is e provavelmenteoutros. Cantam às vezes em vôo, p. ex.,

ius. A vocalização da fêmea é muito menos elabora-da. Há também "música instrumental" entre os machos(v. sob acasalamento).

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Fig. ~50.Sonograma da emissão,simultânea de doissonsindependentes pelo beija-flor (seg.Vielliard1983).Uma nota longa(140a200ms) mostra a sobreposiçãode duas freqüênciaspuras não relacionadasharmonicamentee moduladas, ambasde10a12 kHz a 6 a 7kHz .

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436. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

de

r A base da sua alimentação é oaçúcar.ll.Jm

de 3 g, em perfeita condição de saúde, controlada porW. Scheithauer num viveiro na Alemanha, chupou du-rante um dia de 16 horas 22g de água açucarada, con-tendo 2,2g de mel: 73% do peso do pássaro. Além disso,o mesmobeija-flor capturou 677mosquinhas ..ou seja, 0,8g (cada uma pesa 1,2 miligramas), portanto27% do peso do pássaro. O consumo total diário de ali-mento deste beija-flor era 25,0 g, isto é, mais de 8 vezeso seu próprio peso. A voracidade dos beija-flores é bemconhecida levando às exagerações mais absurdas como"alguns chegam a ingerir até quase trinta vezes o seupeso em alimento" (Ruschi 1986). Um homem que ti-vesse um consumo correspondente ao de um beija-flor,que ingere apenas metade do seu peso em açúcar, teriaque comer 58,9 kg de pão. O ritmo de um animalhomotérmico (beija-flor não é bem "homotérmico", v.sob Hibernação) depende do seu tamanho: quanto me-nor ele for, mais tem que comer, relativamente, e maisoxigênio gasta, produzindo mais energia - em suma, temum metabolismo mais elevado.

Aos beija-flores o néctar, os carboidratos, fornecemimediatamente a energia necessária para seu vôo delibração e seu esvoaçar contínuo. Ao contrário de inse-tos como abelhas, os troquilídeos preferem flores com'néctar diluído, até pouco acima de 20%, enquanto abe-lhas aproveitam concentrações de até 70% e 80% (Baker1975). Algumas medições feitas por Snow& Teixeira(1982) no sudeste brasileiro indicam para flores visita-das por beija-flores concentrações de 15 a 31%. A con-centração baixa de açúcar em flores polinizadas por bei-ja-flores diminui a concorrência com as abelhas qu~, fi-siologicamente, são mais dependentes de uma concen-tração alta (Bolton& Feisinger 1978). Não aproveitamnéctar ácido como ocorre em certos . O horá-rio da secreção do néctar de está sincronizadoà visita de que voam já de madrugada (Stiles1979) como o perfume de certas flores, desprendendo-se com máxima intensidade, coincide com a maior ati-vidade dos insetos polinizadores.

O conjunto língua/bico do beija-flor é um mecanis-mo capilar que funciona como uma bomba que puxaágua. O beija-flor tem que absorver o líquido o mais ra-pidamente possível, pois bebe em vôo de libração. Temque visitar muitas flores para satisfazer sua necessida-de. Um beija-flor chega a visitar mais de 200 flores de

uma após a outra, procurando milhares de florespor dia. O caso freqüente em que beija-flores procuramnuma extensa área sistematicamente as flores da mes-ma "espécie de planta, foi designado linha-de-captura

ing). Introduz a comprida língua até osnectárí-

os; p. ex., tem bico de 1,8cm; com alíngua estendida o alcance vai a 4cm. Em co;olas bempequenas nem precisam enfiar o bico; enfiam-no sem-pre no canudo dos vidrinhos. Em flores maiores metem

. a cabeça profundamente. No enorme funil das(Solanaceae) desaparecem por completo, Bicosextrema-mente longos como os de s ciliosus e

são uma adaptação à exploração de flores comcorolas profundas. Espécies pequenas como o e

que têm bico curto, procuram flores miúdas,p. ex., o gervão preto e eesporinha Com o néctar tiram da flor cer-ta porção de pólen, apanhado acidentalmente (v. sobPolinização). .

Enquanto a posição "normal" do bico, durante o atode sugar,' é horizontal, há muitas exceções, p. ex., no caso.de.urna visit~ às flores de Nyrnphaeaceae que sobressa-em 'pouco à .flor d'água, exigindo uma posição quasevertical do bico do beija-flor, pairando acima da flor.

, o e outros furamàs vezes o tubo da flor do lado de fora, p. ex., as floressempre meio fechadas de s, num ata-que mais direto ao precioso líquido, ou então se apro-veitam de rasgos feitos pelas cambacicas abe-lhas (sobretudo espécies de e vespas: aquisi- "ção "ilegítima" do néctar; (v. também sob Morfologia ePolinização). Consta que beija-flores às vezes se agar-ram às flores, p. ex., dêHibiscus, para abrir um buracocom as garras. Bicam frutos suculentos como o caqui esugam seiva que brota de um galho ou tronco lanhada.Beija-flores estão entre os mais assíduos freqüentadoresde perfurações de pequenos pica-paus daAmérica do Norte. Na Colômbia beija-flores se aprovei-tam das perfurações dee e (Kattan& Murcia 1985).

Os beija-flores são altamente sensíveis às cores comojá sugere o colorido muito variado da sua plumagem.Examinam objetos coloridos por acaso deixados em jar-dins, lenços de cabeça e as estacas vermelhas e brancasde agrimensores. Abelhas, ao contrário confundem ver-melho com preto, são daltônicas. Ornitofilia é geralmentecaracterizada por cor vermelha das flores; abelhas sãoeliminadas como concorrentes, v. sob Polinização. Os"ninhos" coloridos dos gravatás são inspecionados, mes-mo quando não contêm flores. Os beija-flores podem serhabituados a certas cores sob as quais lhes é oferecidoseu alimento preferido. Como caracteres principais deflores de plantas ornitófilas, constam o colorido vivo e ariqueza em néctar. Embora seja freqüentemente afirma-do que a cor preferida pelos beija-flores é o vermelho, amais berrante de todas as cores, é necessário frisar que aexperiência individual do beija-flor, sua faculdade de.aprender a explorar as melhores fontes disponíveis nomomento, são fatores dos mais importantes. Sabem,aparentemente, identificar a mudança da cor das floresde l iscus bo s procuram as flores nas quais acor escarlate berrante começa a declinar, que coincidecom o começo da produção de néctar (Gottsberger 1971).Indivíduos novos, inexperientes, sugam qualquer flor,enquanto os adultos as selecionam.

Gravatás floridos, de aspecto bem insignificante e flo-

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TROCHIUDAE 437

res minúsculas, da cor mais modesta, não deixam de servisitados. Gravatás epífitas e terrestres, de flores habi-tualmente vermelhas ou amarelas, estão entre os vege-tais mais procurados pelos beija-flores. Gravatás de portemenor, da região de Teresópolis, Rio de Janeiro, visita-dos por beija-flores, são, segundo A. Abendroth:

e le São também procuradas

espécies de h brinco-de-princesa, com vistosas flo-res vermelhas, freqüentes nas região da mata pluvial p.ex. da serra dos Órgãos, Rio de Janeiro (v. também sobPolinização).

Num único pé de eucalipto (flor branca), no EspíritoSanto, foi contada uma espécie de beija-flor, num totalde aproximadamente 100 indivíduos, no mesmo dia,num outro pé 14 espécies diferentes de beija-flores. NaAustrália, pátria do eucalip.to, sobretudo osMeliphagidae procuram o eucalipto. Outra planta aus-traliana muito estimada pelos beija-flores é sp.(Proteaceae). Outras flores, também brancas, muito pro-curadas por beija-flores, são, p. ex., as das laranjeiras edos ingazeiros. A eliminação de um laranjal pode tercomo conseqüência o desaparecimento de

nos arredores.Atraentes para muitas espécies de troquilídeos são

as flores das" ervas-de-passarinho",(Loranthaceae), que crescem sobre figueiras, mirtáceas,as tabebuias, etc.; seu conjunto de flores se apresenta naperiferia das copas das árvores por elas parasitadas,como uma grande chama amarela ou vermelha. Comovisitantes de florido no litoral es-pírito-santense nos meses de janeiro a fevereiro, muitonectarífero, cita Ruschi (1950) as seguintes 9 espécies:

e , P. ub e P. Eu, s,

gl ucopis, e .O conhecimento das flores preferidas por determi-

nadas espécies pode em muitos casos vir a ser a chavepara encontrar certos troquilídeos. Sendo a floração da-quelas espécies vegetais restrita a certos períodos, o apa-recimento dos respectivos beija-flores naqueles locais étambém limítado: terminada a florada desaparecem, to-mando destino ignorado.

Parece que à chuva dificulta a exploração do néctardas flores, razão pela qual os beija-flores aparecem en-tão em maior número nas garrafas com água açucarada.

Outra fonte natural, onde beija-flores se abastecemde líquido açucarado, é lambendo ou sugando as exu-dações de frutos maduros, como as de figueiras bravas

spp.) ao lado de vespas e moscas. Caso especial éa excreção das larvas de piolhos vegetais ,sp.,Coccídeos). Os pulgões sugam af in a casca dabracaatinga , leguminosa presente emgrandes comunidades no sul (do Paraná ao Rio Grandedo Sul). A excreção é feita por um tubo capilar de 2 a5cm e mais de comprimento que 'sobressai de uma mas-sa fofa preta que cobre a casca e os próprios pulgões, a

"fumagina", acumulação de fungos, adubada pelaexcreção dos coccídeos. Devido estar o líquido cobiça-do presente apenas no lado inferior dos galhos e tron-cos, o melhor modo de alcançá-Io pelas aves é adejando,ação efetivada facilmente por beija-flores. Contamos emSanta Catarina (outubro) numa única bracaatinga de 12mde altura, em meia hora, 7 espécies de avesctll9icollis,

,similis e i em parte casais, se alimen-tando daquela excreção. Quando chegam abelhas, comoa írapuã, para sugar também, os beija-flores se retiram.

Os-artrópodes (insetos e aracnídeos) garantem aosbeija-flores as proteínas necessárias, absolutamente in-dispensáveis ao crescimento dos jovens. Pegam insetosno pairam diante de um enxame de pequenosdípteros, ou simplesmente à moda dos papa-moscas,voam de um galho e logo voltam ao mesmo ponto. Quan-do um beija-flor pega um inseto em vôo como com umapinça e não pode sugá-Ia com a longa língua como faznos cálices das flores, ele solta o inseto e tenta apanhá-Iade novo com a boca aberta, muito estreita para essamanobra. Não obstante parece pegar insetos em vôo rá-pido com a boca aberta. Entre os insetos apanhados porbeija-flores estão borrachudos e mosquitos em quanti-dade, inclusiveCul opheles, uli e eboto us,vetares de doenças. tropicais como filariose, febre ama-rela, malária e leishmaniose, portanto uma contribui-ção sanitária notável dos beija-flores. Catam insetos emteias de aranha, em frestas e buracos de paredes ("lim-pá-casa" = o e ), ou no córtex de árvores;apanham micro-himenópteros sobre folhas e na super-fície da água e - but noi le - voando de flor emflor em cujas carolas vivem em grande número minús-culos insetos que se fartam de néctar, e pequenas ara-nhas que os perseguem - como acontece, p. ex., nasflores de orquídeas e nos tubos corolinos dasbromeliáceas. Suspeitou-se mesmo que um representan-te florestal como enetes fosse predominantementeinsetívoro. Minúsculas pelotas que os beija-flores cos-pem contêm a qui tina dos artrópodes.

Gostam de lamber cinza como o vimos eeurfnome. Acontece de beija-flores bem mansos lambe-rem o rosto de uma pessoa, atraídos pelo teor salino dosuor. Limpam freqüenternente o bico, esfregando ora um,ora ooutró lado, .

O vôo pairado ou librado, a capacidade de adejar, éo forte do beija-flor, quanto menor a espécie e quantomais curta a asa, tanto maior é a freqüência do bater damesma, o zumbido; o macho deC lliphlo alcança 80 ba-tidas por segundo, produzindo um som bem agudo; afêmea chega "apenas" a 70 vibrações, seu ruído de vôoé mais grave. A freqüência é medida pelo estroboscópio.Uma vibração muito alta possuem tambémopho s,

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438 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

e He e os de portepequeno. O macho de chega a 58 vi-brações por segundo, a fêmea a 52. ,menor espécie do gênero, tem vibração de 48 a 51 bati-das por segundo. Os zumbidos desses beija-flores sãosemelhantes ou iguais aos de insetos de tamanho e vi-bração quase idênticos, p. ex., da abelha-mamangaba

sp.). A vibração de uma abelha-do-reino é de250 por segundo, a de um mosquito, produzindo o te-mido zunir finíssimo, é de 500 por segundo. Um beija-flor de capacidade mais "comum", como

e , atinge 30 batidas por segundo.Os beija-flores brasileiros de mais baixa freqüên-

cia de asa, e de som mais grave, são e(14vibrações de asa por segundo}.Ames-

ma freqüência tem um sabiá-do-carnpo, um par-dal chega a 20 batidas por segundo, uma a 32(M. Berger). Voando em linha reta beija-flores pequenosfazem de 47 a 74km/hora. A velocidade média de um

foi medida por Gill (1985)comosendo de 11,5m/s (=40km/h). Durante perseguições enos vôos nupciais a velocidade deve atingir cifras maiselevadas. O grande escritor João Guimarães Rosa, in-comparável observador da natureza, escreveu: "Só o cin-tilante instante sem futuro nem passado: o beija-flor", edepois fala devuma constelação de colibris".

A contração da musculatura de vôo tem valoraltíssimo (100 Hertz), igual ao que se obtém do choca-lhar da cascavel. Sabem voar para a frente e para trás,para os lados, para cima epara baixo, e podem pararinstantaneamente em qualquer ponto, como um helicóp-tero. Ocorre até vôo de libração à ré, em ascensão. Vi-ram-se às vezes de costas para baixo. A mestria se reve-la na súbita mudança de um extremo ao outro: adejan-do ou em vôo lento o beija-flor passa ao vôo mais rápi-do de fuga, como se vê amiúde em . Os beija-flores não podem executar vôo planado. Sua asa é com-parável a uma pá de hélice.

Nota-se no beija-flor, quando ele adeja em frente auma flor oua um bebedouro, a tendência para elevar a

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cauda à horizontal ou mais alto ainda, o que dá um as-pecto um tanto grotesco às espécies dotadas de retrizesfinas e alongadas (machos de e ~ pa-recendo então espinhos espetados em sentido ascenden-te. e estende a cauda quase em direção docorpo ..Alguns movem a cauda a intervalos de trás paradiante, quando adejam sem sair do lugar; v. também sobcerimônias pré-nupciais (p. ex. is

A semelhança entre beija-flor e inseto atinge o pontoculminante no caso de algumas mariposas, esfingídeos(fig. 151).As espécies deAellopus, comoA. fadus, têm atéa cintabranca dê sobre o abdômen fusiforme;a longa tromba do lepidóptero imita obico da avezinha;ellopus desenvolveu outrossim uma caudinha com que

mexe, muito semelhante à cauda de um beija-flor. A di-ferença está apenas na presença ou ausência de antenas.O modo de librar-se em frente à flor é comum a ambos;a mariposa costuma ser mais tímida. Existem ainda ou-tros esfingídeos que se assemelham a beija-flores, comoos Não é pois de se admirar que existam lendasdescrevendo a metamorfose de beija-flores em mari-posa, ou, mais precisamente, que o beija-flor se de-senvolva de uma lagarta, tal qual a mariposa. Umaboa figura, mostrando o inseto ao lado do' pássaro,ambos adejando defronte às flores vizinhas, já constana obra de Bates (1863).

Os beija-flores são em geral considerados "muitomansos"; temos, porém, a impressão que eles não sãopropriamente mansos, mas destemidos por natureza.Certas espécies e indivíduos são mais tímidos.

Durante as horas da sua mai~r atividade são muitoagressivos, tanto contra indivíduos da mesma espécie,como outros beija-flores, como também contra outrasaves, até as de grande porte, como um urubu que passarpelo seu paradeiro. Tais perseguições parecem ser emparte mais brincadeira do que rigor e podem ser con-fundidas com vôos ligados ao acasalamento. Chegam

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Fig. 151. Beija-flores s sp., fêmea) e uma mariposa llopus sp.), adiante de urna inflorescência de camará( sp.)

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TROCHILlDAE 439

até mesmo ao contato físico com o beija-flor-adversárioe acontece que um agarrado no outro, caem ao solo. Es-tão entre as aves que acusam corujas no seu pouso du-rante o dia (v.sob Inimigos). O caburé pode até ser usa-do como "isca" para atrair beija-flores. Entre os maisbelicosos estão as fêmeas próximas ao ninho. Há tam-bém representantes de pouca agressividade, pelo me-nos para com outras espécies, p. ex., osopho

Impressionante é a defesa de uma garrafa com águaaçucarada por determinados indivíduos que passam aconsiderar tal fonte de alimento fácil privilégio seu. Nanatureza um beija-flor pode defender uma certa plantaflorida, da qual come.Calliphlox, devido ao aperfeiçoa-mento máximo de vôo que lhe permite ação e fuga ime-diatas, emancipa-se da hierarquia em disputa de florese garrafas.

O territorialismo dos machos, que, em aves em ge-ral, significa em primeiro plano posse de uma boa fontede alimento, deve garantir também a perspectiva maissegura de uma fêmea. No caso dos beija-flores, machose fêmeas defendem territórios separados; defendem seuterritório não apenas contra indivíduos da própria es-pécie mas também contra outras espécies de beija-flores(Cody 1968).

Banham-se nas folhas molhadas por orvalho e chu-va, até voam de encontro a um raminho com folhasúmidas arrepiando toda plumagem sob o chuveiro as-sim improvisado. Tomam banho na chuva (ocasional-mente podem ser vistos dez ou mais pousados num fio),atravessam voando o chuvisco de uma cascata ou deum regador de grama, imergem ligeiramente emcórregos de água límpida e em funis de gravatá. Há ne-

~ cessidade de tanta limpeza devido ao constante contatocom o líquido viscoso das flores. Gostam de tomar ba-nho de sol. Os pés têm um papel importante na limpe-za, embora não tenha evoluído uma unha pectinada (v.p. ex. Caprimulgidae). Beija-flores coçam-se em qualquerparte do corpo, até nas costas. Para limpar 9 bico, elespuxam-no por dentro do punho fechado - ao nosso ver- fenômeno único dentre as Aves (fig. 152). Bocejar éfreqüente.

Algumasespécies, p. ex., cochlo is eprolongam seus vôos até o crepúsculo.

Eupeto c o apanha ainda insetos quando estáquase escuro. Com luz fluorescente foram registra dosbeija-flores em plena atividade às duas horas da madru-gada (nascer do5016:12 h.Rio de Janeiro, Sick& Teixeira1981).

No espreguiçar após o descanso dos beija-flores háuma determinada coordenação, semelhante a outras aves(v. sob papagaios): a ave estica uma asa para baixo e,.simultaneamente, abre a cauda de Um mesmo lado emmeio leque, depois efetua os movimentos corresponden-tes no outro lado e, finalmente eleva ambas as asas, es-tendendo toda a cauda.

Dormem de bico para a fre~te, a cabeça um poucolevantada, posição semelhante a que assumem durante

Fig.152.Beija-florlimpando o bico,puxando-o pordentrodos pés fechados.Desenhode F.B.Pontual,baseado numa fotografiadeCoeligen ph te daColômbiaporJ. S.Dunning.

a chuva e quando cantam. Colocam freqüentemente asasas por baixo da cauda. Pousam abertamente num ga-lho fino para dormir.

o o,

Nota-se em beija-flores ativos durante horas frias queeles escondem os minúsculos pés na penugem lanosabranca das polainas e do abdômen, ato de termorregu-lação (fig. 153). \

Os beija-flores estão entre as pouquíssimas aves (alémde certos andorinhões, bacuraus e Bucconidae) que pos-suem a capacidade de hibernar. Caem num sono letárgi-

Fig.153.Posiçãode um beija-florconformeà tempera-tura do ambiente.No frio(à esquerda)os tarsosestãoescondidosna penugem lanosa do abdômen e aplumagem do corpo está arrepiada. No calor(adireita),os tarsose pés estão expostos,a plumagemestá ajustada,a ave está até ofegando (Udvardy1983).

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440 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

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co durante o frio, adaptação ecológica muito singularpara sobreviver a quedas bruscas de temperatura (fig.154). Embora não se conheça no Brasil hibernação emgrande escala como, p. ex., no Chile, onde beija-floresvivos foram encontrados em fendas de rocha por baixode neve, observou-se, aqui, hibernação durante noitesfrias, ficando as aves (p. ex. en , e e

imobilizadas por algumas horas, poden-do ser apanhadas à mão. Tudo leva a crer que todos osbeija-flores possam hibernar, fenômeno mais acentuadodurante o rigoroso inverno austral das regiões meridio-nais; tal fato era conhecido desde tempos antigos pelosíndios chilenos que o comunicaram mais tarde aos mis-sionários; no COmeço do século passado, foi registradopor J. Gould. A hibernação não ocorre quando a fêmeaestá no ninho, chocando, ou cobrindo os filhotes (v.tam-bém sob construção de ninho).

Durante o sono tórpido a temperatura do beija-florque, de dia, com o calor, é de 40° a 42° C, iguala-seà doar ambiente, caindoP: ex. a 24°C; à noite. Podemos de-duzir que a hibernação é a mágica metabólica pela qualo beija-flor faz sua provisão alimentícia. durar doentardecer à manhã - espaço de 12 horas nos trópicos.

. Quando um beija-flor está com frio, começa a tremer,prod uzindo calor.

Fig. 154.Eletrocardiogramas (ECG)de beija-flores (Bergeret i. 1979).Emcima: ECG de tem vôo, ritmo cardíaco= 1240porminuto. No meio: ECGde lu igl pis, descansando após o vôo,ritmo cardíaco= 635por minuto,temperatura do corpo 41.2°C.Embaixo: ECGde o nis ino sono letárgico: ritmo cardíaco= 42por minuto, temperatura do corpo12.0°C,temperatura do ambiente10.soC.- Para a comparaçãocolocamos abaixo umeletrocardiograma humano, jovem de25 anos, em repouso absoluto; ritmocardíaco= 60por minuto; as freqüên-cias são semelhantes mas as condi-ções fisiológicassão totalmentediversas.:

Na época do acasalamento dá-se uma série de acon-tecimentos extremamente variáveis. Numa primeira faseo macho canta e se exibe num certo local para chamar aatenção de qualquer fêmea da sua espécie. Proclama umterritório que defende contra outros machos da sua es-pécie, a não ser que haja associação de vários machos (v.abaixo). Numa segunda fase o macho executa vôosnupciais diante de uma determinada fêmea, consistin-do este, na maioria dos casos, de açõesrapidíssimas,paranós difíceis de apreciar em seus pormenores, quando, p.ex., estes pássaros, tão pequenos, sobem a alturas consi-deráveis na claridade deslumbrante de um dia de soltropical, ou dentro da densa floresta sombria, cheia deobstáculos. Os registros mais detalhados de "paradasnupciais" foram feitos por A. Ruschi, aproveitando-se,em parte, de observações em grandes viveiros nos quaisreproduziram muitas espécies. Podemos dar aqui ape-nas uma vaga idéia dos múltiplos acontecimentos.

Eupet e el o ochilus realizam vôos em zi-guezague, macho e fêmea em conjunto. Ocorrem vôosrasantes acima da fêmea pousada,p executa vôoscirculando ao redor da fêmea, subindo em vôo em espi-ral e fazendo mais acrobacias.

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TROCHILIDAE 441 III

Os efeitos da plumagem brilhante e bizarra são "cal-culados" instintivamente pelo macho para a melhor efi-cácia aos olhos da fêmea cortejada, considerando a po-sição do sol no momento, que influi decididamente so-bre a qualidade das cores (v. também sob Morfologia eevolução). Tanto mais compreensível é que os machosde e H. que após a épocade reprodução perdem as partes mais vistosas da suaplumagem, param com as exibições, faltando-lhes a dis-posição endocrinológica.

Machos de abrem o bico e exibem a boca,a língua e a mandíbula, todas essas partes de um colo-rido vivo que chama atenção. O macho de

voando ao redor da fêmea pousada, expõe e reco-lhe a língua compridíssima a curtos intervalos, desta-cando-se mais amarid íb u la amarela, espetáculocuriosíssimo. A apresentação da língua deve ter evoluí-do do ato de comer e do dardejar a língua após a refei-ção, comum em todos os beija-flores.

Há até apresentação dos minúsculos pés ,el opho nis exibe diante da fêmea a pele

nua azul berrante do seu vértice.IFreqüente é a exibição da cauda expandida, revelan-

do caracteres surpreendentesl Assim duas espécies muitosemelhantes entre si, e eu e P. e ,mostram a diferença da forma do leque do seu rabo,particular "normalmente" pouco visível.

(Nas cerimônias nupciais são utilizados também sons,tanto vozes como sons decorrentes de movimentos emvôo, como zumbidos e estalidos.ja "música instrumen-tal" (p. ex. , / e e .

e produz um balido de cabra. Pode sermuito difícil decidir se um desses fenômenos acústicosé vocalização ou música instrumental, sobretudo quan-do executados em vôo. (Finalmente o.cortejo termina coma união dos sexos num galho, o macho pairando em cimada fêmea pousada. Depois o casal se separa. Pode-seobservar amiúde uma espécie de beija-flor por muitosanos sem presenciar qualquer cerimônia mais interes-sante, até que, inesperadamente, surge essa oportuni-dade.] Assim aconteceu conosco, p. ex., em relação a

eihoAcontece também que um macho se exibe voando

diante de outro, pousado no "seu" galho onde cantaetho terminada a demonstração, o macho pou-

sado persegue o visitante e o expulsa. Um macho solitá-rio tenta, às vezes, se exibir"perante uma certa folha deplanta, o ensaio podendo culminar, até mesmo pelo atoqe copular etes). Foi visto um Eupet n

galando uma rola,Colu otí e um bico-de-lacre,Es (H. F. Berla)..

Qualquer macho, disposto a proclamar sua pre-sença, acelera seu canto, o abanar da cauda, etc., quan-do percebe a aproximação de um outro indivíduo dasua espécie, seja macho ou fêmea. A propensão domacho para galar deve contribuir na produção dehíbridos (v. acima).

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Fig.155.Vôonupcial do beija-flor-preto-e-branco,e o ochilus uscus.O casalsobeem ziguezague;os

pontos, onde macho e fêmeaparam um defronte aooutro,são distantes aproximadamente10metros;finalmenteo casaldesce em pique. Original,H. Sick.

I

Os machos de algumas espécies, p. ex., certose , reúnem-se em "clubes" para cantar. Parece

que tais congregações se desenvolvem quando a densi-dade da população local é muito alta, óbvio, p. ex., nocaso de na Amazônia e

no Sul.Cada macho tem um ou vários galhos na mata, ge-

ralmente a baixa altura, onde canta incansavelmente du-rante a maior parte do dia, por meses a fio. Foi calcula-do que um is longue ocupa seu "ponto"67% a 92% do' período útil de claridade do dia (v. tam-bém sob Vocalização). Esta situação lembra, até certoponto, aves'polígamas como cotingídeos e piprídeos.Énotável que nos tho não há dimorfismo sexualacentuado, ao contrário daquelas outras "aves de pal-co" que vivem em promiscuidade. Sobre supostas rela-ções interespecíficas v. sob Morfología (híbridos),

do ninho, tipos de ninho

A nidificação está entregue unicamente aos cuida-dos da fêmea. Excepcionalmente aparece um segundoadulto (sexo?) no ninho, fazendo uma curta visita, como

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442 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

observamos em relação a nesta espé-cie, ocasionalmente, duas fêmeas alimentam a mesmaprole. O atendimento do ninho, por um indivíduo pa-recendo macho, pode ser simulado por uma fêmea, emplumagem progressiva, a qual se assemelha à do ma-cho adulto.

Há em beija-flores brasileiros, três tipos de constru-ção de ninho, conforme foi reconhecido por A. Ruschihá tempos. O terceiro tipo, de forma serni-esférica (ge-ralmente o tipo mais conhecido pelos leigos), é confron-tado com o primeiro e segundo tipos, ambos de formatoalongado. A fixação do material, tanto no próprio ninhocomo na fixação ao suporte, é feito com teias de aranhase teias de insetos como embiídeos e psocoídeos, amal-gamadas firmemente com saliva; beija-flores possuemgrandes glândulas de saliva (compare andorinhões!). Afêmea envolve o ninho com as teias, trabalhando, emvôo ou fixando-as com os pés no suporte, mantendo Ire-qüentemente as asas em movimento; pode trabalhar como bico, agarrando-se no ninho e batendo as asas. Naamolgação dos fios dentro do ninho são usados os pés,que executam movimentos alternados. A concavidadedo ninho costuma ser um pouco mais espaçosa do queas bordas, o que dá mais segurança, impedindo que osovos caiam para fora. A forma do ninho varia conformeo substrato.A posição do ninho tem que ser exposta parafacilitar o acesso pela fêmea em vôo.

1. Os ninhos de , e sãode formato alongado, terminando num apêndice cau-dal, e são suspensos numa folha de palmeira,Helic ,etc. São confeccionados de finas raízes, fibras e até cri-na, resultando um trançado reticulado através do qual

Fig. 156.TIposde ninho de beija-flores,esquema.A,Rabo-branco-miúdo, e is ninhopendurado na ponta de uma folha de palmeira. B,Beija-flor-da-praia, [imbriata ie eninho posto solidamente sobre um galho.C,Besourinho-de-bico-vermelho,Chlo siibon

ninho pendurado sob um barranco,afixado numa haste de capim e em raízes (adaptadodeA. Ruschi 1949).

se vêem os ovos. Nas paredes externas são afixados al-guns líquens e detritos vegetais. O apêndice caudal dáequilíbrio ao ninho. A forma geral deste tipo de ninhose assemelha ao da figo 156 A, mas o material de cons-trução (transparente) é outro.

2. Os ninhos de etho s (fig. 156 A) têm formacônica alonga da, com um penduricalho mais ou menoslongo.(este servindo talvez como contrapeso); tipo deconstrução semelhante ao do grupo anterior, mas omaterial empregado é diferente, é macio; paina e detri-tos vegetais são acumulados em espessa massa de ma-terial. Os ninhos sã~ suspensosà face interior das fo-lhas de palmeiras, samambaias, musáceas,Helicon , etc.,em raízes finas pendentes sob barrancos sombreados.Com o peso do ninho dobra-se o folíolo ou a ponta dafolha, ficando o restante da mesma protegendo o ninho.Este pode ser fixado a um simples pendente elétrico nointerior de uma casa aberta, como etho nis e eigosta de fazer.

3. Os ninhos da maioria das espécies têm a forma deuma tigela sólida, um pequeno trono, feito de paina degravatá e outro material macio, como fiapos de lâminasde xaxim; a parede externa é atapetada de fragmentosde folhas, líquens, musgo, etc. colados firmemente comteias, técnica semelhante empregada por váriostiranídeos como as rnarias-já-é-dia, . A superfícieamalgamada desses ninhos de beija-flores pode lembraros ninhos de certos' andorinhões (p. ex. ) osquais, chegam a este resultado por abundante aplicaçãode saliva. o é capaz de fabricar uma massa cor-de-rosa, elástica como borracha (o ninho se estende com ocrescimento dos filhotes), usando fibras lanosas de fe-tos pteridófitos misturando-as a um líquido(provavelmente saliva, néctar regurgitado ou seiva),adicionando teias de aranha (Ruschi 1986); não atapetaa superfície externa com líquens, parecendo o ninhocomo que "nu".

3.1 - Ninho colocado abertamente sobre um ramomais ou menos horizontal ou uma forquilha, é pró-prio de: , , c ,

, , o s,(fig. 156 B), c o ,

, , g e3.2 - Ninho fixado sobre um colmo de capim, numaraiz fina, até num arame pendente, é próprio de:

s, ostilbon (fig. 156 C) e o s.3.3 - Ninho posto sobre a parte dorsal de uma folhagrossa horizontal, é próprio de: e ochilus,

estes e Helio .

O perigo mais sério' para os tipos "dois" e "três" deninho é ser molhado pela chuva. Os ninhos do tipo um,de textura rendilhada, deixam passar a água. Em anoschuvosos morrem muitos filhotes de beija-flores. Umrevestimento da superfície do ninho com líquens e ou-tro material duro dá uma certa proteção contra a chuva

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TROCHILIDAE 443

e tem ainda bom efeito camuflador. A melhor garantia éa construção do ninho sob barrancos, pontes e dentro

, de casas (v. queconstrói abertamente sobre a base de folhas de palmei-ra, tem o tempo de sua nidificação coincidindo com ode maior índice pluviométrico (Belém, Pará), mas seprotege bem por escolher o limbo de uma folha protegi-da por outras folhas superiores. Na Costa Rica os beija-flores nidificam no auge das chuvas (Skutch 1969).

A desvantagem de ser a paina do ninhoembebívelem água é compensada, em parte, pelo efeito térmico deuma parede grossa; consta que beija-flores que vivemem clima mais frio fazem paredes mais grossas do queespécies residentes em terras de clima tropical. Um ni-nho quente protege a fêmea que incuba e os filhotes con-tra o estado de hibernação (v. acima). A temperaturadentro do ninho aquecido pela fêmea costuma ser 10°Cmais alta do que a temperatura do ar nos arredores, du-rante a noite (Howell& Dawson 1954).

São sensíveis ao excesso de sol e até abandonam ni-nhos com ovos onde não há mais sombra suficiente;morrem filhotes em ninhos expostos demais ao sol. Há,porém, ninhos do tipo 3.1. (p. ex. de seuespécie serrana) inteiramente expostos ao sol e à chuva,mas protegidos contra o vento.

Uma fêmea de pode ocu-par-se 10 dias com o acabamento do ninho, antes de pôro primeiro ovo. necessita de 5 a 10 dias; aconstrução doseuninho começa pela parte inferior, abai-xo do porta-ovos, e prossegue de baixo para cima (fig.157). A fêmea de qualquer espécie continua a trazermaterial após ter começado a incubar.

Nos ninhos suspensos de ehá às vezes superposíção de dois a três ninhos, construí-dos provavelmente pela mesma fêmea que mantémseuterritório durante anos. Vimos um conjunto de ninhosde no Paraná, que tinha o aspecto deum rolo contínuo de 60cm de comprimento, compon-do-se de meia dúzia de ninhos superpostos, tomandotodo um pendente de arame numa casinha de luz; o ni-nho usado naquela ocasião (com dois filhotes) estava naponta livre embaixo do rolo. O comprimento de um talsuporte limita o número dos ninhos superpostos. Ocor-re às vezes uso repetido do mesmo ninho.

Consta que foi achado um ninho de beija-florconstruído de asas de barata e cabelos, estofado por den-tro com paina.

, dos

Põem dois ovos alongados (a forma lembra a doovode jacaré!). Nos minúsculos ninhos dos beija-flores doisovos equipolares são a melhor fôrma de aproveitamen-to de espaço tão exíguo. Excepcionalmente são encon-trados três ovos, postos, provavelmente, por duas fê-meas, como registrado sobretudo no caso de

desenvolvem-se apenas dois filhotes. Ocorrepolimorfismo em ovos postos pela mesma fêmea.O tamanho do' ovo corresponde ao tamanho de umfeijão branco.

Em relação ao corpo da mãe os ovos são grandes.Um ovo de ostilbon eo pesa O,42g, apoedeíra pesa 3g. Costumam pôr em dias alternados. Ocolorido branco dos ovos passa às vezes a vermelho pelocontato com líquens que integram o material do interiordo ninho. Essa cor pode transmitir-se também à ave quechoca (p. ex-, enganando quemdesconhece esse eenômeno, registrado já por Burmeisterem 185D, chamando a atenção que a cor do líquen,pilo oseu n,é ativada pelo calor da ave chocando.

Quando a fêmea volta para chocar, deita logo sobreos ovos, como costumam fazer também outras aves. Casonão haja ainda postura, a fêmea às vezes pousa na bor-da do ninho, até durante horas, talvez na iminência depôr. , , eies e etho pousamno ninho com o bico para cima, virado para a folha àqual o ninho é afixado (fig. 158). A fêmea de qualquerbeija-flor que choca se distrai com sua comprida língua,abrindo o bico e movendo-a, às vezes catando insetosminúsculos que pousam ao seu alcance.

O período da incubação varia conforme a espécie eas condições meteorológicas. Constam 15 dias para

e apenas 12 a 13 dias para. A eclosão pode coincidir com o desabrocha-

mento de flores ainda não existentes durante o tempodo choco, facilitando a alimentação dos filhotes. A fê-mea retira as cascas de ovo e deixa-as cair sobre a bordado ninho; as cascas e até um ovo gorado podem tam-bém ser deixados onde estão, acabando por serem amas-sados no fundo;os esforços da mãe para limpar o ninhosão mínimos.

Em evoluiu uma interessante reaçãoantipredatória para não chamar a atenção de seu ninho:quando a fêmea se afasta do ninho, deixa-se cair de asase cauda espalhadas, num vôo balançado, lembrandomuito uma folha seca qualquer caindo; antes de chegarao solo ela se firma e sai com toda velocidade. Esse com-portamento, registrado tanto na Amazônia brasileira(Cintra 1990,H. como na Colômbia (Schuchmann1990, H. poderia ser também um ction

como conhecemos de aves que nidificam no solo,fingindo-sê de feridas, atraindo toda a atenção do ini-migo para si, para salvar a prole. Tal "vôo trôpego"foi registrado já por Carvalho (1958) emno na Amazônia. O beija-flor macho não parti-cipa do choco.

Os filhotes nascem num estado pouco desenvolvi-do. São nus ou esparsamente cobertos de penugem, seubico é curto. Os olhos abrem com 10 dias de idade. sãoalimentados com uma massa pastosa que a mãe regurgitae põe em seus papos, após ter tocado a cabeça do filhotepara este abrir o bico. Filhotes meio letárgicos em ma-nhãs frias são alimentados a força. A mãe regurgita du-

f.

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444. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

rante uma visita várias porções de alimento. Para pas-sar aos filhotes o alimento diluído ela introduz o bicoprofundamente na garganta do ninhego atingindo as-sim o papo.

Pata cevar a prole, a mãe pousa na borda do ninho,mantendo as asas em vibração quando se trata de umninho suspeI).so como o de ou àsvezes a mãe ceva até librando acima do ninho. Para re-ceber a ração, os filhotes etc., por se acha-rem voltados para a parte do ninho que se prende aofolíolo (tal qual a mãe), têm que dobrar o pescoço paratrás. Essa posição facilita também defecar para fora doninho o que ocorre a cada 15 minutos aproximadamente.

Comunica A. Ruschi que, no caso de nise , nos primeiros dias artrópodes perfazem 90% e

néctar 10% da alimentação; após o décimo dia a propor-ção do néctar vai aumentando. Naquele período inicial(cerca de uma semana) a prole é aqueci da regularmentepela mãe. Quando falta alimento e aquecimento regula-res os ninhegos caem em letargia (v. Hibernação).

Os filhotes deixam o ninho com três semanas. Al-guns dias antes, agarrados firmemente no fundo do ni-nho, treinam as asas. A permanência dos jovens no ni-nho pode prolongar-se a 35 dias ouquando a alimentação é fraca. Os filhotes ficam algunsdias nas suas imediações e até voltam para ele, para per-noitar . Enquanto os ninhegos são mu-dos, os recém-saídos do ninho pedincham fortemente

, . Carvalho (1958) notou emque os filhotes com cerca de três dias

começaram a emitir um fraco"psis", Em geral a fêmeaprovoca o abrir da boca do filhote por tocar le-vemente na cabeça do mesmo ou pelo sopro das asas.

Certos indivíduos de e podem fazercinco posturas por ano, como verificamos em Rolândia,Paraná; o ninho ficou vazio apenas 8 a 10 dias. Ocorremposturas sobrepostas; uma fêmea dealimentava dois filhotes da postura anterior quando já

5

9' 116 - 8

3 - 5

1- 2

Fig.157.O ritmo da construção de um ninho debeija-flor (do México),mostrando asdiferentes fases através de um período de15 dias(seg.Wagner1952).

começava a chocar de novo (L. P. Gonzaga). Consta que..a maioria das espécies faz uma ou duas posturas ao ano,

dependendo também do indivíduo.

,

.. O Brasil não é particularmente rico em beija-floresse comparado com o Equador e a Colômbia. O centro daevolução dos. troquilídeos se situa nos Andes, precisa-mente sobre o equador onde há o maior número de bei-ja-flores (158-163}espécies) em altitudes superiores a 800metros-Em tomo do Chimborazo, Cotopaxi, etc., alcan-çam altitudes de-5.000 metros. De lá se espalharam até aTerra do Fogo e o Alasca, escasseando à medida que fo-ram avançando. Não abundam na Amazônia.

[Várias formas descritas ou assinaladas como exis-tentes no Brasil por Augusto Ruschi (1916-1986), aumen-tando artificialmente o número de espécies "brasileiras",foram recentemente reavaliadas criticamente o que re-sultou numa diminuição de espécies de beija-flores ad-mitidas para o Brasil (Hinkelmann 1988a, Vielliard 1994,Pacheco 1995).]

A evolução mais intensa ocorreu no gênero, beija-flores florestais sedentários; há no Bra-

sil 16 espécies. Alguns, como e[urcaia, formaram várias subespécies.

Certos representantes geográficos, como ospodem ser considerados aloespécies que integram umasuperespécie: são endemismos notáveis da parte orien-tal do planalto central. De es sc chegou aevoluir, na Serra do Caraça, Minas Gerais, uma raça eco-lógica (Grantsau 1967). [Vielliard (1994) contesta a vali-

.dade desta raça apresentando argumentos razoáveis.](= istes) g , residente na encosta ori-

ental dos Andes, atinge regiões em situação bioclimáticasemelhante à do planalto central brasileiro.

No caso de eies, beija-flores florestais da Ama-zônia, a evolução mais se destaca no colorido das retri-zes, expostas amiúde quando a ave expande a cauda,cará.ter saliente em seu comportamento. Evolução im-pressionante ocorreu também em relação ao o isas várias espécies deste gênero se destacam mais pelaformação e pelo colorido dos tufos laterais do pescoço,que têm papel importante na sua cerimônia nupcial e'estão assim sujeitos a forte seleção.

A exis:ên<:ia de um beija-flor tipicamente campestre,como tanto nos cerrados do Brasil cen-tral como nas savanas do Amapá e do Suriname, por-tanto largamente separados pela atual hiléia, sugere pro-vavelmente coalescência daqueles campos antes da gran-de expansão da floresta amazônica no Quaternário.Pode-se objetar, porém, que ctin se locomove coma maior facilidade e deve ser capaz de uma penetração àdistância; há analogias para isto entre beija-flores dosAndes que ocupam áreas disjuntas de caráter bioclimá-tico igual.

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TROCHILlDAE 445

Fig.158.Posiçãoocupada por no ninho(seg.Novaes& Carvalho 1957).

Outros casos notáveis de distribuição disjunta sãoe

é espécie de campos tipo carrasco, da região montanho-sa do interior da Bahia; existe também em ambiente equi-valen te ao norte do Amazonas. ocor-re na mata atlântica e reaparece no alto Amazonas.

vive no Sudeste e em certas áreas daAmazônia. Ocorreu, aparentemente, a extinção de mui-tas populações, em vastas regiões.

O Brasil oriental tornou-se outro centro de evoluçãode beija-flores: e sãogêneros restritos a essa região; distribuição semelhantepossuem e .

apresenta-se no Sudeste com três formas tí-picas: e .

, que é típica dos cumes das montanhasaltas do Sudeste (Serra do Mar, Mantiqueira) e o extre-mo Sul, é um dos poucos beija-flores brasileiros serra-nos. Equivalentes até certo ponto são os

A freqüência de beija-flores depende do local e esta-ção do ano. A época de presença mais constante de bei-ja-flores nos jardins (maior número de indivíduos e es-pécies) vai,P: ex., na região de Teresópolis, Rio de [anei-ro, de fim de fevereiro a novembro, correspondendoàépoca seca. Num sítio perto de Teresópolis, Rio de Ja-neiro, com muitas flores e numerosas garrafas, conta-mos em março 9 espécies diferentes de beija-flores den-

tro de meia hora; aumentou este número para 11 commais tempo de observação, no mesmo dia. No quintalde uma casa dentro de Petrópolis, Rio de Janeiro, obser-vamos em abril, durante menos de meia hora, 10espéci-es. Na fazenda São João, Macaé de Cim~, Rio de janeiro,foram registra das 19 espécies, mas não ao mesmo tem-po. A. Ruschi registrou, no terraço de sua casa em SantaTeresa, Espírito Santo, 28 a 32 espécies, em outubro; amais comum era e fuscus, da qual foramapanhados 150 indivíduos, num só dia. Em todos essescasos influi decididamente a atração por vidros comágua açucarada. Trata-se, portanto, de um ambiente me-lhorado artificialmente pelo homem para atrair beija-flores (vsob Preservação, garrafas), Aparecem beija-flo-res em coberturas bem plantadas de edifícios,P: ex., emCopacabana, Rio de Janeiro.

Em certos casos impressiona o número deindivídu-. os existentes numa determinada área, sob condições na-turais. Assim, em matas do estuário do Amazonas (bai-xo do Guamá), iliosus, esIe e gipennis são os não-passeriformes de densidade populacional e freqüênciamais altas, conforme foi revelado pela captura em redesdurante levantamentos feitos por F.C. Novaes. O fato ésurpreendente pois quase não se vêem estes beija-floresrigorosamente florestais (que no entanto, se traem pelavoz). Na mesma região, beija-flores da mata se desta-cam pelonúmero de espécies: 7 espécies na capoeira eem matas de várzea, e 5 espécies na mata de terra firme.Nos mesmos locais só os Tyrannidae (9 espécies na ca-poeira) e Formicariidae (10 espécies, na capoeira e navárzea, 13 na terra firme) superam os Trochilidae emnúmero de espécies, Na Mata Atlântica (Rio de Janeiro)há freqüentemente três espécies de ,P e P no mesmo local. Na Serra doNavio (Amapá) são assinaladas até quatro espécies de

, , c e e .

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Beija-flores têm boa faculdade de se orientar, capaci-dade que os ajuda a achar flores melíferas das quais sãodependentes. Experiências realizadas entre 1940 e 1944por A. Ruschi mostraram que um o e anilhadofoi recapturado após 30 minutos 2km distante do localda primeira captura. Um anilhado des-locou-se espontaneamente 30km num só dia, com dife-rença de altitude de 455m, de um genipapeiro a umeucalipto, ficando assim provado o que se imaginava,isto é, que a área de alimentação pode ser bem extensa.Em experiências,feitas com beija-flores anilha dos soltoslonge do local da primeira captura, verificou-se que acapacidade de regressar não ultrapassava 15km em

, e is Con-tudo, evoltaram de uma distância de 85km, voando da costa

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446 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

em Vitória, Espírito Santo, nível do mar, a Santa Teresa,700m, trajeto vencido pelo em duas horas emeia. Tais resultados vêm confirmar um fato observadoem muitas aves, incluindo pombos-correio, e demons-trar que ele se dá também com os beija-flores: indivídu-os adultos transplantados tentam retornarà terra natal.Espécies como e

são aparentemente sedentárias.Ao contrário desses retornos existe docu-

mentação sobre deslocamentos espontâneos de beija-flo-res. Há, no sudeste do Brasil, migrações altitudinais nasserras da Mantiqueira e do Mar, durante o inverno. Aspopulações de eque vivem na primavera e no verão em altitudes de 700a 1.400m, baixam no outono. Também queno verão ocupa as partes mais elevadas daquelas serrase o planalto riograndense, baixa no inverno, pelo me-nos em parte. Nos Andes há numerosas espécies montí-colas de beija-flores; nem todas emigram no inverno.

Ocorrem migrações relacionadas com as estações doano, tomando o rumo de sul a norte e vice-versa. Constaque foram capturados em Santa Teresa, Espírito Santo, eno sul da Bahia exemplares de anilha dosno Paraná. Isto ajuda a elucidar registros feitos na re-gião de Rolândia, Paraná, de que ali se apre-senta na primavera (chega em outubro) e some em abril.

ao contrário, aparece 'erri Rolândia nooutono (março/abril), sumindo em setembro, podendoser chamado por isso um "beija-flor de inverno". EmSapucaia do Sul, Rio Grande do Sul, em julho, portantono inverno, chamou a atenção a aglomeração de maisde 50 atraídos pelas flores róseas de

(Sterculiaceae, W. Voss). Em Macaé deCima, Rio de Janeiro (1000 m) some noinverno e volta em outubro, embora em certos invernosreapareça (E. Garlipp). A volta, após meses de ausência,pode ocorrer em períodos bem determinados, no mes-

- mo dia ou quase, p. ex., 14 ou 15 de outubro de 1973 e1976, respectivamente, em (M.Maier, Rolândia). Em São Paulo a fenologia dos beija-flores mostra uma migração maciça durante a floraçãodos eucaliptos em março e abril, seguida por uma erni-gr'ação geral no inverno; v. também sob Alimentação(Vielliard & Silva 1986).

Migrações em escala maior ainda foram registra dasfora do Brasil. Assim beija-flores exploraram, p. ex., asIlhas [uan Fernandez, Chile, travessia oceânica que exi-ge um vôonon-siop de 667 quilômetros.

Os beija-flores têm um papel importante na polini-zação de muitas plantas, especialmente dos gravatás(bromelíáceas): um dos vegetaismais típicos deste con-tinente e cuja evolução talvez se tenha processado para-lelamente à dos beija-flores. Fala-se até de plantas tro-quilógamas, numerosas na flora brasileira, constituin-

do numa das contribuições neotropicais mais importan-tes à "ornitofilia" de plantas (existente ao lado da ento-mofilia e melitofilia, adaptaçãoàvisita de insetos). Stiles(1985), trabalhando na Costa Rica,calcula-que aornitofilia nos neotrópicos úmidos não é freqüente, atin-gindo não mais de 3% a 4% do total da flora e 7% a 10%da flora de um certo hábitat. Bromélias polinizadas porbeija-flores são,P: ex., , ,

eFoi recentemente comprovado, que beija-flores são

sensíveis a ondas curtas que pertencemà área do ultra-violeta (ondas abaixo de 400 nanômetros, Bowmaker1988).)sto é mais uma adaptação notável dos beija-flo-res a certas flores que atraem, seus polinizadores refle-tindo a luz ultravioleta solar, não vjsível para nós; nãosabemos que cor os beija-flt5n~~;~êem.

Baseando-se na de Martius, O.Porsch (1924, 1929) apontou muitas plantas provavel-mente polinizadas por beija-flores. João S.Decker (1934),trabalhando no sul do Brasil, deu 'os nomes de 58 famíli-as de plantas (mais de 200 espécies) nas quais ele regis-trou polinização por beija-flores.

Um dos exemplos de uma adaptação especialà poli-nização por beija-flores parece ser a labiadaestudada pela D. Adda Abendroth, Teresópolis, Rio deJaneiro. É planta herbácea de flores azuis, nativa doMéxico, freqüentem..ente cultivada nas cidades da Serrado Mar, Rio de Janeiro. Os beija-flores, sobretudo

gostam muito das suas flores, Aflor parece ter um mecanismo construído especialmen-te para aproveitar a visita dos beija-flores. O tal meca-nismo está localizado nos filetes das anteras. Os filetes,os dois longos, têm cada um duas seções, As seções sãoarticuladas uma com a outra; um pouco abaixo da me-tade. A seção superior é a mais longa, em uma extremi-dade tem as anteras, a outra se projeta levemente arcadapara dentro do tubo corolino. A articulação com a seçãoinferior fica um pouco aquém da extremidade; permiteo movimento da parte superior dentro do tubo, inclusi-ve das anteras. Estas alcançam um pouco fora da bocado tubo e encostam nas pétalas superiores!C5 beija-florchega, mete o bico no tubo da flor; seu bico ergue auto-maticamente um pouco as extremidades livres dos file-tes, o que faz as anteras abaixarem, depositando assimo pólen sobre o vértice do visitante:

Coevolução de planta e beija-flor {evi-dente nas bananeiras-do-mato, várias espéci-es, com grandes brácteas naviculares que imitam per-feitamente a forma do bico deP: ex. um

. Mais detalhes a respeito colheu F.G. Stiles.(1979).Surge ainda o problema de garantir uma polinizaçãocruzada. As várias espécies de depositam opólen em determinados lugares do bico do beija-flor paraevitar uma polinização interespecífica (fig. 159). Snow

"& Teixeira (198~) acham provável que tenha havido naMata Atlântica do sudeste brasileiro uma coevolução de

e ambos

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TROCHILlDAE 447

Fig.159.O mecanismode floresdeHe paragarantir a polinizaçãocruzada. (AeB) H. eH. t polinizadaspor não-Phaethornitinae.(CeD) H. b o e H.i , polinizadaspor

e is.Obeija-florintroduz obicoexatamenteaté o ponto em que a língua chegaà câmarade néctar(seg.Stiles1979).

endêmicos dessa região.É interessante que Melin (1935), após pesquisas me-

ticulosas, chegouà conclusão de que nunca foi provadamesmo a existência de uma flor realmente adaptada (emcor, morfologia etc.) a visitas por aves. As visitas dasflores por aves, como beija-flores, não seriam um fenô-meno de adaptação, mas sim uma simples utílização dasplantas pelas aves.

A "adaptação" das flores deHibiscus (Malvaceae) àvisita de beija-flores levou Gottsberger (1972)à conclu-são de que o famosoHibiscus o -sinensis não seria ori-ginária da Ásia mas sim do Novo Mundo. Essa idéia écontestada por antiquíssima documentação bibliográfi-ca: referências informam queHibiscus nensis erajá pelo ano 304 um dos arbustos ornamentais mais culti-vados na China, mencionando até um nome da plantaem sânscrito que aponta uma história de milhares deanos. Portanto uma coevolução deHibiscus e beija-flo-res não houve - uma perfeita confirmação da tese deMelin. Consta que aves nectarívoras do Velho Mundo,como os Nectariniidae, ocorrendo também na China, têmdificuldade de explorar as flores deHibiscus -sinensiselas pousam na própria flor (não têm a perfeição do vôolibrado do beija-flor) para alcançar o néctar e a poliniza-ção nesse caso não funciona bem.'

Importante para a planta é a polinização realizadapor vários meios. Nota-se, p. ex. que um beija-flor, visi-tando um certo exemplar de planta, procura primeiroas flores localizadas embaixo que são as mais velhas e

D

cujos estigmas são bem salientes, enquanto as anteras jáse desprenderam do filete. Só depois o beija-flor se diri-ge às flores situadas em cima, as quais se abriram recen-temente, oferecendo o pólen que se fixa no bico, e~c.,e étransportado para outra planta. O pólen adere tambémno vértice e sobre a nuca, o peito, a barriga, as axilas e acauda .do beija-flor. A cabeça do beija-flor é larga, facili-tando o contato com as anteras e estigmas das flores vi-sifadas. O bico e a fronte mostram às vezes espessa crostade pólen de cor branco-creme ou marrom. Na região deTeresópolis, Rio de Janeiro, periodicamente,Coli is os s desperta a atenção por estar colado compolínios da orquídea gu i (A. Abendroth); ocorreum desabrochamento explosivo do aparelho poliniza-dor, provocado pelo beija-flor.

Entre as flores polinizadas por beija-flores(Gl ucis eetho , estão as de p orquídeà de fortíssimo

odor de putrefação com o qual atraem insetos. Mau chei-ro das flores caracteriza, geralmente, quiropterofilia (po-linização por morcegos), enquanto odor agradável étípico da entomofilia (polinização por insetos). Ou-tras orquídeas, polinizadas por beija-flores são, p. ex.,

i e , Oncidiu e .Algumas plantas, como a flor-de-papagaio,Eupho

pulche , são procuradas por beija-floresapenas em certos lugares, em outros nunca. Nas floresde quaresmas etc., Melastomataceae, vegetaistão importantes para aves pelas suas frutinhas) ou'espé-cies de s (Leguminosae, procuradíssimas por abe-lhas), não se encontram beija-flores, uma vez que essasplantas não fornecem néctar, apenas pólen.

Já nos referimos às ocasionais atividades noturnasde beija-flores ligadas à alimentação (v.sob Hábitos). Ob-servamos o s sugando numa flor, em ou-tubro, às 20 h,já noite escura (pôr-do-sol 17.57 h), à luzda casa iluminada da Sra. Flávia S. Lobo, na Ilha doGovernador, Rio de Janeiro. Comunica o botânico J. S.Decker (1936) que su ueolens (Solanaceae), cujasflores abrem de preferência durante à noite e são adap-tadas à polinização por grandes mariposas, recebem tam-bém visitas por parte de beija-flores "entre 8 e 10 horasda noite". O mesmo registrou Decker (1934) emcactáceas, p. ex., numa espécie deEpiph llu compro-vou que certosCe eus, que desabrocham à noite, sãopolinizados por beija-flores, aparentemente eth nissp., de madrugada antes que as flores se fechem parasempre. No Brasil Central e na Amazônia hão se encon-tram beija-flores em lugares bem ensolarados no augedo calor; eles são ativos de manhã e à tarde.

Comunicou Fritz Müller (Mõller 1915-21)não conhe- .cer flores polinizadas exclusivamente por beija-flores,mas que, durante o inverno severo de Santa Catarina,quando quase não voam abelhas e borboletas, certosvegetais, como utilon e chs , são visitados quaseunicamente por beija-flores. Parece que até hoje não seconhecem flores unicamente polinizadas por aves senãotalvez a bromeliácea i lepto no cerrado

,I.

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448 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

(Silberbauer-Gottsberger& Gottsberger 1988).A polinização de sect. foi estudada

por Berry (1989) que considera as suas flores especial-mente adaptadas à visita de beija-flores: vermelhas, semcheiro, penduradas e com forma tubular. São citados

e

Enquanto se acreditava por muito tempo que os bei-ja-flores não se orientavam pelo odor, foi revelado re-centemente (Goldsmith& Goldsmith 1982)que os lobosolfatórios dos beija-flores não são pequenos em relaçãoaos hemisférios (índice de 14%; v. sob Procellariidae).Flores ornitófilas não tem cheiro e são geralmente mai-ores que flores entomófilas. Considerando que floresornitófilas são geralmente vermelhas, torna-se interes-sante que as neotropicais, polinizadas por bei-ja-flores, têm brácteas vermelhas ao contrário das

do Pacífico cujas flores são brancas e sãoentomófilas. Existem flores vermelhas que parecem serornitófilas mas elas não oferecem aéesso nem à visita deaves nem à de insetos: são flores "autógamas" (p. ex.espécies de Malvaceae).

Os beija-flores livram-se da tarefa da polinizaçãoquando usam buracos laterais na corola ou quando elesmesmos furam as flores para sugar o néctar (aquisiçãoilegítima do néctar, v. sob Alimentação).

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A associação entre e uma pequenavespa solitária sp., Sphecidae) foi registrada emBelém, Pará. A base volumosa de 8 (de um total de 13)ninhos daquele beija-flor florestal continha 1 a 13 célu-las dessa vespa criando sua larva com aranhas. O

capturava às vezes uma das vespas para co-mer (Oniki 1970).Mais tarde foram encontradas as célu-las de também num ninho do tiranídeo

na mesma região.

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As moscas-berne parasitam severamente os filhotesde beija-flores. De um ninho de (doqual saíram dois filhotes), posto num vidro fechado,eclodiram 64 imagos da mosca-berneSomados às larvas que tiramos dos filhotes, havia umtotal de aproximadamente 80 bernes neste ninho queparasitaram os dois filhotes.

De um ninho de isolamos17 imagos de bernes cujas larvas (encrisaladas no fundodo ninho) se desenvolveram nos dois filhotes dos quaisum morreu com 5 dias de idade. Filhotes pequenos debeija-flores, sugados por muitas larvas de berne, mor-rem.

Consta que os marimbondos não 'apenas competemcom os beija-flores durante a visita às flores, mas po-dem dar-lhes ferroadas mortais. Relata Ruschi (1950)que

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um marimbondo-caçador, sp., tendo sob asua vigília um molho florido de erva-de-passarinho,

atacou no momento em que umchegou a uma das flores sob sua guar-

da; ocorreu então várias vezes a fuga do beija-flor, quefinalmente foi atingido por uma ferroada do marimbon-do e veio ferido ao solo. Apesar de socorrido pelo ob-servador, acabou morrendo. Consta que 0,6 mg de pe-çonha de abelha são mortais para uma ave de 100g; umaferroada de abelha inocula 0,2 mg de peçonha. Na CostaRica, Gil! et .(1982) notaram que abelhas do gênero

(semferrão); voando constantemente em tornodas' flores vermelhas de uma impedem

ciliosus de se aproximar em um terçodos casos.

Soubemos de casos de que formigas-de-correição in-vadiram um ninho de beija-flor, mataram os filhotes; osEciton não são capazes de dilacerar uma ave. .

Pensávamos que os grandes mantídeos ("louva-a-Deus", há espécies que atingem 10cm) que vimos esprei-tar nas flores (de dia) ou, de cabeça para baixo, agarra-dos no fio suspendendo a garrafa (no crepúsculo) difi-cilmente teriam sucesso na captura de beija-flores. Acha-mos, porém registro de três casos ocorridos nos EUAcom a única espécie local (Butler1949,Hildebrand 1949, Murray 1958).Tentativas de sal-var o beija-flor, firmemente segurado pelo inseto, tevesucesso em dois casos. Foi difícil separar os combaten-tes, provando que o louva-a-Deus é bem capaz de matarum beija-flor.

Há casos de troquilídeos (p. isficarem casualmente presos em teias de aranha

(v. também sob andorinhas). Não pode ser afastada apossibilidade de que então os acidentados não sejam

. aproveitados pela aranha residente.Aconjetura freqüen-te de que as caranguejeiras caçam ativamente beija-flo-res, teria apoio de Sybilla Merian que na sua clássicaobra (séc. XVIII)mostra uma caranguejeira chupando um beija-flor.Estedesenho, porém, não convence, pois, o beija-flor é ima-ginário e seu ninho, figurado ao lado, contém 4 ovos (oque nunca ocorre), revelando uma compilação poucofeliz (Haverschmidt 1970).É muito provável que ascaranguejeiras alcancem, às vezes, ninhos de beija-flo~res. A. Ruschi comunica ter observado como uma ca-ranguejeira capturou uma fêmea de queestava buscando rente ao solo material para a constru-ção do n.inho. A aranha carregou o beija-flor para pertode um tronco, onde dilacerou a vítima pela parte dorsale se aproveitou das vísceras. A foto da p. 26 no..yol. IV,Aves do Brasil de Ruschi (1986) não é fidedigna: W.Bokermann nos comunicou que estão envolvidas umacaranguejeira noturna e uma cobra diurna, ambas típi-cas do solo; um malabarismo da aranha num galho sópode ser forçado. W. Bokermann afirma quecaranguejeiras preferem animais de sangue frio. Em ca-tiveiro uma caranguejeira o sp.), comprimen-

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TROCHILIDAE 449

to do corpo com 5 a 6cm (sem as pernas) mata com seuveneno um camundongo ainda pelado; o aracnídeo cor-tando e sugando aproveita a vítimatão bem que, final-mente, não restam vestígios (Bücherl1951). Cobras e la-gartixas (p. ex. comem os ovos dos beija-floresquando os encontram. Caburés e pequenos gaviões li-geiros como bentevis

gatos e cobras (p. ex. apanhamocasionalmente beija-flores. Os caburés,Glaucidium,corujinhas de hábito crespuscular e até diurno, estãoentre os inimigos naturais dos beija-flores, que são osprimeiros a descobri-Ias, às vezes uma meia dúzia oumais se concentram para denunciar a posição da coruja.Os beija-flores então realizam investidas simuladas nasquais a "face occipital" (v. sob do caburéconfundindo os beija-flores permite eventualmente queeste capture algum incauto.

Foi observado uma garça-branca-grande,apanhar um beija-flor que se aproximou demais

da cabeça da garça; após um curto apalpar da vítima nomeio do seu grande bico, a garça engoliu-o. Martins-pescadores podem se tornar um perigo, mas, geralmen-te os beija-flores escapam deste risco devido ao seu vôorapidíssimo (M. A. Andrade). Eles têm medo de libélu-las (Odonata) mas expulsam borboletas.

Um foi retirado do estômago deuma cuíca eletrocutada (R. B.Pineschi); o beija-flor foi provavelmente apanhado dor-mindo à noite.

Parece que ainda não existiam informações que bei-ja-flores podiam ser vítimas de morcegos carnívoros. Afácil localização dos locais onde os beija-flores dormemfacilita muito uma tal predação. Em 1990, P. Martuscelli,ilha do Cardoso, São Paulo, constatou a predação dequatro espécies de beija-flores:

fuscus, ecapturados pelo morcego bidens, de

vasta distribuição, conhecido como insetívoro. O mor-cego começa a comer a ave pela cabeça, cortando as asase cauda, foram listadas 18 espécies de aves em geral cap-turadas pelos morcegos. [Recentemente este estudo foidivulgado com detalhes por Martuscelli (1995).]

Um 'problema diferente são as grandes flores ver-melhas da tulipeira-do-Cabão,árvore africana ornamental, plantada em grande escalano BrasiL Suas flores tornam-se venenosas. Contaramem Angola até 200 abelhas-meliponídeas (e outros in-setos pequenos) mortas por essa inflorescência; o mes-mo ocorre no Brasil. Não há registros sobre beija-flores;seria fácil fazer testes num viveiro. Paulo NogueiraNeto (1970) cita a tulipa como uma das "plantas in-desejáveis".

Os beija-flores, às vezes, voam de encontroa pare-des brancas e vidraças e com freqüência, nestes aciden-tes, escapam à morte, ao contrário de outras aves, comopombas, mostrando portanto resistência notável (pelegrossa, etc., v. sob Morfologia).

. A longevidade dos beija-flores, na natureza, regis-trada por A. Ruschi, vai de 5 a 8 anos; em cativeiro al-guns chegaram ao dobro. l'

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I

IIOs beija-flores eram, como outras aves multicolores

egarças, procuradíssimos no séculoXIX para abastecera indústria de modas, ligada aos mercados europeus enorte-americanos. Em 1847, S.A. Bille, comandante dacorveta dinamarquesa "Galathea", na sua viagem depesquisas ao redbr do mundo, teve sua atenção desper-tada para a loja de Mme. Finot, modista francesa, que seespecializara em confeccionar adornos para vestidos echapéus de peles de beija-flor; Bille chegou a formularum dos primeiros protestos contra a destruição da faunabrasileira: os beija-flores "morrem aos milhares, para quesuas penas brilhantes adornem as nossas damas elegan-tes", Ao mesmo tempo E. J. Silva Maia (1851), do MuseuNacional do Rio de Janeiro, chamou a atenção para ofato de terem os beija-flores nesta área minguado nonúmero de indivíduos, sendo que alguns desaparece-ram por completo.

No Brasil, o comércio com beija-flores era centrali-zado no Recôncavo, Bahia, com a preparação típica decauda expandida em leque. O mais apreciado era o "bei-ja-flor-cabeça-de-Iogo", . Um co-lecionador chegou a fornecer diariamente 40 beija-flo-res, de qualidades diversas. Num leilão em Londres fo-ram vendidas 37.603 peles de beija-flores procedentesdo Brasil e de outras partes da América do Sul e Trinidad.Em um único manto de senhora foram utilizados em1905 oito mil beija-flores. No começo do século passadoum único comerciante em Londres importou das Anti-lhas, em um só ano, mais de 400,000 peles de beija-flo-res. A região da Colômbia forneceu as espécies mais co-biçadas.

Naquele tempo os recursos naturais desse gênero pa-reciam inesgotáveis. Até a data da proibição do comér-cio de animais silvestres no Brasil, em 1967, os beija-flo-res eram a principal matéria para a confecção de floresartificiais feitas com penas,prática que, infelizmente, devez em quando costuma voltar à moda. Ainda na déca-da de 1930 no mercado de Salvador, Bahia, eram vendi-dos centenas de couros de beija-flores, sobretudo de

a. Becker), As grandes perdascausadas aos beija-flores já em tempos antigos parautilizá-los como enfeites, .correspondem às mortanda-des modernas provocadas pelo uso i.Jimitado de inseti-cidas, P: ex., em plantações de abacaxi, muito procura-das por beija-flores; morrem às centenas e milhares.

Por incrível que pareça, existe ainda em nossos dias,entre moradores da região de Caxias do Sul, Rio Gran-de do Sul, o costume de utilizar beija-flores num pratoconhecido por "passarinho com polenta". E, em qual-quer parte deste país, crianças que, por não terem quem

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450 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

as eduque no que diz respeito à natureza, ficam deatiradeira em punho derrubando beija-flores que adejamao redor de flores ou de garrafas com água açucarada.

A avidez de criar raridades ou até novidades, levoucomerciantes inescrupulosos a lançar artefatos: utiliza-ram as peles de duas espécies para compor um pássarofantástico, falsificações praticadas também com borbo-letas.

A raridade de certas espécies em coleções derivou-se às vezes do fato de serem tais beija-flores proceden-tes de regiões pouco conhecidas, como é o caso de

. O colecionamento de algumas des-sas espécies às dezenas ou centenas de exemplares porpesquisadores ou colecionadores irresponsáveis (comoocorreu nos últimos anos), torna-se o maior perigo à suasobrevivência, após sua redescoberta nessas áreas.

Logo após a abertura dos portos do Brasil, os beija-flores despertaram o maior interesse dos naturalistas,sendo P. A. Delalande, vindo a este país em 1816 juntocom A. Saint-Hilaire, um dos primeiros grandes coleci-onadores científicos de troquilídeos. Em 1843 E.J. SilvaMaia, do Museu Nacional do Rio de Janeiro, descreveuuma espécie amazônica de beija-flor the ,e, em 1851, publicou suas observações sobre "usos e cos-tumes de alguns beija-flores". De 1849 a 1861 veio à luza famosa monografia dos beija-flores deJ. Gould. Em1900, E. Hartert publicou sua obra "Trochilídae" e em1921 E. Simon a des . Simonfoi um especialista famoso em aracnídeos (aranhas). Nosúltimos decênios destacaram-se as pesquisas de ], Berlioze, desde 1933, os trabalhos de A. Ruschisem base científica sólida, a quem devemos a maioriadas informações sobre beija-flores. Tornaram-se os bei-ja-flores uma das famílias de aves mais populares e me-lhor estudadas do Brasil.

e

As espécies de distribuição muito restrita correm orisco da extinção pela destruição da paisagem natural,sobretudo as que vivem na mata. Isso refere-se em pri-meiro plano a i, espécie do norte do Espí-rito Santo e sul da Bahia, região onde o desmatamento

..a.~sl).miuas proporções mais alarmantes, tendo provo-cado já o desaparecimento de aves de várias famílias. Namesma situação estão outros beija-flores florestais." A conservação de beija-flores menos especializa dosé facilitada pela possibilidade de substituir seu alimen-to original pelo plantio sistemático de vegetais com flo-res nectaríferas. Até plantas exóticas como eucaliptos eespécies de cítricos dão os melhores resultados. Nos jar-dins, dá-se preferência para atrair beija-flores, àsmalváceas que florescem durante o ano todo, como

, de grandes flores encarnadas. Modo muitoeficiente é o uso de garrafas com'Iíquído açucarado combocal pintado de vermelho, como praticado há tempos

em grande escala em Santa Teresa, Espírito Santo, porA. Ruschi.

São recomendados 15 a 25% de açúcar de cana, ousejam 4 a 6 partes de água para uma parte de açúcar, oudois terços de água e um terço de açúcar. Concentraçãomais alta, falta de limpeza das garrafas e adicionamentode mel provocam, no nosso clima, fermentação do lí-quído e dão uma micose na língua, podendo causar amorte do pássaro. Aconselha-se pendurar as garrafas emarame envolvido de algodão embebido em óleo lubrifi-cante, o que veda o acesso às formigas. Abelhas e ves-pas podem ser afastadas aplicando-se um repelente queas afungenta pelo cheiro, não incomodando os beija-flo-res, que são seres microsmáticos, de olfato pouco de-senvolvido. Quando se passa nas garrafas qualquer subs-tância venenosa deve-se prestar a máxima atenção paraque a mesma não atinja o canudo pelo qual as aves in-troduzem o bico. A colocação de pratos com um líquidodoce envenenado para matar os insetos, constitui peri-go para os próprios beija-flores e outros pássaros comocambacicas.

Durante a noite a água açucarada é procurada pormorcegos nectarívoros que podem tirar o líquido em vôolibrado de modo semelhante aos beija-flores. Os frascosdevem ser colocados sempre "no mesmo lugar, sendorecomendável pendurar vários, para evitar, pelo menosaté certo ponto, as brigas entre os beija-flores.

Tendo-se o cuidado de manter as garrafas cheias poralgum tempo, aos poucos mais indivíduos tornam-sepermanentes no local e começam também a nidificar nosarredores, resultando em efetivo povoamento ou repo-voamento. Na já citada fazenda de Macaé de Cima, le-vou até três meses para aparecer o primeiro beija-flornas garrafas - alguns anos depois fervilhava dessasavezinhas ao redor das casas. Ali são penduradas 22garrafas de 150 a 600 mililitros. De 2 a 10 de julho (in-verno) foram gastos diariamente 3 quilogramas de açú-car, em 15 litros de água. As garrafas foram procuradaspor 2 a 4, até 5 beija-flores ao mesmo tempo, competin-do (10 espécies diferentes). Sem marcação individual nãohouve controle seguro do número de beija-flores exis-tentes. Calculou-se cem ou mais indivíduos presentes,simultaneamente, no local (Elisabeth Carlípp, v. tambémsob Freqüência) .

Os beija-flores podem até passar por viciados: quan-do se retira os frascos para limpá-Ias, os fregueses maisassíduos tornam-se muito inquietos, procurandoo co-biçado alimento. Certos indivíduos ou espécies não vêmbeber nas garrafas, havendo mesmo os que nunca vêm.É portanto quase certo que há num determinado localmais beija-flores. do que aqueles registrados junto aosfrascos. Quando as garrafas não são mais colocadas, osbeija-flores somem.

A. Ruschi fez grandes esforços para "repovoar" mui-tos lugares do Brasil com beija-flores. Em maio de 1956,p. ex., soltou 450 exemplares no Jardim Botânico do Rio.Ele mandou lotes de beija-flores a muitas outras cida-

------~

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TROCHILlDAE 451

des após mandar fazer viveiros, incentivando a criaçãodessas aves em cativeiro. Foram fornecidos cerca de20.000 beija-flores para exposições nacionais e interna-cionais (Ruschi 1982a). Não foi pesquisado devidamen-te se os beija-flores transferidos se fixaram no novo lu-gar. Achamos quase certo que esses beija-flores não sefixaram e se perderam.

Uma subdivisão da família de troquilídeos não épos-

sível (Hartert 1900), senão o seguinte agrupamento:Phaethornithinae , e

e Trochilinae (os gêneros restantes).A possibilidade de se observarem os beija-flores de

muito perto - diante de flores e bebedouros artificiaisdá a oportunidade de distinguir pormenores que nor-malmente se vêem apenas quando se segura a ave namão - e até melhor, pois certos distintivos, p.ex., noslados da cabeça. e do pescoço, no abdômen e por baixodas asas, se perdem freqüentemente em exemplaresempalhados. Esvoaçamsem medo aos nossos olhos e sedetêm para beber com aquela imobilidade feita de milmovimentos. Com luz defici_enteou vistas .~-º-céu,as cores mais vivasnemSempre se destacam, assim, overde, azul e verme1hõpodem parecer negros; nem zo-nas espetacularmente Tt5loridas,como-a-placaguíãrCIe-

-e- e te , em tais condições.Acontece-da-impregnação com pólen simular desenhosclaros, sobretudo na cabeça.O colorido da mandíbula,tão importante para discernir certas espécies, p.ex., de

perde-se por completo após a morte, o mes-mo valendo para os pés.É às vezes conveniente ter umcaráter diagnóstico para o ângulo frontal e outro para oângulo dorsal do beija-flor em vôo (v.e P.

A identificação dos componentes de alguns gêneros,sobretudo , e exige lite-ratura mais especializada ou ilustração mais completa.Há algumas espécies crípticas, ocorrendo no mesmo lo-cal, como . Nem quando se dispõe de bommaterial de comparação é fácil a separação de certas es-pécies. Em alguns casos nem há plena concordância'quanto ao de certos representantes, se devem serconsideradas boas espécies ou simples raças geográfi-cas. [urcata foi dividida em oito subespéciesem território brasileiro. A determinação das fêmeas éfreqüentemente facilitada pelo aparecimento dos respec-tivos machos, no mesmo local.

1.

1.1 - Muito pequeno: (Pr. 20),e (fig.169), todos os três com uma cintabranca, esbranquiçada ou canela clara sobre odorso inferior (v. item 7); (Pr. 20, fê-mea de lados do corpo castanhos):

e P. (tipo "eremita", v. item 5.4.1).Todos chamam a atenção pelo zunidoalto dovôo.

Li - As espécies maiores: (Pr. 20, apenasAmazônia) e (apenas Sudes-te). Tem também comprimento grande

(Pr. 20). I, Ii'

2.

2.1 - Bico longo curvado para baixo: ,(Pr. 20) e menos curvo nos

2.2 - Bico surpreendentemente longo e reto:-. (Pr. 21). também de bico

longo e reto, a ponta é um pouco arrebitada.2.3 - Bico curto, na ponta virado fortemente para

cima: (fig. 167).2.4 - O colorido do bico, frequentemente serve à

diagnose, às vezes apenas a cor da base da man-díbula, que é melhor visível debaixo ou quan-do a ave abre o bico, bocejando ou durante acerimônia nupcial (p. ex. . Nos in-divíduos ernpalhados o bico descora, como emoutras aves; pode então apareceresbranquíça-do enquanto é, em vida, p.ex., plúmbeo, ver-melho ou amarelo.

3.

3.1 - Cauda bifurcada em grau variado, p. ex.:(Pr.20), (Pr.20),

(fig. 168; item 10.2.2), , (Pr.21)e ( Pr. 20).

3.2 - Cauda com as retrizes centrais prolongadas:(pr. 20) e (Pr.20)com

as subcentrais prolongadas; (Pr. 20)de cauda fortemente graduada.

3.3 - Cauda com "bandeirinhas": (fig.169).

3.4 - Cauda de cor castanha (luz transparente):(Pr. 21), (Pr.

20), , (Pr. 20),(Pr. 20) e

também de cauda castanha emluz transparente, violeta-purpúrea com luzincidente (Pr. 21).

3.~ - Cauda cor de bronze dourada brilhante:

3.6 - Lados da cauda esbranquiçados ou brancos:, , ochilus,

e

I

I 'j ;,

4.

4.1- Topete: (pr. 21), (em par-te, Pr. 20) e .

4.2 - "Cabeça de cebola" (plumagem da fronteavança além das narinas): (Pr, 21).

..

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452. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

5. ge (espécies principais)

5.1- Verde ou verde e azul, p. ex.: (Pr.20), , (Pr. 21),(Pr. 20), (Pr. 21), e

.5.2 - Verde, lado inferior com branco mais ou me-

nos extenso, p. ex.: (item(Pr. 21), (Pr. 21), e .

5.3 - Lado superior verde, lado inferior cinzento:, e fême-

as de várias espécies como: ,(Pr. 21), (Pr. 21) e

(Pr. 20).5.4 - Verde restrito ao lado superior, lado inferior

pardo:5.4.1- Cauda longa, freqüentemente de ponta

branca: ("eremita"37, v. item 3.2;Pr. 20). de cauda "nor-mal" (v. item 1.1).

5.4.2 - Cauda não prolongada:(item 1.2), (item 2.1), (pei-to esverdeado, item 2.1), fêmea de

(pr. 20). Desenho pardo que cha-ma a atenção, ocorre também em imatu-ros de g ,

e5.5 - Cor de fuligem, placa auricular azul:

.5.6 - Extensamente vermelho-escuro:

(item 4.2 e Pr. 21) e (item 1.2 e 3.2 e Pr. 20).

6. do olho

II

. IIII

Diversas espécies têm uma manchinha brancabem nítida atrás do olho, p. ex.,

(pr. 21), , (pr.21), (Pr. 20), e

(Pr. 20). Essa mancha, situada no pontode maior largura da cabeça, visível até de trás echamando a atenção também em luz deficiente,deve ser sinal importante em vida, mas pouco se

. destaca ou nem é visível em material empalhado,razão pela qual freqüentemente nem é meneio-nada por autores que só conhecem essas aves con-servadas.

7.

Esbranquiçada ou acanelada sobre o dorso infe-rior, também nas fêmeas, (Pr. 20),

e v. também item 1.1.

8. u do d

Ocorrem em vários beija-flores, p. ex.,Eupeio e ,Ch , ,

, e He etem calções brancos. V. também

(item 10).

9. ,ou

9.1 - Garganta branca: euco (Pr. 21).9.2 - G~ande mancha branca na nuca: is

,

10. g so

10.1 - Preto e branco, sem verde algum:(fig. 166).

10.2 - Lado inferior negro ou anegrado:10.2.1 - Todo lado inferior negro: e

i .10.2.2 - Apenas a barriga negra ou cor de fu-

ligem: (item 4.2 e 5.6) e(item 1.1 e 3.1).

10.3 - Lado inferior branco com estria mediananegra: fêmeas de n o (Pr. 21) e

(item 2.3).

11. cintil nte n g ou nos c eç

11.1 - Garganta vermelha: (Pr. 21),(Pr. 20), (Pr. 21) e

(Pr. 20). com nódoa ver-melha sobre o peito.

11.2 - Garganta verde contrastante com o resto dolado ventral: e (fig. 168), (Pr. 20)e (prolongada numa "gravata").

11.3 - Placa violeta ao lado. da cabeça:Colie C. s (pr. 21).

12.

Geralmente negros, às vezes porém claros (ama-relos, amarelados ou cor-de-carne clara), p. ex.,

eneies, certos e .

Brc0-DE-LANÇA, Do

10cm. De.bico longo (2,6-2,7cm) e reto, com a pontaum pouco arrebitada; cauda curta; por cima verde-es-cura, fronte violácea; por baixo negro; ocorre em Rorai-ma (tepuis, D.j. gui ensis) e países adjacentes. "Bico-de-Iança-de-testa-azul+". V o

37 Eremi~~, nãoépalavra adequada considerando a biologia desses beija-flores.Os machos de váriosetho is encon-tram-se em clubes" para cantar e todos eles são muito ativos na perseguição das fêmeas. Um nome bomé c o - beiia-flor-de-sornbra. J

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TROCHILIDAE 453

BEIJA-FLOR-GRANDE-DO-MATO,

En

16cm. Espécie muito grande, parda, do Brasil meri-dional-oriental, de peito amplamente estria do de negro;cauda larga não prolongada (ao contrário deretrizes laterais pardo-claras; bico forte de base larga(dando à sua fisionomia um certo ar de narceja,

terminando num gancho (macho) ou sendosuavemente' curvo (fêmea); a mandíbula é amarela. Fê-meas e imaturos têm uma mácula preta menor na gar-ganta. "zshak"; três a seis assobios altos em seqüên-cia fortemente descendente, uma estrofemais modulada e prolongada emitida em vôo; "it-it" lem-brando e de timbre semelhante ao de(Pipridae). Balança a cauda. Habita o interior penumbrosoda mata de encosta. Procura flores miúdas de bromélias(p. ex. de e e Ocorre do Espírito San-to e Minas ao Rio Grande do Sul. "Beija-flor-rajado?".

BALANÇA-RABO-CANELA,

En Am Pr. 45, 7

12ctn. É semelhante à espécie descrita adiante tendocontudo o bico quase reto e de mandíbula esbranquiça-da; todas as retrizes são cor de bronze-metálico unifor-me tendo as laterais (quatro de cada lado) a pontabran-ca; as partes superiores bronzíneo-esverdeadas, partesinferiores canela, zona superciliar e malar brancas, áreapós-ocular negra. estrofe descendente parecida àda anterior e à da seguinte.É restrito às matas primári-as de feições amazônicas, hoje residuais, do norte doEspírito Santo e do sul da Bahia, p. ex., no município deConceição da Barra, rioItaúnas (1971) onde vivia ao ladode outros endemismos ameaçados como os cotingídeos

e e hoje essa mataestá quase totalmente destruída; foi encontrada por nósno Parque Nacional de Monte Pascoal (Bahia), em 1977e numa reserva da Companhia Vale do Rio Doce emPorto Seguro (Bahia) em 1986 por Gonzagaet (1988).Visita as mesmas flores (p. ex. as do limoeiro e de bro-mélias epífitas) que a espécie abaixo e às vezes ao mes-mo tempo. "Beija-flor-canela'?'.

BALANÇA-RABO-DE-BICO-TORTO,

13cm. É robusto, de bico longo e curvo, de mandíbu-la amarelo-clara; partes inferiores ferrugíneas; retrizescastanhas com larga faixa subterminal negra e pontabranca sendo as centrais verdes e não alongadas.seqüência descendente e decrescente, "st-st-st";i-i-ü-ü-ii-ü-ü (canto) menos forte do que o de euius.Ocorre do Panamáà Bolívia e quase todo o 'Brasil. "Bei-ja-flor-besourão"". Inclui Ruschi(1973a), descrito do Espírito Santo que é consideradoaqui o imaturo de (Hinkelmann 1988a).

BALANÇA - RABO-DE-GARGANTA -PRETA, etes

llcm. Representante amazônico que lembra o ante-rior mas de bico ligeiramente curvo e não serrilhado namaxila, mandíbula cinzenta; garganta negra bordadaposteriormente por uma faixa transversal ferrugínea; pésamarelos; conforme aregião varia drasticamente o co-lorido das retrizes que são branco-amareladas sendo as'làterais de ponta negra (Amapá, Pará, Maranhão;

ou canela-clara (alto Amazbnas, Juruá;. ou brancas (Rorairna, I.

Pêrnea e imaturo com mancha guiar mais pá-lida.Voz, ce n canto fino "zit-zít-zeri". Movimen-ta a c~üda constantemente para/Cimaepata baixo. Coma aproximação de um outro exemplar ou voando dianteda fêmea expandeacauda movendo-a para diante e para

! \"

trás como um pêndulo,expondo a grande área clara dasretrizes laterais, exibe igualmente o desenho da gargan-'ta. Numeroso no estrato inferior da mataescura mas nãodesperta a atenção a não ser pela voz; é o- sse smais numeroso nas matas de terra firme dascercaniasde Belém (Pará), sendo igualmente comum na florestade várzea. V. também sob Alimentação. Das Guianas,Venezuela e Colômbia à Bolívia, Amazonas, Pará e Ma-ranhão. Aparece às vezes ao lado deucis. "Beija-flor-de-cinta?". Inclui loe i Grantsau (1969) do Amapá,considerado por Novaes (1974) como subespéciede .

. Inclui também Ruschi (1975) e. nigeei Ruschi (1976) do Amapá que parecem ser relacio-

nados aloe (Hinkelmann 1988a, Novaes 1978).

BESOURÃO-DE-RABO-BRANCO, e s

15,5cm. É uma espécie "grande" comum na Amazô-nia florestal; mandíbula vermelha ou alaranjada; encon-trado freqüentemente ao lado de enetes. Abundantenas capoeiras do estuário do Amazonas. Ocorre do Mé-xico à Bolívia e Brasil amazônico (Amazonas, Pará eAmapá); separa-se em várias raças geográficas. "Rabo-branco-de-bigodes"". [A forma P g e Ruschi(1972a) de Pernambuco ao Espírito Santo (Hinkelmann1988a) pode estar associada a essa espécie e não a se-guinte (Willis & Oniki.1991).-ComportamerÚÓ'e vocali-zação da população de Alagoas diverge consideravel-mente da população de P da Serra do Navio,Amapá a. F. Pacheco).]

BESOURÃO-DO-BICO-GRANDE,

16cm. É a espécie gêmea de Psupe osus do qual sedestaca por ser o troquilídeo brasileiro de bico mais lon-go (46 a 47mm); base da mandíbula vermelha ou rosa.Ocorre da Guiana ao Amapá, simpátrico com a espécieanterior. "Rabo-branco-bicudo"".

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454 ORNITOLOGIABRASILEIRA

RAB0-BRANCO-DE-GARGANTA-RAJADA,

15,5cm. É semelhante a P. mas de bico aindamais longo, mandíbula amarela, garganta com nítidasestrias negras; uropígio da mesma cor das costas mos-trando, contudo, bordas ferrugíneas nas penas; retrizessubcentrais menos alonga das do que noP. razãopela qual a ponta das centrais aparece mais isolada.pia um "zuit"; "klip-klip-kliâ", etc., às vezes vá-rios exemplares a pouca distância, cantando. Habita oestrato inferior da mata e capoeira; na porção setentrio-nal de seus domínios é típico das regiões serranas aolado de P. sendo, ambos, fregueses assíduos degravatés-de-ninho e . Ocorre noBrasil (fig. 160) oriento-meridional (do Espírito Santo aoRio Grande do Sul) até o Paraguai eArgentina (Misiones).[Recentemente encontrado em montanhas do sul daBahia (Gonzaga et . 199.5).] Mencionamos aqui

Ruschi (1973b), semelhante aoanterior, tendo porém o bico mais curvo e totalmentenegro; até agora conhecido apenas da Reserva de NovaLombardia (Espírito Santo), onde foi visto por nós em1977. Talvez seja apenas uma variação deP.portanto sinônimo (Hinkelmann 1988a).

BESOURÃO-CINZA, hispidus

14cm. É de coloração bem clara, cinzento-pálida enão pardacenta; vive no cerrado ensolarado, sul daAmazônia, voando de um capão ao outro. Ocorre doPeru à Bolívia e no Brasil em Roraima, Acre, Amazonas,Pará e Mato Grosso (até Tapírapoã). "Rabo-branco-cin-za*". V P. .

Fig. 160.Rabo-branco-de-gargantjl.-rajada,eu no distribuição original (seg.Hinkelmann}988b).

RABO-BRANC0-DE-BICO-PRETO*,

[13cm. Habitante do interior das florestas de terrafirme da Amazônia brasileira situadas ao norte doSolimões/ Amazonas com uma população isolada nobaixo Tapajós (P.b. Hinkelmann 1989). Ocorre ain-da nas Cuianas, Venezuela, Colômbia, Equador e Peru,neste último localmente ao sul do Maranon.]

RABO-BRANC0-AMARÉLO*, philippi

[14cm. Parece ~ubstituir a espécie anterior nas flo-restas SItuadas ao ~ul do Solimões desde oleste do Peruaté a região do M~deira, incluindo seus altos formado-res em Rondônia. Também no norte da Bolívia.]

} \

! ,

RABO-BRANC0-MIÚDO,

En \

12cm. É espécie relativamente pequena de coloridosemelhante ao deP. tendo como este a base damandíbula amarela. "ü-zí ü-zí": um chil-reado bem variado terminado em "zrrr (zrrr, zrrr)" emais frases apressadas, p. ex. "tzé-wad, wad, wad", tudofazendo parte do canto coletivo de vários machos quese reúnem em certas áreas pousando a 20-30cm acimado solo; pairando acima de um outro indivíduo emiteum Enquanto canta oscila a cauda; com aaproximação de um congênere abre-a, levantando-a alémda horizontal e intensifica o seu cantar. Habita a densamat~; vive a baixa altura. Sudeste do Brasil (fig. 161),localmente abundante (ex-Cuanabara) "Rabo-branco-pequeno*".

Fig. 161.Rabo-branco-miúdo, etho squ lidus,distribuição (seg. Hinkelmann 1988b).

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TROCHILlDAE 455

RABO-BRANC0-DO-RUPUNUNI*,

[11cm. Representante amazônico, antes consideradosubespécie de P s. Assinalado em Roraima, al-guns pontos ao norte do Amazonas (Itacoatiara, Óbidos,Monte Alegre) e localmente no baixo Tapajós e Xingu.Também na Guiana Inglesa,Venezuela e Colôrnbia.]

RABO-BRANC0-DE-SOBRE-AMARELO,

Pr. 20, 4

15cm. É abundante no leste e no centro do Brasil. Decauda longa regularmente graduada e orlada de bran-co, partes inferiores (inclusive a garganta) e coberteirassuperiores da cauda cor de canela uniforme, ao contrá-rio de P. e que é, às vezes, seu vizinho; base damandíbula vermelha. , "suit" (em vôo),"wist-wist-wist", "ziii-ziii-ziii" (canto). Balança a cauda.O vôo pré-nupcial consiste em uma demorada perse-guição da fêmea, ambos piando, executada a pOl,lca al-tura dentro da mata fechada. Vive na mata, jardinsarborizados freqüentemente entre casas, onde às vezesnidifica, gosta da proximidade da água corrente (v. sobNidificação). Ocorre do Maranhão a Santa Catarina, Goiáse Mato Grosso. Também na Bolívia, Paraguai e norte daArgentina (fig. 162). "Rabo-branco-acanelado?".

Fig. 162.Rabo-branco-de-sobre-amarelo, tho sp e ei,distribuição (seg. Hinkelmann 1988b).

RABO-BRANC0-DE-BARRIGA-FULVA ". e

[12cm. Forma representativa da região oeste de MatoGrosso e leste boliviana. Encontradiço na porção nortedo Pantanal Matogrossense (Cintra & Yamashita 1990,Willis & Oniki 1990).]

BESOURÃO-DE-SOBRE-AMARELO,

n

i4cm. É semelhante a P.e ei sendo contudo menor etendo as retrizes laterais orla das de ferrugíneo em vez debranco; mandíbula amarela.É encontrado no Maranhão,Piauí, Mato Grosso (Tapirapoã, ao lado de. hispidus,queé maior) e Bolívia (fig. 163). Inclui P. nsis

. Grantsau (1968) que é o macho de P. i (Hinkelmann. " 1988c). "Rabo-branco-cinamômeo*".

,RABO-BRANCQ-DE-CAUDA-LARGA ".

gounellei I En Pr. 45,6 . I-., 1- / .

9,Scm. Dê retrizes de ponta branca "ainda mais largaque P. e . Ocorre p. ex., nas caatingas do Piauí, Cea-rá e Bahia (figo ~63). "Marronzinho="

.~ r:

BESOURINHO-DA-~TA, nlbe

8,6cm, 1,8 a 2,2g. Um dos menores beija-flores doBrasil; de cauda relativamente curta, sem maior prolon-gamento das centrais, e sem ponta branca nas retrizes;uropígio e partes inferiores ferrugíneas vivas, peito comuma nódoa negra (macho); mandíbula amarela. ce-

n "si-sí-sí-sísisisisisi" (canto). Voa a baixa alturacom um zumbido agudo semelhante ao de uma grandeabelha. Registramos uma cerimônia pré-nupcial crescen-te de movimentos; damos aqui apenas o essencial: (1) Omacho executa um vôo-pêndulo horizontal lento e si-lencioso, pouco acima e adiante da fêmea pousada. Emcada ponto extremo do pêndulo, ressaltando a rigorosarítmica da ação, vira o corpo para fora. Mantém a caudalevantada, de modo que suas calcinhas brancas tornam-se o ponto extremo posterior do corpo, visto pela fêmea.

Figo1630Besourão-de-sobre-amarelo, o stte i (círculos). Rabo-branco-de-cauda-larga,

is gounellei (quadrados), distribuição (segoHinkelmann 1988b).

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456' ORNITOLOGIA BRASILEIRA

o corpo do macho é mantido em relativa imobilidade,deixando ver qualquer pormenor da plumagem, etc.,enquanto as asas, em pleno movimento, são invisíveis.O bico (amarelo por dentro) é aberto e apontado para afêmea, enquanto a língua fica caída como se fosse umverme pendurado. De vez em quando produz, com asasas, um surdo trissilábico "dadá, dadá, dadá". (2) Omacho altera completamente sua atitude, dirigindo obico para cima e estufando o peito, mantendo porém ovôo-pêndulo, embora num ritmo mais acelerado. (3) Fi-nalmente o macho executa um vôo frenético adiante dafêmea, aparecendo então como uma faixa escura hori-zontal, e vocaliza "dlüid, dlüid, dlüid ...". No estratoinferior da mata, capoeira, jardins e quintais, passa fa-cilmente despercebido. Ocorre das Guianas e Venezuelaà Bolívia e Brasil até São Paulo. "Rabo-branco-rubro*".

RABO-BRANCO-DE-GARGANTA-CINZA *,

9,5cm. Espécie pequena montícola semelhante aP. mas 'com a parte central das retrizes negra.[De distribuição andina com limitada extensão aostepuis. Assinalado para o Brasil unicamente nas ca-be ce ir as do Padauiri, região do monte Neblina(Phelps & Phelps 1948).]

RABG-BRANCO-DE-GARGANTA -ESCURA*,

lOcm. Semelhante às duas precedentes. De ampla dis-tribuição geográfica, ocorrendo do México ao Peru e Gui-anas. [Assinalada para o baixo Tapajós (P.1.Zimmer 1950a) e arquipélago de Anavilhanas, baixoNegro (A. Whittaker). No Brasil esta espécie parece es-tar relacionada aos ambientes sucessionais de ilhas ematas ribeirinhas.]

BESOURINHO, En

Tão pequeno como P. o macho imaturo ousubadultocom a cauda curta e plumagem bem escura,garganta e peito qúase negros e mandíbula amarelo-li-mão, diferindo bastante do adulto que possui as retri-.zes centrais longas com extensa ponta branca e a gar-ganta acastanhada. Fêmea avermelhada com as caudaiscentrais longas. Vive nas restingas, etc.; localmente co-mum; ocorre da Bahia ao Rio de Janeiro (fig. 164). Con-siderado às vezes substituto geográfico do amazônico

e "Rabo-branco-mirímt".

ASA-DE-SABRE,

12cm. Espécie robusta distinguível pela asa anguladana altura da mão devido à raque muito alargada das

primárias (fig. 165); partes inferiores cinza-escuras, re-trizes laterais brancas pela metade distal; fêmea seme-lhante mas sem o alargamento das primárias. forte"ohé" (alarme); canto bastante fraseado. Vôo pesado (v.Introdução). Vive na capoeira e na mata; em florestas devárzea da região de Belém (pará) um doso esmais abundantes ao lado de efoi encontrado em Minas Gerais em casais isolados empequenas matas de ravina acima de 1.000m. Ocorre dasGuianas ao Equador, Bolívia e Brasil no Amazonas, Pará,Maranhão, Mato Grosso' e Minas Gerais (Diarnantina,Grão Mogol, 'Serra do Caraça) "Asa-de-sabre-cinza*".Picaaqui mencionado que o representante mexicano

h!!tn qué possui a:'mesma pe-culiaridade nasasas.-emite um sussuro semelhante aobalido de uma cabrr- (v. narcej.y produzido ao fazer umvôo picado diante da fêmea. ~rprov'áyel que tal demons-tração ocorra também em outros e .. .

(.... ....-t..... ./ ...(...

".1

\)

f

Fig. 164. Besourinho, tho is i e,distribuição(seg. Hinkelrnann, 1988b).

ASA-DE-SABRE-CANELA *,

[llcm. Espécie endêmica dos tepuis orientais vene-zuelanos. Assinalado para o Brasil em Roraima, CerroUei-Tepui (Phelps & Phelps 1962).]

TESOURÃO, Eupeiomena macroura Pr. 20, 1

18cm. É um dos maiores e mais brigüentostroquilídeos, caracterizado pela cauda profundamentefurcada que toma quase 2/3 do tamanho total. Cabeça epescoço azuis, resto da plumagem verde-escuro brilhan-te. "tsak" forte; chilrear fraco entremeado de "tja-~a-~a". Vôo nupcial v. Introdução. Vive na capoeira e~ardms. Ocorre das Guianas à Bolívia e Paraguai, todo o

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TROCHILIDAE 457

Brasil exceto certas regiões da Amazônia; em muitoslugares é comum. "Beija-flor-tesoura=". V.

Fig. 165. Asa-de-sabre, I. asadireita, mostrando as raques extremamente alargadasdas primárias.

BEIJA-FLOR-AZUL-DE-RABO-BRANCO,

llcm. O macho adulto inconfundível por uma gran-de mancha nucal branca; cabeça azul, dorso verde bri-lhante, barriga e retrizes brancas sendo estas de pontanegra; fêmea por cima verde e com as partes inferioresbrancas pintadas de verde, cauda verde; macho imatu-ro com uma faixa cor de canela ao lado da garganta lem-brando um pouco o imaturo da espécie abaixo. Vive namata, freqüentemente na copa das árvores mais altas("beija-fIor-da copa"). Ocorre do México à Amazônia, àBolívia, Mato Grosso e Maranhão, um dos beija-floresde distribuição mais ampla. Aparentado ao

v. também Introdução (morfologia). "Beija-flor-brancos",

BEIJA-FLOR-PRETO-E-BRANCO,

Fig. 166

12,6cm. Um representante marcante do Brasil orien-tal; o colorido contrastante vistoso das retrizes é exibi-do quando o pássaro expande a cauda em um leque bran-co cortado em duas metades pelas centrais negras ouquando abre e fecha rápido as caudais com o efeito deum "pisca-pisca" de um automóvel; o branco da caudacontinua até os Bancos e forma uma faixa sobre o crisso;

não há dimorfismo sexual acentuado. Imaturo com lar-ga faixa castanha nos lados da garganta; os indivíduosainda mais jovens são negros quase que totalmente man-chados de pardo e de cauda canela ou negra sendo bran-cas somente as retrizes laterais.

Parece manter-se mais parado no ar do que outrosbeija-flores, exibindo seus belos contrastes que chamama atenção de longe. O vôo nupcial (v. figo 155) consiste.em perseguições ziguezagueantes à fêmea; o casal sobeas alturas parando a cada lance, de aproximadamente20m, defronte um do outro em vôo de libração: em se-guida regressam ao pouso onde excitam-se abrindo efechand,o rapid,\mente as asas. Sobre migraçõesV. Intro-dução, E encontrado à beira da mata, capoeira, jardins,bananais, frequentemente' em 'copasde-árvores altas,Ocorre da Paraíba ao Rio Grande do Sul; pode ser abun-dante períodícarnente. É, p. ex., a espécie mais freqüen-te de beija-fior em Macaé 'Cim,!, Rio de Janeiro, d~-rante o verão. "Belja-flor-preto+". [Tratada como'endêmica do Brasil, por lapso, es~á entretantb assinala-da para o Uruguai há mais de 50 anos (Barattini 1945) emais recentemente também para aArgentina e Paraguai.]

BEIJA -FLOR-MARROM -DE -ORELHA - AZUL,

12,2cm. Cor de fuligem, infracaudais canela, apenasgarganta e cauda esverdeadas; placa auricular azul bri-lhante à semelhança da espécie que se segue. Habita re-giões pedregosas e semiáridas, campos abertos, chapa-das com vegetação xerofítica ("carrasco"). Ocorre naBahia (Serra do Sincorá, Andaraí; ao lado de

e, principalmente, em Roraima e nos An-des. "Beija-flor-marróm=".

BEIJA -FLOR-VIOLETA *,

14cm. Grande espécie verde e azul cintilante. [A for-ma C.C. é endêmica dos tepuis venezuelanos eestá assinalada para a fronteira brasileira do Cerro

Fig. 166. Beija-flor-preto-e-branco,[uscus, chupando néctar.

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458. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Urutani, Roraima (Dickerman & Phelps 1982). Outrasraças se distribuem através dos Andes entre a Venezuelae a Argentina.]

BEIJA-FLOR-DE-DRELHA-VIOLETA,

Pr. 21,5

12,lcm. Distingue-se pelas placas pós-auriculares decor azul-arroxeada que podem ser tomadas por umagola, infracaudais brancas, imaturo com tonalidadespardas, barriga e faixa malar brancas; maxila se~ril~a.daem extensão variável (v. Introdução)."ttt.;.", "zip-zíp-zap" etc. emite este canto do raiar dodia ao por do sol (daí o nome "beija-flor-de-canto"). Omacho pára librando diante da fêmea pousada, eriçan-do os tufos do pescoço para frente e para cima. Paisa-gens meio abertas, cerrado, restinga ao nível do mar, co-mum também nos planaltos acima da linha das flores-tas (p. ex. em Itatiaia) descendo aos vales no outono (v.Introdução). Da Bolívia, noroeste da Argentina e sul doBrasil até Mato Grosso, Goiás, Piauí, Bahia e EspíritoSanto. V. as duas anteriores.

BEIJA-FlOR-PRETO,

Pr. 21, 6

l1,4cm. O macho é tão escuro que muitas vezes pas-sa por ser todo negro; a cor da cauda assemelha-se algoà de Fêmea de padrão de colorido bastantediverso (fazendo-a parecer uma outra espécie), pareci-do ao da fêmea de imaturo com faixas bran-cas, na. parte inferior, m.escladas com. ferrugíneo. Capo-

eira e mata; freqüenta as copas. Do Panamá à Bolívia eArgentina, todo o Brasil. "Beija-flor-de-veste-preta+". V.

e .

BEIJA-FlOR-DE-VESTE-VERDE*,

[12cm. Ambientes litorâneos, abertos, secundários esucessionais de. ilhas da Baixa Amazônia. Ocorre no Bra-sil da região de Manaus e baixo Madeira através deambas as margens do Amazonas para leste até o Amapáe o Maranhão. Também nas Guiarias, Venezuela eTrinidad.]

BElJA-FLOR-DE-BICO-VlRADO,

8,Scm. Único no seu bico curto (8mm) e recurvadoabruptamente para cima (fig. 167);maxila serrilhada; quan-to à plumagem lembra bastante nig ,tanto o macho como a fêmea. Das Guianas e Venezuela aRorairna, Amazonas, Pará (Monte Alegre, Santarém,Belérn), Maranhão e Piauí. Raro no Brasil. V. e .

BEIJA-FlOR-VERMELHO,

Pr. 21, 1

9,2cm. Uma das espécies mais famosas; sua cabeçaparece ser alongada horizontalmente devidoà pluma-gem proeminente da fronte e do singular capuz nucal("cabeça de cebola"): o esplêndido colorido geralmenteaparece como muito escuro se inadequadamente ilumi-nado, apenas destacando-se a cauda translucidamenteferrugínea; é o beija-flor que maior extensãode penasiridescentes possuí. Fêmea verde bronzeada nas partessuperiores sendo branco-suja por baixo e tendo as retri-zes laterais com pontas brancas. Durante o cortejo, omacho-persegue ~.fêmea ass~m que a vê Ps;-0.sada, adejaao seu redor decaudaaberta, o que causa um efeito tãoespetacular como o do contraste do peito, que brilhacomo ouro, com o c,apuz de penas Furtas e eriçadas queestão em constante.movimento. Sobre migrações v. In-trodução. Habita a mata rala, cerrado e caating~. Ocorred~ Colômbia e Venezuela à Bolívia: também no Brasilcentral até o Nordeste e Brasil oriental (Bahia, MinasGerais, Espírito Santo e, excepcionalmente, no ex-Esta-do da Guanabara, São Paulo (Willis& Oniki 1985) eParaná). Foi a espécie mais perseguida pelos comerci-antes de pele (v. Introdução).

Fig. 167.Beija-flor-de-bico-virado, ocettuis. Original, H. Sick.

BEIJA-FlOR-DE-TOPETE,

Pr. 21,3

8,Scm. O macho inconfundível, sendo a espécie bra-sileira de topete mais longo, a ponta do mesmo é volta-da para cima e freqüentemente apresenta-se roto e curto(macho não adulto ou em muda); as populações dos es-tados meridionais (de São Paulo ao Rio Grande do Sul)com o topete maior, colorido de àzul (e nãoverde) e comas partes inferiores violeta bem escuro (5. iloddigesi).A fêmea possui pequena mancha pós-ocular eponta da cauda brancas. fina como de um inseto:"tzri", "tzi-tzi" repetido "tzilli-tzilli-tzilli" (canto); reú-ne-se em grupos para cantar.É uma espécie de altitudeou de climas frios; no norte de sua área (Espírito Santo,Minas Gerais e Rio de Janeiro) atinge as altitudes máxi-mas existentes (p. ex. 2.900rn nos campos da Serra doCaparaó, Espírito Santo e no Itatiaia, Rio de Janeiro, etc.),onde é abundante; no inverno baixa aos l.SOOm (ltatiaia)e mesmo menos (900m, Nova Friburgo, Rio de Janeiro);no Itatiaia encontramo-Io em 1.400m cantando vigoro-

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TROCHILIDAE 459

, II I

samente em setembro/ outubro; ocorre no Rio Grandedo Sul no planalto, chegando durante a invernada até onível do mar (Porto Alegre, /. Bra-sil oriento-meridional (do Espírito Santo e Minas Ge-rais ao Rio Grande do Sul) até o Paraguai e norte daArgentina. V.a fêmea de

TOPETINHO-VERMELHO, Enpr. 20,5

6,8cm. Pelas medidas convencionais é a menor espé-cie brasileira; representante meridional bem conhecida.As brancas penas laterais prolongadas do pescoço domacho têm a forma de um leque e terminam em umafaixa verde que passa ao negro na ponta das penas quese reúnem em um grande tufo. A fêmea e o imaturo sãosem topetes e sem tufos, de garganta branca sarapinta-da de canela; cinta uropigiana esbranquiçada e bicomenos intensamente vermelho. ce-

"gr-gr": "piu-piu-piu ..."; monótono e prolon-gado "si-si". Durante a parada nupcial eriça o topetevermelho e expande os tufos laterais do pescoço" movi-mentando-os enquanto executa um lento vôo ou pairadiante da fêmea, que permanece pousada, girando ocorpo na lateral simultaneamente; em seguida sobe emvôo acrobático para voltar em pique como se fosse atin-gir a companheira, frenando apenas perto dela, produ-zindo um forte sussurro "rrrep", após o qual sobe denovo. Habita a capoeira, chácaras e jardins bem flori-dos. Restrito ao Brasil oriento-meridional e central. Ocor-re de Alagoas e da Bahia ao Rio Grande do Sul e ao MatoGrosso e Goiás. "Beija-flor-magnífico". V.as quatro ou-tras espécies brasileiras dogêneroe Calliphlox. "

TUFINHO-VERMELHO,

6,8cm. De topete e longos tufos laterais do pescoçocor de canela, sendo as penas destes últimos graduadase estreitas, com a ponta verde arredondada. Restrito aonorte do rio Amazonas (do Amapá e RoraimaàVenezuela e Guianas). "Topetinho-de-leque-canelat".

TOPETINHO-DO-BRASIL-CENTRAL, gouldii

7cm. Parecida com L. tendo porém os tufoslaterais estreitos, brancos com a ponta verde. Habita aorla da floresta e do cerradão. Ocorre do Maranhão esul do Pará (Serra do Cachimbo) ao norte do Mato Gros-so (alto Xingu), Estado de Tocantins e Bolívia."Topetinho-d e-leque-pon tilha d0*".

TUFINHO-VERDE,

7,Scm.Tem o vértice verde; sem topete vermelho; biconegro, penas do tufo estreitas, alonga das e verdes com a

ponta branca. As cerimônias nupciais consistem no ma-cho librar-se diante da fêmea enquanto exibe uma man-cha coronal de pele nua, azul-cobalto, projetando o bicode encontro ao peito e eriçando as penas da fronte en-quanto dirige, para diante, os tufos laterais que asseme-lham-se a maços de palitos coloridos; segundoA. Ruschi,o azul da mácula coronal (que também é cor das pálpe-bras) e mais intenso na quadra reprodutiva. Habita amata; ocorre da Venezuelaà Bolívia e Brasil amazônico(Amazonas, Roraima, Mato Grosso e sul do pará); tam-bém. no Brasil oriento-meridional (p. ex. ~a Serra daMantiqueira e n~ Serra do Mar), indo do Espírito Santoe Minas Gerais1Santa Catarina. "Topetinho-verde*".

. " , ,!- :. . .~~

TOPETINH~-PAVÃO*,

Sem. Sem topete vermelho mas com longos e largostufos verdes de' grandanód oa negra anteapical.[Endêmica dos tepuis venezuelanos estando assinaladapara a fronteira brasileira do Cerro Urutani, Roraima(Dickerman & Phelps 1982).]

RABO-DE-ESPINHO,

Fig. 168

12,Scm, macho. Tem a cauda muito longa e fina lem-brando espinhos; verde com uma cinta branca no baixodorso e uma cinta vermelha através do peito, barriganegra; a fêmea (7cm) de cauda curta "normal" e colori-do geral escuro com a cinta uropigiana, ponta da caudae uma linha ao lado da garganta brancas. esso. voando levanta, fecha e abre a cau-da; em vôos rasantes por cima da fêmea produz estali-dos, como"rrép ...", ao que parece, batendo as retrizesentre si; contorna a fêmea emvôo lento e exibe os pésprojetando-os para frente e abrindo os dedos, movimen-tando-os. Habita as regiões montanhosas e pedregosascom vegetação arbustiva (Bahia). Ocorre da Bahia ao Riode Janeiro (inclusive no ex-Estado da Guanabara, ondeé raro); também no alto Amazonas a oeste dos rios Ma-deira e Negro até Venezuela, Colômbia e Peru. "Rabo-de-espinho-de-barriga-preta "'.

BANDEIRINHA, , Fig. 169

10,4cm. Distingue-se de todos os outros pelas "ban-deirinhas" da ponta das retrizes externas. Verdebrilhantecom uma cinta esbranquiçada no baixo dorso e brancono flanco. A fêmea possui a cauda curta e bifurcada, decinta uropigiana é ponta da cauda pardo-clara, Habitaos campos arborizados e a beira de mata, procura, p.ex., as flores de cajueiros, ingás, , eeucaliptos. Ocorre do norte da América do Sul até Ro-raima, Amapá e Pará; também no Nordeste e leste doBrasil até Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro(Tinguá). "Pavãozinho",

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-460 . ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Fig.168. Rabo-de-espinho, macho.Desenho deA. von Koenigsmarck(seg.J.Gould1854).

Fig.169.Bandeirinha, macho.

BEIJA-FLOR-OE-GARGANTA-AZUL,

8,9cm. Verde-escuro de mento azul, bico negro coma base da mandíbula alaranjada; a fêmea de partes infe-riores brancas mescladas de verde. Habita os locais som-brios, matas secundárias e de igapó; freqüentemente nascopas das árvores; abundante no baixo Amazonas. Ocor-re da Venezuela, Guianas e Pará ao Brasil oriental (parao sul até o ex-Estado da Guanabara), setentrional. "Sa-fira-de-garganta-azul*". V. e

.

.BESOURINHO-OE-BICO-VERMELHO,

Pr. 21, 2

8,Scm.É uma das espécies mais comuns no leste dopaís. Verde-brilhante com o bico vermelho de ponta ne-gra; a fêmea destaca-se por uma linha curva branca atrásdos olhos e ponta da cauda esbranquiçada. ,

"tzr": o canto chiado é incansável. Durante as exi-bíções pré-nupciais o macho desce em vôos rasantes so-bre a fêmea pousada, passando de um lado ao outro pi-ando continuamente. Habita a capoeira clara e jardins.Ocorre do Maranhão ao Rio Grande do Sul e Mato Gros-

Uruguai, Payaguai e Bolívia: "Esmeralda-de-bico-. lh *" ,verme '. o. r- ,i

.~, I

< .

ESMERALDA-OI!-CALDÀ-A2\UL *,.,_ c

7,Scm. Bico totalmente negro. [NaAmazônia brasi-leira distribui-se ao norte do Amazonas, incluindo asilhas Caviana e Mexiana, drenagem do Branco e Negràe das fronteiras ocidentais com o Peru e Colômbia paraleste até a margem direita do Madeira, incluindo seusaltos formadores em Rondônia e noroeste de MatoGrosso. Está assinalado para todos os paísesamazô-nicos.]

BEIJA-FLOR-TESOURA-VEROE,

9,7cm. Parecido com. tendo porém o ven-tre azul-violeta; a cor das infracaudais varia conforme aregião geográfica podendo, p. ex., ser negra de bordabranca [urcata, da margem norte do baixoAmazonas) ou negra uniforme do Ma-ranhão ao Ceará, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso).Habita a mata; abundante p. ex. em florestas de várzeano estuário do baixo Amazonas, ao lado de e

Ocorre do Méxicoà Bolívia; Paraguai eArgentina; todo o Brasil exceto no extremo sul, chegaaté ao Paraná. "Beija-flor-de-barriga-violeta*".

BEIJA-FLOR-OA-COSTA-VIOLETA *,En

11,Scm. De cauda mais longa que a de[Endêmica da mata atlântica nordestina, ocorrendo em

.Pernambuco, Alagoas e Sergipe, com fortes possibilida-des de existência no nordeste da Bahia (Pacheco&Whitney 1995).]

TESOURA-DE-FRONTE-VIOLETA,

Pr. 20, 2

"

Tl.Icm, No Brasil oriental uma das espécies mais co-nhecidas. Verde brilhante de boné azul-violeta, tufos do

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TROCHILIDAE 461

crisso brancos, retrizes azul-aço, bico negro; a fêmea departes inferiores brancas sujas, retrizes laterais com pon-tas brancas, testa e lado inferior às vezes lavados de ca-nela. "tirip-trip-trip-ti-tri ... " (canto).Durante as cerimônias nupciais o macho executa ao re-dor da fêmea, pousada, vôos semicirculares enquantoexibe o vértice e peito iridescentes. Habita a mata, capo-eira e jardins. Abundante no Rio de Janeiro; foram con-tados, p. ex., na mesma hora, 6 machos, numa única ár-vore perto de garrafas para beber (julho). Ocorre da Bahiae Minas Gerais ao Rio Grande e sul do Mato Grosso doSul. "Beija-flor-de-fronte-violeta=". V.as duas anteriores.

BElJA-FLOR-SAFlRA,

9cm. É de mento verde, infracaudais e cauda (contraa luz) transparecendo como castanhos; sob a luz inci-dente a cauda varia do bronze ao azul-aço ao passo queo pescoço anterior e peito ficam azul-arroxeados brilhan-tes; o bico vermelho de ponta negra. A fêmea de partesinferiores esbranquiçadas e mento canela. Habita a flo-resta, beira da mata e capoeira; é visto freqüentementenas copas, localmente comum. Ocorre do norte da Amé-rica do Sul ao rio Madeira (Amazonas) eBelérn (Pará);ocorre também no Brasil oriental (de Alagoas a São Pau-lo) até o Paraguai e Argentina. V. a seguinte.

BEIJA-FLOR-ROXO, Pr. 21, 7

8,8cm. Cabeça, pescoço e peito azuis-violeta, mentoesbranquiçado, bico vermelho de ponta negra; a fêmeabranco-acinzentada. "zíbu-ziiiiiiii", "hítzi ..." (can-to); "gogogo". É uma das espécies tímidas da capoeira.

Ocorre do norte da América do Sul à Bolívia e todo oBrasil exceto na região Sul.

BEIJA-FLOR-DOURADO,

10,5cm. Relativamente grande; verde-douradoacobreado com a cauda verde-dourada intensamentecintilante; bico-vermelho de ponta negra; a fêmea se-melhante. canto surpreendentemente forte, "tzi-tzí-tzi-tzi", descendente terminalmente; emite outra estrofe

" 'tão aguda q{ié"é "quase inaudível sendo percebida maispelos movimentos das mandíbulas. Habita a mata, cer-rado, capoeira e quintais; é visto freqüentemente nascopas. Ocorre de Minas Gerais ao Mato Grosso, Goiás eRio Grande do Sul; também no Uruguai e Bolívia. V.

e o seguinte.

BElJA-FLOR-DE-CAUDA-DOURADA ".

oenone

9cm. Lembra um de cauda cor de cobre-ouro. [Distribui-se através da alta amazônia e base leste

dos Andes da \rt:.Jl.ezuela e Colômbia até a Bolívia,Trinidad. Conhecida no 5'na<;il apenas por dois exem-plares colecionados em Benjamin Constant, Amazonas(Ruschi 1957).]

PAPO-BRANCO, Pr. 21, 4

IO,Sem. Típico para o sudeste do país; de porte ro-busto, é inconfundível pela garganta e barriga brancasque são separadas por urna área verde pei~oral; as pon-tas brancas das retrizes despertam a' atenção quando aave abre e fechf a 'cauda em curtos intervalos. Sexos se-melhantes. "züt", "zrrr"; possui dois tipos bem di-versos de canto, "zí-zi-zi-zi-zi-zi-zi" e ufu chilreado bemvariado; pode passar de um tipo para o outro, sob asmesmas condições.Habitaç capoeira, jardins e poma-res. Ocorre de Minas Ceraise Espírito Santo ao Rio Gran-de do Sul, Paraguai e Argentina; no norte de sua área(Espírito Santo, Rio de Janeiro) ê-abundant~ em regiõesmontanhosas. "Cuitelo" (São Paulo). "Beija-flor-de-papo-branco?".

BEIJA-FLOR-DOURADO-DE-BICO-CURVO,

10cm. Espécie campestre relativamente grande debico longo e curvo, com a base da mandíbula vermelho-clara; plumagem verde-bronze dourada com urna níti-da linha esbranquiçada por detrás do olho, ponta dacauda branca. Imaturo ferrugíneo acastanhado, o que dána vista. Habita os campos, banhados e restinga. Ocorredo estuário do Amazonas (Marajó, etc.) até Mato Gros-so, São Paulo, Paraguaie Argentina, ocorre também nonorte da América do Sul. "Beija-flor-de-bico-curvos". V.as duas seguintes.

BEI]A-FLOR-VERDE*,

_[lOcm. Habita as campinas, florestas inundáveis e for-mações arbustivas amazônicas. Ocorre do Purus e re-gião de Manaus para leste até a região de Belém e oAmapá, além das florestas em solo arenoso-da drena-,gem do Negro. Ocorre também nas Guianas e em todosos países amazônicos com exceção da Bolívia.]

" .., ......

BEI]A-FLOR-PINTADO*,

[lOcm. Especialista dos ambientes encontrados nasilhas fluviais d os grandes rios da Alta Amazônia-(Rosenberg 1990). Esta espécie tem sido encontrada nasilhas ao longo do Solimões entre a fronteira peruana/colombiana e ilha de Marchantaria, próximo a Manaus(Pacheco 1995).]

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462 O!,NITOLOGIA BRASILEIRA

PEITO-CARIJÓ, h

10cm. Lado inferior"l!i{excet~ a barriga) coberto demanchas verdes. Ocorrer.!..o lJeru à Bolívia; norte da Ar-gentina e Mél.h) Grosso (Cáceres). "Beija-flor-carijó'".

BEIJA-FLOR-VERDE-E-BRANCO,

[10cm]. Ocorre do Peru à Bolívia, norte da Argentina eMato Grosso (Cáceres). "Beíja-flor-de-peito-branco'"'.

BEIJA-FLOR-DE-BICO-PRETO*,

chionopectus

[9cm. Representante das savanas do norte de Amé-rica do Sul, ocorrendo em Trinidad, Venezuela e Guia-nas, onde é encontrado especialmente nas formaçõesflorestais earbustivas ao longo dos rios. No Brasil, re-gistrado pela primeira vez no rio Mucajaí, Roraima (Pin-to 1966).]

BEIJA-FLOR-DE-BANDA-BRANCA, l

8,scm. Verde, no lado inferior com uma faixa longi-tudinal branca pura acuminada na garganta e no mentoe alargada no ventre. A mandíbula tem a base alaranjada.Habita a capoeira e chácaras. Ocorre da Venezuela aoParaguai e Argentina, em todo o Brasil inclusive no Bra-sil oriento-meridional; inclui Ruschi(1982) de Porto Velho, rio Madeira, Rondônia.

é considerada por alguns como es-pécie à parte.

BElJA-FLOR-DE-GARGANTA-VERDE,

Pr. 21,8

8,s-llcm. De vasta distribuição, no Brasil discernem-se cinco raças geográficas, uma delas "grande" e litorâ-nea (A. , do Espírito Santo ao RioGrande do Sul), o "beija-flor-da-praia", de barriga bran-ca. "zl-zizi zí-zizi ...", Ocorre na capoeira, restiftgã;também no norte da América do Sul, em todo o Brasilaté o Paraguai e Bolívia.

BEIJA-FLOR-DE-PEITO-AZUL,

9,scm. Do mento ao peito, é de um brilhante azulque passa ao violeta; barriga verde-azulada com umafaixa mediana branca bem delimitada; a base da mandí-bula alaranjada. Habita a mata, capoeira e jardins; rela-tivamente comum em regiões montanhosas. Ocorre noAmazonas e da Bahia, Minas Gerais a Santa Catarina;ocorre também nos Andes venezuelanos e bolivianos.

BEIJA-FLOR-DE-BARRIGA-BRANCA,

[10cm] Ocorre em formações litorâneas do leste doPará (Belém) ao Piauí, Pernambuco e Bahia; também naVenezuela e Guianas. [Basicamente encontrado em man-guezais, como p. ex., ilha de Maracá - Jipioca, litoral norted?Amapá em janeiro de 1994 (J.F. Pacheco).]

BEIJA-FLOR-DE-BARRIGA-VERDE*,

t[iOem. A forriia A. . é endêrnica dos

tepuis venezuelanose está assinalada para a fronteirabrasileira em Roraima no Cerro Uei-Tepui (Phelps &Phelps 1962) e no Cerro Urutaru (Dickerman& Phelps1982). Representad6 nos. Andes venezuelanos ,e colom-bianos pela forma nominal.] \ .

BEIJA-FLOR-CINZA,

En Pr. 21,9

11,8cm. Representante grande e bem caracterizadopela face ventral cinza-escura, uma pequena manchapós-ocular, uma mácula uropigiana e tufos no crissobrancos. forte "tsük-tsük", melodioso "tsiu": cantabastante e a um bom volume, ainda que "chiado". Ha-bita a capoeira, chácaras. Ocorre no Brasil centro-orien-tal, de Pernambuco ao Rio Grande do Sul, Goiás e MatoGrosso.

BEIJA-FLOR-RUBI, PAPO-DE-FOGO,

En Pr. 20, 8:1

12cm. Espécie florestal robusta do Sudeste do país;na sombra da mata o macho, quando não se movimen-ta, aparece quase negro destacando-se apenas uma man-chinha branca pós-ocular (presente também na fêmea);ao sol a garganta vermelha, se vista de um certo ângulo,torna-se dourada; a fronte, vértice e peito cintilantes.

... Fêmea e macho jovem bem distintos, sendo canela naspartes inferiores. i voz forte e sonora oque atrai a atenção,"ü-ô": "tike, tike, tike ...rr (advertên-cia em vôo); "tirrâ, tirrã ..."; "tíc-tirrr.;" canto que emiteincessantemente. Nos jogos nupciais contorna a fêmeaem semicírculos enquanto abre e fecha rapidamente acauda, obtendo grande efeito dada a cor clara das retri-zes, concomitantemente exibe as áreas brilhantes aa gar-ganta e do vértice, surpreendentemente reluzentes aténa profunda sombra da floresta. Habita o interior damata, jardins arborizados e bananais. Ocorre do Espíri-to Santo e Minas Gerais a Goiás e Rio Grande do Sul.[Recentemente encontrado em montanhas do sul daBahia (Gonzaga et . 1995)]. "Topãzio". V. a seguinte.

! --

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I:I

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TROCHIUDAE 463

BEIJA-FLOR-ESTRELA,

12,lcm. Espécie amazônica que recorda um pouco aanterior; verde de vértice negro e azul, mento pardo, cin-ta peitoral vermelha. A fêmea semelhante ao macho mascom o mento e vértice verdes. Habita a mata. Ocorre daVenezuela ao leste do Peru, Amazonas (Solimões, Juruá)e sul do Pará (Cururu, Serra do Cachimbo). "Beija-flor-de-peito-laranja?".

ESTRELA-DE-GARGANTA-VIOLETA,

ll,Scm. De cauda bifurcada azul-aço, mais longa quea de partes superiores verdes, partes inferio-res negras, garganta posterior com uma mancha purpú-rea; a fêmea com uma longa linha subocular esbranqui-çada. Vive no Equador, Peru e alto rio Negro. "Brilhan-te-de-garganta-preta*". [Também no rio Solimões (Ben-jamin Constant, Vielliard 1994).]

BRILHAt-lTE-VELUDO*,

[llcm. Endemismo dos tepuis venezuelanos com ex-tensão ao Brasil assinalada no Cerro Uei Tepui (Phelps& Phelps 1962) e Cerro Urutani (Dickerman& Phelps1982), ambos em Roraima.]

BEIJA-FLOR-BRILHO-DE-FOGO,

Pr. 20, 6

20cm, sendo que mais da metade correspondendoàcauda, é o maior beija-flor do Brasil. O macho incon-fundível pelas retrizes alongadas que se cruzam medi-'anamente, mancha gular dourada, barriga vermelhametálica contrastando com os calções níveos e pés corde carne clara. Fêmea apenas com 12cm, sem retrizesprolongadas; verde de garganta vermelha (lembrando

parte inferior das asas e lados da cauda ex-tensamente férrugíneos como o macho.

fori'e Durante as cerimônias pré-nupciais omacho adeja diante da fêmea (pousada), entreabrindoe fechando a cauda, "tesourand o" com as retrizesalongadas ou ainda expandindo a cauda em leque;com o eriçar e o acamar das penas a placa gular pas-sa do verde para o dourado cintilante ou para o ne-gro opaco, como uma luz que acendesse e apagasse.

. Habita a mata ribeirinha, freqüentemente nas copas.Ocorre na Venezuela, Guianas ao leste do Equador,

. Roraima, Amapá, Maranhãc e Belém (Pará), ondeoutror> fora comum não só nos arredores como tam-bém em matas remanescentes encravadas na cidade;mais abundante ainda na região limítrofe do Brasilcom a Venezuela e Guianas. "Topázio-vermelho*". V.a seguinte. >

TOPÁZIO-DE-FOGO*,

[16cm] Semelhante à anterior tendo contudo as se-cundárias internas negras e as retrizes laterais violeta-anegradas e não cor de canela; ocorre do alto rio negro(Amazonas) à Venezuela, Colômbiae Equador.

BEIJA-FLOR-DE-GRAVATA-VERMELHA,

En.'?i:

9cm. Representante singular do centro dá:Bahia; fron-te' e placagular verde cintilante sendo esta última

I .realçada posteriormente por negro, gravp.tinha verme-lha, faixa peitoral branca, cauda vermelho-cobre; quasenão há dimorfismosexual. "jrreb, jrreb, jrreb" e umcanto chiado intercalado de trinados e 'estalidos metáli-cos. Habita regiões pedregosas -semiárídas dos cumesde serras e chapadas entre 9S0 e 1600m (topograficamen-

.te comparáveis aos tepuis da Ven~zuela), carrasquentase ricas em cactáceas, bromeliáceas, veloziáceas, orquí-deas, etc. Restrito à Bahia, entre Morro do Chapéu,"Andaraí e Barra da Estiva (Chapada Diamantina, Serrade Sincorá, etc.) onde não é raro, vivendo ao lado de

e v. também oemberizíneo

Descrito já em 1838 admitiu-se posteriormente a pos-sibilidade que se tivesse extinguido, uma vez que falta-vam indicações precisas de sua procedência (na litera-tura constava apenas "Brasil, provavelmente Bahia")pois, a sua área de ocorrência era limitada e situada emregião de difícil acesso antes da existência de estradasmelhores e de automóveis. Sua redescoberta, feita em1928 por E. Kaempfer, tomou-se pública apenas em 1959quando A. Ruschi, baseado no material de Kaempfer,depositado no Museu de Nova Iorque, anunciou-a. "Bei-ja-flor-da-Serra-Pelada". V a seguinte.

BBIJA-FLOR-DE-GRAVATA-VERDE,

En Pr. 45, 1

8cm. Substituto meridional da anterior à qual asse-melha-se tendo porém a "gravata" verde, faixa peitoralrosada, barriga azul e a cauda verde; a fêmea de faixapeitoral esbranquiçada, barriga cinza-azulada e rétrlzesexternas de ponta acinzentada. Na Serra do Çaraça (Mi-nas Gerais) apresenta-se em duas raças ecológicas dis-tintas, uma na região rochosa de vegetação baixa (até os2,1JOOm;. e outra na zona das matasciliares (de 1.000 a 1.200m; . de porteinferior, barriga roxa em vez de azul e partes superioresverde-azuladas em vez de verde-bronzínea; parece tra-tar-se de uma raça ecológica local, geneticamente fixa-da (Grantsau 1967). Vimos. sugar flo-res de Compositae como u (Caraça,junho, julho) e l Verbenaceae (Cipó,fevereiro). O macho persegue a fêmea em seguida, cor-

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464. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

tejando-a librando, projetando a placa gutural para di-ante, eriçando a plumagem nucal, abrindo a cauda emleque e gritando sem parar. Hábitat semelhante ao do-anterior com o qual compõe uma superespécie. Ocorrena Serra do Espinhaço, Minas Gerais, de Montes Claros,Crão-Mogol e Diamantina à Serra do Cipó, Belo Hori-zonte, Ouro Preto e Conselheiro Lafaiete.

BEIJA-F'LOR-DE-BOCHECHA-AZUL,

Pr. 20,3

I2,5cm. Espécie grande de cauda cuneiforme brancacom as centrais negras, bico preto e reto; a fêmea e ima-turo de cauda mais longa, sem a mancha azul pós-auricular e com máculas pardo-esverdeadas na gargan-ta e peito; distende e fecha a cauda rapidamente à feiçãode o que causa vivo efeito dado ao con-traste alvinegro das retrizes. Habita a mata, mais as co-pas, não é comum. Ocorre de Pernambuco a Santa Cata-rina, Tocantins, Mato Grosso e Bolívia; também no Ma-ranhão e Pará, Amazonas até as Cuianas e Colômbia."Beija-flor-fada*".

CHIFRE-DE-OURO,

Ucm. Espécie sayanícola bem delicada, rabilonga einconfundível pelo topete bipartido em dois cornos ver-melhos-dourados; o vértice azul-esverdeado, partes in-feriores brancas, garganta negra; a cauda, fortementegraduada e de formato lanceolado, é branca com as cen-trais verdes de pontas negras. Fêmea sem chifres, gar-ganta parda e cauda um pouco mais curta. Uma das es-pécies menores e mais velozes, sendo dotada de asasmuito longas. cerimônias: um chilrear muito agu- -do lembrando o guinchar de um camundongo. Duranteas núpcias, com a cauda aberta em leque, erguendo ebaixando os "chifres" cintilantes e eriçando a "gravata"preta, o macho contorna a fêmea que permanece pousa-da. Típico das savanas arborizadas do interior, cerrado,caatinga, regiões serranas e chapadas com vegetaçãobaixa. Ocorre no Nordeste (Maranhão a Alagoas), leste(Bahia, Minas Gerais e São Paulo) e Brasil central atéRondônía, Acre e Bolívia; também nas savanas doSuriname e do Amapá (v, Introdução),r.~'

BICO-RETO-CINZENTO,

10,5cm. De aspecto muito característico pelo bicolongo e reto, semelhante às duas seguintes mas de cau-da quase retangular; garganta vermelha como a das duasespécies abaixo (mudando de um instante ao outro averde-escuro enquanto o alto da cabeça permanece ver-de), mas de peito e flancos cinzentos, linha malar, man-cha pós-ocular, duas faixas longitudinais dorsais e pe-nas no baixo dorso brancas. A fêmea de garganta negra

com bordas brancas. "tlin-tlin-tlin". Habita o cerra-do, campos de cultura e capões; às vezes ao lado de __

p. ex., em um mesmo ipê-roxo (MatoGrosso). Ocorre do México ao norte da América do Sule, através da Amazônia, até a Bolívia, Acre, Mato Gros-so, Goiás, Distrito Federal, São Paulo, Paraná, Maranhão.

BICO-RETO-DE-BANDA-BRANCA,

En Pr. 21, 10

U,2cm. De aspecto semelhante ao do anterior; mascom a cauda pljofundamente bifurcada à semelhança daadiante descrita. Além do vermelho cintilante da gar-gantà- e dos tufos laterais' do pescoço distingue-se pelaestria longi~ciinal-branca que divide-as partes inferio-res verdes; atravrs de uma lf1.U~após-nupcial a gargan-ta torna-se cinzenta (v. Morfologia). Fêmea de partes in-feriores cinzentas, gargarita manchada de, rubro e de

, negro, retrizes laterais de ponta branca. Res'trita ao Bra-sil oriental. Ocorre do Maranhão a São Paulo e Goiás;localmente comum, p. ex., na Serra da Mantiqueira .."Bico-reto-verde*".

BICO-RETO-AZUL,

I2cm. Como os dois anteriores, de garganta verme-lha tendo porém os tufos laterais da cabeça azuis comoas partes inferiores; a ave parece quase preta sob certascondições de luz. Após a reprodução torna-se semelhanteà fêmea (v. Morfologia) que possui as partes inferioresbrancas. o macho voa escalonadamente di-éI!lteda fêmea, como se subisse e descesse os degraus deuma escada invisível; o macho mantém o corpo em po-sição vertical e projeta os leques do pesçoço eriçadamen-te para a frente. Habita o cerrado, mata rala. Ocorre daColômbia à Bolívia, Argentina e Uruguai; Brasil centrale meridional (de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais aoRio Grande do Sul).

ESTRELINHA, TESOURINHA,

Pr. 20, 7

B,6cm (macho) - 7,5cm (fêmea); peso 2,5g. Uma dasmenores espécies. O macho adulto durante a quadra re-produtiva é inconfundível pela cauda profundamentebífurcada e pela grande e cintilante placa vermelho-ro-sada ametistina que cobre a garganta; a fêmea de caudacurta não bifurcada e de ponta branca. Ao contrário de

(que tem tamanho semelhante), sem cintauropigiana branca tendo contudo no baixo flaríco umamácula da mesma cor que se destaca em vôo; uma curtafaixa pós-ocular e barriga brancas, lados castanhos an-teriormente realçados por uma área branca, gargantamanchada (fêmea). Sobre uma plumagem de "eclipse"v. Morfologia; nesta fase o macho adulto distingue-sedo imaturo pela cauda mais longa.

I ...."

Page 216: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-02

TROCHILlDAE 465

Chama a atenção pelo estranho zumbido que pro-

duz devido a suas habilidades é mais calmo que as

outras espécies e descreve menos ziguezagues; é mes-

tre de vôos ascendentes eà ré. Balança, entreabre efecha a cauda sem parar quando estaca diante de urna

flor. ce ô o macho na corte da fêmea apro-

xima-se muito lentamente executando o máximo de

vibrações com as asas; em um vaivém progressiva-

mente acelerado, afasta-se de ré logo retornando

emitindo, a cada mudança de sentido, um estalido

i c( ej t é g G l)

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forte que soa corno um estalido de chicote. Às vezes

a fêmea reage alçando vôo do poleiro e fugindo para

trás, sempre olhando o macho. Habita a beira de mata,

caatinga, quintais; encontrado freqüentemente na

copa das árvores. Ocorre das Guianas e VenezuelaàBolívia, Paraguai e Argentina; em te.do o Brasil, não

sendo raro nem no Nordeste nem no Sudeste e Sul.

. "Beija-flor-mosca" (Rio Grande do Sul), "Besourinho-

ametista", "Besouro-zumbidor", "Estrelinha-

ametista *".

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..

,.

;~

b'1,í

1: ,

Page 218: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-02

ORDEM TROGONIFORMES

,...., SURUCUÁS: FAMÍLIA TROGONIDAE (9)

Pequeno grupo de plumagem esplêndida, digna desimbolizar a exuberância dos trópicos. Muito bem re-presentados no neotrópico (sobretudo na América Cen-tral), ocorrendo igualmente na África e na região orien-tal, mas em número mais reduzido. De aparência singu-lar e relações filogenéticas obscuras. Foi proposto incluir

por razões morfológicas (estrutura do ouvidointerno) junto aos Coraciiformes. Fósseis do TerciárioInferior (Eo-oligoceno) da França e do Pleistoceno doBrasil (Lapa da Lagoa do Sumidouro, Minas Gerais,20.000 anos). V. sob Picidae ..

O mais citado de todos os trogonídeos é o quetzaluma das aves mais rabilongas

da Terra; ave sagrada dos maias e aztecas, figura atual-mente no brasão da Guatemala; não ocorre no Brasil,onde todas as espécies desta família são bem conheci-das corno surucuás.

A- B

3

4

cFig.170.Pé de três espécies de aves que têm doisdedos posteriores, visto da sola:, Sucuruá, gon

s (1 e2); , tucano, ellinus (1 e4);C,Papagaio, o (1e 4) (seg.Bõker1935).

De tamanho médio, os menores e .co têm apenas o tamanho de um sabiá. Bico forte ecurto, alargado na base e serrilhado nos tômios (excetoem c em torno do qual há cerdas (vibrissas)o que recorda outras aves com? bacuraus; pescoço cur-

to, olhos grandes e escuros, pálpebras, em vários casos,vivamente coloridas (caráter específico, podendo dife-rir, até certo ponto, entre o macho, a fêmea e o imaturo)

e providas de p~stanas. . I.,

. Asas convexas fortemente curvadas .2.'evldoa formatortuosa dasrêrníges, em urna adaptação ao voar dentrea frondosa floresta tropical na medida em que possibili-ta subidas e descidas verticais repentinas além de cur-vas fechadas. Quando descansam muitas vezes colocam.a ponta das asas "sob a cauda,que'é longa, retangular efortemente graduada, sendo manfida verticalmente pen-dente, e freqüentemente inclinada para a frente, enquan-to a ave repousa.

O caráter anatômico mais notável dos Trogonidae,único em toda a classe, é a estrutura dos pés (fig.170),que têm dois dedos para frente e dois para trás à feiçãodos pica-paus; contudo os dianteiros são o terceiro equarto dedos (em vez de segundo e terceiro) e os trasei-ros o primeiro e o segundo (em vez de primeiro e quar-to), formando um pé "heterodáctilo" ("conformação di-ferente dos dedos"); as pernas curtas e os pés pequenos,fracos e de sola larga lembrando o dos bacuraus, sãopróprios para pousar tranqüilamente não prestando parapular ou saltar. O esqueleto é frágil sendo a caixa crani-ana surpreendentemente fina.

A pele é delgadíssima como papel de seda, a pluma-gem é cheia e quebradiça desprendendo-se ao menortoque tal como a dos bacuraus; o colorido vivo das pe-nas ventrais (vermelho ou amarelo) desbota-se rapida-mente na ave morta, mesmo quando guardada em ga-vetas fechadas, tornando-se branca caso a peçaempalhada fique exposta à luz do dia. O pigmento ver-melho (zooeritrina) encontrado no quetzal é ocarotenóide cantaxantina, lipocromo semelhante ao doguará, colhereiro e flamingo. Nota-se em cativeiro queo aparecimento do vermelho depende da alimentação.-:assim um representante de barriga amarela (p. ex.ogon

pode criar a tonalidade vermelha nas partes in-feriores se ingere carotenóides em abundância. Há ge-ralmente dimorfismo sexual acentuado.

Os jovens assemelham-se às respectivas mães; os de, e . têm sua-pluma-

gem parda ao passo que nas espécies em que a fêmea écinzenta (corno os filhotes são cinzentos; o sexodo filhote pode ser reconhecido pelo colorido da cauda

. o colorido definitivo da pálpebra e do bicocompleta-se com meio ano de idade.

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468 . ORNITOLOGIA BRASILEIRA

A carne fresca e as vísceras dos surucuás exalam umforte cheiro típico ..

fdo timbre de uma perua (daí o nome "perua-cho-ca" dada a ventríloquo, emite uma se-qüência de pios monótonos, repetidos com mais insis-tência na época reprodutiva (até mesmo nas noitesenluaradas apesar de serem aves bem diurnas). Cantamàs vezes a meia voz; a vocalização da fêmea assemelha-se à do macho, sendo porém menos ressonante. Respon-dem-se mutuamente no começo da reprodução; há gri-tos de advertência e uma voz peculiar dos ninhegos (queé diferente do crocitar que emitem quando recebem co-mida) que consiste em seqüência ascendente e acelera- .da semelhante ao canto, repetida persistentementeà cur-tos intervalos (p. ex. e . v. tam-bém A vocalização de duas espéciessintópicas pode ser muito semelhante, como a de

e . em São Paulo. Há a tendênciade cantarem em todos os meses.

Voando através da folhagem e peneirando, apanhamgrandes lagartas (inclusive as "peludas") e artrópodesmaiores como cigarras, besouros e aranhas, capturamtambém insetos pequenos (p. ex. formigas); caçam àmaneira dos papa-moscas saindo de um galho e a eleregressando em um raio de poucos metros. Aproveitam-se ocasionalmente da atuação das formigas-de-correição

Comem 'frutas (bagas, coquinhos, frutosde imbaúba, etc.) que colhem voando e abrindo larga-mente a cauda ao frenar; achamos folhas no estômagode T. Cospem os caroços ingeridos.

A posição do corpo é ereta. Vivem solitários ou aoscasais. De índole muito calma, quando irritados movi-mentam a cauda para frente e para cima. O vôo a dis-tâncias curtas é ligeiro ehábil: a distânciaslongas (p. ex.quando atravessam um vale) é ondulado. V. tambémMorfologia.

O macho, diante da fêmea, abre a cauda em lequeexpondo o padrão típico das retrizes. Fazem seus ninhosem cupinzeiros arborícolas abandonados (fig. 171) e tam-bém em velhos vespeiros, em árvores mortas em decom-posição e em grossos troncos de xaximRio Grande do Sul).

gon e roem um túnel ascenden-te que conduz a uma câmara incubadora central em re-

lação ao cupinzeiro; e . s fazem ni-nho menos elaborado. A pálpebra vivamente coloridabrilha como se fosse fosforescente na escuridão do oco.

!~, '..'

Fig. 171.Ninho do surucuá, s,roído pela.própria ave num cupinzeiro arborícola.[atiboca, Espírito Santo. Original, H. Sick.

Põem de dois a quatro ovos brancos, amarelados ouazulados sem desenho; sujam-se durante o choco, poisa câmara incubatória nem mesmo é acolchoada; constaum período de incubação de 18 dias ou um pouco maisno caso dos a fêmea choca de tarde e denoite e o macho de manhã. Os pais revezam-se na cevada prole que, nosT. consiste quase que inteira-mente de insetos, que podem ser de grande porte, amas-osados no bico dos pais.

As fezes dos ninhegos permanecem dentro do ninhomolhando o fundo da cavidade, apesar da porosidadeda massa preparada pelos cupins, exalando um cheirorepugnante de carne podre que atrai moscas cujas lar-vas ali desenvolvem-se em profusão. Os componentesde urna ninhada podem ser bem diferentes em tamanhocaso esta seja de quatro ninhegos pequenos; pareceque os pais começam a chocar a partir do primeiroovo (T Os filhotes. abandonam o ninhocom 14-15 dias de vida(T. . Parece que há maismachos que fêmeas.

São florestais, certas espécies vivem em matas ralase secas e também em taquarais; aparecem na beira dosbosques e chegam mesmo a voar para árvores iSoladasna vizinhança da mata.

Em regiões mais setentrionais do Brasil podem ocor-rer várias espécies na mesma área; no Rio Grande doSul ocorrem duas e c

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TROGONIDAE 469

na Serra dos Órgãos (Rio de Janeiro) são registra das trêse todas de barriga

amarela; no alto rio Xingu (Mato Grosso) encontramosquatro eao redor da Serra do Cachimbo pelo menos cinco(T.

, rufus, e eum pouco mais ao norte, no alto rio Cururu, este totalsobe para sete com a inclusão de e

paooninus; na área de Belém (Pará) são re-gistradas cinco espéciesrufus, e s). Naturalmente, cada espé-cie ocupa seu nicho ecológico próprio, o qual é defini-do, p. ex., pelo estrato, altura e densidade da floresta.

A existência de uma raça geográfica de ventre ama-relo e outra de ventre vermelho em relação aossurrucura no Brasil oriental é particularmente interes-sante pois prova ter havido na região, temporariamen-te, uma completa interrupção do hábitat destes surucuás,permitindo que se desenvolvessem duas formastão di-ferentes nos respectivos refúgios; posteriormente ambasas raças voltaram a entrar em contato na altura do Riode Janeiro. Os habitantes de regiões meridionais são mi-gratórios, invadindo, durante o inverno austral, os do-mínios das populações setentrionais adjacentes que aliresidem (T.

...

declínio

Em seu meio natural são relativamente comuns e po-dem ser observados facilmente; sua luxuriantepolicromia não os protege e sim evidencia-os, tornan-do-os alvos fáceis para seus inimigos, embora tenha seusignificado no terreno da reprodução contribuído paraa conquista-de uma companheira e para repelir machosde sua espécie.

São muito confiados, o que se torna fatal com aaparição do homem em cena, pois podem ser abati-dos mesmo com uma chibatada. São perseguidos pelasua carne, estando assim entre as primeiras aves adesaparecer nas áreas pressionadas pela civilização.Foram totalmente extintos, p. ex., nos arredores dacidade do Rio de Janeiro.

-

ô

Grupo de aparência muito homogênea. Além do co-lorido do ventre e do -desenho da face inferior da caudasão caracteres distintivos o colorido das pálpebras, aexistência ou ausência de algumas penas brancas adja-centes ao olho, o desenho das coberteiras superiores daasa (se são ou não vermiculadas) e o colorido do alto dacabeça (se é idêntico ou não àquele das costas).É sobre-maneira importante observarmos a face inferior da cau-da. Para isso temos que procurar um ângulo favorável;a presença da fêmea auxilia a diagnose, pois a mesma éparda apenas nos e rufus.

1 - De barriga amarela ou alaranjada1.1 - Cauda (lado inferior) negra com desenho

transversal branco: (fêmea e imatu-ro, Pr. 22), rufus (macho e fêmea) e(macho e fêmea).

1.2 - Cauda negra com desenho longitudinal bran-co: (macho, Pr. 22),

(macho e fêmea, v. figo172).2 - De barriga vermelha

2.1- Cauda negra uniforme: (Pr. 22)e (macho e fêmea adultos).

2.2 - Cauda n!'!gracom desenho transversal branco:. (macho efêmea, Pr. 22), .- .(macho efêmea), c (macho e fêmea),

(imaturo) e (imaturo).2.3 --'-Cauda negra com desenho branco longitudi-

nal: i (macho e fêmea,figo172). .; <.

3 - Lado superior das retrizes centrais \3.1- Esverdeadof azulado com tarja apical negra:

machos de todas as espécies.3.2 - Anegrado com tarja apical negra pouco dis-

tinta: fêmeas, exceto e rujus que temo lado superior das retrizes marrom com tarjaapical negra.

SURUCUÁ-AÇU,

Pr. 22, 2

34cm; 158g (macho). Representante amazônico domesmo gênero que o quetzal, cuja fêmea lhe assemelha(v. Introdução). Ao contrário de seu congênere centro-americano, o prolongamento das coberteiras superioresda cauda é apenas esboçado, com as penas em questãoapenas igualando-se ou ultrapassando um pouco a pontadas retrizes; as coberteiras superiores das asas são igual-mente alongadas; bico amarelo de base vermelha. A fê-mea parecida com o macho sendo porém menos brilhan-te, de cabeça pardacenta, ponta das retrizes externascom faixas transversais esbranquiçadas; bico preto debase vermelha. Imaturo com o vexilo externo dasrêmíges pardo-amarelado e bico negro. seqüênciade cinco pios melodiosos, "üüo-üo-iio-iio" (canto), trê-mulo descendente (advertência,J. S. Weske, Peru) ..f-Ia-bita o interior da mata alta. Ocorre no alto Amazonas,da margem direita doTapajós e alto rio Negro à Bolívia,Peru e Venezuela. "Surucuá-pavão*". V a seguinte.

SURUCUÁ-DE-CAUDA-PRETA,

31,5cm. De barriga vermelha e cauda uniformemen-te negra em ambos os sexos, como na anterior, tendoporém face, garganta e asas negras, sendo estas últimasvermiculadas de branco; uma cinta branca através dopeito, pálpebras vermelhas, bico amarelo (fêmea ape-nas com a mandíbula amarela). Imaturo de partes supe-

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ORNITOLOGIA BRASILEIRA

riores cinza-escuras (e não verdes como as do adulto) e.vexilo externo das três retrizes mais externas com finodesenho esbranquiçado transversal; pálpebra negra,atrás do olho uma mancha branca. monótono"wáu ..."; "quá-qua" (alarma, bem típico). Habita a beirade mata, mata de galeria; às vezes ao lado da anterior ede gon Ocorre do Panamá à Bolívia; toda aAmazônia brasileira incluindo norte de Mato Grosso eMaranhão. "Surucuá-tatá".

SURUCUÁ-GRANDE-DE-BARRIGA-AMARELA,

Pr. 22, 1

30cm; 93g (macho). De vasta distribuição. O machoparecido c0n:t o (que é me-nor), mas de pálpebra azul-clara; retrizes externas comfaixas longitudinais apicalmente alargadas; coberteirassuperiores das asas sem estriação transversal branca (noque difere deT. A fêmea e imaturo cinzentos

.com as asas vermiculadas de esbranquiçado e as retri-zes externas com faixas transversais brancas. se-qüência de fortes "kjau ...", o último tom mais baixo.Habita a mata úmida ou seca, tanto nas baixadas comonas montanhas; na Serra do Mar (Rio de Janeiro) às vezesao lado de e de rufus (também de barri-ga amarela). Ocorre do Panamá à Bolívia, Brasil amazôni-co e oriental para o sul até o litoral norte de Santa Catari-na. "Curuxuá", "Capitão-do-mato", "Urukuá" (Kamaiurá,Mato Grosso). "Surucuá-de-barriga-dourada*".

SURUCUÁ-DE-COLElRA, Pr. 22, 3

22,Scrn. Espécie bem pequena, de barriga vermelhae pálpebras sem contraste. A fêmea com distinta máculabranca pós-ocular, retrizes centrais de cor ferrugínea. Re-presentante restrito às matas costeiras do Brasil oriental

ogon tem a cinta peitoral e as faixas dasretrizes brancas mais estreitas. seqüência de"üô ... ",

esta estrofe (canto) começa com uma nota diatônica;"prrn:r" melodioso e ascendente (advertência). Habitaa mata, às vezes ao lado de e .Ocorre do México à Bolívia e Brasil, localmente até MatoGrosso e Rio de Janeiro.V também i (ma-cho) eT. rufus (fêmea).

SURUCUÁ-MASCARADO*,

22,Scm. Semelhante ao anterior; a fêmea de fronte ecoberteiras superiores das asas pretas; ocorre do norte daAmérica do Sul a Roraima (região dos Tepuis) e Bolívia.

SURUCUÁ-DE-BARRIGA-AMARELA, rufus

26cm. Vasta mente distribuído; o macho de partes su-periores verde-cobre como o peito, pálpebra azul-clara,

asas e cauda transfasciadas de preto e branco, retrizescentrais (lado superior) no macho verdes (na fêmea par-das) com larga tarja terminal negra; barriga amarela, bicoamarelo-esverdeado; a fêmea parda, semelhante à deT.

mas de barriga amarelo-clara e de pálpebraplúmbeo-cinzenta clara; o imaturo semelhanteà fêmeaIrias decoberteiras superiores das asas com nódoas es-branquiçadas ligadas e pés rosados (em vez de pretos).

seqüência vagarosa,"ü-õ ... " mais fraca do que a de. , crescendo ligeiramente, total de 5éÍ 6 notas e

uma nota dia tônica; seu canto, mais altodo que o daespécie adiante 1esCrita, pode ser facilmente imitado.Habita-a mata, não raro nas montanhas dó Sudeste, aolado de e i~, na Amazônia ao ladode . Ocorre das Honduras.à Amazônia eMato Grosso, de Alagoas e do-sul da Bahia ao Rio Gran-de do Sul, paragu4i e Misior:es. '

"0

SURUCUÃ:-DE-PEITO-AZUL,

Fig.l72

26cm. Representante meridional; ocorrem duas ra-ças de colorido ventral distinto, uma de barriga laranja

auraniius; da Bahia ao Rio de Janeiro eleste de Minas Gerais) e outra de barriga vermelha(T.surrucura do Rio de Janeiro e Minas Gerais aoRio Grande do Sul, Goiás, sul do Mato Grosso, Para-guai e nordeste da Argentina). Ambas de cabeça e peitoazuis, pálpebras amarelas (ou laranja em representan-tes de barriga vermelha), costas verdes brilhantes, asassalpicadas de branco, lado inferior das retrizes externascom extenso desenho branco longitudinal e apical. Afêmea e imaturo cinzentos com uma maculazinha pós eante-ocular e vermículados de branco na asa; a cauda

-

Fig. 172.Surucuá-variado,Trogon s.SurrUCUTa, macho;o lado inferior da cauda aparece quase todo branco.

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TROGONIDAE 471

com pouco desenho branco longitudinal. Os filhotesmachos distinguem-se já pequenos por uma larga tarjanegra brilhante nas retrizes centrais, o que faltaà fêmea.

seqüência ascendente de, p. ex., 14 a 17diu ... ou... cheios, sendo a última sílaba mais baixa lem-

brando T. "kiarrr" (advertência);kwo". Habita a mata, cerradão; ambas as formas em re-giões montanhosas do Sudeste do Brasil (Itatiaia, Rio deJaneiro) no inverno. Há uma área de transição entreambas no Rio de Janeiro (p. ex. Nova Friburgo); às ve-zes ao lado de e . -u -d , V. e o seguinte.

SURUCUÁ-DE-BARRIGA-VERMELHA,

25cm. O macho semelhante ao deogon di-ferindo pela pálpebra amarela e alto da cabeça azul (enão verde); a fêmea de partes superiores e pescoço ante-rior cinzentos, com duas manchinhas brancas, uma póse outra pré-ocular, cauda com faixas transversaisalvinegras. lembra a de T. em um imaturo

og gl bé g Ge l)

Hardy, J. w., G. B. Reynard & B. B. Coffey, Jr.1987. oices the nCuc oos nd ns.Gainesville: ARA Records."

Pinto, O. M. O. 1950. po ls. ool. S. o 9:89-136. (classificação)Skutch, A.F. 1956. 73:354-66. (hábitos)

que já voava perfeitamente, registramos uma seqüênciamelodiosa terminada por uma nota baixa, vocalizaçãodiversa daquela do adulto (rio das Mortes, Mato Gros-so). Ocorre da Colômbiaà Bolívia, Paraguai e Argenti-na. Brasil amazônico, central e Nordeste (MaranhãoàBahia). "Peito-de-moça" (Pantanal de Mato Grosso),"Perua-choca", "Dorminhoco" (Ceará). "Surucuá-de-co-

. roa-azul*". V. T.

SURUCUÁ-:MIUDINHO, é

22cm. Representante amazônico ainda menor queTcoIl is de.barnga amarela. O macho de/abeça e peitoazuis, costas verdes, cauda com faixas transversais alvi-negras e pálpebra amarela: a fêmea e imaturo semelhan-tes à fêmea de . u s mas de cauda lis-trada transversalmente. lembra a de

e us, sendo mais fi'áca.Habita a beira de mata.Ocorre do Méxicoà Bolívia, Amazônia brasileira inclu-indo Mato Grosso (Tapirapoã) e~Maranhão. "Surucuá-pequeno*".

5kutch,A. F.1959. ilson . 71:5-18. (hábitos)

Willis, E. O., D. Weschler& S. Kistler. 1982. . . io! 42 -66( ogon rufus, seguidor de forrnigas-de-correição)"

Zimmer, J.T. 1948. . us. no. 1380. (taxonornia}"

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ORDEM CORACIIFORMES38

MA~TINS-PESCADORES: FAMíUA ALCEDINIDAE (5)

Grupo cosmopolita de origem oriental; a maioriadas espécies ocorre em zonas tropicais e subtropicais,escassamente representada no Novo Mundo onde vãoda Terra do Fogo ao Alasca. Há fósseis do TerciárioInferior da América do Norte e da Europa e doPleistoceno no Brasil (Lapa da Escrivaninha; MinasGerais, 20.000 anos).

Foi proposto erigir uma ordem Alcediniformes, ca-racterizada pela estrutura peculiar do ouvido interno(Feduccia 1977). Esta ordem seria composta porAlcedinidae, Momotidae, Todidae e Trogonidae.

No sul do Brasil são chamados de "marfim-pesca-dor", "pica-peixe", ou "flecha-peixe; na Amazônia,"ariramba": v. também "arirarnba-da-rnata-vírgem"(Galbulidae).

Ao contrário das espécies do Velho Mundo, as neo-tropicais são de aparência bastante homogênea, mas detamanho muito diverso; o anão do grupo,

de apenas 13g, é mais de vinte vezes menor que orepresentante de maior porte , que che-ga a 320g). Todos os Alcedinidae possuem o bico pro-porcionalmente muito grande, sendo capazes de rege-nerar grandes perdas na ranfoteca. A língua é curta, aocontrário dos Picidae, aos quais se parecem um poucopela forma da cabeça; de pescoço curto.

As asas parecem curtas mas o braço é relativamentelongo, sendo encurtadas apenas as mãos e as primá-rias, no que difere de outras aves que se precipitam àágua para pescar (p. ex. os atobás); aparentemente movi-mentarn as asas sob a água remando ou utilizando-ascomo leme. A cauda é de tamanho médio. Os pés sãopequenos, impróprios para nadar, e de sindactiliaavançada (todos os três dedos anteriores estão uni-dos basalmente, sendo que o 3° e 4° até a porção me-diana, v. figo 137).

A plumagem é densa e lisa, bem justa no corpo emadaptação à vida aquática. Há dimorfismo sexual, já es-boçado nos filhotes que abandonam o ninho

A chamada e o alarme são semelhantes a estalos, po-dendo culmi~ar em um m~traquea7 estridente.

e C. . (ambos os sexos)emitem uma estrofe quase melodiosa que correspondea um canto. .

\

-

Pousam em um ramo isolado pendente sobre a água,em estacas ou em fios de arame, com as penas nucaisarrepiadas, asas descaídas e movendo a cauda ligeira-mente para cima e para baixo chegando, às vezes, a levá-Ia até a vertical. Observam de seu posto a vida aquática,dirigindo o bico verticalmente para baixo; precipitam- .se sobre peixes, besouros-d'água e larvas de insetos quebóiem ou se aproximem da flor d'água. Apanham a pre-sa com o bico conforme fazem os atobás e trinta-réis;nem sempre acertam seus botes. Cálculos sobre o su-cesso dos mergulhos de martins-pescadores do VelhoMundo deram p. ex. 36% a 53%. Também pescam pai-rando em pleno vôo,à maneira dos trinta-réis, e dei-xando-se às vezes cair obliquamente na água de asasapertadas ao corpo, a alturas de mais de dez metros

Quando alcançaa presa por baixo d'água, abre as asas para frear a pro-pulsão, apanha o animal e volta à flor d'água remandocom as asas.

A focalização da presa sob a água (dificultada pelofenômeno da refração) deve ser facilitada pela existên-cia de duas fóveas, uma central e outra lateral, que pos-sibilitam tanto uma visão monocular como binocular,adaptação anatômica existente tanto nos andorinhõescomo nas andorinhas, gaviões e trinta-réis.aves que ca-çam em vôos rápidos. Tal modalidade de pescaria é di-ficultada ou impossibilitada em águas turvas após edurante as chuvas ou em águas onduladas e encrespa-das, razão pela qual os Alcedinidae se tornam entãoinsetívoros (até certo grau) ou emigram (v. abaixo). Amembrana nictitante, uma pele fina transparente, pro-tege o bulbo ocular durante os mergulhos.

" ,

38 Aordem Coraciiformesémuito heterogênea.Afora as famíliasaqui arroladas para o Brasil,abarcaos calaos (Bucerotidae)eospoupas (Upupidae) do hemisfériooriental.

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ALCEDINIDAE 473

Em suas pescarias as garças que andam na água rasa,às vezes lhes servem de "batedores". Observamos, nailha Grande (Rio de Janeiro), que um martim-pescadoratraiu peixinhos deixando cair na água suas fezes; tam-bém observamos que pousam às vezes nas praias(Cnio onde apanham caranguejos pu-lando; quando apanham uma presa maior, batem-na deencontro ao poleiro para matá-Ia; desta maneira, que-bram também o esqueleto, as nadadeiras e eventuaisacúleos dos peixes, os quais engolem pela cabeça.

Foi observado em duas ocasiões que umcapturou um beija-flor,

(M.A. Andrade). Um trouxe para o seufilhote um batráquio (L.P. Gonzaga). Cospem pequenaspelotas friáveis que contêm espinhos, escamas e frag-mentos de qui tina.

Numerosas espécies do Velho Mundo, tidas comoas mais primitivas da família, vivem na mata, alimen-tando-se de artrópodes terrestres, insetos, crustáceos,etc. Os costumes piscívoros são considerados como umaespecialização que evoluiu independentemente emvários grupos de alcedinídeos, em vários pontos domundo.

As espécies pequenas voam rapidamente, rente à su-perfície d'água; e voa freqüentementemais alto e chega a sobrevoar até cidadescomo o Rio de Janeiro. Tomam banho precipitando-sesuperficialmente à água.

Vivem aos casais, nidificando em barrancos. Por fal-ta de barrancos pode ocorrer uma concentração de ni-nhos de e , como vimos perto deOriximiná,rio Trombetas, Pará. Aproveitam-se igualmente dos ta-ludes de aterros para ferrovias (p. ex. da ICOMI, noAmapá). Encontramos e e e c nidifican-:do em um grande cupinzeiro terrícola (de altura e cir-cunferência acima do solo, de 2,5 m), distante 20 m dorio Sapão (noroeste da Bahia); mais de 20 buracos domesmo tamanho, porém de acabamento diverso, espa-lhavam-se sobre sua superfície (de preferência com a facevoltada para o rio), denunciando provavelmente um tra-balho de anos. Após escavar seu ninho as aves mostramo bico bastante gasto, defeito logo depois recuperado .. -

Na lide de escavar, os dedos dianteiros, unidos nabase, prestam o serviço de uma pá; o casal se reveza naexecução de longas galerias tortuosas, de um a doismetros de comprimento, que se abrem em um alarga-mento onde são postos de dois a quatro ovos, arredon-dados e de um branco puro, diretamente no substrato.Consta que as fêmeas de e deChlo oc e n chocam à noite, enquanto que, ocasal divide tal tarefa de dia; emC le i ambosos sexos revezam-se a cada vinte e quatro horas. O tem-po de incubação, apurado para ~. na Costa Rica,

é de 22 dias; o eclodir de um indivíduo pode prolongar-se por um ou dois dias (C. Nascem nus ecegos, sendo particularmente estranhos (fig. 173), pois,sua mandíbula projeta-se bem além da ponta da maxila,(prógnato), como ocorre com ninhegos de Piciformes;esta diferença desaparece dentro de aproximadamenteonze dias pelo crescimento mais rápido da maxila (C.

Os filhotes possuem no tarso, um "calo" parase apoiarem no fundo duro (terra, detritos) sobre o qualrepousam, lembrando o que se dá em bicos-de-agulha epica-paus. ,(

Alcedinidae piscívoros alimentam seus: filhotes pe-quenos com peixes miúdos; o interior do ninho em pou-cq tempo fica atapetado de restos de comida, pois, nadaé feitoem pro] pa limpeza: apesar disto-os filhotes con-servam-se liIÍlpos(.à exceção do bicoe patas. Abando-nam o ninho cor!! 29-30 dias ce le ouaté mesmo 35 dÍéls ou .s.( e ). .

Alcedinidae africar:os ';ivem em grupos <;lueajudam. o casal que reproduz, trazendo aljmentação para a p~o-le que, em boa parte, morreria sem essa colaboração.

[Como Chl /e en não necessariamente faz seuninho nas proximidade d'água (Hilty& Brown 1986),pode eventualmente ser encontrado pousado próximoao chão da mata, investigando os arredores, p. ex.: Faz.União, norte do Rio de Janeiro (J. F. Pacheco).]

A BFig. 173.Filhotes de Coraciiformes com um dia devida; E t ili is, um udu centro-americano, de bico adunco;B, Ce ummarfim-pescador, de mandíbula proeminente (seg.Skutch1947).

A notável variação de tamanho dentre as cinco espé--oies brasileiras sugere uma separação trófica mais oumenos acentuada, devendo notar-se, igualmente, parti-cularidades ecológicas. Assim, ambas as espécies gran-des (C t e Ch habitam àbeira de maiores volumes d'água, onde pescam aberta-mente (o primeiro ocorre também na orla marinha); jáChl ce /e e C. não se afastam da vege-tação ribeirinha e protetora, vivendo mais em cursosd'água pequenos (onde passam facilmente desapercebi-dos) e, no caso do último, também em pântanos.'Chl e ind é, de todos, o que mais adentra na flo-resta desde que haja água, p. ex. na mata inundável das

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474 "o ORNITOLOGIA BRASILEIRA

várzeas, sendo por isso a espécie de ocorrência mais lo-cal fora da Amazônia. Um biótopo que oferece vanta-gens para todos é o manguezal, uma vez que não seimportam se a água é ou não salobra.

Durante a cheia desenvolvem-se na Amazônia(p. ex. no rio Madeira, em maio), deslocamentos, apa-rentemente devido à dificuldade de pescarem em águasturvas (v. sob Alimentação); confluem, p. ex., peque-nos bandos deCe Condições semelhantesocorrem, em maior escala, dentre as marrecas e outrasaves ribeirinhas. A espécie norte-americana eé, efetivamente, migratória, alcançando o nortedaArné-rica do Sul.

oci , declínio

A invasão de um tanque de alevinos não coberto pormarfins-pescadores evidentemente não agrada seu pro-prietário sendo, contudo, necessário que não se encaretudo unicamente sob o ponto de vista dos lucros, do di-nheiro. É preciso um mínimo de sacrifício que evite adestruição destas aves e muitas vezes do seu hábitatnatural pelo aterro decursos d'água ou pela poluição.Na Europa, o único marfim-pescador existente

de até 16,5cm), é benquisto pelos piscicultores, poisapanha preferencialmente peixes que se movem lenta-mente, indivíduos defeituosos ou doentes, prestandoassim um bom serviço.

Cursos d'água poluídos são abandonados pelosAlcedinidae; além do petróleo e da poluição industrialhá o perigo de presas saturadas de inseticidas.

MARTIM-PESCADOR-GRANDE, ePr. 22,4

42cm, 305-341g.É inconfundível pelo porte avanta-jado, bico enorme (Sem), às vezes com matizes encarna-dos, assemelhando-se ao de um socó c . Par-tes inferiores (na fêmea, também as coberteiras inferio-res da cauda) castanhas; a fêmea e o macho novo pos-suem uma faixa cinza-azulada no peito; garganta bran-ca. penetrante "kwát" que trai a espécie de longe;ao voar repete este grito a intervalos regulares, razãopela qual se pode bem calcular a sua chegada; "tchat-jat-jat" (daí o nome "matraca"); "égii ...". Pousa sobre ár-vores altas, mortas, e pedras à beira d'água. Vive emgrandes rios, lagos, lagunas, manguezais e à beira-mar,sempre que houver barrancos ou rochas em que possanidificar. Passa de ilha em ilha, aparece em pequenaspoças que descubra durante seus longos vôos; chega asobrevoar serras e cidades; executa migrações locais naAmazônia (v. Migrações). Ocorre do México à Terra doFogo, toda aAmérica do Sul."Ariramba-grando" (Pará),

"Matraca" (Rio Grande do Sul), "Caracaxá". Pode serconsiderado aloespecífico comCe e l n da Américado Norie.o gênero e ocorre também na Ásia e naÁfrica (mas Ch/o não).

MARTIM-PESCADOR-VERDE, ARIRAMBA-VERDE,

Chlo e le on

29,5cm. Grande, mas nitidamente menor que o ante-rior; partes superióres verde-metálicas aparecendo fre-qüentemente como um cinza-azulado: colar, partindo dabase do bico, e p,artes inferiores brancas (amareladas nafêmea):flancos ~striados; macho com área{ferrugínea nopeito, em oposição à fêmea quétem a região manchadade verde. "krad", "kâtch": seqüência de assobios"it... tji ... ~ü-~Ü"'I tze-tze-tze;: (canto, ambos os sexos).Hábitat e freqüência semelhantesaoanterior, mas é me-nos costeiro e ne'm voa tão alto. .Ocorre do México à'Argentina, todo o Brasil. "Martim-gravata" I(Rio Gran-de do Sul).

MARTIM- PESCADOR-PEQUENO, o eFig. 174

19cm. É geralmente a espécie mais comum; quaseuma réplica menor da anterior; mas de partes superio-res verde bem escuras contrastando com uma faixa bran-ca saliente e sedosa que liga a base do bico à nuca, ondeé atravessada pelo penacho nucal; base das retrizes ex-ternas branca. O macho tem as partes inferiores brancascom o peito acastanhado, sendo os mesmos respectiva-mente amarelados e manchados de verdena fêmea.

"ta-ta", lembrando (que é freqüentemente seuvizinho na Amazônia); "ti-ti" (advertência); "trr-trr-trr"etc.; canto chilreado e uma seqüência descendente pare-cida a do anterior, sendo mais fraca, "klí-kli- kli-kli-kli".Habita os lagos com rica vegetação aquática; beira de . I

Fig. 174. Màrtin-pescador~pequeno, C /emacho, em vôo rasante' sobre a água.

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ALCEDINlDAE 475

rios pequenos e grandes, manguezais. Ocorre do Texase México à Argentina, todo o Brasil.

-..

MARTIM-PESCADOR-DA-MATA,

22cm. Espécie de vida retirada, vive à beira decórregos de dentro da mata sombria. Possui colorido se-melhante ao da espécie descrita a seguir mas sem o co-lar branco, partes inferiores inteiramente ferrugem e gar-ganta mais clara; fêmea caracterizada por uma faixapeitoral mesclada de branco e preto. forte "krâ","chip-chip-chip". Relativamente abundante na mata devárzea cortada por igarapés, região que é periodicamenteinundada; é encontrado às vezes ao lado deChlo oc le

vive à beira de rio relativamente aberto (rioParanaíba, Piauí). Ocorre da Nicarágua à Bolívia e Brasil

bl lcediné bl

Fry, C. H., K. Fry &A. Harris. 1992. ing ishe , - ie s& olle sh London: Christopher Helrn."

Rernsen,J. v., Jr. 1987.Geog lBerkeley: Univ. Calif. Publ. Zool."

Reyer, H. V. 1981. iini ische in Melk: Deutsche

até o rio das Mortes (Mato Grosso) e Goiás; no litoral atlân-tico localmente p. ex., no Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná ._e Santa Catarina. "Ariramba-pintado" (Amazonas).

ARIRAMBINHA, e e Pr. 22,5

12,5cm (sendo que 2,7cm pertencem ao bico), peso_.. 11-16 g; apenas a metade deChl n . Fê-

mea semelhante ao macho porém de cintabranca peito-ral. Habita as margens de cursos d'água com vegetaçãodensa, onde facilmente passa desapercebido. Ocorre doMéxico à Amazônia, Bolívia, e Misiones, Argentina; San-ta Catarína, P~raná, São Paulo, Rio de Jineiro (Poço dasAntas, Magê) Espírito Santo, (Sooretarná), Minas Gerais,Bahia, Pernambuco, Goiás e Mato Grosso. "Ariramba-míudinho", "Martim-pesca,do~-anão*".

Orn-Gesellschaft.Skutch, A.F. 1947. 64:210-17. (desenvolvimento do filhote)Skutch, A.F. 1957.Condo 59:217-29. (hábitos)Straube, F.C. & M. R. Bornschein. 1991. . eopold. 13 81-84.

(C e Ch le no Paraná)"

.........

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476. ORNITOLOGIA BRASILEfRA

JURUVAS, UDUS: FAMÍLIA MOMOTIDAE (4)

Aves florestais da região neotrópica que se irradia-ram da América Central. Um fóssil do Mioceno (TerciárioSuperior) da Flórida (Becker 1986). Fósseis doPleistoceno (lapas da Escrivaninha, do Marinho, do Su-midouro e do Capão Seco, Minas Gerais), há 20.000 anos;não faltou a presença da família na Europa. São aparen-tados aos Alcedinidae e Trogonidae pela morfologiapeculiar do ouvido interno (v.Alcedinidae).

de

Do porte de uma gralha, possuem o bico forte, cur-vo e de tômios serrilhados em grau variável nos diver-sos representantes. A língua relativamente longa. Asascurtas e "redondas". Míranda-Ribeiro (1931) chamou aatenção para duas saliências ósseas no ângulo da asa. Acauda nas espécies brasileiras é longa; plumagem pro-fusamente colorida. Pernas curtas, sendo os péssindactilamente menos avançados do que os da famíliaanterior, tendo apenas os dois dedos externos anterio-res (3°e 4°) reunidos. Os sexos semelhantes.

A característica mais notável de várias destas avessão as "espátulas" das extremidades das prolongadasretrizes centrais, que muito contribuem para a sua bele-za; a verdadeira importância das "espátulas" liga-se aocomportamento, servindo à sinalização (v. sob Hábi-tos). Sempre surgiram dúvidas quanto à sua formação,existindo as mais diversas conjecturas acerca do proble-ma. A maioria dos autores concorda que a ave arranca-ria os respectivos pedaços das pena? ("A cauda tem umpequeno trecho subapical desprovido de barbas, aliáscortadas pela própria ave, que assim se enfeita. O fatoconstitui exemplo talvez único entre as aves", Ihering1967). Não aceitamos tal interpretação.

As penas em questão desenvolvem-se normalmenteaté atingirem (ou quase) seu comprimento definitivo;não apresentando até então qualquer falha perto doápi-ce; ostentam apenas um ligeiro "estrangulamento" naregião distal do vexilo no ponto onde, mais tarde, abrir-se-á a lacuna que irá evidenciar a "espátula", o que ocor-re quando a pena alcança uma certa idade; as barbas( existentes na área a destacar-se tornam-se que-bradiças na base, como picotadas, e dentro de pouco tem-po se .desprendern quase que por si mesmas ou pelo.menor atrito contra a vegetação ou paredes do ninho. Aextensão da lacuna é fixa e pré-formada em sua estrutu-ra, conforme verificamos em material depositado noMuseu de Berlim, em 1933. Esta formação prévia da la-cuna garante a integridade da espátula,a qual conservasempre o mesmo tamanho, não sendo, portanto, verda-deiras as hipóteses de sua preparação através de traba-lho ativo da ave ou de que seria provocada pelas di-mensões do ninho. Certos répresentantes (como

u do sudeste do Brasil), qli'.~têmos mesmos hábitos, não adquirem espátulas, conservan-do as retrizes centrais "intactas" como o resto da cauda,no que vemos uma etapa evolutiva menos avançada.

Enchem as florestas com seu brado baixo e melodiosoque corresponde ao canto e que se torna a voz dominanteem certas matas, à~adrugada e ao.crepúsculo; começama grÚar ainda no :escuro, parando geralmente antes donascer do sol; vocalizações têm o timbre das de umpombo ou de um sapo. O casal "conversa" com vozes se-melhantes. A voz é, muitas .v.e.z'es,o único indício -que a'juruva, p. ex. hthengus us, está presente.

Voando colhem artrópodes que pousam sobre folhase galhos, à feição dos joões-bobos (Bucconidae) e dosbicos-de-agulha (Galbulidae); apanham borboletas.Acompanham formigas-de-correição, apanhando ani-mais que estas afugentam, p. ex. besouros, lagartas, cen-topéias e, às vezes, até um ratinho, um ninhego de umaoutra ave ou lagartixas; descem ao solo (daí o nome" galo-do-mato"), onde viram paus podres e folhas caídas. Ba-tem a presa contra o substrato para matá-Ia. Encontra-mos o estômago de duas juruvas (uma do Espírito San-to e outra do ex-Estado da Guanabara) repletos de ba-gas <azuis.Comem frutas deHe sp. Cospem pelotas.

Vivem solitários ou aos casais. Pousam a pouca al-tura, costumando permanecer imóveis por tempo con-siderável (atraindo pouco a atenção se não moverem acauda), à semelhança dos Galbulidae;c ps podelembrar s. Não se afastam da vegetação maisalta, arborescente ou arbustiva,

Sua cauda é o indicador exato de qualquer emoção;alternam-se movimentos bruscos laterais e verticais,

gus às vezes arrebita a cauda até a altura dopíleo. Destacam-se oscilações pendulares ("pássaro-pên-dulo"); o mais curioso é que param a cauda em qual-quer posição, como se "engatassem"; não há dúvida quea existência de espátulas aumenta decididamente o efeitoótico de tais movimentos. Tomam banho de poeira

gus).

! '

Para nidificar abrem galerias de 60cm a 2 m de com-primento, desviando seu curso caso deparem com um

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MOMOTIDAE 477

obstáculo; aproveitam-se às vezes de buracos escava-dos por outros animais, aprofundando-os ainda mais,barranco adentro, dificultando assim o acesso do ninhoa estranhos. O casal trabalha junto, jogando a terra comos pés para trás; durante o período de tal faina apresen-tam-se freqüentemente com o bico incrustado de barro;ao que parece não podem virar-se dentro da galeria, nemmesmo quando chocam; virno-los sair da cavidade sem-pre de marcha à ré, o que é hábito eficiente para conser- ..var inteira a longa e delicada cauda, embora tenhamosencontrado udus o de cauda gasta e deespátulas quebradas.

Os ovos, arredondados e de cor branca pura e bri-lhante, são postos diretamente no fundo da câmaraincubatória. Os pais revezam-se no choco e na ali-mentação da prole. Em representantes centro-ameri-canos foi registrado um período de incubação de 17a 21 dias; os recém-nascidos assemelham-se aos demartins-pescadores, mas têm o bico adunco (v. figo173). Apesar da completa sujeira do ninho, cujo inte-rior em pouco tempo ferve de moscas e das respecti-vas larvas, os filhotes saem em perfeito estado deplumagem, aproximadamente após um mês. A faltade barrancos próprios pode resultar na aproximaçãodos ninhos de dois casais, embora não sejam, em ab-soluto, sociáveis. Ao que parece criam apenas umavez por ano (Espírito Santo, Rio de Janeiro) e usam oburaco do ninho como refúgio apenas durante a épo-ca da reprodução.

Estão entre os hospedeiros de nematóides oculares;foi descoberto em

, já no início do século passado, por J. Natterer; omesmo verme ocorre nos olhos do joão-pinto,

cSão parasitados por pupíparos (Hippoboscidae,

Diptera), p. ex., encontrada sobre.

As lendas prendem-seà singular forma da cauda (v.Morfologia), p. ex. a dos índios Parecis (Mato Grosso)referente à aquisição do fogo pelos homens: o udu, aoter levado uma brasa na cauda, teria ocasionado a falhadas retrizes.

UOU-OE-BICO-LARGO,

37cm. Muito semelhante à espécie descrita a seguir,mas de bico mais largo e deprimido, com uma nítida'ruga ao longo do cúlmen; mento azul-esverdeado bri-lhante, cau~a fortemente graduada, com ou semespátulas.~oz: bem diferente-da de outras espécies, con-sistindo em'um grito nasal esquisito, ':ao-ao", "qua-qua",podendo lembrar a voz de (Ramphastidae).Habita a mata primária lau secundária. Ocorre dasHonduras à Bolívia, local~ente. na Amazônia brasileira(rios [uruá, Purus, Madeira e Tocantins. norte do MatoGrosso e Goiás). [Um registropara Espírito Santo doPeixe, "Goiás" (Miranda Ribeiro 1931) é a única locali-dade específica a leste do Tapajós para esta espécie daAmazônia ocidental- atualmente denominada apenasPeixe e situada na porção meridional do atual Estadodo Tocantins. As indicações decorrentes de sua existên-cia no rio Tocantins (Pará) e Goiás, conforme diversasvezes assinalada (Schauensee 1966, Pinto 1978, Sick1985), derivam desta mesma fonte e devem ser conside-rada mais apropriadamente como produto da troca deetiquetas entre material coletado por R. Pfrimer (Goiás,Tocantins) e E. Stolle (Rondônia, noroeste de Mato Gros-so) e depositados no Museu Nacional, conforme sugeri-

< do em outros casos por Silva (1989). Logo, a localidadeoriental limite publicada para a espécie é Peixoto de'Azevedo, norte de Mato Grosso (Novaes& Lima 1990).]

JURUVA, Pr, 22, 6

42cm. De máscara negra como as outras espécies, temas típicas manchas pretas peitorais às vezes ausentes

Fig.175.Ninho de uma juruva, gus pillus, num barranco, na mata. Original, H. Sick.

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I' ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Fig. 176.Udu-de-coroa-azul, note asespátulas da cauda, de acabamento perfeito.

muda). A.prancha mostra a forma meridional(B. .c illus), chamada de "jacu-taquara", de cauda intei-

'a, sem formação de espátulas; excepcionalmente se vê) começo da formação de espátulas. ventríloquo'búuuu", "du-dúg-dug-dug-dug-dug", seco"rrrrü" "go-5o-go". Habita o interior da mata sombria. Ocorre do3rasil central (Goiás) ao Brasil oriental, da Bahia e Mi-.ias Gerais ao Rio Grande do Sul (inclusive noex-Esta-

ibliogt og

Becker,J. J.1986.Co 88:478-82.(fóssil)Miranda-Ribeiro,A. 1931. oi. s. c. o de ne o 73-91.

(morfologia)Rodrigues,H. O. 1964. . . io de 8:33-35.(Nematoda)Skutch,A. F.1964. 106:321-332.(hábitos)Skutch,A. F.1971. son li. 83:74-94.(hábitos)Stager,K.E.1959.Co . ei. os les Coun s.no.33.(taxonomia)

do da Guanabara), Paraguai e Argentina em Misiones."Bururuk" (Botocudo), "[eruva", "Pururu", "Formigão"(Bahia), "[uruva-verde?": nome meridional "[acu-taqua-ra" dá margem a confusões com o cuculídeoo phusge dulcis. Em Goiás é simpátrico com tus

o .

UDU, engus i

[41cm] De cabeça, pescoço e partes inferiores cor-de-ferrugem carregada.e de espátulas caudais bemdefinidél:s,!o contrá{io do anterior.. "húju", se-qüência de "hut, hut, hut. ..", Ocorre da Nicarágua àBolívia e Arnazônía'{alto.Amazonas. rios Negro, Juruáe Tapajós). Alistado também como raça geográfica daanterior. "Iuruva-ruiva?". ~.~..

UDU-DE-COROA-AZUL, s nto otFig.176

44cm. O representante mais conhecido em nossomeio; demonstra tipicamente as espátulas. Ao contráriodos anteriores, sem ferrugem na cabeça; máscara e bonénegros orla dos de azul. profundo "hú-dudu": "dec",tal como uma batida emUm tronco oco; seqüência de"hu-u-u-u-u-u-u-u" (canto). Habita a floresta, mata ciliaràs vezes bem seca e aberta. Ocorre do México ao noro-este da Argentina, Brasil amazônico e central, oeste deSão Paulo e Nordeste (Maranhão, Piauí, Paraíba eAlagoas); em Goiás se encontra com. i illus,"Uritutu" (Mato Grosso), "[eruva", "Udu-coroado*".

Straube, F. C.& M. R. Bornschein.1991. 65-67.( phthengus u illus, revisão taxonômica)*

Wagner,H. 0.1950. 67:387-89.(hábitos)Willis, E: O. 1981. Ci e Cul 33:1636-40 tus e

thengus, seguidores de formigasdecorreição)"Wíllis,E.O., D.Weschler& S.Kistler.1982. Bio/.42:761-66

(E seguidor de formigas-de-correição)*

II

,J.

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ORDEM PICIFORMES

BICOS-DE-AGULHA, ARIRAMBAS-DA-MATA: FAMíLIA GALBULIDAE (15)

- Um dos grupos típicos da região neotropical; até omomento não se conhecem fósseis. Tidos; usualmente,como aparentados aos joões-bobos (Bucconidae); há cer-tas afinidades com os Alcedinidae, ressaltadas nova-mente por dados bioquímicos.

, -

Quanto ao aspecto (bico pontudo, em forma de so-vela, longa cauda graduada, etc.) e também quantoàbionomia (alimentação, nidificação, etc.), assemelham-se aos abelharucos (Meropidae, Coraciiformes) do Ve-lho Mundo, em um dos casos mais interessantes de evo-lução convergente.

O bico fino, mantido quase sempre em posição oblí-qua (à semelhança dos beija-flores), e a brilhante plu-magem verde-dourada metálica, de beleza inigualável,levam o povo a confundi-los com ostroquilídeos (daí osnomes "beija-flor-grande", "chupa-flor-da-mata-vir-gem" e "beija-flor-d'água"), engano não cometido pelosíndios, que conhecem seu totalmente di-verso; são conhecidos também por jacamares, denomi-nação indígena. Podem recordar, fisionomicamente, tam-bém os Alcedinidae, de onde originou-se o nome ama-zônico de "ariramba-da-mata"; ao contrário dos martins-pescadores, contudo, têm a língua comprida, porém,"normal" se comparadaà dos pica-paus.

tem o bico grosso, muito semelhanteao dosAlcedinidae, o de lembra o das juruvas(Momotidae), família conterrânea de hábitos parecidos;o de tem o aspecto de um punhal, podendo serinclusive utilizado como tal, conforme ocorreu em pug-nas de exemplares cativos.

As pernas curtas e fracas, pés bem pequenos e zigo-dáctilos, com dois dedos (2°e 3°) para frente e dois(10 e4°)para trás, caráter que distingue todos os Piciformes ealgumas famílias não aparentadas (Psittacidae,Cuculidae), não sendo portantocaráter sistemático de-cisivo. Os dois dedos anteriores estão ligadosbasalmente, formando uma "pá" (v.Alcedinidae); há ten-dência de redução dos dedos; em l o dedoposterior interno é curto, em o hálux de-sapareceu restando apenas três dedos, sendo o quarto,o posterior; neste gênero encontramos o primeirometacárpio (polegar) bem desenvolvido.

O colorido do bico (v. "Dados para a identifica-ção") e dos olhos é característico. chama

a atenção pela íris azul-clara, como qu~ esmaltada;tem a sua pardo-amarelada ou verme-

lha, segundo a idade.Os sexosfréqüenternente reconhecíveis pelo colori-

dó dagargantii diferençajá acentuada~os filhotes an-tes de abandonarem o ninho. A carne dos Galbulidaetem um odor forte, semelhante á o daquela dos.Trogonidae.

.

Traem-se de longe pela voz, que consiste em assobi-os finos, melodiosos; são bastante loquazes. Os indiví-duos apanhados, estalam com o bico.

De poleiros preferidos (galhos finos) espreitam inse-tos que passem voando; costumam dirigir sua atençãoobliquamente para cima e não para baixo; quando umapresa aparece arremetem, perseguindo-a em uma curtae ligeira carga e regressando com o butim ao pouso deonde saíram, onde batem os hexápodes maiores de en-c'ontro ao gaJho para quebrar-lhes as asas e as partesqui tinos as mais resistentes, facilitando assim a ingestão;vimos, entretanto, G. engolir borboletas semquebrar as asas. Seu bico de pinça é instrumento tão efi-ciente neste tipo 'de caçada como o de outras avesinsetívoras (p. ex. bacuraus e andorinhas) que têm-nototalmente diferente.

Capturam borboletas, inclusive as de abdômen gros-so, como as Hesperidae, e as grandes, como e

sabendo distinguir perfeitamente as espéciespouco palatáveis, que não são incomodadas. Apanhamabelhas (Meliponidae), vespas, formigas aladas, peque-nos besouros, cigarras e libélulas. A alimentação de

pode estar constituída em até 85% deHymenoptera (Mato Grosso); no estômago de

representante de "bicanca" diferente,acharam-se vespas e abelhas; cata insetospousados nas folhas. Cospem pelotas contendo quitina ..Enquanto, por exemplo, e G.- ocaçam a baixa altura na orla da mata e dentro dela,

e lug exploram o espaço aci-ma da floresta, pousando em galhos mortos da copa dealtas árvores. Registramos no alto Xingu (Mato Grosso)quatro espécies de Galbulidae

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480 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Picidae, Alcedinidae, etc., meio próprio para substituirum acolchoamento que falta por completo no seu ni-nho. Embora não haja a mínima higiene, os pintainhosmantêm-se perfeitamente limpos; fazem ouvir o cantocompleto dos adultos, porém de volume inferior. Aban-donam O ninho com 21-26 dias, adquirindo logo a pluma-.gem dos pais, sendo reconhecíveis pelo bico mais curto.

As galerias de lc on, expostas ocasionalmen-te em altos barrancos desimpedidos de vegetação po-dem servir de pouso a andorinhas.

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u u , C. leuco s e C.de na mesma região, ocu-pando nichos diversos; no caso os representantes ver-de-brilhantes são os que vivem nas partes mais baixasda mata. Verificamos na área de Belém que tanto bicos-de-agulha, s, como marfins-pescadores,Ch1o e aparecem na mata da várzea apenasquando esta torna-se inundada, o que acontece duasvezes por dia, em conseqüência da maré.

ainda caça ao anoitecer, traindo-seapenas pelo ruído que faz ao bater com insetos contra ogalho. Tem, como os joões-bobos, o hábito de permane-cer tempo considerável no poleiro, apenas movimentan-do a cabeça; são entretanto bem mais ativos que osBucconidae.

Registramos em c o "canhotismo" (v.Psittacidae), manifestado durante o intenso esforço deescavar o buraco para instalar o seu ninho.

e u

Em casais ou, periodicamente, em grupos de 3 aS,que provavelmente constituem famílias. lé sociável, formando pequenas colônias. Escavam seusninhos em barrancos argilosos ou arenosos, geralmentedentro da mata e ao lado de uma senda ou córrego; às

,vezes utilizam-se de cupinzeiros terrícolas(Cic ou troncos podres e em trechos

florestais planos, onde não hajam barrancos, estes po-dem ser substituídos pela terra levantada pelo conjuntode raízes de uma árvore tombada, contanto que a espes-sura de tais massas de barro seja suficiente, pois costu-mam escavar galerias profundas. A câmara incubadorapode ter mais de um acesso, o que desorienta os inimi-gos . Enquanto trabalham no ninho apa-recem com o bico sujo pois soltam a terra com as mandí-bulas que são, portanto, bem mais resistentes do que'parecem. Usam os pés, aliás bem pequenos, para pôr oentulho para fora do túnel (daí os nomes "cavadeira" e"fura-barreira"); notamos que as unhas dianteiras de umlado (esquerdo) estavam totalmente gastas n).

Ovos qUéj.seredondos, brilhantes, de cor branca pura;embora sejam registra dos em geral em número de 2 a 4(no Rio de Janeiro C. i faz duas posturas, de 4ovos cada, por ano), consta que.G lbul c ud naAmazônia, põe apenas um ovo. O macho traz insetos parasua companheira, às vezes preparando-os (p. ex. que-brando as asas de mariposas) antes de entregá-Ios, sen-do tais deferências sinais seguros de nidificação. Amboschocam abnegadamente, 20 a 23 dias, p. ex., osG ibu

em um viveiro, com alimentação farta, tal perí-odo não ultrapassou 18 dias para a mesma espécie.

Os filhotes nascem cobertos de densa penugem es-branquiçada lbul d ao contrário da maio-ria dos Piciformes; a mandíbula dos recém-nascidos éalgo saliente, proporção estranha que desaparece apóspoucos dias (v.Alcedinidae). Os ninhegos possuem umcalo espinhoso e mole no tarso, semelhante ao dos

D~ ui el ç o

Vá~iasespécies excluem-se' geograficamente, sendoseparadas, na Amazônia, freqüentemente por largosrios; G ul . e G. o são, p.ex., pelo próprio ,Amazonas e pelo baixo Tapajós (fig.

.177). Todavia existem casos em que dois representantes'ocupam áreas limítrofes, não sendo separadas por quais-quer barreiras topográficas distintas, como se dá comG lbul to e G. scens, no alto Amazonas, Nãose conhecem híbridos dentre os substitutosalopátricos,que chegaram ao isolamento reprodutivo; possuem exi-gências ecológicas iguais, o que resulta em uma exclu-são competitiva.

Para tornar bem claro que estes representantes sãoparentes próximos, é conveniente designá-los como"aloespécies" que compõe uma "superespécie"; assim,reconheceríamos uma superespécie lcomposta pelas seguintes aloespécies:C. (a qual inclui G. e C,C t e G. c nescens. Outra superespécie seriaG lbul l t a qual teria C. comoaloespécie. Segundo Haffer (1974), 76% dos Galbulidaebrasileiros podem ser considerados componentes deuma superespécie. Padrão semelhante de exclusão geo-gráfica ocorre, na Amazônia, p. ex. em tucanos, papa-gaios e Passeriformes como Cotingidae e Pipridae.

Parece que todos os galbulídeos são sedentários. V.Hábitos e alimentação.

ci decIínio

Certos representantes, como ul sãoabundantes no seu hábitat natural mas tornam-se escas-sos ou desaparecem sob a pressão da civilização, comoocorre, p. ex., ao redor das cidades.

U t ct , das florestas semidecíduasdo interior do sudeste brasileiro foi recentemente arro-lada como ameaçada de extinção (Collaret 1992).

iden

Existem dois tipos cromáticos:(1) Espécies verdes e/ou ferrugíneas - spp.

(exceto G. G. l t é alviverde), ops e

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GALBULIDAE 481

Fig.177.Distribuiçãodo bico-de-agulha,superespécie (seg.Haffer1974). Quadrados

abertos:G. Estrelas:G. (somenteosregistrosperiféricossão mostrados); inclui as distribui-ções das formas clinaisG. r. e G.

Triãngulos fechados:G. eG. .no leste da Bolívia.Círculos abertos com cruz nocentro:G. (cy).Círculosabertos:G.(to).Cruzes: G. (pa). Coloração da plumagemprincipalmente verde-metálico (tracejado)e averme-lhado (pontilhado). Montanhas acima de 2.000mestãoem preto. Símbolosdenotam localidades de registro.

c(2)Espécies de cor negra (ou pardo-anegrada) e bran-

ca - spp. eHá também dois tipos de cauda; além da mais "co-

mum", longa e graduada, há espécies de cauda curta etriangular e

Pode servirà diagnose, tanto para espécies como parasubespécies, o bico negro, amarelo ou vermelho, quecorresponde, até um certo grau, ao colorido da regiãoperioftálmica nua e dos pés.

. ARlRAMBA-VERMELHA, leucotis

21,6cm. 'Espécie característica do alto Amazonas; debico muito forte e cauda retangular, lembrando ummartim-pescador; pés relativamente grandes. Pluma-gem castanha com cabeça, asas e retrizes anegradas,bochechas brancas. Ocorre do Solimões (Amazonas)à Colômbia.

[Espécie restrita aos ambientes criados pela água, so-bretudo a floresta de Várzea (~emsen& Parker 1983).

No Brasil seu limite oriental é a região de Manacapuru(Haffer 1974).É comum na Estação Ecológica Mamirauá,perto deTefé. onde é conhecido por "Dorminhoco" (]. F.Pacheco). "Sovela-de-bochecha-branca*".]

SOVELA-VERMELHA *,

. De bico e pés vermelhos e sem branco na bochecha.Região dos altos rios Purus e Juruá (Amazonas) até aBolívia e Peru. Ao que parece não cruza com a anterior,razão pela qual a consideramos espécieà parte.

I I

. ÃRIRAMB1--~RETA,

16,5cm. Representante de vasta distribuição; bem pe-queno, de cauda curta e bico'rnuito longo. Anegrado, degarganta mais clara eabdômen branco. O colorido do

.bico varia do negro (população setentrional,. I. ,que chega até o norte deTocantíns) ou com a mandíbu-la, base da maxila (e também anel perioftálmico) amare-las (população meridional, dos rios Curuá e Cururu(Pará) a Mato Grosso, Goiás, oeste de Minas Gerais eoeste de São Paulo, B. íris azul-clara. assobio finíssimo "hilü"; (chamado);"hi, i.i.i.i.i.i, (canto). Habita à beira da densamata e margens de rios. Ocorre das Guianas e Colômbiaà Bolívia e Brasil até São Paulo, Maranhão e Piauí. "Agu-lha -parda *".

ACULHA-DE-GARGANTA-BRANCA ",

[15cm] Na fronteira com o Peru e na região do rioPurus (Amazonas), semelhanteà anterior, porém de la-dos da cabeça e garganta brancos, sendo seu substitutogeográfico.

CUlTELÃO, En Am

Pr.44,2

18cm. Galbulídeo meridional de apenas três dedos(v. Introd ução); semelhante a porémcom o alto da cabeça bastante arrepiado e estriado deamarelo-pardacento, garganta negra, partes inferioresmedianamente brancas; bico preto, íris parda ou verme-lha. seqüência de assobios curtos, mais fracos queos de . Habita à beira de rio com arbus-tos. Capoeiras isoladas em locais acidentados; pousa fre-qüentemente sobre hastes de capim altoa. F.Pacheco),Ocorre em pequenos grupos.É encontrado localmentedo Espírito Santo (nas montanhas), Minas Gerais,Iequitinhonha (G. T. Mattos), vale do Paraíba do Sul, atéParaná (rio Paraná). "Violeiro" (Minas Gerais),"Cavadeira*". V Introdução: Hábitos, Reprodução.

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482. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

ARlRAMBA-DE-BICO-AMARELO,

19cm. Com distribuição na Amazônia setentrional;semelhante a tendo porém o bico, pése região perioftálmica berrantemente amarelos; a pontado bico e unhas negras; o peito ferrugíneo (e não verde),como a barriga e os lados da cauda. "trra-trra" (ad-vertência). Ocorre das Guianas, Venezuela e Colômbiaao rio Solimões e Peru (G.. e na marge~setentrional do Amazonas (G. no Amapá .simpátrica comG. e G.

ARIRAMBA-DA-MATA *,

De faces azuis e não verdes e garganta (no macho)ferrugínea em vez de branca. Ocorre da região do Javari(Amazonas) ao leste do Pará, Maranhão, Tocantins eMato Grosso. [Estende-se ao leste do Peru e norte daBolívia (T. A. Parker).] Registramo-Ia como espécie pois,não consta intergradação comG. (Haffer 1974).Na área de Belém (Pará), simpátrica com

, G. e

ARlRAMBA-DE-CAUDA-VERDE,

20cm. Semelhante a idis, por-. tanto com o bico preto e peito verde, mas com a caudaverde por cima e negra por baixo. Mata. Ocorre dasGuianas e Colômbia ao rio Negro, Amapá e entre osbaixos rios Tapajós e Madeira. Pode ser consideradasubstituto de (v. figo 177). "Ariramba-da-várzea*".

BICO-DE-AGULHA-DE-RAB0-VERMELHO,

Pr. 23, 2

22cm, 23g (macho). Representante amplamente dis-tribuído; de bico preto, garganta branca (macho) ouferrugínea (fêmea), peito verde, lados da cauda ferrugí-neos, assobio límpido e repetido; seqüência acele-rada terminando com um trino descendente. Habita aorla de vegetação densa, margens de rios e brejos; tam-bém o interior da mata rala e seca, em regiões campes-tres. Ocorre do México à Bolívia e nordeste da Argenti-na (Misiones). Na Amazônia brasileira (Roraima) a for-ma típica (G. . , de mento e cauda ferrugíneos(apenas as duas retrizes centrais são verdes), ao passoque ao sul do Amazonas ocorre G.(de cauda ferrugínea de pontas verdes, sendo as quatroretrizes centrais verdes e o mento branco) até o MatoGrosso, Goiás e, no Brasil oriental, até o Paraná (v. figo177); o representante meridional foi por muito ..tempoconsiderado espécie à parte. "Beija-flor-grande","Ariramba-da-mata-virgem", "Beija-flor-d'água","[acamarici". '"Bico-de-sovela", "Sovelão" (Minas Ge-rais), 11Ariramba-de-cauda-ruiva=",

ARIRAMBA-DE-BARBA-BRANCA *,

[20cm] De bico preto e lados da cauda ferrugíneos,porém de garganta predominantemente verde como opeito, mento branco: o vértice cor-de-fuligem. [Típicapara as florestas de várzea do alto Amazonas, a espécieocorre no Brasil especialmente ao longo do Solimõespara leste até a região do baixo Madeira (Haffer 1974),sendo comum na Estação Ecológica MamirauáO. F.Pacheco). Ocorre ainda na Colômbia, Equador e Peru.]

. ....,

ARlRAM~A-DE-CAPOEIRA*, escens

[20cm: Ocorre no sudoeste da Amazônia, espe-cialmente na região dos formadores meridionais doSolimões, altos [uruá e Purus; para leste até a esquer-da do Madeina, Assinalado também para o Peru e re-centemente para o norte da Bolívia (Parker& Remsen1987).] .

ARlRAMBA-ACOBREADA, leucog

21cm. As partes superiores e o peito verde-acobreados, garganta e abdômen brancos e bico negro.

ainda mais fina que a de G. seqüência rít-mica hü Habita o interior da mata alta eseca. Ocorre do leste da Venezuela, Guianas e Amapá eoeste do Pará ao alto Amazonas, Peru e Mato Grosso noTeles Pires (alto Tapajós) e Xingu (Suiá-missú)."Ariramba-bronzeada*". V a seguinte.

Fig. 178. Arirarnba-do-paraíso, G lbu de nu

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GALBULIDAE 483

[ARlRAMBA-VIOLÁCEA,

22cm. O tratamento como espécie separada de G.leucog st foi recomendado por Parker& Remsen (1987)e adotado em Sibley& Monroe (1990). Difere desta nacoloração e maior tamanho. No Brasil está assinaladaapenas para o rio Juruá (Gyldenstolpe 1945). Váriosexemplares desta forma foram coleta dos também emEstirão do Equador, rio [avari (J. Hidasi). Ocorre aindana Colômbia, Equador, Peru e norte da Bolívia.]

ARlRAMBA-DO-PARAÍSO, Fig. 178

31cm. De cauda extremamente longa, tomando maisda metade do comprimento total. A plumagem alvinegracom a fronte pardacenta, asas e cauda lustrosas de ver-de. seqüência descendente de assobios cheios, àsvezes acelerada, "glüii ...", lembrando um arapaçu oumesmo um gavião ouvido de longe; um chamado di-

iog e( t b Ge l)

Donatelli, R.J.1992. q. S. ulo 32: 1-32.(ostelogia e rniologia)"Fry, C. H. 1970. . . s. Cienc. 42:275-318. (ecologia,

comparação com Meropidae) .Haffer, J. 1974. pec ion in o ouili e c . th

c the ns ph idlbui Cambridge, Mass.:Nuttall Ornith. Club (Publ. 14)

Parker, T. A. III & Rernsen, J. V, Jr. 1987. li. B. O. C. 107:94-107.lbul lcotho como espécie,C lbu nescens, Bolívia)'

Rernsen, J. ., Jr. & T. A. Parker III. 1983. c 15 23-231.

verso e baixo, "gib-gib-rriia". Habita a mata à beira derio, pousando freqüentemente alto, em galhos secos.Ocorre das Guianas e Colômbia à Bolívia, ao norte deMato Grosso (alto rio Xingu) e Pará (Serra do Cachim-bo, Belém) e Maranhão. "Upianá", "Ariramba-da-copa'".

ARIRAMBA-GRANDE-DA-MATA-VIRGEM, psu e Pr. 23, 1

29,5cm. O gigante da família; lembra um pouco umajuruva (Elec on) quando esta não está caiu espátulas.Fêmea sem branco na garganta. assobio fino, forte emonossilábico! inicialmente ascendente- descendendo

. - . I

depois "bi ü", como se fosse um gavião-e de timbre deum bem-te-vi-pequeno, tetes freqüen-temente mudo. Habita córregos dentro da mata alta. OCor-re da Costa Rica à Bolívia, ~sfe e sul do Pará (rio Cururu)Maranhão e Tocantins. "Uirá-piana", "[acamaraçu",

. ~

b Cl leucotis, G. pu us, hábitat)"

Sclater, P.L.1882 the - iesC i ucconi . 4 vols. London: Porter.

Skutch, A. F. 1968.Condor 70:66-82. (hábitos)Ventura, P. E. C.& I. Ferreira. 1993. esu os 1II Cong . . no

R. 23.( lbu reencontro no município do Riode Janeiro)'

Willis, E. O., D. Weschler& S. Kistler. 1982. s. l. 42 761-66e (G l s, seguidor de formigas de correição)"

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.484 ~: ORNITOLOGIABRASILEIRA

JOÃO-BOBO, BICOS-DE-BRASA e afins: FAMíLIA ButCONIDAE (24)

Grupo de aves arborícolas americanas bem distinto.Fósseis do Terciário Inferior (Eoceno) da América doNorte e do Pleistoceno (Lapa da Escrivaninha, LagoaSanta, Minas Gerais;20.000 anos) do Brasil. Aparenta-dos aos Galbulidae, relação comprovada inclusive poranálises eletroforéticas da clara dos ovos. São um tantodiversificados na Amazônia e sua área estende-se do Mé-xico ao Brasil meridional.

Há certas semelhanças com os Alcedinidae, o quepode ter fundo filogenético; o urubuzinho,

é amiúde confundido no campo com uma an-dorinha, enquanto que o macuru, pode lem-brar um pequeno papa-mosca (Tyrannidae).

De cabeça grande e notavelmente larga; olhos reces-sos sob sobrancelhas bem salientes, íris do adulto de corberrante branca ou amarelo-clara ou vermelha. O bicoforte, de cúlmen arredondado, freqüentemente adunco,tendo ao seu redor cerdas grossas ou vibrissas (v.Caprimulgidae) de onde vem o termo "capitão-de-bigode"(v. Capitonidae); a cor.do bico pode ser verme-lha ou amarela. Asas geralmente curtas, pernas quaseque "invisíveis", pés pequenos e zigodáctilos. A caudaestreita, na ave tranqüila como que uma estreita tábua.As pálpebras, às vezes, intumescidas e destacadas porvivoscoloridos

A plumagem macia e fofa simulando umcorpo maior e mais pesado do que na realidade possu-em; penas da cabeça usualmente arrepiadas; barbamistacal proeminente. De cores sombrias, freqüentemen-te manchadas; o bico pode ser o ponto mais vivamentecolorido. Os sexos parecidos, a fêmea pode ser algomaior e de plumagem mais modesta que o macho; ima-turos de bico mais curto. Carne de odor forte, semelhanteao da de Galbulidae e surucuás,

Assobiada, freqüentemente bem alta (pode chegar alembrar a voz de morcegos) e por isso dificultando alocalização dos autores; é surpreendentemente fina paraave tão robusta e de aparência tão abrutalhada. Cantossemelhantes aos dos Galbulidae.

O macho e a fêmea podem cantar respondendo-semutuamente (p. ex. tem umavoz cheia e melodiosa emitindo suas estrofes prolonga-

. das em coro, reunindo-se em pequenas assembléias; es-tes cantos estão entre as vozes mais agradáveis das res-pectivas regiões e podem lembrar vocalizações de co-tingídeos como

freqüentemente canta durante o vôo. En-

quanto alguns são periodicamente loquazes, chamandoa atenção, não silenciando nem mesmo à noite (p.ex,

outros, como esão calados passando facilmente desapercebidos. Quan-

molestados batem as mandíbulas (p. ex. e

. ICaçam insetos (p. ex. besouros) que ~.~peram no po-

leiro; apanham -os insetos em vôo, com audível estalo,para logo retomarem ao poleiro deonde saíram a fimde ba tê-Ios contra o galhb, antes de devorá-los.

em tais investidas, assemelha-se a um mor-<:ego ou a uma grande borboleta; descrevendo voltas

. elegantes como se desprezasse a' gravidade; às vezespeneira; gosta de comer cupins e formigas em revoada.

e outros apanham também artrópodes pousa-dos e lacertílios; diplópodes, quilópodes, opiliões, es-corpiões e até (que achamos no estômago de

e podem colher alimentono solo, cavando o chão, talvez apenas enquanto esca-vam a terra para nidificar. Algunse ingerem também matéria vegetal. Ejetam pe-quenas pelotas, contendo os restos quitinosos grossosdos insetos consumidos. Bebem água acumulada emrosetas de folhas.

-

Índole pachorrenta e tolerante para com outras aves.Permanecem imóveis durante longo tempo, mudandode vez em quando apenas de lado e virando a cabeça (obico costuma ser mantido um pouco elevado) mostran-do que tudo observam, não estando a dormir como di-zem os camponeses através dos apelidos que lhes dão("dormião", "preguiçosos"); apesar do seu ar alucinadonão.são estúpidos ("joão-bobo"), confiando simplesmen-te na sua camuflagem. Graças ao seu traje críptico e àsua relativa imobilidade conseguem escapar do obser-vador mais-agudo; preferemernpoleírar-se na ponta deuma estaca ou de um galho, locais prediletos duranteanos a fio; pousam também em fios elétricos

tectus). Sobre galhos pousam às ve-zes longitudinalmente (v. sob bacuraus). Quando mu-dam de pouso voam e não pulam através da ramagem.Em certas situações recuam marcha à ré com-passesmiudinhos. No solo são dE:sajeitados; àsvezes pousa no chão independentemente das lides danidificação (v. abaixo). Descansam (p. ex. dei-tando de barriga sobre o galho enquanto correm a mem-brana nictitante sobre os olhos.

Vigilantes, assumem uma posição ereta. O nervosis-

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BUCCONIDAE 485

-mo se manifesta, nos por movimentos caudaisque lembram os das juruvas (Momotidae), com lentasoscilações laterais e também movimentos circulares; pa-rando a cauda às vezes fora do eixo, provocando umaspecto estranho; imobilizam-se obliquamente quandoassustados. Apanhados vivos fingem-se de mortos parafugirem inesperadamente (p. ex.

Vôo rápido e horizontal, geralmente percorrem ape-nas distâncias curtas, o que corresponde às necessida-des de seu hábitat dentro de diversos tipos de mata oucerrado. que tem asas relativamente muitograndes, é excelente planador, voa a longas distânciasativamente por cima da floresta e desce a pique das co-pas até o solo; tem potência de vôo suficiente para ata-car andorinhas e gaviões que passem voando, sendo oBucconidae mais adaptado à vida em locais pouco fe-chados e expostos ao sol. Os também vivemem locais bem ensolarados ao passo que

e são definitivamente umbráticos dota-dos de olhos comparativamente mais avantajados. Gos-tam de banhar-se na chuva; vimostomar banho de poeira.

Fig. 179. Ninho de um urubuzinho,num pasto. Limoeiro-]atiboca, Espírito

Santo. Original, H. Sick.

e outros vivem periodicamente empequenos grupos que constituem aparentemente famí-lias (pais com filhotões); pernoitam pousados em ga-lhos, encostando um no outro. No Paraguai foi re-gistraçlo que em horas frias não sai-ria de suas galerias, imobilizado num sono letárgico,tal qual conhecemos para certos beija-floresG. Unge r,In Steinbacher t962).

Para nidificar cavam uma galeria em solo acidenta-do ou barranco (daí o nome "fura-barreira") e às vezesmesmo em terreno plano

ou em cupinzeiros arborícolase N. tectus). É neste caso interessante no-

tar, que os cupins restauram imediatamente as paredesabertas pelo buconídeo, contudo respeitando afeita pelo "inquilino", à semelhança do que ocorre com

trogonídeos e psitacídeos. Quando trabalham em ma-deira ouve-se de longe o seu martelar

Aproveitam-se de ocos existentes.Quando a galeria, que desce suavemente, toma-se

mais profunda, esgravatam o entulho até a entrada, deonde levam-no no bicoevitam assim acúmulos de terra fresca defronte do ni-

.nho, o que iria denunciá-los. A entrada do ninho deescavado p. ex. em terreno barrento em uma

clareira da mata, é plana e de formato oval, sendo assi-nalada por um monte de terra à feição de;\lma toca derato, o quenão se nota se a escavação dá-s~ em terrenoarenoso (p"ex. no cerrado ou à beira da praia).

. aproveita-se de taludes de ferrovi-as para nidificar (Corumbá, Mato Grosso): no períodoem que escava, suja o bico, pés e penas, o que altera umtanto seu colorido natural, spbretudo em regiões de ter-ra roxa; na entra?a da galeria são marcados dois regos

. que correspondern aos dois pés da ave. podeaproveitar-se de buracos de tatu-paranidificar,

Câmara incubatória nua ou forrada compouco capim e folhas secas ,

a entrada é às vezes camuflada com folhase galhos empílhados pelos pássaros ,

Põe de dois a três ovos de um branco puro ebrilhante. Não há limpeza do ninho e o fundo do mes-mo pulula de larvas de moscas a incuba-ção, feita pelo casal, é de 15 dias A. Ruschi).Os filhotes nascem nus, cegos e de pele negra ou verme-lha e bico curto; notamos pequenos calos nos tarsos deninhegos de lembrando outros Piciformes;abandonam o ninho com vinte dias de idade

.O casal reveza-se nos cuidados do ninho, dos ovos e

dos filhotes. toma-se agressivo para com ou-tras aves, p. ex., um urubu(v. acima); às vezes o casalrecebe a ajuda de um outro adulto na ceva das crias e,embora pares vizinhos visitem-se mútua e amigavelmen-te, por vezes ocorrem lutas entre as fêmeas; a espécieem questão tem tendência a nidificar em colônias dis-persas.

O ninho é às vezes utilizado como dormitório.foi visto penetrando no seu de marcha à ré,

"tampando" a entrada com a cabeça, boa proteção con-tra inimigos (p ..ex. cobras) que. têm pela frente logo obico da presa. As queimadas, freqüentes nos cerradosdo Brasil central, provavelmente não atingem as câma-ras incubatórias dos Bucconidae.

Em vários casos o padrão distributivo e a diferencia-ção dos Bucconidae (p. ex. e naAmazônia demonstram uma exclusão geográfica; há al-gumas espécies que se irradiaram até a floresta atlânti-ca. No âmago da hiléia, os largos cursos dos principais

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486 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

rios atuam como barreiras geográficas que impedem apropagação e preservam a integridade das respectivaspopulações, que poderiam competir caso simpátricas.Falta-nos ainda uma melhor compreensão das afinida-des filogenéticas dos diversos representantes; espéciestão parecidas como nig e M. sãoextensamente simpátricas.

Após a reprodução, reúne-se em certasregiões aos bandos de 20-30 indivíduos dando impres-são de concentrações migratórias (maio/junho, Goiás).Aparentemente c é migratório no extre-mo sul. Espécies silvícolas como às vezes acom-panham bandos mistos de pássaros por algum tempo.

(1) Negro com grandes áreas brancas -(v. também Che

(2) Todo negro, ou preto com alguns sinais de bran-co; bico vermelho, amarelo ou negro:Che .

(3) Pardo quase uniforme, sem desenhos muito dis-tintos; porte pequeno: (Pr. 23); v. também

M. e M. .(4) Pardo com as partes inferiores brancas, unifor-

mes: (Pr. 23).(5) Idem, com as partes inferiores com desenho

marcante diverso: o t (Pr. 23).(6) Idem, com um colar negro: o c ensis,

(?) Idem ao item 5 mas com o papo preto:od

(8) Idem, de lado inferior manchado:st ol ius, N. c e i .

CAPITÃO-DO-MATO,

Fig. 180

26cm. De vasta distribuição e porte avantajado, lem-brando ao longe um grande Alcedinidae

4e devido ao bico forte, ao colar branco e à faixapeitoral negra (a qual varia de largura); barriga branca(forma setentrional, N. . ou pardacenta(forma meridional, N. s . muito fina parauma ave de seu porte, sugerindo um Galbulidae ouEmberizinae; seqüências descendentes de assobios me-lódicos, freqüentemente trissilábicos, às vezes ascen-dentes e acelerados ou decrescentes em alterações sur-preendentes de ritmo, p. ex.,üi-üí ... dibüle-dibüle-díbülé ... " (canto); chamados roucos em parte tambémi:nelodiosos. Habita a mata tranqüila, nos ramos superi-ores das árvores mais altas; encontrado também em es-tratos inferiores. Ocorre do México à Bolívia, Paraguai eArgentina (Misiones); Brasil amazônico até Mato Gros-

. so (altos riosTapajós e Xingu) e Maranhão; também noBrasil oriental, do sul a Bahia (Porto Seguro eBarrolândia, L. P. Gonzaga), Espírito Santo a Santa Ca-tarina (N. . s . "João-da-mato", o(Minas Gerais), , "Macuru-de-testa-branca*".V. as duas espécies seguintes.

Fig. 180.Capitão-da-mato,oth chus o us

MACURU-DE-PEITO-MARROM*, o hus o dii

20cm. Espécie semelhante a anterior, mas de porteinferior. [Pouco conhecido e de distribuição local,principalmente na Amazônia ocidental: alto Negro emédio Solimões. Um registro antigo para Cussari, mar-gem direita do Amazonas entre o Tapajós e o Xingu(Snethlage 1914).Assinalado também para a Venezuela,Peru e Bolívia.]

CAPITÃO-DO-MATO-PEQUENO, ehus teetus

15,5cm. Representante amazônico quase que comouma réplica menor de N. cabeça, asas ecauda manchados de branco, sobrancelha alva.. ii1como a de um morcego; tremulante "pit... rri ...", "bi-bibibi". Habita a mata ribeirinha, pousa geralmente alto.Ocorre da. Costa Rica à Amazônia até o baixo Tapajós(Pará) e Maranhão. Se visto de baixo lembra o bico-de-agulha, bul leucog ."Macuru", "Rapazinho-dos-velhos", "Macuru-pintado*". ..,

RAPAZINH0-DE-BONÉ-VERMELHO, ueco

14cm. Menor espécie de um grupo de seis represen-tantes amazônicos semelhantes( ucco , .

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BUCCONlDAE 487

e oboné ferrugíneo, sobrancelha e faixa malar brancas comoas partes inferiores, destacando-se umafaixa negra atra-vés do papo; máscara e bico pretos. Ocorre do alto Ama-zonas até os rios Negro e Tapajós. V .

RAPAZINH0-CARIJÓ, Pr. 23,5

17cm. Caracterizado pelas partes inferiores grossei-ramente manchadas e pela faixa malar branca, realçadapor uma nódoa negra inferior; nos lados do alto dorsopode aparecer uma manchabranca que chama a aten-ção de longe; bico negro. trêmulos curtos, fracos emelodiosos. Habita a mata de galeria, palmais e flores-tas de várzea; freqüentemente no alto das copasfrondosas. Ocorre do norte da América do Sul até os al-tos rios Tapajós e Xingu (Mato Grosso), leste do Pará eMaranhão.- "Rapazinho-dos-velhos", "Tacuru"(Karnaiurá, Mato Grosso), "Ia-kuru-aib" (Kaiabi, MatoGrosso). V sobretudo .

RAPAZINH0-DE-COLAR,

17,5cm. As partes superiores pardas, partes inferio-res esbranquiçadas com uma grande fita peitoral negra,que se estende ao redor do pescoço posterior; bico corde laranja. Ocorre do norte da América do Sulà foz doAmazonas, Maranhão e para o oeste até o Peru e o Equa-dor. "Rapazínho-dos-velhos'".

JOÃO-BOBO, DORMIÃO,

Pr. 23, 4

Iêcm. Fora da Amazônia a espécie mais conhecida.Bochechas salientes e colar branco puro, muito destaca-do, separados por uma área negra; as partes inferioressem desenho negro, mas muitas vezes sujas de terra; obico vermelho. Imaturo com o ventre manchado de par-do-escuro, com as partes superiores transversalmentefasciadas de amarelo; o bico curto e anegrado. es-trofe trissílábica, trêmula e descendente, macho e fêmearespondem-se mutuamente,"türü türü türü" (feverei-ro; daí o nome "Paulo-pires"), do timbre de um

que, frequentemente-é seu vizi-nho no Brasil central; seqüência prolongada e descen-dente morrendo terminalmente,"türü ..... (canto), emi-tida em todas as horas do dia mas mais eloqüentementeapós o pôr-do-sol até o anoitecer, quando toda a popu-lação local participa da cantoria; "rr-rr-rr" (advertência).Habita os campos semeados de árvores, cerrado, cam-pos de cultura (cafezais, etc.); ao lado de estradas de fer-rç, pousando sobre os fios elétricos; em muitos lugaresé comum. Ocorre do alto rio Madeira (Amazonas, Ma-ranhão, Nordeste do Brasil e leste do Peru até o Rio Gran-de do Sul (inclusive no Rio de Janeiro e ex-Estado daGuanabara), Paraguai,Bolívíâ e Argentina (Misiones).

No Sul aparentemente migratório. "Macuru", "Pedrei-ro", "Sucuru", "Tamatiá" (São Paulo), "Capitão-de-bi-gode", "Fevereiro" (Minas Gerais), "Colhereiro".

RAPAZINH0-ESTRIADO,

18cm. Representante semelhante ao descrito abaixo: -mas com o peito amarelado estriado de preto. Habita a

fímbria da mata. Ocorre no Maranhão, leste do Pará(Belém) e localmente pela Amazôniaocíderital até o MatoGrosso (rio Guaporé) e Bolívia.

I

RAPAZINHO-DOS-VELHOS,

En'

18cm. De porte semelHante' ao dest lus c ,tem igualmente' o bico vermelho porém sem branco nacabeça; a garganta posterior e colar pardo-amarelados,peito e barriga brancos manchados de preto lembrando

. estrofe ondulada"türe-tütüre-tütüre"(canto). Habita a mata baixa e seca, caatinga (onde é co-mum); 'freqüentemente na mesma região de

. Ocorre de Cuiabá, rio das Mortes e Araguaia(Mato Grosso) ao Maranhão, Pernarnbuco, Bahia, Mi-nas Gerais; também ao norte do Amazonas (Orixirniná,Pará). [Recentemente assinalada para o nordeste de SãoPaulo (Willis & Oniki 1993).] "Fura-barreira" (Pernam-buco), "Macuru", "Chilu-chilu"". V a anterior.

,RApAZINHO-DO-CHACO, s

Representante das formações arbóreas do chaco e ma-tas secas do leste da Bolívia, Paraguai, norte da Argenti-na e faixa limítrofe do Brasil (Mato Grosso do Sul). An-tes subespécie ocidental de foi con-siderado espécie independente com base no conceitofilogenético de espécie (Silva 1991).

, JOÃO-BARBUDO, st~t EnPr.23,3

20,5cm. Representante meridional inconfundível. A"vírgula" da base do bico pode ser branca brilhante aopasso que o branco da garganta posterior nem sempre évisível. assobio fino que bem poderia ser o de umtiranídeo pequeno: "biã, biã, biã ...", seqüência horizon-tal de 10 e mais pios. Silencia a maior parte do,an0ll'a-bita o interior da mata escura onde haja abundância defolhas caídas; beira de mata com capim. Ocorre do sulda Bahia a Minas Gerais e Santa Catarina (inclusive noex-Estado da Guanabara); também disjuntamente noMaranhão . s. . "João-doido", "Barbudo-rajado?". V o c ensis.

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4?8. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

BARBUIX}-OE-PESCoçO-PERRUGEM,

18cm. De costas uniformemente pardas, vértice cin-zento estriado de branco, lados da cabeça e colar nucalcor-de-ferrugem e bico negro de base esverdeada.estrofe ascendente ü, ü-ü,ü". Vive na mata. Ocorredo alto Amazonas (rios Ucayali e Juruá) aos altos cursosdó Tapajós e Xingu (Mato Grosso), leste do Pará e Mara- .nhão. "[unurá" (Kaiabim, Mato Grosso).

BARBUOO-PAROO*,

[18cm] De bico cor-de-laranja, ocorre ao norte doAmazonas, inclusive no Amapá.

BARBUDO-OE-COLElRA ".

[18cm] Ocorre do alto Juruá à Bolívia e Peru.

MACURU-PAPA-MOSCA,

I2,5cm. Anã do grupo; de bico grosso, plumagem par-da-avermelhada nas partes superiores, fronte, loros epartes inferiores brancas sendo estas últimas estriadasde negro. Vive na mata. Ocorre da Costa Rica ao altoAmazonas até o rio Ucayali, Peru e alto [uruá (Amazo-nas). "Barbudinho*". [Sua área de ocorrência estende-separa leste até a região de Tefé: Ponta da Castanha (Iohns1991), Urucú (Peres & Whittaker 1991) e Samaúma, LagoTefé G. F. Pacheco).]

MACURU, Pr. 23, 6

14cm. Vastamente distribuído, de porte diminuto; ca-racterizado pelo bico relativamente fino e curto e porum desenho branco marcante na face. Vive no interiorda mata. Ocorre da Venezuela aos rios Negro, [uruá eTapajós, Goiás, leste do Brasil (de Minas Gerais e Bahiaa Santa Catarina); também no Piauí e Maranhão, Para-guai e Argentina (Misiones); também no Suriname,Amapá e norte do Pará. "Freirinha-parda*".

FREIRINHA-OE-COROA-CASTANHA *,

13,5cm. De vértice avermelhado e pálpebra intumes-cida, vermelha no adulto e parda-amarelada no imatu-ro. Silenciosa usualmente. Pode passar por um peque-no tiranídeo. Habita a mata alta, mata de galeria. Ocor-re do Panamá aos rios Juruá (Amazonas), Guaporé e al-tos Paraguai e Xingu (norte do Mato Grosso).

FREIRINHA-AMARELAOA*,

[14cm. Representante da Alta Amazônia, especial-mente na região dos formádores meridionais do

Solimões: altos [uruá e Purus; para leste até a esquerdado Madeira. Assinalado também para o Peru e recente-mente para o norte da Bolívia (Parker& Remsen 1987).]

FREIRINHA-OE-CABEÇA-CASTANHA ",

En

[14cm. Conhecida de onze exemplares - incluindoa série tipo - coleta dos na margem esquerda do baixoSolimões (Manacapuru e Codajás), essa-espécie, possi-velmente restrita ao igapó, foi reencontrada recentemen-te em três locali d ades do 'parque Nacional do Jaú-(Whittaker e( . 1995).] . i ._:'

,.!, :

BICO-DE-BR,ASA, .

27,5cm. Maior espécie da fa~mília, ten10 o porte deum sabiá grande; cinzento-escuro uniforme com asrêmiges e as retrizes negras, bico encarnado ou verme-lho-tijolo. Juvenil de fronte e mento pardos, lembrandoa espécie abaixo. o cheia e suave,"küõ" (chamada);estrofe prolongada, de assobios compostos e melodio-sos, finalmente acelerada e crescente, p. ex. "hülô ...türr-

türr", emitido por um grupo de indivíduos de ambos ossexos pousados, às vezes, em um mesmo galho, um pertodo outro e movendo a cauda lentamente em círculos ouem "movimentos de remar" ou, ainda, simplesmenteelevando-a e abaixando-a. Vive na mata de diversos ti-pos, também em palmais (p. ex. babaçuais); copas dasárvores. Ocorre da Colômbia e Equador à Bolívia, nortedo Amazonas (Óbidos), leste do Pará, Piauí, Brasil cen-tral, Minas Gerais e oeste de São Paulo. Em certas áreas(p. ex. no alto rio Xingu, Mato Grosso) ao lado deon

oeus. "Tanguru-pará", "Chora-chuva-preto*".

BICO-OE-BRASA-OE-TESTA-BRANCA,

27,5cm. Semelhante ao anterior mas com uma más-cara (fronte e mento) branco-amarelada. Bionomia e dis-tribuição semelhantes a da anterior; ocorre de Hondurasà Colômbia, rios Negro e[uruá, leste do Pará (Belém),Piauí, Bahia, Espírito Santo,'Rio de-janeiro, Mato Gros-so e Bolívia. "Tanguru-pará", "Biu-biwut" (Kamaiurá,Mato Grosso), "Bico-de-fogo", "Bico-de-cravo" (Bahia),"Juiz-do-mato" (Amazonas), "Sauni" (Pará), "Chora-ch uva -de-cara -branca "",

BICO-DE-LACRE,

27cm. Negro de bico vermelho; algum desenho nascoberteiras superiores da asa, lado inferior das mesmase encontro brancos. Imaturo de bico esbranquiçado e commenos branco na asa. seqüência de assobiostrissilábicos "trü-düelüd, trrü-düelüd ... ",às vezes três

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Page 240: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-02

BUCCONIDAE 489

indivíduos juntos, dando o efeito de uma campainha,um efeito de coro durante minutos. Ocorre da Venezuelae Guianas ao norte do Amazonas, do rio Negro ao Ama-pá. "Tanguru-pará", "Chora-chuva-de-asa-branca*".

CHORA-CHUVA-DE-BICO-AMARELO*,

s

20cm. Semelhante ao anterior mas de porte inferiore bico amarelo. Ocorre da Colômbia e Peru aos rios Ne-gro e Purus (Amazonas). "Tanguru-pará".

URUBUZINHO,ANooRINHA-DQ-MATO,Chelidopteteneb o

l6cm. De aspecto e comportamento muito originais.Bico curto, tino, curvo e negro; plumagem negra a cin-zento-escura, com o uropígio e coberteiras inferiores dasasas brancas, abdômen amarelo-ferrugíneo; pálpebra in-ferior branca como gesso, contrastando com a face escu-ra. Asas desproporcionalmente longas e largas, em vôomantém as pontas abertas como fazem os urubus (fig.181) e gaviões upo is) a cauda bem curta. bas-tante variada, p. ex. "tzi-tze-tze" (advertência); assobiosfinos e claros que lembram os do maçarico titis, "dí-didi", repetido, o que corresponde ao canto, sendo emi-tido pousado ou voando. Vive à beira da mata (p. ex.roçados), nas copas de altas árvores em ramos nus, ondecaçam insetos arremetendo em curvas elegantes (v. In-trodução); devidoà sua capacidade de levar a asaà frente

og ucconi el

Haverschmidt, F.1950.Condo 52:74.(hábitos)[ohns, A.D. 1991.ou Eco/.7:417-437. i Ponta

da Castanha,AM)*Peres, C.A.& A. Whittaker. 1991. uli. B.D. C. 111:156-171.

on fotografado,Urucu,AM)*Novaes, F. C. 1991.uli. B. O. C. 111:187-88.o

n. ssp.)"Parker, T.A. III& Remsen, J. Jr. 1987. uli. B.O. C. 107:94-107.

l sci Bolívia)"Sclater,P.L.1882. n h the s - ds [amilies

Gotbulidoe co e.4 vols.London:Porter,"Skutch,A.F.1948. li. 60:81-97.(hábitos)Skutch,A. F.1958.bis 100:209-31.(hábitos)

é capaz de verdadeiras acrobacias; afasta-se facilmenteem vôo ligeiramente ondulado acima da floresta, cha-mando bastante a atenção; é visto amiúde durante asviagens de navio através da Amazônia, pois gosta davegetação barranqueira. No solo e quanto ao ninho as-semelha-se a uma andorinha ("Andorinha-da-chão").Durante a procriação pousa igualmente em arbustos eestacas. Ocorre do norte da América do Sul até a Bolí-

: . via, Mato Grosso e São Paulo."Andorinha-cavadeira"(Espírito Santo), "Miolinho", "Taterá",i(Amazônia),"Taperaí" (Kaiabi, Mato Grosso).

A BFig. 181.Urubuzinho,Chelidopte tene aspectostípicos em vôo, posição da asa: horizontal (a);abaixa-da (b).Original, H. Sick.

Silva, J. M. C. 1991. 2:75-79. s l ,superespécie, taxonornia)"

Whittaker,A.,A.M.P.Carvalhaes& J.F.Pacheco.1995.Coting50. l Parque Nacional do Jaú,

. redescoberta)*Willis,E.O. 1982a.Ciê e 34:782-85. e o s como

seguidores de forrnigas-de-correição)"Wilfis,E. O. 1982b,Ciênc e Cult 34:924-28. corno

seguidores de formigas-de-correição)*Willis,E. O. 1982c.Ciênci e C 34:777-82.i th hus como

seguidores de formigas-de-correição)*Willis,E. O. & Y.Oniki. 1993. li. B. O. C. 113:23-34. s s

l s, SãoPaulo)

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490 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

CAPITÃES-DE-BIGODE: FAMÍLIA CAPITONIDAE (6)

Aves silvícolas pantropicais, abundantes na África eÁsia, mas com poucas espécies no neotrópico, onde seconcentram sobretudo no alto Amazonas. Fóssil doTerciário (Mioceno) da Europa; um Capitonidae citadopor Lund, encontrado na Lagoa Santa (Minas Gerais) éatualmente considerado um Bucconidae recente. Foi pro-posta a supressão da família Capitonidae que provounão ser monofilética e transferir todas as espécies decapitonídeos à várias subfamílias dos Ramphastidae;uma subfamília Capitoninae, formada pelos gênerosneotrópicos e Eubucco,é considerada monofilética(Prum 1988).

Quanto ao aspecto assemelham-se mais aos joões-bo-bos, pela cabeça grande e bico grosso cercado por cerdasrelativamente pouco proeminentes se comparadas a re-presentantes do Velho Mundo, que foram os responsá-veis pelo nome inglês o termo "capitão-de-bigo-de" ajustar-se-ia melhor à família anterior. A língua re-lativamente longa, pernas curtas de pés grandes ezigodáctilos (v. Galbulidae). A plumagem vivamentecolorida de escarlate, amarelo, preto e branco vistosos,lembrando às vezes os tucanos.Eubuccoé predominan-temente verde. Os sexos diferentes, o que é reconhecíveljá nos filhotes prestes a saírem do ninho.

A voz forte, baixa e rouca ("roncador", nome popu-lar) faz esperar uma ave bem maior, sendo audível a umquilômetro de distância. Seu canto é monótono; na épo-ca de reprodução, à tardinha, emitem estrofes prolonga-das, macho e fêmea pousados bem juntinhos, cantandoem um dueto uníssono no qual se nota ser a voz da fê-mea, a mais fraca. Um casal estimula o outro ao vocalizar.A liberaçãoda voz é ligada a certas posições forçadas ea movimentações rítmicas típicas para cada espécie;

p. ex., ronca de bico abaixado quase queverticalmente, embora o corpo pe'rm'aneçã bem ereto.

Procuram pequenas frutas, p ..ex., bagas das nume-rosas melastomatáceas e brotos; comem igualmente fru-tos de embaúbas . Costumam descer das co-pas para comer; seguram os frutos com os dedos parabatê-los,assim conseguindo despedaçar os maiores:' Vêmaos laranjais e outros pomares; sujam a plumagem dagarganta com sucos. Apanham animalejos como aranhase insetos; martelam em madeira e em cupinzeiros embusca de artrópodes ..

Pousam em postura ereta semelhante a dos.Bucconidae. Locomovem-se a longos saltos, fazendo, bulha na folhagem tal como os araçaris; tal semelhança,coincidente também quanto ao colorido exuberante, re-flete-se no nome "tucanuí" (tucano pequeno) que lhes édado pelos índios Kaiabi.

. São mais ativos que os Bucconidae, embora sejamtão confiados cdmo estes. Seu vôo é reto, atravessam ape-nas cUrtas distâncias: os rios largos .são obstáculosintransponíveís (v. também Distribuição). Quando irri-tados balançam a cauda. Vivem pela ramaria altaé

frondosa da mata (ao contrário dos Capitonidae africa-nos e asiáticos que ocorrem em paisagens abertas). De

, longe, aparecem como um fruto ~e cor berrante nas co-pas das árvores mais altas; em sua região e neste estratoestão entre as aves dominantes (p. ex. no alto rio Juruá,Acre, e no rio Beni, Bolívia). Gostam de banhos de sol.

Após os filhotes abandonarem o ninho, a família tor-na-se sociável participando de bandos de saíras, anambése outras aves frugívoras, reunindo-se também para dor-mir, usando às vezes ocos maiores em que caibam vári-os indivíduos de uma vez à feição dos araçaris.

Escavam seus ninhos em troncos mortos no qual amadeira, já amolecida, facilita o trabalho, uma vez queseus bicos não se prestam para o cinzelar como o dospica-paus, cujos buracos, assim como qualquer oco, àsvezes utilizam. O casal reveza-se no trabalho de confec-ção. Os ovos brancos, uniformes e brilhantes, lembran-do os dos Picidae, postos sobre um colchão de "serra-gem", produzido pelas próprias aves, no fundo da cavi-dade do ninho. Incubação curta, treze dias em uma es-pécie centro-americana. Os filhotes nascem nus e cegostendo um grande "calo" tarso-metatarsiano. Os paismantêm o ninho perfeitamente limpo, nele dormindojunto com os filhotes, cujo crescimento é lento. Acha-mos larvas de moscas de berne sp.) em exem-plares de

A distribuição pantropical dos Capitonidae é tão ad-mirável como o padrão distributivo semelhante de ou-tras famílias (p. ex. Trogonidae); a descoberta 'de repre-sentantes fósseis na Alemanha, no paralelo 49°N, de-monstra como mudaram as condições climáticas do Glo-bo e como mudaram as possibilidades de vida que per-mitiu a elementos tropicais transmutar-se para encon-trar condições adequadas, em locais bastante distantesdaqueles aos quais estão atualmente restritos.

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CAPITONlDAE 491

A escassez de Capitonidae na Amazônia pode seratribuída a uma concorrência com os tucanos e pica-paus- aqueles restritos ao Neotrópico, os últimos abundan-do neste continente, enquanto na América do Sul exis-tem apenas doze Capitonidae, a África, que abriga pou-cos Picidae, possui um total de quarenta e uma espéci-es; frisamos contudo serem estas aves mais dependen-tes de madeira mole do que aquelas, de forma que a efi-ciência escavatória dos Picidae poderia até favorecer oestabelecimento de Capitonidae por encontrar maismoradias prontas, neste contexto lembramos osDendrocolaptidae e Furnariidae. '

As espécies amazônicas apresentam-se em uma sé-rie de populações de colorido diverso que estão separa-das pelos largos cursos de rios; tais representantes, an-teriormente tidos como espécies, são atualmente parci-almente colocados apenas como raças geográficas oualoespécies. (v. Galbulidae).

Iden

A determinação de diversas formas exige literaturaespecializada que registre os pormenores da coloração.Há dois representantes de costas verdes ense Eubucco e três de costas negras ,C. e nige

CAPIT ÃO-DE-BIGODE-DE-BONÉ-VERMELHO, to

17,2cm. De costas verdes, vértice escarlate (macho)ou esbranquiçado (fêmea), garganta e peito laranja, ab-dômen esverdeado; a base do bico pode ser amarela (ma-cho). forte ... Ocorre do alto Amazo-nas (Colômbia, Peru) ao rio Negro e Tefé (Amazonas).[Sendo típico para as florestas de várzea, está entre asespécies arborícolas mais comuns da Estação EcológicaMamirauá, onde é conhecido por "Uru", onomatopéiaa. F. Pacheco).]

CAPITÃO-DE-BIGODE-DE-C~A, Pr. 44,3

17,2cm. De costas negras com o meio do dorso bran-co; vértice escarlate (macho) ou preto (fêmea), garganta.pardacenta, flancos negros, coberteiras inferiores da cau-da escarlates como as dos tucanos; bico esbranquiçado.

baixo ... .Ocorre ao sul do Amazonas, dorio [avari (Amazonas) ao Tocantins (Pará), meridional-

( ej t Ge

Chaprnan, F.M. 1921. . . 2:1-8. ecius,descrição)'

Miranda-Ribeiro,A. 1929. . ç. o de e o5:57-70.(morfologia)Parker, T.A., III, A. Castillo U., M. Gell-Mann & O. Rocha O.

1991. . B. O. C. 111:120-138.(Eubucco tuc , hábitat,

mente aos rios Guaporé (Rondônia) e Teles Pires (MatoGrosso). Também na Bolívia. (Kaiabim, MatoGrosso), "Capitão-de-cinta'"'.

CAPITÃO-DE-BIGODE-CARIJÓ,

Pr. 23, 7

17,5cm. Costas negras, fronte e garganta escarlates.rouca e compassada, lembrando a do udu,

(canto); , bem duro e baixo (chamada). Ocor-re das Guianas e Venezuela à Bolívia, alto Amazonas atéo Amapá, na mlrgem direitaaté Madeira; relativamen-te abíindante 1').0 alto Juruá (Acre). "Cabocló-de-bígode:","Caboclo-velho".

CAPITÃO-DE~PEITO-MARROM,

En

Descrita em 1921, com base em quatro exemplaresde Vila Braga, rio Tapajós, Pará colecionados por E.Snethlage (Chapman 1921), foi subseqüentemente con-siderada por. Meyer de Schauensee (1966) como subes-pécie de C. nige , a despeito de suas relevantes diferen-ças na plumagem. A reelevação ao nível de espécie comopresente em Sibley & Monroe (1990) é corroborada porrecentes dados obtidos no campo (B. M. Whitney, L. L.Short). Sua distribuição conhecida restringe-se a mar-gem esquerda do Tapajós num paralelo com a dispersãodo formicarídeo g i.

CAPITÃO-DE-BIGODE-LTMÃO,' Eubucco i

15cm. Menor representante brasileiro, de costas ver-odes; o macho com o vértice, lados da cabeça e mentoverrnelhados, garganta amarelo-limão e peito averrne-lhado; a fêmea de vértice verde, sobrancelha amareladae garganta cinzenta. Ocorre da Colômbia e Peru aos rios[uruá e Madeira (Amazonas)."Capitão-verde'"'.

CAPITÃO-DE-COLAR-AMARELO, Eubucco

15cm .. Recente.mente encontrado na região deTaumaturgo, oeste do Acre (A. Whittaker). Descrito dosudeste do Peru, esta pouco conhecida espécie foi en-contrada em maio de 1990 no Departamento de La Paz,Bolívia (Parker et . 1991).

primeiro registro na Bolívia)'Prum, R. O. 1988.ool. J. ne n . 92:313-43. (filogenia)Ripley, S. D. 1945. 62:542-63. (morfologia, parentesco)Sick, H. 1958.Condo 60:339. pito d i, distribuição)Skutch,A. F.1944. 61:61-88. (hábitos)

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492' ORNITOLOGIA BRASILEIRA

TUCANOS, ARAÇARIS: FAMíLIA RAMPHASTIDAE (21)

Aves arborícolas restritas ao neotrópico, distri-buem-se desde o México até a Argentina; estão entre oselementos mais pitorescos e mais citados dentre a faunado continente americano e dos trópicos em geral. Nãose conhecem fósseis antigos até agora, havendo restosde » toco do Pleiscoceno (20.000 anos) de La-goa Santa, Minas Gerais.

Aparentados aos antecessores dos Picidae e nãoaos Cala os (Bucerotidae, Coraciifprrnes), detentores debicos igualmente descomunais, da África e da regiãoOriental. Uma nova análise filogenética, baseada tantoem carateres morfológicos e paleontológicos como emDNA-hibridação, levou Prum (1988) a incluir emRamphastidae todos os capitonídeos (também os doVelho Mund-o), distribuindo-os entre várias subfarrulias.

g

Excepcionais pelo quase monstruoso bico, cujo com-primento pode mesmo exceder o do corpo stosiu nus e R. toco) e que, apesar de duro e cortante o sufi-ciente para lacerar a nossa pele, é leve, poroso etranslúcido quando visto contra a luz. São muito sensí-veis a lesões no bico causadas, p. ex., por um bago dechumbo. Os tômios são cortantes e denteados.

Na evolução do colorido da ranfoteca houve resul-tados os mais surpreendentes e a alteração de sua apa-rêncía tornou-se mais importante do que a da pluma-gem; a existência de "dentes" além de arabescos pinta-dos põe-no em relevo ainda maior, sendo o ornamentocaracterístico das diversas espécies. Mesmo o interiordo bico é colorido vivamente, contrastando com o exte-rior; desta maneira stos uitellinus tem o bico ne-gro com o interior vermelho-sangue, o que causa umefeito ainda mais chocante quando a ave abre as mandí-bulas. O interior do bico de R.toco tem a mesma cor ber-rante do lado externo, enquanto que a boca é plúmbea.Em exemplares de coleção, as vivas cores da ranfotecaperdem-se ou se alteram, de modo que há pouca infor-

. mação sobre este aspecto tão importante, uma vez que amaioria dos estudos foi realizada em museus.

Duas são, aparentemente, as funções de tão insólitoapetrechamento das ranfotecas: serve de "cartaz", comouma apavorante catadura (vide acima) berranternentecolorida que serve para coagir animais que os atacari-am e para amedrontar rivais; seu efeito é dar ao porta-dor um vigor que lhe é estranho, espantando a todos e,em especial, outras aves que são os seres que mais secontactam com os tucanos. Assim, a interpretação,antropomórfica, de que há uma "dentaduraatemorizante" deve ser válida até certo ponto. Nãoobstante, a bicanca dos tucanos pode ser uma arma te-mível; v. também sob Folclore. A segunda função do bico

dos ranfastídeos poderia, ainda, ser o de atrair um com-panheiro, contudo a importância do colorido no reco-nhecimento interespecifíco não deve ser tão grande,já

. que há muito cruzamento de representantes deranfotecas diversamente coloridas (p. ex. entre· h os t. t e R. t. i a identificaçãoparece ser principalmente vocal.É interessante assi-nalarmos que naturalistas do século XVI, que rece-beram apena1 os bicos de tucanos, concluíram queos JIlesmos deveriam ser uma adaptação peculiar deaves 'aquáticas à pesca. .'.

Os imaturos são de bico mais curto e de proporçõesdiversas, menos denteado, mal colorido e mole. Ninhe-; ,gos de poucos dias tem bico triangulado devido à lar-gura da base. Os jovens de h llinus e R.

, dicolo us não possuem crista diferenciada do cúlmencomo os adultos; nos adultos as narinas invisibilizam-se na base do bico (R.toco). A língua longa assemelha-sea uma pena lossus - "língua em forma de pena").A região perioftálmica nua é ricamente colorida, poden-do ser ampliada com o arrepiar de penas da cabeça, exi-bindo assim, às vezes, uma cor diferente; desta manei-ra, p. ex., t lossus h i (em ambos os sexos)ostenta uma área rubra atrás da zona nua ao redor doolho, que normalmente permanece oculta, ao contráriode uma segunda faixa encarnada de pele nua ao lado daplumagem do vértice; insc iptus pode au-mentar o triângulo vermelho pós-ocular. Pálpebras e írisigualmente vivas e coloridas, sendo que a desta últimapode ter sua coloração alterada tal como a região peri-oftálmica nua, conforme a área geográfica (v. stositellinus). Em certos araçaris elen l ee glossus bit q us) a pupila dá a falsa impressão

de uma fenda horizontal (em vez de uma pupila "nor-mal" redonda, central) pela presença de uma faixa escu-ra através da Íris, A cor da íris dos filhotes é marromescuro e passa depois, entre o 10° e 15° dia de vida, parauma cor viva, p. ex., azul em h tos dicolo us, aindaantes de voar (Oliveira 1985).

Plumagem vistosa embora não alcance a variação dobico; destaca-se freqüentemente o "papo" cujo colorido-pode passar, na' mesma espécie, do amarelo-ovo ao bran-co puro distinguindo raças geográficas tos

tellinus). Uma característica importante é a "rabadilha"(coberteiras superiores e/ou" inferiores da cauda).

O pé zigodáctilo, como nos papagaios e capitonídeos.A glândula uropigiana é bipartida, como nos pica-paus.Os sexos semelhantes, exceto nos ue idis e

macho adulto geralmente mais pesado e fre-qüentemente reconhecível pelo bico mais longo e colo-rido que o da fêmea; podem ocorrer casais nos quais omacho tenha o bico mais curto tos toco).

llonius e lossus são espécies bemisoladas morfologicamente.

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Page 244: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-02

RAMPHASTIDAE 493

O fenômeno singular de que no alto Amazonas ocor-rem duas espécies simpátricas e sintópicas de tucanos,uma grande, e outra peque-na, R. ambos de papo branco esupracaudais amarelas, é um bom exemplo de ummimetismo agressivo ou competitivo: a espécie menore mais fraca que, em outras áreas como no sudeste doBrasil, tem o papo amarelo e supra caudais vermelhas,imita na Amazônia a espécie grande para não ser expul-sa pela mais forte nas fruteiras mais procuradas. A alte-ração do colorido do pequeno é perfeita no sentido deficar eficiente de todos os lados: vista de frente, de cimae por baixo. Não importa que a vocalização das duasespécies seja totalmente diversa: o pequeno querendocomer na mesma fruteira, precisa ficar calado para nãorevelar sua' identidade, ao grande (v. Vocalização). As-sim o mimetismo morfológico exige também uma alte-ração de comportamento: o disfarce tem que ser com-pleto. O fruto mais cobiçado pelos tucanos é o da ucu-beira sp., Myristicaceae); tem um arilo vermelhoque pode ser considerado um alimento perfeito. Os tu-canos se tornam dispersores importantes dessas plan-tas (v. Alimentação). .

A convergência de caracteres em espécies simpátricasestá atraindo a curiosidade de cientistas nos últimos anos(p. ex. Moynihan 1969, Cody 1969). As causas podemser bem diferentes. O mimetismo agressivo dos tucanosé um fenômeno raro, apresentado em 1983 pelobioquímico Hipólito F. Paulini Filho e porJ. Vielliard noV Encontro Regional de Química de Araraquara, SP.Mirne tismo agressivo é também o caso de

(Accipitridae) que imita um urubu e o fenô-meno do parasítísmo dos cuculídeos.

Um ronco, grito ou latido; o canto deé uma das vozes dominantes na Amazônia, emi-

tindo estrofes longas e compostas que à distância pare-cem alegres e melodiosas.

Os tucanos vozeiam mais de manhã, à tarde e depoisde chuvas; para tal juntam-se alguns indivíduos (da mes-ma espécie) nas copas mais altaneiras, fazendo mesu-ras, virando-se de lado, exibindo o papo, a rabadilha e obico brilhante, assumindo assim as mais extravagantesposições e estimulando-se mutuamente. Os tucanos vi-zinhos sincronizam suavocalização, aguardando, atécerto ponto, o colega terminar para só depois responde-rem. Quando R. grita, atira a cabeça para cimaem cerimônia vistosa, mesmo a longa distância. Osaraçaris do gênero vivem escondidos na flo-resta e seu ronco lembra o de um sapo. Um matraquearde toco, que vulgarmente supõe-se ser pro-duzido por um bater de mandíbulas, é na realidade vo-cal sendo emitido de bico escancarado. Aparentemente

existem diferenças de vocalização entre o macho e a fê-mea. Araçaris tentam às vezes imitar vozes de outrasaves, como melhor analisado emno México, por H. O. Wagner (1944).

A voz torna-se um meio seguro para compreenderque tucanos tão diferentes como uiiellinus

e R. pertencem à mesma espé-cie, 'pois têm voz igual; o mesmo ocorre com os repre-

.sentes i. e R. cuuie cujosbicos podem ser muito diferentes no colorido (v. sobEvolução). Sendo a vocalização da maior importânciana orientação interespecífica dos tucanos (v, Evolução),ela precisa ser] reprimida no caso do mimetismo agres-sivo, caso não tenha evoluído ainda um numetismo acús-tico ~omo nos:Viduinae parasitas da África.

Os gritos dos tucanos, emitidos à t~rdinha anunci-ando a despedida do dia, dãoàs matas su'l-americanasum dos seus cunhes mais característicos de ambienteneotropical; sua falta é indício seguro de atividades ra-pineiras do homem.' ,

Tucanos são basicamente frugívoros, gostando dosfrutos das figueiras goiaba mandio-queira caruru-bravo Gostamde frutas de árvores altas da mata primária como osdeLauraceae (p. ex. na Reserva Ducke, Manaus, Amazô-nia) e tornam-se seus dispersores (ornitocoria). São fru-tos grandes (p. ex. 4cm de diâmetro) e carnudos, ricosem gorduras e proteínas; contém freqüentemente ape-nas uma semente grande e com muitas reservas para seéstabelecer bem no solo da mata. Esses frutos não sãoum recurso alimentar muito regular mas podem ser lo-calmente abundantes (v. também sob Migrações). Os tu-canos encontram-se ali com os cotingídeos. Apreciamos coquinhos de palmeiras, p. ex. palmito, açaí ,bacobá e muitas outras; vêm aos cafezais epomares para comerem frutos verdes, podendo descerao solo destes últimos para aproveitarem-se daquelesque estejam caídos (R.toco e R. Gostam, comoa jacutinga, os sabiás e outros, dos frutos da pimenta-malagueta. Encontramos e e

comendo as frutas da imbaúbaQuando se trata de frutinhas bem pequenastcomo as dacapororoca, spp., Myrsinaceae), e que-bra o respectivo ramo para melhor "manuseá-lo". jogan-do-o para o alto e em seguida movendo-o de um ladoao outro do bico até retirar todas as frutinhas; depoisdeixa cair o ramo. O ato de quebrar o galho lembra cer-tos psitacídeos cuja técnica é ainda mais aperfeiçoada,usando um dos pés - mas estes últimos destrõem assementes, roendo-os; não se tratando de ornitocoria massim de predação. Os Ramphastidae estão entre os gran-des dispersores de sementes, tanto mais que regurgitamcaroços e pelotas com várias sementes ilesas. Consta que

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494 ORNITOLOGIA BRÀSILEIRA

sementes maiores com cápsulas resistentes germinamainda após vários dias de permanência nos intestinosde aves. Na Amazônia a dispersão de sementes (sobre-tudo também de frutos grandes) é realizada freqüente-mente por peixes; em alguns casos participam macacos(como eIes e morcegos.

, Enquanto os araçaris são indivíduos mais vegetaria-nos, os tucanos apanham qualquer animal pequeno acomeçar por aranhas, grilos e cigarras; R. cap- .tura cupins em revoada pousando em um cupinzeiroarborícola e apanhando os insetos em sua superfície ouem pleno vôo. Investiga tudo que se assemelha a umninho de pássaro, não escapam 'as bolas de matéria ve-getal que constituem os ninhos de bentevis e caneleiros( h phus) tais montões são desmanchados e revi-rados, não tendo as aves procurado os acessos ao seuinterior, Não escapam nem os ninhos pendentes deícteríneosque se associam em colônias, p. ex. xexéus(C icus ce tucanos cu e R.toco) e araçaris oglossus notis)chegam,às vezesaos bandos, a essas colônias, cada espécie independen-temente. Parecem dividir o trabalho, mas não há umaverdadeira colaboração do grupo, cada indivíduo faz oque se oferece para seu agrado individual. Enquanto quealguns pousam abertamente sobre os galhos exibindo-.se e gritando, como que querendo intimidar os xexéus,outros voam diretamente para os ninhos. Geralmentenão acham tão facilmente a abertura para saquear osovos ou os filhotes, começando tal faina puxandodesordenamente as extremidades dos ninhos. A força dostucanos acaba por proporcionar-lhes maior sucesso, en-quanto os araçaris encontram maior dificuldade. Sãoatacados em tais colônias apenas os ninhos isolados.Pode acontecer de, durante estas investidas, o ninhodesprender-se do galho mas os salteadores não descempara apanhar a presa caída ao solo; parece que de nadavale a presença de marimbondos que tantas vezes estãoinstalados no meio das colônias dos icteríneos; estes po-dem fugir antes que os predadores pousem perto de seuninho, deixando-se cair silenciosamente no sub-bosque.Não faltam porém registros de que os tucanos foramexpulsos por um ataque maciço de vespas ou abelhas-cagáfogo, g sp. (v. lcterinae).

Pesquisam também buracos, como ocos de pica-paus,se a entrada é suficientemente larga. Presa fácil para R. ~dicol us são filhotes de pintassilgo, elis e icus,instalados nas copas dos pinheiros (Santa Catarina). Umtucanuçu manso, pousado alto num telhado, se precipi-tou contra pardais e pombinhas que forrageavam nochão obtendo sucesso. Apanham morcegos em seuspousos diurnos. Os filhotes recém-saídos do ninho (re-conhecíveis pelo bico curto) são mais ávidos por carne,tornando-se perigo para qualquer ninho de pássaro. Obico longo presta serviço de habilidosa pinça mas existeo problema de levar o butim da ponta do bicoà bocadistante: com um movimento rápido antero-posterior dacabeça atiram diretamente ao esôfago os bocados peque-

, nos que podem ser um inseto minúsculo (v. tambémbeija-flor e C p / h hus). Uma presa maiorétrinchada, o que fazem pisando-a com um ou doispés para fixá-Ia; quando engolem o alimento dirigemo bico para cima.

São muito inquietos nunca parando, movimentam-se pulando através da ramaria graçasàs pernas e pésfortes; movem a cauda lateralmente ou erguem-na a pru-mo. Sua aparência em vôo é ainda mais curiosa pelo bicocolossal que ~ mantido esticado para a frente; após al--gumas batidas rápidas de asas imobilizam-nas sobre osfIancos perdendo altura; destamaneira- descrevem umatrajetória ondulada, a qual se nota mesmo quando ba-tem ininterruptamente as asas, Nos s tocoum'curto período .de curtas'batidas pode ser seguido porum planar mais demorado, no qual mantêm as asasabertas, em um curso horizo~tal reto ou quase reto.Quando um bando atravessa uma clareira, voam emfila indiana.

Tanto os tucanos como os araçaris produzem, ao voar,um ruído característico que trai suas presenças ao ob-servador que, no solo da mata fechada, não conseguevê-los: tais efeitos são obtidos através das rêmiges ex-ternas modificadas em rêmiges sonoras.À exceção de

toco, evitam sobrevoar espelhos d'água maisextensos. Os araçaris têm um voar rápido e até veloz acurtas distâncias, sua cauda forma interessante contra-peso para o bico enorme.

Gostam de banhar-se na folhagem molhada pela chu--va (R. tuc . Um araçari manso, chegandoà sua "ba-nheira" (um casco de jaboti vazio) se limitou a mergu-lhar o bico e sacudir a cabeça - tomando então um ba-nho imaginário. Tucanos bebem água nas taças debromeliáceas epífitas como as abundantes nodossel superior (copa) de boas matas do sudeste -belíssima combinação visual dos neotrópicos.

A tardinha os tucanos que vivem em coletividade,tornam-se inquietos e se reúnem em grupos, que na horado pôr do sol, voam a certos lugares onde dormem jun-tos. Pousados no galho e querendo dormir elevam a cau-da, com elas cobrindo a cabeça a qual é mantida viradapara as costas (fig. 182), mantendo o bico oculto sob asescapulares, posição esquisita ao que parece relaciona-da com seu hábito de dormirem em cavidades; assumemtal posição igualmente quandovão dormir sobre umgalho. A ereção da cauda é automática; quando se tor-nam sonolentos toda sua musculatura se relaxa, sendoo rabo puxado sobre as costas por tendões dorsais semque a ave faça o, mínimo esforço; concomitantementevergam as pernas pousando de barriga sobre o substrato,exatamente como uma galinha no poleiro.

Parece que os araçaris pernoitam sempre em bura-cos, às vezes juntos em bom número, "enchendo" a res-pectiva cavidade; pode acontecer de um ou outro indi-

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RAMPHASTIDAE 495

Fig.182.Araçari, dormindo; acauda se levanta automaticamente e chega a cobrir acabeça.Original, H. Sick.

víduo sobrante ter de procurar outro abrigo.É difícilsaber onde os tucanos dormem se não estão a cuidardos ovos ou dos filhotes. Soubemos primeiramente atra-vés de índios do Brasil central que, para pouso noturno,utilizam copas frondosas pousando lado a lado em con-tato corporal. Sonolento, um araçari manso procurouuma forma de se agasalhar: enfiou seu bico em nossasroupas, manifestando assim o instinto de introduzir obico, a parte mais sensível do seu corpo; evitando tam-bém picadas de mosquito na face nua desprotegida.Neste mesmo indivíduo observamos atividades oníricas:fazia movimentos levíssimos semelhantes aos provoca-dos por picada de mosquito. Nessa ocasião às vezes "es-pirrava", tão baixinho que só se ouvia de bem perto.Ramphastidae "bocejam" (v. pombas).

ocasal alimenta-se mutuamente trazendo a comida,p. ex., um punhado de bagas, no esôfago; dianteda-suacompanheira, a ave que alimenta expele rapidamente obutim, que sai como uma descarga de revólver para aque está sendo alimentada, a qual mantém-se de bicoentreaberto recebendo e engolindo a dádiva. Em geraladmite-se como certo que apenas o macho dê comida àfêmea, como é regra geral em muitas aves; todavia E.Béraut registrou, em indivíduos sexados, que a fêmeachama o macho ao interior do ninho oferecendo-lhe co-mida . Casais de tucanos ar-rumam mutuamente a plumagem e se encontram nacâmara incubatória onde batem amigavelmente o bico.

Elegem como ninho um buraco ou fenda existenteem uma árvore situada a boa altura; tocoaproveita-se, P: ex., de buritis ocos como fazem tantospsitacídeos (rio das Mortes, Mato Grosso); em MinasGerais o tucanuçu nidifica freqüentemente em barran-cos, nos cerrados de Mato Grosso em cupinzeiros ter-restres, abertos por pica-paus-de-campo. Um tucano-de-bico-verde, R. tirou as favas de um vespeiro,

; .instalado num buraco onde queria nidificar (Itatiaia, Riode Janeiro, E. Gouvêa). Araçaris procuram,ocos de pica-paus, chegando a brigar com os donos. ::

O bico. dos tucanos não se presta a carpintarias emmadeira dura,jmás às vezes tiram lascas de pau podre,para ,alargarufn buraco ou entrada do m.esmo; afofam ofundo da câmara com madeira dopróprio ninho, nãocarreiam ma terial. usa, ocasional-mente, um cupinzeiro oco ~m ~a árvore.

Põem de dois a quatro ovos pequenos, elípticos ebrancos sem brilho, podendo tornar-se marrom por su-jeira, lavável (terra no caso de R.·toco).Consta que o pesodo ovo de corresponde a ape-nas 5% do peso da fê~ea. Quando têm ovos ou filhotessão cautelosos ao extremo, o que dificulta sobremodo adescoberta do ninho; por esta razão os ovos deranfastídeos são tão raros em coleções oológicas. O pe-ríodo de incubação, dos R. registrado por A.

.Ruschi em cativeiro, é de18 dias, durante os .quais a fê-mea incubou sozinha, sendo alimentada pelo macho.

Os filhotes nascem nus e cegos, com um calo tarso-metatarsiano (fig.183) composto de escamas espinho-sas, no qual se apóiam colocando as pernas lateralmen-te ao corpo e deitando sobre a barriga, viram a cabeçapara as costas. Esses calos(hee característicos paraos Piciformes, ocorrem, modificados, p. ex. emAIcedinidae, Psittacidae e Apodidae (v. sob os últimos).

Fig.183. Pé direito de um jovem tucanuçu, p stostoco,que acabou de sair do ninho; o calcanharéprovido de escamas que protegem o tarso durante aprática de pousar sobreo fundo de madeira nãoacolchoadodo ninho (seg.Krieg1948).

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496 ORNITOLOGIA BRASILEIRAIIj

1São prógnatos: mandíbula proeminente (v. tambémoutros Piciformes e Coraciiformes). Os filhotes de R.tocose traem pelo forte pedinchar dentro do buraco do ni-nho, na ausência dos pais. Tanto o macho como a fêmeaalimentam os ninhegos, oferecendo muitos insetos. Alimpeza da cavidade é difícil pois os excrementos sãomeio líquidos; na câmara acumulam-se os caroços cus-pidos (coquinhos de palmito, etc.). Finalmente os paispodem esvaziar o buraco. As crias de R.tellinus aban-donam, em cativeiro, o ninho com 25-30 dias de vida;começam a comer sozinhos 8 a 10 dias depois. Um fi-lhote de os tus, da ~mérica Central, es-tava ainda quase nu com três semanas de vida e aban-donou o ninho apenas aos 47 dias. Os calos tarsianoscaem após a saída do ninho.

D ibu -e e

. Estiveram sujeitos a ampla especiação em decorrên-cia das alterações climáticas pleistocênicas. Evoluíramem uma hiléia cortada em pedaços, os quais se torna-ram refúgios de toda a fauna silvestre durante esta épo-ca mais seca. Posteriormente, acompanhando uma novaexpansão da Amazônia florestal em um período maisúmido, entraram novamente em contato, cruzando li-vremente, pois não haviam atingido o isolamento repro-

Fig.184.Distribuição de tucanos, 'representantes detntellinus e p tos dicolo s (seg.

Haffer 1974).

dutivo (p. ex. stos . iteIlinus e R. . cul textra-amazonicamente estabeleceu-se um outro centroevolutivo no sudeste do Brasil; onde surgiu R.d .

O processo de substituição geográfica de tost. e R. t. cuuie i é semelhante ao das várias for-

Fig. 185.Distribuição de araçaris, superespéciee og/ossus i(seg. Haffer1974).

-r !j t

Fig. 186.Distribuição doaraçari-poca,li e, superespécie (seg. Haffer1974).

mas de R. llinus. R. i nus i, representante doalto Amazonas, conseguiu avançar mais para o orienteno sul do Amazonas, pois ali não existia representantede porte que lhe concorresse; em nenhum local vivemmais de duas espécies de , sendo na Amazô-nia sempre uma grande, pertencente à superespécie

, e outra, pequena, do grupo

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RAMPHASTIDAE 497

dicolorus-R. tniellinus. O caso da simpatria,local e periódica, de R.dico e R. duasespécies de talhe semelhante, constitui uma exceção;dico é de preferência montícola.

Foi da maior importância provar a existência de lar-gas zonas de hibridação entre as formas menores do gru-po de R. itellinus, assim como entre as formas grandes(R. cu ie e R. si, minuciosamente estudados porJ. Haffer (1974). Um dos resultados destes levantamen-tos foi a eliminação de espécies ou subespécies (p. ex.

es e R. os ) que não passavamde híbridos oriundos das zonas de transição. Notucanuçu, stos toco,único elemento campestre dafamília, de locomoção mais fácil e'ocorrendo em imensaárea, quase não há diferenciação fenotípica.

A distribuição dos araçaris obedece um padrão se-melhante ao dos tucanos, embora não tenham sido en-contradas áreas de cruzamento; predominando a distri-buição alo ou parapátrica (figs. 185 e 186). O casoraríssimo de simpatria de formas normalmente rigoro-samente alopátricas ocorre em doise glossus no rioPeixoto de Azevedo, Mato Grosso, foram encontrados

c s e O..C. R. Magalhães). elenide ,ranfastídeos de locomoção reduzida, chama a atençãoque a evolução trabalhou principalmente no coloridodo bico; todos os representantes do gênero podem serconsiderados aloespécies que compõem umasuperespécie,

Na Amazônia os baixos cursos dos rios Negro, Ma-deira, Tapajós e o próprio Amazonas, todos muito lar-gos, têm ponderável efeito de barreira geográfica à pro-pagação de representantes desta e de outras famílias, oque não ocorre na parte alta dos cursos destes rios, quesão mais estreitos. Todavia, há de lembrar-se que mui-tas vezes existem, a jusante, numerosas ilhas floresta dasque poderiam servir de bases de apoio na transposiçãode um rio largo.

A voz é, geralmente, mais constante que os caracteresmorfológicos como colorido do bico, da plumagem, etc.,e pode servir de teste do grau de parentesco, o que éevidente para aqueles que, como nós, orientam-se pri-meiramente pela vocalização; nota-se assim, que as vo-zes de R. iiitellinus s e R. itellinus el sãoiguais, o mesmo valendo para R. iu cuu e R.iu nus tuc nus, destacando-se ainda que o "Dios te dé",

. voz característica destes últimos, é pronunciada da mes-ma maneira pelo sonii, daAmérica Cen-tral, que ali os substitui. A voz muito semelhante doselenid sugere um parentesco próximo. .

Haffer chegou à conclusão que 85% dos ranfastídeospertencem a "superespécies" ou a "espécies geográfi-cas", ou seja, formas descendentes de um antecessorcomum que excluem-se geograficamente. O conceito desuperespécie esclarece melhor o grau de parentesco(caso não se trate de raça geográfica) sendo portanto domáximo valor para a compreensão da zoogeografia; asupracitada percentagem é a mais alta calculada até ago-

ra para um grupo neotropical de aves. V. tambémGalbulidae e Cracidae.

É altamente interessante o mimetismo agressivo evo-luído em itellinus explanado aci-ma em capítulo próprio.

Após a quadra reprodutiva associam-se em gruposmonoespecíficos e perambulam pela floresta à cata desuas frutas prediletas, quando então pode-se encontrardiversas espécies.emcertas fruteiras ao mesmo tempo(p.ex. hstos uiiellinus . , oglossusc notis, P insc eP n e alto Xingu, MatoGrosso), sendo tal encontro provocado" unicamente pelaabundância.de alimento, não ocorrendo em outras situ-ações; em uma "boa" frutéira pode até aparecer uma.araçari-poca "espécíeesquiva que "usual-mente" vive solitária e oculta no estrato da 'mata densa.Quando voam, os bandos de aràçaris e tucanos não semesclam.

Ocorrem invasões de tucanos que, em certos anos,resultam em concentrações extraordinárias que atraemtodos habitantes locais para uma caçada fácil e emgrande escala (Amapá e leste do Pará); as aves são aba-tidas como alimento sendo o bico guardado comosou em uma dessas ocasiões apenas um caçadormatou facilmente 50 peças em um único dia (PortoPlaton, Amapá). Durante uma dessas movimentações,observadas no Amapá, os tucanos stos s)saíram da mata rumo ao norte, deparando-se com o rioAraguari que foi transposto apenas por aqueles que dei-xaram a margem meridional em vôo alto; os que parti-ram em uma trajetória mais 'baixa terminaram por cairna água. O mesmo foi registrado no rio Oiapoque onde,segundo consta, tais migrações são mais freqüentes (B.S; Pascoli).

A mesma espécie invadiu Belém, Pará, no mês dejunho de 1934 (ou 1936), junto com menores contingen-tes de R. as aves vieram pelo sul-sudeste da cidade,começando paulatinamente a surgir até que seu núme-ro atingiu quantidades ponderáveis; pousavam nas ár-vores das ruas, nos telhados, nas cercas, nos galinheirose nos postes de iluminação de onde invadiam as casas.Tal cerco, do qual participaram mil tucanos, ou mesmomais, durou cerca de uma quinzena com pesadas per-das para os invasores; os que escaparam com vidarumararn para o lado oposto (norte) da cidade; no finaldo mês não havia mais vestígios da vaga migratória (E.K. P. Silveira). Em uma outra ocasião, por volta de 1920,apareceu grande quantidade de R.ellinus nós arredo-res de Belérn, "vindos das ilhas" e, portanto, do norte(R. Siqueira).

. Invasões de tucanos-de-bico-verde (R.dicol us) fo-ram registradas também no sul do país durante o inver-no austral, ao mesmo tempo em que vêm os bandos de

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sabiás que se dirigem para o norte (Santa Catarina,Paraná, junho e julho). O mesmo sucede em Misionescom R. R. toco e, menos, com glossusc s otis. Frio antecipado, seca e uma resultante escas-sez de frutas na natureza leva ali, por vezes, a uma in-vasão dessas aves nas plantações; com o fim do inver-no, em agosto, os tucanos desaparecem em sua maiorparte (A. Neunteufel).

Na região de Taió, Santa Catarina, ocorreram regu-larmente em março/abril (década de 1930) durante afrutificação da Pindaúba sp., Anonaceae) gran-des deslocamentos de tucanos-de-bico-verde, osdicolo As aves vieram sempre da mesma direção. Osmoradores presumiram que os tucanos descreveram umgrande círculo, aparecendo, portanto, os mesmos indi-víduos, a certos intervalos, num certo ponto de obser-vação (C. Neideck, v: também sob jacutinga).

itos

Examinamos vários ranfastídeos que hospedavamnematóides sob a membrana' nictitante. Os filhotes so-frem com as larvas de moscas de berne de passarinho.Há outros dípteros hematófagos, como várias espéciesde hipoboscídeos, p. ex. o stoni em

os itellinus elvive e . Umad (G. tuc foi encontrada no intestino da mesma'

espécie. De araçaris foram descritos dois esporozoáriosda malária, pinotti e P.

I igos, utili , declínio, , c

Entre os poucos inimigos dos ranfastídeos estão osmacacos e os gaviões-de-penacho; um corujão,boui , capturou um itellinus que pro-vavelmente dormia na ramagem e não em um buraco.

São perseguidos pelo homem pois têm boa carne, sãoapreciados como troféu e seu bico tem aplicação namedicina popular. Os ninhos do tucanuçu, situados embarrancos, são considerados propriedade da rapaziadaque descobriu os ninhos.fiscalizando a retirada e a ven-da dcís filhotes. Os índios utilizam as magníficas penasda rabadilha dos tucanos em seus adornos como já do-cumentado por Léry em 1557 (Léry 1961). Os monarcasbrasileiros (Pedro I e Pedra 11)usavam uma murça, emforma de poncho, feita de peitos de tucano (R.e/linus),como manta de gala; há ainda uma outra murça imperi-.al confeccionada de penas de galo-da-serra (v. História).Em regiões onde existem ainda em bom número, po-dem fazer estragos nos pomares e quintais; as visitas aplantações ocorrem com maior freqüência quando ra-reiam os frutos da mata.

Os tucanos e araçaris já foram abundantes ao pontode serem vendidos em mercados de cidades como o Riode Janeiro. Já desapareceram de muitos lugares; são fre-qüentemente vítimas de sua curiosidade, sendo facil-

mente atraídos com assobios próprios. Essa particulari-dade já foi descrita e ilustrada por Bates (1863) na oca-sião queele tinha ferido um araçari-mulato, t lossusbe uh e logo se viu cercado por uma d des-sas aves.

A conservação de tucanos em reservas pequenas équase impossível devido à sua índole inquieta, a seus

.costumes sociáveis e migratórios. Quando se focaliza, um repovoamento deve-se considerar a necessidade degrandes ocos de árvores que exigem para nidificar, ocosestes que não são tão abundantes nem em matas primá-rias. A preservação dos ranfastídeos é do maior interes-se pois alinhará-se entre os mais peculiares elementosda de nosso país. . .

É curioso-que na lenda brasileira o tucano se tornouridículo. O tucano; com seu bico enorme, queria ser orei dos alados. Escondeu-se no interior do troncode uma

árvore, deixando. apenas aparecer o grande bico. Pelas. dimensões do bico, as aves já se dispunham a aceitá-Iacomo rei. Quando o tucano, porem, saiu do buraco, osabiá gritou: "Ora, bolas, é só nariz!", deixando o tuca-no desmoralizado.

D dos iden ti ic

1. Araçaris - Há três tipos, a saber:1.1) l1.2) e oglossuse onius1.3) e/enide

Ao passo que i/lonius é monoespecífico, há muitaespeciação nos lossus e e/enide que exigem todaa atenção para o colorido do bico e das partes inferiores.

t gloseus é freqüentemente avistado por baixo, sen-do fácil então discernir, p. ex., as três espécies que ocor-rem na mesma área de Belém, Paráe oglossus i,P.bito u s e P.ins ptus), não havendo mesmo neces-sidade de observar-se o bico. Todos os lossus e

têm as supracaudais vermelhas enquantoelenid tem tal cor nas infracaudais. Na faixa litorâ-

nea do Brasil ocorrem apenas lossus lloniuse elenide u is.Os ul hus são verdes.

2. Tucanos - Reconhecemos, para o Brasil, quatroespécies: "

2.1) Pequenas: p ios itellinus e R.dicol .

2.2) Grandes: p stos tuc use R. toco.

No Brasil oriental ocorrem apenas R. llinus l e~. dicol no interior começa a aparecer R.t a Ama-zônia brasileira é dominada por R. llinus {de peitoamarelo ou branco) e por R.t nus (de bico preto ouvermelho).

Todos os tucanos têm infracaudais vermelhas; o co-lorido das supracaudais, contudo, varia e torna-se im-portante na diagnose; o mesmo vale para a coloração daregião nua perioftálmica e da íris. Há duas extensasáre-

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RAMPHASTIDAE 499

as de cruzamento de tucanos florestais na Amazônia,tanto os pequenos como os grandes, o que resulta emuma -mistura de caracteres que cria muita confusão nojulgamento, caso não se esteja a par destas condições.

TUCANINHO-VEROE,

38,Scm. Representante de um grupo de pequenosranfastídeos andinos pouco conhecidos no Brasil; ver-de com o bico negro de base e ponta vermelhas; gargan-ta esbranquiçada, ponta da cauda castanha. Habita asmontanhas fronteiriças com a Venezuela (SerraTapirapecó) até a Bolívia, inicialmente nos Tepuis e emseguida através dos Andes.

TUCANINHO-OE-NARlZ-AMARELO*,

prasinus

[36cm. Vários indivíduos observados perto de Pláci-do de Castro, Acre em julho de 1989 (Forrester 1993).Com ampla ocorrência nas florestas andinas daVenezuela à Bolívia e por toda a América Central doMéxico ao Panamá.]

ARAÇARl-CASTANHO,

Pr. 24,5

43cm. A espécie mais conhecida e comum dentre osaraçaris do Brasil central e meridional. Bochechas, gar-ganta e nuca castanhas; faixa vermelha da barrigaalargada nos lados. Bico multicolor, com" dentes" bran-co-amarelados brilhantes, com uma cinta amarela aoredor da base do bico a qual é realçada por uma áreavermelha; parte basal da maxila extensamente negra,parte anterior da maxila caramelo. penetrante"psía", "psip", "tschi::irik". Vivem na mata alta, freqüen-temente nas copas como a maioria de seus congêneres eos tucanos. Ocorre da Colômbiaà Bolívia e ao Paraguai,Brasil centro-meridional (Mato Grosso, Goiás, MinasGerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul) e Argen-tina (Misiones), "Tucani" (Kamaiurá, Mato Grosso).Substituto geográfico de , com o qual'se encontra no interior do Paraná, São Paulo e no sul deGoiás. V também

ARAÇARI-OE-BICq-BRANCO,

Fig. 187

43cm. Substituto do anterior no Brasil oriental. In-confundível pela maxila branca, cumeeira negra, ausên-cia de vermelho na base do bico (que também não pos-sui "dentes") e mandíbula negra; estreita cintaavermelhada na barriga. bissilábico "biditz" (cha-mado), "spiãrrr" (advertência). Vivem na mata; no Es-pírito Santo tanto em baixadas quentes (rio Doce) como

nas montanhas (Limoeiro, 1000 m). Ocorre das Guianase leste da Venezuela ao norte de Mato Grosso (rios TelesPires,Tapajós eSuiamissu; ocasionalmente no rio Xingu)e até o leste do Pará e Maranhão; também no Nordeste,leste e sul do país (até Santa Catarina). Anteriormentecomum na faixa costeira (Rio de Janeiro, etc.), onde atu-almente está extinto na maioria dos locais. Na área deBelém (Pará) ao lado de s e P.i no Amapá simpátrico comP. . "Cami-sa-de-meia", "Culico" (Minas Gerais),"Tucano-de-em-ta", "Araçari-da-mata" (Rio de [aneiroj.vAraçari-mi-nhoca" (Rio de Janeiro). Forma umasuperespécie,juntocom P. é P. .

! ..

Fig.187.Araçari-de-bico-branco,e oglossus i,posição de alerta.

ARAÇARl-OE-CINTA-OUPLA,

. 43cm. Semelhanteà espécie anterior mas com duascintas, uma peitoral, negra e estreita, e outra ventral,rubro-negra e larga. Ocorre no alto Amazonas, do altorio Negro à Venezuela e Peru; também no sul do Pará(Serra do Cachimbo, junho 1956, coletado um exemplar).Pode ser considerado substituto geográfico de P. ..Localmente simpátrico com P. .

ARAÇARl-MIUOINHO,

33cm. Menor espécie do gênero; partes inferioresuniformemente amarelas, cabeça preta (macho) ou cas-tanha (fêmea); bico amarelo, preto e vermelho, não ha-vendo desenho transversal nas mandíbulas. Ocorre daVenezuela e Guianas ao rio Negro e margem setentrio-nal do Amazonas até o Amapá. Substituto geográficoda espécie mencionada a seguir, com a qual pode for-mar uma superespécie. "Araçari-limão*".

ARAÇARl-MIUDINHO-OE-BICO-RlSCADO, e glossus

33cm. Bem semelhante ao anterior do qual difere porter um fino desenho transversal negro no bico, a fêmeaapenas de garganta castanha. forte "ta-rát", "ra-ák","kãkã kã", lembrando a advertência de um grandemartim-pescador. Ocorre do leste do Pará aos rios Ma-deira (Amazonas) e Guaporé (Mato Grosso), até a Bolí-

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500' ORNITOLOGIA ItRASILEIRA

via' também no Maranhão e em Pernambuco e Alagoas(P.i. No alto Amazonas (a oeste do rio Ma-deira), representado por P.i. de mandíbulapreta. "Araçarí-letrado?".

ARAÇARI-DE-PESCOÇO-VERMELHO,

bi ius

36c~. Representante pequeno de nuca e peito encar-nados (o que é pouco intenso nos imaturos), maxila ver-de-amarelada; mandíbula negra uniforme (rio Madei-ra, ao noroeste de Mato Grosso; P.b. ou brancacom a ponta negra (dos rios Tapajós ao Tocantins, P.b.

e do leste do Pará ao norte do Maranhão, P.b."óit, bit", vocalização muito diferente

da de P. V. a seguinte, que o substitui geografi-. camente !l0 alto Amazonas, formando com o presenteuma superespécie. [Este araçari deixou de ser endêrnicodo Brasil a partir de seu encontro no Departamento deSanta Cruz, Bolívia (Cabotet

ARAÇARI -DE-BICO-DE-MARFIM,

36cm. Semelhante ao anterior mas de bico uniforme-mente marfim, com os" dentes" realçados de preto. Ocor-re da Venezuela e do alto rio Negro ao alto rio Solimões.[Encontrado nas florestas de terra firme, p. ex., do Par-que Nacional do[aú e em pequeno número nas florestasde várzea doMamirauá, médio Solimões(J. F.Pacheco).Usualmente chamada de P. mas temprioridade cronológica (Sibley & Monroe 1990)."Araçari-de-bico-verrnelho*". ]

[ARAÇARI-DE-BICO-MARROM,

Representante ocidente-meridional da superespécieP. nas florestas da Alta Amazônia (Sibley& Monroe1990). Ocorre no Brasil ao sul do Solimões da fronteiraperuana para leste até a margem esquerda do Madeira eadicionalmente no Peru e Bolívia.]

ARAÇARI-MULATO,

Pr. 24,6

42cm. Único pelas penas laqueadas, endurecidas ecurvadas da cabeça("cabeça frisada"). forte e gra-ve, bem diversa 'da de outros araçaris, "rrãp", "ra-ra-rã", penetrante "gã-ák ga-ak...'~.Ocorre do alto Amazo-nas ao sul dos rios Solimões e Madeira .(Amazonas), al-tos Tapajós e Xingu (Mato Grosso) até a Bolívia e Peru.Vive no alto Xingu ao lado de e P.

sem se associar a eles, ou a tucanos. Trata-sede espécie bem singular.

ARAÇARI-POCA,

Pr.24,8

33cm. No aspecto, no colorido e no comportamentobem diferente das espécies anteriores. Dimorfismo se-xual acentuado. seqüência de coaxos baixos, pro-fundos e guturais, "groa" ou "ao", que passaria pela vozde um sapo grande (grito territorial ou canto, ambos ossexos); "ga-a" (brigando). Vivem no interior sombrio damata, onde facilmente passa desapercebido ao contrá-rio dos outros araçaris. Ocorre daBahía e Minas Geraisao Rio Grande do Sul e Argentina (Misiones). "Araçari-tirador-de-leite" (Minas Gerais), "Saripoca-de-bico-ris-cado=", Na Amazônia substituído.por representantes deparentesco próximo, aloespécies oumesmo raças geo-gráficas de uma mesma espécie; distinguem-se princi-palmenté pelo colorido do bico.

"' ,"

(

SARIPOCA-DE-GOULD*,

[33cm] De bico pardo com a base branca, maxila comuma grande mancha preta a qual se repete, em ediçãoreduzida, na mandíbula. Anel perioftálmico nu verde-intenso, íris verde-azulada, "groak, groak ...", bemsemelhante à do anterior. Ocorre ao sul do baixo Ama-zonas até o norte de Mato Grosso (alto rio Xingu), Ma-ranhão e Ceará. "Tchu-ría-ha" (Juruna, Matõ Grosso).

ARAÇARI-NEGRO,

[33cm] De bico negro de base encarnada, região pe-rioftálmica azul-reluzente; fêmea de partes inferiorescinzentas. Ocorre ao norte do baixo Amazonas até o bai-xo rio Negro e Venezuela. "Saripoca-culique*".

SARIPOCA-DE-BICO-CASTANHO*,

[33cm] De bico marrom listrado de negro. [Conheci-do no Brasil das florestas de terra firme da drenagem doNegro até margem esquerda do Solimões. Ocorre tam-bém no extremo leste da Colômbia, sul da Venezuela eGuiana Inglesa. Paralelamente aos três registros orien-tais recentes na Guiana Francesa, considerados excepci-onais (Tostainet 1992), um indivíduo foi observadono dia 19 de janeiro de 1994, na floresta altimontana deSerra Grande, Amapá(J. F. Pacheco).]

SARIPOCA-DE-COLElRA *,

[33cm] De bico quase inteiramente negro de baseolivácea. [Ocorre no Brasil nas florestas ao sul doSolimões (5. . e respectivos tributáriosda fronteira peruana ao baixo Purus; enquanto namargem esquerda do Solimões a subespécie típica

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