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OS 47 RONINS DE AKO Editado por: Fábio Yamamoto. Fonte: SEGANFREDO, Carmen. As melhores histórias da Mitologia Japonesa, editora artes e ofícios, 2011. 1. O mestre de cerimônias do Imperador A primavera do ano de 1701 estava esplendida com um festival de cores graças às sakuras 1 . As paisagens congeladas cediam às flores e a expansão da vida da estação vindoura. As sakuras desabrochavam formando um belíssimo espetáculo de Sul ao Norte no Império do Sol Nascente, como se fosse uma onda colorida que ia cobrindo o país, sendo chamadas de Sakura Zansen (linha de frente das cerejeiras). E neste período o Japão se encontrava sobre o regime do Bakufu 2 , o shogunato. Durante este periodo o imperador possuía um poder simbólico, sendo visto como um símbolo cultural, e não como um símbolo do governo. Abaixo do Shogun existiam os Daimyos 3 , que possuíam entre seus mais fiéis vassalos os samurais. O Shogun da época era Tsunayoshi Tokugawa, conhecido por ser um grande amante de artes e cultura, porém também era conhecido pelas leis rígidas principalmente de proteção aos animais e à cultura, além de promover a disseminação do confucionismo. Como ocorria em todos os anos o Shogun enviava naquele periodo do ano emissários até Kyoto (Quioto) onde havia o castelo do Imperador, bem como o Imperador enviava seus emissários até Edo (atual Tóquio). Para recepcionar os emissários do Shogun, o mikado 4 escolheu dois nobres daimyos para serem os mestres de cerimonia de recepção: o primeiro deles era Takumi no kami, líder do clã Asano, íntegro e respeitável senhor do castelo de Ako, e o senhor Kamei Sama. 1 : Cerejeiras japonesas 2 : Periodo do governo do Shogun (ou Xogum), no qual este detinha praticamente total poder de comando sobre a economia e política, além de um grande poderio militar. 3 : Similar aos senhores feudais europeus, estes cuidavam de porções de terra, faziam elas produzirem e também mantinham o controle da população. 4 : Termo utilizado para se designar a Corte Imperial.

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OS 47 RONINS DE AKO

Editado por: Fábio Yamamoto.

Fonte: SEGANFREDO, Carmen. As melhores histórias da Mitologia Japonesa,

editora artes e ofícios, 2011.

1. O mestre de cerimônias do Imperador

A primavera do ano de 1701 estava esplendida com um festival de cores

graças às sakuras1. As paisagens congeladas cediam às flores e a expansão

da vida da estação vindoura. As sakuras desabrochavam formando um

belíssimo espetáculo de Sul ao Norte no Império do Sol Nascente, como se

fosse uma onda colorida que ia cobrindo o país, sendo chamadas de Sakura

Zansen (linha de frente das cerejeiras).

E neste período o Japão se encontrava sobre o regime do Bakufu2, o

shogunato. Durante este periodo o imperador possuía um poder simbólico,

sendo visto como um símbolo cultural, e não como um símbolo do governo.

Abaixo do Shogun existiam os Daimyos3, que possuíam entre seus mais fiéis

vassalos os samurais.

O Shogun da época era Tsunayoshi Tokugawa, conhecido por ser um

grande amante de artes e cultura, porém também era conhecido pelas leis

rígidas principalmente de proteção aos animais e à cultura, além de promover a

disseminação do confucionismo.

Como ocorria em todos os anos o Shogun enviava naquele periodo do

ano emissários até Kyoto (Quioto) onde havia o castelo do Imperador, bem

como o Imperador enviava seus emissários até Edo (atual Tóquio). Para

recepcionar os emissários do Shogun, o mikado 4 escolheu dois nobres

daimyos para serem os mestres de cerimonia de recepção: o primeiro deles era

Takumi no kami, líder do clã Asano, íntegro e respeitável senhor do castelo de

Ako, e o senhor Kamei Sama.

1 : Cerejeiras japonesas

2 : Periodo do governo do Shogun (ou Xogum), no qual este detinha praticamente total poder de

comando sobre a economia e política, além de um grande poderio militar. 3 : Similar aos senhores feudais europeus, estes cuidavam de porções de terra, faziam elas produzirem e

também mantinham o controle da população. 4 : Termo utilizado para se designar a Corte Imperial.

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Como nenhum dos dois possuía experiência como mestres de

cerimonias, ambos foram incumbidos de terem aulas para aprenderem a

recepcionar os ilustres convidados. As técnicas refinadas, complexas e até

mesmo perfeccionistas deveriam ser aprendidas com afinco. Para se ter uma

idéia, a cerimônia do chá, o Cha no yu, demorava dias para se aprender os

preceitos básicos, então uma cerimônia de grande porte como aquela poderia

demorar meses ou até anos. Para ensinar as técnicas de forma pragmática e

minuciosa foi escolhido um instrutor, este se chamava Kira Yoshinaka, um

coletor de impostos com o nobre título da corte de “Kozuke no Suke”. Assim, os

dois aprendizes deveriam comparecer ao castelo de Edo, e seguir a risca todas

as instruções dadas.

Como era de costume, antes de se iniciar um aprendizado os dois

discípulos levaram até seu mestre presentes de diversos tipos, como sedas

finas, objetos de decoração, iguarias exóticas entre outros. Porém, para o azar

dos dois discípulos, o seu mestre não só recusou os presentes como os achou

extremamente miseráveis, lançando as porcelanas, e os rolos de seda para

longe.

Quando as aulas de etiqueta começaram, logo os dois discípulos

perceberam que na verdade seu mestre não era só bom conhecedor das

etiquetas formais, mas também nas artes de ser dissimulado e de ser

exibicionista. Dizia o mestre em diversos momentos que a arte de doar era

imprescindível para se ser um bom anfitrião, assim o desprendimento era

fundamental, tais palavras eram proferidas de forma a ferir os discípulos, dado

o episódio anteriormente ocorrido.

O senso de ética e respeito a cada dia eram cada vez mais esquecidos

por Kira Yoshinaka. Seu “pavonismo” em querer se mostrar aos seus alunos

era fora do bom senso, além de sempre que possível com palavras de duplo

sentido colocar seus alunos em situações embaraçosas e extremamente

complicadas. Kira Yoshinaka se mostrava cada dia mais exímio não só na

dissimulação, mas também na arte da tortura e dos castigos.

Enquanto Kamei Sama se esbaforia de tanta raiva e tormento, Asano

Takumi no Kami tentava ao máximo manter a compostura e manter a calma

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diante da situação, mesmo sabendo que era injusta a forma na qual estavam

sendo tratados os dois alunos.

Para Kamei Sama somente a morte resolveria o problema, estava com

um grande anseio de apunhalar o covarde Kira Yoshinaka para acabar com tal

situação, mas apesar de tudo tentava conter sua raiva, tanto que no auge de

sua fúria, levantava-se de seu lugar e saia da sala de aula, antes que uma

tragédia ocorresse. Em seus pensamentos a imagem dele enterrando sua

wakizashi5 nas entranhas do professor era bem clara.

2. Os auspícios de um conselheiro podem salvar seu senhor.

Era claro que Kamei Sama estava furioso com a situação e que seu

gênio voltado para beligerância viria fazer recair uma tragédia sobre sua casa.

Assim, ao chegar a seu castelo, Kamei Sama muito preocupado começou a

pensar em quais poderiam ser as possibilidades tanto de conseguir acalmar

sua fúria, bem como fazer seu professor minimamente mais calmo. Assim, foi o

nobre consultar seus conselheiros.

O conselheiro por sua vez ouviu atentamente o que acontecia, e bem

como seu mestre estava indignado com a situação, porém sabia que não

adiantaria réplica neste caso, então ao terminar de ouvir os lamentos, este

apenas concordou que a morte seria a melhor estratégia,e que esta seria a

melhor punição possível para Kira Yoshinaka.

Com a aprovação de seu conselheiro, o injuriado daimyo pôs se a

descansar e esperar o dia seguinte onde este iria realizar logo sua vontade,

acabar com a vida de Kozuke no Suke. O seu conselheiro, no entanto estava a

pensar sobre tal fato, e assim começou a maquinar alguma forma que o seu

senhor não precisasse cometer tal crime.

No meio daquela noite lhe surge a idéia: um suborno! Sim! Um suborno

poderia resolver todos os problemas! Sabendo que o maldito coletor de

5 Espada curta

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impostos era muito ganancioso, ouro e prata com certeza aplacaria o gênio

ruim dele! Ele não teria problemas em receber tal dinheiro, e muito menos

rejeitaria uma grande quantia.

Assim, durante a noite, o conselheiro chamou seus subordinados e com

isso recolheram o máximo de dinheiro possível para que pudesse ser entregue.

Logo que o dinheiro foi recolhido, pôs-se a viajar até o castelo de Kira. O

conselheiro foi recebido pelos serviçais de Kozuke no Suke, este ao saber da

pequena fortuna que havia chegado a ele logo se pôs de pé e foi receber o

conselheiro de Kamei Sama com um sorriso no rosto e uma forma de

tratamento mais abrandada, porém para seu conselheiro o que mais lhe

importava é que o maldito estivesse com dinheiro o suficiente para fazer seu

bolso pesar a ponto de arrastar sobre a terra e o seu ego sobrevoando acima

da cabeça de todos, assim deixando seu senhor em paz.

O conselheiro então percebeu que a tragédia do dia seguinte havia sido

remediada. Assim, retirou-se da presença de Kira Yoshinaka e retornou ao

castelo de seu senhor.

No dia seguinte, o Sol já raiava e Kamei Sama estava preparado para

matar Kozuke no Suke, sua alma fervia de tanto ódio acumulado, e sua

convicção era inabalável, porém sabia que tal crime lhe custaria à ruína de sua

casa, mas nada mais lhe importava além de manter a honra de seu nome. Com

passos firmes e decididos encaminhou-se até o castelo de Edo para ter sua

ultima e derradeira aula. Porém, ao chegar ao recinto, este foi recebido de

forma amável pelo professor.

O ódio e frivolidade do mestre agora não estavam mais presentes.

Assim, com o tempo Kamei Sama foi esquecendo-se de seu ímpeto assassino.

A mudança era tanta que Kamei Sama ficou confuso e apenas aceitou essa

mudança como uma dádiva dos deuses, que desejavam que seu clã ficasse

livre de uma tragédia maior que poderia ocorrer. Um detalhe importante a ser

levantado é que Kamei Sama não soube da atitude de seu conselheiro.

Porém nem tudo terminou bem.

3. O ódio se volta para apenas um.

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Diferente do tratamento que Kamei Sama recebia Asano Takumi no

Kami, sofria com todas as crueldades que o mestre lhe impunha. Seus insultos

e suas agressões continuavam, e o daimyo de Ako, apenas aceitava em sua

paciência búdica.

Porém como todos sabem, paciência tem um limite e a de Asano Takumi

no Kami estava prestes a acabar. Em seu ultimo ato de desrespeito para com

Asano Takumi no Kami, o mestre começou a insultar ele chamando-o de

simples camponês, e que este nunca teria condições sequer de receber os

enviados do Imperador, já que este não conseguiria sequer amarrar as cordas

de uma peça de calçado. Após o insulto, Kira Yoshinaka virou-lhe as costas e

começou a andar dando risinhos agudos que ecoavam pelo corredor.

O sangue de Asano Takumi no Kami fervia em suas veias, e um olhar de

ódio tomou conta de sua face. O ódio contido por diversos dias estava

extravasando em um único momento, sua reação única foi de sacar sua tantou6

e gritar por Kozuke no Suke, este por sua vez se vira para saber o que estava

acontecendo e dá de cara com seu discípulo com uma adaga empunho e sua

expressão de fúria.

O susto que Kira Yoshinaka sofreu foi tanto que este não conseguia ter

reação alguma, algo que foi aproveitado por Takumi no Kami, que logo quando

pôde agarrou seu alvo e o acertou com um golpe na cabeça causando-lhe um

corte no rosto.

Kira Yoshinaka apavorado começa a correr e aos gritos começou a

chamar os guardas. Um dos oficiais do castelo, Kajikawa Yasobei, vendo a

situação, lançou-se sobre o atacante e o parou mesmo utilizando de muita

força.

Assim, Asano Takumi no Kami foi preso e julgado pelo seu ato de

desrespeito. De acordo com a lei da época, sacar uma arma dentro do castelo

do Shogun já era motivo de pena de morte, acertar alguém enviado para um

serviço no castelo, esta pessoa sendo um nobre, então merecia uma morte

indigna. Durante seu cárcere Asano Takumi no Kami ficou sob a guarda de

6 Adaga japonesa

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Tamura Ukiyo no Daibu, um outro daimyo, que em sua casa o manteve preso

para o grande pesar das pessoas que lá viviam.

A sentença era clara: a pena de morte pelo fato ocorrido e pela sua

forma mais dolorosa o harakiri, cortar o abdômen de um lado até o outro, até as

entranhas, em uma dor hediondamente intolerável. Porém como diz o velho

ditado: “Desgraça pouca é bobagem”, e justamente isso foi o que aconteceu.

Não bastasse a morte de seu senhor, o clã Asano deveria perder suas posses

e os seus samurais desgraçados ao nível de meros ronins, os samurais sem

senhor, assim como ditava a lei da época.

No dia 21 de abril de 1701, morreu Asano Takumi ni Kami. Em seus

últimos momentos de vida proferiu as seguintes palavras:

「風さそふ花よりもなほ我はまた春の名残をいかにとやせん」

"kaze sasofu / hana yori mo naho / ware wa mata / haru no nagori o / ika ni

toyasen."

“Mais triste que flores levadas pelo vento... Uma vida despedaçada em plena

primavera”

Porém a história não termina aqui. Na verdade este é o começo de uma

longa jornada.

4. O fim do Clã Asano e os 300 samurais que se tornaram

ronins

Quando um daimyo é desonrado e morto, seus bens são confiscados,

sua família destituída de qualquer poder e seus samurais se tornam ronins,

assim regia a lei que estava se mostrando dura e cruel com o clã Asano. Para

um samurai quando algo assim ocorre ele deve vingar o seu senhor, pois a sua

honra está acima de tudo, tanto que a palavra samurai significa “aquele que

serve”.

Logo após a execução do líder do clã Asano, mensageiros foram

enviados de Edo para o feudo de Ako, para avisar da tragédia, bem como que

o exercito do imperador estava a caminho para tomar o castelo.

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Quando os servos de Takumi no Kami ficaram sabendo da notícia, eles

se reuniram para decidir o que seria feito. De acordo com o Bushido 7 ,

restavam-lhe apenas duas opções: lutar em nome de seu senhor e morrer

enfrentando o exercito do imperador, ou viver e levar uma vida desonrada e

desgraçada era sabido que somente uma dessas opções poderia ocorrer.

A cada nova reunião o número de samurais, bem como sua coragem ia

diminuindo seja porque estes se matavam, ou por realmente quererem levar

uma vida de ronins, assim não restavam mais que 60 samurais, dentre eles

Oishi Kuranosuke o ex conselheiro chefe de Asano Takumi no Kami.

Infelizmente, no momento da tragédia este não se encontrava no feudo. Todos

conheciam Kuranosuke pela sua diplomacia, que era muito melhor que a do

conselheiro de Kamei Sama (aquele que subornou Kira Yoshinaka). Se

Kuranosuke estivesse presente, certamente a tragédia não teria recaído sobre

o clã Asano.

Durante a última reunião, e cada vez mais com a proximidade do

exercito imperial, os samurais precisariam tomar uma decisão. E o que todos

queriam era justamente lutarem até o fim, dando suas vidas pelo seu clã,

porém Oishi Kuranosuke foi contra, para espanto de todos os outros.

O motivo por trás de tal oposição era único e claro: aquele que

desgraçou o clã Asano ainda estava vivo! E o único jeito de limpar o nome do

clã seria acabando com a vida de Kira Yoshinaka!

Apesar de saberem de tudo isso, entregar o castelo e sobreviver era

algo inaceitável, e por isso não foi possível tomar nenhuma decisão. A única

decisão tomada foi um encontro às escondidas no Templo Kagaku-ji, para

definir qual seria o plano de vingança.

Assim, o castelo de Asano foi entregue sem resistência, mas foi daí que

o plano começou a ser traçado.

5. Os ex-samurais assumem seu pacto

7 Caminho do Guerreiro, o código de conduta seguido pelos samurais.

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Logo o exercito confiscou todos os bens do clã Asano, e com isso a

reunião no templo Kagaku-ji ocorreu. Seria feito no dia o pacto de sangue entre

os ronins para vingar o seu senhor. Oishi Kuranosuke estava determinado em

deixar seu filho de 16 anos Chikara de fora do pacto, por ser jovem e por ele

carregar o nome da família em gerações futuras, porém Chiuzaemon, samurai

amigo de Kuranosuke indaga o sobre tal feito. Para Kuranosuke deixar seu filho

ir para batalha seria assinar a sentença de morte dele pela sua imaturidade e

inexperiência em batalha.

Ao ouvir os argumentos do pai, Chikara se sentiu tanto com raiva como

envergonhado, por parecer que não serviria para nada. Então em um último ato

de honra Chikara acompanhado de sua tantou vai até o altar do templo onde

tenta cometer o Harakiri. Quando os outros ronins ficam sabendo do ato, eles

vão de encontro de Chikara para tentar pará-lo, seu pai é claro vai ao encontro

do filho, que já estava sem a parte de cima do quimono e preparado para o

suicídio ritual. Ao perceber a seriedade do filho, o pai percebe sua força e

honradez, aceitando-o juntamente dos outros ex-samurais para o pacto de

sangue.

O problema maior agora não é saber quantos estariam dispostos a se

sacrificarem pela causa, e sim como conseguir realizar o que estavam

planejando. Kira Yoshinaka estava muito bem protegido com seus samurais,

bem como com as forças aumentadas graças ao seu sogro, o chefe do clã

Uesugi.

Para tal, eles perceberam que precisariam fazer o inimigo abaixar a

guarda, mas a forma deveria ser vinda com o tempo e a melhor forma seria

enganando-o. Os ronins iriam de bom grado desgraçar suas vidas se tornando

beberrões, ou fazendo serviços como carpinteiros, artesãos, ou mercadores.

Enganando os guardas, espiões e o próprio Kozuke no Suke, desse modo,

poderiam se infiltrar aos poucos em seus domínios e conseguir realizar seus

planos.

Oishi Kuranosuke mudou-se para Kyoto onde ficava o palácio do mikado.

Após se mudar, começou a frequentar uma casa de chá de baixíssima

reputação a Ichikiri Ochaya, entregando-se também aos jogos de azar e a

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devassidão. Em seu raciocínio Kuranosuke via que se fosse para ser

desonrado que fosse da forma mais evidente possível.

Kozuke no Suke por sua vez temia a ira dos ex-samurais então ordenou

que parte de sua guarda vigiasse-os dia e noite para ter certeza que estes

nunca conseguiriam realizar a tão sonhada vingança deles.

6. Kira Yoshinaka baixa a guarda e é enganado.

Os espiões de Kira Yoshinaka acompanhavam cada passo da vida

devassa de Oishi Kuranosuke, que vivia em meio a bebidas de baixa qualidade,

jogos de azar e coloridas flores colhidas nos jardins de baishunfu8.

Em uma das ocasiões Kuranosuke estava tão bêbado que acabou por

cair no chão da rua e por lá ficou. Um nobre rico de Satsuma9 o viu caído no

chão e com palavras ferozes e autoritárias o insultou por não seguir o bushido.

Este por sua vez nada fez em relação aos insultos. Era clara a decadência na

qual Kuranosuke se encontrava, o que fazia os espiões de Yoshinaka relatarem

a ele as melhores notícias que ele poderia ouvir.

Kuranosuke estava tão decidido em sua vingança que chegou a

abandonar sua família, enviando sua esposa de volta para a casa de seus

sogros e assim poder dar continuidade ao seu plano de vingança. Para sua

esposa no entanto ele estava louco e perdera a razão.

Tais notícias soavam como música aos ouvidos de Kira Yoshinaka.

Tanto que aos poucos com o decorrer do tempo sua segurança foi diminuindo

e as espionagens ficando menos frequentes. Ele caíra no plano dos ex-

samurais de Ako, mas isso não significava que havia sido fácil. Para samurais

8 Meretriz

9 Atual província de Kagoshima

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que seguiam fielmente o bushido, cair em desgraça e desonrar seu próprio

nome era algo muito difícil.

Os diversos ronins dedicaram-se a diversos serviços e com isso

começaram a adentrar com facilidade nos domínios de seu alvo. Um deles por

exemplo, se casou com a filha do construtor da casa de KIra, assim tendo

acesso às plantas e projetos de toda a propriedade. Outros começaram a

trabalhar de alguma forma como serviçais que traziam produtos ou bens para

os domínios do inimigo.

Quando Oishi Kuranosuke teve certeza que o inimigo estava de guarda

baixa, conseguiu se esgueirar por entre os espiões de Kozuke no Suke, e foi

para Edo onde marcou uma reunião que iria dar inicio à fase final de seu plano:

vingar o seu senhor matando aquele que o desgraçou.

O tempo havia passado, dois anos haviam transcorrido do incidente que

havia acabado com o clã Asano. O tempo implacável os fez envelhecerem,

principalmente pelo tipo de vida que eles estavam levando. Porém o desejo de

honrar o nome de seu senhor continuava como a anos atrás. Todos vieram

equipados com suas melhores armas: Katanas, Tantou, Yari, Wakizashi, Kyu,

naginata10. Além das armas, suas armaduras, confeccionadas em segredo por

eles mesmos para que não houvesse suspeitas dos espiões.

7. A concretização de um longo plano

No dia 30 de Janeiro de 1703, em pleno alvo inverno japonês. Os 47

ronins se prepararam para sua última e derradeira luta. O Japão estava imerso

em uma paisagem sombria e gélida. A neve caia ininterrupta, e o vento

impiedoso a levava para todos os cantos em redemoinhos brancos. Os

habitantes estavam todos em suas casas perto dos fogareiros. Edo parecia

uma cidade abandonada, tirando pelas pálidas iluminações que transpassavam

o Washi11.

10

Katana: Espada japonesa; tantou: Adaga japonesa; Yari: lança de ponta reta; Wakizashi: espada curta que geralmente acompanha o katana, Kyu: Arco japonês; Naginata: Lança de lamina curvada com aspecto da lâmina de katana 11

Papel japonês utilizado para forrar as portas e as janelas.

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Todos estavam ansiosos, sabiam que era a melhor chance que eles

iriam ter e que nenhuma outra seria possível. Antes de partirem os 47 ronins

compartilharam de uma última refeição juntos, seria seu banquete de

despedida caso desse certo, ou desse errado o único resultado que haveria era

a morte.

Oishi Kuranosuke antes de partir dividiu todos os 47 ronins em dois

grupos e cada guerreiro foi especificamente designado para ter uma função. O

primeiro grupo seria liderado pelo próprio Kuranosuke, e o segundo seria

liderado por Chikara, seu filho, porém este teria Yoshida Chiuzaemon como

seu guardião, pois como um pai, temia que o pior ocorresse com seu filho.

Dois instrumentos seriam os sinais para as principais ordens. O tambor

seria para avisar o início dos ataques de ambos os grupos. E o apito seria

utilizado como sinal para avisar que a cabeça de Kira Yoshinaka já estava em

seu poder, e assim em uma procissão os ronins iriam oferecer a cabeça do

amaldiçoado para o seu senhor que jazia no templo Sengaku-ji.

Ao chegar nas proximidade da morada do alvo os ronins dividiram-se em

dois grupos automaticamente. Era a hora derradeira da última batalha de suas

vidas.

8. O início de uma batalha sangrenta.

Vinte e quatro guerreiros liderados por Chikara se dirigiram para os

fundos do castelo, e outros 23 liderados por Kuranosuke se dirigiram à frente

do castelo. 4 dos guerreiros de Kuranosuke estavam fortemente armados e

equipados, eles fizeram a primeira abordagem engancharam escadas de

cordas nos muros para que outros pudessem adentrar e abrir o portão. Quatro

guerreiros adentraram e tentaram obter a chave do portão esta como não

estava com os guardas não foi possível de ser localizada. A solução

encontrada por um dos quatro guerreiros foi arrebentar a trava do portão com

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um otsuchi12 e assim, os guerreiros liderados por Kuranosuke adentraram o

castelo.

Os guerreiros liderados por Chikara também arrombaram o portão e com

certa facilidade entraram no Castelo. Uma vez os dois grupos dentro do castelo,

estes mandaram alguns mensageiros espalharem um aviso para os que

moravam no entorno do castelo, para que não ficassem alarmados, pois não

machucariam ninguém do entorno e que a invasão ao castelo era por uma

causa justa: honrar o seu senhor. Como Kozuke no Suke era odiado pela

população local, esta não fez objeção alguma quanto ao plano dos 47 ronins.

A estratégia de cerco iria começar a ser montada, sobre os muros 10

arqueiros ficariam posicionados para caso alguém tentasse escapar além e

proteger da entrada de pessoas indesejadas. Todos estavam prontos então o

primeiro sinal foi dado. Os tambores eram tocados para que todos soubessem

que estava sendo iniciada a tomada do castelo. Mesmo com os guardas pegos

de surpresa a batalha foi árdua até se chegar nos aposentos de Kira Yoshinaka.

O grupo que adentrara pelos fundos dirigiu-se pelos jardins até chegar à

morada principal enquanto o grupo que entrou pelo protão principal cruzara o

grande pátio que lá existia. Mau os dois grupos estavam juntos, diversos

samurais apareceram para enfrenta-los, porém um a um o grupo de ronins ia

vencendo os obstáculos. Porém mesmo sabendo da incapacidade de vencer o

grupo enfurecido, os samurais de Kira não revelavam o local onde seu mestre

estava escondido. Os samurais derrotados ainda esperavam por reforços do

Lorde Uesugi, sogro de Kira, estes reforços não viriam a chegar graças a

estratégia de Oishi Kuranosuke com seus arqueiros.

Ao chegar à frente dos aposentos de Kozuke no Suke, encontraram três

famosos samurais: Kobayashi Heihachi, Waku Handayu e Shimizu Ikkaku. Os

três eram a guarda de elite de Kira Yoshinaka. Eles eram muito bons tanto que

quem os enfrentasse era derrotado, o que deixava Kuranosuke inquieto. A

derrota dos ronins para os três enviados de Kira estava sendo humilhante ao

ponto de Kuranosuke esbravejar e colocar o seu filho que também era um

ótimo espadachim a lutar contra um deles, e se for para lutar que o vencesse

12

Martelo de madeira.

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ou morresse tentando. A mente de Oishi Kuranosuke estava envenenada pela

ira, e indignação. Estava louco para conseguir realizar o seu intento. Tanto que

colocou a vida de seu filho em risco que por acaso do destino conseguiu

vencer um dos samurais por conta de um erro e de uma confiança acima do

normal, o yudan13.

O jovem herói Chikara após uma vitória que inspirou os outros ex-

samurais a lutar conseguiu adentar os aposentos de Kozuke no Suke. Ao

entrar somente encontrou o filho dele Kira Sahioe que estava com uma lança a

tentar defender o aposento, porém a habilidade de Chikara era superior o que

fez com que Sahioe saísse ferido do recinto.

Quando a batalha cessou, apenas restavam mulheres e crianças no

castelo, mas o principal alvo estava vivo ainda. Os ronins estavam inquietos e

em dúvida: Para onde Kira Yoshinaka foi?

9. A caçada final e o desfecho.

Kira foi procurado por todos os aposentos, mas em nenhum deles ele foi

encontrado. A frustração pairava sobre os ex-samurais de forma visível.

Estavam abatidos e totalmente desmotivados. Todo o esforço tinha se reduzido

à nada e isso era evidente. Porém em um surto de forças Chikara acreditava

que nada disso tinha acabado que o maldito a quem estavam caçando estava

presente no castelo e escondido em algum lugar. Então em um último esforço

os samurais procuraram mais uma vez de forma minuciosa pelo castelo inteiro.

A única resposta que eles conseguiram pensar é que ele estava escondido em

algum lugar ou ter utilizado algum caminho secreto para conseguir fugir. E foi

pensando nisso que os ronins encontraram atrás de uma pintura no quarto de

Kozuke no Suke um pequeno buraco por onde ele poderia ter escapado. Tal

buraco levala a um pequeno casebre que estava iluminado. O samurai que foi

até o local foi Yazama Jutato. O ronin adentra a casa de forma bem sorrateira e

ao entrar no casebre havia um vulto branco no chão. Jutaro com sua lança

cutuca o vulto que em um grito gutural se mostra como aquele que estavam

perseguindo. Assim, depois de desarmá-lo, Jutaro leva Kira até a presença de

todos os outros ex-samurais. Quando indagado qual era o seu nome, em meio

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Quando um guerreiro se descuida e acaba por baixar a guarda pelo excesso de confiança.

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ao pavor e medo, ele balbuciou seu nome, com certeza era quem estavam

caçando.

Oishi Kuranosuke se aproxima daquele que desgraçou o seu senhor e

com uma lanterna na mão ilumina seu rosto. Em sua face mostrava-se a

cicatriz deixada por Asano Takumi no Kami, cicatriz esta que foi feita no fatídico

dia em que o clã Asano veio à ruína. Kuranosuke avisa à Kira Kozuke no Suke

que sua vida não será poupada. Ele relata que a desgraça do clã Asano se deu

por conta do incidente de quase dois anos antes e que por isso haveriam duas

escolhas: ou este cometeria seppuku14 e Kuranosuke seria o seu Kaishaku15,

ou este sem nenhuma dó ou piedade seria morto de qualquer forma. Kozuke

no Suke mostra resistência em realizar o suicídio ritual, assim fazendo com que

Kuranosuke se tornasse seu algoz. A face que antes era de altivez e

arrogância de Kira Yoshinaka transformara-se em medo e covardia, sabia que

não conseguiria escapar, mas seu corpo desonrado e sozinho relutava em se

reclinar para que sua cabeça fosse decepada. Assim, o líder dos ronins forçou

o corpo de Kira para frente colocando-o em uma posição de execução e com

um só golpe fez a cabeça de do desonrado coletor de impostos rolar. Eis que a

honra de Takumi no Kami estava reestabelecida. E para que todos soubessem

que tudo estava terminado, o apito soou bem alto avisando que havia sido

concretizado o objetivo traçado. Kuranosuke então envia um ronin de nome

Terasaka Kichiemon para Ako, para que este pudesse avisar a todos que o que

foi almejado tanto havia sido alcançado.

Logo quando o dia amanheceu grupo de ronins se dirigiu ao templo

Sengaku-Ji. Durante o trajeto muitas pessoas paravam para ver a procissão de

ex-samurais que vitoriosos acabaram por limpar a honra de seu senhor, porém

sabiam que o que tinham cometido era um crime, e como tal poderiam receber

a punição antes de chegarem ao seu destino final. Quem poderia impedi-los

principalmente era o clã Uesugi por seu chefe ser sogro do desonrado e

falecido coletor de impostos, porém, para grande surpresa de todos, o chefe do

clã Matsudaira, Aki no Kami, ao saber de tal façanha ordenou que seus

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Tipo de suicídio ritual. De forma honrada o samurai se mata com a ajuda de um Kaishaku 15

Para poupar mais o sofrimento de alguém que comete o Sepukku, o Kaishaku corta-lhe a cabeça dando-lhe uma morte com menos dor e mais digna.

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samurais fizessem escolta ao grupo de ronins. O motivo de tal ato foi que

Asano Takumi no Kami, um dia serviu o clã Matsudaira, e desde então Aki no

Kami possuía um respeito e admiração pelo falecido chefe do clã Asano.

Já eram sete horas da manhã quando o grupo chegou na frente do

palácio de Matsudaira Mutsu no Kami, o príncipe de Sendai. Quando a notícia

chegou até o regente do palácio, um banquete foi preparado com recepção e

foi ofertado para os ronins uma última refeição digna, pois o que os aguardava

era a pena de morte. Após o banquete seguiram rumo ao templo.

Chegando em Sengaku-Ji, o grupo foi recebido por um monge que os

guiou até o túmulo de seu senhor onde a cabeça de Kozuke no Suke, após ser

lavada em uma fonte, foi ofertada como forma de limpar a honra do clã Asano.

Kuranosuke pediu ao monge que pegasse todo o dinheiro que os ronins

possuíam, para que ao fim com a morte deles que um enterro digno fosse feito

juntamente ao seu senhor. E o monge assim concordou em fazer.

Os ronins esperaram os oficiais chegarem que não tardaram em fazê-lo,

assim os ex-samurais foram intimados a comparecer perante o Shogun e os

censores públicos para que fosse decidida a pena. Logo que o grupo se

distanciou do túmulo dois samurais apareceram à caça da cabeça de Kira

Yoshinaka. Eram seus filhos: Syada e Saitou que estavam a procura da cabeça

para que esta fosse enterrada com o corpo.

O monge entregou a cabeça aos samurais e um papel como se fosse

um recibo assinado por Oishi Kuranosuke, que atestava que a cabeça havia

sido devolvida. O recibo continha os seguintes dizeres:

“Artigo: uma cabeça

Artigo: uma folha de papel

Ambos os itens acima são reconhecidos como recebidos

Assinado Sayada Magobei Saitou Kunai

Aos sacerdotes do templo Sengaku-ji, sua Reverência Sekishi, Sua

Reverência Ichidon”

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Os dois samurais partiram em posse dos dois itens e os ronins foram

encaminhados para o julgamento.

Na corte, o Shogun e os censores públicos não sabiam o que fazer, pois

nunca havia ocorrido um caso como este. Sem dúvidas eles eram vistos como

heróis pela população, pois defenderam a honra de seu senhor, seguiram o

bushido até as últimas consequências. Por outro lado haviam cometido um

crime, já que pelas leis o que acabaram por cometer era uma vingança e isso

era inaceitável e punível com a pena de morte. Tanto que diversos pedidos

para que estes ronins, que foram heróis de honra, fossem soltos e perdoados

chegavam diretamente ao castelo do Shogun.

A corte então se pronunciou e assim seria feito: os ronins receberiam a

pena de morte, porém, eles poderiam realizar o sepukku. Diferentemente dos

criminosos normais que tinham a cabeça decepada apenas, os que recebiam o

direito honrado de praticar o sepukku não saiam desonrados.

Quando estes cometeram o sepukku, o quanto antes seus corpos foram

levados até o templo Sengaku-ji onde foram enterrados como heróis

juntamente ao seu mestre: Asano Takumi no kami Naganori. Assim,

encerrando-se a jornada em busca da honra com a morte dos 46 ronins.

Em um momento da história foi citado um senhor rico de Satsuma que

havia insultado e pisado em Oishi Kuranosuke enquanto este estava jogado

nas ruas de Kyoto. Este senhor rico era um lorde que ao saber dos feitos dos

ronins, ele foi até o templo Sengaku-ji pedir perdão em frente aos túmulos dos

ronins, principalmente para Oishi Kuranosuke que ele tanto maltratara na

ocasião.

O seu arrependimento era muito grande que em frente ao túmulo dos

ronins cometeu o sepukku. O monge apiedando-se de sua alma o enterrou

juntamente com os ronins, para que sua alma atormentada pelo remorso e

angústia pudesse repousar em paz.

Mas nem todos os ronins cometeram sepukku. Terasaka Kichiemon, o

ronin mensageiro que levou a informação para Ako que o plano havia sido

executado com sucesso sobreviveu! Ele foi perdoado dada a fama e a honra

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que o caso havia tomado e também pela sua tenra idade. Assim, este último

ronin manteve viva a história desse feito de honra até seus 78 anos quando

faleceu e foi enterrado juntamente com seus companheiros de honra.

A história dos 47 ronins ficou conhecida pelo oriente todo até chegar nos

dias de hoje e muitas pessoas hoje ainda procuram o templo Sengaku-ji para

conhecer o túmulo dos 47 ronins de Ako.

Figura 1: Túmulo dos 47 ronins de Ako no Templo Sengaku-ji

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Figura2: mapa de orientação (em inglês) dos locais históricos dento do

Sengaku-ji

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Figura3: Túmulo de Asano Naganori, ou Asano Takumi no Kami Naganori no

templo Sengaku-Ji