Os Compositores e a Lingua Nacional, Mario de Andrade

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  • 8/11/2019 Os Compositores e a Lingua Nacional, Mario de Andrade

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    Os COMPOSITORES E A LINGUANACIONALcoisa bern sabida que em todos os tempos a canto viveu em uta corn a poesia!"Parecem arnbas estas artes #undir$se numa so base estrutura comum% a ritmo& provave mente nasceram ambas duma #onte din'mica comu(n % o ritmo"No entanto ) *ustamente o ritmo que mais intimamente as pe em m+tua oposic,o-

    pois cada uma das duas artes ./meas adquiriu seu r#tmo prOprio- id)nticos urn eoutro mas pro#undainente desi.uais- urn derivado- no canto- do puro dinain"ismo0siops#quico e outro na poesia- dos processos de pensar por meio de pa avras"Mas se a #onte rItmica cornum ) o primeiro motivo de coni0to entre canto e poesia-outros motivos tornarn inda mais inso +ve a oposic,o das duas artes" Outra #ontecomum as opoe1 o instrumento de sopro que ) a vo( 2umana" 3i(em os arque4 o.ose etnO.ra#os que o arco primitivo #oi ao mesmo tempo instrurnento de morte e dem0sica" 3es#erindo a 5e6a- o arco servia ao 2ornern pra matar mas dedi 2ado e

    vibrante servia para dar Sons musica s" Como o arco primitivo- a instrumento voca7que a ias tamb)m ) morti#ero"" "8- tern dais destinos pro#undamentedissemei2antes1 a paiavra e a rn+sica" Como o arco que vibra tanto pra iancar on.ea 5ec2a como pra iancar perto o sorn1 a vo( 2urnana tanto vibra pra iancar perto apa avra como pra ancar on.e o som rnusica " E quando a pa avra #a ada quer

    atin.ir on.e- no .rito- no ape o e na deciama9ao- cia se apro6imacaracteristicaniente do canto e vai dei6ando aos poucos de ser instrumento ora prase tornar instrurnento musica " A vo( 2umana quanto ora ou musica - terne6i.)ncias e destinos di#erentes" Misica e poesia tern e6i.Cncias e destinosdi#erentes- que poem em novo e i.ua mente irrecondiii:ve con5ito a vo( #aiada e a

    vo( cantada" A vo( cantada quer a pure(a e a imediata intensidade 0sioiO.ica dosom musica " A vo( #a ada quer a inte i.ibi idac e e a imediata intensidadepsicoiO.ica da pa avra ora " No

    ; si.ni0ca na tese- ? con*unto das

    artes da pa avra- quer versi0cadas- quer em prosa"2aver: taive( con5ito mais inso +ve " A vo( cantada atin.e necessariamente a

    nossa psique pe o dinamismo que nos desperta no corpo" A vo( #a ada atin.e

    tamb)m- mas desnecessariamente- o nosso corpo pe o movirnento psico 4.ico quedesperta por meio da cornpreenso inte ectua " 3ois destinos pro#undamentediversos- para no di(er opostos"E desta diversidade e nesta an.dstia insoidve os compositores tern vivido" Se emcertas #ases 2istOricas da rn+sica o con5ito perene tern sido como que posto de adoe os compositores adquirem uma esp)cie de pa(- que antes ser: des ei6o ei.nor,ncia- os .randes espIritos musica s sempre de ai.uma #orma se preocuparamcorn o probiema" E nem podia dei6ar de ser assim porque das so ucoes dadas a e e-deriva a prOpria be e(a musica - deriva o espiendor desse instrumento incompar:veque ) a vo( 2umana e sua #or9a de e6press,o"3c uns sessenta anos para c)- quando a m+sica brasi eira principiou a adquirir urnaconst@ncia de erudi9o que *: no se mani#estava em indivIduos iso ados- oscompositores cu tos principiaram a cantar na In.ua naciona " ? prOprio Car os

    Gornes- ita iani(ado pe o seu destino- dei6ou modin2as e 2inos patri ticos que *: sea#astavam- pe a ma*or pesquisa erudita- da suave bo9a idade das nossas modin2as eundus de sa ,o" Sur.iu urn con5ito novo- de ordem erudita- que #oi o de acomodarao canto a in.ua do pa s"Se estudarmos- per#untoriamente que se*a- a cornposi9,o naciona erudita paracanto- paramos diante duma incO.nita do orosa" ? con5ito entre o canto e a in.uanaciona ) patente- ) contundente- ) enorme em todas as nossas can9oes eruditas"Mas se o con5ito e6iste- no podemos de #orma a .uma conc uir- pe as obrase6istentes- que os compositores nacionais ten2am se preocupado corn dc" A min2aconcius,o particu ar e a5ita ) que os nossos compositores quase todos- *arnais n@o

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    Sc preocupararn corn o prob ema-*arnais no se ancaram na :rdua pesquisa est)ticade acomodar as e6i.)ncias do canto as e6i.)ncias da pa avra naciona " A ias-descu pem$me- as dedicat4rias de suas m+sicas- corn absurdos me odiosos deerases- provarn su0cienternente que muitos dos compositores brasi eirosconsiderarn a in.ua coisa secund:ria" E 2armoniosarnente a i.norarn"? estudo n@o sistemati(ado que i( a respeito- enc2eu$rne em poucos instantes de

    #arta docurnentacao e nurnerosas id)ias conc usivas" A primeira destas ) que ascompositores nacionais n,o compOem para o canto como deveriam compor" B:pon2o de parte a escoi2a dos te6tos e de maus poetas e poesias inadequadas" Eincontest:ve que o canto de carnara- em que o te6to precisa ser c aramenteentendido- e6i.e por isso mesmo- poesias de va or" Mas o e6arne do canto universaprova- e isso acentuam muitos estetas como #ato consumado- que n@o ) o te6to be oe pro#undo- que provoca no compositor as mais be as e;;

    pro#undas me odias" Conta$se por centenas as me odias ind#ssimas sobre te6tosbocais" A prOpria a0rniativa de que urn te6to muitas ve(es ) inadequado pra serposto em rn+sica- ) muito precdria" Nin.u)m podia ima.inar que dum te6todia o.ado- tao dramaticame5te ora como o Er Dni. de Goet2e- Sc2ubert 0(esse a

    *4ia incompar:ei do seu ied"

    Por)m- mesmo neste assunto- 2I que advertir o compositor contra a #a sa inven9aodum ritmo- durn e emento acompan2ante- duma #rase me 4dica- duma possibi idadedescritiva ori.inada dum te6to- e que o eva a compor urna can9ao" A can9@o-e evada a sua mais per#eita representacao est)tica pe os compositoreS a emaes-russoS e #ranceses do Romantismo- ) uma pe9a de c:mara- pra canto e instrumentocomentador- especia mente o piano" Este ) o conceito- esta ) a mani#esta9ao em quea can9,o erudita a can9ou sua identidade ma.nI0ca" Tornar o instrurnentocomentador- e portanto de se.undo piano- tao ou mais importante que o canto& evaresse coment:rio da can9@o para instrumento me 4dico como o vio ino ou a 5auta-pra .rupos instrumentais de camera e ate pra .rande orquestra- que tuc o isso *:tern sido #eito pe os cornpositores incontentados corn a per#ei9ao e o equi #brio1 )certamente descamin2ar o conceito da can9ao- de#ormI$ a- insu5ar$i2e umapretens@o batr:quia que em ve( de a en.randecer a deturpa"E preciso que o compositor se pon2a em .uarda contra as #a sas inven9Des dume#eito- provocado pe a Fitura durn te6to- e#eito que o eva a compor uma can9ao quenao tern ra(ao de ser" i a Lobos- em sua primeira #ase- #oi vItima #requente desseen.ano" Na sua can9,o A Cascave - cu*a me odia ) ta ve( duma insu5ci/ncia que n@onos autori(a a ima.inar ainda o .enia inventor das Cirandas- ) visIve que o artista#oi evado a compor pe a inven9,o dum acompan2amento .uisa 2ante" ? te6to deCosta R .o Br" inicia$se corn Os versos1C2ama otada- ondeando- a cascave dormita-E- em rodi 2a- parece entre as #o 2as- urn nin2oHurtacores" " " 7etc"8"E o compositor se despen2a em .uisai2adas de tremu os no a.udo e 2arpe*osc2ama otados- 4ndeantes- #urtacores- a que cu como indica9,o de movimento =muitoanimado e a e.re>" E visIve - me parece mesmo incontest:ve que o compositor- aoer o t#tuio Cascave *: 5cou corn a inspira9ao espetada num e#eito descritivo" Emse.uida- as pa avras =c2ama otada- ondeando> ence.ueceram a inspirac@o e ocompositor comp s" Se esse todo o poema- que a ias ) pura e pamasianarnentedescritivo- teria visto que ? poeta- do si )nc o e da imobi idade da cascave quedormita- aos poucos a #a( acordar ao som da avena e mover$se ate tinir Os .uisos-e astecendo as veias e"""

    =E sacuc indo no ar desordenadamentePi(icatos- rondos- sem#nimas- co c2eias>"? poema ) p)ssimo- 3eus me perdoe - mas 2avia sempre ne e urn e ementopsico 4.ico mais #ntimo- a cascave atraIda pe amdsica& e mesmo um e emento

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    ob*etivD- o dormitar inicia que aos poucos desaparecia- substituIdo pot urnmovimento que en0m- #ren)tico- debandava em pi(icatos e seminimas que ai.nor@ncia musica do poeta a*untou pot e6i.)ncias de metri0ca9ao" Nem oe emento psico d.ico nem a .rad:9ao descritiva adiantaram ao compositor" Mas )que e e #ora en.anado pe a inven9ao dum e#eito pianistico- que repetiu de inIcio a0m- e sobre o qua pos uns sons rneio quaisquer- para a .um cantor di(er o te6to"

    Mas isso era em JKJ - 2a

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    apenas isso" ? resto 0ca sern ra(ao$de$ser- principa mente por n@o terem decorado ote6to- ou pe o menos se apropniado viscera mente dde"No dou e6emp os porque o .osto ) inurner:vei e pe9as que direi ine6pressivaspoder@o sen ac2adas e6pressivas pot outros" Mas apresento urna prova do quea#Irmo- e corn cia entro de0nitivamente no @ma.o da rnin2a tese"

    A principa di0cu dade da unio da pa avra e da mtisica- o principa probiema em que

    ta ve( nen2um compositor do mundo n,o ten2a errado- consiste na acomoda9io#onCtica durn te6to quando cantado" A pa avra #a ada se resume ob*etivamente e potassim di(er- em #onCtica- que C o #en meno de sonori (a9,o das pa avras" Ora eua#Irmo pre in inarmente que Os 5OSSOS cornpositores *amais 0(erarn da #on)tica oestudo b:sico do canto e a i.norarn sistemati(adamente" Acredito que con2ecamcanto- quero di(er as contin.Fncias #Isio O.icas da vo( cantada 7peQo menos querocrer que con2ecam8- rnas a #on)tica- as contin.Fncias pr4pr as da emiss,o dos#onernas- das pa avras e das #rases- creio que tao #undamenta prob erna do canto Cdescon2ecido da .rande maiona dos nossos compositores"Ora eu a Ininei que des cram en.anados pe a inven9,o duma primeira #raseme Odica inspirada pot urn te6to ido- e que essa #rase OS decidia a escrevet muitas

    ve(es can9es que n@o tin2am ra(:o de ser" Estudando sob o pontode vista #onCtico o nosso canto erudito- a pnimeira e surpreendente veni0ca9ao

    que se #a( e a se.uinte1 se quase todas as can9Oes est,o in9adas de de#eitos- #ai2ase mesmo erros .raves de nature(a #onCtica- a pnimeira #rase de as est,#oneticamente certa" Sao poucas as e6cecoes" Em

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    cantar Sc2ubert nurn a em,o muitas ve(es 0n.ido- ou 3uparc num #rances c2eio deap ica9ao- a darem 2erOicos recita s de can9 es

    ;;t:ve que uma =5or> nunca deve ser co ocada muito a to- por serem tres ni $ dos

    conson:ntiCOS pra uma so vo.a " Mas ) o que #a( Boo Gomes Bunior em =Onde est:

    a I usoV>" pondo a =#or> no so "WIATOS E 3ITONGOSEntro a.ora num terreno de inconsequncias e #ati.antes pecadin2os" Mas

    *ustamente a mi6Ordia ) taman2a- tantas as so u9es r tmicas di#erentes e mesmocontradit4rias dadas ao mesmo caso- que isso prova c aro a desaten9o tota doscompositores por este interessantissimo prob ema da #on)tica ap icada ao canto"Rea mente pode$se a0rmar que o prob ema dos 2iatos e diton.os *amais e6istiu paraos compositores" Corn a ma*or sencerimOnia iberdosa #a(em dos 2iatos diton.os edos diton.os 2iatos" N@o ) tudo" A con*unco de duas- tr/s- quatro vo.ais di#erentes-pois que cada uma de as tern sua a tura natura - devia de a .uma #orma condicionaro arabesco das me odias" Evidenternente no quero di(er corn isso que Os aa devemestar sempre no re.istro mdio- Os UU no .rave e os ee e ii no a.udo" Nem de on.equero di(er que a seria9o voc: ica duma #rase deve determi ar o arabesco

    me Odico" Seria destruir a invencao" Mas sou #or9ado a vo tar aque a a0rmativa que0( atr:s sobre o processo rnais sincero de escrever can9es1 a necessidade dedecorar os te6tos e di(e$ os muitas ve(es antes de principiar a compor" Essaapropria9ao abso utamente 7ntima das contin.ncias #on)ticas dum te6tO- #ata menteevitaria as contradi9es e6a.eradas de interva os me Odicos provocados pe os sons- einterva os orais provocados pe a a tura das vo.ais"Muitas ve(es ate- a in2a da me odia deve contradi(er a a tura #onCtica das vo.aispara que estas adquiram a sua timbra9o e ritrno mais e6atos da pron+ncia"Wenrique Osva c o- por e6emp o- na =Anunciacao> da =Pastora > de Coe 2o Neto- d:ao diton.o =vais> 7o ivais8 dois sons entos- de que o se.undo ) mais a.udo que oprimeiro" A Cm do seno de criar urn #a so 2iato- mais de#ens:ve - aparentementeparece estar no certo no interva o ascendente- pois que o I ) #oneticarnente maisa.udo que o a" Mas n@o est:- porque- se tratando dum diton.o decrescente- o i- pe a

    sua pr4pria curte(a ritmica e desimport:ncia sonora- n@o e consideradopropriamente uma o.a - e ) c2arnado de semivo.a " Ora sendo de sua nature(a#onCtica mais a.udoe-portanto-maisincisivo que ? a- estando pe a me odia co ocadomais a to que este- vibra necessariamente muito ao nosso ouvido- por mais que ocantor se esmere nurn decrescendo per#eito" A audi9ao dar: #ata mente urn acentosecund:rio a esse I m nirno e desacentuado- e temos =o$ i$va$ s>- que sO .randecuidado do cantor conse.uir: dis#ar9ar" Hrancisco Mi.none- por sua ve(- no=Noturno Sertane*o>-

    se.ue uma ten dncia muito #reqUente na m+sica popu ar brasi eira- que consisteem #a(er do diton.o nasa Bo urn 2iato- quando ocorrente num 0m de #rase musica "Por)m no me embro de e6emp o popu ar em que os dois Sons do 2iato B$u-n #ormeminterva o me Odico ascendente" Sempre e urn interva o descendente- con#orme ae6ata emissao #on)tica do diton.o" Ora Mi.none d: para o diton.o 2iati(ado urn

    interva o ascendente- de#ormando comp etamente os dois va ores nasais- se o cantorc ividir o diton.o a maneira popu ar- ou obri.ando$o a urn portarnento no B 7,$um8"Urn caso interessante C o que nos #ornece Hrancisco ra.a na = isita9o>7=Pastora >8- quando a0rma a e6istncia durn 2iato em =iraidora>- na se.uinteescritura1

    r rv I"""tra$i X do$ra que o mar 7Sic8Ora o que 2a de mais suti rnente traidor nesta so u9o- no C o 2iato e6a.erado

    pe as notas rea s- mas a condu9o da in2a me Odica que distribui dois misconsecutivos para as vo.ais a e J" Como o I C bern mais a.udo e brii2ante que o a-

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    dc nos d: uma sensa9:o de que o se.undo mi subiu urn bocadin2o a Cm doprimeiro- provocando urna pequena desa0na9o- que na rea idade no e6istiu" Ainda Cmais abusivo no =A e2iia> cora se.uinte- em que sur.em de novo no mesmo som a2iati(a9ab #or9ada e as vo.ais #oneticamente muito distantes uma das outras1

    r A $ e $ u $ i $ a 7sic8

    Considero esta soJu9o bastante imper#eita para vo(es corais" Observomais urna + tima ve(- que nao di.o se*a ine6equ ve pe o cantor" Mas C de#eitoe #a 2a .rave do compositor- que nunca obter: em seme 2antes contin.nciasa sonoridade pretendida"

    A converso dos 2iatos em diton.os C urn prob ema de icado- par causa da di#eren9ade movimento dos prirneiros" Wiatos 2a que se pronunciam rea mente muito r:pidose que podern ser aceitos corno diton.os no canto erudito- apesar disso Se opor atendEncia #onCtica rnais .era do nosso povo- quc C *ustamente a converso dosditon.os crescentes em 2iatos" Si Carnar.o Guarnieri

    0 LJ Yuasi AJJ

    ousado" Sentindo a m)trica de Castro A ves- na =Cancao do io eiro>- i.a 9Bo e esnum som so na redondi 2a maior =Meu cora9io est: deserto>- pedindo ao cantor apron+ncia Zstd" Mais ousado ainda- na #amosa =Cancao Sertane*a>- c2e.a a dar umaco c2eia 7Mm" para a semInima8 pra quatro vo.ais se.uidas na #rase =imbuseiroe ouncuri>"Por isto mesmo nao se compreende ten2a corn dois Sons 2iati(ado as tres vo.aisconsecutivas de =pensamento a a ma o des.osto> da nao menos inda =Toada pra

    oc>" ? movimento de toada em que vat nao *usti0ca o 2iato e6i.ido- entretantoperdoveJ no caso id)ntico da =Can9ao Sertane*a>1=saudade ) um so#re>" Neste i itirno caso- o 2iato- a )m de*a #eito pe a metri0ca9aodo poeta- inda per dma ocorre numa repeticao de arabesco ritmicome 4dicc que *:

    vin2a sendo muito repetido na pe9a" No outro caso- porm- o e6i.ira metricamente ai.a9ao" A vIr.u a da enumera9ao =o pensamento- a a ma- o des.osto>- tamb)m nao

    *usti0ca psico o.icameate o 2iato da misica porquanto o arti.o a *: estava- no canto-i.ado a + tima si aba da pa avra anterior" A )m de tudo isso- o pr4prio compositor-dentro duma #Ormu a ritmica atente- vin2a criando muitas variantes- *ustamentepra respeitar as circunst:ncias #ontticas do te6to? #ato de Louren9o Hernande( ter ousado dam urn som so pra quatro vo.aisse.uidas- e depois ter trope9ado num menor triton.o 7a ias diton.o pe a #us'o dosdois aa8- so me prova ) que mesrno pra e e- to mats cuidadoso quanto a #on)tica-dic9ab e m)trica- os prob emas deste .)nero n@o se so ucionam por urn estudonormativo do assunto" Nao direi se*am soJu9es nieramente ocasionais- pots aateri9ao do compositor ) constante& por)m- si nao sac ocasionais- sao epis4dicas-quero di(er1 nao tern aque a #or9a .enera i(adora duma conviccao adquirida peruma atitude =catO ica> em re a9ao ao prob ema"

    A =Can9ao Sertane*a> ainda apresenta outras so u9es acertadas e ousadas que va ea pena embrar" Lo.o na primeira #rase aparecem dois 2iatos muito bern rea i(adosmusica mente" Outra boa so u9ao ) quando a poesia di( que a a ma =canta-1asaudade ) urn so#re>" ? m+sico tirt2a que acentuar- pe o #raseio musica - que esta#rase #ora cantada pe a a ma" ? 2iato era imprescindIve - pois que a ar.a in2ame 4dica nAo podia ser interrompida por uma pausa que t2e tiraria toda a ca ma eunida p asticidade" E certo que 2avia o respiro pra sa var a e6istCncia dos cantoresde mats curta respiracao " " " Mas o compositor inda #aci itou a emissao per#eita-

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    descendo de semitom no 2iato e acentuando o arti.o per meio da sincopac,o"- os dots 2iatos que aparecem s7o e6i.idos

    pe o prOprio poeta e inso +veis" ? da primeira estro#e =decisiva$2ora> est:

    e6ce enteme5te reso vido pete sa to ascendente de quinta" ? da se.unda- =ser:$em vao>- tamb)m aparece #adi itado pe a in2a ascendente da me odia"Mas tamnb)m Louren9o Hernande( apresenta a .umas #ai2as .raves" ? #ate de #a(ercorn a con*unc,o =ou> 7=Cancao Sertane*a>8 urn sa to me dico ascendente de ter9a-me parece muito antivoca e nao *usti0c:ve pe a simp es repeticao do arabescorItmico$me 4dico" Mats de#eituosos ainda me parecem os dois Mates do =Notumno>-a #rase =tortura$me$aa.rO>- corn tres sons pr:s trCs vo.ais se.uidas - obri.ando ocantor a c2upitar aos poucos urn miud 7=me o a.ro>8- que seria tao mats saboroso ediscreto- en.u ido numa sO emiss,o" Ainda no =Noturno>- as duas semico c2eiaspara =E$a tCia> nao tern a messna si.ni0ca9ao psico 4.ica do 2iato idCntico que ocompositor criou no se.undo dos =3ois Epi.ramas>- =E"a$primavera >- pta dar mater.randioqu/ncia e6tasiada a a0rmacao em sons bern on.os" E ainda ac2eimperdo:veis os dots Mates que aparecern na = ei2a WistOria>"

    As nove can9Des de B" Otaviano que e6aminei- pondo de parte as suas 2arrnoni(ac[sde canti.as popu ares- todas apresentam #ai2as #ortes de nao i.a9ao de pa avras"Parece mesmo d 5ci que urn compositor no sinta a m)trica tao tesa- tao impositivade i ac- em =Os Rios>- e nao respeite os diton.Os e triton.os que o poeta e6i.e" Ouo compositor nao se preocupou corn a m)trica" Yue nao se preocupa corn #on)ticasme parece incontest)ve pe a maneira corn que des i.a =sorrisa$astra >- =e$o son2o>-de$onde me vem>- =branquear ividarnente$a estrada>- =dorme$em pa(>- =sur.e a$aurora>"E Hrancisco Mi.noneV As suas pecas pta canto apresentam numerosos de#eitosdeste .enero" Coisa curiosa1 so a *: c) ebre =TeuNorne> n@o apresentaZ Savino de enedictis- na = o( do Sino>- apresenta urn de#eito idCntico escandindo=quandoa$escUte>- em que e interva o crornItico ascendente- que ca no brit2a5teI 7escuto8 impondo natura mente esta s aba- #a( o ouvinte entender =quando ai\scu

    to> desnorteando o sentido do te6to";Lurn sO de#eito- pe o que #a9o aqui uma re5e6@o de .rande porte" No .era - e

    *ustamente em suas me 2ores pe9as- nas musica mente mais indas ou maisce ebradas- que Os cornpositores apresentam menos vIcios #on)ticos ou mesmonen2um" Bo@o Gornes Bi nior t@o inconsequente- n,o apresenta erro a .um na =Casado Cora9@o>- que ) ta ve( urna das suas canc es de maior mteresse- e .o(ou decerta ce ebridade em S@o Pau o par urn tempo" Luciano Ga et- t#o de#eituoso quantaa #on)tica- tern certamente no ZPai do Mato> uma de suas obras mais unportantes-mais bern sucedidas na rea i(a9@o" Ne a tamb)m n@o aparece urn erro sequer dei.a9o de pa avras" Camar.o Guarnieri no admir:ve =Impossive Carin2o>- tamb)mest: puro de #a 2as" Louren9o Hernande(- na =Meu Corac o>- est: na mesma pure(a"

    arroso Neto- nen2um de#eito na =Can9,o da He icidade>" Nepomuceno ) quaseper#eito nas Uiaras" i a Lobos o )- #on)tica e musica mente- na maioria dasSerestas" E Mi.none- 0na mente- si n@o pode entrar nesta enumera9ab corn asbe Issimas =Yuadras>- n'o dei6a tamb)m de ser inda no =Teu Name>- sua cancomais ce ebrada" E esta nen2um de#eito apreserita" Unica- dentre as dde- quenen2um de#eito apresenta"Me parece sistem:tico" Wa uma ta ou qua re ac@o entre a be e(a das can9Des e suaper#ei9o #on)tica- e sobre isto as compositores deviarn matutar mais" Os seus cantosmais inspirados- mais bonitos e " " " mais cantados si#o o6 que derivam maisimediatamente do te6to #a ado" Parece 2aver uma cone6@o O.ica entre a resu tante

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    be e(a da me odia e a resu tadora per#ei9ao #on)tica do te6to quando #a ado"3e Hrancisco Mi.none citarei a.ora apenas as casos que me parecem mais di.nosde estudo" ? =Madri.a > ) assustadoramente de#eituoso" 3o verso de sete s abas=Mais suave que urn bei*a5or>- o me odista #a( urn decassi abo musica - a que *a )poder de espic2amento m)trico 3c #ato d: dais sons pra =ma$is>- #a( urn 2iato maisra(o:ve em =su$ave> e no i.a =que$um>" ? que se.uido de arti.o bri.ou corn a

    compositor" Em tres #rases se.uidas- e e aparece no =Madri.a > e o compositor odespeda9a sempre em dois sons- o mesmo #a(endo na =Can9o do Tropeiro>" Mas naoacabei de estudar o =Madri.a >" 3esde a inIcio da can9 o- Hrancisco Mi.none vin2aempre.ando como c) u a ritmica principa a tercina" Na antepen+ tima #rase- por)m-em ve( das duas tercinas natura s e esperadas- inventa urn .rupo de sete sons1ppppppr

    quando bastava #a(er de =e a> urn diton.o- pra continuar na c) u a r#micaproposta e acertar #oneticamente" E a que di(er da pernMtima #rase1

    Acorn tres #raque(as *untas I" ]

    E\ o te$u un$do no$me es$cri $ toNo =Hun de Romance>- a mesma #ai2a dos sete Sons do =Madri.a > se repete em

    caso id)ntico" ? compositor 0(era tamb)m da tercina a c) u a rItrnica mais correnteda peca- e de repente- scm ra(@o a .uma- so pra errar #oneticarnente- e di0cu tar#ati.adorarnente o cantor na repeti9ao dos sons .raves- so uciona1

    onde a tercina se impun2a1 A

    E o nossoamorE* nossornorE que di(er$se da #rase inicia dessa mesma can9@o- em =quase ento>- que par

    causa dos tr/s in#e i(es dOs repetidos d: impress@o que a cantor estI #a(endo urne6ercIcio de cot de vo.ais sabre urn mesmo som on.oV No 2aver) *eito do cantor-mesmo e6ce ente- dis#ar9a\r tarnan2a in#e icidade de escri tura1

    A"O contraste entre essa psico o.ia interior e a de cia do mar da praia est: rnuitobern situado na cria9o po)tica pe o movirnento coreo.r)0co do ritmo quecorresponde ao bem$estar moment:neo- a a e.ria 5sica que a mar da praiapravocou- e pe as pa avras do te6ta que correspondem ao desespero desi udido de simesmo- a a e .ria desesperada de quem busca no se amo ar mais corn esta vida" Parno va er mais a pena"""Os dois cornpositores evitaram a ntmo coreo.r:0co- pre#erindo apenas ritmos

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    #ortemente incisivos" Mas Louren9o Hernande( se 06ou mais intensamente no va orpsico O.ico do poema- ao passo que Carnar.o Guarnieri- ta ve( mais rea ista- seconservou durante toda a peca numa ob*etividade mais"mais #on)ticaV No sei bern corno me e6prirnir- .uardando todo a tempo urn

    ZI!

    depois das pa avras =de quem>- num sa to me dico suspensivo- #a( uma pausacorn #ermata- pra- em se.uida- num ritenuto- di(er o =no se E>" Hicou an.ustioso emisteriosIssiirio- admirave mente e6pressivo" Boo Gomes Binior- a ias- ini tae6atamente a inven9o de Nepomuceno- sem que nada no ritmo po)tico ou nomusica autori(asse a imita9o"

    e*amos a.ora urn pouco a so o da iara- que #a( a centra das pe9as" Os versosdi(em1=Eu ten2o aqui mi pa :ciosTodos #eitos de corais-Seus tetos sSo mais #ormososYua a coma dos pa meiraisIn#ante que vais no monte-

    3ei6a teu pouso d\aaim-Eu sei 2ist4rias bonitas- em >Ora estas duas quadras apresentarn uma #orte di#erencia9ao psico 4.ica" Naprinieira- meramente descritiva- a iara conta as rique(as promissoras- que possui-ao passo que na se.unda- abandona a descri9ao- pra c2amar o =travesso menino> econvidi!o diretamente a vir compaiti 2ar de mu de Icias" Yue #a( NepomucenoV Emcombina9oes" mais r:pic as de coic2e as e semico c2eias enuncia tods a prirneiraestro#e recitativarnente" E na se.unda- em #rase *a de me odia em qua nern uma soocasiao urn som se repete duas ve(es se.uidas- muda o ritmo- que abandona asemico c2eia pra se tornar mais" ento- como cabe a urn c2amado de on.e- maisintenso- ma s c2amado e ao mesmo tempo mais me odioso- mais encantador"Em Bo@o Games Binior in#e i(mente nada disso" Os trEs va ores de tempo continuarn

    se combinando nestas duas estro#es so istas- coma na parte cora do principJo& e ase.unda estro#e repete na primeira #rase e6atamente urn mo de r tmico *I usado nadi#erentIssinaa priineira estro#e"E assi6n as duas obras vo ate o #Ina em que- terminada a descricao- o coro avisa amenino travesso qua no se a#aste muito do ranc2o nao- porque as" uiaras andamroubando menino e sao mocas cruCis" Os dois compositores retomarn a me odiacora e o ritmo narrativo da primeiraparte" Mas ainda aqui- A berto Nepomuceno vaicriar uma Jnven9o nova- adni r:ve como va or e6 pressivo" Se Bo@o Games Bdniorcontinua narrando impassIve - nas mesmas combina9es r#tmicas em que vin2aatrav)s da pe9a toda- A berta Nepomuceno- ao c2e.ar aos dois versos 0nais-=Crian9as roubando-S@o mo9as cruCis >

    a ar.a desmesuradarnente o moviniento- e si o acompan2amento Zta( num

    apressando ate o tremo o #ma em #"-o canto em m nimas e semibre es ar.as-con#ere as pa avras urn torn pro#Ctico- a tissonante- assustador e tr).ico- deesp endida e6pressao"Eis a.ora urn caso suti de ma co oca9#o de niudanca de movimento- e6i.ida pe ote6to" Est: no =Aca anto>pra cordas e vo(- de 3inor: de Carva 2o" A artista-escandindo a te6to- sentiu que a binaridade no era su0ciente para acondicionar omovimento r#tmico- carecia #a(er uma mudan9a interna de movirnento- t2sertandone e urn .rupo temIrio" Insertou$o- mar #a(endo assim por)m1#4i se $ me cia embran $ 9a__

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    Ora- no ritmo #r:sico 2avia urn esdrd6u o sim- rnas nao estava no u.ar em que acoinpositora pos a tercina- boa pra so ucionar musica mente esdrd6u os intern os de#rase" Estava no come9o desta- provocado pe a prirneira acentuaca\o de a 7#oi8 epa o se.u2nento de duas sI abas redu(idas 7=#o $se$me\8" 3e #arina que a tercina- em

    ve( de estar onde a compositors a co ocou- devia estar no tempo anteriorJ?1#oi$se$meda em$bran 9a"

    __ __ r i As muta9Des de movirnento #r)sico- #eitas pe a intromiss5o de 5.urasnotas di#erentes dentro dum ritmo- constituem a ias urn dos capItu os maisdeicados- mais sutis- cia can9#o" E especia mente da cancAo naciona - comoe6p icarei em breve"Urn te6to #a ado- por mais rec2eado de vio entas mudancas psico 4.icas-rarissimarnente e6i.e vio entas mutaces de movimento" Em .era as variantesJ? 3evo observar qua v:rios dos e6emp os citados- de compositores ainda *ovens-s@oe6traIdos de obras n@o impressas- pertencentes I min2a co ec o- I de Caniar.oGuarnieri ou emprestados para esta tese" Est o portanto su*eitos a corre9 es #utu rade seus autores"

    !

    de movimento d`n te6to #a ado so pequenas- #eitas de combina9oes de va ores detempo pr 6 mos urn do outro" E tanto d ass m- que- #oneticamente- nas In.uas deconcep9#o qua itativa das si abas- estas so sb qua i0cadas do duas maneiras- brevesou on.as- va endo estas mus ca mente o dup o daque as"Mas a preconceito das acentua9 s do compasso- comumente eva os compositoresa muta9[s vio entas que nada- nem mesmo o sentido psico O.ico das #rases

    *usti0ca" So mutac es e6ciusivamente der vadas de sever de repente o compositorcorn urns por9ro de sLabas na mao- e que e e irna.ina terem do caber dentro doresto do compasso que ainda possu pra quo a acentua97o tOnica da #rase caia naacentua9bo #orte do primeiro tempo do compasso se.uinte" Ento- abandona asco c2eias e seminirnas em quo vem vindo em boa dic9bo norma - e de repentedesanda nurna s)rie apressada de semico c2eias ou do #usa sem que nada- nem a

    e6preasbo do te6to- nem a arquitetura r#tntica da peca- nem a p ast c dade inear oautori(assem a ease debandada" Mas carecia meter uma por9bo de si abas dentrodo compasso""E cur oso quo oasis muta9 es vio entas so dbo- no canto naciona - *usto nas pe9asque nbo se preocupam corn a naciona i(ac#o musica do at mesmas e nbo seuti i(arn portanto dos ritmos naciona s" Assim- ) na vei2a .uarda-Nepomuceno-arroso Neto- Hrancisco ra.s- Bo#o Gomes Bitsi or- menos naciona i(ados em suam.sica- que encontramos cam mass #reqi Fiicia eases mudancas in*usti#IcIve s domovimento" Eta urn e6emp o de Bob Gomes Binior- na modin2a =Saudade>" Aos dots

    versos=A quem sentir$te nSo 2I$dcSi #or dentro da audade>"""a compositor abandonando do repente as comb na9ees O.icas de coic2e as eseminimas cm quo vin2a di(endo- desanda nunia carreira esportiva desemico c2eias- tbo$somente pta quo a si aba tOn ca do se.undo verso cia 7saudade8cats num pr meiro tempo de compasso" E sur.e este absurdo1

    A2 quem n$ tir $ te nbc 2a$de Si #oi dentro da sau $da7de8 etc(r ir r rrrr$rIpNo entanto- a =Casa do Coracbo> ) urn prirnor de combina9 es adequadas do

    va ores do tempo"Eta outo e6emp o cur oso- quo estI certo em 7dttsna anI ise- mis quo me parecede#e#tuoso por uma de icada d #eren9a do ritmo e movtsnento pro$

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    vocado pe a cot #on)tica dos vo.ais" Wavia urn esdrii6u o no =Sinto urns #or9aindOniita>- a pa avra sperano" Pau a arros atentamente- percebeu a prob ernar#trnico e p s no u.ar urn esdni6u o naciona =unem$se>" Mas o esdn\6u o nacionaera no caso mats va.arento quo o ita ano- pot duas ra(Oes1 pe a cot das vo.ais epets disposi9ao das consoantes" Nas duos pa avras 2a urn .rupo conson@ntico- sp naita iana e ms na portu.uesa" Mas o .rupo ita iano- co ocado no inicio da #rase-

    0.urava mats ripido- podia set emitido mats rIpido- n#o sO porque so i.ava aotempo anterior que portends a outro compasso- passando pta este parte do s ou tododo- como era #oneticamente do pro a9#o mats rIpida pot 0.urar na corrida ptatOn ca 7sp)8" Ao passo que o .rupo conson:ntico naciona - pot centra - estavainc u#do inteirin2o dentro do tempo musica que competia so esdr+6u o- e parc2e.ar depots da tOn ca- era natura mente mats ento- pots esti dentro dumdescanso posterior a urn es#or9o" Mas temos mats" A nasa i(acbo do e postOnicoprovoca o aparec rnento dum diton.o c6c usivamente #on)tico quo a orto.ra0a nbore. stra- o urn 7unEim$se8" Ora o diton.o d necessanamente mats on.o quo a vo.a -pots a esta acrescenta mats metade do seu va or- no caso- a semivo.a " Assirn- so napa avra ita iana 2avia mats consoantes que na portu.uesa- mas ease maior n7imeroestava compensado pe a distribuicbo do s ao compasso anterior e pe a maior rapide(do .rupo conson@ntico- a pa avra nacit2ia - a )m das tris vo.ais do mesmaco ocacbo rItrnica quo as ita ianas- so acrescentava do mats uma aemivo.ainso0smive " Hina rnente aside no 0 a.udo- caIra urn born e ita iano- na tradu9bobrasi eira caiu urn mau u- vo.a .rave quo *I pot at e6i.e ma or es#or9o docon#orrna9#o do aparei2o #onador- e quo- musica mente co ocada no a.udo aindaaumentaesse es#or9o pe a contrad"i9bo do soni a.udo e a sisa cor .rave natura " Assirn- oesdr+6u o =unem$se> sendo mats on.o quo o =spenmo>- a muta9#o vio enta de

    va ores do tempo 5cou boa no ori.ina ita iano e born menos boa na traducbobrasi e a\\"

    !H H H

    Im pu$ne$nien$teTm $pu$ne$men$te

    spe $ta$no u$nem$scZ Embora a noses In.ua nbo ceracteri(e as siias a abas per va ores qua itativosdo breves e osi.as- 2i todo urn campo do obierva9#o pan as compositor""- no va ordurat vo des s5abas" As pa avms a.udu- per e6emp o- do pronunciadas mats ripidoquo as .raves" Observe$ic- per e6esup o a rapidea di =piper> em reiacLo a =papa>-=#a ar> e #at"- =corac#o> e =couraca>" Tamb)ni do ma i rdp daa as vb.a s

    de motivos r#trnicos" Wesito mesmo em dar para a as o condescendente nome dearabescos rItmicos- porque qua quer arabesco- mesnio tomando a pa avra emsentido trans ato- como se #a( em termino o.ia musica - qua quer arabesco se

    *usti0ca pot uma #ornia- pot uma p asticidade unida e comp eta em Si mesma- quede maneira nen2uma se conci ia corn enas irre.u aridades- inconsist/ncias e bebe

    dices de andamento" E quanto a e6pressLo1 ser: que Os e6emp os citados- contFma .uma inten9ao e6pressiva ditada pe o te6toV Yuero crer que todos concordarocomi.o que nao" E evidente- pa p:ve que estas so u9 es #oram esquerdices-su#oca9[s- m.enu dades de cornposi97o- provocadas e6c usivarnente pe anecessidade de en0ar de qua quer rnane ra "uma por9 o de sI abas- dentro desseeito de Procusto que o compasso"Ora se computarmos na composi9o naciona essas muta9Oes rItm cas- de urn adonas obras que nao pretendem se caracteri(ar nac ona mente e de outro ado nas quese servem preconcebidamente dascaracter*cas da m+sica popu ar brasi eira-notamos sem surpresa que asses ritmos b)bedos s'o muito mais #requentes nas

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    pe9as desnac ona i(adas que nas naciona i(adas" No entanto- *usto corn estas+ timas que sur.em as smncopas v:r as- os movimentos cancione*ros oucoreo.ri0cos de toadas- embo adas- undus- sambas e catiras" Ora todas estasesp)cies- pot serem muito din@m cas como no .era a mi sica do nosso povo- secaracteri(am *ustamente pe as acentua9 es muito #ortes- pe os compassos muitoestreitos e pe a mu tip icidade dos acentos provocada pe a sincopa97o" Isto - s,o

    *ustamente #ormas imutIveis e #atais- .rosseiramente n#tidas- que dever ani dei6arem muito maiores di0cu dades o compositor que a e as tern de condic onar urn te6toirIco e portanto mu to ivre- isento de prim:rias repet 9Oes rItrnicas- suti pe ade icade(a #r:. dos acentos" Parece absurdo- parece patriotice- no entanto a5nnoque dentro *ustamente das #ormu as mais tradiciona*inente popu aies que arItm ca da cancao erudite naciona adquiriu uma ca rna nova- urn equi ibrio- umaconseq+)nc a- uma const:ncia de per#ei9#o- que *amais tivera" Corn tantos acentos-tantas c) u as ntrnicas de repeti9o obri.atoria- tantos sub$acentos provocados pe assIncopas- no seria natura que a dic9rn- se pre*udicasseVPois se deu e6atarnente o contrir o" Os te6tos brasi eiros em #on)tica brasi eira.an2ararn en0m equi ibrio dentro da rItmica brasi eira" As can9 es se tornaramma s numerosamente per#eitas como ritmo #r:sico- muito man natura s- ca mas e aomesmo tempo muito mais ricas de movimentos variados- mais sutis de timbres eacentos\ de Hrancisco ra.a- a =Anuncia9@o> de WenriqueOsva do- os =O 2os Tristes> de arroso Neto- ou as =Uiaras> de A berto Nepomucenoe outras ainda- todas estas .o obras e6ce entes- a .umas admir:veis- a .umas obras$primas" A0rmo ainda que s7o esp endidamente c6pressivas na psico o.ia de seuste6tos"Mas considerernos ta6nb)m a Irica modema" Yuem tera cora.em de a0rmar que o=Teu Nome> ou a =Assombraca\o> do Hrancisco Mi.none- ? =ImpossIve Carin2o> ouo ZPar que> de Camar.o Guarnieri- a =Toada pta ocE\ e =Meu Cora9o> do LourencoHernande(- o ZPsi do Mato> de Luciano Ga et- a Z Toada nY ;>- de Hrutuoso iana-a )m de indIss mas- nb sbo tarnbern correspond)ncias musica s per#eitas dos te6tosque cantarnV " " " i a Lobos ent#o C urn tesouro do e6pressbo psico O.ica de te6tos-dentro do ma s acentuada mi sica naciona " As suas Incompariveis Serestas- di.nasdo 0.urarba e a europea" A acentua9bo da sincopa deriva em nossa misica- do est o da pe9a adas condi9[s rItniico$metOdicas em qua esti" Muitas ve(es a a nio tern acentus9ioa .uma- pe a sinip es ra(io que entre n4s- a a n#o ) urns diversidade rItm ca- urncontratempo a on.ado como na Europa" mae urna norme idade qua #e( partsintrinseca da nossa maneira de ritmar" Entre nOs a sIncopa nbo um e#eito- como na

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    Europa- C urna constincia" Os compositores modernos nacionais- corn cam rique(ada nossa sincopa9#o- ora acentuadIssirna- ora corn acentos idEnticos aos dostempos- ore corn sub$acentos de icados- ore sam acentuac@o a .urna- tim criadoOtimas so uc es rItrnicas de nosso di(er- principa mente corn pa a ras paro6Itonas-de qua #a(ern a su aba redu(ida 0na cair e6atarnente no sam sincopado- samnen2um desv rtuamento de tonicidade das pa avras" Nb 2a prec sbo de a tar

    e6enip os-tanto isso C Ia norma na cornpos c#o brasi eira contemporinea"KJ *unto das co e9oes t,o e6pressivan ente psico 4.icas- dum Sc2umann- duni o ^-

    dum 3uparc o+ dum Mussor.s i- as suas Serestas ma.istrais s,o canc oneiras-toadescas- modin2eiras principaimente e ao mesmo tempo c aramente e6pressivasdo que seus te6tos di(ern" asta recordar o =An*o da Guarda> sobre a poesia deManue andeira- as =Saudades de min2a- vida> sobre 3ante Mi ano- a =Na pa( doOutono> sobre Rona d de Carvai2o- a =Canti.a do i+vo> sobre Car os 3rummondde Andrade- a =Redond* 2a> ainda sobre os apai6onados versos de 3ante Mi ano"Mas na verdade careceria citar todas as SerestasN,o" Tanto estas como aque as s,o todas admirave mente e6pressivas de seuste6tos- e o naciona ismo intei.ente *arnais nao tirar: e6pressividade a nin.u)m"Estou mesmo que si 0()ssemos urn ba an9o entre is can9Oes das .era9 es de i a

    Lobos pra c: e as das .era9es anteriores- a can9ao moderna .an2aria de on.e pe on+mero e va or de obras mi 2ores"Servo os compositores modernos mais .enia s que os outrosV No me pode preocupara distribui9ao de doses de .enia idade" Mas sei- porque isso me preocupa demais-que as obras modernas Si pouco avan9am ainda- ou nada- sob o ponto$de$vistaestritarnente #on)tico- so no entanto niu#to mais per#eitas- muito rnais equiibradas eca mas como movimento de dic9o e #raseado"Wa uma #ata idade pro#unda que os compositores se esquecem de matutar bem" Potque sen que as rn+sicas popu ares se di#erenciam tanto duma raca pra outra- dumpta outro pa sV " " #:ci e sem va or cr tico nem t)cnico nen2um- secundar que issoderiva das di#eren9as de psico o.ia racia " Mas esta psico o.ia se e6pnime "" " Estapsico o.ia ) que #a( tamb)m as di#erencia9[s de in.ua.em " " " Mas a psico o.iatamb)m deniva dos corpos- e uma e outra denivarn- meu 3eus - das paisa.ens- dos

    c irnas- das condi9 es .eo.r:0cas- da a imenta9o- do diabo" E si o atim setrans#ormou em tantas n.uas& e Si o portu.us * se trans0.ura no caboverdeano ouna in.ua naciona - #orca ) recon2ecer que esses Ivatares denivaram tamb)m- eporventura dominantemente- das e6i./ncias 0sio O.icas de cada ra9a" a boca" E aboca tamb)m a e6i.ir que o bdi*o portu.a se trans0.urame num b)*o porventura de:bios mais .rosSOS" A in.ua.ens crescem e se trans#ormam- n.o poi$ =vIcios dein.ua.em>- mas pe as e6i.)ncias psico#Isicas das .entes" S@o estas e6i./ncias que#a(em as variacoes dos #onemas- as vaniantes de t inbre e movimento- as di#eren9assint:6*cas de ritmo"Po*s bern1 a rn+sica popu ar ) noventa ve(es sobre cern cantada" No sentidopopu ar1 a mi sica deniva da pa avra" Si ) certo que- pe as necessidades i#sio 4.icasde dinamismo intenso- a rn+sica popu ar se iberta o.o da pa avra e n,o se amo ade a de#ormar em seus acentos nem por isso e a dei6ou de ter aK" E de resto est ocondic onadas a ni2 outras maneiras de e6press7o- o .esto- ? rosto- a entoacbo-e urn mesmo s2 Fncio- mu to mais ricos de vida- e su0c entemente sint)ticospara substituirem a abund'ncia de vcabu :rio e a id)ia c ara das iteraturas"J; E" Roquette Pinto1 En`Bos de Ant2ropo o.ia T2asi iana In ibioteca Peda.4.icarasi eirs % Comp" Editors Naciona - S@o Pau o- JK;; 7pi." K 8"K! K