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Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016 159 OS CONFLITOS ENTRE A LEGISLAÇÃO INDÍGENA E A LEGISLAÇÃO COMUM SOB A ÓTICA DOS MAXAKALI Brenda Rocha Santos 1 Flávio Henrique Salomão Neto 2 RESUMO: No cenário contemporâneo do Brasil, mesmo após tantos anos da descoberta do país, poucos sabem e pouco se sabe o que realmente envolve o direito dos índios. Apesar da expressiva população indígena no território brasileiro, ainda são muitas as dúvidas advindas da cultura, rituais, incidência e direitos dos mesmos. Sendo assim, o trabalho constitui-se de uma sucinta análise etnográfica dos índios do Brasil de modo geral e dos povos Maxakali. Seguindo essa linha, procura-se esclarecer alguns aspectos da vida indígena dos Maxakali pela forte incidência dos mesmos na região do Vale do Mucuri e apresentar uma visão jurídica dos assuntos que os envolve, fornecendo dados históricos, atuais e jurídicos para maior clareza do seu cotidiano visto pela ótica jurídica. Nessa senda, é analisada a questão indígena e a sua leitura pelo direito brasileiro, confrontando o direito comum e o direito indígena trago pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei 6.001, de 19 de dezembro de 1973, entre outros. PALAVRAS-CHAVE: Índios. Direitos Indígenas. Índios Maxakali. Princípio da Isonomia 1 Advogada. Graduada em Direito pelo IESI/FENORD. 2 Professor de Direito Administrativo e de Direito Internacional Público e Privado do IESI/FENORD. Mestrando em Ciências das Religiões.

OS CONFLITOS ENTRE A LEGISLAÇÃO INDÍGENA E A …

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Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016 159

OS CONFLITOS ENTRE A LEGISLAÇÃO INDÍGENA E A

LEGISLAÇÃO COMUM SOB A ÓTICA DOS MAXAKALI

Brenda Rocha Santos1

Flávio Henrique Salomão Neto2

RESUMO: No cenário contemporâneo do Brasil, mesmo após tantos

anos da descoberta do país, poucos sabem e pouco se sabe o que

realmente envolve o direito dos índios. Apesar da expressiva população

indígena no território brasileiro, ainda são muitas as dúvidas advindas

da cultura, rituais, incidência e direitos dos mesmos. Sendo assim, o

trabalho constitui-se de uma sucinta análise etnográfica dos índios do

Brasil de modo geral e dos povos Maxakali. Seguindo essa linha,

procura-se esclarecer alguns aspectos da vida indígena dos Maxakali

pela forte incidência dos mesmos na região do Vale do Mucuri e

apresentar uma visão jurídica dos assuntos que os envolve, fornecendo

dados históricos, atuais e jurídicos para maior clareza do seu cotidiano

visto pela ótica jurídica. Nessa senda, é analisada a questão indígena e

a sua leitura pelo direito brasileiro, confrontando o direito comum e o

direito indígena trago pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei

6.001, de 19 de dezembro de 1973, entre outros.

PALAVRAS-CHAVE: Índios. Direitos Indígenas. Índios Maxakali.

Princípio da Isonomia

1 Advogada. Graduada em Direito pelo IESI/FENORD. 2 Professor de Direito Administrativo e de Direito Internacional Público e Privado do

IESI/FENORD. Mestrando em Ciências das Religiões.

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ABSTRACT : In the contemporary scenario of Brazil, even after so

many years of the country's discovery, few know and little is known

what actually involves the right of the Indians. Despite the significant

indigenous population in Brazil, there are still many questions arising

from culture, rituals, incidence and rights thereof. Thus, the work

consists of a brief ethnographic analysis of Brazil's Indians in general

and Maxakali people. Following this line, we try to clarify some

aspects of indigenous life of Maxakali the high incidence of the same

in the Mucuri Valley region and provide a legal vision of the issues

surrounding them, providing historical, current and legal information

for clarity of their daily lives seen by the legal perspective. In this path,

the indigenous question and its reading by Brazilian law is analyzed,

comparing the common law and indigenous law bring the Federal

Constitution of 1988 and Law 6,001 of December 19, 1973, among

others.

KEYWORDS: Indians. Indigenous rights. Maxakali Indians.

Principle of Equality

1 INTRODUÇÃO

A diversidade étnica do nosso país é o que o faz peculiar, graças

à variedade cultural dos grupos sociais, tornando-o multicultural. A

cultura indígena talvez seja uma das culturas mais expressivas e

variadas em toda esta diversidade, merecendo a apropriada atenção.

A análise do passado, das raízes, é de interesse geral e, ao

olharmos para trás, com o propósito de compreendê-lo, criamos visões

e expectativas diferentes, maduras e enriquecedoras do presente e

futuro que talvez solucionarão problemas e dúvidas relativos a

inúmeros assuntos.

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Os índios, que são chamados assim por um erro histórico, ou

silvícolas, são aqueles que vivem de forma incivilizada, em estreita

relação com a natureza e que, por conta de seu afastamento, é

considerado aculturado, distinguindo-o juridicamente dos

considerados civilizados; e de acordo o Estatuto do Índio, Índio ou

Silvícola é todo indivíduo de origem e ascendência pré-colombiana que

se identifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico cujas

características culturais o distinguem da sociedade nacional.

Como primeiros integrantes do nosso país, que foi descoberto

em 1500, os índios sempre foram, e sempre serão, um assunto de

relevância na nossa sociedade sendo sempre um tema atual e moderno,

mesmo com os muitos anos de existência, que intervém cotidianamente

em diversas áreas de atuações e estudos.

Segundo levantamento feito pelo IBGE em 2010, a atual

população indígena brasileira é de 817.963, uma taxa relevante da

população do país que é, também de acordo a pesquisa do IBGE feita

em 2010, de 190.755.799 milhões de pessoas. Destes 817.963

indígenas, 502.783 vivem em zona rural e 315.180 em zonas urbanas.

Além destes, a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) registra 69

referências de índios não contatados.

Sendo uma população tão expressiva no nosso meio, não podem

ser esquecidos pelo Estado e nem por seus patrícios, afinal, são

considerados por muitos os verdadeiros donos das terras do Brasil, pelo

fato de serem nativos daqui, encontrados no processo de ocupação dos

colonizadores portugueses, que os consideraram selvagens, matando-

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os e escravizando-os, tendo eles sobrevivido à conquista e passado a

serem vistos como minoria. Com o tempo e a evolução da sociedade,

os índios conquistaram seu espaço, suas terras e sua paz, sendo

protegidos pela Constituição Federal de 1988, que trata sobre os

mesmos, com especial atenção, no Capitulo VIII, sob o título Dos

Índios, nos art. 231 e seus parágrafos e no art. 232. Há, também,

legislação infraconstitucional própria, como a Lei 6.001/73, que ficou

conhecida por Estatuto do Índio. Embora esta lei tenha como uma de

suas premissas a proteção da cultura indígena, ela dá maior ênfase à

integração dos indígenas à comunhão nacional. Esta lei regula ainda,

em seus 68 artigos, acerca da questão fundiária, patrimônio cultural,

educação bilíngue, assistência à saúde, normas penais, bem como dos

bens e renda do patrimônio indígena.

Levando em conta a convivência eminente e quase diária com

os índios Maxakali na nossa região, mais especificamente nos Vales do

Jequitinhonha e do Mucuri, é natural que desperte o interesse de toda

população para conhecer melhor a cultura e as polêmicas que orbitam

em torno destes, não se restringido apenas a esta etnia citada, mas a

todas as outras 305 diferentes que existem na imensa vastidão do nosso

país.

Muitos são os assuntos em torno dessa população: suas terras,

o alcoolismo, estupros, guerras, as cotas de inserção no meio

acadêmico, o questionamento sobre seus costumes, práticas e rituais

tão divergentes dos nossos que vão de rituais de passagem até o

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infanticídio; opiniões sobre manter ou não esses costumes para

protegê-los ou se realmente esta seria uma forma de protegê-los, as

questões vistas pelo âmbito penal, ambiental e cível, dentre tantos

outros.

Nos questionamentos incluem perguntas como: “Que direito

têm os índios sobre as terras?”, “Os índios são cidadãos brasileiros?”,

Afinal, quem são os índios? Somente aqueles que vivem isolados? E

os que vivem inseridos na sociedade civilizada, que têm título de eleitor

e exercem seus direitos e cidadania?” É natural que no âmbito

acadêmico estas curiosidades também sejam despertadas, e assim

sendo, o presente artigo assume relevância não só jurídica, mas

também social e cultural.

2 O ÍNDIO BRASILEIRO

2.1 DEFINIÇÃO DE ÍNDIO

O índio é definido pelo Estatuto do Índio, Lei nº 6.001/1973, no

seu art. 3°, I:

Art. 3º Para os efeitos de lei, ficam estabelecidas as

definições a seguir discriminadas:

I - Índio ou Silvícola - É todo indivíduo de origem e

ascendência pré-colombiana que se identifica e é

identificado como pertencente a um grupo étnico cujas

características culturais o distinguem da sociedade

nacional;

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164 Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016

De acordo com o dicionarista Aurélio Buarque de

Holanda Ferreira:

Ín.di.o.¹ sm. 1. Aborígine das Américas; habitante das

terras americanas, ao chegarem os primeiros europeus,

nos séculos XV e XVI. 2. Indivíduo que pertence a grupo

étnico descendente dos aborígines americanos. [Sin.,

nestas acepç..: indígena.] . adj. 3. Relativo aos índios.

(FERREIRA, 2000, pág. 384)

Júlio Cesar Melatti (2007), em sua obra Índios do Brasil, descreve

alguns critérios usados por órgãos destinados a dar assistência aos índios. Os

mesmos são: o racial, o legal, o cultural, o desenvolvimento econômico e o

de autoidentificação étnica.

O critério racial define o índio pelas divergências físicas entre os

mesmos e os conquistadores europeus; o critério Legal é usado desde a era

colonial. Se dá quando a pessoa satisfaz as peculiaridades estabelecidas em

lei especificas; o critério legal é definido pela língua, costumes, crenças e

hábitos; de acordo com o critério do desenvolvimento econômico, a definição

de índio deveria levar em conta as deficiências, tanto qualitativas, quanto

quantitativa, avaliando renda, produção agrícola, taxa de mortalidade,

número e localização geográfica de povos que falam língua diferente da

oficial e que vivem em isolamento; e segundo o critério da autoidentificação

étnica, os índios devem ser assim considerados por eles próprios e pela

população que os cerca. Esse critério pode ser notado na definição dada ao

índio pela Lei n° 6001 de dezembro de 1973 (Estatuto do Índio) em seu artigo

3° inciso I.

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2.2 O PASSADO DO ÍNDIO NO BRASIL E SUA DESCOBERTA

Pero Vaz de Caminha, em sua famosa Carta ao Rei, disse “E

dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito [...].

Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas.

Traziam arcos nas mãos, e suas setas.”

No ato do “descobrimento”, os europeus ficaram encantados

com as belezas oferecidas pelas terras, riquezas e costas da terra que

posteriormente chamariam de Brasil, porém, não contavam que a terra

já fosse habitada por seres tão diferentes: nômades que viviam em

grupos tribais e que eles passariam a chamar de índio. Inicialmente, os

portugueses pensaram estar chegando às terras da Índia, e por essa

razão denominaram de índios todos os habitantes que ali se

encontravam. Mesmo após outras explorações, nas quais ficou evidente

que o Brasil fazia parte da América, continente à parte da Índia, essas

pessoas continuaram sendo assim chamadas.

Como dito, os índios são assim denominados por um erro

histórico, mas também são denominados de “silvícolas”, que são

aqueles que vivem de forma incivilizada, em estreita relação com a

natureza e que, por conta de seu afastamento, é considerado aculturado,

distinguindo-o juridicamente dos considerados civilizados.

Os povos indígenas viviam em comunidades normalmente em

forma de círculos ou fechaduras, como ainda é em algumas aldeias

atuais; comiam frutas e raízes coletadas, caçavam, pescavam e, em

alguns casos, cultivavam os próprios alimentos. Aqueles que não eram

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agricultores se deslocavam quando os alimentos se esgotavam; os que

eram, normalmente eram mais sedentários e fabricavam cerâmica e

tecidos. (JOBSON e PILETTI, 2001)

2.2.1 População

Não se sabe o número exato de indígenas encontrados no Brasil

em 1500, mas alguns autores tentaram calcular de diferentes formas É

o que é descrito, de forma sintetizada, na obra “A Presença Indígena

na Formação do Brasil” por seus autores:

Há várias estimativas sobre o montante da população

indígena à época da conquista, tendo cada autor adotado

um método próprio de cálculo (área ocupada por aldeia,

densidade da população etc.). Julian Steward, no

Handbook of South American Indians calculou em

1.500.000 os índios que habitavam o Brasil (Steward,

1949). William Denevan projetou a existência de quase

5.000.000 de índios na Amazônia (Bethell, 1998:130-

131), sendo reduzida posteriormente essa projeção para

cerca de 3.600.000 (Hemming, 1978). (OLIVEIRA,

FREIRE, 2006, p. 22)

2.2.2 O seu presente e sua incidência no território brasileiro

Apesar de que, desde 1500 até a década de 1970 a população

indígena tenha diminuído consideravelmente, esta situação foi

contornada nas últimas décadas. Segundo levantamento feito pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE em 2010, a

população indígena brasileira, naquele ano, era de 817.963,

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representando 305 etnias diferentes, uma taxa relevante da população

do país que é, também de acordo com a mesma pesquisa, de

190.755.799 milhões de pessoas. Destes 817.963 indígenas, 502.783

vivem em zona rural e 315.180 em zonas urbanas. Além destes, a

FUNAI (Fundação Nacional do Índio) registra 69 referências de índios

não contatados.

Com relação às 274 línguas faladas, o censo demonstrou que

cerca de 17,5% da população indígena não fala a língua portuguesa.

Os povos indígenas estão presentes nas cinco regiões do Brasil,

sendo que a região Norte é aquela que concentra o maior número de

indivíduos, 305.873 mil, sendo aproximadamente 37,4% do total. Na

região Norte o estado com o maior número de indígenas é o Amazonas

representando 55% do total da região.

2.3 OS ÍNDIOS MAXAKALI

Segundo Kurt Nimuendajú (1958), famoso etnólogo alemão

que estudou os índios no Brasil por mais de quarenta anos, as primeiras

notícias encontradas sobre os Maxakali foram no século XVIII, “numa

carta de 26 de maio de 1734, do Mestre de Campo João da Silva

Guimarães, célebre pelas suas empresas na região do Mucuri, São

Mateus e Rio Doce”.

De acordo pesquisa do Instituto Socioambiental, apesar dos

Maxakali serem abertos à comunicação com os brancos, sendo,

inclusive, no passado, nomeados como Nakneuk que significa, de

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acordo com a língua dos Botocudos, “índios mansos, aliados e

aldeados”, os mesmos se deslocaram com a intenção de fugirem dos

Botocudos e da dominação dos colonos, depois de percorrer longos

caminhos e várias localidades, se estabeleceram no Vale do Mucuri.

De acordo com informações dadas pelo Museu do Índio,

A língua Maxakalí pertence ao tronco Macro-jê e à

família homônima Maxakalí (Rodrigues, 1986), à qual

também pertenciam as línguas Pataxó, Kapoxó,

Monoxó, Coropó, Makoní e Malalí. O Maxakalí é

atualmente a única língua ainda viva da família

Maxakalí, à qual, juntamente com outras, cujo número

varia entre quatorze e dezesseis, pertence ao tronco

linguístico Macro-Jê.

Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), somente na tribo

Água Boa, no município de Santa Helena, o português é falado com

alguma fluidez, apesar de que entre eles somente é falada a língua

tribal; na aldeia Pradinho no município de Bertópolis, apenas os

homens dominam o português, ainda assim, com dificuldade.

2.3.1 Nomeação

Conforme Nimuendajú, o termo que usavam para designar a si

próprios era "Monacó bm" (1958:54). Porém, segundo Joaquim S. de

Souza, antigo chefe de posto e conhecedor da etnia, eles se

identificavam com Kumanaxú. Já Popovich (1992), conhecedora da

língua, registrou que Tikmu’ún (nós) é o termo adotado por eles para

se autodenominarem.

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2.3.2 Suas terras, localização e população

Inicialmente, os Maxakali recuaram para beira-mar e para a foz

do rio Mucuri por causa dos Botocudos, posteriormente passando para

o Vale do Jequitinhonha. No Ribeirão do Rubim do sul, suas terras

foram invadidas pelo tenente Henrique; no início, os índios resistiram

à invasão, porém, posteriormente, o tenente dizimou vários deles e

dispersou o restante. Já no trecho que estão hoje, Joaquim Fagundes,

funcionário do governo, passou a conviver com o grupo e ter-lhes a

confiança. O mesmo, utilizando deste benefício, vendeu, ilegalmente,

as terras indígenas.

A FUNAI, em 1991, retomou o processo de demarcação das

terras dos Maxakali. Em 1998, as terras, já concedidas, são

desocupadas com o pagamento das devidas indenizações aos

fazendeiros que ali se encontravam.

Hoje, as tribos têm suas aldeias localizadas basicamente em

quatro municípios: Bertópolis-MG e Santa Helena de Minas-MG, onde

se encontram as aldeias Pradinho e Água Boa que juntas totalizam uma

população de 1.165 índios em uma área de 5.305,67ha; Ladainha-MG,

onde fica a Aldeia Verde, com população de 230 índios em uma área

de 522,72ha, e em Teófilo Otoni-MG, onde fica a Aldeia Cachoeirinha,

com 70 índios em uma área de 606,19 ha.

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170 Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016

3 A CULTURA INDÍGENA

3.1 A INFLUÊNCIA DOS ÍNDIOS NA CULTURA BRASILEIRA

No cotidiano, mesmo que não saibamos, somos muito

influenciados pelos índios. Muitos alimentos, foram descobertos pelos

mesmos e passados aos portugueses e de geração a geração, plantas

medicamentosas e diversos tipos de sabedoria.

Em décadas recentes, os pesquisadores vêm sendo estimulados

a pesquisar mais sobre a sabedoria indígena no que tange ao meio

ambiente, tanto no sentido da flora quanto da fauna. Nestas pesquisas,

com a mistura da etnologia e da biologia, surgiram ramos aos quais foi

dado o nome de etnobotânica, mistura da botânica e da etnologia que

estuda as aplicações e os usos tradicionais dos vegetais pelo homem,

de etnozoologia, estudo multidisciplinar das relações entre as culturas

humanas e o os animais etc.

Na obra “A Temática indígena na Escola”, os organizadores,

por Araci L. da Silva e Luís D. B. Grupioni (1995), tratam do tema em

capítulo próprio, no qual tomam como base as obras da renomada

etnóloga Berta G. Ribeiro. Inspirada em tal obra, trataremos

superficialmente e exemplificativamente sobre o assunto em tela, visto

que devemos dar a devida importância à influência dos índios na nossa

cultura.

Sobre o legado alimentício, muitas foram as descobertas dos

habitantes primitivos da América; importantes plantas e frutos que

alimentam a humanidade e a indústria alimentícia, tais quais a

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Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016 171

mandioca, o milho, o tomate, a batata doce, feijões e favas como o

amendoim, frutas como o cacau, abacaxi, mamão e caju e as amêndoas

como a castanha do Pará. O milho, por exemplo, é um dos vegetais

mais antigos e era utilizado pelos índios para inúmeras receitas que

hoje são feitas por nós, como citou Sampaio:

Com o milho preparavam a canjica (acanjic), grão

cozido; a farinha (abatiuy), a pamonha (pamuna), a

pipoca, que quer dizer “epiderme estalada” [...] A carne

ou peixe pilado e misturado com farinha davam o nome

de poçoka, que quer dizer “pilarado à mão” ou

esmigalhado à mão (SAMPAIO, 1928 apud SILVA,

Aracy L. da; GRUPIONI, Luís D. Benzi, 1995, p. 213).

Espécies vegetais já eram utilizadas em larga escala pelos

índios antes da chegada do Europeus, como por exemplo a borracha,

que hoje desempenha expressiva importância na estrutura econômica

global. A borracha já era utilizada pelos índios para fazerem bolas e

impermeabilizarem objetos, sendo dada como “descoberta” pela

civilização em meados do século dezenove, o que teve por

consequência a morte milhares de índios visto a impetuosa

penetrabilidade da civilização ocidental que passou imensas fortunas

tal advento. As plantas medicinais utilizadas pelos mesmos também

tiveram e têm grande importância na indústria farmacêutica moderna e

grande parte ignora sua origem indígena. Neste sentido, Andrew Gray:

Três quartas partes das drogas medicinais prescritas

atualmente derivam de plantas que foram descobertas

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através do conhecimento dos povos indígenas. As

plantas medicinais da floresta produzem um lucro de 43

milhões de dólares anuais para a indústria farmacêutica.

Os povos indígenas não receberam nem o

reconhecimento nem o respeito por sua contribuição à

saúde e o bem estar da população mundial. (GRAY,

1992 apud SILVA, Aracy L. da; GRUPIONI, Luís D.

Benzi, 1995, p. 204)

Os silvícolas também têm mérito tanto na adesão de

medicamentos advindos da coca, que hoje serve como anestésico local

e o curare que é usado para cirurgias do coração como também na

utilização de plantas estimulantes como o tabaco, guaraná e erva mate.

Sem contar a experiência com roçado e criação, caça e descoberta e

nomeação de animais, como também nomeação de plantas.

3.2 SEUS COSTUMES E RITUAIS VISTOS PELA ÓTICA

JURÍDICA

Os rituais indígenas são parte de seu modo de viver, é

importante para a comunicação e o fortalecimento da sociedade

indígena. Entretanto, certos rituais indígenas não são aceitos pela

sociedade nacional. O Estado deve, então, interferir nesses modos de

vida? Rituais que fazem mal à dignidade dos indivíduos dos grupos

indígenas devem ser vistos moral e juridicamente como crime ou

tradição?

As tradições rituais que alguns povos indígenas apresentam são

ou podem parecer contrárias ao Direito Positivo, mas ainda assim

fazem parte de seu modo de vida, sua origem e suas tradições culturais,

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portanto, não podem ser tidas como contrárias à moral construída em

seu habitat e seu modo de vida.

No Brasil, por exemplo, grande parte dos rituais praticados

pelas diversas etnias indígenas pode ser tida como ritos de passagem

ou festividades, ou seja, são eventos que marcam uma transformação

social de um ou vários indivíduos deste grupo. Os rituais podem ser

por inúmeros motivos: nascimento, mudança de estações, casamentos,

passagem da infância para a adolescência, adolescência para a vida

adulta ou funerais. Esses costumes são praticados e tido como normais

para todo o grupo social.

O conceito de ritual é amplo e apresenta um universo de

símbolos traduzidos por festas, comidas, roupas, música e danças,

dentro de cada grupo social, cultural e político. Para o antropólogo e

colaborador do ISA, Renato Sztutman (2008),

Os mitos contam como as coisas chegaram a ser o que

são. Contam como as divindades, os homens, os animais

e as plantas se diferenciaram. Os rituais, por sua vez,

fazem o caminho inverso dos mitos. E, não por acaso,

eles se dispõem muitas vezes a contar o mito, a recriar o

mito, promovendo uma espécie de retorno a esse tempo

de indiferenciação geral em que divindades, homens,

animais e plantas se comunicavam entre si, e produziam

sua existência por meio dessa interação.

Tais eventos culturais desses povos são fundamentais para o

modo de vida que eles exercem, para preservação de suas tradições.

Para a garantia desta preservação, foi criado o Estatuto do Índio e a

Constituição Federal de 1988 destinou um capítulo a tais povos,

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174 Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016

reconheceu aos indígenas, entre outros direitos, o de manter sua

organização social e o direito de ser diferente (Art. 231 e 232).

A Convenção 169 da OIT, que impõe a questão indígena na

pluralidade cultural e a ideia da permanência das sociedades indígenas

tribais, promulgado pelo Decreto n. nº 5.051, de 19 de abril de 2004

também é um dos mais importantes documentos de proteção desse

povo, a mesma dispõe, em seu artigo 5°, sobre o respeito e

reconhecimento das práticas sociais, culturais, religiosas e espirituais

dos povos indígenas e ainda que a natureza dos problemas que os

mesmos enfrentam devem ser levadas em conta, vejamos:

ARTIGO 5º Na aplicação das disposições da presente

Convenção: a) os valores e práticas sociais, culturais,

religiosos e espirituais desses povos deverão ser

reconhecidos e a natureza dos problemas que enfrentam,

como grupo ou como indivíduo, deverá ser devidamente

tomada em consideração; b) a integridade dos valores,

práticas e instituições desses povos deverá ser

respeitada;

E ainda, impõe aos governos o respeito às culturas e valores

espirituais dos povos indígenas:

ARTIGO 13 1. Na aplicação das disposições desta Parte

da Convenção, os governos respeitarão a importância

especial para as culturas e valores espirituais dos povos

interessados, sua relação com as terras ou territórios, ou

ambos, conforme o caso, que ocupam ou usam para

outros fins e, particularmente, os aspectos coletivos

dessa relação.

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Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016 175

Interessante será também mencionar o artigo 10 da convenção

169, que dispõe que as características econômicas, sociais e culturais

deverão ser levadas em consideração para a imposição de sanções

penais e que características econômicas, sociais e culturais deverão ser

levadas em consideração. Portanto, inicialmente, temos que a cultura

dos índios, de um modo geral, é protegida e garantida.

3.3 A CULTURA DOS MAXAKALI

De acordo com Darcy Ribeiro, os Maxakali exibem dois modos

de visão sobre ao mundo além de suas terras. A primeira é representada

por uma parcela que tenta ferrenhamente sustentar as tradições da tribo

e a segunda está, conscientemente, remodelando a cultura para juntar o

atual com o antigo, com o objetivo de manter suas tradições, hábitos e

patrimônios e acompanhar um novo estilo de vida. (RIBEIRO, 1977,

apud POPOVICH, Frances Blok, 1980, p.3)

A fonte da denominação "maxakali" não é sabida; não foi dada

à etnia pelos próprios índios, já que os mesmos nem conseguem

pronunciá-lo com facilidade. Segundo Nimuendajú, o termo que

usavam para designar a si próprios era "Monacó bm" (1958:54 apud

POPOVICH, Frances Blok, 1980, P. 12).

De acordo pesquisa feita pelo Instituto Sócioambiental (ISA),

os Maxakali são vistos como semi-nômades, e sobrevivem

prevalentemente da pesca, caça, coleta e um pouco de agricultura. Eles

classificam os semelhantes em duas classes: os Xape (nos quais

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176 Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016

depositam esperança de solidariedade, bondade, consideração e

respeito à propriedade) e Pukñog (estranho ou inimigo, de que não se

pode confiar, nem esperar bondade ou consideração, mesmo sendo da

parentela ou parente por afinidade).

Os velhos têm papel de muita estima entre os Maxakali,

exercendo bastante influência por meio de seus pontos de vista. Os

Maxakali não têm um xamã, espécie de sacerdote que recorre a forças

ou entidades sobrenaturais para realizar cura (FERREIRA, 2000),

todos os rituais da tribo são coletivos; se praticados individualmente,

são considerados feitiçaria, que é uma acusação muito grave e é punida

em certas ocasiões, com a morte (POPOVICH, 1980).

Ainda de acordo com Popovich (1980), não existem rituais para

o casamento:

Os Maxacali consideram o casamento como um

processo e não um ato realizado num momento certo.

Todo esse processo, que envolve um namoro discreto e

uma negociação, acontece sem alarde. O primeiro ano de

vida em comum é passado na casa da noiva e não é

considerado definitivo, pois muitos casais se separam

durante o primeiro ano.

Novamente utilizando o ISA como fonte, podemos relatar que

também não são observados ritos referentes à maturidade da moça; a

dos rapazes é indicada por iniciações rituais secretas. São feitos,

também, rituais de cura, porém, não em recém-nascidos, pois não os

consideram parte da sociedade, e nem em idosos por ser respeitado o

direito de morrer depois de tanto trabalho e dificuldades. Os Maxakali

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Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016 177

acreditam que os espíritos capturam as almas dos mesmos, fazendo-os

ficarem doentes.

Suas armas são arco e flecha fabricados pelos homens da tribo.

Além de tais instrumentos, os homens também fabricam vassouras,

peneiras, chocalhos, cestos, vestimentas ara os rituais, etc. As mulheres

fabricam vasos de cerâmica, redes, colares, redes, cestos, sacos e

sacolas quem são sustentados na testa por meio de tiras e redes de

pesca, além de pescarem, coletarem e fazerem a colheita das roças.

Hoje, utilizam roupas comuns para se vestirem; os homens,

normalmente, de camiseta e short e as mulheres de vestido, porém,

continuam se pintando.

Infelizmente, dado ao contato com os brancos, os Maxakali

fazem largo uso de bebidas alcoólicas. Essa relação dos mesmos com

a bebida foi relatada pela primeira vez por Nimuendajú (1958), em

1939 (apud PENA, João Luiz, 2000) se perpetrando até os dias atuais.

4 OS CONFLITOS QUE ENVOLVEM O DIREITO INDÍGENA

4.1 CONFLITOS ENTRE OS MAXAKALI

Os conflitos dos Maxakali têm como origem e/ou se

desenvolvem por vingança. Normalmente acontece uma agressão sobre

um deles, o que acarreta a vingança sobre outro do grupo rival. Tal

prática é considerada justa por eles e a chamam de “pagamento do

morto”. Assim, acabam se separando, o que também acontece em casos

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178 Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016

de aldeias rivais (VIEIRA, 2006). A motivação para agressões,

estupros e/ou assassinatos entre os índios normalmente é a bebida

alcoólica. Vejamos o relato de Nascimento:

Várias são as causas dessa baixa longevidade. Uma delas

pode ser o grande número de assassinatos de adultos, em

decorrência dos efeitos do alcoolismo. Registrei 16

desses casos, num período de 4 anos, perfazendo a média

de um assassinato por trimestre. O Maxakali embriagado

torna-se muito agressivo e, por qualquer motivo, usa a

arma contra o outro, mesmo sendo seu parente próximo.

Os índios afirmam que os assassinatos cometidos sob os

efeitos do álcool não são vingados. Eles justificam,

dizendo: “Fulano bateu ou matou porque estava com a

cabeça doida!” Mas não é garantido que a vingança não

possa ser praticada do mesmo modo sob os efeitos do

álcool (NASCIMENTO, 1984 apud VIEIRA, Marina

Guimarães, 2006).

VIEIRA (2006) também faz vários relatos de estupros ocorridos

a mulheres Maxakali que se encontravam alcoolizadas ou não e

praticados por homens Maxakali alcoolizados: “A morte foi causada

por traumatismo craniano, provavelmente antecedido de estupro, pois

verificava-se sangramento vaginal. Segundo o chefe de posto, um

pedaço de pau foi introduzido na vagina da mulher. ”

O ISA publicou vários relatos no obra “Índios no Brasil – 2001/

2005” (INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL, 2006). Abaixo, vale

transcrever um deles:

ALCOOLISMO E DESNUTRIÇÃO

O alcoolismo, o alto grau de desnutrição e a falta de

projetos econômico de auto-sustentação ameaçam os

índios Maxakali. Transformaram-se em vítimas de

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Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016 179

“traficantes de álcool”, a quem pagam de R$25,00 a R$

50,00 por um litro de cachaça. [...]. “Bêbados, se

agridem e see matam. Neste ano, cinco já morreram por

causa da violência encorajada pelo álcool. O problema é

gravíssimo”. A constatação é do Administrador

Regional da Funai de Governador Valadares, [...]. O

administrador lembra que nenhum dos problemas

enfrentados pelos Maxakali é novo, mas chegaram a um

ponto intolerável. Os índios estão se armando. A

tragédia pode ser maior”, argumentou. Em 2004, seis

Maxakali morreram em conflitos entre grupos rivis,

dentro da aldeia (Ana Lúcia Gonçalves, Hoje em Dia,

04/11/05 apud SOCIOAMBIENTAL, Instituto, 2006, p.

768).

E ainda:

CONFLITO ENTRE GRUPOS RIVAIS PROVOCA

MORTES Pelo menos dois índios Maxakali morreram

ontem, nesta cidade no Vale do Mucuri, em mais um

conflito entre grupos rivais das aldeias Água Boa e

Pradinho. Devido À dificuldade de comunicação com a

aldeia, até ontem a Funai só havia identificado uma das

vítimas, [...], que foi morto a facadas. [...] (Hoje em Dia,

09/11/05 apud SOCIOAMBIENTAL, Instituto, 2006, p.

768).

Como se pode ver, os conflitos internos são basicamente

provocados pelo álcool ou pela falta de comunicação e rivalidade entre

as aldeias, sendo, na maioria das vezes, solucionado entre os próprios,

que em certas ocasiões se mostram arredios e agressivos.

4.2 CONFLITOS ENTRE OS MAXAKALI E OS POVOS

CIVILIZADOS

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180 Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016

Os conflitos entre os Maxakali e os brancos também são

decorrentes nas regiões em que se encontram as comunidades

indígenas. Os mesmos ocorrem, normalmente, em função também do

alcoolismo, que faz com que os mesmos fiquem agressivos e por hora

agridam alguém e em função das terras que são constantes alvos de

disputas, processos e brigas entre os índios e fazendeiros das

localidades e, em certos casos, até a mortes desde os tempos antigos

até a tempos atuais.

Vários relatos sobre tais fatos podem ser encontrados em

publicações de jornais, livros e artigos, como é o caso ocorrido em

1987, do índio Osmínio Maxakali que foi encontrado morto nas

localidades de uma fazenda três dias após ter tido uma briga com o

filho do fazendeiro por estar caçando na fazenda do mesmo; seu corpo

estava com cortes no pescoço e em cima do peito e a cabeça se

encontrava muito preta, ao contrário do corpo. De acordo com o relato

a polícia não concluiu as investigações e não apontou a causa da morte.

(SOCIOAMBIENTAL, Instituto, 1991)

Em 2005, o jornal Hoje em Dia – Belo Horizonte-MG, publicou

matéria sobre uma invasão de cerca de 200 Maxakali que armaram

barracas de lona na entrada de uma fazenda que dá acesso a outras dez.

Para os mesmos é propriedade dos seus antepassados.

Segundo notícia veiculada pelo ISA, com fonte Organização

Não-governamental CEDEFES, em 31 de janeiro de 2015, uma índia

foi atropelada em frente a um bar em Ladainha- MG, onde transitava

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Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016 181

carregando um balaio com mangas coletadas na estrada, por uma

motocicleta dirigida por pessoa desconhecida (apesar de o bar estar

cheio na hora do ocorrido) que não prestou socorro. Além disso, em

2014 uma índia também foi atropelada em Teófilo Otoni, outro

atropelado em Batinga-BA, um apedrejado em Santa Helena de Minas-

MG e mais um baleado em Itanhém-BA. Tais fatos revelam total

descuido e indiferença da sociedade, evidenciando que em alguns casos

as pessoas simplesmente não respeitam os índios, ou simplesmente não

entendem a diferença entre as sociedades, entre as culturas.

4.3 O CONFLITO DE NORMAS ENTRE A LEGISLAÇÃO

COMUM E A LEGISLAÇÃO INDÍGENA

É válido, a esta altura deste trabalho, que sejam abordados os

conflitos indígenas de forma mais direta com o Direito; tanto o comum,

quanto o indígena, analisando as diferenças entre os mesmos. É o que

veremos a seguir.

4.3.1 Posição Jurisprudencial

A jurisprudência se mostra bastante coerente e dentro dos

preceitos de justiça e direito à diferença, julgando cada caso de acordo

com suas peculiaridades, punindo quando deve ser punido e

absolvendo quando assim se fazer necessário e justo, evitando a

agressão à sociedade comum e à sociedade indígena.

Page 24: OS CONFLITOS ENTRE A LEGISLAÇÃO INDÍGENA E A …

182 Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016

Vejamos jurisprudência do TJ-SC, sobre estupro. Como é

sabido, as normais penais brasileiras, de acordo com o a artigo 217-A

do Código Penal Brasileiro, têm a conjunção carnal com menor de

quatorze anos, independente da aceitação da vítima (como confirmado

na jurisprudência a seguir) como crime, punido de acordo o caso

tratado. No caso em tela, não foi aplicado o Estatuto do Índio, visto que

foi comprovado que o réu estava plenamente integrado na sociedade,

devendo ser julgado como qualquer outro cidadão comum:

PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. RECURSO DA

DEFESA. SENTENÇA CONDENATÓRIA. CRIME

DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL (CP, ART. 217-A).

PRELIMINAR. INCIDÊNCIA DO ESTATUTO DO

ÍNDIO. INOCORRÊNCIA. EXERCÍCIO DE

ATIVIDADE LABORAL E OUTROS ELEMENTOS

A EVIDENCIAR INTEGRAÇÃO À SOCIEDADE.

MÉRITO. PROVA SUFICIENTE DA

MANUTENÇÃO DE RELAÇÃO SEXUAL E

CIÊNCIA DA IDADE DA VÍTIMA. CONFISSÃO DO

RÉU. DEPOIMENTO DA VÍTIMA E

TESTEMUNHAS. ADVENTO DA LEI 12.015/2009.

ERRO DE TIPO NÃO EVIDENCIADO.

SUPERAÇÃO DA DISTINÇÃO ENTRE

PRESUNÇÃO ABSOLUTA E RELATIVA.

CONSENTIMENTO DA VÍTIMA CONSTITUI

INDIFERENTE PENAL. IDADE COMO ELEMENTO

DA TIPICIDADE. SENTENÇA CONFIRMADA. -

Evidenciada a plena integração do índio à sociedade, não

há falar na aplicação da tutela prevista no Estatuto do

Índio. - O agente que pratica conjunção carnal com

menor de quatorze anos, ciente de sua idade, comete o

crime de estupro de vulnerável, previsto no art. 217-A,

do Código Penal, independente da ocorrência de

violência. - Presente nos autos provas a evidenciar que o

réu, mesmo após tomar ciência sobre a idade da vítima,

manteve relações sexuais com a mesma, tem-se inviável

o reconhecimento do erro de tipo. - Parecer da PGJ pelo

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Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016 183

conhecimento e não provimento do recurso. - Recurso

conhecido e não provido (TJ-SC - APR: 20130077362

SC 2013.007736-2 (Acórdão), Relator: Carlos Alberto

Civinski, Data de Julgamento: 23/06/2014, Primeira

Câmara Criminal Julgado,).

Já na jurisprudência que se segue, o réu foi absolvido, mesmo

sendo comprovada a prática do estupro para os parâmetros das normas

comuns da nossa sociedade, visto que a inocência da vítima seria

relativa e a mesma procurou ter relações sexuais, além de tal fato ter

sido considerado comum para a sociedade indígena, dentro da sua

cultura normal.

APELAÇÃO CRIMINAL - ESTUPRO - VIOLÊNCIA

PRESUMIDA - ABSOLVIÇÃO - FUNDAMENTO DE

QUE A INNOCENTIA CONSILLI É RELATIVA -

IMPROCEDÊNCIA - VÍTIMA ÍNDIA - OFENDIDA

QUE AVOCOU PARA SI A INICIATIVA DO ATO

SEXUAL - COMUNIDADE INDÍGENA QUE

ACEITOU O FATO DENTRO DE UMA

NORMALIDADE - NÃO-APLICABILIDADE DO

RIGOR ORA OBSERVADO NAS CORTES

SUPERIORES - IMPROVIMENTO (TJ-MS - ACR:

6979 MS 2008.006979-2, Relator: Des. João Batista da

Costa Marques, Data de Julgamento: 17/06/2008, 1ª

Turma Criminal, Data de Publicação: 04/07/2008).

Tratando sobre homicídios, que são considerados crimes

hediondos e também são punidos, de acordo o artigo 121 do Código

Penal Brasileiro, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região entendeu

que não seria hipótese de indenização e responsabilidade civil, pelo

homicídio praticado pelo índio, visto que a culpa foi exclusiva da

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184 Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016

vítima, que adentrou a reserva indígena para extração ilegal de

madeira. Vejamos:

CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS

MATERIAIS E MORAIS. HOMICÍDIO PRATICADO

POR ÍNDIOS. ÁREA DE RESERVA INDÍGENA.

INVASÃO PARA EXTRAÇÃO ILEGAL DE

MADEIRA. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA.

INEXISTÊNCIA DE RESPONSABILIDADE

OBJETIVA DO ESTADO. IMPROCEDÊNCIA DO

PEDIDO. APELAÇÃO. DESPROVIMENTO. 1. A

responsabilidade objetiva do Estado segue a teoria do

risco administrativo, segundo a qual, para se caracterizar

o dever de indenizar, são necessários a ocorrência de um

comportamento do agente público, a existência de um

dano e nexo causal entre ambos. Há Hipóteses, todavia,

em que essa responsabilidade pode ser afastada, se

comprovada a culpa exclusiva da vítima ou de terceiro,

bem como a ocorrência de caso fortuito ou de força

maior. 2. No caso, foi comprovada a culpa exclusiva da

vítima, que invadiu reserva indígena, sem autorização,

para extração ilegal de madeira, ficando afastada a

responsabilidade do Estado e o consequente dever de

indenizar, uma vez que não configurada qualquer

omissão quanto ao dever de segurança, mormente

quando a área se encontrava interditada por meio da

Portaria n. 508, de 20.06.1978. 3. Sentença confirmada.

4. Apelação desprovida (TRF-1 - AC: 114025 RO

2000.01.00.114025-2, Relator: DESEMBARGADOR

FEDERAL DANIEL PAES RIBEIRO, Data de

Julgamento: 01/12/2008, SEXTA TURMA, Data de

Publicação: 02/02/2009 e-DJF1 p.153).

Reafirmando o fato de que os índios plenamente integrados à

sociedade não indígena e que são aculturados, segue jurisprudência do

TJ-SC, que desproveu recurso com o referido fundamento; afastando

assim, qualquer privilégio que talvez seria dado ao silvícola que não

estivesse civilizado, tratando-o sem distinção dos outros cidadãos:

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Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016 185

APELAÇÃO CRIMINAL - ÍNDIOS - LEI N. 6.001/73

- DELITO PRATICADO POR SILVÍCOLAS -

RECURSOS DEFENSIVOS - PRELIMINAR -

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM PARA O

PROCESSAMENTO DA AÇÃO PENAL - SÚMULA

140 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA -

INIMPUTABILIDADE PENAL - ÍNDIO -

INDIVÍDUO PLENAMENTE INTEGRADO À

SOCIEDADE, INCLUSIVE COM TÍTULO DE

ELEITOR - INAPLICABILIDADE DA LEI N.

6.001/73 AOS CRIMES COMETIDOS POR ÍNDIO -

AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS -

PROVA TESTEMUNHAL - SENTENÇA MANTIDA

- PRESCRIÇÃO - MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA

- EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE DECLARADA DE

OFICIO - RECURSO DESPROVIDO Entendimento

assente na jurisprudência pátria de que os crimes

cometidos por silvícolas perfeitamente integrados e

aculturados, são processados e julgados na justiça

comum estadual, sem distinção do cidadão comum (TJ-

SC - APR: 28900 SC 2003.002890-0, Relator: Solon

d´Eça Neves, Data de Julgamento: 17/06/2003, Primeira

Câmara Criminal, Data de Publicação: Apelação

Criminal n. , de Abelardo Luz.).

Feitas tais análises, presumimos que pelo que foi coletado, a

Justiça tem procurado dar a devida atenção aos silvícolas e tratá-los o

mais perto possível do que as leis que os regem determinam.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise

da importância da diferenciação do sujeito indígena e dos civilizados

de forma geral, uma reflexão sobre como a forma com que eles vivem

se desiguala à nossa, sendo assim, não pensam como nós e,

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186 Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016

consequentemente, não agem como nós. Além disso, permitiu a

utilização de diferentes recursos para apresentar tais dissemelhanças.

De modo geral, os homens civilizados não se mostram

interessados em entender, ajudar ou até participar da cultura do índio,

diminuindo as barreiras e os conflitos entre o “branco e índio”, ainda

têm dificuldades para tratar os indígenas como seu semelhante,

deixando de lado as divergências culturais. Algumas pessoas,

principalmente pesquisadores, antropólogos e religiosos tem grande

parcela da contribuição para a melhoria da vida indígena, visto o vasto

material encontrado em todos os meios de pesquisas; por outro lado,

outras pessoas, como alguns habitantes das cidades circunvizinhas e

fazendeiros da região não querem colaborar de maneira nenhuma, o

que torna os assassinatos cometidos tanto pelo indígena quanto pelo

civilizado, bastante numerosos.

Os Maxakali, apesar de serem considerados índios que

preservam sua cultura mesmo tendo contato com o branco a mais de

200 anos, também se mostram interessados na ajuda e na convivência

com o mundo externo, como se pode perceber da permissão dos

mesmos em serem auxiliados pela FUNAI; entretanto, acabam tendo

seus fins desviados para o álcool, seu grande malfeitor e causador da

maior parte das desavenças existentes tanto dentro quanto fora da tribo,

como relatado do decorrer deste trabalho. A análise etnográfica dos

índios do Brasil e do índio Maxakali possibilitou o melhor

Page 29: OS CONFLITOS ENTRE A LEGISLAÇÃO INDÍGENA E A …

Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016 187

entendimento do meio indígena, dando melhor embasamento ao tema

proposto.

Os conflitos internos observados nos possibilitaram perceber

como o álcool prejudica a vivência dos silvícolas, como eles ficam

instáveis perante a bebida, chegando a cometer crimes dentro da tribo

e muitas vezes, a causar conflitos de proporções muito maiores. Da

observação dos conflitos com os brancos, percebe-se também o dano

trago pelo álcool, que em algumas ocasiões são o estopim do problema.

Outro grande inconveniente são os problemas de cunho patrimonial; os

índios reivindicam suas terras, que, normalmente, foram invadidas e

tomadas dos mesmos, décadas antes; os fazendeiros, insatisfeitos,

agem perante impulso tentando também, de alguma forma, reaver seus

bens. Em outras circunstâncias, os índios também invadem

injustamente as propriedades dos seus extremantes danificando-as e de

igual forma causando conflito.

Pela análise das jurisprudências, concluímos que o Judiciário

vem procurando estabelecer a justiça e solucionar os conflitos,

respeitando as diferenças culturais e normativas a que os índios estão

sujeitos. O índio também deve ser tratado de forma justa e íntegra,

principalmente diante da sua posição de fragilidade perante o

capitalismo; portanto políticas sócias devem continuar sendo feitas e o

índio deve ser protegido, quando justo e necessário da violência

imposta a ele. Nesse sentido, nada mais justo dar-lhes o tratamento que

lhes é de direito, tratando-os, de acordo a Constituição Federal, de

forma diferente, conforme suas diferenças.

Page 30: OS CONFLITOS ENTRE A LEGISLAÇÃO INDÍGENA E A …

188 Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016

REFERÊNCIAS

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