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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
VIVENCIANDO A LITERATURA: da literatura à dramatização do
conto “Noite do Almirante”, de Machado de Assis
CHRISTONI, Simone de Oliveira1
CUNHA, Profa. Dra. Karine Marielly Rocha da2
RESUMO: A proposta do presente projeto é voltada para os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, com a finalidade de trabalhar a leitura de textos literários, de forma positiva, fazendo com que essa seja tão divertida e prazerosa, quanto assistir ao lançamento de um novo filme, a um vídeo ou peça de teatro, enfim, mostrá-la enquanto arte, com as suas próprias especificidades, particularidades, as quais podem ser muito interessantes e envolventes, verdadeiro entretenimento. Além disso, o aluno deve ser levado a perceber que, o ato de ler, é um direito humano, parte essencial da formação integral do indivíduo. Por meio de rodas de leitura, mediadas pelo professor, utilizando-se da técnica da dramatização e da oralidade, será trabalhado o conto de Machado de Assis, Noite de Almirante, como parte de uma sequência, orientada com o intuito de apresentar ao aluno o mundo dos clássicos, encantando-o para leituras de novos textos, mais complexos, como as narrativas longas. Palavras-chave: Leitura. Conto. Dramatização.
1 INTRODUÇÃO
O gosto pela leitura em crianças e adolescentes é tema discutido por
inúmeros estudiosos ao longo dos tempos. Encontramo-nos em um período em
que os jovens têm acesso à novas e modernas tecnologias, em que, as redes
sociais tornaram-se mais presentes que o próprio contato pessoal. Assim, os
livros estão sendo literalmente abandonados, tornando-se obsoletos, mero enfeite
em estantes e prateleiras, tratados pela sociedade jovem, como objetos
destituídos de encanto e valor.
As estratégias de sala de aula, tornam-se inócuas, quando forçam os
alunos à leitura, por meio de avaliações obrigatórias, que, longe de despertar o
interesse, provocam neles verdadeira ojeriza ao livro, como bem asseverou Ana
Maria Machado, ao dizer que “tentar criar gosto pela leitura, nos outros, por meio
de um sistema de forçar a ler só para fazer prova, é uma maneira infalível de
inocular o horror ao livro em qualquer um.” (Machado Ana Maria, 2002)
1 Professora de Língua Portuguesa do Quadro Próprio do Magistério - SEED, lotada no Colégio Estadual Dezenove de Dezembro - EFM, Curitiba, participante do curso referente ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE – 2014. E-mail: [email protected] 2 Professora do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas/DELEM - Orientadora PDE da UFPR.
Portanto, a leitura deve ser apresentada de forma positiva para que o
aluno sinta prazer e perceba que ler também é um direito, como parte da
formação integral da pessoa humana. Deve-se buscar estratégias, para que a
leitura seja tão divertida e prazerosa quanto, por exemplo, assistir ao lançamento
de um novo filme, ou qualquer outra forma de entretenimento. O professor deve
seduzir o aluno, encantá-lo com os mais variados textos do gênero literário, por
meio de atividades bem elaboradas e dinâmicas.
Há uma infinidade de possibilidades a serem exploradas em sala de aula,
para que o aluno sinta prazer e desenvolva o gosto pela leitura. À medida em que
o aluno lê, também se desenvolve como pessoa e adquire autonomia intelectual,
passando a buscar leituras, cada vez mais aprofundadas.
A sala de aula deve ser o local de oficinas, de rodas de leitura, dinâmicas,
interativas e prazerosas. Aulas maçantes e repetitivas, resultado de uma época
em que mais se valorizava a gramática que a leitura e a compreensão de textos
em seus diversos gêneros, são motivos do desinteresse dos alunos. A leitura de
textos literários tem sido deixada de lado pelos professores, o que é lamentável,
pois se perde, desse modo, ricas oportunidades de oferecer ao aluno, todo um
universo de conhecimento, que a literatura enquanto expressão artística, pode
oferecer-lhe.
A literatura expressada como arte nas salas de aula, cativará a atenção
dos alunos, trazendo curiosidades, e mostrando-lhes o quanto ela reflete e
espelha o cotidiano humano, suas tragédias e comédias. Pode-se usar a
literatura de modo a fazer com que os alunos percebam detalhes, como por
exemplo, o quanto sofremos a influência da cultura grega e romana, em muitas
obras de ficção, em filmes, nos nomes dos meses do ano, como Janeiro, o qual
era uma homenagem a Jano, deus do começo, na mitologia romana, que
apresentava duas faces, uma olhando para trás, o passado e outra olhando para
frente, o futuro. É importante fazer com que os jovens sintam cada vez mais
vontade de aprender, descobrir o mundo, a origem daquilo que falam e
expressam, de onde vêm os populares, e uma vastidão de descobertas e
conhecimentos ao seu alcance, que de certa forma estão presentes nos contos e
ficção de todos os povos.
Atrelar à leitura dos textos literários, as atividades de dramatização com
esquetes ou pequenas peças, provindas de contos e escritos populares ou
clássicos, constitui uma forma interessante de o aluno vivenciar o texto em todas
as suas nuances. Dessa forma, ele desenvolve o gosto pela leitura, de maneira
divertida, interagindo, construindo conhecimento, desenvolvendo o senso crítico.
O presente projeto está solidamente justificado em sua proposta, quando
apresenta ao aluno, o texto literário, enquanto uma das formas de expressão
artística, podendo ser explorado de forma interativa e lúdica, seduzindo e
encantando para a leitura, tão defasada e descontextualizada nas salas de aula.
A palavra é a matéria do texto literário, possui concretude e beleza únicas,
recursos de estilo, que devem ser apresentados ao aluno. O texto literário
encerra a alma e a essência do povo, e por meio dele, pode-se viajar, explorar
mundos, descobrir realidades nunca vistas. A leitura da literatura, enquanto arte,
é uma forma de estar no mundo, percebê-lo e reinventá-lo.
Foi escolhido o conto Noite de Almirante, de Machado de Assis, pois além
de ser o autor, um ícone da literatura brasileira, o gênero conto, por sua estrutura
simplificada, pode estimular e entreter de forma lúdica, despertando o interesse
dos alunos pela leitura, ao contrário das atividades gramaticais repetitivas e das
leituras forçadas e maçantes.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Poucos estudiosos falaram com tamanho entusiasmo acerca da literatura,
quanto Roland Barthes, ao afirmar que fosse por qual razão, se por “excesso do
socialismo, ou da barbárie – todas as disciplinas fossem expulsas do ensino,
somente a disciplina literária deveria ser salva, pois nela se encerram todas as
ciências”. (BARTHES, 1977, p.18)
A leitura da literatura, especialmente a leitura dos clássicos, abre os
horizontes dos saberes, uma vez que a literatura “engrena o saber no
rolamento de uma reflexividade infinita” (Barthes, ibidem, p.19), pois é por meio
da escritura que o saber reflexiona incessantemente sobre si mesmo. As palavras
na escrita literária são lançadas como verdadeiras explosões, vibrações e
sabores, tornando o saber uma festa.
Seguindo tal ordem de pensamento é que a literatura deve ser trazida para
a sala de aula. Saber e sabor em latim tem a mesma etimologia, portanto é
preciso oferecer ao aluno os sabores dos saberes, para que sejam degustados.
As delícias do gênero literário são as palavras, não simples instrumentos
ideológicos, mas vibrações, explosões, festa. Elas deverão seduzir os alunos e
encantá-los para a leitura, como referendado a seguir, pelo estudioso Frank
Smith:
“[...]O que estimula as crianças a ler e, com isso, a aprender a ler, não é alguma promessa de satisfação no futuro, ou uma recompensa extrínseca, como elogios, boas notas, um tratamento especial ou evitar alguma punição, mas ser capaz de ler. Observe as crianças mergulhadas em livro com o qual elas estão aprendendo leitura e não haverá necessidade de perguntar onde reside a satisfação fundamental. [...]” (Smith Frank, 1999, p. 113)
“Somos feitos de histórias”, como bem observa (Ana Maria Machado,
2002), e das histórias empolgantes de nossa tradição literária. Constitui mesmo
um dever do professor de Língua Portuguesa, propiciar a oportunidade de um
primeiro encontro e que seja atraente e tentador, um verdadeiro convite aos
novos encontros, que fiquem por toda a vida, uma experiência única, uma festa
de sabores e saberes, proporcionado pela leitura da literatura, incluindo os
clássicos. Ler se aprende lendo, fazendo analogias a partir do diálogo entre
textos dos mais diversos gêneros, ampliando a capacidade de ler, indo de textos
simples para os mais complexos, conforme nos afirma Magda Soares:
“Ler é um conjunto de habilidades e comportamentos que se estendem desde simplesmente decodificar sílabas ou palavras até ler Grande Sertão Veredas de Guimarães Rosa... uma pessoa pode ser capaz de ler um bilhete, ou uma história em quadrinhos, e não ser capaz de ler um romance, um editorial de jornal...”. (Soares, 1998 pg. 48)
Quão delicioso, por assim dizer, é ser dotado da capacidade de interpretar
uma leitura a fundo, não somente o que está escrito de forma literal, mas extrair
o sentido que o autor quer passar ao leitor, desde saber distinguir uma metáfora,
uma sátira, até mesmo conseguir compreender o sentido e sentimento por trás
das obras literárias. Detectar sentimentos e emoções em uma obra literária pode
ser realmente magnífico e é isso que o professor deve tentar passar para o
jovem aluno: O quão gratificante pode ser, ter esse domínio sobre a interpretação
de textos.
“Outra coisa muito prazerosa que encontramos num bom livro é o prazer de decifração, de exploração daquilo que é tão novo que parece difícil e, por isso mesmo, oferece obstáculos e atrai com intensidade. Como quem se apaixona. É uma delícia irresistível: ir se deixando
fascinar, se permitindo ser conquistado por aquelas palavras e ideias, tentando ao mesmo tempo conquistar e vencer as dificuldades da leitura” (Machado Ana Maria, 2002).
E para que isso ocorra de forma eficaz e útil é preciso que o professor
busque técnicas e estratégias de motivação, em primeiro lugar. Antes ainda da
leitura dos clássicos, o aluno deve ser motivado a ler qualquer gênero, sem
preconceitos, despertando, desse modo, a curiosidade e o desejo de saber mais
a respeito do que está sendo dito e comentado. Fazer com que ele se prenda à
ideia de poder desfrutar do texto que vem a seguir, motivado e engajado, a
aprender, sobre o novo conteúdo que o professor está disponibilizando. “Crianças
e adolescentes embarcam com mais entusiasmo nas propostas de motivação e,
consequentemente, na leitura quando há uma moldura, uma situação que lhes
permite interagir de modo criativo com as palavras”. (COSSOM, RILDO, 2006, p.
53). Deste modo, quão maior a motivação e o entusiasmo, melhor será o
aproveitamento da obra lida. Tendo alunos suficientemente motivados e
entusiasmados para a leitura, deve-se realizar uma boa introdução, que não se
demore muito nas biografias extensas de autores, nem à datas e ocasiões
históricas complexas e prolongadas, priorizando os pontos positivos, a ampliação
do conhecimento e ideias que a leitura pode abranger, os horizontes que abre e
escancara, sempre deixando uma carta na manga, não revelando tudo, mas
apostando na curiosidade do aluno.
É importante chamar a atenção para pontos chaves da obra, que
despertem o desejo de conhecer mais sobre o texto, apostar no suspense,
deixando para o aluno a vontade de conhecer a obra completa, desvendando
todos os mistérios do enredo e incentivando-o a ler textos mais complexos,
conforme tão bem nos elucida as estudiosas Maria da Glória Bordini e Vera Lúcia
Teixeira:
“A partir daí, o professor vai sustentar seu trabalho em objetivos mais ambiciosos: não apenas satisfazer os interesses imediatos do público, oferecendo-lhe leituras repetitivas e redundantes, que venham tão somente atender ao gosto, mas aguçar-lhe a curiosidade para textos que representam a realidade de forma cada vez mais abrangente e profunda”. (Bordini, Maria da Glória/Teixeira, Vera Lúcia, 1988).
Sendo feito o trabalho de motivação, parte-se para a leitura, que deve ser
acompanhada pelo professor. Pois é neste momento que aparecem realmente as
dificuldades, levando em conta que, primeiramente, se deve compreender e
decifrar as palavras do texto, algumas desconhecidas, momento para ampliação
do léxico por meio de consultas ao dicionário e perguntas ao professor. O
acompanhamento da leitura, feito de forma natural e sutil, conduz às
descobertas, à contextualização, à construção de sentido. O leitor, interagindo
com o texto, enriquece a leitura e esta, por sua vez, atinge a vida do aluno,
contribuindo para de forma favorável para que ele se perceba e também consiga
trazer aquela leitura para o seu próprio mundo, transpondo significados.
É nesse momento que entram as estratégias de interação, para que, de
maneira lúdica, os jovens leitores consigam extrair para si, o sentido do texto, e
realizar individual e coletivamente, a externalização da leitura. Cria-se uma forma
divertida de descoberta em conjunto, a respeito do texto que todos tiveram a
oportunidade de ler, com ampliação do conhecimento, de forma agradável e
interessante, conforme nos traz as Diretrizes Curriculares da Língua Portuguesa:
“Pensar o ensino da Língua e da Literatura implica pensar também as contradições, as diferenças e os paradoxos do quadro complexo da contemporaneidade. Mesmo vivendo numa época denominada ‘era da informação’, a qual possibilita acesso rápido à leitura de gama imensurável de informações, convivemos com o índice crescente de analfabetismo funcional, e os resultados das avaliações educacionais revelam baixo desempenho do aluno em relação à compreensão dos textos que lê”. (DCES - Diretrizes Curriculares da Língua Portuguesa, 2008)
Todas as iniciativas em torno do incentivo à leitura são necessárias e
imprescindíveis, uma vez que ler com proficiência é um dos objetivos principais
do ensino de língua em nossas escolas.
A opção pela leitura de contos deu-se em razão de este gênero,
apresentar uma estrutura envolvente, de narrativa breve, com poucos
personagens, enredo e fluxo de ação capaz de prender, com facilidade, a
atenção, gerando o interesse pela leitura. Os contos machadianos,
especialmente, apresentam linguagem acessível, que, embora de certa
complexidade, não chega a comprometer o entendimento do texto. Além disso, o
gênero conto favorece o primeiro contato com a linguagem literária, podendo
promover o gosto por leituras mais e mais complexas, como, por exemplo, as
narrativas longas.
3 METODOLOGIA
O projeto de intervenção pedagógica PDE (Programa de
Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná) 2014/15 foi implementado
no espaço da Biblioteca do Colégio Estadual Dezenove de Dezembro,
localizado na Rua Desembargador Motta, n° 2491, Centro, em Curitiba-PR, pela
professora Simone de Oliveira Christoni, no 9º ano A do Ensino Fundamental,
do período matutino, contando com aproximadamente 30 alunos.
O colégio atende a uma comunidade escolar, em sua maioria, de nível
socioeconômico médio, sendo oriundos dos bairros de Curitiba na maior parte.
As pesquisas bibliográficas e a elaboração do Projeto de Intervenção
Pedagógica ocorreram no 1º semestre de 2014, e, no segundo semestre, foi
elaborado o Material Didático.
A intervenção pedagógica ocorreu no 2° semestre de 2015, perfazendo
um total de 32 horas, conforme as atividades descritas a seguir:
- APRESENTAÇÃO DE UM VÍDEO SOBRE MACHADO DE ASSIS
Como motivação, iniciei com um vídeo sobre o autor Machado de Assis. O
vídeo em questão trazia informações sobre a vida e a obra do autor. Para isso
utilizei a TV pendrive, que mesmo tendo sido testada antes, apresentou problemas
na hora da exibição do vídeo.
- PESQUISA SOBRE AS CARACTERÍSTICAS DO GÊNERO CONTO E
OS ELEMENTOS DA NARRATIVA
Inicialmente a intenção era de que a pesquisa fosse realizada via internet
no laboratório de informática do colégio. Porém, o mesmo estava interditado por
falta de manutenção. Assim sendo, solicitei aos alunos que levassem livros e
outros materiais para a pesquisa, pois o disponível em nossa biblioteca era
insuficiente.
Foi realizada uma pesquisa sobre as características do gênero narrativo
conto, o que o difere de um romance e sobre os elementos do texto narrativo.
As informações foram sistematizadas nos cadernos dos alunos, que depois
apresentaram o resultado da pesquisa uns para os outros.
- RODA DE LEITURA - VÍDEO ILUSTRATIVO SOBRE O CONTO NOITE
DE ALMIRANTE E LEITURA DRAMATIZADA
Também foi utilizada a TV pendrive para assistirmos esse vídeo, bastante
ilustrativo sobre o conto Noite de Almirante, de Machado de Assis. Os alunos
demonstraram bastante interesse.
Em seguida, fizemos uma leitura dramatizada, em que alguns alunos
davam voz às personagens da história.
Este foi um dos momentos mais lúdicos e interessantes do projeto, pois
os alunos disputavam entre eles quem seria tal personagem no momento da
leitura, escolhiam e interpretavam as personagens que mais lhes agradavam.
Este momento foi propício para o professor esclarecer as dúvidas quanto
ao vocabulário peculiar à época, trabalhar a entonação, modulação de voz e a
expressividade de cada um, muito importantes nesta faixa etária.
A maioria dos alunos da classe participou, demonstrando prazer e
entusiasmo.
- ESTUDO DO TEXTO
Os alunos responderam a questões de compreensão e interpretação de
texto, empregando também os conceitos adquiridos na pesquisa realizada
anteriormente.
Nessa etapa foi mais complicado envolvê-los, pois tinham que se
concentrar, pensar e produzir e infelizmente nem todos se mostraram
interessados.
- DEBATE ORAL
Foi realizado um debate no qual discutiu-se a questão polêmica do conto:
se houve ou não adultério, se a personagem Genoveva deveria ter esperado pelo
noivo. Foram aulas enriquecedoras, pois foi possível o professor abordar
questões de ética, costumes, valores e estereótipos, além de enfocar o poder de
argumentação.
- JÚRI SIMULADO
Nessa última etapa da implementação, a personagem Genoveva foi levada
a júri popular. As personagens do conto foram representadas por alunos
previamente escolhidos pela turma. Os demais fizeram parte do júri. Além das
personagens do conto, também houve representação de testemunhas,
advogados e do juiz, responsáveis por conduzir os trabalhos do júri.
Todos foram ouvidos, cada um na sua vez e em seguida, o juiz pediu aos
jurados que escrevessem numa folha de papel previamente entregue a eles, uma
das opções: CULPADA ou inocente.
Contabilizados os votos, a ré foi condenada pelo maior número de votos.
- RETEXTUALIZAÇÃO
Por último os alunos reescreveram a história, mudando o foco narrativo
para primeira pessoa, ou seja, narrando os acontecimentos do ponto de vista da
personagem principal Genoveva.
Durante o GTR – Grupo de Trabalho em Rede, foram realizados vários
Fóruns com os integrantes do Grupo de Trabalho em Rede (GTR), e os
feedbacks recebidos foram extremamente gratificantes.
Os professores participantes do grupo de estudos era um grupo bastante
heterogêneo, com bastante experiência profissional, alguns até mesmo com
mestrado. Uma das professoras atua na educação especial, um professor é
escritor, poeta e músico.
Apesar de todas essas especificidades, ficou evidente o amor à Literatura
e o empenho de todos em suas práticas diárias por levar os alunos a
desenvolverem o gosto pela leitura literária e a aprimorá-la mais e mais.
Analisando-se as respostas obtidas nos fóruns e as postagens dos diários,
foi possível perceber a receptividade do projeto e que trabalhos maravilhosos
vêm sendo desenvolvidos nas escolas, pois comentavam, sugeriam e faziam
além do que lhes era solicitado nas atividades.
Vários cursistas comentaram que já trabalham a leitura de forma lúdica,
principalmente através de dramatizações, leitura dramática e outras estratégias
metodológicas que fogem ao tradicionalismo.
A maioria relatou que implementou ou pretende implementar em sala
de aula algumas das atividades propostas, como a roda de leitura,
dramatização de histórias e júri simulado.
4 RESULTADOS ALCANÇADOS
A execução do projeto tinha por objetivo central fazer com que os alunos
se interessassem pela literatura clássica, e que isso fosse feito de uma forma
lúdica, prazerosa, que seduzisse o aluno, sem as tradicionais aulas maçantes de
leitura.
Assim, como as atividades desenvolvidas durante o período de
implementação foram: vídeos, rodas de leitura, estudo do texto, debate oral e júri
simulado, foi possível atingir com êxito os objetivos previstos.
A opção pela leitura de contos foi bastante acertada, em razão de este
gênero apresentar uma estrutura envolvente, de narrativa breve, com poucos
personagens, enredo e fluxo de ação capaz de prender, com facilidade, a
atenção, gerando o interesse pela leitura. Os contos machadianos,
especialmente, apresentam linguagem acessível, que, embora de certa
complexidade, não chega a comprometer o entendimento do texto. Além disso, o
gênero conto favoreceu o primeiro contato com a linguagem literária, promovendo
o gosto por leituras mais e mais complexas, como, por exemplo, as narrativas
longas.
Alguns alunos do 9.º ano comentaram na primeira aula da implementação
já terem lido algo do autor, mas não se lembravam. Uma aluna disse ter
começado a ler o romance Dom Casmurro em certa ocasião, mas não o ter feito
até o fim. No decorrer das aulas, a mesma aluna retomou a leitura da obra e a
concluiu e alguns alunos manifestaram interesse em conhecer a obra do autor.
Isso foi muito gratificante.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O domínio da leitura e da escrita amplia o conhecimento em outros níveis
de ensino e disciplinas, principalmente porque a leitura e a interpretação estão
presentes em todos os assuntos da vida cotidiana, inclusive como meio de
comunicação entre as pessoas.
Desenvolver o gosto pela leitura em crianças e adolescentes é tema
discutido por inúmeros estudiosos ao longo dos tempos. Encontramo-nos em um
período em que os jovens têm acesso a novas e modernas tecnologias, em que,
as redes sociais tornaram-se mais presentes que o próprio contato pessoal.
Assim, os livros estão sendo literalmente abandonados, tornando-se obsoletos,
mero enfeite em estantes e prateleiras, tratados pela sociedade jovem como
objetos destituídos de encanto e valor.
Foi escolhido o conto Noite de Almirante, de Machado de Assis, pois além
de ser o autor, um ícone da literatura, o gênero conto, por sua estrutura
simplificada, pode estimular e entreter de forma lúdica, despertando o interesse
dos alunos pela leitura, ao contrário das atividades gramaticais repetitivas e das
leituras forçadas e maçantes.
Dessa forma, a turma foi seduzida pelo texto e através das atividades
lúdicas que foram propostas leram não apenas o conto em questão, mas outros
contos de Machado de Assis e outros autores, dinâmico e produtivo. Ainda, se
essas atividades forem didaticamente bem trabalhadas, o resultado alcançado
será de extrema importância para a formação social, cultural e intelectual dos
alunos.
Porém, vale lembrar que as características e a individualidade de cada
aluno devem ser respeitadas, estimulando e desenvolvendo suas leituras
singulares e produções individuais, possibilitando o uso de diferentes materiais,
fazendo com que estes sejam percebidos em suas diversidades e
possibilitando que o lúdico seja gerador do processo de produção da leitura e da
escrita.
A ação pedagógica do professor, por sua vez, não pode ficar restrita à
sua sensibilidade para propor atividades quando elas se evidenciem como
oportunas. Ele deve também criar estes momentos, através de propostas que
vão ao encontro das necessidades e do desenvolvimento do aluno, ajudando-o a
explicitar melhor o que estão pensando e sentindo para poder expressar e
comunicar-se com os outros e, principalmente, apreender novos conhecimentos.
Enfim, este estudo proporcionou a constatação de que, a partir da
utilização da literatura clássica, com o tex to No i te de A lm i ran te d e
Machado de Ass is , pode-se proporcionar ao aluno ferramentas de
relevante importância no processo de construção do conhecimento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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França. São Paulo: Cultrix, 1997.
BORDINI, Maria da Glória; DE AGUIAR, Vera Teixeira. Literatura – A formação do Leitor. São Paulo: Mercado Aberto, 1988. COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2009. DCES – Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para os anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Governo do Estado do Paraná; Secretaria de estado da Educação; Superintendência da Educação. Curitiba: 2008. GRANERO, Vic Vieira. Como usar o teatro na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2011. MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os Clássicos Universais desde cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. SMITH, Frank. Leitura Significativa. Porto Alegre: Artmed, 1999. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. SITOGRAFIA
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http://www.portugues.seed.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=8307 Acesso
em: 12 de Agosto de 2014.
Conto Noite de Almirante. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000208.pdf Acesso em: 12 de Agosto
de 2014.
Vídeo sobre o conto Noite de Almirante. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=nJBNanFgsRY Acesso em: 12 de Agosto de 2014.